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 Biofísica das Radiações Ionizantes

 Aula 1 - Efeitos estocásticos e determinísticos

22 minutos

 Aula 2 - Biofísica das radiações ionizantes

23 minutos

 Aula 3 - Radicais livres

21 minutos

 Aula 4 - Transferência linear de energia

22 minutos

 Referências

3 minutos

Aula 1
EFEITOS ESTOCÁSTICOS E DETERMINÍSTICOS
Saber a diferença entre efeitos estocásticos e determinísticos é de
extrema importância, pois se trata dos efeitos biológicos causados
pela radiação tanto em baixas como em altas doses.
22 minutos
INTRODUÇÃO
Caro estudante, nesta aula você aprenderá não somente conceitos novos sobre física
radiológica de forma teórica, mas também vai conhecer os conceitos que serão
utilizados no seu cotidiano em um setor de imagens médicas de um hospital. Saber a
diferença entre efeitos estocásticos e determinísticos é de extrema importância, pois se
trata dos efeitos biológicos causados pela radiação tanto em baixas como em altas doses.
Você verá como é a interação dos raios X com a matéria e, por fim, conhecerá os efeitos
da radiação com a matéria e as grandezas radiológicas, para garantir a sua segurança e a
dos demais profissionais do setor de radiologia.

RADIAÇÃO
Você já se perguntou o que é radiação? Radiação é energia em trânsito, pois sai do seu
lugar de origem (sua fonte) e seu alcance é diretamente proporcional à sua energia.
Contudo dependendo do número de anteparos que essa radiação encontra durante sua
trajetória, ela vai ficando menos energética, sofrendo o processo de atenuação. Quando
uma pessoa é submetida a certos níveis de radiação, sofrerá os efeitos biológicos
causados por ela. Esses efeitos podem ser classificados como estocásticos e
determinísticos.
Os efeitos estocásticos são aqueles cujo limiar de dose não está estabelecido, ou seja,
podem ocorrer em qualquer dose. É um efeito probabilístico; a probabilidade de ocorrer
um dano cresce linearmente com a dose acima de 100mGy. Esse tipo de efeito
provavelmente desenvolva, em algum momento, uma leucemia (oito anos em média) ou
câncer sólido (de 15 a 25 anos em média).
Os efeitos determinísticos são aqueles que ultrapassam o limiar de dose suportado pelo
órgão ou tecido. Logo, há uma grande quantidade de morte celular da região, efeito
observado em altas doses. Há um limiar de dose para o surgimento da reação tecidual
(0,15 – 1,5 Gy). Os efeitos são causados em um curto intervalo de tempo, em horas ou
semanas, como mucosite, eritema e escamação da epiderme, além de queimaduras, entre
outros.
Como já foi enfatizado, a radiação ionizante é uma energia em trânsito, porém essa
energia ioniza o meio em que atravessa. Portanto, a passagem das radiações ionizantes
por qualquer meio produz ionizações nesse meio pela retirada de elétrons de átomos do
material. Então, quando realizamos um exame que usa radiação ionizante, o corpo
sofrerá danos. No entanto, como na maioria dos casos as energias utilizadas são baixas,
o corpo tem uma maior capacidade de reparar esses danos. Além disso, quando há um
serviço de imagens médicas, existe uma grande preocupação dos órgãos de vigilância,
os quais exigem que os danos não sejam superiores às vantagens que o exame oferece.
Diz o princípio “alara”, do inglês as low as reasonably achievable, que as doses devem
ser tão baixas quanto razoavelmente exequíveis.
Como a essa radiação ioniza o meio que atravessa, é preciso entender como é o processo
de interação da radiação com a matéria. Existem a radiação diretamente ionizante e a
indiretamente ionizante.
As diretamente ionizantes são as corpusculares, que têm massa e/ou carga. Como
exemplo, há as partículas alfa, beta, prótons, pósitrons e elétrons.
As indiretamente ionizantes são as que não têm massa nem carga. São fótons de raios X
e gama. Nesse caso destacam-se três processos principais: efeito Compton, efeito
fotoelétrico e criação de pares.
Essas energias são medidas por meio das grandezas radiológicas. As grandezas são
separadas em grandezas físicas, grandezas de proteção e grandezas operacionais.
As grandezas físicas são: exposição, dose absorvida e Kerma.
As grandezas de proteção são: dose equivalente no tecido ou órgão, dose efetiva e dose
absorvida no órgão.
Com a descoberta dos raios X, começou uma utilização desenfreada da radiação
ionizante, pois tratava-se de um fenômeno que solucionava muitos problemas
existentes. Porém, esse uso sem cautela levou a inúmeros danos biológicos. A partir
disso, iniciou-se os estudos em proteção radiológica.

MECANISMOS DE AÇÃO DAS RADIAÇÕES


Mecanismos de ação das radiações
A interação da radiação com os tecidos biológicos pode ocorrer diretamente ou
indiretamente. A forma direta ocorre quando a radiação ionizante interage com os
componentes do DNA, proteínas e lipídeos, provocando assim, alterações estruturais na
estrutura. Esse evento é responsável por 30% das ocorrências entre a interação da
radiação e célula. Já a forma indireta ocorre quando a radiação ionizante interage com
componentes celulares, denominado como radiólise. A radiólise é o processo de quebra
da água através da passagem da radiação ionizante. Esse evento é responsável por 70%
das ocorrências entre a interação da radiação com a célula. Essa diferença em
porcentagem de ocorrência se dá, devido ao fato de que a água ocupa uma parcela
substancial da composição das células nos organismos vivos.

Efeitos da radiação
São classificados de duas formas: segundo a dose absorvida (efeitos estocásticos e
determinísticos) e segundo o nível de dano (células somáticas ou genéticas).

Efeitos somáticos
 Afetam apenas o indivíduo irradiado; não são transmitidos aos descendentes.
 Dependem da dose absorvida, da taxa de absorção e da área do corpo irradiado.
 Regiões mais sensíveis à radiação são a medula óssea e os órgãos reprodutores.

São classificados de duas formas:


 Efeitos imediatos/agudos: ocorrem em um período de horas ou semanas.
Exemplos: dermatite, queda de cabelos, necrose de tecido, esterilidade
temporária ou permanente, alterações no sistema sanguíneo.
 Efeitos tardios/crônicos: quando os efeitos ocorrem vários meses ou anos após
a exposição à radiação. Exemplos: aparecimento de catarata e câncer (leucemia,
por exemplo).

