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Departamento de Ciências e Tecnologias da Saúde

Curso de Licenciatura em ANÁLISES CLÍNICAS

Unidade Curricular de Microbiologia


2º ANO - 2018
TEXTO DE APOIO

Nataniel Chinjengue, Msc


nataniel.chinjengue@gmail.com
Designação da Unidade MICROBIOLOGIA
Curricular:

Regime Semestral

Posição no Curso: 2º ano

Tempos Lectivos 2 teóricos, 2 práticos


Semanais:

Precedência Não tem


Obrigatória:

OBJECTIVOS
 Apresentar os princípios básicos da Microbiologia na perspectiva da relação entre
os principais grupos de microrganismos - Bactérias, Fungos, Parasitas e Vírus - e
o Homem, como agentes etiológicos de doença.
 Dar a conhecer aos alunos as metodologias básicas do estudo da microbiologia e
apoiar do ponto de vista experimental os conceitos abordados nas aulas teóricas.

PROGRAMA

1. Microbiologia – perspectiva histórica


2. Microorganismos e sua posição taxonómica
3. Características morfológicas e ultra-estrutura dos microorganismos procariotas:
 Parede celular – propriedades e composição química da parede celular
bacteriana; peptidoglicano
 Parede celular das bactérias Gram positivas: constituição química (ácidos
teicóicos, ácidos teicurónicos, lipídeos, autolisinas)
 Parede celular das bactérias Gram negativas: constituição química (LPS,
fosfolípidos, proteínas – lipoproteínas, porinas, proteínas OmpA, proteínas que
participam na difusão específica de compostos)
 Membrana citoplasmática: composição química, zonas de adesão, mesossomas
 Cápsula e estruturas análogas
 Apêndices de superfície: flagelosEstruturas intracitoplasmáticas: granulações de
glicogénio, granulações lipídicas, vacúolos de gás, ribossomas, esporos
4. Metabolismo bacteriano:

 Mecanismos de obtenção de ATP: fosforilação ao nível do substrato, fosforilação


oxidativa, fotofosforilação
 Processos de obtenção de energia
 Obtenção de energia nos quimioheterotróficos: glicólise, regeneração de NAD,
fermentação, respiração
 Utilização do CO2 como fonte de carbono pelos microorganismos autotróficos
(quimio e foto autotróficos)
4. Ácidos nucleícos da célula bacteriana: genoma bacteriano, estrutura do gene,
regulação da expressão genética, efeitos do produto final no controlo da sua síntese,
controlo negativo e controlo positivo.

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5. Mecanismos de variabilidade genética: mutações, rearranjos de DNA,
recombinação entre DNAs, aquisição de novos genes veiculados por plasmídeos, e
transposição
6. Relações parasita-hospedeiro: características e localização da flora normal – pele,
tracto respiratório, cavidade oral, tracto gastrointestinal, tracto genito-urinário
7. Mecanismos de defesa do hospedeiro:
 Defesas superficiais – barreiras mucocutâneas
 Defesas internas: componentes humorais (sistema do complemento, anticorpos,
interferões, moléculas de resposta de fase aguda) e componentes celulares
(linfócitos e fagócitos)
8. Resposta inflamatória e fagocitose – interacção dos sistemas humorais e celulares
na defesa contra a infecção
9. Resposta imunológica
10. Factores de virulência microbianos e estratégias de escape aos mecanismos de
defesa do hospedeiro (adesinas, toxinas, enzimas, resistência ao complemento, escape à
fagocitose, parasitismo intracelular, escape ao sistema imunológico)
11. Causas e consequências da infecção: factores genéticos que determinam a
susceptibilidade à infecção, factores ambientais que afectam a resistência à infecção,
vacinação, patologia infecciosa e imunopatologia)
12. Fungos – definição, divisão e classificação. Fungos terrestres – Filo Zigomicota,
Ascomicota, Basidiomicota, e Deuteromicota. Micoses superficiais ou cutâneas –
dermatomicoses (biologia, transmissão, patogenicidade, diagnóstico laboratorial,
prevenção e tratamento), micoses subcutâneas, micoses sistémicas, micoses
oportunistas.
13. Vírus – considerações gerais, estrutura geral, classificação. Consequências
possíveis de infecções em células animais. Bacteriófagos. Replicação em células
animais, plantas e bactérias – ciclo lítico e ciclo lisogénico.
14. Parasitas – definição, divisão e classificação.
15. Infecções nosocomiais: epidemiologia (fontes de microorganismos, transmissão
de microorganismos infecciosos, susceptibilidade dos pacientes a infecções),
consequências, educação e programas de controlo

PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR

A avaliação de conhecimentos será feita através de 2 avaliações contínuas onde serão


atribuídas aos alunos classificações na escala de 0 – 20 valores.

A avaliação contínua será realizada através de: Testes, Trabalhos.

Os resultados da avaliação contínua são publicados antes da realização do exame Final.


O acesso ou dispensa do exame final está estabelecido no Regimento Geral do ISPB.

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ÍNDICE
OBJECTIVOS .................................................................................................................................. 1
Microbiologia: Conceito – Perspectiva histórica – Importância ........................................................ 4
Microrganismos e sua posição taxonómica ....................................................................................... 6
Características morfológicas dos microorganismos procariotas (bactérias) ................................... 10
PAREDE CELULAR ............................................................................................................................. 18
MECANISMO DE ACÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS ................................................................................... 21
FUNCIONALIDADES DE LABORATÓRIOS DE ANÁLISE CLÍNICAS ....................................................... 23
COLORAÇÃO DE GRAM ........................................................................................................................... 28
Parede celular das bactérias Álcool-Ácido-Resistentes (B.A.A.R) .................................................... 30
MEMBRANA CITOPLASMÁTICA ................................................................................................................ 31
CÁPSULA ............................................................................................................................................. 33
APÊNDICES DE SUPERFÍCIE ...................................................................................................................... 34
GENÉTICA BACTERIANA .................................................................................................................... 35
MECANISMOS DE RECOMBINAÇÃO GENÉTICA BACTERIANA .......................................................... 46
REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GENÉTICA, EFEITOS DO PRODUTO FINAL NO CONTROLO DA SUA
SÍNTESE, CONTROLO NEGATIVO E CONTROLO POSITIVO. ............................................................... 48
METABOLISMO ................................................................................................................................. 49
NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO DE MICROORGANISMOS ..................................................................... 53
CULTURA E ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS ........................................................................... 55
MORFOLOGIA DE COLÓNIAS DE BACTÉRIAS , DE FUNGOS E DE LEVEDURAS ........................... 56
RELAÇÕES PARASITA-HOSPEDEIRO .................................................................................................. 59
FLORA NORMAL OU MICROBIOTA.................................................................................................... 62
MECANISMOS DE DEFESA CONTRA A INFECÇÃO.............................................................................. 67
MECANISMOS EFECTORES: FAGOCITOSE E INFLAMAÇÃO .............................................................................. 72
FACTORES DE VIRULÊNCIA MICROBIANOS E ESTRATÉGIAS DE ESCAPE AOS MECANISMOS DE
DEFESA DO HOSPEDEIRO ................................................................................................................. 80
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA INFECÇÃO ...................................................................................... 81
FUNGOS ............................................................................................................................................ 84
VÍRUS ................................................................................................................................................ 87
PARASITAS ........................................................................................................................................ 89
HELMINTAS....................................................................................................................................... 92
PROTOZOÁRIOS ................................................................................................................................ 98
INFECÇÕES NOSOCOMIAIS ............................................................................................................... 99
ARTROPOLOGIA.............................................................................................................................. 102
Referências bibliográficas .............................................................................................................. 104

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Microbiologia: Conceito – Perspectiva histórica –
Importância

Microbiologia – o seu nome deriva de três vocábulos gregos: mikrós (pequeno),


bios (vida) e logos (ciência). Esta simples definição não é contudo completamente
abrangente, pois que a virologia, considerada hoje uma área extremamente
importante da Microbiologia, estuda entidades biológicas – os vírus – que não são
todavia definidos como seres vivos.

A vastidão do mundo microbiano inclui bactérias, microalgas, fungos e parasitas,


mas também vírus, se bem que estes, por não possuírem células, constituem um
grupo à parte dos seres vivos. Embora certos parasitas, como os helmintas,
possam apresentar formas visíveis sem auxílio de microscópio, o que poderá
causar estranheza por os mesmos, muitas vezes, se encontrarem abrangidos por
esta disciplina ou área do saber, isso deve-se particularmente ao facto de
passarem, em determinadas fases do seu ciclo evolutivo, por formas não
visualizáveis a olho nu, como acontece com a maioria dos seus ovos ou das suas
formas larvares.

Sendo a microbiologia uma ciência relativamente recente, dado que apenas foi
reconhecida como tal em meados do século XIX com as importantes descobertas
de Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910), ela é hoje, no entanto,
uma vasta área do saber que regista na sua historia um conjunto tão grande e de
tal maneira extraordinário de descobertas e de prodigiosos avanços que forçoso
se tornou subdividi-la em diversos ramos científicos, os quais, globalmente,
vieram, sem dúvida, revolucionar toda a vida do homem sobre a Terra.

O seu estudo abrange diversos campos do saber, tais como a Bacteriologia,


Virologia, Protozoologia, Ficologia, Micologia, Parasitologia além de outros. São
referidas também novas áreas que dela emergiram, como a Genética e a Biologia
Molecular, que basearam alguns dos seus métodos de trabalho no estudo dos
micróbios, dadas as suas características especiais, de multiplicação e de
metabolismo, destes seres vivos.

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Embora os micróbios – seres invisíveis a olho nu que constituem o objecto do seu
estudo – tenham sido visualizados e pela primeira vez descritos cerca de 200
anos antes das descobertas de Louis Pasteur e Robert Koch, o interesse que
nessa altura despertaram foi reduzido e inconsequente.

A observação dos microrganismos (ou micróbios) só se tornou possível após a


utilização dos primeiros microscópios. Anton van Leeuwenhoek e Robert Hooke
foram pioneiros na construção de microscópios e na visualização,
respectivamente, de microrganismos e de células vegetais. Depois destes, muitos
cientistas ao longo dos séculos têm vindo a contribuir, com as suas descobertas,
para o desenvolvimento da Microbiologia, estudando todos os aspectos em que
os micróbios se relacionam com a vida dos outros seres vivos.

Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), um holandês mercador de tecidos, as


primeiras observações feitas em diversos líquidos e produtos biológicos que
continham seres minúsculos a que chamou de animalcules, e cuja a visualização
conseguiu com os seus microscópios rudimentares, de finas lentes sobrepostas,
mas que, não obstante, davam ampliações de cerca de 300 vezes, isentas de
distorções. Quer durante a sua vida, quer após a sua morte, a dificuldades que
outros tiveram em reproduzir as suas observações, por desconhecimento do
modo como fabricar lentes, mas sobretudo de como as polir – segredo que
Leeuwenhoek nunca revelou -, aliada à pouca importância que, na época, tais
descobertas pareciam significar para a ciência (pois que os seres microscópicos
visualizados por Leeuwenhoek não pareciam ser capazes de provocar danos no
ser humano, por serem considerados demasiados insignificantes), contribuiu para
retardar o “arranque” da Microbiologia como importante área do saber humano.

Robert Hooke (1635-1703) visualizou tecidos vegetais, como fragmentos de


cortiça, referindo, em 1665, que aquela matéria orgânica era constituída por
minúsculos compartimentos ocos semelhantes a favos de abelhas.

O estudo da Microbiologia é de extrema importância, como uma vasta área da


ciência que registou no último século progressos tão fantásticos que
revolucionaram toda a vida do homem sobre o planeta. Entre outros, são de
assinalar o controlo das mortíferas epidemias, o uso de vacinas e a descoberta e
utilização dos antibióticos.

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Microrganismos e sua posição taxonómica

A distribuição microrganismos no nosso planeta é universal. Encontra-se nos


solos, nas águas superficiais e profundas na atmosfera e habitam as camadas
superficiais e mucosas interiores de todos os seres vivos, incluindo o homem.
Fazem parte da chamada flora normal dos seres vivos. A maioria é comensal e
alguns são patogénicos, pois causam doenças de diversa gravidade nos
organismos que infectam. A microbiota normal ou flora não nos faz nenhum mal,
podendo ser em alguns casos ser benéfica. O desequilíbrio da flora bacteriana
comensal, motivada por causas várias, pode ter graves consequências ao nível
da saúde de todos os seres vivos superiores.

Na natureza, os microrganismos podem existir como células separadas que


flutuam ou nadam independentemente em um líquido, ou estar atados uns aos
outros e/ ou a uma superfície em geral solida. Esse último comportamento é
chamado de biofilme, uma agregação complexa de microrganismos.

Chatton, em 1937, dividiu os seres vivos em dois grandes grupos: os procariotas


e os eucariotas, consoante o tipo de células que os constituem.

A maioria dos microrganismos é unicelular; outros, porém, são multicelulares.


Eles distribuem-se por diversos grupos, conhecidos como bactérias, algas,
fungos, parasitas. Vírus, viróides, priões, satélites, etc., embora possuidores de
capacidade patogénica para os seres vivos, não são considerados
microrganismos no sentido estrito do termo. Porém, o seu estudo é feito na
Microbiologia.

A Taxonomia, geralmente considerada como sinónimo de sistemática, é a ciência


da classificação, nomenclatura e identificação, incluindo os seus princípios,
procedimentos e objectivos.

Vários níveis são usados na classificação: domínio, filo, classe, ordem, família,
género e espécie.

De acordo com a definição tradicional da microbiologia, esta é uma ciência


que até recentemente, era responsável pelo estudo de organismos

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classificados em três reinos distintos: Monera, Protista e Fungi. No entanto, a
partir dos estudos de Carl Woese, a microbiologia passou a estar relacionada a
três domínios de seres vivos.

Sistemas de classificação dos seres vivos:

Linnaeus (séc. XVIII): reinos Animal e Vegetal

Haeckel (1866): introdução do reino Protista

Whittaker (1969): 5 reinos, divididos principalmente pelas características


morfológicas e fisiológicas:

Monera: Procariotas
Protista: Eucariotas unicelulares - Protozoários (sem
parede celular) e Algas (com parede celular)
Fungi: Eucariotas aclorofilados
Plantae: Vegetais
Animalia: Animais

No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a dispor de um


sistema de classificação baseado principalmente em aspectos evolutivos
(filogenética), a partir da comparação das sequências de rRNA de diferentes
organismos. Com esta nova proposta de classificação, os organismos são agora
subdividos em 3 domínios (contendo os 5 reinos), empregando-se dados
associados ao carácter evolutivo.
Domínios:
Archaea: Procariotas (as paredes celulares, se
presentes, não possuem peptideoglicano)
Bacteria: Procariotas (as paredes celulares contêm
peptideoglicano)
Eukarya: Eucariotas, que inclui os seguintes reinos:
 Protistas
 Fungi
 Plantae
 Animalia

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Classificação dos seres vivos, de acordo com Woese (1977)

Categorias taxonômicas (por exemplo) nas quais o Staphylococcus aureus


se encontra:
Reino: Bacteria

Filo: Firmicutes

Classe: Bacilli

Ordem: Bacillales

Família: Staphylococcaceae

Género: Staphylococcus

Espécie: S. aureus

Além destas categorias taxonomicamente hierárquicas e formais, grupos


informais, que são definidos por nomes descritivos comuns, são também
geralmente usados, ainda que os nomes de tais grupos não tenham valor oficial
na nomenclatura.

Uma espécie pode ser dividida em duas ou mais subespécies com base em
pequenas, mas consistentes, variações fenotípicas dentro da espécie ou grupo de
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estirpes geneticamente determinados dentro da espécie. A subespécie é o menor
grupo taxonómico que tem validade oficial no sistema de nomenclatura.

