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DEPOIS DO

DIAGNÓSTICO
UM E-BOOK ESCRITO POR UMA
INFECTOLOGISTA PARA PESSOAS
QUE VIVEM COM HIV
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 03 Podem ser necessárias outras medicações? 24
QUEM SOU EU? 04 QUANDO A PESSOA QUE VIVE COM HIV PRECISA CONSULTAR MÉDICOS DE OUTRAS 25
POR QUE TIVE A IDEIA DE CRIAR ESSE E-BOOK? 05 ESPECIALIDADES, É NECESSÁRIO MENCIONAR O DIAGNÓSTICO? 00
O EXAME DE HIV DEU POSITIVO. E AGORA?? 06 É POSSÍVEL SE RELACIONAR SEXUALMENTE COM PESSOAS QUE NÃO VIVEM COM HIV? 27
O que é o HIV? 06 INDETECTÁVEL = INTRANSMISSÍVEL: O QUE SIGNIFICA ISSO? 29
Como o HIV é transmitido? 06 Estudo PARTNER 1 31
O que o HIV faz no nosso corpo? 07 Estudo PARTNER 2 31
O que acontece se a infecção pelo HIV não é tratada? 07 Estudo Opposites Attract 32
Tem como evitar esses efeitos ruins? 08 É POSSÍVEL SE INFECTAR MAIS DE UMA VEZ PELO HIV? 33
E por que o tratamento não elimina o vírus de vez do corpo e cura a infecção? 08 PREVENÇÃO DE OUTRAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS 35
HIV é o mesmo que Aids? 09 Como podemos prevenir a ocorrência dessas infecções? 36
Agora presta atenção pra parte mais importante! 09 QUEM VIVE COM HIV PODE TER FILHOS? 37
COMO É O ACOMPANHAMENTO MÉDICO DA PESSOA QUE VIVE COM HIV? 10 O QUE PESSOAS COM ÚTERO QUE VIVEM COM HIV E QUEREM TER FILHOS DEVEM SABER? 39
Consultas médicas 11 Qual o risco de transmissão do vírus para o bebê durante a gestação? 40
Uso de medicamentos 12 Como é feita a prevenção da transmissão do HIV para o bebê durante a gestação? 40
Realização de exames complementares 13 O parto pode ser normal? 40
Vacinação 14 Pode amamentar? 40
CD4: QUANTO É UM BOM VALOR? 15 O QUE PESSOAS COM TESTÍCULOS QUE VIVEM COM HIV E QUEREM TER FILHOS DEVEM SABER? 41
O tratamento aumenta o CD4? 16 Existe risco de transmissão do vírus para o bebê? 42
QUAIS OS OBJETIVOS DO TRATAMENTO? 17 O que é necessário saber? 42
A TERAPIA ANTIRRETROVIRAL PODE CAUSAR EFEITOS COLATERAIS? 19 QUEM USA ANTIRRETROVIRAIS PODE BEBER? 43
COMO SABEMOS SE O TRATAMENTO ESTÁ FUNCIONANDO? 21 AS PESSOAS QUE VIVEM COM HIV PODEM SACAR O FGTS 45
O que é carga viral indetectável? 22 MENSAGEM FINAL 47
ALÉM DOS ANTIRRETROVIRAIS, É NECESSÁRIO TOMAR ALGUM OUTRO TIPO DE REMÉDIO? 23 CONTATOS 48
Quando são necessárias medicações específicas para prevenir infecções oportunistas? 24
INTRODUÇÃO

Esse singelo e-book foi criado com a intenção


de ajudar pessoas que vivem com HIV a
entender um pouco mais sobre o assunto!

Esse material é informativo e não substitui


consultas médicas, ok?

Nesse e-book você irá encontrar conceitos


gerais sobre a infecção pelo HIV e seu
tratamento e também respostas para dúvidas
comuns que meus pacientes me
questionaram ao longo dos anos.