Efeitos genéticos
 Afetam os descendentes da pessoa irradiada.
 É acumulativo e independente da taxa de absorção de energia da radiação.
 Exemplo: irradiação das células dos órgãos reprodutores.

As radiações que são conhecidas como indiretamente ionizantes, fazem parte de três
processos principais de deposição de energia e ionização, como dito anteriormente.
Temos: efeito totoelétrico, efeito compton e formação de pares.
Já vimos anteriormente, que no efeito fotoelétrico, o funcionamento e sua produção
ocorre através das interações da radiação com a matéria. Esse fenômeno é muito
utilizado na área do radiodiagnóstico. Esse tipo de efeito é o desejado para que a
imagem se forme de forma clara e objetiva. O efeito fotoelétrico ocorre com maior
frequência para feixes de baixas energias e materiais com números atômicos altos. Já
o efeito Compton, também ocorre na faixa do radiodiagnóstico, mas em menor
frequência, e isso é excelente, pois o efeito Compton não contribui para a qualidade da
imagem e sim ele deteriora a formação da imagem. O efeito Compton é indesejado nos
equipamentos de diagnóstico por imagem e por isso, há a utilização de filtros, grade
anti-difusora e colimadores, para que minimizem também que radiações dessa origem
atinja o detector. E a formação de pares é utilizada na medicina nuclear onde utiliza
feixes energéticos altos, acima de 1,022 MeV.

As grandezas radiológicas
Grandezas físicas:

 Exposição = �/�� (Coulomb/Quilograma).


 Kerma = Gy (Grey).
 Dose Absorvida = Gy (Grey).

Grandezas de proteção:

 Dose absorvida no órgão: Sv (Sievert).


 Dose equivalente no órgão: Sv (Sievert).
 Dose efetiva: Sv (Sievert).

ONDE SE APLICAM ESSES CONCEITOS?


Imagine que você já esteja graduado e foi contratado pelo serviço de imagens de
radiologia de um hospital. Durante o seu cotidiano, você terá que cumprir algumas
obrigações estabelecidas da sua função e da instituição onde você trabalha. O cotidiano
de um técnico de radiologia não é somente posicionar o paciente e fazer a aquisição de
imagem.
A proteção radiológica sempre acompanhará o profissional em seu cotidiano, portanto,
saber a fundo como evitar a possibilidade de ocorrência de efeitos estocásticos e
determinísticos é de sua responsabilidade. A forma de alcançar isso é atualizar-se em
relação à otimização de protocolos das aplicações dos diferentes equipamentos que
utilizam a radiação ionizante. É importante estar ciente da sua proteção e da proteção
dos profissionais que trabalham com você, mantendo as portas fechadas nos momentos
de irradiação, e quando disparar um feixe de raios X, é essencial se postar atrás da
estrutura de proteção. Não permitir que pessoas sejam expostas à radiação
desnecessária. Quando realizar um exame, atente-se às faixas de energia necessárias
para aquele tipo de exame, evitando que o paciente seja irradiado novamente de forma
desnecessária.
A interação da radiação com a matéria é de extrema importância para o seu
conhecimento, pois cada tipo é utilizado para uma finalidade.
Por exemplo, a faixa de energia empregada no radiodiagnóstico é o efeito fotoelétrico.
Como normalmente os materiais têm números atômicos altos, e utilizando baixas faixas
de energia, há maior probabilidade de ocorrência de efeito fotoelétrico.
O efeito Compton não é desejado em imagens médicas; devido à poluição da imagem,
ela fica ruidosa, dificultando se diferenciar estruturas.
A formação de pares é muito empregada em medicina nuclear, pois a faixa de energia
empregada nessa modalidade médica é bastante alta em comparação ao
radiodiagnóstico. Portanto, para altas energias, a ocorrência de formação de pares é
frequente – até porque a imagem formada em medicina nuclear é baseada no princípio
da formação de pares.
Já as grandezas radiológicas são importantes, porque uma das dificuldades é como
realizar uma medição de quantidades, utilizando a própria radiação ou os efeitos e
subprodutos de suas interações com a matéria.
Essas dificuldades – de partir do problema para chegar na causa – estão associadas às
suas propriedades, pois a radiação é invisível, inodora, inaudível e indolor. Portanto,
saber onde se emprega cada tipo de grandeza e interpretar suas unidades de medidas
facilitará o seu trabalho e, por consequência, a sua segurança.
Esses conceitos são empregados cotidianamente em um centro de imagens médicas –
além disso, você está ocupando uma função que é totalmente interdisciplinar. Será
preciso conversar com médicos, enfermeiros, técnicos, físicos médicos, engenheiros
clínicos e pacientes. Logo, entender os conceitos facilita na maneira como você vai
expor problemas e soluções.

VIDEOAULA
O vídeo aborda assuntos de extrema importância para a sua vivência em um ambiente
hospitalar. Saiba diferenciar efeitos estocásticos de determinísticos, compreenda como
ocorre a interação da radiação com a matéria, sua segurança e a de todos que trabalham
com você, conhecendo e diferenciando as grandezas radiológicas.

Videoaula

Saiba mais
Prezado estudante, chegou o momento em que a pesquisa se faz necessária, para
aprimorar nosso conhecimento, segue a sugestão de leitura de um artigo: Controle de
riscos à saúde em radiodiagnóstico: uma perspectiva histórica. Este artigo explana os
efeitos biológicos no organismo causados pela radiação.
Link: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/fhvKsgyHWVWR7pwXsR9CFKM/?
format=pdf&lang=pt.
Aula 2
BIOFÍSICA DAS RADIAÇÕES IONIZANTES
Saber onde se emprega e como se estima a dose absorvida e sua
unidade de medida/grandeza, saber diferenciar os tipos de
radiações ionizantes e saber quais são os limiares de doses faz
parte do cotidiano de um profissional da área da radiologia.
23 minutos

INTRODUÇÃO
Caro estudante, nesta aula você aprenderá não somente conceitos novos sobre física
radiológica de forma teórica, mas também vai conhecer os conceitos que serão
utilizados no seu cotidiano em um setor de imagens médicas de um hospital. Saber onde
se emprega e como se estima a dose absorvida e sua unidade de medida/grandeza, saber
diferenciar os tipos de radiações ionizantes e saber quais são os limiares de doses faz
parte do cotidiano de um profissional da área da radiologia. Esses conhecimentos
garantem a sua segurança e a dos demais profissionais do setor de radiologia.

