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YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 1

Avisos legais

Shabat – O prelúdio da Era Messiânica.


Categoria: Religião / Judaísmo / Espiritualidade
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Capítulo I

APOLOGÉTICA DE

SHABAT

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Shabat – Apologética
Yahalom Academia Judaico Messiânica

E falou ainda o SENHOR a Moshê: “Fala aos filhos de Israel e orienta-os:


Observareis de verdade os meus shabatot, porque são um sinal entre mim e
vós, em vossas gerações, a fim de que saibais que Eu Sou o SENHOR, que vos
santifica. Guardareis, pois, o shabat, porquanto é um dia santo para vós. Quem
o profanar deverá ser castigado com a morte. Todo aquele que realizar nesse dia
algum trabalho será exterminado do meio de seu povo. Durante seis dias se
deverá trabalhar; o sétimo dia, porém, é o Shabat, o tempo do repouso
absoluto em honra e adoração ao Eterno. Todo aquele que trabalhar no dia do
shabat deverá ser executado sumariamente. Os filhos de Israel terão de guardar
o shabat, eles e todos os seus descendentes, como uma aliança perpétua. Será
um sinal de união eterna entre mim e os filhos de Israel, porquanto Eu, o
SENHOR, fiz os céus e a terra em seis dias e no sétimo não trabalhei, cessei!”
- Shmot/Êxodo 31:12-17
O Shabat é um sinal de uma aliança perpétua entre o Eterno e o Seu povo.
É um dia de descanso e deleite, portanto, guardar o Shabat é o mesmo que
deleitar-se no Eterno (Tehlim/Salmos 37:4).
A punição para quem não guardava o Shabat era a mesma para quem
cometia adultério: a morte. Atualmente, em ambos os casos, não existe mais a
punição de pena máxima literalmente, isto é, a morte física, pois o Sinédrio,
responsável por julgar tais causas, foi dissolvido. Embora não haja mais
consequência física direta, as consequências espirituais ainda permanecem,
ocasionando uma morte espiritual.
O Shabat não é um dia comum e nem faz parte de uma doutrina
rabínica, o Shabat foi santificado no Éden, e separado para o descanso do
homem em honra ao Eterno (Bereshit/Gênesis 2:2-3). A guarda do Shabat não é
uma simples Lei, mas um princípio estabelecido desde a fundação do mundo. É
também o mandamento que mais se repete nas escrituras.
A palavra Shabat aparece 104 vezes no Tanach (assim chamado, Antigo
Testamento) e 61 vezes no Brit Chadashá (assim chamado, Novo Testamento),
totalizando 165 vezes em toda extensão da Bíblia.
No Tanach, a palavra "Shabat" é mencionada principalmente nos livros da
Torá (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e nos livros dos Profetas
(como Isaías, Jeremias e Ezequiel). Essas passagens se referem à instituição do
sábado como dia de descanso e às instruções sobre como observá-lo.

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No Brit Chadashá, as referências estão principalmente nos Evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João), onde o sábado é mencionado em relação às
atividades de Yeshua durante seu ministério terreno, incluindo curas e
ensinamentos realizados nesse dia.
Em Neemias 9:14 está escrito:
"E fizeste saber a eles o teu santo Shabat, e lhes prescreveste
mandamentos, estatutos e leis, pelo ministério de Moisés, teu servo".
O termo “santo” é usado para descrever o Shabat porque é um dia
consagrado e separado para o descanso e a adoração ao Eterno. É um dia
especial dedicado exclusivamente à comunhão com D’us, estudo da Palavra, e
descanso. Ao chamar o Shabat de “santo”, Nehemiá e outros escritores bíblicos
enfatizam a importância e a santidade desse dia em particular, destacando a
obrigação de guardá-lo e honrá-lo conforme os mandamentos da Torá.
De acordo com o livro de Ezra (Esdras), por exemplo, uma das razões pelas
quais o povo de Israel foi levado cativo à Babilônia foi a transgressão do Shabat
e a negligência em observar as leis e mandamentos do Eterno. Em Esdras 9:11-
12, é mencionado que o Eterno havia dado mandamentos para que o povo dEle
guardasse o Shabat, mas eles não o fizeram, o que resultou em consequências
negativas, contribuindo para o exílio do povo de Israel.
No livro de Nehemiá encontramos o relato de Ezra, juntamente com
Nehemiá, tomando medidas para garantir a santidade do Shabat e impedir a
profanação do dia de descanso. Ezra ordena o fechamento dos portões de
Jerusalém antes do início do Shabat, a fim de impedir a entrada de mercadores
e comerciantes (Neemias 13:19).
A intenção era garantir que o sábado fosse guardado de acordo com os
mandamentos da Torá, protegendo o povo de Israel da tentação de se envolver
em atividades comerciais durante o dia sagrado. Além disso, tal ação refletia o
compromisso do povo em observar o Shabat como um dia especial e separado
para se conectar com o Eterno e descansar.

Profanar o Shabat é profanar o Eterno


“Os seus sacerdotes violentam a minha lei e profanam as minhas coisas
santas; não fazem diferença entre o sagrado e o profano, nem discernem o
impuro do puro; de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou
profanado no meio deles” – Ezequiel 22:26

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Isso é algo muito sério! Ao não fazerem distinção entre o que é sagrado e o
que é profano, e negligenciando a observância dos sábados, o próprio Eterno
afirma ser profanado entre o povo de Israel pelos sacerdotes.
Os profetas Yeshayahu (Isaías) e Yirmiyahu (Jeremias) falam sobre o Shabat
em várias passagens, destacando a importância e a necessidade de observá-lo
de maneira adequada. Isaías 58:13-14 diz:
"Se desviares o teu pé de profanar o Shabat e de cuidar dos teus próprios
interesses no meu santo dia, se chamares ao Shabat deleitoso e santo dia do
Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, não
pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então te
deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei
com a herança de Yaakov, teu pai, porque a boca do Senhor o disse".
Perceba a conexão desse texto com Salmos 37:4, o profeta descreve o
Shabat como um dia de deleite, um dia santo do Senhor Digno de honra.
Jeremias 17:21-22 também trata do Shabat, e diz:
“Assim diz o Senhor: Guardai a vossa alma e não tragais cargas no dia de
Shabat, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém. E não tireis cargas de
vossas casas no dia de Shabat, nem façais obra alguma; mas santificai o dia de
Shabat, como eu ordenei a vossos pais”.
Jeremias destaca a proibição de carregar cargas e realizar trabalhos no
Shabat. Ele exorta o povo a santificar o Shabat de acordo com a Torá. Assim,
essas passagens demonstram que tanto Isaías quanto Jeremias reconheciam a
importância do sábado como um dia especial, dedicado ao Eterno e à renovação
espiritual, e enfatizavam a necessidade de guardá-lo de acordo com a Torá.
Apesar dos muitos exemplos presente no Tanach, a principal razão é que a
santificação do Shabat é mandamento! Em Shmot/Êxodo 20:8-11, como parte
dos Dez Ditos das Tábuas do Pacto, está escrito assim:
“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás
toda a tua obra; mas o sétimo dia é o Shabat do Senhor teu D'us. Nesse dia
não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo,
nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas
portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles há, e ao sétimo dia cessou de trabalhar; por isso o Senhor abençoou o dia
de sábado, e o santificou”.
Dessa maneira, percebemos que o Shabat é o único dia da semana que
o Eterno faz deferência especial, de modo que se torna um dia santo, pois o
Shabat foi o único dia que o Eterno abençoou e santificou para descanso e

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conexão com Ele. O sábado sempre estará na bíblia sob a conotação de descanso
e deleite espiritual (Hebreus 4:9-11).

Surgimento da guarda do domingo


A mudança da guarda do sábado para o domingo no cristianismo é atribuída
principalmente à influência do imperador romano Constantino, no século IV.
Constantino adotou o cristianismo como religião oficial do Império Romano
e promoveu a observância do domingo como o dia de descanso e adoração em
lugar do sábado. Essa mudança foi influenciada por diversos fatores, incluindo a
fusão do cristianismo com práticas e tradições romanas, o desejo de separar o
cristianismo do judaísmo e a crença de que o domingo era o dia da ressurreição
de Jesus.
No entanto, é importante ressaltar que essa mudança não foi uniforme em
todos os lugares e comunidades cristãs, e algumas tradições cristãs
continuaram a observar o sábado como o dia sagrado.
Constantino, também conhecido como Constantino, o Grande, foi um
imperador romano que governou de 306 a 337 d.EC. Ele é frequentemente
lembrado por seu papel na adoção do cristianismo como religião oficial do Império
Romano e por ter sido um dos principais responsáveis pela mudança da guarda
do sábado para o domingo no cristianismo.
Embora Constantino tenha sido celebrado por sua “conversão” ao
cristianismo, seu histórico é marcado por eventos controversos. Durante seu
reinado, ele tomou uma série de decisões políticas que fortaleceram seu governo
e unificaram o império, mas também resultaram em perseguição e repressão
contra grupos considerados dissidentes.
Em relação ao cristianismo, Constantino convocou o
Concílio de Niceia em 325 d.EC., que teve como objetivo
resolver disputas doutrinárias e estabelecer uma ortodoxia
cristã oficial. Ele promoveu a unificação da Igreja sob uma
única autoridade e adotou políticas que favoreciam os
cristãos, concedendo-lhes privilégios e proteção. No entanto,
algumas de suas ações foram questionáveis.
Constantino usou o cristianismo como uma ferramenta política para
fortalecer seu império, combinando elementos das crenças cristãs com tradições
romanas pagãs. Além disso, ele ordenou a destruição de templos pagãos e
perseguiu aqueles que se opunham à sua versão de cristianismo.

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Apesar de sua influência na história do cristianismo, Constantino deixou um
legado complexo e controverso. Seu papel na mudança da guarda do sábado
para o domingo é apenas um exemplo das muitas decisões e ações que ele
tomou ao longo de seu reinado, que moldaram a história do Império Romano e
do cristianismo.
Assim sendo, Constantino foi o principal responsável pela mudança,
mas o imperador autodeclarado cristão nunca deixou de ser pagão. Ele era
devoto ao deus Sol (patrono de Roma), e de acordo com alguns relatos históricos,
ele era também casado com sua própria mãe, de quem concebeu uma filha. Por
fim, se tornou assassino de ambas.
Constantino tomou medidas para promover a unidade religiosa e política
no império. Ele convocou o Concílio de Niceia em 325 d.EC., que reuniu líderes da
igreja (que já estavam corrompidos) para debater e estabelecer doutrinas cristãs
comuns. O Concílio de Niceia foi um evento que mudou para sempre o conceito
de cristianismo em Roma e consequentemente no mundo. Durante o concílio,
foram discutidos diversos assuntos teológicos e questões doutrinárias, resultando
na formulação de vários tratados e declarações, como:
1. O Credo de Niceia: Este é um dos documentos mais conhecidos e
importantes que surgiram do concílio. O Credo de Niceia estabelece as crenças
fundamentais dos cristãos, especialmente em relação à divindade de Jesus
Cristo e à doutrina da Trindade.
2. O Cânon de Niceia: Este tratado se refere à lista de livros considerados
canônicos (aceitos como inspirados por D’us) para o Novo Testamento. Embora
o cânon do Novo Testamento já estivesse amplamente aceito antes do concílio,
Niceia ajudou a confirmar e unificar essa lista.
3. O Sínodo de Niceia: Além dos tratados formais, o Concílio de Niceia
também resultou em decisões e resoluções práticas que afetaram a organização
e governança da igreja. O Sínodo de Niceia estabeleceu algumas regras e
regulamentos para as práticas eclesiásticas.
Quanto a mudança do dia sagrado de observância para os cristãos, durante
o concílio, não houve uma decisão direta sobre a mudança do sábado para o
domingo, mas ao longo dos séculos seguintes, a prática de observar o domingo
como o dia de descanso e adoração se estabeleceu. Essa mudança gradual foi
influenciada por vários fatores, incluindo a associação simbólica do domingo com
o “oitavo dia” da criação, representando uma “nova criação espiritual” em Cristo.
Outro fato importante relacionado ao Concílio de Niceia foi a condenação
do arianismo, uma doutrina que negava a plena divindade de Jesus Cristo. O
concílio estabeleceu a crença na divindade de Jesus e proclamou que Ele é “da
mesma substância” (consubstancial) com o Pai.

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Além disso, o concílio abordou várias outras questões teológicas e
disciplinares, como a questão da data da Páscoa, a ordenação clerical, a
relação entre a igreja e o império romano, entre outros assuntos, marcando um
ponto crucial na história e um impacto duradouro no desenvolvimento e na
organização do cristianismo. Eis aí o nascimento da ICAR – Igreja Católica
Apostólica Romana.
O catolicismo surgiu como uma forma de “cristianismo primitivo” que se
desenvolveu no período pós-apostólico. A palavra “católico” deriva do termo grego
“katholikos”, que significa “universal” ou “geral”. Originalmente, o termo era
usado para descrever a natureza universal da fé e da igreja, abrangendo todos
os crentes e todas as áreas geográficas. Ou seria, “abrangendo todas as crenças
por meio do sincretismo religioso”?
O catolicismo como instituição organizada começou a se desenvolver nos
primeiros séculos do cristianismo, com o estabelecimento de uma estrutura
hierárquica, liderada pelo bispo de Roma, que se tornou conhecido como o Papa.
A partir do século IV, por influência de Constantino, o catolicismo tornou-
se a religião oficial do Império Romano e desempenhou um papel importante na
formação da cultura e sociedade europeias. A crença católica é que a ICAR é a
igreja original e verdadeira fundada por Jesus Cristo, com uma sucessão
apostólica ininterrupta desde os apóstolos. Para os católicos, a igreja católica é
vista como a única igreja verdadeira e a fonte definitiva de ensinamentos e
autoridade espiritual.
A conversão de Constantino ao cristianismo e
sua promoção do catolicismo trouxeram benefícios
significativos para a igreja, incluindo a cessação da
perseguição e a concessão de privilégios e apoio
estatal. Isso levou a um aumento na influência e
poder da Igreja Católica no Império Romano, bem
como à assimilação de elementos da cultura
romana na prática religiosa cristã.
É importante ressaltar que o processo de cristianização do Império Romano
foi gradual e complexo, e a oficialização do catolicismo como religião oficial não
aconteceu de forma instantânea ou uniforme em todo o império. Mas é correto
afirmar que o apoio de Constantino foi um marco importante nessa transição.
Com o surgimento do catolicismo romano, a igreja andava cada vez mais
próximo de Roma e mais distante de Israel. Porém, o tema dessa aula não é
sobre o catolicismo, e sim sobre o Shabat, mas é importante que você
compreenda a dinâmica entre o catolicismo e o paganismo.

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Retomando, o sábado foi santificado no Éden, é um estatuto perpétuo
dado pelo próprio Eterno (Êxodo 31:16-17), e é por isso que nenhum homem ou
instituição tem o poder de aboli-lo. O Shabat é um sinal da aliança entre o Eterno
e o Seu povo.
"Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação." – Tiago 1:17
Se a Torá afirma ser o sábado um dia santo, e se sua transgressão é passível
de punição máxima, é óbvio que Yeshua não violou o Shabat, caso contrário, ele
não poderia ser o cordeiro perfeito que tira o pecado do mundo. Afirmar que
Yeshua não guardava o sábado é o mesmo que afirmar que ele tinha pecado.
Nos próximos capítulos veremos a relação de Yeshua com o Shabat e
refutaremos os argumentos de que o Shabat perdeu sua validade.

Império Romano vs. Nação Judaica


Durante os primeiros séculos, o relacionamento entre Roma e os judeus foi
complexo e muitas vezes tenso. No período em que Yeshua viveu, a Judeia era
uma província romana sob domínio direto de Roma. Os judeus viviam sob a
autoridade romana e estavam sujeitos às leis e políticas do Império.
Os judeus tinham suas próprias tradições religiosas e leis, que eram
protegidas pelo estatuto de religio licita (religião permitida). Roma geralmente
permitia aos judeus praticar sua religião sem interferências significativas, desde
que não desafiassem a autoridade romana ou se envolvessem em rebeliões
contra o domínio romano.
No entanto, houve momentos de tensão
entre Roma e os judeus. Alguns líderes judeus,
como dentre os fariseus, eram críticos do
domínio romano e defendiam a
independência judaica. Isso levou a conflitos
ocasionais e ações repressivas por parte das
autoridades romanas.
Um dos eventos mais significativos ocorreu em 70 d.EC., quando os
romanos, sob o comando de Tito, destruíram o Templo de Jerusalém durante a
Grande Revolta Judaica. Isso marcou o fim do Templo e uma mudança profunda
na vida religiosa e política dos judeus.
Anos depois, Adriano, que governou o Império Romano de 117 a 138 d.EC.,
também teve um relacionamento conturbado com os judeus. Durante seu reinado,

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ocorreram eventos significativos que afetaram a comunidade
judaica. Uma carnificina sem precedentes, reduzindo Israel
ao pó.
Uma das principais fontes de conflito entre judeus e
romanos foi a Revolta de Bar-Kochba, liderada por Simão
Bar-Kochba, um líder judeu que tentou recuperar a
independência judaica da dominação romana. A revolta
ocorreu entre os anos 132 e 135 d.EC., e Adriano respondeu
com uma repressão militar brutal, resultando na morte de muitos judeus e na
dispersão da população judaica da região.
Após a supressão da revolta, Adriano adotou uma política de repressão
contra os judeus. Ele proibiu a prática de certos aspectos da religião judaica,
incluindo a circuncisão, e erigiu um templo dedicado a Júpiter no local do antigo
Templo de Jerusalém, em uma tentativa de deslegitimar as tradições judaicas e
substituí-las por elementos da cultura romana.
Foi durante o reinado de Adriano que a província romana da Judeia passou
por uma série de transformações significativas. O Imperador renomeou a província
como “Síria Palestina” em uma tentativa de apagar a identidade judaica e
reforçar a presença romana na região. Essa ação foi em parte uma resposta à
revolta judaica e uma forma de diminuir a importância histórica e religiosa de
Jerusalém e do Templo, que haviam sido destruídos. Adriano desempenhou um
papel significativo na reconfiguração política e administrativa da região,
contribuindo para a consolidação do nome “Síria Palestina” como uma designação
oficial para a área. Seu significado original é relacionado aos filisteus, e não
especificamente aos judeus ou árabes que habitavam a área.
Essas medidas de Adriano geraram grande ressentimento entre os judeus e
contribuíram para a continuidade do exílio e dispersão da comunidade judaica,
gerando um impacto duradouro na história e na diáspora judaica. Um desses
impactos é o conflito judaico-palestino na região até os dias de hoje, e uma
tentativa das nações antissemitas de apagar a legitimidade da Terra Santa como
pertencente por direito à Israel, forçando a narrativa de pertencente à “Palestina”.
Portanto, em resumo, o relacionamento entre Roma e os judeus nos
primeiros três séculos foi marcado por uma mistura de tolerância e conflito.
Como vimos, inicialmente os imperadores romanos permitiam aos judeus praticar
sua religião e administrar seus próprios assuntos internos. No entanto, houve
períodos de tensão e perseguição, especialmente durante a ocupação de
Jerusalém em 70 d.EC. pelos romanos. O domínio romano sobre a Judeia levou
à destruição do Templo e à diáspora judaica.
Durante o período dos primeiros imperadores, os judeus ainda enfrentaram
desafios, como restrições culturais e tributos pesados, mas também tiveram

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alguns privilégios. Com o imperador Adriano, houve um ponto de ruptura,
culminando na revolta judaica e nas mudanças políticas que incluíram a
renomeação da província como “Síria Palestina”.
Nesse fogo cruzado estavam os que criam em Yeshua como Mashiach.
Durante os primeiros séculos, eles também enfrentaram perseguições por parte do
Império Romano. Inicialmente, os romanos consideravam aqueles com
testemunho de Yeshua como participantes de uma seita judaica e estes eram
vistos como uma ameaça à estabilidade do império.
Tal como os judeus que não criam em
Yeshua, judeus e gentios com testemunho
de Yeshua foram alvo de perseguições
esporádicas, com alguns imperadores
emitindo decretos para reprimir sua fé e punir
aqueles que a professavam. As perseguições
variavam em intensidade e abrangência,
dependendo do imperador e da situação
política. No entanto, a perseguição tornou-se mais sistemática e intensa no
século III, sob o reinado de imperadores como Décio e Diocleciano. A perseguição
só diminuiu quando, sob o nome de “cristianismo”, a religião foi legalizada e se
tornou a religião oficial do Império Romano no século IV.
Portanto, podemos considerar que no início, a igreja primitiva mantinha
fortemente sua raiz judaica, tendo como principais líderes, apóstolos judeus.
Entretanto, ainda na época de Rav Shaul (Apóstolo Paulo), com a introdução em
massa de gentios, vindo de diversas culturas diferentes, e a exaustiva perseguição
romana, a sã doutrina foi sendo adulterada e novas correntes de pensamento
foram chegando.

Império Romano em declínio


No século IV, o Império Romano estava enfrentando uma série de desafios,
tanto internos quanto externos. Entre esses desafios, estavam as invasões
bárbaras, que contribuíram para o declínio do Império Romano do Ocidente.
Os bárbaros eram povos nômades ou
seminômades que viviam fora das fronteiras do
Império Romano. Eles eram culturalmente
distintos dos romanos e tinham diferentes
sistemas políticos e sociais. Ao longo do século
IV, vários grupos bárbaros, como os visigodos,
ostrogodos, vândalos e hunos, começaram a
invadir as fronteiras do Império Romano.

