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ANTIMICROBIANOS 2023
A reunião das iniciais dos nomes dos gêneros de alguns desses patógenos MDR
levou à criação do acrônimo ESKAPE (Enterococcus, Staphylococcus,
Klebsiella, Acinetobacter, Pseudomonas e Enterobacter). Mas,
independentemente do patógeno especificamente envolvido em um caso de
infecção relacionada à assistência de saúde, a relevância clínica das infecções por
patógenos MDR reside nos seus elevados índices de mortalidade e altos custos do
tratamento.
ANTIBIOTICOTERAPIA
As opções de primeira e segunda escolha do esquema antibiótico indicado
conforme o sítio primário das infecções devem seguir as recomendações expostas
nas tabelas seguintes (1 a 9), agrupadas sob o rótulo “Guia de Antimicrobianos do
Hospital Casa”.
O regime antimicrobiano deverá sempre ser reavaliado após 48 a 72 horas de
administração, com base nos dados microbiológicos (resultados das culturas e dos
testes de sensibilidade), clínicos e quando possível com os níveis séricos de
procalcitonina.
Após essa avaliação, recomenda-se, se possível, realizar o descalonamento do
esquema antibiótico, isto é, utilizar um antibiótico de espectro estreito visando a
evitar o desenvolvimento de resistência e reduzir a toxicidade e os custos do
tratamento.
As doses habituais dos antimicrobianos indicados no nosso plano terapêutico, na
ausência de insuficiência renal, podem ser consultadas na Tabela 10.
Diversos fármacos listados exigem ajustes de dose quando presentes transtornos
da função renal e/ou hepática. O ideal no CTI (ambiente com refrigeração) é que a
prescrição dos beta-lactâmicos piperacilina-tazobactam, cefepime e meropenem,
nas infecções graves sejam instituídas por via intravenosa por bomba infusora, em
infusão continua ou prolongada segundo os dados de farmacocinética e
farmacodinâmica (PK/PD) destes antimicrobianos.
O aumento da prescrição de fluoroquinolonas, cefalosporinas de terceira geração e
antimicrobianos de largo espectro teve como consequência natural na evolução
destes micro-organimos o surgimento e a expansão, nas últimas décadas, de
Enterobactérias que portam os genes ESBL+ (Bla-CTX, Bla-TEM, Bla-SHV) e
Amp-C.
Estas enzimas beta-lactamases degradam os antimicrobianos do grupo
beta-lactâmicos como: penicilinas, cefalosporinas, aztreonam. A ação destas
enzimas impedem a atividade dos beta-lactâmicos com atividade anti
Gram-negativos (BGN), com a exceção dos carbapenemas (ertapenem, imipenem,
meroperem).
Ceftazidina-avibactam - Torgena®
Os principais micro-organismos BGNs que albergam genes de ESBL ou KPC são:
E.coli, K.pneumoniae, Klebsiella oxytoca e Proteus mirabilis. Os inibidores de
beta-lactamase como o tazobactam e o clavulanato iníbem a ESBL in vitro, porém
sem eficacia nas infecções ameaçadoras da vida (sepse III) por BGN-ESBL+.
Segundo a ANVISA, a ceftazidima-avibactam, Torgena®, tem registro e
aprovação para o tratamento de adultos com infecções por ESBL ou KPC de foco
intra-abdominal, urinária complicadas, incluindo pielonefrite, pneumonia hospitalar
e pneumonia associada à ventilação mecância (PAV).
A ceftazidina-avibactam não deve ser prescrita no tratamento empírico (sem
resultado microbiológico ou mesmo nos pacientes com colonização por
MDR).
O Torgena® não tem indicação nas infecções por Acinetobacter spp,
Stenotrophomonas maltophilia ou Burkholderia cepacia.
Piperacilina-tazobactam (Tazocin®)
Até recentemente, a piperacilina-tazobactam (Tazocin®) era uma alternativa
empírica na uro-sepse por BGN ESBL+. Entretanto, segundo duas publicaçções
recentes, os centros que trabalham com sepse têm que rever este cenário das
infecções urinárias nas respectivas instituições de saúde.
Segundos nossas pesquisas com infecção urinária no Rio de Janeiro, ainda
indicamos o descalonamento de meropenem para o tazocin após resultados de
sensibilidade a esta droga, principalmente nas infecções urinárias por E.coli ESBL+.
