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Prólogo

Em um lugar não conhecido, mas com certeza muito distante, tem-se ruinas de um
castelo, velho e obscuro. No mesmo encontra-se um homem, algumas cicatrizes
cobrem seu rosto, sentado em uma espécie de trono forjado das cinzas. O mesmo
admirava sua espada enquanto a segurava, não era uma espada comum, era mais
escura que a noite, cheia de escritas e runas em vermelho. O local é escuro, porém
quente, o calor é causado da lava nas redondezas próximas. Uma voz ofegante corta
o silêncio do saguão em que o homem misterioso está:
− Está tudo pronto, mestre! - Um ser estranho, baixinho, com orelhas e nariz
alongados, chega alertando o homem. Alguns diriam ser um goblin ou duende,
mas sua raça era muito diferente do que os olhos humanos conheciam.
− Excelente! Esperei este momento por muito tempo... Skurl, prepare tudo!
Iremos passar em breve, preciso de uma locação no meu velho mundo. Para
mim e meus servos, claro. Que seja discreta, não queremos chamar atenção...
ainda...
− Como desejar, mestre!
− Mal posso esperar. Minha vingança tão planejada não será rápida... Pelo
contrário... Será feita com muito deleite!
− Sugiro que calculemos o local da transferência, enquanto preparo as tropas.
− De fato, mas não demoremos, já esperei tempo demais.
− Claro, mestre!
Em outro local, muito longe dali, têm-se a história de Victor Carrara. Irei me
afastar por uns momentos, pois, nada mais justo que o próprio protagonista conte
tudo de seu ponto de vista. E que assim seja.

Capítulo 1: Apresentação

Não sei bem por onde começar uma boa história. Acho que o ideal seria pelo
começo, Espaço e Tempo, essas coisas... Bem, meu nome é Victor, tenho 17 anos e
moro com meu tio Erick, desde um terrível acidente de carro, que anos atrás, foi
responsável por tirar meus pais de mim, eu devia ter pouco mais de 10 anos quando
aconteceu. Tem sido difícil, mas eu gosto do meu tio e me mudar pra esse fim de
mundo não foi algo tão ruim.
Moramos em um chalé longe do cento, até que é bem chique, tem lareira e
tudo. Meu tio é um homem culto, principalmente com aquele monóculo, o lenço no
bolso do paletó e um bigode de impor respeito. Ele já é aposentado, com uns 40 e
tantos anos (quase 50), mas sinceramente não sei muito bem com o que ele
trabalhava antigamente, ele diz que era num museu, mas que antes disso era um
grande esgrimista. Tem diversas fotos dele na parede, com troféus nas estantes, e
ele sempre me conta suas histórias na época da faculdade, sobre os campeonatos
de esgrima.
Voltando ao espaço-tempo, é 2021, estou no Brasil, na cidade de Volta Cruz,
no Espírito Santo. Por volta de uns 30 anos atrás, o mundo virou de cabeça para baixo
quando espadachins começaram a surgir, mas não eram espadachins comuns, eram
incríveis! Capazes de cortar balas quando atirassem neles, eram mais velozes, mais
ágeis e mais fortes, dizem as lendas que cortavam prédios inteiros com um só golpe.
Ninguém sabe de onde surgiram, mas hoje é visto como uma coisa comum,
principalmente para minha geração que já nasceu com a existência deles, e o mundo
começou a respeitar aqueles que usavam suas habilidades para o bem comum, e
desprezar aqueles que usavam o mesmo para benefício próprio, como roubar e até
mesmo matar. Daí surgiu aquela velha história do bem contra o mal, mas até onde
sabemos os espadachins que lutam contra a maldade ainda são a maioria, então está
tudo bem.
Já sei o que estão pensando, meu tio era um desses espadachins e se
aposentou, acertei? Quem me dera, mas já pensei nisso e descartei a possibilidade.
