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Avaliação da acuidade visual e da ceratometria após a

cirurgia do pterígio
Change in visual acuity and keratometry after pterygium surgery

Cristina Garrido (!) RESUMO


Ricardo Chaves Carvalho (2l
Theodomiro Garrido Neto i3l O estudo consistiu na avaliação da acuidade visual e da ceratometria pré e
Luiz Magalhães (4) pós-cirúrgica do pterígio.
Jacob Cohen 15)
Foram estudados 21 pacientes consecutivos portadores de pterígio medial
Marcelo Cunha (6)
Mauro Campos (6) primário, idades variando de 22 a 66 anos (idade média 44,71) de março a
novembro de 1993. No pré-operatório, 1 8 (85,7%) dos pacientes tinham
astigmatismo a favor da regra.
No pós-operatório observou-se melhora da acuidade visual em 16 (76,2%)
pacientes e diminuição do astigmatismo em 17 (81 %).
Não ocorreu variação da acuidade visual e da ceratometria no intervalo do
1 ° para o 3 ° mês de pós-operatório.
Palavras-chave: Acuidade visual; Ceratometria; Ciru rgia do pterígio; Astigmatismo.

INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
O pterígio ( do grego, Pterygion, pe­
quena asa) caracteriza-se por tecido Estudamos pro specti vamente 2 1
fibrovascular, de aspecto triangular e p a c i e n t e s p o rt adore s de pterí g i o
elevado, que cresce a partir da conj un­ medial primário n o ambul atório do
tiva bulhar em direção à córnea 1 • • 2
Hospital Humberto de Castro Lima
Ocorre mais comumente em climas (BA), de março a novembro de 1 993.
quentes 3 e em indivíduos do sexo mas­ D e s t e s , 1 4 ( 6 6 ,7%) eram do sexo
culino que trabalham ao ar livre 4, pos­ masculino e 7 (3 3 , 3 %) do sexo femi­
sivelmente pela associação com a ra­ nino com idade variando de 22 a 66
diação ultravioleta 5 • anos (média de 44,7 1 ) .
Embora a prevalência da lesão aumen­ O tamanho da invasão comeana no
te com a idade, a maior incidência ocorre pterígio foi medido na lâmpada de fen­
Trabalho realizado no Hospital Humberto de Castro
Lima-BA.
entre 20 e 49 anos. A análise genealógica da a patir do limbo comeano anatômico.
'" Médica Residente (R3) da Escola Paulista de Medicina de famílias com pterígio tem demonstra­ Em todos os pacientes foram realiza­
12' Médico Residente (R3) do Instituto de Oftalmologia de
Manaus.
do um padrão dominante de herança 4 • das mensurações da acuidade vi sual
'" Médico Residente (R 1 ) do Hospital Castro Lima-Bahia Dentre os efeitos adversos do pte­ (sem correção) e ceratometria (Auto­
"' Preceptor do Curso de Especialização do Hospital
Humberto Castro Lima-Bahia.
rígio, temos o astigmatismo induzido kerato-refractometer KR 3000 Topcon­
'" Pós-Graduando (Doutorado) da FMRP - USP. por tração mecânica ou por alterações Japan) no pré-operatório e no 1 º e 3º
'" Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de
Medicina do filme lacrimal ou ambos 6-8 • mês após a cirurgia do pterígio. O astig­
Endereço para correspondência: Dra Cristina Maria Neste estudo, os autores avaliaram a matismo ceratométrico encontrado foi
Bittencourt Garrido. Rua Botucatu, 822 - Sào Paulo - S P variação da acuidade visual e da cerato­ obtido a partir da subtração do valor
- Telefone - 5 7 1 -72 1 8 - CEP 04023-062
metria após a cirurgia do pterígio. ceratométrico do meridiano horizontal

6 14 http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19960012 ARQ. BRAS. OFTAL. 59(6), DEZEMBR0/1 996


