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FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS

BIOMECÂNICA

TRABALHO DE BIOMECÂNICA
RESOLUÇÃO DE CASO CLÍNICO DE MEMBRO SUPERIOR

Discentes: Artur Grossi, Cássio Reis, Lucas Abreu, Lucas Machado, Nathan Rocha, Otávio
Starling, Pedro Neto, Vinícius Carvalho e
Vinícius Latini

Docente:
Uiara Braga

Belo Horizonte
2023
Caso Clínico

“Paciente apresenta dor no ombro direito há mais ou menos 6 meses, após iniciar
academia. Relata dor ao fazer supino (fortalecimento de peitoral ) e abdução do braço
acima de 90 graus. Utilize de seus conhecimentos biomecânicos de MMSS para explicar
detalhadamente o porquê da dor e como resolver.”

Introdução

Para realizar o exercício de supino, é necessário o movimento de flexão de cotovelo,


extensão de cotovelo, abdução de ombro e abdução horizontal, destacados logo
abaixo juntamente com as funções musculares:

● Flexão e extensão de cotovelo

Flexão e extensão de cotovelo consiste no rolamento e deslizamento da


fóvea radial que está firmemente tracionada contra o capítulo do úmero pela
contração muscular. Essa articulação dá mínima estabilidade ao cotovelo, e confere
cerca de 50% da resistência contra o estresse em valgo de cotovelo.

● Abdução de ombro

O movimento de abdução do úmero é em torno de 120°, em que a cabeça do


úmero rola superiormente e desliza inferiormente, enquanto que na adução, o úmero
realiza o movimento inverso. A rotação interna e externa ocorre no plano horizontal
através do diâmetro transverso da cabeça umeral e da cavidade glenoidal. Assim o
deslizamento e o rolamento das rotações ocorrem em diâmetro transverso maior da
cabeça umeral sobre uma pequena superfície da fossa glenoidal.
Entre os movimentos do ombro, existe um ritmo entre a abdução
glenoumeral e a rotação escapulotorácica chamado de ritmo escapulotorácico. Para
cada 3° de abdução de ombro, 2° de abdução ocorre na glenoumeral e 1° de
rotação para cima ocorre na art. escapulotorácica, sendo assim denominado de 2:1.
Assim, no arco de 180° de abdução de ombro, 120° ocorrem na glenoumeral e 60°
ocorrem na art. escapulotorácica. No entanto, 60° de abdução de ombro são
proporcionados pela elevação simultânea da clavícula na art. EC e rotação para
cima da escápula na art. AC. Nos 180° de abdução de ombro, art. EC se eleva 30°,
retrai-se cerca de 15° para ajudar a art. AC a se posicionar a escápula dentro do
plano horizontal. Na abdução de ombro, a escápula inclina posteriormente e roda
externamente, sendo dependente da art. AC e EC, preservando o espaço
subacromial, limitando a possibilidade de impacto, reduzindo o estresse mecânico
na cápsula e nos músculos do manguito rotador. Outro princípio já foi relatado, a
rotação da clavícula da art. EC em torno do seu eixo na abdução de ombro, sendo
combinadas forças multiarticulares que são transferidas dos músculos aos
ligamentos. Na abdução, a escápula roda para cima na art. AC, tensionando o
ligamento coracoclavicular, que, devido à incapacidade de alongar, e a tensão é
transferida para o tubérculo conóide da clavícula, fazendo com que a clavícula rode
posteriormente, permitindo que a escápula continue seus graus de rotação para
cima. Sem esse movimento, a abdução do ombro não seria possível.
● Elevadores da articulação Escapulotorácica

Os músculos trapézio - porção ascendente, levantador da escápula e os


músculos rombóides mantêm o suporte da posição da cintura escapular levemente
inclinada e retraída, com inclinação para cima da cavidade glenoidal e também
fornece uma potente alavanca para a articulação Escapulotorácica.

● Depressores da articulação Escapulotorácica

A parte descendente do músculo trapézio juntamente com o músculo peitoral


menor agem diretamente na escápula. O músculo subclávio age indiretamente,
puxando a escápula inferiormente à clavícula, e exerce importante função de
estabilização da articulação escapulotorácica. O músculo latíssimo do dorso deprime
a cintura escapular de forma indireta e puxa o úmero inferiormente.