Uma espécie bacteriana pode ser considera como uma colecção de estirpes que
partilham muitas características em comum e diferem consideravelmente de
outros grupos de estirpes. Uma estirpe é constituída pelos descendentes de um
só isolado em cultura pura e normalmente por uma sucessão de culturas
derivadas a partir de uma colónia.

Segue-se o sistema binominal de nomenclatura de Linnaeus em que o organismo


é designado pela combinação do nome do género e da espécie.

Regras de nomenclatura

 Todos os nomes científicos devem ser escritos em latim ou latinizados;


 Todo nome científico de espécie é composto por dois nomes. O primeiro
nome deve ter sua inicial maiúscula e diz respeito ao gênero. O segundo
nome é o epíteto específico e deve ser escrito com inicial minúscula. Ex.:
Treponema pallidum;
 Os nomes das espécies devem vir destacados no texto, preferencialmente
em itálico. Em casos em que não é possível utilizar o itálico, os nomes
podem aparecer sublinhados. O importante é destacá-lo do restante do
texto. Exemplo: Staphylococcus aureus ou Staphylococcus aureus

Actualmente são várias as técnicas utilizadas para estudar o fenótipo e o genótipo


dos microrganismos. A maioria baseia-se na análise de culturas puras, mas o
estudo da diversidade de comunidades microbianas pode ser igualmente
realizado com base na abordagem directa, tendo vindo a assistir-se a um
crescente desenvolvimento de técnicas específicas para o estudo dessas
comunidades.

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Características morfológicas dos microorganismos
procariotas (bactérias)

A microscopia electrónica revelou nos seres vivos dois tipos de organização


celular:

Sem membrana nuclear e designada por procariota (do grego pró – primitivo,
káryon - núcleo);

Com membrana nuclear e designada por eucariota (do grego eu – verdadeiro,


káryon - núcleo).

Todas as células compartilham dois aspectos essenciais. O primeiro é uma


membrana externa, a membrana plasmática. O outro é o material genético
(informação hereditária) que regula a atividade da célula, possibilitando a sua
reprodução e a passagem das suas características para a sua descendência.
Constituintes básicos de todas as células:
 membrana plasmática,
 citoplasma e
 material genético.

Célula bacteriana

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As células do homem, fungos, algas e protozoários, com estrutura celular Célula animal
eucariótica, distinguem-se Bacterias e Archaea, que têm uma organização celular
procariótica.

As células procarióticas caracterizam-se pela probreza de membranas, que nelas


quase se reduzem à membrana plasmática.

Os eucariotas têm uma organização celular muito complexa. O núcleo nos


eucariotas está contido num compartimento delimitado pela dupla membrana
nuclear.

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Comparação entre Organismos Procariotas e Eucariotas

Procariotas Eucariotas

Ribossomas:
70S: presente ausente
80S: ausente presente

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Bactérias: São organismos unicelulares. Podem ser encontrados de forma
isolada ou em colônias; são constituídos por uma célula (unicelulares), não
possuem núcleo celular definido (procariotas) e não possuem organelos
membranosos.
As milhares de espécies de bactérias são diferenciadas por muitos factores,
incluindo morfologia (forma), composição química (frequentemente detectada por
reacções de coloração), necessidades nutricionais, actividades bioquímicas e
fontes de energia (luz solar ou química). É estimado que 99% das bactérias na
natureza existam na forma de biofilmes.
Existem muitos tamanhos e formas de bactérias. A maioria das bactérias varia de
0,2 a 2,0 µm de diâmetro e de 2 a 8 µm de comprimento. Elas possuem algumas
formas básicas: cocos esféricos (que significa frutificação), bacilos em forma de
bastão (que significa bastonete) e espiral.

De maneira geral, as bactérias podem ser agrupadas em três tipos morfológicos


gerais: cocos, bacilos e espiralados.

Os cocos correspondem a células arredondadas; assim temos os cocos


isolados, diplococos, tetracocos, sarcinas (cubos contendo 8 células),
estreptococos (cocos em cadeia) e estafilococos (cocos formando massas
irregulares).

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Ex. de diferentes arranjos de bactérias esféricas (cocos):
Coco: Methanococcus sp;

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Diplococo: Neisseria sp (gonococo);
Tétrade: Deinococcus sp;
Sarcina: Methanosarcina sp;
Estreptococo: Streptococcus sp
Estáfilococo: Staphylococcus sp

Forma de bastonete – são células cilíndricas em forma de bastonete;


apresentam grande variação na forma e no tamanho entre gêneros e espécies.

Exemplos de bastonetes: (a) Halobacterium e (b) Salmonella, causadora


de aguda infecção intestinal em humanos

Formas espiraladas – caracterizadas por células em espiral; dividem-se em:


 Espirilos – possuem corpo rígido e movem-se à custa de flagelos externos.
Ex.: Gênero Aquaspirillium.

 Espiroquetas – são flexíveis e locomovem-se geralmente por contrações


do citoplasma, podendo dar várias voltas completas em torno do próprio
eixo.
 Ex.: Gênero Treponema

 Vibrião: formas espiraladas muito curtas, assumindo a forma de vírgula.

Ex. Vibrio Cholerae

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Exemplos de bactérias com formas espiraladas: (a) espirilo e (b) espiroqueta
Leptospira interrogans, causadora da leptospirose

Exemplos de vibriões (a) Vibrio cholerae, causador da cólera em humanos e


(b) Vibrio vulnificus, agressiva bactéria carnívora

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Exemplo de algumas bactérias e doenças que provocam

Dentre os causadores de infecções intestinais bacterianas mais comuns


estão:

 Salmonella (salmonelose)
 Shigella (shingelose)
 Helicobacter pylori (associação com úlcera gástrica)
 Campylobacter jejuni (campilobacteriose)
 Vibrio cholerae ( agente da cólera)
 Enterite por E. coli
 Yersinia enterocolitica (yersinose)
 Staphylococcus aureus (enterite estafilocócica)
 Clostridium perfringens (enterite necrotizante)
 Enterite por Bacillus cereus
 Enterite por Vibrio parahemolyticus

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Dentre os causadores de infecções bacterianas mais comuns do trato
urinário (ITU):
 Escherichia coli
 Proteus mirabilis
 Enterobacter
 Klebsiella
 Citrobacter
 Enterococcus faecalis
 Staphylococcus
 Pseudomonas

PAREDE CELULAR

As bactérias com excepção micoplasmas e halófilos, exibem parede celular. Esta


permite diferenciar as bactérias em relação à coloração de Gram, sendo divididas
em positivas e negativas ao Gram.
A Parede celular de uma célula bacteriana é uma estrutura complexa, semirrígida,
responsável pela forma da célula. A Parede celular circunda a frágil membrana
plasmática, protegendo-a e ao interior da célula das alterações adversas no
ambiente externo.
A principal função da parede celular é prevenir a ruptura das células bacterianas
quando a pressão da água dentro da célula é maior que fora dela. Ela também
ajuda a manter a forma de uma bactéria e serve como ponto de ancoragem para
os flagelos.
Clinicamente, a parede celular é importante, pois contribui para a capacidade de
algumas espécies causarem doenças e também por ser o local de acção de
alguns antibióticos. Além disso, a composição química da parede celular é usada
para diferenciar os principais tipos de bactérias.

A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromolecular


denominada mucopéptido ou peptideoglicana, que está presente isoladamente
ou em combinação com outras substâncias. A peptideoglicana consiste em um
dissacarídeo repetitivo ligado por polipeptídeos para formar uma rede que
circunda e protege toda a célula. A porção dissacarídica é composta de
monossacarídeos denominados N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N-
acetilmuramico (NAM), que estão relacionados a glicose.

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Parede celular de gram-positivas
Na maioria das bactérias gram-positivas, a parede celular consiste em muitas
camadas de peptideoglicano, formando uma estrutura espessa e rígida. Em
contraste, as paredes celulares de gram-negativas contem somente uma camada
fina de peptideoglicano.
Além disso, as paredes celulares das bactérias gram-positivas contém ácidos
teicoico, que consistem principalmente de um álcool e fosfato.

Parede celular de bactéria Gram-positiva

Parede celular de gram-negativas


As paredes celulares das bactérias gram-negativas consistem em uma ou poucas
camadas de peptideoglicano e uma membrana externa. As paredes celulares
das bactérias gram-negaitivas não contêm ácidos teicóicos. Como as paredes
celulares das bactérias gram-negaitivas contêm somente uma pequena
quantidade de peptideoglicana, são mais susceptíveis ao rompimento mecânico.
A membrana externa da célula gram-negativa consiste em lipopolissacáridos
(LPS), lipoproteínas e fosfolipídeos. A membrana externa tem varias funções
especializadas. Sua forte carga negativa é factor importante na evasão da

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fagocitose e nas acções do complemento. A membrana externa também fornece
uma barreira para certos antibióticos (p.ex., penicilina), enzimas digestivas como
a lisozima, detergentes, metais pesados, sais biliares e certos corantes.
Entretanto, a membrana externa não fornece uma barreira para todas as
substâncias no ambiente, pois os nutrientes devem atravessá-la para garantir o
metabolismo celular.

Parede celular de bactéria Gram-negativa


DIFERENÇAS QUÍMICAS ENTRE BACTÉRIAS GRAM-POSITIVO E GRAM-NEGATIVO

COMPOSIÇÃO GRAM-POSITIVO GRAM-NEGATIVO


Mucopéptido ou peptideoglicano++++ +
Ácidos teicóicos +++ ─
Ácido lipoteicóicos + ─
Lípidos:
- Fosfolípidos ─ +
- Lipopolissacáridos (LPS) ─ +
- Lipoproteínas ─ +
Proteínas porinas ─ +

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MECANISMO DE ACÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS

Os antimicrobianos são substâncias têm a capacidade de inibir o crescimento


e/ou destruir microorganismos. Podem ser produzidos por bactérias ou por fungos
ou podem ser total ou parcialmente sintéticos.
Podem ser também:
 Bacteriostáticos - que são produtos com a função de impedir a
proliferação dos microrganismos. Um bacteriostático impede a
multiplicação das bactérias, mas não as matam; esses agentes são, em
sua maioria, inibidores de síntese proteica e atuam por ligação reversível
aos ribossomos. Um exemplo de produto bacteriostático é o álcool etílico
que usamos no cotidiano para limpar superfícies e desinfetar as mãos.
 Bactericidas - são substâncias que matam de forma direta os
microrganismos, inibindo enzimas que desempenham um papel
fundamental para que a célula bacteriana permaneça viva, mas não
necessariamente destroem a bactéria.
 Bacteriolíticos - são substâncias que além de matar as bactérias
impedindo sua proliferação e crescimento, destroem sua parede celular
provocando a perda de material interno. Um exemplo de bacteriolítico é a
penicilina, um antibiótico natural produzido pelo fungo Penicillium
chrysogenum. Primeiro antibiótico utilizado com sucesso.

O principal objectivo do uso de um antimicrobiano é o de prevenir ou tratar uma


infecção, diminuindo ou eliminando os organismos patogênicos e, se possível,
preservando os germes da microbiota normal. Para isso é necessário conhecer os
germes responsáveis pelo tipo de infecção a ser tratada.
Os antibióticos com aplicações terapêuticas devem ter toxicidade selectiva.
Devem ser tóxicos para o agente causador da doença – mas não para o ser
humano – por actuarem em etapas do metabolismo do microrganismo e não do
indivíduo infectado.

Para que o antibiótico exerça sua acção:


 Atingir a concentração ideal no local
 Capaz de atravessar a parede celular
 Afinidade pelo sítio de ligação

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 Tempo suficiente – efeito inibitório

Factores relacionados à acção dos antimicrobianos

Principais mecanismos de acção de antibióticos sobre bactérias:

1. Inibição da duplicação do cromossomo bacteriano (o impede a reprodução


do microrganismo) ou da transcrição do DNA em RNA mensageiro (fonte
de informação para a síntese protéica). Ex.: quinolonas (norfloxacino,
ciprofloxacino).
2. Há antibióticos que imitam substâncias usadas pela célula bacteriana
(metabólitos) e se ligam a enzimas, inibindo-as. Ex.: trimetoprina e sulfas
(inibem a produção de ácido fólico, essencial ao crescimento bacteriano; o
ser humano não produz ácido fólico, o obtém da alimentação).
3. Há antibióticos que modificam a permeabilidade da membrana plasmática
da bactéria, fazendo com que metabólitos importantes sejam perdidos
através dela. Ex.: polimixina B, daptomicina.
4. Há antibióticos que actuam inibindo a síntese de proteínas bacterianas.
Como existe uma diferença estrutural entre os ribossomos de bactérias e
os de humanos, esses medicamentos não afetam a produção protéica
humana. Ex.: cloranfenicol, eritromicina, azitromicina, neomicina,
tetraciclinas, gentamicina.

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5. A parede celular é uma estrutura relativamente rígida, formada pela
substância peptidoglicano, que envolve a membrana plasmática de
bactérias. Há antibióticos que impedem a formação completa do
peptidoglicano. Isso acarreta a lise da célula bacteriana. Ex.: penicilina,
amoxicilina, ampicilina, cefalosporinas, vancomicina, bacitracina.

FUNCIONALIDADES DE LABORATÓRIOS DE ANÁLISE


CLÍNICAS

Os Laboratórios de Análise Clínicas prestam um serviço fundamental de apoio ao


diagnóstico, tratamento e acompanhamento de uma infinidade de doenças e
condições de saúde. Deve-se considerar a relevância da qualidade dos exames
laboratoriais para apoio ao diagnóstico eficaz.

Um laboratório de análises clínicas é um fornecedor de serviços bastante


variados. Um grande laboratório pode realizar até 3.000 tipos diferentes de
exames.

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O exame laboratorial pode contribuir para a assistência médica:

 Diagnosticar doenças potenciais, não suspeitadas, propiciando sua


prevenção adequada;
 Diagnosticar, precocemente, doenças suspeitas, possibilitando o
tratamento eficiente;
 Promover o diagnóstico diferencial entre possíveis doenças, dando
oportunidade de tratamento específico;
 Promover o estadiamento de doença já instalada, contribuindo para a
escolha da melhor conduta terapêutica;
 Monitorizar a eficiência de um tratamento instituído;
 Possibilitar o aconselhamento genético e esclarecer questões médico-
legais

Os dados obtidos clinicamente podem não ser suficientes para a elaboração do


diagnóstico, ou avaliação do grau de comprometimento orgânico que uma doença
previamente diagnosticada causou.

O avanço técnico e científico na realização de exames laboratoriais confere ao


laboratório papel central no diagnóstico e acompanhamento de muitas doenças.

No entanto, todo resultado liberado pelo laboratório de análises clínicas é


consequência da qualidade da amostra recebida, cujo objectivo é responder uma
pergunta que foi feita ao laboratório, ou seja, todo pedido de exame visa
responder algum questionamento. Por exemplo: quando o clínico solicita a
determinação de uréia e creatinina, está querendo saber como está a função
renal.

Para se obter qualidade nos exames realizados, é preciso que se faça uma
padronização dos processos envolvidos desde a solicitação médica dos exames
até a liberação do laudo.

As fases da análise laboratorial. A realização de exames divide-se,


classicamente, em:

• Fase pré-analítica – começa na colecta de material, seja ela feita pelo


paciente (urina, fezes e escarro), seja feita no ambiente laboratorial.

24 - 104
• Fase analítica – corresponde à etapa de execução do teste propriamente
dita.

• Fase pós-analítica – inicia-se no laboratório clínico e envolve os


processos de validação e liberação de laudos, encerrando-se após o
médico receber o resultado final, interpretá-lo e tomar sua decisão.

Desse modo, para que possamos entender o sistema da realização de um exame


laboratorial, devemos ter em mente que o mesmo envolve uma série de
processos, cada um dos quais com fontes potenciais de erros. Portanto, a
padronização no Laboratório Clínico tem a finalidade de prevenir, detectar,
identificar e corrigir erros ou variações que possam ocorrer em todas as fases da
realização do teste.