Quando prescrevermos o Tazocin® no Hospital Casa nestas infecções urinárias,
sugerimos seguir os dados de PK/PD, isto é, fazer a infusão de tazocin 4.500 mg IV
em bomba em 4 horas, 3x/dia. Não orientamos a piperacilina-tazobactam nas
bacteremias por BGN ESBL + de foco não urinário.
O uso indiscriminado de cefalosporinas de terceira geração, fluoroquinolonas,
meropenem e vancomicina, assim como presença de cateter vesical ou cateteres
vasculares na veia femural ou ventilação mecânica são os principais fatores de risco
para superinfecção hospitalar por micro-organimos do grupo NO ESKAPE no Rio
de Janeiro.
Cefotolozane-tazobactam (Zerbaxa)
Ceftolozane-tazobactam é um dos antimicrobianos beta-lactâmcicos mais ativos
contra a Pseudomonas aeruginosa, in vitro tem demonstrado maior atividade do
que as cefalosporians e a piperacilina – tazobactam.
Recomendamos a Zerbaxa nas infecções por Pseudomonas aerugionosa após o
resultado de antimicrobiograma que apresenta resistência à ceftazidima, nos
pacientes com pneumonia associada assistência de saúde.
Cefiderecol
Cefiderocol é uma nova cefalosporina com antividade contra as bactérias
Gram-negativas multirresitentes, como E.coli, K.pneumoniae, Enterobacter
cloacae, Proteus mirabilis, P.aeruginosa. Entretanto, a eficácia clínica contra
Acinetobacter spp., Citrobacter spp., Morganella morganii, Proteus vulgaris,
Serratia marcescens, Stenotrophomonas maltophilia ainda está aberta nos estudos
clínicos.
Tabela 1. GUIA DE ANTIMICROBIANOS NAS INFECÇÕES COMUNITÁRIAS
Situação Clínica Primeira Escolha Segunda Escolha
Amoxicilina-Clavulanato
Erisipela
Cefazolina (Clavulin®)
S. pyogenes (90%) e muito raramente
Ou
S. aureus ou BGN
Amoxicilina-Sulbactam (Hepatopatas)
Celulite
S. pyogenes (75%), segundo agente
Cefazolina
S. aureus
(na possibilidade de risco de Oxacilina
(raramente BGN, como por exemplo
BGN)
Vibrio vulnificus ou Aeromonas
hydrophila)
Celulite com abscesso
Tem risco de CA-MRSA Vancomicina* Linezolida
Discutir com seu infectologista*
Meningite
Ceftriaxona + Vancomicina Cefotaxima + Vancomicina
Discutir com seu infectologista
Amoxicilina-Clavulanato
(Clavulin®)
Pé diabético sem infecção prévia Clindamicina+Ciprofloxacina
Amoxicilina-Sulbactam
(Hepatopatas)
Ampicilina-Sulbactam
Infecção das vias biliares sem
(Unasyn®) Meropenem ou ceftazidina+avibactam
cálculo no colédoco
ou (Torgena®)
Situação normalmente de baixo risco
Cefazolina* Infecções complicadas com instabilidade
para infecção por BGN ESBL+ ou
+/- hemodinâmica
Enterococcus spp. nas séries clínicas
Gentamicina
Infecções complicadas com instabilidade
hemodinâmica
Foco intra-abdominal Infecções complicadas sem Meropenem + Amicacina
Situação normalmente de baixo risco instabilidade hemodinâmica (Risco Enterobactérias ESBL +)
para infecção por BGN ESBL+ ou ou
Enterococcus spp. nas séries clínicas Piperacilina-Tazobactam* Ceftazidina+avibactam#1**
Discutir com seu infectologista* (Tazocin®) (Torgena®)
+ Risco de Enterobactérias resistentes
#1Necessária
autorização pela CCIH e Amicacina aos carbapenemas - KPC**
confirmação com cultura +
Metronidazol
Tabela 2. TERAPIA ANTIMICROBIANA ANTI-MRSA NO HOSPITAL CASA
Adulto dose (função renal e
Antimicrobiano Comentários
hepática normal)
Entre os aminoglicosídeos,
damos preferência ao uso de
gentamicina.