● Protrador escapulotorácico

O músculo serrátil anterior, tem excelente potência de alavanca para a


protração escapular quando a articulação glenoumeral é utilizada em atividades de
empurrar para a frente e alcançar. O serrátil anterior é também flexor de braço
quando o membro está em pronação, inclinador posterior da escápula e em menor
grau pode rodar externamente a escápula.

● Retratores escapulotorácicos

Os retratores são: a parte transversa do trapézio, os rombóides e parte


descendente do trapézio. São músculos ativos durante o ato de puxar, remar e o
montanhismo, fixando a escápula ao tronco. Os romboides tendem a elevar a
escápula, porém esta é neutralizada pelas fibras descendentes do trapézio, que
deprimem a escápula. A paralisia completa do trapézio reduz a retração da escápula
que tende a ficar protrusa.

● Principais abdutores do braço

São os músculos deltóide (fibras anteriores e médias) e o supraespinal,


porém a elevação do braço fletido é feito pelo deltóide (porção anterior), cabeça
longa do bíceps braquial e coracobraquial. Os músculos deltóide (porção média) e
supraespinal são similares durante a abdução de ombro e ajudam a estabilizar a
cabeça umeral dentro da concavidade formada pela cápsula inferior articular.

● Principais rotadores para cima da articulação Escapulotorácica


São as fibras superiores e inferiores do trapézio e o serrátil anterior que
fornecem uma conexão para os músculos mobilizadores distais, como o deltóide e
os músculos do manguito rotador.

● Rotação para cima da escápula

As fibras superiores e inferiores e as fibras do serrátil anterior rodam a


escápula para cima durante a abdução de ombro. A parte ascendente do trapézio
roda para cima a escápula e medializa a clavícula que se mantém ativa durante todo
movimento de abdução de ombro, equilibrando as forças de puxão do ângulo inferior
da escápula promovido pela porção descendente do trapézio. Já a parte transversa
do trapézio está muito ativa durante a abdução, e contribui para neutralizar as forças
de protração da escápula, junto com os romboides, que retraem a escápula.

● Músculos do manguito rotador

Eles fornecem a estabilização adequada para a articulação glenoumeral,


devido à falta de estruturas ligamentares para permitir os movimentos amplos do
ombro. Por isso, os músculos do manguito rotador, por sua fixação dentro da
cápsula articular, compensam a instabilidade natural presente na articulação. Esses
músculos são controladores ativos da art. glenoumeral; na contração do músculo
supraespinal ocorre uma compressão do úmero contra a cavidade glenóide,
permitindo um rolamento superior adequado para a abdução, e permite uma
distribuição adequada de forças pela maior área de contato em torno de 60 a 120°
de abdução.

O músculo supraespinal é orientado para abdução de ombro, rolando a


cabeça do úmero superiormente, e também aumenta o espaço musculotendíneo,
restringindo a translação superior do úmero. Na abdução, os mm. infraespinal e
redondo menor podem rodar externamente o úmero e aumentam a liberação entre o
tubérculo maior e o acrômio.

Biomecânica do supino
De acordo com o Artigo publicado em 4 de Fevereiro de 2021, intitulado
“Understanding Bench Press Biomechanics-The necessary Of Measuring Lateral Barbell
Forces” dos autores, Lasse Mausehund; Amelie Werkhausen; Julia Bartsch e Tron
Krosshaug, os músculos a serem trabalhados no supino podem variar dependendo da
largura de aderência na barra, podendo destacar determinados grupamentos musculares,
como por exemplo: os músculos do cotovelo trabalhando com mais ênfase em largura de
aderência menor do que largura de aderência maior.
É importante enfatizar que o teste realizado levou em consideração 4 larguras de
aderência diferentes, tal qual representado na imagem:

“Variações de exercícios de supino. De cima para baixo: largura de aderência média (BPM), largura de

aderência (BPW), largura de aderência estreita mantendo os cotovelos perto do corpo (BPNI) e largura de
aderência estreita mantendo os cotovelos longe do corpo (BPNO).”