RADIAÇÃO
Qual o conceito de dose absorvida?
Dose absorvida é a quantidade de energia que foi depositada pela radiação em um órgão
ou tecido. É simbolizado pela letra D, e sua unidade de medida no sistema internacional
(SI) é o Grey (Gy), como mostra a equação a seguir:

�=�����=[���]=��

(Eq. 1)

Onde o D é a variável de dose absorvida, ��� é a variação de energia depositada


e �� é a variação de massa em que essa radiação foi depositada. Essa medida é
expressa em Joule/Kg, pois energia é dada em Joule e a massa em quilograma,
equivalendo ao Grey.
Lidamos com dose de radiação quando essa radiação causa danos biológicos a um
indivíduo. Uma fonte radioativa isolada da humanidade não apresenta riscos biológicos.
Portanto, quando um indivíduo sofre danos devido à radiação, devemos tratar como
dose.
Assim, é importante distinguir radioatividade de uma fonte radioativa da dose de
radiação que essa fonte pode causar. Dose de radiação depende dos seguintes fatores:

 Atividade: influencia diretamente com a dose de radiação que será depositada.


 Tipo de radiação: os diferentes tipos de radiação interagem de diferentes
formas com a matéria. Por exemplo, radiações corpusculares que têm carga
ionizam diretamente a matéria. Já as radiações eletromagnéticas que não têm
massa nem carga ionizam indiretamente.
 Distância: a radiação diminui com o quadrado da distância.
 Tempo: a quantidade de exposição sofrida por um indivíduo submetido à
radiação depende diretamente (linearmente) do tempo que ele esteve perto da
fonte.
 Blindagem: a dose de radiação depende do material entre a fonte e o objeto.
Diferentes tipos de radiação exigem diferentes tipos de blindagem. Se a fonte for
muito intensa e o tempo ou a distância não fornecerem as devidas proteções, a
blindagem deve ser usada. Partículas alfa tem carga e massa, e ionizam muito o
meio que atravessam, contudo, seu alcance é baixo. Uma simples folha de papel
consegue bloqueá-la. Já a radiação beta não tem massa, mas tem carga, e seu
alcance também é baixo. Necessita de um material com maior número atômico
para blindá-la, como uma lâmina de alumínio. Já as radiações X e gama não têm
massa e não têm carga; seu alcance é longo e para bloquear esse tipo de radiação
é necessário um bloco de chumbo ou um bloco espesso de concreto.

O que causa maior perigo da radiação não é somente o dano que ela pode causar, o que
já é bastante sério, mas também o fato de ela ser invisível e inodora, ou seja, os sentidos
humanos não conseguem detectar sua presença.
As radiações são classificadas em ionizantes e não ionizantes. Ionização é a capacidade
de retirar elétrons dos átomos que estão no material do meio que a radiação está
incidindo. As radiações ionizantes são capazes de causar ionização nos meios que estão
atravessando ou com as quais interagem. Dentro das radiações ionizantes, há mais de
duas classificações, as radiações corpusculares e as eletromagnéticas. As corpusculares
são aquelas em que elementos radioativos instáveis emitem partículas, buscando a
estabilidade. Partículas alfa que têm carga +2 e número de massa igual a 4; e beta, que
não têm massa e podem ter carga +1 e -1. Já as radiações eletromagnéticas são energias
em forma de ondas que não têm carga nem massa.

CLASSIFICAÇÃO DA RADIAÇÃO IONIZANTE


Cada elemento radioativo instável emite partículas ou energia durante o processo de
decaimento radioativo.
Temos dois tipos de classificação da radiação ionizante, as radiações corpusculares (alfa
e beta) e as radiações eletromagnéticas (raios X e gama), como serão descritas abaixo:

Radiações corpusculares
 Partículas alfa e beta.

Tipos de decaimentos
 Decaimento alfa (�): é uma forma de dissipação de energia de um elemento
instável, esse tipo de emissão radioativa ocorre naturalmente/espontaneamente
dos núcleos radioativos. Esse tipo de decaimento ocorre em elementos que tem
um número atômico alto (Z ≥ 83). A reação da emissão dessa partícula está
descrita na equação abaixo:

���→��−2�−4+�24�

(Eq. 2)

O átomo de Hélio é denominado como partícula alfa, devido ao número de massa e


carga serem os mesmos, portanto é normal encontrarmos na literatura em equações que
descrevem o decaimento alfa, como o elemento Hélio ou a partícula alfa.

 Decaimento beta (�): é uma forma de dissipação de energia de um elemento


instável. Contudo no decaimento beta, nós temos duas formas. Temos o
decaimento �+ e �-. O decaimento �+ ocorre quando há um excesso de
prótons dentro no núcleo, portanto esse próton é convertido em um pósitron
(elétron com carga positiva) e é emitida do núcleo. Já o decaimento �- ocorre
quando há um excesso do número de nêutrons, nesse momento um nêutron é
convertido em um elétron e ejetado do núcleo. A partícula �+ é um pósitron e
a �- é um elétron. Como mostra as equações a seguir:

���→��−1�+�10+�00

(Eq. 3)
���→��+1�+�−−10+�¯00

(Eq. 4)

Onde X é um elemento químico radioativo qualquer, Y é um elemento originado a partir


do elemento X, � é a partícula emitida, � e �¯ é o neutrino e o anti-neutrino
respectivamente.
Em ambas as equações notamos que há a conservação de energia. Nesse processo de
decaimento radioativo há as partículas carregadas e partículas sem cargas.

