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AULA 3

CONTROLADORIA

Profª Edicreia Andrade dos Santos


CONVERSA INICIAL

Para começar, o primeiro passo desta aula é conhecer alguns dos


principais aspectos da contabilidade geral. Você sabe qual é o seu objeto? Vimos
anteriormente que a contabilidade é uma ciência social que possui como objeto o
controle do patrimônio da empresa. Ela forma um sistema de informações com o
intuito de fornecer informações para os seus usuários, no que tange aos aspectos
econômicos, financeiros e patrimoniais.
As informações econômicas correspondem à evidenciação da capacidade
de geração de riqueza por meio da análise das receitas e despesas e do lucro ou
prejuízo resultante. As informações financeiras correspondem às entradas e
saídas de dinheiro (fluxo de caixa), ao capital de giro e à situação de liquidez da
entidade. Por fim, as informações patrimoniais correspondem ao conjunto de
bens, direitos, obrigações e patrimônio líquido que compõem o patrimônio da
organização (Marion; Ribeiro, 2018).
Segundo Marion e Ribeiro (2018, p. 2), a contabilidade geral permite:

a. Tratar as informações de natureza repetitiva com o máximo possível de


relevância e o mínimo de custo;
b. Dar condições para, por meio da utilização de informações primárias
constantes do arquivo básico, com técnicas derivadas da própria
contabilidade e/ou outras disciplinas, se fornecer relatórios de exceção
para finalidades específicas, em oportunidades definidas ou não.

As informações geradas pela contabilidade ficam registradas em livros e


arquivos eletrônicos, seguindo sempre as normas contábeis vigentes. Tais
informações devem envolver tanto informações de cunho quantitativo (monetário),
quanto qualitativo (mensuração de natureza física e produtividade) (Marion;
Ribeiro, 2018). Em que consiste, então, a contabilidade gerencial? E a financeira?
Nós veremos esses e demais temas nos tópicos a seguir.

TEMA 1 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL-GERENCIAL EM


CONTROLADORIA

Os primeiros sinais da contabilidade podem ser observados por volta de


4000 a.C., na civilização sumério-babilonense, coincidindo com a invenção da
escrita. Como as vendas e o comércio eram baseados em troca, a evolução da

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contabilidade foi bastante lenta, sendo só com a invenção da moeda que os
primeiros balanços rudimentares foram desenvolvidos (Crepaldi; Crepaldi, 2019).
Em termos de registros históricos, é importante destacar a obra Summa de
arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita, de Frei Lucca Pacioli,
considerado o criador da contabilidade, publicada em Veneza, em 1494. Em um
dos capítulos, é descrito o método empregado no controle das operações por
alguns mercadores de Veneza, o método das partidas dobradas (Crepaldi;
Crepaldi, 2019).
Após a publicação do livro de Pacioli, a contabilidade expandiu-se.
Instituições como a Igreja e o Estado passaram a utilizar os métodos daquela
ciência. Naquela época, as informações e técnicas contábeis se limitavam às
empresas nas quais elas eram realizadas, ou seja, tais informações eram
consideradas sigilosas, o que dificultou o desenvolvimento da área (Crepaldi;
Crepaldi, 2019).
Mais recentemente, com o desenvolvimento das grandes empresas, tanto
as privadas quanto as públicas, a contabilidade passou a ser considerada uma
importante ferramenta para a sociedade. Os interessados nas informações dos
relatórios contábeis já não eram apenas os donos das empresas, os governos, os
colaboradores, os investidores, mas também outros usuários.
Atualmente, as informações contábeis devem possuir relevância e
representação fidedigna. No que diz respeito a essas características, Crepaldi e
Crepaldi (2019) afirmam que: a informação contábil-financeira é relevante quando
capaz de fazer diferença, com valor preditivo e/ou confirmatório, nas decisões; a
informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão ainda que alguns
usuários decidam não a levar em consideração; para ser representação fidedigna,
a realidade retratada deve ser completa e neutra e estar livre de erro.
As informações contábeis atualmente são disseminadas por um sistema de
informações operado por profissionais que tenham domínio sobre informática e
contabilidade e que é de extrema importância para o ambiente organizacional,
pois a geração de informações por intermédio do uso dos sistemas
computadorizados se torna muito mais segura, em um menor intervalo de tempo.
Segundo Oliveira (1999), os sistemas de informações voltados para a área
gerencial proporcionam os seguintes benefícios para as empresas: melhoria no
acesso às informações, propiciando relatórios mais precisos e rápidos, com menor
esforço; melhoria nos serviços prestados e oferecidos; melhoria na tomada de