Possíveis causas
Considerando a biomecânica e as interações musculares e articulares, e por
motivos didáticos ultrapassando o pilar da Fisioterapia que visa considerar os mais
variados fatores do indivíduo no momento da constatação de uma possível causa de
dor ou outra disfunção, pode-se considerar como possíveis causas das queixas de
dor propostas anteriormente:

● Fraqueza do manguito rotador

A função primária do Manguito rotador é estabilizar a cabeça umeral e


mantê-la no aspecto central da fossa glenóide. Se sua capacidade está diminuída,
como em fraquezas, por exemplo, ações de outros músculos como o deltóide podem
causar um cisalhamento superior da cabeça umeral predispondo ao impacto contra
o arco coracoacromial. Ela pode ser uma das causas da Síndrome do Impacto
Subacromial (SIS)

● Fraqueza do trapézio (porção descendente)

O paciente relatou dor no ombro em abdução acima de 90 graus, nessa fase


de movimento o músculo deltóide está contraído quase que ao máximo, então ele
começa a sair do movimento e o trapézio descendente começa a entrar em
contração. Dessa forma, se o paciente apresentar alguma fraqueza ou disfunção do
trapézio - principalmente sua porção descendente - pode acarretar em uma
exigência exacerbada do deltóide, causando fadiga no mesmo. Portanto, o
fortalecimento do trapézio seria essencial para aumentar a estabilidade da região
escápulo umeral, e diminuir a sobrecarga do ombro durante a execução das
atividades.
O trapézio é um dos músculos que auxiliam na flexão e abdução do ombro
(movimentos com relação direta com o caso apresentado), trabalhando muitas vezes
em sinergia com o músculo serrátil anterior. Também causa a elevação e retração
da clavícula quando contraído, tendo uma importância enorme para o movimento
adequado do ombro (articulação acrômio clavicular).

● Fraqueza do rombóide e do trapézio (porção transversal)

Ao fazer o supino, o indivíduo necessita realizar uma retração escapular para


dar estabilidade ao movimento. Assim os músculos responsáveis por essa retração
seriam o rombóide e o trapézio (principalmente porção transversal), ou seja, se um
desses grupamentos musculares apresenta uma fraqueza o indivíduo não
conseguirá dar essa estabilização para o movimento. Então, sem uma retração
escapular adequada o indivíduo deixa seu ombro vulnerável a lesões.

● Fraqueza no deltóide

Durante a fase concêntrica do supino, é exigida uma contração do músculo


deltóide, principalmente em sua porção anterior, auxiliando na flexão do ombro.

● Fraqueza do peitoral maior direito em relação ao esquerdo


Ao fazer o movimento do supino, o peitoral pode apresentar uma diferença
de força entre eles, fazendo com que o lado mais fraco tente compensar o
movimento com o ombro. O que por fim pode levar a dor unilateral, nesse caso o
lado direito.

● Síndrome do Impacto (SIS)

É uma das afecções mais comuns de patologia do ombro. É um distúrbio


causado pela compressão prolongada, gerando inflamação ou degeneração na
região de estruturas do ombro. O impacto subacromial ocorre nas proximidades do
aspecto inferior do arco coracoacromial, estando relacionado a redução do espaço
durante a elevação do braço acima de 90º.
O espaço subacromial (ES) compreende a cabeça do úmero sendo o limite
inferior e o arco coracoacromial sendo o limite superior.
Em geral, as estruturas subacromiais acometidas são: tendão do músculo
supra-espinhal, bursa subacromial e cabeça longa do músculo bíceps braquial.
Esse mecanismo de rolamento e deslizamento na abdução é importante para
manter o espaço subacromial normal, a fim de evitar a compressão do úmero contra
o teto acromial, o tendão supraespinal e irritação da bursa subacromial, evitando
sintomas irritativos e inflamatórios da “SIS”.
O “SIS” tem sido comumente classificado como "estrutural" (primário) ou
funcional (secundário) com base nas anormalidades subjacentes do ombro. Sendo o
primário devido a anormalidades ósseas ou de tecidos moles que acabam
resultando na compressão de estruturas e o secundário ocorre devido a
desequilíbrio muscular ou doença do manguito rotador (perda dos pares de força ao
redor do ombro) e/ou instabilidade glenoumeral que afeta o ombro. O “SIS” funcional
é mais comum em pacientes mais jovens, já o estrutural em pacientes mais velhos.

