história da psiquiatria, a neurologia, Catarse e o ensalmo ->

a psicologia ou a está ligado à quadros

psicopatologia psicanálise. Uma de suas patológicos – neurose
principais características e obsessiva equivale a
A ideia do Pathos varia
a multiplicidade de pensamento mágico, vai
pouco ao longo dos
abordagens e teorias contra a lógica formal.
tempos, contudo, as
incorporadas nos últimos
classificações variam Modelo mágico – religioso
anos.
muito de uma época para
outra. Tradição Doença: resultante de
Não existe teoria
organicista x tradição transgressões de natureza
unificada sobre a loucura
humanista. individual ou coletiva.
-> repensar os limites
entre o normal e Cura da doença: rituais
Pathos doença x páthos
patológico, fala-se em religiosos (feiticeiros,
paixão. Doença: todas as
transtorno (estabilização), xamãs, sacerdotes) para
psicopatologias num
clínica significa se reatar as relações com as
caráter mais empirista
debruçar no leito. entidades religiosas.
como por exemplo as
neurociências, a A história da Tipo de pensamento
psiquiatria biológica. psicopatologia revela que ainda existente:
vários autores
Diferenças entre 1. Sociedades tribais
preocuparam em explicar
psicologia e psiquiatria. 2. Superstições
a loucura, determinar-lhe
1. Psiquiatria as causas, os tipos A concepção trágica (de
trabalha com (formas), bem como suas Homero à tragédia grega séc.
hardware x manifestações. -> a v ac)
psicologia como preocupação de todos os
software autores em explicar a Implica a intervenção
2. Causalidade loucura, determinar as direta e permanente dos
psíquica causas, os tipos, as deuses na vida dos
3. Num sintoma formas, manifestações- homens.
histérico não se sintomas. De Homero até tragédia
consegue grega, predomina o
Modelo antigo, a concepção
comprovar a enfoque mitológico-
mágica (achados
etiologia religioso.
arqueológicos)
orgânica, o
software interfere As doenças Na tragédia a
no hardware. apresentavam-se como interferência da divindade
um fenômeno cede gradualmente o
A psicopatologia e sua lugar de causa aos
inexplicável.
história constituem um conflitos de paixões, ao
campo vastíssimo que Qualquer explicação seria entre choque entre
ultrapassa em muito a de ordem sobrenatural. desejo e norma ética.
dimensão da doença Influencia externa de uma Instaura-se uma
mental. Para Paulo entidade sobre o concepção passional,
Dalgalarrondo, a corpo/psique. psicológica, dos desvarios
psicopatologia é uma Normalmente relacionada -> embora não seja
ciência autônoma que a punição por falta considerada uma
não se confunde com a cometida. patologia no mundo
homérico, o ato louco
certamente é considerado
uma transgressão de
normas estabelecidas.
Conflito entre norma e
desejo – páthos, paixão.
A concepção pática é
encontrada na tragédia
grega e diz que a paixão
(páthos) é um sofrimento
que traz consigo a
possibilidade de se
transformar em
sabedoria.
Concepção médico-filosófica
Hipócrates:
distanciamento da
concepção mitológica,
exclusão da intervenção
divina. A explicação da
doença baseava-se na
observação aliada ao
raciocínio.
A loucura é vista como
“desarranjo” da natureza
orgânica, corporal, do
homem. A perda da
razão, ou descontrole
emocional passam a
constituir efeitos desse
desarranjo.
É ainda fortemente
marcada pela metafísica:
uma anatomofisiologia
ingênua, hipotética.
A loucura é consequencia
das disfunções humorais.
Características da teoria
dos humores: 1. A doença
é ruptura do equilíbrio
entre o homem
(microcosmo) e o mundo
(macrocosmo). 2. O corpo
humano é composto de 4
humores: sangue, fleuma
(pituita), bílis amarela e
escura. 4. A loucura é
uma doença orgânica que
resulta do desequilíbrio
dos humores.
Doutrina de galeno
As doenças do sistema
nervoso residem no
cérebro. a alma passa a
presidir a atividade
corporal. Dualismo
mente/corpo: a alma está
ligada a uma força natural
(impetus) que comanda
as relações mente/corpo.
A sede da alma (o corpo)
pode ser lesada e,
dependendo do tipo de
lesão e do local afetado,
teremos os variados tipos
de loucura.
Concepção demonista
Identifica a loucura à
possessão diabólica e
marca a concepção
medieval da
psicopatologia fundada
nos textos de agostinho e
tomás de aquino.
Tem como características:
Ideia da vida perfeita, sem
pecados, sem aberrações,
fiel ao que mandam as
escrituras.
