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e Saúde Mental
Profa: Danielle Lamarca
Texto: A loucura, estrutura
global
Tratava-se somente de mostrar entre a psicologia e a loucura uma
relação tal e um desequilíbrio tão fundamental que tornam vão cada
esforço para tratar o todo da loucura, sua essência e natureza em
termos de psicologia.
Quem são condenado de inicio. O que se chama "doença mental" é apenas loucura
alienada, alienada nesta psicologia que ela própria tornou possível.
os loucos? Será preciso um dia tentar fazer um estudo da loucura como estrutura
global — da loucura liberada e desalienada, restituída de certo modo a
sua linguagem de origem.
• Está claro que o século XVI valorizou positivamente e reconheceu o que o XVII ia menosprezar, desvalorizar
e reduzir ao silencio. A loucura no sentido mais amplo situa-se aí: neste nível de sedimentação nos fenômenos
de cultura em que começa a valorização negativa do que tinha sido apreendido originalmente como o
Diferente, o Insano, a Desrazão.
• Então, as significações morais se engajam, as defesas atuam; barreiras elevam-se, e todos os rituais de
exclusão organizam-se. Estas exclusões podem ser segundo as culturas de diferentes tipos:
• A separação geográfica (como nas sociedades indonésias onde o homem "diferente" vive só, as vezes, a alguns
quilômetros do povoado), separação material (como nas nossas sociedades que praticam o internamento) ou
simplesmente separação virtual, apenas visível do exterior (como no começo do século XVII na Europa).
• Estas táticas de partilha servem de quadro a percepção da loucura. O reconhecimento que permite dizer: este é
um louco, não é um ato simples nem imediato.
• Repousa, de fato, num certo número de operações prévias e sobretudo
neste recorte do espaço social segundo as linhas da valorização e da
exclusão. Quando o médico acredita diagnosticar a loucura como uni
fenômeno de natureza, é a existência deste limiar que permite portar o
A loucura e a julgamento de loucura.
cultura • Cada cultura tem seu limiar particular e ele evolui com a configuração
desta cultura; a partir dos meados do século XIX, limiar de
sensibilidade a loucura baixou consideravelmente na nossa sociedade; a
existência da psicanálise é testemunho deste abaixamento na medida
em que ela é tanto o efeito quanto a causa do fato.
• É preciso notar que este limiar não está necessariamente ligado a
acuidade da consciência médica: o louco pode ser perfeitamente
reconhecido e isolado, sem receber por isso um status patológico
preciso, como foi o caso na Europa antes do século XIX.
• Finalmente, ligada no nível do limiar, mas relativamente independente
dele, a tolerância a própria existência do louco. No Japão atual, a
proporção de loucos reconhecidos como tais por seu ambiente é
sensivelmente a mesma que nos Estados Unidos
O reconhecimento da doença mental
da loucura distância que separa, para um homem, sua vida de criança de sua
vida de homem feito.
infantil concernem.
• Poder-se-ia dizer o mesmo para o desenvolvimento cultural: os delírios religiosos, com seu sistema de
asserções e o horizonte mágico em que sempre implicam, oferecem-se como regressões individuais em relação
ao desenvolvimento social.
• A este conflito e a exigência de superá-lo, pertencem os delírios messiânicos, a experiência alucinatória das
aparições, e as evidências do apelo fulminante que restauram, no universo da loucura, a unidade destruída no
mundo real.
• O horizonte histórico das regressões psicológicas está então num conflito de temas culturais, marcados cada
um por um índice cronológico que denuncia suas diversas origens históricas.
• A história individual, com seus traumatismos, e seus mecanismos de defesa, sobretudo com a angústia que a
obseda, pareceu formar uma outra dimensão psicológica da doença.
• A psicanálise colocou na origem desses conflitos um debate "metapsicológico", nas fronteiras da mitologia
("os instintos são nossos mitos" dizia o próprio Freud) , entre o instinto da vida e da morte, entre o prazer e a
repetição, entre Eros e Tanatos.
• Se a doença encontra um modo privilegiado de expressão neste
entrelaçamento de condutas contraditórias, não significa que os elementos
da contradição se justapõem, como segmentos de conflitos, no inconsciente
O humano e humano, mas somente que o homem faz do homem uma experiência
contraditória.
suas • As relações sociais que uma cultura determina, sob as formas da