denomina-se Hélio. Daí sua teoria astronômica
Inicialmente, a palavra “Psicanálise” significou
Escola Nossa Senhora do Rosário.
Diretora: Conceição Lourenço.
Prof.: Wilton Sampaio.
4º Bimestre de 2023. (2ª Etapa)
Filosofia Contemporânea
A Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud.
Resumo Introdutório
Sigmund Freud (1856-1939)
cria a “psicanálise” na segunda
metade do século XIX, como
uma ciência que procura
entender as causas do
adoecimento psíquico. Segundo
ele, a psicanálise resultou de
seus estudos com a neurologia, a
medicina, a psiquiatria, a
fisiologia e a filosofia,
associado aos fenômenos
psíquicos.
Observação: A atividade psicanalítica não se
subordina ao Conselho Federal de Medicina, nem ao
Conselho Federal de Psicologia, mas atua de forma
interdisciplinar com a Medicina e a Psicologia na
promoção do bem-estar da saúde mental e
psicossomática humanas. O Conselho Federal de
Medicina estabelece procedimentos para a classe
médica, e o Conselho Federal de Psicologia, para
psicólogos.
Nas palavras do próprio Freud, a psicanálise veio
a ser uma terceira ferida contra o narcisismo (amor
próprio) humano, somada as outras duas feridas
causadas por Nicolau Copérnico e Charles Darwin, no
campo da astronomia e da biologia, respectivamente.
No século XVI, Nicolau Copérnico postulou a
teoria do heliocentrismo, a qual contradizia à teoria
do geocentrismo, ao afirmar que não era a Terra o
centro de nosso sistema solar, como pressupunha a
Teologia Medieval, mas sim o Sol. Sol, em grego,
1.
chamar-se de teoria heliocêntrica. Ao fazer saber que
a Terra é apenas um planeta em uma enorme vastidão
sideral, onde o próprio universo sequer tem um centro,
a humanidade perdeu a segurança ingênua de um
Cosmos finito e fechado para ser jogada em uma
vastidão sem referencial algum no universo infinito.
Charles Darwin, no século XIX, afirmou que o
homem é o resultado do processo da evolução natural,
e não uma obra-prima singular das mãos de um
Criador divino. Como todas as demais espécies
animais, o homem é fruto do processo evolutivo, tendo
como linhagem anterior mais próxima os antropoides
(macacos). Com isso, Charles Darwin refutou a
pretensa singularidade do homem em relação as
outras espécies, fazendo sua origem descer ao reino da
animalidade, negando seu pertencimento à dimensão
do reino celeste espiritual divino.
A terceira e mais irritante ferida dada contra o
narcisismo humano foi feita no âmbito psicológico
por ele mesmo, Sigmund Freud, ao postular a
existência do inconsciente, com a criação da
psicanálise, ao asseverar que a consciência humana é
uma pequena parte de nosso aparelho psíquico e que o
inconsciente tem mais importância em nossas
decisões, valores e comportamentos do que nosso
próprio consciente.
A mania de grandeza racional humana, que
pretendia o domínio absoluto da realidade pela razão,
atitude há muito assegurada pela metafísica e, mais
recentemente, pelas ciências da natureza, perdeu sua
segurança, dado que seu fundamento é encontrado nas
energias instintivas e caóticas do inconsciente, em
cuja estrutura o “Ego” nem sequer é senhor de sua
própria casa, mas dependente de informações escassas
a respeito de tudo o que acontece inconscientemente
em sua vida psíquica.
Princípios Gerais da Psicanálise
No percurso de sua criação por Sigmund Freud, a
palavra “Psicanálise” foi usada para designar três
modalidades de concepções.
um método especial de tratamento, concebido por
Sigmund Freud, para a cura de certa classe de
desarranjos nervosos. Este sentido restrito foi aquele
em que, pela primeira vez, foi usada a expressão.
2. Posteriormente, psicanálises veio a significar uma
técnica especial de investigação das camadas mais
profundas da mente.
3. Por fim, essa palavra foi empregada para descrever
a extensão de conhecimento que se adquiriu pelo
exercício deste método e, neste sentido, é praticamente
sinônimo de “ciência do inconsciente”. Trata-se de um
campo de investigação teórica e clínica da psiqué
humana que se preocupa em explicar o funcionamento
da subjetividade do sujeito, auxiliando no tratamento
de transtornos mentais.