03
QUEM SOU EU?

Me chamo Vanessa Strelow e sou médica


infectologista. Sou natural de Curitiba. Estudei
medicina pela Universidade Federal do Paraná
entre os anos de 2004 e 2009.

Em seguida, me mudei para São Paulo- SP para


realizar a residência médica em infectologia no
Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o maior
hospital especializado em doenças infecciosas no
país.

Após concluir a residência, voltei para Curitiba,


onde me dedico ao acompanhamento de
pacientes com doenças infecciosas.

Sou membro da Sociedade Brasileira de


Infectologia e da International AIDS Society.

04
POR QUE TIVE A IDEIA
DE CRIAR ESSE E-BOOK?

Gosto muito de acompanhar pacientes que vivem com HIV e


conheço um pouco de seus dilemas e de suas dúvidas. Muitas
vezes, vejo que os pacientes chegam até mim com muitos
questionamentos e apreensões. Por esse motivo, resolvi criar
esse e-book para tentar espalhar um pouquinho do
conhecimento que tenho sobre o assunto e desmistificar alguns
aspectos da infecção pelo HIV.

05
O EXAME DE HIV DEU POSITIVO. E AGORA?
Antes de mais nada, calma. Saiba que o HIV não é mais uma sentença de morte.
É uma doença crônica para a qual temos tratamento seguro e eficaz.
Vamos por partes.

O que é o HIV? Como o HIV é transmitido?

O HIV é um vírus. A sigla significa vírus O HIV é transmitido por relações sexuais
da imunodeficiência humana. Como desprotegidas e por sangue
todo vírus, ele é um parasita que só contaminado, como em casos de
consegue se multiplicar invadindo compartilhamento de seringas, por
células. exemplo. Também pode ser transmitido
na gestação e na amamentação caso a
mãe esteja infectada e não faça o
tratamento corretamente.

06
O que o HIV faz no nosso corpo? O que acontece se a infecção pelo HIV
não é tratada?
As células favoritas do HIV dentro do corpo
humano são os linfócitos T CD4, que fazem parte Sem o tratamento adequado, a infecção pelo HIV
da nossa imunidade. progride para a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, a Aids. A Aids costuma demorar alguns
Com o passar do tempo, caso não haja anos após a infecção pelo HIV para se instalar.
tratamento, o HIV invade cada vez mais células
CD4 e as usa para trabalhar para ele: Com o passar do tempo o vírus destrói cada vez
ele utiliza todo o maquinário celular mais células CD4 e com isso a imunidade vai
para produzir mais vírus, e isso ficando prejudicada. A pessoa que vive com HIV e
eventualmente destrói a célula. não está em tratamento vai ficando suscetível a
O HIV também invade outros tipos algumas infecções e neoplasias que não
de células, como as acometem pessoas com imunidade normal. Além
células de intestino e a disso, o vírus inflama o corpo, predispondo a
célula do cérebro. pessoa a outras doenças não infecciosas.

07
Tem como evitar esses efeitos ruins? E por que o tratamento não elimina o
vírus de vez do corpo e cura a infecção?
Tem!! A infecção pelo HIV ainda não tem cura,
mas tem um tratamento muito eficaz! Os Porque mesmo quando a pessoa está tomando os
remédios antirretrovirais inibem a multiplicação antirretrovirais o vírus fica latente em algumas
do vírus e com isso tiram ele da circulação células. Ele fica como que “dormindo”, e como
sanguínea. Eles param de infectar novas células e não está se multiplicando não é destruído pelos
então elas e suas funções são preservadas. remédios. Se a pessoa interromper os remédios,
no entanto, alguns desses vírus irão “acordar”,
atingir a corrente sanguínea e parasitar novas
células.

