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Dinesh D’Souza 1997

Publicado originalmente em inglês sob o título:


The Big Lie: Exposing the Nazi Roots of the American Left

1a edição 2019
ISBN: 978-85-85034-13-9

Tradução: Elmer Pires


Revisão da Tradução: Cesare Turazzi
Revisão Geral: Cesare Turazzi e Ulisses Teles
Capa e Diagramação: Haas Comunicação
Versão eBook: Livro em Pixel

***

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Flávia de Melo – Bibliotecária – CRB 8 8881)

___________
C999g D´Souza, Dinash 1961 -
A grande mentira: expondo as raízes nazistas da esquerda / Dinash D
´Souza ; [tradução: Elmer Pires]. - São Paulo: Trinitas, 2019.
Tradução de: The big lie: exposing the Nazi roots of the American Left.
Bibliografia: p. 263-[296]
ISBN 9788585034139 (ebook)

1. Partido Democrata (Estados Unidos) 2. Liberalismo (Estados Unidos)


3. Direita e esquerda (ciência política) 4. Facismo (Estados Unidos) 5.
Cultura Política (Estados Unidos). I. Título
CDD: 320.513
___________

Editora Trinitas LTDA


São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
Dedico à minha esposa, Debbie
Uma vida inteira não é o suficiente
Capítulo Um
O Retorno
dos Nazistas
Embora pareça estar morto, o fascismo pode
ressurgir de diferentes formas.1
Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future
[Fascismo: Passado, Presente e Futuro]

Alguns dos casos mais interessantes de Sigmund Freud envolveram pessoas


que faziam coisas ruins, más ou destrutivas e depois jogavam a culpa nos
outros. Tais casos são, agora, padrão na literatura da psicologia. Hoje em
dia, os psicólogos já estão familiarizados com pacientes que, apresentando
comportamentos egoístas e viciosos, atribuem suas próprias características
ao psicólogo que os assiste. Também são muito comuns, no decorrer da
terapia, pacientes que, havendo apresentado hostilidade mórbida contra os
próprios pais ou irmãos, apresentam hostilidade mórbida contra o próprio
terapeuta. Seguindo um termo criado por Freud, os psicólogos a esse
fenômeno chamam de “transferência”.
A transferência, cuja injusta tarefa é a de culpar e responsabilizar, é,
obviamente, uma forma de mentira. Um caso especial de transferência
consiste em “culpar a vítima”. Na literatura relevante da psicologia, aquele
que comete algo terrível não deixa a culpa em si mesmo, mas,
impressionantemente, culpa a vítima da ofensa. Por exemplo, assassinos em
série que alvejam prostitutas podem conceber que elas, na verdade,
merecem ser estupradas e assassinadas. “Aquela mulher era uma prostituta.
Ela sabia que isso iria acontecer”. Pensar assim possibilita o agressor a
considerar-se um anjo da vingança, um instrumento da justiça.
Ted Bundy é um bom exemplo para esse tipo de caso. Quando jovem,
Bundy foi rejeitado por uma mulher, uma mulher morena. A partir de então,
ele alimentou um ódio intenso por aquela mulher, pois ela o fez sentir-se
inferior e inútil. Ted então passou a buscar por morenas jovens em câmpus
universitários com o objetivo de raptá-las e assassiná-las, depositando nelas
a raiva que sentia e as responsabilizando por aquilo que outra mulher
cometeu uma vez. Na mente de Bundy, ele próprio havia sido rejeitado
injustamente e transformado numa vítima; daí, por causa de um processo
pervertido de deslocamento, ele imputava tal alcunha sobre as mulheres que
matava.2
O processo de culpabilizar a vítima é, sim, uma mentira, mas vem a ser
uma mentira de categoria especial. Normalmente, a mentira é uma distorção
da verdade. Isso se aplica à transferência no sentido geral do termo: as
qualidades do paciente são transferidas ao terapeuta. Mas quando o
perpetrador culpa a vítima, ele faz mais do que culpar uma parte inocente:
ele culpa precisamente a parte que ele mesmo está prejudicando
diretamente. Culpabilizar a vítima envolve trocar a posição do criminoso
pela da vítima: o bandido transforma-se no mocinho e o mocinho torna-se o
bandido. Isso é mais do que uma distorção da verdade; é uma inversão dela.
É uma grande, uma grande mentira.
A grande mentira é um termo frequentemente atribuído a Adolf Hitler.
Hitler supostamente o usava para descrever a propaganda nazista. Em sua
autobiografia, Mein Kampf, Hitler contrasta a grande mentira com mentiras
pequenas ou ordinárias. “A grande massa”, ele escreve, “torna-se vítima da
grande mentira com maior facilidade do que vítima de uma mentira menor,
visto que o próprio povo mente acerca das pequenas coisas, mas sentiria
vergonha de cometer mentiras de maior proporção. A maioria jamais
conceberá uma mentira de tamanha gravidade, e nunca será capaz de
acreditar que seja possível imputar a terceiros desaforo tão monstruoso e
deturpação tão infame”.3
No entanto, Hitler não está se referindo às grandes mentiras que ele
mesmo cometia. Ao invés disso, Hitler faz referência às mentiras
alegadamente propagadas pelos judeus. Os judeus, Hitler diz, são os
mestres da grande mentira. Agora, importa reconhecer que o Mein Kampf é
uma incansável repetição de calúnias e difamações contra os judeus. Eles
são acusados de tudo, desde de serem capitalistas a bolcheviques; de serem
impotentes a cobiçarem mulheres nórdicas, de culturalmente insignificantes
a aspirantes ao domínio mundial. As acusações são contraditórias, não
podem ser simultaneamente verdadeiras.
E, ao mesmo tempo que mente sobre os judeus e conspira pela destruição
desse povo, Hitler os acusa de mentirosos e de serem aqueles que
maquinam a destruição da Alemanha. Hitler emprega a grande mentira
enquanto desaprova o seu uso. Ele se retrata como uma pessoa franca e
atribui a mentira àqueles sobre quem está mentindo — os judeus. Pode
haver um caso mais patológico de transferência e, mais especificamente, de
culpabilização da vítima?
A grande mentira está de volta, e agora diz respeito ao papel do nazismo
e do fascismo na política americana. A esquerda política — apoiada pelos
principais meios de comunicação do Partido Democrata — insiste em dizer
que Donald Trump é uma versão americana de Hitler ou de Mussolini. O
GOP [Partido Republicano dos EUA], dizem eles, é a nova encarnação do
Partido Nazista. Essas acusações tornam-se, por quaisquer meios
necessários, a base e a racionalização da tentativa de destruir Trump e seus
aliados. A “cartada fascista” também é usada a fim de intimidar
conservadores e republicanos, para que estes renunciem Trump por medo
de serem marcados e manchados. No fim das contas, o nazismo é a forma
de ódio irrevogável e o associar-se a ele, o crime de ódio definitivo.
Neste livro viro a mesa contra a esquerda democrata e provo que eles —
e não Trump — são os verdadeiros fascistas. São eles que usam as táticas
de ameaça e opressão nazistas e subscrevem a uma ideologia
completamente fascista. As acusações que fazem contra Trump e o GOP
são, na verdade, aplicáveis a eles próprios. Aqueles que se autodeclaram
oponentes do ódio, são estes os verdadeiros praticantes das políticas de
ódio. Por meio de um processo de transferência, os esquerdistas culpam a
vítima de ser e fazer o que eles próprios são e fazem. Numa inversão
doentia, os verdadeiros fascistas da política americana disfarçam-se de
antifascistas e acusam os verdadeiros antifascistas de fascistas.