A Estrutura da Personalidade
O Id, o Ego e o Superego são os três aspectos da
estrutura psíquica que Sigmund Freud descreveu
como sendo as três camadas da personalidade humana.
O Id - Segundo Sigmund Freud.
Segundo o conceito freudiano de estrutura da
personalidade, o Id é a fonte de energia psíquica e o
aspecto da personalidade relacionado aos instintos. É
totalmente inconsciente, sendo formado pelas pulsões,
instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes.
O Id funciona de acordo com o “Princípio do Prazer”,
buscando sempre o que gera prazer e evita o desprazer.
É a parte mais primitiva de nossa personalidade; é a
fonte de todos os nossos impulsos mais básicos. Esta
parte da personalidade é totalmente inconsciente e
serve como fonte de toda a energia libidinal. Operando
com base no “Princípio do Prazer” (libido), o Id exige
a satisfação imediata das necessidades primárias da
pessoa: comer a fim de satisfazer a fome; dormir para
recompor as energias e superar o cansaço, a fadiga;
evitar a dor e o desprazer em geral, procurando
satisfazer as carências instintivas do organismo
humano. Simplificando bastante, o Id é movido pelas
1
necessidades e desejos básicos da vida, não importando
as consequências. Do Id provém os impulsos cegos e
impessoais dedicados à satisfação e à gratificação do
“Princípio do Prazer” (libido).
O Id atua como a força motriz por trás da
personalidade. Ele não só se esforça para satisfazer
nossos impulsos mais básicos, muitos dos quais estão
ligados diretamente à sobrevivência, como também
fornece toda a energia necessária que mantem nossa
vida e personalidade.
Durante a infância, antes dos outros componentes
da personalidade começarem a se formar, as crianças
são governadas inteiramente pelo “Id”. Satisfazer as
necessidades básicas com comida, bebida e conforto
são de extrema importância. À medida que
envelhecem, seria obviamente muito problemático
agir simplesmente para satisfazer às necessidades do
“Id”, sempre que sentimos uma necessidade, ou desejo.
Felizmente, os outros componentes da personalidade
se desenvolvem à medida que envelhecemos, o que nos
permite controlar as exigências do “Id” e nos
comportar de forma socialmente aceitável.
Quando estamos com fome, o princípio do prazer
nos direciona para comer. Quando estamos com sede,
ele motiva nossa ação para beber. Mas, claro, nem
sempre podemos satisfazer os nossos desejos de
imediato. Às vezes precisamos esperar até o momento
certo ou até que nós realmente tenhamos acesso às
coisas que atendam às nossas necessidades.
Na teoria freudiana, o “Id” é propriamente o
“inconsciente”, a parte mais profunda da psiqué.
Ignora o mundo exterior, com quem não está em
contato, e o objeto único de seus interesses é o corpo e
sua satisfação, sendo suas relações com ele dominadas
unicamente pelo “princípio do prazer” (libido).
O “Id”, como a parte obscura, inacessível de nossa
personalidade, o que foi possível saber a seu respeito
foi obtido por meio de estudos de nossas atividades
oníricas e da formação dos sintomas neuróticos, e a
maior parte disso é de caráter negativo e pode ser
descrita somente como um contraste com o ego.
Abordamos o “Id” com analogias; denominamo-lo
caos, caldeirão cheio de agitação fervilhante.
Descrevemo-lo como estando aberto, no seu extremo, a
influências somáticas e como contendo dentro de si
necessidades instintivas que nele encontram expressão
psíquica. Não sabemos dizer, contudo, em que
substrato. Está repleto de energias que a ele chegam
dos instintos, porém não possui organização, não
expressa uma vontade coletiva, mas somente uma luta
pela consecução da satisfação das necessidades
instintivas, sujeita à observância do “princípio do
prazer”.
Anos depois, Freud ampliaria, com algumas
modificações, esta sua primeira teoria. O “princípio do
prazer” ou “libido” deixará de identificar-se
exclusivamente com “o instinto de mera satisfação
orgânica”, para tornar-se “Eros” – “o instinto da vida
e da autopreservação”, no qual o componente da libido
do princípio do prazer estará logicamente incluído.
