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HISTÓRIA DA POT

Pressupostos Básicos:
-TRABALHO: categoria central para sociabilidade humana. Estruturador da identidade
produtor de significado e sentidos.

- As condições sociais que determinam a necessidade social da POT: ascensão do


capitalismo

Alta Idade Média – artesanato. Trabalho e contexto familiar juntos.

Primórdios do capitalismo: cooperação e consolidação da grande indústria cindem com


a homogeneidade do trabalho aprendido e realizado no espaço doméstico.

Até então o conhecimento científico produzido pela psicologia não era uma
necessidade socialmente construída. Ela passa a ser uma construção moderna, cuja
aplicabilidade no contexto industrial ocorre final do século XIX e início do XX.

Base epistemológica requer resgate histórico. Lógica inerente ao referencial teórico e


métodos adotados, visíveis na cisão entre estudos sobre a organização
(comportamentos organizacionais e gestão de pessoas) e estudos sobre trabalho
(saúde e bem estar do trabalhador na interface com a ergonomia, planejamento e
aconselhamento de carreira, mercado de trabalho, desemprego etc.)

Segundo Bendassolli e Soboll (2011), as bases epistemológicas que subsidiam o campo


da POT estão alicerçadas na psicologia aplicada, sobretudo de base
comportamentalista e cognitivista, subsidiadas por estudos psicométricos.

Em suma:

- pensar em epistemologia requer fazer um exercício de resgate histórico.

-as necessidades existentes, independentemente de sua utilidade e aplicação, são


determinadas socialmente, circunscritas por uma dimensão espaço-temporal.

-pensar POT descontextualizada das condicionantes histórico-sociais que exigiram a


construção de um campo de conhecimento na psicologia preocupado em investigar a
díade trabalho humano - organizações não faz sentido.
-o trabalho é protoforma humana. É a categoria fundamental para a compreensão da
sociabilidade humana que junto com a linguagem e outras habilidades nos insere nos
grupos sociais dos quais fazemos parte desde que nascemos. Estamos em organizações
desde a mais tenra infância. Categoria estruturadora e estruturante da identidade ao
qual atribuímos diferentes sentidos.

-por ser categoria central requer olhar científico da psicologia numa abordagem
intradisciplinar, mas sobremaneira necessita articular conhecimentos socialmente
produzidos por outras áreas do saber como sociologia, economia, administração,
ciência política, medicina, engenharia e educação.

-independentemente das disputas por enaltecer a centralidade da categoria trabalho,


mediante manifesto da SBPOT (2009), resgatada por Malvezzi (2014), ao se referir à
denominação psicologia do trabalho e das organizações, a ênfase deve ser a de
compreender as manifestações do comportamento humano nas organizações, que
são resultado de interação humana (ZANELLI, SILVA, 2008).

A interação humana no contexto das organizações é que constituiu o cerne da


estruturação da área:

No tempo das corporações, na Alta Idade Média, o trabalho, grosso modo, de base
agrária, estava integrado à vida doméstica das pessoas por ser basicamente manual. O
trabalho artesanal, não cindia com a organização da vida social, pois o ofício era
aprendido em agremiações, guildas, corporações em ambientes circunscritos ao espaço
da vida privada. Nesse período histórico, a psicologia não se fazia necessária, pois
pensar o impacto do trabalho na vida das pessoas não era uma questão central e
premente para a ciência.

Com o advento do capitalismo, a migração do campo para a cidade e o nascimento da


grande indústria, na sua forma rudimentar (cooperação) e principalmente a partir de
sua consolidação após o desenvolvimento de máquinas movidas a vapor, trabalho
intensivo e extensivo, desordenado ainda na sua origem, necessitava ser conhecido,
organizado e melhor desenvolvido com vistas a conseguir melhores resultados.

Não por acaso as condições sociohistóricas da POT encontram sua origem neste
momento, ou seja, os primórdios da área datam do final do século XIX e primeiro terço
do século XX.

Zanelli, Bastos e Rodrigues (2014) apresentam quatro momentos da POT:

- o primeiro momento (psicologia industrial): envolve os experimentos de 1881 até os


desenvolvidos entre 1920-30, tendo como base a psicologia aplicada ao contexto das
organizações cujos principais expoentes são: o estudo da fadiga (Itália), relação entre
psicologia e publicidade (EUA), administração científica e estudo dos tempos e
movimentos (EUA) e estudos de Hawthorne (EUA).

A aproximação com a administração, a engenharia e a sociologia se fizeram necessárias


para pensar a melhor forma de adequação do homem ao trabalho a fim de garantir
uma maior eficácia organizacional, o que impulsionaria o aumento na produtividade.
Trabalho baseado em testes psicológicos para compor o quadro técnico-operacional
para as duas grandes guerras também ganham destaque neste período.