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decisões, mediante fornecimento de informações mais rápidas e precisas;
estímulo a uma maior interação entre os tomadores de decisão; fornecimento de
melhores projeções dos efeitos das suas decisões; otimização na prestação dos
seus serviços aos clientes; melhor interação com os seus fornecedores; redução
de sua mão de obra burocrática.
Pode-se ainda citar a importância dos sistemas informatizados como uma
ferramenta de controle, dentro da empresa. Conforme Laudon e Laudon (2006),
atualmente, conhecer os sistemas de informação é essencial para os
administradores, porque a maioria das organizações precisa deles para sobreviver
e prosperar. Esses sistemas podem auxiliar as empresas a estender seu alcance
a locais distantes, oferecer novos produtos e serviços, reorganizar fluxos de
tarefas e trabalho e, talvez, transformar radicalmente o modo como conduzem os
negócios.
Dessa forma, pode-se conceituar o sistema de informações contábil-
gerencial como um conjunto de subsistemas interligados, visando à coleta,
armazenamento, processamento, transformação e distribuição de informações
para o planejamento, controle e tomada de decisão, atividades essas que fazem
parte da controladoria.
Com intuito de compreender melhor a área gerencial, no próximo tema
trataremos da contabilidade gerencial.

TEMA 2 – CONTABILIDADE GERENCIAL

A contabilidade pode ser definida como o registro sistemático e abrangente


de transações financeiras relativas a um negócio. Ela também se refere ao
processo de resumir, analisar e relatar essas transações a órgãos de supervisão,
reguladores e entidades de legislação. As demonstrações financeiras que
resumem as operações, a posição econômica e financeira e os fluxos de caixa de
uma grande empresa, durante um determinado período, são um resumo conciso
de centenas de milhares de transações financeiras realizadas durante esse
período. Em suma, a contabilidade possui como finalidade gerar informações para
os usuários internos e externos da organização, sempre seguindo as legislações
vigentes.
A contabilidade tem várias ramificações, tais como a financeira e a
gerencial. A contabilidade financeira se refere aos processos que os contadores
usam para gerar as demonstrações contábeis anuais de uma empresa. A

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contabilidade gerencial usa muitos dos mesmos processos, mas utiliza
informações de maneiras diferentes. Ou seja, na contabilidade gerencial, um
contador gera relatórios mensais ou trimestrais que a equipe de gestão de uma
empresa pode usar para tomar decisões sobre como a empresa opera. Assim,
embora algumas das informações sejam provenientes de transações registradas,
muitas das análises e relatórios incluem valores estimados e projetados com base
em várias suposições. Geralmente, essas informações não são distribuídas para
pessoas de fora da administração da empresa. Alguns exemplos dessas
informações são orçamentos, padrões de controle de operações e estimativa de
preços de venda ao se cotar preços para novos trabalhos.
Segundo o Institute of Management Accountants (IMA, citado por Marion;
Ribeiro, 2018, p. 3-4), dos Estados Unidos, a contabilidade gerencial é o processo
de identificação, mensuração, acumulação, análise, preparação, interpretação e
comunicação das informações financeiras usadas pela administração para
planejar, avaliar e controlar uma organização e assegurar o uso adequado e a
responsabilização por seus recursos. No Quadro 1 são apresentados os principais
elementos da contabilidade gerencial.

