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PROGRAMA Boas práticas

em vacinação
DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA

UNIDADE
Preparação e
3
administração
das vacinas e
conservação de
imunobiológicos

Ana Catarina
de Melo Araújo
Preparação e administração das vacinas
e conservação de imunobiológicos
Para garantir que o PNI continue sendo um programa de sucesso e que os calendários
básicos de vacinação sejam eficazes, precisamos administrar esses imunobiológios de uma
maneira segura e eficaz. Então, convido você para conhecer as vias e técnicas de adminis-
tração de vacinas. Vamos lá?

Boas práticas de vacinação


Preparação e administração das vacinas e conservação de imunobiológicos 2
Aula 1: Vias e técnicas
de administração de vacinas

Por muito tempo, o Programa Nacional de Imunizações tinha como grande objetivo o alcance
das coberturas vacinais, no entanto, ao longo dos anos, foi aumentando o número de vacinas
introduzidas no calendário básico de vacinação. Dessa forma, começou a se pensar na utiliza-
ção correta das técnicas de administração de vacinas, para que os erros não sobressaíssem ao
número de casos das doenças imunopreviníveis.

O maior objetivo ao se realizar a administração correta de uma vacina é assegurar que essa
atinja uma imunidade máxima com o mínimo de dano possível. Administrar uma vacina requer
habilidade e conhecimento por parte do profissional que está realizando o procedimento.

Significa dizer que o conhecimento de quem aplica interfere diretamente no processo de


imunização, pois o sucesso não depende apenas do sistema imunológico do indivíduo, da
vacina e de como ela foi e está sendo manipulada desde sua fabricação até sua aplicação,
mas também se o local e a via de aplicação foram escolhidas corretamente, se o produto foi
manipulado adequadamente e, principalmente, se essa vacinação está sendo realizada no
momento correto (BRASIL, 2014).

A técnica de aplicação, sem dúvida, merece atenção especial, mas outros aspectos também são
importantes e devem ser observados (CDC, 2011; WHO, 2010):

• o atendimento e a atenção ao indivíduo fazem diferença. O profissional deve sempre lembrar que
diferentes pessoas têm diferentes necessidades;

• a orientação deve ser sempre objetiva, concisa e desprovida de informações supérfluas. As dúvi-
das, explícitas ou implícitas, devem ser esclarecidas, lembrando que ansiedade e medo de injeção
são comuns em qualquer idade;

• o ambiente deve ser acolhedor e inspirar confiança. As áreas de conservação e aplicação devem
transmitir a imagem de qualidade em todos os momentos.

A utilização de boas práticas na administração de vacinas é de responsabilidade dos profissio-


nais de saúde, como também o cumprimento das práticas de aplicação de vacinas seguras,
bem como o controle de infecções. Considera-se injeção segura de vacina, aquela que:

• não causa dano ao vacinado;

• não expõe o vacinador a qualquer risco evitável; e

• não resulta em resíduo que seja perigoso aos profissionais, outras pessoas e ao ambiente.

Boas práticas de vacinação


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Assim, as boas práticas de vacinação ocorrem quando as normas técnicas são executadas
corretamente, garantindo resultados confiáveis da ação realizada. Agora, vamos assistir a
um vídeo que sintetiza as boas práticas para administração de vacinas.

Vídeo 1

Quando houver necessidade de administrar mais de uma vacina


simultaneamente, prefere-se aplicar cada uma em um diferente local
anatômico. Se não for possível, então o vasto lateral coxa ou o del-
toide, em adulto, serão o local de escolha e as duas injeções devem
ser adequadamente separadas cerca de 2,5 cm a 5,0 cm.

As vacinas passam por anos e anos de pesquisa e desenvolvimento, o curso de produção


é elevado, tudo isso para se obter uma vacina eficaz e segura. Assim, a aplicação deve ser
feita de maneira cuidadosa, respeitando as normas técnicas, evitando não só a redução da
eficácia, mas também os eventos adversos pós-vacinação, o que é perfeitamente possível se
a aplicação for feita de maneira correta. Nesse contexto, devemos sempre perseguir o certo.
Veja o Infográfico 1 que está no AVASUS.