Um dos primeiros casos a acontecer isso foi aqui mesmo no Brasil, e nessa época
meu tio estava em um intercâmbio na Polônia, sem contar que a maioria dos
espadachins atualmente tem identidade conhecida, tudo que ele fazia era esgrima
com os amigos. Ele mesmo me contou que parou de lutar esgrima na época que
esses espadachins com poderes chegaram, a esgrima tinha perdido o sentido para
ele (um dos motivos para ele odiar os espadachins). Claro que tem umas lacunas não
preenchidas, o quarto dele por exemplo. Por algum motivo ele não me deixa entrar lá
nem morto. Meu tio Erick deve ser um daqueles caras que gosta muito de privacidade.
Lembra que eu disse que a maioria dos espadachins tinham identidade
conhecida? Pois é, tem muito deles espalhados pelo mundo hoje em dia, o grupo
mais famoso até os dias de hoje é o Quarteto Lendário. Eles foram os pioneiros (e do
meu país!), se juntaram pra combater o mal, mas principalmente para formar um
símbolo, um símbolo de esperança. Era formado por quatro espadachins lendários,
cada um com sua espada e habilidade específica. Sabe-se muito pouco sobre a
origem deles, cada história é diferente. Mas hoje esse quarteto não existe mais.
Separaram-se e somente um vive sua vida de fama. O líder deles, Yohan, o Lâmina
Afiada (o único do quarteto com a identidade revelada), hoje comanda a Academia
De Espadachins Lendários. Nela, são selecionados à dedo, jovens para se tornarem
espadachins e, consequentemente, fazerem parte da nova geração dos espadachins
lendários. Os que entram lá são só os melhores, e eles saem como os melhores dos
melhores, com a função de servir e proteger, quase como super-heróis.
Depois desses pioneiros surgirem aqui, começaram a surgir em outros lugares,
como na Europa, América do Norte, e alguns países orientais. Se eu tenho como o
objetivo me tornar o maior espadachim do mundo? Meh. Longe disso. Respeito eles,
mas não é algo que eu faria. Quando acabar o Ensino Médio, vou fazer alguma
faculdade e conseguir um emprego que pague bem, sei que não parece um grande
sonho, mas conheço meus objetivos e até onde eles vão. Acho que já falei demais,
vamos para onde tudo começou.

Capítulo 2: O início de Victor


É segunda de manhã, o despertador me acordou as 6:40, como faz todos os
dias. Fiz o básico, tomei café (um belo café inclusive), meu tio gostava de moer o
próprio café, é delicioso, e olha que não sou muito chegado. Meu uniforme que deixei
a noite passada pronto para hoje, estava num cabide. Me arrumei, escovei os dentes,
só o básico. Fui direto para o ponto de ônibus me despedindo de meu tio que lia um
jornal enorme e cobria inteiramente seu rosto, suas palavras eram as mesmas todos
dias “Bons estudos, não se atrase.”, enquanto estava sentado em sua poltrona frente
à lareira (sim, uma lareira no Brasil não é pra qualquer um). Saí de casa em direção
ao ponto de ônibus, como não morava muito perto do colégio, esse era o preço. O
céu estava um pouco nublado, preferia muito mais esse tempo do que um sol que
batia na cara e incomodava.
A única pessoa que pegava o ônibus comigo naquele horário e naquele ponto
era Amanda. Uma menina que morava um pouco perto de mim, foi umas das
primeiras pessoas que fiz amizade quando me mudei. Era bonita e inteligente, com
cabelos ondulados castanhos que batiam nas costas, os olhos eu diria cor da
perfeição, acho que está óbvio que sinto algo, não é?
− Bom dia, Victor! Estudou pra prova?
− Oi, Amanda. Que prova?
− O quê?! Você não estudou?!
− Brincadeira! Meu cérebro virou uma calculadora cientifica automática!
− Mas a prova é de história...
− Hugh... Tudo bem eu me viro! (Espero que seja de múltipla escolha.)
− Enfim, ficou sabendo do Rodrigo?
− Arg, o que tem aquele trouxa?
− Tem boatos que esse “trouxa”, vai entrar na Academia de Espadachins
Lendários. - Falando com um tom de ironia por eu ter ofendido o cidadão.
Rodrigo era um babaca alto com alguns músculos, aquele estereotipado rei do
baile, capitão do time. Pelo menos eu o enxergava assim (provavelmente eu era um
dos únicos que via a verdade).
