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Lucas Censi <lucasgcensi@gmail.

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[Passageiro #71] O brasileiro não muito tranquilo


1 mensagem

Matheus de Souza <matheusdesouza@substack.com> 2 de abril de 2024 às 17:44


Responder a: Matheus de Souza
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[Passageiro #71] O brasileiro não


muito tranquilo
O sonho de ser correspondente internacional; o medo de possíveis
atentados terroristas durante os Jogos Olímpicos de Paris.
MATHEUS DE SOUZA
ABR 2

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🎧 Para ler ouvindo¹: FEAR., por Kendrick Lamar.


O Hotel Continental Palace (hoje Hotel Continental Saigon) na
Cidade de Ho Chi Minh, Vietnã. Foto por James Delahaye;
início dos anos 1970.

1.

Busco por um café com internet na Dong Khoi, antiga Rue Catinat (os
franceses estiveram em Hanói), e me deparo com o imponente Hotel
Continental. Foi aqui que, na primeira metade dos anos 1950, antes da
Guerra Americana (conhecida como Guerra do Vietnã em outras partes do
mundo), o autor e jornalista inglês Graham Greene, na época
correspondente internacional do The Times (Reino Unido) e do Le Figaro
(França), escreveu o clássico O americano tranquilo.

Sento no bar do térreo e peço uma cerveja e a senha do Wi-Fi. Sou o único
forasteiro no lugar onde correspondentes internacionais, diplomatas e
espiões costumavam confraternizar. A cerveja está quente e o sinal de
internet é ruim. Enquanto procrastino meu trabalho, dou uma olhada nas
avaliações dos hóspedes do Continental em um desses sites de reservas
online. Com diárias a partir de R$ 720 parece ser consenso que o hotel
vende ser o que já foi um dia. “Tudo no hotel é antigo e desgastado”, escreve
Magdalena, do País de Gales. Brian, da Austrália, reclama do mesmo que
eu: “cerveja quente e internet instável”.

Penso em argumentar com o simpático garçom sobre a temperatura da


cerveja, mas lembro de uma crônica de J.P Cuenca em que o autor de
Qualquer lugar menos agora relata um problema com um carimbo em um
aeroporto no Vietnã:

“(…) Faltava algum carimbo ou adesivo para o visto no aeroporto, e todos


os turistas, inclusive e principalmente a adolescente com a bandeira dos
Estados Unidos estampada na camiseta, tiveram que aguardar.

A expressão sob os estufados quepes verde-musgo desse estado


comunista não convidava a nenhum tipo de argumentação. Se em 980
eles expulsaram os chineses depois de mil anos de domínio e no século
XV tiveram que os expulsar novamente, no século XIII resistiram contra
500 mil homens do Kublai Khan e, como sabemos, no século XX
venceram uma guerra contra o Japão, contra a França e outra contra os
Estados Unidos. A autodeterminação do povo do Vietnã e a sua luta
contra os maiores impérios da humanidade pelo direito à sua terra não
tem precedentes. Não seria eu a tentar abrir um, reclamando sobre o
atraso de um carimbo”.

– Está tudo ok? Você quer mais alguma coisa? – pergunta o garçom do bar
do Hotel Continental.

– Tudo está perfeito. Mais uma cerveja, por favor.

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2.

Minha trajetória acadêmica e profissional está longe de ser linear (ou mesmo
pensada), mas no final das contas acho que, ainda que da forma mais torta
possível, realizei o principal sonho do Matheus que tinha a metade da
idade que tenho hoje.

Em 2006 eu tinha 17 anos e ainda morava na minha cidade natal; Imbituba,


Santa Catarina; na época com pouco mais de 40 mil habitantes. Os
professores da escola onde eu estudava no último ano do ensino médio
organizaram uma viagem até a Feira das Profissões da Univali, uma
universidade privada em Itajaí, pertinho da famosa – brega; jeca; sem
personalidade – Balneário Camboriú.

Fomos instruídos a escolher quatro opções de cursos de graduação dos


quais assistiríamos palestras a respeito.
Minhas escolhas, na ordem, foram:

Relações Internacionais (por conta do “internacionais; juro);

Publicidade e Propaganda (parecia cool);

Jornalismo (eu gostava do Marcos Losekann e da Ilze Scamparini);

Educação Física (!!!).

A primeira palestra do dia foi do curso de Publicidade e Propaganda. Antes


mesmo que o primeiro palestrante subisse ao palco, achei tudo too much.
Um excesso de estímulos visuais no telão, um techno estilo Summer
Eletrohits bombando (provavelmente David Guetta ou Bob Sinclair), um
público muito extrovertido. Percebi na hora que aquela não era a minha
praia; e tive certeza após uns 5 minutos da palestra de um aluno que parecia
o Paulinho Vilhena em Coração de Estudante; fui embora antes do fim.

O público para Relações Internacionais era bem menor; a palestra de


Publicidade e Propaganda ocorreu em um auditório; a de Relações
Internacionais em uma sala de aula convencional. Lembro de já estar meio
cansado – saímos de Imbituba ainda na madrugada – e confesso não ter
prestado muita atenção no que foi dito, mas lembro claramente de duas
coisas: 1) um diplomata ganhava, na época, em torno de R$ 30 mil e 2) um
diplomata tinha a oportunidade de viajar o mundo. Foi assim que decidi qual
graduação cursar; nem apareci para as palestras de Jornalismo e de
Educação Física; fiquei de rolê pelo laboratório de anatomia analisando
minuciosamente cadáveres de indigentes e de outros cidadãos que doaram
seus corpos para a ciência; finalizei a excursão jogando sinuca em um bar
nas proximidades.