A Cartada Racial
Este é um tópico sobre o qual nunca antes escrevi. Em duas ocasiões,
uma vez em 1976 e, novamente, em 1980, Reagan associou, sem
cerimônias, o Partido Democrata ao fascismo. A mídia entrou naquele
alvoroço já previsível, sugerindo que, mais uma vez, o velho vaqueiro
estava tagarelando. “Reagan Ainda Acredita que Alguém do New Deal
Defenda o Fascismo” era o título da matéria no Washington Post.4 Quando
Reagan fez suas declarações, eu não tinha ideia do que ele queria dizer. Mas
ele sabia. Ele cresceu na década de 1930. Ele estava lá. Ele viu as
afinidades entre o fascismo e o New Deal, afinidades sobre as quais falarei
melhor em um capítulo mais adiante.
Somente agora, décadas depois, compreendo o que Reagan quis dizer.
Gostaria de que ele pudesse ter lido este meu livro; Reagan veria que, ao
invés de ser culpado de inverdade ou exagero, foi culpado de cometer um
enorme eufemismo. Mas, na época, tanto eu como a maioria dos meus
companheiros republicanos e conservadores éramos vítimas do paradigma
progressista, embebidos em todas as essas instituições culturais, desde a
academia a Hollywood, de Hollywood à mídia. Nesse caso, a história que
havíamos aceitado, feito otários, era que o fascismo e o nazismo são ideias
inerentes “à direita”.
A esquerda é realmente boa no inventar e disseminar esses paradigmas.
Quando um deles cai, eles simplesmente buscam outro. Em meu livro
anterior e também no documentário Hillary’s America, desafio um outro
poderoso paradigma esquerdista, o paradigma de que os progressistas e os
democratas são o partido da emancipação, da igualdade e dos direitos civis.
Demonstrei que, no entanto, em vez disso, eles são o partido da escravidão
e da remoção indígena, da segregação e do Jim Crow, do terrorismo racial e
da Ku Klux Klan, o partido da oposição ao movimento dos direitos civis da
década de 1960.
Meu objetivo foi tirar a cartada racial dos democratas — uma jogada
que vem surtindo efeito contra os republicanos por toda uma geração. É
impressionante o fato de os democratas terem recebido todo o crédito pelo
movimento dos direitos civis, sendo que foram os republicanos que os
conquistaram, ainda mais por que a oposição a esses direitos veio
praticamente toda do Partido Democrata. Os democratas acusam os
republicanos — o partido da emancipação e da oposição à segregação, à
intolerância e à supremacia branca — de ser o partido da intolerância e da
supremacia branca.
Bom, falemos sobre o termo transferência. Essa foi minha introdução à
política estratégica da esquerda de transferir a prática do racismo ao partido
que vem, no decorrer da História, opondo-se ao racismo em todas as suas
formas e vertentes. Os democratas foram tão bem-sucedidos neste golpe
que, em 2005, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Ken
Mehlman, saiu por aí pedindo desculpas a grupos negros por pecados
cometidos não pelos republicanos, mas pelos democratas.5 Igualmente
espantoso, os democratas nunca admitiram seu histórico racista, nunca
assumiram a responsabilidade pelo que fizeram, nunca se desculparam,
jamais restituíram um centavo por seus crimes.
O que mais me intrigou foi como alguém consegue se safar com tão
grande mentira. A resposta é entender como é imperativo dominar todos os
grandes porta-vozes da cultura, desde a academia ao cinema, do cinema aos
principais meios de comunicação. Com esse arsenal cultural à disposição,
grandes mentirosos podem, confiantes, espalhar mentiras e certos de que
mais ninguém terá porta-vozes tão grandes a ponto de desafiá-los. Eles
conseguem ter suas mentiras ensinadas nas salas de aula, transformadas em
filmes e em programas de TV, e enfaticamente distribuídas nos veículos de
comunicação do cotidiano público, tudo como a mais pura verdade. É assim
que grandes mentiras tornam-se amplamente aceitas, às vezes até mesmo
por aqueles que são os próprios alvos das mentiras.
Hillary’s America foi recebido com afronta pela esquerda, mas ninguém
pôde refutar um único fato do livro ou do documentário. Até mesmo as
alegações mais incriminadoras que apresentei provaram ser invulneráveis.
Acusei que, em 1860, ano anterior à Guerra Civil, nenhum republicano
possuía escravos; todos os quatro milhões de escravos naquela época
estavam sob posse democrata. Agora, tamanha generalização poderia ser
facilmente refutada com uma simples lista de republicanos detentores de
escravos. A esquerda não pôde fazê-lo. Houve certo pesquisador assíduo
que, finalmente, pretendeu contestar-me com um único contraexemplo. Ele
indicou que Ulysses S. Grant certa feita herdou um escravo da família de
sua esposa. Tolerei o argumento, mas o lembrei de que, naquela época,
Ulysses S. Grant não era republicano.
Temendo não ter resposta substancial para o Hillary’s America, os
principais meios de comunicação entraram numa negação completa. Quem
tivesse somente assistido às grandes redes de TV e aos canais abertos, ou
ouvido a Rádio Pública Nacional, não faria nem ideia de que o Hillary’s
America existe. O livro estava em primeiro lugar na lista dos livros mais
vendidos do New York Times, e a filmagem foi o documentário de maior
bilheteria do ano. Ambos densos e repletos de materiais diretamente
relevantes para o debate eleitoral em curso, no entanto completamente
ignorados pela imprensa, totalmente a favor de Hillary.
Apesar das manifestações fracassadas e da negação generalizada, o livro
e o documentário surtiram efeito. Muitos consideram que ambos tanto
motivaram os republicanos quanto persuadiram os hesitantes, ajudando
Trump a alcançar a Casa Branca. Não tenho ideia de como medir tamanhos
efeitos, mas sei que meu livro e meu documentário ajudaram a moldar a
narrativa eleitoral, expondo Hillary como a criminosa que é e os democratas
como seus cúmplices, todos culpados de um longo histórico de intolerância
e exploração. Pela primeira vez, nas eleições de 2016, os democratas não
conseguiram se servir da cartada racial e sair impunes.
Mesmo após as eleições, e por consequência do livro e do documentário,
agora será ainda mais difícil para os democratas lançarem mão da cartada
racial. Eles tentaram, por um breve momento, suspender a nomeação de Jeff
Sessions como procurador-geral de Trump. A acusação seria de que ele
teria dito coisas racistas há algumas décadas. Sim, mas e quanto ao
democrata Robert Byrd, conhecido como a “consciência do Senado”?
Décadas atrás, era ele um líder da Ku Klux Klan. Mesmo assim, os Clintons
e os Obamas o louvaram quando veio a óbito, em 2010. Os democratas
descobriram, para própria consternação, que sua cartada racial passou a ser
então um fracasso. Ela não funcionava mais. A festa acabou.
Então, agora, os democratas passaram da grande cartada racial, que não
mais funciona, para o seu maior trunfo: a cartada nazista. É claro que eles
não abandonaram a cartada racial, afinal o racismo era intrínseco ao
nazismo. Hitler, com seu ódio incansável pelos judeus — ódio baseado não
no que fizeram ou mesmo na religião, mas simplesmente por sua identidade
racial e biológica —, é o racista definitivo.
Consequentemente, os democratas não esperam apenas sustentar a
alegação nazista contra Trump e o GOP, mas também esperam recuperar a
cartada racial com nova roupagem. Como antes, meu objetivo é fazer com
esse novo paradigma, o nazista, o que meu livro anterior fez com a antiga
narrativa racial, ou seja, destruí-lo por completo. Aqui, refuto a falsa
narrativa deles, exponho sua grande mentira e prendo o rabo nazista
exatamente onde ele deve ficar — no burro democrata.