− Nunca! Ele não tem coordenação motora, já viu o quanto ele cai nos jogos?
− De qualquer jeito, estão falando muito disso que pode acabar sendo verdade.
− No dia que ele entrar na AEL, chimpanzés vão começar a frequentar o colégio.
Um pouco depois de terminar essa frase, continuamos conversando até o
ônibus chegar, um pouco da prova enquanto ela me ajudava com os temas, até o que
aconteceu na série que acompanhámos juntos. Quando entrei subindo os degraus,
por ironia do destino talvez, tinha um chimpanzé em um dos assentos. Arregalei os
olhos por aquela situação se combinar perfeitamente com a frase que eu tinha dito
uns minutos atrás, ou porque tinha literalmente um chimpanzé pegando ônibus. Ao
lado dele estava Igor, nos chamando para conversar.
− Oi, gente! Esse é o César! - Falou aquilo enquanto apontava com as duas
mãos para o macaco - Ele é uma cobaia da minha iniciação científica, até onde
chimpanzés podem aprender através da repetição!
Igor era um amigo que eu fiz ao longo dos anos aqui, é baixinho, usa óculos, e
sua animação para certas coisas é contagiante, deve ter conseguido o chimpanzé
com a permissão do seu pai e uns contatos com a escola, já que seu pai era um
renomado veterinário da região e apoiava muito Igor nesse tipo de assunto, talvez
esperasse que o filho siga a mesma vocação.
− Fascinante... - Disse eu, com um ar de ironia, não à ponto de magoar o Igor.
− Que fofinho! - Exclamou Amanda. - Esses experimentos não vão machucá-lo,
não é?
− De jeito nenhum! Ele vai ser muito bem tratado.
− Ele não é perigoso? E eu estou surpreso de deixarem ele entrar no ônibus. -
Exclamei
− Não, não! Ele é super amigável, sem contar que obedece a tudo que eu mando,
quer ver? - Ele se vira para o chimpanzé e dá as ordens - César, sente-se, por
favor.
No momento que Igor fala isso, o tal chimpanzé começa a fazer barulhos
estranhos e pular pelo ônibus, deu uma confusão. Por sorte não fomos expulsos do
ônibus, como cachorros não podem entrar, mas macacos sim? Depois de alguns
minutos conversando sobre essa tal iniciação cientifica do Igor, decidi me sentar e dar
uma olhada no capítulo que ia cair na prova.
Chegamos no colégio Macintosh, um campus na verdade, era bem grande.
Vários blocos de estudo, pesquisa, biblioteca enorme. Era tudo isso por ser uma
renomada instituição e também oferecia cursos para faculdade. Só entrei aqui por
que meu tio garantiu que aqui teria um estudo de qualidade. A aposentadoria dele
deve pagar bem para me conseguir colocar aqui.
Fui para a sala, sentei-me no meu lugar de costume e agora começa aulas de
puro tédio e que não vale a pena ficar citando aqui. Consegui me virar na prova, pelo
lado bom, na prova de matemática já vou estar preparado. A parte interessante
aconteceu no intervalo, quando fui à cantina comprar um salgado, ou um suco, então
fui para o pátio lá fora, sentar em uma mesa e jogar um baralho, quem sabe. Vi o
Rodrigo sentado numa mesa, rodeado de pessoas interessadas em realmente saber
se a tal história sobre ele era verdade, decidi entrar naquele empunhado de gente.
− ...Aqui está! - Disse Rodrigo tirando um papel da mochila, todo mundo em volta
ficou com maravilhado com aquilo (eu devia ser o único que não apresentava
nenhuma feição) - Esse é o documento oficial dizendo que fui selecionado para
ser um espadachim. Já entrei em contato e algum dia serem um espadachim
de verdade! Isso foi alguns dias depois de eu ter “despertado”, pelo visto me
reconheceram.
− Exibido... - Falei baixo o suficiente para ele não me escutar (ou tentei, pelo
menos).
Sem êxito em minha furtividade, Rodrigo ouve o comentário e logo se vira para
mim com um olhar confuso e um pouco de raiva:
− Algum problema, Victor?!