08
HIV é o mesmo que Aids? Agora presta atenção pra
parte mais importante!
Não! HIV é o vírus. A Aids é a doença
causada pelo HIV quando a pessoa As pessoas que vivem com HIV e fazem seu acompanhamento e
infectada não recebe o tratamento tratamento regular levam vidas completamente normais.
adequado. A Aids demora alguns Podem estudar, trabalhar, namorar, casar, ter filhos e tudo mais
anos após a infecção pelo HIV para que desejarem.
se instalar: é a fase em que o
sistema imune já está muito Viver com o vírus não define quem você é. Você segue sendo a
enfraquecido, e com isso as pessoas mesma pessoa de antes, só que agora tem que conviver com
ficam expostas a doenças uma infecção crônica. Tem que tomar remédios, fazer exames e
oportunistas. fazer consultas regulares, mais ou menos parecido como quem
tem hipertensão ou hipotireoidismo, por exemplo.
Se a pessoa com HIV descobrir a
infecção precocemente e fizer o O importante é buscar informação, buscar atendimento médico
tratamento corretamente, ela nunca e fazer o tratamento regularmente!
irá desenvolver Aids! Ou seja, essa
pessoa nunca ficará doente.

09
COMO É O
ACOMPANHAMENTO
MÉDICO DA PESSOA
QUE VIVE COM HIV?

10
A pessoa que vive com HIV deve fazer acompanhamento
médico regular. Mas como é esse acompanhamento?

Consultas médicas
As consultas devem ser realizadas preferencialmente com o
infectologista, que é o médico especialista em doenças
infecciosas (entre elas a infecção pelo HIV).

No início do acompanhamento as consultas serão mais


frequentes e terão como objetivo avaliar como está a saúde do
paciente, iniciar o tratamento medicamentoso, verificar como
foi a aceitação e a resposta aos remédios e tirar todas as
dúvidas que possam surgir nessa fase.

Com o passar do tempo, conforme a pessoa já vai se


habituando ao tratamento e sua eficácia é constatada,
as consultas médicas vão ficando mais espaçadas.
A maioria das pessoas que vive com HIV passa com seu
médico infectologista uma vez a cada 6 meses.

11
Uso de medicamentos

Os remédios utilizados para impedir a multiplicação do vírus e


garantir a saúde dos pacientes que vivem com HIV são chamados de
antirretrovirais. Eles devem ser tomados diariamente, com
regularidade, para garantir que o vírus não se multiplique e não
prejudique o sistema imune e as demais células do corpo. Todas as
pessoas que vivem com HIV têm indicação de usar os antirretrovirais.

Existem vários tipos diferentes de antirretrovirais. Temos um esquema


preferencial para o início do tratamento, mas cada paciente tem suas
particularidades. O médico deverá escolher o melhor esquema
antirretroviral para cada paciente de maneira individual.

Essas medicações são retiradas na saúde pública, mesmo quando o


paciente faz acompanhamento com médico particular ou por
convênio. São eficazes e atualmente são bem mais fáceis de tomar do
que já foram no passado, já que os medicamentos que usamos agora
apresentam poucos efeitos colaterais.

12
Realização de exames complementares

Após o diagnóstico da infecção pelo HIV serão solicitados vários


exames para avaliar a saúde do paciente. Os principais são:

• Carga viral: é a dosagem da quantidade de vírus no sangue.


• Linfócitos T CD4: são as células do sistema imune que os vírus
costumam parasitar e destruir. Com isso, é possível avaliar como
está a imunidade do paciente.

Além desses, são feitos exames para outras doenças infecciosas,


como sífilis e as hepatites virais. Também é avaliada a função do
rim e do fígado, entre outros exames que o médico julgar
necessário.

Depois disso, periodicamente serão feitos novos exames para


avaliar a resposta do paciente ao tratamento e a sua saúde como
um todo. CD4, carga viral e alguns exames gerais serão repetidos,
em média, duas vezes ao ano. Outros exames podem ser solicitados
de acordo com a avaliação médica.

13
Vacinação

É muito importante que as pessoas que vivem com o HIV


mantenham sua carteira vacinal atualizada. Assim, outras
doenças serão evitadas.