Radiação eletromagnética
A radiação gama é uma onda eletromagnética que não tem carga e nem massa. Contudo
o seu alcance é extremamente alto. É gerada de forma natural, através de átomos
instáveis. A radiação gama e a radiação X, se assemelham em muitos pontos como,
ambas são ondas eletromagnéticas, ambas não têm carga e nem massa, ambas têm longo
alcance, ambas são blindadas da mesma forma (chumbo ou bloco espesso de concreto),
ambas têm frequências de ondas altas e consequentemente altas energias. Contudo
diferem na sua origem, a radiação gama é formada no núcleo e a radiação X na
eletrosfera do átomo, e a radiação gama é natural e a radiação X é artificial. A emissão
dessa radiação é mostrada na equação a seguir:

���*→���+�

(Eq. 5)

Limiar de dose subletal é o limite de dose que, caso extrapolada, causará danos
irreversíveis à estrutura. Quando não há um limiar para o dano causado para a radiação,
tratamos como efeito probabilístico, como o caso dos efeitos estocásticos. Nesse tipo de
efeito, trabalhamos com a probabilidade de futuramente vir causar um dano biológico.
Quando há um limiar de dose e esse limiar é ultrapassado, damos o nome de efeitos
determinísticos. Nesse caso, há um grande número de morte celular no local da lesão, e
o dano causado é irreversível. Cada órgão tem um limite de dose que pode receber para
que não haja o efeito determinítico, como mostra a tabela a seguir:

Tabela 1 | Efeitos determinísticos – Limiares de dose (ICRP 103 – Efeitos Teciduais)

Dose total recebida em Dose total recebida em Taxa de dose anual se a


uma exposição única e exposições fracionadas ou exposição for
Tecido Efeito breve (Sv) prolongadas no tempo (Sv) prolongada (Sv/ano)

Testículo - Esterilidade 0,15 Não determinado 0,4


temporária
3,5 – 6,0 2,0
- Esterilidade
permanente

Ovário Esterilidade 2,5 – 6,0 6,0 >0,2

Cristalino - Opacidade 0,5 – 2,0 5 >0,1


Dose total recebida em Dose total recebida em Taxa de dose anual se a
uma exposição única e exposições fracionadas ou exposição for
Tecido Efeito breve (Sv) prolongadas no tempo (Sv) prolongada (Sv/ano)

- Cataratas 5,0 >8 >0,15

Medula Depressão 0,5 Não determinado >0,4


óssea hematopoiética

Fonte: Santiago ([s. d.], [s. p.]).

RESPOSTA DA RADIAÇÃO NO ORGANISMO


Podemos dizer que que cada órgão reage e interage de uma forma diferente quando
expostos a radiação ionizante, seja ela natural ou artificial.
A ação das radiações no organismo humano produz uma série de efeitos, que
representam danos diferentes para cada região afetada. Os tecidos mais sensíveis à
radiação são os da medula óssea, tecido linfoide, dos órgãos genitais, os do sistema
gastrointestinal e do baço. A pele e os pulmões mostram sensibilidade média, enquanto
os músculos, tecidos neuronais e os ossos plenamente desenvolvidos são os menos
sensíveis.
A seguir, veja um resumo dos sintomas clínicos, relativos aos efeitos biológicos
imediatos mais prováveis na irradiação de corpo inteiro, com doses agudas de radiação:

 Sangue - os glóbulos brancos do sangue são as primeiras células a serem


destruídas pela exposição, provocando leucopenia e reduzindo a imunidade do
organismo. Uma semana após uma irradiação severa as plaquetas começam a
desaparecer, e o sangue não coagula. Sete semanas após começa a perda de
células vermelhas, acarretando anemia e enfraquecimento do organismo.
 Sistema linfático - o baço constitui a maior massa de tecido linfático, e sua
principal função é a de estocar as células vermelhas mortas do sangue. As
células linfáticas são extremamente sensíveis à radiação e podem ser danificadas
ou mortas quando expostas.
 Canal alimentar - os primeiros efeitos da radiação são a produção de secreção e
descontinuidade na confecção de células. Os sintomas são náuseas, vômitos e
úlceras no caso de exposição muito intensa.
 Glândula tireoide - essa glândula não é considerada sensível à radiação externa,
mas concentra internamente iôdo-131 (radioativo) quando ingerido, o que causa
o decréscimo da produção de tiroxina. Como consequência, o metabolismo basal
é diminuído e os tecidos musculares deixam de absorver o oxigênio necessário.
 Sistema urinário - a existência de sangue na urina, após uma exposição, é uma
indicação de que os rins foram atingidos severamente. Danos menores nos rins
são indicados pelo aumento de aminoácidos na urina.
 Ossos - a radiação externa tem pequena influência sobre as células dos ossos,
fibras e sais de cálcio, mas afeta fortemente a medula vermelha.
 Olhos - ao contrário de outras células, as das lentes dos olhos não são
autorrecuperáveis. Quando estas células são danificadas ou morrem, há
formação de catarata, ocorrendo perda de transparência dessas células. Os
nêutrons e raios g são os maiores indutores de catarata.
 Órgãos reprodutores - doses grandes de radiação podem produzir esterilidade,
tanto temporariamente como permanente. A sensibilidade de gestantes é maior
entre o 7º e o 9º mês de gestação. Nas mulheres grávidas que foram expostas às
radiações no Japão durante o episódio em que duas bombas atômicas foram
lançadas sobre aquele país, houve um aumento significativo de partos retardados
e mortes prematuras.

VIDEOAULA
O vídeo aborda assuntos de extrema importância para a sua vivência em um ambiente
hospitalar. Diferenciar os tipos de radiação, compreender como promover a sua
segurança e a de todos que trabalham no setor e conhecer os limiares de dose farão de
você um profissional cauteloso e responsável.

Videoaula

Saiba mais
Se você ficou entusiasmado com o conteúdo desta aula, chegou o momento de
aprofundar seus conhecimentos na área de radiologia.
A radiologia diagnóstica é a área da física médica relacionada ao uso de raios X para a
obtenção de informações anatômicas e funcionais do corpo humano. Portanto, segue a
indicação de uma leitura complementar fundamental: Artigo: Correlações técnicas e
ocupacionais da radiologia intervencionista.
Link: https://www.scielo.br/j/jvb/a/37NpXR9qnR5Xhnjq9CqBcpb/?
format=pdf&lang=pt.
Aula 3
RADICAIS LIVRES
Nesta aula, você vai conhecer como é o funcionamento da
produção de radicais livres no organismo devido ao processo de
radiólise, quais os efeitos biológicos causados pela deposição de
energia da radiação ionizante em tecidos ou órgãos.
21 minutos
INTRODUÇÃO
Caro estudante, nesta aula você aprenderá não somente conceitos novos sobre física
radiológica de forma teórica, mas também vai conhecer os conceitos que serão
utilizados no seu cotidiano em um setor de imagens médicas de um hospital. Nesta aula,
você vai conhecer como é o funcionamento da produção de radicais livres no organismo
devido ao processo de radiólise, quais os efeitos biológicos causados pela deposição de
energia da radiação ionizante em tecidos ou órgãos, radiossensibilidade e mecanismos
de defesa do corpo humano quando submetido a certos níveis de radiação ionizante.
Bons estudos!