O Ego – Segundo Sigmund Freud.
Segundo o conceito psicanalítico da estrutura da
personalidade, enunciado por Sigmund Freud, o
mundo externo age modificando uma parte do Id,
originando o Ego. Isso significa dizer que o Ego é
formado inicialmente pela parte do Id que se
modificou a partir do contato com o mundo externo.
Ego constitui o componente intermediário das
energias mentais entre o Id (Parte inconsciente e mais
profunda da psiqué) e o Superego (Ego ideal ou
aspecto moral da personalidade, responsável por
“domar” o Id, ou seja, reprimir os instintos primitivos
com base nos valores morais e culturais). Dito de outro
modo, o Ego é a instância intermediária da
personalidade que, embora tendo sua origem no Id,
possui contato com o mundo externo, pois opera com
base no “Princípio de Realidade”, que trabalha para
satisfazer os desejos do Id e do Superego de uma
maneira que seja realista e socialmente adequado.
Trata-se do componente da personalidade que é
responsável em lidar com a realidade e ajudar a
garantir que as exigências do Id e do Superego sejam
satisfeitas de maneira realista, segura e socialmente
aceitáveis. Por exemplo, se uma pessoa fecha
indevidamente nossa passagem no trânsito, o Ego,
orientado pelo Superego, é responsável em impedir
que tenhamos uma briga verbal ou física com o
motorista do carro infrator. O ego, orientado pelo
Superego, permite ver que esta atitude seria
socialmente reprovável e inaceitável, além de avaliar
possíveis consequências mais trágicas, caso
seguíssemos nosso instinto de revolta.
Portanto, como instância intermediária do
aparelho psíquico, o Ego exerce o controle das
experiências conscientes e regula a personalidade
entre as pulsões inconscientes do Id e as exigências
morais do Superego e seus ideais culturais. Ou seja, ele
ocupa a posição de um centro de referência para todas
as atividades psicológicas e suas qualidades
egocêntricas. É através do Ego que aprendemos tudo
sobre a realidade externa e orientamos nosso
comportamento no sentido de evitar os estados
dolorosos, as ansiedades e as punições.
Segundo a “Teoria Psicanalista”, o estado saudável
de nossa personalidade conta com a capacidade do Ego
em administrar toda a energia psíquica conflitante
produzidas pelo o Id e o Superego. Caso o “Ego ideal”
(Superego) de uma pessoa tiver padrões muito rígidos
e exigentes, tudo que a pessoa fizer poderá ser
considerado um fracasso por ela mesma.
O Superego - Segundo Sigmund Freud.
Superego – Na estrutura teórica da personalidade
descrita por Freud, o Superego é a mais recente
formação ou componente do sistema de energias
mentais e foi correlacionado com o declínio e
dissolução do “Complexo de Édipo”. Trata-se de uma
idealização da consciência moral na criação de um
“Ego ideal” para a civilização.
O superego é o representante de uma natureza
superior que no eu (Ego) atua no sentido de evitar
punições por transgressões morais ou fomentar ideais
moralmente aceitos. Ele pode reprimir e criticar as
ideias, impulsos e sentimentos que afetam o
comportamento moral e judicativo da personalidade
2
(atividade a que se dá, usualmente, o nome de
consciência, que pode apoiar a realização de uma
natureza superior ou ideal). Assim, os três
componentes básicos do sistema encontram-se
permanentemente empenhados numa interação que é
uma batalha constante: o Id em busca de sua
satisfação irracional, o Ego procurando ajustar as
exigências e impulsos do Id ao mundo da realidade, e
o Superego tentando reprimir ou apoiar o impulso que
for moral e socialmente reprovável ou louvável.
As Duas Características do Julgamento do Superego:
A Lei de Talião - É a punição por uma maldade ou
um crime aplicado ao malfeitor, fazendo-o sofrer o
mesmo dano a quem ele o infringiu. É o célebre
provérbio: “olho por olho” e “dente por dente”. Em
sentido psicanalítico, são as punições inconscientes
que o Superego impõe ao indivíduo, por suas ações que
foram reprovadas pelo Superego, mas que foram
desejadas ou praticadas, e contra as quais o Superego
produziu uma punição com base no conceito de
justiça.