Existem algumas peculiaridades na vacinação de pessoas


que vivem com o HIV. Uma delas é que existem mais vacinas
indicadas quando comparamos à população sem HIV. Outra
coisa importante é que quando a imunidade está
comprometida e o CD4 está baixo, algumas vacinas não
podem ser feitas até que ocorra a recuperação do sistema
imune.

Leve sempre sua carteira vacinal nas consultas! O médico


infectologista saberá avaliar se está tudo em dia ou se é
necessário fazer mais vacinas.

14
CD4: QUANTO É
UM BOM VALOR?

15
O tratamento aumenta o CD4?
Os linfócitos T CD4 são células do sistema imune que
são parasitados pelo HIV quando o paciente não está Sim. A primeira função dos medicamentos antirretrovirais é inibir a
sendo tratado. replicação do HIV. Com isso a circulação viral cair e as células CD4
param de ser parasitadas. O primeiro sinal laboratorial do uso da
Os valores normais de CD4 costumam ficar entre 500 e medicação será a queda da carga viral.
1500 células por mm³. Existe, mesmo antes da infecção
pelo HIV, uma grande variabilidade individual: algumas Como os linfócitos T CD4 vão sendo “deixados em paz” com o
pessoas tem valores mais altos da célula e outras desaparecimento dos vírus no sangue, as células vão aos poucos se
valores mais baixos. Mas em geral podemos dizer que recuperando e sua quantidade vai aumentando.
contagens acima de 500 células por mm³ são boas.
Mas atenção: não é sempre que o CD4 volta a valores normais após o
Após a infecção, quando não há tratamento, esse valor início da terapia antirretroviral. Quanto mais baixo o CD4 no momento
vai caindo com o passar do tempo. Valores abaixo de do diagnóstico, menor a chance de ele subir bastante com o
200 mm³ são considerados bastante baixos, indicando tratamento. Pessoas mais velhas também costumam ter menor
imunossupressão severa. incremento no valor do CD4. Isso não significa que o remédio não está
funcionando ou deva ser interrompido! Mesmo aumentos pequenos
no valor de CD4 já fazem muita diferença na imunidade do paciente.

16
QUAIS OS OBJETIVOS
DO TRATAMENTO?

17
Supressão viral- atingir e manter a carga viral indetectável;
Melhorar e/ou preservar a função imunológica;
Prevenir a transmissão sexual do vírus;
Prevenir de transmissão vertical do vírus (transmissão da mãe para
o bebê na gestação);
Garantir uma boa qualidade de vida às pessoas que vivem com HIV.

18
A TERAPIA
ANTIRRETROVIRAL
PODE CAUSAR
EFEITOS COLATERAIS?

19
Esse é um dos grandes receios dos pacientes quando
recebem o diagnóstico da infecção pelo HIV. No passado
o tratamento consistia em múltiplas medicações que por
vezes causavam efeitos colaterais bastante desagradáveis,
e essa imagem ainda perdura. Durante as consultas médicas sempre
monitoramos a possibilidade de alguma
Na verdade, qualquer remédio pode causar efeitos reação adversa. Em casos que ela é grave ou
colaterais, mas atualmente a situação é bem mais tranquila traga piora na qualidade de vida do paciente,
que a maioria dos pacientes imagina inicialmente. Temos temos sempre a possibilidade de trocar a
remédios bastante seguros e bem tolerados. A maioria das medicação que não está sendo bem tolerada.
pessoas não apresenta efeitos adversos. Entre aqueles que
sentem algo, na maioria dos casos os efeitos são leves e
transitórios. Os mais comuns são náuseas, diarreia e dor de
cabeça, e costumam sumir em alguns dias de uso.