EFEITOS BIOLÓGICOS CAUSADOS PELA RADIAÇÃO


A utilização da radiação ionizantes requer cautela em razão dos danos celulares que
podem ser causados diretamente e indiretamente. Os danos a células causados
diretamente ocorrem pela quebra de ligações químicas de moléculas biológicas
(molécula de DNA). Os danos causados indiretamente (radiólise) criam radicais livres
nas moléculas de água que são atingidas pela radiação ionizante.
Esse processo de ionização pode alterar os átomos, criando íons. Também pode
modificar a estrutura de moléculas, dependendo da energia de excitação: se essa energia
for superior à energia de ligação entre átomos, pode ocorrer a quebra das ligações
químicas, e consequentemente mudanças moleculares. Do total da energia transferida
pela radiação no tecido, metade induz excitações, cujas consequências são menores que
as de ionização.
Se as moléculas alteradas constituem uma célula, ela pode sofrer direta ou indiretamente
as consequências dessas mudanças, como a produção de radicais livres, elétrons e íons.
Esse efeito de radiação depende de fatores como dose, taxa de dose, divisão, tipo de
radiação ionizante e tipo de células ou tecidos que recebem a dose.
As mudanças nem sempre são prejudiciais ao corpo humano. Se o alvo irradiado
desempenha papel fundamental na vida celular, pode causar alterações celulares ou
morte celular. Em vários órgãos ou tecidos o processo de perda e reposição celular faz
parte do funcionamento normal do organismo. O dano é resultado de uma mudança de
caráter deletério.
Entre os danos às células, o mais importante é o relacionado às moléculas de DNA, que
apresenta uma frequência baixa de ocorrência (30%) por causa da probabilidade de
interação da radiação com o núcleo.
Existem três formas de resposta celular após a dose de radiação:

 As células recebem uma grande dose de radiação que levam à sua morte, mas se
a quantidade de células mortas não comprometerem a funcionalidade do órgão
ou tecido, o dano é reversível.
 Quando uma célula é danificada pela radiação ionizante, ela destrói as moléculas
de reparo da célula, portanto, o processo de proliferação celular é iniciado sem
ser controlado pelos mecanismos de reparação de erros, e evolui possivelmente
para um tumor maligno.
 A célula pode receber uma certa dose de radiação sem causar sua morte ou perda
de sua capacidade de correção para que possa reparar o dano.

Os efeitos da radiação ionizante podem ser divididos em: efeitos aleatórios e efeitos
determinísticos, dependendo do grau de dano causado, se o dano é em células somáticas
ou em células genéticas, e do período de incubação – se é imediato e ou tardio.
De modo geral, as células têm vários tipos de mecanismos de reparo.
O organismo deve repor as células e restaurar seu ritmo. Se isso acontecer, o dano
causado é classificado como reversível. No entanto, para proteção contra radiação e
efeitos de segurança, os efeitos biológicos da radiação ionizante são considerados
cumulativos (estocásticos).

COMPREENSÃO DOS DANOS BIOLÓGICOS


A interação da radiação com a célula
As mutações em células somáticas (do corpo), são aquela que já estão em seu estágio de
ação, já são diferenciadas; ou as germinativas (das gônadas), que são células
totipotentes. Podem ser classificadas em três grupos:

 Mutações pontuais: alterações na sequência de bases do DNA.


 Aberrações cromossômicas estruturais: ocorrem pela quebra nos
cromossomos.
 Aberrações cromossômicas numéricas: ocorrem com o aumento ou
diminuição do número de cromossomos, e é causada pela irradiação.

Quando as células chegam no último estágio de diferenciação não apresentam respostas


à radiação de forma igual. É preciso considerar a interferência dos diversos tipos de
interação da radiação ao longo da vida celular.
As células que se diferenciam e se proliferam de forma mais rápida são mais sensíveis à
radiação, e morrem mais facilmente. Como exemplo, temos as células do cabelo,
córnea, unha, mucosa e tecido hematopoiético. Isso de certa forma é um ponto positivo,
pois as células cancerosas também são bastante diferenciáveis e proliferativas, portanto,
em um tratamento de radioterapia, a radiação consegue matar esse tecido mais
facilmente do que tecidos saudáveis. Já células que não proliferam ou não proliferam
rapidamente são mais resistentes à radiação. Um exemplo desse tipo de célula são os
neurônios.
Quando os níveis de dose de radiação são elevados, a maior parte de células e tecidos
não suportam as transformações e morrem diretamente, ou a radiação causa uma
mudança genética, levando a célula à apoptose (morte celular). Se o órgão irradiado
sofreu poucas perdas celulares, ele será capaz de reverter esse processo e reparar os
danos. Contudo, se houve muitas mortes celulares no local, o dano pode ser permanente,
acarretando a morte do tecido ou órgão. Nesse caso estamos no estágio de reação
tecidual, ou efeito determinístico da radiação.
Cabe ressaltar que os benefícios da radiação ionizante devem ser superiores aos danos
(detrimentos).
Detrimento é um termo amplamente utilizado em proteção radiológica e se refere à
probabilidade, gravidade e tempo de manifestação de determinado dano biológico. O
termo detrimento é uma designação da probabilidade de dano total a indivíduos ou
grupos – e seus descendentes – expostos à radiação.
Já vimos que os efeitos estocásticos e determinísticos estão diretamente relacionados
com a dose e as formas de resposta que cada organismo possui em relação à exposição à
radiação ionizante.
De acordo com a proteção radiológica, doses abaixo dos limites estabelecidos podem
ocasionar efeitos estocásticos, probabilísticos, como a ocorrência de um câncer depois
de vários anos. Já os efeitos determinísticos estão diretamente relacionados com altas
doses de radiação, acima de um limiar de dose estabelecido. A partir de um certo limite,
começamos com as reações teciduais e perdas de funções. Entre os sintomas dentro da
classe de efeitos determinísticos, estão eritema, escamação da pele, bolhas e
vermelhidão.
Os efeitos somáticos surgem do dano causado nas células já diferenciadas do corpo, e
não acarretam danos hereditários, ou seja, não passam para os descendentes.
Já em células germinativas, os danos da irradiação podem causar esterilidade ou um erro
genético, com possíveis efeitos hereditários. Esse dano é produzido quando as gônadas
(órgãos reprodutivos) sofrem um processo de irradiação.