− Não... Por que teria? - Foi a melhor resposta que consegui na hora (por que
não fique só no “não”?).
− Não sei, me diga você. Te incomoda eu ter entrado pra um lugar fodão,
enquanto você ainda não tem planos?
Sei que esse tipo de reação pode parecer estranha vindo dele do nada, sendo que só
fiz um comentário, ele poderia só ter ignorado e ter ficado e boa. Mas nós já tínhamos
nossas diferenças antes. Quando entrei no colégio até começamos ser amigos, mas
algo mudou, fomos nos separando e depois de algumas discussões (não sei como
nunca saímos numa briga séria), ele parece ter desenvolvido um ódio mortal a mim,
querendo me humilhar as vezes. E depois de um tempo tudo, só foi piorando, quando
ele começou a gostar da Amanda e descobriu que eu sentia o mesmo.
Desde então, só tenho ignorado ele. Mas ele força a barra, faz questão de mostrar
que não gosta de mim, ou que é meu rival. Nas filas, pede para os amigos guardarem
o lugar dele JUSTAMENTE na minha frente. No futebol, quando estou no gol, ele não
exita em chutar com todas as forças para me acertar. Juro que não sei por que tanto
ódio.
− Está falando que eu tenho inveja de você? Os espadachins até podem nos
proteger do mal, mas o mal também vem desse poder, se nada disso tivesse
acontecido anos atrás, pessoas não teriam morrido. - Falei com convicção,
apesar de assustado pela minha opinião não ser muito compartilhada pelos
outros.
− Esse é o seu ponto de vista, mas não negue o óbvio... - Disse ele enquanto se
aproximava de mim - ...se até alguém como você fosse convocado para fazer
parte dos Espadachins Lendários, teria aceitado sem pensar duas vezes.
Afinal, é fácil julgar quando não se têm a capacidade de fazer o que os
melhores fazem, covarde!
− Eu tenho tanta capacidade quanto você! - Sinceramente não sei mais o que
estava se passando em minha cabeça, só queria sair dali sem parecer que fui
humilhado, e ser chamado de covarde em público, sem fazer nada, não iria
ajudar.
− Se acha que consegue... então eu te desafio para um duelo! - Todos em volta
começaram a cochichar, foi sinistro.
− Não luta, Victor! - Gritou Igor correndo para minha direção antes de tropeçar e
cair no chão, e todos começarem a rir.
Olhei para Amanda, sua feição era de alguém apavorada, provavelmente
preocupada no que eu estava me metendo. Virei meus olhos para Rodrigo, que tinha
um sorriso de deboche na cara. Acho que a raiva tomou conta, mas se eu conseguisse
ganhar dele, talvez provaria que ele não é tudo isso para ir à Academia, sem contar
que ia ser muito satisfatório.
− Eu topo! - Quando eu disse isso, todos em volta se animaram e começaram a
falar bem alto, até a gritar.
Fomos todos para o ginásio, pegamos no armazém duas “Bokken” (espada de
madeira japonesa), elas eram usadas para treino na modalidade de combates com
espadas. Ficamos alguns centímetros de distância um do outro.
− As regras serão as básicas, quem encostar com a katana no outro 3 vezes, ou
tirar a espada da mão do oponente, ganha. - Disse, Rodrigo. - E o Marco será
o juiz.
Um garoto, aparentemente chamado Marco, apareceu no meio. Ele era um
tanto quanto estranho, devia ser amigo de Rodrigo. Tinha um sorriso duvidoso no
rosto, como de alguém que queria ver uma luta sangrenta.
− As regras são exatamente o que o cara aí disse, eu tenho esse apito, quando
eu apitar, vocês devem se afastar. Posicionem-se!
Daquela multidão em volta, era possível ver Igor com um tampão no nariz
(provavelmente para conter um sangramento por causa da queda) e também Amanda
com o rosto expressando somente preocupação. Sei que devem estar pensando que
não é pra tanto, mas duelos sérios costumam machucar de verdade, se fossem
espadas de verdades poderíamos morrer numa batalha. Mesmo que aqui não seja o
caso, isso conta como uma briga, quase como uma troca de socos e esquivas.