20
COMO SABEMOS SE
O TRATAMENTO
ESTÁ FUNCIONANDO?

21
O principal parâmetro que usamos para determinar se o
tratamento está funcionando é a queda da carga viral. O que é carga viral indetectável?
Em até 6 meses temos como objetivo que a carga viral se
torne indetectável, mas isso costuma acontecer antes desse É quando há tão poucos vírus circulando no
tempo com as medicações atuais. sangue que o exame de sangue não consegue
detectá-los. Nesse nível, os vírus não
Durante as consultas médicas sempre monitoramos a conseguem parasitar as células do sistema
possibilidade de alguma reação adversa. Em casos que ela imune.
é grave ou traga piora na qualidade de vida do paciente,
temos sempre a possibilidade de trocar a medicação que
não está sendo bem tolerada.

22
ALÉM DOS
ANTIRRETROVIRAIS,
É NECESSÁRIO TOMAR
ALGUM OUTRO TIPO
DE REMÉDIO?

23
Depende. Quando a imunidade Quando são necessárias Podem ser necessárias
está baixa, pode ser necessário medicações específicas outras medicações?
o uso de algumas medicações para prevenir infecções
que previnem infecções oportunistas? A partir da avaliação clínica e
oportunistas até que o valor
dos exames laboratoriais o
dos linfócitos T CD4 melhore. Quando o CD4 está abaixo de médico pode julgar necessário
200 é necessário o uso de o uso de outras medicações
medicações profiláticas para para outros problemas de
evitar infecções oportunistas. saúde, como uma alteração no
Quanto mais baixos os valores colesterol, por exemplo.
do CD4, mais medicações
podem ser prescritas.

Após o tratamento de uma


infecção oportunista também
pode ser necessário o uso de
remédios que previnam sua
recidiva.

24
QUANDO A PESSOA
QUE VIVE COM HIV
PRECISA CONSULTAR
MÉDICOS DE OUTRAS
ESPECIALIDADES, É
NECESSÁRIO
MENCIONAR O
DIAGNÓSTICO?

25
Ninguém é obrigado a revelar o diagnóstico para outros médicos ou outros profissionais de
saúde se não se sentir confortável. Dito isso, eu aconselho fortemente os meus pacientes a
compartilharem essa informação com outros médicos que consultem.

Tanto o diagnóstico da infecção pelo HIV quanto as medicações utilizadas são informações
médicas importantes e que podem ter relevância e relação com outros quadros de saúde.
É importante fornecer informações completas aos profissionais para que eles possam prestar
o melhor atendimento possível ao paciente.

Além disso, profissionais de saúde são obrigados a guardar sigilo profissional das informações
que recebem durante o atendimento a seus pacientes.

26
É POSSÍVEL SE
RELACIONAR
SEXUALMENTE
COM PESSOAS
QUE NÃO VIVEM
COM HIV?

27
Quando em um casal uma pessoa vive com o HIV e a outra não, dizemos que elas são sorodiferentes para o HIV.

Mas então, pessoas que vivem com HIV podem se relacionar sexualmente com parceiros sorodiferentes?

A resposta é sim! Temos diversos métodos para prevenir a transmissão do HIV para o parceiro negativo. O ideal é fazer uma prevenção
combinada, ou seja, usar pelo menos dois métodos preventivos juntos.

Aqui estão alguns desses métodos preventivos:

• Tratamento como prevenção: Nada mais é do que o • Uso de PrEP (profilaxia pré exposição) pela pessoa negativa
uso regular de antirretrovirais pelo parceiro que vive para HIV.
com o vírus. Quem mantém a carga viral indetectável • Uso de PEP (profilaxia pós exposição) pela pessoa negativa
não transmite o HIV. para HIV nos casos em que houve relação desprotegida.
• Uso de preservativos. • Testagem periódica.

Temos muitas alternativas para a prevenção do HIV. É importante conhecê-las para usar as mais adequadas em cada caso.
A informação empodera e expulsa o preconceito!

Uma estratégia que costumo usar é perguntar para meus pacientes se eles desejam levar seus companheiros em consulta, assim esses
também podem fazer perguntas e receber as orientações necessárias.

