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POLÍTICAS PÚBLICAS
DE ACESSO À JUSTIÇA
E DIREITOS HUMANOS
Rosane Teresinha Carvalho Porto
Janaína Machado Sturza
Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth
Joice Graciele Nielsson
Organizadores
1ªEdição
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-81399-25-2
ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO:
APRESENTAÇÃO
Lenice Kelner
Professora da graduação e mestrado em Direito (FURB), Doutora em Direito
(UNISINOS) com pós-doutoramento em criminologia (UERJ), mestre em ciência
jurídica (UNIVALI), Advogada e Coordenadora da Comissão de Direitos
Humanos da Subseção da OAB/SC.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
Resumo 1 22
PRESA NA TORRE DO PANÓPTICO: o desafio da vítima de violência
doméstica para salvar a si mesma e monitorar seu agressor
Joice Graciele Nielsson, Adriane Arriens Fraga Bitencourt, Ana Luísa Dessoy
Weiler
Resumo 2 27
TELETRABALHO NO BRASIL E NA ARGENTINA: sob a perspectiva
legislativa
Alana Kryszczum Krawechuka, Gabrieli Placido Callai e Rosane Teresinha
Carvalho Porto
Resumo 3 33
MEDIAÇÃO SOB O PRISMA DO DIREITO FUNDAMENTAL DO
ACESSO À JUSTIÇA
Alessandra Frei Silva
Resumo 4 37
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A GLOBALIZAÇÃO:
desafios para a efetivação da democracia
Bibiana Knorr de Moura, Aline Michele Pedron Leves e Gilmar Antonio Bedin
Resumo 5 42
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA – uma análise sobre as condições de
trabalho análogas à escravidão e a violação aos direitos humanos na
atualidade
Ana Andréa Bene�i e Rosane Teresinha Carvalho Porto
Resumo 6 50
SUCESSÃO DE BENS DIGITAIS: uma busca metodológica para sua
transmissão frente ao conflito de normas fundamentais
Ana Paula dos Santos Oliveira e Yan Carlos da Silva Nunes
Resumo 7 55
O NEOLOGISMO DA APOROFOBIA E SUA CORPORIFICAÇÃO NA
SOCIEDADE INTERNACIONAL
Anna Paula Bage�i Zeifert, Vitória Agnole�o e Isabela Liebeld Pinheiro
Resumo 8 60
O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE NA PERSPECTIVA DE AXEL
HONNETH E COMO FATOR DE COMBATE À INJUSTIÇA
CLIMÁTICA E CONCREÇÃO DOS ODS 13 E 16 DA ONU
Sabrina Lehnen Stoll, Carina Lopes de Souza e Elenise Felzke Schonardie
Resumo 9 65
ASSÉDIO NO TRABALHO: uma perspectiva do assédio no ambiente de
trabalho no Brasil, Argentina e Chile
Carine da Silva Riquinho, Giulia Rossato de Barros e Rosane Teresinha
Carvalho Porto
Resumo 10 70
PARIDADE DE GÊNERO COMO POLÍTICA DE FORTALECIMENTO
DA DEMOCRACIA COM LIBERDADE
Carolina Menegon e Rafael Zimmermann
Resumo 11 75
ALGORITMIZAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: os impactos da
modernização dos sistemas de justiça no direito de acesso à justiça
Daiane Schneider Leviski e Mateus de Oliveira Fornasier
Resumo 12 82
EQUIDADE NA SAÚDE: breves comparativos entre Brasil e Paraguai
Dionis Janner Leal
Resumo 13 87
E-GOVERNANÇA: um retorno às característica principais do Welfare
State
Mateus de Oliveira Fornasier e Ezequiel Cruz de Souza
Resumo 14 94
A POTENCIALIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA NO COMBATE À
POBREZA
Fernando Eurico Lopes Arruda Filho
Resumo 15 99
MEDIAÇÃO DIGITAL NO BRASIL E ACESSO À JUSTIÇA: uma
análise crítica da virtualização do método autocompositivo
Ianne Magna de Lima
Resumo 16 104
ESCRAVIDÃO: de suas origens e fundamentos à contemporaneidade
João Guilherme Bene�i Bonmann e Rosane Teresinha Carvalho Porto
Resumo 17 109
A EMERGÊNCIA DE NOVOS TRATOS AOS CONFLITOS: o uso da
conciliação e da mediação como instrumento de solução
autocompositiva
Josi Anne dos Santos Fagundes
Resumo 18 124
PODE A SUBALTERNA FALAR? MAPEANDO A JUSTIÇA
RESTAURATIVA NA JUSTIÇA FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DE DIREITOS HUMANOS DE
GÊNERO E RAÇA
Juliana Mayer Goulart e Rosane Teresinha Carvalho Porto
Resumo 19 131
A DIGNIDADE HUMANA E O CONTRATO DE TRABALHO
INTERMITENTE COMO UM DOS IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO
Júlia Batista Braucks e Elenise Felzke Schonardie
Resumo 20 137
DA REDISTRIBUIÇÃO AO RECONHECIMENTO: o mundo
globalizado e a teoria de justiça pós-westfaliana de Nancy Fraser
Lavinia Rico Wichinheski e Natália Cerezer Weber
Resumo 21 142
CIDADANIA, DIREITOS FUNDAMENTAIS E ACESSO À JUSTIÇA: a
democratização do acesso em municípios gaúchos não sedes de comarca
Luana Carolina Bonfada e Sergio Luis Allebrandt
Resumo 22 147
A GESTÃO DO CONFLITO E A AGENDA 2030 DA ONU: caminhos
possíveis pela mediação
Maria Eduarda Granel Cope�i, Gabrielle Scola Dutra e Charlise Paula Colet
Gimenez
Resumo 23 152
A SEGURANÇA PÚBLICA ATRAVÊS DO USO DE
RECONHECIMENTO FACIAL: uma análise da discriminação racial
Mérian Padilha Alves, Joice Graciele Nielsson e Laura De Lima Paulata
Resumo 24 157
GARANTINDO O ACESSO AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA DA LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL:
como uma melhor regulamentação estatal pode enfrentar a (in)justiça na
efetivação do direito constitucional
Miguel Antonio Paes de Barros Filho
Resumo 25 163
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO À JUSTIÇA: Agenda 2030 como
instrumento de construção de sociedades justas e igualitárias
Natália Cerezer Weber, Lavinia Rico Wichinheski e Daniel Rubens Cenci
Resumo 26 168
ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL NO SISTEMA
PRISIONAL BRASILEIRO E A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE
HUMANA E DIREITOS DA PERSONALIDADE: um estudo para além
dos muros do cárcere
Sabrina Medina Andrecioli de Oliveira e Cleide Aparecida Gomes Rodrigues
Fermentão
Capítulo 27 174
RESSOCIALIZAÇÃO COMO UM DESAFIO AO APENADO QUE
ACREDITA NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA HISTÓRIA
Susielli Kétrin Tofolo e Charlise Paula Colet Gimenez
Resumo 28 180
MULHERES E MOVIMENTOS FEMINISTAS: estudando sobre a
influência dos movimentos para a garantia da autonomia feminina
Aline Rodrigues Maroneze e Lucimary Leiria Fraga
Resumo 29 185
A EXPLORAÇÃO DOS VENTRES DE MULHERES ESCRAVIZADAS E
A (IM)POSSIIBILIDADE DA MATERNIDADE DURANTE A
ESCRAVIDÃO
Camily Laís Lütkemeyer e Gabriela Felden Scheuermann
Resumo 30 190
O LEGADO DA CULTURA PATRIARCAL PARA A (IN)VISIBILIDADE
DA MULHER EM SITUAÇÃO DE CÁRCERE
Daiane Specht Lemos da Silva e Osmar Veronese
Resumo 31 195
A MONITORAÇÃO ELETRÔNICA COMO INSTRUMENTO
AUXILIAR A EFETIVIDADE DE MEDIDAS PROTETIVAS ÀS
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Camilla dos Reis Marchioro, Fernanda Analu Marcolla e Maiquel Ângelo
Dezordi Wermuth
Resumo 32 200
A CARACTERIZAÇÃO DOS DECISORES JUDICIAIS NOS CRIMES
DE CORRUPÇÃO MILITAR
Francine Feldens
Resumo 33 205
O PROTAGONISMO FEMININO DAS MULHERES NA SOCIEDADE:
UMA ANÁLISE DO MOVIMENTO RED PILL SOB A PERSPECTIVA
DO DIREITO FRATERNO
Bruna Conceição Gonçalves Paschoal, Gabrielle Scola Dutra e Charlise Paula
Colet Gimenez
Resumo 34 211
JUSTIÇA RESTAURATIVA E A SAÚDE MENTAL DAS
TRABALHADORAS: construção de ambientes seguros para a mulher no
trabalho numa perspectiva de justiça restaurativa
Adriane Arriens Fraga Bitencourt e Juliana Mayer Goularte
Resumo 35 216
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA: o neoliberalismo e as novas técnicas
psicopolíticas de violência contra mulher
Juliana Porciuncula e Jóice Graciele Nielsson
Resumo 36 221
APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM
ADOLESCENTES QUE VIVENCIAM A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO
LAR
Rosane Teresinha Carvalho Porto, Daniela Silva Fontoura Barcellos e Juliana
Tozzi Tietböhl
Resumo 37 226
VIVEMOS NA PONTA DA BALA: a política armamentista e as chacinas
ocorridas no Brasil
Lavinia Rico Wichinheski e Natália Cerezer Weber
Resumo 38 231
E SE NÃO FOSSE MARÍLIA? E SE FOSSE MARIA?
Luana Carolina Bonfada e Sergio Luis Allebrandt
Resumo 39 235
CORPOS TRANS, BIOPODER E O (NÃO) DIREITO À CIDADE
Lucimary Leiria Fraga, Aline Rodrigues Maroneze e Da�ini Carneiro da
Silva
Resumo 40 240
POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS DURANTE A COVID-19 PARA O
ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO RIO GRANDE
DO SUL
Luíse Pereira Herzog e Thalyta Karina Correia Chediak
Resumo 41 245
O BIOPODER E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DE GUERRA NO
SÉCULO XXI: uma perspectiva a partir de Michael Hardt e Antonio Negri
Mariana Chini, Gabrielle Scola Dutra e Janaína Machado Sturza
Resumo 42 250
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO MERCADORIA
OFERTADA PARA ENTRETENIMENTO NO CONTEXTO DO
CAPITALISMO GORE
Melina Macedo Bemfica, Ana Luísa Dessoy Weiler e Juliana Tozzi Tietböhl
Resumo 43 255
ABSORVENTES, PAPEL HIGIÊNICO E PANOS: a pobreza menstrual
como questão de saúde pública e violação aos Direitos Humanos
Nathalia das Neves Teixeira
Resumo 44 260
BREVES REFLEXÕES A RESPEITO DO EXERCÍCIO DA
MATERNIDADE NO CÁRCERE
Alana Maidana Roesler, Roana Funke Goularte e Carla Rosane da Silva
Tavares Alves
Resumo 45 265
COLETIVOS FEMINISTAS TRANSCONFINS PARA EFETIVAÇÃO DE
DIREITOS
Stéphani Fleck da Rosa
Resumo 46 270
GÊNERO E ESTEREÓTIPOS: os papéis sociais pré estabelecido às
mulheres por uma sociedade patriarcal
Victória Pedrazzi
Resumo 47 276
APONTAMENTOS SOBRE A PERPLEXIDADE DOS DIREITOS
HUMANOS A PARTIR DO CONTROLE SOCIAL PELO SISTEMA
PRISIONAL
Micheli Pilau de Oliveira, Alexandre Juliani Riela e Maiquel Ângelo Dezordi
Wermuth
Resumo 48 281
SISTEMAS INFORMATIZADOS DOS ESTABELECIMENTOS DE
SAÚDE NO BRASIL: entre o direito à saúde e a proteção de dados
pessoais
Janaína Machado Sturza, Benhur Aurélio Formentini Nunes e Alexandre Juliani Riela
Resumo 49 286
A SAÚDE COMO DIREITO UNIVERSAL: os limites impostos pelas
fronteiras
Bruna Kronberg de Almeida, Maria Luiza Zimmermann e Janaína Machado
Sturza
Resumo 50 292
OS IMPACTOS DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA
APOSENTADORIA ESPECIAL E NA PROTEÇÃO DA SAÚDE DO
TRABALHADOR
Adriana Rafaela Paz Dias, Carolina Menegon e Daiane Caroline Kamphorst
Resumo 51 297
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO ENFRENTAMENTO DA BARREIRA
LINGUÍSTICA DOS VENEZUELANOS PARA ACESSAR O DIREITO À
SAÚDE
Cláudia Marilia França Lima Marques e Janaína Machado Sturza
Resumo 52 302
BARRIGA DE ALUGUEL: o útero como uma mercadoria para a
biopolítica
Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, Da�ini Carneiro da Silva, Ana Luísa
Dessoy Weiler
Resumo 53 307
TRABALHO E SAÚDE: a proteção ao meio ambiente de trabalho hígido
e seguro no âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Élida Martins de Oliveira Taveira
Resumo 54 312
O ADVENTO DA TECNOLOGIA E O APRIMORAMENTO DA
MONITORIZAÇÃO ELETRÔNICA NO SISTEMA PENAL
BRASILEIRO
Vandriele da Silva, Fernanda Analu Marcolla e Maiquel Ângelo Dezordi
Wermuth
Resumo 55 317
RACISMO INSTITUCIONAL: obstaculização do acesso à saúde pública
no Brasil sob a perspectiva da fraternidade
Gabrielle Scola Dutra, Gabriel Bueno Da Silva e Fernando Antônio Sodré de
Oliveira
Resumo 56 323
DA TRAGÉDIA SANITÁRIA À TRAGÉDIA HUMANITÁRIA: uma
análise do caso do povo yanomami no contexto do direito à saúde
Maycon Richer De Albuquerque Santos, Gabrielle Scola Dutra, Janaína
Machado Sturza
Resumo 57 328
A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE PELA MEDIAÇÃO
FRATERNA SANITÁRIA NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
Gabrielle Scola Dutra, Maria Eduarda Granel Cope�i e Charlise Paula Colet Gimenez
Resumo 58 333
AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS GERADAS PELA
INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA SOBRE A RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS FRENTE AO DEVER DE
PRESTAR ASSISTÊNCIA À SAÚDE CONFORME AS
CONTROVÉRSIAS JURÍDICAS DEBATIDAS PARA A FIXAÇÃO DO
TEMA 793 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Isadora Sorteia da Ponte e Noli Bernardo Hahn
Resumo 59 338
MANIPULAÇÃO GENÉTICA: o conflito entre o princípio da isonomia e
o princípio do progresso científico
Jéssica Cindy Kempfer
Resumo 60 342
O FENÔMENO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS E SEUS IMPACTOS
NO PROCESSO DE EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO ACESSO À
SAÚDE
Maria Luiza Zimmermann, Bruna Kronberg de Almeida e Janaína Machado
Sturza
Resumo 61 347
A NECROPOLÍTICA COMO MECANISMO NAS MÃOS DO ESTADO
PARA PROMOVER A MORTE INDIRETA DOS PRESOS
PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS NO BRASIL
Mariele Cássia Bosche�i Dal Forno e Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth
Resumo 62 352
O PANÓPTICO CONTEMPORÂNEO: o uso da tornozeleira eletrônica
sob o olhar da monitoração constante idealizada por Foucault
Nadini Casali Bandeira, Emanuele Oliveira e Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth
Resumo 63 357
O ACESSO À SAÚDE PARA FINS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO
POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA AOS MAIS VULNERAVÉIS
Natália Cerezer Weber, Geisson Da Silva e Lavinia Rico Wichinheski
Resumo 64 362
O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA: reflexões acerca da (falsa) liberdade de
expressão disseminada nas redes sociais contra mulheres negras
Nathalia Das Neves Teixeira, Da�ini Carneiro da Silva e Juliana Mayer Goulart
Resumo 65 367
INTERFACES BIOPOLÍTICAS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Paula Betina Bock de Prass e Sabrina Azevedo Wagner Bene�i
Resumo 66 372
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E OS OFÍCIOS DA CIDADANIA
BRASILEIROS: avanços e perspectivas à tutela da vida civil das pessoas
trans
Paula Fabíola Cigana e Janaína Machado Sturza
Resumo 67 377
MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL:
perspectivas acerca das políticas públicas de saúde pela metateoria do
direito fraterno
Paula Fabíola Cigana, Gabrielle Scola Dutra e Janaína Machado Sturza
Resumo 68 382
ESTADO, APOROFOBIA E DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO
EM SITUAÇÃO DE RUA
Priscila Silva Biandaro
Resumo 69 387
A EFETIVIDADE DO DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO
MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO
DIREITO FUNDAMENTAL
Anna Flávia Bacin, Daniel Rubens Cenci e Rodrigo Lenz
Resumo 70 392
OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA SAÚDE
HUMANA
Rodrigo Tonél e Daniel Rubens Cenci
Resumo 71 396
IMPACTO DOS ESTRESSORES OCUPACIONAIS NA VIDA DOS
TRABALHADORES DAS PRISÕES
Sabrina Azevedo Wagner Bene�i, Paula Betina Bock de Prass e
Eliane Raquel Rieth Bene�i
GT1
POLÍTICAS PÚBLICAS
DE ACESSO À
JUSTIÇA E DIREITOS
HUMANOS
SUMÁRIO
1
PRESA NA TORRE DO PANÓPTICO: o desafio da vítima de violência
doméstica para salvar a si mesma e monitorar seu agressor
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende avaliar os impactos do projeto gaúcho “Monitorando o
Agressor” na vida das mulheres vítimas de violência doméstica. Trata-se de um tema
de especial relevância, visto que o projeto entra em vigor no ano de 2023 e consiste na
monitoração eletrônica dos agressores que cumprem medidas protetivas da Lei Maria
da Penha e que demonstram potencial risco para a mulher, com o intuito de prevenir
o feminicídio e, consequentemente, diminuir o número de ocorrências do crime.
Como hipótese inicial, leva-se em conta a real necessidade de projetos que
seguramente visem prevenir e diminuir o número de ocorrências de violência contra
a mulher no âmbito doméstico e familiar, tendo como base os dados levantados pelo
Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 (FÓRUM BRASILEIRO DE
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sobrevivente do holocausto e doutora em psicologia Edith Eger (2019), aos seus
90 anos de idade escreve a frase introdutória citada, a qual faz pensar no quanto a cura
vem pela possibilidade de desmantelar as prisões emocionais causadas por vivências
traumáticas ocorridas na história do sujeito. Sua experiência foi em Auschwi� e
conseguiu encontrar saídas para o aprisionamento.
Muitas mulheres vivenciam holocaustos cotidianos. A violência doméstica tem
tornado o domus em um silencioso ambiente gélido e mortífero do psiquismo humano,
deteriorando os relacionamentos e o desenvolvimento biopsicossocial do que lá
habitam.
Eger (2019) criou ferramentas para sobreviver e protagonizar sua história. No
entanto, não é o desfecho da maioria das mulheres. Segundo mostra o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública de 2022, em 2021, houve 2.028 tentativas de
feminicídio, 1.341 feminicídios e 221,4 mulheres vítimas de lesão corporal dolosa
oriundas de violência doméstica, sem considerarmos os casos em que as mulheres não
denunciam a violência psicológica, moral, patrimonial que vivenciam em seus
dolorosos cotidianos, bem como os efeitos danosos invisíveis nas estatísticas aos seus
filhos e demais familiares.
A privacidade do lar, que deveria garantir segurança e afetividade, também pode
trazer violência doméstica, como uma representação simbólica e real da violência de
gênero ocorrida no social. Sargot (2013) afirma que a violência contra a mulher é um
problema social endêmico e que a violência doméstica, portanto enraizada na vida
privada, é um continuum dessa violência estrutural, baseada na desigualdade de
gênero e que potencializa as relações de poder, naturalizando as diversas formas de
violência.
Diante disso, podemos pensar em lares que se tornam mais um campo de
concentração que um espaço de desenvolvimento de potencialidades psicossociais e
SUMÁRIO
1 O projeto é uma iniciativa do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher – EmFrente,
Mulher -, criado pelo Decreto nº 55.430/2020, ampliando a rede de apoio à mulher no Estado do Rio Grande do Sul e,
consequentemente, promover mudanças culturais no que tange à proteção da mulher contra qualquer tipo de
violência (RIO GRANDE DO SUL, 2021).
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É urgente a necessidade de projetos que protejam e tirem a mulher e seus
dependentes do ciclo da violência doméstica, já que os traumas são profundos e a cura
vem a partir da possibilidade de ser livre e protagonista de sua história. A Lei nº
11.340/2006 é completa, mas a execução a fim de que alcance os objetivos de garantia
de proteção à vítima de violência doméstica precisa ser realizada de maneira que não
venha lavrar os terrenos dos traumas, os deixando mais profundos.
Os projetos a serem desenvolvidos precisam coibir a revitimização e garantir
novas possibilidades de escolhas às vítimas e aos agressores, e não andarem de mãos
dadas ao sistema patriarcal. Assim como ocorre na monitoração eletrônica de sujeitos
em cumprimento de pena, que é realizada pelo Estado, sugere-se que o mesmo seja
feito no projeto “Monitorando o Agressor”, a fim de que verdadeiramente a mulher
possa ter sua liberdade cotidiana, não vivendo em uma falsa expectativa de que seria
melhor a si saber onde ele está. Cabe aos órgãos da Segurança Pública saber onde ele
está para que ela usufrua de seu tempo onde quiser e como quiser.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de setembro de 2006. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 6 mar. 2023.
CAMPELLO. Ricardo Urquizas. O carcereiro de si mesmo. In: Tempo Social, [S. l.], v. 31, n. 3, p. 81-97,
2019. DOI: 10.11606/0103-2070.ts.2019.161057. Disponível em: h�ps://www.revistas.usp.br/ts/article/view/
161057. Acesso em: 8 maio. 2023..
FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões. Rio de Janeiro: Petrópolis, 2000.
PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública: 2022. São Paulo: FBSP, 2022.. Disponível em:h�ps://
forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/. Acesso em: 5 mar. 2023.
RIO GRANDE DO SUL, Governo do estado do. Estado implementa tornozeleiras eletrônicas para
monitorar agressores de mulheres. Governo do Estado do Rio Grande do Sul , Rio Grande do Sul, p. 1,
24 out. 2022. Disponível em: h�ps://www.estado.rs.gov.br/estado-implementa-tornozeleiras-eletronicas-
para-monitorar-agressores-de-mulheres. Acesso em: 5 mar. 2023.
SEGATO, Rita Laura. La escritura en el cuerpo de las mujeres asesinadas en Ciudad Juárez. 1ª edição.
Buenos Aires: Tinta Limón. Disponível em: h�ps://www.feministas.org/IMG/pdf/rita_segato_.pdf. Acesso
em 06 mar. 2023.
SOUZA, Célia Mendes de; VIZZOTTO, Marília Martins; GOMES, Miria Benincasa. Relação entre violência
familiar e transtorno de estresse pós-traumático. In: Psicologia, saúde & doença, v 19, n 2, 2018, pp. 222-
233. h�p://dx.doi.org/10.15309/18psd190205 www.sp-ps.pt.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; MORI, Emanuele Dallabrida. A monitoração eletrônica de pessoas
no âmbito penal brasileiro: maximização da liberdade ou reforço do controle?. In: Revista Latino-
Americana de Criminologia, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 178–199, 2021. Disponível em: h�ps://periodicos.unb.br/
index.php/relac/article/view/36398. Acesso em: 6 mar. 2023.
SUMÁRIO
2
TELETRABALHO NO BRASIL E NA ARGENTINA: sob a
perspectiva legislativa
INTRODUÇÃO
O presente resumo analisa a regulamentação do teletrabalho nas legislações
brasileira e argentina, a partir da instauração da crise sanitária da COVID-19. Busca-se
a resposta do seguinte questionamento: de qual forma esses países regulamentaram o
teletrabalho, bem como quais as diferenças das legislações na proteção ao trabalhador?
Com a pandemia, ocorreu a transformação na modalidade de desenvolver a prática
laborativa, pois diante da necessidade do isolamento social, fez-se necessária a adoção
de uma alternativa, até então pouco usual, a fim de garantir a continuidade do
emprego, sendo assim necessário a análise do teletrabalho. Para tanto, o método de
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da existência das legislações brasileira e argentina versando sobre o
teletrabalho, observa-se que esta modalidade trouxe transformações no cenário
legislativo trabalhista de ambos os países. Todavia, apesar de ser uma modelo de
contratação existente há alguns anos, e com acréscimos normativos crescentes a partir
da instauração da pandemia da COVID-19, há matérias a serem normatizadas a fim
de efetivar direitos e garantias fundamentais, bem como suprir lacunas.
Palavras-chave: TELETRABALHO. PANDEMIA. BRASIL. ARGENTINA.
REFERÊNCIAS
ARGENTINA. Régimen legal del contrato de trabajo – Ley 27.555/2020. Disponível em:h�ps://www.
boletinoficial.gob.ar/detalleAviso/primera/233626/20200814. Acesso em 05 abr. 2023.
BRASIL. Lei nº 7.064 de 6 de dezembro de 1982. Dispõe sobre a situação de trabalhadores contratados ou
transferidos para prestar serviços no exterior. Brasília, DF; Presidência da República. Disponível em: h�ps:/
/www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7064.htm. Acesso em 05 de abr. 2023.
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de
Janeiro, RJ; Presidência da República. Disponível em: h�ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm. Acesso em 06 de abr. 2023.
BRIDI, Maria Aparecida. Teletrabalho em tempos de pandemia e condições objetivas que desafiam a classe
trabalhadora. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Marcio (Orgs.) A devastação do trabalho: a
classe do labor na crise da pandemia. Brasília: Gráfica e Editora Positiva; Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE) e Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020.
Disponível em: https://www.economia.unicamp.br/images/publicacoes/Livros/outros/a-desvastacao-do-
trabalho.pdf Acesso em: 06 de abr. 2023.
PORTO, R.T.C; SOUZA, E.C e; CORREIA L;C;V. O teletrabalho na pandemia: diálogos necessários entre
Brasil, Chile e Argentina. Blumenau, SC: Editora Dom Modesto, 2022. Disponível em: https://www.
dommodesto.com.br/wp-content/uploads/2022/11/9786586537918_EBOOK.pdf. Acesso em 06 de abr. 2023.
SUMÁRIO
3
MEDIAÇÃO SOB O PRISMA DO DIREITO FUNDAMENTAL
DO ACESSO À JUSTIÇA
INTRODUÇÃO
O presente trabalho possui como tema a mediação enquanto meio consensual de
solução de conflitos e um dos instrumentos do processo civil para se assegurar a
implementação da direito fundamental do acesso à justiça.
O problema da pesquisa consiste em que a mediação ainda não possui ampla
utilização no país, sendo muitas vezes preterida em face do excessivo número de
demandas judiciais que surgem nos Tribunais, muitas vezes pelo próprio
desconhecimento das partes e da sociedade sobre a sua utilidade.
Neste sentido, como hipótese do estudo, trabalha-se com a ideia da mediação
enquanto política pública capaz de pacificar os conflitos para a população em geral, de
forma que o referido mecanismo extrajudicial está tendo cada vez mais sua aplicação
incentivada pelas autoridades e pode ser vista com bons olhos por parte daqueles que
necessitam de uma resposta para suas demandas.
A metodologia utilizada tomou como base a pesquisa bibliográfica.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Levando-se em conta que a sociedade é complexa e repleta de situações que dão
ensejo a conflitos, isso tendo em vista que as pessoas são diferentes, pensam e agem de
maneiras distintas, é natural a permanência dos litígios, os quais existem desde os
primórdios da civilização.
Não é razoável, e nem aceito pelo ordenamento jurídico nacional, à luz dos
Direitos Humanos, que os litigantes resolvam suas pendências de forma arbitrária
através da autotutela. Ao invés disso, as partes podem valer-se do Poder Judiciário
para ter a sua satisfação de sua pretensão, ou ainda fazer uso dos métodos
autocompositivos e adequados de solução das controvérsias.
Porém, é sabido que nas últimas décadas chegou aos tribunais um grande
número de demandas, e que muitas dessas demandas poderiam ser resolvidas de
outras formas mais céleres e simples, e muitos desses processos acabam fazendo com
que situações como as que versam sobre direitos indisponíveis, demorem ainda mais
tempo para serem solucionadas.
Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2020, p. 203) explicam que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo presente estudo foi possível constatar que a mediação é uma das formas
adequadas e consensuais de solução de conflitos, que vem sendo cada vez mais
incentivada como uma forma de promover a pacificação social.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 5ª
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters, 2020. 2 v.
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 15ª ed. rev., e
atual. São Paulo: Saraiva jur, 2020.
_______. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: h�ps://www.
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CARVALHO, Sílzia Alves. A mediação no direito brasileiro: política pública, efetividade e segurança
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CATHARINA, A. de C. A mediação como política pública e sua contribuição para construção de uma nova
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MEDINA, José Miguel Garcia. Direito processual civil moderno. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017.
SUMÁRIO
4
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A GLOBALIZAÇÃO:
desafios para a efetivação da democracia
INTRODUÇÃO
A temática do presente trabalho consiste em apontar de que maneira a
globalização interfere na permanência do Estado Democrático de Direito como forma
garantidora da democracia constitucional no mundo atual. A globalização pode ser
definida como um fenômeno social e local que alterou drasticamente a forma de
estabelecimento das relações sociais, políticas e econômicas em todo o planeta. Fato é
que a sociedade está muito mais consciente dos problemas que são – e que devem ser
– enfrentados no século XXI e, por isso, a maior parte das atitudes produzem efeitos e
consequências para além das fronteiras nacionais.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não se sabe até quando a globalização irá afetar a vida humana em sociedade e
principalmente os riscos que este fenômeno ainda pode acarretar, visto que além de
ser imprevisível, é irreversível. Nas palavras de Anthony Giddens (2008, p. 52, grifo do
autor): “Por globalização entendemos o fato de vivermos cada vez mais num «único
mundo», pois os indivíduos, os grupos e as nações tornaram-se mais
interdependentes”. Já Carlos Estevam Martins (1996, p. 1) entende que a globalização
é o “resultado da multiplicação e da intensificação das relações que se estabelecem
entre os agentes econômicos situados nos mais diferentes pontos do espaço mundial”.
É a partir dessas conceituações que se verifica a noção de sociedade internacional
como um conjunto de Estados, organismos internacionais e, sobretudo, de indivíduos
que atuam dentro de cada organização com características de universalidade e
igualdade. Isso significa que a sociedade internacional é descentralizada e, portanto,
não há um único poder que a administra. Assim, em momentos de tensão e crise há o
entendimento de que a sociedade internacional deve agir em prol dos interesses dos
mais afetados. Isto só é possível a partir da globalização.
Em contrapartida, Zygmunt Bauman (2021, p. 67) evidencia que “[...] o
significado mais profundo transmitido pela ideia da globalização é o do caráter
indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais”. Desse
modo, pode-se afirmar que a globalização propicia uma profunda conexão entre os
povos e por essa razão cria uma noção de difusão entre as pessoas, ou seja, é possível
saber o que ocorre em qualquer lugar do mundo.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estado Democrático de Direito é a forma de Estado mais valorizada em
diversas partes do mundo na atualidade. O apego a esta forma de Estado está
vinculado as suas conquistas. Neste sentido, destaca-se que o Estado Democrático de
Direito tem, entre suas marcas mais importante, a ideia de subordinação do poder a
uma Constituição e, portanto, o poder se subordina ao direito.
Entender esta complexidade é fundamental. Além disso, também é muito
relevante compreender que o Estado Democrático de Direito consiste em uma
construção humana e que está sempre enfrentando novos desafios. Assim, a hipótese
embrionária apontou que a globalização tem se mostrado como um desafio ao Estado
Democrático de Direito, o que se confirmou ao longo da pesquisa, visto que o exercício
do poder estatal só é considerado válido quando respeita os limites impostos pela
ordem jurídica positivada.
Com efeito, o desenvolvimento tecnológico influenciou demasiadamente o
processo de aceleração do desenvolvimento da globalização e, assim, a interação entre
os povos abriu outro caminho de independência. Por conseguinte, a noção de tempo
e espaço não é mais a mesma que foi percebida nos séculos passados, pois as
catástrofes mundiais ocorridas em diversas regiões do mundo acabam mobilizando
todo o globo a fim de proteger os direitos humanos e os direitos individuais dos
cidadãos.
Por outro lado, faz-se fundamental a compreensão de que uma das motivações
para a descrença na democracia atual é que os eleitores não possuem mais expectativa
de mudança no governo. Isto é, a crise institucional em conjunto com a globalização
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Tradução de Marcus Penchel. Rio de
Janeiro: Zahar, 2021.
BEDIN, Gilmar Antonio. Estado de Direito: tema complexo, dimensões essenciais e conceito. Revista
Direito em Debate - Unijuí, v. 22, n. 39, p. 144–152, Ijuí, 2013. Disponível em: h�ps://doi.org/10.21527/2176-
6622.2013.39.144-152. Acesso em: 02 mai. 2023.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução de Alexandra Figueiredo [et al]. Coordenação de José Manuel
Sobral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
GÜNTHER, Klaus. Os cidadãos mundiais entre a liberdade e a segurança. Tradução de Pedro Maia. Novos
Estudos - CEBRAP, n. 83, p. 11-25, mar., 2009. Disponível em:
RODRIGUES, Mariana Pereira; SILVA FILHO, Edson Vieira da. As crises institucionais e o esgotamento da
democracia liberal. Revista Brasileira de Sociologia do Direito - ABRASD, v. 7, n. 3, p. 89-108, set/dez.,
2020. Disponível em: h�p://revista.abrasd.com.br/index.php/rbsd/article/view/452. Acesso em: 30 abr. 2023.
SCURO NETO, Pedro. Globalização do Estado de Direito: sentido e consciência – Parte I. Revista Sociologia
Jurídica, n. 4, jan./jun., 2007. Disponível em: h�ps://sociologiajuridica.net/globalizacao-do-estado-de-
direito-sentido-e-consciencia-parte-i/. Acesso em: 10 abr. 2023.
SUMÁRIO
5
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA – uma análise sobre as
condições de trabalho análogas à escravidão e a violação aos direitos
humanos na atualidade
INTRODUÇÃO
O presente projeto de pesquisa tem como tema a escravidão contemporânea,
trazendo uma análise sobre as condições trabalho análogas à escravidão, e a
consequente violação aos direitos humanos na atualidade.
Considerando os recentes acontecimentos, amplamente noticiados pela imprensa
oficial, em que diversas pessoas foram resgatadas vivendo em condições degradantes
ou análogas à escravidão, e também, pela relevância social da questão, devido a
importância do trabalho para o desenvolvimento humano, econômico e social, faz-se
necessária uma análise sobre as relações de trabalho a que muitos indivíduos são
submetidos na busca por subsistência ou melhores condições de vida.
Diante do exposto, cabem os seguintes questionamentos: Quais os principais
impactos deixados pela escravidão no Brasil, e que podem ser observados atualmente
em nossa sociedade? O que significa o termo escravidão contemporânea? Quais as
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Historicamente, a escravidão no Brasil teve início na época do descobrimento, por
volta do ano de 1.500, e perdurou, oficialmente, por mais de 300 anos, até a assinatura
da Lei Áurea, em 1888. Durante esse processo, atrocidades foram cometidas pelos
colonizadores, primeiramente com o povo indígena, e logo após com os africanos,
onde a mão de obra era explorada de maneira cruel e desumana.
Sobre a exploração da mão de obra indígena quando os colonizadores aqui
chegaram, Alberto Pereira Lopes (2017, p. 16) pontua que:
Com isso, o autor demonstra que a exploração da mão de obra escrava ocorria em
diversos setores da economia, desde o serviço doméstico até o cultivo de grandes áreas
rurais. Em outras palavras, podemos dizer que a economia na época do colonialismo
desenvolveu-se, em grande parte, a partir do trabalho escravo. Produziam muita
riqueza, mas não recebiam nenhuma remuneração por isso.
O autor traz à tona, outra questão extremamente prejudicial advinda dessa época,
a discriminação racial. Em relação ao tema, Gomes (2019, p. 73) assevera sobre [...] “o
nascimento de uma ideologia racista, que passou a associar a cor de pele à condição de
escravo.” É de fácil percepção, que reflexos de tal ideologia podem ser observados
ainda hoje em nossa sociedade, como o preconceito, a discriminação e a
marginalização sofrida pelos negros.
No que tange à conceituação, Juliana Bezerra (2023), estabelece que a escravidão
era um modelo de trabalho, onde homens e mulheres trabalhavam de forma forçada,
sem receber nenhum tipo de remuneração em troca, e ainda sujeitos a castigos físicos
e humilhações. Além disso, os escravos eram considerados mercadorias, e como tal,
poderiam ser vendidos ou trocados a qualquer momento, conforme o interesse de seus
proprietários.
Diante do exposto, a autora assevera que o tratamento dispensado aos escravos
era desumano. Além de serem arrancados de suas famílias e de seus locais de origem,
também eram proibidos de exercer suas crenças e seus rituais. Em decorrência, houve
grande indignação e revolta por parte dos cativos.
Sobre essa questão, Lopes (2017) discorre que foram criados espaços, chamados
de quilombos, constituídos por negros que conseguiam fugir das senzalas e da
crueldade cometida por seus senhores, representando um momento de resistência
diante do processo escravocrata. Nesses lugares, os quilombolas, marginalizados pela
sociedade colonial da época, podiam viver conforme sua cultura e lutar em prol da sua
liberdade.
O autor segue sua explanação, aduzindo que, como consequência à forma de
tratamento acima descrita, conflitos foram gerados entre negros, senhores de escravos
e o próprio Estado, o que começava a gerar problemas, demonstrando o início do
declínio desse sistema.
SUMÁRIO
De outro modo, significa dizer que o trabalho deve ser remunerado de forma
adequada, exercido com observância aos direitos humanos e trabalhistas, para que
possa ser considerado como instrumento de transformação e desenvolvimento.
Nesse sentido, ressalta-se a relevância de termos a nível nacional e internacional,
instituições que atuam tanto no combate à escravidão contemporânea, como na busca
por melhores condições de trabalho.
Em referência ao parágrafo anterior, a criação da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em 1919, foi um fato relevante no mundo do trabalho. EÇA et al. (2020,
p. 82), afirmam que a mesma “... exerce um papel de suma importância no mundo,
visto que pauta-se, sobretudo no reconhecimento internacional dos direitos humanos
e trabalhistas.”
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Juliana. Escravidão. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: h�ps://www.todamateria.com.br/
escravidao/. Acesso em: 11 abr. 2023.
COSTA, Nilziane Costa; RODRIGUES, Sávio José Dias. ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA: condições de
trabalho no relato de maranhenses resgatados de trabalho escravo contemporâneo. InterEspaço: Revista de
Geografia e Interdisciplinaridade, [S. l.], v. 3, n. 9, p. 49–65, 2017. DOI: 10.18764/2446-6549.v3n9p49-65.
Disponível em: h�p://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/interespaco/article/view/6261. Acesso em: 5
maio 2023.
EÇA, Vitor Salino de Moura; STURMER, Gilberto; TEIXEIRA, Sérgio Torres; BITTENCOURT, Luiz Antônio
da Silva. Direito Internacional do Trabalho. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2020.
GOMES, Laurentino. Escravidão: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos
Palmares. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019.
LOPES, Alberto Pereira. A escravidão moderna no Brasil: reflexões de um passado presente. Revista
Territórios e Fronteiras. [S, I.], v. 10, n. 1, p. 7 – 24, 2017. DOI: 10.22228/rt-f.v10i1.617. Disponível em: h�ps:/
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OIT – Organização Internacional do Trabalho. Convenções: C029 – trabalho forçado ou obrigatório. [s.d.].
Disponível em: h�ps://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_235021/lang--pt/index.htm. Acesso em 28
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OIT – Organização Internacional do Trabalho. Temas. Trabalho decente. [s.d.]. Disponível em h�ps://www.
ilo.org/brasilia/temas/trabalho-decente/lang--pt/index.htm. Acesso em: 05 maio 2023.
SUMÁRIO
6
SUCESSÃO DE BENS DIGITAIS: uma busca metodológica para sua
transmissão frente ao conflito de normas fundamentais
INTRODUÇÃO
Com a expansão tecnológico que a internet provocou surgiu um infinito campo de
novas possibilidades para o homem, que podem ter as mais diversas aplicações, seja
jogando online, utilizando as redes sociais para interação e afins ou a utilização destas
ferramentas como meio econômico a exemplo, a venda e compra de criptomoedas, as
transações bancárias, as compras e venda na rede por meio do e-commerce ou ainda o
uso de redes sociais para fins de produção de conteúdo gerando entretenimento e
lucro, como os canais no Youtube. Assim, fazendo eclodir um novo instituto jurídico
complexo e que vem causando divergência na doutrina quando sua sucessão, os
denominados bens digitais ou digital assets.
É perfeitamente inteligível, que surjam novos interesses e relações jurídicas para
as quais o ordenamento não esteja preparado, afinal o direito evolui a partir do fato
social, mas nem por isso se pode ignorá-las. Portanto, o presente artigo propõe-se a
analisar o instituto da herança digital, bem como as normas existentes no
ordenamento jurídico brasileiro para que se chegue a uma forma metodológica de
solução do conflito de normas fundamentais entre o direito à herança e da
personalidade.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em uma sociedade submersa cada vez mais nas tecnologias que emergem em
profusão no atual cenário, as pessoas interagem no mundo digital de diversas
maneiras e em todas elas disponibilizam dados digitais, seja usando um computador,
smartphone ou outro dispositivo tecnológico, assim armazenam durante a vida uma
série de bens dos mais variados no universo digital (ALMEIDA, 2019, p. 35).