Reductio Ad Hitlerum
Os temas nazismo e fascismo devem ser abordados com o maior
cuidado, não só por envolverem sofrimento e perda de um grande número
de vidas, mas também porque os termos em si têm sofrido abusos e sido
deturpados sôfrega e promiscuamente em nossa cultura. Não posso melhor
ilustrar essa realidade do que com a reação de várias personagens de
Hollywood perante a eleição e posse de Trump.
“Eu sinto Hitler andando pelas ruas”, disse a atriz Ashley Judd. O cantor
John Legend afirmou que a retórica “nível Hitler” de Trump poderia
transformar a América na Alemanha nazista. De acordo com um tuíte feito
por RuPaul, em 8 de novembro de 2016, “a América ganhou uma gigante
suástica tatuada na testa”. A atriz Meryl Streep disse que sua crítica a
Trump produziu uma resposta “aterrorizante”. “Isso prepara você para todo
tipo de ataques e exércitos dos camisas pardas [...] e você só pode fazer isso
se você sente que deve fazer [...] Você não tem muita opção”.6
Essa é Streep fazendo sua melhor cópia de Dietrich Bonhoeffer. No
entanto, exatamente de que forma esses tais de camisas pardas a estavam
atacando? Acontece que esses ataques foram feitos no Twitter e em outras
mídias sociais. Ninguém a espancou de verdade. Os verdadeiros camisas
pardas já o teriam feito. Da mesma forma, RuPaul bem provavelmente sabe
que, na Alemanha nazista, um drag queen como ele teria sido enviado para
algum campo de concentração e morto por eutanásia. Se ele realmente
acreditasse que a América havia se transformado na Alemanha nazista, o
que se esperaria senão sua saída imediata do país? De alguma forma,
RuPaul sabe, assim como todos nós sabemos, que ele está perfeitamente
seguro aqui.
Alguns conservadores permanecem tranquilos enquanto a esquerda
rotula Trump de fascista. O historiador Victor Davis Hanson recorda,
perplexo, que Ronald Reagan e George W. Bush foram ambos, em algum
dado momento, ligados pela esquerda a Hitler. Daniel Greenfield devolveu
a analogia de Hitler para Goldwater e Nixon em seu artigo na FrontPage
Magazine intitulado “Todo Presidenciável Republicano é Hitler”. Um outro
livro meu, The End of Racism [O Fim do Racismo], perturbou tanto David
Nicholson, do The Washington Post, que ele chegou a ouvir “o pesado
marchar de coturnos, embora taciturnos e distantes, ainda se aproximando
constantemente”.7 Esses exemplos confirmam o ponto de Hanson, de que
comparar uma coisa aos nazistas geralmente não significa nada a não ser
representar aquilo que a esquerda desaprova vigorosamente.
Estudiosos têm se queixado de que termos como ‘nazista’ e ‘fascista’
praticamente perderam significado na cultura popular. Há muitos anos, o
filósofo Leo Strauss, ele próprio refugiado da Alemanha nazista, lamentou
por aquilo que chamou de Reductio ad Hitlerum, com isso pretendendo
expressar a tendência de querer refutar aquilo que desaprova associando-o a
Hitler. O raciocínio é o seguinte: Hitler não gostava de arte moderna, então
a crítica à arte moderna é um mal reminiscente dos nazistas. Hitler
detestava o comunismo, portanto os anticomunistas continuam seguindo o
método de Hitler. Tudo isso, lembrou Strauss, não passa de pura tolice.
Na Califórnia, onde a pura tolice abunda, ouve-se falar da “dieta nazi”,
do “saudável nazi” e dos “surfistas nazi”. Nesses casos, o nazismo parece
tomar uma acepção positiva, indicando compromisso rigoroso. O
historiador Anthony James Gregor, um dos principais estudioso do fascismo
italiano, diz que o fascismo é comumente atribuído a pessoas
declaradamente cristãs, pessoas que buscam por tributações menores, que se
opõem a regulamentações governamentais abusivas, que se mostram céticas
quanto ao aquecimento global e que parecem indiferentes ao destino das
espécies ameaçadas de extinção. “Infelizmente”, ele escreve, “o termo
fascismo foi dilatado a ponto de seu uso cognitivo tornar-se mais do que
suspeito”.8
Mas a acusação de fascismo e nazismo contra Trump e os republicanos
não pode ser tão facilmente descartada. Na verdade, ela não está na mesma
categoria que o emprego metafórico, os tropos desdenhosos comparando
Reagan a Hitler ou Bush a Hitler. Em primeiro lugar, a acusação
contemporânea está bem mais generalizada. Tanto antes quanto depois das
eleições, a analogia nazista não foi apenas um escárnio, mas também foi
empregada como descrição. A analogia é, agora, a estrutura central da
cobertura sobre Trump dada pela mídia, pela academia e por outros meios,
da imigração à política externa e ao comércio, tudo está agrupado sob essa
mesma bandeira.
Para o escritor Chris Hedges, a presidência de Trump é “o ensaio geral
para o fascismo”, significando, provavelmente, que o fascismo, ainda
embora não esteja presente, está prestes a se apresentar. Na mesma linha,
Ben Cohen viu em Trump “os primeiros passos de um Estado fascista”.
Deepak Malhotra insiste na revista Fortune que Trump representa “o
espectro do fascismo domiciliar”. Andrew Sullivan advertiu na revista The
New Republic que Trump “destruiu o Partido Republicano e criou, em seu
lugar, o que parece ser um partido neofascista”. Aaron Weinberg, do