Quadro 1 – Tópicos de contabilidade gerencial

Item Descrição
Identificação Reconhecimento e avaliação das transações empresariais e outros eventos
econômicos por ação contábil correta
Mensuração Quantificação, incluindo estimação das transações empresariais ou de outros
eventos econômicos ocorridos ou as previsões sobre o que possa ocorrer
Acumulação Sistematização de abordagens disciplinadas e consistentes para registrar e
classificar as transações empresariais convenientes e outros eventos
econômicos
Análise Determinação das razões para a atividade relatada e seu relacionamento com
outros eventos e circunstâncias econômicas
Preparação e Coordenação da contabilidade e/ou planejamento dos dados para fornecer
Interpretação informações apresentadas de forma lógica, que incluem, se apropriadas, as
conclusões extraídas desses dados
Comunicação Preparação de relatórios pertinentes à administração e a outros usuários,
internos e externos
Planejamento Quantificação e interpretação dos efeitos das transações planejadas e de outros
eventos econômicos sobre a organização; o planejamento, que abrange
aspectos estratégicos, táticos e operacionais, requer que o contador forneça
informações históricas quantitativas e prospectivas para facilitá-lo. Isso inclui
participação no desenvolvimento do sistema de planejamento, no
estabelecimento de metas alcançáveis e na escolha de meios adequados para
monitorar o cumprimento dessas metas
Avaliação Julgamento das implicações dos eventos históricos e esperados, além de ajuda
na escolha do curso de ação ótimo; a avaliação inclui transformar dados em
tendências e relacionamentos e comunicar, pontual e efetivamente, as
conclusões extraídas das análises
(continua)

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(continuação do Quadro 1)
Controle Garantia da integridade das informações financeiras concernentes às atividades
e aos recursos de uma organização; monitoramento e mensuração do
desempenho e indução a quaisquer ações corretivas exigidas para fazer
retornar a atividade a seu curso planejado; e fornecimento de informações aos
executivos, em suas áreas operacionais e funcionais, que possam ser usadas
para atingir o desempenho desejável
Recursos de Implementação de um sistema de relatórios que esteja alinhado às
responsabilização responsabilidades organizacionais e que contribua com o uso efetivo dos
recursos e mensure o desempenho da administração; transmissão das metas e
dos objetivos da administração para toda a organização, na forma de atribuição
de responsabilidades, base para identificar a responsabilização; e fornecimento
de um sistema contábil e de relatórios que acumule as receitas, as despesas,
os ativos, as obrigações e que relacione as informações quantitativas aos
gerentes, que, assim, terão melhor controle sobre esses elementos
Relatórios Preparação de relatórios financeiros baseados em princípios contábeis
externos geralmente aceitos ou em outras bases apropriadas a grupos não
administrativos, como acionistas, credores, órgãos regulatórios e autoridades
tributárias; e participação no processo de desenvolvimento das normas
contábeis que formam a base dos relatórios externos
Fonte: Adaptado de Marion; Ribeiro, 2018, p. 4.

Com base no Quadro 1, pode-se depreender que a contabilidade gerencial


envolve principalmente três principais atividades:

1. Planejamento;
2. Controle;
3. Tomada de decisão.

O planejamento envolve o estabelecimento dos objetivos e a forma como


eles devem ser alcançados. O controle envolve o feedback, ou seja, o plano
colocado em prática e que deve ser analisado de forma constante para que os
gestores possam conferir se ele está no caminho certo ou se mudanças precisam
ser realizadas. Por fim, a tomada de decisão envolve a escolha de uma opção
entre as alternativas disponíveis (Garrison; Noreen; Brewer, 2013). Dessa forma,
a contabilidade gerencial garantirá o fundamento necessário para o
desenvolvimento da organização.
Dependendo da natureza da decisão, a contabilidade gerencial poderá
contemplar funções distintas. Desse modo, pode-se segregar três importantes
funções da contabilidade gerencial:

1. Operacional;
2. Gerencial;
3. Estratégica.

Essas funções são detalhadas no Quadro 2.

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Quadro 2 – Funções da contabilidade gerencial