28
INDETECTÁVEL =
INTRANSMISSÍVEL:
O QUE SIGNIFICA ISSO?

29
Já falei aqui que as pessoas que vivem com HIV e têm carga viral
indetectável não transmitem o vírus sexualmente.

O tratamento das pessoas que vivem com o HIV é uma das formas de
prevenção da transmissão da infecção. Pessoas que vivem com o HIV e
têm carga viral indetectável (tão baixa que não aparece nos exames) não
transmitem o vírus sexualmente. Esse fato, além de ser importantíssimo A conclusão desses estudos foi a
na redução da transmissão do vírus, também é muito significativo e seguinte: não houve nenhuma
empoderador para as pessoas que vivem com o vírus e fazem o transmissão do vírus do parceiro
tratamento corretamente. positivo para o parceiro negativo
quando a pessoa que vivia com HIV
Mas como sabemos disso com segurança? estava com a carga viral indetectável.
Foram realizados três grandes estudos que acompanharam diversos
casais sorodiferentes para o HIV (casais em que uma pessoa vive com o
vírus e a outra não) e que relatavam ter relações sexuais regulares e
desprotegidas. Esses estudos se chamam PARTNER 1, PARTNER 2 e
Opposites Atract e foram publicados em renomadas revistas científicas.

30
Abaixo farei um breve resumo dos dados encontrados em cada uma das pesquisas.

Estudo PARTNER 1 Estudo PARTNER 2

O estudo foi realizado em 75 diferentes centros Essa extensão do estudo PARTNER foi desenhada para
localizados em 14 países europeus e recrutou casais melhor avaliar casais sorodiferentes de homens que
sorodiferentes entre setembro de 2010 e maio de fazem sexo com homens. O estudo foi realizado em 75
2014. diferentes centros localizados em 14 países europeus e
recrutou casais homoafetivos masculinos sorodiferentes
Ao todo o estudo acompanhou 888 casais para o HIV entre setembro de 2010 e abril de 2018.
sorodiferentes. Desses, 548 eram casais
heterossexuais e 340 eram casais homoafetivos Ao todo o estudo acompanhou 782 casais sorodiferentes.
masculinos. 37% dos parceiros negativos reportaram relações anais
sem preservativo com outras pessoas além de seus
Sempre que ocorria uma nova infecção pelo HIV parceiros.
era feita uma análise filogenética dos vírus com a
intenção de descobrir se a nova infecção foi Ocorreram quinze novas infecções pelo HIV mas
causada pelo mesmo vírus do parceiro. Ocorreram nenhuma era filogeneticamente relacionada ao vírus do
onze novas infecções pelo HIV mas nenhuma era parceiro positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a
filogeneticamente relacionada ao vírus do parceiro partir de outras pessoas e não de seus parceiros).
positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a
partir de outras pessoas e não de seus parceiros).

31
Estudo Opposites Attract

O estudo observou casais homoafetivos masculinos


sorodiferentes para o HIV. Esses casais foram recrutados
em 13 clínicas australianas, uma clínica brasileira e uma
Uma informação muito importante: Quais as
clínica tailandesa. Os casais foram recrutados entre
condições para falarmos que a pessoa que vive
dezembro de 2012 e março de 2016.
com HIV não transmite o vírus por via sexual?
Ao todo o estudo acompanhou 343 casais sorodiferentes.
• Deve estar indetectável há pelo menos 6 meses;
Ocorreram três novas infecções pelo HIV mas nenhuma
era filogeneticamente relacionada ao vírus do parceiro
• Deve estar tomando regularmente as
positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a partir de
medicações antirretrovirais.
outras pessoas e não de seus parceiros).

Os resultados combinados desses três estudos nos


permitem afirmar com segurança que quem está
indetectável não transmite o HIV por relações sexuais!

32
É POSSÍVEL SE
INFECTAR MAIS
DE UMA VEZ
PELO HIV?