HuffPost, diagnosticou o “engatinhar vagaroso do fascismo de Hitler”.
Escrevendo para o Salon, o historiador Fedja Buric procurou criticar
mudando um pouco o tom, insistindo que “Trump não é Hitler; Trump é
Mussolini”. A âncora da MSNBC, Rachel Maddow, revelou que “eu tenho
lido muito sobre como era na época quando Hitler se tornou chanceler [...]
porque acho possível ser onde estamos agora”. O jurista Juan Cole
exclamou o resultado das eleições com a seguinte frase: “Como os EUA se
tornaram fascistas”. Ken Burns, cineasta e produtor de documentários,
denominou Trump como “fascístico” e “hitleresco”. A reação mais
exagerada veio de Sunsara Taylor, ativista de um grupo chamado Refuse
Fascism [Rejeite o Fascismo]; ela apareceu no programa de Tucker Carlson
para comentar sobre Trump, dizendo que “ele é mais perigoso do que Hitler
jamais teria sido”.9
Como segundo ponto, a acusação de fascismo e nazismo é endossada
pelos principais personagens do Partido Democrata. O candidato à
presidência Martin O’Malley, um democrata, acusou Trump de carregar um
“apelo fascista bem para dentro da Casa Branca”. Fazendo menção a
Trump, Bernie Sanders invocou parentes que morreram no Holocausto
como resultado de “um lunático [...] despertando o ódio racial”. Invocando
a memória sombria dos “piores déspotas da História”, a senadora Elizabeth
Warren insistiu que Trump representa uma “séria ameaça”.10 Ainda que
Obama e Hillary não tenham jogado a cartada fascista ou nazista, ambos
não se afastaram dela nem a repudiaram, assim como nenhuma outra
autoridade do Partido Democrata. Afinal, como eles poderiam rejeitá-la?
Este é, agora, o lema da oposição por parte da esquerda democrata contra
Trump.
Em terceiro lugar, alguns líderes estrangeiros parecem já ter aceitado que
Trump seja fascista, talvez até nazista. Na Grã-Bretanha, o político do
Partido Trabalhista Dennis Skinner advertiu que, se permanecesse em
aliança com a América na sequência das eleições de Trump, seu país estaria
caminhando “de mãos dadas” com um fascista. No Canadá, o líder do Novo
Partido Democrata, Tom Mulcair, usou o rótulo fascista para descrever a
proibição temporária de viagens promulgada por Trump. Dois ex-
presidentes mexicanos, Enrique Calderon e Vicente Fox, compararam
Trump a Hitler, e Fox declarou que o discurso de Trump durante a
convenção republicana fez com que ele se lembrasse de “Hitler discursando
ao Partido Nazista”. Esses comentários dão confirmação internacional ao
que a esquerda americana diz aqui; e alguns deles poderiam até mesmo
causar implicações para as relações diplomáticas dos Estados Unidos.11
Em quarto lugar, alguns dos principais republicanos e conservadores
ecoaram a acusação da esquerda. Durante um evento filantrópico, o ex-
candidato do Partido Republicano ao cargo de governador, Meg Whitman,
comparou Trump a Hitler e a Mussolini. A ex-governadora republicana de
Nova Jersey, Christine Todd Whitman, disse o seguinte acerca das máximas
da campanha de Trump: “Esse é o tipo de retórica que permitiu Hitler
avançar”. Escrevendo para o jornal New York Times, Ross Douthat, uma
vez colunista conservador, concluiu que Trump é um “protofascista”.
Robert Kagan, historiador neoconservador, não se deu nenhuma reserva. “É
assim que o fascismo vem para a América”. Após as eleições, o senador
John McCain, candidato à presidência do Partido Republicano em 2008,
disse, a respeito da crítica de Trump à mídia, que foi dessa forma que os
ditadores do século XX surgiram.12 Trata-se de um padrão sem
precedentes. Quando várias pessoas do seu próprio partido dizem que você
é um fascista, isso faz com que você realmente pareça um fascista.
A esquerda mobiliza uma pilha de especialistas em apoio à equação de
que Trump e o GOP estão ao lado do fascismo e do nazismo. A revista Slate
entrevistou Robert Paxton, importante historiador do fascismo, sobre os
paralelos entre Trump, de um lado, e Mussolini e Hitler, de outro. Bill
Maher deu a deixa para o historiador Timothy Snyder, que vinculou a
ascensão de Trump à ascensão de Hitler. “No meu mundo, de onde venho,
estamos na década de 1930”. O biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, defendeu a
mesma posição num jornal britânico. “Os paralelos ao sombrio período
entreguerras não devem ser negligenciados”. E o historiador Ron
Rosenbaum, autor do livro Explaining Hitler [Explicando Hitler], explicou
que Trump chegou ao poder com “visões e perspectivas extraídas de um
livro escrito em alemão. Esse livro é o Mein Kampf”.13
Por fim, a acusação de fascismo contra Trump não é um elemento a ser
jogado fora; a esquerda apresenta uma infinidade de razões para apoiar tal
acusação. O historiador John McNeill fez chegar ao Washington Post a
alcunha sobre Trump dos “11 atributos do fascismo”. Escrevendo para o site
Alternet, Kali Holloway declarou: “É assustador como Trump se enquadra
perfeitamente no famoso guia dos 14 pontos para identificar líderes
fascistas”.14 Dessa vez a esquerda e os democratas parecem confiantes de
que poderão fazer o rótulo fascista pegar, de modo a desacreditar
permanentemente Trump e aqueles que o apoiam.

