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Controladoria-Geral da União
Secretaria Federal de Controle Interno
Relatório de Auditoria
Especial CONAB
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Relatório de Auditoria Especial nº
CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO
00190.021911/2011-41-A
SECRETARIA FEDERAL DE CONTROLE INTERNO
Companhia Nacional de Abastecimento
- CONAB
Brasília - DF
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO
Nº 00190.021911/2011-41-A
EM BRASÍLIA/DF
II
8.4 - SUBVENÇÃO ECONÔMICA ................................................................................... 245
8.5 - PAGAMENTO DE FRETE – ESCOAMENTO DE ESTOQUE PÚBLICO................ 247
8.6 - CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE BRAÇAGEM ............................................... 248
9. RECOMENDAÇÕES......................................................................................................... 248
9.1 - DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS DA CONAB......................................................... 248
9.2 - AÇÕES JUDICIAIS ................................................................................................... 251
9.3 - ALIENAÇÃO DE IMÓVEIS ..................................................................................... 251
9.4 - SUBVENÇÃO ECONÔMICA ................................................................................... 252
9.5 - PAGAMENTO DE FRETE – ESCOAMENTO DE ESTOQUE PÚBLICO................ 253
9.6 - CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE BRAÇAGEM ............................................... 254
III
1. INTRODUÇÃO
Desse modo, foram apurados, além das denúncias inicialmente mencionadas, fatos
relativos a Subvenções Econômicas (PEP - Prêmio para o Escoamento de Produto); à Qualidade
da Assistência Jurídica (Contencioso Cível e Trabalhista); a Contratos de Transporte para
Remoção de Estoques Públicos; e à Alienação de Bens Imóveis.
Os exames de auditoria deram-se a partir da aplicação de critérios específicos de seleção
dos instrumentos contratuais, bem assim dos macro-processos de gestão, tais como
materialidade, relevância e concentração do agente executor. Foram realizadas inspeções in loco
sobre a execução da política de abastecimento agroalimentar no âmbito dos Estados de Minais
Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul,
Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Cabe esclarecer, por fim, que além dos fatos abordados no presente Relatório de
Auditoria, elaborado pela unidade técnica da Secretaria Federal de Controle Interno, outras
situações irregulares encontram-se em apuração na Corregedoria-Geral da União desta CGU,
1
mediante processos disciplinares, cujos prazos obedecem às regras legais, tendo em vista o
direito ao contraditório e à ampla defesa. A Corregedoria-Geral deverá receber também uma
cópia do presente Relatório, tanto para subsidiar os processos em curso, quanto para possível
instauração de novos processos disciplinares.
O programa 0352 – Abastecimento Agroalimentar representa quase que 100% dos recursos
disponibilizados à Companhia Nacional de Abastecimento, conforme demonstrado abaixo:
Note-se que a dotação orçamentária da Conab, em sua quase totalidade, cerca de 99%,
refere-se a programas que visam a execução de atividades finalísticas da Companhia.
2
Ações Orçamentárias Dotação Atual izada- Dotação Atualizada-
2010 2011
0300 GARANTIA E SUSTENTAÇÃO DE 2.802.000.000,00 2.697.574.000,00
PREÇO S
2130 FORMACA O DE ESTOQUES PUBLICOS - 2.300.000.000,00 2.300.000.000,00
PGP M
2272 GES TAO E ADMINISTRACAO DO 459.342.641,00 390.916.326,00
PROGRA MA
0022 CUMPRIMENTO DE SENTENCA 31.467.764,00 14.000.000,00
JUDICIA L TRANSITADA EM JULGADO
outros outros 125.942.849,00 133.957.954,00
TOTAL 5.718.753.254,00 5.536.448.280,00
3
A fundamentação técnica acostada ao citado VOTO leva em consideração a finalidade
primordial da Companhia em executar a política agrícola do governo federal nos segmentos do
abastecimento agroalimentar, da garantia de preços mínimos e da fixação de estoques
estratégicos, além do apoio à formulação e ao acompanhamento de outras políticas afeitas ao
agronegócio e a incorporação de outras atividades operacionais voltadas a programas e ações de
cunho eminentemente social, destacando-se o Programa Fome Zero e Agricultura Familiar.
4
internas e externas; a atualização da estratégia; a revisão de metas; a definição de cronograma
das RAEs; a solução de pendências em relação aos indicadores, a gestão das iniciativas
estratégicas e o fortalecimento da comunicação.
5
Sobre o alinhamento dos programas com as estratégias organizacionais, a Auditoria
Interna da CONAB registra que a estrutura orgânica prevalecente contempla uma coordenação
cuja competência básica é o desenvolvimento de programas e projetos e, para tanto, conta com
assessorias específicas para a execução dessas iniciativas. Nesta configuração institucional, é
de se anotar o crescente incremento de cargos de assessoramento superior no âmbito
da Presidência da CONAB e da citada coordenação.
A Estrutura Organizacional
Presidência
1
Trata-se de unidade sucessora da Coordenadoria de Programas Empresariais e do Agronegócio - CEPEA, conforme
CODAG CODAG
alteração de denominação ocorrida nos termos da Resolução CONAD nº 1, de 30.08.2007.
Coordenadoria de
Desenvolvimento e Apoio à 6 Gerência de Implantação e
Acompanhamento de
Gestão Programas
Fonte: Conab
As Competências Regimentais
7
Cargo/Função Situação Contratual Quantidade Observação
Assessor de Desenvolvimento de Programas Contrato Especial 11
Assessor de Desenvolvimento de Programas Empregado 01
Coordenador Contrato Especial 01 Coordenador
Analista de Operações Empregado 01 Assistente
Técnico de Operações Empregado 01
Técnico de Planejamento Empregado 01
Assistente de Recursos Humanos Empregado 01 Secretária
Total do quadro 17
Fonte: Conab
Ao analisar o Regimento Interno da Conab, foi verificado que o §2.º do art. 144
estabelece que: "O exercício da função de Assessor, previsto neste artigo, estará vinculado ao
tempo de permanência no cargo, do titular da Presidência". No mesmo sentido o §1.º do art.
146 do citado Regimento determina que: "O exercício da função de Assessor, previsto neste
artigo, estará vinculado ao tempo de permanência no cargo, dos titulares das Diretorias".
8
Avaliação das Atividades da CODAG no Contexto da Gestão
A área demandada atendeu apenas parcialmente ao que foi solicitado, porquanto não
informou a data do início e término de cada programa, e a inserção nos processos operativos das
respectivas áreas de atividades, como também os respectivos assessores responsáveis pelo
desenvolvimento de cada programa.
Fonte: Conab
As Câmaras Setoriais e Temáticas foram criadas no âmbito do MAPA e são geridas por
aquela pasta. Portanto, não se constitui em um programa que esteja sendo desenvolvido pela
Conab.
9
Outras realizações elencadas não foram, até então, materializadas, a exemplo de
iniciativas voltadas à concepção, elaboração e análise relativas às ações inovadoras e/ou
relacionadas aos programas operacionalizados pela Companhia, quais sejam a Política de
Garantia de Preços Mínimos - PGPM, Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa
Mundial de Alimentos – PMA. Também, quanto às ações de regulamentação dos instrumentos
de Política Agrícola, não há registro de iniciativas dessa natureza por parte da CODAG.
10
Nos últimos seis anos, o quantitativo de pessoal experimentou um
incremento de 1.884 colaboradores. Apesar da forte expansão, diversas
unidades orgânicas da Companhia vêm convivendo com carência de mão de
obra, agravada pelo aspecto qualitativo. O grande aumento se deu por força
do instituto da anistia, que introduziu aos quadros da Companhia um
contingente de 1.931 colaboradores.
Outro fato relatado diz respeito aos dispêndios relativos aos Honorários de Diretoria,
Jetons e Gratificações pelo exercício de Funções Comissionadas, os quais atingiram, no
3o trimestre/09, o montante de R$ 2.352.737,98, incluindo as substituições temporárias e
gratificações incorporadas.
11
2.2 - DA DEFESA JUDICIAL DA CONAB
A Procuradoria-Geral
12
Prore/RO 1
Prore/RS 2
Prore/SC 2
Prore/SP 2
Prore/TO 1
Outros setores da Conab 12
Cedidos a outros órgãos 8
Total 81
Fonte: Conab
A Companhia possui contratos firmados com escritórios de advocacia que atuam nas
ações em que esta é parte.
A contratação de escritórios para a prestação de serviços jurídicos teve seu início no ano
de 1993, nos termos da RESOLUÇÃO N.º 007, DE 14.01.1993, com o propósito da contratação
direta de advogados ou de sociedades de advocacia para a defesa jurídica dos interesses da
Conab na área trabalhista, em face do reduzido número ou inexistência de Procuradores lotados
no órgão, afastamento para gozo de férias, licenças e outros, e situações de singularidades.
13
Advocatícios de Contencioso Trabalhista, para serem utilizados pelas superintendências
regionais.
Sobre a designação de fiscal dos contratos, verificou-se que não existe um procedimento
padrão. Na Matriz e em algumas Suregs não existe ato formal para designação dos fiscais de
contratos de prestação de serviços advocatícios, embora referida designação seja prevista na
cláusula décima oitava dos contratos.
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O quantitativo de processos judiciais – reclamações cíveis e trabalhistas
Conforme a tabela 1, há atualmente, 10.349 ações judiciais em que a Conab é parte, seja
como autora ou como ré. Considerando que há 61 procuradores em atividade, seja nas
Procuradorias Regionais – Prores, seja nas Subprocuradorias, há uma relação de 170 ações para
cada procurador. Mesmo com a atuação dos escritórios terceirizados, é necessário um
acompanhamento permanente dos processos pelos procuradores do quadro da CONAB,
verificando a qualidade das peças produzidas pelos escritórios quando da defesa da Companhia
em juízo, entre outras providências de supervisão, acompanhamento e controle sobre os atos de
defesa judicial a cargo da CONAB.
No total dessas, em 10.349 ações judiciais a CONAB figura em 3.800 no polo ativo e
em 6.549 no polo passivo. O maior número de ações em trâmite é na área trabalhista, com 5.075,
representando 49% do total. Do total de ações trabalhistas, em 5.010 a Companhia atua no polo
passivo e em 65 no polo ativo.
Quanto à distribuição das ações no país, Goiás é o Estado que possui mais ações, num
total de 1752, sendo a maior parte, 884, relativas às matérias Cível/Comercial/Tributário/Penal.
Quanto à matéria trabalhista, o DF concentra o maior número de ações, com um total de 998,
sendo 976 destas atuando no polo passivo. No tocante à matéria trabalhista, também é destaque a
quantidade de ações no Ceará, num total de 580, sendo que a Companhia atua no pólo passivo
em 567.
As informações gerenciais acerca das ações em que a Conab é parte pode ser resumida
no quadro abaixo:
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Número de ações
Cível/Comercial/Tributário/Penal Trabalhista
Estado Pólo Ativo Pólo Passivo Pólo Ativo Pólo Passivo Total
SP 102 36 0 73 211
TO 234 126 0 31 391
Total 3735 1539 65 5010 10349
16
Uma das causas detectadas, relativamente à ocorrência de tais fatos consistiu na
insuficiência de corpo funcional da área jurídica da Companhia, inclusive das Procuradorias
Regionais e na deficiência dos sistemas informatizados de gerenciamento dos processos
administrativos e judiciais, tendo sido recomendadas providências específicas aos fatos
apontados, bem assim, medidas estruturantes no sentido de implantação de sistema
informatizado para acompanhamento de cobranças nas Superintendências Regionais,
interligando, inclusive, a Matriz e as Regionais, bem como a realização de concurso público para
a recomposição do quadro de Procuradores da Companhia.
17
Valor de
Nºda Valor Inicial
UF Imóvel Endereço Adquirente Aquisição
Conc. (R$)
(R$)
RJ Pavimento Rua Alfândega, 91 - 05/2009 Conselho Regional de 885.000,00 1.107.000,00
14 andar - Centro, Medicina Veterinária
Rio de Janeiro/RJ
SP Armazém Rua Cadiriri 1044 - 09/2009 Laperfer Comércio e 13.380.000,00 13.380.000,00
Parque da Mooca, Indústria de Laminados
São Paulo/SP Ltda
SP Prédio Av. Mofarrej, n 348 - 10/2009 Brascan Imobiliária 10.600.000,00 10.600.000,00
Vila Leopoldina, São Incorporações
Paulo/SP
As justificativas constantes do Relatório do Grupo de Trabalho para alienação dos
imóveis apresentaram-se insuficientes para orientar as ações de alienação, tendo havido,
inclusive, alienação de 4 (quatro) imóveis não contemplados na relação elaborada pelo
Grupo, sendo 2(dois) no Estado de São Paulo e 2(dois) no Estado do Paraná.
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claras e objetivas para os baixos desempenhos econômico-financeiros das UA sob jurisdição de
cada Sureg, até o dia 10.03.2009.
A respeito das situações acima apontadas sobre a rede de armazéns da Conab, não se
pode desconsiderar as iniciativas de investimento para a construção de unidades armazenadoras
graneleiras, especialmente na região nordeste do País. Trata-se do OFÍCIO PRESI – 101, de
22.03.2010, por meio do qual o então Presidente da Companhia expede ao Secretário Executivo
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, a denominada CARTEIRA
DE PROJETOS - 2011 – 2015, contendo as informações básicas e detalhamento referente a
ampliação e modernização de armazéns da CONAB. Ofício PRESI 102, de igual teor e data, é
enviado ao Secretário de Planejamento e Investimento Estratégicos do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, com proposta de criação de ações orçamentárias.
19
Note-se que à medida em que haja ampliação dos instrumentos de escoamento de
produção por terceiros, seja mediante cooperativas, produtores ou empresas, reduz-se a
necessidade de esforço do Estado na ampliação da rede própria de armazenagem, daí
conclui-se que a prevalecer a proposta de ampliação da capacidade de armazéns
graneleiros, necessário se faz a reavaliação da política atual de escoamento de produção do
país no âmbito da política atual de subvenção econômica e de regulação de estoques.
Assim, a instalação de unidades armazenadoras de grãos, por mais estratégica que possa
representar do ponto de vista de escoamento de produção para regiões pouco produtoras, e
mediante a constituição de uma logística integra de transporte, requer embasamento técnico e
operacional diante dos fatos anteriormente transcritos.
O Decreto-Lei n.º 79, de 19/12/1966, que institui normas para a fixação de preços
mínimos e execução das operações de financiamento e aquisição de produtos agropecuários e
adota outras providências, dispõe o que segue:
20
Art 2º A garantia de preços instituída no presente Decreto-lei é
estabelecida exclusivamente em favor dos produtores ou de suas
cooperativas.
§ 1º Essa garantia, entretanto, poderá estender-se aos beneficiadores
que assumirem a obrigatoriedade de colocar à disposição dos produtores e
suas cooperativas - com garantia a êstes de plena liberdade de locação dos
produtos e subprodutos resultantes - no mínimo, 5% (cinco por cento) de sua
capacidade de armazenamento e beneficiamento, no prazo de financiamento
que fôr outorgada a êstes.
§ 2º Em caráter excepcional - quando circunstâncias especiais de
mercados justificarem, a critério da Comissão de Coordenação Executiva do
Abastecimento - poderão as operações de financiamento ser estendidas,
igualmente, aos comerciantes.
§ 3º Em ambos os casos previstos nos parágrafos anteriores será
indispensável a comprovação de pagamento, aos produtores, de no mínimo o
valor dos preços fixados de acôrdo com êste Decreto-lei.
A partir da Lei n.º 8427, de 27/05/1992, que dispõe sobre a concessão de subvenção
econômica nas operações de crédito rural, foi inserida a previsão de conceder subvenções
econômicas nas operações de crédito rural, sob a forma de equalização de preços e de taxas de
juros.
A Medida Provisória n.º 1886, convertida na Lei n.º 9.848, de 26/10/1999, ampliou as
hipóteses de concessão de subvenção, adotando a seguinte redação:
§ 1º Considera-se, igualmente, subvenção de equalização de preços,
ao amparo desta Lei, independentemente de vinculação a operações de
crédito rural:
I - a concessão de prêmio ou bonificação, apurado em leilão ou em
outra modalidade de licitação, para promover o escoamento do produto pelo
setor privado;
§ 2º A concessão da subvenção a que se refere este artigo exonera o
Governo Federal da obrigação de adquirir o produto, que deverá ser
comercializado pelo setor privado.
Com base na previsão normativa de concessão de subvenção para escoamento pelo setor
privado, desenvolveu-se o Prêmio para Escoamento de Produto – PEP, que consiste em uma
subvenção econômica concedida pelo Governo Federal àqueles que se disponham a adquirir
determinado produto junto ao produtor rural e/ou sua cooperativa - pagando o Preço Mínimo
fixado pelo governo federal para a região - e escoá-lo para uma região de consumo previamente
estabelecida ou para o mercado externo.
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Os Avisos de prêmios são lançados quando o preço de mercado encontra-se abaixo do
Preço Mínimo e, igualmente, negociados via Leilões Eletrônicos conduzidos via Sistema
Eletrônico de Comercialização - SEC. Os arrematantes dos lotes devem pertencer ao público-
alvo definido nos Avisos; de modo geral são produtores rurais, cooperativas de produtores rurais,
indústrias e comerciantes exportadores.
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Os recursos do PAA destinam-se:
• Compra Direta da Agricultura Familiar – CDAF: tem como finalidade garantir, com
base nos preços de referência, a compra de produtos agropecuários de agricultores
enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –
Pronaf. A população alvo deverá estar organizada, preferencialmente, em grupos
formais;
Foi objeto de análise mais acurada por parte da Auditoria Interna o instrumento
denominado Cédula do Produtor Rural - CPR Doação, tendo, inclusive, sido realizadas vistorias
in loco junto às associações de produtores e àqueles que recebem os produtos da doação, tendo-
se evidenciado:
• fragilidade nas ações de vistoria que não permitiram identificar a existência de sede
de associações, o adequado dimensionamento dos beneficiários,
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• grandes distâncias entre a localização dos produtores e a das associações donatárias,
o que pode dificultar a logística de distribuição, principalmente de produtos
perecíveis;
• existência de saldos devedores por parte de diversas associações que, até 2009,
recebiam diretamente os recursos financeiros (não havia, ainda, a conta bloqueada,
cuja liberação para a conta de livre movimentação ocorre somente após a
comprovação da entrega dos produtos), e, para os quais, não houve ações efetivas de
cobrança (inclusive na esfera judicial), muito embora já tenha transcorrido um longo
espaço temporal desde a ocorrência das inadimplências.
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3. AÇÕES JUDICIAIS
Fato denunciado: as denúncias publicadas pela revista Veja por meio de reportagens
nas edições de 20/07/2011, 27/07/2011 e 03/08/2011 e por outras mídias, no que se refere a
supostas irregularidades no processo de pagamento de sentença judicial no valor de 8,2 milhões
de reais em favor da empresa Renascença, dizem respeito, em síntese, ao que segue:
b) Fez isso sem atentar para o fato de que estava sacando dinheiro de um
fundo que só pode ser usado para comprar alimentos;
Este tópico apresenta o resultado das análises acerca dos atos administrativos que
ensejaram o pagamento do valor de R$ 8.277.488,53 (oito milhões, duzentos e setenta e sete mil,
quatrocentos e oitenta e oito reais e cinquenta e três centavos), creditado em favor da empresa
Renascença Armazéns Gerais Ltda., decorrente de Sentença Judicial n.º 299/2009, de 5 de
outubro de 2009, na Ação Monitória n.º 2000.34.00.006156-4, que transitou em julgado em
7/12/2009 na Primeira Vara da Justiça Federal de 1a Instância, Seção Judiciária do Distrito
Federal.
• Processo administrativo n.º 1944/1990 (04 volumes), que diz respeito à solicitação
da empresa Renascença Armazéns Gerais Ltda. de pagamento de correção
monetária tendo em vista o atraso na liquidação de valores pela prestação dos
serviços de armazenagem à Companhia de Financiamento da Produção – CFP2;
• Processo administrativo n.º 3415/91 (03 volumes), que trata de pleito da empresa
Renascença Armazéns Gerais Ltda. no sentido de que o pagamento dos seus
2
Empresa Pública
25
serviços sejam realizados consoante a sua tabela de tarifas, em face da segurança
alcançada com a decisão do Superior Tribunal de Justiça - STJ nos autos do
Mandado de Segurança n.º 239/DF;
3
Empresa Pública
26
Renascença, pagando-lhe tarifas de armazenagem que eram aprovadas pelo Governo Federal, por
meio do Conselho Interministerial de Preços – CIP.
A Renascença, em 20.1.1993, tendo em vista que a CONAB não honrou a transação nos
autos do Mandado de Segurança n.° 239 – DF,ajuizou execução, que recebeu o n.° 93.00.00616-
9, visando ao pagamento dos valores já reconhecidos pela CONAB em planilhas elaboradas pela
própria Companhia e apresentadas por ocasião do acordo no Mandado de Segurança.
4
Segue transcrito trecho da Pet 557, que tramitou no STJ, ilustrando como a CONAB, que não era parte no
Mandado de Segurança n. 239, tomou conhecimento dessa ação
27
de crédito de armazenagem realizado em benefício da CONAB e suas antecessoras, e originário
da diferença de tarifa reconhecida na decisão no Mandado de Segurança n.º 239-DF-STJ.
No STJ, a 1ª Seção, por maioria, decidiu por devolver os embargos a primeira instância
para que lá fosse decidido sobre a validade do acordo entre a CONAB e a Renascença, com isso
anulando a homologação do acordo promovida pelo presidente da 1ª Seção do STJ.
O laudo pericial levantou os créditos e débitos apresentados pelas partes até aquele
momento processual, e consignou em seu quesito 6 crédito a favor da Renascença de R$
3.465.878,50, com a seguinte composição:
Crédito da Renascença....................................... R$ 2.456.414,92
(+) Diferenças de aluguel (quesito 48)............... R$ 1.593.383,35
(-) Obras (quesito 48)......................................... R$ 512.150,78
(-) Quebra de produtos........................................ R$ 71.768,99
Soma................................................................... R$ 3.465.878,50
28
O conteúdo da Ação Monitória n.º 2000.34.00.006156-4
A Ação Monitória foi ajuizada pela empresa Renascença contra a CONAB com o
intuito de receber o pagamento de R$1.814.971,93, valor apurado a favor daquela empresa no
laudo pericial realizado na execução.
Nos embargos à Ação Monitória, a CONAB solicitou a reunião dos processos por
conexão (a ação monitória e o processo de execução) e nova perícia, visto que novos
levantamentos conduzidos pela Companhia apontavam um crédito a seu favor de R$847.953,95.
29
1988 1989 1991 1992 1993
Cibrazém alugou armazéns Renascença requereu ao CIP Renascença obteve MAIO Renascença interpôs Ação de
para a empresa Renascença reajuste de tarifa de deferimento do Mandado de Conab e Renascença fazem Execução n.º 93.0000616-9
e passou a receber aluguel. armazenagem – não obteve Segurança acordo, em face do Mandado pleiteando valor reconhecido
A CFP depositava produtos resposta. de Segurança. pela própria Conab (tendo
pertencentes aos estoques como base planilhas
reguladores na Renascença, elaboradas pela Conab).
pagando-lhe tarifas de
armazenagem.
1
Renascença interpôs JULHO
Mandado de Segurança com Conab e Renascença celebram
As tari fas de arm az en age m
era m apro va das pe lo Gove rno o objetivo de garantir o rescisão amigável do contrato
Fe de ral p or m ei o d o C IP. reajuste de tarifa de aluguel dos armazéns.
1 OUTUBRO
Conab perdeu a Ação
MAIO MAIO Monitória.
Foi elaborado laudo pericial A Conab perdeu a ação de AGOSTO
para apurar os débitos e execução e os pagamentos Conab, nos embargos da
créditos de ambas as partes da Ação foram efetivados por MARÇO Ação Monitória, afirmou ser OUTUBRO/DEZEMBRO
(no curso do processo de meio de depósitos em conta Renascença interpôs Ação credora da Renascença e não Ausência de recurso para
execução). O laudo confirma o judicial. Monitória pleiteando a devedora e solicitou novo instância superior.
valor da execução e ainda diferença apurada no laudo laudo pericial. Não obteve
apura saldo em favor da pericial. êxito visto que não contestou
Renascença. R e sg ate s fe itos pe la Re na sc ença, o laudo pericial no processo DEZEMBRO
com b as e nos Alv ará s d e de execução.
L ev ant ame nto co nc ed idos p el a Sentença transitou em
ju sti ça . Suc ederam -se di verso s julgado em 1ª Instância.
Conab não constesta o pe di dos de rev is ão de cál culos .
laudo pericial. Ú l timo s l ev antam ento s foram
re ali zados em 20 10 . Fim
Cabe registrar, em conformidade com o disposto no art. 20 do Estatuto Social, que uma
das atribuições do Presidente da CONAB é a de representar a Companhia, em juízo ou fora dele,
podendo, para tanto, outorgar poderes para representação judicial. Considerando que a
mencionada representação judicial é feita por intermédio de escritórios terceirizados, a referida
outorga é concedida a estes por meio de procuração. Saliente-se que o Procurador-Geral e os
demais procuradores da Companhia dependem de procuração outorgada pelo Presidente da
CONAB para agir em juízo.
30
a) Foi emitida a Procuração n.º 01/2011, elaborada pela Proge, datada de 14.6.2011,
na qual o Presidente SIAPE 1150017 e o Diretor Financeiro SIAPE 130044, constituem seus
bastantes procuradores os empregados ocupantes de cargos e funções gratificadas da
Superintendência de Finanças – Sufin (o superintendente, o assistente e os gerentes de área da
Gepro, Gefog, Gefin, Georc e Gecob), a quem atribuíram poderes para movimentação dos
recursos financeiros da Companhia.
b) Foi emitida a Procuração n.º 02/2011, elaborada pela Proge, datada de 14.7.2011,
na qual o Presidente SIAPE 1150017 e o Diretor Financeiro SIAPE 445645, constituem seus
bastantes procuradores os empregados ocupantes de cargos e funções gratificadas da
Superintendência de Finanças – Sufin (o superintendente, o assistente e os gerentes de área da
Gepro, Gefog, Gefin, Georc e Gecob), a quem atribuíram poderes para movimentação dos
recursos financeiros da Companhia.
Verificou-se que a última procuração emitida com todos os poderes para pagamento foi
a de n.º 03/2010, de 10.3.2010. Na Procuração de n.º 04/2010, de 19.5.2010, tal lacuna se
configurou e foi reproduzida em todas as procurações subseqüentes.
31
Demais Instrumentos Normativos
32
Difin, para autorização e, após, à Sufin para protocolo. Em seguida, o PRF é remetido, pela
Sufin, à Georc, para empenho, e na seqüência, segue para a Gepro, para liquidação da despesa e,
finalmente, à Gefin para pagamento (emissão da ordem bancária);
33
Pelo teor das CI/Difin, acima transcritas, tem-se a manifesta discordância do então
diretor financeiro com o fluxo administrativo afeito à tramitação dos Pedidos de Recursos
Financeiros, os quais estavam sendo expedidos diretamente pela Procuradoria da CONAB à
Superintendência de Contabilidade - Sucon, unidade esta vinculada hierarquicamente à Diretoria
Financeira, implicando em flagrante descumprimento da estrutura hierárquica da Diretoria, o que
ensejou a ocorrência de internalização, na Diretoria Financeira, de assuntos que requerem
atenção e análise técnica consistente, como medidas prévias para comandos de pagamentos.
Não se pode afastar do fato relatado pelo diretor financeiro SIAPE 130044, nos termos
das CIs n.ºs 137, de 13.7.2009 e n.º 167, de 01.09.2009, que a competência supracitada, até
23.04.2008, era da alçada da Superintendência de Recursos Humanos – Sureh, por meio de sua
Gerência de Folha de Pagamento – Gefop, para as ações trabalhistas. Já no tocante às ações de
natureza cível, a responsabilidade era da Superintendência de Finanças, por meio da gerência de
Controle Financeiro e Operações Governamentais.
5
As folhas referem-se ao processo de execução.
35
Na Ação Monitória n.º 2000.34.00.006156-4
As falhas processuais
Antes de adentrar nas falhas processuais propriamente ditas, cabe fazer algumas
considerações a respeito da advogada Danielle Bastos Moreira, OAB/DF 9920 e CPF
351.867.801-97. Foi possível identificar que o nome da citada advogada aparece tanto do lado da
parte autora como do lado da parte ré no processo de execução n. 93.00.00616-9, bem como na
ação monitória n. 2000.34.00.006156-4, tendo em ambas, como parte autora, a empresa
Renascença Armazéns Gerais Ltda.
6
As folhas referem-se à ação monitória.
36
Em 19.07.2005, foi requerido pela CONAB a juntada de procuração em nome do
escritório de advocacia Ribeiro Coelho Advogados. Na procuração constam como outorgados,
nessa ordem, os nomes dos seguintes advogados (fls. 291/293):
1. Victorino Ribeiro Coelho, OAB/DF n. 146;
2. Luiz Filipe Ribeiro Coelho, OAB/DF n. 5.297;
3. Luiz Fernando Carvalho Maciel, OAB/DF n. 14.007;
4. Alexandre Caputo Barreto, OAB/DF n. 11.789;
5. Ricardo Coelho Medeiros, sem menção à OAB;
6. Joanna D`Arc Medeiros Augusto, OAB/DF n. 15.084;
7. Alcimira Aparecida dos Reis Gomes, OAB/DF n. 13.710;
8. Gabriela de Cerqueira Lima Gastal, OAB/DF n. 17.411;
9. Danielle Bastos Moreira, OAB/DF n. 9.920, e;
10. Fernanda Brandão Gonçalves, OAB/DF n. 19.298.
Cabe registrar que esse escritório de advocacia foi responsável pela produção de
algumas peças do processo, como os embargos à monitória (fls. 295/310, petição de Ricardo
Coelho Medeiros, OAB/DF 21.791), requerimento de produção de prova pericial (fl. 1665,
petição de Gabriela Gastal, OAB/DF n. 17.411) e interposição de agravo retido contra a decisão
que indeferiu o pedido de prova pericial (fls. 1674/1680, petição de Fábio Xavier Seefelder,
OAB/DF 22.846, com juntada de substabelecimento em nome deste).
E é possível verificar, pela listagem acima, que o nome da advogada Danielle Bastos
Moreira aparece tanto do lado da parte autora como do lado da parte ré. E considerando que o
substabelecimento feito por Danielle Bastos Moreira a Carla Rodrigues da Cunha Lôbo
obedeceu a cláusula “com reserva de poderes”, cláusula esta que continuou inalterada ao longo
do processo, e considerando ainda que a atuação do escritório de advocacia contratado pela
CONAB, da qual ela faz parte, foi relevante, a princípio pode-se vislumbrar indícios de
tipicidade.
Existem motivos para supor que o mesmo tenha ocorrido na execução n. 93.00.00616-9.
Em petição datada de 11.10.02, requereu-se a juntada de substabelecimento, sem reservas de
poderes, dos advogados Marco Antônio Mundim, OAB/DF 941, Carlos Augusto Sobral
Rolemberg, OAB/DF 8.282, Arlete Torres, OAB/DF n. 9.101 e Lívia Maria Gomes, OAB/DF n.
9432, para a advogada Danielle Bastos Moreira (fls. 418 e 420). Os poderes substabelecidos,
sem reservas, foram os poderes para o foro em geral, e ainda “acordar, concordar, quitar, receber,
transigir, desistir, parcelar, assinar termos e compromissos, propor quaisquer ações e defender
o(a) outorgante nas adversas, bem como substabelecer” (fls. 5).
O escritório Ribeiro Coelho, após o ingresso no feito, foi o responsável pela produção
de algumas peças processuais, como a petição que apresentou impugnação a expedição de alvará
e requerimento de produção de perícia contábil (fls. 530/532, petição de Ricardo Coelho de
Medeiros, OAB/DF 21.791 e Izabela Saback, OAB/DF 21.754, cópia do substabelecimento às
fls. 593), a contraminuta ao agravo de instrumento interposto pela Renascença contra a decisão
que determinou a remessa dos autos ao contador judicial (2006.01.00.015158-8 – fls. 567/572,
petição de Izabela Saback, OAB/DF 21.754) e petição impugnando as contas apresentadas pelo
contador judicial (fls. 731/734, petição de Izabela Saback, OAB/DF 21.754). Veja-se que,
quando da juntada aos autos da contraminuta ao agravo de instrumento, pode-se identificar, na
cópia da procuração outorgada ao escritório Ribeiro Coelho Advogados, o nome de Danielle
Bastos Moreira no mesmo local onde se encontra a rasura (fls. 591/592).
Assim, é possível deduzir que o nome da advogada Danielle Bastos Moreira aparece
tanto do lado da parte autora como do lado da parte ré. E considerando que o substabelecimento
feito por Danielle Bastos Moreira a Carla Rodrigues da Cunha Lôbo obedeceu a cláusula “com
reserva de poderes”, cláusula esta que continuou inalterada ao longo do processo, e considerando
38
ainda que a atuação do escritório de advocacia contratado pela CONAB, da qual ela faz parte, foi
relevante, a princípio pode-se vislumbrar indícios de tipicidade
Embora não se caracterize como uma falha técnica, no processo de execução ficou
patente a falta de envolvimento da CONAB numa causa que representava expressivo valor. Por
exemplo, poderia ter sido explorado o julgamento ocorrido no âmbito do STJ (Pet 557/DF) que
resultou na anulação da homologação do acordo feito entre a CONAB e a Renascença
posteriormente ao trânsito em julgado do Mandado de Segurança n. 239-DF. Poderia igualmente
ter sido explorado o fato de que o instrumento de acordo celebrado entre as partes não contou
com a assinatura de duas testemunhas, o que o descaracterizava, em princípio, como título
executivo extrajudicial, a teor da redação então dada pelo art. 585, II, do CPC (Art. 585. São
títulos executivos extrajudiciais: II - o documento público, ou o particular assinado pelo devedor
e subscrito por duas testemunhas, do qual conste a obrigação de pagar quantia determinada, ou
de entregar coisa fungível;).