A valiação da acuidade visual e da ceratometria após
a cirurgia do pterígio

do vertical, considerando-se astigma­ TABELA 2


tismo a favor da regra, quando o meri­ Ceratometria Variação da Ceratometria Média Pré e Pós-Operatória
diano mais curvo estava no eixo de A média ceratométrica entre o pré e
90 °± 1 5 º ; contra a regra, quando o meri­ o 1 ° mês de pós-operatório, e entre o Pré 1 2 Mês 32 Mês
diano mais curvo estava no eixo de pré-operatório e o 3 ° mês; aumentou Média 42,26 43,21 43,28
1 80°± 1 5 ° e oblíquo, quando ultrapassava significantemente. O aumento da cur­
1 5 º em qualquer dos eixos principais. vatura comeana entre o 1 º e 3 ° meses de Análise de Variância de Friedman
A técnica cirúrgica empregada foi a pós-operatório não foi significativo.
x2 Calculado = 23,55 (p < 0,01 )
de ressecção total do pterígio com es­ Analisando-se as variações ocorri­
clera nua. das em cada meridiano isoladamente,
No pós-operatório foi prescrito colí­ observou-se que o meridiano horizontal Dunne & Bames · 6, Hill & Maske 7 e
rio de associação de Neomicina, Poli­ (K.) tomou-se mais curvo entre o perío­ Oldenburg et ai 8 isto poderia ocorrer
mixina B e Dexametasona O, 1 % de 3/3h do pré-operatório e o 1 ° e 3 ° mêses. por tração mecânica e aplanamento do
durante 15 dias, com redução gradativa Não houve variação significante do meridiano horizontal, induzindo astig­
e suspensão completa após 30 dias. meridiano vertical (K2) no pré e pós­ matismo a favor da regra ou aplana­
operatório de 1 e 3 meses da cirurgia do mento do filme lacrimal e conseqüente
Método Estatístico pterígio. astigmatismo, "reversíveis" após cirurgia.
Para análise dos resultados foi apli­ Após exérese do pterígio em nossos
cada a Análise de Variância por Postos A stigmatismo Ceratométrico pacientes, ocorreu melhora da acuidade
de Friedman 9 comparando nos perío­ Houve diminuição do astigmatismo visual durante o tempo de seguimento
dos pré e pós-operatórios de 1 mês e 3 ceratométrico em 1 7 (8 1 % ) pacientes. dos casos. O mesmo foi observado com
meses, as variações da acuidade visual, Dos 2 1 pacientes examinados pré­ a variação da média ceratométrica e do
das médias ceratométricas e de cada operatoriamente, 1 8 (85,7%) apresenta­ meridiano horizontal , os quais toma­
meridiano separadamente. Tendo de­ vam astigmatismos a favor da regra e 3 ram-se mais curvos até o 3 º mês de pós­
monstrado diferença significante, esta ( 1 4, 3 %) apresentavam astigmatismos operatório. A melhora na acuidade vi­
análise foi complementada pelo teste de oblíquos. sual não corrigida parece estar relacio­
comparações múltiplas 1 0 • Dos 1 8 ( 1 00%) astigmatismos pré­ nada com a diminuição do astigma­
tismo corneano e maior estabilidade do
filme lacrimal 2 • •
operatóri o s a favor da regra : 1 6 8

RESULTADOS (88,8%) diminuíram, 1 (5 ,6%) aumen­


tou (recidiva do pterígio) e 1 (5,6%) Após a cirurgia houve aumento nas
não se alterou. medidas ceratométricas do meridiano
Nos 2 1 pacientes examinados, os horizontal (K.), sem alteração do meri­
Dos 1 6 ( 1 00%) astigmatismos que
pterígios apresentavam tamanhos diver­ diano vertical (K). O pterígio induz
diminuíram: 1 0 (62,5%) mantiveram-se
sos, sendo 4 ( 1 9, 1 %) < 2 mm, 1 2 (57, 1 %) aplanamento do meridiano horizontal
a favor da regra, 5 (3 l ,2%) tomaram-se
� 2 mm ,;;;; 4 mm e 5 (23,8%) > 4 mm. com conseqüente astigmatismo a favor
oblíquos e 1 (6,3%) tomou-se contra a
regra. da regra 8 •
Acuidade Visual No período pós-operatório deste
Dos 3 ( l 00%) astigmatismos pré­
Em 1 6 pacientes ocorreu melhora operatórios oblíquos: 1 (3 3,3%) dimi­ grupo de pacientes o grau de astigma­
significante da acuidade visual após a nuiu mantendo-se oblíquo e 2 (66,7%) tismo diminuiu em 8 1 % dos pacientes,
cirurgia até o 1 ° mês de pós-operatório; não se alteraram. não se alterou em 1 4,2% e aumentou
entretanto, essa melhora não foi signi­ em 4,8% (pterígio recidivado) .
ficante do 1 º para o 3 ° mês (X2 calcula­ O presente estudo apresenta limita-
DISCUSSÃO
do = 1 7,65, P<0,0 1 ) (Tabela 1 ).
Neste trabalho, o pterígio foi mais TABELA 3
TABELA 1 comum em homens j ovens. Segundo Variação Ceratométrica do Meridiano Horizontal Pré e
Variação da Acuidade Visual Pré e Pós-Operatória Hilgers 4, os homens desta faixa etária Pós-Operatório
estão mais expostos às condições am­
Pré 1 2 Mês 32 Mês Pré 1 2 Mês 32 Mês
bientais e climáticas, fatores provavel­
Média 0,51 0,66 0,70 mente envolvidos na gênese do pterígio. Média 40,72 42,80 42,96
Os mecanismos pelos quais o pte­
Análise de Variãncia de Friedman rígio pode levar à diminuição da acui­ Análise de Variância de Friedman
x2 Calculado = 1 7,65 (p < 0,01 ) dade visual não são claros. Segundo
X2 Calculado = 23, 79 (p < 0,01 )