A Ausência de Distinção Entre Desejo e Ação - Na
investigação psicanalítica foi constatado que o
Superego ameaça castigar severamente não somente a
ação ilegal ou imoral praticada, mas também o
próprio desejo ou impulso instintivo de querer
praticá-las.
Mecanismos de Defesas Psíquicos
Os “mecanismo de defesa” são subterfúgios
psicológicos que têm como objetivo manter a
integridade e sanidade do ego perante os estímulos
externos e as exigências das outras instâncias
psíquicas: o Id e Superego. Tais mecanismos são
estratégias do ego, de forma não consciente, para
proteger a personalidade contra o que ela considera
ameaçador e vexatório. Ao longo da vida, os
indivíduos encaram situações que nem sempre são
agradáveis ao consciente, e o ego, com o objetivo de
proteger sua integridade perante as possíveis ameaças,
possui alguns mecanismos de defesa específicos.
Freud aponta esses mecanismos como universais,
ou seja, todo mundo faz uso deles, em maior ou menor
escala, e o uso excessivo desses mecanismos pode abrir
as portas para os transtornos psicológicos. A função
desses mecanismos é diminuir a tensão e a ansiedade
causadas pelas situações adversas pela qual o ego
passa. Esses mecanismos são de diversos tipos, cuja
finalidade é afastar da percepção consciente o evento
que gera sofrimento.
❖ O Mecanismo da Repressão ou Recalque
Recalque ou repressão é um dos conceitos
fundamentais da psicanálise. Consiste em um
mecanismo de defesa da personalidade que reprime ou
recalca ao inconsciente eventos traumáticos,
pensamentos, desejos, afetos e pulsões que são
considerados repugnantes para um determinado
indivíduo. Trata-se de um ato de resistência de nosso
mecanismo de defesa que reprime aspirações, desejos,
instintos e pulsões reprovados pelo princípio de
legalidade e moralidade da consciência do indivíduo.
A repressão desses sentimentos para o inconsciente
não os elimina do quadro psíquico, e podem causar
distúrbios no indivíduo. Pois os conteúdos recalcados,
longe de serem destruídos ou esquecidos
definitivamente através da repressão psíquica, ao se
ligarem à pulsão, mantêm sua efetividade psíquica no
inconsciente. O reprimido (ou recalcado) constitui,
para Freud, o componente central do inconsciente. "O
recalcado se sintomatiza", diz o fundador da
psicanálise. Ou seja: pela repressão, os processos
inconscientes só se tornam conscientes através de seus
derivados - os sonhos ou os sintomas neuróticos.
Assim sendo, a repressão (recalque) é uma defesa
automática e inconsciente da personalidade com que
são repelidas do consciente as ideias que são penosas
ou perigosas. Tanto a repressão quanto a negação
podem ser vantajosas em certo nível. O nível de
‘esquecimento’ na repressão pode variar de uma
supressão temporária de pensamentos desconfortáveis
para um elevado nível de amnésia, onde os eventos que
causaram a ansiedade são enterrados muito
profundamente. Um elevado nível de repressão pode
provocar um elevado grau de ansiedade ou disfunção,
embora esta também possa ser causada pela repressão
de um incidente particularmente traumático.
Segundo Freud, esse mecanismo está presente
desde o início da vida e trata-se de algo que contribui
para uma simplificação da existência, não devendo ser
forçosamente considerado como uma patologia. O
estado patológico é atingido quando a pulsão
reprimida passa a provocar desprazer em vez de
prazer. Para Freud, o objetivo do tratamento
psicanalítico é trazer de volta ao nível consciente o
material psíquico recalcado, visto que tanto o processo
de repressão como o material recalcado são
inconsciente.
Observação: Quando deliberada e conscientemente se
tenta afastar pensamentos do nível consciente, se
chama de supressão.
Consequências Indesejadas
Quando a repressão ou o recalque se tornam
dominantes, podem levar a consequências indesejadas,
como conflitos internos, ansiedade crônica e
dificuldades nos relacionamentos interpessoais. As
emoções e memórias represadas podem eventualmente
encontrar formas de escapar, muitas vezes de
maneiras inesperadas e desconcertantes.
Por exemplo, uma pessoa que reprimiu
sentimentos de raiva em relação a um ente querido,
pode manifestar essas emoções reprimidas de maneira
não intencional, como explosões de raiva
desproporcionais em situações aparentemente
insignificantes.