Amicacina Cistite: 15 mg/Kg/dose IV, dose única. Restringimos o uso de amicacina
(pico de concentração de para o tratamento infecções
40 mcg/ml, vale da Outras infecções: 20 mg/Kg/dose (quando a graves por BGN MDR (KPC)
amicacina> 10 mcg/ml) terapia for planejada por mais de 5 dias, ideal
dosar níveis séricos e avaliar a dose
subsequente e o intervalo será de acordo
farmacocinética)
Amoxicilina + Cistite: 875 mg VO 12-12 horas Amoxicilina + Clavulanato é uma
Clavulanato boa opção principalmente para
(Clavulin) E.coli porém, pode haver falha
terapêutica com a K.pneumoniae.
ou
Amoxicilina-Sulbactam
(Hepatopatas)
Ciprofloxacina 400 mg 8/8 horas (pneumonia, infecções Evitar uso empírico (alta taxa de
intra-abdominais) resistência em Enterobactérias
ESBL+ que têm resistência a
400 mg 12/12 horas (infecção urinária, outros antimicrobianos).
diarreia)
Após obter antibiograma se for
sensível podemos descalonar
para o ciprofloxacina (melhor
opção que o Clavulin) nas
infecções urinárias altas. Nas
cistites BGN ESBL + optamos
pelo Clavulin ou nitrofurantoína.
Nitrofurantoína 100mg VO 12/12 horas (cistite) Não atinge concentrações no
parênquima renal, não indicado
ITU alta
Fosfomicina 3.0 gramas (cistite) Indicado somente em pacientes
sem patologia obstrutiva ou
anormalidades das vias urinárias,
e somente nas infecções por
E.coli. Não indicado em
K.pneumoniae ou ITU alta.
Ceftazidima-avibactam#1 2.5 g IV 8-8 horas. Alternativa ao meropenem na É uma opção com eficácia clínica
pneumonia nosocomial grave com instabilidade nas infecções por BGN ESBL+,
Necessária autorização hemodinâmicas, infecções intra-abdominais, podemos restringir o uso de
pela CCIH e confirmação infecção urinária Enterobactérias ESBL + ou carbapenêmicos.
com cultura Enterobactérias resistente aos carbapenêmicos
não produtoras de meta-betalactamase.
Meropenem 1 grama IV 8-8 horas (cistite) Para os hospitais que não têm
Ceftazidima-avibactam
Outras infecções - infusão estendida em 3 padronizado na CCIH, o
horas, 2 gramas IV, 8-8 horas meropem é a opção mais viável
no momento anti Enterobactérias
ESBL+.
Ertapenem 1 grama IV 1 x dia, infusão em 30 minutos Ertapenem não tem atividade
contra Pseudomonas aeruginosa
ou Acinetobacter spp.
Tigeciclina 200 mg IV, primeira dose, 100 mg IV 12-12 horas Já observamos falhas
(infecção abdominal complicada) terapêuticas, pancreatite
medicamentosa, discrasias
100 mg IV, primeira dose, 50 mg IV 12-12 horas, sanguíneas nos pacientes com
infecção abdominal não complicada sepse.
Baixa concentração nas vias
urinárias.
Tabela 4. INFECÇÕES URINÁRIAS
Epidemiologia Primeira Escolha Segunda Escolha
1
Jovens ou sem Ceftriaxona
Comunitária comorbidades (No Hospital Casa atualmente a
(Trabalho da UERJ> 20 % das Gentamicina + Ampicilina cefuroxima é a nossa opção nos
enterobactérias no RJ são (jovens) pacientes sem comorbidades ou sem
resistentes às sulfas e uso prévio de antimicrobianos nos
fluoroquinolonas) ou últimos 6 meses).