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A valiação da acuidade visual e da ceratometria após
a cirurgia do pterígio

ções. O pequeno número de pacientes mon ths after surgery. St. Louis, CV Mosby, 1965.
3. CAMERON, M. E. - Pterygium throughout the
estudados, a influência do tamanho do Uncorrected visual acuity improved world. Springfield, Charles C. Thomas, 1965,
pterígio em relação às variações ópticas in 1 6 (76, 2%) patients. Seventeen p.40-42.
e o período curto de acompanhamento (8 1 %) patients presented significant 4. HILGERS , J. H. C. - Pterygium: lts incidence,
heredity and etiology Am. J. Ophthalmol.. 50:
podem induzir variações nos resultados. reduction of corneal astigmatism. 635-643 , 1960.
Até o presente, poucos estudos sobre Further studies are necessary to 5. TAYLOR, H. R. ; WEST, S. K. ; ROSENTHAL,
as alterações ópticas induzidas pelo better understand the effects of F. S . ; MUNOZ, B . ; NEWLAND , H. S . ;
EMMETT, E . A. - Corneal changes associated
pterígio são encontrados na literatura pterygium on visual acuity. with chronic UV irradiation. Arch. Ophthalmol.
oftalmológica. Assim, a realização de 107 (10): 1481-4, 1989.
novos estudos incluindo a videocerato­ Key words: Visual Acuity, 6. DUNNE, M. c. M. & BARNES, D. A. - Model­
grafia são necessários. Keratometry, Pterygium Surgery, ling oblique astigmatism in eyes with known
peripheral refraction and optical dimensions.
Astigmatism. Ophthalmic. Physio/ Opt. 10: 46-8, 1990.
7. HILL, J. C. & MASKE, R. - Pathogenesis of
SUMMARY pterygium. Eye, 3(2): 218-26, 1989.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8. OLDENBURG, J. B . ; GARBU S , J . ;
McDONNELL, J . M . ; McDONNELL, P . J . -
We evaluated visual acuity and Conjuntiva! Ptergia Mechanism of corneal topo­
1. KAU F M ANN, H. E. ; BARRON, B. A. ;
keratometry variations in twenty one McDONALD, M. B. ; WALTMAN, S. R. - The graphic changes. Cornea, 9(3): 200-4, 1990.
patients that underwent surgery for Cornea l a ed. New York, Churchill Editora, 9. SIEGEL, S. - Estadistica no Parametrica, Ed.
Trilias, México, 1975, p.346.
pterygium remova!. Measurements 1988, p. 952,.
10. H O L L AN D E R , M. WOLFE, D. A. -
2. DUKE-ELDER, S. - Diseases of the outer eye. ln:
were performed preoperative, 1 and 3 System o{ Ophthalmo/ogy Series (Vol. 8, pari 1). Nonparametric Statistica/ Methods, John Wiley
& Sons, New York, 1973, p.503.

4 ,

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616 ARQ. BRAS. OFTAL. 59(6), DEZEMBR0/1996

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