Antes de começarmos, um professor chegou:
− O que está acontecendo aqui? Não permito brigas nessa instituição!
− Não estamos brigando, é um duelo para treinar nas competições e representar
bem a escola! - Exclamou Rodrigo de onde estava, com um sorriso no rosto
para parecer o mais carismático possível.
− Nesse caso... Acho que tudo bem. Mas não se atrasem! A aula começa em 15
minutos! - Após esse comentário, o professor voltou de onde havia vindo,
provavelmente a sala dos professores.
Não demorou muito para Rodrigo voltar os olhos em minha direção e sumir
com a aquele sorriso falso. A situação estava arriscada, com nenhum professor por
perto não sei até onde isso ia. Estávamos em posição de batalha, até que Marco grita
“Comecem!”. Nessa hora fico numa posição recuada, enquanto Rodrigo vem pra cima
com tudo e gritando. Eu consigo bloquear com a espada seu primeiro golpe, mas são
muitos! É uma quantidade de golpes consecutivos espantosa, um atrás do outro, um
mais intenso e pesado do que outro em cima de mim! Tento bloquear enquanto ando
para trás e ele continua avançando. Me descuido e não consigo bloquear um deles,
que me acerta em cheio na cabeça pela lateral, caio no chão tonto e Rodrigo se afasta
por vontade própria. Todos ficam espantados e pasmos com a situação, ninguém
sabia que ele lutava tão bem.
Igor começa a gritar indignado:
− Isso foi falta! Como é Marco, dá a penalidade, diz que ele tá fora, faça algo, o
golpe foi na cabeça!
− Não sei do que você está falando – Ele diz de forma calma e o sorriso em sua
face volta novamente – Ainda estão seguindo as regras propostas, não tenho
o porquê de intervir.
Quando ele diz isso, Igor fica com uma feição de espanto e indignação, e
Amanda coloca a mão em formato de cone em frente a boca e grita pra eu me
levantar, junto com o resto.
- Vamos, Victor!
Os outros não gritavam por que tinham esperança de eu vencer, só queriam mais
show. Diferente de Amanda, eu sei que ela gritava por que queria ter certeza que eu
estava bem. Com um pouco de força, consigo levantar, meu rosto está com uma
ferida, começa a sangrar um pouco.
Rodrigo vê que estou em posição de batalha, e vem para cima com mais uma
rajada de golpes. Tento fazer a mesma coisa, até que no meio dos bloqueios percebo
algo, as rajadas de golpes não eram aleatórias, ele estava fazendo da mesma
maneira de antes, elas seguiam um padrão! Se tudo estivesse certo, seu próximo
golpe seria mirado em minha cabeça novamente, consigo prever e desvio! Abaixo
minha cabeça e a espada passa direto! Aproveito a oportunidade e reajo com tudo
que tenho, mirando também na sua cabeça, um pouco mais perto do rosto. Acertei o
golpe, com o máximo possível que a minha força permitia.
− Falta! Golpe desqualificatório, ele não será contado como um golpe de acerto!
- Exclamou Marco, após apitar.
Dessa vez Amanda se juntou a Igor nas reclamações:
− Do que você está falando? Rodrigo fez a mesma coisa com ele e você não fez
nada!
− Eu sou o juiz, eu decido o que é certo ou não nessa batalha, portanto, esse
golpe não valeu.
Quando ouve isso, Amanda sai correndo dali.
Rodrigo recua tomando distância e fica um pouco disperso, todos ficaram
maravilhados comigo ter conseguido reagir. Igor grita animado, junto com os que
estavam em volta. Rodrigo limpa sua boca, olha para a sua mão e vê sangue. A coisa
está ficando séria demais, melhor eu desistir? Não, já cheguei até aqui. No momento
que vê o sangue em sua mão, ele muda totalmente o olhar, seus olhos não tinham
mais humanidade, era algo parecido com a fúria, uma indignação por eu ter
conseguido acertá-lo. Algo inesperado acontece. Uma aura aparece em volta de todo
seu corpo.
− QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA ME ACERTAR?!?! - Ele grita do outro lado
da quadra.
Já vi isso acontecer, era uma coisa próxima do que os espadachins faziam.
Quando isso acontece habilidades fora do comum aparecem. Todos em voltam ficam
maravilhados gritando para ver mais do poder dos espadachins, e eu... Eu não
consigo mexer minhas pernas, estou apavorado de mais. Aquilo estava em outro
nível, uma habilidade extra-humana. Estou prestes a pedir pra desistir, todos iriam
entender, não teria lógica continuar lutando.
Antes de eu jogar minha espada no chão, Rodrigo chega em cima de mim por
trás numa velocidade que eu nunca havia visto, parecia que havia se teletransportado!
Ele estava na minha frente, como veio parar atrás de mim tão rápido? Então isso é o
poder de um verdadeiro espadachim? Com um golpe tenebroso, ele tenta me acertar
no braço direito. Por puro instinto, eu coloco minha espada na frente com o outro
braço apoiando e espada para resistir ao impacto. Consegui bloquear, mas foi tão
intenso que saí voando. Do outro lado ginásio, caído no chão, eu levanto rapidamente.
Rodrigo vem em minha direção com passos lentos e calmos. Num piscar de olhos,
ele fica em minha frente e começa uma rajada de golpes! 5... Não! 10 vezes mais
fortes do que antes, não consigo acompanhar. Sei que deveria soltar minha espada,
mas o instinto diz que não. Se eu soltar agora, vou apanhar muito. A quantidade de
rajadas que minha espada levou, fez quebrá-la ao meio! A outra metade
simplesmente voou fazendo perde-la de vista. Levo um golpe tão forte no peito, de
forma direta, que sou arremessado para longe, caído no chão e fico sem fôlego.
Segurando uma “meia-espada” quebrada na mão direita, ajoelhado e sem ar
suficiente para respirar, eu levanto, fico de pé. Não vou desistir já que a situação
chegou até aqui. Se for para perder, que ele tenha dificuldade em lutar. Empunho a
espada quebrada ao meio. Ele olha para mim com um ar de desprezo. Sua aura fica
mais forte. Ele fica em posição, e começa a correr, seus gritos de fúria ecoavam pelo
ginásio. Empunhava a espada. Seu golpe final, o mais forte que ele poderia dar. As
pessoas em volta gritavam para alguém fazer algo ou parar a luta, que aquilo já tinha
ido longe demais. Abaixo o rosto e fecho os olhos só esperando as consequências de
seu ataque. Mas não deixo de empunhar minha espada quebrada. Com alguns
centímetros de distância de sua espada chegar ao meu corpo, alguém grita:
− Parem a luta! - Era o professor de antes, e Amanda estava ao seu lado.
Ela havia ido chamá-lo para impedir do pior acontecer. Devo minha vida a ela,
não sei o que iria acontecer se eu tivesse tomado aquele golpe.
− O que acham que estão fazendo?! Vão os dois agora para a coordenação, e
se eu souber que souber que se encostaram de novo durante o caminho, vou
fazer questão de que sejam expulsos!
Acho que ele estava bastante irritado pelo sangue em nossos rostos e a
espada quebrada. Dava para ver que a luta tinha sido mais séria do que só mais um
treinamento. Soltei a espada, e lentamente fui andando até a coordenação, olhei para
o rosto de Rodrigo, estava com a cabeça abaixada, não olhou para meu rosto durante
o caminho todo. Acho que estava preocupado se aquela situação poderia custar seu
futuro na AEL.
Fomos para a coordenação, ouvimos poucas e boas, ficamos o resto do dia na
detenção e chamaram nossos responsáveis. O pai de Rodrigo veio furioso, falou que
ele tinha prometido não se meter em brigas nem qualquer outra coisa enquanto não
entrasse na AEL. A única vez que Rodrigo olhou para mim de novo naquele dia, foi
na hora de ir embora. De forma cautelosa e com a voz baixa, ele sussurrou para mim:
“Aquele duelo não terminou”. Fiquei pensando no que ele havia dito, realmente o
duelo não havia terminado, como também não havia tido um vencedor. Ninguém
desarmou ninguém (por mais que minha espada tivesse quebrada, eu não fui
desarmado), e ele não me acertou as 3 vezes. Ele não ganhou a batalha. Me senti
orgulhoso por um breve momento, mas logo depois essa sensação sumiu, quando
interpretei aquele comentário como uma ameaça.