A falta de defesa técnica da CONAB se fez sentir até mesmo no juízo condutor do feito
(juiz Alexandre Machado Vasconcelos), que por um momento chegou a temer pelo patrimônio
público. Quando do acordo celebrado entre a CONAB e a Renascença, e os incidentes
processuais subsequentes que lançaram dúvidas sobre a lisura dos patronos na causa, é
emblemática a seguinte decisão (n. 086/2002):
39
decorreria o desembolso de enorme soma; que essa empresa pública
desgovernada anuiu em liberar o saldo existente da conta judicial na qual
estavam depositados indevidamente em torno de oitocentos mil reais,
considerando a atualização do valor.
Ligado diretamente a esse primeiro tópico esta a celebração de acordo, nos autos da
execução, entre a CONAB e a Renascença, para por fim ao litígio mediante o levantamento da
quantia que havia sido aberta em nome do juízo da 18ª Vara Federal. Cumpre registrar que o
40
instrumento de acordo não fez menção a quantidade de numerário que se encontrava depositado,
e que apenas uma verificação posterior pode elucidar que estava havendo infringência ao
disposto no art. 1º da Lei n. 9.469/97 (necessidade de autorização do presidente da CONAB para
celebração de acordos em processos judiciais envolvendo valores superiores a R$ 50.000.00). No
caso, o valor depositado chegava a R$ 1.212.371,33.
Pela análise dos autos, não se vislumbra o motivo por que não foi interposta apelação da
sentença, uma vez que o escritório contratado Décio Freire já possuía procuração para atuar em
nome da CONAB. Além disso, existia um agravo retido nos autos, cujo conhecimento dependia
de ratificação em sede de apelação.
O fluxo abaixo reflete os atos praticados pelas áreas da CONAB, da sentença judicial
até a realização do pagamento.
41
FLUXO 2 – Pagamento
Outubro/2010
1 27/10/201 0
Sucon emitiu Parece r Técnico 22/10/ 2010 Es cr itór io te rc eir izado env iou
18/10/2010 21/10/2010 Sucon nº 37/2010, sem a à C onab o Pedid o de
Escritório terceirizado solicitou O F PG foi remetido ciênc ia da Diretoria F inanceira, O FPG n.º 169/2010 Recur sos F inanceiro s – PRF
dir etaente à Suc on pela r etor nou à Proge sem
via, For mulár io de Pedidos apur ando o valor da dív ida, até n.º 321/ 2010, solicitando o
Proge, solicitando a 31/10/2010, no montante de conhecimento da D ir etoria pagamento da dívida no
Gerais – FPG n.º 169/2010, a Financeira.
atuali zação do valor. atualiz ação do valor. R$8.227.488, 53. montante calculado pela
Sucon.
29/10/2010
O Difin questiona à Sucon o fato do Parecer 28/10/2 010
Técnico Sucon n.º 37/2010 não ter s ido levado O PRF n.º 321/2010 foi
2
ao conhecimento do Difin, em des acor do com r emetido à Dif in pa ra quit ação
do débito.
orientações da CI/Difin/167, de 1º. 9.2009.
Julho/2011 Le genda
Et ap a C rít ic a
3
0 1/0 7/ 20 11
N ão fo i soli citad a au tori zaçã o DIF IN - D ireto ria F in an ce ir a
0 1/ 0 7/20 11 F o i en cami nh ad o o O f ício
à Se creta ria do Te sou ro
N acio na l – ST N con fo rme D if in n.º 12 3 à SPOA / MAPA GEO RC - Ge rên cia d e E xec u ção O r çame n t ár ia
O p ag am en to fo i efe tu ad o. d ete rmi na a Por ta ria com n ovo p ed id o de
GEF OG - Ge rên cia d e C o n t ro le F in an ce iro e O p er açõ e s
I nt e rmin ist er ial n .º 38 / 20 04 . su ple me ntaçã o
Go ve rn a men t ais
o rça me ntár ia.
SP OA – Su b s ecretaria d e P la n eja men to , O rç amen to e
1 - E mp en ho n . º 20 11 N E 0 00 7 1, de 0 1/ 07 / 2 011 fei to pe la G eo rc/ S ufi n . Ad m in ist raçã o
42
A fragilidade constatada no processo de pagamento em análise mostrou-se evidente em
outros processos, quando da realização de auditorias levadas a efeito pela unidade de auditoria
interna da Companhia, tendo sido objeto de inúmeras recomendações de melhoria dos processos
de gestão.
As análises revelaram que o mencionado saldo adveio dos depósitos feitos pela
CONAB para cumprimento de ordem judicial em face das decisões proferidas no Processo de
Execução n.º 93.00.00616-9.
c) Em 13.4.1998, foi expedido pelo Juiz da 18.ª Vara, o Alvará de Levantamento n.º
01/1998, no valor de R$ 552.179,24 em favor da Renascença. Todavia, essa importância não foi
sacada da conta de poupança judicial n.º 800.025-5. Ao invés disso, foi efetuado saque na conta
de recebimento de vendas de produtos vinculados ao Estoque Regulador do Governo Federal de
n.º 195.148-X, Agência 3598-X do Banco do Brasil S/A.
43
d) Em 30.4.1998, o Banco do Brasil transferiu o saldo de R$ 843.225,90 para a conta
remunerada de depósito judicial n.º 2500001854849, Agência 3598-X. A transferência se deu
pelo valor total, sem a dedução do Alvará n.º 01/1998 (sacado diretamente da conta de
recebimento de vendas).
Sobre o Parecer Técnico Sucon n.º 028/2011, emitido em 13.4.2011, verifica-se que os
cálculos foram feitos pelo empregado matrícula 48656, que assinou como perito com o “de
acordo” do Superintendente de Contabilidade – Sucon.
44
O mencionado parecer foi elaborado em atendimento ao pedido de informações do
escritório terceirizado, conforme Formulário de Pedidos Gerais do Escritório Terceirizado – FPG
n.º 82/2011, com a seguinte observação: “Considerando a petição juntada às fls. 241/243 pela
parte contrária, e haja vista a solicitação de informações por parte do Dr. Luciano, é necessário
realizar averiguação do valor atualizado do crédito da CONAB, haja vista pagamento realizado a
maior anteriormente, e da existência ou não de qualquer valor remanescente de crédito da
RENASCEÇA ARMAZÉNS GERAIS LTDA. o despacho de fls. 288, é necessária a elaboração
de planilha de cálculo atualizada para apreciação do Juízo, a fim de que se proceda ao
cumprimento de sentença para a execução do valor devido.”
Ressalte-se que os procedimentos adotados pela Proge e pela Sucon, ao não cientificar o
Diretor Financeiro acerca do FPG n.º 082/2011 e do Parecer Técnico Sucon n.º 028/2011, se
evidenciam como desobediência às orientações do Diretor Financeiro, consignadas nas
Comunicações Internas Difin n.ºs 137, de 13.7.2009 e 167, 1.º.9.2009.
A respeito do Parecer Técnico Sucon n.º 028/2011, tem-se a observar que os cálculos
tomaram como base, inicialmente, o valor de R$ 1.814.971,93, importância esta que foi objeto
do requerido pela Renascença na Ação Monitória n.º 2000.34.00.006156-4.
O referido processo só foi remetido à Audin, em 10.8.2011, por solicitação, nos termos
da CI Audin/Gedop n.º 271, de 1º.8.2011, em face dos trabalhos de auditoria em curso à época,
sob a supervisão da unidade técnica de auditoria da CGU.
Registra-se que à Decisão n.º 58/2002, do Juiz da 18ª Vara Federal Federal, de
19.4.2002, citada no despacho da Difin, negou pedido da empresa Renascença de revisão de
cálculos, oportunidade em que descreveu, em detalhes, todo o histórico envolvendo a polêmica
dos depósitos recursais; apontou falhas nos controles contábeis e jurídicos da CONAB, visto que
até aquela data, 19.4.2002, transcorridos 4 anos, a Companhia não tinha requerido ao Juízo a
devolução da importância de R$ 552.179,24, bloqueada duas vezes nos ativos da CONAB;
46
levanta suspeição sobre a conduta de gestores e advogados e, por fim, solicita que o presidente
da CONAB e o Ministério Público Federal sejam oficiados, encaminhado-se cópia da Decisão.
Saliente-se, pelos fatos narrados, que o saldo contábil da conta 12122.00.00 – Depósitos
Judiciais, não reflete todos os eventos envolvendo a movimentação na conta de depósito judicial
n.º 25000018549, Agência 3598-x, do Banco do Brasil S/A e da conta n.º 00006743-4, Agência
n.º 0975, operação n.º 635, da Caixa Econômica Federal. Esse fato reforça a necessidade de se
proceder à minuciosa análise das contas de depósito judicial e recursal, observando que esse
ponto já foi objeto de recomendações da Auditoria Interna da CONAB e da Controladoria-Geral
da União - CGU.
Em 23.2.2010, a CONAB ofereceu à penhora, para garantia do juízo, o lote n.º 340 do
Trecho 05 do Setor de Indústria e Abastecimento – SIA. A empresa Renascença não aceitou o
bem indicado, solicitando a penhora em dinheiro existente em conta corrente da CONAB.
47
Importante consignar que, primeiramente, em 7.5.2010, a Renascença não aceitou o lote
de estacionamento, requerendo, mais uma vez, a penhora em dinheiro. Na oportunidade,
consignou na petição que, caso não fosse feito o Bacen-Jud, aceitaria a indicação do segundo
imóvel e requereu a sua imediata adjudicação e desocupação. A Juíza Federal da 1.ª Vara –
SJ/DF deferiu o pedido de bloqueio dos ativos financeiros da CONAB, via sistema Bacen-Jud,
em 31.5.2010. A tentativa de bloqueio em dinheiro não logrou êxito. Na sequência dos fatos,
tem-se que a Renascença requereu por mais duas vezes (em 7.6.2010 e em 29.6.2010) o bloqueio
de recursos financeiros da CONAB. Finalmente, em 28.7.2010, a Renascença aceitou o lote de
estacionamento indicado pela CONAB, cuja penhora se efetivou em 5.8.2010, sendo que na
oportunidade o bem foi avaliado em R$ 15.000.000,00.
A Sucon emitiu o Parecer Técnico/Sucon n.º 37/2010, no qual consignou que o valor da
dívida atualizada até o mês de outubro de 2010 era de R$ 8.227.488,53.
O referido FPG retornou à Proge em 22.10.2010. Dias depois, em 27.10.2010, com base
nessa informação, o escritório terceirizado remeteu à CONAB o Pedido de Recursos Financeiros
– PRF n.º 321/10 requerendo o pagamento da dívida no montante apurado pela Sucon.
Este foi encaminhado, em 28.10.2010, pela Proge à Difin, para autorizar o pagamento
da dívida, e no dia seguinte, em 29.10.2010 o Diretor Financeiro questionou à Sucon o fato de o
FPG n.º 169/2010 ter retornado à Proge sem ter sido submetido à análise da Assessoria da Difin,
em desacordo com as orientações ínsitas na CI/Difin n.º 167, de 1.º.9.2009. Essa mesma
orientação foi dada à Proge, em 13.7.2009, por intermédio da CI/Difin n.º 137. Tem-se, portanto,
mais uma ocorrência de descumprimento do fluxo hierárquico no âmbito da Difin, provocado
pela Proge.
48
Em resposta ao Ofício n.º 220, de 5.11.2010, por intermédio do Parecer Técnico n.º
4/2011/CGOF/SPOA/SE-MAPA, de 11 de maio de 2011, a SPOA/MAPA informou que enviou
à época, pelo sistema SIDOR, o pedido de suplementação à Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Gestão-SOF/MP e, também, remeteu a manifestação jurídica da Proge/CONAB e
respectiva documentação comprobatória à Secretaria Adjunta de Orçamento Federal-Assuntos
Fiscais. Contudo, a solicitação não foi atendida no exercício de 2010. Na oportunidade, após
consulta à Coordenação-Geral de Despesas com Pessoal e Sentenças da União –
CGDPS/SEAFI/SOF/MP, a SPOA/MAPA sugeriu que a CONAB reapresentasse a demanda,
mediante a inclusão de nova solicitação de crédito suplementar no Sistema Integrado de
Planejamento e Orçamento – SIOP, de acordo com o disposto na Portaria SOF/MP n.º 7, de 1º de
março de 2011, que estabelece procedimentos e prazos para solicitação de alterações
orçamentárias no exercício de 2011.
Em 5.5.2011, por meio do Ofício Difin n.º 078, procedeu-se ao aditamento do Ofício
Difin n.º 220, de 5.11.2010, solicitando-se posicionamento da SPOA/MAPA acerca do pedido de
suplementação orçamentária, no valor de R$ 8,2 milhões.
Novo pedido de recursos financeiros foi encaminhado à Difin, em 22.6.2011, por meio
do PRF n.º 210/2011. Consoante informações prestadas pela Supor (CI/Supor n.º 083, de
3.8.2011), esse novo pedido teve a iniciativa do escritório terceirizado com a anuência da Proge,
49
ou seja, a Difin não enviou nenhum requerimento à Proge solicitando novo PRF. No mesmo dia,
a Difin encaminhou o PRF à Supor para que esta adotasse as providências necessárias à liberação
dos recursos financeiros e liquidação em conformidade com o disposto na Portaria SOF n.º 1, de
11.1.2010.
O PRF n.º 210/2011 indicava, no mesmo campo, que o prazo era também de no mínimo
4 dias antes do termo judicial, e a data era 29.6.2010 às 12 horas (entende-se que houve erro
quanto ao ano, que deveria ser 2011).
Na sequência, em 28.6.2011, a Supor informou à Difin que seria necessário que a Proge
providenciasse a documentação citada nos arts. 4.º e 5.º da referida Portaria, bem como
preenchesse o anexo nela constante.
Em seguida, por despacho anexo ao PRF n.º 210/2011, datado de 29.6.2011, o Diretor
Financeiro solicitou à Superintendência de Finanças - Sufin que fossem adotadas as providências
para a liquidação e pagamento da demanda judicial oriunda do Processo n.º 2000.34.006156-4,
no montante de R$ 8.227.488,53, interagindo com a Sucon e Supor. Recomendou, ainda, que os
recursos deveriam ser remanejados e posteriormente compensados por suplementação
orçamentária, o que demonstra que agiu com conhecimento do fluxo ordinário de pagamento de
sentença judicial e, não obstante contrariou as orientações em vigor.
Tem-se, na continuação dos fatos, que o pagamento foi realizado no dia 01.07.2011. A
despesa foi empenhada pela Gerência de Execução Orçamentária – Georc da Superintendência
de Finanças – Sufin, materializando-se na Nota de Empenho 2011NE000071, da Unidade
Gestora 135348 – Núcleo Estoque Regulador - Sede. A liquidação da despesa foi executada pela
Gerência de Controle Orçamentário e Financeiro e Operações Governamentais – Gefog,
subordinada à Sufin, conforme 2011NS000156 da mesma Unidade Gestora.
50
Para cumprimento de todas essas etapas utilizou-se, indevidamente, os recursos
orçamentários da Ação Orçamentária n.º 2130 – Formação dos Estoques Públicos, e os recursos
financeiros das Operações Especiais de Crédito – 2OC. Tais procedimentos estão disciplinados
na Portaria Interministerial n.º 38/2004.
A CONAB participa como membro da Comissão Interministerial criada pela Portaria n.º
243, de 20.3.1992, que conta ainda, com a participação de representantes do Ministério da
Fazenda, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Banco do Brasil e Banco Central
do Brasil. Esta Comissão se reúne, mensalmente, para definir as prioridades de aplicação dos
recursos das Operações Oficiais de Crédito, oportunidade em que a Companhia apresenta a
previsão mensal de sua necessidade financeira para atender as demandas de formação de
estoques públicos, despesas de aquisição e manutenção desses estoques, equalização de preços e
programas de garantia e sustentação de preços (Contratos de Opção, PEP, PROP, e outros),
consoante o disposto no art. 2.º da Portaria Interministerial n.º 38/2004.
Os recursos financeiros são solicitados pela CONAB por decêndio com base na
programação financeira do período e em face de compromissos gerados. Os recursos são
liberados pela STN e transferidos diretamente para a conta Limite de Saque da CONAB (conta
única). A CONAB executa o orçamento em obediência à Lei n.º 4.320/64, que estabelece as
normas gerais para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, Estados e
51
Municípios, por meio do sistema Siafi, em fonte específica. Conforme orientação da STN, as
despesas de aquisição e manutenção dos estoques são classificadas na categoria econômica de
“despesas de capital” e na subcategoria econômica de “inversões financeiras” e compõem o
custo do produto.
Equalização de preços
A diferença entre o valor do estoque apurado pela CONAB com base no preço efetivo
de custo e o valor obtido na venda ou indenização de perdas dos produtos, quando estes são
menores, é apropriada como equalização de preços.
Consoante o disposto nesta peça e em face das análises levadas a efeito pela equipe de
auditores, tem-se que a utilização dos recursos da PGPM para pagamento da dívida, no valor de
R$ 8.227.488,53, não foi precedida da necessária autorização da Secretaria do Tesouro Nacional
– STN. Ademais, o procedimento orçamentário, financeiro e contábil utilizado poderá resultar,
ainda, na equalização da despesa, pelo Tesouro Nacional, no mesmo valor. Sobre esse tema, após
pesquisas ao sistema Siafi, posição em 9.8.2011, verificou-se que o valor de R$ 8,2 milhões
permanece registrado na conta 11313.03.12 – Estoques Reguladores - PGPM, Unidade Gestora
135348 – Núcleo Estoque Regulador - Sede, logo, a importância ainda não foi equalizada.
52
Nesse sentido, para o mês de junho/2011 havia uma programação de R$ 184 milhões
destinados à aquisição de arroz, feijão e sacaria (R$ 134 milhões) e os restantes R$ 50 milhões
para atender gastos com as despesas de manutenção dos estoques. Do valor aprovado, foram
disponibilizados pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN apenas R$ 100 milhões, sendo R$
68 milhões para Aquisição do Governo Federal – AGF e R$ 32 milhões para as despesas. Após
a efetivação das operações ocorridas no mês, foram descentralizados à Superintendências
Regionais R$ 74 milhões, restando saldo de R$ 26 milhões que era destinado às AGFs de arroz
no estado do Rio Grande do Sul (RS) não realizadas devido a problemas de capacidade estática
disponível para armazenamento aliada a situação cadastral/contratual dos armazéns de
terceiros daquele estado face a questão da exigência contratual de fornecimento de garantia
real equivalente a 5% do valor do estoque depositado.
Para o mês de julho/2011, foi programado R$ 144,7 milhões sendo R$ 88,5 milhões
para AGF de arroz, feijão e sacaria e R$ 56,2 milhões para atender gastos com despesas de
administração de estoque.
Cabe registrar que as operações não são estanques, e por isso não tem o seu início e
fechamento dentro do mês propriamente dito, gerando assim saldos em caixa e pendências
quanto à efetivação das demandas e, ainda, podendo ocorrer frustrações de operações
inicialmente programadas devido à reação de preços de mercado, falta de armazéns em
condições cadastrais e/ou contratuais, falta de pessoal em campo para adotarem todos os
procedimentos inerentes às aquisições e falta de pessoal nas sedes de nossas regionais para
processamento das documentações e pagamento a nossos clientes.”
53
Pelo exposto, pode-se inferir que as operações de julho só não foram impactadas porque
as operações de aquisição de arroz, no Estado do Rio Grande do Sul, sofreram atrasos em razão
de dificuldades operacionais. Todavia, em 01.07.2011, o uso indevido dos recursos, ocasionou
redução no saldo de caixa de R$ 26 milhões para R$ 17,8 milhões.
Os cálculos foram elaborados pelo Assistente Administrativo (cargo que exerceu até
30.5.2011), SIAPE?? 48656, que assinou o Parecer Técnico n.º 37/2010, como perito. O
empregado possui formação superior em Ciências Econômicas e participou do curso intitulado
Curso de Trabalhos Atuais de Perícia Judicial com Ênfase na Matemática dos Tribunais, com
carga horária de 20 horas, realizado no período de 27.7 a 31.7.2009. Segundo informações
prestadas na CI/Gecap n.º 963, de 3.8.2011, os profissionais dos cursos superiores de Economia
podem fazer perícias, entre outras, na área financeira, de material, orçamentos e apuração de
valores nos processos trabalhistas. Merece registro, todavia, que o referido empregado ocupava
função de nível médio e a sua atuação em tarefas de nível superior poderia ensejar futuros pleitos
na justiça trabalhista por desvio de função.
54
b) Juros moratórios – aplicou-se o percentual de 1% ao mês (juros simples), a partir da
citação que se deu em 19.7.2005, conforme sentença judicial.
Diante do exposto, uma tese que poderia ter sido argüida pelo jurídico da CONAB seria
expor os entendimentos já firmados pelo STF, no sentido de que empresas públicas prestadoras
de serviço público não são submetidas à execução comum. Com efeito, devido ao princípio da
continuidade dos serviços públicos, o STF entende que seria temerário submeter as prestadoras
de serviço público a um regime de execução convencional, a ponto de inviabilizar a prestação de
um serviço público à população.
55
220.699, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 12-12-2000, Primeira Turma, DJ de 16-3-
2001.
Assim, no mínimo, o jurídico da CONAB à época deveria ter tentado arguir a tese
defensiva em juízo, com grande viabilidade de procedência, em razão dos precedentes, alegando
que não poderia efetuar o depósito em dinheiro de imediato, muito menos oferecer bens à
penhora, tendo em vista que esse entendimento do STF já vem sendo sufragado há mais de cinco
anos. Reafirma-se que, tendo em vista que não havia nem dotação orçamentária, nem recurso
financeiro para fazer o depósito em juízo, dever-se-ia buscar essa alternativa, a fim de se
mitigarem as perdas já ocorridas com o trânsito em julgado da condenação ainda em primeiro
grau.
Diante do quadro que se desenha, pode-se concluir que a área jurídica da CONAB, à
época, foi, no mínimo, negligente, ao não tentar argüir a tese, tendo em vista que
aprioristicamente já apresentou cálculos contendo a multa de 10%, sem nem mesmo tentar
discutir sua condição de empresa pública prestadora de serviços públicos.
A Ação Monitória n.º 2000.34.00.006156-4 não foi provisionada. Assim, conclui-se que
o citado relatório de contingências apresenta dados inconsistentes, visto que, em 31.12.2010, a
ação monitória já tinha transitado em julgado com sentença desfavorável à CONAB.
Neste tópico serão explicitadas informações no que diz respeito ao Contrato Social e
suas alterações, mais especificamente quanto à composição societária, para o que, foram tomadas
como referência as cópias de documentos que estão inseridas nos autos do Processo n.º
2000.34.00.006156-4, cópia disponibilizada pela Procuradoria Geral – Proge, às fls. 18/21, o
Contrato Social, às 22/24, a 1.ª Alteração, às fls. 25/29, a 2.ª Alteração, às fls. 30/32, a 3.ª
Alteração, e às fls. 33/34, a 4.ª Alteração.
56
A 1.ª Alteração, com data de Goiânia – GO, 8.11.1988, foi celebrada com o propósito
de registrar que a Sede funcionará apenas como escritório central, e a criação de 21 (vinte e uma)
filiais, correspondendo essas a cada um dos armazéns em face do contrato de aluguel celebrado
com a Cibrazem. Os sócios permaneceram os mesmos.
A 2.ª alteração deu-se com data de Brasília/DF, 10.2.1989, celebrada com o propósito
de se admitir os sócios HÉLIO MAURO UMBELINO LOBO e RPM Empreendimentos e
Participações Ltda, com a retirada da sociedade da Transportadora Renascença Ltda., cedendo e
transferindo suas cotas de capital para o primeiro os sócios admitidos. Sendo a RPM
representada pelos seus diretores PEDRO PAULO BERGAMASCHI DE LEONI RAMOS e
ROGÉLIO PELOSI JUCÁ. Nesta oportunidade, também foi alterado o endereço da empresa
para SHIS QI 09, C. C., BLOCO “B”, SALA 203, BRASÍLIA/DF.
57
3.1.2 - EMPRESA CARAMURU ARMAZÉNS GERAIS LTDA.
A atuação da Procuradoria
Em vista dos prejuízos suportados, argumentou a autora que seriam devidos pela
CONAB, além da correção monetária, os juros moratórios contratualmente estabelecidos em
ambas as espécies de contratos, à razão de 1% ao mês, a partir do vencimento de cada nota
fiscal/fatura, além dos expurgos inflacionários do período.
58
Além disso, de acordo com a CONAB, todas as suas obrigações contratuais com a
armazenadora foram adimplidas, que, diga-se de passagem, concordou em continuar na relação
contratual apesar dos supostos atrasos e dos vultosos prejuízos sofridos.
Como prova das suas alegações, a CONAB fez juntar aos autos da ação alguns dos
contratos de prestação de serviços de armazenagem que celebrou com a empresa CARAMURU
Armazéns Gerais Ltda, com exceção dos contratos com vigência nos anos de 1994 e 1999 (ou os
contratos não foram celebrados nesses anos ou não se encontram nos autos digitalizados). É de
se notar que os contratos juntados perfazem apenas o segundo período a que alude a petição
inicial (a partir de maio de 1992).
Após vistas às partes para manifestação do laudo pericial, a parte autora requereu a
desconsideração do critério condicional, uma vez que a interpretação correta para o prazo de
carência previsto nos contratos seria a que considera referido prazo como um prêmio pela
pontualidade, que em nada afetaria a caracterização da mora pelo inadimplemento no prazo
estipulado para pagamento.
A CONAB pugnou pela rejeição do laudo pericial pelo fato da metodologia aplicada
para a validação dos documentos, categorizados pelo perito como “inconsistências não
impeditivas”, teria sido arbitrária, pois os documentos sem carimbo de protocolo, protocolo
ilegível e data de pagamento ilegível, levou o perito a considerar o primeiro dia útil subsequente
a emissão do documento. Nos demais casos, considerou documentos paralelos, tais como cópias
de aviso de crédito e cópias de NFS). Destaca-se que a Nota Fiscal é o único documento válido
para embasar esse tipo de trabalho.
60
o objetivo e a natureza da perícia deferida, pois mais se afigura ao procedimento
da execução da sentença, a qual ainda não foi proferida nestes autos.
Quanto aos critérios para a contagem do prazo na situação de “atraso
condicional”, conforme já explanado anteriormente, o critério da perícia leva
em conta as efetivas regras vigentes às épocas dos fatos ocorridos.
Diante disso, salvo melhor juízo de Vossa Excelência, ainda não é o
momento oportuno para a elaboração de uma nova planilha nesses moldes, a
uma, por constituir em quesito novo, não deferido pelo Douto Juízo, a outra, por
não espelhar o objeto da prova pericial, para a qual existe contrato entre as
partes estipulando percentuais e indicadores econômicos diferentes daqueles ora
reivindicados pela Requerida.
Concluídos os esclarecimentos relativos as manifestações de ambas as
partes, naquilo que diz respeito às atribuições do Perito Judicial – Contador no
feito, houve apenas um pequeno ajuste nos valores apurados a título de crédito
da parte Autora.
(…)
61
E tendo em vista a manifestação da CONAB no sentido de haver documentos ilegíveis
usados pelo perito, determinou o juízo da 8ª Vara Federal a intimação do perito do juízo para que
se manifestasse acerca de eventual comprometimento do resultado final do laudo apresentado
por conta da ilegibilidade de alguns papéis.
62
parecer pericial contábil com as peças que julgarem necessárias.” - O grifo não
é do original.
(…)
“13.3.9 – O perito-contador e o perito-contador assistente devem
documentar, mediante papéis de trabalho, os elementos relevantes que serviram
de suporte à conclusão formalizada no laudo pericial contábil e no parecer
pericial contábil.”
(…)
“3.4.1.8 – A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao
laudo pericial contábil pelo perito-contador, conferindo-lhe caráter de
autenticidade pela fé pública atribuída a este profissional.” - O grifo não é do
original. [destaques no original]
Portanto, Excelência, a constituição de um “dossiê” (Perícia contábil =
papel de trabalho), relativo aos documentos do processo em análise, decorre do
zelo e da experiência deste expert no que pertine aos atos processuais para o
qual foi nomeado auxiliar da justiça [art. 139 do CPC], buscando, exatamente o
contrário do que entende a Requerida, ou seja, não tumultuar o andamento da
lide ao não carrear para os autos documentação já existente, tornando-a
duplicada ou mesmo triplicada no processo.
Alheia aos preceitos normativos acima transcritos, a Requerida
questiona os apontamentos manuais feitos pelo Perito do Juízo nos documentos
existentes nos autos, para deles extrair e elaborar o Laudo Pericial Contábil,
ignorando, a CONAB, a função desse Auxiliar da Justiça (art. 139 do CPC) no
feito, e, especificamente, desconsidera as normas de regência (CFC/CPC) que
dão suporte aos procedimentos adotados pelo Perito Judicial.
Se a Requerida duvida do conteúdo da documentação utilizada pelo
Perito Judicial na elaboração da perícia, e glosa grande parte dela alegando
ilegibilidade (Anexo IV – fls. 1833/1861 – 6º volume), olvidou, ou não geriu
adequadamente, os recursos de que dispõe, ou seja, é ela, a CONAB, a
detentora de arquivos de todos os originais da documentação que compõe o
processo, por isso, máxima vênia, poderia consultá-los, ou, ainda, utilizar uma
segunda alternativa, ou seja, através de sua Perita-Assistente buscar nos papéis
de trabalho do Perito Judicial a elucidação das dúvidas que lhe afligia.
(grifo nosso)
63
Na sentença, prolatada em 30.11.2006, o juízo da 8a Vara Federal rejeitou todos os
pedidos acessórios formulados pela CONAB, como o de isenção de custas (com base no rol
taxativo do art. 4º da Lei n. 9.289/96), e a necessidade de oitiva do Ministério Público Federal
(pela ausência de interesse público relevante). Sobre a alegação de prescrição levantada pela
CONAB, o juízo entendeu aplicável ao caso o disposto no art. 177 do Código Civil de 1916, que
cuida da prescrição vintenária para as ações pessoais. Ressalte-se que não houve nessa parte da
sentença nenhum esclarecimento expresso a respeito do devido tratamento constitucional que
deveria ser dispensado à CONAB, se de empresa pública com algumas prerrogativas fazendárias
ou se exploradora de atividade econômica tal como prevê o art. 173 da Constituição de 1988.
Por fim, o juízo da 8ª Vara Federal em sua sentença validou o trabalho pericial
produzido, afastando, no entanto, a aplicação do critério corrente (com o resultado final de R$
17.141.951,79), e condenando a CONAB pagar à CARAMURU Armazéns Gerais Ltda. a
quantia apontada na Planilha II do laudo pericial, com a substituição do IPC-INPC pela tabela de
cálculos da justiça federal com o uso dos índices integrais (incluídos os expurgos). Segue a
transcrição do dispositivo da sentença:
64
manutenção da renda do produtor rural e a regularidade do abastecimento alimentar. Seguindo
essa linha de raciocínio, igualmente em sede de apelação, a CONAB requereu a isenção das
custas e despesas processuais e a intervenção do Ministério Público Federal, protestando ainda
contra a aplicação da correção monetária e os juros de mora nos moldes determinados pela
sentença de 1º grau. Requereu ao final o prequestionamento dos dispositivos da Lei n. 9.289/96,
Decreto-Lei n. 4.597/42 e 20.910/32, relativos respectivamente a isenção de custas e despesas
processuais e à prescrição quinquenal aplicada às dívidas passivas da Fazenda Pública.
A intervenção do Ministério Público Federal também foi rechaçada pelo tribunal, por
entender não estar em discussão interesses jurídicos que justifiquem a proteção por aquele órgão.
Contra esse acórdão, foram opostos pela CONAB, por meio do escritório terceirizado
Ribeiro Coelho Advogados (com procuração nos autos em nome de Victorino Ribeiro Coelho,
OAB/DF n. 146, Luiz Filipe Ribeiro Coelho, OAB/DF n. 5.297, Luiz Fernando Carvalho Maciel,
OAB/DF n. 14.007, Alcimira Aparecida dos Reis Gomes, OAB/DF n. 13.710, Carolina de
Menezes Neddermeyer, OAB/DF n. 23.426, Fábio Xavier Seefelder, OAB/DF n. 22.846, Mônica
Moreira de Carvalho de Moraes e OAB/DF n. 20.918) embargos de declaração. O recurso teve o
objetivo de trazer a discussão a respeito da finalidade pública da CONAB, uma vez que alguns
dos contratos celebrados com a CARAMURU estavam vinculados à Política de Garantia de
Preços Mínimos – PGPM, além do que a CONAB, não obstante empresa pública, carecia de
finalidade lucrativa. O recurso de embargos de declaração também serviu para colocar em
discussão o percentual de 10% fixado a título de honorários advocatícios a favor da parte autora,
não obstante essa matéria não ter sido ventilada em sede de apelação.
65
honorários, como o assunto não havia sido debatido anteriormente em nenhum momento, não
haveria obscuridade, contradição ou omissão a ser sanada.
Contra essa decisão a CONAB interpôs Recurso Especial, com base no art. 105, inciso
III, alínea “a” da CF, alegando infringência ao disposto no art. 20, pars 3º e 4º do CP, de modo a
rever o percentual fixado a título de honorários advocatícios. É de se notar que na petição de
Recurso Especial não se fez menção a tese da natureza pública da CONAB (ente paraestatal),
que inclusive foi matéria prequestionada.