ONDE SE APLICAM ESSES CONCEITOS?


A aplicação das radiações ionizantes deve ser realizada com grande responsabilidade.
Os profissionais da área do diagnóstico e tratamento que utilizam essas tecnologias
devem ter em mente que lidarão com os danos reais causados pela radiação.
A forma de prevenir danos mais severos que possam ocorrer é preparar-se com um
conhecimento aprofundado das diferentes fontes de radiação ionizante, sejam artificiais
ou naturais, e do tipo de blindagem a ser usada para cada tipo de radiação, além da
compreensão das reações e efeitos da radiação, seja em doses baixas ou altas. É
necessário saber como lidar com um acidente radiológico ou com alta exposição à
radiação. Os profissionais de imagens médicas devem conhecer os princípios e
protocolos de proteção radiológica.
Os efeitos relacionados ao tempo de aparecimento do dano biológico são classificados
como imediatos ou retardados (ou tardios)
Como o nome sugere, os efeitos imediatos são os que ocorrem dentro de um curto
período, entre a exposição e o aparecimento dos sintomas. Esses são os primeiros
efeitos biológicos causados pela radiação.
Os efeitos retardados – ou tardios – podem aparecer vários anos depois, com o
desenvolvimento de tumores malignos.
Esses efeitos são definidos pelo nível de dose recebida. Para doses muito altas, os
efeitos imediatos dominam, e para doses baixas, os efeitos tardios dominam. Lembre-se
de que não existe um nível de dosagem saudável ou que não causará danos. No entanto,
nosso corpo tem forte resistência e uma variedade de mecanismos de reparo, além de
haver renovação das células de todo o corpo em um mês. Portanto, se ocorrer um dano
reversível, o corpo humano será capaz de se regenerar e reparar o dano.
No entanto, em termos de normas de segurança de proteção radiológica, o impacto é
cumulativo: quanto maior a frequência com que um indivíduo é exposto à radiação,
maior a possibilidade de sofrer com danos biológicos no futuro.
Por causa da falta de conhecimentos relevantes e da ocorrência de acidentes, a radiação
ionizante ainda atrai muita atenção da sociedade. Por exemplo, no acidente do Césio-
137 em Goiânia em 1987, as vítimas do acidente foram isoladas e receberam tratamento
especial e diferenciado. Os profissionais que acompanham essas pessoas usam
equipamentos de proteção, como luvas, máscaras, calçados esportivos e macacão.
Evitando a contaminação radioativa, evita-se a contaminação biológica. Portanto, ao
trabalhar em um hospital ou clínica que manipula materiais radioativos, é preciso
atentar-se aos equipamentos de proteção.
Outro ponto é que indivíduos irradiados não representam risco para os outros, o que é
desconhecido por muitas pessoas. A irradiação só causa danos à pessoa irradiada, e não
a terceiros. Já a contaminação com elementos radioativos causa danos a terceiros.
O cuidado deve ser voltado apenas ao tratamento dessas pessoas. É responsabilidade de
médicos, técnicos, físicos médicos, enfermeiros e demais pessoas responsáveis pelas
instalações que farão o acolhimento dessa pessoa não se contaminar por vírus ou
bactérias por eles portados, uma vez que a resistência imunológica do irradiado estar
muito baixa.

VIDEOAULA
O vídeo aborda assuntos importantes para sua vivência em um ambiente hospitalar.
Diferenciar os tipos de efeitos da radiação, entender a diferença entre ionização direta e
indireta de organismos vivos e conhecer a defesa do corpo às respostas sob os efeitos da
radiação ionizante ajudarão a prevenir possíveis acidentes.

Videoaula

Saiba mais
Para enaltecer seu conhecimento, segue a indicação de leitura da
monografia: Dosimetria Biológica: avaliação da exposição às radiações ionizantes
através dos efeitos biológicos induzidos.
Link: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/105224/000647114.pdf?
sequence=1&isAllowed=y.
Aula 4
TRANSFERÊNCIA LINEAR DE ENERGIA
Nesta aula, você vai conhecer o conceito de transferência linear de
energia (LET), aprender como é o funcionamento da deposição de
energia e interação da radiação ao percorrer um material.
22 minutos

INTRODUÇÃO
Caro estudante, nesta aula você aprenderá não somente conceitos novos sobre física
radiológica de forma teórica, mas também vai conhecer os conceitos que serão
utilizados no seu cotidiano em um setor de imagens médicas de um hospital. Nesta aula,
você vai conhecer o conceito de transferência linear de energia (LET), aprender como é
o funcionamento da deposição de energia e interação da radiação ao percorrer um
material, vai ver quais são as radiações de alto e baixo LET e como se comporta a
radiossensibilidade dos tecidos biológicos, além de compreender a diferença de cada
tecido à sensibilidade a radiação. Bons estudos!

TRANSFERÊNCIA LINEAR DE ENERGIA


Transferência Linear de Energia (LET – Linear Energy
Transfer )
O conceito da sigla em inglês LET é determinado pelo poder de freamento de colisão
linear quando a radiação interage com o meio. O LET é a perda média de energia, por
colisão, de uma partícula carregada, por unidade de comprimento. Outra expressão
derivada do inglês – stopping power – está relacionada com esse conceito, que é o poder
de freamento. Esse conceito é contrário ao do LET: enquanto o LET é o efeito da
partícula no meio, o stopping power é o efeito do meio na partícula.
Para compreender esse conceito, primeiramente é preciso conhecer o funcionamento de
interação das partículas carregadas interagindo com o meio material. Por exemplo, uma
interação de um elétron que é gerado a partir da interação de fótons de raios X ou raios
gama com a matéria, uma radiação alfa ou beta proveniente de decaimento radioativo ou
acelerador linear.
Uma colisão se caracteriza por duas esferas rígidas que se chocam em um mero evento
mecânico, como duas bolas de bilhar colidindo. Fisicamente, o elétron interage com
outros elétrons do orbital atômico, e no mesmo instante também há a interação com um
elétron mais próximo. Ambos se afastam devido à força de repulsão de seus campos
elétricos. Nesse momento pode haver transferência ou conversão de energia, como
ocorre na produção de radiação pelo processo de freamento, também conhecido como
bremsstrahlung.
Como os materiais são preenchidos de átomos e os átomos contêm elétrons, as colisões
ocorrem em efeito cascata; uma colisão leva à outra, e assim sucessivamente. Portanto,
a trajetória da partícula no meio não é linear, mas irregular, em razão da mudança de
caminho a cada interação. Esse é o processo de transferência de energia por uma
determinada partícula carregada em função da distância, em um meio material.