Há diversos factores pré-analíticos que podem provocar erros ou variações nos


resultados dos exames:

a) Identificação: é muito importante que o paciente, a solicitação de exames e as


amostras estejam devidamente identificadas: nome do paciente, data e hora da
colecta, tipo de material (sangue total, soro, plasma, urina etc).

b) Preparação do Paciente: todos os profissionais do laboratório devem ter


conhecimento da importância da correcta preparação do paciente e saber
como ela pode afetar os resultados. Na preparação do paciente para a
realização dos exames é muito importante observar o efeito de vários factores,
como necessidade de jejum para o exame; estado nutricional do paciente; uso
de álcool; estresse; fumo; exercícios físicos; postura; interferência in vitro ou in
vivo dos medicamentos.

c) Colecta da Amostra: na colecta da amostra biológica é importante que os


profissionais responsáveis tenham conhecimentos necessários dos erros e
variações que podem ocorrer antes, durante e após a obtenção da mesma.

Variações devido à obtenção, preparação e armazenamento da amostra:


identificação incorreta do paciente; troca de material; contaminação da amostra;
erro por hemólise, estase prolongada, homogeneização, centrifugação;
conservação inadequada; erro no emprego de anticoagulantes etc.

25 - 104
A rotina de um laboratório clínico é complexa pela multiplicidade de processos
distintos e inter-relacionados a serem controlados pela variedade de amostras
analisadas (sangue, urina, fezes, liquor e etc.).

As amostras biológicas ou produtos biológicos podem ser:

 Excreções (expectoração, urina, fezes, e corrimentos vaginais e uretrais);


 Secreções (secreções nasais, faríngeas, saliva);
 Tecidos (sangue);
 Fluídos (linfa, líquido cefalorraquidiano, líquido pleural, líquido ascítico,
líquido sinovial);
 Órgãos (biópsias tecidulares).

Para a análise das referidas amostras biológicas, existem vários métodos e


técnicas usadas para obter um resultado. Entre os vários métodos e técnicas
podemos mencionar os seguintes:

I. Exame Macroscópico: descrevendo características físicas; cor, tamanho,


e aparência da amostra biológica ou uma reacção visível.
II. Exame Microscópico – visualizar e ampliar o que não é visível a olho nu;
adoptando várias técnicas:
 Directo (“a fresco”)
 Após coloração
 Após concentração
 Técnica adaptada
III. Método Imunológico - O diagnóstico imunológico baseia-se na
evidenciação in vitro da reacção antigénio/anticorpo:
 Detecção de anticorpos
 Detecção de antigénios circulantes
IV. Métodos De Cultura: Frequentemente há necessidade de se usar meios
de cultura para manutenção ou mesmo evidenciação (diagnóstico) de
organismos. Existem vários meios de cultura, sendo que cada laboratório
prefere usar um ou outro; cuja a aplicação e orientações estão indicadas
pelo fabricante (em cada frasco).

26 - 104
V. Métodos Bioquímicos: De maneira geral, ela consiste no estudo da
estrutura molecular e função metabólica de biomoléculas, biopolímeros e
componentes celulares e virais, como proteínas, enzimas, carbohidratos,
lipídios, ácidos nucleicos (biologia molecular) entre outros.
VI. Métodos Moleculares: Os métodos moleculares podem ser usados para
detectar, mas também para identificar as espécies. O PCR é o principal
método molecular de detecção com variantes;
 PCR simples específico
 Nested ou semi-nested
 PCR específico
 Real-time PCR com ou sem sondas
 PCR multiplex
 LAMP (Loop mediated isothermal amplification)
 Sequenciação
Alvos - cópias múltiplas mais conservadas ou mais variáveis, de acordo com
objectivos.

Amplificação-PCR no termociclador

27 - 104
O perfil de amplificação pode ser levada a cabo a 95 °C por 5 min, seguido de 37 ciclos incluindo
denaturação a 95 ºC durante 1 min, Annealing (junção) a 60 °C durante 1min e extensão a 72 ° C
durante 1,5 min, com uma extensão final a 72 ºC durante 10 min. Os produtos da PCR (10μl)
podem ser submetidos à eletroforese em gel de agarose 1%, em seguida corados com brometo de
etídio e visualizados em transluminador.

Gel de agarose 1,5%, corados com brometo de etídio e visualizados em transluminador

COLORAÇÃO DE GRAM

A coloração de Gram (Christian Gram, Dinamarca, 1884) é uma técnica de


coloração diferencial, que permite distinguir dois tipos de bactérias com base nas
características da parece celular .
Baseia-se no facto de que quando as bactérias são coradas com certos corantes
básicos, as células de Gram-negativo podem ser facilmente descoradas com
solventes orgânicos (e.g., etanol, acetona), enquanto as células das espécies
Gram-positivo resistem a esta descoloração.
A capacidade das células reterem ou perderem o corante reflecte diferenças na
estrutura fundamental da parede celular, pelo que a resposta à coloração de
Gram é uma característica taxonómica importante, usada numa fase inicial da
identificação das bactérias.
O processo de coloração de Gram consiste basicamente em tratar bactérias
sucessivamente com cristal violeta, lugol, álcool e fucsina. O cristal violeta e o
lugol penetram tanto nas bactérias Gram-positivas quanto nas Gram-negativas,
formando um complexo de cor roxa. O tratamento com álcool é a etapa
diferencial; nas Gram-positivas, o álcool não retira o complexo cristal
violeta+lugol, pois a sua ação desidratante faz com que a espessa camada de
peptideoglicano torne-se menos permeável, retendo o corante. Nas Gram-

28 - 104
negativas, devido à pequena espessura da camada de peptideoglicano, o
complexo corado é extraído pelo álcool, deixando as células descoradas. O
tratamento com fucsina não altera a cor roxa das Gram-positivas, ao passo que
as Gram-negativas descoradas pelo álcool tornam-se avermelhadas.
1. Cubra o esfregaço com violeta de cristal e aguarde 30 seg.;

2. Passe com o esguicho de água para retirar o excesso de corante


durante cerca de 5 seg.;

3. Cubra com solução de Lugol e aguarde 1 min.;

4. Passe com o esguicho de água para retirar o excesso de Lugol durante


cerca de 5 seg.;

5. Cubra com descorante (etanol a 95%) e aguarde 30 seg.;

6. Passe com o esguicho de água para retirar o excesso de corante


durante cerca de 5 seg.;

7. Cubra com safranina e aguarde 60 seg.;

8. Passe com o esguicho de água para retirar o excesso de corante


durante cerca de 5 seg.;

9. Sem esfregar coloque papel de filtro em cima dos esfregaços apenas


para absorver o excesso de água;

10. Observe ao microscópio com objetiva de imersão;

11. Preencha o campo de resultados com as suas observações.

29 - 104
Parede celular das bactérias Álcool-Ácido-Resistentes
(B.A.A.R)

Bactérias do género Mycobacterium, Nocardia e certos tipos de Corynebacterium


possuem uma parede celular bastante compacta, contendo lípidos de alto peso
molecular, ácidos micólicos, impermeável a diversos compostos.

Estes cerídeos impedem a coloração de Gram e, por isso, é necessário recorrer a


processos de coloração mais energéticos, como seja a coloração de Ziehl-
Neelsen. Este método consiste na coloração de esfregaços com fucsina fenolada
concentrada a quente, descoloração com soluto de Ebner (álcool-ácido) e
coloração com azul de metileno.

Os bacilos que coram de vermelho são considerados álcool-ácido-resistentes


(b.a.a.r). É o caso do agente da tuberculose e lepra.

30 - 104
M EMBRANA CITOPLASMÁTICA

A membrana citoplasmática, estrutura que rodeia o citoplasma celular, é


constituída por bicamada fosfolipídica (20 a 30%), onde se inserem proteínas
periféricas e proteínas integrais (50 a 70%).

A membrana plasmática e a membrana dos diferentes organelos celulares


medem cerca de 7 a 10 µm de espessura e são visíveis somente ao microscópio
electrónico.

Representação esquemática da membrana


A organização desta biomembrana em bactérias é equivalente à das células plasmática
eucariotas, salvaguardando a sua maior proporção proteínas/fosfolípidos, dadas
as funções biossintéticas e energéticas da membrana citoplasmática bacteriana.

A membrana citoplasmática funciona como estrutura de permeabilidade selectiva,


sendo geralmente permeável a moléculas lipofílicas e impermeáveis a moléculas
hidrofilicas.

De modo geral, podemos dizer que as substâncias atravessam a membrana


de duas maneiras.

 Transporte passivo
 Transporte activo

31 - 104
 Transporte passivo: substâncias entram e saem livremente da célula de
forma passiva, sem que a célula precise gastar energia.
Ex: gás oxigênio e gás carbônico.
 Transporte activo: a célula gasta energia para promover o transporte das
substâncias. Nesse transporte há participação de substâncias especiais
chamadas enzimas transportadoras.
Ex: células nervosas que absorve íons de potássio (K+) e eliminam íons de sódio
(Na+ ); bomba de sódio, que tem a função de manter o potencial eletroquímico
das células.

A membrana plasmática tem ainda a capacidade de envolver e englobar


moléculas ou partículas que não podem penetrar por transporte activo ou passivo.
Processo é chamado de endocitose e pode ser de dois tipos:
Fagocitose – quando a molécula ou partícula englobada for grande e sólida. Ex:
leucócitos

Pinocitose – No caso em que a célula engloba líquidos.

32 - 104
Após a digestão, sobram resíduos que devem ser eliminados da célula por meio
de um processo chamado exocitose.

C ÁPSULA

Por microscopia óptica, com recurso a coloração negativa com nigrosina, é


possível observar um halo transparente à volta das células bacterianas e que
corresponde à cápsula. Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis,
Haemophilus influenzae são exemplos de bactérias capsuladas.
Esta estrutura é geralmente de natureza polissacárida embora possa ter uma
constituição polipeptídica, como acontece em bacillus anthracis.
Esta estrutura mobiliza grande quantidade de água e desempenha um papel
importante na protecção da bactéria contra dessecação.
As bactérias capsuladas são geralmente muito virulentas para o homem, dadas
as propriedades antifagocitárias da cápsula bacteriana.
Outras estruturas aparentadas com a cápsula aparecem em determinados grupos
bacterianos, mas com outras funções. É o caso de slime layer e do glicocálice. A
slime layer apresenta-se como estrutura de superfície difusa, não organizada e
também de natureza polissacárida. O glicocálice apresenta-se como projecções

33 - 104
polissacáridas presentes na superfície bacteriana e que promovem a aderência a
outras superfícies celulares.

APÊNDICES DE SUPERFÍCIE

Flagelos, Pili e Fímbrias – trata-se de apêndices bacterianos proteicos de origem


endocelular que se projectam para o exterior celular

Os flagelos são órgãos de locomoção bacteriana e as fimbrias e os pili, mais finos


que os flagelos, só são visíveis por microscopia eletrónica.

Os flagelos têm 15-20 µm de cumprimento e 14-20 nm de espessura, pelo que


apenas são visualizados com colorações especiais por microscopia electrónica.

Disposição dos flagelos

Monotríqua ( Pseudomonas aeruginosa);

Lofotríqua (Helicobacter pylori);

Anfitríqua (Spirillum sp)

Peritríqua (Salmonella)

34 - 104
Fimbria

Fimbrias

GENÉTICA BACTERIANA

Os processos genéticos são, de maneira geral, comuns aos diferentes


organismos.

Estrutura e características da molécula de DNA permitem que seja copiada


fielmente e duplicada através do sistema de replicação do DNA, e assim manter a
estabilidade dos organismos geração após geração.

As bactérias tipicamente possuem um único cromossomo circular constituido de


uma molécula circular de DNA, com proteínas associadas.

As bactérias possuem material genético, o qual é transmitido aos descendentes


no momento da divisão celular. Este material genético não está contido dentro de
um núcleo, portanto o genoma destes microrganismos está disperso no
citoplasma.

35 - 104
O genoma bacteriano está condensado e organizado em uma estrutura
denominada NUCLEÓIDE.

NUCLEÓIDE ou CROMOSSOMO BACTERIANO: constituído, geralmente, por


uma única molécula de DNA fita dupla, circular, não delimitado por membrana
nuclear, tamanho variando entre 500 a 10.000 kb e é capaz de auto-duplicação.
Não contém introns e seus genes contém todas as informações necessárias à
sobrevivência da célula.

Possuem apenas uma cópia de seu cromossomo, sendo portanto haplóides.

GENE: sequência de nucleotídeos do DNA que é expresso em um produto


funcional, ou seja, molécula de RNA e proteína. Unidade fundamental física e
funcional da hereditariedade.

GENOMA: sequência completa de DNA; algumas não são convertidas em


produtos funcionais.

• Sequências não-codificadoras: INTRONS (bactérias não possuem)

• Sequências codificadoras: EXONS

As unidades fundamentais dos ácidos nucleicos, os nucleótidos, são formadas


por uma base azotada e um grupo fosfato ligados a uma pentose (ribose – RNA
ou desoxirribose – DNA).

Estrutura de um
nucleótido

 O grupo fosfato liga-se ao carbono 5´ da pentose


 O carbono 1’ da pentose liga-se a base azotada

36 - 104
 Cada novo nucleótido liga-se pelo grupo fosfato ao carbono 3’
da pentose do último nucleótido da cadeia, repetindo-se o
processo na direcção 5’ → 3’

DNA em células procarióticas e eucarióticas

Procariontes Eucariontes

Localização Disperso no citoplasma Núcleo das células,


mitocôndrias e
cloroplastos
Organização Só possuem 1 molécula de DNA Possuem vários
cromossomas
Forma Circular linear
Histonas Ausentes presentes
Ribossomas 70 – S 80 - S
Transcrição Simples directa Complexa
há migração
maturação do RNA

A estrutura básica de um nucleótido compreende então:

1. BASE AZOTADA
Purinas: formadas por um anel duplo (penta-anel e hexa-anel)
 Adenina (A)

 Guanina (G)
Pirimidinas: formadas por um anel simples (hexa-anel)
 Citosina (C)

 Timina (T) – exclusiva do DNA

 Uracilo (U) – exclusiva do RNA


2. PENTOSE – açúcar de 5 carbonos
 Ribose - RNA

 Desoxirribose – DNA (tem menos um grupo OH do que a ribose)

37 - 104
3. GRUPO FOSFATO – responsável pelo carácter ácido das moléculas. Tem um
pKa≈1, pelo que em condições fisiológicas (pH≈7) está sempre ionizado e com
carga negativa.

DNA – transmite informação genética de uma célula para outra; comandar a


fabricação de proteínas. DNA fabrica RNA, que vai para o citoplasma e comanda
a produção de proteína no ribossomo.

O DNA (ácido desoxirribonucleico) é uma macromolécula constituída por vários


polímeros, sendo a unidade básica o nucleótido, composto por um açúcar
(desoxirribose), um grupo fosfato e uma base azotada – purina (adenina ou
guanina) ou pirimidina – (timina e citosina), que se complementam, uma vez que
as purinas se ligam às pirimidinas.

Esquema representativo da

cadeia de DNA

As duas cadeias de nucleótidos do DNA são unidas uma à outra por ligações
chamadas de pontes de hidrogênio, que se formam entre as bases nitrogenadas
de cada fita.

38 - 104
O emparelhamento de bases ocorre de maneira precisa: uma base púrica se liga
a uma pirimídica – adenina (A) de uma cadeia pareia com a timina (T) da outra e
guanina (G) pareia com citosina (C).

O DNA controla toda a actividade celular. Toda vez que uma célula se divide, a
informação deve ser passada para as células-filhas. Todo o “arquivo” contendo as
informações sobre o funcionamento celular precisa ser duplicado para que cada
célula-filha receba o mesmo tipo de informação que existe na célula-mãe. Para
que isso ocorra, é fundamental que o DNA sofra “auto-duplicação”.