Infográfico 1

Veja o capítulo 6 do Manual de Normas e Procedimentos para


Vacinação:

<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/dezembro/11/
Manual-procedimentos-vacinacao-web.pdf>

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Aula 2: Registro de dados para
a avaliação da cobertura vacinal

Ao término da administração de uma vacina precisamos registrá-la nos boletins de registro para
que esse dado seja posteriormente transformado em informação. Isso nos mostrará a cober-
tura vacinal, um indicador que representa o percentual de indivíduos imunizados com deter-
minada vacina, em determinado espaço geográfico e determinado período de tempo. Leva em
consideração o esquema completo de vacinação para cada doença. Corresponde, portanto,
ao percentual de pessoas vacinadas e potencialmente protegidas contra determinada doença.

O impacto epidemiológico causado pela vacina dependerá, principalmente, das taxas de


cobertura vacinal e de sua homogeneidade (proporção de municípios com cobertura ade-
quada para determinada vacina). Com dados de cobertura, pode-se concluir, entre outros
aspectos, sobre:

• o acesso da população ao serviço – cobertura de BCG, primeiras doses da pentavalente (difteria,


tétano, coqueluche, hemófilos, hepatite B), poliomielite etc.;

• o grau de aceitação da comunidade ao programa de vacinação;

• a eficiência do serviço (taxa de abandono da vacina contra poliomielite, da pentavalente etc.).

E como podemos calcular a cobertura vacinal?


Usualmente, as coberturas vacinais são obtidas pelo método administrativo, que é conside-
rado um método indireto de cálculo, pois utiliza no numerador o total de doses aplicadas e
no denominador a população-alvo, multiplicando-se por cem. Embora seja um método váli-
do para orientar o planejamento das ações, merece cautela, pois pode fornecer resultados
superestimados ou subestimados, seja por erros de registro de doses aplicadas (numera-
dor), ou por erros nas estimativas populacionais que compõem o denominador do indicador.

Cobertura vacinal (%) = Número de doses aplicadas de determinada vacina X 100


População alvo

Deve-se priorizar a obtenção e o acompanhamento das coberturas das vacinas que fazem
parte do esquema básico de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde, que deve
ser completado até 12 meses de idade. Entretanto, podem ser calculadas coberturas
vacinais para outras faixas etárias, como ocorre nas campanhas de vacinação.
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- Numerador do indicador: número de doses aplicadas de determinada vacina

Para o cálculo das coberturas das vacinas do esquema básico de vacinação, considerar a
dose da vacina capaz de conferir imunidade duradoura e a faixa etária da criança (< 1 ano
para todas as vacinas, exceto tríplice viral; e 1 ano para tríplice viral).

Tabela 1 – Esquema básico de vacinação

Vacina do Dose para o cálculo da


Proteção contra População-alvo
esquema básico cobertura vacinal**

Formas graves de
BCG < 1 ano Dose única
tuberculose

Difteria, tétano, pertussis


Pentavalente (coqueluche), hepatite B e < 1 ano 3ª dose
Haemophilus influenzae B

VIP Poliomielite < 1 ano 3ª dose

Infecções por 10 cepas


Pneumo 10 < 1 ano 2ª dose
de pneumococo

Rotavírus Diarreia por rotavírus < 1 ano 2ª dose

Infecções por
Meningo C < 1 ano 2ª dose
meningococo C

Febre Amarela* Febre amarela < 1 ano Dose inicial

Tríplice viral Sarampo, caxumba, rubéola 1 ano 1ª dose

* Só é indicada em algumas regiões do país. Não é utilizada, por exemplo, no esquema básico de
vacinação em Pernambuco.
** Dose considerada capaz de conferir imunidade duradoura: 1ª, 2ª, 3ª dose ou dose única, conforme
a vacina.