Diante destas mudanças no seio social e devido seu impacto jurídico faz-se mister
a compreensão da novel ordem jurídica dos bens digitais, com sua devida definição,
conceituação e valoração para a melhor compressão quanto à problemática
apresentada. Porém imperioso é relembrar a definição doutrinária de bens, pois se não
outro os bens digitais podem-se dizer são subespécie de bens.
Assim, considerar-se-á bem como tudo que tem aplicação para a pessoa, seja na
seara econômica, seja por outros interesses, como de ordem psíquica de índole
subjetiva. Nesta intelecção, pode-se ter bens com valor econômico ou não, sendo que
os primeiros formam o patrimônio da pessoa (BEVILÁQUA, 2001, p. 233-234).
Em perspectiva mais aprofundada se pode inferir que os bens não precisam,
necessariamente, ter uma apreciação econômica, pois de forma natural são objetos de
direitos subjetivos dada a sua importância para o direito (GAGLIANO E PAMPLONA
FILHO, 2013, p. 301 e 302).
Nesta compreensão os bens digitais por sua generalidade e abrangência bem
como sua constante evolução podem ser divididos em duas grandes categorias: a) os
bens digitais com valor econômico, como exemplo tem-se contas de comerciantes que
operam exclusivamente através de plataformas na internet, como o Mercado livre e
eBay, dados de jogos provenientes de horas de trabalho e valores investidos; contas em
redes sociais que geram renda, blogs, livros entre outras possibilidades, e b) os bens
digitais sem valor econômico, também chamados de bens digitais com valor pessoal,
que inserem-se as fotos existentes em aplicativos que podem não ter valor econômico
para qualquer pessoa, mas são inestimáveis para os familiares do morto, contas em
SUMÁRIO
redes sociais com mero caráter pessoal, bloco de notas, diários virtuais entre outras
possibilidades (EDWARDS; HARBINGER 2013, p. 106).
Tal distinção é essencial para a compreensão da transmissão dos bens digitais e a
sua forma, por isso é mister a melhor cognição quanto a distinção entre os bens
economicamente valoráveis e os não economicamente valoráveis, para que a partir
deste domínio se possa definir a melhor forma de transmissão, visto que a sua
classificação terá imediata repercussão na forma que ocorrerá a transmissão destes
bens digitais.
Uma vez assentado nas premissas anteriormente construídas, mostra-se nítida e
evidenciada a herança digital, desde a classificação dos bens digitais, passando pela
forma de sucessão. Afirmada e compreendida, a herança digital, surge o problema de
como se dará sua transmissão frente ao caráter personalíssimo de alguns bens digitais.
A herança digital é em suma o somatório de todo o patrimônio digital deixado
pelo autor da herança, já o patrimônio digital é formado pelo conjunto de bens digitais
do indivíduo, que por sua vez, se subdivide em três categorias ou espécies: bens
digitais de natureza eminentemente patrimonial ou suscetíveis de valoração
econômica, bens digitais de natureza puramente personalíssima ou não suscetíveis de
valoração econômica e por fim os bens de natureza híbrida, que assenta as duas
característica ao mesmo tempo, menos comum, mas com sua relevância.
O patrimônio digital tem por característica própria uma estreita ligação com o
indivíduo, por isso atinge os direitos da personalidade, como privacidade e sigilo, o
Facebook, Instagram ou WhatsApp de um indivíduo podem possuir conversar, fotos,
documentos etc, que resguardam proteção jurídica inerente a esses direitos, entretanto
não por isso deixam de compor o patrimônio digital.
Estar-se-á defronte a um conflito de norma fundamentais, entre o direito a
herança e os direitos da personalidade, os quais não existe prevalência um sobre o
outro, devendo buscar formas para que se tutelar ambos os direitos, Fáveri (2014, p. 70)
afirma que “os direitos da personalidade sigilo e privacidade, que o falecido detinha
na constância de sua vida, não se perfazem em suficiente fundamento para obstar aos
familiares do defunto o acesso à sua herança digital.” Por isso, busca-se a partir da
classificação dos bens digitais definir a melhor forma de transmissão destes, frente ao
conflito de normas fundamentais.
Infere-se que os bens digitalmente constituídos podem ser herdados de duas
formas, mediante testamento ou sucessão legal a depender da sua classificação, assim
é preciso atenção quanto à sua natureza. Os bens digitais suscetíveis de valoração
econômica, devem sem nenhuma complicação compor a herança e serem transmitidos
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de toda a exposição feita, é latente que com o avanço da tecnologia
moderna a nossa sociedade evolui também o que gera a necessidade de o organismo
de regulação social chamado direito também evolua para que acompanha tais avanços
sociais, precipuamente no que tange aos bens digitais e suas relações jurídicas. Assim,
e considerando a agitação jurídica acerca da destinação desses bens após a morte, que
acarreta em insegurança jurídica, é essencial que se debata e se defina uma forma legal
de transmissão.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Juliana Evangelista de. Testamento Digital: como se dá a sucessão dos bens digitais. Porto
Alegre, RS: Editora Fi, 2019. GRECO, Pedro Teixeira Pinos. Sucessão De Bens Digitais: Quem tem medo
do Novo? Disponível em:h�ps://digital.iabnacional.org.br/wp-content/uploads/2018/10/Sucess%C3%A3o-
de-Bens-Digitais-Quem-tem-Medo-do-Novo.pdf Acesso em: 23 de mar. 2023
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. V. 1: parte geral. 15
ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral – v. 1. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019
SUMÁRIO
7
O NEOLOGISMO DA APOROFOBIA E SUA CORPORIFICAÇÃO
NA SOCIEDADE INTERNACIONAL
Trabalho desenvolvido a partir dos estudos acerca do capítulo inicial da obra “Aporofobia, a
aversão ao pobre: um desafio para a democracia” de Adela Cortina e construído dentro do
Programa de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) no projeto de pesquisa "Justiça Social: os
desafios das políticas sociais na realização das necessidades humanas fundamentais" (CNPq)
sob orientação da Profª. Drª. Anna Paula Bage�i Zeifert;
Vitória Agnole�o
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito - Curso de Mestrado em
Direitos Humanos - da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ). Bolsista do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias
de Educação Superior (PROSUC) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Graduada em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Integrante do projeto de pesquisa "Justiça Social: os desafios
das políticas sociais na realização das necessidades humanas fundamentais" (CNPq).
Integrante do grupo de pesquisa "Direitos Humanos, Justiça Social e Sustentabilidade"
(CNPq). Integrante do projeto de extensão "Observatório em Direitos Humanos" (CNPq). E-
mail: vitoria.agnole�o@sou.unijui.edu.br;
INTRODUÇÃO
As sociedades atuais enfrentam problemas recorrentes relacionados a crimes de
ódio e de preconceito contra pessoas pobres e em situação de vulnerabilidade. Diante
deste grave cenário, o presente estudo foi desenvolvido a partir do estudo do capítulo
inicial da obra “Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a democracia”, da
filósofa espanhola Adela Cortina (2020).
Utilizando como método de abordagem o hipotético-dedutivo e considerando a
coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e eletrônicos, a
pesquisa tem o intuito de desenvolver uma hipótese com base no problema
apresentado.
Quanto ao objeto, a pesquisa é do tipo exploratória e se utiliza de referenciais
teóricos do pensamento contemporâneo, em especial da filosofia política, com
destaque especial aos estudos desenvolvidos pela referida autora.
Nesse contexto, surge a necessidade de compreender o neologismo “aporofobia”,
desenvolvido por Cortina, que pretende materializar as ocorrências de crimes e
políticas de ódio e de rechaço aos pobres.
Da união de duas palavras gregas – "áporos", que se traduz em pobre e
desamparado; e "fobéo", que significa temer e odiar – é cunhado o termo que estuda o
fenômeno social da aporofobia: a aversão aos pobres como uma forma de
racionalidade coletiva (CORTINA, 2020).
Enfim, no desenvolver do presente estudo ficará demonstrado que eventos como
crimes de ódio e de preconceito com pessoas pobres possuem raízes muito mais
severas e longínquas que pode se imaginar, demonstrando a existência de um
problema de justiça social e de direitos humanos, digno de atenção e de propostas de
políticas públicas para combate desse neologismo na sociedade atual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Já no princípio de sua obra, a autora Adela Cortina (2020) discute a importância
de nomear as coisas para incorporá-las ao mundo humano, permitindo reflexões e a
criação de consciência sobre elas.
Em seu entendimento, quando não nomeadas, essas realidades sociais podem
agir com a força de ideologias, refletindo a visão deformada e deformante da
sociedade que, quanto mais silenciosas, mais efetivas, pois não se pode denunciá-las
(CORTINA, 2020).
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os aspectos conceituais básicos a respeito da aporofobia, torna-se
possível identificar que esse é um problema histórico, social e político presente em
todas as sociedades (CORTINA, 2017).
Por consistir em um fenômeno e uma patologia social, o estudo versa sobre
práticas e condutas diárias e invisibilizadas, cujas vítimas são pessoas em extrema
vulnerabilidade social, política e econômica: os pobres (CORTINA, 2017).
Não obstante, por consistirem em indivíduos que não integram a racionalidade
do pacto social – aquele aludido por Jean-Jacques Rousseau nos primórdios do século
dezoito – são seres que não são considerados dignos de participar da sociedade de
troca: excluídos de todas as organizações e práticas sociais, invisibilizados e deixados
à margem de uma sociedade que não lhes quer (CORTINA, 2017).
Mesmo que consistindo em uma forma de racionalidade social enraizada, a
aporofobia é um fenômeno possível de ser enfrentado. Entretanto, conforme aborda
minunciosamente a referida filósofa, é indispensável construir políticas públicas e
desconstruir as estruturas dessa patologia (CORTINA, 2017).
Tratando-se de um problema que interfere na exclusão e invisibilização de
sujeitos, é notório que ocorrem violações aos direitos humanos dos indivíduos na
condição e pobreza. Isto é, do pobre são arrancadas todas as proteções, garantias e
liberdades.
Consequentemente, inexistindo a observância de quaisquer requisitos mínimos
para uma vida digna, fala-se também na impossibilidade de desenvolver uma
sociedade efetivamente justa diante do preconceito, da exclusão e da vulnerabilidade
deste grupo social.
Por isso, os entendimentos iniciais a respeito da ideia de aporofobia já são
suficientes para observar que se trata de um grave problema de justiça social e de
direitos humanos, cujo impacto é internacional e merece alternativas de combate à
altura da gravidade e da dificuldade implantada por esta patologia social.
Palavras-chave: Aporofobia; Pobreza; Preconceito; Justiça Social; Direitos
Humanos;
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
instituição financiadora da bolsa de Iniciação Científica (PIBIC); à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instituição financiadora da
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
CORTINA, Adela. Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a democracia. Tradução de Daniel
Fabre. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020.
CORTINA, Adela. Aporofobia: el rechazo al pobre. Buenos Aires: Ediciones Paidós, 2017.
SUMÁRIO
8
O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE NA PERSPECTIVA DE AXEL
HONNETH E COMO FATOR DE COMBATE À INJUSTIÇA
CLIMÁTICA E CONCREÇÃO DOS ODS 13 E 16 DA ONU
Trabalho desenvolvido a partir do Projeto com financiamento externo: Integra projeto de Direito à
moradia, neoliberalismo e vulnerabilidade: a violação de direitos humanos e as consequências
ambientais, financiado pela CAPES.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Honneth, solidariedade é uma espécie de relação interativa em que os
sujeitos tomam interesse reciprocamente por seus modos distintos de vida, já que se
estimam entre si de maneira simétrica (HONNETH, 2003, p. 209). Esse conceito de
solidariedade se aplica às relações de grupo que são vulneráveis e sofrem algum tipo
de opressão social, pois gera um horizonte intersubjetivo de valores no qual cada um
aprende a reconhecer em igual medida o significado das capacidade e propriedades
do outro (HONNETH, 2003, p. 209).
Na perspectiva de Honneth (2016), os debates sobre justiça não devem se
preocupar apenas com as clássicas questões de redistribuição, mas também devem
abordar os processos que geram a má-distribuição. O autor destaca o reconhecimento
individual e social como elemento-chave para se alcançar a justiça, para tanto, o escopo
central não é apenas o componente psicológico do reconhecimento, mas também o
status social que se atribui aos menos abastados nos esquemas de distribuição (ONU
BRASIL, 2022).
A injustiça climática está intimamente ligada à desigualdade socioambiental que,
por fatores sociais, econômicos, ambientais e culturais, faz com que os povos e grupos
SUMÁRIO
de regiões mais pobres se tornem mais vulneráveis aos impactos das mudanças
climáticas. Em especial, no Brasil, essa vulnerabilidade social tem se acentuado nos
últimos anos (período do ano 2020 a 2022), e os eventos extremos como secas,
inundações e deslizamentos tem afetado mais fortemente as populações em situação
de vulnerabilidade social.
A vulnerabilidade social é um resultado negativo da relação entre a
disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos
ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas e culturais
(UNESCO, 2022).
De acordo com o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de
Mudança Climática - AR6 do IPCC), essa vulnerabilidade pode ser agravada pela
desigualdade e marginalização relacionadas a gênero, etnia e/ou baixa renda (IPCC,
2021). Neste sentido, reconhecida a existência da vulnerabilidade social é necessária a
relação desta com a categoria da solidariedade de Honneth, haja vista que esse
reconhecimento pelo Estado brasileiro pode auxiliar na criação de instituições e
políticas públicas mais eficazes no combate às mudanças climáticas.
No ordenamento jurídico pátrio, constata-se a presença do Princípio da
Solidariedade Intergeracional no artigo 225, “caput” da CRFB/88, que estabelece que
todos possuem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo dever
da coletividade e do Poder Público, solidariamente, preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. Ou seja, é um direito e ao mesmo tempo um dever de todos
envolvidos no contexto brasileiro (BRASIL, 1988). Dito de outro modo, a parte final do
caput do referido artigo, estabelece um sistema de corresponsabilidade, no qual a
solidariedade é elemento crucial. (SCHONARDIE, 2016).
O artigo 225 da CRFB/88 visa a solidariedade intergeracional e intersetorial na
medida em que propõe um equilíbrio entre a economia e o meio ambiente no que se
refere à utilização de recursos para que as futuras gerações tenham garantidas iguais
oportunidades, dada a finitude dos recursos terrestres. Igualmente, o art. 170, inciso
VI, ao regular a ordem econômica reafirma esse comprometimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o princípio da Solidariedade está intimamente ligado à
noção de responsabilidade compartilhada na utilização consciente de recursos
naturais e na preservação do meio ambiente. Há inclusive o devido tratamento
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 29 out. 2022.
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Brasil e o planeta. YouTube, São Paulo, Canal Fapesp, 9 ago. 2021. 1 vídeo (aprox. 124 min). Disponível em:
h�ps://bit.ly/3HUWbWA. Acesso em: 20 out. 2022.
HONNETH, Axel. Reificação: um estudo da teoria do reconhecimento. São Paulo: Unesp: 2016.
RAMMÊ, Rogério Santos. Da justiça ambiental aos direitos e deveres ecológicos: conjecturas político-
filosóficas para uma nova ordem jurídico-ecológica. Caxias do Sul, RS: Educs, 2012.
ROBINSON, Mary. Justiça climática: esperança, resiliência e a luta por um futuro sustentável. Rio de
Janeiro: Civilização brasileira, 2021.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Recife adere ao Compromisso de Malmö por justiça climática.
2022. Disponível em: h�ps://www2.recife.pe.gov.br/noticias/12/05/2022/recife-adere-ao-compromisso-de-
malmo-por-justica-climatica. Acesso em: 29 out. 2022.
SCHONARDIE, Elenise Felzke. Dano ambiental: a omissão dos agentes públicos. 3 ed. Ijuí,RS: Editora
Unijuí, 2016.
9
ASSÉDIO NO TRABALHO: uma perspectiva do assédio no ambiente
de trabalho no Brasil, Argentina e Chile
Trabalho orientado pela doutora em Direito Rosane Teresinha Carvalho Porto. O trabalho é
resultado parcial do projeto de pesquisa Políticas Públicas de Acesso à justiça em tempos de
pandemia COVID19: Limites e possibilidades da mediação sanitária nas demandas judiciais
dos trabalhadores no Brasil, Argentina e Chile. Auxílio Recém-Doutor - ARD/20.
(FAPERGS/RS)
INTRODUÇÃO
O assédio no trabalho é um problema preocupante que afeta trabalhadores em
todo o mundo, e o Brasil não é exceção. O assédio no ambiente de trabalho engloba
uma variedade de comportamentos abusivos, como assédio moral, assédio sexual e
discriminação, que podem ter impactos negativos na saúde física e mental das vítimas.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Brasil, o assédio no trabalho pode se manifestar de diversas maneiras. O
assédio moral envolve a prática repetitiva de ações que humilham, intimidam ou
menosprezam um funcionário, podendo incluir insultos verbais, críticas injustas,
exclusão social e tarefas humilhantes. Já o assédio sexual refere-se a comportamentos
sexuais não desejados, como comentários, piadas, gestos obscenos, toques não
solicitados e avanços sexuais não consensuais. Além disso, a discriminação no
trabalho ocorre quando um indivíduo é tratado de forma desigual com base em
características pessoais, como raça, gênero, orientação sexual, religião, idade e
deficiência.
Os impactos do assédio no trabalho são significativos, afetando a saúde e o bem-
estar das vítimas. Pode levar ao estresse crônico, ansiedade, depressão, baixa
autoestima, problemas de sono e até mesmo doenças físicas. Além disso, o assédio no
trabalho pode prejudicar o desempenho profissional, diminuir a motivação e a
satisfação no trabalho, levando muitas vezes à saída prematura do emprego.
No Brasil, existem leis e regulamentações que visam combater o assédio no
trabalho. A Constituição Federal garante o direito a um ambiente de trabalho saudável
e livre de violência. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece medidas de
proteção aos trabalhadores contra práticas abusivas. Além disso, outras leis específicas
foram criadas para combater o assédio sexual, como a Lei nº 10.224/2001.
O assédio no trabalho é abordado por uma série de fundamentos jurídicos, que
visam proteger os trabalhadores e garantir um ambiente laboral saudável e livre de
abusos. A Constituição assegura diversos direitos fundamentais, como a dignidade da
pessoa humana e a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem das pessoas.
Esses princípios são fundamentais para a proteção contra o assédio no trabalho.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O assédio no trabalho é um problema sério que afeta muitos trabalhadores no
Brasil, causando danos emocionais, físicos e profissionais. O assédio moral, o assédio
sexual e a discriminação são formas prejudiciais desse fenômeno, que demandam
atenção e ação efetiva.
Felizmente, o Brasil possui leis e regulamentos que visam combater o assédio no
trabalho e proteger os direitos dos trabalhadores. A Constituição Federal e a
Consolidação das Leis do Trabalho estabelecem a necessidade de um ambiente de
trabalho saudável e livre de violência, e há legislações específicas para lidar com o
assédio sexual.
No entanto, além das medidas legais, é crucial promover uma mudança cultural
e conscientização em relação ao assédio no trabalho. As empresas têm a
responsabilidade de implementar políticas de prevenção e combate ao assédio,
fornecer treinamentos adequados e promover uma cultura de respeito e igualdade no
ambiente de trabalho. É fundamental encorajar as vítimas de assédio a denunciar e
oferecer o suporte necessário para lidar com a situação. As organizações devem se
comprometer a investigar prontamente as denúncias e tomar as medidas adequadas
para punir os agressores.
A erradicação do assédio no trabalho é um esforço contínuo que requer a
colaboração de todos os envolvidos - trabalhadores, empregadores, sindicatos e
autoridades governamentais. Somente através de uma abordagem abrangente, que
combine a legislação adequada, a conscientização e uma cultura organizacional
positiva, será possível criar um ambiente de trabalho seguro, respeitoso e livre de
assédio no Brasil.
Palavras-chave: Assédio no trabalho. Discriminação. Proteção ao trabalhador.
Violência.
SUMÁRIO
ÁVILA, Rosemari Pedro�i de. As consequências do assédio moral no ambiente de trabalho. São Paulo: LTr,
2009.
FERREIRA, Hadassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1º ed., Campinas: Russel
Editores, 2004.
LEIRIA, Maria de Lourdes. Assédio sexual laboral, agente causador de doenças do trabalho: reflexos na
saúde do trabalhador. São Paulo: LTr, 2012.
PAMPLONA Filho, Rodolfo. O Assédio Sexual Na Relação De Emprego. São Paulo, LTr, 2001.
SUMÁRIO
10
PARIDADE DE GÊNERO COMO POLÍTICA DE FORTALECIMENTO
DA DEMOCRACIA COM LIBERDADE
Carolina Menegon
Advogada e Professora no Curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Mestre em Direito pela mesma instituição, E-mail:
carolina.menegon@unijuí.edu.br
Rafael Zimmermann
Mestre em Direito pela Unijuí; advogado. E-mail: zimmermannadvogado@gmail.com.
INTRODUÇÃO
A crise da democracia liberal demonstra a necessidade de repensarmos a
democracia em seus fundamentos. A liberdade, que era indissociável da ideia de
participação popular, foi dissociada pela democracia iliberal, termo cunhado a partir
da ascensão de lideranças populistas, no início do século XXI, que desvirtuaram a
estabilidade política e utilizaram das incapacidades estruturais do Estado e das
instituições em resolver os problemas socioeconômicos, para ascender ao poder. A
questão da representatividade de gênero nos espaços de poder da democracia liberal
demonstra uma fragilidade estrutural desde a sua origem.
Partindo dessas premissas, o objetivo da pesquisa é analisar de que maneira a
paridade de gênero contribui para a existência de uma democracia substantiva, ou, em
outras palavras, uma democracia com mais liberdade popular e, consequentemente,
com bases mais sólidas, nesse contexto conturbado pós-pandêmico e de múltiplas
crises.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
DA PARIDADE DE GÊNERO
Nas últimas décadas, o pensamento feminista tornou-se um componente crucial
da teoria política. As primeiras reivindicações de direitos políticos pelas mulheres,
embora relevantes e evidentemente justas, eram pouco interessantes do ponto de vista
teórico. Aliás, para Biroli e Miguel (2012), “configuravam-se como demandas pela
extensão de direitos, com a denúncia da arbitrariedade da exclusão de metade da
humanidade, sem que fosse ameaçado o quadro conceitual que fundamentava e
definia esses direitos”.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aos direitos humanos e ao Estado democrático de direito importa a condição de
liberdade na democracia liberal, em oposição à toda forma de poder antidemocrática,
que utilize a democracia como uma forma de controle social e a partir das tecnologias
sociais, controle os comportamentos e decisões públicas, a partir do próprio apoio
popular, retirando direitos, a partir de uma manipulação das massas.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe (Org.). Teoria política feminista: textos centrais. Vinhedo: Ed.
Horizonte, 2013.
BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe (Org.). Teoria política e feminismo: abordagens brasileiras. Vinhedo:
Ed. Horizonte, 2012.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Tradução de Joana Angélica d’Ávila Melo. 1.ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
EMPOLI, Giuliano da. Os engenheiros do caos. Tradução de Arnaldo Bloch. 1. ed. São Paulo: Vestígio, 2019.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Tradução de Renato Aguiar. Rio de
Janeiro: Zahar, 2018.
MOUNK, Yascha. O povo contra a democracia: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la.
Tradução de Cássio de Arantes Leite e Débora Landsberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, 413 p.
STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”. Tradução de Bruno Alexander.
1. ed. Porto Alegre: L&PM, 2018.
SUMÁRIO
11
ALGORITMIZAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: os impactos da
modernização dos sistemas de justiça no direito de acesso à justiça
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por tema o uso da inteligência artificial na formação das
decisões judiciais como instrumento de amplificação do acesso à justiça no Brasil,
constituindo-se discussão atual e necessária junto à comunidade científica e jurídica,
principalmente em razão das tecnologias da informação e comunicação (TIC) estarem
se infiltrando nos sistemas de justiça, apresentando grande evolução de uso no sistema
processual brasileiro.
Até o início do século passado o grau de desenvolvimento dos países era métrica
para os níveis de dominação territorial e de riquezas acumuladas, contudo, o avanço
tecnológico e a sua repercussão nos diferentes campos do conhecimento, provocou
alterações sociais e econômicas, de modo que pertencer a uma nação desenvolvida,
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não é de hoje que os obstáculos criados pelos sistemas jurídicos ao direito de
acesso à justiça são objeto de discussões no âmbito da academia, tendo o Relatório
Geral elaborado por Cappelle�i e Garth através do Projeto Florença (Florence Access to
Justice Project), se tornado uma das principais análises já realizadas desde 1970. No
referido documento que teve continuidade com o Projeto Universal de Acesso à Justiça
(Global Access to Justice Project), restam reunidas até o presente momento 07 ondas
SUMÁRIO
De acordo com André Vasconcelos Roque e Lucas Braz Rodrigues dos Santos
(2021), a inteligência artificial procura no direito solucionar problemas, cujo processo
inicia por meio do fornecimento de dados com origem na interpretação humana e que
são fornecidos ao sistema (input), como fatos, documentos, jurisprudências, sendo que
o resultado (output) é extraído pelo seu cruzamento.
Grande parte dos gestores públicos ainda possui dificuldades para compreender
o tamanho potencial que a inteligência artificial representa, somada a esta questão,
está a insuperável desigualdade social que assola a sociedade e coloca a tecnologia nas
mãos de determinados grupos sociais, sobrando aos hipossuficientes apenas a falta de
conhecimento técnico e estruturas de acesso. Sob esse cenário, ainda há nos sistemas
de justiça espaço para a corrupção, principalmente em demandas que envolvem
questões políticas e econômicas, o que pode vir a se constituir uma brasa para a
manipulação algorítmica, por meio dos chamados algoritmos enviesados, que se
utilizam de padrões deturpados na sua formação e sob a aparência de neutralidade,
para por meio da tecnologia provocar tratamentos desiguais e discriminatórios.
O uso da inteligência artificial como facilitadora e desburocratizadora de
procedimentos de organização processual é extremamente válida, no entanto, no
campo das ciências sociais a preocupação acaba se fortalecendo quanto se pretende
delegar aos algoritmos a tomada de decisões, pois conforme afirma Mateus de
Oliveira Fornasier e Norberto Knebel (2020), embora as consequências sejam mais
visíveis quando a máquina passa a tutelar direitos individuais (sentenças absolutórias,
condenatórias, custódias, (in)deferimento da liberdade condicional, etc.), a sua
utilização impacta e traz “consequências diretas para os direitos individuais, às
oportunidades pessoais e ao bem coletivo” (FORNASIER, KNEBEL, 2020, p. 213) tanto
de pessoas físicas como jurídicas.
Ao contrário do realizado pelo trabalho humano, os algoritmos não possuem
condições de analisar as peculiaridades que envolvem cada caso concreto. O seu
funcionamento é pautado pela ânsia do julgamento, do resultado, do cumprimento de
metas. O uso da tecnologia no direito pautado pelo uso da inteligência artificial como
tomadora de decisões aparenta ser contraditória aos ideais normativos que surgiram
na sociedade contemporânea, onde “o magistrado deixa de ser mero aplicador de leis
para ser realmente o intérprete da lei” (OLIVEIRA, 2013, p. 257), sopesando “as
consequências sociais de cada decisão, levando em conta que cada processo que recebe
para julgar não é apenas mais um número ou um mero calhamaço de papéis [...] ele
contém vida de pessoas, com aspirações, sonhos ou frustrações” (OLIVEIRA, 2013, p.
257).
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A era digital provocou inúmeras alterações nas relações humanas e sociais, visto
que seus produtos seduzem de forma muito atrativa e rápida a sociedade civil. As
ciências sociais e jurídicas também não ficaram inertes, tendo em vista que incorporam
de forma gradual os produtos na tecnologia junto a prestação jurisdicional, entre elas,
a inteligência artificial, que impacta diretamente no direito de acesso à justiça
brasileira.
Sob esta contextualização, o presente trabalho procurou analisar o uso da
inteligência artificial na formação das decisões judiciais como amplificadora do acesso
à justiça no Brasil, a fim de responder como a transformação digital reproduzida pelo
uso da inteligência artificial na formação das decisões judiciais repercute no acesso à
justiça. Para o desenvolvimento do estudo, foi necessário compreender as perspectivas
do acesso à justiça com a implementação das novas tecnologias no sistema de justiça
brasileiro e analisar as consequências do uso da inteligência artificial na formação das
decisões judicias no Brasil.
Neste sentido, pode-se dizer que a hipótese lançada para o estudo em questão foi
ratificada e aprimorada, pois além de não observar o contexto social, os aspectos
fáticos e correlacionar a base legal, decisões automatizadas podem ser alvo de
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
CAPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1988. Disponível em:
h�ps://www.irib.org.br/app/webroot/publicacoes/diversos003/pdf.PDF. Acesso em: 08 maio 2023.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em números 2022. Brasília: CNJ, 2022. Disponível em:
h�ps://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/09/justica-em- numeros-2022-1.pdf. Acesso em: 08 maio
2023.
CUEVA, Ricardo Villas Bôas. Inteligência Artificial no Judiciário. In: ____ NUNES, Dierle, LUCON, Paulo
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impactos da virada tecnológica no direito processual. 2ª ed. rev. atual. e ampl. Salvador: Editora Juspodivm,
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FORNASIER, Mateus de Oliveira. Artificial Intelligence, the Judge and the Judiciary Branch. Revista do Instituto
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MARGRAF, Alencar Frederico; FRANCO, Tiago Arantes. Inteligência artificial na produção de decisões
humanizadas: uma verdadeira quimera da busca pela decisão perfeita. Revista Jurídica Luso-Brasileira,
SUMÁRIO
NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência Artificial e Direito Processual: Vieses
algorítmicos e os riscos de atribuição de função decisória às maquinas. Revista de Processo, São Paulo, v. 43,
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OLIVEIRA, Raquel de. Interpretação e Aplicação do Ordenamento Jurídico pelo Magistrado à Luz dos
Princípios e Critérios Socionormativos. In: ____ Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJERJ).
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PORTO, Rosane Teresinha Carvalho. Fraternidade e Cultura da Paz nas Soluções Adequadas de Conflitos:
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ROQUE, André Vasconcelos; SANTOS, Lucas Braz Rodrigues dos. Inteligência artificial na tomada de
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view/53537/36309. Acesso em: 08 maio 2023.
SUMÁRIO
12
EQUIDADE NA SAÚDE: breves comparativos
entre Brasil e Paraguai
INTRODUÇÃO
A saúde é condição essencial para a plena manutenção da vida do ser humano,
assim como tem como consequência dar suporte elementar para o desenvolvimento
de capacidades para ter uma boa vida a ser vivida, com qualidade e liberdade, e
considerado tema central da justiça social.
As condições de vida das pessoas são, comumente, vistas a partir de referência de
dados e estatísticas oficiais por critérios econômicos, a exemplo de acesso a bens e
serviços, renda por pessoa ou produção interna de um país, os quais são
disponibilizados por organismos independentes ou públicos, a exemplo no Brasil do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e na América Latina, como a Organização Pan-americana
de Saúde (OPS), que traz contribuições essenciais de dados para os países, como os
gastos públicos com saúde, que representou em 2019 a 3,3% do PIB nacional no
Paraguai.
Este artigo tem como objetivo geral abordar a relação entre equidade na saúde e
capacidades da pessoa para ter uma boa vida a ser vivida. Como objetivo específico,
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relatório divulgado pela OPS¹ sobre Saúde nas Américas, na análise do perfil
do Paraguai, as perspectivas de medidas para a obtenção de cobertura universal da
saúde à população estão em seus estágios iniciais se comparado ao Brasil.
A comparação não é quantitativa ou relacionada a números totais, mas sim acerca
da capacidade de gestão e governança no âmbito da saúde pública em ambos os
países. Ainda, segundo o perfil paraguaio, o apoio da Organização Pan-Americana da
Saúde no país facilitou o acesso gratuito ao tratamento de doenças como lepra,
tuberculose, malária, HIV/AIDS, doença de Chagas e leishmaniose, bem como
contribuiu para a implementação da gratuidade na saúde, permitindo que as pessoas
pudessem ter um melhor acesso a outros tipos de serviços de saúde de maior
complexidade.
Se comparado ao Brasil, onde existe há 35 anos o Sistema Único de Saúde (SUS),
no Paraguai há ausência de políticas integradas de saúde e atendimento universal à
população, em que os entes municipais, regionais e nacional cooperem para
distribuição e realização de saúde à população. A realidade vivenciada nos hospitais
públicos, a partir de relatos de estudantes do curso de medicina, é no sentido de que
existe atendimento público (distribuição de saúde), mas inexiste realização de saúde
porque ausente recursos financeiros ou aporte suficiente para garantir o acesso
gratuito e universal a tratamentos e exames de baixa, média e alta complexidades
nesses espaços.
Os dados demonstram que até 2019 o acesso ao sistema público de saúde no país
ainda é precário e abaixo da média latino-americana e ainda mais distante se
comparado ao atendimento prestado ao seu povo pelo Brasil.
Pode-se verificar, pois, que há carência de distribuição e realização de saúde em
dados estatísticos básicos, o que pode ser agravado frente à realidade em cada
localidade ou regionalidade em que a pobreza é mais crítica, ainda mais em população
com etnias específicas, como índios.
Uma contribuição na busca de otimizar a universalização da saúde no Paraguai,
com distribuição e realização, o que pode ensejar equidade na saúde pública, é,
primeiro, aprimorar as bases informacionais do governo, através de outros programas
e de suas bases de dados, como os de distribuição de renda, acesso à educação básica
(matrículas), atendimento em postos de saúde (cadastro). Outra medida, é canalizar
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo pautou-se sobre a equidade na realização de saúde a partir de
uma perspectiva de empreendedorismo do Estado, e que a saúde é condição essencial
para a plena manutenção da vida do ser humano, assim como tem como consequência
dar suporte elementar para o desenvolvimento de capacidades para ter uma boa vida
a ser vivida, com qualidade e liberdade, e considerado tema central da justiça social.
As condições de vida das pessoas são, comumente, vistas a partir de referência de
dados e estatísticas oficiais por critérios econômicos. O estudo conseguiu apresentar o
objetivo geral ao abordar a relação entre equidade na saúde e capacidades da pessoa
para ter uma boa vida a ser vivida, bem como identificou o papel do Estado e do
mercado nesse cenário e como podem contribuir para a equidade na saúde das
pessoas.
Afirmou-se que o envolvimento do Estado é de protagonismo uma vez que a
saúde integra o direito humano à seguridade social cujo dever de proteção do Estado
nas adversidades naturais da vida dos cidadãos como velhice, enfermidade e
desemprego.
O Paraguai necessita aprimorar a gestão integrada do sistema de saúde público
em busca de sua universalização com inserção de aportes financeiros para oportunizar
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ALVAREDO, Facundo; CHANCEL, Lucas; PIKETTY, Thomas et al (Org.). Relatório da Desigualdade
Mundial 2018. Tradução de Livia de Almeida. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.
BANERJEE, Abhijit V.; DUFLO, Esther. A economia dos pobres. Tradução de Pedro Maia Soares. Zahar.
Edição, 2021.
COMIM, Flávio. Além da liberdade: Anotações Críticas do Desenvolvimento como Liberdade de Amartya
Sen.
MAZZUCATO, Mariana. O Estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. Setor
privado. 1ª ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Mo�a. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
SEN, Amartya. A ideia de justiça. Tradução de Ricardo Doninelli Mendes Laila Coutinho. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
ZAMBAM; Neuro José; LEAL, Dionis Janner. A pobreza como privação de capacitações (capabilities):
referências sobre a necessidade de políticas públicas no Brasil em tempos de grave crise. In: Revista de
Direito e Desenvolvimento. Vol. 11. N° 2. Jul/Dez 2020.
SUMÁRIO
13
E-GOVERNANÇA: um retorno às principais características
do Welfare State
Mateus Fornasier
Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado) em Direitos
Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI).
Doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), com Pos-
Doutorado em Direito e Teoria (Lae and Theory) na University of Westminster (Reino
Unido).
RESUMO
O objetivo deste artigo é investigar se e-governo pode constituir um retorno as
características principais do Welfare State instituídas nas primeiras décadas do pós-
guerra. O problema é: os objetivos perseguidos com a implantação do e-governo
podem constituir políticas sociais e econômicas compatíveis com as características
principais que nortearam o Welfare State nas primeiras décadas do pós-guerra? A
hipótese levantada é: os objetivos perseguidos com a implantação do e-governo
constituem políticas sociais compatíveis com aquelas implantadas no Welfare State
nas primeiras décadas do pós-guerra e têm potencial para se constituir um retorno as
características principais do Welfare State, suas políticas sociais e propósitos
governamentais, bem como apresenta o conceito e as características políticas, sociais e
econômicas de e-governo e e-governança, e se há pontos de convergência entre as
políticas sociais e econômicas perseguidas pelo Welfare State no pós-guerra, com as
políticas sociais que se busca hodiernamente com a implantação da chamada e-
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
Há no meio acadêmico inúmeras críticas ao modelo do Estado de Bem-Estar
Social, principalmente no tocante ao que diz respeito a sua capacidade fiscal de bancar
seus custos e também ao seu aspecto paternalista.
Entretanto, vozes importantes se erguem na defesa do Welfare State afirmando
que esse modelo evita o colapso econômico em momentos de crise financeira grave e
protege as camadas excluídas da população, por atuar como um amortecedor dos
impactos da marginalização social e econômica.
Por outro lado, é fato que o Estado moderno vem adotando as novas tecnologias
da informação e comunicação (TIC) na governança. As TICs, por sua vez, vêm
mudando as expectativas sobre a capacidade dos governos entregarem serviços
sociais com a mesma ou maior eficiência se comparado a outros objetivos do Estado,
como crescimento econômico, investimentos em infraestrutura, transparência,
lucratividade do setor privado e tantos outros objetivos de boa governança.
O avanço tecnológico trouxe novos paradigmas possibilitando que a própria
informação se tornasse um produto do processo produtivo que projeta seus reflexos
sobre todos os domínios da atividade humana produzindo, neste início de século,
uma economia em rede profundamente interdependente e capaz de, cada vez mais,
gerar conhecimento e melhor administração.
Nesse norte, o uso consciente e planejado das novas tecnologias da informação e
comunicação (TICs) se revela como um novo pacto para o desenvolvimento e exige
uma profunda reflexão das novas relações entre o Estado e a sociedade civil, inclusive
para eleição de prioridades sociais que por vezes conflitam com os interesses
puramente mercadológicos, daí, a importância do “bem-estar digital”, termo utilizado
SUMÁRIO
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão que brevemente se trabalhou neste resumo expandido foi justamente
verificar, se a e-governança pode constituir um retorno as características principais do
Welfare State, da forma como foram observados nas primeiras décadas do pós-guerra.
A hipótese levantada foi parcialmente confirmada em relação a pergunta do
problema, ou seja, conclui-se que os objetivos perseguidos com a implantação de uma
e-governança, nos estados nacionais atuais, constituem políticas sociais compatíveis
com aquelas implantadas no Welfare State nas primeiras décadas do pós-guerra. E que
tais objetivos possuem potencial para um retorno significativo às políticas sociais
gerais e características principais do Estado de Bem-Estar Social praticadas nas
primeiras décadas do pós-guerra na maioria dos Estados.
Todavia, não se confirmou totalmente a hipótese inicial, já que as políticas sociais
até o momento intentadas nos poucos países que já estão em fase avançada de
implantação do e-governo e e-governança, abrangem muito mais serviços de
aprimoramento da democracia eletrônica, dados abertos e participação eletrônica da
população nas decisões, do que serviços sociais de atendimento à saúde, educação e
redistribuição de renda com objetivo direto de diminuição da pobreza e de todas as
demais formas de exclusão e desigualdade.
Por outro lado, nos países que ainda estão nas primeiras fases de implantação do
e-governo, os quais, no cenário mundial, constituem a grande maioria, políticas de
“bem-estar digital”, nos moldes daquelas já praticadas nos países da OECE, ainda
estão muito distantes de serem implantadas. Além disso, é preciso que as tecnologias
inteligentes possuam viés algorítmico capaz de contribuir efetivamente com a
mitigação das desigualdades econômicas, raciais, de gênero, de origem e outras, que
sejam ferramentas que respeitem a privacidade das pessoas e que decidam de forma
compreensível aos humanos.
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08/02/2023.
SUMÁRIO
14
A POTENCIALIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA NO
COMBATE À POBREZA
INTRODUÇÃO
A inclusão social e o combate à pobreza necessitam primordialmente da atuação
do Estado para a efetivação de políticas públicas contundentes e específicas. Com
efeito, a Defensoria Pública é instituição formal capaz de implementar o comando
constitucional do inciso III do art. 3º da Constituição Federal brasileira? Já que a
moldura legislativa da Defensoria Pública é traçada no sentido deste órgão ter como
missão trazer o vulnerável para um protagonismo institucional, dando-lhe condições
educativas, jurídicas, sociais, econômicas e políticas para alçá-lo a uma visibilidades e
conquista de direitos, colocando-o num patamar de ator principal na arena de luta por
direitos, é concebível imaginar que aquele órgão de defesa popular tem as ferramentas
úteis e eficazes para transpor barreiras e atuar na erradicação da pobreza e
marginalização, bem como na redução das desigualdades sociais e regionais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o inciso III do artigo 3º da Constituição Federal brasileira, um dos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Ainda de acordo com o
Diploma Maior, o artigo 134 prescreve que a Defensoria Pública é instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como
expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. A Lei
Complementar 80/94, em seu art. 1º, também assim prescreve.
Esta Lei Complementar, em seu art. 3º-A, afirma que são objetivos da Defensoria
Pública: I – a primazia da dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades
sociais; II – a afirmação do Estado Democrático de Direito; III – a prevalência e
efetividade dos direitos humanos. Em seu art. 4º, discorre que são funções
institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...) III – promover a difusão e a
conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico; (...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a
adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o
resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes; (...) VIII –
exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais
homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da
Constituição Federal; (...) X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais
dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos,
culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de
propiciar sua adequada e efetiva tutela; XI – exercer a defesa dos interesses individuais
e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades
especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos
sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado.