Popularmente se diz que a pessoa é recalcada como
sinônimo de inveja, ou seja, a pessoa que oculta e
reprime o desejo de ser e ter o que outra pessoa é e tem.
Para Freud, a psicanálise se tornou uma
ferramenta fundamental para explorar esses
movimentos e trazer à luz os conteúdos ocultos do
inconsciente. Através da livre associação, da
interpretação dos sonhos e da análise das resistências,
os pacientes poderiam revelar e confrontar os aspectos
3
recalcados ou reprimidos de suas psiques. Ao fazer
isso, poderia alcançar uma compreensão mais
profunda de si mesmos, trabalhando em direção a uma
resolução dos conflitos internos e à restauração do
equilíbrio psicológico.
❖ O Mecanismo da Negação
A negação é a recusa em aceitar a realidade de
forma realista, em razão da verdade poder ser dolorosa
demais para o indivíduo conseguir aceitar e lidar com
ela. Esse mecanismo pode acontecer em qualquer
situação, como por exemplo: o indivíduo que alega
ingerir bebidas alcóolicas apenas socialmente,
quando, na realidade, possui uma compulsão. Pois, na
hora de encarar episódios traumáticos na vida, ele se
entrega ao vício para poder apaziguar o sentimento.
Alguns indivíduos optam por negar o ocorrido para
que as consequências negativas daquela situação não
se perpetue ao longo de sua vida.
❖ O Mecanismo da Projeção
O processo de entendimento da projeção parte do
princípio de que o indivíduo reconhece uma
característica de que não gosta em si e que pode lhe
causar dor. A partir disso, ele projeta essa insegurança
nas falas e atitudes de quem o cerca como se essas
pessoas estivessem apontando tal característica como
errada ou vergonhosa. Por exemplo, alguém que tem
muita insegurança sobre o próprio corpo, ao chegar na
academia, sente que as pessoas do lugar estão
julgando-a ou criticando-a. Assim, a própria
insegurança do indivíduo é projetada no
outro. Quando o caso ocorre com pessoas próximas,
questionamentos como “por que você está me olhando
assim?” ou afirmações que a pessoa apenas infere que
os outros estão fazendo.
❖ O Mecanismo de Racionalização
A Racionalização, como mecanismo de defesa da
personalidade, está ligada a um mau comportamento
do indivíduo perante a moral e valores da sociedade.
A pessoa cria justificativas para comportamentos
inadequados. Ao realizar o ato em questão, a pessoa,
ao sentir remorso, tenta transformar o mau
comportamento em algo neutro e justificável para que
a culpa, ou qualquer outro sentimento ruim, lhe deixe.
Exemplos de Racionalização em Psicanálise
✓ Uma pessoa evita o pagamento de impostos e, em
seguida, racionaliza falando sobre como o dinheiro é
mal utilizado pelo governo (e como ele é melhor usado
pelas pessoas que mantem).
✓ Uma pessoa não consegue obter resultados
suficientes para entrar em uma universidade
escolhida e, em seguida, diz que não queria ir para lá
de qualquer maneira.
✓ Um rapaz que viaja de graça em um ônibus e busca
várias justificativas para seu ato como “a passagem é
muito cara”, “a empresa já tem muito dinheiro”, “eu
pago passagem todo dia, um dia a menos não vai fazer
diferença”, “o ônibus está lotado, não vou passar pela
borboleta, vou ficar aqui mesmo”.
✓ Um aluno que, não conseguindo responder a uma
questão, diz “isso não é interessante de saber mesmo”,
“não respondi porque não tive tempo de estudar, pois
lá em casa fazem muito barulho”.
✓ Alguém que não consegue algo que deseja e logo se
justifica dizendo que, na verdade, não queria aquilo.
✓ Um rapaz que foi dispensado por uma garota, da
qual estava a fim, logo diz “ela nem era tão boa assim,
era até feia, não sei como fui gostar dela”.
✓ A pessoa pega o lugar da outra na fila e a culpa por
não ter prestado atenção, afinal, a culpa é dela e não
do indivíduo que furou a fila.
