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HOSPITAL DE CLÍNICAS
1. OBJETIVO
O objetivo desse Procedimento Operacional Padrão (POP) é apresentar a
padronização das rotinas de trabalho no serviço de microbiologia da Unidade de Laboratório de
Análises Clínicas e Anatomia Patológica (ULACAP) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro (HC-UFTM).
2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO
Funcionários do setor de Microbiologia, da ULACAP do HC-UFTM.
pouco contribuirá para o diagnóstico de uma doença infecciosa se não houver qualidade durante
todo o processo de seleção, coleta e transporte do material biológico.
O impacto negativo de uma coleta inadequada quanto ao desperdício de recursos
utilizados e instituição de tratamentos inadequados não deve ser subestimado, além de
comprometer diretamente a qualidade dos resultados gerados pela Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH).
É de responsabilidade do laboratório a realização do manual de coleta e transporte
dos diferentes materiais biológicos, sendo que laboratório e CCIH são parceiros na divulgação e
supervisão destas recomendações junto ao corpo clínico.
A identificação a nível de gênero e espécie deve ser realizada em microrganismos
considerados verdadeiros patógenos. Informações como Klebsiella spp., tem pouco valor do
ponto de vista epidemiológico e podem obscurecer a detecção de um surto de determinada
espécie.
4.1.1 Urocultura
Homogeneizar bem a o frasco contendo a urina ainda bem fechado. Esterilizar uma
alça calibrada de 1 µL (0,001 mL), esperar esfriar, abrir a tampa e introduzi-la na amostra.
Semear de forma quantitativa (Figura 1) em ágar Cled a fim de obter colônias isoladas no final
da semeadura, possibilitando a sua contagem.
Após 24 horas de incubação em estufa a 35°C analisar o tipo morfológico das colônias
e o número de UFC (Unidade Formadora de Colônias). Geralmente as infecções do trato
urinário contém um tipo morfológico apresentando contagem superior a 1000 UFC, o que
corresponde a mais de 100.000UFC/mL de urina. Se houver mais de um tipo morfológico com
contagem superior a 100 UFC descartar a placa e solicitar nova coleta de amostra. Se a
contagem for menor que 100 UFC ou não houver crescimento algum, o resultado será
negativo.
Diante de uma cultura positiva (> 100.000 UFC/mL analisar o aspecto da colônia
presumindo a sua identificação. Colônias maiores geralmente são bacilos Gram negativos da
família Enterobacteriaceae e devem ser identificadas utilizando uma bateria de 10 provas
bioquímicas (TSI, Fenilalanina, Citrato, SIM, Uréia, VM, VP, Lisina, Arginina e Ornitina)
interpretando de acordo com a tabela de identificação. Realizar antibiograma utilizando os
discos padronizados aplicando os critérios de interpretação dos pontos de cortes do BrCAST.
Outro bacilo Gram negativo frequentemente encontrado em uroculturas de paciente
internado é a Pseudomonas aeruginosa. Colônias suspeitas tem um odor característico de
“uva” e produzem reação de citocromo oxidase positiva. Para complementar a identificação
pode-se fazer as provas de OF (oxidação-fermentação), Lisina, Arginina, controle de
aminoácidos e crescimento a 44°C. A P. aeruginosa tem metabolismo Oxidativo, é lisina
negativo, arginina positivo e crescimento a 44°C positivo. O Acinetobacter baumannii é outro
patógeno comumente encontrado no HC-UFTM, sendo isolado também de amostras do trato
urinário. Apresenta colônias mucoides, brilhantes, esbranquiçadas. Em ágar MacConkey
apresenta coloração salmão e deve ser identificada realizando as provas de citocromo
oxidase, OF, Citrato e crescimento a 44°C. Fenotipicamente apresentam metabolismo
Oxidativo, são oxidase negativo, citrato positivo e só o A. baumannii cresce a 44°C.
Colônias médias sugerem estafilococos, sendo os de interesse clínico, neste material,
o S. aureus e o S. saprophyticus (este em mulheres em idade fértil). Realizar uma coloração de
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Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins lucrativos.
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Gram para confirmação da presença de cocos Gram positivos, fazer a prova da catalase
(positiva para estafilococos) e coagulase (positiva para S. aureus). Para identificação do S.
saprophyticus testar o disco de novobiocina de 5µg (resistente).
Colônias pequenas com aspecto puntiforme sugerem estreptococos, dos quais os
mais importantes são: Streptococcus agalactiae e, também, os enterococos. Realizar uma
coloração de Gram para confirmação de cocos Gram positivos em cadeias curtas e catalase
negativo. Fazer o teste PYR que irá determinar o próximo passo da identificação: Se positivo,
fazer as provas para enterococos (bile esculina, NaCl 6,5%, Manitol, Arabinose e Xilose) e
realizar antibiograma utilizando os discos padronizados para enterococos. Se PYR negativo,
repicar em ágar sangue de carneiro 5% para posterior evidenciamento de beta hemólise,
realizar o teste de CAMP e fazer o antibiograma em ágar Müeller Hinton acrescido de 5% de
sangue de carneiro. Confirmará a espécie se as colônias apresentarem beta hemólise e teste
CAMP positivo (figura 2).