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- Denominador do indicador: população-alvo

Em todos os estados e municípios do País, a partir de 2006, a população-alvo para o cálculo


das coberturas vacinais é:

• em menores de 1 ano – considerar o número de nascidos vivos, obtidos no Sinasc, como denomi-
nador do indicador;

• em crianças com 1 ano – considerar o número de nascidos vivos do ano anterior, obtidos no
Sinasc;

• nas demais faixas etárias – estimativas populacionais do IBGE (número de habitantes), por municí-
pio, faixa etária e sexo (disponíveis no site do Datasus).

Para o ano em curso, os dados disponíveis de doses aplicadas e


coberturas vacinais serão sempre preliminares, até o fechamento do
banco de dados do referido ano. Os dados são considerados finais no
mês de março do ano seguinte. Assim, a população-alvo considerada
será a meta mensal multiplicada pelo número de meses corridos, a
não ser para as campanhas, quando é considerada a população-alvo
anual integral.

Exemplo de meta mensal e meta mensal acumulada: total de nasci-


dos vivos = 600 crianças. Meta mensal = 600/12 = 50 crianças. Meta
acumulada para o mês de maio = 50 x 5 meses = 250 crianças.

Os dados do Sinasc podem sofrer alterações posteriores, as quais


nem sempre se refletem na população-alvo considerada. Quando
os dados do Sinasc de determinado ano não estão disponíveis, são
utilizados os dados do ano anterior.

Como os municípios deverão processar os dados?


Em municípios que processam os dados no Sistema API-Web, o registro das doses adminis-
tradas é realizado no Boletim Diário de Doses Aplicadas, segundo o tipo de vacina, a idade e
a dose administrada, cujos dados são consolidados nos Boletins Mensais.

Nos municípios em que o SI-PNI está implantado, os dados sobre as doses aplicadas são fei-
tos por usuário na Ficha de Registro do Vacinado, processada na própria sala de vacinação.

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Os dados sobre as doses aplicadas processados no API-Web ou no SI-PNI formam o banco
de dados, a partir do qual é possível extrair o numerador da cobertura vacinal. Esse banco
de dados pode ser acessado no município, na GERES, no Estado e no Ministério da Saúde,
pelo pessoal que trabalha no Programa de Imunização das diferentes instâncias.

Os dados também estão disponíveis no site do Datasus (<http://pni.datasus.gov.br/inf_


estatistica_cobertura.asp>) para tabulação e obtenção do número das coberturas vacinais já
calculadas ou de doses aplicadas.

Denominadores para o cálculo de coberturas vacinais: um estudo


das bases de dados para estimar a população menor de um ano
de idade

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/denominadores_calculo_
coberturas_vacinais.pdf>

Vigilância das coberturas de vacinação: uma metodologia para


detecção e intervenção em situações de risco

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigilancia_coberturas_
vacinacao.pdf>

Boletim Epidemiológico - Volume 46 - nº 30 - 2015 - Programa


Nacional de Imunizações: aspectos históricos dos calendários
de vacinação e avanços dos indicadores de coberturas vacinais,
no período de 1980 a 2013

<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2015/outubro/14/
besvs-pni-v46-n30.pdf>

Hoje as informações de imunização são registradas e disponibilizadas por meio dos sistemas
de informação do Programa de Imunização. As primeiras iniciativas sobre a informatização
dos registros de vacinação datam do ano de 1990, na região Nordeste, com apoio do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), inicialmente, fracassadas por insuficiência
de recursos financeiros. Entre os anos de 1993 e 1994, com apoio do Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), essa iniciativa foi retomada com êxito,
de modo que em 1997 o sistema informatizado estava implantado em todas as Unidades
Federadas (BRASIL, 2013). Atualmente, os sistemas mais utilizados são:

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APIWEB
O APIWEB visa propiciar a avaliação regular e sistemática dos dados e das cober-
turas vacinais (campanha e rotina), conforme faixa etária alvo e imunobiológico
específico, subsidiando o planejamento das ações de vacinação e a alocação de
recursos gerenciais (de pessoas, financeiros, materiais) (BRASIL, 2014).