Essa decisão foi desafiada pelo agravo regimental interposto pela CONAB, já com novo
escritório terceirizado (Décio Freire & Associados, com procuração outorgada a Décio Freire,
OAB/DF n. 1.742-A, Gustavo Andére Cruz, OAB/DF n. 1.985-A, Daison Carvalho Flores,
OAB/DF n. 10.267, Sério Soares Estillac Gomez, OAB/DF n. 4.750, Marcello Prado Badaró,
OAB/MG n. 46.376, Carlos Henrique da Silva Zangrando, OAB/RJ n. 59.863, Marcus Vinícius
Capobianco dos Santos, OAB/ES 14.310, Cristiano Renno, OAB/MG n. 65.233, Pedro Senna,
OAB/RJ n. 76.002 e Gustavo Soares da Silveira, OAB/MG n. 76.733). Nesse recurso cabe
notar que a agravante, depois de vários incidentes recursais em que o assunto passou em
branco, resolveu se manifestar sobre os dispositivos legais que deveriam ter sido
prequestionados e que deveriam ter feito parte do Recurso Especial e não fizeram, que são
aqueles relacionados a tese da natureza de fazenda pública da CONAB (Lei n. 9.289/96,
Decreto-Lei n. 4.597/42 e 20.910/42).
Mencionado recurso da CONAB não mereceu melhor sorte do que os anteriores, tendo
sido improvido no STJ (decisão de 17.03.2010). E contra essa decisão a CONAB interpôs
embargos de declaração contra a aplicação da Súmula 211 do STJ e sobre os dispositivos
constitucionais que estariam sendo violados com o não acolhimento do agravo regimental.
Novamente, não houve o acolhimento dos embargos (decisão de 18.03.2011), ao argumento de
que as razões apresentadas pelo embargante não lograram evidenciar a existência de quaisquer
66
dos vícios previstos no art. 535 do Código de Processo Civil, restando claro o propósito de
rediscutir questão devidamente apreciada pelo decisum recorrido.
Em 30.06.2011, a CONAB requereu nova vista dos autos por conta da mudança de
procuradores (Apoena Machado Advogados, com procuração outorgada a Apoena Almeida
Machado, OAB/PI n. 3.444, Alberto de Moura Marques, OAB/PR n. 57.868, Daise Viana
Castelo Branco Machado, OAB/PI n. 3.505, Wagner Saraiva de Lemos, OAB/PI 656, sendo esse
escritório representado na cidade de Goiânia por Fenelon Abrão Advogados Associados, com
procuração outorgada a José Ronaldo Almeida Costa, OAB/GO n. 26.438, Paulo Rafael Fenelon
Abrão, OAB/GO n. 20.694, Aline Ferreira Montalvão, OAB/GO n. 31.914, Frederico Bernardes
Caiado de Castro, OAB/GO n. 31.253 e Bernardo José Normanha Ribeiro, OAB/GO n. 23.210).
Nessa petição esclareceu a requerente que a inclusão dos honorários periciais e das
custas adiantadas tem como base legal os arts. 19 e 33 do CPC, e aproveitou para requerer, em
67
caso do não cumprimento da sentença, a penhora de numerário por meio do Bacenjud, com
inclusão da multa de 10% do art. 475-J do CPC, juros de mora de 1% e honorários advocatícios
de 20% do valor da execução.
A CONAB, nas suas razões de apelação (interposta pelo escritório BROM e BROM
Advogados Associados), requereu fossem prequestionadas a Lei n. 9.289/96, o Decreto-lei n.
4.597/42 e o Decreto n. 20.910/32, uma vez que entendia ser a ela aplicável a prescrição
quinquenal para suas dívidas passivas e isenção do pagamento de custas.
A Lei n. 9.289/96, em seu art. 4º, inciso I, dispõe que estão isentos de recolher custas
processuais a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e as
respectivas autarquias e fundações.
O Decreto n. 20.910/32, em seu art. 1º, define o prazo prescricional de 5 anos para as
dívidas passivas da União, Estados, Municípios, bem assim como todo e qualquer direito contra
a fazenda federal, estadual e municipal.
O argumento usado pela CONAB para atrair a incidência dos dispositivos acima citados
reside na natureza de suas atividades, de índole pública (regularidade do abastecimento e
garantia de renda ao produtor rural, participação da formulação e execução das políticas
agrícolas e de abastecimento). E por esse caráter público, a relação contratual mantida com a
CARAMURU Armazéns Gerais Ltda. deveria ser tratada a luz de dispositivos de direito público,
como os acima, e não de direito privado.
68
aplicar o art. 177 do Código Civil de 1916. Quanto ao tema dos honorários, como não houve
discussão anterior, não havia o que sanar.
Antes de continuar com o ponto, faz-se necessária uma explicação preliminar a respeito
do tema do prequestionamento, que consiste num requisito de admissibilidade dos recursos
extraordinário (STF) e especial (STJ), a respeito do qual exige-se que matéria que se quer ver
apreciada pela instância superior tenha sido suscitada/analisada na instância inferior. Se a
matéria debatida recebeu apreciação judicial, o prequestionamento encontra-se presente. Se o
Tribunal não se manifestou, cabe a parte interpor embargos de declaração para forçar uma
apreciação pelo Tribunal. Se mesmo assim essa apreciação não ocorre, surge então uma
divergência entre os tribunais.
O STJ editou a Súmula 211, dispondo que é inadmissível recurso especial quanto à
questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal
a quo. Para contornar a vedação da súmula, o STJ admite, contra a decisão de embargos que não
aprecia a questão que se quer ver suscitada, o Recurso Especial, desde que fundamentado na
violação ao art. 535 do CPC (dispositivo que traz a previsão legal do recurso de embargos de
declaração).
No caso dos autos, a CONAB ingressou com embargos de declaração para discussão de
duas questões, sendo que uma delas estava prequestionada (a aplicação do Decreto n. 20.910/32),
e a outra não (o percentual dos honorários advocatícios da parte autora). Posteriormente aos
embargos, ingressou com um Recurso Especial (dirigido ao STJ) para reformar a decisão que
havia fixado os honorários da parte autora em 10% do valor da condenação. E como se tratava de
um recurso de fundamentação vinculada, ou seja, cabível em hipóteses específicas e taxativas, a
CONAB buscou sua fundamentação no art. 105, III, a, da CF/88, por violação ao art. 20 do CPC
(artigo que trata dos honorários do advogado).
Com base na análise dos fatos, podem ser extraídas duas falhas da CONAB e do
escritório de advocacia Ribeiro Coelho Advogados: primeiro, se a CONAB quisesse discutir em
sede de Recurso Especial apenas o percentual dos honorários, matéria não prequestionada nem
em sede de embargos em apelação, deveria tê-lo feito vinculando sua fundamentação ao art. 535
do CPC, e não ao art. 20 do mesmo diploma legal.
69
Os cálculos Contábeis
A análise do perito contábil teve por objeto os valores relativos à atualização monetária
e juros moratórios incidentes sobre as faturas de serviços de armazenagem, liquidadas no período
de 08.01.87 a 05.02.96, e as suas subsequentes atualizações monetárias no âmbito do processo nº
2003.35.00.017999-3.
70
A planilha II informa:
a) o número de dias do atraso, se houver;
b) o índice acumulado de correção monetária - pelo fator vigente à época;
c) os subtotais com valores nominais nas situações condicional e corrente;
d) os valores da comissão de permanência;
e) o valor devido até a data de pagamento; e
f) a diferença entre valor devido e pago pelo banco mandatário. (a data dessa apuração é
a base para a correção seguinte)
Até o advento do Plano Real, devido ao acelerado processo inflacionário, era um fato
comum a emissão de notas fiscais complementares com o objetivo de reajustar o preço das
tarifas de armazenamento.
O ajuste de preços “a posteriori”, que era formalizado por meio da emissão de uma Nota
Fiscal Complementar, poderia ocorrer fora do período de competência e, portanto, do
vencimento original.
71
Verificou-se que o perito considerou como data de vencimento das denominadas notas
complementares o mesmo prazo determinado para a nota original, ou seja, para os casos
analisados – até 31.12.89 – o dia 10 (dez) do mês seguinte ao mês de armazenamento.
Consequentemente, a data de vencimento das notas complementares "retroagiam" até a data de
vencimento das notas originais.
Em 03.10.88, por exemplo, foi emitida a Nota Fiscal nº 1.399, pela empresa Caramuru
Armazéns Gerais – Montividiu Ltda., referente a valores complementares relativos à diferença
verificada na tabela de tarifas no mês de junho de 1988.
Ocorre que o laudo pericial considerou que o vencimento da referida Nota Fiscal foi em
10.07.88, ou melhor, remeteu ao vencimento da competência de junho de 1988 e, portanto,
considerou em seus cálculos um atraso de 311 (trezentos e onze) dias, uma vez que o pagamento
foi realizado em 17.05.89, segundo a planilha II, parte integrante do referido laudo.
a) nota fiscal nº 1.398, emitida em 03.10.88, pela empresa Caramuru Armazéns Gerais –
Montividiu Ltda., referentes a ajustes nos preços das tarifas do mês de maio de 1988 para o
armazém localizado em Rio Verde - GO, sendo que, à medida que o laudo pericial considerou o
vencimento do referido ajuste para 10.06.88, computou erroneamente um atraso de 341
(trezentos e quarenta e um) dias uma vez que o pagamento foi realizado em 17.05.89, segundo a
planilha II, parte integrante do referido laudo.
b) nota fiscal nº 1.400, emitida em 03.10.88, pela empresa Caramuru Armazéns Gerais –
Montividiu Ltda., referentes a ajustes nos preços das tarifas do mês de julho de 1988 para
armazém localizado em Rio Verde - GO, sendo que, à medida que o laudo pericial considerou o
vencimento do referido ajuste para 10.08.88, computou erroneamente um atraso de 280
(duzentos e oitenta) dias uma vez que o pagamento foi realizado em 17.05.89, segundo a planilha
II, parte integrante do referido laudo.
c) nota fiscal nº 1401, emitida em 03.10.88, pela empresa Caramuru Armazéns Gerais –
Montividiu Ltda., referentes a ajustes nos preços das tarifas do mês de agosto de 1988 para o
armazém localizado em Rio Verde - GO, sendo que, à medida que o laudo pericial considerou o
vencimento do referido ajuste para 10.09.88, computou erroneamente um atraso de 249
(duzentos e quarenta e nove) dias uma vez que o pagamento foi realizado em 17.05.89, segundo
a planilha II, parte integrante do referido laudo.
d) nota fiscal nº 790, emitida em 03.10.88, pela empresa Caramuru Armazéns Gerais –
Montividiu Ltda., referentes a ajustes nos preços das tarifas do mês de junho de 1988 para o
armazém localizado em Mineiros - GO, sendo que, à medida que o laudo pericial considerou o
vencimento do referido ajuste para 10.08.88, computou erroneamente um atraso de 280
(duzentos e oitenta) dias, uma vez que o pagamento foi realizado em 17.05.89, segundo a
planilha II, parte integrante do referido laudo.
72
Depreende-se dos fatos apresentados que o reajuste de preço para os meses de maio,
junho, julho e agosto do exercício de 1988 foi acordado apenas em outubro de 1988, e somente a
partir dessa data poderia ser considerada vencida a obrigação de pagamento das notas
complementares, já que antes de sua emissão é natural imaginar que a CONAB sequer soubesse
da existência do débito.
Os testes realizados pela equipe de auditoria restringiram-se a uma amostra das notas
fiscais emitidas pela Caramuru Armazéns Gerais Ltda em favor da Conab. Desta amostra
selecionada pela equipe, verificou-se que todas as notas complementares retroagem à data da
nota original, ampliando o período da obrigação de pagamento e, consequentemente, a correção
monetária e juros de mora sobre o período. É necessário ampliar a análise para a população de
notas complementares com vistas a aferir se o observado pela equipe de auditoria se aplica a
todas as notas, assim como para determinar o valor da diferença dos juros entre a data de
emissão da nota original e da nota complementar.
73
Observa-se, portanto, a necessidade de atualizar os valores utilizando-se da tabela de
cálculos da Justiça Federal – incluindo-se os expurgos inflacionários desde a data de cada
inadimplemento.
Os testes que realizamos indicam que o laudo pericial, em função das notas
complementares retroagirem à data da nota original, não reflete devidamente o valor da sentença
judicial a ser paga pela CONAB. Os questionamentos superficiais por parte da Companhia,
assim como o argumento da “falta de documentação necessária à conferência” evidenciam o
baixo comprometimento com a defesa do patrimônio da Companhia, demonstrando as
fragilidades no acompanhamento contábil dos valores das sentenças judiciais por parte da
CONAB.
74
Análise do Processo Judicial n. 2001.34.00.009228-9, em trâmite na 5ª Vara Federal
da Seção Judiciária do Distrito Federal
Do ponto de vista jurídico a questão foi posta com clareza pelo então professor da USP
Eros Roberto Grau, responsável pelo parecer no processo administrativo CONAB n. 3191/93,
cujo objeto é idêntico ao da ação judicial e cuja peça acompanhou os documentos juntados à
petição inicial (fls. 2134/2150). A transcrição do ponto relevante para o entendimento da matéria
segue abaixo:
75
projetados em relação ao leite em pó que tenha o seu desembaraço aduaneiro
efetuado até 30 de junho de 1987.
A SPAM, tendo em vista o definido pelo Convênio ICM 17/86, ao
formular sua proposta à licitação – CONVOCAÇÃO COBAL nº 003/86 –
proposta esta datada de 23 de junho (após a celebração deste Convênio ICM
17/86, pois), apropriou ao seu preço de venda, para reduzi-lo, o montante do
crédito presumido a que respeita este mesmo Convênio ICM 17/86. De outra
parte, ao dar saída ao leite em pó destinado à COBAL, calcula sobre o preço
dele, na forma da legislação tributária, o ICM incidente e devido sobre tais
saídas.
Sucede ter a COBAL levantado dúvida a respeito da correção desse
procedimento, o que levou a sua D. Consultoria Jurídica a concluir que esta - a
COBAL – pagou valores indevidos a outro fornecedor seu, que com ela celebrou
contrato idêntico aos celebrados com a SPAM. Recomenda aquela Consultoria
Jurídica, inclusive, seja pretendida pela COBAL a devolução do montante do
pagamento indevido, se não lograda amigavelmente através da via judicial,
estendendo-se essa providência também em relação à SPAM.
Em razão disso, a COBAL pretende da SPAM:
- o ressarcimento de valores que lhe teria indevidamente pago;
- que esta não adicione mais ao preço contratual o destaque do ICM, em
seus faturamentos, adotando-se, destarte, adequadamente a legislação
reguladora da matéria;
- seja aditado o contrato celebrado em data de 5 de março de 1987, para
o fim de que se altere a redação do parágrafo quarto de sua cláusula quinta.
Em face do exposto, indaga-se:
a – é correto o entendimento de que, no caso, a COBAL pagou valores
indevidos à SPAM?
b – pode a SPAM não agregar ao preço do produto o valor referente ao
ICM, por se tratar de produto importado com isenção deste tributo?
c – qual o significado jurídico da nova redação que pretende a COBAL
atribuir ao parágrafo quarto da cláusula quinta do contrato celebrado com a
SPAM em data de 5 de março de 1987?
A petição inicial trouxe procuração outorgada a José Gonzalez Costa, OAB/MG 25073
(fls. 20), com substabelecimento, com reserva de poderes, à Antônio Carlos Simões, OAB/DF
527 (fls. 19).
76
Em 25.05.2001 foi feita a juntada da contestação elaborada pela CONAB (fls.
2171/2181, petição de Jorge Martins dos Santos, OAB/DF 4335) aduzindo, como preliminar, a
inadequação da via eleita, uma vez que o pleito da autora seria melhor atendido por meio da ação
de repetição de indébito. No mérito, alegou que a conduta da autora de destacar o ICM à alíquota
de 17% quando da venda à COBAL, isso depois de ter se aproveitado do crédito presumido
concedido pelos convênios ICM 17/86, ICM 53/86, ICM 15/87, feria as disposições da
Convocação COBAL n. 003/86. Além disso, se o ICM não havia incidido quando da importação
do produto, não haveria de sê-lo no momento de sua comercialização interna. Pior ainda, se o
ICM não havia incidido quando da importação do produto, imoral se revelava a utilização do
crédito presumido.
77
2. Caso afirmativa a resposta, qual a origem do leite-em-pó e em que
Estado o produto foi nacionalizado? O produto vendido foi, na integralidade,
entregue a RÉ?
3. Qual o procedimento utilizado pela Ré para adquirir o leite-em-pó?
Caso tenha sido celebrado contrato específico entre as partes, este instrumento
está amparado pelos Convênios ICM 17, de 17.06.86, com vigência a partir de
07.07.86 (fls. 2152/2153) e 53, de 09.12.86, vigente desde 29.12.86 (fls.
2154/2155) e Lei Complementar 24, de 07 de janeiro de 1976?
4. O leite-em-pó foi tributado pelo ICM, no momento de sua
nacionalização? Caso a resposta seja negativa, pode o ilustre Perito declinar a
razão?
5. Sendo o leite-em-pó isento do ICM, no momento de sua
nacionalização (internação no Brasil), o produto seria, necessariamente, isento
no momento da venda para o mercado interno?
6. A venda das 50.000 toneladas de leite-em-pó, à Ré, foi isenta do
ICM?
7. No preço ofertado pela AUTORA, estava incluso o ICM? Em caso de
resposta negativa, qual a base da exclusão do ICM no preço ofertado?
8. O ICM poderia ser incluso no preço, no momento do faturamento?
Sendo a resposta positiva, qual a base contratual e/ou legal para esse
procedimento?
9. As 50.000 toneladas de leite-em-pó foram tributadas na saída, pelo
Estado do Rio de Janeiro?
10. O que significa o “benefício do crédito presumido do ICM”? Quais
os valores tomados como base para a concessão do crédito presumido?
11. A venda do leite-em-pó à Empresa-Ré foi beneficiada por crédito
presumido de ICM?
12. Qual o valor do crédito do ICM aproveitado pela AUTORA, por
intermédio da presunção?
13. Quem seria o beneficiário desse crédito aproveitado por
presunção?
14. As notas fiscais de entrega do leite-em-pó foram emitidas com
destaque de ICM? Se positiva a resposta, por que razão?
15. A inclusão do ICM no preço do produto constituiu procedimento
regular? Por que razão?
16. A Empresa-Ré pagou à autora, conforme pactuado, o valor integral
de seu débito?
17. A Empresa-Ré procedeu a retenções de valores, no momento dos
respectivos pagamentos das faturas? Se positiva a resposta, essas retenções
representavam que parcelas das notas fiscais de venda?
18. As retenções efetuadas pela Empresa-Ré tinham respaldo legal ou
contratual?
19. Pode-se afirmar que as retenções do ICM foram feitas arbitrária ou
indevidamente?
20. O crédito do ICM aproveitado pelo método da presunção, integra o
valor cobrado pela AUTORA na presente ação?
78
21. Pode o Sr. Perito informar se a Empresa-Ré aproveitou, na
integralidade, o crédito de ICM destacado nas respectivas notas fiscais?
22. Considerando que a parcela do ICM, embutida no preço, foi
indevidamente retida e tendo em vista que a Empresa-Ré aproveitou o crédito
integral do ICM, pode o Sr. Perito explicar os efeitos econômicos dessa
manobra em favor da Empresa-Ré?
23. Pode o Sr. Perito, através de um exemplo prático, demonstrar os
efeitos da retenção da parcela do ICM no patrimônio da AUTORA?
24. Qual o efetivo valor do débito da Empresa-Ré para com a
AUTORA, a custo histórico, em virtude das retenções indevidas das parcelas do
ICM que compõe o preço pactuado para o leite-em-pó?
25. Pode o Sr. Perito afirmar, de forma justificada, se o Parecer
emitido pelo setor Contábil da Empresa-Ré (fls. 2093 e segs.) está em
conformidade com as normas aplicáveis à espécie e a sistemática operacional
do ICM?
25. Pode o Sr. Perito afirmar, de forma justificada, se o Parecer
Jurídico emitido por advogado da Ré (fl. 2124) está em conformidade com as
regras aplicáveis à espécie e a sistemática operacional do ICM?
Em seguida, por petição datada de 18.12.2002, a SPAM fez juntar aos autos os
correspondentes registros comerciais da transformação da SPAM de uma sociedade anônima
para uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada, passando a denominar-se SPAM
Representações Ltda. (fls. 2261/2325, petição de Antônio Carlos Simões). A mudança
societária acabou por implicar em mudança de procuradores, passando a patrocinar o feito a
advogado Domingos Flores Fleury da Rocha, OAB/RJ 30261, que por sua vez substabeleceu,
com reserva de poderes, para o advogado Antônio Carlos Simões, OAB/DF 527 (fls. 2294/2295).
Em 02.04.2004 foi feita a juntada do laudo pericial com as respostas a todos os quesitos
formulados pela SPAM. Registre-se que a CONAB não apresentou quesitos.
(…)
6) A venda das 50.000 toneladas de leite-em-pó, à Ré, foi isenta do
ICM?
Repostas = Não. De acordo com o DL 406/68, Artigo 1º, “a entrada,
em estabelecimento comercial, industrial ou produtor, de mercadoria
importada do exterior pelo titular do estabelecimento” e a “saída de
mercadoria de estabelecimento comercial, industrial ou produtor” são fatos
geradores distintos e, neste caso, embora a entrada estivesse isenta, a saída
estava sujeita a tributação. Pelas Notas Fiscais acostadas aos autos verifica-se
que em algumas delas houve o destaque de ICM, em outras não.
(…)
16) A Empresa-Ré pagou à Autora, conforme pactuado, o valor integral
de seu débito?
79
Repostas = Pelas Guias de Pagamento acostadas aos autos, verifica-se
que nos pagamentos realizados pela COBAL foi deduzido o Valor do ICM
destacado nas Notas fiscais de Venda e, em alguns casos, a redução de outros
valores a título de Deduções. Portanto, não foram pagos os valores integrais
das Notas fiscais emitidas pela autora.
17) A Empresa Ré procedeu a retenções de valores, no momento dos
respectivos pagamentos das faturas? Se positiva a resposta, essas retenções
representavam que parcelas das notas fiscais de venda?
Respostas = De acordo com as Guias de Pagamento disponíveis no
processo em análise, a COBAL efetuou a retenção de 17% do valor das Notas
Fiscais, excluídos os descontos efetuados a título de “Dedução”.
(…)
19) Pode-se afirmar que as retenções do ICM foram feitas arbitrária ou
indevidamente?
Respostas = Considerando que não foi identificado por este perito
nenhuma base legal para a retenção, podemos afirmar que a retenção foi
indevida. No entanto, a Ré, em diligência efetuada por este perito, conforme
anexo II, informa: a) Não foi identificado nenhum respaldo legal ou contratual
para as retenções efetuadas pela CONAB, antiga COBAL. No entanto, em
diligência realizada junto à ré, esta informou: “As retenções do ICM incidentes
nas operações de venda à ex-COBAL, objeto do contrato firmado com a SPAM
em 05/03/1987 foram realizadas após as constatações pelos técnicos da
empresa que o fornecedor havia sido beneficiado com o crédito presumido por
determinação legal (convênios ICM 17/86 e 53/86) e mesmo assim, agregou
indevidamente o ICM mais uma vez ao valor pactuado no contrato,
estabelecendo ai o “bis in idem”. Essa assertiva se sustenta no fato de que, no
momento da importação, lhe foi facultado não recolher o ICM, sendo-lhe
igualmente autorizado o aproveitamento do respectivo crédito fiscal, quando do
faturamento para o primeiro adquirente, no caso a ex-COBAL. Os
procedimentos adotados (retenção do ICM) foram acordados entre a SPAM e a
COBAL em reunião realizada nesta empresa em 29.05.1987, conforme cópia da
Ata anexa, corroborada pela Ata de encerramento dos trabalhos da Comissão
Especial sobre importação de alimentos, criada pela Portaria n. 38 – GC de
16/03/1987 e Portaria n. 119 – GC, de 14/05/1987, publicadas no Diário
Oficial da União nos dias 17/03/1987 e 15/05/1987, respectivamente, para
apurar e avaliar fatos relacionados com importação, distribuição e
comercialização de produtos alimentícios, a partir de março de 1986, bem
como propor a adoção de medidas reclamadas pelo superior interesse público,
principalmente o constante nos itens 18 e 19 das recomendações, cópia
também anexa." A resposta apresenta pela Ré consta do Anexo II, deste laudo
pericial. b) As deduções representam o valor do ICM agregado indevidamente
no valor das operações de venda à ex-COBAL, por falta de base legal. Foi
objeto do item 19 das recomendações da Comissão acima mencionada que
transcrevemos: “19. Determinar à COBAL: I – sustar quaisquer pagamentos às
empresas mencionadas no item 9:23; II – propor medidas judiciais para reaver
as quantias indevidamente pagas”. c) As deduções foram feitas em razão do
exposto no item “a”, tendo como base os Convênios ICM ns. 17/86 e 53/86, o
inciso IV do art. 2 º do Decreto Lei ofícin º 406 de 31.12.68 e o Edital n º 03/86,
de 12/06/1986.
80
No anexo II do laudo contábil constam em poder das partes diligências empreendidas
pelo perito envolvendo documentos com as partes. No caso da SPAM, o perito encaminhou
correspondência contendo indagações e solicitações, conforme abaixo (fls. 2502/2503):
Quanto aos questionamentos do perito, a SPAM, por meio de seu advogado Antônio
Carlos Simões, OAB/DF 527, pronunciou-se no seguinte sentido, na ordem das perguntas
formuladas pelo perito, sequência separada pelas reticências (fls. 2504/2512):
(…)
1.4. Por outro lado, a operação de importação do leite em pó, de que
tratam os autos, se materializou em 1986; portanto, há 20 (vinte) anos, tempo
excessivamente longo para qualquer empresa manter o acervo documental
disponível.
1.5. Soma-se a isso o fato de que a empresa Autora, após longo período
de dificuldades financeiras (levadas pela retenção indevida da parcela relativa
ao ICM, realizada pela empresa Ré), viu-se despojada de seus bens, o que
impossibilitou seus antigos proprietários de manter o acervo documental em
condições de ser manuseado. Contudo, encaminhou à empresa Ré toda a
documentação, para respaldar seus direitos no processo administrativo
pertinente.
1.6. Entretanto, temos por entender que a própria documentação
acostada aos autos esclarece a questão suscitada, posto que se ela é cópia
autenticada do LIVRO DE APURAÇÃO DO ICM, onde o registro do montante
do crédito presumido do ICM foi tempestivamente contabilizado, o que traduz
prova inquestionável de que o leite em pó foi efetivamente importado pela
Autora, situação jamais questionada pela Ré.
1.7. Portanto, o documento disponível, que atesta a importação do leite
em pó, encontra-se atracado aos autos, inexistindo, nas dependências da SPAM
qualquer outra informação que possa ilidir o questionamento de V.Sa. que,
aliás, nunca foi objeto de dúvidas, por parte da Ré.
81
(…)
2.5. Consoante foi afirmado, anteriormente, a documentação que
instruiu a importação do leite-em-pó já não está disponível na empresa Autora,
que a encaminhou à Ré, para instrução de processo administrativo e por já
serem decorridos quase de 20 (vinte) anos da referida importação. Entretanto,
é possível definir o montante do valor que serviu de base para o
aproveitamento do crédito, dividindo-se a alíquota aplicável à época (=17%)
pelo montante do crédito presumido aproveitado, indicado na peça de ingresso
e registrado no Livro de Apuração de ICM.
(…)
3.1. Conforme referido, a lei obriga o contribuinte a manter em
arquivo os documentos fiscais por um período de 5 (cinco) anos.
Lamentavelmente, a documentação já não mais está disponível. Entretanto,
mesmo se as guias de recolhimento do ICM estivessem disponíveis, não seria
possível individualizar a operação de importação das 50.000 t. de leite em pó,
porque o imposto era recolhido mediante a apuração de débito e crédito de
todas as operações realizadas pela empresa.
3.2. O que se pode afirmar, com absoluta convicção, ilustre Perito, é
que a SPAM não possui qualquer débito para com a Fazenda Estadual do Rio
de Janeiro, mesmo porque sua inscrição já foi BAIXADA EM DEFINITIVO,
conforme demonstra a certidão emitida por aquela Secretaria (Documento
anexo).
É relevante esclarecer que a BAIXA de inscrição (caracterizadora da
inatividade) somente é autorizada pela Secretaria da Receita do Estado do Rio
de Janeiro quando não existe nenhum pendência para com o fisco.
3.3. Para sedimentar esta informação a Autora faz anexar, também,
CERTIDÃO NEGATIVA DE EXECUÇÃO FISCAL emitida pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, onde se verifica a inexistência de qualquer
pendência da Autora para com a Fazenda Estadual.
(…)
4.1. A operação mercantil a que se refere a presente ação envolve,
apenas, a compra e venda de 50.000 t de leite-em-pó importado. A quantidade
física em volume superior encontrada por V.Sa., em princípio, pode ter
ocorrido em virtude dos seguintes fatores:
a) terem sido consideradas as quantidades físicas insertas nas notas
fiscais relacionadas com a “variação cambial”. Com efeito, as notas fiscais de
cobrança da variação cambial devem refletir apenas, no aspecto financeiro da
operação. Por essa razão, se, eventualmente, as quantidades físicas indicadas
nas referidas notas foram contabilizadas, é indispensável excluí-las. Elas não
são objeto da presente ação.
b) terem sido consideradas as notas fiscais de simples remessa e suas
respectivas notas matrizes ou notas-mães. Se esse fato ocorreu, significa
registro em duplicidade das quantidades físicas, sendo necessário a exclusão
da nota-mãe ou das respectivas notas de simples remessa correspondentes.
4.2. Por conseguinte, se os fatos anteriormente indicados ocorreram,
devem ser excluídos das quantidades físicas as notas relativas à variação
cambial – que somente têm repercussão financeira – e aquelas de simples
remessas que têm a finalidade de dar suporte fiscal ao trânsito das
mercadorias.
82
(…)
5.2 Para responder com objetividade, seria necessário examinar todas
as ocorrências do fato indicado por V.Sa. Entretanto, a questão pode ter
origem na opção de destacar o tributo na hora da saída da mercadoria, quais
sejam: ou o destaque ocorre na nota matriz (nota-mãe) ou nas de simples
remessa. Numa ou noutra hipótese, o tributo incidente é registrado no LIVRO
DE SAÍDA DE MERCADORIAS e, consequentemente, contabilizado no LIVRO
DE APURAÇÃO DE ICM.
(…)
6.1. O Edital a que se refere V.Sa. não se encontra disponível nos
arquivos da SPAM. Mas estão nos autos. Entretanto, ele poderá ser facilmente
obtido junto à CONAB, que deve possuir todo este acervo documental.
6.2. Entretanto, o Contrato de Compra e Venda do leite-em-pó
realizado entre as partes é, na sua inteireza, espelho do Edital e da aludida
CONVOCACÃO CONAB N. 03/86.
Por fim, a SPAM requereu a suplementação do laudo pericial, para que fossem
esclarecidos os pontos abaixo transcritos (fls. 2591/2627, petição de Antônio Carlos Simões,
OAB/DF 527 e Domingos Fleury da Rocha, OAB/RJ 30261):
83
30 (trinta) dias, retornariam à mesa de negociação para os entendimentos
finais”?;
d) se constam dos autos documentos comprovando que as partes
retornaram à mesa de negociação para os entendimentos finais? Na hipótese
afirmativa, queira o Perito transcrever literal e integralmente os eventuais
entendimentos finais;
e) com relação aos documentos de fls. 2.500 e 2.501, referidos nas
respostas aos quesitos 18 e 19 da Autora, às fls. 2.429/2.430, queira o Perito
esclarecer: i) se consta dos documentos de fls. 2.500/2.501, a determinação de
que sejam sustados quaisquer pagamentos expressamente com relação a
Autora?; ii) se o o nome da Autora consta expressamente dos documentos de
fls. 2.500/2.501, como uma das empresas incluídas no item 9.23 das
recomendações da Comissão referida na letra b) do documento de fls. 2.498?;
iii) se constam dos documentos de fls. 2.500/2.501, as medidas judiciais que
teriam sido propostas contra a Autora para reaver as eventuais quantias
indevidamente pagas pela Ré?;
f) uma vez que a Autora se beneficiou somente com o crédito presumido
por determinação legal (convênios ICM 17/86 e 53/86), obtido no momento da
nacionalização do produto, no montante total de Cz$ 96.421.377,22, pode o
Perito concluir que se trata de uma alegação destituída de qualquer prova o
supostos “bis in idem” que teria sido praticado pela Autora, a que se refere a
Ré na letra a) do documento de fls. 2.498?
g) considerando que a Ré não ressarciu a Autora da parcela do ICM
por ela recolhido aos cofres públicos e que foi incluída no preço do leite em pó
desnatado; considerando ainda que a Ré aproveitou em seus livros o crédito
integral do ICM, pode o Perito concluir que foi a Ré que se beneficiou
duplamente (“bis in idem”) em prejuízo da autora?
(grifo nosso)
A CONAB, por sua vez, apresentou impugnação ao laudo pericial, em petição datada de
13.05.2004, reforçando a legalidade da conduta da ex-COBAL de reter o ICM da SPAM, uma
vez que houve, por parte da SPAM, apropriação do crédito presumido quando da entrada do
leite-em-pó do seu estabelecimento, aduzindo que tal conduta foi acordada pelas partes na ata de
reunião, juntadas às folhas 2499. Ao final, apresentou a CONAB quesito suplementar abaixo
transcrito, juntando parecer do assistente técnico (fls. 2629/2639, petição de Carlos Henrique
Ferreira Alencar, OAB/DF 15.183):
84
a) Se a Autora se beneficiou somente com o crédito presumido por
determinação legal (convênios ICM 17/86 e 53/86), obtido no momento da
nacionalização do produto, no montante total de Cz$ 96.421.377,22?
