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ROTEIRO PARA A APRESENTAÇÃO DO SEMINÁRIO DE HISTÓRIA

DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA IDADE MODERNA

EBERT EZEQUIEL LINO NECO


FRANCIELLY DE ABREU MASCARENHA
JAYSLANA KELLY LOUREIRO RUFINO ARAUJO
JULIA DAYANE RODRIGUES DE SOUSA

Textos: HOMENS COM ELEFANTÍASE, 1865


Capítulo 2 do livro ‘Zoológicos Humanos: Gente em exibição na era do
imperialismo’ de Sandra Sofia Machado Koutsoukos

O livro ‘Zoológicos humanos: gente em exibição na era do imperialismo’ faz parte da


coleção História Illustrada, uma iniciativa da Editora da Unicamp de publicar
pesquisas em História Social e da Cultura. Ele está disponível em formato impresso e
em e-book, ambos com material audiovisual, que, no caso da versão impressa, pode
ser acessado por meio de QR Codes.

Escrita por Sandra Koutsoukos, pós-doutoranda em História da Fotografia, a obra traz


diversas fotografias e outras mídias que mostram pessoas em zoológicos e freak
shows. Ao longo das páginas, a autora desvenda as histórias por trás desses registros e
apresenta ao leitor as teorias racistas que vigoravam na época.

Objetivo: Tratando-se de um seminário coletivo, a apresentação busca levar todos os a uma


reflexão aprofundada acerca do que foi apresentado no capítulo em questão, apontando os
temas centrais da autora e realizando ligação com debates historiográficos.