O APIWEB – embora seja um sistema útil ao monitoramento das coberturas vaci-


nais, simples, aceitável pelo usuário e flexível – tem sido inoportuno e subutilizado
considerando as suas potencialidades em subsidiar a própria área de imunizações
e da vigilância epidemiológica de agravos específicos na intervenção em tempo
hábil. Todos esses problemas geraram, ao longo dos anos, demandas de mudança
no mecanismo de registro de dados sobre vacinação no país, sobretudo adotan-
do-se um sistema de informação que forneça dados nominais do vacinado e por
procedência, permitindo uma análise mais consistente dos indicadores da área
de imunizações no país. Na perspectiva de atender a essa demanda, o PNI, em
parceria com o Datasus, iniciou, em 2005, as primeiras discussões para a constru-
ção desse sistema. Entretanto, somente no ano de 2009 investimentos maiores
foram empreendidos nesse propósito. Em fase avançada de desenvolvimento, o
sistema de informação em construção, mantendo a sua denominação de Sistema
de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), é composto por
módulos que consolidarão, em um único banco, os dados do PNI (BRASIL, 2014).

SI-PNI
O SI-PNI permite a entrada de dados por indivíduo e sua procedência (município
de residência); aprazamento de vacinação; estratégia de vacinação utilizada (rotina,
intensificação, bloqueio, campanha, especial); grupos populacionais específicos
(quilombolas, privados de liberdade, indígenas, assentados, população geral);
mobilidade dos indivíduos; adesão e evasão ao programa, oportunidade perdida
de vacinação; movimentação de imunobiológicos (laboratório produtor/fornecedor
do imunobiológico; lotes disponíveis e utilizados; utilização de imunobiológicos,
inclusive perdas físicas e técnicas), além de alimentar o SI-EAPV, que dispõe de
uma versão on line (BRASIL, 2015).

Além das características já citadas, acrescenta-se que o novo sistema, na sua concep-
ção, tem caráter descentralizado, uma vez que não somente a coleta, mas também
a digitação dos dados é feita no domínio do município. A instalação do software
pode ser feita desde a sala de vacina até o nível central da gestão do município
(BRASIL, 2015). O infográfico a seguir apresenta algumas vantagens do SI-PNI.

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Vantagens do SI-PNI

Veja, no infográfico a seguir, as vantagens do Sistema de informação do Programa


Nacional de Imunização.

SI-PNI
Sistema de informação do
Programa Nacional de Imunização

EAPV CRIE
Eventos Adversos Centro de Referência
Pós-vacinação em Imunobiológicos
Especiais

AIU API
Apuração dos Avaliação do Programa
Imunobiológicos de Imunização
utilizados

Indicadores
Imunos Corbeturas Doses
utilizados vacinais aplicadas
Taxa de Eventos
abandono adversos

Vantagens
Permitir a obtenção de indicadores por município de residência;

incorporar outras variáveis importantes – estratégia de vacinação utilizada, pertencimento a


grupos populacionais específicos etc.;

permitir informações da movimentação de imunobiológicos em todos os níveis do Programa;

possibilitar informações sobre a mobilidade dos indivíduos, adesão e evasão ao programa,


coberturas vacinais e homogeneidade de coberturas mais reais;

estimular a informatização das salas de vacina e socialização das informações.

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Agora que você já conhece um pouco sobre o SI-PNI, vamos ver no próximo infográfico
como funciona o fluxo de informação no sistema.

Fluxo de informação do SI-PNI

Unidade

Unidade
Instrumento

Município

Base de dados

Regional Estado

CG-PNI

A unidade preenche o instrumento e/ou digita os dados no sistema

Os dados são encaminhados para a base municipal

A base municipal transfere os dados para a base nacional

As bases regionais e estaduais monitoram o envio e avaliam os dados

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Instrumentos de coleta de dados

O SI-PNI utiliza dois instrumentos de coleta de dados:

• um para o registro de doses aplicadas em cada usuário da sala de vacinação (Ficha do Vacinado);

• e outro para o registro da movimentação das doses de imunobiológicos em todas as esferas de


gestão do Programa.

