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Título original
O mundo caído de Zoey
Capa
Emanuel de Morais
Ano: 2020
Huambo, Angola
Telefone: +244 922 191 306\ +244 939 070 675
Correio electrónico: emanuelmorais100@gmail.com
outros actos ilícitos, por quem quer que seja, será passível de
O COMEÇO DO FIM
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Aquela tarde de sábado não podia ser mais perfeita para a família de
Martha. Nada como desfrutar das férias em comunhão.
Era uma tarde como todas outras, Martha e Luís deliciavam da bela
vista do parque Houston XV enquanto sua filha, Zoey, corria numa
infrutífera tentativa de caçar uma borboletinha... A felicidade daquela
família era de invejar quem quer que para ela olhasse. A atenção de
Zoey fora-lhe completamente roubada por aquela borboleta de asas
alaranjadas. Entre sorrisos e brincadeirinhas o clima de perfeição só
parecia aumentar, era uma euforia que até transbordava.
Aquela doce menina não podia prever o que estava prestes a
acontecer.
O sorriso de Martha esmoreceu quando ouviu os gritos de Zoey, correu
sem hesitar e viu sua filha ser levada por um homem e ser jogada
numa van... Martha correu em direção a van enquanto gritava pelo
nome da filha.
-Zoey, ZOEY!!! Gritou Martha desesperada.
Luís, não fazia ideia do que acontecera, chegara para perto de Martha
a vira inundada de lágrimas.
-Amor, o que houve? Perguntou Luís com um ar apreensivo.
As palavras mal podiam sair da boca de Martha, sua visão estava tão
somente embaçada, tamanho era o lacrimejar de Martha.
-Luís, a Zoey! Levaram a nossa filha, Luís, Levaram a Zoey! Disse
Martha mergulhada em desespero. E continuou:
-Eu ouvi a Zoey gritar e quando me virei, estava um homem com a
nossa pequena no colo e a colocou numa van preta.
-O quê? Quem a levou? Para onde a levaram? As inquietações
invadiram Luís, sem poder ter resposta para cada uma.
Movido pelo desespero, Luís saiu correndo no mesmo instante em
busca de sua filha.
Correu avenidas pelas ruas até não poder mais, perguntou por uma
van que passara recentemente, mas seu esforço fora inglório.
Aquele casal começava a viver os piores dias de sua vida. 8
Nada naquele momento fazia sentido. Num segundo, um milhão de
coisas se passavam na cabeça de Martha. Ficavam indecisos entre
sair correndo deseperadamente ou ir à esquadra mais próxima para
pedir por ajuda. Por um segundo, Luís e Martha discordaram, já que
Martha queria desatar a correr atrás de Zoey.
Luís tendo os pés mais firmes no chão, achou por bem ir à esquadra
que ficava ali perto. Mas também não escondia a vontade de procurar
pela filha.
A caminho da esquadra policial, Luís fazia de tudo para acalmar
Martha, mas a desolação de Martha não deixava que palavras de
conforto a fizéssem sentir-se melhor.
- Acalma-te, vamos encontrar a nossa filha. Disse Luís, embora que
também estivesse sem chão.
- Não me quero acalmar! Só quero a minha filha. Por que a levaram?
Os questionamentos eram incessantes na cabeça de Martha.
Ao chegar a esquadra, as primeiras palavras de Martha estavam tão
somente acompanhadas de choro, que mal se percebiam.
-Socorro, levaram a minha filha... Por favor, a minha filha foi
sequestrada. Disse ela ao primeiro polícia que encontrara.
Sem quaisquer cordialidades.
- Tente se acalmar, senhora. Quando e onde foi que a levaram?
Perguntou logo de seguida o polícia.
-Foi mesmo há pouco tempo. Nós estávamos no Parque Houston XV,
e ouvi a minha menina aos gritos, tinha um homem de roupas escuras
com cabelos longos que a colocou dentro de uma van que me parecia
ser da L-Mails.
Explicou Martha, enquanto de imediato o polícia providenciou uma
patrulha naquela zona...
- Por favor, dona, tente se acalmar. Já mandamos uma patrulha para
as primeiras diligências. Agora preciso que a senhora forneça mais
informações sobre sobre sua filha e sobre a hora exata em que
aconteceu.
Disse o polícia que cuidava do caso.
Martha não conseguia mais segurar as lágrimas, Luís nada mais podia 9
fazer, suas tentativas de reconfortar sua esposa não funcionavam. Os
gritos de Zoey chamando pela mãe ainda atordoavam Martha, que
perdera ali mesmo suas forças e acabou por desmaiar.
Luís, tentativa se manter forte, sabia que era o pilar daquela família.
Mas nem mesmo com toda sua força conseguiu esconder as lágrimas.
Aquele homem de personalidade inabalável acabou por cair em
choros.
- Por favor, senhor, deixa-me ir ajudar, eu conheço aquele bairro como
ninguém. Disse Luís para o polícia.
- Neste momento, o senhor nada pode fazer, ainda não sabemos se
de facto trata-se mesmo de um rapto. Precisamos das descrições de
sua filha. Disse o polícia.