A loucura é associada aos
modos de atuação do
demônio
Passa-se a atribuir os
acidentes naturais a obra
do demônio, ideia que
servira muito, como as
precedentes, para instruir
os processos inquisitoriais
da idade média, como se
verá adiante. A perda de
colheitas, os abortos
naturais, ou as
tempestades, passam a
ser suspeitos de bruxaria.
O mesmo vale para os
atos desatinados, ou os
desastres da vida pessoal
de alguém.
A moral cristã crê que o
homem recebeu a
capacidade racional de
Deus e, por isso, o louco é
aquele que negou a sua
parcela divina. E quem
está amens – fora de si,
desvairado, furiosus –
delirante, violento,
inacessível a relações
humanas, reduzido a um
estado animal, ou com
insânia – submetido às
suas paixões e aos seus
apetites inferiores.
Perdeu o que o distinguia
dos animais e o
aproximava de deus.
Insania significa
etimologicamente
ausência de saúde na
alma. O desejo é insano,
pois impediria a virtude e
a sabedoria. A loucura
seria própria dos
ignorantes. daí surge a
ideia de stultitia -
estupidez ou desequilibrio
mental e dementia –
perda do poder da mente.
O demente é aquele que
perdeu o domínio sobre si
mesmo.
Reconquista do território da
loucura
A concepção pré
científica: alienação
mental, inaugura-se o uso
médico de conceitos
filosóficos. Alienação >
lesão das faculdades
mentais > defeito da
razão > delírio > loucura.
Antes do nascimento do
manicômio e da
psiquiatria, a loucura já
era, sistematicamente,
excluída e internada. Não
era objeto de um saber e
práticas específicas, mas
compunha o leque amplo
e heterogêneo de sujeitos
“fora da ordem” que
sofriam processos de
exclusão, por exemplo, na
forma da “internação” em
estabelecimentos que
tinham função,
tipicamente, disciplinar e
de controle da ordem
social e não terapêutica.
Se os antigos nos legaram
a ideia de que loucura é
paixão, se o cristianismo
articulou a paixão com o
pecado e ligou a loucura
ao demoníaco, a
modernidade dirá que a
loucura é desrazao,
transformando-a em
doença mental.
Modelo moderno
A medicina se apropria
aos poucos da loucura
(naturalização da
loucura): 1. A classificação
torna-se uma
necessidade, embora sem
uma sólida base
experimental; 2. Rejeita-
se as explicações
dogmáticas e monistas da
loucura, postura de
observar as
manifestações
comportamentais, os
sintomas para determinar
a essência da loucura e
discriminar as variedades,
descrever, classificar.
O nascimento da clínica e da
psiquiatria
A história da loucura não
se confunde com a
história da psiquiatria. A
intervenção da medicina
não é algo atemporal,
antes do século XVIII não
é possível falar
rigorosamente em doença
mental.
A experiencia trágica da
loucura: até o
renascimento a figura do
louco era indissociável da
razão. A loucura ocupa
um plano simbólico, lugar
de revelação e
enunciação da verdade
(saber, audível).
A consciência crítica da
loucura: a loucura passa a
ser ignorância, punição,
zombaria. Não é mais
cósmica, é moral. Não é
mais saber.
Início do processo de
dominação da loucura
pela razão. O louco é
aquele que passa a tomar
o erro como verdade, a
mentira como realidade.
A loucura: ilusão,
desregramento, defeito,
falta, fraqueza, exclusão.
Com racionalismo
cartesiano a loucura vai
ser excluída da razão:
loucura é a condição de
impossibilidade do
pensamento.
O mesmo ocorre no
campo do direito que
formula uma teoria da
irresponsabilidade e da
alienação jurídica.
A percepção social da
loucura dá um estatuto a
loucura, demarca critérios
de internação que estão
muito mais próximos do
controle social e da
moralidade. O hospital
geral é o marco dessa
nova etapa.
Cisão entre razão e
loucura. Num primeiro
momento, a loucura é
transformada em
desrazao, logo depois se
transforma em doença
mental.
Nestes locais se
confinaram pobres,
ociosos, vagabundos,
libertinos, loucos, numa
proporção tal que se pode
falar de uma “Grande
Internação”. Um exemplo
concreto foi o Hospital
Geral de Paris. Nestes,
criado em 1657, o qual
pouco tempo depois de
sua fundação já abrigava
1% da população daquela
cidade, cerca de
6000pessoas*.
“Durante praticamente
todo o Século XX o
Hospital e seu quadro
médico ocupou uma
posição de centralidade
na organização dos
sistemas de saúde de
praticamente todos os
países do ocidente. Falar
de sistema de saúde se
restringia, quase sempre,
a discutir como organizar
médicos e hospitais. Mas
isto não foi sempre assim.