Para saber mais sobre o SI-PNI e sua implantação, assista as


vídeoaulas produzidas pelo Ministério da Saúde:

Módulo 1 - <https://www.youtube.com/watch?v=UnX--qKPPLk>

Módulo 2 - <https://www.youtube.com/watch?v=w7qc5i5iwvE>

Módulo 3 - <https://www.youtube.com/watch?v=q2wXfY9B7cQ>

Módulo 4 - <https://www.youtube.com/watch?v=LLqJzBDSCjY>

Módulo 5 - <https://www.youtube.com/watch?v=lY1a3DHSUp0>

Módulo 6 - <https://www.youtube.com/watch?v=W8aTwhpH6BI>

Módulo 7 – <https://www.youtube.com/watch?v=yDJQBjEpb14>

Módulo 8 – <https://www.youtube.com/watch?v=d7W1iVYy2WI>

Módulo 9 – <https://www.youtube.com/watch?v=hQbhWb7fHeE>

Módulo 10 - <https://www.youtube.com/watch?v=iI5gyiVpGCQ>

Manual para registro de doses aplicadas no Sistema de Informação


online de Avaliação do Programa de Imunizações – APIWEB/2014
Consultar biblioteca virtual

Manual do Sistema de Informação do Programa Nacional de


Imunizações SIPNI/2015
Consultar biblioteca virtual

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Aula 3: Cadeia de frio

Já vimos como administrar e registrar as vacinas, vamos agora compreender todo o proces-
so de armazenamento e transporte.

A credibilidade de um programa de imunização é dependente da segurança, potência e qua-


lidade das vacinas. A incorreta conservação, o armazenamento e manuseio inadequados
das vacinas pode resultar em uma perda da potência, ou aumentar os eventos adversos de
algumas vacinas. Como consequência, a confiança do público nos programas de imunização
pode ser prejudicada, colocando ainda mais vidas em risco (BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013).

A inativação de uma vacina, que nem sempre é verificável pela simples inspeção, pode ocor-
rer por falhas no armazenamento, transporte ou manuseio no momento da aplicação. Como
a determinação da validade pode ser verificada somente em laboratório, o que é trabalhoso,
demorado e oneroso, é imprescindível que todos os profissionais de saúde estejam fami-
liarizados com os princípios e com as normas corretas de conservação das vacinas, desde a
sua produção até a sua aplicação (BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013).

Você sabe o que a cadeia de frio?

Define-se como cadeia de frio o caminho pelo qual a vacina percorre desde a produção até
o usuário final. Qualquer quebra na temperatura ou condição de manipulação ideais em um
dos pontos da rede compromete a qualidade dos produtos nos demais (BRASIL, 2013).

Você sabia que o principal elemento de uma cadeia de frio é a temperatura?

As vacinas são conservadas nos diversos setores da cadeia de frio em temperaturas


específicas, que levam em conta os antígenos e os adjuvantes da sua composição. Esses
elementos são fundamentais para definir se uma vacina pode ou não ser congelada. Nas
instâncias local e municipal, a rede de frio deve armazenar os imunobiológicos em câmeras
de armazenamento específicas para vacinas, com temperatura na faixa de +2°C a +8°C.
(BRASIL, 2013; BALLALAI, 2016).

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Por que perseguir os 5 ºC?

Porque 5 graus Celsius (5 °C) é o ponto médio entre +2 °C - +8 °C, que


é a faixa de temperatura recomendada para o armazenamento de
vacinas. Muitas são danificadas ou destruídas em temperaturas fora
dessa faixa. Lembrando que algumas são sensíveis ao calor e outras
não suportam o congelamento. Mantendo a temperatura de 5 °C,
garante-se uma faixa de segurança, evitando aquecimento (mais de
8 ºC) ou congelamento (menos de 2 ºC) (BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013).

Procedimentos básicos para armazenamento dos


imunobiológicos
A cadeia de frio em um serviço de imunização inicia quando as vacinas são recebidas. E o
que devemos fazer no momento da recepção das vacinas?

• Avaliar as condições das bobinas de gelo;

• avaliar as condições da(s) caixa(s) térmica(s);

• verificar a temperatura interna da caixa de transporte;

• avaliar as condições das vacinas dentro da(s) caixa(s) térmica(s).