❖ O Mecanismo do Deslocamento
Aqui, o indivíduo transfere sentimentos negativos
como raiva, frustração, angústia e dor do seu objeto de
origem, a um outro, pois este segundo oferece menos
perigo. A exemplo disso, temos a situação em que um
indivíduo pode reprimir os sentimentos de raiva
perante o chefe, porém descontar em animais,
parceiros ou amigos. Ou então alguém que teve uma
experiência negativa com seu dentistas, e, então, passa
a evitá-los.
❖ O Mecanismo da Sublimação
O significado de sublimação se assemelha um
pouco ao da Intelectualização. Porém, aqui, o processo
se desenvolve em um longo período do tempo, ou até
mesmo durante a vida inteira. Um exemplo de
sublimação é o artista que sente repressão ou sofre por
algo ou alguém e transfere toda a frustração para a
arte, de modo que aquilo, ou seja, a sua reação, se
torna aceitável socialmente.
❖ Mecanismo de Intelectualização
Aqui, acontece o afastamento de uma situação
dolorosa de modo que o indivíduo não encara as
consequências emocionais dela. Diferentemente da
negação, onde há a recusa em aceitar a realidade, o
episódio doloroso é reconhecido na Intelectualização,
ou seja, o indivíduo sabe e vivencia a sua existência,
mas aprende a focar em outras consequências que não
as emocionais. Por exemplo, se uma pessoa é mandada
embora de seu emprego, ao invés de se sentir mal em
relação a isso, pode pensar que agora terá mais tempo
livre para focar em outros projetos.
❖ O Mecanismo da Formação Reativa
Na formação reativa, ocorre a inversão de
sentimentos perante um objeto de desejo. Por exemplo,
se alguém possui apreço ou amor por algo ou alguém,
mas sabe que esse sentimento, seja por razões sociais
ou pessoais, não é correto, o indivíduo não admite o
que sente e passa a ter emoções opostas extremas.
❖ O Mecanismo da Compensação
Esse mecanismo de defesa tem por característica a
tentativa do indivíduo de equilibrar suas qualidades e
deficiências, por exemplo, uma pessoa que não tem
boas notas e se consola por ser bonita.
4
 Complexos ou Síndromes
➢ Complexo de Édipo
Embasado na tragédia grega “Édipo Rei”, de
Sófocles, Freud criou o conceito de “Complexo de
Édipo”. Utilizando-se da criação mítica literária de
Sófocles, elaborou sua explicação psicanalítica sobre
o desenvolvimento da sexualidade masculina infantil,
compreendida entre os três aos seis anos de idade, na
denominada fase fálica, na qual a criança manifesta
fortes desejos incestuosos por sua mãe. Por outro lado,
o menino cria igualmente certa rejeição de ódio por
seu pai, por não querer dividir com ele a atenção e os
carinhos maternos, enciumado sobretudo por aquele
dormir com sua mãe, e não ele.
Segundo Freud, a fase fálica acontece quando a
criança começa a descobrir seu corpo, seus órgãos
genitais e a diferença entre as sexualidades masculina
e feminina. Além disso, é nessa fase que a criança
percebe que não é o centro do mundo, que não depende
inteiramente de seus pais. Trata-se de uma fase
confusa de construção da libido, na qual o garoto cria
um desejo pelo sexo oposto, no caso, sua mãe. Nesse
sentido, ele começa a ver seu pai como rival, ao mesmo
tempo que pretende obter seu amor e sua atenção. A
superação desse conflito cabe ao pai solucionar,
conversando com a criança sobre as modalidades de
amores e afetos que existem, ajudando a criança a
diferenciar os tipos de sentimentos que existem entre
pai-filho, marido-esposa, irmão-irmão, colega-colega,
etc.. Tal conversa esclarecedora tem por propósito
criar um equilíbrio no desenvolvimento afetivo-
sexual do filho. Assim, a criança continuará a se
espelhar no pai e, posteriormente, buscará uma
mulher semelhante a sua mãe.
Freud assevera o seguinte acerca do conceito de
“desejo edipiano”:
“O destino de “Édipo Rei”, vaticinado pelo oráculo,
é o mesmo que diz respeito a nós todos - porque o
oráculo, no vaticínio de “Édipo Rei”, revela a mesma
maldição universal lançada contra a espécie humana,
antes de seu nascimento. Talvez seja o destino de todos
nós dirigir nosso primeiro impulso sexual para nossa
mãe e nosso primeiro ódio e desejo assassino contra
nosso pai”.
