Magnan (1893) descreveu a parafrenia como “o delírio crônico progressivo” caracterizado
por quatro fases: uma primeira de perseguição e de interpretações delirantes, uma segunda com alucinações auditivas, uma terceira de elação e megalomania e, finalmente, uma quarta fase definida pelo déficit intelectual mais ou menos demencial. Kraepelin (1996) tomou emprestado o termo para fazer alusão a um pequeno grupo de casos de esquizofrenia com desenvolvimento muito mais leve das alterações da emoção e da volição, nos quais a harmonia da vida psíquica está consideravelmente menos envolvida.
● Delírios de mecanismo imaginativo que se baseia sobre um fundo mitomaníaco,
centrada em um processo alucinatório, que tende a se sistematizar, mas que evolui com maior ou menor rapidez até a deterioração intelectual. ● A parafrenia sistemática equivaleria ao delírio crônico, a parafrenia expansiva a mania crônica, a parafrenia confabulatória ao delírio da imaginação e a parafrenia fantástica ao delírio alucinatório crônico com suas formas fantásticas.
Os delírios de estrutura parafrênica, que se caracterizam pelo contraste entre a excelente
adaptação ao mundo real e a conservação da lucidez e o desenvolvimento de construções delirantes fantásticas e impenetráveis.
1. O delírio parafrenia porta o selo da extravagância. Trata-se de uma ficção
fantasmagórica, a qual, sob todas as suas formas, é essencialmente um delírio fantástico. O fantástico, alcançando proporções grandiosas, dilui a personalidade até fazê-la coincidir com o infinito. Toda a realidade se dilata até alcançar uma gigante magnitude nos acontecimentos, nas coisas, nas palavras: sofre uma espécie de transubstanciação estética e mágica ao mesmo tempo.
2. Há uma acumulação incrível de detalhes, de cenas, de falsas lembranças, de imagens
desse fluxo delirante que se desdobram em visões maravilhosas de seres da natureza e do universo, ou em um desenvolvimento grandioso de acontecimentos estranhamente cósmicos. O delírio oscila sempre entre as duas formas do fantástico: o barroco e o mito. O sujeito parafrenia é a primeira vítima da sua imaginação. Na paranóia a uma junção da construção delirante com a personalidade do sujeito, na parafrenia as construções se deslizam infinitamente, de forma que nunca param em um ponto.
Lacan considera a parafrenia a doença mental por excelência, forçando semanticamente o
adjetivo, indicando que se trata de uma doença mental, da mentalidade. O sujeito é puro semblante, pura mentalidade que não se amarra com nada real, puro parecer ou para ser. Um vestido sem corpo que desliza à margem do pouco de ser ao que se pretende acessar o ser falante, um ser de real.