Além disso, a Defensoria Pública tem legitimidade ativa para propor ação civil
pública, objetivando a defesa dos interesses individuais homogêneos, assumindo esse
papel de representar os interesses transindividuais e coletivos. Isso ratifica
posicionamento consolidado da XIV Cúpula Judicial Iberoamericana, que prescreveu
“As 100 regras de Brasília” e tratou do acesso à Justiça pelas populações vulneráveis:
crianças, adolescentes, mulheres, encarcerados e indígenas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A par disso, extrai-se que a Defensoria Pública é uma instituição permanente e
expressão e instrumento do regime democrático. Presta-se para a orientação jurídica e
promoção dos direitos humanos e a defesa em todos os graus, judicial e extrajudicial,
de forma integral e gratuita, dos necessitados e dos direitos individuais e coletivos,
com atividades de mediação, educativas e preventivas, envolvendo inclusive
interdisciplinaridade e participação na formatação de políticas públicas, tendo a
potencialidade de combater a pobreza e marginalização, além de reduzir as
desigualdades sociais e regionais.
Palavras-chave: Defensoria Pública. Combate à pobreza. Vulnerabilidade.
REFERÊNCIAS
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Fabre. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020, p. 187.
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cidadania. São Paulo: Editora da Unesp, 2013, 241p.
SUMÁRIO
15
MEDIAÇÃO DIGITAL NO BRASIL E ACESSO À JUSTIÇA: uma
análise crítica da virtualização do método autocompositivo
INTRODUÇÃO
A mediação é um método autocompositivo de resolução de conflitos, no qual as
partes, com o auxílio de um terceiro, constroem um consenso por meio do diálogo.
Atualmente, grande parte das mediações realizadas no Brasil se dá por meio virtual,
através de plataformas digitais oferecidas pelo sistema de justiça – a essa forma de
realização do método, chamamos de mediação digital. A mediação digital, portanto,
se caracteriza pela realização das sessões por meio de videoconferência, ou seja, todos
os debates e falas do mediador e das mediados são realizadas no espaço cibernético. A
interação entre as partes é totalmente virtualizada. A mediação online encurta
distâncias e poupa tempo e gastos para as partes, sendo considerada um avanço ao
acesso à justiça pelo uso de novas tecnologias.
Embora se reconheça a potencialidade e as vantagens da realização da mediação
no formato virtual, sua implementação deve ser analisada levando em consideração as
características do principal interessado: o usuário do sistema de justiça. Neste trabalho,
analisaremos a mediação digital como política pública de ampliação do acesso à
justiça. Abordaremos a potencialidade do uso da ferramenta na ampliação do acesso
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde a publicação da obra Acesso à justiça, de Mauro Cappelle�i e Bryan Garth,
há um movimento constante de reconhecimento e busca pela superação das barreiras
de acesso à justiça. Isto porque, o acesso ao sistema de justiça, e aos mecanismos de
solução de conflitos, é um direito fundamental de suma importância para o pleno
exercício da cidadania (CAPPELLETTI e GARTH, 1988).
Os obstáculos de acesso aos serviços jurisdicionais são transpostos por meio de
ondas renovatórias, que em termos práticos, se concretizam por meio ações estatais. O
ente público deve criar mecanismos e meios para proporcionar o pleno acesso ao
sistema de justiça e aos demais métodos de resolução de conflitos. Os instrumentos
utilizados para garantir a efetiva prestação desses serviços, estão inseridos numa
esfera de atuação das instituições governamentais que denominamos como Políticas
Públicas. Analisaremos uma das políticas públicas do Estado brasileiro visando a
promoção do acesso à justiça: a mediação digital.
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
16
ESCRAVIDÃO: de suas origens e fundamentos à contemporaneidade
INTRODUÇÃO
A escravidão é uma prática conhecida praticamente nas todas as sociedades
humanas com um grau minímo de desenvolvimento. Sendo definida conforme a
Encyclopedia Britannica como na: “condição em que um ser humano era propriedade
de outro. Um escravo era considerado por lei como propriedade ou domínio e era
privado da maioria de direitos normalmente detidos por pessoas livres.” De onde
pode-se deduzir que a escravidão envolvia alem de uma sujeição econômica e social,
um dominío cultural e psicológico por parte do senhor sobre o escravo. Que era
considerado como uma coisa, um objeto que tinha como finalidade apenas a
produção. Desconsiderar-se, portanto, que ele era um ser racional.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho ainda não apresenta resultados, pois a proposta vinculada ao
projeto está em andamento. No primeiro momento houve a preocupação em fazer
levantamento bibliográfico de algumas obras relacionadas ao trabalho análogo à
escravidão, como o conhecido conto machadiano, Pai Contra Mãe, e o romance de
Graciliano Ramos, São Bernardo. E por conseguinte notícias sobre esta chaga no Brasil,
focando nos recentes acontecimentos na Serra Gaúcha, no nosso Estado, relacionados
às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.
Portanto, é preciso reconhecer que o Brasil, enquanto Estado soberano, apresenta
um grave problema com o trabalho análogo à escravidão. Somente no atual ano de
2023 foram resgatados 523 trabalhadores em situação análoga à de escravo. Sendo tal
prática um reflexo de uma herança cultural milenar. Mas, desde o final do século XVIII
vem sendo combatida, com mais veemência, a partir de 1945, com a criação da ONU.
Palavras-chave: Escrvidão. Origem. História. Contemporaneidade.
REFERÊNCIAS
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Em 2023, 523 vítimas de trabalho análogo à escravidão foram resgatadas. Disponível em:Em 2023, 523
vítimas de trabalho análogo à escravidão foram resgatadas | Agência Brasil (ebc.com.br).
17
A EMERGÊNCIA DE NOVOS TRATOS AOS CONFLITOS: o uso da
conciliação e da mediação como instrumento de solução autocompositiva
INTRODUÇÃO
A cultura da sociedade em que se vive mostra-se, atualmente, sujeita a pensar que
a solução de um determinado problema/conflito ocorra por meio de um processo
judicial, ou seja, do acesso ao Poder Judiciário. Em que pese a importância do referido
Poder na sociedade, não se pode colocá-lo como o destinatário da solução de conflitos,
uma vez que existem meios alternativos para tal, como a conciliação e a mediação, por
exemplo.
Para a obtenção de um resultado satisfatório mediante a utilização da conciliação
e da mediação é importante que se proceda uma mudança cultural da sociedade e dos
profissionais que trabalham na resolução de conflitos. O que se percebe na prática
forense é que a sociedade desconhece a utilização desses meios complementares de
justiça, mesmo tendo o devido acesso a tais ferramentas.
Por isso, o estudo ora desenvolvido é importante pois auxilia na expansão do
conhecimento dessa temática, que ainda carece de interesse e pesquisas científicas. O
SUMÁRIO
Com base nessa contribuição, pode-se afirmar que a Justiça Restaurativa surgiu
no momento histórico em que várias pessoas sonharam em fazer justiça de uma forma
diferente. Essa visão restauradora consiste em uma forma alternativa/complementar
de Justiça, que parte da premissa de que: “o crime é uma violação de pessoas e
relacionamentos. Ele cria a obrigação de corrigir os erros. A justiça envolve a vítima, o
ofensor e a comunidade na busca de soluções que promovam reparação, reconciliação
e segurança.” (ZEHR, 2008, p. 77).
SUMÁRIO
Na visão restaurativa, o termo crime pode ser substituído pela expressão ato lesivo.
Nesse segmento, a Justiça tem como escopo reparar a lesão e promover a cura dos
envolvidos no fato, portanto, dentre os vários objetivos destaca-se, primeiramente, o
da reparação e da superação/tratamento do conflito pelas vítimas. Nesse sentido, a
expressão cura para as vítimas não significa esquecer o fato lesivo e, sim, consiste em
um centro de recuperação e uma forma de encerrar o ciclo. Encerrando o ciclo,
consequentemente, a cura propõe uma relação e esperança para o futuro.
Uma das várias diferenças entre as Justiças Retributiva e Restaurativa é que a
primeira se centra nos fatos e resultados ocorridos no passado, enquanto a segunda
está na superação do fato com um olhar para o futuro. Dentre os vários processos
aplicados à superação do fato, e não apenas à vítima, mas, também, ao ofensor,
encontra-se a reconciliação, que consiste no movimento de “entendimento” vítima-
ofensor.
Assim, o instituto supramencionado proporciona às partes envolvidas no litígio
a possibilidade de arrependimento e perdão e, em consequência, o estabelecimento de
um relacionamento positivo entre vítima e ofensor. Teoricamente, o instituto da
reconciliação apresenta a possibilidade de ser aplicado e surtir efeitos em todos os
casos, porém, na prática é um pouco diferente.
Nesse sentido, Zehr (2008, p. 77) destaca que:
Segundo Zehr (2008, p. 180), “uma justiça que vise satisfazer e sobejar deve
começar por identificar e tentar satisfazer as necessidades humanas.” Nesse segmento,
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo geral analisar a possibilidade da aplicação dos
métodos autocompositivos, com ênfase na conciliação e na mediação, para a resolução
dos conflitos, centrada na figura dos atores sociais a partir da sua efetiva participação
por meio do diálogo.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
18
PODE A SUBALTERNA FALAR? MAPEANDO A JUSTIÇA
RESTAURATIVA NA JUSTIÇA FEDERAL DO RIO GRANDE DO
SUL A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DE DIREITOS HUMANOS
DE GÊNERO E RAÇA
INTRODUÇÃO
A pesquisa analisará a implementação da justiça restaurativa do Rio Grande do
Sul como política pública do sistema judiciário federal da 4ª Região, a introdução de
técnicas restaurativas no âmbito da Justiça Federal do Rio Grande do Sul (JFRS), a
formação de facilitadores e facilitadoras e a aplicação dessa política em casos concretos
entre 2021 e 2022. A partir a avaliação desse cenário da justiça restaurativa na Justiça
Federal do Rio Grande do Sul, apontará possíveis conexões com garantias de direitos
humanos nas categorias raça e gênero e suas interseccionalidades.
Embora o tema da justiça restaurativa não seja recente, sua aplicação na Justiça
Federal da 4ª Região foi regulamentada em 2021, com a publicação da Resolução 87 do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A criação dos Centros de Justiça Restaurativa
em cada um dos três estados, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná data de 21
de julho de 2021, por meio da Resolução 87. A JR vem se consolidando como filosofia
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A justiça restaurativa se converte em paradigma amplo, em conjunto de
princípios e práticas pautadas nesses princípios que pretendem alcançar um direito
mais integrador, que ultrapasse a lógica punitiva, meramente reprodutora de
discriminações raciais e de segregação das minorias sociais (ACHUTTI e PORTO,
2021).
Para tanto, a JR se solidifica no acolhimento das necessidades das partes
(especialmente das vítimas), bem como atribuição de responsabilidades para quem dá
causa a esse dano, numa relação compartilhada de corresponsabilizações entre as
diversas. O foco no dano e na necessária reparação à vítima, bem como na
autorresponsabilização do ofensor, no empoderamento das partes, incluindo a
comunidade, pelos motivos do conflito, consideração de contexto econômico e social
dos envolvidos, são pressupostos das práticas restaurativas. O autor ressalta que os
pilares da JR se concentram nos danos e as consequentes necessidades, nas obrigações
decorrentes desse dano e no envolvimento legítimo e voluntário das partes
interessadas na solução do conflito (ZEHR, 2012, p. 36).
Para aproximação dos temas de JR e violências estruturais que fundam os
conflitos, essencial o estudo da teoria crítica dos direitos humanos. Para fazer frente a
isso, pontua-se a inafastável obra de Joaquín Herrera Flores (2009), que nos provoca a
examinar não apenas a formalidade posta pelo direito em termos de garantias
mínimas a todas as pessoas, mas também o alcance material desses direitos, cientes
daquilo que o autor chamou de “contexto material hegemônico”.
Ainda na perspectiva crítica, sob um prisma do feminismo, Nancy Fraser e sua
Teoria Tridimensional de Justiça, conceito adotado aqui para pautar o entendimento
sobre o conceito de justiça, servirão de fio condutor das premissas e proposições.
A autora adapta sua obra conforme a evolução social, moldando-a criticamente a
partir dos dilemas sociais contemporâneos, oferecendo reflexões que impelem a
reflexões que a e base pesquisa pretende construir, com os estudos de subalternidade,
pós-colonialismo e decolonialidade, no que toca aos grupos vulneráveis da realidade
brasileira. Ressalta-se a importância da construção do saber científico a partir de uma
perspectiva decolonial, no sentido de incluir pesquisadores e pesquisadoras de
minorias sociais que falem por si, guardando coerência com os estudos de
subalternidade que constituirão este trabalho. Com o título proposto, a partir de
provocação lançada pela autora indiana Gayatri Chakravorty Spivak “Pode o
subalterno falar”, o olhar será pautado a partir das vivências subalternas e seus
dilemas. Nesse ínterim, autores centrais entrarão em cena para, juntamente com
Spivak (2010), para colaborar na releitura dos saberes sobre desigualdade de gênero e
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos o crescimento da justiça restaurativa no cenário nacional e gaúcho e
o modo como essa filosofia de pacificação social vem sendo adotada pelo judiciário
federal do rio grande do sul.
Constatamos que a constituição social brasileira, alicerçada no colonialismo
estrutura condutas e pensamentos de hierarquização entre os seres humanos,
fundamentando o machismo e o racismo, tão presentes nas bases dos conflitos que
chegam ao poder judiciário.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
Agradecimento à Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul -
UNIJUÍ, por ter me concedido a bolsa parcial de estudos, sem a qual eu não teria a
oportunidade de realizar este sonho de me tornar mestra. Agradeço, ainda, à minha
orientadora, professora Rosane Teresinha Carvalho Porto pela grande parceria e
disponibilidade até este ponto da minha jornada acadêmica e pela coragem de abordar
temas que falam da nossa subjetividade de mulheres negras.
REFERÊNCIAS
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SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida;
Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.
ZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 1ª ed.. 2012.
SUMÁRIO
19
A DIGNIDADE HUMANA E O CONTRATO DE TRABALHO
INTERMITENTE COMO UM DOS IMPACTOS DA
GLOBALIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
A pesquisa investigou se o Contrato Intermitente de trabalho tem prestigiado a
dignidade da pessoa humana enquanto princípio matriz dos direitos humanos. Esta
modalidade de contrato laboral, introduzida na legislação brasileira pela Lei Federal
13.467/2017 – denominada Reforma Trabalhista – cuja vigência teve início em 14 de
novembro de 2017, foi criada para tutelar trabalhadores informais, sujeitos que
estavam à margem da proteção legal. A pesquisa procurou responder se essa
modalidade de contrato laboral tem resultado em danos colaterais que afetam a
dignidade desses trabalhadores ou tem se mostrado benéfica aos mesmos. Por esta
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a Constituição Federal de 1988 o princípio da dignidade da pessoa humana
ficou em evidência e isso serviu de base para estruturar o sistema normativo brasileiro
que passou a ter como objetivo central a proteção dos direitos do ser humano
(MIRAGLIA, 2011, pg.62). Nesse sentido, a dignidade da pessoa humana:
como a redação do artigo legal foi redigida pairam dúvidas sobre os supostos
benefícios ao trabalhador, isto porque esse contrato tem sido usado como uma forma
de evitar o pagamento pelo tempo que o trabalhador estava sobreaviso.
É possível que haja um aumento na contratação dessa modalidade durante
períodos de flexibilização econômica, como evidenciado por dados que mostram que
a participação dos empregados intermitentes nas admissões totalizou um aumento de
0,9% para 1,3% durante a pandemia, de acordo com um artigo do jornal Folha de São
Paulo publicado em 22 de agosto de 2020, contudo, a facilidade de demissão de
empregados intermitentes resultou em maiores perdas iniciais de postos de trabalho
(PERRIN,2020)
Esta modalidade de contrato de trabalho intermitente é prejudicial para o
trabalhador, uma vez que gera instabilidade econômica e não oferece garantia de uma
jornada mínima de trabalho que assegure o recebimento de um salário mínimo. Tal
insegurança pode levar a problemas de saúde psicológica e situações de assédio moral
nas empresas, prejudicando a vida e a dignidade dos trabalhadores. (SILVA, 2019, p.
50)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Contrato de Trabalho Intermitente tem gerado muitas críticas e controvérsias
pois viola os direitos trabalhistas e a dignidade da pessoa humana, uma vez que os
trabalhadores podem ser convocados a trabalhar de forma intermitente sem a garantia
de uma remuneração mínima suficiente para uma existência conforme com a
dignidade humana.
Além disso, o contrato intermitente pode prejudicar o trabalhador, que não tem
uma previsibilidade de renda e não sabe quando será convocado para trabalhar,
dificultando a organização de sua vida pessoal e familiar. Ainda, muitos trabalhadores
intermitentes enfrentam problemas para receber seus salários e para ter acesso aos
direitos trabalhistas previstos na legislação brasileira.
Por esses motivos, o contrato intermitente pode levar a uma remuneração
precária e desrespeitar a dignidade do trabalhador, que recebe apenas pelas horas
efetivamente trabalhadas, ou seja, nos moldes atuais, as garantias previstas neste
contrato de trabalho são insuficientes para garantir os direitos trabalhistas e a
dignidade da pessoa humana dos trabalhadores.
Palavras-chave: Dignidade da Pessoa Humana. Direitos Humanos. Direito do
Trabalho. Contrato Intermitente. Vulnerabilidade social.
SUMÁRIO
2 0 . 5 0 0 . 1 2 1 7 8 / 1 5 0 5 9 3 / 2 0 1 9 _ s i l va _ l e d a _ e s c r a v i d a o _ l e g a l i z a d a . p d f ?
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 08 maio 2023.
SILVA, Leda Maria Messias; RODRIGUES, Ana Paula Dalmás. A (In)vulnerabilidade
do Trabalhador Intermitente? Uma Análise Crítica sob a perspectiva dos Direitos da
Personalidade. Revista dos Tribunais do Trabalho e Meio Ambiente do Trabalho, V. 6,
2020. 25259857. Disponível em: h�ps://www.indexlaw.org/index.php/revistadtmat/
article/view/6720/pdf. Acesso em: 08 maio 2023.
SUMÁRIO
20
DA REDISTRIBUIÇÃO AO RECONHECIMENTO: o mundo
globalizado e a teoria de justiça pós-westfaliana de Nancy Fraser
INTRODUÇÃO
Com a globalização e a ascensão do capitalismo, a teoria de justiça tem nos
mostrado ser cada vez mais complexa, visto que os estados modernos se apoiam na
soberania do poder. Com a era pós-socialista, e os conflitos sociais, surge a emergente
necessidade do desenvolvimento de teorias de justiça a qual possam garantir a
integração e a promoção de um quadro conceitual adequado às demandas sociais
modernas. Neste artigo, trataremos sobre a necessidade do debate sobre a teoria de
justiça de Nancy Fraser, de modo a enfatizar sob um viés critico a ideia de que o
capitalismo e a globalização contemporânea possuem origem comum, e que
necessitam de uma maior atenção as políticas sociais que dizem respeito aos valores
culturais do corpo social, de modo em que possam garantir os direitos fundamentais
inerentes ao homem.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O debate no que diz respeito a ideia de justiça tem acompanhado as mudanças da
globalização, a política moderna requer e exige ações sociais sob a perspectiva
mundial. A era pós-socialista é marcada por um período de lutas políticas pelo
reconhecimento, ao final do século XX, em contraposição a uma política redistributiva
(SANTOS, 2020, p. 71). O referido período merece atenção pela exigência de uma
maior preocupação teórico-política em relação à exploração socioeconômica, a partir
de tal movimento surge ainda um novo ideário político, este focadono
reconhecimento.
A era pós-socialista é caracterizada por três elementos, sendo estes: a) a
exigência da constatação de reconhecimento das diferenças; b) dificuldade em
estabelecer uma visão progressista alternativa ao socialismo, mais conhecido como,
esgotamento das energias utópicas; c) o ressurgimento do liberalismo econômico na
forma de um neoliberalismo global, tornando tal relação incompatível com os direitos
e garantias de um estado regido pelo bem-estar social. O período é marcado pela
inexistência de um projeto emancipatório e efetivo, visto que a mercantilização tem se
mostrado agressiva, fomentando o crescimento das desigualdades materiais, trata-se,
de “[...] um estado de ânimo cético ou um conjunto de sentimentos que marca a
situação em que se encontra a esquerda após 1989” (FRASER, 1997, p. 01).
Fraser propõem que o principal problema para os paradigmas de justiça diz
respeito em saber se as questões de ordem moral por si só são capazes de compreender
as reivindicações pelas diferenças, ou se há a necessidade da implementação de
questões éticas. Assim, como método de resposta a tais mazelas, Fraser desenvolve a
ideia bidimensional ou dualista de teoria de justiça, cujo os elementos caracterizadores
são a redistribuição e o reconhecimento, mais conhecidas como ideologias pós-
westfalianas. A teoria de justiça de Fraser, nos deixa claro que a luta pelo
reconhecimento tem se tornando um grande paradigma no que diz respeito ao
conflito político do século XX, ainda, sabe-se que apenas algumas lutas sociais
representam avanços para a justiça, enquanto outras não, estamos diante de uma luta
travada. Sendo assim, há a necessidade de uma teoria crítica do reconhecimento, “[..
.]que identifique e defenda apenas aquelas versões da política cultural da diferença
que possam ser coerentemente combinadas com a política igualdade social” (FRASER,
1997, p. 12), desvinculando toda e qualquer ideia de luta imaginária.
O único remédio capaz de superar tais questões, corresponde com a
reestruturação político-econômica, não basta apenas o reconhecimento de pessoas
acometidas pelas injustiças sociais, necessita-se de redistribuição. Trata-se de uma
dominância de classes, baseada em uma determinada estrutura econômica, assim, “no
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria tridimensional de justiça, é caracterizada pela redistribuição de riquezas,
reconhecimento das diferenças, e representação política. Tanto as distribuições de
recursos materiais, como o reconhecimento dos valores culturais, devem possuir
independência de modo a dar voz aos participantes, bem como, as demandas devem
ser condicionadas à paridade participativa, visto que é completamente injusto uma
demanda social gerar disparidade frente a outra. As teorias de justiça contemporâneas
devem atentar-se a complexificação social, e possibilitar que os anseios populares
sejam atendidos, redistribuição, reconhecimento e representação devem andar lado a
lado.
Palavras-chave: Teoria de Justiça. Reconhecimento. Redistribuição. Remédios
afirmativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bauman, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Tradução Marcus Penchel. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. Ed. 1999. Tradução de: Globalization: the human consequences. ISBN 85-7110-495-6
FRASER, Nancy. Justice Interruptus: Critical reflections on the “Postsocialist” condition. New York &
London: Routledge, 1997.
FRASER, Nancy. Scales of Justice: Reimagining political space in a globalizing World. New York:
Columbia University Press, 2009.
GODINHO, Pedro Henrique Carvalho Morais. A Teoria Crítica E A Questão Racial No Brasil: A
Atualidade Da Teoria Tridimensional De Nancy Fraser. Revista do CAAP | n. 01 | V. XXIII | pp. 46-62 |
2017.
SANTOS, Nélio Lustosa. Esfera pública transnacional em Nancy Fraser: em direção a uma teoria de
justiça Pós-Westfaliana. Porto Alegre, RS: Editora Fundação Fênix, 2020.
SUMÁRIO
21
CIDADANIA, DIREITOS FUNDAMENTAIS E ACESSO À JUSTIÇA:
a democratização do acesso em municípios gaúchos não
sedes de comarca
INTRODUÇÃO
Sabe-se que dentre os direitos fundamentais do homem, explicitados na
legislação brasileira, especialmente pela Carta Magna de 1988, consta a previsão à
assistência judiciária em caso de qualquer ameaça ou lesão a direito (art. 5º, inc.
XXXV). Além disso, há ciência de que para que o exercício da cidadania seja usufruído
com plenitude, há necessidade implícita do acesso aos direitos, de maneira satisfatória
e proporcional por todos os cidadãos. Para além, verifica-se que o acesso à justiça, em
SUMÁRIO
Tendo em vista que o acesso à justiça, assim como as políticas públicas capazes de
efetivar tal direito, são um problema que perpassa gerações na sociedade brasileira, é
preciso analisar mais atentamente as comunidades que, de forma automática, tendem
a sofrer sobremaneira com a referida adversidade. Diante disso, no presente estudo,
pretende-se averiguar como se dá o acesso à justiça em cidades gaúchas que não são
sedes de Comarca, relacionando-as com as Comarcas a que pertencem.
Para a realização do estudo buscar-se-á, a partir da Hermenêutica de
Profundidade, de Thompson, estabelecer diálogos tanto com as pessoas que já
necessitaram do acesso à justiça para a efetivação de direitos básicos, como com
agentes que estão à frente do exercício da justiça e que atuam nessas cidades. Espera-
se, portanto, ser possível averiguar com maior precisão as dificuldades mais
significativas encontradas por essas populações para o acesso aos seus direitos por
intermédio da justiça, bem como os fatores que contribuíram nesse sentido.
É provável que, na atualidade, os fatores mencionados por Gaulia (2020) e
Capele�i e Garth (2015) contribuam para dificultar ainda mais o acesso à justiça. Sob
outro aspecto, contudo, considerando o desejo da coleta de dados junto aos agentes
que estão à frente da justiça brasileira e das repartições públicas municipais,
propiciando a exposição de suas experiências diárias, é possível que surjam novos
elementos além da eventual identificação de alternativas, e que o acesso à justiça
atenue a problemática da efetivação de direitos fundamentais do homem.
Ademais, o objetivo do presente estudo é contribuir no engrandecimento do
arcabouço teórico já existente sobre o tema. Com a concretização do estudo nos moldes
propostos, acredita-se na realização de uma pesquisa rica em detalhes e informações,
capaz de fortalecer a efetivação dos direitos fundamentais por meio do acesso à justiça,
especialmente das populações residentes em municípios gaúchos não sedes de
Comarca.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em um primeiro momento, buscar-se-á delinear as mais relevantes teorias acerca
da justiça, bem como a maneira como se dá o seu acesso e a identificação das
vulnerabilidades mais significativas para que isso ocorra. Posteriormente, pretende-se
discorrer acerca dos instrumentos facilitadores do acesso à justiça no Brasil. E, por fim,
utilizar-se-á da coleta de dados a ser realizada a partir da Hermenêutica de
Profundidade, de Thompson, para concluir o estudo e apontar os dados acerca do
exercício de direitos fundamentais pelo acesso à justiça em municípios gaúchos não
sedes de Comarca e localizados na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É mister ponderar que o presente estudo constitui apenas uma amostra acerca da
pesquisa que vem sendo desenvolvida. Apesar disso, o que já se pode evidenciar é a
necessidade da análise acerca da forma como ocorre a efetivação dos direitos
fundamentais do homem por intermédio do acesso à justiça às populações residentes
em municípios gaúchos não sedes de Comarca, já que, devido ao fato de estarem
localizados há poucos quilômetros de distância das suas sedes de Comarca, acabam
por cair no esquecimento.
Por conseguinte, ressalta-se que o objetivo deste estudo é enriquecer ainda mais
as bases teóricas já existentes acerca da temática, já que o olhar atento a essas
populações também é de grande relevância. Assim, será possível contribuir para que
a efetivação do exercício da cidadania se dê, cada vez mais, em maior plenitude e,
ainda que a passos lentos, em um futuro não muito distante.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Justiça. Acesso à Justiça. Instrumentos
facilitadores. Desenvolvimento.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL (Constituição). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.Disponivel
em: h�ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 dez. 2022.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2015.
GARGARELLA, Roberto. As teorias da justiça depois de Rawls: um breve manual de filosofia política. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.
GAULIA, Cristina Tereza. A experiência da Justiça Itinerante – o espaço de encontro da magistratura com
a população brasileira. Rio de Janeiro: Mauad X, 2020.
STF. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 279. Disponível
em: h�ps://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID= 759151606. Acesso em: 21 dez
2022.
SUMÁRIO
22
A GESTÃO DO CONFLITO E A AGENDA 2030 DA ONU:
caminhos possíveis pela mediação
Trabalho desenvolvido a partir da linha de pesquisa das autoras, qual seja: Políticas de
Cidadania e Resolução de Conflitos.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A mediação de conflitos está diretamente relacionada com o ODS 16 da Agenda
2030 da ONU – Paz, Justiça e Instituições Eficazes. Em 2015, a Organização das Nações
Unidas (ONU) estabeleceu a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com
17 Objetivos e 169 metas para a sociedade global: para os seres humanos, para a
prosperidade e para o planeta, promovendo o fortalecimento da paz mundial, com
mais liberdade e empatia.
Sabe-se que há multifacetadas transformações no cerne das relações sociais,
orientadas por processos complexificadores que desencadeiam conflitos
sistematicamente constituídos ao longo do contexto histórico da Sociedade Mundial.
Nesse sentido, na visão de Luís Alberto Warat, o conflito é inerente à existência
humana, no sentido de que orienta dois âmbitos de significação, quais sejam: o conflito
positivo e o conflito negativo. O viés negativo do conflito se apresenta a partir do
binômio adversarial (amigo/inimigo, nós/eles, eu/o Outro, etc.), porém, o conflito
positivo tangencia uma transformação que promulga um efeito evolutivo pelo diálogo
em benefício do desenvolvimento da civilização.
O objetivo do trabalho é abordar a mediação Waratiana quanto um caminho
viável para a resolução de conflitos sob à luz do Objetivo 16 da Agenda 2030 da ONU.
O desenvolvimento do estudo é pautado pelo método hipotético dedutivo e orientado
por uma análise bibliográfica. Dessa forma, questiona-se: a mediação se perfectibiliza
como um método de tratamento de conflitos que potencializa a execução do Objetivo
16 da Agenda 2030 da ONU? Essa é a inquietação que move a pesquisa e orienta a
análise a seguir para sua construção.
REFERÊNCIAS
CALMON, Petronio. Fundamentos de Mediação e da Conciliação. Brasília: Gazeta Jurídica, 2015.
GIMENEZ, Charlise Paula Colet. O novo no direito de Luis Alberto Warat: mediação e sensibilidade. Porto:
Editorial Juruá, 2018.
______; DEL’OLMO, Florisbal de Souza; ANGELIN, Rosângela. Dos direitos humanos e dos conflitos na
sociedade líquida pós-moderna. Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC, Fortaleza, v.
37, n. 2, p. 259-279, jul./dez., 2017. Disponível em: h�p://www.repositorio.ufc.br/ri/handle/riufc/30496.
Acesso em: 10 jan. 2020.
ONU, Brasil. Organização das Nações Unidas. A Agenda 2030. 2015. Disponível em: <h�ps://nacoesunidas.
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SALES, Lilia Maia de Morais. MEDIADIRE – Um guia prático para mediadores. Rio de Janeiro: GZ Editora,
2010.
SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e Prática da Medição de Conflitos. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999.
WARAT, Luis Alberto. O Amor Tomado pelo Amor. Crônica de uma paixão desmedida. São Paulo: Editora
Acadêmica, 1990.
WARAT, Luis Alberto. Surfando na Pororoca: o Ofício do Mediador. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.
SUMÁRIO
23
A SEGURANÇA PÚBLICA ATRAVÊS DO USO DE
RECONHECIMENTO FACIAL: uma análise da discriminação racial
INTRODUÇÃO
“O recurso mais valioso do mundo não é mais o petróleo, mas os dados”, com
essa afirmação impactante do matemático inglês Clive Humby, a revista The
Economist publicou em 2017, artigo discorrendo sobre a importância dos dados
dentro da atual configuração econômica e social. Iniciamos então, visualizando o
poder dos dados enquanto mercadoria, os quais são coletados, compartilhados e
comercializados indiscriminadamente por grandes empresas, sem que
necessariamente os titulares tenham conhecimento do compartilhamento.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Primeiramente, em consequência da tecnologia, após a internet se tornar uma
espécie de local onde se pode ser o que quiser e fazer o que bem entender, violando
assim diversos direitos de personalidade, observou-se o aumento da legislação que
versa sobre o assunto. O Código Civil de 2002, reconhece os direitos de personalidade
como inerentes às pessoas, assim como é caracterizado os direitos fundamentais.
Estabelece também a norma supracitada, em face do tema: “Art. 2º A personalidade
civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.”
Em observância a isso, o Poder Legislativo criou a Lei nº 13.709/2018, LGPD, que
em seu quinto artigo conceitua o que é dado pessoal, o ligando a toda informação que
mantenha relação à pessoa natural identificada ou identificável. Entendendo assim
que não é limitado apenas ao nome, idade ou endereço, mas sim incluindo dados de
localização, bens, perfis, números de Internet Protocol, históricos, entre outros dados
Por escolha do legislativo, a LGPD não englobou o tratamento de dados para fins
de investigação criminal e segurança pública. Então, o anteprojeto de Lei de Proteção
de Dados para Segurança Pública e Persecução Penal foi estruturado em 68 artigos e
formalizado em novembro de 2020. Aborda-se um projeto que baliza e orienta as
operações de tratamento de dados pessoais no ambiente de persecução criminal e
segurança pública, visando equilibrar tanto a proteção do titular contra o mau uso das
suas informações, como também os usos abusivos por autoridades. A seção III da
LGPD-Penal descreve um longo rol de medidas a serem adotadas em busca da
proteção de dados, dentre elas o controle de acesso ao equipamento, controle dos
utilizadores e controle do acesso aos dados.
Ademais, adentrando no contexto de Persecução Penal e Segurança Publica,
podemos definir Segurança Pública como um conjunto integrado e otimizado
envolvendo instrumentos de coação, justiça, defesa dos direitos, saúde e experiências
no meio social, de acordo com Costa (2014). Assim, ela parte da prevenção e se
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, o surgimento da inteligência artificial através da era da internet, marcou
o curso do progresso científico nas últimas décadas, proporcionando significativas
mudanças dentro do meio social, na forma como o ser humano se desenvolve coletiva
e individualmente.
Se por um lado a introdução de sistemas de inteligência artificial na rotina de
empresas, governos e da sociedade representou a otimização e simplificação de
SUMÁRIO
processos antes intrincados, por outro, suscitou preocupações em razão dos efeitos
nocivos aos indivíduos. O uso de dados pessoais de forma indiscriminada e pouco
responsável para a provisão de algoritmos fez emergir as ameaças a direitos
fundamentais como a privacidade, a liberdade, a igualdade e o livre desenvolvimento
da personalidade, bem como deu margem para o aparecimento de fenômenos
danosos como o racismo algorítmico.
Por conseguinte, os organismos policiais, que notadamente evoluíram ao longo
da história, hodiernamente são fundamentais na engrenagem de defesa e de garantia
dos direitos e liberdades fundamentais. Nesse período, eis talvez um dos maiores
desafios: conseguir enfrentar os novos desafios da criminalidade contemporânea e,
simultaneamente, garantir ao cidadão uma abordagem constitucional e democrática
da questão da segurança
Palavras-chave: Racismo, Segurança pública, Dados, LGPD.
REFERÊNCIAS
ANISTIA Internacional. Você matou meu filho! Homicídios cometidos pela polícia militar na cidade do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015. Acesso em: 10 abril 2023.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União: seção 1,
Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 2018.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução Raquel Ramalhete. 19. ed. Petrópolis:
Vozes, 1987. Acesso em: 10 abril 2023.
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 2019. Acesso em: 10 abril
2023.
COSTA, Arthur Trindade; LIMA, Renato Sérgio. Segurança pública. Crime, polícia e justiça no Brasil. São
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LOMBROSO, Cesare. O homem delinquente. 3ª reimpressão São Paulo: ícone Editora, 2016.
NUNES, P. Novas ferramentas, velhas práticas: reconhecimento facial e policiamento no Brasil. In:
CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANÇA E CIDADANIA; REDE DE OBSERVATÓRIO DA
SEGURANÇA. Relatos da violência: cinco meses de monitoramento, análises e descobertas. São Paulo:
Universidade Candido Mendes, 2019.
The Economist. The world’s most valuable resource is no longer oil, but data. Acesso em: 10 abril 2023.
SUMÁRIO
24
GARANTINDO O ACESSO AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA DA LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL:
como uma melhor regulamentação estatal pode enfrentar a (in)justiça
na efetivação do direito constitucional
INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil alberga direitos e garantias
fundamentais, dentre elas, encontra-se presente o benefício de prestação continuada,
o qual tem como principal objetivo garantir o amparo para pessoas que estão à
margem da sociedade e não conseguem prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família.
Na pesquisa será analisada de forma analítica, histórica e com apreciação crítica
sobre o Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social,
buscando demonstrar que para obter direito ao amparo assistencial, é necessário o
preenchimento de requisitos específicos e restritivos, como a exigência de que o
beneficiário tenha renda familiar per capta de até ½ do salário mínimo.
SUMÁRIO
sociedade brasileira nos últimos anos, que fica em um contexto de flagrante violação
dos mais diversos direitos fundamentais, que envolve o princípio da dignidade da
pessoa humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da pesquisa realizada é possível vislumbrar que o benefício de
prestação continuada causa um grande impacto positivo na sociedade no que tange o
enfrentamento da miserabilidade e garantia de superação das vulnerabilidades
sociais.
Em razão de uma precária regulação legislativa e da burocracia executiva em sua
execução, acaba por ser obstaculizado o acesso ao amparo social, frustrando-se com
isso o exercício da cidadania, que apesar da evolução legislativa ocorrida na
regulamentação legal do referido benefício, marcada por avanços e retrocessos, onde
a plena finalidade almejada pela Constituição ainda não foi alcançada até o momento,
uma vez que referida regulação se deu de forma tardia, seletiva e com rigorosos
critérios estabelecidos para a sua obtenção.
Desde o início a evolução legislativa referente ao benefício tem sido marcada por
debates e controvérsias que, com o decorrer dos anos, fizeram refletir substantivas
alterações em aspectos importantes, tal como o parâmetro para constatação da
vulnerabilidade na renda per capta, contudo ainda o é uma forma muito generalizada
para determinar a vulnerabilidade social sem analisar as reais condições de cada
cidadão.
Ao fim, não esgotando o tema, constata-se que se faz necessária uma mudança
para análise mais benéfica para o cidadão em cada caso concreto sem a utilização,
apenas, dos requisitos objetivos de renda impostos pela lei, necessitando de um estudo
individualizado da situação de cada pretenso benefício para aferição da condição de
vulnerabilidade social.
Palavras-chave: Políticas Públicas. Benefício de Prestação Continuada. Amparo
Assistencial. Vulnerabilidade Social. Direitos Humanos.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social
e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1991.
BRASIL. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá
outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1993.
SPOSATI, Aldaíza de Oliveira. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em
análise. 9. ed. São Paulo: Cortes, 2007.
25
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO À JUSTIÇA: agenda 2030 como
instrumento de construção de sociedades justas e igualitárias
INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda a promoção de políticas públicas que incentivem o
acesso à justiça, a partir da Agenda 2030 e suas metas globais, para alcance de uma
sociedade mais justa e igualitária, de maneira a viabilizar a garantia a dignidade
humana e os direitos fundamentais.
O problema trazido para nortear esta pesquisa, busca responder o seguinte
questionamento: “A Agenda 2030 é uma ferramenta capaz de promover políticas
públicas mais inclusivas para fomentar o acesso à justiça por todos?”
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
É notório que muitas são as existentes e diversas teorias de justiça que buscam
promover bem-estar social e adotar práticas efetivas de justiça social ideais, a fim de
promover os direitos humanos fundamentais e construir uma sociedade mais justa e
igualitária, nos moldes dos direitos humanos.
O ideal de justiça social pensado por Sen e Nussbaum concebem os direitos
fundamentais como suporte para a promoção de uma sociedade mais igualitária.
Assim, os autores acreditam que as políticas públicas devem ser propostas
considerando as capacidades como foco, com o objetivo de colaborar para o
desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva, e que emerja para a realização de
serviços sociais que diligencie dignidade (CENCI; ZEIFERT, 2021).
A busca pela construção de instituições fortes, responsáveis e eficazes, que
promova sociedades pacíficas e inclusivas é uma busca mundial, essencialmente de
interesse firmado como meta global, a partir da Agenda 2030, pelos países aderentes,
sobretudo além da igualdade de acesso à justiça para todos e promoção de um Estado
de Direito, através da transparência.
Em razão disto, o artigo 8º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos dá
seguinte redação no que tange ao acesso à justiça: “Todo ser humano tem direito a
receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem
os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei”
(ONU, 1948).
A partir do referido dispositivo, disseminou-se a ideia de tutela jurisdicional a ser
prestada de forma eficaz. No Brasil, o artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, prevê
que todos são iguais perante a lei, sem distinção, garantindo o direito à vida, a
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Entre os muitos direitos
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que o avanço da tecnologia trouxe maior mobilidade para a internet e
consequentemente para os tribunais, se tratando de acesso à justiça, a inteligência
artificial tem uma grande participação e importância nos procedimentos internos e na
agilidade do atendimento as demandas.
No entanto, a maior dificuldade ainda encontrada para a melhoria e
acessibilidade do acesso à justiça que alcance a todos, independente dos fatores sociais,
de forma global, diz respeito aos problemas de desigualdade social, às barreiras
econômicas, sociais, culturais, entre outras que impedem totalmente ou dificultam o
acesso à justiça pelos mais pobres e vulneráveis em relação aos demais, a qual também
é uma meta mundial a ser alcançada pela Agenda 2030, se tratando da erradicação da
pobreza e redução das desigualdades sociais.
Dessa forma, a Agenda 2030 consegue ser um instrumento que tem suas metas
globais interligadas, visto que uma acaba por impactar nas demais, como é o caso do
acesso à justiça, que só poderá ser efetivado a partir das políticas públicas inclusivas
que reduzam e se possível por completo, termine com as desigualdades sociais, para
que assim todos através de suas capacidades, fontes educativas, entre outras ações
públicas consigam fazer uso dos sistemas de justiça e serem alcançados pela justiça
social, de forma que oportunize a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária, sob os moldes da declaração universal dos direitos humanos e os preceitos
constitucionais.