“Ele Não é o Nosso Presidente”


O que me interessa aqui não são os motivos para a esquerda comparar
Trump com os fascistas e os nazistas — lidarei com essas motivações no
próximo capítulo —, mas o que eles pretendem alcançar com essas
comparações. Evidentemente, a esquerda tem o objetivo de tornar a
presidência de Trump ilegítima. Essa noção — de que, mesmo tendo
vencido honesta e diretamente, Trump, de alguma forma, não merece ser
presidente — foi propagada pela primeira vez, inclusive, antes das eleições.
Hillary e Obama nunca trataram Trump como um candidato legítimo.
Uma vez que Trump foi eleito, a esquerda democrata lançou uma
cruzada sem precedentes a fim de impedir que ele tomasse posse. Ela exigiu
a recontagem de votos, o que é razoável quando as margens entre os
candidatos são muito próximas, como aconteceu na eleição de 2000 entre
Bush e Gore. No caso de Trump, as margens atingiram um patamar
significativo em todos os sentidos mais cruciais. Houve uma ou duas
recontagens, e Trump acabou ganhando mais alguns votos.
Depois a esquerda procurou desacreditar a vitória de Trump ao destacar
que Hillary ganhou por voto popular. Novamente, é algo que soa estranho,
uma vez que as eleições nos EUA não são decididas pelo voto popular. O
sistema político americano é projetado para gerar equilíbrio entre a
representação individual e a representação estadual. O objetivo é impedir
que grandes estados monopolizem o poder. Por conseguinte, o Colégio
Eleitoral dá aos estados maiores mais eleitores, mas garante que os estados
menores também tenham influência eleitoral suficiente a ponto de fazer a
diferença.
Não é imprescindível decifrar as regras precisas do sistema. O ponto
principal é que este é um sistema democrático e estas são as regras do jogo
acordadas já de longa data. A esse respeito, as regras do Colégio Eleitoral
são como as regras de uma partida de tênis, que é decidida não por pontos,
mas por sets. Fará sentido se, em uma partida com pontuação final de 6–4,
6–4, 0–6, 1–6, 6–4, o perdedor, embora tenha vencido apenas dois sets de
cinco, for premiado por ter feito dois pontos a mais que o vencedor na
pontuação geral? É absurdo. Trump prevaleceu pelas regras do jogo, e sua
vitória mantém-se claramente inalterada, mesmo perante a observação de
que Hillary teria vencido sob algum outro conjunto de regras.
Em seguida, a esquerda procurou pressionar diretamente os eleitores a
não escolherem Trump no Colégio Eleitoral. Estes relataram opressão,
assédio, e até ameaças. Embora a maior parte da situação fosse puro
desespero — e os esforços finalmente falharam —, Peter Beinart teceu
argumentos complexos para o Atlantic Monthly sobre por que “o colegiado
eleitoral deveria proibir à presidência homens feito Trump”. Não importa o
que tenham decidido, Beinart insistiu que os eleitores deveriam votar contra
Trump, alegando ser ele um “demagogo irresponsável” e que sua vitória
criou uma “emergência nacional”.15
Finalmente, a esquerda procurou desacreditar a eleição alegando que os
russos a fraudaram. Eles a fraudaram, supostamente, ao invadir o servidor
particular de Hillary. Nunca houve provas disso. E por que os russos
prefeririam Trump a Hillary? Havendo tomado posse, uma das primeiras
decisões de Trump foi lançar um ataque militar contra a Síria, aliada da
Rússia. Então, o próprio conceito de que os russos pesaram a balança a
favor de Trump faz pouco sentido.
Mas, mesmo que os russos tivessem invadido o servidor de Hillary, não
foram eles que escolheram Trump no lugar dela. Ao contrário, os eleitores
americanos o fizeram. Portanto, a despeito de qual seja a evidência que os
russos possam ter descoberto, no fim das contas foi o povo americano quem
determinou seu valor. Foi o povo americano quem julgou tal evidência
suficientemente incriminatória, a ponto de dispensar Hillary.
Desde que Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey, a esquerda —
que havia criticado o papel de Comey nas eleições — ficou extremamente
exasperada, gerando uma tempestade tão furiosa de acusações que o ex-
diretor do FBI, Robert Mueller, foi nomeado conselheiro especial para
investigar o possível conluio entre a equipe de Trump e a Rússia. Enquanto
a responsabilidade de Mueller era descobrir objetivamente os fatos, a
agenda sem disfarces da esquerda era usar o inquérito para impedir o
desempenho de Trump, aumentar a pressão a fim de acontecer a
impugnação de mandato, e (se tudo corresse de acordo com o plano) forçar
sua renúncia.
Enquanto tudo isso acontecia, eu coçava a cabeça pensando no esforço
desesperado da esquerda para suprimir o resultado válido de uma eleição
livre. Então percebi que Mussolini e Hitler também chegaram ao poder
através de um processo legal — ou ao menos quase legal. Nem Mussolini
nem Hitler armaram um golpe. Os camisas negras marcharam em Roma sob
uma atmosfera de caos e Mussolini foi convidado pelo rei Victor Emmanuel
III a formar um novo governo.
Embora nunca tenha obtido maioria popular de eleitores alemães, Hitler
era o cabeça do maior partido na Alemanha de 1933 quando feito chanceler
pelo presidente Paul von Hindenburg. Algumas semanas depois, o
parlamento alemão, o Reichstag, aprovou a Lei de Concessão de Plenos
Poderes, o que essencialmente transferia seu poder a Hitler. Em outras
palavras, a democracia preparou o caminho para que esses déspotas
tomassem o poder. Consequentemente, para os esquerdistas que veem
Trump no mesmo caminho de Hitler e Mussolini, a vitória eleitoral não
justifica um fascista ou nazista americano ascendendo ao poder.
Agora, cabe dizer que, quando um grande partido político basicamente
rejeita o resultado de uma eleição livre, nos encontramos em território
inexplorado. Isso já aconteceu uma vez nos Estados Unidos, é claro, em
1860, quando o mesmo partido, o dos democratas, recusou-se a aceitar a
eleição de Abraham Lincoln. O desfecho se deu em uma guerra civil
sangrenta.
Desde Lincoln, então, nenhum presidente americano enfrentou maior
resistência à legitimidade do que Trump. Mesmo assim, apesar de algumas
discussões vagas sobre a Califórnia deixar a União, a América não está
enfrentando um sério movimento de secessão do tipo que se desenvolveu no
Sul, em 1860–1861. O que estamos vendo, ao contrário, é a desconfiança
do próprio processo democrático por parte daqueles que perderam as
eleições de 2016. Do ponto de vista deles, como a democracia poderia ter
produzido um resultado tão assustador, tão contrário à razão?
Quase setenta legisladores democratas recusaram-se a participar da posse
de Trump, uma violação da etiqueta democrática sem precedentes, atitude
que teria provocado grande indignação na mídia, caso os republicanos
tivessem o feito, por exemplo, com Bill Clinton ou com Barack Obama.