33
Sim, é possível se reinfectar pelo HIV. Quando isso ocorre, a
pessoa pode adquirir um vírus geneticamente diferente do seu
vírus original, e isso pode ser prejudicial ao seu tratamento.

Por que isso é ruim?

O HIV tem dois tipos principais (1 e 2) e vários subtipos. Esses tipos


e subtipos apresentam algumas peculiaridades na resposta aos
antirretrovirais. Mesmo dentro de um mesmo subtipo é possível Por isso, quando algum parceiro não estiver
haver mutações, e isso pode prejudicar a resposta ao tratamento. fazendo o tratamento corretamente e não
estiver com carga viral indetectável, é
Vamos colocar de uma maneira mais prática: imagine que você importante o uso de preservativo para evitar
tome sua medicação corretamente e esteja indetectável, mas tem a reinfecção (além de evitar as outras
relações desprotegidas com alguém que também vive com HIV, infecções sexualmente transmissíveis).
não está indetectável e tem um vírus resistente à medicação que
você usa. Se você se infectar por esse novo vírus, agora terá duas
linhagens do HIV: uma sensível aos remédios e outra com
mutações de resistência. Esses vírus resistentes se multiplicarão e
seu tratamento estará prejudicado. Nesse cenário, a carga viral irá
subir e provavelmente teremos que pesquisar as mutações de
resistência e trocar a medicação.

34
PREVENÇÃO DE
OUTRAS INFECÇÕES
SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS

35
Um erro comum de quem descobre a infecção pelo
HIV é achar que agora não há mais necessidade de
se preocupar com infecções sexualmente Como podemos prevenir a ocorrência dessas
transmissíveis. Errado! Existem muitas outras infecções?
infecções que podem prejudicar a saúde e devem
ser prevenidas. Algumas delas são: • Uso de preservativos (peniano ou vaginal).
• Uso de lubrificantes- Facilitam a penetração, principalmente
Sífilis Hepatite B na relação anal, e com isso reduzem o risco de fissuras. As
Gonorreia Donovanose fissuras são pequenas lesões causadas pelo atrito e elas
facilitam a transmissão dos agentes que causam as infecções
Clamídia Herpes genital sexualmente transmissíveis.
HPV Cancro mole • Vacinação- Disponível para evitar o HPV e as hepatites A e B.
Hepatite A • Testagem periódica e tratamento precoce em caso de
diagnóstico de nova IST.

36
QUEM VIVE COM HIV
PODE TER FILHOS?

37
A resposta é sim! Com o tratamento adequado as
pessoas que vivem com HIV podem ter filhos não
infectados pelo vírus.

Pra facilitar nossa conversa vou dividir o assunto em


duas partes: como pessoas com útero (mulheres cis e
homens trans) que vivem com HIV podem ter filhos e
como pessoas com testículos (homens cis e mulheres
trans) que vivem com HIV podem ter filhos.

38
O QUE PESSOAS
COM ÚTERO QUE
VIVEM COM HIV E
QUEREM TER FILHOS
DEVEM SABER?

39
Qual o risco de transmissão do vírus para o bebê O parto pode ser normal?
durante a gestação?
Se a carga viral estiver controlada ao final da gestação, a
Se todas as medidas preventivas forem tomadas, o risco é escolha entre parto normal ou cesárea será definida pelo
inferior a 1%. obstetra em conjunto com a gestante.

Como é feita a prevenção da transmissão do HIV Se a carga viral estiver elevada, será necessária a realização de
para o bebê durante a gestação? parto cesárea para reduzir o risco de transmissão da infecção
para o bebê.
Deve ser feito o acompanhamento pré-natal com o obstetra e
também o acompanhamento clínico com o infectologista. Pode amamentar?
Deverão ser usadas as medicações para controle do vírus, os
antirretrovirais. Essas medicações manterão gestante e bebê Não, a amamentação está contra-indicada nesses casos.
saudáveis. Também será usado um antirretroviral endovenoso
durante o parto e o bebê usará medicações nas suas primeiras
semanas de vida.