Os outros músculos do manguito rotador têm uma linha de força para


abdução que contrapõe as forças inferiores dos músculos latíssimo do dorso e do
redondo maior, e neutraliza parte da contração do deltóide na estabilização estática
da glenoumeral. Em caso de não funcionamento adequado, tais comportamentos
musculares passivos e ativos, poderiam ocasionar uma impactação da cabeça do
úmero contra o arco coracoacromial, bloqueando a abdução de ombro.

● Discinese escapular

Caracterizada como a movimentação precipitada da escápula que se move


superiormente em rotação antes da melhor combinação entre os movimentos
glenoumerais e escapulotorácicos, predispondo ao contato precoce ou aumentado
entre os tecidos nos “ES”. Isso seria causado por déficits de força e coordenação
muscular escapulotorácicos e pode ser uma das causas da SIS.

Solução do caso
● Fortalecimento muscular do manguito rotador

O grupamento muscular manguito rotador é um grande responsável pelos


movimentos na articulação do ombro. Ou seja, quaisquer disfunções que impactem o
trabalho de um grupamento muscular tão relevante, faz com que os mais variados
resultados sejam em impactos na funcionalidade do indivíduo. Sendo assim, o
fortalecimento muscular do manguito rotador, visando uma melhor participação faz-se
necessário, uma vez reconhecida sua relevância.

● Fortalecimento muscular do trapézio porção descendente

Para o fortalecimento do músculo trapézio (em sua porção descendente),


seriam interessantes movimentos de elevação do ombro - sem abdução ou flexão
visando uma maior exigência da atividade muscular do trapézio..

● Fortalecimento muscular dos rombóides:

Os romboides são músculos que tem como principal função a retração súpero-
medial da escápula e rotação da cavidade glenóide, fortalecê los tende a proporcionar maior
estabilidade à escápula na sua posição, reforçando o ombro e diminuindo assim o risco de
lesões.
Portanto, realizar exercícios principalmente envolvendo a retração da
escápula, será de grande relevância para solucionar tal caso.

● Fortalecimento muscular do deltóide

Partindo do ponto que o deltóide é um dos músculos motores primários da abdução


de ombro, faz-se necessária a sua ativação de maneira satisfatória visando a manutenção
da posição de pegada no supino e da abdução de ombro propriamente dita. Sabe-se que, o
músculo deltóide apresenta fibras musculares em 3 porções, o que proporciona sua
participação nos mais variados movimentos da articulação glenoumeral, sendo eles: a
porção anterior que atua como abdutora horizontal, a porção média, atuando como
abdutora e a porção posterior que realiza adução horizontal. Sendo assim, grande parte dos
exercícios envolvendo a abdução do ombro irá trabalhar as três porções do deltóide,
entretanto, alguns exercícios podem maximizar a contração em determinada porção de
acordo com as necessidades do paciente.
No caso do supino, a principal porção ativada é a anterior, e no caso da abdução
acima de 90º, a porção média (salvo que todas as porções são ativadas, apenas em
diferentes intensidades).

● Mobilização Articular
Podem também ser feitas algumas adaptações na execução do movimento para
minimizar a dor e a sobrecarga do ombro, como:

- Alterar a carga e o número de repetições do exercício


- Durante a execução do supino, retrair as escápulas, que pode auxiliar em uma
menor sobrecarga do ombro, visto que com as escápulas retraídas a rotação interna
do ombro será menor

● Referências Bibliográficas

LASSE, Mausehund; AMÉLIE, Werkhausen; JÚLIA , Bartsch; TRON, Krosshaug.


Compreendendo a biomecânica do supino – a necessidade de medir as forças
laterais da barra. Biomecânica, 2022. Disponível em: https://journals.lww.com/nsca-
jscr/fulltext/2022/10000/understanding_bench_press_biomechanics_the.3.aspx.
Acesso em: 16 nov. 2023.

LORENZETTI, Silvio Rene ; LIST , Renate; OBERHOFER, Katja ; PLÜSS , Michael;


ZEIDLER, Fabian ; ZIMMER, Pia ; SCHÜTZ, Pascal . Exercícios de Peito:
Movimento e Carga das Articulações do Ombro, Cotovelo e Punho. Biomecânica,
2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8877248/.
Acesso em: 16 nov. 2023.

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Biomecânica, 2019. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7112160/. Acesso em.16 nov. 2023.

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