Presidente há apenas algumas semanas, mesmo antes de Trump ter feito
qualquer coisa que pudesse ser considerada remotamente inconstitucional,
Maxine Waters e Tulsi Gabbard, duas representantes do Congresso
Democrata, levantaram a questão da impugnação do mandato. O colunista
Richard Cohen chegou a sugerir a necessidade de um “golpe
constitucional” — basicamente, uma assembleia de oficiais eleitos que,
segundo Cohen, têm a autoridade para retirar do cargo um presidente que
eles consideram “incapaz de cumprir os poderes e deveres de seu cargo”.16
Ainda mais escandaloso, uma ex-funcionária do Departamento de Defesa
do período Obama, Rosa Brooks, levantou a possibilidade de os militares
dos EUA se recusarem a obedecer às ordens de Trump e, talvez, até de o
expulsarem do cargo. Se Trump ordenasse que os militares fizessem algo
que os generais julgassem insano, disse Brooks, então eles deveriam
recusar-se a obedecer. E, caso Trump insistisse, Brooks deu a entender, eles
deveriam livrar-se dele por meio do golpe militar. Argumento semelhante
havia sido desenvolvido antes das eleições no Los Angeles Times por
James Kirchick, da Iniciativa de Política Externa [Foreign Policy
Initiative]. Kirchick concluiu seu artigo dizendo: “Trump não é apenas
impróprio à presidência, mas um perigo para a América e para o mundo. Os
eleitores precisam detê-lo antes que os militares o façam”.17
Embora raramente explícitos, houve também pedidos de assassinato.
Pouco depois de Trump tomar posse do mandato presidencial, a jornalista
britânica Monisha Rajesh escreveu: “Já é hora de um assassinato
presidencial”. Lars Maischak, historiador da Universidade Estadual de
Fresno, escreveu em seu twitter: “Para a democracia americana ser salva,
Trump deve ser enforcado”. Durante a Marcha das Mulheres em
Washington, D.C., a cantora Madonna vociferou: “Sim, estou com raiva.
Sim, estou indignada. E, sim, eu pensei muito em explodir a Casa Branca”.
A comediante Kathy Griffin publicou explicitamente uma foto sua com a
imagem de Trump ensanguentado e decapitado, resultando em uma
tempestade de protestos que a obrigou a pedir desculpas. O rapper Snoop
Dogg lançou em vídeo uma música chamada “Lavender”, na qual ele
aponta uma arma de fogo para a cabeça de um palhaço vestido de Trump e
puxa o gatilho, mostrando, na sequência, uma bandeira vermelha e branca
em que está escrito BANG. Outro rapper, Big Sean, falou de assassinar
Trump com um furador de gelo.18 É difícil saber o quanto levar isso tudo a
sério, mas é possível imaginar a reação que viria à tona se alguém falasse
dessa maneira contra o antecessor de Trump, Obama.
Uma desconfiança do processo democrático semelhante a essa foi
fundamental na ascensão fascista ao poder na Itália dos anos 1920 e na
ascensão nazista na Alemanha no início dos anos 1930. Aliás, é importante
notar que se trata do antigo fascismo e do antigo nazismo. Hoje, quando se
pensa em Mussolini ou em Hitler, se pensa em termos da Segunda Guerra
Mundial. É impossível pensar sobre o nazismo, por exemplo, sem pensar
também no Holocausto. Contudo, é claro, não foi assim que os italianos ou
os alemães experimentaram pela primeira vez os fascistas e os nazistas.
Ninguém está dizendo que Trump hoje é o Hitler circa 1945. Trump não
iniciou uma guerra mundial nem anexou ou invadiu outros países; ele,
inclusive, certamente não exterminou seis milhões de judeus. Esta não é a
base da crítica progressista por parte dos democratas contra Trump. Ao
invés disso, eles o comparam a Mussolini e Hitler antes da guerra, alertando
que, se fora de controle, ele pode acabar fazendo coisas horríveis
exatamente como esses dois homens acabaram por fazer.
Porém, no início dos anos 1920 e dos anos 1930, eram os fascistas e os
nazistas que desprezavam a democracia parlamentar, cujas regras lhes eram
incontornáveis e, no modo de pensar fascista e nazista, impraticáveis. Estes
foram partidos que declararam líderes democraticamente eleitos como
ilegítimos e apoiaram abertamente estratégias que tinham o objetivo de
expulsá-los do poder. Então, quem está fazendo isso na América? Não é o
Trump. Pelo contrário, são os democratas progressistas que continuam a
questionar a validade da presidência de Trump. São os progressistas que,
hoje, recusam-se a aceitar os resultados dos procedimentos e regras
eleitorais. Eles são os que reagem, como fizeram os fascistas e os nazistas,
contra o que julgam ser um sistema democrático defeituoso.
Depois, há a questão da violência. Como todos os estudiosos do fascismo
e do nazismo sabem, os fascistas e os nazistas gloriavam-se dela. Mas eles
não estavam sozinhos: seus rivais políticos, os socialistas e os comunistas,
também acreditavam na violência. Naturalmente, essa era uma receita para
banhos de sangue nas ruas. Os primeiros dias do fascismo e do nazismo
presenciaram confrontos rotineiros entre os grupos políticos rivais. Na
Itália, os camisas negras de Mussolini chegaram a lutar corpo a corpo
contra os socialistas. Muitas pessoas foram mortas nessas guerras de rua.
Hitler descreve, em sua obra Mein Kampf, como seus camisas pardas
chegavam a encontros políticos, geralmente realizados em bares e
cervejarias, munidos de bastões e porretes. Os comunistas podem nos
superar em número, ele escreve, mas, para barrarem nossas reuniões, eles
terão de nos matar. No relato de Hitler, há chuvas de golpes e combatentes
caindo no chão, e lá ele permanece, prosseguindo com seu discurso,
recusando-se a ser intimidado pelo caos que o cerca.19
Esses confrontos do início do fascismo e do nazismo me fazem lembrar
dos confrontos entre os seguidores da esquerda e os partidários de Trump
durante a campanha. Com isso, não apenas quero dizer que estes são uma
reminiscência daqueles. Quero dizer, porém, que os manifestantes contra
Trump se veem como que batalhando uma batalha antifascista. Seus
cartazes comparam Trump a Hitler e a Mussolini. Um retrato padrão é
Trump com o bigode de Hitler; outro é uma representação de Trump
paralelo a Mussolini. Os manifestantes autodenominam-se antifascistas, ou,
abreviando, Antifas.
O período eleitoral foi dominado por confrontos acalorados, às vezes
violentos. Curiosamente, todos ocorreram durante os comícios de Trump;
não houve incidentes durante os comícios de Hillary. Em dada ocasião,
Trump teve de cancelar um comício em Chicago, pois nem mesmo a polícia
conseguiu controlar o caos. Em San José, os esquerdistas atacaram os
apoiadores de Trump com ovos, gerando embates enérgicos, inclusive
empurra-empurra e pancadaria. Embora esse tipo de coisa tenha sido
comum na Itália e na Alemanha durante o início do século XX, não se via
algo assim na política norte-americana desde os acessos frenéticos da
década de 1960.
O próprio Trump parecia impaciente com os desordeiros. Certa vez, ele