40
O QUE PESSOAS COM
TESTÍCULOS QUE
VIVEM COM HIV E
QUEREM TER FILHOS
DEVEM SABER?

41
O que é necessário saber?
Existe risco de transmissão do vírus
para o bebê? Caso se trate de um casal sorodiferente, o importante é evitar a
transmissão para a parceria negativa através de métodos como
Apenas se a pessoa que está gestando também o tratamento como prevenção e/ou o uso da profilaxia pré
estiver vivendo com HIV e não estiver fazendo exposição pela pessoa negativa para o vírus.
corretamente o tratamento. A transmissão
ocorre durante a gestação, o parto ou a Também é possível realizar a lavagem do sêmen para a
amamentação, e não durante a fecundação. retirada dos vírus em casos de inseminação artificial ou
fertilização in vitro. Esse procedimento, que é realizado em
clínicas de reprodução assistida, não é essencial caso a carga
viral do parceiro que vive com HIV esteja indetectável há mais
de 6 meses.

42
QUEM USA
ANTIRRETROVIRAIS
PODE BEBER?

43
Tem bastante gente que acredita que se for tomar bebidas alcóolicas não deve usar
seus antirretrovirais naquele dia. Não faça isso!!

A pessoa que vive com HIV pode beber com moderação, assim como a pessoa que não
vive com HIV. O vírus não muda isso.

O que não se pode fazer é deixar de tomar a medicação por estar bebendo. Não tem
problema tomar os dois no mesmo dia. O uso irregular dos remédios, no entanto, pode
provocar resistência do vírus aos antirretrovirais e prejudicar o tratamento.

44
AS PESSOAS QUE
VIVEM COM HIV
PODEM SACAR O
FGTS

45
Nem todos sabem, mas existem algumas doenças Quem vive com HIV e tem interesse em sacar o FGTS
cujos diagnósticos autorizam o saque do FGTS (fundo pode pedir esse atestado para seu médico
de garantia do tempo de serviço). O HIV é uma dessas infectologista e ele ou ela saberá como fazer.
condições. Não é necessário ter Aids: a infecção pelo Para consultar as informações da Caixa Econômica
vírus já dá direito ao benefício. Também pode sacar o referentes à documentação necessária para o saque,
fundo de garantia quem tiver um dependente vivendo clique no link abaixo:
com HIV.

Para sacar o benefício é necessário procurar uma http://www.caixa.gov.br/beneficios-trabalhador/fgts/condico


agência da Caixa Econômica Federal com cópias dos es-e-documentos-para-saque-do-FGTS/Paginas/default.aspx
documentos pessoais (como documento de
identificação e carteira de trabalho) e também com
um atestado médico em que conste o diagnóstico e o
CID correspondente (um código de doenças).

46
MENSAGEM FINAL

Pessoal, muito obrigada a quem leu até aqui! Fiquem à vontade para
compartilhar esse material com outras pessoas que se interessam
pelo assunto.

Na próxima página vocês encontrarão meus contatos de consultório


e minhas redes sociais, caso queiram acompanhar meu trabalho e
receber mais informações sobre doenças infecciosas.

A última coisa que eu queria dizer aqui é o seguinte: um diagnóstico


não define quem você é. A pessoa que vive com HIV segue sendo a
mesma pessoa de antes da infecção, com sua personalidade, suas
qualidades, seus defeitos, suas habilidades e seus sonhos! Nenhum
vírus deve interferir nisso!

Um abraço carinhoso,

Vanessa

47
CONTATOS
Dra Vanessa Strelow

+55 (41) 3205-8755 (41) 9 8853-3939


XV de Novembro 1155, Sala 701, Centro
80060-000 - Curitiba / PR
vanessastrelow@yahoo.com.br

www.vanessastrelow.com.br
/dravanessastrelow
/transmitindoinformacaocomdravanessastrelow

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