Palavras-chave: Acesso à justiça. Agenda 2030. Sociedades inclusivas.
SUMÁRIO
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988.
DA SILVA, Karla Yacy Carlos; DE MORAES, Camila Miranda. A Justiça 4.0 e o acesso sob a lente da agenda
2030 da ONU. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, v. 26, n. 2, p. 42-52, 2022.
ZEIFERT, Anna Paula Bage�i; CENCI, Daniel Rubens. As políticas públicas e a promoção das necessidades
humanas fundamentais. Constitucionalismo e meio ambiente, Tomo 6, direitos fundamentais . 1. ed. Porto
Alegre: Editora Fi, 2021.
SUMÁRIO
26
ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL NO SISTEMA
PRISIONAL BRASILEIRO E A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE
HUMANA E DIREITOS DA PERSONALIDADE: um estudo para além
dos muros do cárcere
INTRODUÇÃO
O encarceramento em massa é uma questão que atinge a sociedade inteira, diante
das opções punitivas de alto custo político-econômico, social e cultural, o dano social
é extremamente alto e um elemento maximizador da vulnerabilidade de minorias e
grupos vulneráveis. O presente estudo tem como finalidade promover reflexões sobre
o sistema prisional brasileiro diante de um contexto de encarceramento em massa e
violações de direitos fundamentais e da personalidade. A partir da análise do arranjo
normativo e do diagnóstico atual do sistema carcerário, buscar-se-á elucidar como,
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A invisibilidade, descaso e violência são características norteadoras da realidade
das pessoas em situação de cárcere. As estatísticas levantadas e analisadas pelo último
diagnóstico de pessoas presas no Brasil, elaborado pelo Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas
(DMF), a situação de encarceramento em massa é preocupante. O último
levantamento nacional de informações penitenciárias realizado entre janeiro e junho
de 2022, pelo SISDEPEN (ferramenta de coleta de dados do sistema penitenciário
nacional), tem-se no atual cenário prisional brasileiro um total de 661.915 pessoas
privadas de liberdade. Para comportar toda essa população nos estabelecimentos
carcerários, seria necessário gerar ao menos outras 191.799 vagas (BRASIL, 2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo se propôs a analisar a problemática do encarceramento em
massa e a falência do sistema prisional brasileiro. Buscou-se, assim, ir além dos muros
penitenciários para se compreender a precariedade do sistema prisional que está longe
de servir de instrumento de ressocialização. O estudo quedou-se claro que as ações
institucionais vêm se desenvolvendo sem nenhum planejamento que leve em
consideração a humanização da execução penal, violando direito a uma vida digna.
Concluiu-se que apesar da existência de uma Constituição garantidora de direitos e
aderência em tratados internacionais, não há correspondência entre o expresso nos
instrumentos legais e a realidade que vivencia as pessoas presas.
quais não tem sido possível lograr a efetivação de direitos essenciais para uma vida
digna, como é o caso do sistema carcerário. Diante disso que se verifica o caráter
máximo de força normativa que a dignidade da pessoa humana possui, onde todos os
ângulos éticos da personalidade se acham consubstanciados.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo
Horizonte, Editora UFMG, 2002.
ARENDT, Hannah. A condição humana. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 2015. Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental nº 347. Disponível em: redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=10300665. Acesso em: maio 2023.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2015.
GIACOIA JÚNIOR, Oswaldo. Agamben: por uma ética da vergonha e do resto. São Paulo: n.1 Edições, 2018.
RAMOS, Rivera Efrén. Violence and the law: notes under the influence of an extreme violence. 2003. p. 2.
SELA (Seminario en Latinoamérica de Teoría Constitucional y Política) Papers. Paper 27. Disponível em:
h�p:// digitalcommons.law.yale.edu/yls_sela/27. Acesso em: nov. 2022.
SUMÁRIO
SIQUEIRA, Dirceu Pereira; ANDRECIOLI, Sabrina Medina. A dignidade da pessoa humana e a mulher no
cárcere brasileiro: uma análise a partir dos direitos da personalidade. Revista de Direito Brasileira, [S.l.], v.
24, n. 9, p. 463-488, dez. 2019. Disponível em: h�ps://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/5742.
Acesso em: maio 2023.
SANTOS, Marcel Ferreira; ÁVILA, Gustavo Noronha. Encarceramento em massa e estado de exceção: o
julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 347. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, vol. 136, p. 267-291, 2017.
SUMÁRIO
27
RESSOCIALIZAÇÃO COMO UM DESAFIO AO APENADO
QUE ACREDITA NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
A pena restritiva de liberdade tem como escopo fazer com o que o preso não
retorne à sociedade a fim de delinquir, mas ressocializado com o objetivo de
recomeçar uma nova história. Fato este que no passado não era o objetivo do Estado,
uma vez que a finalidade era apenas excluí-los da sociedade. Assim, recomeçar uma
nova história no meio de tantas transgressões é o objetivo de todos os reclusos que
desejam viver de maneira diferente do até presente momento, ressocializando,
juntamente com seus familiares, em busca de vida melhor.
Todavia, como é possível recomeçar diante de uma sociedade que despreza e
julga os ex-presidiários, dificultando, assim, sua ressocialização? Questão essa que
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde a Idade Média todos os indivíduos que se utilizavam do crime para
conseguir o que tanto desejavam recebiam julgamentos bastante dolorosos, muitos
deles à pena de morte. Fato este vedado pela atual Constituição Federal/1988, em seu
artigo 5º, inciso XLVII, alínea (a): “não haverá penas: a) de morte [...]”. Posteriormente,
esse tipo de justiça da época foi perdendo as forças e surge um novo sistema no qual
os presos perdiam sua liberdade, mas não eram submetidos a instrumentos de tortura,
uma vez que o Estado os utilizava para o trabalho. Período este em que resultou
grande espetáculo para a população, os quais queriam que os indivíduos que estavam
no âmbito da criminalidade sofressem, a fim de não mais delinquir. Entretanto,
situações essas em que não eram respeitados os direitos humanos fundamentais, uma
vez que eram vistos com olhos de maldade diante de uma sociedade que rejeitava
esses indivíduos.
Nesse âmbito, percebe-se que hodiernamente o sistema carcerário tem como
principal objetivo a ressocialização e a punição da criminalidade. Assim sendo, é de
responsabilidade do Estado garantir a segurança da sociedade, isolando os criminosos
do convívio social, por mei do cárcere privado, logo, privando a liberdade dos mesmos
a fim de não delinquirem novamente.
Sobre este posicionamento, Foucault ensina:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O preconceito instalado na sociedade brasileira está presente durante muitos
anos. O foco punitivo sempre foi o indivíduo que por algum motivo esteve para o
crime, não oportunizando espaço para o mesmo, uma vez que necessitam da
ressocialização, a fim de garantir labor para o seu sustento e de sua família.
Conclui-se que como qualquer outro ser humano, os apenados são considerados
cidadãos em busca de oportunidades após saírem da prisão. Ao mesmo tempo,
encontram pessoas preconceituosas, que apenas visualizam o seu histórico com o
crime e não a pessoa que ele se tornou e/ou se torna, fazendo com que muitos não
consigam no mercado de trabalho uma oportunidade. Fato este, que em algumas
vezes, propicia para que o ex-detento volte para a vida criminal, uma vez que não há
escolhas para esses indivíduos a fim de conseguir, por exemplo, alimento para seu
filho, ou até mesmo sustento para os demais integrantes da sua família, assim, acabam
retrocedendo por falta de acompanhamentos ou incentivos.
Logo, ficou evidente que o grande desafio para esses indivíduos, além de ser a
conquista pelo espaço no mercado trabalho, será fazer com que a sociedade entenda
que os ex-detentos são seres humanos capazes de se redimir em busca de melhoras de
vida, uma vez que muitos deles acreditam uma nova história. Além disso, é
necessário, por parte do Estado auxílio para a conquista laboral, tendo em vista que as
pessoas ainda estão, infelizmente, enraizadas em uma cultura preconceituosa. E hoje,
muitos presidiários sonham em ver seus familiares diariamente, seus filhos, sem
estarem algemados, sustentar sua família e viver de forma diferente do âmbito
criminal.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidente da República, [2016].
FALCONI, Romeu. Sistema presidial. reinserção social. São Paulo. Ícone, 1998.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: Nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 20. ed.
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MENEZES, Simone Barros Correa de. Identidades em construção. ANF, 2017. < h�ps://www.anf.org.br/
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ESP&text=22%2F07%2F2019%20%E2%80%93%20S%C3%83O%20PAULO%20%E2%80%93%20Apenas%2
00%2C,recolocar%20no%20mercado%20de%20trabalho.> Acesso em: 01, maio de 2023.
GT2
BIOPOLÍTICA,
DIREITOS HUMANOS E
GÊNERO
SUMÁRIO
28
MULHERES E MOVIMENTOS FEMINISTAS: estudando sobre a
influência dos movimentos para a garantia da autonomia feminina
INTRODUÇÃO
A sociedade do patriarcado vê as mulheres como inferiores aos homens, devendo
submissão e servidão à eles, segundo a lógica patriarcal. E por conta desta pretensa
inferioridade, afirmada pelo patriarcado, durante algum tempo elas não eram
reconhecidas como sujeitas de direito, já que eram vistas apenas como objetos de
agrado e satisfação dos homens, sendo relegadas ao cuidado da família, criação dos
filhos e ao ambiente doméstico, sem qualquer reconhecimento social ou político.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a finalidade de iniciar este ensaio estudando sobre a desvalorização das
mulheres ao longo da história (deixando claro que nem sempre foi assim, ao contrário
do que muitos ainda acreditam, o patriarcado não existiu desde sempre), parte-se dos
estudos de Aristóteles, sobretudo em sua obra “A Política”, obra considerada um
clássico. O autor faz a seguinte afirmação: “Em todas as espécies, o macho é
evidentemente superior à fêmea: a espécie humana não é exceção” (1991, p. 29).
Conforme se depreende da citação acima, o filósofo acreditava na superioridade
do macho sobre a fêmea em todas as espécies, e afirma com precisão que esta
superioridade também pode ser verificada na relação de homens e mulheres. A
coisificação e a objetificação também se percebe de maneira intrínseca na citação
colacionada acima. Contudo, o autor ainda esclarece que os homens mostravam toda
a sua força e poder quando tinham a obediência das mulheres, sobre isso afirma: “[...]
força de um homem consiste em se impor, a de uma mulher, em vencer a dificuldade
de obedecer” (ARISTÓTELES, 1991, p. 31).
O patriarcado acaba por estabelecer uma relação paradoxal com as mulheres, já
que ao mesmo tempo que as vê com objetificação, inferiorização e desvalorização
precisa delas para garantir sua prole, e assim acaba com naturalizar a servidão das
mulheres para com os homens, chamando isso de amor. Não bastasse toda a
construção de uma naturalização da servidão feminina, ainda buscam de todas as
SUMÁRIO
formas controlar o corpo das mulheres, inclusive com o apoio e com a atuação do
Estado (SAFFIOTI, 2004).
Nesse sentido, entende-se ser de importância trazer o que vem a ser um
movimento social, Anthony Giddens (2005, p. 357), entende os movimentos sociais
como “[...] tentativas coletivas de promover um interesse comum ou de assegurar uma
meta comum por meio de uma ação fora das instituições estabelecidas”.
Já no que se refere ao movimento feminista, é importante ressaltar que ele surge
para (re)pensar novas formas de convívio social, superando as desigualdades de
gênero e galgando direitos e emancipação social e política às mulheres:
Dessa forma, diante de tudo o que fora estudado até aqui, pode-se afirmar sobre
a importância do movimento feminista na vida das mulheres, que conquistaram
direitos importantes para elas, como por exemplo o direito ao voto, através do
movimento sufragista, bem como o direito ao divórcio, à educação. Direitos
conquistados através da mobilização social dos movimentos feministas, que através
do reconhecimento de direitos importantes para elas, acaba promovendo também a
sua emancipação social, política e econômica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, em uma sociedade patriarcal, que apesar de todas as evoluções e
transformações culturais, ainda continua vendo a mulher com certa inferioridade, os
movimentos feministas assumem papel de grande relevância, uma vez que através de
suas mobilizações sociais trazem uma nova forma de ver e tratar as mulheres,
rompendo e fazendo (re)pensar a lógica patriarcal.
Diante de todo o estudo que fora realizado, pode-se concluir que os movimentos
feministas acabam por promover a emancipação social das mulheres, na medida que
conquista e consegue o reconhecimento de direitos para elas. Contudo, é inegável que
apesar das conquistas serem muito importantes, a objetificação, a desvalorização e a
violência contra a mulher ainda continua muito viva em nossa sociedade, que embora
com o reconhecimento da igualdade de gênero, ainda vê a mulher como inferior ao
homem.
Assim, respondendo à pergunta norteadora desta pesquisa, os movimentos
feministas são relevantes na promoção da emancipação social das mulheres, tanto por
trazer ao cenário social pautas femininas importantes, como também através da sua
atuação na quebra de paradigmas de gênero preconceituosos e discriminatórios,
buscando para as mulheres um novo lugar junto à sociedade, um lugar onde haja
respeito e equidade de gênero, onde as mulheres não sejam julgadas e condenadas
pela forma que se vestem, falam e se comportam na sociedade.
Palavras-chave: Mulheres. Movimentos Feministas. Autonomia Feminina
REFERÊNCIAS:
ARISTÓTELES. A Política. Tradução Roberto Leal Ferreira. São Paulo. Martins Fontes.1991.
CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol. 2.
São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999.
SUMÁRIO
CHRISTO, Carlos Alberto. Marcas de Baton. Revista Caros Amigos, 2001. Disponível em: h�p://pensocris.
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GOHN, Maria da Glória. Novas Teorias dos Movimentos Sociais. 3d. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2004.
SUMÁRIO
29
A EXPLORAÇÃO DOS VENTRES DE MULHERES
ESCRAVIZADAS E A (IM)POSSIIBILIDADE DA MATERNIDADE
DURANTE A ESCRAVIDÃO
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem o objetivo central de compreender a maternância das
mulheres negras escravizadas, tendo em vista que ela (não) era sentida e (nem) vivida
de forma efetiva durante o período de escravidão no Brasil. Utilizando-se do modo de
raciocínio dedutivo, pois adota-se como pano de fundo as teorias feministas de bell
hooks e Ângela Davis, e da pesquisa bibliográfica, mediante análise de livros e artigos,
questiona-se: como se dava e quais eram as formas (e se elas existiam) de negação da
maternidade diante do contexto histórico de objetificação do corpo da mulher negra
escravizadas?
Tal questionamento se justifica pelo fato de a temática da maternância das
mulheres negras durante a escravidão ser esporadicamente abordada nas pesquisas
que, utilizando a base histórica como fundamento, discutem a maternidade e suas
SUMÁRIO
implicações para a vida das mulheres. Ou então quando abordada, é analisada dentro
do contexto da vivência de mulheres brancas, assemelhando, como se fosse possível, a
historicidade dessa prática social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No início do século XIX, o tráfico negreiro começou a sofrer, principalmente
pelo Parlamento Britânico, forte influência para ser abolido. Em 1831, a monarquia
brasileira instituiu uma lei que declarava livre todos os escravos vindos de fora do
Império, porém, foi ineficaz porque milhares de escravizados continuaram
desembarcando nos principais portos do Brasil. Após a lei de 1831, “os africanos eram
desembarcados à noite nas praias e obrigados a marchas até os armazéns ou barracões
clandestinos (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006, p. 60). Enquanto nos tratados
políticos a nação se comprometia a fazer cessar o tráfico, o interesse da lavoura (em
especial do café) exigia, cada vez mais, mão de obra escrava abundante (COSTA, 2012,
p. 74).
Como contrarresposta, a Inglaterra aprovou a Lei Bill Aberdeen em 1845,
autorizando a marinha britânica a perseguir e punir navios negreiros que
transportavam escravizados pelo Atlântico Sul. Mas o pensamento escravagista no
Brasil era tão acentuado que o tráfico negreiro resistiu (ALBUQUERQUE; FRAGA
FILHO, 2006; COSTA, 2012). O tráfico de escravos da África para o Brasil já estava
formalmente proibido “mas quem é que cumpria a lei?” (CRUZ, 2018, p. 19). Segundo
Eliana Alves Cruz (2018, p. 19), “os ingleses forçaram a situação aprovando a lei Bill
Aberdeen, mas o engraçado é que [...] o comércio de escravizados ainda era um dos
negócios mais lucrativos para a esmagadora maioria”. Finalmente, depois de muita
resistência, em 4 de setembro de 1850 foi aprovada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós,
proibindo definitivamente o tráfico negreiro.
Com a proibição do tráfico negreiro não era mais possível adquirir mão de obra
escrava do mercado internacional. Por isso, o Brasil, assim como outros países
escravagistas, teve que desenvolver formas internas para a manutenção da escravidão.
Começou-se, assim, a enxergar o ventre da mulher escravizada como forma de manter
o sistema, ou seja, a procriação para o nascimento de novos escravizados. De acordo
com Hooks (2020, p. 37), “a mulher negra escravizada não era tão valorizada quanto
ao homem negro escravizado [...] o comércio de pessoas escravizadas, em princípio,
era de homens negros”. Contudo, com a ideia da procriação, o cenário se inverte e a
mulher negra escravizada passa a receber mais valor comercial. Para Davis (2016), elas
eram avaliadas pela sua fertilidade. Aquelas que fossem potencialmente mãe de dez,
doze ou mais, era um tesouro cobiçado.
SUMÁRIO
Assim, ressalta-se o fato de que, embora parissem seus filhos, as mulheres negras
escravizadas não tinham o direito de serem mães. Isso, pois no projeto colonial de
adestramento feminino, coube à mulher negra a “promiscuidade, escravidão,
exploração, silenciamento e privação do direito de viver plenamente a maternidade”
(SILVA; CARVALHO, 2021, p. 635-636). Seus filhos eram tirados ainda crianças, senão
quando bebês, e postos à venda. Para Davis (2016, p. 26), “era comum que as crianças
fossem vendidas e enviadas para longe, como bezerros separados das vacas”. Nesse
contexto, cita-se um trecho do discurso da abolicionista e ex-escravizada Sojourner
Truth durante a Convenção das Mulheres em Ohio, em 1851: “[...] eu pari treze filhos
e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha
dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu” E eu não sou uma mulher?” (PINHO,
2014, 00).
1 É importante destacar que a violência contra as mulheres escravizadas não começou somente em solo brasileiro e como
forma de manutenção da escravidão. Muitas eram estupradas e ameaçadas ainda no navio negreiro. Contudo, depois,
esse cenário de exploração se intensificou e a mulher escravizada passou a ser vista como um objeto sexual/
reprodutivo (DAVIS, 2016).
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a abolição internacional do comércio de escravizados e a entrada em vigor
da Lei Eusébio de Queirós que proibia definitivamente o tráfico negreiro no Brasil,
foram procuradas outras formas de manter a escravidão. Sendo assim, os ventres das
mulheres negras tornaram-se o foco dos senhores que utilizavam esses, violentando-
as sexualmente, para a reprodução de novas mercadorias, ou seja, de seus filhos, que
se tornavam os novos escravizados após o nascimento.
Doravante, as mulheres negras passaram a ser consideradas apenas instrumentos
e objetos que reproduziam mercadorias e garantiam a utilização da força de trabalho
escravo, fazendo a manutenção do sistema escravagista. Nesse sentido, as mulheres
negras eram estupradas e obrigadas a parir seus filhos, porém, não para serem mães
desses, pois isso lhes era negado no momento em que retiravam seus filhos e os
colocavam à venda. Sendo assim, na tentativa de evitar a manutenção do sistema e de
evitar que sua criança fosse escravizada, muitas mulheres sacrificavam sua prole
mediante a prática do aborto.
Além disso, ao passo que era negado à mulher negra o direito de ser mãe dos
próprios filhos, lhe era imposta a obrigação de ser a mãe preta dos filhos dos seus
senhores. Portanto, verifica-se diante desse contexto a resposta à pergunta central da
pesquisa de como se dava e quais eram as formas (e se elas existiam) de negação da
maternidade diante do contexto histórico de objetificação do corpo da mulher negra
escravizadas, afirmando-se que, das diversas formas expostas, era negado às mulheres
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador:
Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
COSTA, Emília Vio�i da. Da Senzala à Colônia. 5.ed. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
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GIACOMINI, Sonia Maria. Mulher e escrava: uma introdução ao estudo da mulher negra no Brasil. Rio de
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PINHO, Osmundo. E eu não sou mulher? Sojourner Trurh. Portal Geledés. Disponível em: h�ps://www.
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RISÉRIO, Antônio. A utopia brasileira e os movimentos negros. 2.ed. São Paulo: Editora 34, 2012.
30
O LEGADO DA CULTURA PATRIARCAL PARA A
(IN)VISIBILIDADE DA MULHER EM SITUAÇÃO DE CÁRCERE
Osmar Veronese
Doutor em Direito Constitucional pela Universidad de Valladolid, ES, Professor de Direito
Constitucional da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI
(Graduação e Mestrado/Doutorado), e da Faculdade Cenecista de Santo Ângelo (IESA),
Santo Ângelo/RS. Coordena o projeto de pesquisa “Estado, Constituição, Diferença: olhares
críticos sobre a diversidade no constitucionalismo”, é líder do Grupo de Pesquisa “Direitos
de Minorias, Movimentos Sociais e Políticas Públicas”, com registro no CNPQ, vinculado ao
Mestrado/Doutorado em Direito da URI/Santo Ângelo/RS. Procurador da República. E-mail:
osmarveronese@gmail.com.
INTRODUÇÃO
Primeiramente, necessário esclarecer que o presente estudo não tem qualquer
pretensão de descriminalizar condutas ilícitas, compreendendo que a prisão/a
condenação a pena privativa de liberdade, mesmo sendo ultima ratio, é o poder
legítimo do Estado de punir o indivíduo transgressor da ordem. A abordagem
consiste em analisar a situação dos estabelecimentos prisionais, que em suma, são
precárias e desumanas, sem perspectiva de oportunizar a ressocialização do apenado.
Os infortúnios que existem nos estabelecimentos prisionais são diversos, como
superlotação, insalubridade, domínio das facções, proliferação de epidemias, ausência
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Muitas vezes, alguns comportamentos reprováveis, que expressam e intensificam
a diferenciação entre homens e mulheres, são difíceis de serem identificados, em razão
das suas reproduções reiteradas que acabam por torná-los naturais e inevitáveis.
Conformou-se com várias situações de evidente desigualdade, simplesmente, por
reproduzi-las de geração em geração, normalmente, camufladas por discursos
conservadores e preconceituosos. Em diversas oportunidades, sequer a mulher
percebe que está em situação de desigualdade, mesmo livres estão presas a
imposições/padrões sociais.
Enquanto persistir este pensamento hierárquico cultural, que classifica os
gêneros, a sociedade humana permanecerá desigualitária (LERNER, 2019). Todavia,
não se pode negar que indivíduos e sociedade estão em permanente processo
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estabelecimentos prisionais estão em verdadeiro colapso, não possuindo
condições dignas de promover a ressocialização do apenado, inegável estado de coisa
inconstitucional. O número de encarcerados, em crescimento vertiginoso, é uma
preocupação constante, vez que em conjunto tem-se a insegurança, o medo, a aflição,
a violência. Assim sendo, a temática merece ser discutida, eis que urgente e pulsante
um olhar para o público encarcerado, pelo fato das condições indignas e degradantes
dos estabelecimentos prisionais, bem como da incapacidade de abrigar todos os
sentenciados. Além da superlotação carcerária, deparamos com a problemática das
prisões não serem preparadas para abrigar mulheres.
O legado patriarcal ainda presente na sociedade contemporânea, inferioriza e
domina o sexo feminino, colocando a mulher em condição de defesa e luta constante.
Por estar a cultura preconceituosa e desigual arraigada no meio social, tem-se que o
patriarcado influencia tanto na vida em liberdade, quanto na vida encarcerada da
mulher. Apesar da positivação da igualdade entre homens e mulheres, o tratamento
desigual é evidente. Dessa forma, a mulher quando é encarcerada sofre duplamente as
violações de direitos e, principalmente, o abandono. Mesmo que o abandono chegue
na vida das mulheres muito antes do encarceramento, pois enquanto livres já estão
sentenciadas as amarras e padrões preconceituosos e dominantes,resquícios do legado
da cultura patriarcal, quando encarceradas a situação intensifica-se.
Portanto, na busca de responder ao questionamento proposto, qual seja em que
medida o legado patriarcal pode influenciar para o abandono (ou não) da mulher em
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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2014.
LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. Trad. Luiza
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2006.
PIOVESAN, Flávia; PIOVESAN, Luciana; SATO, Priscila Kei. “Implementação do direito à igualdade”. In:
Temas de direitos humanos. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 289-298.
SAFFIOTI, Heleieth.A mulher na sociedade de classes.3 ed. São Paulo: Expressão Popular: 2013.
WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos das mulheres. 1 ed. Trad. e notas de Andreia Reis
do Carmo. São Paulo: EDIPRO, 2015, p. 271.
SUMÁRIO
31
A MONITORAÇÃO ELETRÔNICA COMO INSTRUMENTO
AUXILIAR A EFETIVIDADE DE MEDIDAS PROTETIVAS ÀS
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
INTRODUÇÃO
O resumo busca avaliar o esforço Estatal para coibir a violência doméstica
contra mulheres e a possibilidade da concessão de medidas de proteção por
intermédio da utilização da monitoração eletrônica do agressor. No entanto, apesar
da monitoração eletrônica ser uma importante diligência, carece de cumprimento
efetivo, o que prejudica a finalidade de proteger e garantir a liberdade das vítimas.
De acordo com estatísticas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em
2022 foram concedidas 136.400 medidas protetivas, sendo que no primeiro
semestre de 2023 a soma ultrapassa o número de 40.150 (CEVID/TJRS, 2021). As
medidas protetivas têm um papel simbólico que se assemelham a “um escudo
protetivo” que serve para preservar a integridade física das vítimas que notificam
os abusos que sofrem. No entanto, o amparo institucional tem algumas limitações.
O problema que orienta a pesquisa pode ser sintetizado na seguinte pergunta: em
que medida os instrumentos de monitoração eletrônica podem ampliar o
cumprimento efetivo das medidas protetivas e como isso impacta diretamente na vida
das vítimas? Com base nos dados levantados a partir de um conjunto de pesquisas
realizadas sobre o tema na área do Direito Penal e da Ciência Política, refletidas na
bibliografia que dá sustentação ao presente estudo, torna-se possível afirmar que é
necessário um enfrentamento direto aos descumprimentos das medidas judiciais que
causam o desamparo às vítimas no pós-denúncia.
O objetivo geral do texto é analisar a proposta da Lei nº. 1781/2022 no que tange à
utilização da monitoração eletrônica no auxílio de cumprimento das medidas
protetivas em casos de violência doméstica (BRASIL, 2022).
Utilizou-se na pesquisa o método de abordagem hipotético-dedutivo, que
compreende um conjunto de análises que partem das conjunturas formuladas para
explicar as dificuldades encontradas para a solução de um determinado problema de
pesquisa. Sua finalidade consiste em enunciar claramente o problema, examinando
criticamente as soluções passíveis de aplicação (MARCONI; LAKATOS, 2022).
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta de Lei nº. 1781/2022 busca alterar artigo 22 da Lei Maria da Penha,
prevendo a possibilidade ao juiz de submeter o agressor à monitoração eletrônica,
concedendo à vítima o acesso à sua localização, com o objetivo de trazer maior
efetividade às medidas de proteção de urgência, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher. O cenário em questão, possibilitará que a vítima tenha à sua
disposição um dispositivo acionável – botão do pânico - para antecipadamente
contatar as forças de segurança pública (BRASIL, 2022).
A presente temática é expressamente relevante, visto que mesmo com a
determinação judicial da medida cautelar, ainda é questionável sua eficácia em
proteger a integridade física das vítimas, observando seu descumprimento corriqueiro
pelos agressores. É com base nesse parecer que Sousa (2021, p. 95) adverte:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a devida aplicação das medidas cautelares, por intermédio dos mecanismos
de monitoração eletrônica, é possível alcançar um cenário mais benéfico para
assegurar o direito de liberdade às vítimas de violência doméstica. Com a supervisão
dos agressores, as determinações judiciais de afastamento da vítima tornam-se mais
eficazes, e consequentemente, possibilitam que as vítimas tenham uma vida mais
segura.
Embora que a constante vigilância tenha consequências psicológicas e efeitos
sociais negativos na vida dos apenados e dos seus usuários, a monitoração eletrônica,
é uma alternativa benéfica tanto ao desencarceramento quanto na eficácia em proteger
as vítimas de violência domésticas. Posto isso, a monitoração eletrônica de pessoas
necessita de aprimoramentos e refinamentos para que atinja, de fato, o seu potencial
por completo, entretanto, pode ser considerada uma medida capaz de fornecer
segurança para possíveis violências futuras contra as mulheres em situação de
vulnerabilidade.
Palavras-chave: Monitoração eletrônica. Segurança pública. Violência doméstica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados PL 1781/2022. Brasília: Câmara dos Deputados, 2022.
Disponível em: h�ps://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2330470. Acesso em: 26 abr. 2023.
BRASIL. Lei Maria Da Penha. Lei N.°11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: h�p://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 maio 2023.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 8. ed. Barueri: Atlas, 2022.
SOUSA, Camila Pereira Belisario de. A sua paz e tranquilidade não tem preço: uma etnografia sobre
narrativas públicas de mulheres que denunciam violência doméstica. 2021. 119 f. Dissertação. (Mestrado em
Antropologia) - Programa de Pós-graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.
WERMUTH, Maiquel Â. D.; CHINI, Mariana; DA ROSA, Milena. (2021). Tecnologia de monitoração
eletrônica de pessoas no Brasil: análise de (in)efetivação de garantias fundamentais. Revista Do Instituto De
Direito Constitucional E Cidadania, 6(1), e025. h�ps://doi.org/10.48159/revistadoidcc.v6n1.e025
SUMÁRIO
32
A CARACTERIZAÇÃO DOS DECISORES JUDICIAIS NOS CRIMES
DE CORRUPÇÃO MILITAR
Francine Feldens
Analista do Poder Judiciário JMERS. Mestra em Ciências Criminais pela PUCRS. Especialista
em Processo Civil pela UFRGS. Graduada em Direito pela PUCRS e em Biblioteconomia
pela UFRGS. Integrante do GPESC/PUCRS e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Facilitadora de Círculos de Construção de Paz.
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa constitui um excerto da dissertação intitulada “DO PAR DE
TÊNIS AO PLANO DE PREVENÇÃO DE INCÊNDIO: um estudo das representações
sociais da punição entre os magistrados na Justiça Militar do Estado do Rio Grande do
Sul”, apresentada no PPGCCRIM da PUCRS. O excerto apresenta a caracterização da
prestação jurisdicional por gênero nos crimes de concussão, de corrupção ativa, de
corrupção passiva, de peculato e de peculato-furto, nos anos de 2015 a 2018. A
abordagem empregada para a execução desta investigação é qualitativa e consistiu em
um estudo de caso. O estudo é empírico e indutivo, pois as representações sociais
foram construídas a partir da análise das sentenças e dos acórdãos dos magistrados da
Justiça Militar do Rio Grande do Sul; com a complementação de dados empíricos
obtidos em entrevistas com esses sujeitos.
SUMÁRIO
24%
Homem
Mulher
76%
Tribunal de Justiça Militar Estadual é masculina. Resultado que está de acordo com os
dados, aqui apresentados, do Conselho Nacional de Justiça.
Gráfico 5 – Desembargador Militar relator do acórdão por sexo.
30%
Homem
Mulher
70%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados empíricos apresentados demonstram que o Primeiro Grau de jurisdição
da Justiça Militar do Rio Grande do Sul, com a predominância feminina entre os
prolatores de sentenças, contraria a pesquisa nacional do Conselho Nacional de Justiça
que apresenta um primeiro grau de jurisdição nacional com 61,2% de magistrados do
sexo masculino. Entretanto, o Segundo Grau da Justiça Militar vai ao encontro dos
dados nacionais. O crescimento do número de mulheres como magistrados cresce
lentamente conforme se depreende do Diagnóstico da Participação Feminina no
Judiciário Brasileiro. Ainda, no Poder Judiciário há muito espaço a ser conquistado
pelas mulheres, principalmente espaços de decisão institucional.
Palavras-chave: Sistema de Justiça Criminal. Justiça Militar. Corrupção Militar.
Decisão Judicial. Gênero.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Diagnóstico da Participação Feminina no Poder Judiciário.
Brasília-DF: CNJ, 2019. Disponível em: h�ps://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/
2019/06/42b18a2c6bc108168�1b978e284b280.pdf. Acesso em 22 jan. 2021.
FRAGALE FILHO, Roberto; MOREIRA, Rafaela Selem, SCIAMMARELLA, Ana Paula. Magistratura e
gênero: um olhar sobre as mulheres nas cúpulas do Judiciário brasileiro. E-cadernos CES [Online], [s. l.],
2015. Disponível em: h�p://journals.openedition.org/eces/1968. Acesso em: 23 jan. 2021.
SUMÁRIO
33
O PROTAGONISMO FEMININO DAS MULHERES NA
SOCIEDADE: uma análise do movimento red pill sob a
perspectiva do direito fraterno
Trabalho desenvolvido a partir das pesquisas de Trabalho de Conclusão de Curso feitas pela
autora Bruna Paschoal, sob orientação da Professora Gabrielle Scola Dutra, no âmbito do
eixo de pesquisa Direito Constitucional e temáticas contemporâneas da Faculdade de Balsas
(UNIBALSAS), Balsas/MA.
INTRODUÇÃO
A partir do contexto histórico e civilizacional de luta pela cidadania plena das
mulheres na sociedade e a busca pela efetivação dos seus direitos essenciais à vida,
igualdade e liberdade, se torna notória a atual base protecionista e igualitária a elas
garantida constitucionalmente, de modo a evitar os conflitos de gênero que se refletem
no cerceamento da liberdade, igualdade e da fraternidade. Todavia, existe grande
vulnerabilidade no contexto da fraternidade, dado ao individualismo incorporado no
conteúdo da humanidade pelo sistema patriarcal de domínio e exploração de vidas
humanas.
Nesse enredo, a temática da pesquisa centra-se no protagonismo feminino das
mulheres e no movimento Red Pill. Assim, o objetivo geral é abordar o protagonismo
feminino das mulheres na sociedade a partir de uma análise do movimento Red Pill
sob a perspectiva do Direito Fraterno, base teórica desenvolvida pelo jurista italiano
Eligio Resta, materializada na década de 90 na obra Il Diri�o Fraterno. A metodologia
a ser desenvolvida na presente pesquisa será pelo método de abordagem hipotético-
dedutivo e por uma análise bibliográfica, no qual serão observados os fundamentos
do movimento Red Pill e as diversas consequências de seu extremismo para o
protagonismo feminino das mulheres.
Com a finalidade de analisar a problematização levantada pelo movimento Red
Pill e as consequências sociais e jurídicas refletidas no protagonismo feminino das
mulheres na sociedade, esta pesquisa será desenvolvida em perfil exploratório, na
pretensão de compreender a essência radical e extremista do movimento em questão,
decifrando os desígnios que buscam justificar o número exacerbado de adeptos que
apoiam a violência contra as mulheres. Consequentemente, após toda essa sondagem
exploratória, tornar-se-á inequívoca a falácia da misandria alegada nas falas centrais
do movimento Red Pill, bem como a inescrupulosa e dissimulada misoginia, na qual
se busca sustentar o despertar dos homens para o sistema.
Nesse sentido, a sociedade está em contínuo processo transformador, e alguns
movimentos, em sua essência, apresentam radicalização e extremismos em sua
narrativa. É o que ocorre atualmente com o movimento Red Pill, revelando, em sua
natureza, a falaciosa misoginia camuflada, e afastando a operacionalização da
dimensão fraterna. Diante da dinâmica conflitiva que se instaura entre o sistema
patriarcal e o protagonismo feminino das mulheres na sociedade, questiona-se: é
possível analisar o movimento Red Pill sob a perspectiva do Direito Fraterno?
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A título de conclusão, diante do protagonismo feminino das mulheres na
sociedade, percebe-se que é possível analisar o movimento Red Pill sob a perspectiva
do Direito Fraterno. Sendo assim, “pelas mãos da fraternidade” almeja-se a
(re)constituição de um espaço comum compartilhado, a humanidade, desvendando
os paradoxos dos direitos humanos por intermédio da Metateoria do Direito Fraterno,
como meio inclusivo, pactuado entre iguais e, acima de tudo, não-violento.
Nessa perspectiva, aposta-se na fraternidade como uma nova possibilidade de
incorporação no mundo real e, diante da problemática apresentada, reafirma-se que a
fraternidade detém potencialidade de incorporar seu conteúdo no espaço da
humanidade para que haja o protagonismo feminino das mulheres na sociedade,
afastando os atos de misoginia camuflada promovidos pelo movimento Red Pill.
Palavras-chave: Direito Fraterno. Feminismo. Movimento Red Pill. Protagonismo
Feminino.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. 36. ed. São
Paulo: Rideel, 2023.
RESTA, Eligio. Direito Fraterno. Tradução: Bernardo Baccon Gehlen, Fabiana Marion Spengler e Sandra
Regina Martini. 2. ed. Santa Cruz do Sul: Essere Nel Mondo, 2020.
VIAL, Sandra. Direito fraterno na sociedade cosmopolita. Revista do Instituto de Pesquisa e Estudos de
Bauru, p. 119-134, dez. 2006. Disponível em: h�ps://core.ac.uk/download/pdf/79069559.pdf. Acesso em: 02
mar. 2023.
SUMÁRIO
34
JUSTIÇA RESTAURATIVA E A SAÚDE MENTAL DAS
TRABALHADORAS: construção de ambientes seguros para a mulher
no trabalho numa perspectiva de justiça restaurativa
INTRODUÇÃO
Saúde e segurança no trabalho são direitos constitucionalmente garantidos no
Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde o conceito de saúde abrange a
higidez física, mental e social, traduzindo um estado de completo bem-estar. A
Organização Internacional do Trabalho alinha-se ao conceito, ditando o propósito de
manutenção do mais elevado nível de saúde física, mental e social de todos os
trabalhadores.
Muito se tem falado sobre os efeitos das relações entre trabalho e as dinâmicas
sociais do mundo atual, que nos exige produtividade, atualização de saberes e
capacidades sempre no potencial máximo, sob pena de perder espaço, tornar-se
obsoleto.
SUMÁRIO
1 Termo cunhado pelo filósofo HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini.
Petrópolis: Vozes, 2017.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As mulheres conquistaram o acesso ao mercado de trabalho, onde desempenham
o viés produtivo da sua jornada, tendo galgado, inclusive, algumas posições de chefia
e lugares de decisão na política e na sociedade. Esse importante avanço das lutas
feministas, contudo, infelizmente não veio acompanhado da necessária divisão ou
redistribuição do trabalho reprodutivo, traduzido pela geração, criação, educação de
filhos, por exemplo, nem das demais tarefas que o trabalho do cuidado socialmente
atribui à seara feminina (FEDERICI, 2019).
O acúmulo de funções domésticas, sociais e de trabalho produtivo colocam as
trabalhadoras mulheres num lugar de constante tensionamento entre as exigências
laborais e as domésticas. Some-se a isso as corriqueiras violências de gênero sofridas
no ambiente de trabalho, o que inclui os casos de assédio moral e sexual e resta
delineado o quadro de malabarismo mental a que as mulheres, especialmente as mães,
estão sujeitas.
Nesse cenário, as práticas restaurativas, com seus pilares no ambiente seguro de
fala e escuta, no não julgamento, na validação das emoções individuais e no
acolhimento das necessidades, por exemplo, por meio de círculos de construção de
paz (PRANIS, 2010) aparecem como espaços de fortalecimento emocional, por
proporcionarem modos de elaboração das dores tipicamente femininas. A justiça
restaurativa “possibilita um espaço de ressignificação às pessoas envolvidas pelo ato
delituoso, ligadas pelo sentimento de cooperação e responsabilidade”, sendo que os
encontros e dinâmicas restaurativas utilizam-se da “comunicação não violenta e dos
círculos de construção da paz, e priorizam a harmonia e o (r)estabelecimento da
comunicação e das relações sociais entre os cidadãos” (PORTO; COSTA, 2014, p. 98).
Conquanto nem sempre estejamos diante de conflitos, propriamente ditos, no
ambiente de trabalho - ou estamos imersas adaptadas à condição cotidiana conflitiva
que nem mesmo os reconhece como tal -, utilizar-se de práticas e conceitos de justiça
restaurativas para abordagem de relações de trabalho mostra-se alinhado com a
promoção de saúde integral da saúde, no sentido de promoção de bem-estar
psicológico das trabalhadoras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
Verificamos que as exigências sociais estão cada vez mais intensas sobre os
trabalhadores, fato que vem gerando adoecimentos, especialmente de mulheres, que
ingressaram no mercado de trabalho, mas não restaram liberadas das atividades
domésticas.
Constatamos que a saúde mental das mulheres sofre tensionamentos pelo
acúmulo de papéis sociais a que essas são submetidas, agravadas pelas corriqueiras
violências de gênero presentes nos ambientes laborais, por vezes redundando em
assédio moral e sexual.
Apresentamos a justiça restaurativa como um potencial caminho de promoção de
bem-estar no ambiente de trabalho, face aos pilares em que se pauta, como a
construção de espaços seguros de fala e escuta, livres de julgamento.
Diante dos estudos até então desenvolvidos no atual estágio da pesquisa,
pudemos concluir que a justiça restaurativa agregaria ferramentas de elaboração dos
sofrimentos emocionais a que as mulheres trabalhadoras estão submetidas.