Análise do texto:
Em síntese, “Homens com elefantíase, 1865”, aborda a perspectiva médica para aquelas
“aberrações” e sua exibição nas academias, particularmente daquelas pessoas portadoras da
chamada “elefantíase”, a partir das imagens realizadas por um fotógrafo português que
residia no Rio de Janeiro, Christiano Júnior, que se especializou em fotografar modelos
negros entre escravizados e libertos, criando uma coleção sobre os vários “tipos de pretos”, a
qual vendia não apenas como curiosidade ou para colecionadores, mas também como forma
de representar a escravidão no Brasil. Após analisar casos de elefantíase diversos, a autora se
debruça a esmiuçar o caso de Joseph Merrick (1862-1890), que se tornou personagem célebre
do filme “O homem elefante” (The elephant man), de David Lynch, em 1980. Novamente,
como em todo o decorrer do livro, pois é um dos seus objetivos, a autora analisa os limites
entre a ética médica, os interesses pessoais e o avanço real da ciência.
● A princípio, é importante compreender que o termo “zoológicos humanos” foi
cunhado por historiadores e antropólogos franceses e apareceu pela primeira vez em
uma publicação de 2002. É um termo forte e é usado fartamente hoje em dia pelo
meio acadêmico como uma crítica à desumanidade e ao racismo dos eventos
retratados na obra, que exibiram numerosos povos de culturas consideradas “exóticas”
e “selvagens” e que atraíram um público curioso, interessado em olhar os “outros”,
em se “instruir” sobre eles, e que saía dali sentindo-se melhor com a própria
mediocridade, com os sentimentos de superioridade racial, cultural e civilizatória
renovados e realçados.
● O capítulo 2 do livro 'Zoológicos Humanos: Gente em exibição na era do
imperialismo’, é subdividido em três partes, sendo elas: Cristiano Júnior, fotógrafo;
Elefantíase dos árabes e Joseph, o homem elefante.
● Na primeira parte do capítulo, “Cristiano Júnior, fotógrafo”, apresenta a forma como
as técnicas fotográficas eram feitas e como a fotografia tornou-se uma ferramenta
comum a vários profissionais para registrar o próprio trabalho: o cientista que media
pessoas e seus crânios para classificá-las segundo aquilo que considerava raças; o
empresário de espetáculos que buscava atrair o público por meio de cartões-postais; o
médico que catalogava casos incomuns. Além disso, é feita uma breve biografia sobre
a vida e carreira de José Cristiano de Freitas Henriques Júnior, fotógrafo responsável
pela representação romantizada de diversas classes da sociedade brasileira, com
retratos de busto e de corpo inteiro, foi o principal expoente do uso de fotografias de
seres ‘exóticos’ como objeto de exploração comercial de retorno fácil, certo e rápido.
● Cristiano Júnior compôs o álbum Elephantiasis, no qual constam dez registros de
nove pessoas que se encontravam em diferentes estágios da doença, chamada
genericamente de “elefantíase” (segundo informações da Biblioteca Nacional do Rio
de Janeiro, essas fotos foram encomendadas por um médico não identificado). As
fotografias buscavam evidenciar as anormalidades humanas, nesse caso, causadas por
uma doença adquirida e incurável. Nesse cenário, as imagens passaram a funcionar
como importante documento a serviço das pesquisas - no registro das diferenças e dos
corpos doentes -, na catalogação de casos, na divulgação de trabalhos dos médicos e
de outros cientistas.
● Em seguida, na segunda subdivisão do capítulo, “Elefantíase dos árabes”, a autora
aborda a autora aborda a doença em si - suas características, como era conhecida - e
como se dá seu tratamento, além de evidenciar a importância das fotografias de
Cristiano Júnior para a compreensão da doença.
Entenda-se por “elefantíase dos árabes” uma moléstia caracterizada pela
intumescência e hipertrofia da pele, e do tecido conjunctivo sub-cutâneo, devido a
inflamações sucessivas e parciais do sistema linfático da parte, as quais sobrevindo,
na maior parte dos acessos, determinam o aumentam gradual da parte. Somos os
primeiros a confessar que essa definição peca por ser prolixa, mas é fundada em
caracteres anatômicos constantes, e, no estado atual da ciência, não nos é possível
formular outra que melhor a substitua. (SÁ apud KOUTSOUKOS, 2020, p. 107)
● Sandra Koutsoukos, ressalta uma importante análise feita pela Academia Imperial de
Medicina que observou uma maior ocorrência de casos de Elefantíase no Brasil, com
maior intensidade nas regiões ao sul do país, e que poderia ser explicado pela natureza
da alimentação dos nortistas.
● Apesar do avanço nos estudos sobre a doença (principalmente fora do continente
europeu), os médicos demoraram a chegar na hipótese da transmissão por mosquitos e
responsabilizavam o modo de vida das pessoas pelo desenvolvimento da Elefantíase.
● Por fim, adentrando o último subtópico do capítulo, “Joseph, o homem-elefante”, é
narrada a história do rapaz Joseph Carey Merrick (1862-1890) que também sofria de
elefantíase e foi exibido em freak shows.
● A autora narra toda a história de vida de Joseph, que, inicialmente, morava com seus
pais e tentava levar uma vida normal. Entretanto, devido a diversas reviravoltas em
sua vida pessoal, aos quase 22 anos decidiu se juntar a uma companhia de freak shows
para poder tirar proveito de sua própria situação, que só causava medo e curiosidade
nas pessoas. Durante sua época de freak shows, Joseph precisou de um psicológico
forte para lidar com as suas audiências. É dito pela autora que os discursos dos
apresentadores vinham nessa função de instigar a curiosidade dos espectadores, mas,
também, acalmá-los com uma visão mais humana do garoto, visto que estavam
prestes a encarar um “monstro” que seria capaz de qualquer coisa.
● Joseph ficou conhecido como o homem-elefante por suas anomalias físicas devido ao
desenvolvimento da doença, com o braço, a mão direita e os dois pés afetados, assim
como o perfil de sua cabeça, cujas tumorações ósseas e papilomas lembravam partes
de um elefante. Justamente por possuir tantos tumores de forma caótica, o doutor
Travis nunca cogitou intervir cirurgicamente por não saber nem por onde começar.
● Um ponto destacável da obra é o cuidado da autora ao se referir a essas pessoas
enfermas com nomes pejorativos. Muitos dos relatos que foram utilizados como
material de estudo trazem essas ofensas de forma crua, algo que Sandra Koutsoukos
suaviza sem retirar a essência maldosa da forma como essa parcela populacional vivia
diariamente.
● A autora do livro proporciona um debate essencial para o tema: A ciência se
apoderou de muitos desses corpos enfermos a fim de dissecá-los e exibi-los após a
morte, com o objetivo de estudar a doença.
● A história de vida de Joseph deu origem ao filme The Elephant Man, de David Lynch
(1980) narra o cotidiano do jovem e sua relação com o médico-cirurgião Frederick
Treves. Embora o filme tente retratar o médico como uma pessoa humanizada, alguns
relatos, como o do antigo empresário de Merrick, contam uma história diferente em
que Joseph serviria apenas como objeto de apresentações para a comunidade
científica da época.
● Ademais, com a análise da coleção fotográfica, percebe-se que não há mulheres no
grupo dos afetados pela Elefantíase. Isso porque a maioria dos casos afetaram os
homens e tornou mais fácil expor os corpos masculinos da forma desumana que
necessitavam. Por isso, antes de finalizar o capítulo, foi exposta a história de uma
mulher chamada Fanny Mills, “The old woman who lived in a shoe” (1860-1899).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KOUTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. Homens com elefantíase. In: KOUTSOUKOS, Sandra Sofia
Machado. Zoológicos Humanos: gente em exibição na era do Imperialismo. 1. ed. São Paulo:
Editora da Unicamp, 2020. cap. 2, p. 100-134. ISBN 978-6586253320.

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