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E se todas as condições avaliadas estiverem corretas:

• armazenar de imediato cada imunobiológico, de acordo com sua estabilidade.

Pronto! Agora você já recebeu a vacina e precisa armazenar. O que deve fazer?

A câmara de conservação de vacinas é um elemento imprescindível na cadeia de frio. Em seu


interior, as vacinas deverão ser conservadas entre 2 ºC e 8 ºC até o momento de sua utilização.
É importante respeitar algumas orientações (BALLALAI, 2016; BRASIL, 2014) para garantir a efi-
cácia dos imunobiológicos, das quais destacamos as mais importantes:

• equipamentos devem ser exclusivos para a conservação.

• utilizar termômetro, de preferência, com alarme para grau máximo


e mínimo, e que indique e registre as variações de temperatura;

• fazer a leitura do termômetro, verificando as temperaturas máxima


e mínima atingidas, no mínimo duas vezes ao dia, registrando-as
em mapa de controle diário de temperatura;

• colocar à frente nas prateleiras as vacinas com prazo de validade


mais próximo do vencimento, para que sejam utilizadas primeiro;

• conferir periodicamente a data de validade das vacinas, retirando


as que estiverem fora da validade;

• manter os diluentes na câmara antes do uso, para que no momento


da diluição, estejam à temperatura de 2 ºC a 8 ºC, sendo que esses
não devem ser congelados.

E se ocorrer alguma falha? O que devo fazer?

Quando houver falhas e/ou dúvidas em relação à rede frio, o responsável pela rede frio
do município ou secretaria estadual devem ser contatados. E para saber qual a conduta
a ser tomada com a vacina que sofreu alteração de temperatura, faz-se necessário saber
(BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013):

• a temperatura de exposição;

• o tempo de exposição;

• a validade da vacina e

• se a vacina já foi exposta à alteração de temperatura anteriormente.


Boas práticas de vacinação
Preparação e administração das vacinas e conservação de imunobiológicos 15
Veja o Instrumento para Registro de Ocorrência de Alterações
Diversas (desvio(s) de qualidade no(s) imunobiológico(s), nas pági-
nas 139 e 140 do Manual de Rede de Frio do Programa Nacional
de Imunizações:

<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/03/manual-
rede-frio.pdf>

Os refrigeradores tipo “duplex” e tipo “frigobar” não podem ser utilizados.


No caso de oscilações de energia elétrica, esses equipamentos não
mantêm a temperatura exigida, podendo haver congelamento ou
temperatura acima de 8 ºC (BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013)

Em 2013, o Ministério da Saúde, por meio do Manual de Rede de Frio, orientou que os
refrigeradores domésticos não deveriam mais ser utilizados nas salas de vacina. Assim,
deveriam ser substituídos gradativamente por equipamentos específicos de armazenamen-
to de vacinas. Como ainda existem salas de vacina com esse tipo de refrigerador, seguem os
cuidados especiais na utilização de refrigeradores de uso doméstico.

Os refrigeradores fabricados a partir de 1996 têm estabilidade menor e maior risco de


sofrer alterações de temperatura, pois não possuem mais o gás Cloro Flúor Carbono (CFC).
Recomendam-se, portanto, alguns cuidados especiais quanto ao seu uso (BALLALAI, 2016;
BRASIL, 2013):

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• ajustar o termostato de modo a encontrar o ponto ideal que vai
permitir a manutenção da temperatura do refrigerador entre +2ºC
e +8ºC. O termostato depois de ajustado não deve ser manipulado,
nem mesmo durante a limpeza;

• manter uma temperatura de +5ºC, essa temperatura é a ideal para


assegurar a manutenção do equipamento dentro das condições
preconizadas nas oscilações da corrente elétrica;

• não guardar vacinas na porta ou na parte de baixo do refrigerador,


pois quando a porta é aberta, essas áreas do equipamento são as
primeiras a sofrer o impacto da temperatura ambiente, apresentando
grande variação de temperatura;

• não colocar garrafas na porta da geladeira, pois, com o passar do


tempo, o peso poderá impedir a perfeita vedação do refrigerador;