Função Descrição
Tem por fim orientar o pessoal que trabalha na linha de frente, seja na área de
produção, seja na área comercial, aqueles que fabricam ou vendem bens e prestam
ou vendem serviços. Nesse nível de responsabilidade, as decisões precisam ser
tomadas em curtíssimo prazo, quase diariamente, no momento em que os
obstáculos surgem. Assim, os relatórios elaborados para orientar as tomadas de
decisões nesse nível, normalmente, contêm informações operacionais quantitativas,
Operacional
ou seja, não financeiras. São exemplos de informações destinadas ao pessoal
operacional:
• a quantidade de materiais, suprimentos, mão de obra e tempo de máquina usados
para realizar um serviço;
• o volume de serviços executados pelo empregado ou por um grupo de
empregados
Tem por fim orientar os gerentes responsáveis pelo comando de uma ou mais áreas;
de um ou mais departamentos; ou mesmo de um simples grupo de trabalhadores.
Normalmente, os gerentes precisam tomar decisões de curto ou de médio prazos,
as quais não envolvem a entidade como um todo, embora toda a entidade sofra o
reflexo dessas decisões. Os gerentes têm necessidade de informações que lhes
assegurem acompanhar em tempo real o processo operacional de produção ou de
prestação de serviços, bem como o resultado positivo ou negativo das respectivas
vendas. As informações que a contabilidade gerencial oferece a esses gestores
destinam-se a:
• proporcionar redução de custos, com melhor aproveitamento dos recursos físicos
(evitando desperdícios), humanos (reduzindo tempo ocioso) e tecnológicos
(modernizando equipamentos para melhorar a eficiência da produção, treinando
pessoal etc.);
• essas decisões resultam também em melhorias na qualidade do trabalho, para
proporcionar segurança e bem-estar aos trabalhadores, além de satisfação ao
Gerencial cliente, com apoio inclusive nas relações pós-venda.
Os relatórios dessa natureza devem conter não só́ informações não financeiras
(operacionais, quantitativas) como também financeiras e econômicas, envolvendo
comparações de custos reais com padrões (de materiais, de mão de obra e de
gastos gerais de fabricação), rentabilidade por produto ou serviço etc.
Nesse estágio, as informações não financeiras são em maior número que as
financeiras e econômicas. São exemplos de informações destinadas aos gerentes:
• a utilização de recursos humanos, físicos e financeiros dos departamentos ou
áreas que estejam sob seus comandos;
• o detalhamento acerca das horas trabalhadas e da quantidade produzida pelos
empregados, para conhecer o tempo ocioso de cada empregado, seção ou
departamento. Essas informações revelarão se há́ mão de obra ociosa ou se o
setor ou departamento está trabalhando com sua capacidade máxima;
• as informações financeiras acerca dos salários de todos os trabalhadores, para
avaliar possíveis injustiças que possam provocar descontentamentos, por parte de
alguns deles
(continua)

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(continuação do Quadro 2)
Tem por fim orientar executivos nas suas tomadas de decisões. A principal
preocupação dos executivos (presidente, diretores, proprietários) é com a
rentabilidade global do negócio. As decisões dos executivos normalmente são de
longo prazo e envolvem o destino da organização. Referem-se à rentabilidade de
produtos e serviços, ao perfil, a necessidades e satisfação de clientes, a ameaças
de concorrentes, a inovações tecnológicas, à expansão ou descontinuidade de parte
ou do total dos negócios etc.
Aos executivos, interessa conhecer principalmente a lucratividade do negócio, para
saber o tempo de retorno do capital investido, a composição dos custos, bem como
a rentabilidade de cada produto, para incentivar o aumento da produção dos mais
Estratégica rentáveis e a descontinuidade daqueles que não atingem os propósitos previamente
estabelecidos. São exemplos de informações destinadas aos executivos da
organização:
• os relatórios contábeis, englobando as demonstrações financeiras oficiais dos
últimos exercícios;
• os relatórios contábeis extraoficiais, como balancetes parciais e relatórios de
custos, utilizando sistemas de custeio não obrigatórios, como o custeio direto, o
custeio ABC e outros;
• os relatórios contendo análise de balanços e de outros documentos e comparação
com padrões
Fonte: Adaptado de Marion; Ribeiro, 2018, p. 6-8.

Conforme o Quadro 2, pode-se verificar que a função operacional é voltada


para as decisões de curto prazo, enquanto a função estratégica é voltada para as
funções de médio e longo prazos. Ambas as funções estão focadas, no primeiro
caso, nos trabalhadores responsáveis pela execução e, no segundo caso, nos
gerentes. Já as decisões estratégicas estão voltadas para o longo prazo e são
tomadas pelos escalões superiores.
Por isso, a contabilidade gerencial tende a olhar para o processo, em vez
de para o fluxo de caixa, o lucro ou outras métricas financeiras. Isso muito
depende do alcance do gerente. Por exemplo, um gestor de vendas pode estar
mais preocupado com os valores da receita em reais, enquanto um gestor de
produção pode se concentrar nas horas de trabalho necessárias para produzir um
determinado volume de trabalho, e os valores em reais podem ser secundários ou
não lhes despertar preocupação. Até mesmo o gestor de vendas pode precisar de
subconjuntos de dados de receita, como vendas por funcionário, períodos atuais
versus períodos anteriores ou mudanças nas vendas de clientes.
O foco da contabilidade gerencial também pode se concentrar em períodos
mais curtos, permitindo que os gestores ajam rapidamente nas condições atuais
do negócio. Os gestores de varejo poderiam, por exemplo, mudar seus planos de
pessoal com base em números de vendas semanais que excedam ou fiquem
aquém das expectativas. A resposta rápida às mudanças nas condições do
mercado geralmente dá à empresa uma vantagem sobre a concorrência e, assim,

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um ambiente robusto de contabilidade gerencial auxilia na tomada de decisões
informadas.
E a contabilidade financeira? No próximo tema trataremos dessa área da
contabilidade.