O Hospital nem sempre
foi lugar de doentes e, até
mesmo a associação entre
médicos e hospitais é fato
relativamente recente na
história dos hospitais”.
Etimologicamente, a
palavra vem do latim
hospitale (lugar onde se
recebem pessoas que
necessitam de cuidados,
alojamento, hospedaria),
ou hospes, hóspedes ou
convidados
Pode-se dizer que o
hospital da idade média
foi menos um
estabelecimento sanitário
do que um lócus
religiosus, e sua missão,
uma pia causa, a de
assistir aos pobres
estivessem eles enfermos
ou não. Funcionavam com
pouca ou nenhuma
presença de médicos, e,
ainda não se constituíam
em uma preocupação
importante do Estado.
Entre os Séculos XVIII e
primeira metade do
Século XIX, segundo
Foucault (1980) os
hospitais, além de
progressivamente saírem
da gestão da igreja
passando a ser gerido
pelo Estado, vão se tornar
progressivamente local de
doentes e dos médicos,
para lá atraídos, pela
possibilidade de estudar e
melhorar sua prática
clínica. ● O fato é que o
hospital se tornou uma
via paralela de ensino
cada vez mais importante
e legitimada, e também
um local de trabalho
insubstituível para a elite
médica.
Hóspedes
● População miserável ●
Desajustados ●
Delinquentes ●
Prostitutas ● Venéreos ●
Loucos ● Doentes ●
crianças
● Prática sistemática e
generalizada de
isolamento e segregação
de significativos
segmentos sociais
● Hospital: estrutura
semi jurídica com poder
de polícia e poder de
justiça
Medicalização do hospital
Saber produzido no
hospital representa o
lugar simbólico de novas
práticas disciplinares que
permitiria ao médico
agrupar as doenças,
observá-las em seu curso
e evolução.
Como aconteceu essas
transformações nas
instituições psiquiátricas?
Pinel: missão de reformar
o hospital.
Tecnologia Pineliana:
isolamento do mundo
exterior, constituição da
ordem asilar (tratamento
moral).
Com Pinel a doença se
estabelece enquanto de
ordem moral, assim
inaugura-se um
tratamento com o mesmo
nome: Tratamento Moral.
Pinel é fundador da
tradição clínica, da clínica
psiquiátrica.
A partir de Pinel o termo
psicopatologia é tomado
como sinônimo de teoria
da loucura.
Isolamento do mundo
exterior: isolar para
conhecer
Com o isolamento das
diversas formas de
loucuras foi possível
elaborar o conceito de
“alienação mental”.
Alienatio: separação,
ruptura, fora de si,
distúrbio da razão,
distúrbio no equilíbrio das
paixões. (animalidade,
periculosidade).
O hospital seria, ele
próprio, uma instituição
terapêutica: “regras
invariáveis de polícia
interior”.
Isolamento como princípio
terapêutico: tratamento
moral
 Trabalho terapêutico =
disciplina do trabalho =
corpo disciplinado.
Pedagogia da
sociabilidade
Dispositivo disciplinar
como repressão = castigo
disciplinar e a contenção
física.
Modelo asilar
Objeto: a doença mental.
Estratégia de intervenção:
internação (isolamento)
Saber especializado
centrado na doença
Estrutura verticalizada e
hierarquizada.
Os Primórdios da Psiquiatria
A Concepção Organicista
A psiquiatria passa a ser
institucionalizada como
ramo da medicina 7.1
Bichat (1802): Método
anátomo-clínico. A
anatomia patológica é o
fundamento objetivo para
a descrição das doenças.
Correlação entre lesão e
localização cerebral. 7.2
Bayle (1822): postulação
da “paralisia geral” ->
meningite crônica -> sífilis
-> mania -> demência.
Por meio do haxixe,
Moreau de Tours
inaugurou a auto-
experimentação da
loucura. Têm início a
criação de um espaço
comum ao normal e ao
patológico, uma das
condições para o
nascimento da
Psicopatologia. "não é
preciso ingerir drogas,
basta sonhar, pois o
sonho reproduz as
mesmas características da
loucura”.
Os Primórdios da Psiquiatria
A Concepção
Mentalista/Humanista
Na Alemanha, a
psiquiatria e marcada
pelo romantismo que
defende uma visão de
homem na qual a
sensibilidade e a
imaginação têm lugar
proeminente.
A subjetividade individual
e destacada e o império
exclusivo da razão e
questionado como única
forma de conhecer a
intimidade do homem. Os
psychiker (psicologistas)
levarão em conta
dimensões hoje
associadas a Psicanálise: a
importância da
sexualidade, do
inconsciente e do
simbolismo dos sonhos.