• retirar a tampa da caixa de verduras, e, em seu lugar, colocar garrafas


com água, o que contribui para estabilizar a temperatura interna
do refrigerador;

• conservar no congelador pacotes de gelo reciclável, para manter


por mais tempo a temperatura interna do refrigerador na falta de
energia elétrica;

• manter o congelador livre de acúmulo de gelo;

• manter o termômetro para medir temperaturas máxima e mínima


permanentemente dentro do refrigerador, na prateleira do meio.
Quando do uso de termômetro digital de momento, máxima
e mínima, o mesmo deve ser afixado na porta externa do refrige-
rador e o cabo extensor deve ser introduzido pelo lado de fixação
das dobradiças, afixando o sensor (bulbo) na parte central da
segunda prateleira;

• verificar sempre se a borracha de vedação do refrigerador está


íntegra (teste do papel);

• deixar um espaço livre entre as caixas de vacinas. Esse procedimento


serve para melhorar a circulação do ar frio interno, pois esses refri-
geradores não possuem o sistema de circulação de ar forçado, que
dá maior estabilidade ao equipamento;

• manter as vacinas afastadas da parede cerca de 4 cm do fundo e


das laterais do refrigerador.

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Organização dos imunobiológicos
no refrigerador doméstico
Após compreendermos quais os cuidados que devemos ter com o refrigerador doméstico,
vamos conhecer a sua organização interna. Nos refrigeradores domésticos, os imunobioló-
gicos devem ser organizados por tipo viral (Tríplice viral, varicela, Febre Amarela, VOP) ou
bacteriano (Pneumo10, VIP, Hepatite B, Hepatite A, Meningo C) e acondicionados nas 2ª e 3ª
prateleiras, colocando-se na frente os produtos com prazo de validade mais curto para que
sejam utilizados antes dos demais.

Não acondicione imunobiológicos na 1ª prateleira, nem no compartimento inferior (gaveta)


desses equipamentos, pois esses compartimentos estão muito próximos do congelador e
qualquer alteração de temperatura pode congelar as vacinas.

Coloque garrafas preenchidas com água misturada a um corante (azul de metileno, anil, vio-
leta de genciana) na gaveta da parte de baixo do refrigerador, ocupando todo o espaço para
que, caso ocorra falta de energia, essas ajudem na manutenção da temperatura externa por
mais tempo.

Você sabe como transportar as vacinas adequadamente?


O transporte das vacinas é um dos elos fundamentais para uma adequada cadeia de frio.
Deve-se assegurar que em todo o itinerário as normas de armazenamento sejam rigorosa-
mente seguidas, desde o acondicionamento até o destino final.

E quais são os procedimentos básicos para o transporte de imunobiológicos?

O empacotamento para o transporte das vacinas deve ser feito em salas climatizadas, e o
transporte deve ser feito em caixas térmicas adequadas que propiciem a manutenção da tem-
peratura em todo o seu percurso. Portanto, recomenda-se (BRASIL, 2013; BALLALAI, 2016):

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• dispor de bobinas de gelo reciclável em quantidade suficiente;

• escolher o tamanho e a qualidade adequados da caixa térmica;

• acondicionar, sempre que possível, as vacinas que podem ser con-


geladas em uma caixa térmica e em outra as que não podem ser
congeladas. Também é importante retirar as bobinas de gelo reciclá-
vel do congelador ou freezer, deixando-os à temperatura ambiente
entre 15 e 30 minutos, até as gotas de água aparecerem na superfície,
pois assim o gelo estará com temperatura em torno de 0º, evitando,
portanto, o congelamento das vacinas. Conforme orientação do
Manual de Rede de Frio do Ministério da Saúde, deve ser utilizado
um termômetro de cabo extensor para verificar a temperatura;

• dispor as vacinas na caixa térmica, deixando-as circundadas (ilhadas)


pelas bobinas de gelo reciclável;

• colocar o bulbo do termômetro de cabo extensor no centro da caixa,


entre as vacinas, e fixar o termômetro na parede externa da caixa;

•v
 erificar a temperatura após 30 minutos e registrar, em impresso
apropriado, a data e a hora do transporte;