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Essas invasões tiveram um impacto significativo no Império Romano. Os
bárbaros conseguiram saquear cidades, destruir infraestruturas e causar
instabilidade nas províncias romanas. Em alguns casos, os romanos foram
incapazes de resistir às invasões e tiveram que fazer acordos com os bárbaros,
permitindo-lhes se estabelecerem em terras romanas.
Nesse cenário catastrófico é que surge Constantino!
Constantino, surgiu em um cenário de conflito e instabilidade no Império
Romano. Ele nasceu em 272 d.EC. e foi proclamado imperador romano em 306
d.EC., após a morte de seu pai, Constantino Cloro.
Na época em que Constantino assumiu o poder, o Império Romano estava
passando por essa série de crises, incluindo disputas de sucessão e tensões
religiosas. O Império estava dividido entre o Ocidente e o Oriente, com
imperadores competindo pelo controle e enfrentando rebeliões internas.
Constantino se destacou como um líder militar habilidoso e conquistou vitórias
importantes em batalhas contra outros pretendentes ao trono. Ele ganhou uma
posição de destaque durante as guerras civis romanas e, eventualmente, emergiu
como o único imperador do Império Romano.
Constantino também empreendeu várias reformas políticas e
administrativas, incluindo a fundação de uma nova capital imperial,
Constantinopla, que se tornou um centro de poder e influência no Império Romano
do Oriente. Sua ascensão ao poder e suas políticas tiveram um impacto duradouro
na história europeia. Constantino é considerado um dos imperadores mais
importantes do Império Romano e seu reinado marcou uma transição significativa
na história do Império e no desenvolvimento do cristianismo.
Diante de tantas crises, adotar uma religião unificada para dominar e
manipular as massas era um plano perfeito, e Constantino, cuja religião pessoal
era o mitraísmo, visualizou a oportunidade.
O mitraísmo foi uma antiga religião
mistérica que teve origem no Império Romano,
por volta do século I d.EC. Ela se baseava no
culto ao deus Mitra, que era considerado um
deus solar e guardião da verdade, lealdade e
ordem cósmica. Os rituais mitraicos eram
realizados em templos subterrâneos chamados
mitreus, onde os seguidores passavam por
uma série de graus de iniciação. O mitraísmo
era uma religião exclusiva, geralmente restrita aos homens, e seus adeptos
formavam uma comunidade fechada e hierárquica. As principais
características do mitraísmo incluíam a adoração do deus Mitra, o sacrifício
de um touro como símbolo de renovação e a celebração de rituais de

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comunhão. A religião era popular entre soldados romanos e
comerciantes, e se espalhou por todo o Império Romano. Muitos aspectos
do mitraísmo, como a figura do deus solar e os rituais de sacrifício,
influenciaram outras religiões e tradições subsequentes.
Em 312, antes de um importante combate contra seu rival Maxêncio pelo
controle do Império Romano, Constantino afirmou ter tido um sonho no qual viu
um símbolo cristão, possivelmente uma cruz, acompanhado da inscrição "In hoc
signo vinces" (Com este sinal, vencerás). Segundo ele, o sonho também teria sido
acompanhado pela aparição de Cristo.
Após esse sonho, Constantino decidiu adotar o símbolo
como um emblema militar e ordenou que seus soldados
usassem o Chi-Rho (☧) em seus escudos. Diante disso, com
essa visão “miraculosa” como pano de fundo, o imperador se
autoproclamou cristão. Com a vitória militar, a visão sobre ele
passou a ser “o escolhido de Jesus Cristo”, e até os pagãos o
viam de maneira especial.
O sonho de Constantino é considerado um
marco importante na história do cristianismo e é
frequentemente citado como um exemplo de como a
visão de Constantino afetou o curso da história e o
estabelecimento do catolicismo como a religião
dominante no Império Romano.
Em 313, juntamente com o imperador Licínio,
Constantino expediu o Édito de Milão, que garantiu
liberdade religiosa para os cristãos e pôs fim à
perseguição religiosa no Império Romano, que já
perdurava três séculos!
Vale ressaltar que a primeira vez que os seguidores de Yeshua foram
chamados de “cristãos” está registrado no Brit Chadashá, em Atos dos
Apóstolos 11:26. Nesse versículo, é mencionado que em Antioquia, os
discípulos foram chamados de “cristãos” pela primeira vez. Antes desse
momento, eles eram frequentemente referidos como “seguidores do
Caminho” ou “discípulos de Yeshua”. O termo “cristão” vem da palavra
“Cristo”, que tem origem no termo grego Χριστός (Christós), que significa
“ungido” ou “o escolhido”. É a tradução do termo hebraico ‫יח‬ ַ ‫ָמ ִׁש‬
(Mashiach), que também significa “ungido”, portanto, “cristão” do grego é
o mesmo que “messiânico” do hebraico. O termo grego “cristão” para os
“seguidores de Cristo” veio a ser usado para identificar os seguidores de
Yeshua em toda extensão do Império Romano. Entretanto, no século IV,
esses cristãos já estavam em apostasia, distantes da judaicidade da fé.

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Em 321, Constantino emitiu um decreto conhecido como “Édito
Dominical” ou “Sacramento do Domingo”, que estabeleceu que o domingo,
conhecido como o “Dia do Sol”, seria um dia de descanso e observância religiosa
em todo o Império Romano.
O Édito Dominical foi uma das primeiras ações oficiais que favoreceu o
cristianismo católico em detrimento das práticas pagãs. Embora não tenha
proibido explicitamente a observância do Shabat, o imperador romano promoveu
o domingo como o dia de descanso e adoração preferido. Essa medida teve
um impacto significativo na adoção do domingo como dia sagrado pelos cristãos
(tanto católicos, como protestantes, séculos depois).
A partir desse período, o domingo gradualmente se tornou o dia de culto
predominante para os cristãos em geral, em contraste com o sábado observado
pelos judeus e por todos que tinham o testemunho de Yeshua de maneira pura.
Em 324, quando Constantino derrubou seu último
inimigo interno, obtendo poder político total e único,
adotou o cristianismo como religião oficial do Estado e
desempenhou um papel significativo na formação da
Igreja Católica Romana, conseguindo assim uma
autoridade ideológica em torno de si mesmo. Devoto ao
Sol Invictus (Mitra), as medidas do Imperador foram
cruciais para o sincretismo religioso de Roma. Com apoio
de líderes cristãos corrompidos, que também queriam
desassociação dos judeus, o Concílio de Nicéia, em
325, afirmou a prática de celebrar o domingo como dia de culto cristão.
A partir desse primeiro Concílio, os concílios
futuros foram piorando cada vez mais em suas
doutrinas antijudaicas. Se desconectando de Israel e
se conectando à Roma, os judeus da Torá e Yeshua,
o judeu, foram sendo esquecidos gradualmente. A
imagem de um Messias judeu foi sendo substituída por
um messias com traços europeus, um sol em sua
cabeça, roupas brancas com uma faixa vermelha,
cores oficiais do Império Romano. Aos poucos foi
sendo proibido desrespeitar o domingo, depois
proibido guardar o Shabat... Séculos e séculos de
repreensão, até o ápice, na Inquisição (séc. XIII).
É importante lembrar que os babilônicos, egípcios, e muitos outros povos
também adoravam ao Sol, especialmente no primeiro dia da semana (domingo).
Por isso, a jogada de Constantino era majoritariamente política, colocando todas

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as religiões em um único sistema, de maneira que todos adorariam ao deus Sol,
agora “cristianizado” – bingo!
Com as novas medidas de Constantino, tendo pagãos e cristãos unidos em
Roma, sobrou aos que guardavam verdadeiramente a Torá, sendo judeu ou
não judeu, o rótulo de hereges e apóstatas, logo, merecedores do inferno e de
todo tipo de perseguição possível.
Em 336, aconteceu o Concílio de Laodiceia, que foi um concílio regional
da ICAR realizado na cidade de Laodiceia, na Ásia Menor (atual Turquia). Em
relação ao Shabat, o Concílio de Laodiceia emitiu um cânon, conhecido como o
Cânon 29, que tratava do descanso no sábado. Esse cânon declarava que os
cristãos não deveriam descansar no sábado como os judeus faziam, mas sim
observar o domingo, o “Dia do Senhor”, como dia de descanso e adoração. Essa
decisão refletiu em uma mudança gradual que ocorreu no pensamento cristão ao
longo dos séculos. Essa mudança teve várias razões, incluindo o desejo de se
distinguir dos rituais judaicos.

No Concílio de Constantinopla em 381,


também conhecido como o Segundo Concílio
Ecumênico, o objetivo principal foi definir a doutrina
trinitária e a posição do Espírito Santo na teologia
cristã. Só aqui, aproximadamente QUATROCENTOS
ANOS DEPOIS da primeira vinda de Yeshua e a
descida do Ruach HaQodesh (Espírito do Santo), é
que a ICAR fundou o conceito de trindade: Pai a
primeira pessoa, o Filho a segunda, e o Espírito a
terceira, teologia a qual os apóstolos nunca
validaram, pois além de tardia, é incompatível com
a base de fé judaica existente há milênios! O conceito
de trindade sempre foi pagão, pois, para os povos
politeístas era natural a existência de mais de um
deus. A doutrina trinitária é mais um sincretismo
religioso que “cristianizou” o paganismo.
Em 416, o Papa Inocêncio I orientou os cristãos
a orarem e se consagrarem no domingo. Em 538 o
Concílio de Orleans, realizado na cidade de Orleans,
na França, durante o período medieval, levantou mais
questões doutrinárias, disciplinares e legais
relacionadas à vida eclesiástica e à relação entre a
Igreja e o Estado.

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Em 590, o Papa Gregório (que instituiu o
calendário gregoriano usado atualmente) qualificou
como “anticristão” aquele que ensinasse a
guarda do Shabat. Nesse mesmo período,
Gregório ainda classificou o Império Romano como
“santo”, desencadeando severa perseguição
contra os judeus, contra os nazarenos (judeus
que criam em Yeshua), e contra as comunidades
cristãs que guardavam o Shabat. As punições de Gregório variavam entre
chicotadas, confisco de bens, e para reincidentes, a morte. É nesse momento
da história que se inicia um primeiro modelo de inquisição, mas que irá evoluir
até seu surgimento oficial.

Punições mortais por causa do Shabat


A Inquisição Medieval, ou Inquisição Papal, foi estabelecida por meio de
decretos papais no final do século XII e início do século XIII, com o objetivo de
“combater a heresia” na Europa.
Em 1184, o Papa Lúcio III emitiu a bula “Ad abolendam”, que foi um dos
primeiros documentos a tratar das heresias e estabelecer procedimentos para
combatê-las. Porém, a Inquisição como instituição oficial foi formalmente
estabelecida em 1231, pelo Papa Gregório IX, por meio da bula
“Excommunicamus”, que criou o Tribunal do Santo Ofício.
A forma mais conhecida e notória da
Inquisição é a Inquisição Espanhola, que
começou em 1478, quando os reis católicos
espanhóis, Fernando II de Aragão e Isabel I de
Castela, obtiveram permissão do Papa Sisto IV
para estabelecer um tribunal inquisitorial na
Espanha. A Inquisição Espanhola visava
principalmente a purificação da fé cristã,
perseguindo judeus e muçulmanos que não
aceitavam os ensinamentos da Igreja. Os que não eram mortos, eram convertidos
à força ao cristianismo, esses forçados eram conhecidos como “conversos” ou
“marranos”. Ou ainda, anussim, em hebraico.
Para entender melhor, os conversos eram judeus que foram
forçados a se converter ao cristianismo para evitar perseguição e
violência. No entanto, muitos desses conversos continuaram a praticar o
judaísmo secretamente, enquanto aparentavam ser cristãos
publicamente. Esses criptojudeus ficaram conhecidos como marranos, um

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termo pejorativo que significa “porco” em
espanhol, indicando que eram considerados
impuros pelos cristãos. Os marranos viviam
em constante temor de serem descobertos
pela Inquisição, que buscava identificar e
punir os que praticavam secretamente o
judaísmo.
A Inquisição foi marcada por métodos de investigação e punição
extremamente cruéis e opressivos, incluindo tortura e execuções. As vítimas
da Inquisição incluíam não apenas aqueles que se consideravam hereges, mas
também grupos marginalizados, como mulheres, judeus, muçulmanos, ciganos
e pessoas acusadas de bruxaria.
Na época da Inquisição, a guarda do
sábado era considerada uma prática
herética pelos tribunais inquisitoriais. A
Inquisição tinha como objetivo principal
combater e eliminar qualquer forma de
heresia ou desvio doutrinário em relação à fé
católica.
A guarda do Shabat, que é uma prática distintiva da Torá, era vista pelos
inquisidores como uma negação da autoridade da Igreja Católica e uma
rejeição dos ensinamentos cristãos. Os inquisidores consideravam a guarda do
sábado como uma ameaça à ortodoxia católica e à autoridade papal.
Aqueles que eram acusados de guardar o sábado, juntamente com outras
práticas consideradas heréticas, poderiam enfrentar interrogatórios, tortura e
até mesmo a morte na fogueira, dependendo do grau de “culpa” atribuído a eles
pelos tribunais inquisitoriais.
A Inquisição foi um período sombrio da
história, marcado pela intolerância religiosa e
pela perseguição de indivíduos que se
afastavam dos dogmas e práticas estabelecidas
pela Igreja Católica. Livros e livros não seriam
suficientes para registrar as muitas atrocidades
cometidas pelo catolicismo romano em “nome
de Jesus”, e nem catalogar a matança de tantos
inocentes, sejam eles judeus ou não.
A verdade é que esse período da história influenciou grandemente a nação
brasileira também, que estava sendo recém explorada e tornou-se lar de centenas
de milhares de judeus que buscavam aqui uma nova oportunidade de vida.

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Infelizmente a inquisição também chegou ao Brasil,
matando milhares de inocentes e promovendo uma ruptura
brutal na herança judaica da nação.
▪ Para saber mais sobre isso, recomendo a aula
“Sofismas Históricos” do módulo “Desconstrução” da
Yahalom.
Hoje em dia é comum vermos padres afirmarem que de fato o culto aos
domingos não é uma prática bíblica, mas foi propositadamente posto como
substituto do Shabat pela Igreja, haja vista que o Papa é como o “próprio Jesus
na terra”, e a ICAR tem “autoridade dos céus” para assim proceder.
Essa ideologia não é recente, mas antiga. No final do século XIX, por
exemplo, o Papa Leão XIII emitiu várias declarações sobre a autoridade papal,
reafirmando e fortalecendo a posição da Igreja Católica Romana e do Papa como
líder supremo da Igreja. Uma de suas declarações mais importantes sobre a
autoridade papal foi feita na encíclica “Satis Cognitum”, publicada em 1896.
Na encíclica, o Papa Leão XIII afirmou a
supremacia do Papa sobre toda a ICAR e enfatizou a
importância da unidade e submissão dos fiéis à
autoridade do Papa. Ele enfatizou que o Papa possui a
autoridade para governar a Igreja, e que sua autoridade
é de origem divina e não pode ser desafiada. Enfatizou
que a obediência ao Papa é um dever dos fiéis e uma
condição para a verdadeira comunhão com a Igreja.
Essas declarações do Papa Leão XIII sobre a autoridade papal refletiram a
posição da Igreja Católica Romana em relação ao papel do Papa como líder
supremo e continuaram a influenciar a visão da Igreja Católica sobre a autoridade
papal até os dias de hoje.
“Ele falará contra o Altíssimo e oprimirá os santos do Altíssimo. Ele tentará
mudar os tempos e a Lei, e os santos serão entregues em suas mãos por um
tempo, tempos e metade de um tempo.” – Daniel 7:25.
Este versículo faz parte da visão de Daniel sobre os quatro grandes reinos
que surgiriam na história de Israel – Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Aqui,
descreve-se o comportamento arrogante e perseguidor de um deles, que busca
desafiar e oprimir os seguidores do Eterno. Especificamente, menciona-se que ele
tentará mudar os tempos e a Lei, referindo-se a uma alteração na adoração e
práticas religiosas estabelecidas – e foi isso que Roma fez: adulterou a Torá!
Modificou a imagem Yeshua, o judeu, apresentando um Jesus cristão; implantou
um novo calendário e forma de contar o tempo que é diferente da Bíblia; e
estabeleceu rituais e festas contrárias à Torá.

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Como se não bastasse, até os Dez Ditos das Tábuas do Pacto foram
adulterados na tradição católica. Mesmo os protestantes desconhecem o
primeiro mandamento contido na Torá.
“Amar a Deus sobre todas as coisas” nunca esteve na Bíblia, e nunca foi
citado por qualquer judeu na história do povo de Israel. Veja a tabela a seguir:
Dez Mandamentos do Sinai (resumido) Dez Mandamentos da Tradição
- Êxodo 20 e Deuteronômio 5: Católica:

1. Eu sou o Senhor teu D’us, não terás 1. Amar a Deus acima de todas as coisas.
outros deuses diante de mim. 2. Não tomar o nome de Deus em vão.
2. Não farás para ti imagem de escultura, 3. Guardar os domingos e dias santos.
nem te encurvarás a elas. 4. Honrar pai e mãe.
3. Não tomarás o nome do Senhor teu D’us 5. Não matar.
em vão. 6. Não cometer adultério.
4. Lembra-te do dia do sábado, para o 7. Não roubar.
santificar. 8. Não levantar falso testemunho.
5. Honra teu pai e tua mãe para que te vá 9. Não desejar a mulher do próximo.
bem e prolongue seus dias sobre a terra 10. Não cobiçar as coisas alheias.
que o Senhor teu D’us te dá.
6. Não assassinaras.
7. Não adulterarás.
8. Não furtarás.
9. Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo.
10. Não cobiçarás a casa do teu próximo,
nem cobiçarás a mulher do teu próximo,
nem seu servo, nem sua serva, nem seu
boi, nem seu jumento, nem coisa alguma
que pertença ao teu próximo.

O próprio Martinho Lutero foi influenciado pelas


ideias antijudaicas de Roma, uma vez que inicialmente ele
era um monge e sacerdote católico romano. Ele
ingressou na Ordem dos Agostinianos em 1505 e foi
ordenado sacerdote em 1507. De fato, Lutero não
defendeu explicitamente a doutrina de guardar o
sábado como dia de descanso, mas reconhecia que o
domingo não era especificamente designado nas
Escrituras como o dia de descanso, ao contrário do
Shabat estabelecido na Lei Mosaica.
Entretanto, Lutero enfatizou a importância de um dia de descanso e
adoração regular para os cristãos. Ele considerava o domingo como o dia
tradicionalmente estabelecido pela ICAR para a celebração da ressurreição de

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Cristo e a adoração comunitária, encorajando os fiéis a dedicarem esse dia à
adoração, ouvindo a Palavra e participando dos sacramentos.
Assim, embora Lutero reconhecesse que o domingo não era
especificamente ordenado nas Escrituras, ele apoiava a prática de adorar no
domingo como um dia de descanso e culto para os cristãos. Essa posição foi
amplamente adotada pela Reforma Protestante e influenciou a tradição de
adoração dominical nas igrejas protestantes até os dias de hoje.
De fato, não há nenhuma proibição em adorar o Eterno no domingo, na
verdade, o pecado – lembrando que pecado é a transgressão da Torá – consiste
em não guardar o Shabat, conforme estabelecido nas Escrituras. O pecado não
consiste em ir à igreja aos domingos, mas em profanar o Shabat. Em afirmar que
ele foi abolido. Não foi!
Adiante, veremos os nuances entre Yeshua, os apóstolos, e o Shabat. Mas
antes, quero considerar 21 pontos na conclusão da primeira parte deste estudo:
1. A mudança do sábado para o domingo como dia sagrado não é
bíblica, mas foi realizada de maneira proposital e imoral. O fato de ir
contra a Torá e mudando até os mandamentos da Tábua do Pacto é,
no mínimo, demoníaco;
2. O Eterno abençoou o sábado de maneira especial (Gn.2);
3. O Shabat é o quarto dito das Tábuas do Pacto, que foram
originalmente escritas pelo próprio dedo de D’us, o Eterno (Ex.20; 31
e 32; Dt.5);
4. A transgressão do Shabat é considerada uma falta muito grave, e
passível até de morte (Ex.31);
5. Nehemiá protestou contra quem não guardava o Shabat, os
chamando de ímpios (Ne.13);
6. O Eterno ordenou a abstenção de trabalhos seculares no Shabat
(Dt.5; Jr.17);
7. O Shabat é o dia santificado para a adoração (Ez.6);
8. O homem que não profana o Shabat é bem-aventurado (Is.56);
9. Quem guarda o Shabat será recompensado pelo Eterno (Is.58);
10. O Shabat é sinal da aliança entre o Eterno e o Seu povo (Ex.31);
11. O gentio também deve observar o Shabat (Ex.20; Is.56);
12. O Eterno não muda Sua Palavra (Mq.3; Sl.89);
13. São os ímpios que profanam o Shabat (Ez.20 e 22);
14. Quem profana o Shabat, profana também o nome do Eterno (Ez.22);
15. Quando vierem novos céus e nova terra, o povo continuará
guardando o Shabat (Is.65 e 66; Hb.4);
16. Yeshua guardava o Shabat (Mc.6; Lc.4);

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17. Os discípulos de Yeshua também guardavam o Shabat (Lc. 23;
At.13; 16 e 17);
18. Quem sacramentou o domingo foi um imperador romano pagão e
idólatra chamado Constantino, em 321 d.EC.;
19. Mesmo diante do catolicismo, os que tinham testemunho de Yeshua
não se curvaram à Roma;
20. A ICAR confessa que alterou o dia de guarda porque, como
enfatizou arrogantemente o Papa Leão XIII, a Igreja tem “autoridade
do Todo Poderoso na terra”;
21. Muitos protestantes reconhecem que o Shabat é um dia instituído
pelo Eterno, mas as muitas correntes da Teologia Sistemática os
convencem a ignorar o cumprimento desse preceito.
Dado esse isso, prossigamos para a próxima etapa deste estudo.