A organização genómica das bactérias é dinâmica e composta por


diferentes modalidades de moléculas de DNA: cromossoma, plasmídios,
transposons e bacteriófagos.

Classificação dos cromossomos quanto à posição do centrômero

As Bactérias possuem só um cromossomo não possuem: membrana nuclear,


aparelho mitótico, histonas e íntrons.

Nucleóide ou cromossomo bacteriano: DNA - Contem todas informações


necessárias para a sobrevivência da célula e é capaz de autoduplicação. Seus
genes podem ser transferidos associados a plasmídios, transposons e
bacteriófagos. O cromossomo bacteriano é enrolado, espiralado e compactado.

39 - 104
Duplicação do DNA bacteriano: O DNA cromosômico precisa duplicar-se antes
do processo de divisão celular, para que todas as células da progênie bacteriana
recebam uma cópia do cromossomo (transferência vertical de genes).

 DNA → DNA → Células filhas


 A duplicação do DNA cromossômico bacteriano é semi-conservativa,
simétrica e bidirecional, a partir de uma origem única.
 O processo requer enzimas, tais como as girases, helicases, primases,
polimerases, ligases e topoisomerases.
 A direção da síntese é sempre no sentido 5’ – 3’.

DNA extra-cromossomal (Plasmídios)

Plasmídios

 Moléculas extracromossomais circulares de DNA encontradas em


muitas espécies bacterianas.
 Geralmente moléculas de DNA circulares e cadeia dupla, com
replicação independente do cromossoma bacteriano
 Papel importante na adaptação e evolução bacteriana
 Codificam proteínas que na maioria dos casos conferem vantagens
à célula
 Dimensões muito variáveis: 3kb-200 kb
 Podem ser removidos das células sob condições de estresse;
 A replicação pode ocorrer durante a replicação bacteriana ou na
conjugação
 Células bacterianas podem conter mais do que um tipo de
plasmídeo
 Importantes ferramentas em engenharia genética

Tipos de plasmídios:

- Plasmídio de tipo sexual: são importantes para a transferência de


plasmídios a uma célula receptora. São capazes de se integrar no
cromossomo.

40 - 104
- Plasmídios R: conferem resistência a antibióticos.
Possuem o determinante de resistência e o factor de transferência de
resistência RTF.
Ex. Staphylococcus aureus.
- Plasmídios Col ou bacteriocinogênicos: plasmídios capazes de produzir
inibidores de crescimento de outras bactérias. Ex. Escherichia coli e
Pseudomonas.
- Plasmídios virulentos: favorecem a infecção em mamíferos.
- Plasmídios de degradação: codificam enzimas degradativas. Ex.
Pseudomonas;

Transposons

- Segmentos de DNA móveis dentro do cromossomo;


- Codificam caracteres não essenciais, não autoduplicam;
- Transferem-se ligados a plasmídios e cromossomos podendo carrear
genes próprios e cromossômicos;
- Contém informação para a própria transposição;
- Podem causar mutações;
- Contém genes de resistência a antimicrobianos
- Transposases: enzimas que permitem a transposição
Integrons

- Segmentos de DNA fita dupla;


- Capturam genes de resistência a drogas do citoplasma;

Pili ou fimbria sexual: apêndice relacionado com a troca de material genético


durante a conjugação bacteriana.

GENOMA BACTERIANO

As bactérias possuem material genético, o qual é transmitido aos descendentes


no momento da divisão celular. Este material genético não está contido dentro de

41 - 104
um núcleo, portanto o genoma destes microrganismos está disperso no
citoplasma.

O genoma bacteriano está condensado e organizado em uma estrutura


denominada NUCLEÓIDE.

NUCLEÓIDE ou CROMOSSOMO BACTERIANO: constituído, geralmente, por


uma única molécula de DNA fita dupla, circular, não delimitado por membrana
nuclear, tamanho variando entre 500 a 10.000 kb e é capaz de auto-duplicação.
Não contém introns e seus genes contém todas as informações necessárias à
sobrevivência da célula.

Possuem apenas uma cópia de seu cromossomo, sendo portanto haplóides.

GENE: sequência de nucleotídeos do DNA que é expresso em um produto


funcional, ou seja, molécula de RNA e proteína. Unidade fundamental física e
funcional da hereditariedade.

GENOMA: sequência completa de DNA; algumas não são convertidas em


produtos funcionais.

• Sequências não-codificadoras: INTRONS (bactérias não possuem)

• Sequências codificadoras: EXONS

OPERON: grupos de um ou mais genes estruturais expressos a partir de um


promotor específico. Operons com muitos genes estruturais são chamados
policistrônicos.

Modelo de operon procariótico

42 - 104
Promotores e operadores: sequências de nucleotídeos que controlam a
expressão de um gene determinando as seqüências que serão transcritas no
mRNA.

A organização genómica das bactérias é dinâmica e composta por


diferentes modalidades de moléculas de DNA: cromossoma, plasmídios,
transposons e bacteriófagos.

O cromossoma bacteriano contém todos os genes requeridos para o metabolismo


e ciclo vital da bactéria.

Plasmídios, transposons e bacteriófagos são entidades moleculares


independentes que ocorrem indistintamente em diferentes grupos bacterianos e
que funcionam como elementos genéticos acessórios. Os genes que transportam
não são essenciais à sobrevivência da bactéria, mas podem condicionar
características tais como factores de virulência, resistência agentes
antimicrobianos, toxinas, fixação de nitrogénio e utilização de fontes não usuais
de carbono. Tais características adicionais podem ter importância adaptativa em
determinadas situações. Todo material genético de uma bactéria , seja
constitutivo ou acessório, está em contacto directo com o citoplasma.

Cromossomos e plasmídios constituem replicons, ou seja, unidades moleculares


capazes de replicação autónoma. Transposons e bacteriófagos não são capazes
de replicação autónoma e precisam estar inseridos em um replicon para se
duplicarem.

Esquema de um plasmídio

43 - 104
Plasmídeos - Geralmente moléculas de DNA circulares e cadeia dupla, com
replicação independente do cromossoma bacteriano;
•Existem em todos os tipos de bactérias
•Papel importante na adaptação e evolução bacteriana
•Codificam proteínas que na maioria dos casos conferem vantagens à
célula
•Dimensões muito variáveis: 3kb-200 kb
•Células bacterianas podem conter mais do que um tipo de plasmídeo
•Importantes ferramentas em engenharia genética

RECOMBINAÇÃO: transferência génica bacteriana.

A maioria das bactérias possui uma única cadeia de DNA circular. As bactérias,
por serem organismos assexuados, herdam cópias idênticas do genes de suas
progenitoras.

Algumas bactérias também transferem material genético entre as células. A


transferência de genes é particularmente importante na resistência à antibióticos
acontece devido à instalação de um plasmídio que vai dar essa resistência ao
antibiótico.

Recombinação Gênica: é a troca de informação genética, responsável pela


mistura entre os genes diferentes dos seres vivos.

Mutações e recombinações da molécula de DNA facultam a evolução desses


mesmos organismos.

Mutação ≠ Recombinação

 Mutações são alterações hereditárias na sequência do DNA. Qualquer


alteração permanente no material genético. Promove o surgimento de
novos genes. Fonte primária da variação hereditária.
–Espontâneas: Podem resultar de erros na replicação, danos ou
erros introduzidos durante o reparo dos danos no DNA.

44 - 104
–Influências externas: por factores do ambiente que podem
aumentar a incidência de erros genéticos. A taxa de mutação em bactérias
pode ser intensificada por agentes como:
- raios ultravioletas;
- íons de ferro e manganês;
- ácido nitroso;
- antibióticos e fungicidas

- Vírus;
Mutação é o principal mecanismo de geração de novos genes porque permite a
criação de novas sequências de nucleótidos. Ocorrem devido a erros de
duplicação cromossômica.

Mutações gênicas

- substituições ATCGATTT ATCCATTT

- deleções ATCGATTT ATC_ATTT

- inserções ATCGATTT ATCGAGTTT

- inversões ATCGATTT CTAGATTT

 Recombinação: mistura de genes entre indivíduos de uma mesma espécie


→ aumento da variabilidade primariamente produzida pela mutação.

45 - 104
MECANISMOS DE RECOMBINAÇÃO GENÉTICA
BACTERIANA

Embora as mutações sejam responsáveis pela expressão de várias novas


características por uma célula, muitos fenótipos procarióticos são decorrentes da
aquisição de novos fragmentos de DNA, por meio de processos de transferência
horizontal de genes:

Transformação

Conjugação

Transdução

Transformação: incorporação de DNA livre, geralmente decorrente da lise


celular

Na natureza, o processo ocorre quando uma célula sofre lise, liberando seu DNA.
Este, por ser de grande tamanho tende a sofrer fragmentação e outras células
podem absorver alguns fragmentos. Este fenómeno tem lugar em células que
apresentam um estado fisiológico particular dito de competência. Foi apenas
encontrada em algumas espécies bacterianas.

Para que o processo ocorra, é necessário que a célula encontre-se competente -


apresentar sítios de superfície para a ligação do DNA da célula doadora - e
apresentar a membrana em uma condição que permita a passagem deste DNA.

46 - 104
Conjugação: processo de transferência de DNA de uma bactéria para outra,
envolvendo o contato entre as duas células

A conjugação está associada à presença de plasmídeos F. Estes plasmídeos


contêm genes que permitem a transferência do DNA plasmidial de uma célula
para outra ou, em outras palavras, a capacidade conjugativa.

Quando a célula porta um plasmídeo de natureza F é denominada F+,


doadora, enquanto células desprovidas de tais plasmídeos são
denominadas F-, receptoras.

Transdução: transferência de material genético mediada por vírus


(bacteriófagos)

Transdução generalizada: Este tipo de processo requer a ocorrência de um ciclo


lítico, onde eventualmente pode haver o empacotamento de fragmentos de DNA
da célula hospedeira, gerando partículas denominadas partículas transdutoras,
que correspondem ao capsídeo viral contendo em seu interior DNA bacteriano.

Embora não possam ser descritas como vírus, as partículas transdutoras exibem
a capacidade de adsorção à superfície de outras células bacterianas.

A frequência com que um determinado gene é transferido é baixa, uma vez que
cada partícula transdutora leva apenas um determinado fragmento de DNA.

Transdução especializada: Evento raro, embora bastante eficiente.

47 - 104
A etapa inicial corresponde à infecção e lisogenização do fago, que ocorre em
sítios específicos do genoma.

Pela acção de algum indutor (ex: UV) há a separação do fago do genoma


(integração reversa), que normalmente ocorre perfeitamente. Entretanto, em
alguns casos, essa separação é defeituosa, promovendo a remoção de genes
bacterianos e deixando parte do genoma viral na célula.

REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GENÉTICA, EFEITOS DO


PRODUTO FINAL NO CONTROLO DA SUA SÍNTESE,
CONTROLO NEGATIVO E CONTROLO POSITIVO.

Os procariotas sofrem com pequenas variações do meio ambiente, o que leva à


necessidade de um ajuste no seu metabolismo que permita melhor adaptação às
variações do meio externo.

A regulação pode ocorrer durante a transcrição e a consequente produção do


RNA e após a transcrição através do processamento. A estabilidade do
transcrito influencia a síntese da proteína. Outro ponto de regulação ocorre
durante a tradução (ou síntese proteica) e por modificações na proteína que
estarão intimamente relacionadas à sua funcionalidade.

De modo geral, a regulação durante a transcrição é a mais comum de ocorrer,


principalmente em procariotas, para a célula evitar que a transcrição ocorra
quando a proteína não é necessária.

Existem dois tipos possíveis de regulação da transcrição; em ambos existe a


participação de um gene regulador:

48 - 104
1. Controlo positivo: no qual uma proteína reguladora actua como activador,
estimulando a transcrição. O produto do gene regulador é necessário para
activar a expressão de um ou mais genes estruturais. Nesse caso, o produto
do gene regulador é chamado activador.

2. ControlO negativo: no qual uma proteína reguladora atua como um repressor


se ligando ao DNA e inibindo a transcrição. O produto do gene regulador é
necessário para desativar a expressão de genes estruturais. Aqui o produto do
gene regulador é chamado repressor.

METABOLISMO

Metabolismo é o conjunto de reacções químicas que ocorrem no interior da


célula.

Geralmente, o metabolismo começa no ambiente extracelular, com a hidrólise de


grandes macromoléculas por enzimas específicas que agem como catalisadores,
reduzindo a energia de activação da reacção; Embora algumas enzimas sejam
constituídas apenas por proteínas, a maioria é constituída de uma porção
protéica, chamada apoenzima, e outra não-proteíca, chamada de cofator, que
pode ser iões de ferro, zinco, magnésio ou cálcio. Quando o cofator é uma
molécula orgânica, é chamado de coenzima, e geralmente é derivado de
vitaminas.

As duas coenzimas mais importantes no metabolismo celular são a nicotinamida


adenina dinucleótido (NAD+) e a nicotinamida adenina dinucleótido fosfato
(NADP+), ambos derivados da vitamina B (ácido nicotínico), e funcionando como
carregadores de electrões. Enquanto NAD+ está basicamente envolvido em
reacções catabólicas, NADP+ está principalmente envolvido com reações
anabólicas. Outra importante coenzima é a coenzima A (CoA), que é outra
vitamina B (ácido pantotênico), que tem papel na síntese e degradação de
gorduras e em várias reações de oxidação no ciclo de Krebs.

Na célula intacta, a actividade biossintética (anabolismo) ocorre em simultâneo


com a degradação de moléculas (catabolismo). Da actividade degradativa de

49 - 104
certas moléculas há libertação gradual de energia que é aprisionada, sob a forma
de energia química, para ser posteriormente usada para as mais diversas
actividades da célula. As células são mantidas vivas devido a este fluxo
balanceado de energia e de compostos orgânicos que são constantemente
quebrados e sintetizados.

A energia armazenada é necessária à biossíntese de material celular, bem como


à manutenção de funções vitais da célula, transporte membranar, degradação de
macromoléculas, movimento dos flagelos e outras actividades essenciais.

Alguns microrganismos obtêm energia a partir da luz, enquanto outros obtêm-na a


partir da degradação de moléculas que vão gradualmente libertando a energia
que contêm. A energia da luz, bem como a energia obtida da degradação de
compostos orgânicos e inorgânicos, é armazenado em compostos orgânicos,
através de ligações de alto potencial energético – energia química.

Certas substâncias químicas têm tendência para libertar electrões e tornarem-se


oxidativas e outras recebem-nos e tornam-se reduzidas.

Quanto mais reduzido estiver o composto, mais energia contém e maior é a sua
tendência para libertar electrões.

O dador de electrões oxida-se (perde electrões) e o receptor reduz-se (ganha


electrões).

Em termos energéticos, o dador de electrões funciona como fonte de energia.

Muitas reacções de transferência de electrões nos organismos vivos são


acompanhadas da transferência de hidrogénio.

Assim, por exemplo, na fermentação láctica, a semi-reacção de conversão do


NADH (nicotinamida adenina dinucleótido reduzido) em NAD+ (nicotinamida
adenina dinucleótido) é uma oxidação.

As enzimas são substâncias que promovem as reacções químicas que ocorrem


na célula, são proteínas que, para além da sua acção catalisadora, são
especificas para determinada reacção.

50 - 104
MECANISMO DE SÍNTESE DE ATP (adenosina trifosfato)

A formação de adenosina trifosfato (ATP) na célula microbiana pode ocorrer


através de três mecanismos diferentes – a fosforilação a nível do substrato, a
fosforilação oxidativa acoplada ao transporte de electrões na cadeia citocrómica e
a fotofosforilação.

1. Fosforilação em nível do substrato: O grupo fosfato de um composto químico é


removido e directamente transferido a uma ADP (adenosina difosfato). Esse tipo
de fosforilação pode ocorrer na ausência de oxigênio. E como exemplo de
fosforilação em nível do substrato tem-se a glicólise e a fermentação.