TEMA 3 – CONTABILIDADE FINANCEIRA

A contabilidade financeira é um ramo da contabilidade que controla as


transações financeiras de uma empresa. Utilizando diretrizes padronizadas, as
transações são registradas, resumidas e apresentadas em um relatório financeiro
ou demonstração financeira, como um balanço patrimonial ou uma demonstração
de resultados.
As empresas emitem demonstrações financeiras em um cronograma de
rotina. Essas declarações são consideradas externas porque são dadas a
pessoas de fora da empresa, com os principais destinatários sendo
proprietários/acionistas, bem como certos credores. No entanto, se as ações de
uma empresa são negociadas publicamente, suas demonstrações financeiras (e
outros relatórios financeiros) tendem a ser amplamente divulgadas, e as
informações provavelmente chegarão a destinatários secundários, como
concorrentes, clientes, funcionários, organizações trabalhistas e analistas de
investimentos.
É de valia ressaltar que o objetivo da contabilidade financeira não é relatar
o valor de uma empresa. Em vez disso, seu objetivo é fornecer informações
suficientes para que outros avaliem o valor de uma empresa, por si mesmos.
Como as demonstrações financeiras externas são usadas por uma
variedade de pessoas, de várias maneiras, a contabilidade financeira tem regras
comuns conhecidas como normas contábeis e como princípios contábeis
geralmente aceitos. No Brasil, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) é a
organização que desenvolve os padrões e princípios contábeis. As corporações
cujas ações são negociadas publicamente também devem cumprir as exigências
de relatórios da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Portanto, em suma, a principal diferença entre a contabilidade financeira e
a contabilidade gerencial é que a primeira atende às necessidades dos usuários
que estão fora da organização (usuários externos), enquanto a contabilidade
gerencial atende às necessidades dos gestores de dentro da empresa (usuários
internos). Dessa forma, pode-se dizer que a contabilidade financeira está focada

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em ações passadas, enquanto a contabilidade gerencial está voltada para o futuro
da entidade. Outra diferença importante é que, enquanto a contabilidade
financeira é obrigatória, a contabilidade gerencial é facultativa (Garrison; Noreen;
Brewer, 2013).
Com base nesse exposto, pode-se tentar distinguir como historicamente a
contabilidade gerencial passou a ser mais útil para a controladoria do que a
contabilidade financeira. Isso porque, embora as dificuldades operacionais sejam
de conhecimento dos membros da empresa, nos relatórios contábeis de um
período tais problemas nunca aparecem. Dessa forma, como se guiar por tais
demonstrativos para a tomada de decisão, se eles não refletem a real situação de
uma empresa?
Não é difícil concluir que tais informações acabam tendo impacto negativo
nas decisões internas. Além disso, com a harmonização das normas contábeis,
houve a uniformização dos procedimentos contábeis, o que ajudou a revelar a
trajetória histórica de cada organização, porém sem foco nos problemas do dia a
dia da entidade. Já as informações tributárias que interessam somente ao fisco
não demonstram a real situação financeira da organização, prejudicando a
tomada de decisão (Marion; Ribeiro, 2018).
Assim, segundo Marion e Ribeiro (2018), como as demonstrações
contábeis oficiais não abordam aspectos operacionais que precisam ser
analisados em cada empresa e nem mesmo abordam situações de instabilidade
do mercado – num cenário em que, a partir da globalização iniciada no final do
século XX, gerou-se para todas as entidades econômicas um novo ambiente de
competitividade –, para orientar adequadamente a organização nas suas tomadas
de decisões é imprescindível a manutenção de um sistema de informações
internas que possibilite o pleno conhecimento dos pontos positivos e negativos
que envolvem a gestão do patrimônio empresarial.
Diante da necessidade de informações que reflitam a real situação da
empresa, que possam realmente ajudá-la a tomar decisões sobre os seus rumos,
as organizações e a área de controladoria passaram a utilizar a contabilidade
gerencial, ao invés da contabilidade financeira. Posteriormente, trataremos da
relação da controladoria com a contabilidade, o fisco e as legislações específicas.