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Capítulo II

YESHUA
E O SHABAT

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Yeshua e o Shabat
Yahalom Academia Judaico Messiânica

Como vimos anteriormente, a não guarda do Shabat pelos cristãos é


resultado das investidas romanas em descaracterizar as raízes judaicas da fé
em Yeshua, e agregar mais poder e domínio político e religioso à Roma por
intermédio de um sincretismo religioso, cristianizando o paganismo das demais
nações.
Existem várias interpretações e argumentos usados pelos cristãos atuais
para afirmar que não precisam guardar o Shabat. Alguns dos principais pontos
mencionados são:
• Cumprimento em Cristo: Os cristãos acreditam que Jesus Cristo é
o cumprimento da Lei do Antigo Testamento, incluindo os
mandamentos relacionados ao sábado. Eles veem o sábado como
um símbolo que apontava para a salvação em Cristo, e que agora,
com a chegada de Jesus, eles estão livres das obrigações
cerimoniais da Lei;
• Dia da Ressurreição: Os cristãos consideram o domingo como o dia
da ressurreição de Jesus, o primeiro dia da semana. Eles veem o
domingo como o dia de adoração e descanso em comemoração à
ressurreição de Cristo, e não mais o sábado;
• Novo Pacto: Os cristãos argumentam que o Novo Testamento
estabelece um novo pacto com base na graça e na fé em Jesus
Cristo, e não mais na observância estrita da Lei, incluindo o sábado;
• Liberdade em Cristo: Os cristãos acreditam que a salvação em
Jesus Cristo traz liberdade em relação às práticas e rituais religiosos.
Eles afirmam que não estão sob “o jugo da Lei”, incluindo a
observância do sábado, e que são livres para adorar a Deus em
qualquer dia da semana.
No decorrer deste estudo vamos refutar esses argumentos, mas antes é
importante notar que os cristãos atuais não guardam nenhum dia da semana,
apenas vão às reuniões ecumênicas à noite ou pela manhã, mas a guarda de um
dia exclusivo para o Eterno, não existe.
É estranho notar que práticas judaicas como a devolução do maasser
(dízimo) e realização de votos, que eram serviços exclusivos ao Templo e ao
contexto sacerdotal e levítico, operam nas igrejas regularmente.
Os líderes incentivam a separação de dez por cento dos recursos dos
fiéis, e também de ofertas alçadas, afirmando que é um princípio existente ainda
antes da Outorga da Lei (Torá) no Sinai, usando nossos patriarcas Avraham e

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 25


Yaakov como exemplos. Tais líderes afirmam isso com base nos registros da
Torá, entretanto, a tsedacá (caridade) para órfãos, viúvas e necessitados, é muitas
vezes ignorada.
O dizimo que é, antes de um mandamento da Torá, um princípio como se
defende, é solicitado nas igrejas em geral, mas a guarda do sábado que também
é um princípio, estabelecido desde a fundação do mundo, quando Adam e
Chava ainda estavam no Éden, e que também está registrado na Torá,
especialmente nas Tábuas do Pacto, segundo esses mesmos líderes, foi abolido
(ou cumprido) por Yeshua. É incoerente, pois abraçam uma ordenança e viram o
rosto para outra, pinçando da Torá somente o que convém.
Antes de prosseguirmos, quero destacar alguns aspectos do Shabat:
• Princípio na Criação: A santificação do Shabat como dia de
descanso e adoração ao Eterno aconteceu ainda no Gan Éden,
quando Adam e Chava foram recém criados. O mandamento do
repouso e da guarda no sétimo dia é para toda humanidade,
principalmente para o povo do D’us;
• Mandamento do Decálogo: O mandamento de “lembrar o dia de
sábado, para o santificar” é o quarto dos Dez Ditos das Tábuas do
Pacto dados pelo Eterno a Moshe. Se os outros nove mandamentos
são considerados de validade contínua, o Shabat também o é;
• Exemplo de Yeshua: Yeshua observou o Shabat durante seu
ministério terreno – e veremos isso adiante. Como discípulos de
Yeshua, seguimos seu exemplo de obediência aos mandamentos;
• Continuidade da Lei: A Torá dada pelo Eterno no Sinai, incluindo o
mandamento do Shabat, não foi abolida. A salvação é outorgada
pelo testemunho de Yeshua, o filho de D’us – amen! Mas isso não
invalida a nossa necessidade de obediência e observância aos
mandamentos do Eterno, que é o Pai;
• Descanso e Adoração: A guarda do sábado é, além de ordenança,
um tempo de descanso e adoração dedicado ao Eterno. É também
uma oportunidade de se afastar das atividades seculares e se
concentrar na comunhão com D’us e no estudo das Escrituras;
• Valores e Princípios: Além dos aspectos religiosos, guardar o
Shabat promove outros valores especiais, como o descanso, tempo
com a família e a comunidade, e a integridade física e mental.
Na Torá, nunca houve uma contradição acerca dos preceitos que o Eterno
instituiu para o Seu povo, no qual os gentios foram enxertados por meio da fé
em Yeshua haMashiach, nosso Senhor, Salvador, Libertador e Rabino (Mestre).

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Yeshua, o cumpridor da Torá
A primeira coisa que precisamos ter em mente é que Yeshua era judeu, e
como judeu, guardou toda a Torá (Lei), de modo que foi perfeito, santo e sem
pecado. Logo, se Yeshua não pecou, isto é, não transgrediu nenhum mandamento
da Torá, ele obviamente observou os shabatot, e cumpriu com essência genuína
o Shabat. Afirmar que Yeshua não guardava o sábado é o mesmo que dizer que
ele profanava esse dia santo e, consequentemente, é o mesmo que afirmar que
ele pecou – é heresia!

Yeshua era um rabino fariseu – sim, fariseu – e ensinava aos sábados nas
sinagogas (Lc.4; Mc.6). O principal assunto do seu Shiur (estudo) era mussar
(ética/caráter). Ele não ensinava minuciosamente como guardar o Shabat, nem
como colocar o tzitzit, ou como se faziam as amarrações dos Tefilin – isso por um
motivo muito óbvio – Yeshua pregava para judeus! Seu ministério foi
desenvolvido em Israel e raríssimas vezes ele chegou a sair para fora das
fronteiras israelenses. Por isso, não havia necessidade de explicar as leis em sua
literalidade, mas ensinar a maneira correta de praticá-las de coração.
O Mestre interagiu com gentios apenas duas vezes em todos os registros
dos Evangelhos:
▪ Com um cinturão romano (Mt.8:5-13 e Lc.7:1-10);
▪ Com uma mulher siro-fenícia (Mt.15:21-28 e Mc.7:24-30).
Ele também interagiu com uma mulher samaritana (Jo.4:1-42), mas vale
lembrar que os samaritanos não eram considerados totalmente gentios, pois
tinham sua ancestralidade ligada à Yaakov. Após a conquista do Reino de Israel
pelos assírios em 722 a.EC., muitos dos habitantes israelitas foram exilados, e
estrangeiros foram trazidos para habitar a terra. Esses estrangeiros misturaram-se
com os remanescentes do povo de Israel e adotaram algumas práticas religiosas
locais, dando origem ao que a bíblia chama de samaritanos (II Reis 17).
Yeshua pregava para aqueles que já conheciam e praticavam a Torá de
maneira literal, focando seus ensinos em Mussar – ética e caráter – em como
praticar os mandamentos com devoção e coração sincero. Afinal, Yeshua era
mestre, e como mestre, sua função era ensinar. Ensinar o que? Torá!

Curando e Exorcizando no Shabat


“Aconteceu em certo sábado, quando Jesus estava ensinando numa
das sinagogas, que se aproximou uma mulher possuída há dezoito anos por um
espírito de enfermidade que a mantinha doente. Ela caminhava encurvada, sem
condição alguma de se endireitar. Ao observá-la, Jesus pediu que viesse à frente
e lhe afirmou: “Mulher, estás livre da tua enfermidade”. Em seguida, lhe impôs as

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 27


mãos; e naquele mesmo instante ela se endireitou, e passou a glorificar a Deus.
Entretanto, o dirigente da sinagoga, indignado ao ver Jesus curando no sábado,
admoestou a multidão: “Há seis dias em que se deve trabalhar; vinde, portanto,
nesses dias para serdes curados e não no sábado!” Então Jesus exclamou:
“Hipócritas! Porventura, cada um de vós não desamarra, no sábado, o seu boi
ou jumento do estábulo e o leva dali para servir-lhe água? Sendo assim, por
qual motivo não se deveria libertar, em dia de sábado, esta mulher, uma filha de
Abraão, a quem Satanás escravizava por dezoito anos?” Havendo Jesus
pronunciado estas palavras, todos os seus oponentes se envergonharam. De
outro lado, o povo muito se alegrava diante de todos os sinais miraculosos que
estavam sendo realizados por Jesus.” – Lucas 13:10-17
Os oponentes de Yeshua se envergonharam pelo simples motivo de que
não existia (nem nunca existiu) nenhuma proibição na Torá acerca de realizar
milagres no Shabat, pelo contrário, dado que é um dia santo e elevado, os
milagres deveriam ser parte do Shabat.
Os judeus desamarravam os animais no sábado para estes beberem água,
e Yeshua usa esse comparativo: se é permitido desamarrar um animal para dar
água a ele no Shabat, da mesma maneira (e ainda mais) é permitido libertar uma
filha de Avraham das amarras de haSatan para que ela possa beber da água da
Torá livremente e dando glórias ao Eterno!
“Estava ali um certo homem, enfermo havia trinta e oito anos. Quando
Jesus o viu deitado, e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-
lhe: “Queres ser curado?” O homem enfermo queixou-se: “Senhor, não tenho
ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto
estou indo, desce outro antes de mim.” Ordenou-lhe Jesus: “Levanta-te,
apanha o teu leito e anda.” Imediatamente o homem ficou curado, pegou seu
leito e andou. E aquele dia era sábado. Por isso, disseram os judeus ao que fora
curado: “É sábado e não te é permitido carregar o leito.” O homem respondeu
a eles: “Aquele que me curou ordenou-me: ‘Apanha o teu leito e anda’!” Então
lhe perguntaram: “Quem é o homem que te disse: ‘Apanha o teu leito e anda’?”
Mas o homem que havia sido curado não sabia quem era; pois Jesus tinha se
retirado, sendo que havia uma multidão naquele lugar. Mais tarde, Jesus o
encontrou no templo e lhe disse: “Veja que já estás curado; não voltes a pecar,
para que não te aconteça coisa pior.” O homem partiu e disse aos judeus que
fora Jesus quem o havia curado.” – João 5:5-15
Na Torá, a proibição de carregar peso no Shabat é mencionada em Êxodo
20:10 e Deuteronômio 5:14 como parte do mandamento do Shabat. Essas
passagens estabelecem que no dia de descanso ninguém, nem seres humanos e
nem animais de carga, devem realizar trabalhos servis, o que inclui carregar
objetos pesados, que exigem força física.

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 28


Embora o contexto do mandamento envolva servidão, o entendimento
detalhado das proibições do Shabat e a aplicação prática foram desenvolvidos e
elaborados pelos sábios e rabinos ao longo dos séculos. Assim, embora a
proibição de carregar peso no Shabat seja mencionada na Torá, as regras
específicas sobre o que constitui carregar peso, e como isso se aplica na prática,
foram estabelecidas pela tradição rabínica.
Ou seja, Yeshua não violou o Shabat de acordo com a Torá, mas para
alguns judeus, baseado na tradição dos rabinos, carregar o leito, ainda que sem o
contexto servil, soava como transgressão, embora não tenha sido.
No final das contas, os rabinos daquele tempo estavam mais preocupados
com o leito que o homem segurava, do que com a cura que ele recebeu!
“Então, levaram o homem que fora cego à presença dos fariseus. E era
sábado, quando Jesus fez aquela mistura de barro e abriu os olhos do homem
cego. Então, os fariseus também lhe inquiriram como recebera a visão. E o
homem tornou a explicar: “Ele aplicou barro aos meus olhos, lavei-me e vejo.”
Por esse motivo, alguns dos fariseus alegavam: “Esse homem não é de Deus,
porque não guarda o sábado.” Outros murmuravam: “Como pode um homem,
sendo pecador, realizar milagres como esses?” E, novamente, houve divisão
entre eles. Uma vez mais, perguntaram ao homem que fora cego: “Que dizes tu
a respeito dele, pelo fato de que abriu os teus olhos?” O homem asseverou-lhes:
“Ele é um profeta.” – João 9:13-17
Novamente vem a questão de tradição aqui, e não de Torá. Repito, não
existe nenhuma proibição na Torá acerca de realizar milagres no Shabat, bem
como, a Torá não menciona uma proibição específica de misturar água com terra
(fazer barro). Toda essa indignação era na verdade uma maneira dos líderes
hipócritas de Israel perseguirem Yeshua, motivados por inveja (Mt.27:18;
Mc.15:10). A arrogância de tais líderes era tamanha, que julgavam Yeshua como
sendo um pecador, sem nem mesmo conhecê-lo verdadeiramente, tampouco
conhecer sua conduta moral e religiosa.
“Tendo Jesus saído daquele lugar, foi para a sinagoga deles. Encontrava-
se ali um homem que tinha uma das mãos atrofiada. Mas, procurando um motivo
para acusar Jesus, eles o questionaram: “É lícito curar no sábado?” Ao que
Jesus lhes propôs: “Qual de vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num
sábado, esta cair em um buraco, não fará todo o esforço para retirá-la de lá?
Assim sendo, quanto mais vale uma pessoa do que uma ovelha! Por isso, é
lícito fazer o bem no sábado”. Então, dirigiu-se ao homem e disse: “Estende a
tua mão”. Ele a estendeu e ela foi restaurada, ficando sã como a outra. Diante
disso, saíram os fariseus e começaram a conspirar sobre como poderiam matar
Jesus.” – Mateus 12:9-14

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 29


Mais uma vez vemos que de fato a Torá não proíbe milagres no Shabat, e
no texto, o próprio Yeshua ressalta uma premissa judaica: a vida humana está
em primeiro lugar (explicarei mais adiante) logo, a vida do homem judeu, estava
acima das tradições, de modo que, é lícito fazer o bem no Shabat.
“Certo sábado, chegando Jesus para comer na casa de um importante
fariseu, todos o observavam com atenção. E aconteceu que à frente dele estava
um homem doente, com o corpo todo inchado. Jesus indagou aos fariseus e aos
mestres na Lei: “É permitido ou não curar no sábado?” Eles, todavia, ficaram
em silêncio. Jesus, por sua vez, tomando o homem pela mão o curou e despediu-
se dele. Em seguida, lhes questionou: “Qual de vós, se o seu jumento ou boi cair
num poço, não o salvará rapidamente, ainda que seja dia de sábado?” Diante
disto, eles ficaram sem palavras para responder” – Lucas 14:1-6
Mais uma vez a mesma dinâmica dos versículos anteriores. O silêncio dos
rabinos fariseus diante da pergunta do Rabino Yeshua, é mais uma demonstração
de que, pela Torá, não existe proibição para curar ou exorcizar no Shabat, pelo
contrário, a vida está acima das tradições.
“E aconteceu que, passava Jesus num dia de sábado pelas plantações de
cereal. Os seus discípulos, enquanto caminhavam, começaram a colher algumas
espigas. Então os fariseus advertiram-no: “Vê! Por que teus discípulos fazem o
que não é permitido aos sábados?” Mas Ele esclareceu: “Nunca lestes como
agiu Davi e seus companheiros, quando sofreram necessidade e tiveram fome?
Na época do sumo sacerdote Abiatar, Davi entrou na casa de Deus e se
alimentou dos pães dedicados à oferta da Presença, que somente aos
sacerdotes era permitido comer, e os ofereceu também aos seus
companheiros”. E então concluiu: “O sábado foi criado por causa do ser
humano, e não o ser humano por causa do sábado. Assim sendo, o Filho do
homem é Senhor inclusive do sábado”. – Marcos 2:23-28
Essa é uma das minhas passagens favoritas acerca de Yeshua e o Shabat,
e é encontrada também nos registros bíblicos de Mateus 12 e Lucas 6.
Os discípulos de Yeshua estavam com fome e colheram espigas com as
mãos, apenas para necessidade pessoal. Na Torá, encontramos a permissão
para um judeu comer das plantações alheias sem usar um recipiente, desde
que seja apenas para sua própria satisfação pessoal.
No livro de Deuteronômio 23:25 diz:
“Se entrares na plantação do teu próximo, poderás colher espigas com a
tua mão; porém não porás a foice na plantação do teu próximo”.
Essa permissão refere-se a uma situação em que alguém está passando por
uma plantação e sente fome. O Eterno afirma que essa pessoa pode colher e

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 30


comer das espigas com as próprias mãos, sem usar ferramentas humanas para
colher, como uma foice, por exemplo. No entanto, afirma a Torá, a pessoa deve
respeitar a propriedade alheia e não causar danos ou colher em grande
quantidade. Essa permissão se aplica especificamente a comer para a própria
satisfação pessoal, e não a levar para casa ou compartilhar com outros.
No contexto do Shabat, há restrições específicas em relação ao trabalho e
à colheita. Por isso, a colheita de plantações para consumo pessoal geralmente
não é permitida no Shabat, a menos que seja uma situação de necessidade ou
emergência. Ou seja, a Torá não proíbe, mas a tradição, em busca de criar
cercas para evitar a profanação do Shabat, assegura que tais situações só são
lícitas em necessidade de urgência. É por isso que Yeshua faz questão de citar
o episódio envolvendo David e seus companheiros, para ilustrar novamente que a
vida está em primeiro lugar, e tal qual como ocorrera nos tempos de Aviatar,
ocorria agora com seus discípulos: era
uma necessidade! A diferença é que David
não poderia comer dos pães da Presença,
isso sim era transgressão de Torá, já no
episódio com Yeshua, a própria Torá
amparava a ação dos discípulos, eles
agiram de acordo com a Lei.
Vamos abrir um parêntese: por que David pecou e não foi punido?
A Torá especifica que os pães da Presença
deveriam ser colocados sobre a Mesa do Pão da
Presença (Ex.25:23-30) e que os sacerdotes
deveriam comer esses pães em um local
sagrado. Apenas os sacerdotes consagrados
tinham permissão para entrar no local sagrado e
participar dessa cerimônia. Portanto, a prática
era reservada aos sacerdotes designados, não
estava disponível para o povo em geral.
No judaísmo, a preservação da vida é considerada um valor supremo. A
vida é sagrada e de grande importância, e a sua preservação é uma obrigação
moral. O princípio da preservação da vida é tão crucial que supera muitas vezes
outras obrigações e restrições religiosas.
Por exemplo, em situações de perigo à vida, a halachá (lei judaica) permite
que sejam violadas certas proibições religiosas para salvá-la. Essa é uma
manifestação do princípio de “pikuach nefesh”, que significa “preservação da
vida”. Isso significa que é imperativo agir para salvar vidas, mesmo que isso
signifique transgredir determinadas leis – por isso o Eterno não puniu David, pois
aquele era um caso atípico e especial, em que a vida estava em primeiro lugar –

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 31


vemos aqui uma manifestação da graça de D’us (chessed), que sempre esteve
disponível ao homem, desde os tempos antigos e muito mais agora.
Por razão de pikuach nefesh também, é que Yeshua afirma ser o Shabat
feito para o homem (Marcos 2:27), e não o contrário, de modo que, é o homem
que tem o controle para santificar, ou não, esse dia. Com essa afirmação, Yeshua
enfatiza que cabe ao homem obedecer ao mandamento, bem como, que o
propósito da observância do Shabat é beneficiar a humanidade, proporcionando
um dia de descanso e adoração ao Eterno.
O Shabat é um dom divino destinado a beneficiar e abençoar as pessoas,
e não uma carga pesada ou uma restrição. Portanto, Yeshua estava defendendo
a importância do descanso e da adoração no sábado, mas também enfatizando
que o bem-estar e as necessidades humanas devem ser priorizados sobre as
interpretações legalistas e restritivas dos rabinos em relação a lei do Shabat.
Lembre-se sempre: a preservação da vida é
superior a muitos mandamentos, inclusive ao que se
refere à guarda do sábado. O pecado da idolatria, do
assassinato e do adultério, são as três transgressões de
Torá mais graves que existem, neste caso, os
mandamentos acerca da proibição de tais violações estão
acima da vida humana.
Por fim, se Yeshua é o senhor do sábado (não do
domingo), esse deve ser mais um motivo para observar o
Shabat com diligência e sinceridade.

Yeshua ressuscitou no domingo?


Conforme explicado em detalhes no Módulo “Calendário Bíblico” da
Yahalom, Yeshua não ressuscitou no domingo, mas no Shabat. Da mesma
maneira, não é possível que tenha sido morto na sexta-feira, porque a profecia
determinava um período de 72horas no coração da terra (Mateus 12:40; Marcos
8:31; João 2:19-22; I Coríntios 15:4).
Yeshua morreu na “hora nona” (por volta de 15h), e é a partir deste horário
que se conta três períodos de 24 horas (três dias e três noites). Portanto, se a
ressurreição tivesse sido em um domingo de manhã, Yeshua não poderia ter
morrido na sexta-feira, da mesma maneira, se tivesse morrido na sexta-feira, não
poderia ter ressuscitado no domingo – pois o intervalo entre a hora nona de
sexta-feira e domingo pela manhã, é inferior a 72 horas.
Está relatado em João 20 e Mateus 28, que as mulheres foram ao sepulcro
ao fim do Shabat, quando “despontava o primeiro dia” da semana, e ainda era

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 32


escuro. Óbvio! Pois a viração do dia no calendário bíblico, que existe desde o
Gênesis, é justamente ao pôr do sol, logo, “ao fim do Shabat” ou “ao despontar
do primeiro dia”, ainda está escuro!
Em Marcos 16 afirma que quando elas chegaram ao sepulcro, Yeshua já
tinha ressuscitado, pois, cumprindo-se a profecia à risca, Yeshua teria que ter
ressuscitado na hora nona, isto é, no mesmo horário em que foi morto.
O Shabat é dia de descanso, logicamente, os judeus não poderiam ter ido
ao sepulcro neste dia, mas ao final dele. Dado a santidade do dia e de todo seu
significado, estranho seria se Yeshua não ressuscitasse em um Shabat, pois é
muito mais profético, profundo e consonante com as sagradas Escrituras.
Já que Yeshua havia ressuscitado horas antes do despontar do primeiro dia,
ou seja, em um Shabat, qual dia ele teria sido morto?
Há dois tipos de Shabat no judaísmo. O Shabat tradicional da semana, e
o Shabat Moed, que é também chamado de Yom Tov, uma espécie de “feriado”
no calendário bíblico/judaico. Em um Shabat Moed, as várias leis sabáticas se
aplicam, como não fazer fogo, não trabalhar e não fazer negócios – irei explicar
esses mandamentos adiante. A questão aqui é que o Yom Tov, ou Shabat Moed,
pode cair em qualquer dia da semana.
É sabido que Yeshua foi morto em Pessach, isto é, em véspera de um
Shabat (Moed), no dia 14 de Nissan, na hora nona, momento em que os cordeiros
pascais deveriam ser sacrificados conforme a Torá. Yeshua foi imolado no
madeiro no mesmo dia e horário em que os cordeiros pascais estavam sendo
imolados no Templo, sendo então ele, o nosso sacrifício pascal.
Yeshua ceia com seus talmidim (discípulos) à noite, após o pôr do sol –
início de 14 de Nissan, que no calendário romano seria terça-feira – antecipando
a cerimônia do Seder de Pessach, porque teria que ser sacrificado horas mais
tarde. Naquela mesma madrugada é preso sob falsa acusação – ainda em 14 de
Nissan para os judeus, mas que no calendário romano era início de quarta-feira.
Yeshua é julgado, condenado, cuspido, escarnecido, chicoteado e por fim
pendurado no madeiro – em 14 de Nissan – entregando seu espírito ao Pai na
hora nona. Ele é então sepultado antes do Shabat Moed, porque uma vez que
Pessach ocorreu na hora nona de 14 de Nissan, Chag haMatzot (Festa dos Pães
Ázimos) começaria ao pôr do sol daquela quarta-feira, dando início ao Shabat do
dia 15 de Nissan.
O primeiro dia de Chag HaMatzot, que ocorre logo após o Pessach, é
considerado um Yom Tov (ou Shabat) no calendário bíblico. Durante esse dia, há
restrições semelhantes às do Shabat, como abster-se de trabalho secular, não
fazer fogo e não fazer comércio (Ex.12:16; Lv.23:6-8; Nm.28:16-18).