falou de um manifestante: “Eu gostaria de dar um soco na cara desse
sujeito”. Para outro, ele disse: “Nos velhos tempos, eles o arrancariam
daqui bem depressa”. Trump já se ofereceu a pagar os honorários de
eleitores que tomassem parte contra os manifestantes. No entanto, nenhuma
vez Trump pediu que eles perturbassem os comícios de Hillary. Em geral,
sua posição era: “Temos manifestantes que são sujos. Eles são realmente
perigosos, eles entram aqui e começam a bater em todo mundo”. Quando
um grupo de manifestantes latinos tentou interromper o comício que Trump
realizava em Miami, ele disse à multidão: “Vocês podem tirá-los daqui, mas
não os machuquem”.20
Mais tarde, um grupo chamado Project Veritas lançou evidências
gravadas em vídeo de que a campanha de Hillary e os grupos esquerdistas
haviam pagado manifestantes para provocar violência nos comícios de
Trump. Ainda assim, os principais meios de comunicação culpam Trump
pela violência. O argumento parecia ser o de que, mesmo quando a
esquerda dá início à confusão, a violência seria uma resposta natural e
justificável à retórica incendiária de Trump. A mídia retratou os baderneiros
da Antifa como opositores heróicos tentando barrar a ascensão do nazismo
na América.
Quero, agora, concentrar-me na violência pós-eleitoral, uma vez que é
algo bastante incomum na América. Afinal, a eleição acabou e o presidente
está eleito. Houve, entretanto, protestos e perturbações maciças nos eventos
referentes à posse presidencial. Esses protestos foram organizados por uma
miscelânea, mélange, de grupos, dos quais o mais proeminente parecia ser
um chamado Refuse Fascism. De acordo com um dos seus panfletos, “É o
caráter fascista do regime de Trump/Pence que o torna ilegítimo e um
perigo à humanidade”. O chamado do grupo à resistência foi assinado pelo
ator Ed Asner, pelo ativista Bill Ayers, pelas comediantes Margaret Cho e
Rosie O’Donnell, pela autora Alice Walker, entre outros.21
A polícia se preparou para uma semana de tumultos por ocasião da
posse, e ela estava certa em precaver-se. O problema começou na
DeploraBall, uma reunião independente organizada por Mike Cernovich,
partidário de Trump e acusado de ser da “direita alternativa” (alt-right).
Centenas de manifestantes se reuniram do lado de fora, gritando “escória
nazista” e levantando placas nas quais estava escrito “Alt-Reich” [“Reich
Alternativo”], enquanto os convidados entravam. Dois homens, um com
uma máscara de Hitler e outro com uma máscara de Mussolini, levantaram
placas que diziam: “Trump é da Direita Alternativa”. Quando os partidários
de Trump gritaram em resposta aos manifestantes, sobreveio o tumulto, os
manifestantes começaram a jogar garrafas nos participantes da DeploraBall
e nos policiais.22
A posse oficial de Trump, por si, provocou reações muito mais
tormentosas vindas da esquerda. Manifestantes, trajados de preto e muitos
usando máscaras, arremessaram pedras, tijolos e pedaços de concreto,
quebrando vitrines, inclusive a de um McDonald’s, de um Bank of America
e de um Starbucks no centro da cidade. Usando latas de lixo e caixas de
jornais, eles atearam fogo no meio da rua, viraram carros e os incendiaram.
Membros do movimento Black Lives Matter acorrentaram-se a cercas em
pontos de controle de segurança, forçando o Serviço Secreto a interditá-los.
Com helicópteros sobrevoando a região, a polícia usou sprays de
contenção e granadas de atordoamento para conter os manifestantes. No
entanto, quando um SUV da polícia tentou dispersar a multidão, os
manifestantes atiraram pedras, quebrando a janela traseira do veículo.
Ativistas da esquerda se chocaram contra os policiais, que finalmente os
dispersaram com spray de pimenta. Mais de duzentas pessoas foram presas.
Curioso dizer, onze delas eram jornalistas, que estavam lá supostamente
atuando como mídia, mas aparentemente também participando dos
tumultos.23
Simultaneamente, centenas de manifestantes mascarados apareceram na
Universidade da Califórnia, em Berkeley, para impedir que um partidário de
Trump, Milo Yiannopoulos, fizesse seu discurso. Eles derrubaram
barricadas policiais, quebraram janelas, depredaram caixas eletrônicos e
atacaram a polícia com fogos de artifício. Eles estavam acompanhados de
outras várias centenas de manifestantes, estudantes e esquerdistas da grande
Bay Area, carregando placas com frases como “É GUERRA”. O grupo que
organizou o protesto foi chamado de By Any Means Necessary [Faça o que
for Necessário], e se posicionou como uma organização antifascista.
Os manifestantes divulgaram uma declaração dizendo que estavam
lutando para impedir que “um grande fascista na ativa” invadisse seu
câmpus. “Vamos ser claros: Milo Yiannopoulos não está buscando a
liberdade de expressão. Ele está conscientemente liderando a nazificação da
Universidade Americana”.24 Na realidade, convenhamos, Yiannopoulos é
um provocador, é um comediante e conservador. Ele também é gay e
extravagante, que se autodeclara uma “bicha perigosa” e chama Trump de
“papaizinho”. Ao mesmo tempo que ataca o islã por suprimir cruelmente
mulheres e homossexuais, ele não tem associação nenhuma com o fascismo
ou o nazismo. Só posso imaginar como ele se encaixaria na Alemanha de
Hitler. Mas não importa, do ponto de vista da oposição, Milo era o nazista e
eles estavam protegendo sua comunidade do nazismo.
Os manifestantes não tinham a intenção de um proceder pacífico. O
objetivo claro era manter Milo do lado de fora. A polícia não pôde lidar
com uma manifestação de tamanha proporção, então o evento foi
cancelado. Observando os manifestantes com suas roupas pretas, de rostos
cobertos, alguns deles brandindo pedaços de pau e bastões, não pude deixar
de pensar nos camisas negras italianos e nos camisas pardas nazistas
desfilando pelas ruas com seus capacetes, bastões, socos ingleses e
correntes. A atmosfera surrealista de Berkeley refletiu, em certo sentido, o
surrealismo que caracterizou a política americana desde o início do período
eleitoral.
Eis, portanto, a ironia. Os manifestantes de Berkeley, assim como os
manifestantes contra Trump em D.C., declararam-se antifascistas. Porém, é
o lado deles que impôs censura ao impedir que determinado palestrante
discursasse num câmpus universitário. Foram eles também que, mesmo
indo contra a lei, impediram aqueles que apoiavam Trump de participar dos
eventos de posse. Enquanto os adeptos de Trump cuidam dos próprios
afazeres, os esquerdistas só sabem confrontar, assediando-os, ameaçando-
os, quebrando e queimando coisas, e se envolvendo em conflitos contra a
polícia. Como, então, é que os supostos fascistas agem de forma
visivelmente pacífica e legal enquanto os antifascistas se parecem mais com
os fascistas a quem eles supostamente estão resistindo?