No caso da teoria freudiana, o conceito “Complexo
de Édipo” pode ser utilizado em ambos os sexos. Ou
seja, os meninos sentem forte atração pela mãe,
enquanto as meninas são atraídas pela figura paterna.
No tocante as meninas, Freud utilizava-se do
termo “Complexo de Édipo Feminino”. Contudo, Carl
Gustav Jung elaborou o conceito de “Complexo de
Electra” para melhor exemplificar essa fase confusa
no caso das meninas. Conceito esse que Freud não
aprovou.
➢ Complexo de Electra
Como dissemos, o “Complexo de Electra” designa
um termo criado por Carl Gustav Jung (1875-1961),
fundador da psicologia analítica. A exemplo de
Freud, Jung utilizou-se dessa peça mítica teatral do
dramaturgo grego Sófocles: Electra.
De acordo com a mitologia grega, Electra era filha
de Clitemnestra e Agamemnon. Ficou imortalizada
por ter planejado a morte da própria mãe, como uma
vingança contra sua progenitora por ela ter
assassinado o seu pai.
Segundo a psicologia analítica de Jung, para que
haja a superação do “Complexo de Electra” os pais
devem conversar com a filha sobre o amor, ajudando-
a a diferenciar os vários tipos de sentimentos que
existem entre pai-filha e marido-esposa, irmão e irmã,
amigo e amiga, etc.
Segundo a psicanálise, caso o “Complexo de
Electra” não seja corretamente ultrapassado,
a menina pode enfrentar diversos problemas na vida
adulta, como dificuldade em lidar com
relacionamentos amorosos, dificuldades em assumir
responsabilidades, projetar a figura paterna nos seus
relacionamentos futuros ou até criar uma relação
conflituosa com a própria mãe.
Vale ressaltar que o sentido das palavras “atração”
e “desejo”, neste contexto, não devem ser totalmente
comparadas ao sentimento que os adultos possuem.
Segundo algumas doutrinas psicanalíticas, o
“Complexo de Electra” se manifesta entra os três e
cinco primeiros anos de vida da menina.
Durante os três primeiros anos de vida, a criança
mantém um vínculo afetuoso muito grande com a
figura materna. Porém, a partir desta idade passa a
querer chamar a atenção do pai e, para isso, inicia
uma fase de imitação dos comportamentos da mãe.
Brincar com a maquiagem, os vestidos, os sapatos
e outros objetos da mãe pode ser sintomas de que a
menina está a passar pelo Complexo de Electra.
Inconscientemente, ao ter esse comportamento, a
criança anseia atrair a atenção do pai.
Essa perturbação, em contraposição ao “Complexo
de Édipo”, assinala uma fase onde a menina deseja seu
pai e rejeita sua mãe.
A Teoria das Pulsões
➢ Eros e Thanatos: Instintos de Vida e Morte.
Da mitologia grega, Freud se apropria dos nomes
de Eros e Thanatos para exemplificar as teorias das
pulsões, que explica a formação psíquica de todos os
indivíduos. Eros e Thanatos correspondem,
consequentemente, ao desejo erótico ou libido e a
atração pela morte, coexistindo simultaneamente. A
pulsão de vida equivale a toda a demanda interna que
nos leva a buscar o prazer, a criar e a realizar projetos
almejados; enquanto a pulsão de morte obedece à
demanda que nos conduz à busca pelo isolamento,
pela estagnação e pelos atos de destruição, violência
e morte. Nesta perspectiva, o princípio do prazer pode
ser entendido como um motor para a pulsão de vida,
e age atenuando situações dolorosas, fazendo que o
ser humano aja desde o princípio de vida. Porém, os
indivíduos melancólicos tendem a evocar,
repetidamente, situações de dor extrema, de modo
que, se para o indivíduo neurótico o princípio do
5
prazer busca amenizar ou zerar o desprazer, para o
indivíduo psicótico maníaco-depressivo o princípio
de morte cumprirá a mesma função. Augusto dos
Anjos é sem sombra de dúvida um dos poetas
brasileiros que exemplifica bem tal comportamento
depressivo. O pessimismo e a angústia que recobrem
toda sua escrita nos transportam para um lugar de
observância das misérias e infortúnios da vida
humana.