Palavras-chave: Gênero. Saúde Mental. Trabalho. Justiça Restaurativa.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmund. Modernidade líquida. Zahar. São Paulo, 2001.
CORBANEZI, Elton. Sociedade do cansaço. Tempo social, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 335-342, Dec. 2018 .
Disponível em: h�p://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar�ext&pid=S0103-
20702018000300335&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 09 ago. 2022.
DEJOURS, Cristophe. Psicodinâmica do trabalho: casos clínicos. Dublinense: São Paulo, 2017.
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. Tradução
Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2019.
FERREIRA, Ivanir. (2021) Mulheres foram mais afetadas emocionalmente pela pandemia. Jornal da USP.
Disponível em: h�ps://jornal.usp.br/ciencias/mulheres-foram-mais-afetadas-emocionalmente-pela-
pandemia/. Acesso em: 09 ago. 2022.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.
OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em
Administração. Catalão: UFG, 2011.
SUMÁRIO
OXFAN. Tempo de cuidar: O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da
desigualdade. Reino Unido: Oxfan International, 2020.
PORTO, Rosane T. C, Justiça Restaurativa & gênero: por uma humanização que desarticule a violência.
Multi Ideia. 2014
PRANIS, Kay. Processos Circulares de construção de paz. Tradução Tônia Van Acker. São Paulo: Palas
Athena, 2010.
SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. Mito e realidade. 3ª. Ed. São Paulo: Expressão
Popular.
SANTOS, Boaventura de Souza. Una concepción multicultural de los Derechos Humanos. Revista
Memoria. Nº 101. Julio, 1997.
SANTOS, Boaventura de Souza; MENESES, Maria Paula (organizadores). Epistemologias do Sul. Coimbra:
Almedina, 2009.
SCHUCH, Patrice. Direitos e Afetos: Análise Etnográfica da “Justiça Restaurativa” no Brasil. 30º Encontro
Anual da ANPOCS, 2006.
ZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 1ª ed. 2012.
35
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA: o neoliberalismo e as novas
técnicas psicopolíticas de violência contra mulher
Juliana Porciuncula
Doutoranda em Direitos Humanos UNIJUI, Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento. Líder
Nacional do Projeto Justiceiras. Integrante do Grupo de Pesquisa Biopolítica e Direitos
Humanos. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul -UNIJUI,
Rio Grande do Sul – Brasil. ORCID iD: h�ps://orcid.org/0000-0003-0205-1939. La�es: h�p://
la�es.cnpq.br/3706459377501784 E-mail: julianaporciuncula@yahoo.com.br.
INTRODUÇÃO
O presente artigo analisa a violência contra a mulher e suas interlocuções com as
técnicas de poder sob o viés da psicopolítica e do neoliberalismo, pelas lentes do
filosofo Byung-Chul Han.
Neste ínterim, questiona-se: o aumento da violência psicológica contra a mulher
poderia ser considerado um sintoma do incremento desta forma de poder típica da
contemporaneidade chamada psicopolítica? Para responder o questionamento,
estuda a obra do filosofo sul-coreano acerca desta forma de poder, e aprofunda os
estudos acerca da violência psicológica recentemente tipificada no Brasil.
A metodologia adotada mescla análise e interpretação. Pela análise, esclarecem-se
conceitos, atentando para suas interligações ao tema proposto. Através da
hermenêutica, interpretam-se as relações de poder do sistema patriarcal que foi criado
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações de poder do sistema patriarcal foram criadas para assegurar a
dominação masculina, visando manter as mulheres subordinadas, percebe-se a
violência psicológica como uma das técnicas de manutenção do poder, por meio desta,
as mulheres muitas vezes seguem aliadas a violência que sofrem, saindo em defesa do
grupo que as oprime e violenta.
SUMÁRIO
A socialização feminina, faz com que mulheres aplaudam o discurso dos homens,
e que acreditem que eles irão as salvar dos abusos praticados por eles mesmos. Todos
esses fatores podem ser considerados à luz do incremento da psicopolítica como
formas de poder típicas do nosso tempo, uma vez que, a técnica psicopolítica de
dominação do regime neoliberal é a exploração da psique. As mulheres precisam se
unir para que possam dar nome a violência sofrida, uma vez que a percepção dos
próprios limites é nublada e distorcida pela sociedade e pelo Estado.
Palavras-chave: Psicopolítica. Neoliberalismo. Direitos Humanos das Mulheres.
Violência Psicológica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 14.188, de 28 de Julho de 2021. Dispõe sobre a violência psicológica como crime. Brasília (DF),
2021.
FREUD, Sigmund. (1920b). Além do princípio de prazer. Edição Standard Brasileira das Obras Completas
de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
HAN, Byung-Chul. Psicopolítica – O neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Ed. Ayine, 2020.
HIRIGOYEN, M.F. A violência no casal: da coação psicológica à agressão física. Rio de Janeiro, Bertrand
Brasil, 2006.
NIELSSON, Joice Graciele. WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. O domínio do corpo feminino: uma
abordagem da dimensão pública da violência contra a mulher no Brasil. Revista Brasileira de Estudos
Políticos, Belo Horizonte, n. 123. pp. 539-580, jul./dez. 2021.
RAMOS, Ana Luisa Schmidt. Violência psicológica contra a mulher: o dano emocional e aspectos criminais.
3 ed. Florianópolis/SC. EMais, 2022.
SOUZA, Flavia Bello; DREZZET, Jefferson; MEIRELLES, Alcina; RAMOS, Denize. Aspectos psicológicos de
mulheres que sofrem violência sexual. SBRH, 2013.
SILVA LIMA, S.; RODRIGUES, J. A violência contra a mulher na perspectiva da Psicologia: uma revisão
bibliográfica. Revista de Psicologia, v. 13, n. 1, p. 139 - 153, 1 jan. 2022.
TRINDADE, Z.A. Apresentação. In: Alvim, S.A., Souza, L. Homens, mulheres e violência. Rio de Janeiro:
Noos. 2005, 143p.
VOLKMANN, F.; SILVA, E. da. A VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA MULHER LEI 11.340/2006: Lei
Maria da Penha. Cadernos Zygmunt Bauman, [S. l.], v. 10, n. 23, 2020. Disponível em: h�ps://
periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/view/1411 Acesso em: 22 out. 2022.
SUMÁRIO
36
APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM
ADOLESCENTES QUE VIVENCIAM A VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA NO LAR
INTRODUÇÃO
Com o advento da Lei 11.340/2006 a violência de gênero passou a ter mais
visibilidade na sociedade brasileira em virtude do seu maior extremo de violação de
direitos humanos: o feminicídio, diga-se de passagem, passou a ser intolerável.
Infelizmente a violência contra a mulher é um grave problema social que vem
aumentando com o passar do tempo e, esse aumento, se dá em razão da cultura
machista presente em nosso país.
Dito isso, destaca-se que geralmente esta violência é cometida por outro homem
(geralmente companheiro ou ex companheiro) no âmbito doméstico.
Partindo da análise de que a vítima, na maioria dos casos de violência doméstica
é mãe dentro dos lares brasileiros, provavelmente e, possivelmente, os filhos
assistiram e conviveram com tais violências (física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral), a prática restaurativa seria uma possibilidade de restauração e reintegração
desse adolescente que representa um grave problema social.
SUMÁRIO
Dessa forma, cabe ressaltar que nem todas as agressões chegam ao nível extremo,
entretanto, deixam sequelas para o resto da vida do sujeito que as sofre. Por outro lado,
existem crianças e jovens que ficam “órfãos” por conta do feminicídio, pois o
companheiro mata a mãe, o pai vai preso e, diante deste cenário, questiona-se: como
ficam estes filhos? existe um amparo? O Estado enxerga essas pessoas? essa situação
que hoje parece ser invisível para a sociedade e é nosso dever mostrar o quanto é
importante ter projetos que abracem estas crianças.
Nesse sentido, percebe-se uma lacuna na literatura brasileira, na mídia, nas
políticas públicas, nas ações, ao abordar apenas os efeitos da violência direta contra a
criança e não as consequências para os filhos da violência de pais ou padrastos contra
a mãe.
Em contraposição a essa concepção de violência, cresce a ideia da justiça
restaurativa, adotando o paradigma restaurativo como um modelo mais humanizado,
capaz de combater altos índices de reincidência criminal, só que voltados a esses,
muitas vezes, “órfãos do feminicídio” para solucionar conflitos, eventuais traumas
derivados do crime que atingiu a família, permitindo-lhe a reapropriação do conflito
avocado pelo Estado soberano, limitando o exercício de poder do sistema penal e
substituí-lo por formas efetivas de solução de conflitos, e, assim, reforçar os laços e
sentimentos de solidariedade social, outrora rompidos.
Portanto, o resumo expandido visa analisar a possibilidade de aplicação de
elementos da justiça restaurativa enquanto política pública capaz de humanizar,
atender e proteger os adolescentes filhos de mulheres vítimas de violência doméstica
e feminicídio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A violência doméstica não é somente contra uma mulher e, sim, intrafamiliar. Os
números são alarmantes sobre o aumento do feminicídio e dos casos de violência
doméstica no Brasil, seja através de televisão, revistas, jornais e até mesmo na vasta
rede de computadores.
Dito isso, cumpre referir que com o advento da Lei 11.340/2006 a violência de
gênero passou a ter mais visibilidade na sociedade brasileira em virtude do seu maior
extremo de violação de direitos humanos: o feminicídio, diga-se de passagem, passou
a ser intolerável
Nesse sentido, bem como já se faz presente a justiça restaurativa na resolução dos
conflitos de violência doméstica, e por portar estas semelhanças com a violência
intrafamiliar, tal método se faz presente na busca pela recomposição das famílias
brasileiras e deve defender as crianças e os adolescentes, assistindo-os e resguardando-
os, a fim de se buscar obter o crescimento destes de forma saudável e socialmente
civilizadas.
Por fim, a justiça restaurativa vem com pressupostos que viabilizam uma melhor
forma de resolução de conflitos, sendo neste sentido a melhor forma para que se
consiga atingir a solução para todas as situações possíveis e superações de traumas,
deixando de lado aquela visão que trabalha apenas em cima da visão de punir tão
somente, buscando-se restaurar portanto, como se faz necessário na violência
intrafamiliar os danos sofridos pelos jovens que vivenciam a violência doméstica
diariamente no lar.
Contudo, a justiça restaurativa faz-se presente no ordenamento jurídico brasileiro
de forma a melhor resolver os conflitos decorrentes de violências, englobando tanto as
contra mulheres quanto as contra adolescentes. Necessitando de reparação portanto
os conflitos existentes entre marido/companheiro/namorado e esposa/companheira/
namorada, pais e filhos, filhos e pais, entre irmãos, sendo as pessoas que conhecem e
matem relações afetivas as principais personagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a obtenção e análise de dados constatou-se uma escassez de obras na
literatura, de ações ou políticas públicas voltadas para os filhos inseridos dentro do
contexto de violência doméstica.
Buscou-se, então, verificar a possibilidade da aplicação ou não da justiça
restaurativa na violência intrafamiliar, mais precisamente aos adolescentes que
vivenciam a violência doméstica no lar, tendo por base suas semelhanças com a
violência doméstica que já é supervisionada pelo referido instituto. De forma que esta
mesma não viola os direitos e garantias oriundos dos princípios constitucionais
penais, sendo, portanto, compatíveis com a utilização de práticas restaurativas.
Deste modo, conforme referido acima, este mesmo instituto, possibilita a solução
dos conflitos existentes. Desta maneira, conclui-se que a justiça restaurativa é uma
modernização do sistema jurídico, frente as alternativas do atual modelo criminal, de
modo não substituir o processo penal, mas sim, entender que é possível se chegar a
diferentes respostas aos conflitos existentes.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
LIMA, Rodson Santos; NETO, Antonio Graça; Júnior, César Augusto. A aplicabilidade da Justiça
restaurativa na violência intrafamiliar. UNIBALSAS. 2018
PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. Justiça restaurativa: da teoria à prática. São Paulo: IBCCRIM,
2009.
VERONESE, JOSIANE PETRY. Lições de Direito da Criança e do Adolescente. editora Fi. vol. 2. 2022
37
APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM
ADOLESCENTES QUE VIVENCIAM A VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA NO LAR
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, no Brasil, têm adquirido notoriedade a instituição de políticas
armamentistas, sob a justificativa de paz e segurança pública. No entanto, entre os
anos de 2019 a 2022, tivemos um crescente aumento na ocorrência de chacinas e
massacres, executadas através da utilização de arma de fogo, que por coincidência, o
mesmo período é marcado pela facilitação do acesso às armas país.
Essa modalidade de violência é relevante para os direitos humanos, na medida
em que viola o direito fundamental à vida, bem como o direito à educação. Ademais,
a chacina em escolas pode ter motivações discriminatórias e preconceituosas, o que
configura uma violação dos direitos humanos de igualdade e não-discriminação.
Esse ataque violento gera um impacto significativo na sociedade, instaurando um
clima de insegurança e medo aos país ao enviarem seus filhos para a escola. Esse
evento motiva uma perda de confiança nas instituições de ensino e no sistema de
justiça, e reduz o acesso à educação.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Inicialmente, entre os anos de 2019 a 2022, o Governo Bolsonaro, instituiu mais de
40 atos normativos que facilitam de maneira direta a posse de armas de fogo, o que
significa dizer que as políticas previstas pelo Estatuto do Desarmamento foram
relaxadas, facilitando desta forma o acesso direto à armas de fogo no Brasil,
permitindo que o cidadão comum tenha esse acesso sem uma devida comprovação de
efetiva necessidade, limitando-se apenas ao discurso de que as armas promovem a
segurança social (FBSP, 2022).
Como resultado das iniciativas promovidas na era Bolsonaro, o país enfrentou
um grande aumento na difusão de armas e munições, que de acordo com o Sistema de
Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA), no ano de 2019 o Brasil teve o registro e
93.452 novas armas de fogo; no ano de 2020, 161.686 novos registros de arma de fogo;
e, em 2021, 279.889, novos registros de arma de fogo. É importante ressaltar que dentre
esses registros, muitos foram intermediados para o crime organizado, facilitando
ainda mais o acesso de armas de alto potencial ofensivo à criminalidade (FBSP, 2022).
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública - 2022 (FBSP, 2022), menciona que
estamos armados e sem controle, pois a cada 3 armas registradas, 1 encontra-se em
situação irregular, o que significa dizer que no ano de 2022 cerca de 1.542.168 armas de
fogo estariam com seus registros expirados.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2022), quanto a
legislação armamentista pós 2019, se não houvesse o aumento de armas de fogo em
SUMÁRIO
circulação no país, teríamos evitado cerca de 6.379 homicídios, entre 2019 e 2021, e,
portanto, tal número refuta o argumento de promoção à segurança pública atrelada ao
discurso pró-armas. Já o anuário menciona que as armas de fogo permanecem como o
principal instrumento utilizado para matar, e, portanto, os números demonstram que
o referido instrumentou fez consumar-se 98,4% das mortes decorrentes de inquérito
policial; 75% dos homicídios dolosos; 65,9% dos latrocínios; e, 11% das lesões corporais
seguidas de morte, todos, entre os anos de 2019 a 2020 (FBSP, 2022).
Segundo o fórum, a ampliação da quantidade de armas impediu a queda da
letalidade violenta, e por essa razão, lastreia uma necessidade urgente no que diz
respeito a uma revisão legislativa sobre o discurso pró-armas, de modo a revogar na
totalidade os dispositivos infra legais que facilitaram o acesso para o cidadão comum.
Mister ressaltar que, quanto maior o aumento da circulação de armas nas mãos
da população, maior será a migração delas para o mercado ilegal. De acordo com o
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 1% a mais na difusão de armas, há um
aumento de 1,1% na taxa de homicídios; quanto a ocorrência do latrocínio, a pesquisa
constatou que a cada 1% de aumento no acesso a armas de fogo, a taxa de latrocínio
teria aumentado cerca de 1,2% (FBSP, 2022).
No ano de 2021, 76,0% das mortes violentas intencionais deram-se à partir da
utilização de arma de fogo, em contrapartida, apenas 17,6% ocorreram através da
utilização de arma branca, e 6,4% por demais instrumentos (FBSP, 2022).
Evidencia-se que o acesso facilitado e irrestrito às armas coloca em “xeque” a
vida, bem como, os índices constatados estatisticamente pelo fórum brasileiro,
demonstram uma falácia do argumento pró-armamentista de que o acesso
possibilitaria a redução dos crimes contra o patrimônio e à propriedade, pelo
contrário, houve um aumento na taxa de mortalidade em decorrência de crimes
armados contra a vida.
O discurso falacioso de uma política de proteção e pró-armamento, nos trouxe
como resultado, nos últimos anos o aumento brutal da letalidade, e com isso, palavras
como chacinas e massacres tem ganhado notoriedade em nosso país, aparecendo com
frequência nos jornais e noticiários da população brasileira.
De acordo com a literatura internacional, em grande maioria, aquelas pessoas que
possuem o acesso a arma de fogo, tendem a dar também respostas violentas para a
solução dos conflitos interpessoais, sendo assim, instaura-se o caos da violência. Não
menos importante, quanto maior o número de armas de fogo em circulação, maior
será o benefício as organizações criminosas, o que significa dizer que a arma ainda que
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desarmamento é uma política de combate às chacinas escolares. A
disponibilidade de armas de fogo aumenta a probabilidade de ataques violentos,
especialmente em ambientes escolares. Portanto, ao restringir o acesso a armas de
fogo, pode-se reduzir a ocorrência de ataques e diminuir o número de vítimas.
O Brasil necessita revisão urgente na legislação armamentista, com uma possível
revogação dos dispositivos infra legais que facilitam o acesso do cidadão comum as
armas de fogo, de modo a combater a letalidade que vem nos acompanhando nos
últimos 4 anos. Tais danos, ainda que irreversíveis, necessitam de um olhar crítico de
prevenção e reparação futura do aumento da cultura de violência instaurada em nosso
país.
Desarmar a população não significa dar segurança aos atos criminosos, ao
contrário do que se pensa, impede a alta de demanda de aquisição de armas que
SUMÁRIO
passam das mãos da população para as mãos das organizações criminosas, e em razão
disso, possíveis mudanças positivas anunciariam a aproximação do fim a barbárie,
aliada a uma nova política de segurança pública, vigilante e digna no que diz respeito
a efetiva proteção à vida.
Em suma, o desarmamento é uma política que pode ser considerada como parte
de uma abordagem mais ampla para combater a violência em escolas, incluindo a
promoção de uma cultura de paz e o fortalecimento das instituições educacionais,
melhorando do acesso à educação e aos direitos fundamentais para a construção de
uma sociedade harmônica que englobem conceitos de justiça social, bem-estar,
igualdade e fraternidade.
Palavras-chave: Armas. Chacinas escolares. Homicídios. Risco Social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERQUEIRA, Daniel Ricardo de Castro; MELLO, João Manoel Pinho de. Menos armas, menos crimes.
Texto para Discussão (TD) 1721. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 2012.
DUGGAN, Mark. More guns, more crime. Journal of Political Economy, 2001, vol. 109, no. 5. MANSO,
Bruno Paes; DIAS, Camila Nunes. A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil. Todavia;
1ª edição, 2018.
FBSP, Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Armas de fogo e homicídios no Brasil. ISBN 978-65-89596-
26-4. 2022.
FBSP, Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 2022. Ano 16 –
2022. ISSN 1983-7364.
VELOSO, Natália. PIMENTEL, Juliana. Brasil teve 5 ataques com mortes em escolas em 2022 e 2023. Poder
360. Disponível em: h�ps://www.poder360.com.br/brasil/brasil-teve-5-ataques-com-mortes-em-escolas-em-
2022-e-2023/. Acesso em: 08 mai 2023.
SUMÁRIO
38
E SE NÃO FOSSE MARÍLIA? E SE FOSSE MARIA?
Resumo realizado com o intuito de servir de base para futuro estudo melhor aprofundado
acerca da violação do direito à imagem, direito ao esquecimento no Brasil e o caso
envolvendo a cantora Marília Mendonça.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a Constituição Federal do Brasil de 1988 e as previsões internacionais
de direitos do homem preveem um amplo rol de direitos fundamentais que devem ser
protegidos e respeitados de forma unânime. O artigo 5º, inciso V, da Carta Magna,
assegura o direito indenizatório em caso de dano material, moral ou à imagem. Além
disso, o inciso X, também da Lei Maior, assegura que são invioláveis a intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Diante dessa previsão legal conclui-se que a proteção à imagem e à honra é
inerente a todos os cidadãos, uma vez que o texto legal é claro ao se referir às pessoas.
O que se verifica, portanto, é que o uso dessa proteção não impõe qualquer distinção
SUMÁRIO
entre os seres humanos, e que ela pode ser usufruída tanto por homens, mulheres,
adultos, crianças, adolescentes, idosos, brancos, negros, pardos, enfim, por qualquer
pessoa. Ou seja, ela constitui um direito de todos, amplamente assegurado.
Com o passar dos anos, todavia, a proteção e a inviolabilidade de tais direitos
passaram a ser mais custosos. O avanço tecnológico – que trouxe inúmeros benefícios
– fez com que as pessoas passassem a ter amplo e irrestrito acesso a tudo, em qualquer
lugar onde estejam. Infelizmente, muitos não sabem utilizar tais ferramentas com
cautela, com respeito ao próximo e até mesmo com atenção às questões éticas e morais.
Recentemente, em 13 de abril de 2023, a sociedade brasileira reviveu uma atitude
já ocorrida em meados de 2015, quando houve o óbito do cantor sertanejo Cristiano
Araújo. Desta vez, a vítima foi a cantora, também sertaneja, Marília Mendonça, cujas
fotos de sua necrópsia foram vazadas e distribuídas a quem interessava vê-las. Não se
sabe e, inclusive, acredita-se ser difícil algum dia descobrir a motivação das pessoas
que divulgam tais imagens, uma vez que constitui real desrespeito e humilhação à
imagem e à honra de pessoas admiradas e que partiram para outro plano.
Verifica-se, portanto, novo episódio envolvendo pessoas famosas, desta vez em
um lapso temporal inferior a uma década. O fato é assustador e repugnante e, por isso,
merece um olhar atencioso e contrário ao que vem ocorrendo: o respeito aos mortos,
independentemente de sua classe social ou ocupação profissional, de modo que
qualquer atitude capaz, eventualmente, de ferir a sua imagem e/ou honra não deve
sequer ser cogitada.
Assim sendo, o presente estudo se dedicará a analisar os seguintes aspectos,
ainda que sucintamente, de modo a fundamentar futura pesquisa mais
pormenorizada: violação à imagem e à honra; e eventual aplicabilidade do direito ao
esquecimento. A questão-problema que se buscará responder com essas questões é: e,
se não fosse Marília, e se fosse Maria, isso teria ocorrido e despendido a atenção
significativa de tantas pessoas? Para tanto, utilizar-se-á, excepcionalmente, de
pesquisa bibliográfica, além de possível análise de entendimento jurisprudencial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto à previsibilidade e garantia do direito à honra e à imagem verifica-se que
a legislação é ampla e clara. Corrobora tal direito a análise de Novelino (2019, p. 383)
que, ao se referir ao direito à imagem, aduz que este impede, prima facie, sua captação
e difusão sem o consentimento da própria pessoa. Acrescenta o autor que a proteção
desse direito é autônoma em relação à honra, devendo ocorrer ainda que não haja
ofensa à estimação pessoal ou à reputação do indivíduo.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se verifica, infelizmente, é que apesar da ampla proteção dos direitos
fundamentais, eles permanecem sendo violados diariamente. Apesar de o presente
estudo ter se dedicado a um caso de conhecimento internacional, tem-se ciência de que
isso ocorre corriqueiramente com aqueles que ocupam as mais diversas áreas
profissionais, e não apenas com pessoas famosas. Assim, é possível concluir que, da
mesma maneira como o direito à imagem e à honra são inerentes a todos os cidadãos,
sua violação também ocorre de maneira indistinta.
Destaca-se, então que, não se tratando de vítima famosa, ou até mesmo de uma
mulher famosa, tais delitos passam invisíveis. Ou seja, é preciso que o olhar se volte a
esses casos, mesmo que partam de situações que envolvem a fama, justamente para
evitar, ainda que minimamente, que tais situações se tornem normais e de plena
aceitabilidade por todos.
Palavras-chave: Direitos fundamentais. Direito à imagem. Direito à honra. Direito
ao esquecimento. Marília Mendonça.
REFERÊNCIAS
BRASIL (Constituição, 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
h�ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 maio 2023.
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo: Juspodivm, 2019.
TWITTER. Marília Mendonça. Publicado em: 13 ago. 2019. Acesso em: 05 maio 2023.
WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro:
Rosa dos Tempos, 1990.
SUMÁRIO
39
CORPOS TRANS, BIOPODER E O (NÃO) DIREITO À CIDADE
INTRODUÇÃO
As Transidentidades, ou, as corpas Trans, por intermédio de suas vivências e
resistências buscam, diuturnamente, ultrapassar a visão de mundo (ainda) pautada no
binarismo de gênero, justamente por compreenderem que a manutenção desta norma
(de matriz heterossexual) tem suas raízes fincadas no colonialismo e no patriarcado, os
quais buscavam (e buscam) higienizar a sociedade, deixando à margem o que (e
quem) era (é) visto como “imoral”. Neste contexto, as mulheres que se afirmam
SUMÁRIO
enquanto Trans, são, antes de tudo, corpas descolonialistas e não-binárias, uma vez
que suas vivências se constroem para além da polaridade macho-fêmea e das esferas
de dominação e invisibilidade. Nesta perspectiva compreende-se que o biopoder e
seus mecanismos de ação podem, em alguma medida, não somente reforçar práticas
que violação e subalternização dos corpos e sexualidades, mas, ao mesmo tempo,
fortalecer a ideia de que alguns indivíduos permaneçam no limbo da sociedade, nos
não-lugares.
Partindo destas premissas, este resumo expandido busca compreender e
responder a indagações que se detém em analisar de que forma (e se) o modelo binário
(ainda) existente na sociedade produz não-lugares destinados às corpas Trans.
Objetiva-se adentrar nesta reflexão justamente por se defender que, na atualidade, não
se compreende possível que estas mulheres sejam deixadas à margem, tão somente
por buscarem viver e sentir a existência distantes do modelo binário pré-determinado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ao longo desta reflexão teórica, observou-se que o caminho a ser percorrido
almejando avançar-se socialmente para um ideal de se compreender as (Trans)
identidades, haverá de se romper com a ideia de que estes sujeitos (mulheres Trans)
“habitam no corpo errado”, ou, ainda, que suas formas de expressão identitárias não
são válidas, partindo, então, para o reconhecimento de suas diferenças como parte de suas
identidades, como a geografia de seus corpos, pois assim, se caminhará para a garantia
de que homens e mulheres Trans possam viver com dignidade, cidadania e,
igualmente, com o sentimento de pertencimento a uma sociedade que deveria ser de
todos, sem qualquer hierarquia identitária.
Há que se desenraizar de uma luta por esta ou aquela identidade como
predominante e única, e perceber, na diferença, uma potencial ferramenta para uma
sociedade plural, diversa e democrática, livre de sanções sociopolíticas a quem é
diferente do que se compreende como ideal identitário, o que pode se dar, em um
primeiro momento, por meio do reconhecimento da alteridade como mola propulsora
para compreender os novos contextos identitários, os quais não buscam a dominação
sobre identidades binárias e, sim, partem da premissa de que o direito à liberdade de
seus corpos seja reconhecido.
Uma sociedade efetivamente plural, livre e democrática precisa romper com toda
e qualquer lógica que reconheça apenas pessoas cis e heterossexuais como capazes de
viver de forma plena e reconhecida, acessando todos os espaços sociais. A diversidade,
o reconhecimento e a liberdade de ser quem se é, precisam, urgentemente, tornarem-
se realidades palpáveis e possíveis. Por mais vidas Trans, por mais alteridade, por
mais cidadania.
Palavras-chave: Corpos Trans; biopoder; (não) direito à cidade.
SUMÁRIO
REIS, Neilton. Gêneros não-binários: identidades, expressões e educação. Revista Reflexão e Ação, Santa
Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 7-25, Jan./Abr. 2016.
SAQUET, Marcos Aurélio. Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos -1. ed. São Paulo:
Expressão Popular: UNESP. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2009.
SOUZA, Aedan Dougan Marques de. O corpo transgênero e o direito brasileiro: uma breve análise do
sistema jurídico brasileiro a respeito do não binário. Revista Docência e Cibercultura. Rio de janeiro. v. 3,
n.2, agosto de 1997.
TRINDADE, Thiago Aparecido. Direitos e Cidadania: reflexões sobre o direito à Cidade. Lua Nova: Revista
de Cultura e Política. CEDEC, n. 87, p. 139-165, 2012.
SUMÁRIO
40
POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS DURANTE A COVID-19
PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO
RIO GRANDE DO SUL
INTRODUÇÃO
O isolamento social por decorrência do COVID-19 alterou a rotina de muitas
pessoas, em especial no que tange a dinâmica familiar. De acordo com a pesquisa
realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), houve aumento
significativo dos casos de violência doméstica durante pandemia.
Diante deste cenário, nos questionamos quais as medidas adotadas pelo governo,
para a proteção das mulheres, durante as situações de violência doméstica ocorridas
no período de isolamento social. Para tanto, o presente artigo propõe a discussão sobre
o aumento de casos de violência doméstica e familiar durante o período do isolamento
social, em razão do coronavírus, a fim de investigar quais medidas adotadas pelos
administradores públicos para o enfrentamento da violência doméstica no Rio Grande
do Sul.
Dessa forma, estabelecemos como objetivos específicos: a) apresentar dados sobre
a violência doméstica durante a pandemia covid-19 (2019-2022) no Rio Grande do Sul;
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em janeiro de 2020, a Organização Mundial Saúde (OMS) teve que declarar que
o surto pelo coronavírus causou Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2020), o
cenário da pandemia corroborou para, de um lado, o aumento de casos de violência
doméstica, e, de outro, a diminuição do número de denúncias desta natureza, vez que
as mulheres não conseguiam realizar as denúncias diante da proximidade com o
parceiro.
Parreiras (2020) explica que culturalmente ameaças e agressões psicológicas ainda
não são encaradas como tipos de violência contra a mulher. Diante disso, com base nos
dados fornecidos pela Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio
Grande do Sul (PROCERGS), apresentamos o balanço geral do Rio Grande do Sul
relacionado a violência doméstica, incluindo como crimes a ameaça e a lesão corporal.
No início do ano de 2021, percebe-se que houve um aumento no número de ameaças
e lesão corporal em comparação com dezembro de 2020.
Apesar do aumento dos números de violência e lesão corporal, os dados
apresentados pela PROCERGS (2021), os casos de feminicídio em janeiro e fevereiro
do ano 2020 e 2021 mantiveram o mesmo índice, sendo, 10 casos de feminicídio
consumado no mês de janeiro, já no mês de fevereiro foram 4 em ambos os anos.
Contudo, no que tange o feminicídio tentado houve aumento significativo. Em janeiro
de 2021 houve 33 casos e em fevereiro deste mesmo ano teve 24 casos. Já no ano de
2020 em janeiro teve 23 casos e 25 casos no mês de fevereiro de 2020. Portanto, tendo
como base a comparação janeiro e fevereiro de 2021, é possível verificar um aumento
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, através da análise de dados da Segurança Pública, percebeu-se que
houve uma queda nas denúncias de ameaça e de lesão corporal. Mas, é possível
analisar um aumento relevante nos casos de tentativa de feminicídio ao comparar os
dados do ano de 2020 e 2021. Então percebe-se que os casos estão chegando na
delegacia quando o pior já aconteceu.
Dessa maneira, ao se tratar das políticas públicas para o enfrentamento da
violência doméstica contra as mulheres durante a pandemia, todas as opções dadas no
decorrer deste artigo são válidas. Pois através delas as vítimas passaram a ter
conhecimento de como denunciar – facilitando a vida destas mulheres, a possibilidade
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BASILIO, Ana Tereza. A violência Doméstica durante a Covid-19. Conjur. Publicado em 29 jul. 2020.
Disponível em: h�ps://www.conjur.com.br/2020-jul-29/ana-tereza-basilio-violencia-domestica-durante-
covid-19. Acesso em 13 mar. 2021.
COLL, Liana. Aumento da violência contra as mulheres tem relação com o avanço do conservadorismo.
UNICAMP, 2023. Disponível em: h�ps://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2023/03/08/aumento-da-
violencia-contra-mulheres-tem-relacao-com-avanco-do-conservadorismo#:
~:text=Na%20pesquisa%2C%2033%2C4%25,do%20direito%20percebem%20a%20viol%C3%AAncia.
Acesso em mai. de 2023.
DIAS, M, B. A Lei Maria da Penha na Justiça. 6. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2019.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. IBGE. 2019.
Disponível em: h�ps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101678.pdf. Acesso em 2023.
Observatório da Violência contra a Mulher – SSP/RS. Secretaria da Segurança Pública,2022. Disponível em:
h�ps://www.ssp.rs.gov.br/observatorio-mulher. Acesso em mai de 2023.
OMS. Violência contra mulheres. Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Disponível em: h�ps://
www.paho.org/pt/topics/violence-against-women . Acesso em mai. de 2023.
ONU. Relatora da ONU recebe informações sobre violência contra mulheres durante crise de COVID-19.
Nações Unidas Braseil. 20 abr 2020. Disponível em: h�ps://brasil.un.org/pt-br/85571-relatora-da-onu-
recebe-informacoes-sobre-violencia-contra-mulheres-durante-crise-de-covid-19. Acesso em mai 2023.
ORTEGA, María Camila Rincón. Dia da mulher: o que a pandemia da Covid-19 piorou para meninas e
mulheres. CNN Brasil. Publicado em 8 mar. 2021. Disponível em: h�ps://www.cnnbrasil.com.br/
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Acesso em: 13 mar. 2021.
PARREIRAS, Mateus. Coronavírus: isolamento social amplia violência doméstica. EM. Publicado em 11 de mai.
de 2020. Disponível em: h�ps://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/05/11/interna_gerais,1146100/
coronavirus-isolamento-social-amplia-violencia-domestica.shtml. Acesso em mai de 2023.
SENADO FEDERAL. Projeto buscam garantir atendimento a mulheres vítimas de violência durante
pandemia. Publicado em 16 abr 2020. Disponível em: h�ps://www12.senado.leg.br/noticias/materias/
2020/04/16/projetos-buscam-garantir-atendimento-a-mulheres-vitimas-de-violencia-durante-pandemia.
Acesso em mai de 2023.
SUMÁRIO
41
O BIOPODER E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DE GUERRA NO
SÉCULO XXI: uma perspectiva a partir de Michael Hardt e Antonio Negri
Mariana Chini
Doutoranda em Direitos Humanos pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul - UNIJUÍ. Bolsista pelo Programa de Cooperação Acadêmica em
Segurança Pública e Ciências Forenses - PROCAD/CAPES. Mestra na área de Novos
Paradigmas do Direito pela Universidade de Passo Fundo - UPF. Especialista em Direito do
Trabalho e Processo Trabalhista pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER.
Especialista em Teologia pela Universidade Estácio de Sá – UNESA. Bacharela em Ciências
Jurídicas e Sociais pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Bacharela em Filosofia pela
Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Integrante dos Grupos de Pesquisa:
“Dimensões do Poder e Relações Sociais” e “Biopolítica e Direitos Humanos”, ambos
certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
Professora de Direito no Centro de Ensino Superior Riograndense - CESURG. E-mail: mar.
chini@hotmail.com.
INTRODUÇÃO
A pesquisa elaborada tem por escopo tratar da temática do biopoder, mais
especificamente no que tange ao seu papel em relação às novas configurações de
guerra dispostas no século XXI.
Enquanto problemática, está presente o questionamento acerca da concepção de
Michael Hardt e Antonio Negri sobre o assunto, visando compreender qual sua
perspectiva acerca das novas configurações de guerra no presente século a partir de
um viés biopolítico.
A hipótese inicial é a de que a guerra se apresenta no século XXI como um regime
de biopoder, desconfigurando-se em alguns aspectos e moldando-se à nova realidade
por meio de funções de controle e policiamento constante, dando espaço a um estado
de exceção permanente.
Visando alcançar uma resposta adequada ao questionamento proposto, portanto,
será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, com auxílio de método de
procedimento essencialmente bibliográfico, tendo como marco teórico principal, os
autores, - americano e italiano, respectivamente -, Michael Hardt e Antonio Negri.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio de uma investigação que se inicia em fonte foucaultiana, compreende-se
que, por muito tempo, a guerra foi considerada a continuação da política por outros
meios - conforme proposto por Clausewi� -, vindo a receber novos contornos quando
Michel Foucault propõe a inversão de tal aforismo, asseverando que, em verdade, a
política é que consiste na "guerra continuada por outros meios" (FOUCAULT, 1999, p.
22-23). A partir dessa perspectiva, abre-se um leque de possibilidades para tratar-se a
guerra no século XX (e, em vários aspectos, também no século XXI).
Todavia, uma dupla de autores aprofunda o disposto por Foucault, ao incorporar
a realidade latente no presente século à equação. Referidos autores são o americano
Michael Hardt e o italiano Antonio Negri, que inauguram uma triologia para tratar
das novas formas de soberania e de capitalismo mundial integrado no novo século,
iniciando sua jornada a partir da conceituação de uma nova forma global de economia
denominada como Império.
Retomando as concepções de Foucault (1999, p. 289), verifica-se que o autor
inaugura a ideia de biopolítica enquanto uma nova forma de governamentalidade da
população que, embora não abandone o disciplinamento, traz como centralidade os
mecanismos de controle.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa delineada objetivou tratar do papel do biopoder nas novas
configurações de guerra presentes no século XXI, a partir do questionamento acerca da
perspectiva dos autores, americano e italiano, Michael Hardt e Antonio Negri.
Visando verificar a pertinência da hipótese inicial - de que a guerra se apresenta
no século corrente como um regime de biopoder, desconfigurando-se em alguns
aspectos e moldando-se à nova realidade por meio de funções de controle e
policiamento constante, dando espaço a um estado de exceção permanente -, utilizou-
se o método de abordagem hipotético-dedutivo, auxiliado pelo método de
procedimento bibliográfico, cujo marco teórico central foram Hardt e Negri,
chegando-se à consideração de que a hipótese proposta resta comprovada.
Palavras-chave: Biopoder. Biopolítica. Guerra. Hardt e Negri. Século XXI.
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limites da ação e as consequências para a convivência pacífica. Revista Videre, Dourados, MS, v. 11, n. 21,
jan./jun., 2019.
SUMÁRIO
42
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO MERCADORIA
OFERTADA PARA ENTRETENIMENTO NO CONTEXTO DO
CAPITALISMO GORE
INTRODUÇÃO
Nada mais cotidiano que imaginar uma família ligando seu aparelho de televisão
no horário nobre, uma criança que acessa um vídeo curto postado em uma rede social
ou um adolescente que assiste séries em seu serviço de streaming. Tais acontecimentos,
comuns na vida diária, alimentam uma indústria que movimenta trilhões de dólares,
qual seja, a indústria do entretenimento.
Além de conteúdos apropriados para pessoas em todas as faixas etárias, são
oferecidos filmes, séries e vídeos que retratam abusos físicos, psicológicos, financeiros
e sexuais contra as mulheres. Considerando tal cenário, o presente trabalho visa
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As tentativas de explicar o sistema capitalista atravessam sua história, razão pela
qual grandes teóricos como Max Weber (2006) e Karl Marx (2004) dedicaram parte de
sua obra a uma tentativa de entender o funcionamento que Marx chamou de modo de
produção e Weber considerou como organização racional baseada no trabalho
formalmente livre.
Em que pese o correr da história haver sido marcado pela violência, Valencia
(2010) esclarece que o século XX foi o mais brutal entre os últimos 10 séculos. Tal
violência foi radicalizada através do neoliberalismo e da globalização até alcançar, no
século XXI, a realidade gore, momento em que a violência se torna uma episteme, uma
forma de interpretar a realidade.
A marca de tal realidade é o uso da violência para gerar benefício econômico. Tais
benefícios são colhidos através da espetacularização da violência nos meios de
comunicação e, também, através da prestação de serviços criminosos como o tráfico de
drogas, assassinatos mediante pagamento, tráfico de órgãos e de pessoas, entre outros.
(VALENCIA, 2010)
SUMÁRIO
Marx (2013) esclarece que "a riqueza das sociedades onde reina o modo de
produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias." Nesse giro,
a mercadoria é algo que através de suas propriedades satisfaz qualquer das
necessidades humanas. Em tempos de capitalismo gore, a violência é uma mercadoria,
facilmente distribuída nos meios de comunicação e rapidamente disponibilizada para
aquelas que por ela podem pagar.
Em seus diálogos com a cultura pop, a autora traça paralelos entre séries e jogos
de vídeo game com a realidade gore, explorada através das imagens transmitidas na
televisão. Em sua visão, tais conteúdos são exemplos de como a televisão transformou
o submundo em algo lucrativo, um programa a ser consumido pelas pessoas ao redor
do mundo. (VALENCIA, 2010)
Dessarte, Valencia (2010) esclarece que as mulheres têm convivido com extrema
violência física e psicológica e, mais recentemente, com a violência adicional veiculada
pela mídia; estes têm feito parte do nosso dia a dia e da nossa educação. A violência
tem sido um núcleo elemento na construção de um discurso que assume que as
condições de vulnerabilidade e violência são o destino manifesto das mulheres.
Nesse sentido, a violência contra a mulher, além de ser uma dura realidade
sentida por milhares de brasileiras, é produzida e consumida como produto, fato que
ocorre através de sua reprodução como forma de entretenimento. Portanto, a atuação
da mídia acaba por ser fonte mais uma fonte de fortalecimento e reprodução do
patriarcado. (CARVALHO et al., 2016)
SUMÁRIO
Valencia (2010) esclarece que séries, filmes e jogos são ricos para ilustrar a venda
da violência como fonte de entretenimento e sua consequente aceitação como forma
de vida. Isso porque, no contexto de séries e programas de televisão, a atuação violenta
é glorificada e suas reais consequências são minimizadas.
