E dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lucas 9:23)
O mundo passou por profundas transformações nos últimos trezentos
anos. E, com o surgimento do ideais iluministas, a religião foi relegada a um papel secundário na sociedade, diminuindo assim, o seu poder de influência no mundo. Em certa medida, isso foi importante para alguns avanços civilizatórios, antes emperrados pelo poder negativo da igreja, como no caso da ciência que teve um avanço extraordinário a partir desse período. Por outro lado, quando o cristianismo foi retirado de discussões públicas da sociedade, perdemos nosso papel de ser “sal no mundo” e isso tem empurrado a civilização ocidental para uma crise com desdobramentos em diversos setores. De certa forma, a igreja, com menos influência no mundo, desenvolveu uma espiritualidade excessivamente subjetiva e alienada, ou seja, com pouca ação efetiva no mundo, sem coragem para fazer diferença na sociedade, aceitando o veredicto do mundo novo: a fé é questão secundária e deve ficar reduzida ao universo religioso. Por outro lado, quando olhamos a vida, a obra e o sacrifício pasqual de Jesus, fica nítido o que a Bíblia deseja nos ensinar: O cristianismo é uma fé que age no mundo. Alguns estudiosos do Novo Testamento relatam que Lucas, entre todos os escritores do Novo Testamento, era o mais intencional. Segundo eles, Lucas quando escreve o seu evangelho e o livro de Atos dos Apóstolos, tem o desejo de transmitir a seguinte ideia: O Evangelho de Lucas é Cristo, o cabeça, operando no mundo e o livro dos Atos do Apóstolos é Cristo, o corpo, atuando no mundo através da igreja. A ideia por trás de Corpo de Cristo é de que a igreja é a continuação do ministério terreno de Cristo no Novo Testamento. Assim, o termo cristão surge da ideia de que cada membro da igreja fosse um “pequeno Cristo” no mundo e Deus estaria em ação à medida que a igreja se movimentava pela fé. A vocação da igreja e a verdadeira espiritualidade evangélica é seu poder de viver a vida de Cristo e transmitir isso ao mundo a ponto influenciá-lo para sua redenção. Como já falado, uma das armadilhas do mundo moderno é quando o cristão, consciente ou não, aceita os ditames que nos colocam nas gavetas esquecidas da história. Isso faz nos contentar com uma espiritualidade ensimesmada em nossas “experiências espirituais”, em cultos cheios de “sensações gostosas” e que, ao invés de nos empurrar para fazermos diferença no mundo, nos adormecem e nos alienam. Um bom culto, com uma boa música ou com uma palavra abençoada é válido quando nos empurra para o chão da vida, a fim de transformar cada homem comum num pescador de homens em meio a um mundo atormentado. O Dream Center, um grande projeto de intervenção social cristã, é uma resposta da Rez dessa convicção de que precisamos fazer diferença no mundo. Nossa espiritualidade não é nunca uma fuga, Jesus disse que não oraria para nos tirar do mundo, mas para que vencêssemos o mal que nos cerca. Essa é a nossa vocação: “transtornar o mundo” (At 17.6 SBB). Deus é o primeiro missionário, e como missionário, enviou seu único filho ao mundo para falar da salvação. O apóstolo Paulo disse que procurava todo o motivo para se adaptar ao contexto social em que estava inserido com o único objetivo de fazer diferença no mundo, através da pregação do evangelho (1Co 9.20-23). Amamos nos reunir, cantar e adorar e isso nos alegra muito. Mas fazemos todas essas coisas para que, cheios de convicção e amor do Senhor, sejamos o reflexo de Cristo em dias de anticristos.