Achei que meu tio estaria decepcionado, ou no máximo irritado, mas não,
quando chegou estava calmo e, dentro do carro (um belo Porsche), só queria que eu
explicasse a situação enquanto dirigia a caminho de casa.
− Você não é de se meter em confusões Victor, nunca me deu trabalho desde
que veio morar comigo. O que aconteceu?
− Era pra ser só um duelo de espadas de treino, mas acabou saindo do controle.
− Não pode deixar que suas emoções te levem para esse lado. Não quero que
isso se repita.
− Pode deixar, não vai acontecer... - Uma coisa surgiu em minha mente e senti
a necessidade de perguntar - Tio, tenho uma dúvida....
− Pois diga.
− É possível vencer um espadachim lendário, sem ter as mesmas habilidades
extra-humanas que eles possuem?
− Por que a dúvida repentina?
− O Rodrigo, o garoto com quem eu lutei, tem esses poderes. A aura dele
apareceu enquanto nós lutávamos e ele ficou muito mais forte e rápido. Eu sei
que não teria chance nenhuma contra ele agora, mas seria possível alguém
vencer um espadachim lendário, sem ter nenhum poder?
− Entendo... Creio que não, mesmo que você treine por muitos anos, ainda não
poderia fazer coisas que eles são capazes, e, provavelmente, sempre perderia
nas batalhas.
− Isso parece um pouco injusto...
Meu tio não falou mais nada o caminho todo, mas tenho certeza que
compartilhava da mesma opinião que eu. Chegamos em casa e ele mandou eu ir me
arrumar para o jantar. Deixei minhas coisas no quarto e fui tomar banho. Saí, mudei
de roupa e decidi ver algo na televisão enquanto a comida não ficava pronta. Meu tio
adora cozinhar, é um de seus hobbies favoritos desde que se aposentou.
Recebi uma mensagem de Amanda perguntando se eu estava bem, mas não
queria responder agora, só queria me afastar por um momento e não ter que ficar
dando explicações sobre a luta. Assisti um pouco de um filme que estava passando
até que meu tio me chama para jantar. Preparei meu prato e me sentei à mesa.
Enquanto degustava o frango assado com arroz e purê de batata, tio Erick começa a
falar comigo:
− Victor, andei pensando um pouco sobre a conversa que tivemos no carro, e
preciso resolver algumas coisas na capital, a partir de amanhã, vou ficar uns
dias fora.
− O que você ir pra capital tem a ver com o que conversamos no carro? - Faço
o questionamento enquanto tento não fazer a comida em minha boca
atrapalhar no entendimento de minhas palavras.
− Na verdade, nada... Foi só uma confusão de pensamentos. Enfim, eu vou ter
que ficar uns dias fora, qualquer coisa você tem o meu número, e Sra. Pielcing,
nossa vizinha, está à disposição também.
− A capital não é tão longe de carro, por que ficar dias fora? O que está
tramando?
− São uns assuntos pendentes da minha aposentadoria, nada demais. E não é
a capital do nosso estado, vou para São Paulo, por isso a demora.
− Vai viajar tudo isso? Deixa-me ir com você!
− Sinto muito rapaz, você tem escola, não pode ficar faltando assim. E em
poucos dias estarei de volta. Uma coisa, já que não estarei presente, nem
preciso dizer que está proibido trazer alguém aqui, muito menos fazer festas
ou coisas do tipo. As mesmas regras de sempre, nada de entrar no meu quarto,
etc.
− Tudo bem.
Continuamos conversando sobre alguns assuntos, principalmente sobre como
havia sido a luta. Apesar de ter sido errado fazer aquilo, e meu tio não apoiar aquela
atitude, ele já foi um esgrimista, logo, era natural querer como eu me saí numa luta
com espadas.

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