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 33


É pela elevação desse dia sagrado de Shabat Moed, que os rabinos
argumentaram “ser grande aquele Shabat” e por isso o corpo de Yeshua
precisava ser sepultado antes daquele pôr do sol (Jo.19:31). Primeiro porque o
corpo de um judeu morto jamais poderia ficar exposto daquela maneira em
Jerusalém* durante um Shabat, e também porque depois que começasse aquele
“grande Shabat”, não seria possível sepultá-lo até o pôr do sol do dia seguinte,
uma vez que as leis sabáticas não permitiam.
*A crucificação de Yeshua ocorreu durante a celebração de Pessach, e
ele foi crucificado fora dos muros da cidade, no Golgólet (Gólgota),
também conhecido como o Calvário, em Jerusalém.
Nesse contexto, os judeus estavam preocupados em cumprir as leis do
Shabat, que proíbem a permanência do corpo de um judeu morto durante o dia
sagrado. Como após o pôr do sol seria um Shabat especial, conhecido como um
“grande Shabat”, por ser o primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos, os líderes
religiosos da época pediram a Pilatos que apressasse a remoção dos corpos do
madeiro para garantir o cumprimento das leis religiosas.
De acordo com as leis e tradições de Israel, deixar o corpo de um judeu
morto exposto ao ar livre durante a festividade de Chag HaMatzot seria totalmente
impróprio. Geralmente, o corpo de um judeu falecido é cuidadosamente
preparado de acordo com as leis judaicas de taharat hamet (purificação dos
mortos) e, em seguida, é sepultado o mais rápido possível, de preferência, dentro
de 24 horas. Por causa do grande Shabat, não havia todo esse tempo disponível
para sepultar Yeshua, é por isso que os líderes judeus pedem para as autoridades
romanas fazerem isso às pressas, o mais rápido possível. Por isso também, é que
as mulheres judias vão com óleos perfumados ungir Yeshua somente após os dois
Shabatot (sábados) daquela semana.
Acompanhe a cronologia (lembrando que a viração do dia é ao pôr do sol):
14 de Nissan – Yeshua é imolado e sepultado na festividade de Pessach;
15 de Nissan – Começa Chag haMatzot, cujo primeiro dia é Shabat Moed;
16 de Nissan – Acaba o grande Shabat, ao pôr do sol, e inicia-se a
preparação para o Shabat tradicional da semana;
17 de Nissan – Começa o Shabat tradicional da semana. Yeshua ressuscita
na hora nona, 72 horas após sua morte, cumprindo-se a profecia. Sua ressurreição
ocorre durante Chag HaMatzot (Festa dos Pães Ázimos), que dura sete dias;
18 de Nissan – Final do Shabat tradicional, ao pôr do sol, é ainda escuro
(noite) quando as mulheres chegam ao sepulcro e o encontram vazio.

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 34


Após o Pessach, em 14 de Nissan, começa-se, no dia 15 de Nissan, a Festa
dos Pães Ázimos. Ao término do primeiro dia da festa, que é Shabat Moed,
começa-se a contagem do Ômer. Isso significa que contando a partir do dia 16
de Nissan como primeiro dia, serão 50 dias até Shavuot (Festa das Semanas),
que em grego é chamada de “Pentecostes”. Essa celebração é onde se comemora
a outorga da Torá, e é também quando houve a outorga do Espírito de D’us
sobre os discípulos de Yeshua que estavam reunidos no senáculo do Templo para
comemorar Shavuot.
O Eterno é preciso com o calendário
que Ele mesmo instituiu para o seu povo, e
diferente do ser humano, não quebra a Sua
aliança. É por isso que a perfeição
cronológica no cumprimento das profecias
demonstra a divindade de quem exerce o
controle sobre o tempo.
O Eterno pode ser cultuado no
domingo, ou em qualquer outro dia da
semana, mas o seu compromisso imutável
está relacionado com o Shabat, desde
antes, agora e para sempre (Hb.4:9-11).
Outro fator interessante é a fala de Yeshua em Mateus 24:20, onde ele
orienta os discípulos a orarem para que quando viesse o abominável da desolação,
a fuga não se sucedesse no inverno nem no sábado. Nesse contexto, Yeshua
estava se referindo à perseguição iminente e à destruição de Jerusalém, que
acabaria por ocorrer no ano 70 d.EC. Ele estava aconselhando seus discípulos a
orarem para que, quando a perseguição começasse, eles não tivessem que fugir
durante o inverno (entre dezembro e março no hemisfério norte) ou no dia de
sábado. Isso porque o inverno em Israel é muito frio e com neve, e o sábado é dia
de descanso, em ambos os casos, tais circunstâncias dificultariam a fuga.

Os discípulos de Yeshua continuaram a guardar o Shabat?


Depois que o Mestre ascendeu aos céus e o Ruach haKodesh desceu com
capacitação, os talmidim de Yeshua iniciaram movimentos de anuncio do
evangelho em toda Israel.
Tempos depois, por meio de uma experiência pessoal e espiritual de Kefas
(Pedro) é que a mensagem do Messias de Israel ultrapassa as fronteiras e alcança
os gentios (At.10). Conforme o evangelho avançava, as perseguições aumentavam.

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 35


Algum tempo após o início da caminhada ministerial dos primeiros
discípulos, Rav Shaul (Apóstolo Paulo) um rabino fariseu da tribo de Beniamin
(Benjamin) foi alcançado por Yeshua. Ele era discípulo de Gamaliel, neto de Hilel,
um dos mais influentes sábios do Sinédrio que já existiu na história da fé judaica.
Gamaliel chegou a advogar em favor dos que tinham o testemunho de
Yeshua (Atos 5), mas Paulo tinha uma visão diferente de seu mestre. Visão essa
que foi transformada após uma experiência pessoal com Yeshua, em que ele
passou de perseguidor à perseguido. Quando Rav Shaul se tornou discípulo de
Yeshua (isso significa, dos seus ensinamentos) ele dedicou-se principalmente ao
anúncio das boas novas entre os gentios.
Os talmidim de Yeshua começaram a viver um novo tipo de judaísmo,
caracterizando a quinta seita judaica que passou a existir (Atos 26:5). Estando
estes mais próximos à interpretação genuína da Torá, ministrada pelos
ensinamentos de Yeshua haMashiach, será que deixaram de guardar o
Shabat? Vamos ver!
Em Atos 13:14-52 está escrito:
“De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, que fica na
Panfília. Então, João Marcos os deixou ali e regressou a Jerusalém. Eles, no
entanto, seguiram para além de Perge e chegaram a Antioquia da Psídia. No dia
de sábado, entraram na sinagoga e se assentaram. Logo após a leitura da Lei
e dos Profetas, os administradores da sinagoga mandaram que se lhes fosse
feito o seguinte convite: “Irmãos, se tendes em vós alguma palavra de
encorajamento para nosso povo, dizei-a”. Então, Paulo, colocando-se em pé, fez
sinal com a mão, solicitando a atenção dos presentes, e declarou: “Caros
israelitas e vós, gentios, que igualmente temeis a Deus, ouvi! O Deus deste
povo de Israel escolheu nossos antepassados e honrou sua gente durante o
tempo em que, como estrangeiros, caminharam pela terra do Egito, de onde os
libertou com braço poderoso. O Senhor zelou por eles com paciência, no
deserto, durante cerca de quarenta anos. Ele destruiu sete nações em Canaã e
entregou a terra em que habitavam como herança ao seu povo. Isso tudo levou
aproximadamente quatrocentos e cinquenta anos, quando então, lhes deu
juízes até a época do profeta Samuel. Mas o povo lhe rogou por um rei, e Deus
lhes concedeu Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, que reinou pelo espaço
de quarenta anos. Depois que tirou o reinado de Saul, deu-lhes Davi como rei,
sobre quem testemunhou: ‘Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu
coração, ele fará tudo conforme a minha vontade’. E, da descendência desse
homem, Deus levantou para Israel o Salvador Jesus, assim como prometera.
Antes, porém, da chegada de Jesus, primeiramente veio João, pregando um
batismo de arrependimento para todo o povo de Israel. Quando estava por
concluir seu ministério, proclamou João: ‘Quem pensais vós ser eu? Não sou eu
o Messias. Entretanto, eis que vem após mim aquele cujas sandálias eu não sou

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 36


digno sequer de desatá-las dos seus pés’. Irmãos, descendentes de Abraão, e
vós não-judeus que temeis a Deus, a nós foi enviada esta mensagem de
salvação. Pois, as pessoas que habitam em Jerusalém e seus governantes não
reconheceram a Jesus, contudo, ao executá-lo, cumpriram as palavras dos
profetas, que são lidas todos os dias de sábado. Mesmo não encontrando
motivo legal para condená-lo à sentença de morte, rogaram a Pilatos que o
mandasse crucificar. E, depois de terem cumprido tudo o que a respeito dele
estava escrito, tirando-o do madeiro, depositaram-no em um sepulcro. No
entanto, Deus o ressuscitou dentre os mortos; e, durante muitos dias, Ele foi
visto por aqueles que tinham ido em sua companhia da Galileia para Jerusalém.
Essas pessoas agora são suas testemunhas diante do povo. Nós vos
anunciamos as Boas Novas da promessa confiada a nossos antepassados, as
quais Deus cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, assim como está
escrito no segundo Salmo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei’. O fato de que
Deus ressuscitou a Jesus dos mortos, para que seu corpo jamais
experimentasse a decomposição, foi declarado desta forma: ‘Eu cumprirei a
vosso favor as santas e fiéis bênçãos de Davi’. Porquanto, em outro Salmo, está
explícito: ‘Não permitirás que o teu Santo sofra decomposição”. Porque Davi,
depois de servir a sua própria geração pela vontade de Deus, adormeceu, foi
sepultado com os seus antepassados, e seu corpo se decompôs. Mas aquele a
quem Deus ressuscitou não foi afligido pela decomposição. Sendo assim, meus
irmãos, ficai cientes de que mediante Jesus vos é anunciado a expiação dos
pecados. E, por intermédio de Jesus, todo aquele que crê é justificado de todas
as faltas de que antes não pudestes ser justificados pela Lei de Moisés.
Acautelai-vos, pois, para que não vos sobrevenha o que foi anunciado pelos
profetas: ‘Vede, ó escarnecedores, ficai atônitos e morrei; porquanto Eu
realizarei, em vossos dias, obra de tamanha grandiosidade, que jamais vos seria
possível crer se alguém apenas vos contasse’. E, quando Paulo e Barnabé
estavam saindo da sinagoga, o povo os convidou a ensinar mais a respeito
desse assunto no sábado seguinte. Depois que a congregação foi despedida,
muitos dos judeus e dos gentios devotos convertidos ao judaísmo seguiram a
Paulo e Barnabé. Estes conversaram com eles, recomendando-lhes que
seguissem perseverando na graça de Deus. No sábado seguinte, quase toda a
população da cidade se reuniu para ouvir a Palavra de Deus. Entretanto,
quando os judeus observaram a multidão, ficaram tomados de inveja e, de forma
desrespeitosa e ultrajante, contradiziam o que Paulo pregava. Então Paulo e
Barnabé, tomando a palavra com toda coragem, lhes afirmaram: “Importava que
a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a Palavra de Deus; porém,
considerando que a rejeitais e a vós próprios vos julgais indignos de receber
a vida eterna, eis que agora nos dirigimos aos gentios. Porquanto dessa
maneira o Senhor nos ordenou: ‘Eu te constituí como luz para os gentios, a fim
de que tu leves a Salvação até os confins da terra’. Ao ouvirem essa declaração,
os gentios se alegraram sobremaneira e glorificavam a Palavra do Senhor. E

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 37


todos quantos haviam sido escolhidos para a vida eterna creram de coração.
Assim, a Palavra do Senhor era divulgada por toda aquela região. Porém, os
judeus persuadiram as mulheres piedosas e de alta posição social, assim como
os principais líderes da cidade, e desfecharam uma perseguição contra Paulo e
Barnabé, até os expulsarem do seu território. Estes, contudo, sacudindo contra
eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio. Os discípulos, no entanto, viviam
plenos de alegria e do Espírito do Santo.”
Os gentios (ou ‘não judeus’) que “temiam a D’us” como o relato considera,
estavam na sinagoga no dia de sábado aprendendo a Torá e os Profetas.
Porque embora não fossem judeus na carne, haviam abraçado o Eterno como
D’us Único e por isso guardavam Suas Leis! A humildade com que receberam o
evangelho, reconhecendo Yeshua como o Mashiach de Israel foi arrebatador!
Paulo e os demais discípulos iam às sinagogas aos sábados para ensinar
a Torá e apresentar Yeshua como o Mashiach de Israel citado na Torá e nos
Profetas (Neviim). Contudo, com a resistência dos judeus que estavam movidos
por inveja, Paulo e Barnabé se concentraram na pregação das boas novas para os
gentios que estavam no meio deles, que, com alegria, glorificavam a Torá!
Veja mais algumas referências importantes:
“Navegando de Trôade, seguimos em linha reta até Samotrácia, e no dia
seguinte para Neápolis. De lá rumamos para Filipos, que é a cidade mais
importante desse distrito da Macedônia e colônia romana. Nessa cidade ficamos
vários dias. No dia de sábado, saímos da cidade para a beira do rio, onde se
costumava fazer oração. Assentamo-nos e começamos a conversar com algumas
mulheres que ali também estavam reunidas. Uma das mulheres que nos ouviam
era temente a Deus e chamava-se Lídia, vendedora de tecido de púrpura, da
cidade de Tiatira. E aconteceu que o Senhor lhe abriu o coração para acolher a
mensagem pregada por Paulo. Depois de batizada, bem como os de sua casa,
ela nos convidou, rogando: “Se julgais que eu sou crente no Senhor, entrai e
permanecei em minha casa”. E assim, nos convenceu.” – Atos 16:11-15
“E, tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde
havia uma sinagoga judaica. Como fazia habitualmente, Paulo foi à sinagoga
e por três sábados argumentou com aquele grupo de pessoas com base nas
Escrituras, explicando e comprovando que se fez necessário que o Messias
padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E proclamava: “Este Jesus que vos
anuncio é o Messias!” Assim, alguns dos judeus foram convencidos e se uniram
a Paulo e Silas, bem como uma multidão de gregos obedientes a Deus e
diversas senhoras da alta sociedade local.” – Atos 17:1-4
“Logo depois desses acontecimentos, Paulo deixou Atenas e rumou para
Corinto. Chegando ali, encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto,

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 38


que tinha acabado de chegar da Itália juntamente com sua esposa Priscila, pois
Cláudio havia baixado um decreto intimando que todos os judeus se retirassem
de Roma. Paulo, então, foi visitá-los. E, percebendo que tinham a mesma
profissão, Paulo passou a morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes
de tendas. Assim, todos os sábados ele argumentava na sinagoga, e
convencia tanto a judeus quanto a gregos. Depois que Silas e Timóteo
chegaram da Macedônia, Paulo começou a consagrar todo o seu tempo ao
ensino da Palavra, explicando aos judeus que Jesus é o Messias. Contudo,
como estes se opuseram e proferiram insultos graves, Paulo sacudiu a roupa e
os sentenciou: “Caia sobre as vossas próprias cabeças toda a responsabilidade
de vossas faltas”. Eu estou inocente quanto ao meu dever, e de agora em diante
vou dedicar-me aos gentios. Então, saindo da sinagoga, Paulo dirigiu-se à
casa de Tício Justo, homem que obedecia a Deus e que morava ao lado da
sinagoga. Crispo, administrador da sinagoga, creu no Senhor, ele e toda a sua
casa; e da multidão dos coríntios que o ouviam, muitos criam e eram batizados.
Numa certa noite, o Senhor falou com Paulo por meio de uma visão, dizendo:
“Não tenhas medo! Continua pregando e não te cales. Pois Eu estou contigo, e
nenhuma pessoa ousará fazer-te mal ou ferir-te, porquanto tenho muita gente
nesta cidade”. Assim, Paulo permaneceu ali durante um ano e seis meses,
ensinando a Palavra de Deus ao povo.” – Atos 18:1-11
Como se pode ver, Paulo guardava os sábados, e nesse dia, sendo ele um
rabino p’rush (fariseu) ensinava Torá e anunciava que Yeshua é o Messias.
Dado isso, como explicar as cartas em que ele parece invalidar o Shabat,
bem como todos os demais mandamentos da Torá?
“Passado aquele alvoroço, Paulo mandou chamar os discípulos, e
havendo-os encorajado, despediu-se e partiu para a região da Macedônia. Viajou
por toda a região, animando os irmãos com muitas exortações e, finalmente,
chegou à Grécia, onde permaneceu por três meses. Quando estava pronto para
embarcar para Síria, os judeus moveram uma conspiração contra ele; por isso,
decidiu retornar pela Macedônia, no que foi acompanhado por Sópatro, filho de
Pirro, de Bereia; Aristarco e Secundo, de Tessalônica; Gaio, de Derbe; e Timóteo,
além de Tíquico e Trófimo, da província da Ásia. Esses irmãos, porém, foram
adiante e nos esperaram em Trôade. E nós, depois dos dias dos Pães sem
Fermento, navegamos de Filipos e, em cinco dias, nos encontramos com eles no
porto de Trôade, onde ficamos por mais sete dias. No primeiro dia da semana,
ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo falava com eles. Planejando
seguir viagem no dia seguinte, continuou falando até a meia-noite. Havia muitas
tochas iluminando a grande sala, no piso superior, onde estávamos reunidos.” –
Atos 20:1-8
Não é difícil compreender o relato aqui. O autor do livro de Atos dos
Apóstolos, Lucas, um médico e companheiro de viagem do apóstolo Paulo, afirma

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 39


que partiram em viagem para encontrar alguns irmãos, após Chag haMatzot (festa
dos pães ázimos), ou seja, o próprio Lucas, sem ser judeu de nascimento, mas
um gentio de origem grega, cumpria as festas do Eterno! – Porque assim se
procedia com todo aquele que reconhecia Yeshua como Mashiach de Israel,
mesmo sem circuncidar a carne: abraçava e cumpria Torá!!!
O texto diz ainda que após o Shabat, ou seja, logo após aquele pôr do sol,
sendo então o primeiro dia da semana, os discípulos se reuniram para jantar. Com
base no que sabemos de Paulo, ele provavelmente já havia ensinado durante o dia
para povo, mas nesse momento, ele estava apenas com os discípulos. Paulo não
iria viajar num Shabat, porque guardava o Shabat. É por isso que a bíblia
destaca que ele viajaria no dia seguinte (ou seja, quando o dia clareasse). Além
disso, Paulo não ficou pregando de uma meia noite a outra, é sabido que a viração
do dia é ao pôr do sol, portanto, do início do primeiro dia (ao pôr do sol) até a meia
noite daquele dia, ele ficou ensinando os seus discípulos separadamente.
“Porquanto, Ele é a nossa paz. De ambos os povos fez um só e,
derrubando o muro de separação, em seu próprio corpo desfez toda a inimizade,
anulando a lei de mandamentos expressa em ordenanças, para em si mesmo
criar dos dois um novo ser humano, realizando assim a paz, e reconciliar com
Deus os dois em um só Corpo, pelo ato no madeiro, por intermédio do qual Ele
destruiu toda a irreconciliabilidade. E vindo Ele, proclamou a paz para vós que
estáveis longe e, da mesma forma, para os que estavam perto; pois por meio
dele tanto nós como vós temos pleno acesso ao Pai por um só Espírito!” –
Efésios 2:14-18
Primeiro é importante pontuar que Paulo estava escrevendo aos gentios de
Éfeso, por isso ele usa o termo “nós” e “vós”, os que estavam perto (judeus) e “vós
que estáveis longe” (gentios). Yeshua já havia dito que faria essa união, em João
10:16, Ele diz: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também
me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho
e um só pastor". Ou seja, por intermédio de Yeshua, os gentios haveriam de ser
congregados ao mesmo aprisco de Israel, isto é, do povo judeu (Rm.11:17-24),
para que assim houvesse um só rebanho.
A ideia de separar judeus e gentios (ou “cristãos”) como se existissem dois
apriscos, dois povos e dois reinos de D’us, vem de um antissemitismo antigo.
Apesar de difundido pelo catolicismo romano a partir do século III, a ideologia de
separação nasceu incialmente de uma teologia demoníaca de Marcião.
Marcião de Sinope foi um teólogo e líder religioso do século II d.EC.; – um
século antes de Roma fundar a ICAR. Ele foi fundador do marcionismo, uma
corrente herética que rejeitava o Antigo Testamento e ensinava uma visão
dualista de Deus, isto é, o Deus do Antigo Testamento era um Deus do legalismo

