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RESUMO
ABSTRACT
This work intends to discuss some aspects of the Pedagogy of Alternation and the
specificities of the work of the teacher who works in this pedagogical perspective, who
is called Monitor. For this, we will use the theoretical basis of PA and Rural Education
to support our assumptions. We will make a dialogue with the ideas of Paulo Freire, in
his best known works: Pedagogy of the Oppressed and Pedagogy of Autonomy, in
close relationship with Vygotsky's postulates, in his approach to cultural-historical
psychology. The postulates of both thinkers establish a deep relationship with the work
developed at EFA by the monitors, laying the foundations for a profitable discussion.
A PA surge, no Brasil, dentro deste contexto de crise e com intenção de se tornar uma
alternativa ao ensino tradicional. A partir desta premissa é que nasce o MEPES –
Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo, com sua experiência
educacional representada pela Escola Família Agrícola.
Esta nova proposta não intenciona apenas solucionar problemas concretos da região
na qual está inserida, mas também pretende ressignificar, de maneira mais profunda,
a história e a organização social daqueles que dela fazem parte, constituindo-se como
válida alternativa a todo o sistema escolar tradicional.
O homem rural da década de 1960 no Brasil estava em crise. O êxodo rural era um
problema que se agravava a cada dia. A educação oferecida ao público camponês
não refletia o interesse daquela parcela da população, o que forçava os jovens a
buscar alternativas no meio rural. Sobre isso, Nosella (2012) afirma que
Em suma, podemos dizer que a Escola Família Agrícola é uma experiência que
extrapola o campo educacional, alarga suas raízes em direção aos problemas do
homem contemporâneo. Ela se justifica ainda a partir da preocupação sobre os rumos
que estão sendo tomados pela sociedade, que abraçou os processos de urbanização
e industrialização como modelos a serem seguidos, dos quais não conseguem
escapar os homens, que parecem perder não só o controle de si mesmos como
também a própria capacidade de uma reflexão séria e profunda sobre a sociedade.
Tal pedagogia é embasada em três princípios básicos que, segundo o mesmo autor,
podem ser definidos da seguinte maneira:
1
Entendemos, neste trabalho, práxis sob o viés freiriano, que a define como práticas visando à transformação da
realidade e à produção de história.
seguintes:
a. Plano de Estudo, constituído por questões elaboradas em conjunto por alunos e
professores-monitores;
b. Caderno da Realidade, que acompanha o aluno em toda sua vida escolar e serve
para ele registrar suas reflexões sobre a realidade a partir das questões constantes
do Plano de Estudo;
c. Viagem e Visita de Estudo;
d. Estágio;
e. Serões;
f. Visita às famílias;
A PA configura-se como um modelo de pedagogia muito mais complexo do que
mostraremos aqui. Contudo, para que entendamos o cerne de seu pensamento,
vamos elucidar aqui seus dois elementos mais básicos: o Tema Gerador e o Plano de
Estudo.
TEMA GERADOR
Para o pensador, a educação deve ser construída a partir de moldes ou recortes que
vão ao encontro de interesses de uma parcela da sociedade, mas deve se dar de
maneira contextualizada. O processo educativo deve ser centrado nos anseios dos
educandos, oferecendo-lhes esperança. Caso contrário, a educação pode aumentar
a opressão sobre os estudantes. Segundo Freire (1987), o papel do educador
não é falar ao povo sobre a nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele,
mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa visão de mundo. Temos de estar
convencidos de que a sua visão do mundo, que se manifesta nas várias
formas de sua ação, reflete a sua situação no mundo, em que se constitui. A
ação educativa e política não pode prescindir do conhecimento crítico dessa
situação, sob pena de se fazer “bancária” ou de pregar no deserto. [...]É o
momento em que se realiza a investigação do que chamamos de universo
temático do povo ou o conjunto de seus temas geradores. (FREIRE, 1987 p.
49-50)
Para Freire (1987), essa investigação deve elucidar a visão do homem sobre a
realidade que o cerca e os níveis de percepção sobre esta realidade. A partir desta
visão é que surgem os Temas Geradores. Vygotsky, principal expoente da psicologia
histórico-cultural, entende o sujeito socialmente inserido em um ambiente
historicamente construído. Para o pensador, por ser rico em cultura, o meio se
constitiu em uma potente fonte de conhecimento. Vygotsky busca entender como a
cultura torna-se parte integrante de cada ser humano.