2. Fosforilação oxidativa: Envolve um sistema de transportes de electrões. O


composto orgânico é oxidado e os electrões são transferidos para um grupo de
carreadores de electrões, que normalmente é NAD+ e o FAD (flavina adenina
dinucleótido). Esse tipo de fosforilação é mais eficiente, produzindo a maior parte
do ATP utilizado pelo organismo.

3. Fotofosforilação: Ocorre somente em células fotossintéticas. Esse processo só


se inicia quando a energia luminosa é convertida à energia química de ATP e
NADPH, que são utilizados para sintetizar moléculas orgânicas.

PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE ENERGIA

Independentemente da forma como um microrganismo vive, ele dever ser capaz


de obter energia para armazená-la na forma de ATP.

Os microrganismos são classificados em função da fonte de energia e da fonte de


carbono em:

Químio-heterotróficos quando utilizam compostos orgânicos como fonte de


carbono e usam como fonte de energia, respectivamente, compostos orgânicos
(organoquimio-heterotróficos) ou compostos inorgânicos (litoquimio-
heterotróficos);

Químio-autotróficos quando utilizam CO2 como fonte de carbono e usam como


fonte de energia, respectivamente, compostos orgânicos (organoquimio-
autotróficos) ou compostos inorgânicos (litoquimio-autotróficos);

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Foto- heterotróficos quando utilizam compostos orgânicos como fonte de
carbono e a luz como fonte de energia;

Foto- autotróficos quando utilizam CO2 como fonte de carbono e a luz como
fonte de energia.

Todas as bactérias patogênicas são heterotróficas (Químio-heterotróficas), elas


obtêm energia através da oxidação de moléculas orgânicas e o metabolismo
destas moléculas (carboidratos, lípidos e proteínas) fornece a energia (adenosina
trifosfato - ATP) necessária para as bactérias desenvolverem suas funções vitais.

Os microrganismos obtêm energia por um dos seguintes processos:

Fermentação – quando o dador e o receptor de electrões são ambos compostos


orgânicos;

Respiração - se o receptor de electrões for o oxigénio (respiração aeróbica); se o


receptor de electrões for um composto inorgânico oxidado, diferente do oxigénio,
como o nitrato, o sulfato, o dióxido de carbono (respiração aeróbia);

Fotossíntese – se o dador e receptor de electrões for a clorofila – fosforilação


cíclica.

A maioria dos microrganismos oxida carboidratos como fonte primária de energia


celular, porque essas biomoléculas as mais abundantes na natureza e a glicose é
mais importante delas utilizada como fonte de energia pelas células

52 - 104
Os microrganismos degradam a glicose em dois processos distintos para permitir
que a energia seja captada em forma aproveitáveis, que são a respiração celular
e a fermentação.

Geralmente, tanto a respiração celular quanto a fermentação iniciam-se pela


glicólise, seguindo, posteriormente, vias diferentes.

A glicólise é a oxidação da glicose em ácido purúvico com produção de ATP e


NADH. A partir do ácido pirúvico a célula poderá seguir a via da respiração ou da
fermentação.

Na respiração, de modo geral, ocorrem mais duas etapas após a glicólise, que
são o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, enquanto na fermentação, o ácido
pirúvico e os electrões transportados pelo NADH na glicólise são incorporados
nos produtos finais da fermentação, que incluem álcool (etanol) e ácido lático.

NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO DE MICROORGANISMOS

 Como todos os seres vivos, os microrganismos necessitam de nutrientes


apropriados ao seu desenvolvimento, assim como condições físicas ou
ambientais favoráveis.

Condições ambientais (fatores abióticos):


 Temperatura
 Oxigênio
 pH
 Pressão osmótica, atmosférica, hidrostática
 Radiação eletromagnética
 Quando cultivados em laboratório, estas necessidades devem ser
respeitadas.

 Os elementos químicos principais para o crescimento das células são


denominados macronutrientes (C, N, H, O, S, P).

 Os seguintes componentes devem estar disponíveis: água, fonte de


energia, fonte de nitrogênio, vitaminas e sais minerais.

53 - 104
 Em microbiologia crescimento geralmente é o aumento do número de
células

 Na maioria dos procariotas ocorre a fissão binária: crescimento e divisão

Curva de crescimento bacteriano

 Fase Lag ou latência

 Fase Log ou exponencial

 Fase estacionária

 Fase de declínio ou morte

Quanto ao OXIGÊNIO
Aeróbios – exigem a presença de oxigênio livre.

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Microaerófilos – exigem pequena quantidade, não toleram as
pressões normais de O2 atmosférico.
Anaeróbios – não toleram a presença de oxigênio livre.
Facultativo – crescem na presença ou ausência de oxigênio livre.

Quanto a Temperatura - Grupos


1. Psicrófilos – temperatura ótima abaixo de 15 0c, suscetíveis de crescer a
0 0c.
0
2. Mesófilos – temperatura ótima 20 - 40 c, maioria dos patógenos
humanos.
3. Termófilos – temperatura ótima acima de
45 0c.

CULTURA E ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS

Os meios de cultura são utilizados em três diferentes tipos de consistência: sob a


forma líquida (denominados de meios líquidos ou caldos), sólida (denominados de
meios sólidos ou solidificados, obtidos pela adição de agar-agar ao meio) e
eventualmente semi-sólida (denominados de meios semi sólidos, obtidos pela
adição de pequena quantidade de agar-agar ao meio).

A cultura e o isolamento de microrganismos são duas operações básicas em


microbiologia. O crescimento de comunidades microbianas em meios de cultura
no laboratório, permite a obtenção de culturas puras – culturas que contêm
apenas um tipo de microrganismo – ou de culturas mistas – culturas que têm mais
do que um tipo de microrganismo. O isolamento promove a separação de um
microrganismo a partir de comunidades mistas.

Os meios de cultura possibilitam a multiplicação de microrganismos em


laboratório sob condições controladas, o que permite o seu isolamento e
caracterização morfológica e bioquímica. As exigências metabólicas do mundo
microbiano são muito diversificadas, pelo que os meios de cultura utilizados
devem corresponder às exigências específicas do tipo de microrganismo que se
quer cultivar. Em relação à sua composição química, os meios de cultura

55 - 104
quimicamente complexos permitem a multiplicação da maioria dos
microrganismos heterotróficos. Já em relação ao seu estado físico, os meios de
cultura sólidos permitem não só a multiplicação, mas também o isolamento de
microrganismos, de forma a obter culturas puras.

O meio de cultura, portanto, deve conter: nutrientes em concentrações adequados


ao crescimento do microrganismo que desejamos cultivar, além das condições
ambientais requeridas como: pH ideal, adequado ao seu crescimento, aeração,
humidade, pressão osmótica, temperatura, etc.

Alguns são meios gerais: permitem o crescimento de muitas espécies

Outros são meios específicos: servem para identificação de espécies, por ex.

Frequentemente há necessidade de se usar meios de cultura para manutenção


ou mesmo evidenciação (diagnóstico) de organismos.

Devido ao seu tamanho microscópico, os microrganismos são normalmente


invisíveis a olho nu (a excepção ocorre quando, ao crescerem em populações
com milhões de indivíduos, se tornam macroscopicamente observáveis, como
acontece por exemplo com as colónias de bactérias.

A cultura de microrganismos consiste no crescimento de populações microbianas


em meios de cultura laboratoriais (meios nutritivos).

- Cultivo in vitro: quando se conhece as exigências nutricionais.

- Cultivo in vivo: quando exigências nutricionais específicas são


desconhecidas. Ex: Mycobacterium leprae (causador da hanseníase)
precisa de hospedeiro para ser cultivado.

MORFOLOGIA DE COLÓNIAS DE BACTÉRIAS, DE FUNGOS E DE LEVEDURAS


Características das colónias nomeadamente:

1. tamanho (mm);
2. morfologia (forma, bordo ou margem e elevação);

56 - 104
3. pigmentação (cor, solubilidade, fluorescência, rugosidade);

4. aspecto (brilho, transparência, opacidade, rugosidade);

5. consistência (amanteigado, viscosa, membranosa, seca, quebradiça);

6. textura (áspera ou lisa)


Procedimento da Urocultura. Distribuição da material (amostra de urina) por
toda a superfície do meio agar:
 Homogeneizar o material com agitação manual em diferentes direções e
utilizar uma gota (10 µl) da amostra, sem centrifugação;

 Obteve-se o volume definido pela técnica com o auxílio de ansa calibrada


estéril; distribui-se o material em linha recta até a outra extremidade.
Perpendicularmente, distribuir o material por toda a superfície de maneira
uniforme. Repetir o mesmo procedimento por 3 vezes, ou até que a
superfície da placa esteja seca, alterando a direção da estria.

 Evitar o uso de placas húmidas e, após semeada, não incubar caso haja
humidade na superfície do ágar.

57 - 104
 Evitar o rompimento do ágar, estriando o material suavemente.

Distribuição do material (amostra de fezes) de forma a obter um gradiente


decrescente de concentração do inóculo.

58 - 104
RELAÇÕES PARASITA-HOSPEDEIRO

Os seres vivos o seu inter-relacionamento é enorme e fundamental para a


manutenção da "vida". Podemos, mesmo, afirmar que nenhum ser vivo é capaz
de sobreviver e reproduzir-se independentemente de outro. Entretanto, esse
relacionamento varia muito entre os diversos reinos, filos, ordens, géneros e
espécies.

Convém salientar que as relações entre os seres vivos não são estáticas, ou seja,
na natureza a característica maior é a interdependência dinâmica de seus
componentes.

Muitas espécies passam a conviver num mesmo ambiente, gerando associações


ou interações que podem não interferir entre si. Essas associações podem ser:
harmônicas ou positivas, quando há beneficio mútuo ou ausência de prejuízo
mútuo; desarmônica ou negativa, quando há prejuízo para algum dos
participantes.

Assim, considera-se como harmônicas o comensalismo, o mutualismo e, como


desarmônicas, a competição, o canibalismo, o predatismo e o parasitismo.

Chama-se simbionte a um organismo que vive algum tempo ou toda a sua vida
intimamente ligado a outro de uma espécie diferente e esse relacionamento
denomina-se simbiose. Este termo significa “viver junto”.

Consideram-se quatro categorias de simbiose: comensalismo, forese,


parasitismo e mutualismo, ainda que as linhas que separam estas categorias
sejam muito ténues.

O comensalismo não envolve interacções fisiológicas nem


dependência entre hospedeiro e o comensal. Este tipo de simbiose implica uma
proximidade espacial e permite que o comensal se alimente de nutrientes
ingeridos pelo hospedeiro. Os dois intervenientes podem sobreviver
independentemente.

A forese significa transporte. Neste tipo de relacionamento, um


organismo, normalmente pequeno, é transportado mecanicamente por um
hospedeiro, em regra de dimensões maiores. Não existe dependência alimentar
59 - 104
ou fisiológica entre o par. A fixação de protozoários sedentários ao corpo de
animais aquáticos é um exemplo de forese.

O parasitismo é o relacionamento simbiótico entre dois


organismos – o parasita, normalmente de dimensões menores. O relacionamento
pode ser permanente, como acontece com os vermes intestinais dos vertebrados,
ou temporário, como no caso das fêmeas dos mosquitos que se alimentam do
sangue dos hospedeiros.

A constituição genética do hospedeiro tem um papel importante


no estabelecimento da relação entre o parasita e o hospedeiro.

O mutualismo é a associação entre dois indivíduos em que cada


um deles depende fisiologicamente do outro.

Uma associação pode ser forese e comensalismo ou de


parasitismo e mutualismo, por exemplo, em tempos diferentes da evolução de um
organismo.

Hospedeiro. É um organismo que alberga o parasito. Exemplo: o hospedeiro do


Ascaris lumbricoides é o ser humano.

Hospedeiro Definitivo. É o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou


em fase de actividade sexual.

Hospedeiro Intermediário. É aquele que apresenta o parasito em fase larvária


ou assexuada.

Hospedeiro Paraténico ou de Transporte. É o hospedeiro intermediário no qual


o parasita não sofre desenvolvimento, mas permanece encistado até que o
hospedeiro definitivo o ingira. Exemplo: Hymenolepis nana em coleópteros.

Agente etiológico: é o causador ou responsável pela doença. Este pode ser:


bactéria, vírus, fungo, protozoário, rickéttsia, chlamydia, ectoparasito e
endoparasito.

MONOXENOS – só necessitam de um hospedeiro para


completar o seu ciclo de vida;

60 - 104
HETEROXENOS – o desenvolvimento do parasita exige a
passagem obrigatória por dois ou mais hospedeiros.

Infecção: é a penetração e desenvolvimento, ou multiplicação de um agente


infeccioso no homem ou animal, ou seja, Infecção é a invasão de tecidos
corporais de um organismo hospedeiro por parte de organismos capazes de
provocar doenças; a multiplicação destes organismos; e a reacção dos tecidos do
hospedeiro a estes organismos e às toxinas por eles produzidas

Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na


superfície do corpo. Pode-se dizer também que uma área ou local está infestado
de artrópodes e roedores.

Fonte de Infecção: é o animal vertebrado que alberga o agente etiológico e o


elimina para o meio exterior.

Reservatório: é um animal ou local que mantém um agente infeccioso na


natureza. O solo, por exemplo, pode ser reservatório, como elemento abiótico,
mantendo agentes infecciosos.

Vector: são animais, geralmente artrópodes, que transmitem o agente infeccioso


ao hospedeiro susceptível.

Vector Mecânico / Biológico


 Vectores Mecânicos
– um vector que transporta o agente patogénico sem que este
sofra alterações

– a relação tende a ser de curta duração

– é apenas considerado como um “fomite” com asas


 Vectores Biológicos
– suporta a replicação do agente patogénico

– têm uma relação biológica e ecológica de longa duração

– têm infeção persistente com o agente patogénico

– podem ser necessários no ciclo de vida do parasita.

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Fomites: para esta definição pode-se utilizar o próprio conceito de veículo
inanimado, pois são os objetos inanimados, contaminados que podem transportar
agentes infecciosos para os animais ou homem, como baldes, toalhas, seringas,
entre outros.

Portador: são os animais ou pessoas que havendo ou não manifestado os sinais


clínicos de determinada enfermidade continuam eliminando o agente por algum
tempo. Pode ser portador são, o animal que já teve ou poderá vir a ter
sintomatologia clinicamente detectável; portador em incubação é aquele que está
infectado, mas não mostra alterações; e portador convalescente, que é aquele
que embora tenha apresentado cura clínica, ainda pode eliminar o agente
infeccioso.

FLORA NORMAL OU MICROBIOTA

O corpo humano é continuamente habitado por vários microrganismos diferentes,


em sua maioria bactérias que, em condições normais e em um indivíduo sadio,
são inofensivos e podem até ser benéficos. Participando do metabolismo de
produtos alimentares, provendo factores essenciais de crescimento, protegendo
contra infecções por microrganismos altamente virulentos e estimulando a
resposta imune.

Cada sítio anatómico possui uma microbiota característica, composta por vários
gêneros e espécies de microrganismos, altamente adaptados às condições locais.
Órgãos e sistemas internos são estéreis, incluindo o baço, os brônquios, o
pâncreas, o fígado, a bexiga, o SNC e o sangue.