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 40


e da lei, enquanto o Deus do Novo Testamento, revelado por meio de Jesus Cristo,
era um Deus de amor e graça.
Marcião afirmava que os cristãos, por terem recebido Jesus, eram agora o
verdadeiro povo de D’us, separados, distintos e substitutos dos judeus. Ele
rejeitava as raízes judaicas do cristianismo e defendia uma separação radical
entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Ele até chegou a compilar sua
própria versão do Novo Testamento, conhecida como "Evangelho de Marcião",
que consistia em uma versão modificada do Evangelho de Lucas e dez epístolas
de Paulo. Essa visão dualista de Marcião foi condenada pela Igreja primitiva e
considerada uma heresia. Inclusive, Policarpo de Esmirna se posicionou
duramente contra tais afirmações.
Policarpo de Esmirna foi um dos primeiros líderes messiânicos do século
II. Conhecido como um dos “pais apostólicos”, que viveram no período logo após
a morte dos primeiros apóstolos, ele atribuiu a Marcião o título de “primogênito
de Satanás”. Policarpo é amplamente considerado um discípulo do apóstolo
Yochanan (João) e foi presbítero de Esmirna, na Ásia Menor (atual Turquia). Ele
é mais conhecido por seu testemunho e martírio, defendendo tenazmente a fé
em Yeshua como Messias, mesmo diante da perseguição. Policarpo de Esmirna
foi condenado à morte na fogueira pelas autoridades romanas. O martírio de
Policarpo ocorreu durante o reinado do imperador romano Marco Aurélio, por
volta do ano 155 d.EC. Sua história é registrada em um documento conhecido
como “Mártir de Policarpo”, que detalha os eventos de sua prisão, julgamento e
morte. Contraditório ou não, hoje a Igreja Romana o tem como mártir e o venera,
atribuindo a ele o título de “São Policarpo de Esmirna”.
Agora, voltando ao texto de Paulo – sabemos que somos um só povo,
sendo nutridos da mesma Torá. Então por que o apóstolo afirma que Yeshua
“anulou a lei de mandamentos expressa em ordenanças”? O que talvez seja de
difícil compreensão, em virtude do distanciamento com a cultura judaica, é que a
lei de mandamentos expressa em ordenanças, é diferente da Lei do Eterno!
A Torá são os livros sagrados que contêm os princípios e mandamentos
dados por D'us a Moshê no Monte Sinai. Já a lei de mandamentos expressa em
ordenanças, que chamamos também de Torá DeRabbanan (leis rabínicas), são
um conjunto de regulamentos e interpretações adicionais que foram
desenvolvidos ao longo do tempo pelos rabinos e sábios judeus. Enquanto a Torá
é considerada a palavra direta de D’us, as leis rabínicas são o resultado da
interpretação humana e da tradição judaica ao longo dos séculos.
As leis derabbanan foram desenvolvidas pelos rabinos para ajudar a
preservar e aplicar os ensinamentos da Torá de maneira relevante para as
gerações posteriores. Elas são de muito proveito, no entanto, é importante
ressaltar que nem todos os judeus seguem ou consideram obrigatórias todas

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 41


as leis rabínicas, isso porque existem diferentes correntes e tradições dentro do
judaísmo, e também diferentes opiniões rabínicas sobre o mesmo assunto.
Esse é o ponto aqui, Paulo era um dos rabinos fariseus que, após conhecer
Yeshua e seus ensinamentos, percebeu o quanto muito desses mandamentos
expresso em ordenanças distanciava judeus e gentios, e se tornava fardo sobre
os seus próprios irmãos judeus.
Paulo tinha uma Semichá (ordenação rabínica) concedida pelos rabinos do
seu tempo. Uma ordenação rabínica é concedida por rabinos experientes e
autoridades rabínicas reconhecidas após um processo de estudo rigoroso e
avaliação das habilidades e conhecimentos do indivíduo. Seu professor foi o
próprio Gamaliel, príncipe do Sanhedrim (Sinédrio) daquela época. Portanto, Paulo
era fariseu rigoroso e extremamente capacitado, conhecedor e praticante da
Torá e de muitas outras leis derabbanan. Paulo tinha muito prestigio pela vida
religiosa que levava, e sua capacidade intelectual era tamanha, que suas cartas
apostólicas de linguagem farisaica são por vezes de difícil compreensão para
os que não entendem da tradição judaica, até os dias de hoje.
Quando Paulo foi excomungado da comunidade erudita de Israel por causa
de Yeshua, ele perdeu “todas essas coisas”, todo o prestígio e elevada posição
social que tinha na comunidade judaica. Anos e anos dedicados a se tornar um
rabino capacitado, e por amor a Yeshua, perdeu toda sua posição e status. Por
isso ele escreve em Filipenses 3:4-8:
“Ainda que eu mesmo poderia confiar também na carne. Se algum outro
pensa que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da
linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei,
fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei,
irrepreensível. Mas o que para mim era lucro passei a considerar como perda
por causa do Messias. Mais do que isso, considero tudo como perda,
comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Yeshua o Messias,
meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco
para poder ganhar ao Messias.”
Portanto, o esclarecimento que o apóstolo desejava apresentar em afirmar
que Yeshua veio para anular as leis de mandamentos expresso em
ordenanças, que mais pesavam do que aliviavam, eram as inúmeras leis
rabínicas. Afinal, o fardo do Rabino Yeshua, diferente dos religiosos legalistas, é
leve, o jugo é suave! Isso não significa que o Filho anulou as Leis do Pai, mas
que o Filho anulou as leis humanas adicionadas às leis do Pai.
“Aceitai o que é fraco na fé, sem a preocupação de debater assuntos
controvertidos. Um crê que pode comer de tudo, e outro, cuja fé é fraca, come
somente alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve menosprezar

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 42


o que não come, e quem não come de tudo não deve condenar quem come; pois
Deus o aceitou. Quem és tu, que julgas o servo alheio? É para o seu senhor que
ele está em pé ou cai. E permanecerá em pé, porquanto o Senhor é capaz de o
sustentar. Há quem considere um dia mais sagrado do que outro; outra pessoa
pode entender que todos os dias são iguais. Cada um deve estar
absolutamente convicto em sua própria mente. Aquele que guarda um dia
especial, para o Senhor assim o considera. Aquele que se alimenta de carne, o
faz para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o
Senhor se priva, e também dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive
exclusivamente para si, e nenhum de nós morre apenas para si mesmo. Se
vivemos, para o Senhor vivemos; e, se morremos, é para o Senhor que
morremos. Sendo assim, quer vivamos ou morramos, pertencemos ao Senhor.
Porquanto foi por este motivo que o Messias morreu e voltou a viver, para ser
Senhor tanto de vivos quanto de mortos. Mas, tu, por que julgas teu irmão? Ou
tu, igualmente, por que desprezas teu irmão? Pois todos nós compareceremos
diante do tribunal de Deus. Porquanto está escrito: “Por mim mesmo jurei, diz o
Senhor, diante de mim todo o joelho se dobrará e toda língua confessará que Eu
Sou Deus”. Deste modo, cada um de nós prestará contas de si mesmo a
Deus.” – Romanos 14:1-12
Veja que interessante esse trecho da carta aos romanos. Paulo diz que os
fracos na fé devem ser aceitos, pois D’us os aceitou.
As leis alimentares (kashrut) que estão descritas em Levíticos 11 não são
dietas veganas ou vegetarianas, pelo contrário, lá estão estabelecidas quais são
as carnes puras para consumo e quais não são. Dentro do contexto abordado
por Paulo, “comer de tudo” não é se alimentar de alimentos não kasher (impuro),
mas se alimentar de frutas, legumes e também de carne.
O apóstolo Paulo viveu durante o século I d.EC.,
a corrente filosófica predominante em Roma durante
o tempo em que o apóstolo Paulo viveu era o estoicismo,
no entanto, haviam outras correntes filosóficas presentes
na sociedade romana, como o epicurismo, o ceticismo,
gnosticismo e o platonismo. Tanto os gnósticos quanto
os estoicos, costumavam naquele tempo (embora não
todos) se abster de comer carne.
Os estoicos acreditavam em uma vida de virtude e autocontrole, e alguns
deles adotavam uma dieta vegetariana ou restrita ao consumo de certos tipos
de alimentos, como uma forma de alcançar uma maior pureza espiritual e moral.
Os gnósticos também tinham uma visão negativa em relação ao
consumo de carne, pois estes acreditavam em uma divisão entre a matéria e o
espírito, considerando a matéria como algo inferior e até mesmo maligno. Nesse

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 43


contexto, muitos gnósticos adotavam práticas ascéticas e restringiam o consumo
de certos alimentos, incluindo carne, como forma de se libertarem das amarras da
matéria e alcançarem a espiritualidade.
Portanto, dado que Paulo se dirigia aos romanos do século I, fica mais
simples entender porque alguns deles eram veganos ou vegetarianos e queriam
condenar os que “comiam de tudo”, isto é, os que consumiam carne. Por outro
lado, é fácil entender também porque estes eram desprezados por aqueles que
consumiam carne. Os veganos e vegetarianos não estavam pautando seus
costumes pela Torá, mas por ideologias humanas; e os que consumiam carne,
mesmo sendo própria para consumo, não aceitavam a abstinência dos que só
comiam vegetais. Por fim, a Torá não estava em pauta nesse contexto, tampouco
Paulo estava anulando as leis alimentares que o próprio Eterno ordenou.
Se por um lado as correntes filosóficas daquela época elencavam questões
alimentares, por outro lado, as correntes gnóstica e estoica não enfatizavam a
observância de dias específicos como parte central de suas crenças. Quem tinha
(e ainda tem) esse costume de “dias especiais” são os judeus, e não me refiro
ao Shabat, mas a outra crença antiga.
A observância de certos dias da semana como especiais além do Shabat
(que é ordenança da Torá), tem suas raízes nas tradições e costumes judaicos.
Embora o Shabat seja o dia sagrado por excelência e estabelecido na Torá, ao
longo do tempo surgiram costumes judaicos que atribuíram significado especial
a outros dias da semana – e essas são crenças existentes ainda antes da época
de Paulo, e que eram cumpridas por judeus daquele tempo e até os dias de hoje.
Por exemplo, a segunda-feira é conhecida como “Yom Sheni” que significa
“segundo dia”. Esse dia é considerado especial porque foi nesse dia que D’us
separou as águas durante a criação do mundo. Portanto, judeus habitualmente
observam a segunda-feira com jejum, orações e reflexões adicionais, por
considerarem este um dia mais especial. Da mesma maneira, a quinta-feira é
conhecida como “Yom Chamishi” que significa “quinto dia”. A quinta-feira é
associada à criação dos seres vivos, incluindo os animais. Por isso os judeus
também costumam considerar esse dia como especial.
Essas práticas adicionais não são prescritas na Torá, e não fazem parte
dos mandamentos, como o Shabat. Elas vêm de tradições e costumes que foram
desenvolvidos ao longo do tempo como formas de aprofundar a conexão com a
espiritualidade e relembrar eventos importantes na história judaica. É por isso que
Paulo afirma que para alguns existiam “dias especiais” e para outros não, e que
isso não deveria ser motivo de debates ou imposições, mas que cada um
deveria estar convicto acerca dessas coisas dentro de sua própria mente.

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 44


Rav Shaul (Paulo) jamais ousaria invalidar ou “abolir” a Lei de D'us, o
D’us a quem ele servia. E mesmo que fosse uma tentativa de abolir a Torá, quem
seria Paulo diante do Todo Poderoso? Apesar de excelente rabino e extremamente
relevante para a conversão dos gentios até os dias de hoje, Paulo nunca teve
autoridade para abolir ou modificar o que foi dito pelo próprio Eterno.
Se fosse Paulo tentando invalidar a Torá, o que não é o caso, mas, se assim
fosse, entre Paulo e o Eterno, permaneço com as palavras do Eterno!
“Afirmo, porém, que, durante todo o tempo em que o herdeiro é menor de
idade, ele em nada é diferente de um escravo, mesmo sendo o dono de tudo. No
entanto, está sujeito a tutores e administradores até o tempo determinado por
seu pai. Da mesma forma nós, quando éramos menores, estávamos debaixo de
um sistema que nos escravizava aos princípios básicos deste mundo. Mas,
vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, com a finalidade de que
recebêssemos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou o Espírito
de seu Filho para habitar em vossos corações, e ele clama: “Abba, Pai!” Portanto,
tu não és mais escravo, mas filho; e sendo filho, és igualmente pleno herdeiro
por decreto de Deus. No passado, quando não conhecíeis a Deus, éreis
escravos daqueles que, por natureza, não são deuses. Agora, entretanto, que já
conheceis a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Ele, como é que podeis
pensar em retroceder a esses princípios insignificantes, fracos e pobres, aos
quais de novo desejais servir? Guardais dias, meses, tempos e anos. Temo que
eu talvez tenha ministrado inutilmente para convosco.” – Gálatas 4:1-11
Os gálatas eram um grupo étnico que habitava a região da Gália, na Ásia
Menor (atual Turquia). Eles eram uma mistura de celtas, galácios e povos
indígenas da região. Paulo fundou várias comunidades durante suas viagens
missionárias, incluindo entre os gálatas, para quem ele escreveu a carta. Durante
o período em que o apóstolo escreveu a Epístola aos Gálatas, no primeiro século,
a região era uma área de grande influência cultural grega e romana. Os “gálatas”
mencionados por Paulo eram judeus, prosélitos (convertidos ao judaísmo) e
principalmente gentios que guardavam a Torá – todos juntos formavam a
comunidade da Galácia.
A Galácia havia se tornado uma província romana, e a região era habitada
por uma mistura de povos, que tinham suas próprias tradições religiosas.
Nessa época, era comum que os conquistadores romanos impusessem sua
cultura e religião sobre os povos dominados (esse inclusive era um conflito
ferrenho com os judeus que falamos no capítulo I, lembra?). Impor a cultura e
religião sobre os povos dominados incluía a promoção do culto aos deuses
romanos e a exigência de adoração por parte das populações subjugadas, ou

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 45


seja, além da própria influência politeísta natural da região, ainda existiam
imposições romanas para adoração a deuses estranhos.
No início desse discurso aos Gálatas, Paulo se dirige aos gentios
convertidos e explica o que havia ocorrido com os judeus (no qual ele estava
incluído), que era fazer parte de um sistema que os escravizava e que Yeshua
veio com a finalidade de os remir. Perceba que ele afirma que a remissão era
para os que estavam debaixo da Torá, guardando os mandamentos, e também
que o que os escravizavam, não era a Torá dada pelo Eterno, mas o sistema
religioso no qual estavam inseridos.
No segundo momento, ainda para os gentios, Paulo afirma que, no
passado, quando eles não conheciam ao Eterno e nem eram por Ele conhecidos,
estes eram escravos do que não são deuses. Paulo não estava falando aos
judeus, porque os judeus conheciam o Eterno, ele estava se dirigindo aos gentios
que se converteram ao Eterno de Israel. Então Paulo questiona como estes
mesmos gentios poderiam retroceder a tais princípios insignificantes, fracos e
pobres. Paulo jamais falaria de tal forma da Torá, logo ele, que pautava seus
ensinos nela. O que o apóstolo questiona é a guarda de dias, meses e anos
gentílicos, da escravidão passada em que serviam entidades que não são
deuses.
Não se trata da tentativa de abolição da Torá, mas de uma repreensão aos
gentios que pensavam em voltar para suas antigas práticas.
Aproveitando ainda, sobre o capítulo 4 de Gálatas, é importante notar que
mais adiante Paulo vai mudar o público do seu discurso. Como havíamos dito,
existiam três classes de pessoas na congregação da Galácia: judeus, prosélitos e
gentios que guardavam a Torá. Portanto, enquanto a primeira parte do capítulo é
direcionada aos gentios, a segunda é direcionada aos judeus, a quem ele chama
de “irmãos” (v.28) pois ele também era judeu.
Aos judeus, Paulo faz um paralelo com a história de Hagar e Sarah. Bem
sabemos que Ishmael nasceu muito antes da Torá ser dada no monte Sinai,
portanto, o que o apóstolo faz aqui é uma comparação a nível alegórico (bem
comum à linguagem farisaica de ensino) em que ilustra seus ensinos usando
histórias da Torá.
Quando Paulo afirma que escravos são a atual cidade de Jerusalém e os
seus filhos, ele não estava falando de Torá! Mas do sistema religioso em que
ainda estavam presos, o mesmo que ele cita no início do capítulo, imersos em
diversas leis derabbanan que contextualizamos anteriormente.
Alguns dos judeus da Galácia desejam permanecer subjugados nessas
leis rabínicas que traziam peso e sobrecarga no cumprimento da Torá, algumas

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 46


dessas leis derabbanan eram tão opressivas que nem mesmo os próprios judeus
que as defendiam conseguiam suportar (At.15:10).
Dessa maneira, Paulo usa a figura de Hagar para ilustrar que Ishmael nasceu
de modo natural, deixando claro que as leis rabínicas são humanas. A Torá do
Eterno, ao contrário, não é humana, mas divina, assim como Yitschak, que é fruto
da promessa. Presente na Jerusalém do alto, a Torá do Eterno, de forma pura e
genuína como Yeshua ensinou, é sinônimo de aliança espiritual com liberdade e
não com cercas e mais cercas humanas.
Por fim, Paulo conclui aos seus irmãos (judeus), que eles não eram filhos
da escrava (Torá derabbanan), mas filhos da liberdade (Torá deoraíta). E como
Ishmael perseguia Yitschak– algo que a Torá escrita não menciona, quem afirma
isso é a Torá oral – da mesma maneira, os judeus presos às leis rabínicas que
não aceitavam os ensinamentos de Yeshua, perseguiam os judeus messiânicos.
“Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis, ou pelo
que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa religiosa, celebração das luas
novas ou dos dias de sábado. Esses rituais são a sombra do que haverá de
vir; a realidade encontrada no Messias.” – Colossenses 2:19-17
A congregação em Colossos situava-se em uma cidade na região da Frígia,
na Ásia Menor (atual Turquia), cuja população era formada principalmente por
gregos, com uma presença significativa de povos frígios e judeus na região. Ou
seja, a congregação dos colossenses tinha desde judeus e prosélitos, até
gentios convertidos, como eram basicamente todas as congregações
messiânicas dos primeiros três séculos.
Com base em tudo que falamos sobre o posicionamento de Paulo, é óbvio
que seu discurso aqui não é para quem não cumpre Torá, mas para aqueles de
Colossos que cumpriam as leis e mandamentos do Eterno e estavam
enfrentando preconceitos e perseguições por assim procederem.
Um rabino fariseu que guardava o Shabat e defendia a sã doutrina como
Paulo, não estaria, só nesse capítulo, se posicionando contra a Torá e
aconselhando os demais a seguirem o mesmo caminho: fazendo o que quiserem,
da maneira que quiserem e agindo como se a Torá tivesse sido abolida. Todo
princípio moral ensinado por Paulo tinha como base a Torá e os ensinos de
Yeshua (que também eram baseados na Torá), logo, não faz sentido que tal
discurso de Colossenses tivesse sido para os que não cumprem a Torá! Pois a
guarda dos mandamentos era parte da doutrina messiânica da congregação.
Dado isso, faço das palavras de Paulo as minhas para você que guarda
Shabat e as demais festividades do Eterno: “ninguém tem o direito de vos julgar
pelo que comeis, ou pelo que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa
religiosa, celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Esses rituais são a

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 47


sombra do que haverá de vir; a realidade encontrada no Messias” – cada vez que
você cumpre um desses mandamentos, você está anunciando um aspecto
messiânico que haverá de ser revelado na era de Mashiach! Maranata! O próprio
Shabat é a personificação do descanso sabático que ainda está reservado para
o povo de D’us (Hb.4:9).

O Concílio esquecido de Jerusalém


Na primeira aula dessa série, falamos sobre diversos concílios promovidos
por Roma, entretanto, existe um concílio muito anterior, e que é esquecido pela
igreja atual. Este concilio aconteceu ainda na época dos primeiros apóstolos, e
está registrado em Atos 15. É importante ler todo o capítulo, mas vamos destacar
alguns versículos aqui:
Alguns homens, que haviam descido da Judeia, passaram a ensinar aos
irmãos: “Se não vos circuncidardes conforme instituído por Moisés, de forma
alguma podeis ser salvos!” Por este motivo, Paulo e Barnabé tiveram uma
acirrada divergência com eles. E os irmãos decidiram que Paulo e Barnabé,
juntamente com outros, deveriam subir até Jerusalém e tratar dessa questão
com os apóstolos e com os presbíteros. (v.1-2)
O primeiro ponto importante aqui é notar que os homens que desceram
ensinar os gentios que estavam abraçando a Torá, saíram a partir da Judeia.
Nessa região, haviam duas casas rabínicas muito proeminentes – a de Shamai e
de Hilel – e precisamos falar sobre elas primeiro:
A casa de Shamai e a casa de Hilel eram duas escolas rabínicas
que existiam durante o período do Segundo Templo em Israel. Elas
representavam diferentes abordagens e interpretações da lei judaica.
Embora não houvesse um único núcleo de pensamento em Israel na época,
essas duas casas rabínicas eram proeminentes e influentes. As principais
diferenças entre elas eram:
• Interpretação da Lei: A casa de Shamai tendia a adotar uma
abordagem mais rigorosa e literal na interpretação da lei.
Eles enfatizavam a observância estrita dos mandamentos e
eram menos propensos a concessões ou interpretações mais
flexíveis. Por outro lado, a casa de Hilel tinha uma abordagem
mais leniente e flexível. Eles tendiam a interpretar a lei de
maneira mais ampla, buscando encontrar maneiras de
harmonizar diferentes mandamentos e considerando as
circunstâncias individuais;
• Atitude em relação a conversos: A casa de Shamai era mais
restritiva em relação aos conversos. Eles tendiam a impor

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 48


requisitos mais rigorosos aos não-judeus que buscavam se
converter ao judaísmo. A casa de Hilel adotava uma postura
mais inclusiva e tolerante em relação aos conversos. Eles
eram mais receptivos e estavam dispostos a facilitar o
processo de conversão;
• Abordagem ao ensino: A casa de Shamai tinha uma
abordagem mais formal e estruturada ao ensino. Eles
enfatizavam a autoridade do mestre e seguiam uma
estrutura mais rígida na transmissão do conhecimento. A
casa de Hilel adotava uma abordagem mais interativa e
aberta ao ensino. Eles incentivavam o debate e a discussão
entre os alunos, permitindo uma troca mais livre de ideias.
Tanto a casa de Shamai quanto a casa de Hilel eram baseadas na
região da Judeia. A casa de Shamai, liderada por Shamai, tinha sua sede
em Jerusalém. Shamai era conhecido por sua rigorosa interpretação da lei
e sua postura mais restritiva em relação a certas questões. A casa de Hilel,
liderada por Hilel, também estava sediada em Jerusalém. Hilel era
reconhecido por sua sabedoria e abordagem mais tolerante e inclusiva da
lei. Ele era conhecido por seu lema famoso: "O que é odioso para você,
não faça ao seu próximo. Esta é toda a Torá, o resto é explicação".
Embora ambas as escolas estivessem localizadas na Judeia, suas
influências e ensinamentos se estendiam além da região, alcançando outras
partes da Terra de Israel e da diáspora judaica. Suas opiniões e debates
foram registrados e preservados no Talmud, que se tornou uma das
principais fontes do pensamento rabínico e da lei judaica de todos os
tempos.
Shamai e Hilel foram contemporâneos e viveram durante o período
do Segundo Templo. Embora seja difícil determinar exatamente as datas
de suas vidas, acreditamos que eles tenham vivido no século I a.EC., ou
seja, antes do nascimento de Yeshua. Embora Shamai e Hilel não tenham
tido envolvimento direto com os ensinamentos de Yeshua, podemos
perceber que o pensamento judaico da casa de Hilel era muito próximo
ao do Mashiach e de seus talmidim.
Um exemplo disso, é que a Regra de Ouro de Hilel – “O que é odioso
para você, não faça ao seu próximo. Esta é toda a Torá, o resto é
explicação” - é semelhantemente recitada de forma positiva por Yeshua em
Mateus 7:12: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o
também a eles, porque esta é toda a Torá e os Profetas”.
Entre o povo de Israel, muitos judeus simples reconheceram Yeshua como
Messias, da mesma maneira, muitos estudiosos de ambas escolas rabínicas