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TEMA 4 – CONTABILIDADE, FISCO E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS

Um profissional da área de controladoria deve ter conhecimento das


distinções e especificidades da contabilidade e da legislação específica do ramo
no qual trabalha. Em síntese, a contabilidade envolve a preparação de
informações para fins de controle e tomada de decisões e pode exigir
interpretação, bem como simplesmente registro de informações factuais. Ela é
regida por um conjunto de diretrizes e o profissional da área deve manter-se
atualizado, por dentro das principais alterações da legislação, com vistas a facilitar
o processo de elaboração das demonstrações e dos relatórios, além de evitar
aplicação de multas e outras penalidades severas à empresa.
A legislação gira em torno do cumprimento das obrigações contábeis,
tributárias e trabalhistas da empresa. Em específico, a legislação tributária deve
ser atendida em suas mais variadas esferas (federal, estadual e municipal). Quem
é o responsável pela função de controle e fiscalização dessa parte é o fisco, que
se refere à autoridade fazendária do país.
Entre algumas obrigações das empresas, independentemente do seu
enquadramento jurídico ou da forma de tributação perante o Imposto de Renda,
pode-se citar: existência de um estatuto ou contrato social, manutenção em dia
de sua contabilidade, assim como de seu Balanço Patrimonial, Livro Diário, Livro-
Razão, declaração de bens e direitos no exterior, Declaração do Imposto sobre a
Renda Retido na Fonte (Dirf), comprovante de rendimentos e retenção do Imposto
de Renda Retido na Fonte (IRF), Livro de Inspeção do Trabalho, Sistema Público
de Escrituração Digital (Sped), Fiscal/Escrituração Fiscal Digital (EFD), Sped
Contábil/Escrituração Contábil Digital (ECD), Sped Imposto de
Renda/Escrituração Contábil Fiscal (ECF), Livro Registro de Inventário, Livro
Registro de Empregados, folha de pagamento, Guia da Previdência Social (GPS),
Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social (Gfip),
Guia de Recolhimento Rescisório do FGTS e Contribuição Social (GRFC), O
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Relação Anual de
Informações Sociais (Rais), Contribuição Sindical etc.
O sistema tributário brasileiro possui dispositivos que afetam a atuação das
empresas e suas atividades. A criação de novos tributos ou o simples aumento da
alíquota de um imposto já existente pode afetar de forma negativa o crescimento

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de uma empresa ou até prejudicar suas decisões de investimento (Nascimento;
Reginato, 2013).
No atual momento, em que a concorrência está mais acirrada e as
mudanças ocorrem com mais frequência, é preciso buscar o aprimoramento
contínuo no que tange a operações da empresa. Mas, não é só isso; também é
preciso analisar os aspectos tributários envolvidos, que podem afetar a situação
concorrencial da entidade. A ação da controladoria é de suma importância, nesse
caso.
A controladoria engloba conceitos que realçam que a competitividade é
resultado de uma série de fatores que intervêm nas atividades organizacionais,
podendo ser eles:

• Conjunturais;
• Estruturais;
• Internos.

Os fatores conjunturais referem-se aos componentes macroeconômicos,


político-institucionais e regulatórios etc. que podem influenciar o desempenho e
sobre os quais a controladoria deve exercer influência direta, visando permitir que
os gestores possam conduzir as suas decisões da melhor maneira possível
(Nascimento; Reginato, 2013).
Os fatores estruturais referem-se ao conjunto das condições próprias do
meio ambiente em que a entidade atua, por exemplo o mercado, clientes,
fornecedores etc. (Nascimento; Reginato, 2013).
Por fim, os fatores internos são todos os aspectos internos da empresa,
como gestão de pessoas, gestão de operações, gestão tributária etc. Sobre esses
aspectos, a controladoria exerce influência por meio da inferência de práticas que
levem à realização da missão e objetivos estabelecidos. O governo também
exerce influência, por meio de suas ações regulatórias e institucionais, conforme
a Figura 1.

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Figura 1 – Fatores determinantes da gestão tributária

Fonte: Adaptado de Nascimento; Reginato, 2013, p. 262.