Amoxicilina-Clavulanato
(Clavulin®)
ou Amoxicilina -Sulbactam (Hepatopatas)
+
Moxifloxacina Claritromicina
Terceira Escolha
Ceftriaxona*+Claritromicina
*a prescrição de Cefalosporinas de 3a
geração aumenta o risco de ESBL no setor
Comunitária Levofloxacina
Cefepime + Claritromicina
(DPOC e/ou bronquiectasias) (Levaquin®)
Tabela 6. INFECÇÃO PULMONAR COMUNITÁRIA
Uso prévio de antimicrobianos beta-lactâmicos
Epidemiologia
(uso prévio de penicilinas ou Primeira Escolha Segunda Escolha
cefalosporinas)
Cefepime
Comunitária (Maxcef ®)
Moxifloxacina
(sem bronquiectasias) +
Claritromicina
Cefepime
(Maxcef ®)
Comunitária +
(octogenários, pacientes com Claritromicina
Piperacilina-Tazobactam
doença estrutural pulmonar e/ou
(Tazocin ®)
comorbidades, como diabetes (são muito raras as infecções
+
mellitus, insuficiência renal aguda pulmonares por KPC ou
Claritromicina
ou crônica, hepatopatias, HIV e enterobactérias resistentes aos
transplantados) carbapenêmicos fora do
ambiente hospitalar ou de
homecare)
Tabela 7. INFECÇÃO PULMONAR COMUNITÁRIA
Uso prévio de fluoroquinolonas
Epidemiologia
Primeira Escolha Segunda Escolha
(uso prévio de fluoroquinolonas)
Cefepime Piperacilina-Tazobactam
(Maxcef ®) (Tazocin ®)
Comunitária
+ +
Claritromicina Claritromicina
Tabela 8. INFECÇÃO PULMONAR
Uso prévio de antimicrobianos de qualquer classe nos últimos 3 meses, internação hospitalar últimos
6 meses, em homecare ou asilo**
Epidemiologia Primeira Escolha Segunda Escolha
Infecções associadas à Opção após a identificação dos germes
assistência à saúde do Grupo ESKAPE*
Cefepime ou
*(risco da presença de germes do Piperacilina-Tazobactam ou Acinetobacter MDR = Polimixina B +
grupo ESKAPE)* Meropenem ou outro antimicrobiano sensível
Ertapenem
ceftazidina+ avibactam (Torgena) ou
ceftolozane-tazobactam (Zerbaxa)
Tabela 9. INFECÇÃO PULMONAR ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA - PAV
Epidemiologia Primeira Escolha Segunda Escolha
(PAV)
OU
OU
500–750 mg PO q12h
Colistina Consulte as diretrizes de consenso internacional Cistite por ERC, DTR-P.
sobre polimixinase aeruginosa e CRAB
Eravaciclina 1 mg/kg/dose IV q12h ERC, CRAB
Ertapenem 1 g IV a cada 24h, infundido em 30 min ESBL-E, AmpC-E
Fosfomicina Cistite: 3 g PO × 1 dose Cistite por E. coli
ESBL-E
Gentamicina Cistite: 5 mg/kg/dosed IV uma vez ESBL-E, AmpC-E, ERC,
DTR-P. aeruginosa
Todas as outras infecções: 7 mg/kg/dosed IV ×
1 dose, doses subsequentes e intervalo de
dosagem com base na avaliação
farmacocinética
Imipenem-cilastatina Cistite (infusão padrão): 500 mg IV a cada 6 ESBL-E, AmpC-E, ERC,
horas, infundido em 30 min CRAB
Fonte: TAMMA, Pranita D. et al. Infectious Diseases Society of America 2022 guidance on the
treatment of extended-spectrum β-lactamase producing Enterobacterales (ESBL-E),
carbapenem-resistant Enterobacterales (CRE), and Pseudomonas aeruginosa with difficult-to-treat
resistance (DTR-P. aeruginosa). Clinical Infectious Diseases, v. 75, n. 2, p. 187-212, 2022.
Explicações/Referências
aA dosagem sugerida para vários agentes na tabela difere da dosagem recomendada pela Food and
Drug Administration dos EUA.
b Organismos-alvo limitados aos seguintes organismos e geralmente somente após a suscetibilidade
ter sido demonstrada: ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa, CRAB e S. maltophilia.
c Para obter orientações adicionais sobre o tratamento de AmpC-E, CRAB e S. maltophilia, consulte:
https://www.idsociety.org/practice-guideline/amr-guidance-2.0/.
dUse peso corporal ajustado para pacientes 0,120% do peso corporal ideal para dosagem de
aminoglicosídeo.
e TsujiBT, Pogue JM, Zavascki AP, et al. Diretrizes de consenso internacional para o uso ideal das
polimixinas: endossado pelo American College of Clinical Pharmacy (ACCP), Sociedade Europeia de
Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ESCMID), Sociedade de Doenças Infecciosas da
América (IDSA), Sociedade Internacional de Farmacologia Anti-infecciosa (ISAP), Sociedade de
Medicina Intensiva (SCCM) e Farmacêuticos da Sociedade de Doenças Infecciosas (SIDP).
Farmacoterapia 2019; 39(1): 10–39.
OUTRAS INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS
Controle do foco primário – é fundamental para que as defesas do organismo e a
antibioticoterapia tenham sucesso na eliminação do agente infeccioso. Usualmente, essa
abordagem envolve alguma intervenção cirúrgica, como a drenagem de abscesso ou de
secreções contaminadas, desbridamento de tecidos desvitalizados e necrosados, retirada de
dispositivos infectados e remoção de tecidos ou órgãos comprometidos. Caso possível, a
realização da intervenção necessária para o controle da fonte de infecção deve ser procedida
em até 12 horas após o diagnóstico.