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também creram. Dado isso, podemos entender que os homens que estavam
impondo com rigor a circuncisão tinham influência da escola de Shamai, e
haviam absorvido de seus mestres essa linha de interpretação. Já Paulo e
Barnabé, ambos também judeus, sendo Paulo da cidade de Tarso (região da atual
Turquia) e Barnabé de origem cipriota, tinham a influência da escola de Hilel, cujo
modo de interpretação de Torá Yeshua também compartilhou durante seu
ministério terreno. Tal como muitas discussões registradas no Talmud, onde
mostra a rivalidade das escolas; Paulo, Barnabé e os demais judeus tiveram uma
acirrada divergência acerca da imposição e constrangimento à circuncisão. Vale
reiterar que todos nessa discussão de Atos 15 eram judeus, apesar das
divergências. Isso porque o núcleo de liderança da igreja primitiva era formado por
judeus.
Outro ponto importante é que esses judeus que estavam buscando
constranger os gentios à circuncisão atrelavam o brit milá (circuncisão) ao contexto
de salvação, especificamente. Mas a verdade é que o brit milá é apenas um dos
mandamentos do Eterno, e não é uma condição necessária para a salvação.
Por fim, é decidido que Paulo e Barnabé subiriam até Jerusalém para
conversar com os apóstolos e líderes da congregação messiânica a respeito desse
assunto. Aqui entendemos que outros apóstolos de Yeshua concentravam seu
ministério entre os judeus, diferente de Rabi Shaul (Paulo), que concentrava os
esforços entre os gentios.
“Entretanto, alguns do grupo religioso dos fariseus, que tinham crido,
levantaram-se protestando: “É necessário circuncidá-los e ordenar-lhes
expressamente que observem toda a Lei de Moisés!”. Diante disso, os
apóstolos e os presbíteros se reuniram para deliberar sobre a questão imposta.
Depois de um grande debate, Pedro tomou a palavra e ponderou-lhes: “Irmãos,
vós sabeis que desde há muito, Deus me escolheu dentre vós para que, por
meu intermédio, ouvissem os gentios a Palavra do Evangelho e cressem. E
Deus, que conhece os corações, testemunhou em benefício deles, concedendo-
lhes o Espírito Santo, da mesma forma como o deu a nós; e não fez qualquer
distinção entre os gentios e nós outros, purificando o coração deles pela fé.
Agora, pois, por que quereis tentar a Deus, colocando sobre as costas dos
discípulos uma carga que nem nossos antepassados nem nós mesmos
conseguimos suportar? De modo algum! Cremos que somos salvos pela
graça de Yeshua haMashiach, exatamente do mesmo modo que os gentios
também”. (v.5-11)
Primeiro é destacado que alguns do grupo religioso – que tinham crido em
Yeshua como Messias – protestaram que era necessário a circuncisão e a
observância de “toda” a Lei. E isso chama atenção, porque a discussão era, a

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princípio, somente sobre brit milá e agora alguns dentre os judeus, queriam impor
a ordenança expressa de guardar toda Lei.
Entretanto, esse guardar “toda a Lei” não se refere somente a Torá
escrita, mas também todos os mandamentos rabínicos que vimos mais
anteriormente. Esses mandamentos eram cargas tão difíceis de carregar, que
Pedro atenta para esse fato, afirmando que ninguém entre eles ou entre seus
antepassados suportaram. Quanto a esse legalismo religioso, o próprio Yeshua
se opôs a ele. Diferente do jugo pesado no ensino dos demais rabinos daquela
época, o fardo e o jugo dos ensinos de Yeshua eram leves e suaves (Mateus 11:30).
Além disso, Pedro (Kefas em hebraico), relembrou sua experiência pessoal
com Cornélio (Atos 10 e 11), destacando a maneira como ele e sua família gentílica
abraçaram a fé em Yeshua e no D’us de Israel. É importante ressaltar que pelo
costume judaico, Pedro nem entraria na casa de Cornélio, por ser uma prática
proibida pela Torá rabínica. Essa ideia de acepção de pessoas era mais uma das
muitas cargas impostas sobre os judeus, e de fato, Kefas a seguia. Se não fosse a
experiência sobrenatural da visão que ele teve com os animais, e sua seguida
interpretação, muito provavelmente ele negaria o convite de Cornélio e não
entraria em sua casa. Consequentemente, não haveria salvação entre eles como
aconteceu, e as boas notícias da vinda do Messias não alcançaria os gentios
massivamente. Isso é mais uma demonstração de como os discípulos de Yeshua
mantiveram sua judaicidade e jamais desprezaram a Torá.
Finalizando seu discurso, Pedro enfatiza que a salvação é por intermédio
da graça concedida por meio de Yeshua, tanto para judeus, quanto para gentios.
Então, toda a assembleia ficou em silêncio, enquanto ouvia Barnabé e
Paulo relatando todos os sinais miraculosos e prodígios que, por meio deles,
Deus realizara entre os gentios. Quando acabaram de compartilhar, Tiago
pediu a palavra e arrazoou-lhes: “Irmãos, ouvi-me: Simão narrou como
primeiramente Deus foi ao encontro dos gentios para edificar dentre eles um
povo consagrado ao seu Nome. E, com isso, estão de pleno acordo as
palavras dos profetas como está escrito: ‘Depois disso voltarei, e reconstruirei a
tenda de Davi, que está caída; reedificarei as suas ruínas, e tornarei a levantá-la;
para que o restante das pessoas busque ao Senhor, sim, todos os gentios,
sobre os quais é invocado o meu Nome, diz o Senhor que faz essas
realizações desde os tempos antigos’. Portanto, julgo que não se deve
constranger aqueles que dentre os gentios se convertem a Deus, todavia,
escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da
imoralidade, da carne de animais sufocados e do sangue. Porque desde os
tempos antigos, Moisés é pregado em todas as cidades, bem como é lido nas
sinagogas em todos os dias de sábado”. (v.12-21)

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A assembleia que ficou em silencio para ouvir Paulo e Barnabé eram o
concilio de judeus com testemunho de Yeshua de Jerusalém. Era uma Beit Din
(Casa da Justiça), como eu explico nas aulas do módulo “Calendário Bíblico” da
Yahalom. Uma Beit Din é responsável por analisar e julgar certas aplicabilidades
da lei judaica na congregação.
Tiago (em hebraico, Yaakov) era o irmão de Yeshua, e líder da assembleia.
No início de seu discurso, Yaakov aborda a experiencia de Kefas, chamando-o de
Simão (Shmon em hebraico), que era seu nome de nascimento, e discorre acerca
da edificação do nome do Eterno entre os gentios, cumprindo-se a profecia de
Amós 9:11-12. Diante disso, ele pondera que NÃO se deveria constranger o
gentio que se CONVERTE ao Eterno para que este circuncidasse a carne.
Importante notar isso: gentios que se convertem ao Eterno! Para esses,
Tiago deixa quatro recomendações imediatas:
1. Abster-se das contaminações dos ídolos;
2. Abster-se da imoralidade;
3. Abster-se da carne de animais sufocados;
4. Abster-se do sangue.
Aqui é importante notar que Tiago está parafraseando as leis de
santificação que o Eterno deu à Israel, o que inclui abster-se de idolatria e
respeitar regras acerca da alimentação – as leis alimentares são chamadas de
kashrut em hebraico, e estão em Levítico 11.
Outro ponto importantíssimo e crucial é o final do discurso, em que Yaakov
afirma que: “desde os tempos antigos, MOISÉS É PREGADO em todas as
cidades, bem como é LIDO NAS SINAGOGAS em todos os DIAS DE SÁBADO”.
Isso significa que o que era ensinado tanto aos judeus quanto aos
gentios era a TORÁ! Assim como Yeshua, todos os rabinos, desde os tempos
antigos, e todos os profetas, levitas e sacerdotes, ensinavam ao povo a TORÁ,
isto é, a LEI DE D’US! Nessa época, o que conhecemos hoje como “Novo
Testamento” não existia, pois só ganhou forma muitos séculos depois. O que
existia desde os tempos antigos e era ensinado ao judeu e ao não judeu que se
convertia à D’us é a TORÁ!
De acordo com a afirmação de Tiago, a Torá era pregada em todas as
cidades e lida nas sinagogas, porque o povo judeu nessa época já tinha o Tanach
(Torá, Profetas e Escritos). Por fim, Yaakov finaliza seu discurso enfatizando que o
ensino da Torá ocorria em todos os dias de SÁBADO!
A época dos discípulos era muito diferente da época que arrasou Israel
trezentos anos depois. Aqui, guardar o Shabat era natural, tão natural quanto

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a luz do sol, e não existia nenhuma corrente teológica que buscava abolir o
sábado e estabelecer o domingo como dia de descanso.

A IGREJA PRIMITIVA GUARDAVA O SHABAT, MANTINHA


RESTRIÇÕES ALIMENTARES E AOS SÁBADOS APRENDIA A
TORÁ EM COMUNIDADE, MANTENDO O TESTEMUNHO DE
YESHUA COMO MASHIACH.
• Guardamos o Shabat porque é mandamento direto do Eterno,
escrito com Seu próprio dedo nas Tábuas do Pacto – e depois
reescrito por Moshe (Êxodo 20 e Deuteronômio 5).
• Guardamos o Shabat porque esse mandamento, desde os tempos
antigos, sempre foi para judeus e gentios que se convertem ao
Eterno (Êxodo 20:8-10; Deuteronômio 5:12-15).
• Guardamos o Shabat porque era assim que Yeshua fazia, era assim
que seus discípulos e apóstolos faziam, e era assim que a igreja
primitiva fazia.
A Torá do Eterno nunca foi abolida, mas sempre foi (e é) viva e eficaz!
“Porquanto a Torá do Eterno é viva e eficaz, mais cortante que qualquer
espada de dois gumes; capaz de penetrar até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é sensível para perceber os pensamentos e
intenções do coração. E não há criatura alguma incógnita aos olhos de D’us.
Absolutamente tudo está descoberto e às claras diante daquele a quem
deveremos prestar contas”. – Hebreus 4:12-13.

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Capítulo III

COMO GUARDAR O

SHABAT

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Como guardar o Shabat
Yahalom Academia Judaico Messiânica

Como vimos, a guarda do Shabat não é uma doutrina humana, mas um


mandamento do Eterno. Sua observância tem raízes na Torá, e sua guarda tem
raízes tanto na Torá quanto nas tradições e ensinamentos judaicos.
Shabat é mandamento Divino (Êxodo 20:8-11; Deuteronômio 5:12-15). É
dia de descanso, renovação e santificação do tempo como um lembrete
semanal de que este dia é sagrado e deve ser usado de forma significativa e
intencional. O Shabat é parte da identidade de quem guarda os mandamentos e
estatutos do Eterno, seja esse um circuncidado na carne ou não. É um símbolo
da aliança entre o Eterno e o Seu povo, e está ligado à valorização da vida e à
importância de equilibrar as atividades produtivas com o descanso e a apreciação
do mundo ao nosso redor.
Em suma, a guarda do Shabat é uma prática mais espiritual do que física!
Neste terceiro capítulo do nosso e-book vou explicar como guardar o
Shabat. Tanto de acordo com as mitzvot d'oraita, ou seja, estritamente como
está na Torá Escrita, bem como, a guarda do Shabat com as adições dos
costumes e tradições judaicas e alguns de seus significados.

Mitzvots d’oraíta
A guarda do Shabat é um dos principais mandamentos descritos na Torá,
e o que mais é repetido em toda extensão das Escrituras. As mitzvot d'oraita que
estão associadas à observância do Shabat são:
• Shamor et yom haShabat - "Guardar o dia de Shabat" (Êxodo 20:8):
É um mandamento para observar o Shabat, isso significa que
atividades seculares são proibidas. Quando você se programa
durante toda a semana para este dia santo, já se pode contar como
cumprimento da primeira parte desta mistvá;
• Lo ta'aseh melachah - "Não fazer qualquer trabalho" (Êxodo 20:10):
Este mandamento proíbe a realização de qualquer atividade que seja
considerada trabalho, como serviço empresarial e corporativo,
cozinhar, limpar a casa, plantar, costurar, construir...;
• Zeicher lema'aseh bereshit - "Lembrar o ato da criação" (Êxodo
20:11): Este mandamento se refere a trazer à memória que o Eterno
criou o mundo em seis dias e cessou de trabalhar no sétimo dia,
santificando-o como Shabat. Devemos lembrar e reconhecer este ato

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de criação, e lembrar que a deferência do sábado como sagrado
ocorreu desde a fundação do mundo;
• Oneg Shabat - "Desfrutar do Shabat" (Isaías 58:13): Além de se
abster de trabalho, é um mandamento encontrar prazer e alegria no
Shabat, desfrutando de refeições especiais, orações, estudo da Torá,
tempo de qualidade em família e outras atividades espirituais. É
necessário considerar o Shabat deleitoso, e por ser um dia de alegria,
jejuns não são realizados. Com exceção do jejum de Yom Kipur, caso
este caia num Shabat, pois o Yom Kipur é superior ao Shabat;
• Lo teva'aru eish b'chol moshvoteichem - "Não acendam fogo em
todas as suas moradas" (Êxodo 35:3): Este mandamento proíbe
acender/fazer fogo no Shabat;
• Lo tatzoru - "Não saiam, cada um de sua habitação no dia de
Shabat" (Êxodo 16:29): Este mandamento proíbe viajar longas
distâncias no Shabat, bem como, sair de casa para qualquer outro
fim que não seja ir à congregação se apresentar diante do Eterno;
• Lo yimkaru makharot - "Não vender mercadoras" (Neemias 10:32):
Embora a proibição específica de negociação no Shabat não esteja
explicitamente encontrada na Torá, o governador Neemias
confrontou os judeus por violarem o Shabat, incluindo a realização
de negócios e comércio. Ele lembrou-os de que seus antepassados
haviam sido punidos por não guardarem o Shabat adequadamente e
os instruiu a observar o dia de descanso conforme ordenado na Torá.
Por isso, até hoje negociações e comércio são proibidos no Shabat;
• Mikra kodesh" - "Santa convocação" (Levítico 23:3): O Shabat é um
dia de descanso solene e santa convocação. Isso destaca a natureza
especial e sagrada do Shabat. É um dia em que o povo do Eterno é
chamado para se reunir em adoração a Ele, descansar das atividades
seculares e dedicar tempo ao estudo da Torá, à oração e ao convívio
familiar e comunitário. É um dia exclusivo para D’us.
O Shabat é tão sério para o Eterno que em Números 15:32-36 existe um
relato bíblico que conta a história de um homem que foi apedrejado por violar o
Shabat ao coletar lenha. Isso serve como um exemplo de advertência para a
gravidade de violar o Shabat.

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Mitzvots derabbanan
A guarda do Shabat no sentido prático, além dos mandamentos da Torá,
inclui mitsvot rabínicas. Ou seja, ordenanças instituídas pelos sábios e rabinos ao
longo do tempo para complementar ou interpretar as leis e princípios contidos na
Torá escrita. Essas mitsvot são baseadas na autoridade rabínica e na tradição oral
transmitida de geração em geração. Embora não sejam diretamente
encontradas na Torá escrita, são consideradas muito importantes, e até
obrigatórias para alguns partidos judaicos.
Você que está lendo este livro, saiba que essas mitzvots não são
obrigatórias, são complementares. Obrigatórias são as que lemos
anteriormente, pois estão expressamente escritas na Torá, são mitzvots
d’oraítas. Todavia, eu quero encorajar você a se empenhar com zelo na guarda
do Shabat dando o seu melhor, cumprindo também as recomendações positivas
dos sábios. Porém, a escolha é sua!
Preparando-se durante a semana:
A guarda do Shabat inclui “lembrar” do dia de Sábado para o santificar
(Êxodo 20). Isso significa que antes de santificar o dia, é necessário lembrar-se
dele. Não tem como santificar o sábado sem a devida preparação, pois tudo deve
estar pronto com antecedência. O Shabat foi feito para o homem, e não o
contrário, por isso, quem santifica esse dia ao Eterno é o próprio ser humano,
e para isso, é necessário prévia preparação.
Preparar-se para o Shabat é uma questão de aprendizado e experiência.
Conforme avançamos nesse processo de aprendizado, mais natural a prática
desse mandamento vai se tornando. O objetivo é que você encontre seu ritmo e
torne o cumprimento desse mandamento tão natural quanto respirar.
“Quem trabalha na véspera do Shabat”, no sentido de se preparar, dizem
os sábios, “comerá no Shabat.” O Shabat é tratado como um convidado de
honra, e sexta-feira (ou até quinta-feira à noite) nosso lar é dedicado ao preparo
para sua chegada. Por esse motivo, além de yom shishi (sexto dia), esse dia é
também chamado de Erev Shabat, isto é, “véspera do Shabat”.

Toda semana, durante as 25 horas que começam pouco antes do pôr-do-


sol de sexta-feira até o anoitecer de sábado, celebramos o Shabat, um período
de descanso e renovação espiritual.
Alguns conselhos importantes para você se preparar são:
• Planeje o cardápio do Shabat no início da semana, pois não
cozinhamos no Shabat e nem fazemos fogo, então, quanto mais
planejado tudo estiver, melhor será a execução;

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• Faça uma lista do que comprar e do que fazer, e risque os itens à
medida que os cumprir, isso irá colaborar com a organização e
execução das tarefas;
• Faça as tarefas mais “pesadas” no começo da semana, deixando a
limpeza leve para a sexta-feira. Eu por exemplo, faço a limpeza
pesada na quinta-feira, e a leve na sexta;
• Dê tarefas para cada um dos seus filhos que serão feitas em honra
ao Shabat, assim eles se sentem parte da preparação.

Na sexta-feira antes do Shabat


Todas as tarefas devem estar prontas antes do pôr do sol, por isso é
necessário organização!
• Como o Shabat deve ser um dia de “deleite”, assegure-se que sua
casa está confortável;
• Como não cozinhamos no Shabat, tudo é preparado com
antecedência. Isso significa que as refeições de Shabat são feitas
antes do pôr do sol. Embora saladas frias geralmente possam ser
preparadas no Shabat, é melhor ter tudo pronto de antemão. Os
alimentos quentes são armazenados para serem esquentados
durante o Shabat, fazendo uso de micro ondas, forno elétrico ou air
fryer, ou ainda, da Plata, que mantém o alimento quente na
temperatura apropriada por todo tempo;
• É possível, caso queira, cobrir a mesa com uma toalha especial,
bem como colocar as velas e a chalá (pão trançado) sobre a mesa
com antecedência para introduzir uma atmosfera de Shabat.

Utensílios
• Velas – Fazemos fogo duas vezes em
honra ao Shabat, antes do pôr do sol de
sexta-feira, em que se inicia o Shabat, e
após o pôr do sol de sábado, quando o dia
santo se encerra. Ambas cerimônias tem o
objetivo de separar o santo do profano. São
duas velas normais na sexta-feira e uma
vela de havdalá no sábado, caso não tenha
a vela trançada de havdalá, pode usar duas
velas normais novamente;
• Castiçais – É bom ter castiçais especiais para acender as velas,
especialmente se houver alguns que sejam herança de família.

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Porém, se não os tiver, acenda as velas nas costas de um pires,
xícaras ou taças;
• Devar Torá – Reserve um tempo da quinta ou da sexta-feira para
revisar a porção semanal da Torá, e prepare um esboço simples que
possa iniciar uma conversa sobre algum tópico espiritual relevante;
• Lenços de cabeça – Quando uma mulher casada acende as velas,
é interessante cobrir a cabeça ao recitar a bênção. Portanto, é
interessante que tenha lenços bonitos à mão para si própria e as
convidadas, caso tiver;
• Kipot – É um costume que homens e meninos usem kipá à mesa do
Shabat;
• Copo de kidush – É bom ter um copo especial para
fazer o kidush. Pode ser uma taça de prata, ou um belo
copo de vinho, ou algo desse tipo. O copo deve ter a
capacidade mínima de 100 ml;
• Copos pequenos de kidush – Após a bênção sobre
o vinho, este é servido em copos menores que são
passados a todos sentados à mesa. Conjuntos (de
prata ou vidro) podem ser comprados em lojas de
artigos judaicos, ou se não tiver, os substitua por
copos plásticos;
• Copo para ablução – Dois copos com alças, adquiridos em lojas de
artigos judaicos, ou use canecas ou copos grandes para substituir;
• Tábua para chalá – Pode usar qualquer tipo de tábua de cortar, mas
caso queira, há tábuas e facas de pão feitas especialmente para a
mesa do Shabat, geralmente de madeira de oliva ou pedra;
• Cobertura para chalá – Pode ser o guardanapo mais bonito que
você tenha, ou uma capa especial encontrada em lojas de artigos
judaicos, essa cobertura é colocada sobre a chalá. É um símbolo do
orvalho que cobriu o maná que caiu para o povo de Israel no deserto;
• Bentchers – Pequenos livros com as bênçãos
para velas, kidush e Graças Após as Refeições
são muito úteis. Muitos bentchers contêm
também canções para a mesa do Shabat. Não é
obrigatório, mas se tiver, a experiência é ainda
melhor. Você também pode imprimir folhas sulfites com as bênçãos
escritas antes do início do Shabat e usá-las durante a cerimônia;
• Vela de Havdalá – Uma vela trançada é usada para a
cerimônia de Havdalá que oficialmente encerra o Shabat.
Pode ser comprada em lojas de artigos judaicos em cores
decorativas e comprimentos variados. Se você não possui
uma, simplesmente use duas velas, colocando os pavios
juntos enquanto elas queimam;

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• Caixa de especiarias – Dentes de alho, pimenta
doce, cravo ou canela, são usados na cerimônia
da Havdalá podem ser colocados numa caixinha
decorativa de prata, cerâmica, madeira ou
outros. Se você não tiver, use a garrafa na qual
veio o tempero. Geralmente jogos completos de
havdalá – copo de kidush, castiçal e caixa de
temperos – são adquiridos juntos em lojas de
artigos judaicos.