Perito – Considerando que na venda do produto para a ré o valor
referente ao ICM foi retido por ela, conforme demonstrado no Laudo Pericial,
a autora somente se beneficiou com o crédito presumido apurado no momento
da nacionalização do produto.
b) Se constam dos autos documentos comprovando as informações
prestadas pela Ré ao Perito, transcritas nas respostas aos quesitos 18 e 19 da
Autora, às fls. 2.429/2.430? Na hipótese afirmativa, queira o Perito indicar as
respectivas folhas dos autos onde se encontram, bem como transcrevê-los
literal e integralmente;
Perito – Os documentos apresentados pela ré constam das fls 2499 a
2501. No entanto, não foi acostado aos autos o Relatório Final da Comissão
Especial constituída pelas Portarias n º 38 – GC – DE 16.03.87 E 119 – GC, de
14.5.87. Por esse motivo, não é possível afirmar que a recomendação contida
no item 18 e 19 da Ata de Encerramento dos trabalhos da referida comissão, fls
2500 e 2501, faça menção à SPAM. Entendemos, porém, não ser necessário o
aporte do referido documento haja vista que, conforme amplamente citado no
Laudo Pericial, a incidência de ICM na saída da mercadoria do armazém do
importador é fato gerador de tributo tratado em legislação específica (DL
406/68).
c) Se da ata da reunião realizada em 29/05/87, referida nas respostas
aos quesitos 18 e 19 da Autora, às fls. 2.429/2.430, consta a seguinte
deliberação: “Foi amplamente discutida a cláusula contratual pertinente à
incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias nas operações de
importação de leite em pó desnatado, consoante contrato de compra e venda
firmado entre as duas sociedades mercantis. Após ampla troca de idéias ficou
decidido que as Partes, COBAL e SPAM, buscariam arrimo em opiniões
técnicas abalizadas, consultariam “experts” na matéria e, dentro de máximo
30 (trinta) dias, retornariam à mesa de negociação para os entendimentos
finais”?
Perito – A transcrição corresponde ao que consta na Ata da citada
reunião. A ata consta às fls 2499.
d) Se constam dos autos documentos comprovando que as partes
retornaram à mesa de negociação para os entendimentos finais? Na hipótese
afirmativa, queira o Perito transcrever literal e integralmente os eventuais
entendimentos finais;
Perito – Sim. A abertura para retornar à mesa de negociação com o
objetivo de buscar entendimento final sobre o assunto consta da Ata da reunião
realizada 29/05/87, em Brasília. Não constam nos autos documentos
posteriores que comprovem o retorno à mesa de negociação para buscar
entendimento sobre o assunto.
e) Com relação aos documentos de fls. 2.500 e 2.501, referidos nas
respostas aos quesitos 18 e 19 da Autora, às fls. 2.429/2.430, queira o Perito
esclarecer: i) se consta dos documentos de fls. 2.500/2.501, a determinação de
que sejam sustados quaisquer pagamentos expressamente com relação a
Autora?; ii) se o o nome da Autora consta expressamente dos documentos de
fls. 2.500/2.501, como uma das empresas incluídas no item 9.23 das
recomendações da Comissão referida na letra b) do documento de fls. 2.498?;
iii) se constam dos documentos de fls. 2.500/2.501, as medidas judiciais que
85
teriam sido propostas contra a Autora para reaver as eventuais quantias
indevidamente pagas pela Ré?;
Perito – O documento constante asa fls 2500 e 2501 não faz menção
específica à SPAM. Apenas, o item 18 das recomendações consta: “constituir
comissão de sindicância junto à Companhia Brasileira de Alimentos – COBAL
para apurar responsabilidades pelos pagamentos indevidos, relativos à parcela
de ICM feitos às empresas indicadas no item 9.23”. No item 19 consta:
“determinar à COBAL: I – sustar quaisquer pagamentos às empresas
mencionadas no item 9.23; II – propor medidas judiciais para reaver as
quantias indevidamente pagas”. Não consta nos processo documentos que
mencionem as medidas judiciais adotadas pela COBAL em atendimento às
recomendações acima. Considere-se, ainda, o fato de que a incidência de ICM
na saída dos armazéns do importador é fato gerador de ICM, conforme previsto
no DL 406/68.
f) Uma vez que a Autora se beneficiou somente com o crédito
presumido por determinação legal (convênios ICM 17/86 e 53/86), obtido no
momento da nacionalização do produto, no montante total de Cz$
96.421.377,22, pode o Perito concluir que se trata de uma alegação destituída
de qualquer prova o supostos “bis in idem” que teria sido praticado pela
Autora, a que se refere a Ré na letra a) do documento de fls. 2.498?
Perito – Sim.
g) Considerando que a Ré não ressarciu a Autora da parcela do ICM
por ela recolhido aos cofres públicos e que foi incluída no preço do leite em
pó desnatado; considerando ainda que a Ré aproveitou em seus livros o
crédito integral do ICM, pode o Perito concluir que foi a Ré que se beneficiou
duplamente (“bis in idem”) em prejuízo da autora?
Perito – Não é objeto desta perícia a verificação dos Livros Contábeis
da Ré, por esse motivo, deixamos de responder a este quesito.
(grifo nosso)
86
Simões, OAB/DF 527, Domingos Fleury da Rocha, OAB/RJ 30.261 e Marco André Dunley
Gomes, OAB/DF 1.230-A) reafirmando as conclusões do laudo pericial, principalmente a
respeito da inexistência de bis in idem por parte da autora ao fazer uso do crédito presumido, e
ilegalidade da retenção do ICM por parte da ex-COBAL.
Contra essa decisão a CONAB interpôs o recurso de apelação (em 14.02.2006, fls.
2714/2721, peça subscrita pelo Advogado Ricardo Coelho de Medeiros, OAB/DF n. 21.791),
requerendo a reforma da sentença de primeira instância. Já a SPAM Representações Ltda.
ingressou com o recurso de embargos de declaração (em 06/02/2006, fls. 2724/2736, Advogados
Domingos Fleury da Rocha, OAB/RJ 30.261, Antônio Carlos Simões, OAB/DF 527, Rodrigo
Mattar, OAB/RJ n. 107.861 e Marco André Dunley Gomes, OAB/DF n. 1.230-A) para sanar
omissões relacionadas ao termo inicial dos juros de mora, da correção monetária, acréscimo dos
expurgos inflacionários e uma multa contratual prevista no contrato de compra e venda pactuado
entre as partes.
87
devidos a partir da citação, e a correção monetária a partir de quando a parcela era devida,
incluídos aí os expurgos inflacionários.
Em 18.03.2009, a SPAM Representações Ltda. requereu vista dos autos para o cálculo
dos valores a serem executados (fls. 2830, petição de Marco André Dunley Gomes, OAB/DF
1.230-A).
88
outorgada ao advogado Antônio Carlos Simões (fls. 2831/2833, petição de Marco André Dunley
Gomes, OAB/DF 1.230-A). Os motivos da revogação seguem abaixo:
(…)
3) Conforme é do conhecimento de V.Sa., que esteve presente na sessão
de julgamento dos referidos recursos, o recurso adesivo não foi conhecido
pelos seguintes motivos: “A admissibilidade do recurso adesivo encontra óbice
na preclusão consumativa, quando interposta apelação anteriormente e não
recebida ante a sua intempestividade.
4) O recurso adesivo foi uma tentativa de contornar a intempestividade
da apelação interposta pela SPAM, uma vez que o prazo foi contado a partir da
publicação no Diário de Justiça da decisão proferida nos embargos de
declaração; no entanto, V. Sa., surpreendentemente, e sem qualquer
autorização prévia, já havia, em 21/03/2006 (fls. 2.741 do processo) data
anterior à publicação, tomado ciência nos autos da decisão dos declaratórios,
inclusive sem dar qualquer aviso ao infra assinado, atos que acarretaram o não
conhecimento do apelo.
5) Os embargos de declaração opostos pela SPAM tinham por objetivo,
entre outras questões, ensejar a incidência dos juros de mora sobre a
indenização a partir das datas das retenções indevidas do ICMS efetuadas pela
CONAB.
6) A intempestividade da apelação e a inadmissibilidade do recurso
adesivo acarretaram gravíssimos prejuízos à SPAM e/ou sucessores, visto que a
sentença fixou os juros de mora a partir da citação, que ocorreu no ano de
2001, ao passo que os juros moratórios deveriam ser computados a partir das
datas em que os valores do ICMS foram indevidamente retidos pela CONAB, o
que ocorreu no ano de 1987.
7) Em virtude de todos os fatos contidos nas notificações referidas no
item 1) supra e dos prejuízos sofridos pela SPAM e/ou sucessores, venho, pela
presente, revogar o substabelecimento que o infra assinado outorgou a V. Sa.,
nos autos da ação em referência, ficando V. Sa., a partir da presente data,
destituído de qualquer poder para intervir em nome da SPAM.
8) Oportunamente, nos autos da ação própria, V. Sa. responderá pelos
prejuízos que causou, razão pela qual é inexigível o contrato de honorários
convencionado com V. Sa.. Os honorários que seriam decorrentes do referido
contrato, nos autos da ação que será oportunamente ajuizada, serão objeto de
pedido de compensação com os danos causados, sem prejuízo da postulação de
perdas e danos, caso não seja possível a compensação do valor total devido por
V. Sa. à SPAM e/ou Sucessores.
Em 08.05.2009 foi juntado aos autos (fls. 2836/2840, por Domingos Fleury da Rocha,s
OAB/RJ n. 30.261, e Oscar Fleury da Rocha, OAB/RJ n. 107.563) petição requerendo o
cumprimento da sentença, com base nos artigos 475-B e 475-J do CPC, aduzindo que a essa
execução não se aplicaria o rito do art. 730 do mesmo CPC, por ser a CONAB empresa pública
exploradora de atividade econômica. Nessa oportunidade, juntou os respectivos cálculos (fls.
2853/2862).
89
Em 27.05.2009, foi proferido despacho determinando a intimação da CONAB para
efetuar o pagamento no prazo de 15 dias, sob pena de multa de 10% do valor da condenação e
penhora de bens (fls. 2863).
90
OAB/DF n. 10.267). Na petição de agravo, a CONAB procurou reforçar a tese de que é empresa
pública prestadora de serviços públicos, sendo por conta disso imprescindível a intervenção da
União e do MPF no feito.
Em 06.08.2009 José Gonzalez Costa entrou com petição requerendo a reserva de 25%
dos honorários sucumbenciais que vierem a ser pagos pela CONAB (fls. 2959/2961). Na mesma
data foi protocolado ofício do TJSP solicitando tornar indisponível o crédito a ser liberado em
favor da ré, consistente em valores superiores a 50% da importância que for paga pela CONAB,
seja por acordo extrajudicial ou em decorrência de cumprimento de sentença, em favor de SPAM
Representações Ltda. (fls. 2965).
Em 11.09.2009 foi protocolado ofício da 35ª Vara Cível da comarca de São Paulo,
informando ao juízo da 5ª Vara Federal da seção judiciária do Distrito Federal de que contra a
decisão que determinou a penhora de 50% do valor da condenação foi interposto agravo de
instrumento com efeito suspensivo deferido, suspendendo-se com isso a averbação de 50% (fls.
2969).
Em 05.10.2009 Antônio Carlos Simões requereu que seja a ele reservada a importância
de 28,75% do valor a ser pago pela CONAB, com a expedição do respectivo alvará (fls.
2974/2976).
91
estimado ser irreal, e por já haver penhoras sobre o imóvel, o que não garantiria o crédito da
exequente, voltando a requerer a penhora online.
Em 03.11.2009 foi protocolado ofício do Banco do Brasil informando que foi efetivada
a penhora do numerário correspondente a R$ 68.366.438,80 (fl. 3196).
92
Em 17.11.2009 a SPAM Representações peticionou nos autos para informar ao juízo o
descumprimento do disposto no art. 526 do CPC, sem que os autos fossem devolvidos para a
Secretaria da 5º Vara Federal. Requereu que os autos fossem devolvidos pela CONAB em 24
horas, sob pena de busca e apreensão, que os valores bloqueados fossem colocados em uma
conta aberta a disposição do juízo e que fosse lavrado o auto de penhora para a efetivação da
execução (fls. 3218/3219, petição de Marco André Dunley Gomes, OAB/DF 1.230-A).
Em 26.11.2009 foi protocolado petição do MPF requerendo vista dos autos (fl. 3246).
Em 12.04.2010 foi protocolada petição de Willy Otto Jordan, CPF 008.558.478-91 para
que fosse reconstituída a penhora no rosto dos autos determinada pela decisão de fls. 2968
(“averbar, nos rostos destes autos, a penhora dos valores superiores a 50% da importância que
for paga pela CONAB, seja por acordo extrajudicial ou em decorrência de cumprimento de
sentença, em favor de SPAM REPRESENTAÇÕES LTDA., no montante da dívida discutida nos
autos até solução da lide, para fins de garantia do débito de que tratam os autos mencionados”,
fls. 3808, petição de José Gonzalez Costa, OAB/MG 25973).
Em 04.05.2010 foi protocolada petição da União requerendo vista dos autos (fls. 3816,
petição de Tatiana Lima Campelo, procuradora da fazenda nacional).
Nessa mesma decisão foi deferido o pedido de efeito suspensivo requerido pela
CONAB em sede de impugnação (art. 475-J, par 1º do CPC), limitando-se a decisão a usar como
fundamento único o valor do crédito, visto que as outras questões levantadas pela CONAB já
haviam sido objeto de decisão em outras oportunidades (agravo de instrumento n.
2009.01.00.045340-8, cujo seguimento foi negado e que discutia o pedido da CONAB de
intervenção da União e do MPF no feito – fls. 3855/3862; agravo de instrumento n.
2009.01.00.068373-8 cujo seguimento também foi negado e que discutia a efetivação da penhora
online – fls. 3863/3870, e; ação anulatória n. 2009.34.00.040877-6, que teve o pedido de tutela
antecipada negado – fls. 3853/3854).
94
Por último, foi indeferido o pedido de expedição de alvará formulado por José Gonzalez
Costa, considerando o deferimento de efeito suspensivo requerido pela CONAB, e que o valor
penhorado não represente a totalidade do crédito devido pela executada, e; foi deferido o pedido
de vista da União (fls. 3843/3850).
95
2º do CPC (fls. 3379/4127 – com documentos, petição de Eduardo Harold Mesquita Pessôa,
OAB/BA 8106, substabelecido por Eduardo Lézio Francisqueti, OAB/SP 289.709).
Em 07.02.2011, a JPA participações protocolou petição requerendo vista dos autos para
se manifestar sobre a impugnação apresentada pela SPAM Representações ao pedido de
substituição processual formulado pela JPA (fls. 4156/4157, petição de Domingos Fleury da
Rocha, OAB/DF 30.261).
Novamente na mesma data, 07.02.2011, foi proferido despacho abrindo vista dos autos
para a JPA participações, conforme requerido anteriormente, com a solicitação de que a JPA se
manifestasse a respeito da ação de embargos de terceiro, julgada improcedente pela 35a Vara
Cível de São Paulo (583.00.2010.143382-5, fls. 4161).
96
fase executiva do processo (fls. 4166/4191, petição de Domingos Fleury da Rocha, OAB/RJ
30.261, Oscar Fleury da Rocha, OAB/RJ 107.563 e Marco André Dunley Gomes, OAB/DF
1.230-A).
No mesmo dia, 22.02.2011, foi averbada a penhora no rosto dos autos de crédito
originário da 2a Vara do Trabalho de Duque de Caxias (RJ), autos n. 0118800-
67.2007.5.01.0202, processo ajuizado por Roberto Correa de Lima contra a Parmalat Brasil S/A
Indústria de Alimentos. O valor do crédito penhorado alcança R$ 1.089.349,28 (fls. 4192). Outro
crédito, oriundo do processo n. 0284200-19.2000.5.01.0481-332.096.186-15, ajuizado por Carlos
Augusto de Paula Pinho em face da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos, no valor de R$
299.370,72, foi penhorado (fls. 4193).
Ante o exposto:
1 – indefiro, pelo menos por ora, o pedido de substituição processual
requerido por JPA PARTICIPAÇÕES LTDA, mantendo no pólo ativo da
execução a SPAM REPRESENTAÇÕES LTDA;
2 – remeto a JPA PARTICIPAÇÕES LTDA e SPAM
REPRESENTAÇÕES LTDA e WILLY OTTO JORDAN, às vias ordinárias, no
juízo estadual, para solução dos litígios entre eles sobre a titularidade do
crédito;
3 – determino que não deverá haver qualquer levantamento de crédito
até que o juízo competente, ou seja, o juízo estadual se pronuncie sobre a
validade ou não da cessão de crédito efetuada pela SPAM à JPA;
4 – admito a JPA PARTICIPAÇÕES como terceiro interessado no
presente feito, uma vez que, sendo possível titular do crédito, tem interesse no
acompanhamento da execução, que ainda está em curso.
Oficie-se aos respectivos juízos sobre as penhoras no rosto do auto
realizadas às fls. 4192 e 4193, intimando-se a credora sobre as mesmas.
Traslade-se cópia desta decisão para os embargos de terceiro n º
49978-14.2010.4.01.3400, propostos por WILLY OTTO JORDAN.
Tendo em vista à penhora determinada pelo douto Juízo da 35 ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Capital (SP) no processo n º
583.00.2008.181967-7 e que me parece interessante que a presente decisão seja
conhecida naqueles autos, oficie-se com remessa de cópia da presente decisão.
Corrija a secretaria a autuação para que conste como exequente SPAM
REPRESENTAÇÕES LTDA, anotando-se os advogados indicados às fls. 3989 e
3990, e como terceira interessada a JPA PARTICIPAÇÕES LTDA, anotando-se
como advogados os indicados às fls. 3880 e 4157.
Atenda-se ao requerido às fls. 4123/4133, no tocante às intimações da
CONAB.
Intime-se a SPAM a se manifestar sobre as alegações de fls. 4151/4153,
que afirmam vício na procuração outorgada a seu novo advogado.
Cumpram-se as determinações de fls. 3843/3850 ainda não atendidas,
inclusive no tocante à vista requerida pela União ali deferida e posterior
remessa dos autos à Contadoria.
97
Na mesma oportunidade foi proferida decisão nos embargos de terceiro n. 49978-
14.2010.4.01.3400, proposta por Willy Otto Jordan contra a SPAM Representações Ltda,
indeferindo a petição inicial e julgando extinto o processo sem resolução do mérito (fls.
4206/4208).
Em 22.03.2011, José Gonzalez Costa peticionou nos autos para requerer a expedição de
alvará para o levantamento da quantia de R$ 3.125.454.35, correspondente a ¼ dos honorários de
sucumbência devidos na causa – 10% do valor da causa(fls. 4284/4286).
Na mesma data, 22.03.2011, foi protocolado ofício oriundo da 35ª Vara Cível da
Comarca de São Paulo, Fórum João Mendes Júnior, solicitando que fosse transferida a quantia
de R$ 60.500.000,00 para aquele juízo. Acompanhou o ofício a sentença homologatória de
transação entre a SPAM Representações, Willy Otto Jordan e José Gonzalez Costa, os
respectivos instrumentos de transação e outros documentos (fls. 4293/4321).
Ainda na mesma data, 25.03.2011, a SPAM Representações, dessa vez representada por
Marco André Dunley Gomes, OAB/DF 1230-A, protocolou petição para, dando coro ao
pronunciamento anterior de Antônio Carlos Simões, impugnar a procuração outorgada pela
SPAM ao advogado Eduardo Lézio Francisqueti, OAB/SP 289.709. Acrescentou que até o
processamento da substituição processual requerida pela JPA Participações o advogado
Domingos Flores Fleury da Rocha representaria a SPAM Representações, com os detalhes de
que o instrumento de cessão proibiu a SPAM a contratar advogados para a causa, e que a
procuração outorgada a Domingos Flores Fleury da Rocha seria de caráter irrevogável (fls.
4326/4331, Marco André Dunley Gomes, OAB/DF 1230-A).
98
Novamente na mesma data (25.03.2011), a JPA Participações protocolou petição para
dar ciência ao juízo de primeiro grau da interposição de agravo de instrumento (0016555-
44.2011.4.01.0000) contra a decisão que indeferiu o pedido de substituição processual (fls.
4342/4378, petição de Domingos Flores Fleury da Rocha, OAB/RJ 30.261, Oscar Fleury da
Rocha, OAB/RJ 107.563 e Marco André Dunley Gomes, OAB/DF 1.230-A).
Em 08.06.2011 foi proferida decisão que resume bem o tumultuado trâmite processual
na fase de cumprimento de sentença (fls. 4430/4432):
99
requerendo a transferência da quantia de R$ 60.500.000,00, em que foi
deferida liminar para suspender o pedido de transferência.
Decido.
Inicialmente aprecio os embargos de declaração.
Embora alegue a existência de “omissões e contradições”, o que a
embargante está verdadeiramente alegar é a existência de erros na decisão
embargada.
Ora, os embargos de declaração não se prestam à correção de erros de
julgamento, seja de decisões, seja de sentenças, cabendo à embargante, se
entende errada a decisão, interpor o competente agravo de instrumento para o
Tribunal Regional Federal da 1 ª Região.
Assim sendo, REJEITO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
INDEFIRO o pedido de levantamento formulado às fls. 4284/4286, uma
vez que pedido anterior do mesmo sentido, formulado às fls. 3817/3820, já foi
indeferido pela decisão de fls. 3843/3850 (especificamente à fl. 3849 quanto ao
ponto).
No tocante às demais questões colocadas, inclusive quanto à validade
ou não da nova procuração outorgada pela SPAM a novo advogado ou
irrevogabilidade da procuração anterior, tenho que a decisão deve ser
postergada.
De fato, o andamento da execução tem sido bastante tumultuado, uma
vez que, antes de serem cumpridas as determinações de uma decisão, os
múltiplos interessados atravessam “n” petições, fazendo com que a tramitação
processual não avance, sendo certo que se presume que seja do interesse de
todos os que pretendem algum crédito no processo que o processo siga em
frente.
Por outro lado, existe agravo de instrumento contra a decisão que
indeferiu, pelo menos por ora, o pedido de substituição processual formulado
pela JPA PARTICIPAÇÕES LTDA, sendo certo que o eventual provimento do
mesmo poderá ter reflexos significativos no processo, razão pela qual, antes de
novas decisões que possivelmente gerarão novos agravos, é recomendável que
sejam cumpridas as diligências determinadas e aguardado o julgamento do
agravo pendente.
Assim sendo, cumpram-se as determinações da parte final da decisão
de fls. 4195/4205, inclusive no tocante às determinações de fls. 3843/3850
ainda não atendidas (inclusive no tocante à vista requerida pela União ali
deferida e posterior a remessa dos autos à Contadoria).
Cumpridas essas determinações, mais antigas, decidirei sobre a
validade ou não da nova procuração ou irrevogabilidade da procuração
anterior.
Em 09.06.2011 foi juntada pela SPAM, pelo procurador Eduardo Harold Mesquita
Pessôa, OAB/BA 8106, substabelecimento, com renúncia de poderes, dele para o advogado
Lúcio Flávio Andrade Lopes, OAB/BA 9479 (fls. 4433/4434).
100
Em 26.07.2011 foi proferida decisão rejeitando o pedido de arbitramento de honorários,
sob o argumento de que existem contratos de honorários nos autos, o que torna o arbitramento
desnecessário. Quanto a reserva de honorários, decidiu-se que existem diversas questões prévias
a serem resolvidas antes da efetivação do pagamento, e que não seria possível o advogado
receber antes do cliente (fls. 4447/4448).
Trata-se de análise de pleitos judiciais em que a CONAB atua como parte, com vistas a
avaliar a qualidade da assistência jurídica da companhia (contencioso trabalhista). Os processos
foram analisados pela equipe de auditoria com vistas a verificar a tempestividade e a qualidade
da representação, seja por meio de seus procuradores, seja por intermédio dos escritórios de
advocacia terceirizados, contratados para tal finalidade.
De maneira geral, dos processos trabalhistas analisados verifica-se que existe identidade
de tese em alguns deles, tendo como tópico central a Lei n. 8.878/94, que dispõe sobre a
concessão de anistia aos servidores públicos civis e empregados da Administração Pública
Federal direta, autárquica e fundacional, bem como aos empregados de empresas públicas e
sociedades de economia mista sob controle da União, mais especificamente sobre a aplicação de
seu art. 6º, que veda a concessão de efeitos financeiros de caráter retroativo aos anistiados.
Os processos trabalhistas que seguem essa linha apresentam variações temáticas que
impedem uma perfeita identificação entre eles, conforme demonstrado abaixo:
• Processo n. 00189-2007-020-10-00-5, discutindo inclusão de empregado público
anistiado em plano de previdência complementar da CONAB (processo transitado
em julgado);
• Processo n. 22200-30.2010.5.21.0005, discutindo progressões funcionais do
empregado anteriores a concessão da anistia (processo não transitado em julgado);
• Processo n. 00461-2009-009-10-1, discutindo a incorporação de anuênios e licença
prêmio do período de afastamento do empregado por conta de ilegal demissão,
sanada com a lei de anistia.
O desempenho dos escritórios terceirizados responsáveis pelos processos acima citados
foi objeto de análise detalhada neste relatório, conforme individualização feita mais abaixo. Mas
da agregação das constatações percebe-se que, a exemplo do que ocorreu em outros processos
trabalhistas discutindo questões diversas, os recursos manejados pela CONAB, que não tiveram
êxito, apresentaram falhas como o não pagamento do preparo ou o não pagamento das custas
processuais (requisito de admissibilidade dos recursos trabalhistas).
Os tipos de falhas processuais identificadas nos processos analisados e dignos de
registro podem ser alinhada da seguinte forma:
101
• falta de pagamento de preparo e falta de pagamento de custas processuais, que
atingiu os processos n. 00189-2007-020-10-00-5 (lei de anistia e previdência
complementar) e n. 00029-2006-007-10-00-5 (demissão ilegal). Ambos os
processos transitaram em julgado, com a condenação no primeiro processo
superando R$ 1.000.000. Ambos os recursos desertos foram patrocinados pelo
mesmo escritório de advocacia, e a petição de recurso subscrita pelo mesmo
advogado (Escritório Ribeiro Coelho, petições de Alexandre Caputo Barreto,
OAB/DF 11789);
• intempestividade e falta de garantia do juízo no agravo de petição. Essa falha atingiu
o processo n. 00189-2007-020-10-00-5, e ocorreu já na fase de execução da
sentença (Escritório Ribeiro Coelho, petição de Alcimira Aparecida dos Reis
Gomes, OAB/DF 13710). Registre-se que ao não conhecimento do agravo de
petição seguiu-se recurso de agravo, considerado manifestamente improcedente,
com a condenação da CONAB ao pagamento de multa no valor de R$ 13.391,68;
• não autenticação das peças do agravo de instrumento e falta de afirmação de sua
autenticidade pelo advogado. Essa falha atingiu o processo n. 00073.2008.003.19.0,
já transitado em julgado, que discutia piso salarial da categoria de engenheiro
agrônomo, e ocorreu sob o patrocínio do escritório Farina Ventrilho Advogados
Associados (Dra. Danielle de Araújo Vanderlei);
• falta de medidas judiciais para reaver o valor de R$ 6.266,50, pago pela CONAB a
título de rescisão contratual, que foi posteriormente anulada pelo Poder Judiciário.
Essa falha atingiu o processo n. 00029-2006-007-10-00-5, já transitado em julgado e
que discutia demissão ilegal durante o gozo de auxílio-doença de empregado
comissionado. Se a demissão foi anulada, o empregado não poderia embolsar R$
6.266,50 de verbas rescisórias (verbas pagas por causa da demissão).
102
A procuração do reclamante foi outorgada para os advogados Ana Paula Bezerra de
Carvalho, OAB/DF 23500 e Rafael Oliveira Castro e Silva, OAB/DF 24115 e Silvana Ferreira
Vidal do Amaral, OAB/DF 22737 (fls. 16/17).
Contra essa decisão foi interposto recurso de revista por parte da CONAB (protocolo do
dia 10.12.2007), com base em divergência jurisprudencial em torno da interpretação do art. 6º da
Lei n. 8.878/94 (fls. 278/283, petição de Alexandre Caputo Barreto, OAB/DF 11789, escritório
Ribeiro Coelho). Referido recurso, todavia, não chegou a ser conhecido por falta de pagamento
das custas processuais a que foi condenada a CONAB em grau de recurso ordinário (fls.
287/288, decisão de 17.01.08). Mencionada decisão não foi desafiada por agravo de instrumento,
tendo transitado em julgado, em segunda instância, no dia 31.01.08, conforme certidão (fl. 291).
Em 08.05.08 o reclamante peticionou nos autos para requerer a remessa dos cálculos
atuariais ao CIBRIUS (fls. 294/295). A CONAB, por sua vez, tendo em vista a complexidade
dos cálculos, requereu dilação de prazo para a comprovação do cumprimento da decisão
transitada em julgado (fl. 301, protocolo de 11.06.08, petição de Alexandre Caputo Barreto,
OAB/DF 11789, escritório Ribeiro Coelho).
104
Em 15.07.08 a CONAB peticionou nos autos para juntar o comprovante de depósito
judicial do valor relativo a joia, na quantia de R$ 553.298,12 (fls. 303/305, petição de Alcimira
Aparecida dos Reis Gomes, OAB/DF 13170).
Dirimindo a questão, a juíza da 20ª Vara do Trabalho determinou à CONAB que fizesse
a complementação da diferença, em atenção aos termos do acórdão (fl. 376, publicação em
23.03.2009).
105
Contra essa decisão a CONAB interpôs o recurso de agravo, uma vez que a execução,
ao violar a coisa julgada, estaria eivada de nulidade passível de conhecimento de ofício pelo
juízo da execução. E sendo uma nulidade conhecida de ofício, desmedida é a exigência de
garantia do juízo para a parte que alega a mesma nulidade (fls. 418/431, petição de Alcimira
Aparecida dos Reis Gomes, OAB/DF 13710).
106
Em 06.09.2010, a CONAB peticionou nos autos para requerer a juntada do
comprovante de pagamento no valor de R$ 3.840,99, apontado pela contadoria judicial (fls.
517/520, petição de Larissa Machado Botelho, OAB/DF 25530). Em seguida, foi publicado
despacho (15.09.2010) intimando o reclamante para retirar o alvará de levantamento dos valores
relacionados ao depósito recursal (fl. 285) e ao restante depositado pela CONAB, tudo a título da
multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC (fl. 522).
No verso da folha 530 dos autos, informação manuscrita pelo reclamante de que recebeu
as guias de depósito, nos valores de R$ 15.054,14 e R$ 3.840,99 (petição de Jullyana
Nascimento Pereira, OAB/DF 30830).
Com base na análise dos autos da ação judicial, observa-se falha importante na atuação
da CONAB, tendo em vista o não conhecimento do recurso de revista interposto por esta em
função da falta de pagamento das custas processuais a que foi condenada em grau de recurso
ordinário. Em função de tal falha, o processo em análise transitou em julgado em segunda
instância. Mais sensível ainda torna-se tal falha considerando que referida condenação acabou
por alcançar o valor de R$ 1.115.863,59, segundo comprovante de pagamento ao beneficiário
acostado à fl. 510 do referido processo.
107
2 (dois) por ano, a partir de outubro de 1996, ou seja, ao longo de 14 (catorze) anos, muito
embora seja empregado da Reclama por apenas 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses, com reflexo
sobre 13º e 14º salários, anuênios, licença-prêmio, contribuição previdenciária pública e privada
e FGTS.
Para tonificar o seu pleito, o Reclamante utiliza-se das normas internas da Reclamada e
de julgados em pleitos semelhantes.
2- Carência de ação por ausência de interesse de agir: salienta que o tempo para discutir
a Resolução nº 11, de 11/10/1996, do CCE – Conselho de Coordenação e Controle das Empresas
Estatais, do Ministério do Planejamento, que determina aos dirigentes de empresas públicas,
dentre outras, a limitação a 1% (um por cento) da folha salarial o impacto anual com as
promoções por antiguidade e por merecimento, prescreveu, visto que já se passaram 14 (catorze)
anos, enquanto que o prazo prescricional geral é de 10 (dez) anos;
3- Prescrição total por ato único, ocorrida em agosto/1998, tendo em vista a prescrição
bienal disposta no inciso XXIX do art. 7º da CF e no art. 11 da CLT, considerando que a
violação do direito alegado ocorreu em agosto/1996, quando cessaram as promoções por
merecimento;
108
5.2- na ... – CONAB, ..., o mencionado empregado obteve, a partir de 01/01/1991, o
enquadramento no cargo/função TNS III – AUDITOR – FAIXA/NÍVEL SALARIAL 09/01,
previsto no Plano de Cargos Salários da CONAB/91 aprovado pela Resolução CCEE nº 11, de
20/11/1991, em vigor até a presente data, ...;
5.4- a interrupção nas promoções por merecimento deu-se por força da Resolução do
Ministério do Planejamento e, portanto, em estrita obediência ao princípio da legalidade;
5.9- ressalta, também, que o empregado, em face de seu contrato, não percebe 14º
salário e, portanto, não fazendo jus a qualquer valor, que tenha como base de cálculo essa
remuneração; e
5.10- refuta, por fim, os pedidos de justiça gratuita, bem como o pagamento dos
honorários advocatícios, para o caso de condenação, em razão da razoável remuneração do
Reclamante e do patrocínio por Advogado particular, dispensável na justiça do trabalho;
1- Rejeita forma de litisconsórcio necessário, por não verificar as hipóteses do art. 47,
do CPC;
109
2- Descarta a preliminar suscitada pela Reclamada, afirmando a presença do interesse
de agir, uma vez que este é fundamentado no binômio necessidade e utilidade;
3- Decide pela prescrição parcial, pois entende que se trata de prestações sucessivas
que se renovam no curso do contrato;
4- Acolhe, parcialmente, a prejudicial do mérito para extinguir as pretensões
anteriores a 18/01/2006, em razão da data de ajuizamento da Reclamação (18/01/2011);
5- Não acolhe as alegações da Reclamada quando diz que deixou de realizar as
promoções por merecimento em razão da limitação imposta pela Resolução nº 11 do CCE, pois
o impacto em relação à limitação não foi demonstrado. Afirma, ainda, que porque deixou de
aplicar as avaliações a seus empregados, se conclui que sequer tem elementos que lhe permitam
aferir a quantidade de trabalhadores a serem promovidos, quanto mais o impacto sobre a folha
de pagamento;
6- Dá-se por preenchidos todos os requisitos para a progressão, no limite máximo, 2
(dois) níveis por ano, a partir do marco prescricional (18/01/2006), até o limite da Carreira, em
razão da omissão do processo avaliativo; e
7- Defere o pedido de justiça gratuita ao Reclamante, visto que não se pôde infirmar a
veracidade da declaração de pobreza.