Com base na Figura 1, é possível auferir que a gestão tributária fiscal de


uma empresa depende não apenas do seu ambiente interno, como também do
seu ambiente externo. Ou seja, não existe mais espaço para a controladoria tratar
de informações referentes à competitividade apenas se baseando em aspectos
do ambiente interno; ela precisa estar atenta ao que ocorre fora da organização,
para sustentar a tomada de decisão por parte dos gestores (Nascimento;
Reginato, 2013).
Por isso que a contabilidade e a controladoria, principalmente sob a
abordagem fiscal, têm grande importância na gestão das empresas, sejam elas
de produção, sejam comerciais, sejam de prestação de serviços. Para melhor
visualização, acompanhe o exemplo de uma empresa comercial, de compra e
venda, conforme a Figura 2.

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Figura 2 – Fluxo do papel da contabilidade, controladoria e fisco em atividades de
compra e venda

Conforme observado, a empresa primeiramente realiza suas compras de


produtos e suas respectivas vendas. Paralelamente, deve-se ter seu
acompanhamento de caixa, seus registros contábeis e acompanhamento da
controladoria para tornar o processo de prestação de contas ao fisco o mais
eficiente possível.
No próximo tópico, trataremos da relação da controladoria com a análise
dos demonstrativos contábeis, por meio dos indicadores econômico-financeiros.

TEMA 5 – DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS E SUA ANÁLISE POR INTERMÉDIO


DE INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

A análise das demonstrações financeiras (ou análise financeira) é o


processo de revisar e analisar as demonstrações de uma empresa para tomar
melhores decisões econômicas. Essas análises incluem o Balanço Patrimonial, a
Demonstração do Resultado, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e a
demonstração das mudanças no Patrimônio Líquido. A análise das
demonstrações contábeis é um método ou processo que envolve técnicas
específicas para avaliar riscos, desempenho, saúde financeira e perspectivas
futuras de uma organização.
A análise das demonstrações é usada por uma variedade de partes
interessadas, como investidores em crédito e ações, o governo, o público e os
tomadores de decisão, dentro da organização. Essas partes têm interesses
diferentes e aplicam uma variedade de técnicas distintas para atender às suas
necessidades. Por exemplo, os investidores em ações estão interessados no
poder de ganhos de longo prazo da organização e, talvez, na sustentabilidade e
crescimento dos pagamentos de dividendos. Os credores querem garantir que os

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juros e o principal sejam pagos nos títulos de dívida das organizações, quando
devidos.
Cada demonstração fornece vários anos de dados, que são usados em
conjunto pelos analistas, que acompanham as medidas de desempenho utilizando
diversos métodos para a análise de demonstrações financeiras, incluindo: análise
horizontal e vertical, por índices financeiros e análise DuPont. Informações
históricas combinadas com uma série de premissas e ajustes nas informações
financeiras podem ser usadas para projetar o desempenho futuro de uma
organização.

Quadro 3 – Principais tipos de análise das demonstrações financeiras

Índice Descrição
Análise Compara as informações financeiras ao longo do tempo, normalmente dos
horizontal últimos trimestres ou anos. É realizada comparando-se dados financeiros de
uma demonstração do ano atual com o ano anterior. Ao comparar essas
informações passadas, é preciso procurar variações, como ganhos maiores ou
menores
Análise É uma análise percentual das demonstrações financeiras (Balanço Patrimonial
vertical – BP e Demonstração do Resultado do Exercício – DRE). Cada item de linha
listado na demonstração é listado como a porcentagem de outro item de
linha. Por exemplo, em uma DRE, cada item de linha será listado como uma
porcentagem das vendas brutas
Índices de São usados para determinar a rapidez com que uma empresa pode
liquidez transformar seus ativos em dinheiro se enfrentar dificuldades financeiras ou
falência. Entre os índices de liquidez citam-se:
• liquidez corrente: calculada com base na razão entre os direitos a curto prazo
da empresa (caixas, bancos, estoques, clientes) e as suas dívidas a curto
prazo (empréstimos, financiamentos, impostos, fornecedores);
• liquidez seca: para seu cálculo, excluem-se os estoques, por não
apresentarem liquidez compatível com o grupo patrimonial onde estão
inseridos;
• liquidez imediata: considera apenas caixa, saldos bancários e aplicações
financeiras de liquidez imediata para quitar obrigações, excluindo-se, além
dos estoques, as contas e valores a receber;
• liquidez geral: leva em consideração a situação a longo prazo da empresa,
incluindo no cálculo os seus direitos e obrigações a longo prazo
Índices de São índices que demonstram o quão lucrativa é uma empresa. Alguns índices
rentabilidade de rentabilidade são:
• retorno sobre o ativo: identifica o lucro que a empresa tem em relação aos
investimentos totais, dividindo-se o lucro líquido pelo total do ativo;
• retorno sobre o Patrimônio Líquido: significa dizer quanto de lucro os
investidores estão tendo com o negócio, considerado de grande importância
para os analistas;
• margem líquida ou retorno sobre as vendas: é calculada usando os lucros
líquidos divididos pela venda líquida; dessa forma, identifica-se quanto de
lucro a empresa obteve em relação à venda líquida do período
• giro do ativo: permite que se avalie a relação entre as vendas e os
investimentos efetuados. Calcula-se o giro dos ativos dividindo-se as vendas
líquidas pelo ativo total
(continua)