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MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (CONJUNTIVA)
Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (irregular )
Staphylococcus epidermidis
Streptococcus spp.(irregular)
Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp.
Cocos Gram-negativos:
Moraxella e Neisseiria spp.
Haemophillus spp. (irregular)
Bastonetes Gram-negativos:
Escherichia coli (irregular)
Proteus mirabilis (irregular)

MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (PELE)


Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus
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Staphylococcus epidermidis (predominante)
Streptococcus spp. (irregular) – S.pyogenes
Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp.
Propionibacterium acnes

MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (BOCA e FARINGE)


Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus
Staphylococcus epidermidis
Streptococcus spp.
Enterococcus spp.(irregular)
Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp.
Cocos Gram-negativos:
Neisseria ssp.
Haemophillus spp. (irregular)
Bastonetes Gram-negativos: Pseudomonas aeruginosa (irregular), Escherichia coli (irregular) e
Proteus mirabilis (irregular)

64 - 104
Composição e concentrações de espécies microbianas dominantes em diferentes
regiões do trato gastrointestinal

MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (UROGENITAL)


Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus spp.
Streptococcus spp.
Enterococcus spp.
Bacilos Gram-positivos:
Lactobacilos (proeminente)
Bacilos Gram-negativos:
Escherichia coli, Klebsiella spp. , Proteus mirabilis,
Pseudomonas aeruginosa (irregular)

65 - 104
Barreiras
fisicas, químicas e anatómicas

66 - 104
MECANISMOS DE DEFESA CONTRA A INFECÇÃO

O revestimento mucocutâneo de um organismo como homem fornece-lhe uma


barreira física e química à entrada de microrganismos. Quando estes ultrapassam
estas barreiras, mecanismos imunitários estão imediatamente disponíveis para
actuarem contra o agente infectante (imunidade inata) ao mesmo tempo que um
segundo tipo de mecanismos começa a ser posto em marcha, dependente da
acção de linfócitos que reconhecem estruturas estranhas ao organismo
(imunidade adaptativa ou adquerida).

O SISTEMA IMUNITÁRIO (SI) DOS VERTEBRADOS É CONSTITUÍDO POR:


1. Órgãos linfoides:

2. E por diferentes tipos de células

67 - 104
A imunidade depende da acção de diferentes elementos celulares (fagócitos,
células citotóxicas) ou moleculares (complemento, citocinas) que são regulados
pelos dois sistemas de imunidade, inata ou adaptativa.
Resposta imunitária - conjunto de acções de defesa e ataque executado pelo
sistema imunitário dos vertebrados contra agentes invasores potencialmente
patogénicos.
Sistema imunitário - reconhece e distingue o que é próprio do organismo (self)
do que lhe é estranho (not self).
Antígeno (Ag) - Substância estranha que induz uma resposta imune.

Anticorpo (Ac) - Proteína do soro que reage especificamente a uma substância


estranha (antígeno); são também chamados de imunoglobulinas.

Em termos evolutivos, a imunidade inata foi a primeira a surgir, abrangendo


desde plantas até mamíferos. É caracterizada pela rapidez na resposta (ocorre
em poucas horas), devido ao fato de seus componentes já estarem preparados
para combater a infecção, mesmo quando esta se encontra ausente. Além disso,
alguns constituintes da imunidade inata estão situados em locais estratégicos de
constante contato com agentes provenientes do meio externo, como a pele e
superfície das mucosas do trato respiratório, gastrointestinal e geniturinário.

Assim, a imunidade inata é composta por:

68 - 104
a) barreiras:
- pele: possui fortes junções entre as células que evitam a entrada de
microrganismos. A presença de ácidos graxos presentes no sebo e substâncias
microbicidas no suor (como a lisozima) impedem a sobrevivência de muitos
microrganismos.
- superfície das mucosas: o muco secretado por células locais é importante
no aprisionamento de microrganismos, além de possuir substâncias microbicidas.
Cílios presentes em células da traquéia auxiliam na movimentação do muco,
impedindo a adesão de agentes estranhos ao organismo. O baixo pH estomacal e
a presença de enzimas antimicrobianas na saliva também são importantes
factores de defesa.
- microbiológicas: constituída pela microbiota normal presente no intestino,
que compete por espaço e nutrientes com microrganismos patogênicos, além de
produzir substâncias antibacterianas.

b) componentes celulares: as células efectoras da imunidade inata são


representadas principalmente pelos fagócitos (neutrófilos, monócitos e
macrófagos), células dendríticas e células NK (Natural Killer). Os neutrófilos têm
meia-vida curta e possuem grânulos citoplasmáticos contendo enzimas
microbicidas importantes no processo de eliminação dos agentes infecciosos. Os
macrófagos possuem maior capacidade fagocítica e, ao contrário dos neutrófilos,
multiplicam-se e sobrevivem por mais tempo no sítio de infecção nos tecidos. As
células dendríticas, por sua vez, caracterizam-se por longas projecções de
membrana e, uma vez estimuladas, executam tanto a pinocitose quanto a
fagocitose de partículas. Também são importantes na integração da imunidade
inata com a adaptativa. As células dendríticas encontram-se nos órgãos não
linfoides, incluindo o epitélio (epiderme e mucosa) onde são denominadas células
de Langerhans. Já as células NK, são células circulantes originárias de progenitor
linfóide que actuam de maneira diferente dos fagócitos, uma vez que possuem
muitos grânulos contendo mediadores que, ao serem liberados, induzem a morte
da célula-alvo por citotoxicidade.
Células Natural killer (NK):
 São células de origem linfoide e não possuem receptores específicos para
o antigénio;

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 Actividade citolítica contra tumores e células infectadas por vírus;
 São activadas por citocinas;
 Regulam resposta inata e adaptativa através secreção citocinas
imunoreguladoras e contacto celular;

Basófilo – são ricos em grânulos, produzem IL-4 e desempenham um papel


importante na resposta imunitária contra helmintas;
Eosinófilo – libertam grânulos citotóxicos capazes de causar lesões dos tecidos.
Têm um papel importante nas infeções por helmintas;
Mastócito – reside nos tecidos é rico em grânulos e está também envolvido na
defesa contra agentes patogénicos;
c) componentes moleculares: compreendem as citocinas, quimiocinas e
as proteínas do complemento e de fase aguda.
- citocinas: são proteínas que medeiam diversas respostas celulares, como
activação, inibição, diferenciação e crescimento. Existem em grande variedade e
actuam no organismo de forma autócrina, parácrina ou endócrina, exercendo
suas funções ligando-se a receptores específicos presentes na superfície das
células.
- quimiocinas: são proteínas de baixo peso molecular com finalidade exclusiva de
recrutar leucócitos para os locais de infecção e tecidos linfóides. Como as
citocinas, também atuam via ligação a receptores específicos na superfície
celular.
- proteínas do complemento: são plasmáticas e actuam na amplificação da
fagocitose e da inflamação, além de eliminarem agentes infecciosos.

Sistema do Complemento

- intestinal
e urogenital

xa concentração no soro

C seguido do nº sequencial C1 a C9

70 - 104
B; D) – Via alternativa

mples ou complexos com actividade enzimática descritos com


barra superior. Ex. C1r2

designados com um sufixo. Ex: C3b

ados
com prefixo i. Ex: iC3; iC3b

Ex: C4-binding protein;


Factor H.

Funções do Sistema do Complemento

potenciação da fagocitose

- celular e humoral

Activação do complemento
Vias de activação
– dependente de Ac

– independente de Ac

lectinas – independente de Ac

- proteínas de fase aguda: sintetizadas no fígado, auxiliam na fagocitose e na


activação do sistema do complemento.

71 - 104
Reconhecimento de patógenos
Quando agentes infecciosos ultrapassam as barreiras epiteliais alcançando os
tecidos subjacentes, entram em contato com populações de células da imunidade
inata, como macrófagos e células dendríticas residentes. A interação dessas
células com os agentes infecciosos ocorre por intermédio dos Receptores de
Reconhecimento de Padrão (PRR, do inglês Pattern Recognition Receptors) que,
por sua vez, reconhecem os Padrões Moleculares Associados a Patógenos
(PAMP, do inglês Pathogen-Associated Molecular Pattern). Os PAMP são
estruturas comuns conservadas evolutivamente e essenciais para a sobrevivência
dos microrganismos. Como exemplo, podemos citar a flagelina (componente do
flagelo bacteriano), LPS (lipopolissacarídeo da parede de bactérias Gram-
negativas), zimosan (componente da parede celular de fungos), dsRNA (RNA
dupla fita, comum em alguns vírus), dentre outros. Os PRR podem ser
encontrados em diferentes populações celulares e estar presentes tanto na
membrana plasmática ou endossomal, como os receptores TLR (Toll-Like
Receptors), quanto no citoplasma, como os receptores RLR (RIG-1-Like
Receptors) e NLR (Nod-Like Receptors). Quando ocorre a interação PAMP-PRR,
ocorre liberação de sinais intracelulares que culminam na indução da transcrição
de genes importantes para a ativação celular ou a indução da fagocitose.
Diferentes PRR são expressos numa mesma célula, o que faz que esta tenha
capacidade de reconhecer várias classes de microrganismos.

M ECANISMOS EFECTORES: FAGOCITOSE E INFLAMAÇÃO

Para o controlo e proteção contra os agentes infecciosos, os fagócitos


primeiramente devem reconhecer os microrganismos-alvo que por sua vez, são
mortos pela fagocitose. Ademais, estas células podem amplificar a resposta
imune através da inflamação .
a) Fagocitose: é o processo que consiste na ingestão de microrganismos ou
partículas sólidas pelas células fagocíticas. Essas formam prolongamentos
citoplasmáticos que envolvem os microrganismos ou partículas sólidas,
endocitando-os, formando uma vesícula denominada fagossomo. Posteriormente,
ocorre a fusão do fagossomo com lisossomos, formando assim o fagolisossomo,
onde enzimas lisossomais e intermediários reactivos de nitrogênio (como o óxido

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nítrico (NO) e espécies reactivas de oxigênio (ROS- Reactive Oxygen Species,
como o ânion peróxido e o peróxido de hidrogênio) são produzidos para a
destruição do microrganismo.
Células derivadas dos monócitos e estabelecem-se após-maturação nos tecidos.

 Um monócito é actraído para o local da lesão por quimiocinas, produzidas


pela estimulação das células danificadas, agentes patogénicos e citocinas
libertadas pelos macrófagos;
 Após migração dos monócitos para os tecidos, eles diferenciam-se em
diferentes formas de macrófagos;
 Os macrófagos sobrevivem durante vários meses;
 Estão estrategicamente distribuídos em todos os tecidos;
 Estão equipados com um grande número de receptores (PRR) que
permitem a deteção não-específica de um grande número de
microrganismos (vírus, bactérias, protozoários, etc);
 Quando estes receptores são estimulados, os macrófagos secretam
citocinas que vão actuar nos tecidos circundantes e que levam ao
chamamento de neutrófilos e outras células;
 Quando activados tornam-se mais fagocíticos e libertam substâncias que
são tóxicas.

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Hematopoiese:é o processo de formação, desenvolvimento e maturação dos elementos do sangue

Macrófagos (funções)
 Fagocitose
• Destroem bactérias
• Fagocitam células apoptóticas
 Processamento e apresentação antigénica MHC-II e MHC-I
 Activam outras funções sistema imunológico
 Através da libertação citocinas
 Síntese componentes complemento, fatores coagulação, protéases, etc.

A fagocitose de microrganismos compreende quatro fases:


 Adesão
 Ingestão
 Morte

 Degradação

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Nem sempre o processo fagocítico é completo, isto é, uma fase pode não
conduzir obrigatoriamente à fase seguinte. Por exemplo, da aderência pode não
resultar ingestão e mesmo depois de ingerido, um microrganismo pode resistir
aos processos microbicidas e degradativos do fagócito.

b) Inflamação: Inflamação (definido na antiguidade greco-romana) – calor, rubor,


tumor (edema), dor e perda da função.
O contacto ou a introdução de um organismo estranho ao hospedeiro dá origem a
um processo inflamatório, com libertação de diversas substâncias pelas células
do sistema imunitário, nomeadamente:
Citocinas - polipéptidos produzidos por vários tipos celulares que quando
reconhecidos por outras células regulam (estimulam ou inibem) diferentes funções
celulares;
Quimiocinas - citocinas com funções quimiotáticas
Inflamação - consiste no recrutamento celular com a finalidade de amplificar a
resposta imunológica no sítio infeccioso. Quando macrófagos residentes são
activados ao reconhecerem o agente infeccioso por Receptores de

Reconhecimento de Padrão (PRR), produzem citocinas pró-inflamatórias (IL-1,


TNF e IL-6) que estimulam as células do endotélio vascular a expressarem
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moléculas de adesão (selectinas). As selectinas são reconhecidas por receptores
expressos nos leucócitos circulantes, o que promove a fraca adesão destas
células à superfície endotelial. Devido à força do fluxo sanguíneo em conjunto
com a fraca adesão, os leucócitos circulantes deslizam sobre o endotélio
(rolamento). Quimiocinas produzidas no local da infecção pelas células residentes
e por células endoteliais activadas auxiliam no recrutamento e na adesão dos
leucócitos ao endotélio, além de induzirem aumento da afinidade de ligação das
integrinas (outra classe de moléculas de adesão) expressas nos leucócitos aos
seus ligantes nas células endoteliais. Tal interação intensifica mais a adesão
destas células ao endotélio e inicia o processo de migração, no qual os leucócitos
transpassam a parede endotelial por diapedese, alcançando o sítio de infecção
nos tecidos a fim de eliminar os microrganismos.
Além do recrutamento celular, as células residentes no local infeccioso (fagócitos,
mastócitos) também produzem mediadores que aumentam o fluxo sanguíneo
(rubor e calor), causam a vasodilatação e o aumento da permeabilidade do
endotélio vascular. Consequentemente, há o acúmulo de fluídos e células
provenientes da circulação, formando o edema (inchaço). Tais alterações
teciduais causadas por estes mediadores inflamatórios sensibilizam receptores
neuronais levando à dor e, em casos mais crônicos, à perda de função do local
inflamado. Deste modo, calor, rubor, inchaço, dor e perda de função, são os sinais
clínicos da inflamação.
Além de ser crucial no recrutamento e na amplificação dos mecanismos efectores
da imunidade inata, a inflamação também é importante em outras funções, como
remoção de células e tecidos lesados, inativação de toxinas e reparo tecidual.

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1ª fase da inflamação
Produção de quimiocinas e recrutamento de neutrófilos (mais numerosos e de vida
curta)

 O tecido infectado liberta histamina (vasodilatora) e prostaglandinas


(quimiotáticas);
 Ocorre a dilatação dos vasos sanguíneos e aumenta a permeabilidade;
 Os neutrófilos são recrutados para o local de infecção e fagocitam ou
inactivam extracelularmente (NET) os microrganismos.
NET- Redes neutrofilicas extracelulares (neutrophil extracellular traps)

Após a fagocitose, maioria dos neutrófilos entra em apoptose

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Inflamação 2ª fase
Persistindo os agentes quimiotáticos ocorre o recrutamento de
monócitos/macrófagos (mais resistentes).
No caso das infecções por parasitas (helmintas) ocorre recrutamento de
eosinófilos. Ocorre a desgranulação no local de infecção (na vizinhança ou na
superfície de helmintas) que pode eventualmente causar a destruição do parasita.

Resposta imunitária adaptativa ou adquirida - LINFÓCITOS


Responsáveis pela resposta imunitária adaptativa
•Células B
•Células T
CélulasT citotóxicas(CTLs)
CélulasT auxiliadorasor “helper” (Th)
•Células de memória
1- Células B – apresentadoras de antigénio e produtoras de anticorpos (resposta
humoral).

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Fab –Fragmento que se liga ao antigénio (fragment antigen binding)
Fc – Fragmento cristalizável

2- Células T – dividem-se em células T helper (h) e células T citotóxicas (c)


As células Th estimulam outras células do SI a combater os agentes invasores

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As células Tc libertam enzimas que promovem a destruição dos agentes
patogénicos.

FACTORES DE VIRULÊNCIA MICROBIANOS E


ESTRATÉGIAS DE ESCAPE AOS MECANISMOS DE
DEFESA DO HOSPEDEIRO

Virulência. É a severidade e rapidez com que um agente infeccioso provoca


lesões no hospedeiro. Ex.: a E. histolytica pode provocar lesões severas,
rapidamente.

Um exemplo de factor de virulência de destacar é constituído pelo conjunto de


toxinas bacterianas.

Factores de virulência

• Adesinas
• Endotoxinas LPS
• Enzimas: fosfolipase, leucocidina
• Alginato
• Sideróferos
Os microorganismos patogénicos evoluíram com aquisição de estratégias de
escape aos mecanismos imunitários presentes nos seus hospedeiros potenciais.
Entre as estratégias podem-se salientar o mecanismo de evasão ao complemento
e à fagocitose, as estratégias de adaptação à sobrevivência intracelular,
nomeadamente em células fagocíticas, a capacidade de modular a resposta
adaptativa celular ou humoral ou de escapar à sua detecção.

Síntese de moléculas com funcionalidade idêntica às da resposta


imunitária;

Aquisição de componentes do hospedeiro (MHC, grupos


sanguíneos ABO, Igs séricas, receptores C1q) e incorporação na superfície
tegumentar. A mimetização de proteínas do hospedeiro pelo parasita; as duas
proteínas (humana e do parasita) ficam muito semelhantes, fazendo com que o
fármaco e o sistema imune deixem de conseguir actuar no parasita.

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Variação antigénica acelerada da membrana

Por ex. o S. mansoni, apresenta alguns mecanismos de “escape” contra o sistema


imunológico do hospedeiro dentre os quais alterações morfológicas e
bioquímicas.

Os microrganismos patogénicos tendem a escapar a imunidade inata quanto à


adaptativa de formas a sobreviverem e se multiplicarem.

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA INFECÇÃO

O hospedeiro é diferencialmente susceptível a agentes infecciosos, conhecendo-


se, hoje, muitos genes que afectam a resistência natural à infecção e muitos
factores ambientais que promovem a susceptibilidade à infecção.

Depois de ter lugar, a infecção pode levar a múltiplas consequências no


hospedeiro. E, por vezes, as próprias reacções do hospedeiro para tentar
aniquilar o parasita induzem patologia, o que se denomina de imunopatologia –
por ex. Schistosoma mansoni

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Os microrganismos podem lesar os tecidos do hospedeiro directamente, por
acção de toxinas, ou indirectamente ao induzirem respostas inflamatórias ou
imunológicas exacerbadas.

A infecção tem também um papel no desenvolvimento de doenças diversas como


as doenças auto-imunes, a neoplasia e a doença coronária.

Factores genéticos que determinam a susceptibilidade à infecção

A susceptibilidade a um determinado agente infeccioso depende de


determinantes genéticos e factores ambientais, nutricionais e imunológicos.
Factores genéticos controlam essa susceptibilidade à infecção e são mais
facilmente detectáveis quando se compara a incidência de um tipo de infecção
entre grupos étnicos distintos, dentro de famílias.

Frequentemente, a susceptibilidade de uma dada população reflecte a história da


interacção do microrganismo e do hospedeiro, no passado.

Nem sempre uma mutação promove a susceptibilidade à infecção. Indivíduos com


anemia falciforme, talassemia ou deficiência na desidrogenase daglicose-6-fosfato
são mais resistentes à malária.

Na anemia falciforme, uma deficiência genética com alterações na estrutura da


hemoglobina, há uma maior resistência à infecção dos eritrócitos pelos
plasmódios. Tal efeito é tão marcado que a incidência deste tipo de doença
hematológica está aumentada nos locais em que a malária é endémica por
seleção positiva dos indivíduos afectados.

A heterogeneidade genética de uma população parece, no entanto, ser importante


para a sua sobrevivência a longo prazo.

Factores ambientais que afectam a resistência à infecção

A maior causa de infecções está ligada à insuficiência de condições higiénicas e


sanitárias. A promoção destas condições, por si só, é atitude mais eficaz para o
controlo das doenças infecciosas.

Factores constitucionais susceptibilidade à infecção

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A desnutrição é um dos factores que mais dispõem à infecção, em especial a
carência proteica. Avitaminoses são também importantes factores promotores de
susceptibilidade à infecção.

A idade do individuo é um dos aspectos centrais. A maturidade do sistema


imunológico atinge-se apenas nos primeiros anos de vida e o envelhecimento leva
a uma queda progressiva de algumas funções do sistema imunológico com o
consequente aumento da susceptibilidade à infecções. Também ao longo da vida,
um indivíduo contacta um número progressivamente crescente de
microrganismos, tornando-se imune a muitos deles. Há diferenças na resistência
à infecção entre dois sexos, devidas em grande parte a diferenças hormonais.
Alterações hormonais nomeadamente associadas a stresse físico e/ou
psicológico, doenças primárias diversas (silicose, diabetes, anemias, alcoolismo e
outras toxicopatias), alterações induzidas pelo tabagismo e poluição ambiental,
todas podem afectar a capacidade de um hospedeiro controlar a multiplicação
microbiológica e prevenir o desenvolvimento de doenças infecciosas.

VACINAÇÃO

A eficácia do sistema imunológico pode variar conforme organismo é exposto a


condições variadas. As vacinas são a situação mais clara de modulação da
actividade do sistema imunológico que permitem um aumento na sua eficácia.

As vacinas têm a propriedade de imunizar o organismo contra uma doença


infecciosa. Pode ser preparada a partir de microrganismos mortos ou inactivos
(vacina inactivada), ou a partir de microrganismos vivos, mas atenuados pelo
formol ou outra substância ou calor (vacina atenuada).

Actualmente são utilizados os seguintes tipos de vacina: vivas atenuadas,


inactivadas, combinadas e conjugadas.

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FUNGOS

Micologia define-se como ciência que estuda os fungos.

Os fungos são organismos eucarióticos, heterotróficos, que se nutrem por


absorção e se reproduzem por esporos. São seres ubiquitários que
desempenham um papel importante na vida do Homem, quer de maneira
benéfica, quer de modo prejudicial. São responsáveis pela decomposição de
matéria orgânica, são capazes de deteriorar produtos e bens de consumo como
alimentos, tecidos, cabedais, metais, e madeira.

Encontram-se descritas cerca 100000 espécies de fungos, sendo a maioria


saprófitas. A classificação dos fungos não é complexa.

Nas últimas duas décadas, os fungos emergiram como causa de infecções


humanas graves, em especial entre indivíduos imunocomprometidos e
hospitalizados.

ALGUNS FUNGOS COM INTERESSE EM MEDICINA HUMANA


FUNGO DOENÇA
Candida albicans Candidose (Candidíase)
Cryptococcus neoformans Criptococose
Aspergillus fumigatus Aspergilose
Histoplasma capsulatum Histoplasmose
Sporothrix schenckii Esporotricose
Malassezia furfur Pitiríase versicolor
Rhizopus oryzae Zigomicose

Os fungos são usados em numerosos processos industriais de fermentação,


como sejam o fabrico de pão, cervejas, vinhos e determinados tipos de queijos.
São usados na produção comercial de muitos ácidos orgânicos, de alguns
fármacos, como a ergometrina e a cortisona, na obtenção de diferentes
antibióticos, de que são exemplos a penicilina e a griseofulvina, e de substâncias
imunossupressoras, como a ciclosporina.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FUNGOS

Os fungos são células eucarióticas, químio-heterotróficas, que se reproduzem por


esporos. Neles estão incluídos organismos de forma e dimensões muito variadas,
conhecidos correntemente como leveduras, bolores, mofo, morrão e cogumelos.

Os fungos podem ser unicelulares ou leveduriformes (leveduras) e, a maioria


filamentosos.

Nos fungos filamentosos, a matriz citoplasmática pode ser interrompida


regularmente por septos que dividem as hifas em compartimentos ou “células”, as
hifas septadas ou “pluricelulares”.

As hifas sem septos, em que a matriz citoplasmática é contínua, são


multinucleadas e denominas hifas asseptadas ou cenóticas.

Os fungos reproduzem-se através de esporos sexuados (reprodução sexuada) e


assexuada (reprodução assexuada).

ALIMENTAÇÃO DOS FUNGOS


Diferentemente das plantas, os organismos do Reino Fungi não possuem
clorofila, nem celulose e, com isso, não sintetizam seu próprio alimento. Eles
liberam uma enzima chamada de exoenzima, que os auxiliam na digestão dos
alimentos.
De acordo com o tipo de alimentação, os fungos são classificados em:
 Fungos Saprófagos: Obtêm alimentos decompondo organismos mortos;
 Fungos Parasitas: Alimentam-se de substâncias de organismos vivos;
 Fungos Predadores: Alimentam-se de pequenos animais que capturam.

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MICOSES
Micose é o nome genérico dado a várias infecções causadas por fungos. Existem
cerca de 230 mil tipos de fungos, mas apenas 100 tipos aproximadamente que
causam infecção.
Visto que os fungos estão em toda a parte, é inevitável a exposição a eles. Em
condições favoráveis (como ambientes com muita humidade e calor excessivo),
os fungos reproduzem-se e podem dar origem a um processo infeccioso que,
dependendo do fungo ou da região afectada, pode ser superficial ou profundo.
 São infecções acidentais
 Fungos são naturalmente decompositores
 Tratamento com fármacos é eficaz
Exemplos de Micoses
 Frieira (“pé-de-atleta”) - micose superficial
 Cromoblastomicose - micose subcutânea
 Pneumonia fúngica - micose sistêmica
 Candidíase - micose sistêmica

O diagnóstico de infecções fúngicas depende de uma combinação de


observações clínicas e laboratoriais. Ainda que algumas lesões superficiais ou
subcutâneas possam auxiliar no processo diagnóstico, muitas vezes o
diagnóstico laboratorial é necessário quando diferentes microrganismos
podem causar quadros clínicos similares ou ainda quando a aparência das
lesões se torna atípica devido a tratamentos prévios. no caso de micoses
sistêmicas, a apresentação clínica muitas vezes não é específica e pode ser
causada por um grande número de patógenos diferentes. Nestes casos, o
diagnóstico definitivo é baseado quase que inteiramente nos resultados da
investigação laboratorial.

O diagnóstico laboratorial de micoses baseia-se no exame directo da amostra


infectada através de análise microscópica, no isolamento do fungo após
crescimento em meios de cultura apropriados para que as características
morfológicas da colônia possam ser avaliadas, em provas imunológicas de reação

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antígeno-anticorpo e também por meio de provas bioquímicas como as de
assimilação de açúcares.

O exame direto pode ser realizado em qualquer material infectado como pelos,
cabelos, unhas, exsudatos diversos, escarro, urina, fezes, sangue, líquor, medula
óssea, fragmentos de tecidos, entre outros. O exame microscópico pode ser
realizado a fresco, sem fixação, entre lâmina e lamínula e, em materiais mais
densos como pelos, unha, tecido de biópsias e exsudatos espessos, a amostra
biológica pode ser clarificada com uma solução de hidróxido de potássio (KOH)
ou ‘potassa’ entre 10-40%. Em amostras de líquor, urina, secreções ou
exsudatos, o exame microscópico é realizado com tinta-da-China (tinta nanquim
ou solução aquosa de nigrosina) para visualização de leveduras capsuladas do
gênero Cryptococcus, que se tornam mais evidentes contra o fundo negro
proporcionado pela tinta. O material também pode ser fixado na lâmina e corado
pelo método de Gram com o objetivo de diferenciar elementos fúngicos (todos os
fungos são Gram-positivos) de artefatos existentes na urina, secreções e fezes.
Coloração panótica (Giemsa, Leishman ou Wright) também pode ser utilizada
para pesquisa de Histoplasma capsulatum em diversas amostras biológicas como
medula óssea, sangue, aspirados e secreção cutânea.

O exame micológico directo é considerado o meio mais rápido e de menor custo


para o diagnóstico de infecções fúngicas, porém, o exame direto é menos
sensível e específico do que a cultura, ao passo que, o isolamento em cultura
permite a identificação da maioria dos fungos patogênicos.

VÍRUS

Os vírus são genericamente constituídos por ácido nucleico (RNA ou DNA) e


proteínas. As proteínas formam uma estrutura, de morfologia diversa, mais ou
menos complexa, que protege o genoma viral a que se dá o nome de cápside
viral.

A uma partícula viral infecciosa completa, composta, nos casos mais simples, por
um genoma de RNA ou DNA e uma cápside proteica, dá-se o nome de virião.

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MORFOLOGIA DOS VÍRUS

Em termos de morfológicos, os vírus são muito diversos, tendo dimensões e


formas muito variáveis. Relativamente ao tamanho, os vírus têm maioritariamente
dimensões compreendidas entre 20 e 400 nm, havendo, no entanto, algumas
notáveis excepções: inovírus (760-1950 nm), vírus Ébola (até 970 nm) por
exemplo.

Á composição básica descrita são muito frequentemente adicionadas outras


estruturas, como nucleocápsides e invólucros virais.

Os vírus sem invólucro são denominados vírus nus. Os vírus nus têm
normalmente uma estrutura mais rígida do que os vírus com invólucro.

Classificação

A classificação dos vírus constitui um caso particular da sistemática, não sendo


seres vivos como tal.

Com a evolução dos conhecimentos, especialmente sobre a estrutura viral e os


detalhes moleculares do ciclo replicativo dos vírus, foi adoptado um esquema
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hierárquico de classificação, análogo à taxinomia Lineana, que permite a
distribuição dos diferentes vírus por quatro unidades taxonómicas principais:
espécie, género, família e ordem.

Grupos de espécies de vírus que partilham características comuns são agrupadas


em géneros, sendo estes identificados pelo sufixo –virus. Os géneros são
agrupados em famílias, reconhecidas pelo sufixo –viridae.

Os principais critérios a utilizar actualmente na classificação de vírus são:

 Tipo e estrutura do genoma;


 Estrutura do virião e sua composição bioquímica;
 Tipo de hospedeiro;
 Estratégia replicativa.

Replicação

Os vírus se replicam no interior das células, utilizando para tal a maquinaria


biossintética celular, dando origem a partículas independentes especializadas,
inertes, na sua fase extracelular , mas que podem transferir o genoma viral para
outras células vivas.

PARASITAS

Podemos considerar como parasitas obrigatórios os organismos incapazes de


sobreviver isolados do seu hospedeiro e como parasitas facultativos os que são
essencialmente de vida livre, mas que podem tornar-se parasitas em
determinadas situações.

O parasita é, por definição, um organismo que prejudica de alguma maneira o


seu hospedeiro.

Pode-se ter vários tipos de parasitas: Endoparasita - O que vive dentro do


corpo do hospedeiro.
Exemplo: Ancylostoma duodenale. Ectoparasita - O que vive externamente ao
corpo do hospedeiro. Exemplo: Pediculus humanus (piolho).

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Muitos parasitas completam seu ciclo num único hospedeiro, ciclo monoxénico ou
monogénico, enquanto outros apresentam ciclos de vida complexos passando por
dois ou mais hospedeiros, ciclos heteroxénicos ou digénicos.

Vias de transmissão
A transmissão de um parasita de um individuo para o outro pode ser efectuada
por contacto físico directo ou por ingestão de formas de resistência (cistos ou
oocistos nos protozoários, ovos ou larvas enquistadas nos helmintas), que
sobrevivem em condições adversas, durante um período variável de tempo.
Classificação dos parasitas
A Parasitologia estuda os parasitas e o relacionamento com os seus hospedeiros.
Ainda que muitas bactérias, vírus e fungos possam ser considerados como
parasitas no sentido lato da palavra, a Parasitologia inclui apenas o estudo de
eucariotas.

Os parasitas do homem e da maioria dos animais estão distribuídos


essencialmente pelo reino Protista, subreino Protozoa (Protozoários) e pelo reino
Animalia: Helmintas e Artrópodes. Também no reino Animalia, os Moluscos são
hospedeiros intermediários de parasitas com grande importância em saúde
humana.