Chalá – Pão trançado


A pura, simples e singela palavra chalá significa
“um pão”. Na sexta-feira costumamos fazer a
Chalá, que é o pão trançado essencialmente
importante para o momento do kidush, que em
hebraico significa “santificação”.
É verdade que nem todas as pessoas têm
habilidades na cozinha ou alguém que possar fazer o
pão trançado, por isso, em últimos casos, a pessoa
pode usar outro pão comum para a cerimônia de
santificação. Mas, quero encorajar você a assar sua
própria chalá! Habilidades são adquiridas e
aperfeiçoadas com o tempo, desafie-se!
Como escrevi acima, Chalá é o pão trançado presente nas mesas de Shabat
dos que guardam a Torá em todo o mundo. Aqui estão alguns detalhes
interessantes sobre esse pão tradicional e delicioso:
• Origens Bíblicas – A palavra chalá na Torá surge primeiro quando o
Eterno descreve ao povo hebreu como será a vida para eles na Terra
de Israel: “Quando chegarem à Terra a qual Eu trago vocês, quando
vocês comerem do pão da Terra, devem separar chalá para D'us...”
(Números 15:18-19). Chalá é usada para descrever a porção que é
separada. Massas feitas de qualquer um dos cinco grãos (trigo,
cevada, espelta, centeio, aveia) deveriam ter uma porção separada,
que mais tarde era dada aos cohanim (sacerdotes) que trabalhavam
no Templo Sagrado e a seus familiares para comerem;
• Duas chalot – É tradicional colocar dois pães sobre a mesa do
Shabat. Isso representa a porção dupla de maná com a qual o
Eterno alimentou o povo de Israel enquanto este vagava pelo deserto
durante 40 anos após a saída Egito (Shabat 117b). Como escravos,

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os hebreus eram submetidos a trabalho muito duro. Eles aprenderam
no deserto como fazer uma pausa em seu trabalho observando o
Shabat, quando nenhum trabalho era realizado. Uma vez que o único
trabalho que eles tinham que fazer no deserto era coletar sua porção
diária de maná (todas as outras necessidades, como abrigo e roupas,
eram providenciadas diretamente por D'us), eles foram instruídos a
não recolherem no Shabat. Em vez disso, o Eterno enviava uma
porção dupla de maná todas as sextas-feiras; é essa porção dupla
que lembramos através das nossas duas chalot no Shabat;
• Lembrança do Templo – Embora o Templo esteja destruído, ainda
hoje observamos a mitsvá de separar a chalá. Após prepararmos a
massa, retiramos um pequeno pedaço, proporcional ao tamanho de
um ovo pequeno. Tanto a massa toda, quanto o pequeno pedaço,
são reservados para que possam crescer. Então cobrimos tudo com
plástico insulfilme e pano, e recitamos uma bênção especial: Baruch
Atá Ado-nai, Elo-hei-nu Melech HaOlam, Asher Kideshanu
Bemitsvotav Vetsi-vanu LeHafrish Chalá, que significa, “Bendito és
Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus
mandamentos e nos ordenou a separar a chalá”. Após o tempo de
espera, molda-se as chalot, e esse pedaço de massa, do tamanho
de um ovo, é segurado na mão declarando sobre ele: Ha-rei zo
chalá, que significa, “Eis que isto é chalá”. Por fim, após assar as
chalot trançadas, pega-se esse pedaço separado, que pode ser
embrulhado em papel alumínio, e queimamos até torrar, no forno ou
na boca do fogão;
• Sal e Chalá – Durante o Shabat, após recitar a bênção sobre a chalá
(ou todos os outros pães), é costume cortá-la e mergulhá-la no sal.
Isso lembra o sal que os cohanim do antigo Templo costumavam
polvilhar sobre os sacrifícios que ofereciam ao Eterno. Uma memória
que nos conecta ao culto de nossos ancestrais em Jerusalém. O sal
também é um símbolo do povo de D'us: não estraga, está sempre
fresco, e realça a beleza e o sabor de tudo que toca, por isso, ele não
pode perder o sabor jamais!
• A Mesa é um Altar – Ao descrever sua visão do altar a ser colocado
no Terceiro Templo, Yechezekel (Ezequiel) diz: “O altar era de
madeira, três cúbitos de altura e dois cúbitos de comprimento… e ele
falou para mim: ‘Esta é a mesa que está perante o Eterno’”. O
versículo começa chamando de altar e termina mencionado como
mesa. O Talmud explica que quando não há Templo, a mesa de uma
pessoa é como um altar (Talmud, Berachot 55 a). Logo, se a mesa é
como o altar, os alimentos comidos ali são como as oferendas!
A respeito das oferendas, o versículo de Levítico 2:13 declara: “Não
deves omitir o sal do pacto de seu D'us de [ser colocado] sobre suas

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oferendas da refeição. Deves oferecer sal em todos os teus
sacrifícios”. Portanto, acrescentamos sal à nossa comida básica – o
pão, e em todas as suas mais deliciosas versões;
• Escondida – Quando as chalot de Shabat e das festas são colocadas
na mesa, elas são cobertas com uma bela cobertura, escondendo-as
até a hora de fazer a bênção sobre o pão. Cobrimos as chalot porque
é costume fazer a bênção sobre o vinho primeiro, e queremos
“proteger” a chalá desse conhecimento de que ela não vem primeiro.
A razão para isso é um alerta a respeito de que assim como nos
esforçamos tanto para proteger os “sentimentos” do mero pão,
quanto mais cuidado devemos ter para preservar os sentimentos de
nossos semelhantes;
• Momento Sagrado – Embora não haja obrigação de assar a própria
chalá, algumas mulheres que optam por assar chalá para suas
famílias usam esse tempo para orar. Algumas mulheres recitam
Salmos davídicos; outras recitam rezas, e outras formulam preces em
suas próprias palavras. A maneira é singular, e independente de cada
costume, separar chalá é uma mitsvá importante que imbui o lar e a
chalá com santidade.
Além disso, cada ingrediente do pão representa uma dimensão espiritual:
• A água é frequentemente comparada à Torá e sua sabedoria;
• O Fermento representa nossa capacidade de crescer e expandir e
alcançar novas alturas;
• O açúcar nos lembra da doçura que esperamos trazer para nossas
famílias e comunidades;
• O sal realça o sabor em outros ingredientes e também lembra o povo
do Eterno: como o sal, nunca estragamos, mas permanecemos
sempre frescos;
• O óleo, nos tempos bíblicos, era usado para ungir os reis e os
sacerdotes que serviam no Templo, ele nos lembra de trazer
majestade e santidade para nossas vidas também;
• Os ovos representam a doação da vida, algo que as mulheres
tementes a D'us ao longo dos tempos cultivaram e cultivam em seus
lares e comunidades;
• A farinha representa a nutrição: assim como a farinha nos sustenta
fisicamente, esperamos que a chalá que consumimos no Shabat
traga sustento também espiritualmente.

Passo a passo
Resumidamente, o que fazemos no Shabat é basicamente:

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1. Acender as velas do Shabat;
2. Kidush;
3. Jantar Festivo;
4. Serviço de Shacharit (oração matinal);
5. Kidush;
6. Almoço Festivo;
7. Serviço de Minchá (oração da tarde);
8. Seuda shlishit (refeição leve);
9. Havdalá (encerramento do Shabat);
10. Serviço de Arvit (oração noturna).
Nós dormimos mais no Shabat. Há quem diga que a palavra Shabat (‫ )שבת‬é
um acrônimo para shinah beshabat taanug, que significa, “dormir no Shabat é um
prazer”. Nos horários vagos da lista acima, os passatempos favoritos do Shabat
incluem estudo da Torá e soneca. Relaxar em um tempo de qualidade com a
família e os amigos é um prazer único do Shabat.
Ao que se refere a parte prática da guarda do Shabat de maneira judaica de
forma geral, pois é importante considerar que os costumes podem variar em
diferentes comunidades, são as seguintes:
1. Acender as velas de Shabat;
São as mulheres que acendem as velas de Shabat, ou meninas – homens
somente quando não há mulheres presentes. O acendimento é realizado 18
minutos antes do pôr do sol na sexta-feira à tarde, geralmente na sala de jantar,
onde a refeição festiva ocorrerá em breve. Meninas e mulheres solteiras acendem
uma vela e mulheres casadas acendem duas velas.
A prática de mulheres acenderem as velas do Shabat possui uma profunda
ligação com a tradição e a sabedoria cabalística. De acordo com a Cabalá, a
mulher possui uma conexão especial com a espiritualidade e a capacidade de
canalizar e manifestar luz espiritual.
Ao acender as velas do Shabat, a mulher traz luz física e espiritual para o
ambiente, simbolizando a entrada da santidade e a elevação para o início do
Shabat. A luz das velas representa a Divindade e sua presença sagrada. A
tradição de acender as velas do Shabat pelas mulheres é valorizada e honrada na
cultura judaica, reconhecendo o papel fundamental que elas desempenham na
transmissão da luz espiritual e na preservação das tradições sagradas.
As mulheres são associadas à Shechiná, que é a expressão da presença
divina, a habitação imanente de D’us neste mundo. As mulheres, tal como a
Shechiná, representam a manifestação do aspecto feminino de D'us: ternura,
compaixão e cuidado (Salmos 91:4).

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 63


A conexão das mulheres com a Shechiná está enraizada na ideia de que
elas possuem uma capacidade espiritual especial e única de canalizar a
energia divina. Como mencionado anteriormente, a prática de acender as velas
do Shabat pelas mulheres é vista como um reflexo dessa conexão. Ao acender as
velas, as mulheres simbolicamente atraem a luz divina para o mundo, trazendo a
presença da Shechiná para o lar e para a comunidade.
No horário apropriado, de acordo com o costume sefaradi, a mulher que irá
acender as velas se coloca diante delas e recita a bênção das velas:
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HAOLAM, ASHER KIDESHANU
BEMITZVOTAV VETZIVANU LEHADLIK NER SHEL SHABAT"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com
Seus mandamentos e nos ordenou acender a vela do Shabat”.
Ao concluir a bênção, ela estende as mãos em
formato de concha e realiza um movimento circular
com os braços, de fora para dentro três vezes,
simbolizando a santidade e a elevação do Shabat.
Após o acendimento das velas e o movimento
circular com os braços, a mulher cobre os olhos com
as mãos e realiza preces de agradecimento por
meio da recitação de Salmos ou usando suas próprias
palavras.
Existem várias explicações e significados
associados ao costume de se acender duas velas no
recebimento do Shabat. Entre elas:
• Guardar e lembrar o Shabat: é uma maneira de marcar e lembrar o
início do Shabat, que começa ao entardecer de sexta-feira. Cada vela
representa um dos mandamentos do Shabat: “zachor” (lembrar) e
“shamor” (guardar). A vela “zachor” representa a lembrança do
Shabat, enquanto a vela “shamor” representa a guarda e a
observância dos mandamentos do Shabat;
• Honrar o Shabat: é uma forma de honrar e trazer luz ao Shabat. As
velas simbolizam a santidade e a iluminação espiritual que o Shabat
traz para o lar;
• Simbolismo de dualidade: o número dois pode representar
dualidade e equilíbrio. As duas velas podem simbolizar a dualidade
entre ações físicas e espirituais, entre o trabalho semanal e o
descanso do Shabat, entre a conexão com o mundo material e a
elevação espiritual;

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 64


• Lembrança da Criação: em Provérbios 20:27 diz que a “alma do
homem é a vela de D’us”. Logo, ao concluir o sexto dia, o Eterno
acendeu duas velas no mundo: Adam e Chava, antes do Shabat em
que descansou. Ao acendermos duas velas, lembramos que em seis
dias fez o Senhor todas as coisas e no sétimo, cessou de sua obra.

2. Kidush;
A Torá nos ordena a “lembrar o dia do sábado para santificá-lo”. Os sábios
entendem que isso significa que devemos também declarar verbalmente o
Shabat como um dia santo, portanto, na sexta-feira à noite, antes de nos
sentarmos para jantar, recitamos uma prece sobre o vinho. Esse ritual é chamado
de kidush (santificação).
Um outro kidush é recitado novamente no dia seguinte, antes da
refeição. Em Yeshayahu (Isaías) 58:13 está escrito que devemos “declarar o
Shabat um deleite”. De fato, as refeições festivas são grande parte da observância
do Shabat. Comemos (pelo menos) três refeições no Shabat: uma na sexta à
noite, uma no almoço do dia seguinte e outra menor no final da tarde.
Para quem vai à Sinagoga para o recebimento do Shabat, o Kidush é
realizado após a volta para casa, quando todos estão reunidos em volta da mesa.
Antes da santificação do vinho, é comum os presentes entoarem duas canções:
Shalom Aleichem e Êshet Cháyil.

2.1. Shalom Aleichem;


O cântico Shalom Alechêm entoado no início do Shabat está baseado
numa passagem talmúdica, segundo a qual um anjo bom e um anjo mau
acompanham a seus lares todos os judeus que voltam da sinagoga sexta-feira à
noite.
Se os anjos encontram a casa preparada para o Shabat, a mesa
festivamente posta, com velas reluzentes, toda a família vestida em suas melhores
roupas, o anjo bom diz: “Que o próximo Shabat seja como este” e o mau responde,
mesmo contra sua vontade: “Amên, que assim seja”.
Se por outro lado acontece o contrário, e a casa não está preparada para
receber o Shabat, o anjo mau diz: “Que o próximo Shabat seja como este” e o anjo
bom, infelizmente, é obrigado a dizer: “Amên”.
O cântico é entoado da seguinte maneira, ou recitado, se preferir:

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SHALOM ALECHÊM, MAL’ACHÊ HASHARET, MAL’ACHÊ E-L-YON,
MI’MÊLECH MALCHÊ HAMELACHIM, HA’CADOSH BARUCH HU.
“Que a paz esteja convosco, anjos ministrantes, anjos do Altíssimo, do
supremo Rei dos reis, o Santo, bendito seja Ele”. (repete-se três vezes)
BOACHÊM LESHALOM, MAL’ACHÊ HASHALOM, MAL’ACHÊ E-L-YON,
MI’MÊLECH MALCHÊ HAMELACHIM, HA’CADOSH BARUCH HU.
“Bem-vindos, anjos da paz, anjos do Altíssimo, do supremo Rei dos reis, o
Santo, bendito seja Ele”. (repete-se três vezes)
BARECHÚNI LESHALOM, MAL’ACHÊ HASHALOM, MAL’ACHÊ E-L-YON,
MI’MÊLECH MALCHÊ HAMELACHIM, HA’CADOSH BARUCH HU.
“Abençoai-me com paz, anjos da paz, anjos do Altíssimo, do supremo Rei
dos reis, o Santo, bendito seja Ele”. (repete-se três vezes)
TSETECHÊM LESHALOM, MAL’ACHÊ HASHALOM, MAL’ACHÊ E-L-YON,
MI’MÊLECH MALCHÊ HAMELACHIM, HA’CADOSH BARUCH HU.
“Que vossa partida seja em paz, anjos da paz, anjos do Altíssimo, do
supremo Rei dos reis, o Santo, bendito seja Ele”. (repete-se três vezes)
KI MAL’ACHAV YETSAVÊ LACH, LISHMORCHÁ BECHOL DERACHÊCHA. A-
DO-NAI YISHMOR TSETECHÁ UVOÊCHA, MEATÁ VEAD OLAM.
“Pois Ele ordena Seus anjos para ti, para te proteger em todos teus
caminhos. O Eterno guardará tua saída e tua vinda, desde agora e para todo
o sempre”. (repete-se três vezes)

2.2. Êshet Cháyil;


Êshet Cháyil é um poema acróstico de Provérbios 31, onde cada versículo
começa com uma letra do alfabeto hebraico em sequência. É recitado pelo
marido à sua esposa antes do Kidush. Rabi Yitschac ben Nechemyá diz no
Yalcut Mishlê: “Assim como D'us deu a Torá a Israel através das 22 letras do alef-
bet, Ele louva a mulher virtuosa com estas mesmas 22 letras”.
O poema descreve a esposa perfeita, de confiança do marido, caridosa para
com os pobres e gentil para com todos, o marido e os filhos louvando-a como
fonte de sua felicidade. Sua meta na vida é valorizar o crescimento do marido e
dos filhos no conhecimento de Torá e nas boas ações.
Êshet Cháyil é o último capítulo do livro de Provérbios do rei Shlomo
(Salomão). Nossos sábios emprestaram diversas alegorias ao sentido literal de
louvor à mulher temente ao Eterno: alguns dizem que se refere à matriarca Sarah

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 66


ou à Bat-Shêva, mãe de Shlomo; outros o interpretam como se destinado à Torá,
ao Shabat, ou à santificada Presença de D'us.
A canção pode ser entoada, ou recitada:
ÊSHET CHÁYIL MI YIMTSÁ? VERACHÔC MIPENINIM MICHRÁ. BÁTACH BÁH
LÊV BA’LÁH, VESHALAL LÔ YECHSSAR. GUEMALÁTEHU TOV VELÔ RÃ, COL
YEMÊ CHAYÊHA. DARESHÁ TSÊMER UFISHTIM, VATÁAS BECHÊFETS
CAPÊHA. HAYETÁ CAONIYOT SOCHER; MIMERCHAC TAVI LACHMÁH.
VATÁCOM BEÔD LÁYLA, VATITÊN TÊREF LEVETÁH, VECHÔC
LENAAROTÊHA. ZAMEMÁ SADÊ VATICACHÊHU; MIPERI CHAPÊHA NATEÁ
CÁREM. CHAGUERÁ VEÔZ MOTNÊHA, VATEAMÊTS ZEROOTÊHA. TAAMÁ KI
TOV SACHRÁH; LÔ YICHBÊ BALÁYLA NERÁH. YADÊHA SHILECHÁ
VAKISHOR, VECHAPÊHA TAMECHU FÁLECH. CAPÁH PARESSÁ LEANI,
VEYADÊHA SHILECHÁ LAEVYÔN. LÔ TIRÁ LEVETÁH MISHÁLEG, KI CHOL
BETÁH LAVUSH SHANIM. MARVADIM ASSETÁ LÁ; SHÊSH VEARGAMÁN
LEVUSHÁ. NODÁ BASHEARIM BA’LÁH, BESHIVTÔ IM ZIKNÊ ÁRETS. SADIN
ASSETÁ VATIMCOR, VACHAGOR NATENÁ LAKENAANI. OZ VEHADAR
LEVUSHÁH; VATISCHAC LEYÔM ACHARÔN. PÍHA PATECHÁ VECHOCHMÁ,
VETORAT CHÊSSED AL LESHONÁH. TSOFIYÁ HALICHOT BETÁH,
VELÊCHEM ATSLUT LÔ TOCHEL. CÁMU VANÊHA VAY’ASHERÚHA; BA’LÁH
VAYHALELÁ. "RABOT BANOT ÁSSU CHÁYIL, VEAT ALIT AL CULÁNA.
SHÊKER HACHÊN VEHÊVEL HAYÔFI; ISHÁ YIR’AT A-DO-NAI HI TIT’HALAL.
TENU LÁ MIPERI YADÊHA, VIHALELÚHA BASHEARIM MAASSÊHA."
“Quem pode encontrar uma mulher virtuosa? Seu valor excede em muito o
das jóias. O coração de seu esposo confia nela, benefício não lhe há de
faltar. Ela o trata com bondade, nunca com maldade, todos os dias de sua
vida. Ela procura lã e linho e trabalha de bom grado com suas mãos. Ela é
como os navios mercantes; traz seu alimento de longe. Levanta-se
enquanto ainda é noite, alimenta seu lar e estabelece as tarefas para suas
criadas. Ela avalia um campo e o adquire; de seu lucro planta um vinhedo.
Ela cinge seus lombos com a força e dobra os braços. Ela está ciente de
que seu empreendimento é proveitoso; sua lâmpada não se apaga à noite.
Ela põe suas mãos sobre o fuso, e suas palmas empunham a roca [de fiar].
Ela oferece sua mão ao pobre, e estende suas mãos ao necessitado. Ela
não teme por seu lar durante o frio, pois toda sua família está vestida [e
aquecida] com lã escarlate. Ela faz sua própria tapeçaria; suas vestes são
de fino linho e púrpura. Seu marido é famoso nos portais, quando ele se
senta com os anciãos da terra. Ela fabrica roupa branca e [a] vende, ela
provê cinturões aos mercadores. Força e dignidade são seus trajes; ela olha
sorridente para o futuro. Abre sua boca com sabedoria e o ensinamento da
bondade está sobre sua língua. Ela observa a conduta de seu lar e não come
o pão da ociosidade. Seus filhos levantam-se e a aclamam; seu marido a

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enaltece [dizendo]: “muitas filhas têm feito obras meritórias, porém tu
superaste a todas elas! O encanto é enganoso e a beleza nada vale; uma
mulher temente a D’us é a que deve ser louvada. Elogiem-na por suas
realizações, e que suas obras a louvem nos portões”.

2.3. Cerimônia de Santificação do Vinho e do Pão;


Após as canções e antes do Kidush propriamente dito, geralmente se faz a
lavagem das mãos, chamada de “netilat yadayim”, mas sem a oração.
Após a lavagem das mãos, todos se reúnem ao
redor da mesa de Shabat. O líder do ritual, geralmente
o pai ou uma pessoa designada, segura a taça de
vinho ou suco de uva integral, conhecida como “cálice
do Kidush”, com a palma da mão direita, e ora:
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH
HAOLAM BOREI PERI HAGAFEN"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do
Universo, que cria o fruto da videira”.
Após esse momento, quando todos bebem do vinho abençoado, os pais
abençoam os filhos (menores de 13 anos) e as filhas (menores de 12 anos) assim:

• Bênção para o Menino (Birkat HaBanim):


"YESIMCHA ELOHIM KE'EFRAIM VE'CHI-MENASHE"
“Que o Senhor te faça como Efraim e Menashe”.
• Bênção para a Menina (Birkat HaBanim):
"YESIMEICH ELOHIM KE'SARAH, RIVKA, RACHEL, VE'LEAH"
“Que o Senhor te faça como Sara, Rebeca, Raquel e Lia”.
• Para ambos, a Bênção Sacerdotal (Birkat Kohanim):
"YEVARECHECHA ADONAI VE'YISHMERECHA. YA'ER ADONAI PANAV
ELECHA VICHUNEKA. YISA ADONAI PANAV ELECHA VE'YASEM LE'CHA
SHALOM"
“Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor faça resplandecer o
Seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. Que o Senhor levante o Seu
rosto sobre ti e te dê paz”.