Não há como negar que séries, filmes, jornais, novelas, músicas, vídeos são
mercadorias inseridas dentro das lógicas do mercado. Portanto, as pessoas que
produzem tais mercadorias o fazem guiadas, entre outras razões, pelo desejo de
produzir lucro. Dessarte, a violência contra a mulher, como fenômeno presente em
conteúdos reproduzidos nos meios de comunicação, pode ser encarada como um
produto audiovisual a ser consumido pelos mais diversos tipos de telespectadores.
Em que pese noticiários, filmes e séries serem mercadorias, é necessário esclarecer
que retratar a violência contra a mulher nem sempre gerará efeitos deletérios.
Dessarte, conforme informado pelo Instituto Patrícia Galvão (2023) "a imprensa possui
um papel estratégico na formação da opinião e na pressão por políticas públicas." Tal
papel pode ser "utilizado para contribuir para ampliar, contextualizar e aprofundar o
debate sobre a violência de gênero", produzindo conteúdos que não atuem como
cúmplices na violência contra a mulher, mas sim atuem na prevenção, repressão e
desnaturalização da violência.
Deste modo, existem iniciativas para que a cobertura jornalística de situações de
violência de gênero seja feita a partir de boas práticas, que busquem empatia e respeito
com as vítimas, informem formas de denúncia e de acolhimento para os consumidores
e, sobretudo, não culpabilizem a vítima ou disseminem estereótipos de gênero.
(SPITZNER, 2020)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da reflexão realizada por Sayak Valencia, a marca do capitalismo atual,
em sua versão gore, é o uso da violência para gerar benefício econômico. No citado
contexto, imagens de violência são exibidas para milhares de pessoas, seja em canais
de televisão ou em meios digitais, com o desiderato último de gerar audiência, e, por
consequência, lucro.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Michelly et al. Violência Contra a Mulher na Mídia: Combate ou Reforço? In: CONGRESSO
DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE, Não use números Romanos ou letras, use
somente números Arábicos., 2016, Caruaru. Anais do Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Nordeste. Caruaru: Intercom, 2016. p. 1-14. Disponível em: h�ps://www.portalintercom.org.br/anais/
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16 abr. 2023.
SPITZNER, Tatiana et al., Manual Universa para Jornalistas. São Paulo: UOL, 2020. Disponível em: h�ps://
download.uol.com.br/files/2020/11/2694611179_cartilha-universa-violencia-contra-mulher_v10.pdf Acesso
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VALENCIA, Sayak; Liliana FALCÓN. Narcomodernidades: de endriagos a CEO’s. In: SANTOS, Danilo
López; Urgelles, Ingrid Latorre; Vásquez, Ainhoa Mejías. Narcontransmisiones. Neoliberalismo e
hiperconsumo en la era del #narcopop. El Colegio de Chihuahua: Ciudad Juárez, 2021.
43
ABSORVENTES, PAPEL HIGIÊNICO E PANOS:
a pobreza menstrual como questão de saúde pública e violação
aos Direitos Humanos
INTRODUÇÃO
A saúde enquanto direito fundamental e intrínseco à dignidade humana tem
como premissa a efetivação existência digna e manutenção da vida dos indivíduos,
neste sentido, atenta-se para problemas além do coletivo, compreendidos como
elementos da esfera individual, como é o caso da pobreza menstrual. A precariedade
ou pobreza menstrual refere-se à insuficiência e inacessibilidade de higiene adequada
no período menstrual e, na falta de informações sobre a gestão menstrual, tais
condições, obstaculizam o exercício pleno ao direito à saúde das pessoas
menstruantes¹.
A pobreza menstrual deve ser integrada no âmbito da saúde pública e violações
aos direitos humanos, dado que é um problema multidimensional de saúde e que
afeta diretamente o bem-estar, a dignidade menstrual e a própria saúde das pessoas
que menstruam. Igualmente, deságua nas crises sanitárias e nas desigualdades sociais
que permeiam o território brasileiro.
1 Termo utilizado para nomear as pessoas que menstruam, conforme aplicado por Beatriz Flügel Assad no artigo
“Políticas Públicas acerca da pobreza menstrual e sua contribuição para o combate à desigualdade de gênero”
publicado na Revista Antinomias, v.2, n.1, jan/jun.,2021.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A saúde é um bem social inerente à vida e a sua manutenção, assim, um direito
fundamental e intrínseco à dignidade humana dos indivíduos. A saúde é um fator
constante na vida das pessoas enquanto instrumento de bem-estar e integridade
corporal, o que faz com que seja fidedignamente guarnecido pelos Estados-nação e
pautado como um investimento social, conforme as pesquisadoras Sandra Regina
Martini e Janaína Machado Sturza (2019, p.61):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo, conclui-se que a pobreza menstrual – ainda que
amplamente discutida no campo da saúde pública e direito à saúde – é um problema
multidimensional de violação de direitos humanos. As desigualdades sociais, a
violência de gênero e o racismo ambiental (inacessibilidade de acesso à água às
populações periféricas) são alguns causadores da pobreza menstrual.
Como enfrentamento dessa problemática, visualiza-se alternativas que possam
auxiliar na superação da pobreza menstrual, como: criação e manutenção de políticas
públicas que viabilizem a dignidade da saúde menstrual nos ambientes privados,
instituições de ensino, meios corporativos e ambientes público que promovam
adequadamente o acesso à educação menstrual, assistência médica e acesso aos
produtos de higiene às pessoas menstruantes em condição de vulnerabilidade social e
econômica.
Diante do impacto da pobreza menstrual e do atual cenário brasileiro, é
imprescindível a necessidade de eficácia e humanização no zelo da dignidade humana
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ASSAD, Beatriz. Políticas Públicas Acerca da Pobreza Menstrual e sua Contribuição para o Combate à
Desigualdade de Gênero. Revista Antinomias, v. 2, n. 1, jan/jun., 2021.
MARTINI, Sandra Regina; STURZA, Janaína Machado. Direitos Humanos: saúde e fraternidade. Porto
Alegre: Evangraf, 2019.
SANTOS, Caroline Costa Moraes dos Santos; UNFPA, Fundo das Nações Unidas para a População;
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violações de direitos. 2021. Disponível em: h�ps://www.unicef.org/brazil/media/14456/file/dignidade-
menstrual_relatorio-unicef-unfpa_maio2021.pdf. Acesso em 02 de ago. 2022.
SUMÁRIO
44
BREVES REFLEXÕES A RESPEITO DO EXERCÍCIO DA
MATERNIDADE NO CÁRCERE
INTRODUÇÃO
As prisões brasileiras estão em completo desacordo com as legislações que
versam sobre a estrutura e tratamento dos reclusos e com os direitos humanos. Os
internos dos estabelecimentos penais convivem enclausurados em ambientes
desprovidos de assistência, sem separação e em ociosidade. Leal (2001, p. 69) chama
atenção para a realidade de que as prisões estão “[...] infectas, úmidas, por onde
transitam livremente ratos e baratas e a falta de água e luz é rotineira; prisões onde
vivem em celas coletivas, imundas e fétidas, dezenas de presos, alguns seriamente
enfermos, como tuberculosos, hansenianos e aidéticos”.
Esse cenário é vivido por homens e mulheres que são obrigados a sobreviver em
situações caóticas e em um ambiente que negligencia as necessidades básicas de ser
humano. Quando se trata do encarceramento feminino devemos ter em mente que as
mulheres se encontram privadas de liberdade em estabelecimentos que foram
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O aprisionamento de mulheres deve ser compreendido sob a perspectiva da
necessidade de destinar maior atenção à mulher presa, pois o sistema de justiça é,
necessariamente, heteronormativo e coloca a mulher em um lugar social inferiorizado
e excepcional em relação ao homem, isto porque políticas, instituições e leis são
pensadas a partir do homem e, posteriormente, adaptadas ao encarceramento
feminino. O modelo de justiça é desigual e “[...] faz com que as políticas e espaços
voltados às mulheres presas sejam as sobras” (BRASIL, 2015, p. 22).
De acordo com o SISDEPEN¹ em 2022 haviam 654.704 pessoas aprisionadas e
deste total a população feminina era equivalente a 28.699 mulheres (24.919 presas em
estabelecimentos femininos e 3.780 presas em estabelecimentos mistos). Neste
trabalho buscamos abordar a realidade que permeia a maternidade no interior dos
estabelecimentos prisionais, para isso devemos ter em mente que havia um total de 93
lactantes e 164 gestantes/parturientes, bem como 606 crianças (389 – mais de 3 anos, 52
– 2 a 3 anos, 43 – 1 a 2 anos, 35 – 6 meses a 1 ano, 87 – 0 a 6 meses) privadas de liberdade
(BRASIL, 2022)². Quanto ao perfil das mulheres em situação de prisão no Brasil, temos
que na maioria:
1 Desenvolvido para atender a Lei nº 12.714/2012 que dispõe sobre a necessidade de haver um sistema que acompanhe a
execução das penas, a prisão cautelar e as medidas de segurança aplicadas, o SISDEPEN é uma ferramenta utilizada para a
coleta de dados do sistema penitenciário brasileiro e da população carcerária (BRASIL, 2022).
2 Até o momento da elaboração do presente trabalho, o SISDEPEN não apresentou dados atualizados, portanto, adotamos
como parâmetro as informações referentes ao período de janeiro a junho de 2022.
SUMÁRIO
3 Art. 83. [...] §2º Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenas possam
cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade. BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordar a temática prisional é tarefa árdua e necessária, é através de pesquisas
voltadas à população privada de liberdade que denunciamos as precariedades,
mazelas e afrontas aos direitos humanos. Discussões com olhar científico, crítico e
humanizado é a porta de acesso uma mudança na triste realidade carcerária. Quando
se trata da realidade prisional devemos estendermos o olhar para as mulheres que
estão inseridas em um ambiente masculino, mesmo quando alocadas em uma
penitenciária feminina, que as submete a um conjunto de opressões e violações
sistemáticas de seus direitos.
O presente trabalho buscou analisar brevemente o que é ser mãe no sistema
penitenciário brasileiro e, a partir dele, percebemos que de forma geral as instituições
penais não estão preparadas para amparar e assistir as mulheres que passam a ser
tuteladas pelo Estado. Os recursos são escassos, as instalações quando disponíveis são
inadequadas, há precariedade nos cuidados pré-natais, nas condições dos partos, bem
como no espaço destinado a permanência das mães e seus bebês. Além disso, a
privação de liberdade impacta não só na ruptura dos laços de convívio entre mãe e
filho(s) como também é responsável pela manutenção da vulnerabilidade de crianças
que, diante do encarceramento materno, são encaminhadas a familiares distantes,
lares adotivos e instituições públicas de acolhimento.
Palavras-chave: Encarceramento. Maternidade. Gênero.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Justiça. Dar à luz na sombra: condições atuais e possibilidades futuras para o exercício da
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LEAL, C. B. Prisão: Crepúsculo de uma era. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.
SUMÁRIO
45
COLETIVOS FEMINISTAS TRANSCONFINS PARA
EFETIVAÇÃO DE DIREITOS
INTRODUÇÃO
As potências em mobilidades coletivas quando atreladas a pautas locais e
regionais trazidas das zonas periféricas, com populações excluídas de direitos e onde
apenas chegam os piores meios de controle e dominação, intensificados pela extração
do território e pelas biopolíticas, se transformam em coletivos feministas transconfins,
que tem por seus fundamentos na metateoria do direito fraterno que diferencia a
definição de fronteira e de confins. Esses coletivos abrem brechas nas fronteiras,
configurando-os em movimento transconfins e podem ser um próximo passo a ser
dado a fim de um borramento total desses limites territoriais, sociais, culturais e
econômicos em âmbito internacional.
Este trabalho problematiza como as práticas organizacionais de cunho mais
libertárias usadas por esses coletivos, majoritariamente composto por mulheres, para
efetivação de direitos humanos são suficientes para reconhecê-los em sua
representação internacional. Abre-se a hipótese que os coletivos feministas transconfins
conseguem ter uma influência real para mudanças locais, se isso advém da sua
composição por corpos-territórios e toda sua defesa e proteção ao corpo atrelado ao
território. Também se esses coletivos influenciam internacionalmente devido ao uso
de princípios comuns, tal qual, a fraternidade.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicia-se pela fraternidade revisitada que traz em si a biopolítica pelo seu
paradoxo que se refletirá na ideia de pharmakon, do medicamento/ veneno,
encontrando a ambivalência na sua liberdade como direito. O direito fraterno em sua
metateoria conjura o compartilhar, o pactuar, a amizade, a inclusão sem limites,
compreendendo na transformação a necessidade do OUTRO-EU, em que o EU-
OUTRO e o OUTRO-EU andam juntos. A fraternidade é posta em cheque na realidade
quando se questiona sua efetividade e, assim, se mostra como meio para encontro do
outro, exercitando caminhos para alteridade e de reconhecimento da diferença. Pela
metateoria do direito fraterno de Resta é possível depreender os seus conceitos
fundantes que cercaram toda esta tese, sendo eles, transconfins, constituição sem
inimigo, superação do Estado-nação, pharmakon, amizade e não-violência.
1 RESTA, Eligio. Diritto vivente. Bari: Laterza, 2008. Direito Vivente. Trad. Sandra Regina Martini, p. 3.
2 Ibid., p. 33.
SUMÁRIO
3 RESTA, Eligio. O Direito Fraterno. Trad. Sandra Regina Martini(coordenação). Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004,
p. 94.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se neste trabalho uma representação mais realista desses movimentos
transconfins, visto que coletivos feministas transconfins abrem caminhos para efetivar
direitos através do reconhecimento de suas lutas, que tem como principal
característica a ação direita de colocar o corpo à frente.
Pelas experiências observadas por coletivos concretos que se encontram de todas
as partes do país na capital argentina, foi possível relacioná-los aqui a outras
experiências que extrapolam esse borrão de terra, mostrando como as consequências
da conjunção das ondas feministas anteriores impactaram profundamente a geografia
e radicalmente a cultura, uma vez que conseguimos identificar esses movimentos em
transconfins e com uma propulsão que arrasta os corpos que estiverem doloridos e
necessitados para terem condições de reivindicarem suas existências para além de
organizações formais, organismos internacionais, Estados e corporações.
Palavras-chave: Corpo-território; Direito Fraterno; Movimentos Sociais; Políticas
Externas Feministas;
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
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____________. O Direito Fraterno. Trad. Sandra Regina Martini(coordenação). Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
2004.
____________. Diri�o Vivente. Roma:Laterza & Figli Spa,Trad. Sandra Regina Martini, 2008.
SUMÁRIO
46
GÊNERO E ESTEREÓTIPOS: OS PAPÉIS SOCIAIS PRÉ
ESTABELECIDO ÀS MULHERES POR UMA
SOCIEDADE PATRIARCAL
Victória Pedrazzi
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Humanos da Unijuí.
Bolsistas Capes. E-mail: victoria.pedrazzi@sou.unijui.edu.br
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca elucidar as delimitações dos papéis sociais específicos
a um determinado gênero, sendo este, fator primordial para manter sob a custódia do
patriarcado, o controle e a manipulação das ideias femininas, assim como sua
autonomia e independência, gerando com isso, consequentemente, subordinação e
submissão das mulheres. Além disso, trazer um breve apontamento sobre como a
estipulação de papéis sociais de gênero contribuem para que as mulheres se
distanciassem da sua verdadeira essência, tendo que se encaixar em padrões, sem ao
menos se questionarem sobre suas próprias vontades de se inserirem nesses espaços,
por, justamente, não terem liberdade de pensamento e escolha.
Os impactos sociais que assombram a vida das mulheres decorrem de um
modelo patriarcal e controlador que tem consequências nos seus desejos, vontades e
pensamentos. Na luta feminina por espaços, durante séculos, as mulheres foram vistas
como se tivessem um papel secundário na sociedade, o que contribuiu para que sejam,
inclusive, tratadas com violência e descaso. Ademais, é importante ressaltar como esse
sistema contribui para que as mulheres tenham dificuldade de acesso a direitos
básicos, autonomia e possibilidade de traçar caminhos diferentes do que estão
“(pré)destinados”.
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Acerca do papel social de cada gênero e suas perspectivas, a masculinidade
ou a feminilidade se apresentam de múltiplas formas no processo da formação da
identidade social. A mulher, tida como figura de menor importância e relevância,
caracteriza-se como sendo o “ser” que consegue se adequar melhor ao meio em que é
submetida, partindo das premissas de obediência, subordinação e anulação. Com isso,
o patriarcado se alimenta de uma espécie de (sobre)carga de culpa que acaba gerando
uma inércia para modificar esse cenário.
Em um modo geral, sexo é biológico e gênero é social. Gênero é como a pessoa
se vê perante a sociedade e através de si mesma, diante das suas características
particulares e como se sente na própria pele. Nas ciências sociais, o papel social de
gênero significa um conjunto de comportamentos ligados à masculinidade e
feminilidade, em um grupo ou sistema social. Segundo Miriam Pillar Grossi (apud
SCOTT, p. 05, 1998): “gênero é uma categoria historicamente determinada que não
apenas se constrói sobre a diferença de sexos, mas, sobretudo, uma categoria que serve
para “dar sentido” a esta diferença.”
A ideia de um papel feminino na sociedade ainda precisa ser desconstruída a
fim de não
impor ideologias patriarcais que rotulam e colocam em “caixinhas” mulheres que
são seres humanos complexos e repletos de individualidades. Segundo Gizelia
Mendes Saliby (2022),
Além disso, não há como não observar que esses papéis pré-designados a
mulheres, começam no âmbito familiar, através da maternidade compulsória, da
carga mental de responsabilidades, do trabalho diário feminino não remunerado,
dentre outras diversas ramificações problemáticas sobre a temática. Já o papel do
homem, no imaginário social, é o de prover o sustento e de ser o “chefe” da família,
sendo que, na verdade, nos bastidores do dia-a-dia, a ordem e a estrutura familiar são
também, responsabilidade da mulher. Assim, os papéis não são apenas designados
previamente, mas acabam se multiplicando, já que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, torna-se visível a necessidade de reformular a estrutura social de
opressão e designação de estereótipos às mulheres, para que elas tenham a liberdade
e o reconhecimento de si mesmas como indivíduos independentes e que não precisam
seguir nenhum tipo de padrão e papel imposto, para ocuparem lugares que
desejarem, rompendo com ciclos de submissão e questionando a aderência
compulsória a esses sistemas. Apenas dos avanços quanto a temática, caminha-se a
passos lentos para uma efetiva emancipação das mulheres no meio social, dominando
espaços que não foram designados à ela pelo imaginário machista e patriarcal.
Há que se levar em consideração a sucinta análise, tendo em vista que para
diferentes mulheres, os papéis sociais se alteram e são ainda mais exigidos, mas de um
modo geral, a problemática se aplica a todas, concluindo que é preciso a discussão dos
papéis de gênero e, consequentemente, o rompimento da “estereotipação” feminina.
Palavras-chave: Gênero. Papéis sociais. Estereótipos. Patriarcado.
REFERÊNCIAS
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47
APONTAMENTOS SOBRE A PERPLEXIDADE DOS DIREITOS
HUMANOS A PARTIR DO CONTROLE SOCIAL PELO
SISTEMA PRISIONAL
INTRODUÇÃO
O presente texto objetiva tecer breves apontamentos sobre os conceitos de
violência e perplexidade dos Direitos Humanos em Hanna Arendt a partir do cárcere
brasileiro. Nesse sentido, irrompe como problema de investigação a seguinte questão:
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto à natureza do poder e a estreita relação deste com a violência, Hanna
Arendt (2020) aponta que mesmo o tirano, o Um que governa contra todos, precisa de
auxiliares na tarefa da violência, ainda que seu número possa ser restrito; todavia, o
vigor da opinião, o poder do governo, depende de muitos. Para a autora, de fato, “uma
das mais óbvias distinções entre poder e violência é que o poder sempre depende de
números, enquanto a violência, até certo ponto, pode operar sem eles, porque se
assenta em implementos.” (AREDNT, 2020, p. 58).
Na linguagem conceitual, o poder é, de fato, a essência de todo o governo, e não
a violência; fato é que, por sua natureza instrumental, a violência precisa de
justificação ao fim a que almeja, e aquilo que precisa ser justificado por outra coisa, não
tem como ser a essência de nada (ARENDT, 2020). Dessa forma, o fim da guerra é a
paz ou a vitória, mas para a questão “qual é o fim da paz?” não há resposta, visto que
“a paz é um absoluto, mesmo se na história registrada os períodos de guerra quase
sempre superaram os períodos de paz.” (ARENDT, 2020, p. 68).
A marca d’água dessa violência – ou seja, onde recebe a plena chancela – é o
estado de exceção, terreno fértil no qual lógica e práxis se indeterminam e uma
violência pura e sem logos apresenta como fito realizar um enunciado sem nenhuma
referência real; nessa senda, o seu grau máximo é alcançado quando o elemento
normativo jurídico e o elemento metajurídico – direito e política – coincidem numa só
pessoa, o soberano (NIELSSON; WERMUTH, 2020).
De forma incontroversa, a violência sempre pode destruir o poder, dado que “do
cano de uma arma emerge o comando mais efetivo, resultando na mais perfeita e
instantânea obediência. O que nunca emergirá daí é o poder.” (ARENDT, 2020, p. 70).
Desta feita, quanto mais destituídos subjetivamente, maior é a fratura da consolidação
comunal do grupo ao qual emana o verdadeiro poder (o povo); a violência, nesse
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo aqui empreendido constatou-se que a crítica feita por Hanna
Arendt à perplexidade dos Direitos Humanos, em um contexto de hostil conflito entre
os povos – e de ausência de diálogo, portanto – ainda carrega muitas potencialidades
de aplicação a situações políticas do cotidiano contemporâneo. Nesse sentido, Arendt
de debruçou sobre as figuras do refugiado e do apátrida, que, notadamente,
representaram as descartáveis – e exatamente por essa condição, ficaram sem proteção
jurídica e legal dos Direitos Humanos, evidenciando a arrepsia a essa categoria de
direitos.
Em contrapartida, foi possível constatar, outrossim, que os “povos sem Estado”
da atualidade, potencialmente, são aquela classe de indevidos convergida ao sistema
penal, visto que não cabem em parte alguma, o que denuncia a seletividade do
sistema e revive, portanto, a mesma perplexidade afeita aos Direitos Humanos desses
sujeitos já denunciada por Arendt nos tempos de guerra, demonstrando que o
apátrida do século XX e o detento do sistema prisional do século XXI formam,
potencialmente, um par conceitual.
Palavras-chave: Direitos Humanos. Sistema prisional. Violência.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução de André de Macedo Duarte. 11 ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2020.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 41. ed.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política de morte. São Paulo: n-
1edições.org, 2022.
NIELSSON, Joice Graciele; WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. É isto um golpe?: a (in)discernibilidade
entre democracia e exceção no Brasil contemporâneo. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2020.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. Cultura do medo e criminalização seletiva no Brasil. [S.l]: [s.n],
2015. E-book Kindle.
SUMÁRIO
48
SISTEMAS INFORMATIZADOS DOS ESTABELECIMENTOS
DE SAÚDE NO BRASIL: entre o direito à saúde e a proteção de
dados pessoais
INTRODUÇÃO
O presente escrito busca investigar a importância da proteção de dados dos
usuários dos sistemas de saúde no Brasil e apresentar um diagnóstico de como os
estabelecimentos guardam e tratam as informações pessoais dos pacientes. O
problema a ser enfrentado diz respeito a identificar se as práticas de segurança e
tratamento de dados se encontram coerentes com o grau de importância que estes
possuem para os usuários.
Assim, tem-se por hipótese que, trazendo um panorama do ordenamento
jurídico brasileiro no tocante ao direito à saúde e à proteção de dados, juntamente com
informações de pesquisa sobre o tema, será possível fazer um diagnóstico de como o
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema do direito à saúde, sabidamente, não é um tema novo, e há muito é
debatido. Entretanto, para fins deste trabalho, alguns postulados merecem ser
clarificados para estabelecer a relação entre este direito e o direito à proteção de dados.
Inicialmente, este já aludido extenso debate se verifica tendo em vista que a
“enorme importância dada à tutela geral da saúde traduz-se no fato da sua própria
conquista, geralmente associada a um novo tipo de Estado, que deixa suas vestes
liberais e se assume como um Estado Social de Direito (FONTES, 2021)”.
Ademais, esse largo debate assentou determinados entendimentos, no sentido de
que o direito à saúde, para além da Constituição, é considerado um direito social pela
própria construção do ordenamento jurídico nacional:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela exploração do tema dos direitos fundamentais à saúde e a proteção de dados,
em conjunto com os dados apresentados, conclui-se, através da presente pesquisa,
que, em que pese exista uma série de serviços disponíveis e uma série de práticas de
compartilhamento de dados de usuários dos sistemas de saúde, há um ponto sensível
na questão da proteção dos mesmos nos sistemas TIC das entidades pesquisadas, uma
vez que estas utilizam sistemas ainda muito básicos de segurança, o que pode levar a
um vazamento de dados nocivo aos usuários.
Foram apontados, portanto, alguns pontos considerados nevrálgicos no que
concerne ao compartilhamento de dados de saúde, enquanto dados sensíveis, bem
como algumas deficiências gritantes nos sistemas TIC dos estabelecimentos de saúde,
uma vez que possuem alto índice de informatização e, ao mesmo tempo, pouca
normatização interna e baixo nível de segurança em seus sistemas – ou utilização de
ferramentas de segurança flagrantemente insuficientes para proteger informações tão
essenciais quanto dados de usuários de sistemas de saúde.
Palavras-chave: Direito à Saúde. Proteção de Dados Pessoais. Tecnologia da
Informação.
REFERÊNCIAS
BIONI, Bruno et al. Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Forense: Edição do Kindle. 2021.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República.
Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 26 de
julho de 2022.
49
A SAÚDE COMO DIREITO UNIVERSAL: os limites impostos
pelas fronteiras
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O artigo 198 da Constituição brasileira, determina o acesso público gratuito à
saúde, prestado pelo Sistema Único de Saúde- SUS- conforme previsto na Lei nº
8.080, de 19 de setembro de 1990 (BRASIL, 1990). O SUS tem como objetivo “a
assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades
preventivas” (Lei n°8.080/90, capítulo 1, art.5°, III). “Todos os brasileiros e
estrangeiros residentes no país” podem dispor do serviço do SUS (art.5º, caput,
CF/88), pois o direito de acessar a saúde é um fundamento universal que não pode
se limitado por condições monetárias ou então pelas fronteiras do poder estatal.
No que tange, então, a disponibilidade de acesso ao sistema público de saúde
brasileiro pelas pessoas migrantes e a demanda dos referidos, conforme dados
coletados de 06 Estados pelo Migra Cidades 2020, Sistematização e Análise dos
Dados Sobre a Dimensão de Acesso à Saúde, o estado do Paraná referiu “estabelecer
orientações, fluxos ou protocolos na rede de saúde para facilitação e qualificação do
acesso, acolhimento e atendimento em saúde para migrantes”. Nesta senda, todos os
estados, com exceção do Mato Grosso do Sul, afirmaram que os refugiados têm
acesso à atenção primária em saúde e aos encaminhamentos para serviços de
atenção ambulatória/hospitalar, mesmo que os acessos aos serviços primários não
seja uma competência estatal.
SUMÁRIO
Ademais:
É preciso, nesse caso, afastar o ideal de que todos são iguais, isso pois os
imigrantes não estão em pé de igualdade na sociedade. “Os imigrantes são desiguais,
mesmo que temporariamente, e por isso, devem ser tratados de forma desigual para
que seja preservado os direitos inerentes a toda pessoa” (SILVA, Leda Maria Messias
da; LIMA, Sarah Somensi, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que existe a conscientização dos entes estatais de que o ser migrante
pode dispor dos direitos constitucionais brasileiros, em especial o acesso ao sistema
público e gratuito à saúde, contudo não são tomadas as devidas providências que
regularizem concretamente e judicialmente esses direitos.
Por exemplo, é conhecimento social que para poder utilizar o SUS se necessita
possuir cadastro com o cartão da respectiva unidade, mas legalmente não é dessa
forma. A Portaria nº 1.560, de 29 de agosto de 2002 decreta em seu artigo 5° que “a
ausência do CARTÃO SUS não poderá impedir o atendimento à pessoa brasileira ou
estrangeira, com qualquer tipo de visto de entrada no país, em qualquer unidade de
saúde integrante do Sistema Único de Saúde, sob pena do cometimento de crime de
omissão de socorro”(BRASIL, 2002), porém essa informação não é de conhecimento
comum o que limita ao migrante exigir ser atendido no SUS, por não saber que é seu
direito ser atendido.
Palavras-chave: Migrante. Saúde. Direitos. Vulnerabilidades. Acesso.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: h�p://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 27/04/2023.
Migra Cidades 2020. Sistematização e Análise dos Dados Sobre a Dimensão de Acesso à Saúde.
Disponível em: file:///E:/Users/Usuario/Downloads/migracidades%20sa%C3%BAde.pdf. Acesso em:
27/04/2023.
SILVA, Filipe Rezende; FERANDES, Duval. Desafios enfrentados pelos imigrantes no processo de
integração social na sociedade brasileira. Revista do Instituto de Ciências Humanas –vol.13, nº18, 2017.
Disponível em: h�p://periodicos.pucminas.br/index.php/revistaich/article/view/16249/12788. Acesso em:
27/04/2023.
SILVA, Leda Maria Messias da; LIMA, Sarah Somensi. Os imigrantes no Brasil, sua vulnerabilidade e o
princípio da igualdade. Rev. Bras. Polít. Públicas (Online), Brasília, v. 7, nº 2, 2017 p. 384-403. Disponível em:
h�ps://www.researchgate.net/profile/Leda-Maria-Silva/publication/320203829_OS_IMIGRANTES_NO_
BRASIL_SUA_VULNERABILIDADE_E_O_PRINCIPIO_DA_IGUALDADE/links/
5dc589ff299bf1a47b23d708/OS-IMIGRANTES-NO-BRASIL-SUA-VULNERABILIDADE-E-O-PRINCIPIO-
DA-IGUALDADE.pdf. Acesso em: 27/04/2023.
SUMÁRIO
50
OS IMPACTOS DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA
APOSENTADORIA ESPECIAL E NA PROTEÇÃO DA SAÚDE
DO TRABALHADOR
Carolina Menegon
Advogada e Professora no Curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Mestre em Direito pela mesma instituição, e-mail:
carolina.menegon@unijuí.edu.br ou contato@carolinamenegonadvocacia.com
INTRODUÇÃO
A Emenda Constitucional n.º 103/2019, conhecida como Reforma da Previdência,
trouxe uma série de mudanças nas regras e requisitos para concessão da
aposentadoria especial. Nesse sentido, mostra-se importante avaliar os impactos
dessas mudanças na proteção da saúde do trabalhador, já que este benefício está
intimamente relacionado com as condições do ambiente de trabalho. Assim, a
problemática da pesquisa se embasa nos seguintes questionamentos: Quais foram as
mudanças na aposentadoria especial a partir da Reforma da Previdência? As
mudanças foram favoráveis ou desfavoráveis ao trabalhador?
Preliminarmente, se apresenta a hipótese de que as mudanças na aposentadoria
especial são prejudiciais à saúde do trabalhador. Acredita-se, outrossim, que a
possibilidade de uma flexibilização na reforma, com a retomada da possibilidade de
conversão do tempo especial em tempo comum e a extinção do requisito de idade
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aposentadoria especial surgiu como uma alternativa diante da opção do
legislador em compensar o desgaste dos trabalhadores com os adicionais de
insalubridade ou periculosidade. A sua finalidade é a redução dos riscos no meio
ambiente do trabalho em segundo plano, considerando o fato de alguns serviços, a
despeito da sua insalubridade, continuarem a existir ou a tecnologia não evoluir o
suficiente para torná-los virtuais.
Esta situação justifica o tratamento diferenciado ao segurado que exerce atividade
especial, uma vez que, baseado no binômio probabilidade/magnitude do risco
inerente a este tipo de labor, não é razoável que lhe sejam aplicadas as mesmas regras
e requisitos do trabalhador ordinário.
A aposentadoria especial é benefício previdenciário concedido ao segurado
exposto permanentemente a agentes nocivos, de ordem física, química ou biológica,
em ambiente insalubre. Tem previsão constitucional no artigo 201, §1º e artigo 40, §4º
da Constituição Federal, mas seus requisitos, que eram previstos nos artigos 57 a 58 da
Lei 8.213/91 e artigos 64 a 70 do Decreto 3.048/99, sofreram alterações pelos artigos 10
e 19 da Emenda Constitucional n. 103/2019.
Verifica-se, porém, que a Emenda Constitucional n.º 103/2019 alterou
significativamente a aposentadoria especial, deixando para futura Lei Complementar
dispor os critérios de concessão de aposentadoria em favor dos segurados cujas
atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes nocivos químicos, físicos e
SUMÁRIO
É bem verdade que os únicos países que não têm idade mínima para
aposentadoria especial são Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Egito, Equador, Hungria,
Lêmen, Irã, Iraque, Luxemburgo, Sérvia e Síria. Acontece que o Brasil é um país
continental, razão pela qual a idade mínima proposta atinge de forma
desproporcional, regiões, estados e pessoas, em razão da diferença na expectativa de
vida - principalmente por fatores socioeconômicos. Aqui se poderia falar na
expectativa de sobrevida com qualidade, que, no Brasil, gravita em torno de 65 anos,
ficando atrás de países como México, Chile, Portugal, para citar apenas estes.
(SCHUSTER, 2021, p. 25).
Assim, impor um requisito etário representa uma clara violação aos próprios
princípios norteadores da aposentadoria especial, constituindo, como exposto acima,
uma espécie de trabalho forçado que invariavelmente irá impactar de forma negativa
à saúde dos trabalhadores brasileiros. Por essa razão, inclusive, pende de análise junto
ao Supremo Tribunal Federal a ADI 6309, proposta pela Confederação Nacional dos
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reforma da previdência trouxe consigo mudanças nada benéficas aos
trabalhadores, principalmente no que concerne à aposentadoria especial. A partir dos
dados acima expostos, verifica-se que o trabalhador precisa trabalhar mais tempo em
condições insalubres, e ter mais idade, para poder usufruir da aposentadoria especial.
Dessa forma, a saúde dos trabalhadores que estão expostos a ambientes de trabalho
insalubres ou periculosos será afetada negativamente. Se na prática o trabalhador terá
que continuar no ambiente insalubre até atingir a idade mínima, pode ocorrer a
própria invalidação da regra especial de menor tempo para a aposentadoria especial.
Ou seja, tal alteração legislativa poderá importar em retrocesso social e incongruência
com a própria normatização legal e constitucional pátria, o que vai de encontro aos
avanços civilizatórios alçados pela Constituição Federal de 1988.
Palavras-chave: Aposentadoria. Especial. Labor. Condições insalubres.
REFERÊNCIAS
MAIA FILHO, Napoleão Nunes; WIRTH, Maria Fernanda Pinheiro. Primazia dos direitos humanos na
jurisdição previdenciária: teoria da decisão judicial no garantismo previdenciarista. Curitiba: Alteridade
Editora, 2019.
LANDENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: Dissecando o PPP - De acordo com
a EC 103/2019. São Paulo: LUJUR Editora, 2020.
DOMINGOS, Carlos “Cacá”. Aposentadoria especial no Regime Geral de Previdência Social: Antes e
Depois da Reforma da Previdência. São Paulo: LUJUR Editora, 2020.
RIBEIRO, Maria Helena Carreira Alvim. Aposentadoria especial: regime geral da previdência social e
atualizado com a reforma da previdência- de acordo com a Emenda constitucional 103/2019. 10. ed., rev.,
atual. Curitiba: Juruá, 2020.
SUMÁRIO
51
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO ENFRENTAMENTO DA BARREIRA
LINGUÍSTICA DOS VENEZUELANOS PARA ACESSAR O
DIREITO À SAÚDE
INTRODUÇÃO
A imigração venezuelana para o Brasil tem aumentado significativamente nos
últimos anos devido à crise econômica e política no país vizinho. Nesse contexto, sabe-
se que alguns venezuelanos migram para o Brasil em busca de atendimento médico,
tendo em vista o colapso do sistema de saúde em seu país de origem.
Todavia, os imigrantes enfrentam diversas barreiras para garantir o direito à
saúde. Nesse sentido, um dos fatores que impedem o pleno acesso ao direito à saúde
é a diferença de idioma. Os venezuelanos enfrentam dificuldades de comunicação por
não dominarem o idioma português e, assim, não conseguem, por exemplo, explicar
SUMÁRIO
os sintomas que estão sentindo. Por sua vez, os profissionais de saúde não conseguem
se adaptar às especificidades desses pacientes. Perante este contexto, a pesquisa tem o
escopo de levantar questões sobre a importância da comunicação para perfectibilizar
o direito à saúde aos venezuelanos, de modo a buscar a conscientização acerca da
necessidade de criação de políticas públicas e ações afirmativas que visem assegurar
uma abordagem mais benéfica no sentido linguístico para aprimorar a assistência aos
imigrantes.
Acerca da problemática, sabe-se que a linguagem desempenha um papel crucial
na prestação de serviços médicos, pois é por meio dela que os profissionais de saúde e
os pacientes se comunicam. Uma comunicação eficaz é essencial para o diagnóstico
correto e tratamento adequado. Assim, surge a necessidade de criação de ações
estatais que busquem, por exemplo, a oferta de cursos de língua para os imigrantes
venezuelanos, além de ensinamentos sobre técnicas de abordagem aos profissionais
de saúde.
Ressalta-se que a pesquisa é classificada como bibliográfica e qualitativa, uma vez
que busca abordar a problemática por meio da interpretação de fenômenos
relacionados, atribuindo significado a eles. É qualitativa porque considera a relação
dinâmica entre o mundo real e a subjetividade do sujeito. Além disso, é bibliográfica,
pois se baseia na análise de textos previamente publicados, como livros, artigos
científicos, legislações e doutrinas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As condições políticas, sociais e econômicas da Venezuela foram fatores que
produziram um cenário de intensa miserabilidade e grandes transgressões aos direitos
humanos básicos. A Venezuela apresenta inúmeros problemas, tais como falta de
acesso ao trabalho digno, saúde de qualidade, educação. Dessa forma, os
venezuelanos foram obrigados a sair de seu país e migrar em busca de melhores
condições de vida (PAULA et al., 2019).
Inúmeros são os fatores que fazem com que os Venezuelanos escolham migrar
para o Brasil. A falta de limitação física entre as fronteiras e as similaridades entre o
Estado Bolívar ao sul da Venezuela e o Estado de Roraima ao norte do Brasil são
pontos importantes para que a migração aconteça (RODRIGUES, 2006, p. 3).
Além disso, o Brasil é o país mais buscado pelas famílias venezuelanas que
decidem migrar, pois a legislação brasileira elenca inúmeras garantias aos imigrantes.
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, no caput do artigo 5º, versa sobre os
direitos e garantias fundamentais. O caput do artigo 5° garante que todos são iguais
SUMÁRIO
É necessário entender que não é razoável exigir que pessoas que passaram por
um intenso processo de migração, ainda sofram com a falta de acesso à saúde por
ainda não dominarem a linguagem do país em que estão inseridos.
Torna-se, portanto, essencial que os profissionais de saúde possuam sensibilidade
para compreender as mensagens transmitidas pelos pacientes, a fim de prestar
assistência adequada e eficiente às suas necessidades (GUERRA; VENTURA, 2017).
Todavia, muitas vezes não é isso que acontece. Nesse sentido, em um estudo
conduzido em Roraima, constatou-se uma considerável resistência ao uso do idioma
espanhol pelos enfermeiros entrevistados, acompanhada pela insuficiência de
investimentos na aprendizagem da língua nativa dos imigrantes (ARRUDA-
BARBOSA; SALES; SOUZA, 2020).
A falta de adaptação às barreiras linguísticas no cuidado ao imigrante
compromete seriamente a educação em saúde, que é uma das principais estratégias
para a promoção da saúde e prevenção de agravos. Isso afeta não apenas o cuidado de
enfermagem, mas também a assistência global em saúde, independentemente do nível
de complexidade do sistema, quando os profissionais de saúde não estão dispostos a
fazer as devidas adaptações (ARRUDA-BARBOSA; SALES; SOUZA, 2020)
Assim, nasce a necessidade de se debater acerca da importância da discussão da
linguagem como fator de auxílio no acesso à saúde. Nesse sentido, em estudo
realizado por Guerra e Ventura (2017) foi possível perceber que, embora tenha havido
a contratação de profissionais e a produção de informativos em espanhol em alguns
locais, essas medidas não se mostraram suficientes. Isso evidencia a necessidade de
formulação de novas políticas públicas e aperfeiçoamento das já existentes, já que
tanto os gestores quanto os profissionais de saúde não estão preparados para atender
às especificidades da população migrante (GUERRA; VENTURA, 2017).
Portanto, a falta de preparo dos gestores e profissionais de saúde para atender às
especificidades da população venezuelana, incluindo a barreira linguística, é um
problema real que compromete o acesso e a qualidade da assistência à saúde. Assim,
é necessário que sejam formuladas novas políticas públicas e que as já existentes sejam
aprimoradas para atender de forma mais efetiva às necessidades dessa população,
promovendo a inclusão e garantindo o acesso universal à saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa teve o escopo de refletir acerca da necessidade da criação de políticas
públicas para auxiliar a comunicação dos venezuelanos, a fim de perfectibilizar o
direito à saúde aos imigrantes. Assim foi possível observar, primeiro, que a linguagem
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ARRUDA-BARBOSA, Loeste de; SALES, Alberone Ferreira Gondim; SOUZA, Iara Leão Luna de. Reflexos
da imigração venezuelana na assistência em saúde no maior hospital de Roraima: análise qualitativa.
Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 1-11, 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,
2022.
CHUBACI, Rosa Yuka Sato; MERIGHI, Miriam Aparecida Barbosa. A comunicação no processo da
hospitalização do imigrante japonês. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 6,
p. 805-812, dez. 2002.
GUERRA, Katia; VENTURA, Miriam. Bioética, imigração e assistência à saúde: tensões e convergências
sobre o direito humano à saúde no Brasil na integração regional dos países. Cadernos Saúde Coletiva, São
Paulo, v. 25, n. 1, p. 123-129, 30 mar. 2017.
PAULA, C, et al. A recepção, interiorização e violação aos direitos humanos dos refugiados venezuelanos
no Brasil. Revista Diálogos Interdisciplinares, Mogi das Cruzes, v. 8, p. 10-20, dez. 2019.
RODRIGUES, Francilene. Migração transfronteiriça na Venezuela. Estudos Avançados, São Paulo, v. 20, n.
57, p. 197-207, ago. 2006.
SUMÁRIO
52
BARRIGA DE ALUGUEL: o útero como uma mercadoria
para a biopolítica
INTRODUÇÃO
Este artigo pretende avaliar em que medida a “barriga de aluguel”, ou seja, a
mercantilização do útero, é mais uma das várias expressões da biopolítica na
sociedade brasileira, em que pese tratar-se de uma prática legal. O tema apresenta
especial relevância uma vez que no Brasil o instituto da barriga solidária tem se
tornado uma prática viável, regulamentada pela Resolução do Conselho Federal de
Medicina nº 2.294, de 27 de maio de 2021 (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA,
2021).
O artigo foi construído tendo como problema de pesquisa a seguinte pergunta:
seria a barriga de aluguel mais uma forma de biopoder sobre o corpo da mulher? A
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os direitos sexuais e reprodutivos variam de uma legislação para outra. Essas leis
e regulamentações abrem espaços para diferentes discursos que acabam gerando em
algum aspecto, a depender de suas legislações, uma variada gama de vulnerabilidades
destinadas a uma só pessoa: a mulher.
A sociedade contemporânea é marcada por um discurso e pela força de um
sistema opressor e redutor, o patriarcado e o capitalismo, nos últimos tempos
fortaleceu a indústria e o turismo reprodutivo. Reduzindo um fator biológico a um
fator de mercado, ou seja, a existência de um útero tornou-se uma grande
possibilidade de fazer girar dinheiro, baseado na medicina reprodutiva um vasto
comércio foi implementado.
Sendo assim, o que os cientistas e pesquisadores produzem em laboratórios de
biotecnologia e cadeias produtivas é na verdade biocapital, e isso constitui uma forma
tecnocientífica de capitalismo” (WICHTERICH, 2015, p. 33).
Dessa forma, casais de classe média-alta podem exercer seus direitos de ter um
filho, seja do modo que for, independente de criar vulnerabilidades para outros
sujeitos, ou seja, quando casais exercem seus direitos reprodutivos, uma nova ordem
de reprodução mundial é alimentada, a indústria reprodutiva. Esta, é diversificada e
se aproveita usa dos dispositivos reprodutivos explorando diversidades sociais,
mercado internacional e as diferenças entre legislações de cada país, criando uma
expansão do mercado e monetizando as relações sociais. Pode-se observar que a lógica
das doações não obtêm mais espaço pois confundem e atrapalham as lógicas de
mercado.
O corpo e a mente das mulheres são treinados a produzir uma gravidez bem
sucedida e um produto de qualidade para outra pessoa. É necessário observar aqui a
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço que tem tomado questões que colocam as mulheres em constantes
situações de vulnerabilidades e práticas de gerar dinheiro tem se tornado cada vez
mais centro de discussões. Primeiramente porque abarca a narrativa de que existe a
liberdade de escolha sobre seu corpo, porém, é claro que é apenas mais uma das
formas de controle que o biopoder exerce e também por ser uma estrutura clara de
violência sobre o corpo reprodutivo feminino.
Essa é mais uma das formas de violência imposta às mulheres, tornando-as vidas
nuas que possuem função de reproduzir para o bem estar de outros, utilizando das
SUMÁRIO
técnicas de biopoder para usar o corpo da mulher como uma mercadoria que se
escolhe em uma prateleira de mercado.
A barriga solidária é uma prática – mesmo que nova – no país, de modo que
impossibilita a análise aprofundada de como é administrada e fiscalizada. Todavia, já
perceptível como sendo uma prática passível de ser usada como uma estratégia
biopolítica de controle, reafirmando a mulher como sendo um corpo, definido pela
reprodução. Ainda, teme-se que a prática da barriga solidária abra uma porta para um
negócio no qual o “aluguel” do útero é torne-se um negócio lucrativo e legal,
reprodutor de desigualdades.
Palavras-chave: Biopolítica. Direitos Sexuais. Direitos Reprodutivos. Barriga de
aluguel.
REFERÊNCIAS
BARRIGA Solidária: você sabe como funciona no Brasil?. Fivmed, [S. l.], p. 1, 4 mar. 2022. Disponível em:
h�ps://www.fivmed.com.br/blog/barriga-solidaria-no-brasil/. Acesso em: 11 set. 2022.fic
NIELSSON, Joice Graciele. Corpo Reprodutivo e Biopolítica: a hystera homo sacer. In: Revista Direito e
Praxis, Rio de Janeiro, v. 11, n. 02, 2020, p. 880-910. Disponível em: h�ps://www.scielo.br/j/rdp/a/
MC5VRnhpJrWSpFDk8GxsyNn/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 10 set. 2022.
NIELSSON, Joice Graciele. De quem é este corpo? A instrumentalização dos direitos sexuais e reprodutivos
das mulheres como estratégia biopolítica. In: STURZA, Janaína Machado; NIELSSON, Joice Graciele;
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi (Org.). Biopolítica e Direitos Humanos: entre desigualdades e
resistências. 1 ed.. Santa Cruz do Sul: Essere nem Mondo, 2020.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Barriga de aluguel: o corpo como capital. IBDFAM, [S. l.], p. 1, 24 out. 2012.
Disponível em: h�ps://ibdfam.org.br/artigos/858/Barriga+de+aluguel%3A+o+corpo+como+capital+. Acesso
em: 11 set. 2022.
WICHTERICH, Christa Böll. Direitos Sexuais e Reprodutivos. 11 v. Rio de Janeiro: Heinrich Böll
Foundation, 2015.
SUMÁRIO
53
TRABALHO E SAÚDE: a proteção ao meio ambiente de trabalho hígido
e seguro no âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos
INTRODUÇÃO
No complexo mundo globalizado, observa-se uma significativa alteração e
intensificação dos fluxos de capital e de pessoas, como também diferentes modos de
produzir e trabalhar. Reformuladas noções de tempo e espaço foram sendo criadas em
virtude do desenvolvimento tecnológico e comunicacional, sendo edificadas
estruturas de produção em escala global, caracterizadas pela segmentação da cadeia
de produção, pela precarização do trabalho e pela ampliação dos lucros das empresas
(BIHR, 1988; BECH, 1999; ANTUNES, 2007).
Em benefício dos interesses do capital, os Estados Nacionais vêm promovendo
uma progressiva desregulamentação do mercado de trabalho e flexibilização dos
direitos laborais, refletindo negativamente no próprio meio ambiente de trabalho e na
saúde do trabalhador. Surgem novos tipos de contratos, com variados direitos e
modos de execução, como também são ampliadas as formas de trabalho precário,
marcadas pela instabilidade, pela insegurança e pela desproteção social, a exemplo
dos trabalhadores informais e dos “autoempregados” (CAVALCANTI, 2019;
ANTUNES, 2007).
Nesse contexto de sensível incremento da exploração do trabalho, no qual a saúde
do trabalhador é diretamente impactada, revela-se de suma importância a proteção
SUMÁRIO
internacional conferida aos direitos laborais no âmbito dos sistemas de proteção dos
direitos humanos, notadamente do direito ao trabalho digno e a condições de trabalho
equitativas e satisfatórias.
Assim, a partir do recorte no Sistema Interamericano de Direitos Humanos¹, a
presente pesquisa investigou a proteção conferida à saúde do trabalhador no âmbito
do Sistema Interamericano e buscou responder ao seguinte problema: a Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em sua atuação contenciosa, vem
promovendo a defesa do meio ambiente de trabalho hígido e seguro?
De forma a conferir suporte metodológico ao estudo, foi desenvolvida pesquisa
exploratória, com método de abordagem dedutivo, mediante consulta a referenciais
bibliográficos e análise de documentos internacionais relativos ao tema, sendo
conferida especial atenção às decisões da Corte IDH proferidas após o caso “Lagos del
Campo vs. Perú”, julgado em 31 de agosto de 2017².
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde a segunda metade do século XX, a proteção do ser humano vem sendo
gradualmente fortalecida no âmbito internacional, em resposta às atrocidades
cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário, edifica-se um ramo
especializado do Direito Internacional voltado à proteção do ser humano: o
Direito Internacional dos Direitos Humanos (ALVARADO, 2016; CALIXTO;
CARVALHO, 2020).
O Direito Internacional dos Direitos Humanos surge a partir do processo de
constitucionalização do Direito Internacional, compreendido como um movimento
político e intelectual que pretende dotar o referido direito de características
constitucionais, buscando fazer do Direito Internacional um sistema que justifique,
organize e limite o exercício do poder dos Estados, mediante o respeito aos princípios
da legalidade, à separação dos poderes, ao Estado Democrático de Direito e aos
direitos humanos (PETERS, 2006; TRINDADE, 2007).
Esse processo levou à formação de sistemas internacionais de proteção dos
direitos humanos, de âmbito global e regional, que, em cooperação ao direito interno,
interagem de forma não hierárquica na busca da defesa da dignidade humana
(FACHIN, 2020). Cria-se, assim, um sistema multinível de proteção do ser humano,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Corte IDH exerce papel protagonista no Sistema Interamericano na medida em
que, ao interpretar e aplicar os normativos que integram o Direito Internacional dos
Direitos Humanos, forja standards interamericanos mínimos de direitos humanos,
tendo sido possível identificar, por meio da pesquisa, sua atuação na tutela ao meio
ambiente de trabalho hígido e seguro, em condições dignas, equitativas e satisfatórias
que garantam a saúde, a segurança e a higiene no trabalho.
Palavras-chave: Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Corte
Interamericana de Direitos Humanos. Saúde do trabalhador. Meio ambiente do
trabalho.
5 Vale registar que a Corte IDH nos casos “Los Bulos Miskitos (Lemoth Morris) y otros vs. Honduras (2021),
“Federación Nacional de Trabajadores Marítimos y Portuarios (FEMAPOR) vs. Perú (2022) e “Guevara Díaz vs.
Costa Rica” (2022) reiterou o entendimento esboçado nos casos analisados nesse trabalho.
SUMÁRIO
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Editora
Paz & Terra, 1999.
BIHR, Alain. Da Grande Noite à Alternativa: o movimento operário europeu em crise. Trad. Wanda Caldeira
Brant. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998.
BOGDANDY, Armin von. Del paradigma de la soberania al paradigma del pluralismo normativo. Una
nueva perspectiva (mirada) de la relación entre el derecho internacional y los ordenamientos jurídicos
nacionales. In: CAPALDO, Griselda; SIECKMANN, Jan; CLÁRICO, Laura (Org.). Internacionaización del
derecho constitucional, constitucionalización del derecho internacional. Buenos Aires: EUDEBA, 2012, p. 21-40.
CALIXTO, Angela Jank; CARVALHO, Luciani Coimbra de. The role of human rights in the process of
constitutionalization of international law. Novos Estudos Jurídicos, v. 25, n. 1, p. 235-253, 2020.
CAVALCANTI, Tiago Muniz. Semiliberdade e sub-humanidade nas relações de trabalho das sociedades
contemporâneas: o capitalismo e a metamorfose das ausências. 2019. 331f. Tese (Doutorado em Direito) –
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.
FACHIN, Melina Girardi. Constitucionalismo multinível: diálogos e(m) direitos humanos. Revista Ibérica do
Direito, v.1, n.1, p. 53-68, jan./jun. 2020.
PETERS, Anne. Compensatory Constitutionalism: the function and potential of fundamental international
norms and structures. Leiden Journal of International Law, Leiden, v. 19, n. 3, p. 579-610, 2006.
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A interação entre o direito internacional e o direito interno na
proteção dos direitos humanos. In: TRINDADE, Antônio Augusto Cançado (Org.).A incorporação das normas
internacionais de proteção dos direitos humanos no direito brasileiro. 2ª ed. San Jose da Costa Rica; Brasília: IIDH,
1996, p. 205-236.
SUMÁRIO
54
O ADVENTO DA TECNOLOGIA E O APRIMORAMENTO DA
MONITORIZAÇÃO ELETRÔNICA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO
Vandriele da Silva
Estudante do Curso de Direito da UNIJUÍ. Bolsistas de programas de fomento (CNPq).
Email: vandriele.silva@sou.unijui.edu.br
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A monitoração eletrônica tem sido amplamente utilizada no Brasil como uma
pena alternativa ao encarceramento. A tecnologia permite o monitoramento em tempo
real dos sujeitos custodiados pelo Estado, o que tem se mostrado eficaz na prevenção
de novos crimes, assim como, para garantir o cumprimento das condições penais
impostas pelo Poder Judiciário.
Segundo a Lei 12.258/2010, a monitoração eletrônica deve ser utilizada como pena
alternativa à prisão, visando à proteção da sociedade e à ressocialização do indivíduo.
Através da monitoração eletrônica, que no Brasil é realizada por intermédio da
tornozeleira eletrônica, é possível acompanhar a localização e movimentação do
monitorado em tempo real (BRASIL, 2010).
No entanto, a monitoração eletrônica não é uma solução perfeita e apresenta
algumas desvantagens. Para Wermuth, Chini e Da Rosa (2021, p. 10) “o uso da
tecnologia de monitoramento eletrônico de pessoas no Brasil tem aumentado
significativamente nos últimos anos, com diversas justificativas, como a redução da
criminalidade e a necessidade de fiscalização de presos e detidos”.
Ademais, a eficácia da monitoração eletrônica no sistema penal brasileiro é um
tema controverso. Alguns estudiosos argumentam que essa medida pode ter efeitos
negativos, tais como; a possibilidade de falhas na tecnologia utilizada; a sobrecarga
dos profissionais responsáveis pela monitoração e; a limitação na capacidade de
fiscalização das atividades dos condenados. Além disso, há uma preocupação de que
a monitoração eletrônica possa levar à banalização:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o avanço tecnológico, o aprimoramento da monitoração eletrônica no
sistema penal brasileiro tem trazido benefícios significativos para a execução penal.
No entanto, é importante ressaltar que a utilização da monitoração eletrônica deve ser
realizada com responsabilidade e equilíbrio, levando em consideração as
particularidades de cada caso, assim como, preservar a garantia dos direitos
fundamentais dos sujeitos monitorados eletronicamente.
Diante disso, é importante que o Estado invista na capacitação dos profissionais
que irão lidar com essas tecnologias, bem como, na garantia da privacidade e dos
direitos dos indivíduos monitorados. Também é fundamental a realização de
pesquisas e estudos para avaliar a eficácia da monitorização eletrônica e sua
aplicabilidade no sistema penal brasileiro.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
FONSECA, Jorge Luís da Silva. Os benefícios da monitoração eletrônica no sistema prisional brasileiro.
Disponível em : h�ps://www.unifacvest.edu.br/assets/uploads/files/arquivos/26d18-fonseca,-jorge-luis-
silva.-os-beneficios-da-monitoracao-eletronica-no-sistema-prisional-brasileiro.-lages,-unifacvest,-2019.pdf
acesso em: 27 de abril de 202
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 8. ed. Barueri: Atlas, 2022.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; CHINI, Mariana; DA ROSA, Milena Cereser. Tecnologia de
monitoração eletrônica de pessoas no Brasil: análise de (in) efetivação de garantias fundamentais. Revista
do Instituto de Direito Constitucional e Cidadania, v. 6, n. 1, p. e025-e025, 2021. Disponível em: h�p://
revistadoidcc.com.br/index.php/revista/article/view/e025. Acesso em: 03 maio 2023.
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; CHINI, Mariana. Monitoração eletrônica de pessoas em âmbito
penal: considerações sobre o transcurso da tecnologia. Revista de Direitos Humanos e Desenvolvimento
Social, v. 2, p. 1-18, 2021.Disponível em: h�ps://periodicos.puc-campinas.edu.br/direitoshumanos/article/
view/5790. Acesso em: 03 maio 2023.
BRASIL. Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010. Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), e a Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para prever a possibilidade
de utilização de equipamento de vigilância indireta pelo condenado nos casos em que especifica. Brasília:
Presidência da República, 2010. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/
Lei/L12258.htm. Acesso em: 04 de maio de 2023.
SUMÁRIO
55
RACISMO INSTITUCIONAL: obstaculização do acesso à saúde
pública no brasil sob a perspectiva da fraternidade
INTRODUÇÃO
Sabe-se que processos forjadores como o fenômeno do racismo conduzem à
deterioração das condições existenciais humanas sob a perspectiva da dignidade da
pessoa humana, fato que repercute na violação dos direitos humanos. No âmbito
brasileiro, o cenário sanitário apresenta-se enquanto um locus de limites e
possibilidades de perceber a forma como a estrutura racista penetra de forma
sistêmica na organização e ação do Estado a partir de suas instituições e políticas
públicas, operacionalizando-se para fabricar uma hierarquia social com o intuito de
legitimar condutas seletivas de exclusão em detrimento de grupos racialmente
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sabe-se que são múltiplas as teorias que se referem a estruturação da sociedade e
de seus sistemas sociais. Assim, as interações e as ações sociais são fundamentais para
a realização do social sendo a base para o estabelecimento dos sistemas e da estrutura
social, uma vez que “esses arranjos [...] tem um aspecto coercitivo – vide, por exemplo,
a consciência coletiva, de que fala Durhkeim – e também de capacitação dos atores
sociais – caso de Giddens e Bourdier” (HOMMERDING, 2020, p. 29), ou seja, o social
se constituirá pelas ações e interações sociais, mas também exercerá coerção em
determinada medida nas ações individuais e nos sistemas sociais por meio da
estrutura social. Por outro lado, o racismo e suas articulações, presentes nas obras de
Fran� Fanon, particularmente, “Peles Negras, Máscaras Brancas” (FANON, 2020),
busca desvendar os elementos psicanalíticos do homem negro, sendo que as
inquietações de Fanon, quando associadas aos estudos sobre a estrutura social,
demonstram que o racismo opera em várias ‘frentes”, uma vez que decorrente das
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sob a perspectiva da Metateoria do Direito fraterno, constata-se que o racismo
institucional obstaculiza o acesso à saúde pública no Brasil. Assim, é preciso retomar a
fraternidade revolucionária, para que ela seja capaz de redimensionar as outras duas
categorias (liberdade e igualdade) e seja compreendida enquanto uma potencial
transformadora da humanidade. Nessa discussão, a fraternidade é uma desveladora
de paradoxos, além de ser capaz de instaurar seu conteúdo vital na seara global e
constituir espaços comuns compartilhados onde a humanidade desperta para o senso
de humanização na saúde brasileira. Em O Direito Fraterno escrito pelo professor
Eligio, o grande paradoxo a ser desvelado pela fraternidade é o de que “os Direitos
Humanos são aqueles direitos que somente podem ser ameaçados pela própria
humanidade, mas que não podem encontrar vigor, também aqui, senão graças à
própria humanidade” (RESTA, 2020, p. 13). Sobretudo, é somente na humanidade e a
partir dela que é possível haver o desvelamento dos paradoxos e superar
problemáticas como o racismo institucional estrutural sistêmico no contexto do acesso
à saúde no Brasil.
Palavras-chave: Acesso à saúde. Direitos Humanos. Racismo institucional. Saúde
Pública. Sistema de Saúde Pública (SUS).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Disponível em: h�ps://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 01 mai. 2023.
FANON, Fran�. Peles negras mascaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020.
GIDDENS, Anthony. A Dualidade da Estrutura: Agência e Estrutura. Oeiras: Celta Editora, 2000.
RESTA, Eligio. O direito fraterno [recurso eletrônico]. 2ª Edição. Tradução de: Bernardo Baccon Gehlen,
Fabiana Marion Spengler e Sandra Regina Martini. Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2020.
SAPEDE, Thiago C.. Racismo e dominação Psíquica em Fran� Fanon. In: Sankofa (São Paulo), [S.L.], v. 4,
n. 8, p. 44, 6 dez. 2011. Universidade de São Paulo, Agencia USP de Gestão da Informação Acadêmica
(AGUIA). Disponível em: h�p://dx.doi.org/10.11606/issn.1983-6023.sank.2011.88810. Acesso em: 06 mai.
2023.
SUMÁRIO
56
DA TRAGÉDIA SANITÁRIA À TRAGÉDIA HUMANITÁRIA: uma
análise do caso do povo yanomami no contexto do direito à saúde
Trabalho desenvolvido a partir das pesquisas de Trabalho de Conclusão de Curso feitas pelo
autor Maycon Richer de Albuquerque Santos, sob orientação da Professora Gabrielle Scola
Dutra, no âmbito do eixo de pesquisa Direito Constitucional e temáticas contemporâneas da
Faculdade de Balsas (UNIBALSAS), Balsas/MA.
Maycon Richer de Albuquerque Santos
Estudante do Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Balsas (UNIBALSAS), Balsas/
MA. E-mail: maycon.santos@alu.unibalsas.edu.br.
INTRODUÇÃO
O Brasil detém uma diversidade de povos indígenas que habitam o seu território
e constituem o próprio caráter cultural e identitário do país. As comunidades
indígenas que existem no contexto brasileiro nascem das relações biológicas de
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No contexto do território habitado pelo Povo Yanomami no Brasil, sabe-se que
nos últimos anos o avanço da atividade garimpeira tomou proporções inconcebíveis,
resultando em uma série de complicações cujos níveis jamais foram alcançados
anteriormente. Dentre os maiores problemas estão aqueles vinculados com a violação
dos direitos humanos, e, principalmente, do direito à saúde da referida comunidade
SUMÁRIO
direito. Se na zona urbana, em que teoricamente o contato com os meios de acesso são
mais fáceis, ainda ocorre esse tipo de deficiência, fica fácil mensurar o tamanho do
problema que os indígenas vêm enfrentando em isolamento total no meio das
florestas. Diversas crianças Yanomamis morreram de disenteria, gripe, malária, entre
outras doenças simples, cujo tratamento poderia ser feito de forma básica, exigindo-se
apenas, pessoas e remédios certos (SOUZA, 2023).
O princípio da dignidade da pessoa humana não é direcionado apenas a um
grupo específico, ele é um direito de todos os indivíduos e compete ao Estado o dever
de garanti-lo. O povo Yanomami está morrendo de inanição, além disso, enfrenta uma
série de doenças cujas principais causas partem dos invasores e não houve do Estado
as medidas básicas para combater tais atrocidades. Neste sentido, conclui-se que a
dignidade humana não está presente nesse cenário, uma vez que as garantias básicas
de sobrevivência não foram alcançadas, fato que provoca a inefetivação do direito à
saúde de tais indivíduos vulneráveis (COLL; MENEZES, 2023).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante disso, a presente pesquisa mostra-se relevante para a sociedade, pois ela
poderá compreender com mais clareza através deste estudo, os deveres e as falhas do
estado, o qual deveria zelar pela integridade de todos os brasileiros, segundo preceitos
da própria Constituição Federal. No presente trabalho serão abordados todos os meios
necessários para que o leitor entenda a origem da crise vivida pelo povo Yanomami,
construindo uma rede de conscientização para cobrar das autoridades competentes a
implantação de medidas que visem combater esses problemas (BRASIL, 1988).
Do mesmo modo, o estudo também será importante para o direito, pois o mundo
jurídico se nutrirá com maiores informações sobre a tragédia em curso, e a partir de
então, terá a oportunidade de colocar em prática todo o arcabouço de leis nacionais e
tratados internacionais, no sentido de garantir que os próceres causadores da
destruição ocorrida no curso dos últimos cinco anos, sejam devidamente
responsabilizados. Para além disso, como as leis costumam surgir na medida em que
as demandas aparecem na sociedade, esse trabalho poderá servir como um norte para
conduzir o legislativo, na buscar de preencher possíveis lacunas na legislação nacional.
Palavras-chave: Crise Humanitária. Crise sanitária. Direito à saúde. Indígenas.
Yanomami.
SUMÁRIO
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado Federal:
Centro Gráfico, 1988.
COLL, Liana; MENEZES, Adriana. Situação dos Yanomami expõe abandono dos indígenas pelo Estado. In:
UNICAMP. 24, jan. 2023. Disponível em: h�ps://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2023/01/24/situacao-
dos-yanomami-expoe-abandono-dos-indigenas-pelo-estado. Acesso em: 19, mar. 2023.
SOUZA, Oswaldo. O que você precisa saber para entender a crise na Terra Indígena Yanomami. In:
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. 31, jan. 2023. Disponível em: h�ps://www.socioambiental.org/noticias-
socioambientais/o-que-voce-precisa-saber-para-entender-crise-na-terra-indigena-yanomami. Acesso em: 19
mar. 2023.
SUMÁRIO
57
A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE PELA
MEDIAÇÃO FRATERNA SANITÁRIA NO ÂMBITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Trabalho desenvolvido a partir da linha de pesquisa das autoras, qual seja: Políticas de
Cidadania e Resolução de Conflitos.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a saúde é um direito humano fundamental e reconhecida como um
bem comum da humanidade porque detém dimensões imprescindíveis para a
manutenção da existência humana. A saúde apresenta limites e possibilidades a sua
concretização, tendo em vista que a dinâmica complexa da sociedade impõe a
humanidade certas obstaculizações ao acesso à saúde. No contexto brasileiro, déficits
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O contexto histórico e civilizacional global revela que a saúde é discutida
numa perspectiva, tendo em vista que se conecta com multifacetadas questões e
fatores sociais que repercutem no bem-estar do ser humano. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) reconhece o conceito de saúde para além da concepção do binômio
saúde/doença, e perfectibiliza a saúde enquanto um completo estado existencial de
bem-estar físico, mental e social que um ser humano pode contemplar em sua vida
(OMS, 2023). A OMS estabelece a premissa de que a saúde deve ser compreendida
como um bem comum da humanidade, ou seja, “a saúde deve ser entendida em
sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida, e, assim, não é um bem
de troca, mas um bem comum, um bem e um direito social” (OMS, 2023).
No âmbito brasileiro, a saúde é positivada na Constituição Federal
promulgada em 1988 (CF/88), mais precisamente, elevada a dimensão de direito
SUMÁRIO
1 Assim, “o fenômeno da judicialização pode ser entendido como a atuação do Judiciário de modo a realizar direitos que
haveriam de ser conferidos a partir da tomada de decisões por parte do Executivo e do Legislativo” (FARIA;
MARCHETTO, 2020, p. 162).
2 No pensamento de Janaína Machado Sturza e Sandra Regina Martini, “Retomar as definições e dimensões dos bens
comuns significa retornar a velhos conceitos como aqueles da amizade, pactos, acordos, inclusão, em uma palavra:
retornar a fraternidade como um código capaz de desvelar paradoxos, inclusive o paradoxo do público do público.
Além disso, refletir sobre o direito à saúde e fraternidade implica em retomar o conceito de comunidade” (STURZA;
MARTINI, 2017, p. 405).
SUMÁRIO
3 Sob essa perspectiva, o conflito negativo é instituído a partir de binômios adversariais, simplificado pelo complexo
amigo/inimigo e o conflito positivo pode ser vislumbrado enquanto oportunidade de desenvolvimento civilizacional,
enquanto um potencial transformador do mundo real.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A título de conclusão, percebe-se que a fraternidade é compreendida enquanto
uma desveladora do paradoxo do direito à saúde, à medida em que detém
potencialidade para ser incorporada na mediação sanitária em prol da efetivação do
direito à saúde. Assim, a mediação fraterna sanitária é um mecanismo que facilita o
tratamento dos conflitos no âmbito da administração pública, pois fomenta a
constituição de um espaço comum compartilhado de diálogo pelo entendimento entre
o sujeito que necessita de acesso à saúde e a administração pública que detém a
estrutura para facilitar o acesso à saúde para aquele que precisa. É por isso que a
mediação fraterna sanitária se apresenta enquanto uma aposta, um desafio e uma
possibilidade de se inaugurar um novo percurso compartilhado de concretização do
direito à saúde.
Palavras-chave: Administração Pública. Direito à saúde. Fraternidade. Mediação
Sanitária.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Disponível em: h�ps://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 01 mai. 2023.
D’ANTONIO, Suzete de Souza. Mediação sanitária: diálogo e consenso possível. In: Cadernos Ibero-
Americanos de Direito Sanitário. Brasília, 5(2):8-22, abr./jun, 2016. Disponível em: h�ps://www.cadernos.
prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/article/view/255/380. Acesso em: 01 mai. 2023.
FARIA, Lucas Oliveira; MARCHETTO, Patrícia Borba. A judicialização da saúde: atores e contextos de um
fenômeno crescente. In: Revista de Direito Brasileira. 2020. Disponível em: h�ps://www.indexlaw.org/
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Conceito de saúde. 2023. Disponível em: h�ps://www.
who.int/pt. Acesso em: 01 mai. 2023.
RESTA, Eligio. O direito fraterno [recurso eletrônico]. 2ª Edição. Tradução de: Bernardo Baccon Gehlen,
Fabiana Marion Spengler e Sandra Regina Martini. Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2020.
STURZA, Janaína Machado. MARTINI, Sandra Regina. O município enquanto espaço de consolidação de
direitos: a saúde como bem comum da comunidade. In: Revista Jurídica UNICURITIBA. vol. 04, n°. 49,
Curitiba, 2017. pp. 393-417. disponível em: h�p://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/
2364. Acesso em: 01 mai. 2023.
SUMÁRIO
58
AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS GERADAS PELA
INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA SOBRE A RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS FRENTE AO DEVER DE
PRESTAR ASSISTÊNCIA À SAÚDE CONFORME AS
CONTROVÉRSIAS JURÍDICAS DEBATIDAS PARA A FIXAÇÃO DO
TEMA 793 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
INTRODUÇÃO
O direito à saúde está no rol dos direitos sociais previstos na Constituição Federal
Brasileira de 1988, sendo que este direito tem sido garantido pelo poder público
através do Sistema Único de Saúde. Diante disso, ainda que o direito à saúde seja de
responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos Municípios, o SUS fixou
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As diversas interpretações contraditórias feitas sobre a responsabilidade solidária
dos entes federados frente as demandas de saúde causaram graves consequências,
tanto no âmbito do Poder Judiciário, como no âmbito da organização do Sistema
Único de Saúde.
Evidente que, nem todas as consequências são negativas. Como bem pontua a
juíza federal Luciana da Veiga Oliveira “[...] a judicialização forçou uma atuação dos
demais poderes, Executivo e Legislativo, a melhor estruturar o SUS e a dar maior
abrangência ao direito à saúde.” (OLIVEIRA in SANTOS et al. [Orgs.], 2014, p. 187).
Como exemplo, a juíza pontua que “[...] houve a revisão da RENAME, a qual passou
de 550 para 810 itens, e atualização dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas”
no ano de 2014. (OLIVEIRA in SANTOS et al. [Orgs.], 2014, p. 187).
No entanto, a aplicação do entendimento do federalismo solidário ilimitado
pelos operadores do direito, incluindo juízes e tribunais, também tem provocado
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, a partir da análise breve realizada no presente texto, pode-se concluir
que a interpretação equivocada quanto a responsabilidade dos entes federados pela
assistência à saúde causa um grande impacto na organização e no orçamento público,
comprometendo a estabilidade do sistema e aumentando as desigualdades sociais,
considerando que apenas parte da população é privilegiada com essas demandas
interpostas perante o Poder Judiciário.
Assim, evidente o aumento da judicialização da saúde após a fixação da tese da
solidariedade, bem como incontroversa a conclusão de que a interpretação errônea da
responsabilidade é uma das principais causas da atual desestruturação do SUS, o qual,
diante da frequente interferência judicial, acaba por não atingir os seus objetivos.
Palavras-chave: Saúde. SUS. Judicialização. Responsabilidade. Competência.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Embargos de Declaração no Recurso Extraordinário nº 855.178 – SE.
Relator: Ministro Luiz Fux. Publicado no DJE de 16 de abril de 2020. Disponível em: h�ps://portal.stf.jus.br/
processos/downloadPeca.asp?id=15319097113&ext=.pdf. Acesso em: 05 mai. 2023.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Estatísticas Processuais de Direito à Saúde. 2022. Disponível em:
h�ps://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=a6d�ee4-bcad-4861-98ea-4b5183e29247&sheet=87ff247a-
22e0-4a66-ae83-24fa5d92175a&opt=ctxmenu,currsel. Acesso em: 28 abr. 2023.
DRESCH, Renato Luís. Federalismo solidário: a responsabilidade dos entes federativos na área da saúde.
In: SANTOS, Lenir; TERRAZ, Fernanda [Orgs.]. Judicialização da Saúde no Brasil. Campinas: Saberes,
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OLIVEIRA, Luciana da Veiga. Comitês Executivos da Saúde. In: SANTOS, Lenir; TERRAZAS, Fernanda
[Orgs.]. Judicialização da saúde no Brasil. 1. ed. Campinas: Saberes, 2014. p. 190-191.
SUMÁRIO
59
MANIPULAÇÃO GENÉTICA: o conflito entre o princípio da
isonomia e o princípio do progresso científico
INTRODUÇÃO
As técnicas de manipulação genética têm sido amplamente utilizadas na era da
globalização, permitindo a intervenção no código genético humano. Essa prática,
conhecida como movimento eugenista, busca melhorar geneticamente a raça humana
por meio de duas correntes: eugenia positiva e eugenia negativa. Atualmente, uma
terceira corrente, chamada de neogenia, surgiu com o avanço das tecnologias
genéticas.
Este estudo analisa se as práticas de manipulação genética promovem a
discriminação social, questionando se a liberação dessas práticas viola o princípio
constitucional da igualdade. Duas hipóteses são propostas: 1) as práticas de
manipulação genética violam o princípio da igualdade, pois permitem tratamentos
diferenciados entre os indivíduos; 2) as práticas de manipulação genética não violam
o princípio da igualdade, pois o direito ao progresso científico é mais relevante.
Considerando as consequências permanentes para a raça humana, é necessário
impor restrições legais às práticas de manipulação genética, inclusive em nível
transnacional. A pesquisa utilizará o método hipotético-dedutivo, analisando
bibliografias e artigos científicos, e será dividida em três capítulos
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os princípios são normas de conteúdo aberto que otimizam situações fáticas. Em
alguns casos, princípios podem entrar em conflito sem que um seja declarado
inválido, como ocorre com regras. Neste estudo, o conflito entre os princípios da
isonomia e o progresso científico é resolvido através do sistema de sopesamento, que
avalia qual princípio prevalece em determinado caso, considerando adequação,
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. No caso das práticas de
manipulação genética, o princípio da isonomia prevalece devido aos riscos
desconhecidos e potenciais impactos irreversíveis na vida.
Para uma atuação proativa, é sugerida a implementação de legislações
transnacionais, pois a manipulação genética ultrapassa as fronteiras de um único
Estado e afeta toda a sociedade. Conclui-se que as práticas de manipulação genética
com fins eugênicos violam o princípio constitucional da isonomia, ao permitir
tratamentos diferenciados entre os indivíduos com base em características genéticas
consideradas superiores, discriminando aqueles que não possuem esses traços.
Nesse sentido, a regulamentação das práticas de manipulação genética e assuntos
correlatos é de relevância global, uma vez que impactam a sociedade como um todo e
não se limitam às fronteiras de um único Estado. Isso decorre do fenômeno da
globalização, que demanda uma análise transfronteiriça das questões. Portanto, a
regulamentação adequada dessas questões requer uma abordagem transnacional, a
fim de garantir maior eficiência e proteção aos direitos envolvidos (FORNASIER;
FERREIRA, 2015). No entanto, ainda não há maturidade jurídica suficiente para a
criação de uma regulamentação transnacional abrangente sobre o tema.
Palavras-chave: Colidência de princípios. Direitos fundamentais. Eugenia.
Isonomia.
SUMÁRIO
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3. ed. Coimbra:
Livraria Almedina, 1998.
FORNASIER, Mateus de Oliveira; FERREIRA, Luciano Vaz. Autorregulação e direito global: os novos
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GOULART, M. et al. Manipulação do genoma humano: ética e direito. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v.
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HABERMAS, Jürgen. O futuro da natureza humana: a caminho de uma eugenia liberal? Trad. Karina
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TARIFA, Rita de Cássia Resque�i; FERRARO, Valkiria Lopes. Autonomia corporal e manipulação genética.
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index.php/iuris/article/viewFile/4052/3588. Acesso em 05 maio 2023.
SUMÁRIO
60
O FENÔMENO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS E SEUS
IMPACTOS NO PROCESSO DE EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO
ACESSO À SAÚDE
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os fluxos migratórios têm um impacto significativo na saúde daqueles que
migram, tornando os imigrantes um grupo particularmente vulnerável à miríade de
fatores responsáveis por determinar suas condições de saúde. As condições em que
muitos migrantes viajam podem ser precárias e expô-los a riscos para a saúde,
incluindo desidratação, desnutrição e doenças infecciosas. Este fator ganha ainda mais
relevância quando levamos em conta a dificuldade que os migrantes têm de acessar os
serviços de saúde uma vez que se estabeleçam em um novo país, o que se deve a
fatores como a falta de documentos, idioma e diferenças culturais.
De tal maneira, o fenômeno migratório tem mostrado ser um complexo desafio
na área da saúde pública, com impacto no nível da atenção à saúde e nos sistemas dos
países que recebem os imigrantes (DIAS et al.,2010). No caso do Brasil, o direito ao
acesso universal e gratuito à saúde é assegurado a todos, inclusive aos migrantes que
aqui se encontram, independentemente de sua situação migratória ou documental.
Nesse norte, a Constituição Federal Brasileira de 1988 estabelece, no art. 196, que a
saúde é direito de todos e dever do Estado, sendo reforçada, recentemente, com a nova
Lei de Imigração de 2017, que estabelece em seu art. 4° que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, através do que foi exposto, percebe-se que os registros realizados
pelos serviços de saúde acerca do acesso da população imigrante ao sistema público
de saúde são omissos, já que conforme o relatório MigraCidades 2020, que foi
realizado analisando seis estados, apenas dois estados relataram coletar informações
acerca das demandas de saúde da população migrante.
Sabemos que a análise de dados é de suma importância para criar ou melhorar
políticas públicas, tornando-as mais eficientes, servindo como fontes de informação
para criar políticas públicas baseadas em evidências. No entanto, conforme o que foi
analisado neste trabalho, chega-se à conclusão que há necessidade de mais dados
acerca da situação dos migrantes internacionais vivendo em solo brasileiro, pois as
pesquisas existentes são poucas, desatualizadas ou insuficientes para informar quais
âmbitos necessitam melhorias.
Palavras-chave: Migração. Saúde Pública. Dados.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Brasília, DF: Presidência da
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SUMÁRIO
61
A NECROPOLÍTICA COMO MECANISMO NAS MÃOS DO
ESTADO PARA PROMOVER A MORTE INDIRETA DOS PRESOS
PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS NO BRASIL
INTRODUÇÃO
O tema do presente resumo expandido versa a respeito da Necropolítica como
mecanismo nas mãos do Estado para promover a morte indireta dos presos
portadores de transtornos mentais no Brasil. O assunto em questão visa analisar como
as políticas da morte se relacionam na garantia ou não dos direitos e garantias
fundamentais dos encarcerados acometidos por transtornos mentais.
No decorrer dos estudos sobre a problemática no cárcere brasileiro fica evidente
que o principal impasse está na falta de condições mínimas de dignidade para os
detentos, sendo que o déficit dessas circunstâncias acaba determinando a “morte
indireta” dos encarcerados no sistema prisional, uma vez que, os apenados são vistos
como objetos e não como pessoas que possuem direito à vida, saúde, trabalho,
educação, lazer entre outras prerrogativas.
A abordagem deste resumo está focada na realidade caótica do cárcere brasileiro,
mais precisamente no que diz respeito aos detentos portadores de transtornos
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Necropolítica surge após muitos discursos biopolíticos que já não suprem a
ideia da necessidade e predisposição do Estado em promover a morte indireta a certas
camadas sociais. Esta nova política evidenciada pelo autor Achille Mbembe, visa
compreender e criticar as novas dimensões de poder, as quais atuam entorno das
vidas consideradas matáveis, descartáveis, insignificantes e desprezíveis.
De acordo com Silvio de Almeida, citado por Gilson Iannini (2022, p. 16), “Não é
preciso que o Estado mate; basta que ele deixe morrer ou deixe matar. Ou ainda: que
deixe que se matem uns aos outros”.
A morte física destes sujeitos invisíveis se torna apenas o final de um processo
desumano que retira gradativamente, mediante muito sofrimento físico e mental as
camadas de vida íntegra deles. Dessa forma, as formas de “matar” são inúmeras, pois
o único objetivo da Necropolítica é eliminar àqueles “inimigos” e massacrar seus
corpos, com intuito de acabar com qualquer condição humana.
Os autores que abordam o tema da Necropolítica entendem que esta forma de
gestão das vidas se assemelha aos campos da morte. Atualmente, pode-se mencionar
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a propagação da Necropolítica torna-se mais evidente a realidade caótica do
cárcere brasileiro que é vivenciada na pele pelos seus “clientes”, pois, as violações à
integridade física e mental dos detentos é corriqueira. O Estado e a sociedade
espalham a ideia da repressão, castigo, tortura, punição, através da propagação de
uma política de ódio incorporada pelo desrespeito, violência e irrelevância quanto a
situação dos apenados no sistema prisional.
