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Mas quais foram as condicionantes históricas que contribuíram para tais mu-
danças no âmbito da educação portuguesa?
3 Estudos preparatórios para as artes liberais: Direito, Medicina e Engenharia.
Em primeiro lugar há de se dizer que o reino de Portugal passava por
uma crise econômica. Na colônia americana, por exemplo, o ciclo econômico da
mineração, iniciado no final do século XVII, já começava a emitir sinais de es-
gotamento. Não havia ouro das Minas Gerais que bastasse para dar conta dos
gastos suntuosos feitos pela Coroa, ou seja, dispêndios elevados com cons-
truções de igrejas, conventos, palácios e com a manutenção de uma estrutura
burocrática parasitária que não parava de crescer. Em síntese: havia uma crise
econômica instalada no sistema colonial lusitano. Além disso, o próprio regime
político do Padroado, união orgânica entre o Estado e a Igreja Católica, havia
entrado numa nova fase desde a restauração da Coroa portuguesa em 1640, ou
seja, desde o fim da União Ibérica.4 Portanto, durante o período de 1640 a 1759,
a Companhia de Jesus passou a exercer um papel proeminente nas tomadas
de decisões políticas implementadas pela Coroa portuguesa. Nesse sentido, um
exemplo ilustrativo da influência que os jesuítas assumiram no âmbito da Corte
foi o papel de conselheiro político desempenhado pelo padre Antonio Vieira du-
rante o reinado de D. João IV (1640-1656). A Companhia de Jesus era, na prática,
um poder paralelo dentro do próprio governo imperial português. Isso não ocorria
exclusivamente do ponto de vista político, mas do econômico também. No caso
do Brasil, ela havia amealhado, desde 1549 (portanto, durante 210 anos), um di-
versificado e opulento patrimônio em propriedades produtivas, de cana-de-açúcar
e gado, e não produtivas, como os aluguéis de imóveis. Para se ter uma ideia,
em 1759 a Companhia de Jesus já era proprietária de mais de 350 fazendas. Em
suma, no contexto histórico do Império português, os jesuítas, em aliança com
a nobreza lusitana, possuíam mais poderes para tomar decisões políticas que o
próprio rei, que detinha a função efetiva de governante absoluto.
5 No contexto colonial, as aulas régias eram atividades de ensino das disciplinas de hu-
manidades financiadas diretamente pelo erário do Estado monárquico português. Em
épocas anteriores, encontramos experiências semelhantes às aulas régias instituídas
pelas reformas pombalinas, por exemplo: quando o imperador Vespaziano instituiu, du-
rante o século I d.C., os salários dos mestres das cátedras de retórica ou as aulas dou-
tas de artes liberais ministradas, a partir do século XII, pelos mestres livres (vagantes
ou goliardos). Essas aulas, que estão associadas ao aparecimento das universidades
medievais, também contaram com subvenções pecuniárias papal e imperial.
jesuíticos no nível do ensino secundário continuaram estruturadas nas seguintes
disciplinas: gramática latina, gramática grega e teórica. Ou seja, as aulas régias
eram estudos de “letras humanas”. Desse modo, as reformas pombalinas do ensino
não contemplaram as áreas dos conhecimentos inerentes à história natural, isto é,
as ciências da natureza fundadas no princípio da experiência empírica e que se
constituíam, por sua vez, no primado fundamental da razão burguesa (iluminista).
Pelo Alvará Régio de 1759, a estrutura da educação pós-jesuítica assumiu a se-
guinte configuração:
Outro aspecto das reformas pombalinas dos estudos menores estava re-
lacionado com a questão dos mestres das aulas régias. A expulsão dos jesuítas
significou também, em última instância, a saída dos próprios professores que a
Companhia de Jesus mantinha nos seus colégios coloniais. Assim, restou apenas
o clero das outras Ordens que apostolavam no Brasil, os chamados padres-mestres,
ou aqueles indivíduos agregados à aristocracia agrária (senhores de terras e es-
cravos) que haviam sido educados nos colégios jesuíticos, já que estes últimos
compunham, no contexto colonial, os únicos egressos das instituições escolares
até então existentes. Portanto, torna-se factível levantar a hipótese de que os
mestres das aulas régias continuaram ensinando os mesmos conhecimentos her-
dados dos próprios jesuítas. Dito de outra forma: pelo fato de que as reformas pom-
balinas não dispuseram de uma política de formação de professores que pudesse
substituir os padres da Companhia de Jesus no ofício docente das aulas régias, a
essência da educação colonial continuou sendo aquela de antes de 1759, ou seja,
a hegemonia de 210 anos exercida pela Companhia de Jesus havia acabado,
mas a natureza pedagógica da educação colonial continuava a mesma.