Aquele sentimento de impotência, deixara Luís flagelado.
- Ela chama-se Zoey, tem 4 anos, tem os cabelos louros e está com
um vestidinho amarelo... Disse Luís ao polícia que passou as
informações pelo rádio.
- Fique tranquilo, nós estamos a fazer o nosso trabalho, vamos achar
a sua filha. Tentou inutilmente acalmar Luís.
Passaram-se horas e nenhuma notícia de Zoey. Luís ficou sentado no
banco enquanto colocava as mãos na cabeça tentando entender quem
faria tal coisa.
As incertezas sobre o paradeiro e estado de Zoey, pairavam na mente
de Luís.
- Mas, meu Deus, não sou rico, não bens, porquê haviam de querer
raptar a minha filha? Isso não faz sentido! Exclamou Luís.
Não sabia o que mais podia fazer ou pensar.
- Quem, meu Deus, quem havia de querer fazer mal a minha filha?
Perguntou-se Luís.
Parecia que o tempo havia congelado, os segundos faziam-se horas,
as horas pareciam durar semanas tamanha era a aflição de Luís.
Nem desmaiada aquela mulher parava de chorar… daria tudo para 10
que aquela situação não passasse de um triste pesadelo. Mas não, a
vida não lhe dera esse gosto.
Fazia-se tarde quando Martha desperta, e as primeiras palavras foram
a perguntar onde estava a pequena Zoey.
- Cadê a Zoey, Luis? Já a encontraram? Mal terminava ela de falar
quando se ouviu o rádio do polícia tocar.
As buscas por Zoey foram infrutíferas. Informaram pelo rádio que
estavam a voltar para a esquadra.
Ouvindo aquilo, o casal sentiu-se ainda mais impotente. Luís sabia que
tinha de fazer alguma coisa.
- Por favor, vão para casa, nós iremos continuar as buscas amanhã.
Em todo caso, iremos mantê-los informados se algo acontecer. Disse
o polícia que os atendera.
- Têm certeza que não encontraram nada, nenhum vestígio, alguma
pista que indique quem e para onde foi levada a minha filha? Insistiu a
perguntar Martha.
Mas o polícia nada lhe dissera que lhe saciasse o desespero.
Martha e Luís saíram da esquadra pior do que quando lá chegaram...
Não se contentando com a situação, voltando a casa decidem refazer
as buscas por Zoey, mas por conta própria.
A desolação tomara conta dos dois que pareciam meio loucos
chamando pelo nome da filha.
Eram já 9 da noite e nem com aquele frio que fazia, nem com o
cansaço desistiram de procurar, passando pelo parque, Martha
revivera aquele breve momento em que o pior aconteceu. Flashbacks
que a atordoavam. Parecia que as coisas tornavam a acontecer… o
pior deja vu que tivera.
Algumas horas se passaram e finalmente decidiram parar e descansar
mesmo por debaixo de uma árvore.
Com a cabeça no colo de Luís, Martha adormeceu chorando, as
lágrimas ressecaram mesmo no rosto dela. Luís, ainda que tentasse
parecer forte, acabou por se render ao cansaço e ali, também
adormeceu.
Sem qualquer temor ao relento, aquele casal ficou ali até aos primeiros 11
raios de sol beijarem suas faces.
Finalmente despertaram, seus corpos estavam repletos de fadiga.
- Não acredito que isto nós está a acontecer! Exclamou Martha mal
acordou.
- Isso parece um pesadelo. Exaltou Luís, que continuou:
- Nós vamos encontrar a Zoey, tenha fé, amor. A passos lentos
voltavam para casa finalmente. As ruas pareciam ter-se alargado, ou
era apenas uma sensação de perda total que os fazia distorcer a
realidade.
Agarrados um ao outro, iam lentamente a casa na esperança de que
a polícia lhes ligasse para dar boas notícias.
Luís puxa a maçaneta e abre a porta, Martha recusava-se a entrar.
Sua resiliência acabara, mas ela sabia que tinha que fazer algo.
- Vem para dentro, amor. Precisas te recompor, não podemos nos
render a dor. Disse Luís numa tentativa de fortalecer sua esposa.
Martha finalmente aceitara, e foi direto tomar um banho.
Luís, pegara no seu telefone para ver se havia alguma mensagem na
vaga hipótese de se tratar de um rapto, ver se alguém queria algo em
troca de Zoey.
Mas havia tão somente nada, um completo vazio.
Martha ouve o telefone de casa tocar e sai em meio ao banho às
pressas para atender.
De tão apreensiva que estava, atendeu com aquela voz de tristeza
misturada com ansiedade. Era apenas sua amiga, Ellen que ficara
surpresa com a forma com que Martha atendera-lhe o telefone. Não
era normal aquele jeito de Martha.
- O que foi, Martha, estás a chorar? Perguntou Ellen.
Martha lembrou-se das recomendações das autoridades policiais em
não dizer nada a ninguém que não seja um parente muito próximo nas
primeiras 48 horas.
- Não, não foi nada, Ellen. Tive só uma discussão com o Luís. Disse 12
Martha tentando desconversar Ellen.
Primeiro contacto
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