As leveduras também podem ser isoladas em ágar Cled, devendo para isso serem
confirmadas pela coloração de Gram e enviadas ao setor de micologia para identificação.
4.1.2 Coprocultura
A realização de exame microbiológico das fezes tem o objetivo de isolar e identificar
bactérias potencialmente capazes de causar síndromes diarreicas, infecção gastrointestinais,
etc. As principais espécies são Salmonella spp. Shigella spp., e Escherichia coli
enteropatogênica.
Semear a amostra por esgotamento (figura 3) em ágar MacConkey e ágar SS (ágar
Salmonella Shigella). Escolher as partes que contém muco e/ou sangue. Incubar em estufa a
35°C por 24 horas. Geralmente as fezes contém uma microbiota abundante que crescem junto
com as bactérias patogênicas. Observando a placa de ágar MacConkey devemos estar atentos
às colônias lactose negativas, pequenas e translúcidas (sugestivo de Shigella e Salmonella).
Escherichia coli apresentam colônias lactose positivas, secas e bordas irregulares. No ágar SS
colônias apresentando o centro enegrecido são suspeitas de Salmonella.
Todas as colônias suspeitas devem ser repicadas para outro ágar MacConkey e
incubadas por 24h a 35°C. A identificação deve ser realizada utilizando uma bateria de 10
provas bioquímicas para Enterobactérias como descrito em uroculturas.
A bactéria identificada deve ser confirmada como patogênica por sorotipagem,
utilizando os anti-soros disponíveis no laboratório: Escherichia coli invasora A e B; E. coli
clássica A e B; E. coli O:157; Salmonella spp. polivalente; Shigella boydii; S. sonney; S.
dysenterie e S. flexneri.
Realizar o antibiograma para qualquer desses isolados.
4.1.3.1. Enterobactérias
As bactérias da família Enterobacteriaceae crescem bem em ágar MacConkey, que é
um meio seletivo para bactérias Gram negativas. Apresentam colônias médias, mucoides,
lisas e com bordas bem definidas. São citocromo-oxidase negativas, com exceção do
gênero Plesiomonas e Aeromonas.
Figura 4: Ágar MacConkey mostrando de um lado colônias Lactose positiva e Lactose negativa.
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Após a inoculação das provas bioquímicas e incubação por 24 horas em estufa a 35°C,
devemos revelar quatro das dez provas: fenilalanina, motil, VP e VM.
Fenilalanina – colocar 2 gotas de cloreto férrico e agitar. Se o meio ficar verde escuro
a prova é positiva. O grupo Proteus, Providencia e Morganella são Fenilalanina positivos.
Motil – Colocar 5 gotas de Reativo de Kovacs e homogeneizar. Se aparecer uma
coloração rósea a prova é positiva.
VP – Colocar 600 µL de reagente A, homogeneizar bem. Adicionar 200 µL do reagente
B e homogeneizar bem. Esperar 5 minutos, se aparecer um anel de coloração rósea a prova
é positiva.
VM – Colocar 5 gotas de reagente VM, homogeneizar bem e se a solução ficar
vermelha a prova é positiva.
Figura 5: Meio de TSI mostrando os vários perfis de reação. Tubo 1: uma bactéria fermentadora com produção
de gás; tubo 2, uma bactéria fermentadora lactose negativo. No tubo 3: uma bactéria fermentadora com
produção de gás sulfídrico (H2S). O tubo 4 representa uma bactéria não fermentadora.
Figura 6: Prova bioquímica da Fenilalanina mostrando um teste positivo à esquerda e negativo à direita.
Figura 7:Prova do Citrato mostrando um teste positivo à esquerda e negativo à direita. Notar que o tubo
positivo mostra também o crescimento bacteriano.