Radiações de baixo LET


Radiações eletromagnéticas e partículas beta são consideradas radiações de baixo LET.
Portanto, radiação X, gama, partícula �+ e �− têm baixa transferência linear de
energia. Como dito, o conceito de LET é determinado para partículas carregadas, mas as
radiações gama e X estão nesse contexto porque após a primeira interação da radiação
com a matéria, aparecem os elétrons por meio dos efeitos Compton, fotoelétrico e
formação de pares. Pela característica de ionização indireta essas radiações também são
classificadas como transferência linear de energia. Elétrons Auger também são
classificados como baixo LET.

Radiações de alto LET


São aquelas com alto poder de ionização e alta taxa de transferência de energia em um
meio propagado. Considerando o mesmo valor de dose absorvida, esse tipo de radiação
é a que produz maiores danos biológicos. Fazem parte dessa classificação partículas �,
íons pesados, fragmentos de fissão e nêutrons.
Essas partículas são denominadas radiações diretamente ionizantes. As radiações
indiretamente ionizantes somente são notadas no material a partir do momento que a
primeira ionização ocorre, pois é quando há a liberação de elétrons; caso contrário,
podem atravessar o material sem causar ionização algumt.

COMPREENSÃO SOBRE RADIOSSENSIBILIDADE


A radiossensibilidade dos tecidos é um assunto ligado à efetividade biológica relativa
(RBE). Essa efetividade está relacionada com a qualidade do feixe de radiação nos
sistemas biológicos, e pode ser quantificada utilizando a RBE (do inglês relative
biological effectiveness).
A RBE é determinada a partir da razão entre o tipo de radiação de referência, que é a
dose de referência necessária para produzir um tipo de resposta, e a dose da radiação
que queremos analisar. Neste momento, vamos atribuir um nome genérico a ela,
radiação A, que é a dose de radiação necessária para produzir a mesma resposta. Essa
relação se dá como mostra a equação a seguir:

çã���(�)=�����������������������çã��

(Eq. 1)

Para a radioproteção, a RBE é classificada como a função da qualidade da radiação,


expressa em termos da transferência linear de energia (LET). Em diversos sistemas, a
RBE aumenta de acordo com a LET até o ponto próximo de 100 KeV/μm, e após isso,
diminui.

A interação da radiação com a célula


Existem dois tipos celulares que interagem com a radiação, são elas, as células
somáticas e germinativas. As células somáticas, são aquelas que já atingiram o seu
último estágio de diferenciação, não vão se especializar em mais nada, é a célula do
tecido ou órgão que se encontra. Já as células germinativas, são aquelas que dão origem
aos gametas, ou seja, são células em seus primeiros estágios de vida. A interação com
esses tipos celulares, são divididas em três grupos.

 Mutações pontuais: alterações na sequência de bases do DNA.


 Aberrações cromossômicas estruturais: ocorrem pela quebra nos
cromossomos.
 Aberrações cromossômicas numéricas: ocorrem com o aumento ou
diminuição do número de cromossomos, e é causada pela irradiação.

Células em seu ultimo estágio de diferenciação, serão diferentes dependendo do local


onde se encontra. Por exemplo, uma célula do musculo do coração é diferente de uma
célula que compõe a bexiga, que é totalmente diferente de uma célula nervosa. Portanto
como cada célula se diferencia para ocupar uma região do corpo e desempenhar uma
função, elas também responderão de forma diferente a radiação ionizante.
Células com alto poder de diferenciação e proliferação são mais radio sensíveis, ou seja,
sofrem mais facilmente os danos causados pela radiação ionizante. Temos como
exemplo de células que se proliferam rapidamente, cabelo, unha, córnea, mucosa, tecido
hematopoiético e células cancerígenas. Graças a essa “regra” que o tratamento onde se
utiliza a radiação ionizante se faz tão eficaz nos dias de hoje, pois como a célula
cancerosa é mais sensível a radiação do que quaisquer outras células do corpo humano,
quando se irradia o corpo com um tumor, esse tumor morrerá mais rapidamente do que
as células saudáveis do organismo. Já células que não proliferam ou não proliferam
rapidamente são mais resistentes à radiação. Um exemplo desse tipo de célula são os
neurônios.
Quando os níveis de dose de radiação são elevados, a maior parte de células e tecidos
não suportam as transformações e morrem diretamente, ou a radiação causa uma
mudança genética, levando a célula à apoptose (morte celular).
Se por acaso o órgão ou o tecido irradiado sofreu poucas mortes celulares locais,
certamente ele será capaz de reverter os danos e continuar com a sua funcionalidade.
Porém se houver muitas mortes celulares no local irradiado, os danos podem ser
permanentes e haverá a perda da funcionalidade. Nesse caso estamos no estágio de
reação tecidual, ou efeito determinístico da radiação. Cabe ressaltar que os benefícios
da radiação ionizante sempre devem ser superiores aos detrimentos.

APLICAÇÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À RADIAÇÃO IONIZANTE


A utilização da radiação ionizante deve ser sempre atrelada ao uso correto dos termos da
proteção radiológica. Pois profissionais da área do diagnóstico ou tratamento,
independente de sua formação, está lidando com algo que se não for utilizado de forma
correta, colocara em risco a saúde de outras pessoas e até mesmo a sua vida em risco.
Portanto você que esteja iniciando seus estudos em uma profissão que utilizará a
radiação ionizante para qualquer fim, deve se preparar aprofundando seus
conhecimentos nas diferentes fontes de radiação ionizante, quais tipos de blindagens são
utilizadas para cada tipo de radiação, quais detectores de radiação é utilizado nas
diferentes fontes radioativas, além de conhecer a fundo os danos biológicos causados
pela radiação ionizante. Portanto tenha sempre em mente os princípios e protocolos de
radioproteção.
O tempo de aparecimento dos danos biológicos também são classificados de duas
formas, efeitos imediatos e efeitos tardios. Essa classificação se dá ao tempo de
aparecimento dos danos entre a irradiação ou contaminação e o efeito biológico
causado.
Os efeitos tardios, aparecem muitos anos mais tarde, alguns aparecem entre 15 a 25
anos depois de uma irradiação, entra na classificação de danos probabilísticos (efeitos
estocásticos), como por exemplo a formação de neoplasias malignas. Os efeitos
estocásticos e determinísticos não são classificados em tempo de aparecimento dos
danos, esses efeitos são classificados pelo nível de dose recebida. Cabe ressaltar que
nenhum limite de dose é classificado como seguro, todo e qualquer procedimento que
utiliza radiação ionizante, poderá sim, causar danos futuros. Contudo quanto maior o
tempo de exposição, maior a dose empregada e menor a distância da fonte radioativa,
maior será a probabilidade e severidade dos danos. Embora nosso organismo tem
mecanismos de reparo, não podemos achar que estamos seguros, pois como já foi dito
em baixas doses tudo é questão de probabilidade.
Como dito acima, a radiossensibilidade dos tecidos não é igual para todos os órgãos.
Cada tipo de tecido tem um limite/sensibilidade para as radiações ionizantes. Células
facilmente diferenciáveis são mais sensíveis à radiação. Ser sensível à radiação indica
maior propensão a sofrer danos causados pela radiação ionizante. As células pouco
proliferativas e diferenciáveis são menos sensíveis à radiação, como o exemplo das
células nervosas – os neurônios são as células do corpo humano menos sensíveis à
radiação ionizante.
Esses conceitos são de grande importância, pois o sucesso no tratamento com a
radioterapia só se deve a eles. Como uma célula tumoral apresenta um erro no código
genético e se prolifera desordenadamente, entra na classificação de células bastante
diferenciáveis e proliferativas, portanto, são células extremamente sensíveis à radiação
ionizante. Logo, em um tratamento de radioterapia com a irradiação do tecido, as
células tumorais sofrem mais rápido os danos do que as células saudáveis, e o tecido
tumoral morre antes dos tecidos saudáveis. Por isso, a radioterapia é conhecida como o
tratamento de câncer com menos danos colaterais.

VIDEOAULA
O vídeo aborda assuntos de extrema importância para a sua vivência em um ambiente
hospitalar. Diferenciar os tipos de efeitos da radiação, entender a diferença entre
ionização direta e indireta de organismos vivos e a defesa do corpo às respostas sob os
efeitos da radiação ionizante ajudará você a prevenir possíveis acidentes.

Videoaula

Saiba mais
Prezado estudante, caso você queira aprofundar seus conhecimentos sobre proteção
radiológica, segue a indicação da leitura do trabalho apresentado no 16º Congresso
Nacional de Iniciação Científica: Proteção radiológica no setor de radiologia.
Link: https://www.conic-semesp.org.br/anais/files/2016/trabalho-1000023548.pdf.
REFERÊNCIAS
3 minutos
Aula 1
BUSHONG, S. C. Ciência Radiológica para Tecnólogos: curso de física, biologia e
proteção. Houston, Texas: Professor Of Radiology Center, 2008. 1580 p.
OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. Física das Radiações. São Paulo: Editora de Oficina e
Textos, 2010. 296 p.
TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. di; PRINZIO, A. R. di. Radioproteção e
Dosimetria: Fundamentos. 2014. Curso de Radioproteção e Dosimetria, Instituto de
Radioproteção e Dosimetria Comissão de Energia Nuclear do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2014. 372 f.

Aula 2
BUSHONG, S. C. Ciência Radiológica para Tecnólogos: curso de física, biologia e
proteção. Houston, Texas: Professor Of Radiology Center, 2008. 1580 p.
OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. Física das Radiações. São Paulo: Editora de Oficina e
Textos, 2010. 296 p.
Portaria SVS/MS nº 453, de 1 de junho de 1998. Vigilância Sanitária. Disponível
em: http://www.conter.gov.br/uploads/legislativo/portaria_453.pdf. Acessado em:
09/03/2022.
SANTIAGO, A. Efeitos da radiação no corpo humano. Radioproteção na prática, [s.
d.]. Disponível em: https://radioprotecaonapratica.com.br/efeitos-da-radiacao-no-corpo-
humano. Acesso em: 20 dez. 2021.
TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. di; PRINZIO, A. R. di. Radioproteção e
Dosimetria: Fundamentos. 2014. Curso de Radioproteção e Dosimetria, Instituto de
Radioproteção e Dosimetria Comissão de Energia Nuclear do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2014. 372 f.
William DIB. Diário Oficial da União, Resolução - RDC 330, de 20 de Dezembro de
2019. Vigilância Sanitária / Ministério da Saúde / Diretoria Colegiada. Disponível
em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-rdc-n-330-de-20-de-dezembro-de-2019-
235414748?inheritRedirect=true. Acesso em: 09/03/2022.

Aula 3
BUSHONG, S. C. Ciência Radiológica para Tecnólogos: curso de física, biologia e
proteção. Houston, Texas: Professor Of Radiology Center, 2008. 1580 p.
OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. Física das Radiações. São Paulo: Editora de Oficina e
Textos, 2010. 296 p.
TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. di; PRINZIO, A. R. di. Radioproteção e
Dosimetria: Fundamentos. 2014. Curso de Radioproteção e Dosimetria, Instituto de
Radioproteção e Dosimetria Comissão de Energia Nuclear do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2014. 372 f.

Aula 4
BUSHONG, S. C. Ciência Radiológica para Tecnólogos: curso de física, biologia e
proteção. Houston, Texas: Professor Of Radiology Center, 2008. 1580 p.
OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. Física das Radiações. São Paulo: Editora de Oficina e
Textos, 2010. 296 p.
TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. di; PRINZIO, A. R. di. Radioproteção e
Dosimetria: Fundamentos. 2014. Curso de Radioproteção e Dosimetria, Instituto de
Radioproteção e Dosimetria Comissão de Energia Nuclear do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2014. 372 f.

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