Dirão que a gênese das
doenças mentais depende
de um conjunto de
causas, sendo muitas
vezes necessário
remontar à primeira
infância para se chegar a
elas (Johann Christian
Heinroth)
Causalidade Psíquica
Jean-Martin Charcot teve
uma participação.
essencial na descoberta
de fatores psíquicos nas
neuroses, ainda que ele
próprio jamais tenha
negado sua concepção
neurológica. Responsável
pela descrição do quadro
clínico da histeria, ele
percebeu que os sintomas
histéricos reproduziam
problemas neurológicos
sem respeitar as leis da
Fisiologia.
Charcot: sintomas
histéricos poderiam ser
suprimidos ou produzidos
por meio da hipnose
(influência de sujeito
sobre outro). Charcot
renova o gesto de pinel:
neuroses são doenças
nervosas autônoma,
funcional, sem traços
lesionais.
Jaspers (1911): a
psicopatologia tem por
objeto o estudo descritivo
dos fenômenos psíquicos
anormais, exatamente
como se apresentam para
a experiência imediata. A
psicopatologia é uma
ciência independente da
psiquiatria e da
psicologia.
A Psicopatologia é jovem.
Tem em torno de um
século de vida. Tem
crescido de forma
vertiginosa na tentativa
de compreender – os
fenômenos patológicos
psíquicos mediante a
integração de múltiplas
referencias: psicológicas,
filosóficas, sociológicas,
biológicas e psicanalíticas.
Tomou-se tão complexa
que temos de dividi-la
para falar de suas
tendências atuais. Uma
possível divisão, apenas
didática, situa essa
disciplina em quatro
grandes correntes:
organicista, psicanalítica,
fenomenológica e
psicossociológica. Cada
corrente abriga linhas por
vezes muito diferentes.
As classificações atuais
Objetivo: delinear
categorias de estatísticas
básicas de saúde.
F00 -009 Transtornos
Mentais Orgânicos∙ F10 -
19 Transtornos
decorrentes do uso de
substância psicoativa ∙
F20-29 Transtornos
Psicóticos ∙ F30-39
Transtorno do Humor ∙
F40-48 Transtornos
neuróticos ∙ F50 -59
Síndromes
comportamentais
associado a perturbações
fisiológicas e fatores
físicos
∙ F60-69 Transtornos de
Personalidade ∙ F70-79
Deficiência Mental ∙ F80-
89 Transtorno do
Desenvolvimento
Psicológico ∙ F90-99
Transtornos emocionais
da infância e adolescência
DSM (Manual de
Diagnóstico Estatístico):A
principal pretensão do
DSM é sua natureza
ateórica sendo suas
categorias descritas por de sintomas sob a forma
critério sintomatológico e de síndromes. C) O
não etiopatôgenico. A medicamento passa a ser
classificação de seus a referência maior para a
transtornos corresponde nomeação e a construção
a síndromes clínicas. As da síndrome.
classificações
∙ “Psicopatologia centrada
internacionais vão se
em seus medicamentos”:
fundamentar no
o transtorno decorrente
paradigma das
da enfermidade é uma
neurociências. Busca de
simples disfunção a ser
um fundamento biológico
regulada pelo
-> tentativa de
psicofármaco. ∙ A
reencontrar sua
psiquiatria biológica
identidade e
eliminou completamente
“cientificidade”.
a presença da experiência
A psicopatologia (vertente subjetiva do doente no
psiquiátrica) sempre se acontecimento da
encontrou em uma enfermidade.
posição incômoda no
A psicopatologia dinâmica
campo da medicina. Ela
(Psicanálise,
buscava as causas físicas
Fenomenologia) promove
dos distúrbios mentais e
uma ruptura com a
apenas encontrava, desde
tradição psiquiatra
Pinel, as causas morais. O
biologicista na medida em
recente desenvolvimento
que reconhece um saber
das neurociências e da
do louco sobre a
psicofarmacologia
experiência perturbadora
possibilitou a psiquiatria
que lhe acometia∙ A
sair da condição de “filho
existência de um saber no
bastardo” da medicina e
sintoma: o sintoma como
se transforma em
um enigma ∙ Os sintomas
especialidade médica.
revelam algo sobre o
Isso resultou numa
sujeito (saber, uma
redução do
verdade, dotada de
funcionamento psíquico
sentido # mero
ao funcionamento
subprodutos da atividade
cerebral, sendo este
cerebral) ∙ A existência de
representado por uma
um saber no delírio.
linguagem bioquímica.
Conseqüências: A)
Afastamento do
referencial clínicoB) A
concepção tradicional de
enfermidade centrada na
idéia de etiologia, perde
terreno face à articulação