A “Teoria da Pulsões” é um dos temas
metapsicológicos mais essenciais à obra freudiana.
Inicialmente, Freud desenvolveu a teoria das pulsões
constituintes do aparelho psíquico vivenciadas na
tensão entre o ego, o id e o superego, que consistia em
uma divisão das pulsões entre o id e o superego
intermediadas pelo ego; posteriormente ele concebeu
outra “teoria das pulsões”, na qual propôs a existência
de uma pulsão de morte voltada à descatexização das
energias instintivas, e uma pulsão de vida, que
buscava o investimento e a unificação de tais
energias. Esta segunda teoria criou base para um
melhor entendimento das psicopatologias da
agressividade, sadismo e masoquismo humanos.
➢ Instinto de Vida (Eros).
Às vezes referidos como instintos sexuais, os
“Instintos de Vida ou Eros” são aqueles que lidam
com a sobrevivência básica da espécie, sua saúde,
seus prazer e reproduções. Esses instintos são
importantes para sustentar a vida do indivíduo, bem
como a continuação da espécie. Enquanto eles são
frequentemente chamados de instintos sexuais, essas
unidades também incluem coisas como sede, fome,
sono, assim como procura evitar a dor e buscar o
prazer na satisfação dos instintos eróticos. A energia
criada pelos instintos de vida é conhecida como
libido. Por ser assim, os comportamentos comumente
associados com o instinto de vida ou Eros incluem o
amor, a amizade, a cooperação e outras ações de
afetos agradáveis.
➢ Instinto de Morte (Thanatos).
Em seu livro “Além do princípio do prazer”
(1920), Freud descreve o “Instinto de Morte ou
Thanatos” como sendo o objetivo final de toda a
vida”. Ele observou que as pessoas o experimentam
após um evento traumático (como guerra ou outros
infortúnios da vida). Segundo ele, as pessoas têm um
desejo inconsciente de morrer, mas que este desejo é
amplamente temperado pelos instintos de vida. O
comportamento autodestrutivo é uma expressão da
energia criada pelos instintos de morte. Quando esta
energia é dirigida para fora e para os outros, é
expressada como agressão e violência.
Referências Bibliográficas
FREUD, S. O Ego e o Id (1923) . IN FREUD,
S., Obras Completas de S. Freud, Rio de
Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.B.
Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
SCHULTZ, D.P.; SCHULTZ,S.E. História da
psicologia moderna. 5. Ed. São Paulo: Cultrix,
1992.
Zimerman, D. (2004), Manual de Técnica
Psicanalítica, Editora Artmed, Porto Alegre.
Euzébio. Alessandro. As contribuições da
psicanálise para os transtornos psiquiátricos.
Revista Brasileira de Psicoterapia. 2015.
————. (2019) As contribuições da
psicanálise para os transtornos psiquiátricos.
Revista Brasileira de Psicoterapia. 2019.
Freud, S. (1923). Neurose e psicose. Obras
completas. RJ: Imago, 1996.
Freud, S. (1905). Meus pontos de vista sobre o
papel da sexualidade na etiologia das neuroses.
Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud, vol. VII. Imago: Rio de Janeiro, 1969.
————. (1912). Contribuições a um debate
sobre a masturbação. Obras psicológicas
completas de Sigmund Freud, vol. XII. Imago:
Rio de Janeiro, 1969.
————. (1914). Narcisismo: uma introdução.
Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud, vol. XIV. Imago: Rio de Janeiro, 1969.
————. (1917). Conferências introdutórias à
psicanálise. Obras psicológicas completas de
Sigmund Freud, vol. XV. Imago: Rio de Janeiro,
1969.
————. (1923). Dois verbetes de enciclopédia.
Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud, vol. XVIII. Imago: Rio de Janeiro, 1969.
————. (1925). Um estudo autobiográfico.
Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud, vol. XX. Imago: Rio de Janeiro, 1969.
————. (1932). Novas conferências
introdutórias. Obras psicológicas completas de
Sigmund Freud, vol. XXII. Imago: Rio de
Janeiro, 1969.
Tengan, S. K., Maia, A. K. (2004). Psicoses
funcionais na infância e adolescência.
Laplanche, J e Pontalis, J. B., (1967). Vocabulário
de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991
6