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(continuação do Quadro 3)
Índices de Servem para mostrar o quão bem a equipe de gestão está gerenciando os
atividade recursos da empresa. Entre os indicadores de atividade estão: prazo médio de
renovação de estoques (PMRE), prazo médio de recebimento de vendas
(PMRV) e prazo médio de pagamento de compras (PMPC)
Índices de Mencionam a relação entre recursos próprios e de terceiros, mostrando a
estrutura e dependência da empresa aos capitais de terceiros e o prazo para pagamento
endividamento desses capitais.
• Participação de capitais de terceiros: destaca-se qual a dependência da
empresa em relação a capitais externos e é calculada somando-se o Passivo
Circulante mais o Exigível a Longo Prazo, dividindo-se pelo Patrimônio Líquido
da empresa.
• Composição do endividamento: consideram-se as dívidas e obrigações da
empresa, de curto prazo e de longo prazo; depois, divide-se o Passivo
Circulante pela soma daquelas, mais o Exigível a Longo Prazo.
• Imobilização do Patrimônio Líquido: mostra quanto do Patrimônio Líquido
está investido no Ativo Permanente; é obtida por meio da divisão do Ativo
Permanente pelo Patrimônio Líquido.
• Imobilização dos recursos não correntes: calcula-se o percentual de recursos
não correntes aplicados ao ativo da empresa, considera-se o Exigível a Longo
Prazo, dividindo-se o Ativo Permanente pela soma do Patrimônio Líquido mais
o Exigível a Longo Prazo
Análise de Usa vários índices financeiros que multiplicam o retorno igual sobre o
DuPont Patrimônio Líquido, uma medida de quanta renda a empresa ganha dividida
pelo montante de fundos investidos (Patrimônio Líquido)
Fonte: Adaptado de Assaf Neto, 2010.

Por meio dos índices descritos, pode-se realizar a análise das


demonstrações contábeis visando examinar a performance da gestão econômica,
financeira e patrimonial das empresas, no que tange às informações passadas,
confrontando-a ou não com metas ou diretrizes preestabelecidas anteriormente.
Também é possível realizar comparações com as tendências regionais ou de um
determinado setor em que a empresa esteja inserida, verificando as expectativas
futuras de rentabilidade ou continuidade dos negócios, permitindo aos gestores
tomarem decisões de financiamentos e investimentos, além de realizarem
mudanças de práticas, no caso de as tendências projetadas apontarem que o que
foi planejado não poderá ser posto em prática ou até mesmo para subsidiar o
estabelecimento de novos rumos (Cavalcante, 2017).

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REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-


financeiro. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

CAVALCANTE, F. Demonstrações contábeis: elaboração e análise. 2017.


Disponível em: <http://www.crcse.org.br/arquivos/palestras/analise_demonstraco
es_contabeis2017.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2019.

CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade gerencial. 8. ed. São Paulo:


Atlas, 2019.

GARRISON, R. H.; NOREEN, E. W.; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial.


14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

MARION, J. C.; RIBEIRO, O. M. Introdução à contabilidade gerencial. 3. ed.


São Paulo: Saraiva, 2018.

NASCIMENTO, A. M.; REGINATO, L. Controladoria: um enfoque na eficácia


organizacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L.; MARTINS, M. A. S. Manual de controladoria. São


Paulo: Atlas, 2014.

SILVA, M. L. Contabilidade geral. 1. ed. São Paulo: Érica, 2010.

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