110
c) Depósito recursal e custas processuais devidos, recolhidos;
d) Instrumentos de mandatos regulares;
e) Recurso adequado a r. decisão recorrida.
Assim sendo, recebo o recurso interposto pela reclamada.
(grifo nosso)
Convém salientar também que, embora não conste dos autos entregues à Equipe de
Auditoria, e, ainda, não tenha a CONAB respondido questionamento solicitado em SA, apurou-
se no sitio do TRT que a não recepção do RO foi impugnada em Recurso de Revista, interposto
em 25/08/2011, o qual recebeu Acórdão de 05/09/2011, publicado no dia 13 seguinte, validando
o recolhimento de custas por estarem presentes elementos suficientes para vinculá-lo ao
processo, não havendo, portanto, que falar em deserção.
Feitas essas considerações, segue-se com a análise dos atos da CONAB no litígio:
111
3.3 não estabeleceu os limites objetivos para atuação do Magistrado, isto é, deixou de
especificar o tempo funcional do empregado, as normas vigentes quando da contratação e atuais
e, ainda, as promoções concedidas, inclusive aquelas reconhecidas pelo Reclamante; e
3.4 utilizou-se da justificativa que fundamentou, no uso do poder discricionário do
agente público, a concessão irregular de progressões salariais, afastando, por conseguinte, a
impossibilidade da aplicação da norma interna alegada.
2.2- como fato positivo: a organização dos fatos que justificam o direito pretendido.
Conclui-se, por fim, que as evidências aqui apontadas, extraídas dos atos processuais
promovidos pelas empresas terceirizadas, podem ser minimizadas mediante maior participação da
PROGE, não só no acompanhamento, mas também na própria formalização dos mesmos.
Em sua contestação (fls. 33/59, petição do Escritório Ozório e Ribeiro, procuração para
Fábio José de Oliveira Ozório, OAB/CE 8714, Clailson Cardoso Ribeiro, OAB/CE 13125, Leila
Queiroz Frossard, OAB/CE 20366-A, Suely de Medeiros Ozório, OAB/CE 10061, Dina
Emmanuelle Perez Medeiros, OAB/RN 5915, Cecilia de Araujo Campos, OAB/RN 5914,
Aparecida Érika de Meneses Dantas, OAB/CE 16271 e Eveline Andrade Rocha, OAB/CE
17244), a CONAB esclareceu que o reclamante foi admitido em 04.08.1983, demitido em
05.06.1990, readmitido, por conta da lei de anistia, em 03.08.1998, aderindo posteriormente a
um PDVI em 15.03.2002, e por fim voltando a ser readmitido em 22.11.2005.
112
Com relação aos períodos em que estava na empresa, mas antes da criação da CONAB,
argumentou serem indevidos todos os pleitos que estivessem relacionados com o plano de cargos
e salários anteriores ao adotado pela empresa fusionada. Disse ainda que a última readmissão
deveria contar como uma nova admissão para a eventual concessão dos efeitos financeiros
requeridos.
Contra essa sentença a CONAB interpôs recurso ordinário, insistindo na tese de que a
Lei n. 8.878/94 vedaria a concessão de efeitos financeiros a partir da data da readmissão do
empregado, e de que existiria um novo contrato de trabalho a partir de 22.11.2005, com o que
incabíveis a concessão dos anuênios e licenças-prêmio a luz do regulamentado de pessoal da
CONAB, que concederia esses benefícios para empregados admitidos até 13.10.1996 (fls.
196/219, petição de Valéria Cristina Furtado da Cruz Toscano de Castro, OAB/RN 4929,
substabelecimento do escritório Ozório e Ribeiro para Urbano Vitalino de Melo Neto, OAB/RN
525-A, Izaias Bezerra do Nascimento Neto, OAB/RN 513-A, Valéria Cristina Furtado da Cruz
Toscano de Castro, OAB/RN 4929, Sérgio Alves de Araújo, OAB/RN 7098, Isabelle Sousa
Martins, OAB/RN 8146 e Gláuber Alves Diniz Soares, OAB/RN 3390).
Por sua vez, o reclamante também interpôs recurso ordinário, para aduzir fato não
apresentado na petição inicial e relativo a falta de promoções por merecimento a que teria direito
o reclamante em virtude dos normativos internos da CONAB, pendentes de regulamentação por
conta da limitação imposta pela Resolução n. 09, do Conselho de Coordenação e Controle das
Empresas Estatais, a promoções por antiguidade e merecimento quando atingirem o percentual
de 1% da folha salarial da empresa.
Contra essa decisão a CONAB interpôs recurso de revista, por meio de seu próprio
corpo de procuradores (fls. 295/311, petição de Heyza Cristina de Sousa Martins Escanhuela,
OAB/RN 3592), inadmitido na origem ao fundamento de que não teria havido a comprovação do
dissídio jurisprudencial, ficando provado nos autos que a reclamada descumpriu obrigação
prevista em regulamento interno que previa a realização de avaliação dos seus empregados a
título de promoção por merecimento (fls. 317/318). Referida decisão está atualmente sendo
desafiada por agravo de instrumento, conforme andamento processual acesso no sítio do TRT da
21ª região.
Com base na análise dos autos, observou-se falha relevante na atuação da Companhia,
pois trata-se, portanto, de dois pedidos distintos. Assim, cabia à CONAB argüir que a postulação
do segundo pedido, não abrangido pela petição inicial, já em fase de recurso, é violadora dos
dispositivos do CPC, aplicado subsidiariamente, que tratam da estabilidade da lide (arts. 264 e
294 do CPC).
114
Os Fatos
1- Inconstitucionalidade da Lei 4950-A/66, no tocante ao seu artigo 5º, posto não ter
sido recepcionado pela Constituição Federal de 1988, pois há vedação expressa (art. 7º, IV,
CF/88) de vinculação do salário mínimo para fixação da política salarial;
4 - Refuta, por fim, a inexistência de dano moral, bem como o pagamento dos
honorários advocatícios, para o caso de condenação, em razão da razoável remuneração do
Reclamante e do patrocínio por Advogado particular, dispensável na justiça do trabalho;
115
Na sua manifestação referente à Contestação, o Reclamante reafirma as alegações da
inicial, bem como refuta os contra-argumentos da Reclamada.
No dia 14 de março de 2008, foi proferida a Sentença, que decidiu julgar procedentes
em partes os pedidos formulados na reclamação trabalhista ajuizada pelo empregado SIAPE
1493598 contra Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, para condenar a reclamada a
pagar ao reclamante no prazo de 48 h após o trânsito em julgado da presente decisão os valores
correspondentes aos pedidos deferidos, diferenças salariais, parcelas vencidas e vincendas.
Como foi aberta a possibilidade de nova manifestação por parte da Recorrente, também
foram concedidas vistas à Recorrida, momento em que essa requereu o prosseguimento do feito
até final decisão pelo improvimento do recurso patronal, fls. 481/482.
Tendo em vista o efeito modificativo que poderia advir do julgamento dos embargos
declaratórios, foi notificado o Embargado para impugná-los, o que fez às fls. 511/514, afirmando
que nenhuma razão assitia ao Embargante.
116
Continuando, afirmou que os Embargos teriam apenas um caráter protelatório, razão
pela qual rechaçou seus fundamentos, ao tempo em que acusou a parte Recorrente de Litigância
de má-fé, bem como da prática de ato atentatório à dignidade da Justiça.
Ao final, requereu que fosse conhecido e provido seu recurso, para que fosse
reconhecida a total improcedência da Reclamação Trabalhista, reformando-se, assim, o Acórdão
vergastado.
Nesse momento, o Processo sub analise tomou dois rumos diferentes: 1. os autos
originais voltaram à Vara do Trabalho de Origem, qual seja, 3ª Vara/TRT 19ª Região; 2. deu-se
seguimento ao Agravo de Instrumento acima mencionado, para o Tribunal Superior do
Trabalho.
117
Dando andamento no processo, foi requerido pela Reclamante, através de petição
protocolada em 01 de junho de 2009, que se iniciasse a fase de liquidação do julgado, bem como
fosse determinado o cumprimento da obrigação de fazer a que a reclamada fora condenada, em
razão de não existir, então, nenhuma decisão que suspendesse o Acórdão publicado em 16 de
março de 2009.
Irresignada, a Reclamada interpôs Recurso Extraordinário, com fulcro no art. 102, III,
"a", da Constituição Federal.
Pelo exposto, vislumbra-se que a atuação da CONAB, através dos seus procuradores e
escritórios contratados, na presente Reclamação Trabalhista, apresenta ressalvas.
Tendo em vista que o trabalho aqui realizado busca não apenas uma análise da linha
jurídica utilizada pelo causídico, mas também seu comprometimento, engajamento, zelo e
dedicação às atribuições emanadas do contrato firmado com à Companhia Nacional de
Abastecimento, sem deixar, contudo, de verificar sua eficiência e competência, não se pode
deixar de tecer comentários sobre dois fatos ocorridos no momento da interposição do Agravo
de Instrumento e do Recurso Extraordinário.
Ora, o Agravo de Instrumento teve seguimento negado por uma falha técnica que deve
ser levada em consideração, posto não ter sido observada determinação clara e expressa, contida
no § 5º, do art. 897 da CLT, bem como jurisprudência do TST, que exige, na ausência da
declaração do advogado, autenticação das peças transladadas, "uma a uma, no anverso ou
verso."
119
Assim, mais uma vez constatado equívoco por parte dos advogados da CONAB,
quando atacaram de forma equivocada a decisão que negou seguimento ao Agravo de
Instrumento, ocasionando nova frustração nas suas pretensões.
Observe-se que, de acordo com dados obtidos em consulta na Internet, essa errônea
manifestação (atacar a decisão monocrática através de Recurso Extraordinário, quando ainda
cabível outro recurso ordinário) foi tomada pelo Escritório Ribeiro Coelho Advogados, em que
atuam os advogados Dr. Luiz Filipe Ribeiro Coelho e Dr. Victorino Ribeiro Coelho.
Em 02.03.09 foi ajuizada reclamação trabalhista pela empregada SIAPE 1447787 contra
a CONAB, objetivando pleitear adicional por tempo de serviço e licença prêmio relativos aos
períodos anteriores a demissão da empregada e ao seu afastamento, e indo até a concessão da
anistia concedida pela Lei n. 8.878/94. Trata-se o caso de empregada admitida na então COBAL
em 08.11.85, e demitida no governo Collor em 30.06.90. Por força da referida lei, foi readmitida
aos quadros da CONAB em 01.04.04.
O embasamento para o pleito reside nos efeitos da anistia concedida à empregada, que
não teria o condão de gerar nova relação empregatícia, mas sim reconhecer a nulidade da
demissão anterior, com a consequente preservação de todos os direitos e respectivos efeitos
financeiros, ressalvado o disposto no art. 6º das Lei n. 8.878/94 (a anistia a que se refere esta Lei
só gerará efeitos financeiros a partir do efetivo retorno à atividade, vedada a remuneração de
qualquer espécie em caráter retroativo). O não reconhecimento desses direitos por parte da
CONAB estaria entrando em confronto com o art. 453 da CLT (no tempo de serviço do
empregado, quando readmitido, serão computados os períodos, ainda que não contínuos, em
que tiver trabalhado anteriormente na empresa, salvo se houver sido despedido por falta grave,
recebido indenização legal ou se aposentado espontaneamente), e por último, com base nessa
mesma constatação, estaria havendo violação ao princípio da isonomia.
Contra esse acórdão foi interposto Recurso de Revista (fls. 303/312, petição de Bruno
dos Santos Padovan, OAB/DF 28.460, protocolo de 05.10.2009), com a alegação de dissídio
jurisprudencial em torno da interpretação do artigo 6º da Lei de Anistia. Por decisão de folhas
314/315, foi negado seguimento ao referido recurso, ao argumento de que o julgado estaria em
sintonia com a OJSBDI1 transitória n. 56 (data de publicação: 10.11.2009).
121
No momento o processo se encontra em tramitação, sendo os pleitos da Companhia até
então atendidos. Da atuação da Companhia, observa-se que as contestações e recursos da Conab
foram corretamente fundamentados e interpostos tempestivamente, tendo sido reconhecido o seu
pleito, em sede de recurso, do não pagamento dos anuênios referentes ao período em que a
reclamante era funcionária da extinta Cobal.
Em 11.06.2006 foi protocolada reclamação trabalhista por Ernesto Martins Vieira, CPF
498.681.285-87 contra a CONAB, objetivando a anulação do ato daquela companhia que
rescindiu o contrato de trabalho, com a obrigação subsequente de custear suas despesas médicas
até a recuperação de sua capacidade laboral. Alega que ingressou na CONAB pelo permissivo
constitucional do art. 37, II, exercendo a partir daí funções relacionadas a assuntos
parlamentares. Afastado dos quadros da empresa por razões médicas, aduz que teve o seu
contrato de trabalho rescindido durante o gozo da licença para tratamento da saúde, o que seria
ilegal. Pleiteou ao final a tutela antecipada para permanecer ligado a CONAB (fls. 02/07, petição
de Dilsete Barbosa dos Santos Sá, OAB/DF 4501, procuração outorgada par Nelson Buganza
Júnior, OAB/DF 1973-A e Dilsete Barbosa dos Santos Sá, OAB/DF 4501).
A tutela antecipada pretendida foi indeferida, considerando não haver estabilidade para
os empregos públicos, além do que haveria atestado de profissional habilitado dando o
reclamante como apto ao trabalho (fl. 22).
Realizada audiência no dia 26.01.2006, não se obteve a conciliação. No mesmo ato, foi
apresentada contestação pela CONAB que pugnou, preliminarmente, pela isenção do pagamento
de custas e despesas processuais, por ser empresa pública prestadora de serviços públicos. No
mérito, aduziu que o reclamante já havia sido dispensado da função de confiança por meio da
Portaria 037/2003, apondo nela o seu ciente em 10.02.2003. Não obstante, apresentou a
CONAB, em 08.02.03, atestado médico registrando o seu afastamento, e a partir de 23.02.2003
passou a ser assistido pela previdência social. Referido benefício previdenciário cessou em
18.11.03, sendo concedido um segundo benefício, auxílio doença, com prazo de validade até
05.01.06. Na data imediatamente seguinte, 06.01.06, o reclamante compareceu ao serviço
médico da CONAB, e foi considerado apto ao trabalho. A Portaria 003/06, também do dia
06.01.06, deu pela segunda vez ciência da exoneração do reclamante, com a diferença de que
houve o depósito da rescisão na sua conta corrente. Portanto, o reclamante foi exonerado logo
após o retorno ao serviço, e não quando estava em gozo de licença para tratamento de saúde.
Registrou a CONAB que não poderia ter crédito o documento do INSS da cidade natal
do reclamante estendendo o benefício até 30/01/06, vez que com conteúdo diverso dos usados
anteriormente para a concessão do benefício (fls. 29/36, petição de Alexandre Caputo Barreto,
escritório Ribeiro Coelho).
122
A reclamante, em petição de 14.02.2006, impugnou o pedido de isenção de custas e
despesas processuais. No mais, comprovou estar incapacitado para o trabalho, conforme
declaração da unidade de atendimento do INSS na cidade de Inhumas/GO (fls. 143/144, petição
de Magda Ferreira de Souza, OAB/DF 19468).
Na decisão dos embargos, o juízo rejeitou a aplicação da súmula 363 do TST nos
seguintes termos (fls. 374/375):
123
Contra a sentença a CONAB interpôs recurso ordinário aduzindo que como se trataria
de uma função de confiança, a sua demissão poderia se dar a qualquer tempo, não havendo que
se falar em suspensão do contrato de trabalho (fls. 376/377, petição de Alexandre Caputo
Barreto, OAB/DF 11789).
Com os autos no TRT, foi o recurso da CONAB julgado deserto pela ausência de
comprovante de recolhimento das custas processuais (fls. 401/403, publicação em 28.09.2007).
Tendo em vista o escoamento do prazo acima sem pagamento, foi penhorado o saldo do
depósito recursal até o limite do débito exequendo (fl. 425). Contra essa decisão não foi
interposto nenhum recurso por parte da CONAB.
Os valores penhorados serviram para o pagamento dos honorários periciais (fl. 426) e
das custas processuais (fl. 430), vindo o processo a findar.
Se a exoneração foi anulada por sentença judicial, o reclamante não faria jus a essa
verba rescisória depositada pela CONAB, de modo que cabe à empresa pública a adoção de
medidas judiciais para reaver esse valor.
124
4. ALIENAÇÃO DE IMÓVEIS
Os Fatos Apurados
O processo para alienação do imóvel foi aberto, em 25 de abril de 2008, por meio de
solicitação da Superintendência de Administração, para a alienação do terreno localizado no
Setor de Clubes Norte, Trecho Enseada Norte 1, Lote 10, Brasília-DF.
No ano de 2008, três avaliações do imóvel foram realizadas, conforme a tabela abaixo:
125
Ordem Data Valor Empresa Técnico responsável
considerado
Distrito Federal civil, Crea 73553/ D-
MG
Fonte: GDF
Dessa maneira, foi solicitado para a Caixa Econômica Federal mais um laudo, visando o
levantamento do valor venal de mercado do imóvel.
A Caixa, por sua vez, contratou a empresa Patrimônio Engenharia S/S Ltda, CNPJ
01.258.898/0001-65, para a realização da avaliação, que ficou sob responsabilidade do
Engenheiro Civil Jair Bizerra de Araújo – CREA 2978/D DF. A data de avaliação é 28 de julho
de 2010 e estimou o valor de mercado do imóvel em R$ 8.030.000,00.
A amostra utilizada para estimar o valor venal do imóvel localizado no Setor de Clubes
Esportivos Norte, Trecho Enseada, Lote 10, apresenta 25 elementos, sendo que 22 (vinte e dois)
foram aproveitados no modelo desenvolvido. Entre os três elementos descartados, um deles é um
imóvel avaliado pela GRPU/DF em 2002, com 45.238,93 m², sendo o valor de venda de R$
91,73/m², e os outros dois elementos correspondem ao imóvel localizado no Setor de Múltiplas
Atividades Sul – SMAS Trecho 03 Lote 02, de 9.972,50 m², no valor de oferta de R$
1.819,50/m² em 2007 e valor de venda de R$ 2.043,23/m² em 2008, que também foi ofertado em
2004 e 2006, conforme disposto na tabela a seguir:
Cabe ressaltar que o valor de R$ 2.043,23, ofertado pela Terracap, resultou na venda do
imóvel localizado no SMAS Trecho 03 Lote 02.
126
Dos 22 (vinte e dois) elementos aproveitados no modelo desenvolvido, o avaliador
utilizou 04 (quatro) ofertas de 2002, 03 (três) de 2003, 05 (cinco) de 2004, 07 (sete) de 2005, 02
(duas) de 2008, uma de 2009 e uma de 2010.
Sendo 20 de ofertas referentes aos exercícios de 2002 a 2008, nos Setores de Clube
Norte e Sul e no Setor de Múltiplas Atividades Sul, e apenas dois elementos de imóveis
vendidos, por imobiliárias privadas, nos dois últimos anos da data de avaliação do imóvel (um
em 2009 e outro em 2010).
Cabe frisar que cada imóvel da Terracap foi indicado na amostra com o valor de oferta,
que é o valor mínimo ofertado, podendo, ainda, ser inferior ao valor pago pelo adquirente.
A avaliação da Terracap feita em 2008 para o imóvel da Conab sob análise, foi de R$
4.055.000,00, que corresponde a 65,72% da avaliação feita pela Caixa Econômica Federal para o
mesmo imóvel, no mesmo ano. Naquela oportunidade, a Conab considerou o valor da Caixa
Econômica insuficiente e arbitrou o valor para venda de R$ 7.850.000,00.
Ademais, informamos que o imóvel, está sujeito aos ditames da NGB – Normas de
Gabarito de Brasília - 32/85, cuja destinação, de acordo com informação obtida no sítio
http://www.brasilia.df.gov.br/sites/200/204/00000199.pdf, são “Clubes Esportivos, permitindo-
se proceder a atividades de treinamento profissional de seu pessoal no pavimento superior da
edificação do lote 10, do Trecho, Enseada Norte-1, do Setor de Clubes Esportivos Norte – RA-1;
não autorizado qualquer tipo de alojamento para os usuários. Deverão ser obedecidas as normas
de ocupação da área”.
127
E - NGB 82/96 - Trecho Enseada 1 Projeto Orla Pólo 3 Lote 22
F - NGB 84/96 - SCEN Trecho Enseada 1 Projeto Orla Pólo 3 Lote 23
A partir das informações relacionadas na tabela acima, percebe-se que, na região como
um todo, ocorreu na década de 90 um processo de alteração da destinação da área de uso
exclusivamente esportivo para uso comercial, inclusive com a destinação de hotelaria. No
entanto, não ocorreu a iniciativa da Conab de provocar junto aos órgãos competentes a
atualização da destinação do imóvel. Assim, durante a avaliação feita pela empresa Patrimônio
Engenharia, o imóvel foi considerado como sendo de uso restrito, o que reduz o valor final da
avaliação.
128
Após aprovação do laudo de avaliação pela Diretoria Colegiada, a minuta do edital foi
aprovada por meio do Parecer PROGE/SUMAD Nº BM – 196/2010.
A convocação para abertura das propostas foi publicada no Diário Oficial da União e no
jornal Correio Braziliense, em 24 de novembro de 2010.
Propostas:
Alissar: R$ 8.100.000,00
Bittar: R$ 8.030.000,00
David: R$ 8.005.001,99
Cabe frisar, que a posse do imóvel em apreço encontrava-se sub judice, tendo em vista a
Ação de Manutenção de Posse nº 2008.34.00.030344-5/DF, com agravo de instrumento nº
0027046-81.2009.4.01.000, ajuizada pela Associação Nacional dos Empregados da CONAB –
ASNAB, em trâmite na 6ª Vara Federal do Distrito Federal.
130
Sem contestações do critério utilizado na avaliação ou ao valor apresentado no laudo, a
Diretoria Colegiada da unidade aprovou a avaliação no valor de R$ 8.030.000,00 para a
alienação do imóvel, por meio do VOTO DIRAD Nº 100/2010, de 10 de agosto de 2010.
É importante destacar que, no final de 2008, a cidade de Brasília foi escolhida como
uma das sedes da Copa de 2014, o que requer o aumento da rede hoteleira e estrutura de lazer
para acolher os turistas que virão.
Os imóveis abaixo relacionados não foram objeto de denúncia, todavia, com vistas a
realizar uma análise acerca da conformidade dos procedimentos utilizados pela Companhia
quando da alienação de imóveis, o escopo da auditoria foi ampliado, incluindo outros imóveis
alienados.
131
A Conab promoveu, em 10 de dezembro de 2008, a abertura do processo licitatório
protocolado sob nº 21200.002566/2008-55, para alienação do imóvel composto de um terreno de
9.000 m², galpão e prédio com dois pavimentos englobando área construída de 4.367 m², onde
funcionou a Sede da Superintendência Regional da Conab no Estado da Bahia e a Unidade de
Comercialização de Salvador, localizado na Rua Cônego Pereira Marinho, 07, Bairro Sete Portas
- Salvador/BA, Matrícula 49.652 do 3º do Registro de Imóveis, adquirido em 22 de novembro de
1985 por Cr$ 4.500.000,00.
Em 27 de janeiro de 2009 foi aprovado por meio do VOTO DIAFI Nº 003/09, para
efeito de fixação do preço mínimo de venda, o laudo de avaliação supramencionado.
Em 04 de março de 2009 o Engenheiro Civil SIAPE 1272223 emitiu parecer s/n sobre o
Laudo de Avaliação de 17 de abril de 2008, como segue:
1.8- Com fulcro nestas observações podemos admitir com segurança que
o valor definido por essa comissão, como base para o peço mínimo, continua
condizente com o mercado imobiliário local, uma vez que nenhum fato novo e
relevante ocorreu na região que possa mudar os conceitos admitidos na
avaliação realizada pela Caixa Econômica Federal. Ademais a crise financeira
132
dos últimos meses afetou sobremaneira o mercado imobiliário obrigando
investidores a recuar em seus negócios face à escassez de recursos financeiros
disponíveis no mercado.
133
Em 13 de julho de 2009, O Presidente da Comissão Especial de Licitação, instituída
pela Portaria Presi nº 078, de 17/04/08, empregado SIAPE 1116921, despachou o processo para
a SUREG/PB para que o Engenheiro SIAPE 1272223, lotado e em exercício naquela Sureg, se
dirigisse ao Estado da Bahia para, ainda no mês de julho de 2009, procedesse a reavaliação do
imóvel da Conab localizado na Rua Cônego Pereira Marinho, 07, Sete Portas, Salvador/BA.
Nova licitação foi lançada ainda no exercício de 2009. Apesar do edital não ter sido
juntado ao processo, pela publicação do extrato, na quinta-feira, 17 de dezembro de 2009, no
Diário Oficial da União, no Jornal Valor Econômico e em outro jornal não identificado, foi
possível colher as informações relativas à Concorrência nº 013/2009, realizada para venda do
imóvel.
Ademais, na folha 146 do processo, foi juntada cópia da Comunicação Interna 053, de
21/01/10, demonstrando a urgência que estava dando para a obtenção de um novo laudo, como
segue:
134
interessados, o valor do laudo não condiz com o real preço de mercado,
necessitando portanto de uma avaliação atual”. No documento não está
indicado quem seriam os “interessados”. Uma vez que as três licitações foram
desertas, a princípio, não existiriam “interessados”.
135
No dia 01 de março de 2010, foi dada a autorização à Caixa Econômica Federal, via fax,
para a realização do serviço de avaliação do imóvel, pela Superintendente da Sureg/BA, SIAPE
1272944.
Para o cálculo do valor das benfeitorias foi usado o Método da Quantificação dos
Custos para identificar o custo de reedição das benfeitorias, obtendo-se o valor de reedição das
benfeitorias de R$ 3.207.777,21, sem considerar, a priori, a depreciação. O valor do imóvel,
calculando a depreciação, a partir da tabela de Ross-Heidecke, e considerando o imóvel com a
idade aparente de 40 anos, vida útil igual a 50 anos e estado de conservação ruim, foi de R$
2.225.632,81. Na avaliação feita em 17 de abril de 2008, a idade aparente do imóvel foi
considerada como sendo de 25 anos. Assim, o valor calculado das benfeitorias existentes foi de
R$ 982.144,39 (Valor de Novo - Depreciação).
136
Na concepção do projeto hipotético, de acordo com o item 8.2.2.2 da ABNT NBR
14653-2:2004, o engenheiro de avaliações deve verificar o aproveitamento eficiente para o
imóvel avaliado. A própria NBR 14653-2:2004 define, em 3.1, o aproveitamento eficiente como
aquele recomendável e tecnicamente possível para o local, numa data de referência, observada a
tendência mercadológica nas circunvizinhanças, entre os diversos usos permitidos pela legislação
pertinente.
137
(…)
Quanto a localização do imóvel avaliando é possível afirmar que o
mesmo está inserido em zona urbana de média atratividade do ponto de vista
comercial e de aproveitamento urbanístico, considerando a sua proximidade
com o Mercado de Sete Portas, enquadrando-se perfeitamente à tendência de
ocupação predominantemente nesta região para empreendimentos comerciais.
Porém, existe um redutor de atratividade para a sua comercialização imediata
representada por seu péssimo estado de conservação verificado no instante da
vistoria”.
(grifo nosso)
O avaliador não considerou que, no caso de instalação comercial, uma parte do terreno
poderia ser utilizada para estacionamento próprio para clientes, ou para manobras de veículos
pesados. Também é comum encontrarmos em empreendimentos comerciais, como
supermercados, a instalação do estacionamento no subsolo, maximizando o aproveitamento do
espaço edificado nos terrenos urbanos.
138
Ademais, é mister fazer menção ao fato de que a região em que se encontra o imóvel
está em área de acesso ao projeto Via Expressa Baía de Todos-os-Santos, projeto incluído no
Programa de Aceleração do Crescimento, com investimentos de 400 milhões de reais, para
ligação direta entre o Porto de Salvador e a BR324, numa parceria dos governos federal e
estadual e execução pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do estado da Bahia
(CONDER).
139
O Gerente da Gerência de Patrimônio e Seguros, SIAPE 1293300, por meio do
Despacho Supad/Gepas nº 063/2010, de 31 de maio de 2010, propôs a submissão da avaliação ao
Engenheiro SIAPE 1272223, como segue:
Já a afirmação feita no item “c” suscita dúvidas se o técnico da Conab leu o Laudo de
Avaliação da CEF, de 19 de maio de 2010. O potencial construtivo do terreno, cujos fatores
intrínsecos e extrínsecos estão amplamente desenvolvidos no corpo do laudo, indicam a
140
utilização comercial do mesmo e não a implantação de projeto residencial do Minha Casa Minha
Vida.
Finalmente, o Engenheiro SIAPE 1272223 sugeriu que fosse fixado, como preço
mínimo para a venda, o valor da mediana entre o máximo e o mínimo encontrados no cálculo
feito com base no Método Involutivo, ou seja, R$ 3.100.000,00 em valores arredondados.
O preço mínimo foi indicado pela DIRAD em conjunto com a GEPAS, após avaliação
feita por engenheiro lotado na SUREG/PB.
Foi então realizada, em 23/11/2010, a Concorrência n 003/2010, cujo objeto era a venda
do imóvel.
141
b) A BELLINTANI não fez constar cópia de documentos de RG e CPF do
representante. A Comissão informou que tal verificação foi feita quando do credenciamento,
sendo que a exigência expressa não consta do edital;
Ata da reunião do dia 23 de novembro de 2010, 15:00 horas (folha 361) da Comissão
Especial de Licitação, instituída pela Portaria PRESI nº 078, de 17/04/2008.
142
a, da Lei nº 8.666/93, questionando a habilitação do Consórcio PNSC - HEIL: Patrimônio Nossa
Senhora da Conceição Ltda, CNPJ 05.661.063/0001-02, Heil Assessoria Imobiliária Ltda, CNPJ
00.531.228/0001-08, uma vez que o mesmo:
143
frustrar o caráter competitivo da licitação, conforme apregoado de forma patente no
parágrafo 1º do artigo 3º da Lei nº 8.666/93;
• em relação a inexistência de comprovação de regularidade fiscal estadual e
municipal por parte das empresas integrantes do consórcio: é dispensável para o
presente caso, não consistindo obrigatoriedade legal, uma vez que o caput do artigo
29 da Lei nº 8.666/93 ao relacionar a documentação relativa à regularidade fiscal
cita “conforme o caso”. Entendendo a Comissão Especial de Licitação que para a
efetivação específica do objeto do certame, as certidões federais são as suficientes
para o mencionado fim de habilitação.
Diante do exposto, o Consórcio PNSC – HEIL foi habilitado para participar da próxima
fase da licitação.
Exaurido o prazo recursal sem consultas aos autos por parte dos licitantes participantes,
e nem apresentação de recursos no âmbito da SUREG/BA, a comissão de licitação publicou no
Diário Oficial da União a data de abertura das propostas: 02/02/2011, às 11horas.
144
No dia 15 de fevereiro de 2011 a Comissão levou ao conhecimento dos demais
licitantes o recurso impetrado pelo Consórcio PNSC – HEIL. No entanto, não houve
manifestação pelos demais licitantes.
Isto posto, tem-se que a Conab autorizou a alienação do imóvel por preço inferior ao
valor venal de mercado, tendo em vista ter sido aprovado na 960ª REDIR o VOTO DIRAD
nº 101/2010 que fixava o preço mínimo de venda do imóvel em R$ 3.100.000,00, conforme
valor calculado pela empresa Aval Engenharia de Avaliações e Meio Ambiente Ltda, CNPJ:
01.493.737/0001-56. A Companhia, todavia, desconsiderou o outro valor apresentado pela
empresa no mesmo laudo de avaliação, que, utilizando-se de outro método, estimou o preço do
imóvel em R$ 8.132.144,39.
Ademais, o valor aprovado pela Companhia é inferior até mesmo ao preço apresentado
em laudo de avaliação elaborado dois anos antes da alienação, que fixou o valor do imóvel em
R$ 4.300.000,00.
145
Finalmente, a Companhia desconsiderou fatores estruturais importantes, como a
construção da Via Expressa Baía de Todos os Santos, projeto que prevê a construção de
viadutos, ciclovias, integração com o sistema viário existente, além de promover melhoria na
logística de transporte e escoamento de produtos para o Porto. Nas áreas do entorno do imóvel,
será realizada a ampliação da Av. Heitor Dias, adjacente àquela em que se localiza o imóvel,
urbanização de encostas, criação de espaços comunitários para a população local e toda
infraestrutura necessária para o desenvolvimento industrial e comercial da área.
A Conab possuía um imóvel localizado na Rua General Potiguara, 1405, bairro Novo
Mundo, em Curitiba/PR. A área total do imóvel era de 100.000,00m², sendo que, em
28.852,90m², funcionava um Armazém Frigorífico da Conab, e os demais 78.147,10m² um
terreno.
Em 17/07/2003, foi elaborado Laudo de Avaliação pela CEF, eng. Carlos Rogério Litz
(Crea n 23384-D/PR), que determinou o valor mínimo para venda do terreno em R$
2.220.000,00. Foi solicitado, por meio de Despacho da SUARM/GERAP s/n, a não utilização
deste laudo como parâmetro na determinação do valor do imóvel, já que o valor do m²
apresentado no laudo era, sem a devida justificativa, 10% inferior ao determinado na avaliação
anterior, que foi realizada quando da tentativa de alienação do imóvel por meio da concorrência
Sureg/PR n 01/2002. Tendo em vista que os imóveis da região haviam se valorizado no intervalo
de tempo entre as duas licitações, era de se esperar o mesmo para o imóvel da Conab. O pedido
foi acatado e não houve licitação tendo como base o valor supramencionado.