No campo da Parasitologia, considera-se em sentido amplo (lato senso);


fazendo parte, todos os vírus, algumas espécies de: Bactérias, Fungos,
Protozoários, Platelmintos, Nematelmintos, Artrópodes e de Algas microscópicas.
Ao passo que no sentido estrito (estrito senso); Onde por razões convencionais
são alocados somente algumas espécies de: Protozoários, Helmintos e
Artrópodes compreendendo também em algumas instituições de ensino o estudo
dos Fungos parasitas.
Os helmintos são responsáveis pelas helmintoses, e dividem-se em dois
filos de interesse: platelmintos (trematodo e cestodo) e nematelmintos. As
helmintoses ou verminoses intestinais são responsáveis por: desnutrição,
avitaminoses, distúrbios gástricos e intestinais, estados convulsivos, prejuízos ao
desenvolvimento físico e mental das crianças e outros.

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METAZOÁRIO (HELMINTOS)
FILO CLASSE ESPÉCIES
PREVALENTE
Tremátode Shistosoma mansoni
S. haematobium

Platelminte
Taenia solium
Taenia saginata
Céstode Hymenolepis nana
Hymenolepis diminuta
Nemátode Strongyloides stercoralis
Ascaris lumbricoides
Nematelminte Ancylostoma duodenale
Enterobius vermicularis
Trichuris trichiura
PROTOZOÁRIOS

Os protozoários englobam todos os organismos protistas, eucariotas,


constituídos por uma única célula. Apresentam as mais variadas formas,
processos de alimentação, locomoção e reprodução. É uma única célula que,
para sobreviver, realiza todas as funções mantenedoras da vida: alimentação,
respiração, reprodução, excreção e locomoção.

- Para os protozoários patológicos intestinais, incluem as Entamoeba


histolytica, os flagelados (Giardia lambria), e os ciliados (Balantidium coli).
Mas, pose-se mencionar também Cryptosporidium, Cyclospora caetanensis
Isospora belli.
- Para os protozoários patológicos sanguíneos, incluem:
 Plasmodium spp. – são protozoários parasitas que causam a malária;
Transmitida por mosquitos Anopheles. 5 espécies podem infectar os
humanos – P. falciparum, P. vivax, P.malariae, P. ovale, P. knowlesi;
 Babesiae Theileria: parasitas transmitidos por carraças;
 Leishmania
 Toxoplasma gondii – protozoário que causa a toxoplasmose;

- Para os protozoários patológicos urogenital, incluem as Trichomonas


vaginalis;

91 - 104
HELMINTAS

 Metazoários (“vermes”) típicamente parasitas de vertebrados. Os


artrópodes e moluscos – actuam como hospedeiros intermediários;
 80% das Doenças Tropicais Negligenciadas;
 Transmissão hídrica /vectorial/solo
 Elevada morbilidade
 Co-endemicidade
 Populações mais desfavorecidas
 Países em vias de desenvolvimento
 Dimensões variam de alguns mm a vários metros;

Diphyllobothrium - 20 m

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Helmintos ou vermes são animais metazoários muitos dos quais parasitos que
vivem em várias partes do corpo humano. Os helmintos dividem-se em dois
grandes grupos, morfologicamente diferentes: os Nematelmintes, que são
vermes de corpo cilíndricos, e os Platelmintes, que são vermes de corpo
achatado. Estes últimos, subdividem-se em dois grandes grupos, também de
acordo com a morfologia: Tremátodes, ou vermes de corpo achatado providos de
ventosas ventrais e bucais e Céstodes, vermes de corpo achatado e
multissegmentado. Os helmintos podem multiplicar-se dentro ou fora do corpo do
hospedeiro. Isso depende do ciclo vital específico de cada parasita. Os que
parasitam o intestino do homem quase nunca produzem por si sós a morte do
hospedeiro. Trazem, no entanto, malefícios ao organismo parasitado, muitas
vezes debilitando-o perigosamente.

NEMÁTODES
 Helmintas com o corpo não segmentado e filiforme (a maioria);
 Com aparelho digestivo completo: uma abertura bucal na extremidade
anterior do corpo e ânus na parte ventral e próximo da ext. posterior;
 Sexos separados (dióicos).

Ascaris lumbricoides

NEMÁTODES INTESTINAIS
 Ascaris lumbricoides
 Trichuris trichiura
 Ancylostoma duodenale
 Necator americanus
 Strongyloides stercoralis
 Enterobius vermicularis

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 Anisakis sp
 Trichinella spiralis

NEMÁTODES LINFÁTICOS, CAVIDADE SEROSA E TISSULARES


Filárias – Patogénicas
• Wuchereria bancrofti
• Brugia malayi
• Brugia timori
• Onchocerca volvulus
• Loa loa

Não patogénicas ou patogenicidade reduzida

• Mansonella (Dipetalonema ) perstans


• Mansonella (Dipetalonema) streptocerca
• Mansonella ozzardi

Filárias – classificação segundo topografia dos vermes adultos

Filárias linfáticas (sistema linfático)


• Wuchereria bancrofti
• Brugia malayi
• Brugia timori
Filárias cutâneo-dérmicas (tecido conjuntivo subcutâneo)
• Loa loa
• Onchocerca volvulus
• Mansonella streptocerca
Filárias das serosas (tecido conjuntivo sub-seroso/cavidades serosas)
• Mansonella perstans
• Mansonella ozzardi

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Filariose Linfática - Manifestações crónicas

Elefantíase - Lesões irreversíveis

SÍNDROMES DE LARVA MIGRANS (SLM) – manifestações resultantes da


penetração e migração de larvas de nemátodes, em geral de animais, no
organismo humano mas não conseguem completar a sua evolução

TREMÁTODES
 Corpo achatado, em forma de folha e não segmentado, com dimensões
variando de alguns milímetros a vários centímetros;
 possuem duas ventosas, uma na extremidade anterior – ventosa oral – e
outra posterior situada ventralmente – ventosa ventral. As ventosas são
órgãos de fixação;
 a maioria é hermafrodita, com excepção do género Schistosoma, que
são unissexuados;
 com vários estadios larvares em um (ou mais) hospedeiros intermediários,
sendo o primeiro um molusco.

Schistosoma Fasciola hepatica


95 - 104
Schistosoma spp.
FILO: Platyhelminthes
CLASSE: Digenea
ORDEM: Strigeatida
FAMÍLIA: Schistosomatidae
GÉNERO: Schistosoma

Espécies:

S. haematobium – África e Médio Oriente

S. mansoni – África, Médio Oriente, América Central e Sul

S. intercalatum – África central

S. japonicum – Sudeste asiático

S. mekongi – Bacia do Mekong (Ásia)

Tremátodes intestinais: Heterophyes heterophyes, Metagonimus yokogawai,


Gastrodiscoides hominis.

Tremátodes biliares: Fasciola gigântica, Dicrocoelium dendriticum, Clonorchis


sinensis Opistorchis fileneus, Opistorchis viverrini, Fasciola hepática, Fasciola
gigântica, Dicrocoelium dendriticum, Clonorchis sinensis.

Schistosomose vesical ou urinária: Schistosoma haematobium

Schistosomose intestinal: Schistosoma. mansoni, S. japonicum, S. intercalatum,


S. mekongi

Tremátodes Pulmonares: Paragonimus westermani.

CÉSTODES
 Com o corpo geralmente em forma de fita, dividido em segmentos (anéis,
proglotes) em número variável, podendo medir alguns milímetros ou vários
metros;
 órgão de fixação – escólex - com ventosas e/ou ganchos

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CESTODES INTESTINAIS
Céstodes Cyclophyllidae
Taenia solium e Taenia saginata
Hymenolepis nana e Hymenolepis diminuta
Dipylidium caninum
Céstodes Pseudophyllidae
Diphyllobothrium latum
Modo de transmissão:
Carne (Taenia sp) ou peixe (Diphyllobotrhium sp) mal cozidos, alimentos
contaminados com ovos (T. solium, E. granulosus e H. nana) ou cisticercoides
(Hymenolepis sp)
Ingestão de insectos: pulgas (Dipylidium caninum), gorgulhos da farinha
(Hymenolepis nana)
Controlo: matar parasitas na carne (cozedura) ou peixe (cozedura e
congelamento) medidas de higiene;
Tratamento de animais de companhia e de carne.

CESTODES TISSULARES
Ordem Cyclophyllidea
– FamíliaTaenidae
• Taeniasolium

• Echinococcusgranulosus

• Echinococcusmultilocularis

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• Taeniamulticeps
– Família Hymenolepidae
•Hymenolepis nana
Ordem Pseudophyllidea
– Família Diphyllobothriidae
• Spirometraspp

PROTOZOÁRIOS

Protozoários são microorganismos cuja classificação é feita com base nas


estruturas de locomoção que eles apresentam e devido a isso foram agrupados
no Reino Protista junto às algas unicelulares crisófitos, euglenófitas e pirrófitas de
acordo com suas semelhanças mais evidentes. Todos são seres eucariontes ou
seja, possuem núcleo celular organizado dentro de uma carioteca, a maioria são
heterotróficos, embora alguns sejam autotróficos produzem clorofila e com ela
fazem a fotossíntese e assim conseguem produzir seus próprios alimentos. A
locomoção desses micro-organismos no meio aquático é feita através do
batimento de cílios os (Ciliados) ou batimento de flagelos nos (Flagelados) que
são estruturas mais adaptadas para a natação; outros protozoários os
(Rizópodes) rastejam com movimento ameboide um tipo de locomoção onde os
micro-organismos vão mudando a forma do seu corpo pela emissão de
pseudópodes (do grego, "pseudo", em português falso ou falsos) e (do grego
"podo", em português pé ou pés) portanto literalmente "pseudópodes" significam
"falsos pés"; outros protozoários não possuem organelos locomotoras nem
vacúolos contrácteis são os chamados (Esporozoários), microrganismos parasitas
que se disseminam pelo ambiente através da produção de muitos esporos que
são levados pela água, pelo ar ou são levados através de animais vectores
(moscas, mosquitos, carraças etc.) que se contaminam com esses protozoários
patogénicos, ficam doentes e transmitem essas doenças para outros animais. Os
protozoários englobam todos os organismos protistas, eucariotas, constituídos por
uma única célula. Apresentam as mais variadas formas, processos de
alimentação, locomoção e reprodução. É uma única célula que, para sobreviver,
realiza todas as funções mantenedoras da vida: alimentação, respiração,
reprodução, excreção e locomoção.

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INFECÇÕES NOSOCOMIAIS

Infecções nosocomiais, também chamadas infecções hospitalares, são infecções


adquiridas durante o internamento que não estavam presentes ou em incubação à
data da admissão. Infecções que ocorrem mais de 48 horas após a admissão são,
geralmente, consideradas nosocomiais.

Contaminação. É a presença de um agente infeccioso na superfície do corpo,


roupas, brinquedos, água, leite, alimentos etc.

Fomite. É representado por utensílios que podem veicular o parasita entre


hospedeiros. Por exemplo: roupas, seringas, espéculos etc.

Fonte de Infecção. "É a pessoa, coisa ou substância da qual um agente


infeccioso passa directamente a um hospedeiro. Esta fonte de infecção pode
estar situada em qualquer ponto da cadeia de transmissão. Exemplos: água
contaminada (febre tifóide), mosquito infectante (malária), carne com cisticercos
(teníase).

Infestação. É o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na


superfície do corpo ou vestes. (Pode-se dizer também que uma área ou local está
infestado de artrópodes.)

Infecção. Penetração e desenvolvimento, ou multiplicação, de um agente


infeccioso dentro do organismo de humanos ou animais (inclusive vírus, bactérias,
protozoários e helmintos).

Parasitismo. É a associação entre seres vivos, em que existe unilateralidade de


benefícios, sendo um dos associados prejudicados pela associação. Desse modo,
o parasita é o agressor, o hospedeiro é o que alberga o parasita.
Podemos ter vários tipos de parasitas: Endoparasita - O que vive dentro do corpo
do hospedeiro.
Exemplo: Ancylostoma duodenale. Ectoparasita - O que vive externamente ao
corpo do hospedeiro. Exemplo: Pediculus humanus (piolho).

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Hiperparasita - O que parasita outro parasita. Exemplo: E. histolytica sendo
parasitado por fungos (Sphoerita endogena) ou mesmo por cocobacilos.

Epidemiologia das infecções nosocomiais

Estudos em todo o mundo documentam a infecção nosocomial como uma causa


maior de morbilidade e mortalidade. Uma taxa elevada de infecções nosocomiais
evidencia uma má qualidade na prestação de cuidados de saúde e leva a gastos
evitáveis.

Vários factores contribuem para a frequência de infecções nosocomiais: os


doentes internados estão frequentemente imunodeprimidos, são submetidos a
exames e terapêuticas invasivas e as práticas de prestação de cuidados aos
doentes, assim como o ambiente hospitalar podem facilitar a transmissão de
microrganismos entre os doentes.

Susceptibilidade dos doentes à infecção


 Condições clínicas
 imunidade
 estado geral
 acidentes
 cirurgia

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 terapêutica
 Procedimentos médicos
 cirurgia e cateterismo
 radioterapia
 tratamento com agentes imunosupressores
 SIDA

Alguns critérios para a vigilância de infecções nosocomiais

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ARTROPOLOGIA

O maior Filo do Reino Animal é o Filo Arthropoda e inclui os animais que se


caracterizam por terem um exoesqueleto quitinoso. O corpo é segmentado e
vários pares de apêndices articulados.

As cinco principais classes do Filo Arthropoda são: Insecta, Crustacea, Arachnida,


Diplopoda e Chilopoda.

Artrópodes:
 Metazoários invertebrados,
 Simetria bilateral,
 Corpo segmentado,
 Exosqueleto quitinoso rígido,
 Apêndices pares articulados,
Arthro= articulação, Podos= pés

Os artrópodes com interesse em Medicina por serem:


 Vetores de agentes patogénicos para o ser humano/animal;
 Causadores, ou agentes de incomodidade;
 Agentes de doença, actuando como:
 ecto ou endoparasitas
 hematófagos ou não

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Artrópodes como agentes patogénicos - agentes de doença
O agente patogénico pode ser o próprio artrópode:
Invasão de tecidos superficiais ou profundos, sem ou com infecção bacteriana
secundária.

O agente patogénico pode ser o próprio artrópode:


 Inoculação de venenos;
 Contacto com substâncias cáusticas das defesas químicas do artrópode:
-Escorpiões
-Aranhas
-Centopeias
-Himenópteros
-Coleópteros
-Lepidópteros

Artrópodes agentes de incomodidade


 Agentes de incomodidade: tavões, moscas, mosquitos…..
 Agentes de incomodidade e espoliação sanguínea: percevejos…

Tabanídeo – tavão Culicídeo -mosquito

Cimicídeos -percevejos

Situações em que o artrópode é transmissor de um agente patogénico (parasitas,


bactérias, vírus): O artrópode veícula agentes patogénicos de um hospedeiro para
outro, quer directa, quer indirectamente.

Vectores Biológicos:
 Suportam a replicação dos agentes patogénicos,

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 Têm uma relação biológica e ecológica de longa duração,
 Têm infecções persistentes com os agentes patogénicos,
 Podem ser necessários nos ciclos de vida dos parasitas

Vectores Mecânicos (Ex. Transmissão Mecânica de Vírus, Bactérias e


Quistos de Parasitas pelas Moscas):
 Vector que transporta o agente patogénico sem que este sofra alterações,
 A relação tende a ser de curta duração

Referências bibliográficas

FERREIRA, W. F.; DE SOUSA, C. J. C. F. LIMA, N. Microbiologia. Lisboa: Lidel.


2010. ISBN 9789727575152 | 640 págs.

Neves, D. P. Parasitologia Humana. 11ª edição. São Paulo, p: 494, 2005

TORTORA, GERARD J., CHRISTINE L. CASE, AND BERDELL R. FUNKE.


Microbiologia -10ª Edição. Artmed Editora, 2012.

VIEIRA, D. A. DE PAULA & QUEIROZ, N. C. DE ASSUNÇÃO. Microbiologia


Geral - Inhumas: IFG; Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2012.
100 p.
ABBAS,A.K.; LICHTMAN,A.H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. Rio de
Janeiro: Elsevier. 2011.

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