Na sequência de identificação:
H2S (+) Preto
(+) Salmonella – Edwardsiella
Motilidade e Indol: Revelar com Reativo de Kovacs
(+): Rosa
(-): Incolor
(+) Enterobacter
(-) Klebsiella
Ureia
(+): Rosa
(-): Amarelado
(+) Klebsiella
(-) Enterobacter
VP (+) Halo Rosa - Reagente A (500uL) e B (200uL)
VM (+) 5 gotas de Vermelho de Metila
Aminoácidos (AA) Ornitina, Arginina e Lisina – Colocar óleo antes de incubar
(+) lilás
(-) amarelo
Lembrando:
Escherichia coli: Fenil (Neg) - Citrato (Neg) - Indol (+) – Motil (+) – Lisina e Ornitina (+)
Enterobacter spp.: Fenil (Neg) – Citrato (+) – Motil (+) – Uréia (Neg) –
Se apenas Lisina Negativo: Enterobacter cloacae
Se apenas Arginina Negativo: Enterobacter aerogenes = Serratia
*Observação (OBS): necessário fazer Dnase para diferenciar
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E. Coli - - + + - + - +
Enterobacter - + - + - - - +
spp. cloacae aerogenes
*OBS
Klebsiella - + - - + + - -
Pneumoniae
Acinetobacter baumannii:
Citrato (+)
2 OF: 1 com óleo - Oxidativo (Amarelado nas extremidades)
Oxidase em tira (Neg)
Caldo BHI a 44º: crescimento (+)
Pseudomonas aeruginosa:
2 OF: 1 com óleo – Negativo em ambos (Verde)
Oxidase em tira: (+)
Caldo BHI a 44º: crescimento (+)
(AA): Lisina, Arginina e Controle (Com óleo): Apenas Arginina (+)
ESBL
Para ATB de Gram Negativos sempre dispor na seguinte sequência:
Acrescentar o disco de CFO (Cefoxitina) (não liberar no laudo) próximo ao CAZ
(ceftazidima).
Figura 9: Teste de aproximação em discos de uma amostra de K. pneumoniae para confirmação do fenótipo de
ESBL. O aumento do diâmetro do halo de inibição ou o aparecimento da zona fantasma, distorção do halo ao
redor do disco β-lactâmico, indica a presença de uma amostra produtora de ESBL.
Figura 10: Detecção fenotípica de uma amostra de K. pneumoniae produtora de ESBL pelo método de disco
combinado, utilizando disco de ceftazidima (CAZ) e cefotaxima (CTX) associado ou não ao ácido clavulânico.
Observar um aumento maior que 5 mm entre os dois discos de ceftazidima e cefotaxima com àqueles
associados ao ácido clavulânico.
Figura 11: Notar a distorção do halo de inibição, que é indicativa da produção de carbapenemase pela amostra de K.
pneumoniae testada, pelo método de disco-difusão.
Teste do KOH 1%: O teste do KOH baseia-se na resistência diferencial de hidróxido de potássio
1% entre as células positivas e Gram negativas em que uma parte de uma colônia é misturado
com um pequeno volume de KOH a 1% em uma lâmina de vidro por cerca de 60 segundos. Se
a células sofrerem lise o DNA celular será liberado e ocorrerá a formação de uma mistura
viscosa ou “fibrosa”. Caso ocorra a formação de um fio viscoso a bactéria é Gram negativa e
caso contrário a bactéria será Gram positiva.
Coagulase
(+) Staphylococcus aureus
(Neg) Staphylococcus spp. em Sangue
(Neg) Staphylococcus saprophyticcus (Importância clínica apenas em urina de mulheres com
idade fértil), sendo:
Cocos Gram Positivos
Catalase (+)
Coagulase (Neg)
Lactose: sempre negativa
No ATB: Disco de Novobiocina Sensível
Se Resistente contaminante: Liberar no laudo resultado negativo.
Antibiograma
Discos testados, mas não liberados no laudo:
Furozolidona (FRZ): Sensível sempre (Comprova se é Staphylococcus):
Novobiocina (NOV): Resistente sempre quando S. saprophyticcus
Cefoxitina (CFO): Apenas para medir o halo, e liberar sensível ou resistente para Oxacilina
(OXA)
Discos testados:
Clindamicina, Cloranfenicol, Ciprofloxacina, Cefoxitina, Gentamicina, Levofloxacina,
Sulfametoxazol/trimetoprim, Teicoplanina, Amicacina, Vancomicina (Utilizar MIC), Penicilina
(para liberar Vancomicina), Amicacina. Urina: Nitrofurantoína, Norfloxacino.
5. REFERÊNCIAS
1. Henry J.B., Diagnósticos Clínicos Tratamento por Métodos Laboratoriais, 20ª ed., 1680 p., 2008.
2. Koneman, E.W. et al. Diagnostic microbiology. 5th. Ed. Philadelphia, Hippincott. 1991.
3. Moura R. A., Técnicas de laboratório. 3ª ed., Rio de Janeiro, Atheneu, 511 p., 1987.
4. Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica. Carmen Paz Oplustil, Cássia Maria Zoccoli.
Editora Savier, 2004.
5. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML):
boas práticas em microbiologia clínica. -- Barueri, SP: Manole: Minha Editora, 2015.
6. HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO/REVISÃO
VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA AÇÃO/ALTERAÇÃO
1 02/07/2021 Atualização do documento