Há, nesse ponto, um estreitamento entre a perspectiva interativa dos dois pensadores
se considerarmos o pressuposto básico de Freire como sendo a educação concebida
no viés da libertação como um processo de comunhão entre os homens e a concepção
vygotskyana da interação como ponto de partida para o desenvolvimento individual e
social. No pensamento de Paulo Freire, a relação sujeito-sujeito e sujeito-mundo são
indissociáveis. Como ele afirma (1987), ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Freire acrescenta
que
Ainda que esta postura – a de uma dúvida crítica – seja legítima, nos parece
que a constatação do “tema gerador”, como uma concretização, é algo a que
chegamos através, não só da própria experiência existencial, mas também
de uma reflexão crítica sobre as relações homens-mundo e homens-homens,
implícitas nas primeiras. (FREIRE, 1987 p. 49-50)
Os Temas Geradores (TG) adotados pelas EFAs são pensados para cada série de
estudos, buscando atender as necessidades dos educandos frente à realidade que os
cerca. A partir, então, do TG surgem as discussões em sala de aula, que culminam
na aplicação daquele elemento que é considerado o “carro-chefe” da Pedagogia da
Alternância, o Plano de Estudo.
PLANO DE ESTUDO
lhe permite aprender mais e melhor. De fato, o que aprende fora do CEFFA
lhe confere, quando volta nele, o poder de um saber que nem os monitores e
nem os outros membros possuem. Por isso, os saberes dos alternantes do
grupo, colocados em comum e partilhados, constituem um suporte essencial
de aprendizagens. (GIMONET, 2007 p. 30-31)
O produto dessa elaboração deve ser um questionário que não seja uma lista de
perguntas a serem respondidas, construídas pelos professores, mas um produto do
próprio jovem, onde seus anseios acerca do assunto sejam traduzidos. Trata-se,
portanto, de um questionário personalizado, de um questionamento aberto, que
coloque o educando em movimento e desperte nele a curiosidade e a busca pelo
conhecimento.
Freire propõe a educação como ato dialógico, e Vygotsky traz a linguagem como
principal elemento de mediação no processo educativo. Ambos têm em comum o
diálogo como ponto central na ação pedagógica. Os postulados de ambos convergem
para o ponto central da Pedagogia da Alternância: a educação como ato histórico e
também dialógico.
Outro ponto fundamental na obra freiriana é a ideia de que o conhecimento serve para
a transformação da realidade. Para Freire (1987), nesse aspecto, é fundamental a
consciência crítica e de sujeito histórico. Nesta perspectiva, a Educação do Campo,
por meio da Pedagogia da Alternância vem desenvolvendo nas EFAs do MEPES um
trabalho de resistência, buscando empoderar o sujeito para que ele possa perceber
as contradições que fazem parte de sua realidade e possa agir no sentido de
transformá-la.
Esse é exatamente o modus operandi adotado pela PA, levado à ação prática nas
EFAs. A PA assume sua posição crítica frente aos conhecimentos trabalhados na
escola, propondo aos alunos uma nova abordagem do conhecimento. Este
posicionamento vai ao encontro dos ideais de Freire (1996), quando o pensador
defende que
Na prática, o termo “Monitor” não consta no contrato de trabalho dos profissionais, por
uma questão de não reconhecimento desse cargo como uma função profissional.
Prevalece o termo “professor”. Entendemos, então, que há uma necessidade de luta
por um maior reconhecimento da função de Monitor na Pedagogia da Alternância. Não
se trata da garantia do perfil profissional somente por causa de uma nomenclatura,
mas uma luta por melhores condições de trabalho e valorização da Pedagogia da
Alternância.
CONCLUSÃO
Embora ainda haja muito a ser feito para que o papel do Monitor seja reconhecido e
valorizado como diferenciado, a Educação do Campo continua a trabalhar para que
educadores e educandos continuem, na perspectiva de Freire a educarem-se
mutuamente, transformando o mundo.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes,
1991.