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Com a chalá ainda coberta, é realizado a lavagem das mãos (netilat
yadayim) recitando a brachá:
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HAOLAM, ASHER KIDSHANU
BE'MITZVOTAV VE'TZIVANU AL NETILAT YADAYIM"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com
Seus mandamentos e nos ordenou a lavar as mãos”.
A chalá que estava coberta agora é revelada. Joga-
se sal nos pães, une-se uma à outra com as mãos, ergue-
se e abençoa:
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HAOLAM,
HAMOTZI LECHEM MIN HAARETZ"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo,
que faz o pão da terra”.
Em algumas comunidades, é costume enquanto comem do pão, cantarem:
"DAVID MELECH YISRAEL, CHAY CHAY VEKAYAM"
“Davi Rei de Israel, vive, vive para sempre”.
Comunidades com o testemunho de Yeshua adicionam:
"YESHUA MELECH YISRAEL, CHAY CHAY VEKAYAM"
“Yeshua Rei de Israel, vive, vive para sempre”.

3. Birkat Hamazon;
Após o Kidush, todos os presentes saboreiem o momento. Em seguida, as
refeições festivas de Shabat são servidas, com alimentos especiais, como a
própria chalá, pratos tradicionais e sobremesas.
Durante o Kidush, a família e os convidados estão reunidos para
compartilhar momentos sagrados, expressar gratidão e celebrar a chegada
do Shabat. Esse momento é acompanhado por cânticos, alegria e a união da
comunidade em torno da mesa de Shabat.

3.1. Birkat Hamazon;


Depois do jantar, quando todos estiverem satisfeitos, é realizado a Birkat
Hamazon, também conhecida como Bênção das Graças Após as Refeições, é
uma oração recitada após o consumo de uma refeição completa que inclui pão ou

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produtos derivados do trigo. Ela expressa gratidão a D’us pela comida e pelas
bênçãos recebidas:
BARUCH ATAH ADONAI, ELOHEINU MELECH HA'OLAM, HA'ZAN ET
HA'OLAM KULO B'TUVO B'CHEN B'CHESED UV'RACHAMIM, HU NOTEN
LECHEM L'CHOL BASAR KI L'OLAM CHASDO. BARUCH ATAH ADONAI,
HA'ZAN ET HAKOL. BARUCH ATAH ADONAI, ELOHEINU MELECH HA'OLAM,
AL HA'ARETZ V'AL HAMAZON. BARUCH ATAH ADONAI, ELOHEINU MELECH
HA'OLAM, BOREI NEFASHOT RABOT V'CHESRONAM, AL KOL MA SHEBARA
LANU, L'HANCHIL LANU, L'HASBIA LANU, L'CHAYEI HA'OLAMIM. BARUCH
ATAH ADONAI, HA'TOV SHIMCHA U'LECHA NA'EH L'HODOT.
“Bendito és Tu, Senhor, nosso D’us, Rei do universo, que sustenta todo o
mundo com Sua bondade, graça, misericórdia, que dá pão a toda a carne,
pois Sua misericórdia é eterna. Bendito és Tu, Senhor, que provê a todos.
Bendito és Tu, Senhor, nosso D’us, Rei do universo, pela terra e pelo
alimento. Bendito és Tu, Senhor, nosso D’us, Rei do universo, que cria
muitas almas e suas necessidades, por tudo que criaste para nós, para nos
alimentar, sustentar, e nos proporcionar a vida eterna. Bendito és Tu,
Senhor, cujo nome é bom e para quem é agradável agradecer”.

4. Serviço de Shacharit;
O povo judeu reza na sinagoga todas as manhãs (Shacharit), tardes (Minchá)
e noites (Arvit). Obviamente, isso inclui o Shabat. Como o Shabat é um dia de
descanso e de conexão espiritual, é natural que os serviços de Shabat sejam um
pouco mais longos, com mais cantos e acréscimos.
Shacharit é a oração matinal diária, considerada importante para começar
o dia em conexão com D'us e expressar gratidão, louvor e petições. A palavra
“Shacharit” deriva da raiz hebraica “shachar”, que significa “amanhecer”. A oração
de Shacharit é tradicionalmente realizada antes do nascer do sol, embora os
horários específicos variam dependendo da localização geográfica, da estação
do ano e da comunidade judaica.
A estrutura de Shacharit geralmente inclui várias seções e bênçãos, como:
• Bircot Hashachar: Uma série de bênçãos recitadas ao acordar,
expressando gratidão por diversas funções corporais e pela
oportunidade de um novo dia;
• Pesukei D'zimra: Uma seção que consiste em salmos e hinos de
louvor, que ajudam a preparar a mente e o coração para a oração;
• Shemá e suas bênçãos: A recitação do Shemá Israel, seguida pelas
bênçãos que o cercam, afirmando a unicidade de D'us e nosso
compromisso com Ele;

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• Amidá: A oração central de Shacharit, também conhecida como
Shemoneh Esrei, composta por dezoito bênçãos ou preces,
abordando uma variedade de temas, como louvor, petição,
agradecimento e perdão;
• Após a Amidá, podem seguir-se outras orações e leituras, como a
leitura da Torá, recitação de salmos adicionais e a conclusão com a
bênção de Aleinu.
Um destaque nas preces de Shacharit de Shabat é quando o rolo da Torá
é removido do Aron HaKodesh (Arca Sagrada) e lido em voz alta. A Torá é dividida
em 53 partes (às vezes calculada como 54). Toda semana lemos uma parte,
chamada parashá, completando o pergaminho inteiro anualmente na festa de
Simchat Torá. Toda parashá tem um nome (retirado de uma de suas primeiras
palavras), e esse nome é dado durante toda a semana na qual essa parte é lida,
e também, durante a qual o texto, os temas e as lições da parashá são estudados.
Shacharit é uma oportunidade para começar o dia em comunhão com D'us,
buscando Sua orientação, proteção e bênçãos. É um momento de conexão
espiritual e reflexão, permitindo que os indivíduos se concentrem em sua relação
com D'us e estabeleçam uma base espiritual sólida para o resto do dia.
Caso não haja Sinagoga em sua região para que você possa participar
desse serviço religioso, aconselho que você sintonize em uma transmissão online
de alguma sinagoga, de preferência com Testemunho de Yeshua, como a Emunah
Shlemah. Outro ponto importante é adquirir um Sidur para fazer as orações.

5. Kidush;
Como vimos anteriormente, comemos (pelo menos) três refeições no
Shabat: uma na sexta à noite, uma no almoço de sábado e outra menor no final da
tarde. O Kidush da manhã é realizado após a oração matinal de Shacharit e
antes do início da refeição festiva, como o almoço.
A cerimônia do Kidush envolve a recitação de bênçãos especiais sobre uma
taça de vinho ou suco de uva, simbolizando a santificação do dia sagrado. É uma
procissão parecida com a realizada na sexta-feira à noite, na chegada do Shabat.
O Kidush geralmente é liderado por um membro da família ou pela pessoa
responsável pelo serviço religioso na sinagoga.
Este é um resumo geral da cerimônia do Kidush da manhã:
O líder do Kidush segura a taça de vinho ou suco de uva, que está cheia
até a borda e recita a bênção do vinho.

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"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HAOLAM BOREI PERI
HAGAFEN"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que cria o fruto da
videira”.
Após a bênção do vinho, o líder recita a bênção do Kidush, que santifica
o dia sagrado. A bênção inclui palavras que enfatizam a separação do Shabat ou
da festividade dos dias comuns da semana.
Depois de recitar a bênção do Kidush, o líder toma um gole do vinho ou
suco de uva, e os participantes da cerimônia também podem tomar um gole.
Em seguida, o líder recita uma proclamação festiva que varia de acordo
com a ocasião, destacando os temas e significados especiais do dia sagrado.

6. Almoço Festivo;
Após o Kidush, a refeição festiva pode ser iniciada com a recitação de
outras bênçãos, como a bênção do pão (HaMotzi) e outras bênçãos específicas
para os alimentos servidos.

7. Serviço de Minchá;
Minchá é a oração da tarde, realizada geralmente no final da tarde, antes do
pôr do sol. Ela segue uma estrutura semelhante às outras orações diárias, que
inclui louvor a D'us, petições e agradecimentos. A oração de Minchá é baseada
nos salmos e nas preces estabelecidas pelos sábios ao longo dos tempos:
• Introdução: A oração de Minchá começa com uma introdução que
inclui bênçãos de louvor a D'us e reconhecimento de Sua presença;
• Leitura dos Salmos: São recitados vários salmos e versículos das
Escrituras, que são selecionados com base na tradição e no
calendário judaico;
• Amidá: também conhecida como Shemoneh Esrei, é uma das
principais partes da oração de Minchá. É uma série de dezenas de
bênçãos e petições, incluindo agradecimentos, pedidos pessoais e
súplicas por proteção e redenção;
• Ashrei: Após a Amidá, é recitado o Salmo 145, conhecido como
Ashrei, que louva a grandiosidade de D'us e expressa gratidão;
• Conclusão: A oração de Minchá é concluída com uma série de
bênçãos finais e a recitação do Aleinu, um hino que expressa a
singularidade de D'us e a responsabilidade do povo que guarda a
Torá em proclamar Sua soberania.

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É importante ressaltar que existem variações nas práticas e costumes da
oração de Minchá entre diferentes comunidades judaicas, de acordo com as
diferentes tradições.

8. Seuda shlishit;

Seuda Shlishit é uma refeição especial realizada no final da tarde de


sábado, antes do término do Shabat. É a terceira refeição do dia. O termo
“Seuda Shlishit” significa literalmente “terceira refeição” em hebraico. É também
conhecida como “refeição de Shabat” ou “refeição da tarde de sábado”. É uma
oportunidade para as pessoas se reunirem, compartilharem comida e
comunhão, enquanto celebram o fim do Shabat.
A Seuda Shlishit costuma ser uma refeição leve e festiva, com pratos
tradicionais como pães, saladas, peixes e alimentos que são associados à
alegria do Shabat. É comum servir alimentos que simbolizam a doçura e a
plenitude do dia de descanso. Durante a Seuda Shlishit, é comum também cantar
canções de Shabat e compartilhar histórias e ensinamentos religiosos. É um
momento de reflexão espiritual e conexão.
A Seuda Shlishit é uma forma de encerrar o Shabat com gratidão e alegria,
enquanto nos preparamos para a saída do Shabat e o início de uma nova semana.
É uma tradição significativa, que traz senso de união e celebração após um dia
de descanso e conexão com o Eterno e com o próximo.

9. Havdalá;
O Shabat é encerrado com melodias, vinho,
especiarias e fogo, pois assim como damos as boas-vindas
ao Shabat com kidush sobre o vinho, recitamos um texto
especial em uma cerimônia de encerramento do Shabat
chamada Havdalá. Essa cerimônia curta incorpora cheiros de
especiarias perfumadas e a chama da vela especial de havdalá.
O Shabat chega ao fim quando três estrelas são visíveis no céu, a olho nu.
Entretanto, antes de fazer qualquer trabalho, verbalizamos o início da nova semana
com as palavras:
"BARUCH, HAMAVDIL BEN CÔDESH LECHOL"
Bendito é Ele que separa entre o sagrado e o comum.

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Depois que termina o Shabat, é dita a havdalá (separação) para marcar a
distinção entre o “sagrado e o comum”, entre o Shabat que finda e os dias da
semana que se iniciam.
A havdalá é pronunciada sobre um cálice de vinho, como uma bênção. Além
desta, mais três bênçãos são recitadas.
A primeira é dita ao aspirar a fragrância
de especiarias; e a segunda é a bênção sobre
fogo, recitada sobre à luz de uma vela
trançada (combinando diversos pavios ou, na
falta desta, juntando as chamas de duas velas
ou dois fósforos). Normalmente, quando uma
bênção é pronunciada, esta deve ser seguida
por um ato. Assim, após a bênção do fogo,
erguemos as unhas à luz, para perceber o contraste da luz e da sombra refletido
na palma da mão.
A última bênção é a havdalá – o reconhecimento da separação entre os
opostos. O uso do vinho, das especiarias e do fogo na Havdalá tem significados
simbólicos dentro da tradição judaica. Cada um desses elementos representa
uma dimensão diferente da cerimônia e possui um propósito específico. São
vários os significados, mas separei abaixo os de mais simples compreensão:
• Vinho: O vinho é considerado uma bebida de celebração e alegria na
tradição judaica. Ao utilizar o vinho na Havdalá, é feita uma separação
especial entre o sábado e o resto da semana. O vinho também
representa a abundância e a plenitude do Shabat, e ao saboreá-lo,
os participantes expressam gratidão pela santidade do dia;
• Especiarias: As especiarias são usadas para perfumar o ambiente
durante a Havdalá. Elas simbolizam a fragrância do Shabat, que está
sendo deixado para trás. Ao cheirar as especiarias, os participantes
são lembrados da beleza e do prazer do Shabat e se despedem dele
com doçura;
• Fogo: O fogo desempenha um papel importante na Havdalá,
representando a luz divina e a separação entre o sagrado e o profano.
Uma vela especial chamada “braça de Havdalá” é acesa e seu fogo
é observado enquanto a bênção é recitada. O fogo simboliza a
presença de D'us e a iluminação espiritual que o Shabat proporciona.
O fogo também representa a esperança e a chama interior que cada
pessoa deve manter viva ao longo da semana.
Esses elementos da Havdalá ajudam a criar uma transição significativa
entre o Shabat e o restante da semana. Eles evocam os sentidos, proporcionam
uma experiência sensorial e simbolizam a santidade e a separação do Shabat.

YAHALOM – Academia Bíblica Judaico-Cristã 74


Através da Havdalá, os participantes são lembrados da importância de honrar e
preservar a santidade do Shabat, enquanto se preparam para enfrentar as
responsabilidades e desafios da semana que se inicia.

9.1. Passo a Passo


Há diferenças entre as tradições judaicas, a depender também da etnia. No
costume sefaradi (judeus da Península Ibérica), seguimos a seguinte ordem:
Após o término do Shabat, segura-se na palma da mão direita o cálice de
vinho, levanta e recita a bênção “Borei Peri Hagafen”.
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HAOLAM BOREI PERI
HAGAFEN"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D'us, Rei do Universo, que cria o fruto da
videira”.
Em seguida, pega a caixinha de especiarias, faz a oração “Borei Minei
Besamim” e sente o aroma.
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HA'OLAM, BOREI MINEI
BESAMIM"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D'us, Rei do Universo, Criador de diferentes
tipos de aromas”.
A seguir, a bênção sobre o fogo, chamada de “Borei Me'orei Haesh”, é
recitada enquanto a chama é observada.
"BARUCH ATAH ADONAI ELOHEINU MELECH HA'OLAM, BOREI ME'OREI
HA'ESH"
“Bendito és Tu, Senhor nosso D'us, Rei do Universo, Criador das luzes do
fogo”.
Depois das bênçãos, a seguinte oração é recitada:
"BARUCH HAMAVDIL BEIN KODESH LECHOL, BEIN OHR LECHOSHECH,
BEIN ISRAEL LA'AMIM, BEIN YOM HASHVI'I LESHESHET YEMEI
HAMA'ASEH. BARUCH ATA ADONAI, HAMAVDIL BEIN KODESH LECHOL"
“Bendito é Aquele que faz separação entre o sagrado e o profano, entre a
luz e a escuridão, entre Israel e as nações, entre o sétimo dia e os seis dias
de trabalho. Bendito és Tu, Senhor, que faz separação entre o sagrado e o
profano”.

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Essa oração expressa a separação entre o sagrado e o profano, a luz e a
escuridão, o povo do Eterno e as nações pagãs.
Após as bênçãos e orações, bebe-se o vinho
(o oficiante e os demais participantes se quiserem),
mas não se bebe tudo. O restante do vinho é
despejado em um recipiente (geralmente uma
bandeja, prato ou pires) e a tocha é apagada no
vinho derramado.
Uma segulat que pode ser praticada é, após apagar a tocha, molhar os
mindinhos das mãos no vinho e passar nas pálpebras, ouvidos e lábios.
Algumas pessoas interpretam essa prática como um ato profético,
simbolizando a busca pela iluminação espiritual (olhos), falar palavras de
sabedoria e retidão (boca) e ouvir os ensinamentos e mandamentos divinos
(ouvidos). No entanto, essa prática não é obrigatória ou universalmente
praticada, muitos realizam a Havdala sem esse gesto específico.
Enfim, após a Havdalá, outro costume é virar-se para a porta de entrada
da casa (ou da sinagoga) e cantar “Eliahu Hanavi” (Elias, o Profeta). Essa tradição
é uma expressão de esperança e anseio pelo cumprimento das promessas
messiânicas e pelo estabelecimento da redenção. O costume de cantar essa
música após a Havdala é uma maneira de expressar a fé na vinda do Messias e
na realização das promessas divinas:
ELIAHU HA-NAVI, ELIAHU HA-TISHBI, ELIAHU HA-GIL'ADI, BIM'HEIRA YAVO
ELEINU, IM MASHIACH BEN DAVID.
“Elias, o profeta, Elias, o tisbita, Elias, o gileadita, que venha rapidamente
até nós, com o Messias, filho de Davi”.
Nós, que temos o testemunho de Yeshua, inserimos mais palavras:
ELIAHU HA-NAVI, ELIAHU HA-TISHBI, ELIAHU HA-GIL'ADI, BIM'HEIRA YAVO
ELEINU, IM YESHUA BEN DAVID.
“Elias, o profeta, Elias, o tisbita, Elias, o gileadita, que venha rapidamente
até nós, com Yeshua, filho de Davi”.
Assim encerramos a procissão de Havdalá e finalizamos o Shabat.

10. Serviço de Arvit


Arvit, também conhecida como Maariv, é a oração noturna diária. E é
realizada após o pôr do sol, marcando o início de um novo dia no calendário
bíblico.

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A palavra "Arvit" significa "noite" em hebraico, e a oração é realizada para
encerrar o dia em comunhão com D'us, oferecer agradecimento, buscar perdão e
proteção durante a noite e expressar fé e confiança em D'us.
A estrutura de Arvit geralmente inclui as seguintes seções e bênçãos:
• Bircot Hashachar: Tal como em Shacharit, são recitadas uma série
de bênçãos ao anoitecer, expressando gratidão pelas funções
corporais e pelo término do dia;
• Leituras e bênçãos: São recitados salmos e bênçãos específicas
para a noite, incluindo a recitação do Shemá Israel e suas bênçãos
associadas;
• Amidá: também chamada de Shemoneh Esrei, Amidá é recitada em
Arvit, abordando uma variedade de temas, como louvor, petição,
agradecimento e perdão;
• Após a Amidá, podem seguir-se outras orações e leituras, como a
leitura de salmos adicionais;
• Shalom Aleichem: A oração de Arvit conclui com a bênção de
Shalom Aleichem, desejando paz e harmonia.
Arvit é um momento de recolhimento e conexão com D'us antes de dormir.
É uma oportunidade para refletir sobre o dia que passou, expressar gratidão,
buscar perdão e descansar confiando na proteção divina durante a noite. A oração
de Arvit é uma maneira de encerrar o dia com propósito espiritual e buscar uma
conexão contínua com o Eterno.

Shabat é um prelúdio para a Era Messiânica

Shabat, um dia de descanso e de elevação espiritual, é um prelúdio do


prazer que experimentaremos na era de Mashiach, quando a paz e a
abundância prevalecerão, e a presença de D'us ficará clara para todos verem.
Não é surpresa, portanto, que nos digam que a recompensa por guardar o Shabat
é a chegada de Mashiach.
"Porque, como os novos céus e a nova terra que hei de fazer estarão
diante de mim, diz o Eterno, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso
nome. E será que desde uma lua nova até à outra, e desde um sábado até ao
outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Eterno." (Isaías 66:22-23)
"Portanto, resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus."
(Hebreus 4:9)
O Shabat atual é um reflexo, uma sombra (Cl.2:17), uma amostra do
descanso e da comunhão eterna que serão experimentados no Olam Habá

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(Mundo Vindouro). Que a vinda de Yeshua haMashiach aconteça brevemente em
nossos dias! Ani maamin, maranatá!

No silêncio do sétimo dia, repousa o segredo ancestral,


O Shabat se ergue como um manto sagrado,
Entre luzes que dançam e estrelas que brilham,
Uma dádiva divina, um tesouro a ser guardado.

Em cada vela acesa, um sopro de eternidade,


O tempo se suspende, a alma se renova,
Na harmonia do descanso, a paz encontra morada,
E a verdade se revela em cada palavra.

Guarda o Shabat como guardas um segredo precioso,


Entre as teias do tempo, ele tece um laço sagrado,
Um vínculo ancestral, uma conexão com o divino,
Um momento de pausa, de encontro e de recomeço.

Deixa que o Shabat envolva tua existência,


Como um manto celeste, como uma canção suave,
Emerge das obrigações, transcende as preocupações,
Deixa que a alma descanse, que o espírito se eleve.

No Shabat, encontra a essência do ser,


No ritmo sereno, na serenidade profunda,
Um presente divino, um presente para ser vivido,
A guarda do Shabat, um tesouro que se multiplica.

Que cada Shabat seja um portal de harmonia,


Onde a vida se renova, onde a alma encontra abrigo,
Guarda o Shabat como guardas uma joia rara,
E descobre a beleza de um mundo mais tranquilo.

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• Quem é a Morá Kimberly Schäfer
Kimberly Schäfer Siqueira é uma
brasileira descendente de judeus. Casada com
Thiago Souza Martins Montini, reside
atualmente no estado de Mato Grosso.
Morá na Yahalom, a 1ª Comunidade
Online Judaico Messiânica por assinatura do
Brasil, sua jornada é marcada por uma sede
pela verdade e comunicação, como
evidenciado também por seu papel como
Jornalista e Terapeuta Emocional.
Bacharelanda na Zeyt Yossef
Yeshivah University e discípula na Sinagoga
Messiânica Emunah Shlemah, ela enriquece
sua busca espiritual ao trazer sua perspectiva
conservadora, adicionando mais profundidade
e significado à sua jornada pessoal.
Com um temperamento sanguíneo e uma personalidade acessível, se
destaca como educadora, transmitindo a sabedoria da Torá com o Testemunho
de Yeshua, e um foco especial na Gestão Emocional. Sua dedicação à evolução
pessoal e à orientação dos outros define sua presença notável.

Sua jornada é pautada em duas palavras: Teshuvá e Lech Lechá

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