Durante os anos de 2004, 2005 e até meados de 2006, não foi adotada qualquer medida
com vistas ao andamento da alienação do terreno anexo à unidade frigorífica; as decisões
tomadas disseram respeito a procedimentos para reforma e reabertura do armazém.
146
contratasse diretamente a CEF ou profissional habilitado e que, uma vez viabilizada a questão, o
laudo fosse enviado à GRPU para homologação.
Considerando que o edital foi publicado em 25/03/2008 com data de abertura das
propostas prevista para 12/05/2008, foi colocado em discussão se a licitação poderia ser
realizada após expirado o prazo de validade do laudo de avaliação, já que este expirava em
18/04/2008. A SUPAD se manifestou, por meio do Parecer n 006/2008, assinado pelo gerente
substituto de patrimônio e seguros, SIAPE 1268182, com o entendimento de que o laudo era
válido, vez que o edital foi publicado antes do seu vencimento; já a Procuradoria Regional da
Sureg/PR, por meio do Parecer n 022/2008, assinado pelo Procurador Regional, SIAPE 1527047,
apresentou entendimento de que não havia óbice legal à realização da Concorrência,
argumentando que todos os procedimentos necessários para a perfeita realização da alienação
foram seguidos.
O entendimento acima não foi, todavia, atendido, e o certame licitatório foi realizado
sem o Voto da Diretoria Colegiada aprovando novamente o preço mínimo, nem comprovação
nos autos, da presença de requisitos capazes de ensejar a excepcionalidade.
147
Importante mencionar que, em que pese ambas as empresas participarem do certame em
consórcio, na Ata de Abertura da Concorrência é informado que houve apenas um participante
no certame, a empresa Perfimec S/A Centro de Serviços em Aço, e não um consórcio formado
por esta e a Central Curitibana de Corte e Dobra de Aço Ltda.
• Abertura da licitação ocorreu sem laudo de avaliação válido, visto que o mesmo se
encontrava expirado desde a data de 18 de abril de 2008;
• O imóvel encontra-se penhorado pela justiça do trabalho, enquanto que o item 49 do
Edital da licitação expressamente dispõe inexistirem gravames de qualquer natureza
recaindo sobre o imóvel. O reclamante argumenta que, sem o conhecimento sobre a
real situação do bem, não há como produzirem ofertas sérias e objetivas;
• A modalidade de licitação que deveria ter sido utilizada era o Leilão, e não
Concorrência
• Há descumprimento do Edital pela proponente vencedora, já que este exigia
expressamente (item 20.2 d) que, em hipótese de consórcio, sua constituição deve
ser por documento público, enquanto que o proponente vencedor foi constituído por
instrumento particular, o que invalidaria sua formalização;
• Ausência de certidões negativas e individuais, como exige o art. 33, III da Lei
8.666/93. Não houve, na verdade, a produção de nenhuma documentação atinente à
regularidade fiscal.
Quanto aos demais pontos aventados pelo reclamante José Gabriel Sagboni Teixeira
Lemos, o Parecer apresentou os seguintes argumentos:
• O leilão só deve ser utilizado quando o imóvel foi adquirido por decisão judicial ou
dação em pagamento, conforme dispõe o inciso III do art. 19 da Lei 8.666/93;
• O inciso I do art. 33 da Lei 8.666/93 dispõe que, quando permitida na licitação a
participação de empresas em consórcio, deve ser comprovado o compromisso
público ou particular de constituição do consórcio público;
148
• A Concorrência para alienação de imóvel é procedimento mais simples quando da
habilitação do participante, já que o art. 18 da Lei 8.666/93 informa que na
concorrência para a venda de bens imóveis, a fase de habilitação limitar-se-á à
comprovação do recolhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por cento) da
avaliação.
Finalmente, o Parecer informa que a alienação do imóvel deve se dar somente após
sanadas as questões pendentes, tal como a baixa das penhoras, a regularização da avaliação do
imóvel, adequando o Edital da Licitação.
Com vistas a uma nova aferição do valor do terreno, já que era necessária uma
atualização do valor, foi designado o empregado da Conab SIAPE 1270298 para, em viagem a
Curitiba, aferir as alterações do preço de mercado do terreno. No Relatório elaborado pelo
funcionário, este concluiu que o preço do m² de imóvel com características semelhantes ao
terreno da Conab era cerca de R$ 71,59m². Com base nesse valor determinado em análise
superficial, não se caracterizando num laudo de avaliação, o imóvel teria o valor de R$
5.594.550,9. Adicionalmente, o empregado informa que considera que um resultado mais preciso
seria aferido por meio de uma nova avaliação da CEF ou do Banco do Brasil.
149
no laudo de avaliação de 18/04/2007 (R$ 4.610.000,00) somado à correção pelo INPC (R$
147.833,69).
Das análises, verificou-se que não foi apresentada justificativa para alienação deste
imóvel, tendo em vista que o terreno não está relacionado no Relatório do Grupo de Trabalho,
tampouco consta no processo documento que demonstre a necessidade da Companhia de alienar
o imóvel.
Ademais, com base nos fatos acima apresentados, conclui-se que a alienação do imóvel
levada a termo pela Conab encontra-se, efetivamente, eivada de vícios, já que o laudo de
avaliação do imóvel estava com prazo expirado e, consequentemente, não poderia ter sido
utilizado. Ademais, o fato de o edital apresentar a informação de que não constavam gravames
sobre o imóvel, enquanto na escritura deste constar seis penhoras, causa incerteza e insegurança
em possíveis licitantes, o que prejudica a participação destes e uma ampliação da concorrência,
objeto de todo certame licitatório.
Também não fica claro quais motivos ensejaram a mudança de posição da Proge/Sumad
que, inicialmente manifestou-se a favor da revogação do certame licitatório, e, 19 dias depois,
emitiu novo Despacho, sem apresentação das devidas justificativas, modificando o
posicionamento e entendendo que a convalidação dos atos e manutenção da venda seria a
posição correta a ser acatada.
Adicionalmente, resta claro que o imóvel alienado pela Companhia resultou em prejuízo
ao erário, já que seu valor de venda estava subavaliado, conforme informações apresentadas por
engenheiro da própria Empresa Pública, que, em análise preliminar, concluiu que o m² custava
em torno de R$ 71,59, 21% superior ao preço do m² utilizado na alienação do imóvel, e, por essa
razão, o próprio recomendou a elaboração de novo laudo para aferição do valor correto de
mercado do terreno.
151
Em 17 de abril de 2008 foi instituída a Comissão Especial de Licitações da CONAB
pela Portaria nº 078, sendo posteriormente alterada pela Portaria nº 235, de 31 de agosto de 2009,
que substitui o membro SIAPE 1272233 pelo funcionário SIAPE 1293300.
152
Em 16 de outubro de 2008 a Conab lançou a Concorrência nº 003/2008 para alienação
do imóvel localizado na Avenida Coronel José Lobo, 939 – Paranaguá/PR, com data de abertura
dos documentos de habilitação e propostas para 1º de dezembro de 2008, às 10 horas.
A razão para utilização do fator de comercialização igual a 1,0, uma vez que na primeira
avaliação feita pela mesma empresa o valor adotado foi de 1,09, foi justificado na avaliação em
questão, como segue:
154
Na 929ª REDIR, de 16 de dezembro de 2009, foi aprovado o VOTO DIRAD Nº 120/09,
de 15 de dezembro de 2009, do Diretor de Diretoria Administrativa, SIAPE 0336585, que propôs
a fixação do preço mínimo de venda, constante do laudo de avaliação com valor de avaliação de
R$ 3.453.000,00 e valor mínimo de R$ 3.132.000,00.
155
A empresa Grande Muralha foi considerada vencedora da licitação. As empresas
participantes abriram mão de eventuais recursos, tanto quanto a parte da análise da habilitação
quanto à análise das propostas. A ata foi assinada pelos membros da Comissão (SIAPE 1116921,
SIAPE 1293300, SIAPE 1268182 e SIAPE 1581287) além dos representantes das duas empresas
(Hélio de Andrade e Jiang Nanxiong).
Das análises, conclui-se que a Conab decidiu desativar e alienar o imóvel por entender
que a Unidade Armazenadora de Paranaguá/PR estava dissociada da missão da Conab, entre
outras razões. Todavia, duas fotografias juntadas aos autos, anexas ao Laudo de Avaliação de 24
de novembro de 2009, mostram a movimentação de um caminhão com sacos na carroceria e
parte do armazém sendo utilizado.
Com o intuito de alienar o imóvel, a Companhia realizou ao longo dos últimos quatro
anos três avaliações do imóvel, sendo duas contratadas junto à Caixa Econômica Federal, CNPJ
00.360.305/0001-04 (primeira e terceira avaliações) e uma junto à Comissão de Valores
Mobiliários do Paraná, CNPJ: 76.662.089/0001-13 (segunda avaliação).
As duas avaliações contratadas junto à Caixa Econômica Federal foram feitas pela
mesma empresa e pelo mesmo Engenheiro. Assim, a segunda avaliação junto à CEF tende a
156
ratificar as informações contidas na primeira avaliação. Dessa forma, uma vez que a primeira
avaliação já havia sido contratada junto a Caixa Econômica Federal, a Conab poderia ter
contratado a avaliação junto ao Banco do Brasil, conforme permitido no inciso IV de seu
normativo 60.208, de forma a obter uma avaliação totalmente dissociada das até então
realizadas.
Finalmente, novos exames deveriam ter sido realizados pela Companhia quando do
recebimento da terceira avaliação do imóvel, considerando a contradição na desvalorização do
imóvel, ao longo do período entre a primeira e a terceira avaliações, tendo em vista que este
está localizado a 800 metros do porto de Paranaguá, terceiro maior porto do Brasil em volume de
carga/descarga.
A avaliação das máquinas e equipamentos foi realizada pela empresa CLM Inc e
Construções Ltda, CNPJ 05.693.120/0001-35, sendo o engenheiro responsável Carlos Henrique
Maibon Andreoli. O método utilizado foi o de custo de edição/comparativo de mercado, e o
valor de avaliação R$ 962.000,00.
157
Quanto à avaliação do imóvel, esta foi realizada pela empresa Patrimônio Engenharia
Ltda., CNPJ 03.496.969/0001-9 e o responsável técnico Eduardo da Costa Silveira. O método
utilizado foi o comparativo de dados de mercado, com valor venal do imóvel estimado em R$
5.361.000,00, com intervalo de confiança determinando o valor mínimo em R$ 4.621.000,00 e
valor máximo R$ 6.165.000,00.
O Voto propõe que seja fixado o preço mínimo de venda dos equipamentos em R$
962.000,00 e o preço mínimo de venda do imóvel em R$ 4.621.000,00. Consequentemente, o
Voto DIRAD nº 080/2011 propõe a fixação do preço mínimo do imóvel em valor inferior ao
preço determinado pelo laudo de avaliação, e sem manifestação da área técnica acerca da
avaliação técnico-operacional e financeira do empreendimento. O Voto foi aprovado em
20.07.2011 na 1005ª REDIR, com assinaturas do Presidente e do Diretor de Abastecimento. O
diretor da DIPAI estava em férias e a Diretoria Financeira estava interinamente assumida pelo
Diretor Administrativo.
Ademais, tendo em vista os gastos de pouco mais de 8.000.000,00 nos últimos 10 anos
para reforma do imóvel, cabe à Conab questionar o laudo realizado pela CEF, tendo em vista
este não considerar as benfeitorias advindas da reforma na avaliação do imóvel.
158
4.2.5 - EDIFÍCIO – SEDE E COMPLEXO ARMAZENADOR – SÃO PAULO/SP
Os fatos sobre a alienação do imóvel
Verificou-se que o avaliador optou pela adoção do método denominado involutivo nos
dois laudos, de acordo com metodologia preconizada pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). O método reside, basicamente, em um estudo de viabilidade econômica de
um empreendimento hipotético compatível com as condições locais, cujo objetivo é estimar o
seu valor de mercado. Consequentemente, o valor do terreno – uma vez que é desprezado o valor
da construção que atualmente ocupa o imóvel – é calculado a partir da simulação da implantação
de um empreendimento residencial.
Em 26.01.2009 foi aprovado pela Diretoria, por meio do voto Diafi nº 007/2009, o
laudo de reavaliação no valor de R$ 10.600.000,00 (dez milhões e seiscentos mil reais).
Em 14.05.2009 foi autorizado que o imóvel fosse alienado com entrada de 40%
(quarenta por cento) e o restante em 06 (seis) parcelas.
159
Em 21.05.2009 foram publicados os seguintes avisos de licitação: Diário Oficial da
União, Valor Econômico, Folha de São Paulo referentes à Concorrência nº 010/2009 –
realizada em 17.07.2009.
Três dias antes da sessão pública do certame, portanto, em 14.07.2009 foi realizada
vistoria prévia pela única empresa participante.
c)Estima-se o valor que se espera obter com a venda das unidades, multiplicando-se o
preço médio de venda das unidades pela área computável;
e)Pressupõe que as despesas tributarias correspondam a 10% (dez por cento) da receita
de vendas;
160
f) Estima-se o custo da construção a partir do valor do PINI (índice de edificações) com
o acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento) a título de BDI (Benefícios e Despesas Indiretas),
projetos, cópias, emolumentos, orçamentos, movimento de terra, fundações especiais, ar
condicionado, aquecedores e paisagismo, etc;
Isto posto, tem-se que a CONAB alienou, em 2009, por meio da Concorrência n
010/2009, o imóvel localizado na Av. Mofarrej, nº 348- Lapa, São Paulo – SP, por R$
10.600.000,00.
Ainda, sobre a alienação do citado imóvel, registra-se que, cerca de 7(sete) meses antes
da data de publicação do aviso da primeira licitação de alienação, nos termos da Concorrência nº
001, que foi 17.10.2008, retificada em 20.10.2008, despacho do Superintendente Regional - São
Paulo, datado de 20.03.2008, tendo como destinatário a Presidência da Conab, apresenta
considerações sobre a inviabilidade de manutenção da Sede no imóvel da Companhia.
161
Assim, em Despacho de 20.03.2008 direcionado à Presidência da Companhia, o então
Superintendente da Sureg/SP tece considerações sobre a inviabilidade de manutenção da Sede no
imóvel da Conab:
162
• Valor: R$ 3.500.000,00 – R$ 3.375,00 por m²
• Restrições: condomínio de R$ 16.016,89 mensais
Foi contratada junto à Caixa Econômica Federal a execução de avaliação do imóvel, que
foi realizada pela empresa Engehouse Serviços e Consultoria de Engenharia Ltda., CNPJ
05.647.495/0001-69, tendo sido estimado o valor de mercado da venda do imóvel em R$
3.485.000,00.
Foi elaborado o Voto DIAFI nº 43/08 propondo a aquisição do imóvel pelo valor da
avaliação emitida pela CEF. Tal Voto foi aprovado na REDIR nº 846 de 25.03.2008 e, um dia
depois, dia 26.03.2008, na reunião do Conselho de Administração nº 179, tendo sido consignado
pelo Conad que fosse “observada a legislação pertinente e os normativos internos”.
A aquisição deu-se sem licitação, não havendo, nos autos, fundamentações técnica e
jurídica no sentido de que o referido imóvel era o único a atender às necessidades da Conab.
164
A inexistência de recursos ensejou remanejamentos posteriores, em descumprimento ao
fluxo administrativo da Companhia.
5. SUBVENÇÃO ECONÔMICA
Abertura
Edital Data CNPJ Dias* Razão social Status
da Matriz
165
Abertura
Edital Data CNPJ Dias* Razão social Status
da Matriz
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
163/2010 08/07/2010 12128015000119 25/06/2010 13 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
170/2010 15/07/2010 12128015000119 25/06/2010 20 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
180/2010 29/07/2010 12128015000119 25/06/2010 34 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
COMEX - COMERCIO, IMPORTACAO,
EXPORTACAO E REPRESENTACAO DE
CEREAIS E INSUMOS AGRICOLAS LTDA
152/2010 01/07/2010 12000225000127 26/05/2010 36 EPP ATIVA
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
187/2010 05/08/2010 12128015000119 25/06/2010 41 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
194/2010 12/08/2010 12128015000119 25/06/2010 48 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
NUTRIPESO INDUSTRIA E COMERCIO DE
34/2011 09/02/2011 13002776000192 10/12/2010 61 RACOES LTDA ATIVA
RONDINI COMERCIO IMPORTACAO E
6/2011 11/01/2011 12838773000120 11/11/2010 61 EXPORTACAO DE CAFE LTDA ATIVA
NUTRIPESO INDUSTRIA E COMERCIO DE
38/2011 16/02/2011 13002776000192 10/12/2010 68 RACOES LTDA ATIVA
18/2010 29/01/2010 11333008000196 13/11/2009 77 E ROCHA DE SOUZA & CIA LTDA-ME ATIVA
COMEX - COMERCIO, IMPORTACAO,
EXPORTACAO E REPRESENTACAO DE
CEREAIS E INSUMOS AGRICOLAS LTDA
194/2010 12/08/2010 12000225000127 26/05/2010 78 EPP ATIVA
EUNICE FRANCISCA FAGUNDES
367/2010 09/12/2010 12584797000109 21/09/2010 79 80455484104 ATIVA
NUTRIPESO INDUSTRIA E COMERCIO DE
59/2011 02/03/2011 13002776000192 10/12/2010 82 RACOES LTDA ATIVA
NUTRIPESO INDUSTRIA E COMERCIO DE
58/2011 02/03/2011 13002776000192 10/12/2010 82 RACOES LTDA ATIVA
SUSPE
1/2010 07/01/2010 11205517000133 01/10/2009 98 MOGARGAROTA ALIMENTOS LTDA NSA
BAIXA
1/2010 07/01/2010 11224898000106 01/10/2009 98 MOSUL ALIMENTOS LTDA. DA
170/2010 15/07/2010 12009336000285 08/04/2010 98 COMMERCE COMERCIO DE GRAOS LTDA ATIVA
175/2010 22/07/2010 12009336000285 08/04/2010 105 COMMERCE COMERCIO DE GRAOS LTDA ATIVA
BAIXA
12/2010 21/01/2010 11224898000106 01/10/2009 112 MOSUL ALIMENTOS LTDA. DA
180/2010 29/07/2010 12009336000285 08/04/2010 112 COMMERCE COMERCIO DE GRAOS LTDA ATIVA
187/2010 05/08/2010 12009336000285 08/04/2010 119 COMMERCE COMERCIO DE GRAOS LTDA ATIVA
COSTA FREITAS INDUSTRIA E COMERCIO
295/2011 28/07/2011 13438086000180 29/03/2011 121 DE GRAOS LTDA ATIVA
194/2010 12/08/2010 12009336000285 08/04/2010 126 COMMERCE COMERCIO DE GRAOS LTDA ATIVA
12/2010 06/05/2010 11430484000125 23/12/2009 134 JACKSON REIS DOS SANTOS ATIVA
COOPERATIVA MISTA AGROPECUARIA
10/2011 12/01/2011 12510123000151 30/08/2010 135 COOPVERDE ATIVA
JATOBA COMERCIO IMPORTACAO E
311/2010 18/11/2010 12128015000119 25/06/2010 146 EXPORTACAO DE CEREAIS LTDA ATIVA
140/2011 10/05/2011 12965262000170 30/11/2010 161 D'ALMEIDA ALIMENTOS E FRIOS LTDA ATIVA
* A coluna “dias” indica o a quantidade de dias entre a abertura da empresa matriz e o leilão.
Observe-se que a empresa Commerce arrematou leilão da Conab por intermédio da filial
de JATAÍ/GO, mesmo município da sede da empresa Jatobá Comércio Importação e Exportação
166
de Cereais Ltda. Considerando a data de abertura da filial, em 25/06/2010, a primeira contratação
da empresa Commerce teria ocorrido com 20 dias da data da constituição de sua filial.
Adicionalmente, constatou-se que o Sr. Ivanilson e o Sr. Márcio são também sócios-
administradores da Villagio desde 10/03/2003. A empresa, aberta em 10/03/2003, tem sede em
Contagem/MG.
Ressalta-se que esses dois Senhores constam como empregados da Laco Assessoria e
Representação Comercial Ltda., CNPJ nº 02.595.332/0001-91. O primeiro, de 01/03/2001 a
30/06/2005, no cargo de Auxiliar de Escritório, com salário base de R$ 486,82. O segundo, de
02/10/2000 a 30/06/2005, no cargo de Gerente Administrativo, com salário base de R$1.214,40.
Vale mencionar que essa empresa, atualmente na situação baixada, pertencia a Carlos
Otávio Stein Pena e Cláudio Fernando Stein Pena. Portanto, evidencia-se que o encadeamento de
vínculos corrobora as denúncias de que os irmãos Stein Pena teriam diversas empresas de
fachada, dentre elas a Commerce.
167
A relação apresentada a seguir indica os lotes arrematados pelas empresas Commerce,
Villagio e Exporta, desde 2010.
Lotes de leilões a partir de 2010 que tiveram uma das duas empresas acima como
arrematantes
Fato 1 - Agricultores receberam valor inferior ao Preço Mínimo estipulado pela CONAB,
na venda de milho realizada em 2010.
De uma amostra de 24 agricultores, foram realizadas entrevistas com 17. Dos demais, 5
se negaram a receber a equipe da CGU e os 2 restantes não se encontravam em Jataí/GO.
Segundo relatos apresentados pelos agricultores, para fechar o negócio, alguns tiveram
que emitir notas no valor de R$17,46 e entregar à empresa um cheque no valor do deságio
168
correspondente à diferença entre o preço mínimo estipulado no Aviso PEP 175/2010 e o preço
efetivamente pago.
Nas entrevistas realizadas a equipe pôde obter evidências de que houve plantio
compatível com as vendas efetuadas. Além de solicitar ao agricultor informações sobre sua
produção, foram feitas perguntas sobre produção de grãos de outros agricultores do local,
obtendo respostas que indicavam áreas de plantio compatíveis com as vendas de milho.
Visita em três propriedades confirmou o fato acima, haja vista que se verificou a
existência de grandes galpões abrigando máquinas e implementos agrícolas de grande porte,
como tratores, plantadeiras, adubadeiras, colheitadeiras e pulverizadora Uniport.
No dia 14/09 a equipe visitou o endereço, sendo recebida pela única pessoa no local,
que se identificou como secretária. Questionada sobre o responsável pela empresa, informou que
os donos não moravam em Jataí. Solicitado algum responsável que em Jataí, a secretária indicou
o Sr. João Luiz, gerente do Espaço Armazéns Gerais. Foi marcada uma reunião com Sr. João
para dia 15/09. A empresa Commerce encontra-se no endereço informado, possuindo a fachada
indicada acima.
169
Foto: Entrada da empresa Commerce em Jataí/GO.
Citou que, além da Commerce, é parceiro de outras empresas tais como Cargil,
Caramuru e Dreyfus. Informou que ofereceu aos clientes que possuíam milho estocado a opção
de venda para a Commerce. No entanto, não soube informar sobre os Documentos
Confirmatórios das Operações – DCOs nem a listagem dos produtores clientes da Espaço
Armazéns Gerais que venderam para a Commerce.
Indicou como contato na Commerce o Sr. Márcio Maldo que mora em Mogi-Mirim/SP.
170
Alguns entrevistados afirmaram que venderam diretamente para a Espaço Armazéns
Gerais ou para a corretora Rafaela, da Terra Corretora, que opera na mesma sede da arrematante
Jatobá, desconhecendo a Commerce e o fato de constarem como beneficiários do PEP.
172
Foto 01 – Placa indicativa da Empresa Villagio. O localFoto 02 – Detalhe de conta de água e esgoto deixada na
encontra-se fechado, sem movimentação de veículos eEmpresa há dias, evidenciando a inexistência de pessoas no
pessoas. local.
Foto 03 – O hidrômetro existente na calçada da Empresa Foto 04 – Janelas existentes na fachada da Empresa
encontrava-se fechado no momento da visita da equipe de estavam fechadas e empoeiradas, sem vestígio de pessoas
fiscalização. trabalhando no local.
173
Foto 06 – Vista parcial dos fundos da Empresa. Foto 07 – Medidor de energia danificado e sem
movimentação de consumo no interior da Empresa.
Segundo dados coletados nos processos da empresa pela equipe em campo, a nova sede
da Villagio seria em Belo Horizonte/MG, na Rua Jurupari, n.º 210, Bairro Santa Lúcia. Imagem
obtida pela equipe indica sede moderna, porém sem identificação da empresa na fachada.
174
Fato 1 - Indícios da prática de venda casada desfavorecendo o produtor rural.
Foram visitadas 19 fazendas, todas existem de fato e possuem áreas compatíveis com as
produções declaradas.
Houve indícios de pagamento de deságio por parte do agricultor em seis casos – uma
vez que foi constatada a venda casada, situação em que o produtor realiza duas ou mais vendas
em datas próximas com preços diferenciados: R$17,46 e R$14,00 ou R$14,20. Nesse caso, há
ciência do produtor que é obrigado a vender seu milho com preços diferenciados.
Outros indícios de cobrança de deságio ficam por conta de compras realizadas pela
arrematante de um mesmo produtor em datas próximas – cerca de 15 ou 30 dias – em que são
praticados dois preços.
Em uma nota fiscal surge o preço mínimo de R$17,46 fixado pelo Governo com registro
do número do aviso e do DCO – Documento Confirmatório da Operação – e em outra NF não há
registro de aviso e DCO, caracterizando que a transação fora realizada entre particulares e sem a
incidência das normas do PEP . Nessas o preço oscila entre R$14,00 e R$14,50.
175
176
As evidências indicam vínculos operacionais com a SPASSO Empreendimentos e
Serviços Ltda. (CNPJ 01.457.287/0003-08) - cujos sócios são Carlos Otávio Stein Pena e
Cláudio Fernando Stein Pena e com a Nova Ponte Serviços Gerais - NOVAGEL (CNPJ
01.053.102/0001-38) – cujos sócios são Rafael Mundim Pena, Karin Stein Pena e Mariana
Pinheiro Stein Pena, permanecendo Carlos Otávio Stein Pena sócio até 2002.
177
Fato 2 - Extrapolação dos limites definidos nos Avisos de PEP de Milho 152/2010, 163/2010
e 170/2010, resultando no pagamento indevido de prêmio no valor de
R$690.115,11.
O dispositivo do Aviso que regula esse tipo de ocorrência, conforme destacado no item
1.5.2 de cada um dos Avisos em tela, consiste na abstenção do pagamento pela CONAB do
prêmio ao arrematante relativamente ao quantitativo que superasse tal limite.
178
Item 11 in verbis:
Valor do
Nota Data da Total da Valor total da
DCO Prêmio (em
Fiscal Nº NF NF (kg) NF(R$)
R$)
960844 26/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4247-7 77.000,00
960845 26/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4248-7 77.000,00
961320 6/8/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4245-0 77.000,00
961323 6/8/2010 382.545 111.320,60 00-634.4246-9 74.415,11
961319 6/8/2010 282.326 82.156,87
960843 26/7/2010 335.129 97.522,54
Total 4.000.000 1.164.000,01 305.415,11
Valor do
Nota Data da Total da Valor total da
DCO Prêmio (em
Fiscal Nº NF NF (kg) NF(R$)
R$)
960836 26/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4038-5 77.000,00
960839 26/7/2010 782.363 227.667,63 00-634.4039-3 77.000,00
960840 26/7/2010 217.637 63.332,37
960837 26/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4041-5 77.000,00
960838 26/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4040-7 77.000,00
Total 4.000.000 1.164.000,00 308.000,00
Valor do
Nota Data da Total da Valor total da
DCO Prêmio (em
Fiscal Nº NF NF (kg) NF(R$)
R$)
960970 30/7/2010 169.295 49.264,84 00-634.4371-6 153.800,00
960971 30/7/2010 830.705 241.735,15
960972 30/7/2010 1.000.000 291.000,00
960973 30/7/2010 1.000.000 291.000,00 00-634.4372-4 153.800,00
960974 30/7/2010 1.000.000 291.000,00
Total 4.000.000 1.163.999,99 307.600,00
179
Fiscalização da CGU sobre a empresa EXPORTA
Fato 1 - Pagamento abaixo do preço mínimo aos produtores rurais no âmbito de operações
de PEP – Milho - efetuadas pela empresa Exporta Comércio de Grãos e Logística
Ltda.
Município de Sinop/MT
O referido produtor afirmou, ainda, que no ano de 2010 vendeu para a empresa Exporta
3.333 sacos de milho (conforme DCO nº 00.634.3265-0), o que equivale a aproximadamente
200.000 kg, sendo que após o recebimento do pagamento integral (a preço mínimo) foi obrigado
a efetuar a devolução da diferença, por meio de pagamento à empresa Sinop Agrícola Ltda.
(CNPJ nº 09.044.118/0001-96), corretora de cereais que intermediou o recebimento em nome da
empresa Exporta.
Outro produtor, que também comercializou com a empresa Exporta em 2010, conforme
DCO’s nº 00.634.3265-0, 3266-8, 3267-6, 3268-4 e 3269-2, confirmou que essa empresa
praticou a cobrança de deságio no valor de R$ 4,48 no preço do saco de milho. Esse produtor
afirmou que, no ano em questão, foram vendidos 600.000 kg de milho para a Exporta através do
PEP, Aviso nº 105/2010.
Entretanto, lamentou que devido às práticas adotadas pela empresa arrematante, o PEP -
Milho como instrumento de subvenção conseguiu atender apenas de forma parcial às
necessidades, devido ao fato de que o valor efetivamente pago ao produtor pela aquisição do
produto foi inferior ao preço mínimo.
180
Município de Sorriso/MT
Quanto ao outro produtor, que negociou 1.800.000 kg de milho com a empresa Exporta,
por meio da Cooperativa Agrícola dos Sojicultores de Sorriso – COOPERBRASIL (CNPJ nº
10.384.180/0001-01), à qual é cooperado, verificou-se um deságio ainda maior, equivalente a R$
0,03967/kg, pois o valor efetivamente pago nessa operação foi de R$ 0,19333 por quilo,
conforme estabelecido no contrato celebrado entre a COOPERBRASIL e a Exporta, em
03.09.2010. Cabe ressaltar que ambas as operações de venda referem-se ao Aviso nº 187/2010.
O primeiro produtor não soube precisar a quantidade exata de milho vendida à empresa
Exporta, mas confirmou a realização da operação de venda, embora não tenha apresentado
documentação comprobatória. Informou, ainda, que nessa operação foi exigida pela arrematante,
após o pagamento, a devolução de R$ 1,20 por saca de milho. Dessa forma, o preço efetivamente
pago pela empresa Exporta nessa negociação foi de R$ 12,78 por saca, abaixo portanto do preço
mínimo de R$ 13,98.
O segundo produtor, por sua vez, informou que não tem condições de opinar sobre a
conformidade da operação de venda realizada em seu nome com a empresa Exporta, pois não
teria participado da negociação. Segundo informou à equipe de fiscalização, essa venda foi
conduzida em sua totalidade pela empresa Impacto Insumos Agrícolas Ltda (CNPJ nº
09.590.018/0001-65), na pessoa de seu sócio, que seria o detentor da posse do produto no
momento da negociação.
181
Cabe lembrar que em 2010 o produtor também comercializou milho, em seu próprio
nome, com a empresa Exporta, conforme DCO nº 00.634.4922-6. Nessa operação, de acordo
com o respectivo contrato celebrado com a empresa arrematante, esse produtor vendeu 20.690 kg
de milho pelo preço de R$ 0,196667/kg e não pelo preço mínimo de R$ 0,233/kg.
Deve-se ressaltar que, de acordo com os dados das NF’s nº 3290 – emitida pela Fazenda
São João – do produtor de (...) , e 744 – da Fazenda Retiro – arrendada pelo produtor de (...) , as
operações de venda ocorreram no mesmo período (setembro de 2010), receberam a mesma
numeração de DCO e, além disso, os produtos comercializados encontravam-se estocados no
mesmo armazém, cujo CDA é o de nº 56.0239.0019-4. Tais elementos são indícios de que essas
operações fizeram parte de uma mesma negociação conduzida pelo produtor e,
consequentemente, todo o produto envolvido foi comercializado para a empresa Exporta pelo
mesmo valor, ou seja, R$ 0,196667/kg.
Importante destacar que durante a realização das entrevistas com esses produtores,
verificou-se que, num primeiro momento, ambos negaram veementemente conhecer a empresa
Exporta e afirmaram que nunca haviam comercializado produtos com a referida empresa. No
entanto, após a equipe ter demonstrado conhecimento da existência dos DCO’s que confirmam
as vendas, esses produtores localizaram a documentação pertinente a essas operações.
Os produtores não souberam precisar o valor que tiveram que devolver para a empresa
Exporta, pois, segundo informaram, a arrematante apenas exibiu os comprovantes de pagamento
das despesas com frete para que eles soubessem a quantia exata que teriam que devolver.
Durante a visita da equipe na sede da empresa Exporta foi identificado que o valor total
das despesas com frete, referente ao escoamento da produção de milho adquirida por meio do
PEP dos referidos produtores rurais, foi de R$ 197.980,50 (de Lucas do Rio Verde/MT a
Uberlândia/MG). Se for considerado que houve o desconto da totalidade das despesas com frete
do pagamento efetuado pela empresa Exporta, conforme informado pelos produtores rurais,
obtém-se um preço efetivo de R$ 0,101013 por quilo de milho, o que equivale a apenas 43,35%
do preço mínimo.
Na avaliação desses produtores, o PEP deixa o produtor rural refém das empresas
arrematantes, pois cabe a elas decidirem quanto pagar efetivamente pelo produto.
182
No município de Lucas do Rio Verde/MT, também foram entrevistados outros dois
produtores rurais.
Por fim, cabe destacar que todas as propriedades rurais visitadas foram encontradas nos
respectivos endereços informados, tendo sua localização identificada por meio de GPS. Todos os
imóveis inspecionados apresentaram indícios de cultivo regular de milho, área e dados de
produtividade compatíveis com as quantidades comercializadas em 2010 com a empresa
Exporta.
O quadro a seguir foi elaborado com base nas informações e documentos obtidos na
sede da arrematante e disponibilizados pelos produtores rurais entrevistados:
Qtd.
Preço efetivo Valor recebido Preço mínimo Diferença
Fornecida
(R$) (R$) (R$ 0,233kg) (R$)
(kg)
1.000.000 0,158333 158.333,00 233.000,00 74.667,00
1.800.000 0,193330 347.994,00 419.400,00 71.406,00
750.000 0,101013 75.759,75 174.750,00 98.990,25
20.690 0,196667 4.069,04 4.820,77 751,73
203.000 0,158333 32.141,60 47.299,00 15.157,40
1.000.000 0,213000 213.000,00 233.000,00 20.000,00
1.101.660 0,196667 216.660,17 256.686,78 40.026,61
750.000 0,101013 75.759,75 174.750,00 98.990,25
6.625.350 - 1.123.717,31 1.543.706,55 419.989,24
A partir dos exames realizados, concluiu-se que houve irregularidades nas operações de
PEP das quais a empresa Exporta Comércio de Grãos e Logística Ltda. participou no Estado de
Mato Grosso, tendo em vista que do total de 10 (dez) produtores entrevistados, em pelo menos
08 (oito) casos foram identificados elementos que confirmam a ocorrência dos pagamentos
183
abaixo do preço mínimo, o que consequentemente conduz a constatação de que houve fraude nas
comprovações das operações do PEP realizadas pela referida empresa, já que todas as notas
fiscais foram emitidas pelo preço mínimo.
Na sede da Exporta, a equipe foi recebida por Danilo Carneiro. Ele informou que, com
exceção das notas fiscais de venda dos produtores, as quais se encontravam arquivadas no local
e foram exibidas à fiscalização, toda a documentação referente às operações realizadas pela
empresa Exporta no Estado de Mato Grosso estão na matriz, que fica em Minas Gerais.
Assegurou que não mantém nenhuma relação contratual (seja empregatícia ou de prestação de
serviços) com a empresa Exporta. Informou também que, apenas recebe e envia documentos de
interesse da empresa para a sua matriz e presta serviços de transporte de cargas, quando
necessário, sendo que a única remuneração que recebe da Exporta é a comissão de frete.
Outros produtores, porém, confirmaram a informação prestada por ele, informando que
negociaram seus produtos por meio do corretor Antônio José Pereira dos Santos da firma Correta
Representações Ltda., empresa sediada em Itumbiara/GO que supostamente teria uma filial em
Lucas do Rio Verde/MT. Todavia, segundo registros, a empresa Correta Representações não
possui filial.
184
A situação identificada pela equipe de fiscalização explica, em parte, o fato de a referida
empresa ter contrariado as regras dos Avisos nº 105 e 187/2010, que exigiam que a comprovação
das operações fosse realizada na Superintendência da Conab do Estado de Mato Grosso. Isso
porque não existe de fato uma filial da Exporta no Estado de Mato Grosso, mas tão somente uma
empresa de fachada, que não dispõe de estrutura, nem de pessoal próprio para realizar quaisquer
operações ou procedimentos administrativos.
Por fim, Danilo Carneiro informou que, pelo fato de prestar os serviços de envio de
documentos e transporte de cargas para a empresa Exporta, a mesma permite que ele utilize as
dependências da sala alugada em Lucas do Rio Verde/MT, para o desenvolvimento de suas
atividades no ramo dos transportes.
185
Foto 02 – Sede da Exporta e da Rodogrin Transportes (salas 15 e 16).
186
Foto 03 – Sede da empresa Exporta Comércio de Grãos e Logística Ltda (MT).
187
Foto 04 – Interior da empresa Exporta (Escritório do titular de CPF nº 648. 892.896-15).
188
Não tendo a política pública desenvolvido mecanismos eficazes de equilíbrio dessa
relação, a execução das operações experimenta irregularidades diversas, notadamente no que se
refere à cobrança de deságio.
189
Distribuição das Operações de PEP em 2010
- Subvenção total (R$ milhões) por Produto -
10,09
271,99
Arroz
Milho em Grãos
Sisal
21,78
Trigo em Grãos
760,31
19% 1%
0% Arroz
Milho em Grãos
Sisal
Trigo em Grãos
80%
Observa-se que o Milho em Grãos (R$ 760,31 milhões) destaca-se como o principal
produto subvencionado por meio do PEP, seguido pelo Trigo em Grãos (271,99 milhões). A
distribuição das operações de subvenção de Milho em Grãos por UF em 2010 encontra-se
demonstrada a seguir:
190
Distribuição por UF das Operações de
PEP de Milho em 2010
Arroz
Sisal
5% Trigo em Grãos
3% Milho/BA
Trigo 49% Milho/DF e GO
19% Milho 10% Milho/GO
80%
0% 1% Milho/MG
Milho/MS
1% 3%
Milho/MT
0% Milho/PR
9% Milho/RO
Com base nos Laudos de Avaliação das operações de PEP de Milho no Mato Grosso em
2010, que respondem por 49% do total em PEP de milho no exercício e 39,2% do total de PEP
em 2010, os quais foram elaborados pela da área de fiscalização da Companhia, foram
consolidadas informações visando conferir visão mais ampla acerca da real abrangência das
irregularidades constadas.
191
Fato 2 - Flexibilização das regras estabelecidas nos Avisos sem estudo técnico ou
formalização da motivação. Desrespeito ao Art. 50, inciso VI, da Lei n.º 9.784 ,
de 29 de janeiro de 1999.
O Aviso de PEP de Milho n.º 175/2010, com data prevista de realização do Leilão para
22/07/2010, trouxe inicialmente a seguinte previsão:
No entanto, dois dias antes da data de realização do Leilão, em 20/07/2010, foi emitido
o Comunicado DIRAB/SUOPE/GEOPE Nº 147, DE 20/7/10, trazendo a seguinte redação:
193
Total Adquirido com
NOME DO PRODUTOR
Subvenção do Governo Federal(Kg)
ERAI E OUTROS 43.500.000
O TELHAR AGROPECUARIA LTDA 22.150.466
PEDRO 21.160.000
VANGUARDA DO BRASIL S/A 12.000.000
FAZENDA PLANORTE S.A 12.000.000
JOSÉ 11.614.550
RENATO 10.000.000
VICTOR 9.000.000
MARVALDI 9.000.000
GUERINO 9.000.000
JOSÉ 8.000.000
LÚCIO 6.869.000
GETULIO 6.000.000
SUSANA 5.800.000
LOUVIR 5.433.000
WILSON 5.400.000
PERCI 5.000.000
LUIZ I E OUTROS 5.000.000
JOSE E OUTRO 5.000.000
ANNEMARIE E OUTROS 5.000.000
SLC AGRICOLA S.A 4.500.000
LUIZ 4.354.718
JOÃO 4.183.160
SLC AGRICOLA S/A. 4.000.000
MAEDA S/A. AGROINDUSTRIAL 4.000.000
JOSE 4.000.000
DANGELO 4.000.000
ALEXANDRA 4.000.000
IVAIR 3.830.000
LEONARDO 3.600.000
TOTAL (30 maiores produtores) 257.394.894
Outros (1762 produtores) 677.514.344
TOTAL GERAL 934.909.238
Fonte: Planilhas disponibilizadas pela SUOPE/CONAB
Cabe anotar que os dados apresentados foram consolidados por CPF e Radical do
CNPJ, sem considerar o arrematante/adquirente, nada informando, portanto, acerca de
extrapolação do limite de fornecimento.
194
Ressalte-se que a empresa O Telhar Agropecuária Ltda. (radical do CNPJ 05.683.277),
originou-se do grupo argentino ‘El Tejar’. Em abril de 2010, segundo informações publicadas no
site do Ministério Público do Trabalho, fiscalizações conduzidas pelo MPT apontaram indícios
de crimes contra ordem trabalhista, desrespeito aos direitos humanos, prática de dumping social
e concorrência desleal. Excertos da manifestação publicada pelo MPT são apresentados a seguir:
[...]
[...]
195
Total Fornecido (% Acum) vs Número de Produtores
120,00%
100,00%
40,00%
20,00%
0,00%
1079
1177
1275
99
1
197
295
393
491
589
687
785
883
981
Número de Produtores
120,00%
Total Fornecido (% Acum.)
100,00%
80,00%
40,00%
20,00%
0,00%
1037
1185
1333
1481
1629
1777
149
297
445
593
741
889
1
Número de Produtores
196
Observa-se que o maior número de agricultores atendidos no Aviso 175/2010 guarda
relação direta com o volume de operações (934,9 mil toneladas contra 731,7 mil do Aviso
170/2010) e não com a distribuição mais igualitária das aquisições. De modo diverso, observa-se
no Aviso 175/2010 uma maior tendência de concentração das contratações nos grandes
produtores, com crescimento mais acentuado da curva de percentual acumulado.
Mantida essa média, estima-se o total de registros de PEP entre 2007 e 2011 em 102,1
mil. Se considerarmos as operações de PEPRO, a capilaridade das cooperativas e considerando
que o total de um mesmo DCO pode corresponder a aquisições de mais de uma dezena de
produtores, observa-se que o volume de informações de agricultores e suas propriedades
ultrapassa facilmente a casa de centenas de milhares de registros.
Com vistas à recepção desses dados, a partir do Aviso de PEP de Milho 105/2010, a
Conab estabeleceu a obrigação de encaminhamento dos dados dos produtores rurais que
forneceram nas operações, que sofreu pequenas alterações até chegar ao modelo a seguir:
197
7.1, conforme modelo constante no Anexo IV para o seguinte endereço:
gerop@conab.gov.br, com as seguintes informações:
a) nome completo de todos os produtores rurais e das cooperativas, CPF
ou CNPJ, quantidade adquirida, município e UF da produção; ou
b) quando o vendedor for cooperativa deverá ser informado também,
para cada cooperado beneficiário, o nome com o respectivo CPF ou CNPJ, a
quantidade vendida, município e UF da produção.
4.9.1. O arrematante irá encaminhar o arquivo contendo a relação de
produtores rurais que forneceram o produto nas operações, para a Bolsa, na
forma exigida nos Avisos, e essa irá encaminhar o arquivo para a Conab,
evitando assim possíveis erros no processamento das informações.
4.9.2. O não encaminhamento da planilha eletrônica no prazo acima
previsto acarretará no cancelamento da operação.
198
b) quando o vendedor for cooperativa deverá ser informado também,
para cada cooperado beneficiário, o nome com o respectivo CPF ou CNPJ, a
quantidade vendida, município e UF da produção.
VIII - No PEPRO, o arrematante do prêmio deverá disponibilizar, por
meio eletrônico à Conab, a listagem de cada operação, com as seguintes
informações:
a) identificação completa de todos os agentes econômicos envolvidos na
operação; ou
b) quando o arrematante for cooperativa deverá ser informado, para
cada cooperado beneficiário, o nome com o respectivo CPF ou CNPJ, a
quantidade vendida, município e UF da produção.
Desse modo, a partir do Aviso PEP n.º 105/2010, de 27/05/2010, a Conab passou a
exigir nos avisos de PEP o encaminhamento das citadas planilhas eletrônicas. Já com relação aos
Avisos de PEPRO, a Conab não exige e não possui as informações acerca dos cooperados
beneficiários, permanecendo omissa quanto ao dever estabelecido pela Portaria Interministerial
MF/MAPA/MP n.º 318, de 11/05/2010.
Anote-se que alguns Avisos, a exemplo dos Avisos de PEP de Milho entre 21/2010 e
111/2010, não fazem exigência quanto à safra do produto, embora as respectivas Portarias
Interministeriais o façam. Em análise ao conteúdo das Portarias Interministeriais de PEP e
PEPRO, observou-se que algumas não definem os estados contemplados pela subvenção,
adiando para momento posterior a discussão acerca de quais receberão subvenção.
O Aviso de PEPRO n.º 112/2010, de 08/06/2010, foi alterado por meio do Comunicado
DIRAB/SUOPE/GEOPE Nº 107, de 1°/06/2010, assinado pelo Superintendente de Operações
Comerciais Substituto, Ézio José Santiago, e pelo então Diretor de Operações e Abastecimento,
Rogério Colombini, acrescentando, dentre outros, o seguinte dispositivo:
199
dos CNPJ, os valores totais da subvenção recebidos, municípios e UF's da
produção, devendo ainda ser informado:
a) na operação de PEP , o nome completo dos produtores rurais e das
cooperativas, com o respectivo número do CPF ou CNPJ, quantidade vendida e
escoada, município e UF da produção;
b) na operação de PEPRO, o nome completo do comprador, com o
respectivo número do CPF ou CNPJ, quantidade vendida, município e UF de
destino do produto;
c) no caso de cooperativa deverá ser informado também, para cada
cooperado beneficiário, o nome com o respectivo número do CPF ou CNPJ, a
quantidade vendida, município e UF da produção.
Até o presente momento, a Conab disponibiliza em seu site na internet a relação dos
nomes dos arrematantes sem normalização (várias grafias para o mesmo nome), sem
identificação de CPF ou CNPJ, sem os valores totais da subvenção recebidos, apresentando
município e UF do domicílio da arrematante e não da produção.
Além disso, não disponibiliza em seu site na internet qualquer informação acerca dos
produtores rurais, cooperativas e respectivos cooperados que forneceram nas operações de PEP,
bem como os cooperados fornecedores e o comprador nas operações de PEPRO, permanecendo
omissa.
Cabe anotar que a ausência de normalização dos nomes dos próprios arrematantes
decorre da adoção da técnica de bancos de dados distribuídos nas Bolsas, de modo que uma
mesma pessoa pode estar registrada com nomes diferentes em cada uma das bolsas,
comprometendo a consolidação dos dados recebidos pelo Sistema Eletrônico de Comercialização
– SEC.
Em 2009 foram publicados pela Conab 38 avisos de PEP de trigo, e em 2010 esse
número foi reduzido para 03.
200
Com vistas a verificar as fiscalizações realizadas pela Conab quanto à execução das
operações do PEP de Trigo, foram solicitados os processos de PEP Trigo e os relatórios de
fiscalização dos seguintes avisos:
Quanto à análise dos processos de PEP trigo e dos relatórios de fiscalização, foram
evidenciadas pela Conab situações em que o arrematante cobrou do produtor um valor
correspondente a taxa de despesa administrativa relacionada com recepção, secagem, limpeza,
armazenamento e padronização do produto.
A taxa variou de acordo com o arrematante, não tendo um valor fixo ou uniforme entre
as operações. Os arrematantes argumentam que de fato cobram esta taxa, pois os produtores
entregam o produto em desacordo com o previsto no Aviso do PEP e que, consequentemente, é
necessária a adequação do que é adquirido.
Verificamos que até a efetiva apuração das situações relatadas nas fiscalizações da
Conab e a tomada de decisão pela Companhia, os pagamentos aos arrematantes relativos aos
201
produtores em que se constatou a cobrança desta taxa encontra-se suspenso. Em consulta ao
sistema financeiro da Conab, foi verificado que o pagamento efetivamente se encontra suspenso.
Foi realizada fiscalização pela Conab com vistas a verificar a regularidade das
operações de PEP de trigo ocorridas no Rio Grande do Sul, relativas ao Aviso 357/2009. A
fiscalização ocorreu no período de 30.11 a 12.12.2009, sendo as informações dos relatórios das
equipes de fiscalização consolidadas por meio do Parecer Técnico Diges/Sufis nº 590/2009.
Foi evidenciado que o produtor Itanir Bilibio participou do programa PEP onde
confirmou toda a comercialização para realizar a operação, sendo que o produto exigido pelo
adquirente foi classificado como “trigo pão tipo 1”. Todavia, ao emitir a nota fiscal, o
arrematante solicitou que a emitisse como se o produto vendido fosse “trigo brando tipo 2”.
Declarou ainda que a empresa Antoniazzi & Cia Ltda formalizou toda a operação, inclusive
pagando o valor registrado na nota fiscal, diferente do produto embarcado. A operação foi
considerada irregular pela fiscalização.
202
Fato 6 - Indicativo de fraude na comprovação da operação de PEPRO – milho, objeto do
Documento Confirmatório da Operação-DCO nº 00.210.2031-0, conforme Aviso
nº 415/2007.
Considerando que em outras análises durante a execução dos nossos trabalhos foram
observadas fragilidades nas informações prestadas pelas Bolsas à Conab, sem o devido reparo
pela Companhia, foram emitidas ordens para fiscalizações nos estados da BA, ES, MT, MG e
PE, visando atestar nas documentações comprobatórias das operações, se, de fato, as subvenções
foram irregulares, conforme indicavam as bases de dados da Conab ou, se trata de espólio.
O leilão foi realizado no dia 12.07.2007, sendo que o valor pelo qual o prêmio foi
arrematado foi de R$ 0,0412 por kg de milho.
De acordo com as informações levantadas pela CGU, à época dos fatos relatados,
acima, o referido produtor/arrematante já havia falecido (data do óbito: 25.01.2007) e, portanto,
203
não poderia ter participado do leilão ocorrido em julho de 2007, nem ter efetuado a emissão de
documentos fiscais ou mesmo prestado as declarações retromencionadas, salvo por meio do uso
das vias legais apropriadas. Entretanto, na documentação comprobatória da operação,
disponibilizada para exame, não constam documentos judiciais que qualifiquem o referido
produtor como espólio ou que façam qualquer referência ao seu falecimento. Todas as
declarações e documentos foram assinados como se de fato quem os assinasse fosse o próprio
produtor/arrematante e a operação se desenvolveu “normalmente”, como se o referido estivesse
vivo.
Cabe ressaltar, ainda, que conforme apurado pela equipe de fiscalização, no leilão
objeto do Aviso nº 415/2007, o produtor rural de CPF nº 093.334.(...) teria sido representado
pelo corretor de CPF nº 396.525.(...), da empresa Única Corretora.
Ambas as empresas estão ligadas pelo senhor de CPF nº 832.620.(...), que foi sócio
fundador da SERAFIM SERVIÇOS e, atualmente, é sócio-administrador da Unica Corretora de
Cereais.
204
6. PAGAMENTO DE FRETE – ESCOAMENTO DE ESTOQUE PÚBLICO
Informações gerais sobre as operações de transporte de estoques públicos
8) Descredenciamento do armazém;
205
10) Atendimento ao programa de venda em “balcão” ou outro envolvendo estoques
administrados pela Conab de produtos e embalagens de propriedade da Conab e/ou vinculados a
Programas Governamentais.
Nesse caso, para cada leilão, é emitido Aviso específico no qual são previamente
definidos os produtos a serem removidos, a quantidade por lote e sublote, o armazém de origem
e de destino de cada sublote, o valor do parâmetro máximo de preço do serviço por lote, prazo de
execução dos serviços, fluxo mínimo semanal exigido nos embarques, valor das garantias, a
possibilidade de multimodalidade de transporte, entre outros.
Esses leilões de frete são realizados por lote na modalidade “viva-voz menos”, ou seja, a
Bolsa (corretor), de acordo com o interesse de seu cliente e a partir do parâmetro máximo de
preço do lote, apresenta lances reduzindo o valor do serviço, até que não haja o interesse por
outra Bolsa, sendo vedado o arremate de parcela dos sublotes que compõe o lote, ocorrendo a
adjudicação para o lote como um todo.
Nesse caso, é emitido Aviso específico para a realização de transporte estadual e/ou
interestadual durante determinado exercício. Os lotes correspondem a Unidades da Federação de
origem, sendo que os produtos a serem removidos, a quantidade, o armazém de origem e de
destino, o preço do serviço são comunicados por meio de Avisos específicos, por meio dos quais
206
as empresas previamente contratadas são convocadas, a qualquer momento, para realizar o
serviço de transporte, segundo a necessidade da CONAB.
Esses leilões de frete são realizados por lote na modalidade “viva-voz menos”, ou seja,
a Bolsa (corretor), de acordo com o interesse de seu cliente e considerando os valores
informados na planilha de fretes da CONAB, apresenta lances em pontos percentuais, de forma
linear, decrescentes em relação ao parâmetro constante da planilha apresentada pela CONAB, ou
seja, um lance de 95, por exemplo, significa que a transportadora se oferece para realizar o
serviço por 95% do valor resultante de fórmula, cujo parâmetro são os valores da planilha.
A divulgação ocorre por meio de Aviso específico, cuja publicação deve observar o
prazo mínimo de 08 (oito) dias úteis antes da data de realização do leilão eletrônico. Os Avisos
dos leilões são divulgados e disponibilizados no sítio eletrônico da CONAB, havendo também a
divulgação por meio da publicação de extrato do Aviso no Diário Oficial da União e em jornal
de grande circulação no país, bem como por meio das Superintendências Regionais da CONAB e
da Associação Nacional de Transporte de Cargas - ANTC, às quais a área responsável da
CONAB solicita a divulgação junto ao segmento transportador sob jurisdição dessas Unidades.
O parâmetro máximo de preço de abertura, para o total do lote, seja ele composto de um
ou mais sublotes, é definido pela CONAB, sem ICMS. Tal parâmetro é obtido por meio da
aplicação de fórmula que leva em consideração a planilha de fretes da CONAB que, por sua vez,
apresenta preços por tonelada a ser transportada em função da distância (por faixa) e de sua
composição (terra ou asfalto). Ressalte-se que a planilha de fretes da CONAB atual da CONAB
está em vigência desde 20/03/2007.
Os Avisos e/ou Comunicados específicos preveem que a contratada deve manter fluxo
de transporte compatível com o prazo de execução e a cadência semanal de embarques,
observando as capacidades de expedição e recepção, bem como o horário de funcionamento dos
armazéns envolvidos.
208
O valor da indenização para produto eventualmente extraviado, avariado, trocado (total
ou parcialmente) ou com diferença de peso, é fixado com base no preço do produto destacado na
Nota Fiscal ou no preço de mercado no destino, o que for maior. No caso da embalagem, será o
preço de venda praticado (ou cobrado) pela CONAB, ou o de mercado, no destino, o que for
maior.
Ressalte-se que a pena de suspensão tem sido aplicada de forma proporcional, isto é, se
a empresa contratada deixar de transportar 10% do total do lote, aplica-se uma pena de
suspensão correspondente a 2,4 meses (10% de 02 anos).
% Variação
Ano Total Frete (R$)
Anual
2006 24.632.899,09 -
2007 37.236.262,54 +51,16
2008 35.640.432,85 -4,29
2009 132.749.692,60 +272,47
2010 91.158.086,51 -31,33
2011(*) 42.529.896,22 -53,34
TOTAL GERAL 302.078.108,18
(*) até agosto/2011.
Observa-se que houve concentração das operações de frete entre 2009 e 2010, que
juntos remontam 223,9 milhões de reais em recursos federais, respondendo por cerca de 74,1%
do total contratado no quadriênio 2008-2011. Os dados mais recentes indicam tendência de
queda para o volume de operações contratadas no exercício 2011.
209
A metodologia utilizada para estimar o valor inicial dos lotes consiste em três etapas:
a) para cada sub-lote, apurar a distância entre a origem e o destino, segregando o total
percorrido em estrada de terra e o total percorrido em estrada de asfalto;
b) com base na distância total entre origem e destino, consultar as colunas 'Terra' e
'Asfalto' da tabela de frete para obter o custo de frete (R$/t) do sub-lote, e;
c) somar o Custo de Frete dos sub-lotes para obter o custo estimado do lote.
Das etapas a) e b) destaca-se que a estimativa obtida independe do produto, que a tabela
aplicada é a mesma desde 2007, que a apuração das distâncias utiliza o Guia Quatro Rodas de
2007 e que, nos percursos compostos por trechos de terra e asfalto calcula-se a média ponderada
pelas distâncias, sendo que o custo resultante da etapa de terra é sempre superior em 47%
(quarenta e sete por cento) ao do trecho em asfalto.
210
• Condições do Pavimento;
• Custos Fixos e Variáveis.
As análises apresentadas a seguir tratam dos cálculos referentes aos fretes relativos aos
caminhões pesados – tipo Scania.
Os coeficientes mensais utilizados para o cálculo dos valores dos custos são os
seguintes:
211
Lavagem e graxa 0,0002500000 Preço da lavagem
e) somar o custo fixo por km com o custo variável, obtendo o custo total por km;
Em 2007, o estudo para a atualização dos valores de frete para caminhões pesados optou
pela utilização do caminhão Scania R 124 GA 4X2 NZ 420 – tracionando uma carreta graneleira
de 3 eixos – como referência, do qual deveria derivar a estimativa de todos os custos diretos
(fixos ou variáveis).
212
Em 30 de maio de 2007, foi realizada pesquisa, junto a Varella Veículos, na qual foram
obtidos os seguintes dados relativos às especificações técnicas do referido caminhão:
e) Para o cálculo da parcela que visa cobrir os gastos com o pessoal da oficina optou-se
por considerar a metade de um salário médio de mecânico rateado pela média de quilometragem
mensal. Uma vez que se considerou que os encargos sociais sobre a folha representam 87,8%,
temos que o coeficiente de 1,878 x ½ / 10.000 km = 0,0000939.
213
Memória de Cálculo – Conab
Item Coeficiente Preço (R$) Total (R$)
Peças de oficina 0,0000014 324.527,50 (2) 0,454
Salário de oficina 0,0001341 1.021,96 (3) 0,137
Óleo de câmbio 0,0004300 8,82 (4) 0,004
Pneus 0,0000091 28.687,50(5) 0,261
Óleo do cárter 0,0024000 7,33 (6) 0,018
Lavagem 0,000250 217,50 (7) 0,054
Total 1,911
Ademais, não estão anexos, aos cálculos, as pesquisas sobre os preços dos caminhões
utilizadas para a elaboração das tabelas de frete, informação fundamental na formação de preços
dos transportes, uma vez que é a base para o cálculo da depreciação e da remuneração do capital
– itens representativos na composição do custo fixo.
214
Não estão anexas, também, as pesquisas sobre os salários dos motoristas, sobre os
preços dos pneus e dos óleos do cárter e de câmbio, informações relevantes na formação de
preço dos serviços de transporte uma vez que são itens representativos na composição do custo
variável.
Quando da transformação do custo unitário por quilômetro rodado em custo unitário por
tonelada, verificou-se a utilização, na fórmula de conversão, do índice 0,04, o que indica que foi
considerado que a capacidade do Scania R 124 GA 4X2 NZ 420 era de 25 (vinte e cinco)
toneladas (1/0,04). Segundo o descrito na última versão elaborada do Manual de Custos
Operacionais Rodoviários a capacidade do referido caminhão é de 27,5 (vinte e sete e meia)
toneladas.
Uma vez que o custo variável correto é de R$ 1,55 (um real e cinquenta e cinco
centavos) o impacto da utilização de um valor incorreto aliado ao uso de uma capacidade menor
do que a efetiva, representa incremento de cerca de 20% sobre a estimativa de custo, conforme
demonstrado a seguir:
215
Da análise dos oitos lotes negociados por meio do leilão de fretes n.º 024/2010,
realizado em 11 de fevereiro de 2010, verificamos a ocorrência de ágio sobre a tabela
devidamente corrigida com valores do ano de 2007, conforme demonstrado a seguir:
Valor
Referência – Referência –
Fechamento Deságio original
Lote tabela Conab cálculo CGU Ágio (%)
Leilão (%)
(R$) (R$)
(R$)
1 4.443.930,00 3.555.365,00 4.443.333,22 0,01 24,98
2 6.411.947,00 5.369.886,50 6.411.947,00 0,00 19,41
3 3.913.864,92 3.108.009,78 3.349.000,00 14,43 7,75
4 4.137.170,00 3.464.750,00 4.137.170,00 0,00 19,41
5 3.005.934,52 2.399.665,75 2.938.000,00 2,26 22,43
6 2.941.168,32 2.354.493,96 2.941.168,00 0,00 24,92
7 3.017.787,57 2.405.169,02 3.000.000,00 0,58 24,73
8 3.350.810,00 2.678.270,00 2.890.000,00 13,75 7,91
O quadro a seguir reflete análise semelhante, realizada para o leilão de fretes n.º 068/
2010, realizado em 13 de abril de 2010, considerando a tabela corrigida:
Dessa maneira, constata-se que, desde 2007, todo deságio inferior a 21% registrado nos
leilões, converte-se em ágio após o expurgo da superestimativa apontada. Anote-se que, em
2007, os caminhões já operavam no sistema de bitrem – um conjunto que possui duas
articulações – no qual a capacidade gira em torno de 37 a 40 toneladas, demonstrando a falta de
aderência do manual e do cálculo à realidade então vigente.
216
Percurso em Km Nº de Viagens por mês Km mensal
10 39,65 793
50 33,96 3.396
100 28,79 5.758
200 22,06 8.826
500 13,84 13.844
1.000 7,99 15.982
1.800 4,89 17.616
2.000 4,43 17.736
3.000 3,01 18.108
4.000 2,28 18.300
5.000 1,84 18.417
6.000 1,54 18.495
A utilização nos cálculos de uma quantidade de quilômetros menor, por óbvio, aumenta
o valor do custo fixo por km, em cada percurso da planilha, conforme demonstrado a seguir:
217
Custo fixo calculado Custo fixo conforme
Percurso em Km Variação (%)
(R$) manual(R$)
1.000 0,7200 0,5800 19,44
1.800 0,6700 0,5200 22,39
2.000 0,6600 0,5200 21,21
3.000 0,5900 0,5100 13,56
4.000 0,5800 0,5000 13,79
5.000 0,5800 0,5000 13,79
6.000 0,5700 0,5000 12,28
Não foi possível transportar o valor correto do custo fixo para a planilha final devido a
não apresentação do método aplicado pela Conab para realizar a interpolação linear necessária
para ratear o custo fixo por faixa. No entanto, pode-se afirmar que o custo final é inferior ao
apresentado em no mínimo 12% nos 6.000 Km e no máximo, em 38% nos 10 Km.
Fato 5 - Falta de pesquisa que comprove a necessidade de remunerar lucros e impostos com
percentual de 23,75% sobre o custo.
Da análise da composição da planilha de custos de frete, verificou-se que 23,75% sobre
os custos correspondem à remuneração de lucros e impostos sem nenhum estudo ou pesquisa que
amparasse tal percentual.
Ademais, uma vez que a CONAB não presta serviços de transportes, sendo ao contrário
tomadora, é necessário uma ampla pesquisa que referencie o percentual aplicável.
218
entre o preço de mercado vigente e a estimativa obtida com base na metodologia de cálculo da
CONAB.
219
Gráfico 3. Cotação de Mercado (Sifreca-ESALQ/USP) vs. Estimativa de custo de frete pela
Metodologia CONAB. Frete de trigo, período de 25/06 a 22/07/2011.
220
Constata-se dos dados apresentados nos gráficos que, com relação aos preços praticados
no mercado de frete de commodities agrícolas entre junho e agosto de 2011, a metodologia
utilizada pela CONAB superestima sistematicamente os custos, impactando no custo final de
contratação.
Ressalte-se que a tabela utilizada pela Companhia não sofre alterações nem atualização
de valores desde 2007, o que leva a crer que a superestimativa em exercícios passados alcance
percentuais ainda superiores aos ora apresentados.
221
Fonte: IPEADATA (petróleo) e ANP (diesel)
Fonte: ANP
Observa-se que, entre janeiro de 2007 e abril de 2008, o óleo diesel experimentou
preços inferiores aos registrados em 2011. Dada a representatividade do custo do óleo diesel em
relação à composição do custo final de frete, existem indícios de que a superestimativa no
período foi superior à apurada no presente exercício.
222
Gráfico 7: Distribuição do Mercado de Frete na CONAB, por ano, por transportadora.
OUTROS
140.000.000,00
3,74%
TRANSPORTADORA BRASIL CENTRAL LTDA.
4,94%
100.000.000,00
7,64% AGOTRAN - AGOSTINETTO TRANSPORTES DE
CEREAIS LTDA
4,92% 9,89%
TRANSULOG LOGISTICA E TRANSPORTE LTDA
80.000.000,00
13,79%
TRANSUL TRANSPORTE LTDA
7,92%
G10 TRANSPORTES LTDA
60.000.000,00 10,13% 8,92%
Além dessa polarização das contratações, salienta-se que existem hoje Corretoras e
Bolsas de Mercadorias especializadas em representar clientes nos leilões da Conab. Assim, caso
as referidas empresas não possuíssem vínculos comerciais ou contatos no próprio mercado,
existem indícios de que estabeleceram canais de comunicação por meio das Corretoras de
Mercadorias e das próprias bolsas. O gráfico a seguir apresenta a repartição do mercado de frete
da Conab entre as Corretoras de Mercadorias.
223
Gráfico 8: Distribuição do Mercado de Frete da CONAB, por ano, por corretora.
Note-se que, em 2008, apenas duas corretoras, Cerrado e Celeiro, arremataram a quase
totalidade dos lotes. Considerando que, no mesmo ano, o mercado fora monopolizado por quatro
empresas, conclui-se que existem corretoras que representaram mais de uma empresa entre as
que monopolizaram o mercado. A partir de 2009 observa-se a participação da corretora Gold,
permitindo conclusão semelhante com relação ao período de 2011. Entre 2009 e 2010,
comparado com o Market Share por empresas, observa-se uma maior monopolização do
mercado em termos de corretoras vencedoras. Os vínculos comerciais entre corretoras e
arrematantes no período de 2008 a 2011, encontra-se demonstrado na Tabela a seguir.
224
Corretora Arrematante Total (R$)
TRANSKINE TRANSPORTES RODOVIARIOS DE
CARGAS LTDA 979.999,00
CELEIRO LOGÍSTICA & CORRETORA LTDA Total 87.867.555,52
CERRADO CORRETORA DE MERCADORIAS &
FUTUROS LTDA RODOVIARIO MATSUDA LTDA 53.087.058,46
TRANSPORTADORA MATSUDA LIMITADA 13.109.180,23
TRANSKINE TRANSPORTES RODOVIARIOS DE
CARGAS LTDA 5.608.000,00
TRANSULOG LOGISTICA E TRANSPORTE LTDA 2.985.000,00
TRANSUL TRANSPORTE LTDA 698.800,00
CERRADO CORRETORA DE MERCADORIAS & FUTUROS LTDA Total 75.488.038,69
GOLD COMERCIO E DISTRIBUIÇÃO DETRANSPORTES RODOVIÁRIOS VALE DO PIQUIRI
ALIMENTOS LTDA LTDA 30.905.768,00
G10 TRANSPORTES LTDA 26.445.200,00
TRANSUL TRANSPORTE LTDA 2.600.000,00
GOLD COMERCIO E DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS LTDA Total 59.950.968,00
TRANSKINE TRANSPORTES RODOVIARIOS DE
DISSENHA, RHODEN & CIA LTDA CARGAS LTDA 20.372.271,77
OUTROS 22.187,19
DISSENHA, RHODEN & CIA LTDA Total 20.394.458,96
TRANSAMERICA H LOBO - LOCAÇÕES E
ALIGRO - ALIMENTOS EM GRÃOS LTDA. LOGISTICA 5.193.000,00
OUTROS 2.829.898,88
ALIGRO - ALIMENTOS EM GRÃOS LTDA. Total 8.022.898,88
OUTRAS OUTROS 7.170.628,20
OUTRAS Total 7.170.628,20
AGOTRAN - AGOSTINETTO TRANSPORTES DE
DIVERSA CORRETORA DE CEREAIS LTDA CEREAIS LTDA 5.192.171,34
OUTROS 1.749.000,00
DIVERSA CORRETORA DE CEREAIS LTDA Total 6.941.171,34
ATLÃNTICA CORRETORA DE MERCADORIAS E
FUTUROS TRANSPORTADORA BRASIL CENTRAL LTDA. 6.559.000,00
ATLÃNTICA CORRETORA DE MERCADORIAS E FUTUROS Total 6.559.000,00
GRAMER CORRETORA DE GRÃOS E
MERCADORIAS LTDA OUTROS 3.237.000,00
TRANSPORTADORA BRASIL CENTRAL LTDA. 2.349.000,00
GRAMER CORRETORA DE GRÃOS E MERCADORIAS LTDA Total 5.586.000,00
AGRICOM AGRIBUSINESS CORRETORA DE
MERCADORIAS LTDA TRANSPORTES BOTUVERÁ LTDA 4.146.000,00
OUTROS 1.088.098,60
AGRICOM AGRIBUSINESS CORRETORA DE MERCADORIAS LTDA Total 5.234.098,60
CORREPAR CORRETORA DE MERCADORIAS S/C
LTDA OUTROS 3.700.390,00
CORREPAR CORRETORA DE MERCADORIAS S/C LTDA Total 3.700.390,00
CICERO MALUCELLI CORRETORA DE
MERCADORIAS S/C LTDA OUTROS 3.547.000,00
CICERO MALUCELLI CORRETORA DE MERCADORIAS S/C LTDA Total 3.547.000,00
GLOBO CORRETORA DE MERCADORIAS LTDA OUTROS 3.141.000,00
GLOBO CORRETORA DE MERCADORIAS LTDA
Total 3.141.000,00
RURAL NORTE TRANSULOG LOGISTICA E TRANSPORTE LTDA 2.927.000,00
RURAL NORTE Total 2.927.000,00
225
Corretora Arrematante Total (R$)
AUREUM AGRONEGÓCIOS E LICITAÇÕES LTDA. OUTROS 2.907.900,00
AUREUM AGRONEGÓCIOS E LICITAÇÕES LTDA.
Total 2.907.900,00
DOURADA CORRETORA DE MERCADORIAS LTDAOUTROS 2.640.000,00
DOURADA CORRETORA DE MERCADORIAS LTDA
Total 2.640.000,00
Total Geral 302.078.108,18
De maneira nenhuma deve ser entendido que os dados dos autores dos lances devam ser
disponibilizados durante a realização do Leilão, etapa em que a preservação das identidades dos
ofertantes, inclusive das bolsas, é imperiosa. No entanto, embora não sejam divulgadas nesse
primeiro momento, é necessário que o SEC possua esses registros e que os logs completos
identificando os lances e respectivos ofertantes, corretoras, corretores e bolsas estejam
disponíveis para consulta ampla tão logo seja encerrada a fase de lances, à semelhança do
procedimento adotado no Pregão Eletrônico realizado pelo Comprasnet.
226
Igualmente grave é o fato de, diferentemente do que ocorre no Comprasnet, inexistir a
abertura de uma janela para registro da intenção de recurso, dificultada pelo prazo concedido à
Bolsa para encaminhar à Conab, até as 18:00 h do dia de realização do leilão, os arquivos
magnéticos de fechamento dos lotes. Assim, considerando que somente o nome e o CNPJ da
arrematante é divulgado, na hipótese da arrematante não atender as condições de habilitação
(inscrição no RNTRC, apólice de seguro de RCTRC em vigência, nº de registro do Contrato
Social na Junta Comercial e regularidade no SICAF, no CADIN e no SIRCOI) ou não apresentar
as garantias previstas, o lote negociado é cancelado, gerando a necessidade da realização de novo
leilão e prejudicando o fluxo operacional de maneira irreversível.
Ressalte-se ainda que existe previsão normativa de que cada empresa só pode ser
representada por uma corretora, mas uma corretora pode representar mais de uma empresa.
Desse modo, em determinadas situações, um corretor pode representar os interesses de várias
empresas participantes do leilão. Foi constatado ainda que determinadas empresas já foram
representadas pelas mesmas corretoras, em momentos distintos. Essa situação demonstra
vínculos negociais que fragilizam a concorrência, vez que evidencia o fato de que transitaram
pelos mesmos canais de comercialização, gerando uma proximidade indesejável entre os
principais participantes.
227
No âmbito dos processos analisados, essas situações ocorreram de forma clara no leilão
decorrente do Aviso n.º 24/2010, no qual apesar de as demandas por abertura de espaço nos
armazéns localizados no Estado do Mato Grosso do Sul tenham ocorrido em novembro e
dezembro de 2009, o leilão ocorreu apenas em fevereiro de 2010, no período correspondente ao
início da colheita da nova safra de milho. Nesse caso, o deságio médio foi de apenas 3,5615%.
Essas tendências se confirmam no quadro anterior. É fato que o preço do transporte não
é influenciado apenas pela época da colheita das safras, mas por uma série de fatores como
origem, destino, quantidade transportada, clima, mercado externo, impostos, pedágios, seguros,
combustíveis, preço do veículo, etc., mas a realização de leilões em época em que o mercado de
transporte está aquecido, tende ao pagamento de um valor superior pelo serviço.
228
- falta de caminhões: O fato de alguns leilões e/ou embarques terem ocorrido em
momento em que o mercado de transporte estava em alta, trouxe como conseqüência,
dificuldades no cumprimento dos fluxos de embarque inicialmente previstos, tendo em vista a
falta de interesse dos caminhoneiros, que são contratados pelas transportadoras, em realizar os
fretes em função das distâncias ou dos valores pagos, tendo em vista a disponibilidade de cargas
locais ou para destinos mais atraentes e, em algumas situações, com valores maiores.
Na maioria dos casos, essa falta reduz o ritmo da operação de transporte, podendo até
suspendê-la, sendo normal a permissão da redução do fluxo de embarque, com consequente
aumento do prazo de execução.
229
Essas situações são potencializadas durante a época de entrada de nova safra, pois os
produtos provem diretamente do campo, trazendo insetos que se transferem para os estoques já
existentes no armazém. Ressalte-se que um expurgo suspende a operação por aproximadamente
duas semanas. Normalmente não são aplicadas penalidades à armazenadora tendo em vista a
dificuldade de comprovação de dolo por parte do armazenador. Ressalte-se, entretanto, que a
CONAB continua pagando pelo período de armazenagem.
230
Os serviços de remoção envolvem diretamente a CONAB, o armazenador de origem e
de destino, o transportador e os caminhoneiros, a empresa de classificação e os trabalhadores dos
serviços de braçagem e, indiretamente, produtores e criadores. Essa gama de envolvidos traz a
necessidade de um planejamento adequado visando a reduzir o impacto negativo que um
eventual atraso ou cancelamento dos serviços possa trazer a cada um deles.
Com os atrasos ocorridos nas remoções, todas os atores envolvidos, em maior ou menor
grau, foram prejudicados.
231
UF CDA de destino Denominação do CDA de destino Período da falta
CE 4502870109-7 CONAB/Maracanaú 10/02/2010 a 06/04/2010
PB 5802870005-0 CONAB/Campina Grande 29/04/2010 a 15/06/2010
PB 5802870021-1 CONAB/Monteiro 09/09/2010 a 25/11/2010
PB 5802870049-1 CONAB/Patos 13/08/2010 a 18/10/2010
PB 5802870050-5 CONAB/João Pessoa 15/07/2010 a 14/10/2010
PE 5902870044-9 CONAB/Arcoverde 11/06/2010 a 14/10/2010
RN 6802870001-4 CONAB/Açu 30/09/2010 a 22/11/2010
RN 68028700090 CONAB/Currais Novos 22/01/2010 a 18/03/2010
A denúncia
232
Na sequência, o denunciante apresenta inconformismo com a decisão da Conab no
cerceamento do direito de as empresas participarem de processos licitatórios de contratação de
serviços de movimentação de mercadorias.
Na citação de que o Poder Público tem o dever de buscar a proposta mais vantajosa para
a Administração, o denunciante elenca as consequências da prática do ato decisório referenciado,
relacionando aos dispositivos da Lei nº 12.023, de 27/08/2009, em síntese:
• aumento dos gastos com serviços de braçagem – fornecimento pela Conab dos
Equipamentos de Proteção Individual (Art. 9º); responsabilidade solidária na relação
de trabalho (Art. 8º); e efetivação, pela Conab, dos recolhimentos fiscais e
trabalhistas e, consequente aumento de custos diretos na folha de pagamentos da
Entidade (Arts. 6º, 7º e 8º).
Ao final, assevera que não há amparo legal na Lei n.º 12.023, de 27/8/2009, que permita
prosperar a prática irregular de contratação por inexigibilidade de serviços de braçagem e que
seja revogada imediatamente a ordem dada às Superintendências Regionais, e retomada dos
processos de licitação de braçagem.
233
Art. 3o As atividades de que trata esta Lei serão exercidas por
trabalhadores com vínculo empregatício ou em regime de trabalho avulso nas
empresas tomadoras do serviço.
234
2- Se aplicável, a Conab deverá firmar um Acordo Coletivo de
Trabalho [...], um contrato administrativo direto por inexigibilidade de licitação
[...] ou contrato administrativo ordinário decorrente de licitação pública [...]?
3- Se formalizado o Acordo Coletivo – competência, em tese, da
Justiça do Trabalho -, este bastará – conforme vem adotando a CODAPAR - ou
deverá ser formalizado um contrato administrativo posterior – competência, a
primeira vista, da Justiça Federal?
4- Se for o caso, tal contrato administrativo seria formalizado com
base em inexigibilidade de licitação?
5- O Acordo Coletivo de Trabalho, além do registro no Ministério do
Trabalho [...], também deveria ter seu extrato publicado no Diário Oficial da
União, à luz do que apregoa a Lei nº 8.666, de 1993?
6- Qual a vigência ser considerada para o Acordo Coletivo ou para o
Acordo Coletivo + Inexigibilidade? Seguir-se-ia a regra do artigo 57 da Lei nº
8.666, de 1993, com possibilidade de prorrogações até 60 meses?
7- Como haveria desembolso de dinheiro por esta Empresa Pública, as
alterações de valores seriam anuais? Seriam feitas por intermédio de
negociação, como apregoa a Lei, ou por repactuação, de acordo com o regime
publicista?
8- A vigência observaria a regra geral do artigo 57 da Lei nº 8.666, de
1993?
9- Seria considerado serviço continuado?
10- Como haveria desembolso de dinheiro por esta empresa pública, as
alterações de valores seriam aferidas por planilhas, conforme regime publicista
da repactuação, ou decorreria diretamente de negociação com o sindicato?
11- A Conab deverá adotar a licitação ordinária, podendo contratar
quaisquer outras empresas para a intermediação de mão de obra, em que pese a
aparente normatização constante dos artigos 1º e 5º da Lei nº 12.023, de 2009?
É o relatório.
Impossibilidade de a CONAB Firmar Contratos Decorrentes de
Licitação com Sindicatos. Ilicitude das Avenças. Licitude dos Instrumentos
Firmados com Empresas de Terceirização de Mão-de-Obra Decorrentes de
Licitação.
A denúncia noticia suposta ilegalidade praticada pela Companhia
Nacional Abastecimento decorrente de contratos firmados com sindicatos, cujos
objetos consistiam na prestação de serviços de braçagem por trabalhadores
avulsos.
Tem razão o denunciante.
A uma por que, somente após a edição da Lei n. 12.023/2009, passou a
ser legal a intermediação de trabalhadores avulsos, fora do porto, sem vínculo
empregatício, por “sindicatos da categoria”. Antes, não havia respaldo jurídico
para que sindicados promovessem a intermediação de avulsos fora do porto.
A duas por que, ainda que fosse possível antes do novo regramento, a
intermediação de trabalho avulso deve ser realizada pela entidade sindical
(sindicato, federação ou confederação - § 2º, art. 611, da CLT) que efetivamente
detenha a representação dos trabalhadores avulsos da base territorial em que se
localiza o armazém da Conab.
235
A três por que, se o sindicato de trabalhadores avulsos consubstancia
associação profissional, pessoa jurídica de direito privado, reconhecida pelo
Estado, que representa os trabalhadores avulsos de determinada base territorial,
não pode tal entidade sindical exercer atividade econômica, pois sua atuação
deve ficar limitada ao seu objeto social (arts. 511 a 514 da CLT), já que, no caso
das sociedades, os objetivos que aproximam os sócios são econômicos, isto é,
quem compõe uma sociedade com outra pessoa está pretendendo ganhar
dinheiro com isso1, o que absolutamente não é o caso das entidades sindicais.
Desta forma, concluiu-se, primeiro pela ilicitude dos contratos firmados
pela Conab com sindicatos, selecionados por meio de licitação, para a prestação
de serviços de movimentação de mercadoria em geral por trabalhadores avulsos.
Segundo, pela licitude da contratação de empregados das empresas de
terceirização de mão-de-obra, selecionadas na via da licitação, para a prestação
dos mencionados serviços.
A Consagração do Trabalho Avulso, Fora do Porto, pela Lei n.
12.023/2009.
Vale ressaltar que a Lei n. 12.023/2009 dispõe sobre as atividades de
movimentação de mercadorias em geral e sobre o trabalho avulso não portuário.
Tal diploma legal veio preencher vácuo legislativo a respeito dos temas citados,
de sorte a proporcionar aos trabalhadores avulsos a proteção de um diploma
jurídico especifico.
_____________________
1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Direito de
Empresa. São Paulo: Saraiva, 2009, p.13.
Tal inovação legislativa encontra origem no desenvolvimento do Brasil e
na interiorização de sua agroindústria. Esse novo cenário resultou tanto no
enorme crescimento da atividade comercial de armazenagem e de entrepostos de
mercadoria, abrangendo múltiplas regiões do território brasileiro, como no
aumento significativo da demanda por mão-de-obra.
Neste contexto, vale mencionar que “a sazonalidade de alguns produtos
imprimiu os tomadores de serviço a utilizarem, em parte, o trabalho avulso
como força supletiva de mão-de-obra em moldes parecidos ao que era realizado
no cais, anteriormente à lei de modernização dos portos pelas companhias
docas.”2
Razão pela qual, “o trabalhador avulso que era restrito aos portos e
área retroportuária ao longo da costa brasileira se expandiu para o interior do
país, levando consigo a cultura da intermediação sindical”.
Contextualizada, desta forma, as questões a serem analisadas, passa-se
a enfrentar a consulta formulada pela douta Secretaria Federal de Controle
desta Controladoria-Geral da União.
Aplicabilidade da Lei n. 12.023/2009 à Conab.
Certo é que a Lei Federal n. 12.023/2009, ao dispor sobre as atividades
de movimentação de mercadorias em geral e sobre o trabalho avulso, fora da
zona portuária, trouxe a disciplina que se aplica a todos no território nacional
por força do princípio da obrigatoriedade das leis (art. 3º, da LICC),
excetuando-se apenas os portos e área retroportuária, que tem regramento
específico. (art. 11 da Lei n. 12.023/2009).
Além disso, o diploma legal não faz qualquer distinção entre tomadores
desta modalidade de prestação de serviço, à medida que, v.g., utiliza a expressão
236
“empresas tomadoras do serviço” em seu art. 3º. Por isso, deve-se ter que o
novo regramento aplica-se aos tomadores de tal serviço, públicos ou privados.
A Contratação de Trabalho Avulso. Desnecessidade de Licitação.
Necessidade de Negociação Coletiva e Acordo Coletivo de Trabalho.
Neste passo, interessa apontar que mencionado texto legal em seu art. 1º
assenta que a contratação de serviço de movimentação de mercadoria em geral
a ser prestado em regime de trabalho avulso será efetuada por meio de Acordo
ou Convenção Coletiva de trabalho.
Nada obstante, é curial que a empresa pública federal – Conab deve
obedecer ao princípio da licitação para contratar obras, serviços, compras e
alienações, consoante se extraí do art. 37, caput, c/c o inciso XXI da CF. Sendo
oportuno lembrar que a obrigatoriedade de licitação restou regulamentação
pela Lei de Licitações e Contratos.
Aparentemente os citados dispositivos estão em rota de colisão.
Porém, a antinomia é apenas aparente, pois o inciso XXI, do art. 37 da
CF/88, ao consagrar a obrigatoriedade da licitação trouxe também a ressalva de
que a obediência ao princípio da licitação pode ser afastada em determinados
casos que se especificará na legislação. Confira-se:
_________________________________________________________
2
CARVALHO, Francisco Edivar. Trabalho Avulso na Movimentação de
Mercadorias em Geral. Abordagem prática da Lei n.º 12.023. Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2312, 30 out. 2009. Disponível em
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/13764>. Acesso em: 25 maio 2011.
237
avulso, e, simultaneamente, estabelece que tal contratação realizar-se-á na via
da negociação coletiva, na forma de Acordo Coletivo de Trabalho (§ 1º, art. 611
da CLT).
Necessidade de Procedimento Administrativo.
A contratação de trabalhadores avulsos para prestar os serviços de
movimentação de mercadorias em geral, espécie de ato administrativo, deve
ocorrer, no bojo de procedimento administrativo, por meio de negociação
coletiva que resultará em um acordo coletivo de trabalho, o qual deverá conter
todas as regras disciplinadoras da prestação de tal serviço.
Da Atuação da Entidade Sindical.
Segundo a Lei n. 12.023/2009, estatuto jurídico especial que
regulamenta a prestação de serviços de movimentação de mercadorias em geral,
fora do porto, por trabalhadores avulsos, a entidade sindical deverá ter dupla
atuação. Deverá atuar como representante da categoria de trabalhadores
avulsos de sua base territorial e como agente intermediador de mão-de-obra
(art. 1º, caput, Lei n. 12.023/2009).
Negociação Coletiva. Acordo Coletivo de Trabalho. Principais
Características.
Cumpre, nesse passo, traçar os principais contornos legais da
negociação coletiva e do instrumento do Acordo Coletivo de trabalho.
238
categoria profissional, consoante os termos de seu registro junto ao Ministério
do Trabalho e Emprego.
No que concerne à vigência do Acordo Coletivo de Trabalho, importa
mencionar que o art. 614, § 1º da CLT regulamente a vigência do acordo e o § 3º
da CLT fixa que sua duração não poderá ultrapassar 2 (dois) anos.
Quanto às “alterações de valores” e “repactuação”, necessário anotar
que o art. 615 da CLT reza que as regras aplicáveis para avença original serão
as mesmas para a prorrogação, revisão, denúncia, revogação e extensão.
Por fim, com relação ao “desembolso de dinheiro pela Conab”, tem-se
que este aspecto deve seguir os preceitos normativos estabelecidos, na própria
Lei n. 12.023/2009, no que toca aos tomadores de serviços, especialmente, o art.
6º e seguintes.
Competência para dirimir eventuais litígios decorrentes da execução do
Acordo Coletivo de Trabalho.
__________________________________
4
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São
Paulo: LTR, 2010, p. 1283.
5
Ibidem, p. 1288.
6
BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo:
LTR, 2007, p. 1237.
239
No que tange, ao trabalho subordinado impende registrar que, se a
movimentação de mercadoria em geral configurar atividade meio da Conab,
respeitados os limites traçados pelo enunciado da Súmula do Tribunal Superior
n. 331, a contratação desta modalidade de mão-de-obra deverá ser realizada por
meio de procedimento licitatório com o objetivo de entabular contrato com
sociedades empresárias de terceirização de mão-de-obra.
Desse modo, cabe ao gestor decidir em que circunstância a atividade de
movimentação de mercadoria em geral será realizada por empregado de
empresa de terceirização de mão-de-obra ou em regime de trabalho avulso. O
gestor deverá escolher a modalidade de mão-de-obra que melhor atenda ao
interesse público nas diversas situações reais vivenciadas pela Conab, não
havendo óbice, inclusive, à utilização simultânea do trabalho subordinado e do
trabalho avulso.
Ante o exposto, conclui-se que:
a) são ilícitos os contratos decorrentes de licitação firmados pela Conab
com sindicatos e lícitos àqueles firmados com empresas de terceirização de mão-
de-obra;
b) a Lei n. 12.023/2009 aplica-se à Conab por força do princípio da
obrigatoriedade das leis (art. 3º, LICC);
c) a Lei n. 12.023/2009 desobriga a Conab de cumprir a obrigatoriedade
de licitar para a contratação do serviço de movimentação de mercadoria em
geral, fora do porto e em regime de trabalho avulso, e, simultaneamente,
estabelece que tal contratação realizar-se-á na via da negociação coletiva, na
forma de um Acordo Coletivo de Trabalho (§ 1º, art. 611 da CLT);
d) a negociação coletiva e o resultante acordo coletivo de trabalho
deverão ocorrer no bojo de um processo administrativo;
e) os sindicatos dos trabalhadores avulsos atuarão como representante
da categoria de trabalhadores avulsos das respectivas bases territoriais, bem
como agente intermediador de mão-de-obra (art. 1º, caput, Lei n. 12.023/2009);
f) a negociação coletiva deve seguir o rito traçado pela Constituição
Federal c/c CLT;
g) integram o conteúdo do Acordo Coletivo de Trabalho tanto
dispositivos normativos como dispositivos contratuais, não podendo tais
dispositivos contrariar a lei em sentido amplo e nem deixar de observar as
prescrições específicas da Lei n. 12.023/2009;
h) as lides decorrentes do Acordo Coletivo de Trabalho serão dirimidas
perante a Justiça Federal (art. 109, CF), ressalvados os litígios que desafiem a
competência da Justiça Trabalhista (art. 114, CF);
i) A atividade de movimentação de mercadorias em geral pode ser
realizada tanto por trabalho avulso (negociação coletiva – acordo coletivo de
trabalho), como trabalho subordinado (licitação – contrato), competindo ao
gestor escolher a modalidade de mão-de-obra que melhor atenda ao interesse
público nas diversas situações reais vivenciadas pela Conab, podendo ser
utilizado, simultaneamente, o trabalho subordinado e o trabalho avulso.”
(grifos do original)
240
Os atos que orientam a contratação de serviços de braçagem, referenciados na
denúncia.
O Voto DIRAD n.º 051, 3/5/2011, trata da “Contratação pelo rito ordinário da
inexigibilidade de serviços de braçagem para a movimentação de mercadorias nas Unidades
Armazenadoras da Sureg/GO”, no âmbito do Processo 21209.000313/2010-81, submetida à
Diretoria Colegiada, com vistas a deliberar sobre a contratação direta.
Trata-se de decisão que foi deliberada e aprovada pela 994ª REDIR, de 4/5/2011,
conforme cópia anexa à denúncia.
Dessa forma, esclarece que: “... a Procuradoria Geral vem exarando manifestação
traduzida na Nota Técnica PROGE/SUMAD n.º PF 403/2011 (incorreção: a data é de 2010), ....,
dando a diretriz de que a contratação seja realizada pelo rito ordinário da inexigibilidade, com
as Regionais instruindo os processos, inclusive com os contratos, e submetendo à ratificação da
Diretoria Colegiada...”.
No exame dos termos da exposição apresentada no Voto DIRAD n.º 051, de 4/5/2011, e
Nota Técnica PROGE/SUMAD n.º PF 403/2011, de 21/12/2010, à luz das disposições da Lei n.º
12.023/2009, assiste razão o denunciante no que concerne à orientação para a Conab somente
contratar serviços de movimentação de mercadorias na modalidade de trabalho avulso
intermediado pelo Sindicato, posto configurar ato administrativo não amparado pelo
ordenamento jurídico vigente, consoante o entendimento anteriormente apresentado.
241
8. CONCLUSÕES
242
Sobre a ação orçamentária destinada à modernização da Rede de Armazéns da Conab,
as análises permitiram aferir baixa execução orçamentária, agravada pela carência de reformas e
adaptações dos armazéns e pelas deficiências estruturais de gestão administrativa e operacional
de tais unidades.
A instalação de unidades armazenadoras de grãos, por mais estratégica que possa ser do
ponto de vista de escoamento de produção para regiões pouco produtoras, e mediante a
constituição de uma logística integrada de transporte, requer embasamento técnico e operacional
e reclama reavaliação da política atual de escoamento de produção do País, no âmbito da política
de subvenção econômica e de regulação de estoques.
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advocacia administrativa e ausência de cálculos da dívida), como na defesa judicial pelos
escritórios de advocacia contratados. Concluir, entretanto, que isso resultou no pagamento de
propina dependeria de apuração somente factível, via de regra, por meio de investigação policial,
com instrumental próprio e autorização judicial.
Para a quase totalidade dos imóveis analisados, a ordem sugerida pelo Grupo de
Trabalho colocava a alienação à iniciativa privada como terceira opção; no entanto, esta sempre
foi a primeira escolha utilizada em todos os casos, sem justificativas ou argumentos para a
desconsideração da venda direta a outro órgão da Administração Pública ou a permuta,
recomendadas preferencialmente pelo grupo.
Foram evidenciadas situações em que alguns imóveis são alienados sem estarem
relacionados no estudo elaborado pelo Grupo de Trabalho, ou mesmo sem que haja qualquer
documento acostado ao processo que justifiquem a alienação.
Os laudos de avaliação dos imóveis não são apreciados pela área técnica da Companhia,
sendo aceitos os valores apresentados sem questionamento à metodologia utilizada ou aos
critérios formadores das amostras utilizadas como parâmetro para definição do valor venal do
imóvel.
Foi verificado também que, para a maior parte dos imóveis, os valores apresentados nas
avaliações são decrescentes quando da realização de laudos posteriores, com motivações
relacionadas à mudança de metodologia e a outras variáveis como o baixo interesse do mercado
imobiliário, sem, contudo, proceder-se a avaliações para a busca de novas alternativas, inclusive
sobre o melhor momento para a alienação, visto que, da totalidade dos processos analisados, não
restou evidenciada qualquer urgência que recomendasse a pronta alienação desse ou daquele
bem.
Observa-se que a razão apresentada pelo Grupo de Trabalho para alienação do imóvel
de Brasília é o fato de o mercado imobiliário da região estar aquecido. Tal explicação, todavia,
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não considerou a possibilidade de o mercado imobiliário da cidade se manter aquecido pelos
próximos anos, inclusive pela decisão oficial do governo federal, que resultou, em 2008, na
seleção do Distrito Federal como uma das cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo de
2014, o que reclama o aumento da rede hoteleira e estrutura de lazer para acolher turistas
internos e externos.
A Administração da Conab não foi diligente em requerer, junto aos órgãos competentes,
a alteração de destinação do imóvel, o que resultaria em maior valorização, visto, inclusive, que
os Lotes de 1 a 9 – vizinhos ao 10 - Lote alienado pela Conab, tiveram sua destinação
reclassificada.
Isto posto, conclui-se que a alienação realizada do imóvel no Distrito Federal mostrou-
se prematura e desprovida das devidas cautelas de preservação e valorização dos ativos
imobilizados da Companhia, causando-lhe prejuízo.
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As análises promovidas pela CGU confirmam o valor de R$6.498.330,55 pagos em
2011 à empresa Commerce Comércio de Grãos Ltda. (CNPJ 12.009.336/0002-85), filial de
Jataí/GO, e outros R$916.200,00 (novecentos e dezesseis mil e duzentos reais) pagos em 2010.
Em visita à sede da empresa em Jataí/GO, constatou-se que a empresa opera “de fachada” no
local.
No que tange à flexibilização das regras dos Avisos, conclui-se que as mesmas são
realizadas sem a devida motivação, o que favorece a concentração no fornecimento da produção,
reduzindo o alcance de outros potenciais produtores e, por conseguinte o cumprimento da
finalidade da política de subsídio.
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Tendo em vista que as inspeções in loco da CGU sobre os avisos de PEP trigo no Rio
Grande do Sul e Paraná não foram, ainda, encerradas, a CGU se abstém de manifestar-se
conclusivamente, sem prejuízo das providências que se fazem necessárias pela Conab, em
virtude de suas ações fiscalizatórias já evidenciarem irregularidades nas operações, conforme
registrado neste relatório.
Nesse contexto, a prática adotada pela Conab de inclusão de sub-lote ônus acaba por
reduzir o interesse das pequenas empresas por lotes de grandes volumes de escoamento,
favorecendo os grandes operadores.
Como resultado das análises sobre a metodologia aplicada pela Companhia para
estimativa do valor de abertura dos lotes, restou evidenciada superestimativa do custo fixo por
km e do custo variável, decorrente de incompatibilidade entre as pesquisas para determinar os
coeficientes e a sua efetiva aplicação, e também da utilização de capacidade de carga menor que
a real.
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Por fim, as análises minuciosamente registradas neste relatório quanto à sistemática de
contratação, pela Conab, de serviços de transporte para remoção dos estoques públicos do
governo federal, mostram fragilidades que necessitam de medidas urgentes para corrigí-las. A
metodologia adotada para fixação dos custos é deficiente e propicia superestimativa; enquanto
que a falta de transparência no processo do leilão eletrônico adotado contraria os princípios da
licitação; por fim, as falhas identificadas no planejamento das operações de remoção de produtos
comprometem o atendimento ao público alvo da política pública.
9. RECOMENDAÇÕES
As constatações descritas neste relatório reclamam providências imediatas da
Companhia Nacional de Abastecimento e do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Neste sentido, são formuladas as seguintes recomendações, segundo cada um
dos temas objeto da análise.
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a) Proceder à avaliação da situação atual das diretivas internas que orientam as
atividades da Companhia nos níveis estratégico, tático e operacional, com vistas à formulação e
institucionalização do Planejamento Estratégico da Conab, em virtude dos seguintes fatos:
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assim ao acompanhamento e supervisão da Procuradoria Jurídica da Conab, faz-se
necessária a adoção de providências urgentes, de natureza pontual e estrutural, para a
melhoria da defesa do patrimônio da Conab, com destaque para as que seguem:
a1) O referido plano deverá classificar os processos judiciais, a partir dos respectivos
andamentos processuais e segundo os riscos de perda envolvidos, agrupando-os, entre outros
aspectos, pela fase processual, por assunto, valores envolvidos e tipos;
a2) Após o referido diagnóstico, avaliar as ações judiciais que reclamam providências
imediatas da Companhia para mitigação dos riscos de perdas financeiras;
a) Articular-se com a Advocacia Geral da União, com vistas a buscar apoio para as
medidas recomendadas no item 2.1 – a, supra;
b) Adotar medidas para que, em articulação com a Conab, seja revisto o Estatuto Social
da Companhia, avaliando a oportunidade da:
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9.2 - AÇÕES JUDICIAIS
1. Recomenda-se à Companhia Nacional de Abastecimento adoção das seguintes
providências:
a). Proceder à elaboração de novos laudos de avaliação dos imóveis relacionados neste
Relatório, com vistas à quantificação do prejuízo causado à Administração.
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9.4 - SUBVENÇÃO ECONÔMICA
1. Recomenda-se à Companhia Nacional de Abastecimento as seguintes
providências:
b) Analisar as comprovações das operações PEP executadas pela empresa Villagio, com
vistas a aferir a prática de situações análogas às indicadas no item “1” precedente;
f) Tendo em vista a ausência de providências efetivas para apuração dos fatos apontados
na fiscalização da Conab que indicaram a cobrança de deságio pelo arrematante no que tange à
qualidade do trigo ofertada pelo produtor, adotar medidas urgentes para apuração das
irregularidades e responsabilidades pelo pagamento a produtor beneficiado com o PEP trigo –
Aviso 357/2009, considerando que mesmo após tal constatação foi efetivado o pagamento do
prêmio ao arrematante;
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3. Recomenda-se ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que:
f) Até a solução definitiva recomendada, faça alterar a previsão nos Avisos de modo que
as planilhas sejam encaminhadas diretamente à Superintendência de Gestão da Tecnologia da
Informação da Conab, que manterá a guarda dos originais recebidos, com cópia para a
Superintendência de Operações Comerciais da Conab.
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d) Verificar antecipadamente a disponibilidade financeira, de forma a evitar atrasos nos
pagamentos aos prestadores de serviços, que por sua vez podem resultar em atrasos na
operacionalização, bem como em eventuais ações judiciais pela mora;
k) Manter registros das pesquisas realizadas sobre os preços de veículos, pneus, salários
de motoristas e outros preços que possam impactar os custos, anexando a comprovação da sua
realização aos processos;
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b2) Atente que, na contratação direta de serviços de braçagem por trabalhadores
avulsos, a intermediação deve ser realizada por Sindicato da categoria da base territorial de
execução dos serviços, e deve ser formalizada por meio de Acordo ou Convenção Coletiva de
Trabalho, com fiel observância aos dispositivos que tratam da matéria, na Constituição Federal e
na CLT, assim como às prescrições específicas da Lei n.º 12.023/2009.
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