-o segundo momento (psicologia organizacional) compreende o período pós-guerra


1945 - até os anos 1960, cuja ênfase dos estudos organizacionais volta-se para o
desenvolvimento de lideranças menos autoritárias e estudos de motivação, tendo
como principais expoentes Maslow e McGregor. Portanto a ênfase deste período volta-
se para o comportamento humano nas organizações sob influência de fatores internos
e externos ao contexto organizacional.

Cabe ressaltar que o período que compreende o pós-guerra deflagra período profícuo
para o desenvolvimento industrial após a reconstrução dos países devastados pela 2ª
GM, respaldados pelo welfare state, período conhecido como os ‘30 gloriosos’.

-o terceiro momento da POT envolve os anos 1970- 1990 e caracteriza-se por um


momento mais conturbado do ponto de vista socioeconômico decorrente da crise do
petróleo (HARVEY, 1996) o que torna o mundo do trabalho mais cambiante. As
características do momento podem ser rapidamente resumidas da seguinte forma:
refluxo do mercado consumidor, diminuição da produção em larga escala, instabilidade
nos postos de trabalho, instalação de multinacionais em países periféricos do bloco
dinâmico do capital, concorrência entre grandes oligopólios que, devido a forte
concorrência, sobretudo do Japão, demandavam novas formas de organização do
trabalho pautado em incremente tecnológico de base microeletrônica e formação
diferenciada da força de trabalho, cujos postos de trabalho demandam trabalhadores
mais flexíveis e polivantes, tanto na indústria, quanto no setor de serviços, panorama
vigente, sobretudo a partir do início dos anos 1990.

Nesse momento a POT volta seu olhar para o comportamento organizacional,


descolando-se de uma análise individual para tratar de temas de gestão como, por
exemplo, o estudo dos vínculos com o trabalho, satisfação e comprometimento
organizacional, de maneira mais pormenorizada.

-o quarto momento da POT compreende o final dos anos 1990 até o presente
momento, período instável e complexo que impacta o mundo do trabalho pela
financeirização do capital, precarização do trabalho, uso intensivo das TICs. Neste
contexto o enfoque da POT volta-se mais para a os aspectos concernentes à psicologia
do trabalho, voltando a atenção para a promoção de saúde e bem estar no trabalho,
por meio de atuação preventiva a fim de banir situações desestabilizadoras, como, por
exemplo, assédio moral (SILVA, TOLFO, 2011),planejamento e/ou orientação de
carreira, preparação para aposentadoria/pós-carreira, rearranjo do tempo trabalho-
família.

Em termos nacionais, os estudos no campo da POT encontram sua origem numa base
psicométrica, nos anos 1920-30, por meio de aplicação e formação de aplicadores de
testes, a chamada psicotécnica, tendo como estados de referência São Paulo e
Pernambuco.

Desde sua origem, os condicionantes socioeconômicos, políticos e culturais tem


demandado novas indagações aos profissionais que atuam na área, que muitas vezes,
se revestem em problemas de pesquisa.

Bastos (2002) em artigo publicado pelo CFP descreve o panorama da área circunscrito à
realidade brasileira e aponta os desafios lançados aos profissionais que atuam nas
organizações e na academia. De maneira retrospectiva, passados mais de duas décadas
dessa publicação, é inegável que muitos dos desafios foram incorporados à prática e ao
exercício da pesquisa dos psicólogos atuantes na área no sentido de tornar a prática
profissional mais coesa, mais assertiva e menos reativa.

Divulgação das pesquisas é necessária para fundamentar as práticas da área. O papel


docente de incentivar reflexão e crítica a fim de fugir de uma ação prescritiva e
mecânica de aplicação de técnicas para atender meramente demandas do mercado de
trabalho para valorizar a prática de gestão de pessoas em nível estratégico nas
organizações, estratégias estas comprometidas, sobretudo com a saúde e o bem estar
do trabalhador, sendo a eficácia organizacional uma decorrência do bem estar
garantido. Aos docentes, cabe incentivar acadêmicos para a descoberta de novos
saberes, contextualizados à realidade nacional, por meio da ligação entre teoria e
prática por meio de realização de estudos de caso e estágios em diferentes
organizações – públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos de diferentes setores.
Dado que a área congrega o maior número de psicólogos com vínculo formal de
trabalho, cabe a nós docentes formar profissionais reflexivos e éticos, dispostos a
intervir qualitativamente na realidade das organizações brasileiras.

Por fim, o manifesto da SBPOT (2009) reivindica a mudança da sigla para PTO. Autores
esclarecem que não se trata de trocar a sigla e sim fortalecer a área por meio de
estudos que privilegiem a díade trabalho - organização percebendo esta última como
expressão de interação humana.

Texto produzido para a disciplina de Psicologia do Trabalho.

Profa. Valéria De Bettio Mattos

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