• fechar a caixa térmica (vedando, se necessário, a tampa da caixa


com fita adesiva), não deixando frestas ou folgas. Caso seja para
utilização da caixa na sala de vacina, não há necessidade de vedar;

• identificar a caixa externamente, identificando o conteúdo (tipo e


quantidade de vacinas) e o destinatário. Caso seja para utilização da
caixa na sala de vacina, não há necessidade de colocar o destinatário;

• manter a caixa térmica fora do alcance da luz solar direta e distante


de fontes de calor (motor, aquecedor, fonte luz);

• manipular a caixa térmica com cuidado, evitando a quebra dos


imunobiológicos;

• verificar a temperatura no interior da caixa térmica para registrá-la


em impresso próprio, quando do recebimento das vacinas;

Esse procedimento também deverá ser seguido ao montar as caixas térmicas para vacinas
de uso diário na sala de vacina.

Boas práticas de vacinação


Preparação e administração das vacinas e conservação de imunobiológicos 19
Você sabia que a quantidade de bobinas de gelo colocada dentro da caixa
interfere na temperatura interna da caixa?

Com isso, cabe lembrar que, ao utilizar bobinas de gelo reciclável em temperaturas em tor-
no de -10 ºC a -20 ºC, corre-se o risco de, em determinado momento, a temperatura das vaci-
nas ficar próxima à temperatura do gelo. Como consequência, as vacinas poderão congelar,
inativando determinados imunobiológicos (exemplo: vacina hepatite B, influenza, DTP etc.)
(BALLALAI, 2016; BRASIL, 2013).

Em caso de situações de emergência (interrupção de energia), o que devo fazer?

O refrigerador pode deixar de funcionar por motivo de corte de energia elétrica ou por
defeito. A falta de energia por um período prolongado pode inutilizar totalmente alguns
imunobiológicos. Portanto, é essencial que o serviço de imunização tenha por escrito as
rotinas, em caso de falta de energia, e que os profissionais do serviço as conheçam.

Vamos agora conhecer os procedimentos básicos em situações de emergência (BALLALAI,


2016; BRASIL, 2013, 2014):

• manter fechado, NÃO abrir o refrigerador, e monitorar, rigorosa-


mente, a temperatura interna por meio do termômetro externo,
quando ocorrer interrupção do fornecimento de energia elétrica
ou em caso de falha do equipamento;

• proceder a transferência imediata dos produtos para outro equipa-


mento (refrigerador ou caixa térmica) que esteja com temperatura
entre +2 ºC a +8 ºC, caso a corrente elétrica não seja restabelecida
ou a falha no equipamento não seja solucionada no prazo máximo
de duas horas, ou quando a temperatura estiver próxima de +8 ºC;

• dispor de bobinas de gelo reutilizáveis congeladas para serem usa-


das, caso necessário, no acondicionamento dos imunobiológicos
em caixas térmicas;

• manter comunicação constante com a empresa local de energia elé-


trica, a fim de ter informação prévia sobre eventuais cortes de energia.

É imprescindível que todas as pessoas envolvidas com a vacinação tenham conhecimentos


dos princípios e das normas corretas para a conservação das vacinas. Por essa razão, é
muito importante que os profissionais de saúde que trabalham com imunizações conheçam
as características das vacinas que administram e estejam familiarizados com as normas de
conservação e armazenamento delas.
Boas práticas de vacinação
Preparação e administração das vacinas e conservação de imunobiológicos 20
Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação do Ministério
da Saúde, capítulo 6, que trata dos procedimentos para admi-
nistração de vacinas:

<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/dezembro/11/
Manual-procedimentos-vacinacao-web.pdf>

Manual de Rede de Frio do Ministério da Saúde, que dentre outros


temas, trata do uso de câmeras específicas para salas de vacina:

<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/03/manual-
rede-frio.pdf>

Vamos avaliar o que aprendemos até aqui antes de prosseguir. No AVASUS, realize a ativi-
dade Avaliativa da Unidade 3.

Boas práticas de vacinação


Preparação e administração das vacinas e conservação de imunobiológicos 21

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