3.

Já como aluno de Relações Internacionais na Unisul, em Tubarão, descobri


cedo que não seria um diplomata; é preciso reconhecer as nossas
limitações. Foi na faculdade, no entanto, que a vontade de desbravar o
mundo cresceu ainda mais em mim; eu brincava com a minha mãe que
queria ser igual ao Marcos Losekann, um correspondente internacional,
ainda que eu não fizesse a menor ideia do que isso significava.

4.

Desde 1495, a França participou em 50 dos 125 principais conflitos


europeus; isso sem contar o estrago feito na África, no Oriente Médio e nos
países do Sudeste Asiático que compunham a infame Indochina Francesa.

Em 26 de fevereiro deste ano, Emmanuel Macron, o presidente francês, não


descartou a possibilidade de enviar tropas para a Ucrânia. Vladimir Putin, o
presidente russo, prometeu a Macron que se ele passasse das palavras às
ações, seria como o imperador francês Napoleão, que foi derrotado na sua
tentativa de invadir o Império Russo em 1812. "As consequências destas
intervenções seriam verdadeiramente trágicas", acrescentou Putin.

5.

Os inimigos da França são muitos; o que faz o governo francês estar sempre
em estado de alerta.

Após o Estado Islâmico reivindicar o atentado terrorista ocorrido em 22 de


março em uma casa de shows nos arredores de Moscou, a agência de
inteligência francesa (DGSI) emitiu um alerta sobre o risco de um atentado
“em massa” na abertura dos Jogos Olímpicos; cujos ingressos custam a
bagatela de 2.700 euros.

A DGSI teria constatado uma movimentação “fora do normal” entre suspeitos


chegados de países como Cazaquistão, Quirguistão e Turcomenistão. O
serviço de contraterrorismo francês quer evitar um eventual ataque
coordenado em 26 de julho, dia da abertura dos Jogos, diante das câmeras
do mundo todo; pela primeira vez na história o evento de abertura não será
em um estádio, mas a céu aberto – às margens do Rio Sena.

Há uns meses eu estava em um ônibus de linha nas proximidades do Museu


do Louvre quando ouvi um estouro seguido de cacos de vidro voando pelo
corredor. Meu primeiro instinto – e imagino que o da maioria dos passageiros
– foi um “fodeu, isso é um ataque terrorista”. Por sorte, foi “apenas” um
acidente normal de trânsito; um outro ônibus bateu na traseira do nosso;
ninguém se feriu. Jamais tive um instinto parecido vivendo no Brasil.

6.

Quando você, querido(a) leitor(a), estiver lendo essas linhas, provavelmente


estarei curtindo uns dias de férias nas Ilhas Canárias; um arquipélago na
costa da África que pertence a Espanha – os espanhóis escravizaram e
posteriormente dizimaram os guanches, o povo nativo canário.

É a primeira vez em muito tempo que viajarei sem o meu computador a


tiracolo. Meu objetivo é fazer um detox digital, aumentar meu índice de
vitamina D e relaxar (se alguém que me lê ficar sem resposta em aplicativos
de mensagens instantâneas durante a semana, já sabe o motivo).

Quando voltar para casa trabalharei no conteúdo da primeira edição de


Medo e Delírio nas Olimpíadas de Paris; farei uma espécie de
aquecimento até o início dos jogos; tô com umas ideias malucas que não
vejo a hora de compartilhar com vocês. Acho que acertei no título² do
projeto.

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🧠 Para ler, assistir e ouvir

“Creators estão recorrendo ao texto, em blogs e newsletters, para


escapar dos algoritmos e construir uma comunidade fora das redes
sociais”. É o tipo de coisa que venho falando há um tempo, mas as
aspas não são minhas; são dessa matéria (em inglês) da Business
Insider.

“Por que nem todo conhecimento valioso é facilmente monetizável?”,


pergunta a Monique Evelle em sua newsletter.

Sempre Paris: Crônica de uma cidade, seus escritores e artistas,


estou lendo esse livro da ex-correspondente internacional Rosa Freire
d'Aguiar.
Uma série na Netflix: O Problema dos 3 Corpos.

Um reality show coreano na Netflix: A Batalha dos 100.

Aos poucos vou soltando spoilers da cobertura que farei das


Olimpíadas. A novidade pra hoje é que estarei nos eventos da esgrima
(!!!) feminina. Nathalie Moellhausen, representante do Brasil em Paris,
além de esgrimista é diretora de arte e fez um vídeo incrível para
comemorar a sua vaga.

Moanin’ In The Moonlight, álbum de 1958 do Howlin’ Wolf, figurão do


blues. Boa trilha para cozinhar.

🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento

Você trabalha em sua área de formação?

✍️Notas de rodapé

1 Você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas
indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.

2 Que, no caso, é inspirado no livro Medo e Delírio em Las Vegas, do


Hunter S. Thompson; e não no podcast de Brasília.

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