Após a exposição das problemáticas no sistema prisional brasileiro,
principalmente pela falta de gestão adequada do Estado e do julgamento precipitado
da sociedade, entende-se que o mais viável para garantir a dignidade dos apenados
portadores de transtornos mentais é acompanhá-los mediante atendimentos
rotineiros com as equipes médica, psicóloga e assistencial, a fim de fazê-los entender e
ressignificar os sofrimentos mentais pelos quais estão passando dentro da
penitenciária.
Nesse sentido, outra possibilidade viável é a criação de instituições de caráter
terapêutico com o objetivo de manter esses sujeitos em um local acolhedor, afastados
das mazelas do cárcere e na companhia de colegas que passam pelos mesmos
problemas.
Os acompanhamentos especializados para os presos portadores de transtornos
mentais devem ser feitos conjuntamente com o apoio e participação da família e da
comunidade, atendendo as medidas preventivas e promovendo melhorias na
estrutura dos locais e qualificação dos profissionais que irão atender esses detentos,
pois, acredita-se que, apenas um trabalho em conjunto pode dar efetividade a cura ou
estabilização na condição mental.
Desse modo, cabe ao Estado promover avanços significativos nas casas prisionais
e nas condições para receber os detentos portadores de transtornos mentais, mas,
também, é responsabilidade de cada um de nós olhar de forma humana e solidária
para o próximo, considerando que jamais saberemos a dor da privação da liberdade
até sentir na pele como ela opera e mata.
Palavras-chave: Vida. Morte. Cárcere. Transtorno Mental. Estado.
SUMÁRIO
AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
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PALOMBA, Guido Artur. Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. De acordo com o Código Civil de
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SUMÁRIO
62
O PANÓPTICO CONTEMPORÂNEO: o uso da tornozeleira eletrônica
sob o olhar da monitoração constante idealizada por Foucault
INTRODUÇÃO
O presente estudo debruça-se sobre a utilização da monitoração eletrônica como
um instrumento de controle social, na perspectiva do conceito de vigilância constante,
idealizada por Michel Foucault (1987). Trata-se de estudo sensível a temática dos
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O registro da primeira prisão brasileira remonta à Carta Régia de 1769, que
determinava a instalação de uma casa correcional no estado do Rio de Janeiro -
demonstrando aquilo que seria o desejo do Estado de aperfeiçoar o poder punitivo,
que outrora fora bárbaro (SILVA MATTOS, 1885). O sistema prisional, que
utopicamente foi instituído no Brasil para afastar do sujeito transgressor do poder
punitivo do Estado e em tese proteger o corpo e a dignidade do tutelado dos arbítrios
dos representantes do Estado, traça, historicamente, uma grande marca do fracasso do
Estado.
O Brasil apresenta a terceira maior população carcerária do mundo, em 2022 a
população carcerária era de 820.689 pessoas privadas de liberdade sendo que o
sistema conta com 634.469 vagas o que demonstra a superlotação do sistema
penitenciário brasileiro (FÓRUM DE SEGURANÇA, 2022). A respeito, Castro e
Wermuth (2021, p. 31) transcorrem sobre a realidade do sistema prisional brasileiro
representa um continuum de violências sistêmicas dos valores tidos como essenciais à
dignidade que preconizam o Estado Democrático de Direito, conforme rege a
Constituição Federal de 1988.
É incontroverso que a realidade experimentada pelos sujeitos custodiados pelo
Estado é determinante para a possibilidade de superação do cárcere. Logo, a Lei de
Execução Penal (BRASIL, 1984) não encontra efetividade no que toca à realidade do
sistema penitenciário brasileiro, e consequentemente, rompe com a lógica protetiva
instituída pela Constituição Federal (BRASIL, 1988):
SUMÁRIO
Foucault (1975), em sua obra Vigiar e Punir, reflete sobre essa estrutura como
uma forma de controle social, além de indicar a vigilância constante como um fato
disciplinador do indivíduo. Dessa forma, quanto maior for a probabilidade da pessoa
estar sendo vigiada, mais forte será sua persuasão.
O imbróglio que contorna o uso da monitoração eletrônica, encontra-se na
dicotomia entre conceder o que chamam de “liberdade monitorada” ou maximizar o
Poder de vigiar e punir do Estado, que coloca o sujeito monitorado em uma espécie de
panóptico contemporâneo, em que ele está constantemente sendo observado e
controlado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A monitoração eletrônica é um instrumento que transcende o âmbito penal e
corrobora para que haja o controle social. A afirmação se justifica, devido a existência
de vigilância constante, conceito evidenciado por Foucault (1975), nos indivíduos
monitorados a serem disciplinados eletronicamente.
Nesse sentido, pode-se concluir que o sujeito monitorado tem seu corpo marcado
pelo poder de “vigiar e punir” exercido pelo Estado, como resultado de uma punição
social, além de ser submetido a um panóptico contemporâneo, pois está sendo
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: h�p://
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SUMÁRIO
63
O ACESSO À SAÚDE PARA FINS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO
POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA AOS MAIS VULNERAVÉIS
INTRODUÇÃO
A condição de vulnerabilidade surgiu em diferentes áreas disciplinares sendo
utilizado como um estudo de saúde-doença na sua relação com as condições de vida
dos indivíduos que se encontram restritos às questões econômicas. Para Figueiredo,
Weihmüller, Vermelho e Araya (2017) o conceito de vulnerabilidade surgiu no âmbito
jurídico como uma maneira de reconhecer as condições de fragilidade de
determinadas populações no que se vinculam pela falta de garantia de seus direitos
sociais, civis e políticos.
A vulnerabilidade ao acesso à saúde para pessoas mais pobres fere os direitos
humanos, pois a saúde é um direito fundamental reconhecido internacionalmente,
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O acesso à saúde é um direito humano universalmente reconhecido, contudo,
muitas pessoas em situações de vulnerabilidade ainda enfrentam dificuldades para
acessar serviços de saúde adequados. Os grupos sociais que se encontram em
desvantagem, como pessoas com baixo status socioeconômico, minorias étnicas e
raciais, pessoas com deficiência, pessoas que vivem com HIV/AIDS e pessoas em
situação de rua, são frequentemente excluídos dos serviços de saúde, enfrentando
barreiras múltiplas, incluindo falta de recursos financeiros, discriminação e estigma,
entre outras (DIMENSTEIN; CIRILO NETO, 2020).
É de suma importância enfatizar que o acesso à saúde não deve ser visto como um
fim em si mesmo, mas sim como um meio para alcançar um objetivo maior para todos
os indivíduos. Para atingir esse objetivo, é necessário que os serviços de saúde sejam
de alta qualidade, abrangentes, integrados e culturalmente sensíveis às necessidades
das populações atendidas. O acesso à saúde para pessoas mais vulneráveis é um
desafio que requer uma abordagem abrangente e direcionada.
É necessário que sejam adotadas medidas eficazes para garantir que todas as
pessoas tenham acesso aos serviços de saúde adequados, independentemente de sua
situação socioeconômica ou vulnerabilidade, a fim de alcançar uma sociedade mais
justa e equitativa.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As prioridades adotadas pelos governos constituem o cerne das políticas
públicas, bem como, as de acesso à justiça para a comunidade mais vulnerável, nesse
sentido, as políticas devem de acesso à saúde devem possuir como preceito a iniciativa
do Estado no que diz respeito a atenção e garantia das principais demandas sociais
relacionadas a problemas de ordem pública ou coletiva.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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SCHMIDT, João Pedro. Para estudar políticas públicas: aspectos conceituais, metodológicos e
abordagens teóricas. Revista do Direito. Santa Cruz do Sul, v 3, n 56, 2018.
SUMÁRIO
64
O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA: reflexões acerca da (falsa) liberdade de
expressão disseminada nas redes sociais contra mulheres negras
INTRODUÇÃO
A tecnologia digital tornou-se um sólido instrumento de interação social, labor e
conhecimento, mas também, um difusor de discursos discriminatórios no ambiente
virtual. Podemos afirmar que as redes sociais são engenhos que permitem às pessoas
destilarem discursos racistas, misóginos e discriminatórios contra diversos grupos
sociais, seria a ampla capacidade de construção e validação de discursos de ódio de
forma instantânea.
Não obstante a criminalização do racismo e da injúria racial também no cenário
tecnológico, os ataques virtuais mascaram-se do direito à liberdade de opressão para
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O racismo é um fenômeno social, econômico e político no Brasil, infelizmente,
arraigado como inerente à ordem social. De acordo com a perspectiva de Silvio
Almeida (2021), o racismo é estrutural, decorrente da estrutura social constituída
através das relações políticas, jurídicas e familiares. A viabilidade da reprodução de
práticas racistas está inserida na organização política, jurídica e econômica da
sociedade.
Lélia Gonzalez (2020) é atemporal e congruente ao introduzir a temática do
sexismo em concomitância com o racismo para falar sobre o grupo mais atingido por
SUMÁRIO
esses fenômenos sistêmicos, a mulher negra. A antropóloga aduz que o lugar que
estamos situados determinará o nosso entendimento sobre o duplo fenômeno do
racismo e sexismo, a articulação desses fenômenos produz efeitos violentos sobre a
mulher negra em particular.
O racismo assume uma forma de discriminação interpessoal, significa um ato
discriminatório que tem origem nas representações que um indivíduo específico
guarda em relação a grupos minoritários raciais. Essa discriminação pode ser expressa
de várias formas, tais como recusa de interação com minorias raciais, reprodução de
imagens negativas ou ataque à imagem pública de grupos minoritários, com o fito de
impedir que tenham o mesmo nível de respeitabilidade social que os membros da raça
dominante (MOREIRA, 2020).
Portanto, não seria surpresa a influência do racismo no ambiente virtual como
uma forma de manutenção da sociedade escravocrata e do colonialismo na era
tecnológica, revela Luiz Valério Trindade (2022), através de sua pesquisa sobre
construção e disseminação de discursos racistas nas redes sociais. O sociólogo analisou
o teor de 109 páginas públicas do Facebook e 224 artigos de jornais que noticiavam
dezenas de casos de discursos racistas no período entre 2012 a 2016, concluindo que as
mulheres negras – em ascensão social - representam o principal alvo dessa prática
discriminatória.
As redes sociais tornaram-se um local sem freios legais, os usuários sem qualquer
restrição falam sobre tudo aquilo que pensam de acordo com suas subjetividades,
tendo o anonimato como uma credencial para os comentários de cunho racista,
homofóbicos, misóginos, transfóbicos e demais. A evolução tecnológica permitiu a
proteção do anonimato às pessoas, dificultando sua identificação de forma imediata
pelos crimes virtuais que praticam.
Importante também refletir como o direito à livre manifestação tornou-se um
escudo constitucional para justificar os discursos de ódio nas redes sociais. Os usuários
validam-se da liberdade de expressão para legitimar as condutas discriminatórias nas
redes sociais como uma forma de livre manifestação na sociedade democrática
(TRINDADE, 2022).
Contudo, a liberdade de expressão termina quando confronta a liberdade do
outro, a disseminação do ódio é uma forma de violência e ameaça ao direito do outro.
Portanto, a (in)equívoca liberdade de expressão não serve de legitimação para prática
de crimes raciais na Internet. Neste contexto, Trindade (2022, p.70) discorre sobre essa
falsa dicotomia:
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo, conclui-se que o racismo patriarcal é sistêmico e uma
herança escravocrata, responsável pela perspectiva de subalternização das mulheres
negras. Os discursos de ódios direcionados a elas nas redes sociais são reflexos da
sistemática discriminatória brasileira, inclusive, podem ser definidos como uma das
formas do retrocesso humano. O difícil rastreamento dos usuários nas redes sociais
fortalece a disseminação de ideologias racistas, uma vez que sua identificação se torna
morosa e muitas vezes impossível, o que oportuniza a sensação de impunidade para
aqueles que praticam crimes raciais no espaço virtual.
A naturalização das condutas racistas nas redes sociais está correlacionada à
banalização do direito à liberdade expressão. Mas o ódio semeado contra as mulheres
negras nas redes sociais tem realmente guarida no direito à liberdade de expressão? E
REFERÊNCIAS
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Saraiva: 2012.
TRINDADE, Luiz Valério. Discurso de ódio nas redes sociais. São Paulo: Editora Jandaíra, 2022.
SUMÁRIO
65
INTERFACES BIOPOLÍTICAS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
INTRODUÇÃO
A ampliação das discussões referentes aos conceitos de saúde que passaram a
transcender o sentido antagônico a doença, associada à necessidade de redução de
custos nos cuidados médicos na saúde para o enfrentamento de doenças crônicas,
culminaram na perda da hegemonia do modelo biomédico de atenção em saúde.
Assim, a Promoção da Saúde (PS) ganhou destaque no ocidente, especialmente a
partir da década de 70 como um modelo possível para organização das ações em
saúde.
Os grandes conceitos de PS transitam entre dois grandes grupos. Um, que diz
respeito ao âmbito coletivo e às influências do ambiente e das condições de vida da
população no processo saúde-doença. Outro, vinculado às atividades
primordialmente dirigidas à transformação dos comportamentos individuais, com
ênfase na mudança de estilos de vida, pensada no biológico (FURTATO; SZAPIRO,
2012).
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, homologado em 1990, tem como um
de seus elementos fundadores a saúde para além do caráter curativo e defende desde
então a proposta de PS. Contudo, enfrenta dificuldades para sua efetivação prática.
SUMÁRIO
Frente a isso, nos propomos a fazer considerações conceituais sobre o tema além
de apresentar e discutir os marcos históricos legais que tem o intuito de assegurar a
execução dessa política no Serviço Único de Saúde. A pesquisa é de caráter
bibliográfico, descritivo e apresenta-se sob forma de revisão não sistemática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A PS no Brasil iniciou sua efetivação com a nova constituição federal de 1988 e a
implantação do SUS, o qual evidenciou a responsabilidade do estado em assegurar o
acesso as ações e serviços que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde
(BRASIL, 1990, p.1). Embora defendida na legislação, e organizada em algumas ações,
não estava sendo suficientemente efetivada nas práticas de saúde.
Assim, começou a ser discutida a necessidade de uma política específica, pensada
pelo estado, que desse conta deste propósito. Essa discussão adentrou na agenda do
Ministério da Saúde em 1998, por meio do projeto Promoção da Saúde: Um Novo
Modelo de Atenção. O debate se intensificou em 2003, com a definida intenção de
construir uma Política Nacional em bases diversas do que vinha sendo realizado até
então.
Produto desse movimento, em 2006 foi implantada a Política Nacional de
Promoção da Saúde - PNPS. O objetivo desta política era ratificar o compromisso do
SUS com a ampliação e qualificação das ações de PS, como explicitado no documento
oficial, “promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde
relacionados aos seus determinantes e condicionantes” (BRASIL, 2006, p.17). A partir
destas definições, nos últimos 15 anos, vários programas foram implantados pelo
Ministério da Saúde, os quais trazem como eixo estruturante a PS.
Em 2015, a PNPS foi ampliada e reelaborada em virtude do contexto nacional e
internacional, que apontaram novos desafios para efetivar a PS (BRASIL, 2015). A
reelaboração traz como fundamento o conceito ampliado de saúde e discute os
resultados de suas práticas desde a sua institucionalização. Aponta a necessidade de
articulação com outras políticas públicas para fortalecê-la, com o imperativo da
participação social e dos movimentos populares, em virtude da impossibilidade de
que o setor sanitário responda sozinho ao enfrentamento dos determinantes e
condicionantes da saúde. Reconheceu-se que as bases da saúde e do bem-estar se
encontram fora do setor saúde, sendo formadas social e economicamente, inferindo a
necessidade de princípios de integralidade quando se almeja PS (BRASIL, 2015).
Apesar disso, se reconhece que a operacionalização desta no SUS é determinante
para a mobilização de outros atores sociais envolvidos (BRASIL, 2015). A definição de
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
A efetivação das práticas de Promoção da Saúde no Brasil, estiveram sob
responsabilidade do setor saúde, o qual organizou-se com a implantação de diversos
programas e ações a fim de fortalecer esse ideal.
Entendemos, no entanto que, a política da PS contemporânea refere-se também
ao fortalecimento dos aspectos educativos e sociais, que necessitam, sobretudo,
problematizar e compartilhar responsabilidades, não possíveis de controle exclusivo
pelo estado. Essa perspectiva se aproxima dos referenciais das ciências humanas e
sociais, que complementados pelos conhecimentos das ciências naturais, permite
entender que a centralidade da ação se refere ao empoderamento dos indivíduos e das
coletividades pautado em aspectos socioculturais, para além dos biológicos, a fim de
motivar a participação crítica e reflexiva com o cuidado em saúde e com a reflexão e
melhoria dos modos de vida. Contudo, não se refere a responsabilizar apenas os
sujeitos pelo processo. É necessário um movimento articulado para efetividade das
práticas de PS as quais envolvem todas as dimensões ligadas ao viver humano.
Palavras-chave: Promoção da Saúde. Políticas Públicas. SUS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 20 set. 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS): revisão da Portaria
MS/GM nº 687, de 30 de março de 2006. 1. ed. Brasília, 2015.
CARVALHO, S. R.; GASTALDO, D. Promoção à saúde e empoderamento: uma reflexão a partir das
perspectivas crítico-social pós-estruturalista. Ciencia & saude coletiva, v. 13, n. suppl 2, p. 2029–2040, 2008.
Disponível em: h�ps://doi.org/10.1590/S1413-81232008000900007. Acesso em: 04 mai. 2023.
CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: CZERESNIA, D.;
FREITAS, C. M. (org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, Tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
SUMÁRIO
KLEBA, M. E.; WENDAUSEN, A. Empoderamento: processo de fortalecimento dos sujeitos nos espaços de
participação social e democratização política. Saúde Soc., São Paulo, v. 18, n. 4, p. 733-743, 2009. Disponível
em: h�ps://www.scielo.br/j/sausoc/a/pnCDbh88LDqWwDTx9pGK39h/abstract/?lang=pt . Acesso em: 02
mai. 2023.
OLIVEIRA, V. L. A “nova” saúde pública e a promoção da saúde via educação: entre a tradição e a inovação.
Rev. Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 3, maio/jun. 2005. Disponível em: h�ps://
www.scielo.br/j/rlae/a/WPsnmqX4hMwLQswcbHvxtkQ/abstract/?lang=p . Acesso em 02 mai. 2023.
SUMÁRIO
66
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E OS OFÍCIOS DA CIDADANIA
BRASILEIROS: avancos e perspectivas à tutela da vida civil das
pessoas trans
INTRODUÇÃO
Historicamente, a sexualidade tem sido utilizada como técnica de poder e
instrumento de controle e disciplina dos corpos sob a perspectiva do biopoder. Tem
sido inscrito, assim, como objeto de disputa política, atuando tanto na disciplina do
corpo e seu adestramento, como na regulação das populações. Sob a essa perspectiva,
compreende-se a urgência pela modificação corporal como uma demanda frequente
na comunidade transgênero, e se busca compreender de que forma é possibilitado o
acessos a bens e serviços no Sistema Único de Saúde brasileiro - SUS, como forma de
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo foi capaz de desvelar quais políticas públicas de saúde estão
sendo direcionadas pelo SUS para efetivar o direito fundamental da comunidade trans
brasileira, os avanços e perspectivas enquanto instrumento de tutela efetiva dos
direitos desses sujeitos de direitos. A instituição do processo transexualizador do SUS
no ano de 2008, portanto, sinaliza um importante avanço na universalização da saúde
à população trans brasileira. Entretanto, a efetivação da política pública apresenta-se
como um desafio imponente para o sistema público de saúde. No ano de 2020, eram
aptos a realizar a cirurgia de transgenitalização no Brasil pelo SUS somente 5 (cinco)
hospitais, dentre eles, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, havendo uma fila média
de espera pela cirurgia de aproximadamente 10 (dez) anos. Diante desse contexto,
refletiu-se acerca dos caminhos possíveis à concretização dos direitos dos
transgêneros, que perpassa a atuação dos Ofícios da Cidadania, por meio da análise
das normativas que autorizaram o procedimento de alteração de nome e gênero
diretamente no Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais, Ofício da Cidadania.
Conclui-se, ao final desse estudo, que as perspectivas jurídicas diante da
demanda transgênero são incertas e os desafios são latentes. Mostra-se necessária uma
nova roupagem normativa do ponto de vista da saúde e do direito das pessoas trans,
a partir de uma perspectiva não-binária e da desconstrução social do gênero. A
mudança de paradigma, ainda que dificultosa dentro de um sistema de Estado
tradicional, é medida que se impõe, a fim de que se preserve e assegure o direito
fundamental à dignidade humana das pessoas trans. As demandas pela retificação de
registro de nascimento no que diz respeito à alteração para “gênero neutro” ou “não-
binário”, correspondente à pessoa que não se identifica com nenhum dos gêneros
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (ANTRA). Como acessar o SUS para
questões de transição? Disponível em: <h�ps://antrabrasil.org/2020/07/27/como-acessar-o-sus-para-
questoes-de-transicao/>. Acesso em: 10 jan. 2023.
BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 2.265/19. Dispõe sobre o cuidado específico à pessoa
com incongruência de gênero ou transgênero e revoga a Resolução CFM nº 1.955/2010. Publicado no D.O.U
de 09/01/2020. Página: 96. Disponível em: <h�ps://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-2.265-de-20-
de-setembro-de-2019-237203294>. Acesso em: 01 de abr. 2022.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº 73, de 28 de Junho de 2018. Dispõe sobre a averbação
da alteração do prenome e do gênero nos assentos de nascimento e casamento de pessoa transgênero no
Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). Disponível em: < h�ps://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2623>.
Acesso em: 01 de abr. 2022.
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. OMS retira transexualidade da lista de
doenças e distúrbios mentais. Disponível em: < h�ps://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/
junho/organizacao-mundial-da-saude-retira-a-transexualidade-da-lista-de-doencas-e-disturbios-mentais>.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.275. Relator: Min. Marco
Aurélio. Brasília, DF, 01 de março de 2018. Disponível em: <h�ps://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=TP&docID=749297200>. Acesso em: 01 de abr. 2022.
CIDH. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Opinião Consultiva n°. 24/2017. Julgado em 24.11.2017.
Disponível em: <h�p://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/ seriea_24_esp.pdf>. Acesso em: 01 de abr. 2022.
SUMÁRIO
67
MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL:
perspectivas acerca das políticas públicas de saúde pela metateoria do
direito fraterno
INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, o fenômeno da violência surge como um elemento
relevante para a articulação das relações de poder e dominação impostas sob os corpos
dos indivíduos. O poder atua como um conjunto de práticas e a violência atua
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Brasil tem mais de 31 mil
denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022. 08 ago. 2022.
Disponível em: h�ps://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2022/eleicoes-2022-periodo-eleitoral/
brasil-tem-mais-de-31-mil-denuncias-violencia-contra-as-mulheres-no-contexto-de-violencia-domestica-
ou-familiar. Acesso em: 10 dez. 2022.
BUTLER, Judith. Actos perfomativos e constituição de género. Um ensaio sobre fenomenologia e teoria
feminista. In: MACEDO, Ana Gabriela; RAYNER, Francesca (Org.). Gênero, cultura visual e perfomance.
Antologia crítica. Minho: Universidade do Minho/Húmus, 2011.
RESTA, Eligio. O Direito Fraterno. 2ª ed. Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2020.
SUMÁRIO
68
ESTADO, APOROFOBIA E DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO
EM SITUAÇÃO DE RUA
INTRODUÇÃO
A pesquisa desenvolvida aborda a questão da pobreza e a discriminação sofrida
pelas pessoas em situação de vulnerabilidade social, denominada Aporofobia. A
autora Adela Cortina define esse termo como a rejeição e aversão ao pobre, que é
excluído e invisibilizado pela sociedade. Além disso, importante destacar as
identidades sociais, como gênero, raça, classe social e religião, estão interligadas e
interferem em experiências sociais distintas, apontando relações de poder que geram
desigualdades.
O Estado tem um papel significativo tanto na disseminação como na prevenção
da aporofobia, dependendo do modo como questões pertinentes à pobreza são
retratadas e abordadas.
Assim, se propõe investigar o papel do Estado na (re)produção dessa
discriminante e objetivando identificar padrões, causas e consequências da aporofobia
em diferentes capitais brasileiras, relacionadas às ações de remoção dessa população
específica, além de verificar se tais medidas são eficazes e respeitam os direitos
humanos.
A pesquisa terá como recorte a população em situação de rua e a forma como são
tratados em algumas capitais brasileiras, verificando empiricamente através da análise
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pobreza, ainda que transcorridos séculos, continua sendo um flagelo presente
não apenas em países menos desenvolvidos, mas de forma generalizada. A palavra
pobreza é conhecida por todos e já se enraizou no vocabulário cotidiano. Pobre
significa aquele pouco favorecido, com poucos bens e que não possui condições
básicas para garantir uma existência digna. Há muito debate sobre as diferentes
privações enfrentadas pelas pessoas e sua relevância, bem como as possíveis maneiras
de medir o fenômeno de vulnerabilidade e precariedade.¹
De igual forma, muito debate-se acerca das espécies de privações suportados e
sua relevância, bem como formas possíveis de medir esse fenômeno marcado pela
precariedade e vulnerabilidade.²
É verdade que a população pobre muitas vezes se encontra em uma situação de
vulnerabilidade, mas é importante observar que nem todos os indivíduos vulneráveis
são pobres, e que esses conceitos não são equivalentes, mas sim inclusivos. A pobreza
priva as pessoas de seus direitos e voz, excluindo-as economicamente, pois não
possuem "nada a oferecer" nesta sociedade de trocas, e politicamente, devido à falta
substancial de liberdade.
A interconexão entre pobreza e vulnerabilidade é clara, e a definição desses
conceitos é crucial para a compreensão da desigualdade e para o enfrentamento do
problema. A pobreza está tão enraizada na sociedade que se tornou natural. É natural
ver um desabrigado implorando por um sustento na rua, ignorá-lo e fingir que não
viu, porque é apenas um transtorno para a sociedade e é mais conveniente deixá-lo de
lado, tornando-os ainda mais invisíveis. O pobre é o centro da rejeição: a aporofobia.
1 O autor Spinker destaca que a pobreza não pode ser definida por uma única definição, pois as palavras adquirem
múltiplos significados conforme são utilizadas. Ele divide os significados de pobreza em três categorias: material,
econômica e social, e a caracteriza como uma situação de escassez inaceitável, compreendida como um julgamento
moral. (SPINKER, 2009).
2 A vulnerabilidade resulta da condição de insegurança vivenciada pelos indivíduos a curto ou longo prazo. A
vulnerabilidade é definida como "a insegurança e sensibilidade ao bem-estar de indivíduos, famílias e comunidades
diante de um ambiente em mudança e, implicitamente, sua capacidade de resposta e resiliência aos riscos que
enfrentam durante essas mudanças negativas" (MOSSER, 1997, p. 23 - tradução nossa).
SUMÁRIO
3 O Massacre da Sé, ocorrido em19 de agosto de 2004, onde sete pessoas em situação de rua foram espancadas até a
morte enquanto dormiam na Praça da Sé, em São Paulo. De acordo com as investigações realizadas na época, as
violências que resultaram na Chacina da Sé foram motivadas pelo fato das vítimas possuírem informações
comprometedoras. A morte da única testemunha do crime, dois dias após a chacina, dificultou a coleta de provas e
resultou em um inquérito que investigou apenas dois soldados e indiciou-os pelo assassinato de duas das nove
vítimas. A falta de resposta pelas mortes levou a população de rua a investigar o caso por conta própria e levantar
denúncias em outros fóruns e organizações no Brasil e no mundo. Como resultado, o dia 19 de agosto se tornou uma
data tradicional para mobilizações em prol dos direitos da população vulnerável e para denunciar a violência cometida
pelo Estado. Mais em: h�ps://www.anf.org.br/16-anos-depois-massacre-da-se-e-exemplo-de-violencia-contra-
populacao-de-rua/.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pobreza é uma preocupação presente ainda na atualidade, foco de debates
quanto suas diferentes privações e formas de medir o fenômeno de vulnerabilidade e
precariedade. A interconexão entre pobreza e vulnerabilidade é clara, mas é
importante observar que nem todos os indivíduos vulneráveis são pobres.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BORIN, Marisa. Os moradores de rua em São Paulo e suas relações com o mundo do trabalho. Cadernos
Metrópole, n. 12, pp. 49-64, 2º sem. 2004.
CORTINA, Adela. Aporofobia, aversão ao pobre: um desafio para a democracia. Tradução de Daniel Fabre
– São Paulo: Editora contracorrente, 2022.
MELO, Raissa. 16 anos depois, “Massacre da Sé” é exemplo de violência contra população de rua. Agência
de notícias das favelas - ANF. 19 de agosto de 2020. Disponível em: h�ps://www.anf.org.br/16-anos-depois-
massacre-da-se-e-exemplo-de-violencia-contra-populacao-de-rua/. Acesso em 08 mai 2023.
MOSER, Caroline O. N. Reassessing urban poverty reduction strategies: The asset vulnerability
framework. World Development, 26, 1, p. 1-19, 1997.
ROBAINA, Igor Martins Medeiros. “Deixados na esquina da morte” população em situação de rua, bio
(geo) política e covid-19. In: Revista Ensaios de Geografia, Niterói, vol. 5, nº 9, p. 81-86, maio de 2020.
SPICKER, Paul. Definiciones de pobreza: doce grupos de significados. En Paul Spicker, Sonia Álvarez
Leguizamón, David Gordon (Eds.) Pobreza. Un glosario internacional. Buenos Aires: CLACSO, 2009.
SUMÁRIO
69
A EFETIVIDADE DO DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO
MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO
DIREITO FUNDAMENTAL
INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 225, caput,
preconiza que todo cidadão possui, de maneira absoluta, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, e que configura dever do Poder Público, bem como da
coletividade, zelar pela sua conservação, seja para a geração atual e às futuras, pois tal
cuidado, interfere na qualidade de vida, por se tratar de um bem de uso comum do
povo. Contudo, observa-se desrespeitado tal mandamento constitucional, tal fato
evidenciado pela constante poluição da atmosfera, depredação dos espaços tutelados
definidos como habitat¹, expansão descontrolada da agricultura e o capitalismo
expansivo, tais práticas que vão diretamente ao encontro da tentativa de proteção ao
meio ambiente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude dos argumentos apresentados, conclui-se que o desenvolvimento
sustentável deve ser estipulado, não somente para garantir o acesso da população ao
meio ambiente ecologicamente correto, mas também para garantir a existência das
futuras gerações. Por conseguinte, como explicitado, o ser humano necessita de ter
ética pela vida, pois, a ética consiste na ideia de recriar sentidos existenciais, visando a
recuperação ambiental, a melhora das relações sociais, a igualdade de direitos e
garantir a diversidade, devendo recriar os sentidos da vida para melhor, sendo que a
sociedade deve ser solidária, no sentido de que todos vivem no mesmo espaço, e por
esse motivo, devem zelar e proteger a existência do mesmo. Mormente, enquanto
seres pensantes, a razão torna a emoção humanizada, sendo encarregada de trazer à
tona a vontade de poder, poder viver e poder transformar o entorno num local
ecologicamente correto, e para isso novos valores devem ser analisados, estudados,
divulgados e aplicados ao cotidiano moderno.
Dessa maneira, o ambiente pode ser utilizado para o crescimento econômico,
respeitado o limite natural de sua reposição, pois, a crise ambiental surge quando o
homem utiliza o meio ambiente mais do que este consegue regenerar-se, de modo a
depredar o contexto de proteção ao Direito Ambiental, sendo que todos podem e
devem utilizá-lo.
O direito a um meio ambiente ecologicamente correto diz respeito a um dos
direitos fundamentais da pessoa humana, pois sem o mesmo, a qualidade de vida é
reduzida, carregando consigo a poluição, degradação e redução das reservas
protegidas. Dessa maneira, deve-se estipular meios de proteção, capazes o suficiente
para retardar, e posteriormente, erradicar a crise ambiental, de modo a garantir
prosperidade à humanidade.
Palavras-chave: Ambiente. Sustentabilidade. Direitos. Desenvolvimento. Proteção.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. Acesso em: 04 maio 2023.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm. Acesso em: 04 maio 2023.
FLICK, U. Introdução à Pesquisa Qualitativa. São Paulo, p. 23, 2009. Acesso em: 04 maio 2023.
70
OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA
SAÚDE HUMANA
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa faz uma análise teórica sobre a questão das mudanças climáticas,
saúde global e direitos humanos. Seu objetivo é discutir a questão das mudanças
climáticas e seus impactos em detrimento da saúde humana, enfatizando a
necessidade de prevenir as doenças decorrentes das alterações do clima. Ao longo
desta investigação será possível demonstrar a definição da terminologia saúde e a sua
contextualização na sociedade contemporânea, observando-se as interferências que o
fenômeno das alterações climáticas estão a causar nos dias atuais e a previsão para o
futuro, caso a humanidade não consiga mais propor alternativas para lidar com o
problema e atuar de forma conjunta numa perspectiva além fronteiras.
Esta pesquisa surge de uma análise bibliográfica a partir do método hipotético
dedutivo através de revisões e acesso a todos os tipos de materiais disponíveis na
internet. Por fim, se destaca a importância não só da conscientização sobre as
mudanças climáticas e, igualmente, as ameaças que esse fenômeno representa para a
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo a Constituição da Organização Mundial da Saúde (1946, p.1, tradução
nossa) a definição daquilo que se entende por saúde pode ser implementado a partir da
seguinte citação, “[...] saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social
e não apenas a ausência de doença ou enfermidade." É possível depreender, portanto,
que o conceito de saúde vai muito além de uma consulta médica, ou fornecimento de
medicamentos e tratamentos garantidos pelo Estado. Além disso, tendo em vista que
essa definição tem uma abrangência mais ampla, ela permeia outras esferas como a
qualidade de vida do indivíduo, alimentação, moradia, trabalho, ambiente em que
vive, entre outros elementos.
Na mesma esteira - contudo, a partir de uma abrangência jurídica -, a
Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 196, não discute ou traz um
conceito de saúde, mas afirma que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantida por políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças
e outros agravos e ao acesso universal e igualitário a ações e serviços de promoção,
proteção e recuperação”. (BRASIL, 1988).
No entanto, quando se confronta o conceito – ou conceitos – de saúde diante da
atual problemática relativa as mudanças climáticas – uma das principais temáticas
geopolítica da crise ambiental contemporânea – é possível compreender que as
mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças aos direitos humanos de nossa
geração, colocando em risco os direitos fundamentais à vida, à saúde, à alimentação e
ao padrão de vida de indivíduos e comunidades em todo o mundo. A tecnologia tem
um papel importante nos dias de hoje, mas sem um forte envolvimento político e
institucional não teremos mais resultados satisfatórios. As consequências das
mudanças climáticas como secas, degradação dos ecossistemas, elevação do nível do
mar, aumento das temperaturas, entre outras, afetam a produção de alimentos, a
segurança habitacional e as condições de saúde, interferindo diretamente na vida de
cada cidadão (PNUMA, 2002).
O fato de as mudanças climáticas estarem interligadas com a saúde não é uma
questão nova. Os efeitos das mudanças climáticas globais trazem ameaças à saúde de
muitas pessoas. Algumas das consequências das mudanças climáticas são fáceis de
serem observadas como o aumento das temperaturas, mudanças no ciclo das chuvas
e mudanças na qualidade do ar, por exemplo. Outras consequências ainda não são
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo vive um período de muitas incertezas sobre como as mudanças
climáticas podem afetar o bem-estar humano. Assim, reconhecer essas incertezas se
faz refletir amplamente sobre o futuro da sobrevivência humana, pois as mudanças
climáticas podem representar uma enorme ameaça à vida humana. É preciso
reconhecer que a questão da saúde no meio ambiente ainda é um tema novo em
termos de amadurecimento institucional e administrativo. O fato é que enquanto não
se reconhecer e despertar que fenômenos como as mudanças climáticas são fruto de
uma questão muito mais política entre as desigualdades e padrões de vida entre o
Norte e o Sul hemisférico, do que simplesmente ecológica, será difícil combater com
efetividade aquilo que se entende por mitigação e/ou solução do problema.
REFERÊNCIAS
BATES, B.C., Z.W. Kundzewicz, S. Wu y J.P. Palutikof, El Cambio Climático y el Agua. Documento técnico
del Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el Cambio Climático, Secretaría del IPCC,Ginebra Eds.,
2008.
CONFALONIERI, Ulisses Eugenio. Mudanças Climáticas, Ecossistemas e Doenças Infecciosas. In: Clink
Carlos (coord.), Quanto mais quente, melhor. Desafiando a sociedade civil a entender as mudanças
climáticas. São Paulo: Pierópolis; Brasília. DF: IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2007.
PNUMA (Programa das Nações Unidas sobre o meio ambiente) Perspectivas do Meio Ambiente Mundial
GEO-3 Presente. Brasília: IBAMA, 2002.
SAAVEDRA, Fernando Estenssoro. A geopolítica ambiental global do século 21: os desafios para a américa
latina. Ijuí: Ed. Unijuí, 2019.
SAAVEDRA, Fernando Estenssoro. História do debate ambiental na política mundial 1945-1992. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2014.
SUMÁRIO
71
IMPACTO DOS ESTRESSORES OCUPACIONAIS NA VIDA DOS
TRABALHADORES DAS PRISÕES
INTRODUÇÃO
O termo “stress” foi inicialmente empregado pela física e engenharia, como uma
força que atua contra determinadas resistências, representa a carga que um material
pode suportar antes de romper-se (BIANCHI, 2001). Selye (2017) conceitua estresse
como uma resposta a uma demanda ambiental ou estressor, que ativada pelo sistema
fisiológico pode proteger e restaurar o organismo, mas também danificá-lo.
Já, o estresse ocupacional ocorre em decorrência de diferenças encontradas entre
as condições do trabalho e as capacidades de respostas dos trabalhadores envolvidos
no desempenho da tarefa e o nível de controle disponível para responder às demandas
(KARASEK; THEÖRELL, 1990).
SUMÁRIO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhadores do sistema prisional convivem diariamente com a população
privada de liberdade, realizam suas funções em uma realidade encarcerada, sem
autonomia para transitar na instituição, necessitam permanecer nos postos de trabalho
e no mesmo espaço físico dos privados de liberdade (SANTIAGO et al., 2016;
SANTIAGO; BORTOLLOTI; BANA, 2020).
Socialmente não são bem-vistos em decorrência do contato com o cárcere, pois o
desejo da sociedade é que as PPL sejam esquecidas (RUDNICKI; SCHÄFER; SILVA,
2017). Esse baixo reconhecimento social, somado a falta de aparato do Estado e aos
estressores ocupacionais são responsáveis pelo alto nível de estresse entre esses
profissionais (CAMPELO et al, 2021; RUDNICKI; SCHÄFER; SILVA, 2017;
SANTIAGO et al., 2016). O trabalho do Agente Penitenciário foi classificado como
uma das profissões mais estressantes entre as ocupações (COOPER; COOPER;
EAKER, 1988).
Além dos fatores de risco a que os trabalhadores estão expostos durante sua
jornada laboral, existem estressores ocupacionais inerentes ao cárcere, como: contato
com as grades e pessoas privadas de liberdade, conflito trabalho-família, pouco
controle sobre as tarefas, falta de recursos humanos, alta demanda de trabalho, baixo
prestígio da profissão, conflitos entre colegas e supervisores, condições de trabalho
SUMÁRIO
inadequada e o medo de se tornarem reféns (CAMPELO et al, 2021; EADES, 2020; JIN
et al., 2018; KONYK et al., 2021; RUDNICKI; SCHÄFER; SILVA, 2017; SANTIAGO et
al., 2016; SCHIFF, 2019).
Estudo de tendências que analisou as produções científicas brasileiras acerca da
saúde do trabalhador que atua no sistema prisional evidenciou que 42,1% dos
trabalhadores sentiam medo e insegurança; 42,1% percebiam o ambiente da prisão
como estressor; 36,8% apontaram o ambiente como precarizado, insalubre,
infraestrutura inadequada e más condições de trabalho; 15,8% dos funcionários
possuíam alta demanda de trabalho e não recebiam treinamento adequado; 10,5%
relataram estigma por atuar com a população privada de liberdade; 10,5%
constataram que os trabalhadores apresentavam transtornos mentais comuns;
10,5% evidenciaram superlotação carcerária; e 10,5% apontaram que ambiente era
considerado violento e superlotado (BENETTI et al., 2022).
Os trabalhadores denotam em seus discursos que eles se sentem enclausurados,
recebem ameaças contra a sua própria vida e de seus familiares, possuem medo de
serem mortos ou tomados como reféns em motins e rebeliões ou atacados fisicamente,
além de riscos de contaminação por doenças infectocontagiosas. Ainda reconhecem a
naturalização de episódios de violência física que presenciavam ou precisavam
interferir (SANTIAGO, BORTOLLOTI, BANA; 2020).
Estudo de Campelo et al. (2021) analisou as condições de saúde física e mental dos
Agentes Penitenciários (AP) de uma penitenciária no Município de Rondonópolis,
Mato Grosso, relacionadas as atividades laborais. Os autores evidenciaram que 86,05%
dos participantes sentem-se preocupados com a segurança de seus familiares e 67,44%
asseguram que seu trabalho interfere em seu ciclo de amizades.
Os trabalhadores com altos níveis de estresse ocupacional apresentaram maior
insatisfação no trabalho, baixa moral, ressentimentos e desejo de maior controle no
trabalho e segurança dos presos (RUTTER; FIELDING, 1988).
Esses fatores refletem no alto índice de afastamentos por doença, diminuição da
qualidade e desempenho no trabalho, ocasionando efeitos graves e deletérios sobre as
operações de segurança nas instituições prisionais (HOLMES; MACINNES, 2003;
TEWKSBURY; HIGGINS, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho em uma instituição total é permeado por diversas peculiaridades, na
qual o trabalhador atua em um ambiente fechado, com regras rígidas e enfrenta em
sua rotina laboral condições de trabalho insalubres, precárias, apresenta risco de
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO: