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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS VÉRNÁCULAS
LABORATÓRIO DE CRÍTICA LITERÁRIA
PROF. DR. ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
DISCENTE: ERONDINA EMANOELA ANDRADE DE SANTANA

Análise Crítica – Olhai os Lírios do Campo

Olhai os lírios do campo de Érico Veríssimo, publicado em 1938, pela editora Globo, é
um livro sensível que nos apresenta a vida do personagem Eugênio, desde sua infância difícil
até a sua luta pleo prestígio e pelo dinheiro depois de adulto. Para isso, ele abre mão do amor
de Olívia, para se casar com Eunice, uma jovem rica obcecada por psicanálise. Ele abre mão,
inclusive, de exercer a sua profissão de médico para trabalhar na firma da família da esposa. A
história começa a ganhar outros rumos quando Olívia retorna para sua vida e Eugênio descobre
que eles tiveram uma filha. Começamos, então, a perceber que Olívia é a parte sensível da vida
de Eugênio. É ela que começa a apresentá-lo às belezas da vida. No entanto, acontece o que
Eugênio mais temia: Olívia morre. Sua morte lhe causa uma profunda tristeza, mas ele começa
a se resignar. Como dito anteriormente, Olívia era a parte sensível da vida do personagem
principal. Assim, o médico começa a olhar para a vida de outra forma: “Era humano. Não estava
perdido.”
O romance, narrado em 3ª pessoa, é o divisor de águas na carreira do escritor. A
proporção que a obra ganhou, em sua 1ª publicação, foi gigantesca. Dessa forma, alcançou um
número inacraditável de leitores. E, obviamente, a crítica. Muitos críticos julgaram a história
como fraca, sem profundidade. Aliás, boa parte da crítica cultivava essa opinião a respeito de
Erico Verissimo. No entanto, é preciso olhar para ela com outros olhos. Há um quê de
profundidade em cada personagem construído por Verissimo. Dentre eles, Eugênio.
Sendo assim, darei mais atenção a esse personagem que instiga em nós estranha
curiosidade e empatia. É ao redor de Eugênio que a trama se desenvolve. E é nele que se
escondem várias coincidências (ou não) a respeito da vida do escritor Erico Verissimo. Um dos
exemplos mais claros que pude observar é a profissão do personagem principal. O avô paterno
de Erico, Franklin Verissimo, era um importante médico de Cruz Alta. Soma-se a isso o fato
do pai do escritor ser farmaceutico. Pode-se perceber a influência desses aspectos em Olhai os
lírios do campo, pois o personagem Eugênio formou-se em medicina e exerceu a profissão
durante a história. Além disso, Eugênio tinha uma necessidade de comprovar a existência de
Deus. E como haveria de existir, se nem mesmo
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
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LABORATÓRIO DE CRÍTICA LITERÁRIA
PROF. DR. ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
DISCENTE: ERONDINA EMANOELA ANDRADE DE SANTANA

lhe atendera quando Eugênio, ainda menino, pediu que lhe mandasse uma bola para que ele
pudesse brincar com o irmão? Não, Deus não poderia existir porque nunca havia se revelado a
ele. E, sobretudo, não poderia existir porque não salvara Olívia, que Lhe era tão devota e fiel.
Mas o que levou Erico Verissimo a plantar em seu personagem essa dúvida tão inquietante a
respeito de Deus? Por que fez esse tema ter tanta relevância em seu livro?
Conhecendo a biografia e o trabalho do escritor, não é muito difícil chegar às respostas
para essas questões. Basta entender que Erico Verissimo era um ser humano que estava sempre
em busca da verdade das coisas. Se interessava por aquilo que era palpável e passível de
explicação. Com as questões divinas não era diferente. É só pegar outras obras Arquipélogo
(1961) e Saga (1958) para perceber que a questão de Deus acaba, uma hora ou outra, vindo à
tona. Há um homem que não dispensa a espiritualidade, mas que não se entrega ao fanatismo,
e isso acaba inundando as suas páginas.

Além das questões bográficas e psicanalíticas, há outro fator que deve ganhar atenção
especial: a questão sociológica. Na época de produção do livro, o Brasil vivia um importante
momento político: a implementação do Estado Novo, que, dentre muitas ações, trouxe o
fortalecimento industrial ao país. Erico deixa visível em sua obra a questão da indústria e o
quanto o homem dava a vida (literalmete) pelo trabalho, pelo dinheiro. Isso o levou a introduzir
um incidente trágico ocorrido na firma do sogro de Eugênio. “Ouro fazia-se com sangue.” (p.
116) Assim pensou Eugênio após o ocorrido. Nesse momento sensível da narrativa, Verissimo
pega emprestada a voz de Eugênio para fazer sua crítica social. Ainda no contexto histórico, é
importante trazer à lembrança que, no período de produção do romance, o mundo caminhava
para o início da Segunda Guerra Mundial. Mesmo que a Federação se mantivesse neutra durante
o início dos conflitos, havia um forte interesse e apoio aos países do Eixo por parte de políticos
e pessoas importantes daquele contexto. Esse cenário levou o autor a imprimir temas como
fascimo e nazismo na história. Além disso, colocou discursos antissemitas nas falas de alguns
personagens, como podemos observar em diversas passagens do livro. É, inclusive, o ódio aos
judeus que desencadeia um dos acontecimentos mais trágicos do livro: a morte de Dora.

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