A Racionalização da Violência
A princípio, pensava estar simplesmente testemunhando consequências
chocantes de uma eleição chocante. A esquerda não esperava que Trump
vencesse. Em 20 de outubro de 2016, a revista American Prospect publicou
um artigo intitulado “Trump No Longer Really Running for President”
[“Trump já não mais Concorre à Presidência”], cuja intenção era concluir
que o “objetivo político real de Trump é tornar impossível o governo para
Hillary Clinton”. O resultado das eleições foi, nas palavras do colunista
David Brooks, “o maior choque de nossas vidas”.25 Trump venceu contra
probabilidades praticamente insuperáveis, entre elas os grandes meios de
comunicação que fizeram campanha aberta a favor de Hillary, além da
guerra civil dentro do GOP com toda a ala intelectual do movimento
conservador recusando-se a apoiá-lo. A princípio, interpretei a revolta
impetuosa por parte da esquerda como uma reação atordoada e calorosa,
porém momentânea, à maior vitória da história política dos Estados Unidos.
Então, duas coisas me fizeram perceber que eu estava errado. Primeiro, a
violência não desapareceu. Houve protestos violentos como o “Not My
President’s Day” [“Dia de Dizer: Não é o meu Presidente”] por todo o país,
em fevereiro; as violentas manifestações de 4 de março nos comícios de
Trump na Califórnia, Minnesota, Tennessee e Flórida; as manifestações de
abril contra os impostos de Trump, todas supostamente destinadas a forçar
Trump a revelar suas declarações de impostos; as manifestações pró-
impeachment de julho, buscando impulsionar a retirada de Trump do cargo;
e as múltiplas, e convulsivas, manifestações em Berkeley.26
Em Portland, os esquerdistas arremessaram pedras, bolas de chumbo,
latas de refrigerante, garrafas de vidro e dispositivos incendiários, tornando
necessária a intervenção policial sob a chamada “Alerta, alerta, temos um
motim”. Mais cedo, no Capitólio Estadual de Minnesota, alguns
esquerdistas lançaram bombas de fumaça na multidão pró-Trump enquanto
outros preparavam fogos de artifício dentro do prédio, fazendo com que
pessoas fossem tomadas pelo medo de um ataque terrorista. No rol de
detidos estava Linwood Kaine, filho do candidato à vice-presidência de
Hillary, Tim Kaine.27 Mais do mesmo, sem dúvida, está guardado pela
esquerda pelos próximos quatro anos.
O que isso mostrou é que a esquerda esteve envolvida em violência
premeditada; não uma violência ocasionada por surtos de fervor, mas uma
violência como estratégia política. Muitos da esquerda justificaram a
violência e defenderam o motivo por que a estavam causando. Como, então,
em uma sociedade democrática, alguns cidadãos pensam ter o direito de
calar outros eleitores e de interromper os resultados de uma eleição sob os
ditames da democracia?
De acordo com Jesse Benn, ao escrever para o HuffPost, Trump não
passa de um fascista do século XXI. Além do mais, “Trump não existe em
um vácuo. Ele é a consequência natural da ala republicana, que perdura em
racismo [...] e do uso de imigrantes como bodes expiatórios”. A ascensão
do fascismo, ele diz, não é um “típico desacordo político entre os
partidários”. Historicamente falando, os fascistas só foram contidos por
uma “insurreição impetuosa”. Acreditar de forma diferente, ele insiste, é
“pôr em risco sua oposição e expor-se à cumplicidade com uma nova era da
política fascista nos Estados Unidos”.28
Escrevendo para a Atlantic Monthly, Vann Newkirk insiste que “uma vez
que as instituições democráticas não impediram a ascensão de Trump [...]
por que as pessoas que ele pretende ludibriar e marginalizar deveriam
confiar nas instituições democráticas para as proteger?”. A verdadeira
agenda de Trump, argumenta Newkirk, é baseada na violência: a violência
da construção do muro, a violência da deportação, a violência de manter as
pessoas fora da América por causa de sua religião, a violência de “punir a
mulher por abortar”. Por consequência, um voto em Trump significa “um
voto a favor da ampla disseminação da violência”. Diante de uma ameaça
fascista à vida e à liberdade, os manifestantes não têm escolha senão usar de
força para a própria defesa. A única maneira de cessar a violência é fazer
com que Trump desista de sua agenda ou que seus defensores o substituam
por “alguém menos virulento”.29
Escrevendo para a Nation, Natasha Lennard inicia com a premissa de
que, porquanto Trump representa o fascismo, “é constitutivo ao fascismo
exigir um tipo diferente de oposição”. Lennard argumenta que não faz
sentido lutar contra o fascismo com argumentos; em vez deles, o fascismo
só pode ser interrompido com o uso da força física, do mesmo tipo que foi
usada pelas brigadas que combateram Franco na Espanha ou pelos grupos
comunistas que lutaram contra os nazistas na década de 1920 e no início
dos anos 1930. Os antifascistas, ela conclui, estão empenhados em impedir
que os fascistas tenham voz: “a característica essencial do antifascismo é
que ele não tolera o fascismo; não se trata de uma plataforma para
debates”.30
Escrevendo para a Salon, ainda no período de campanha eleitoral, o
ativista Chauncey DeVega começou por admitir que “numa democracia em
funcionamento, a violência política deveria, quase sempre, ser condenada”.
No entanto, neste caso, DeVega estaria disposto a fazer uma exceção,
porque Trump é um “incendiário político” que, além disso, está “do lado
errado da História”. Segundo DeVega, a violência da esquerda é “uma
resposta às ameaças abertas e implícitas de danos físicos e outros prejuízos
e males causados por Donald Trump e por aqueles que o apoiam contra
imigrantes hispânicos sem documentação, americanos negros, outras
pessoas de cor e muçulmanos”. Observe com cuidado a linguagem usada
por DeVega: mesmo que os partidários de Trump não sejam de fato
violentos, caso considerados “ameaças abertas ou implícitas”, a esquerda
possui justificativas para usar de violência efetiva contra eles.31
Sentimentos como esse também ecoaram no artigo do ativista Kelly
Hayes intitulado “No Welcome Mat for Fascism: Stop Whining About
Trump’s Right to Free Speech” [Sem Tapete de Boas-Vindas para o
Fascismo: Pare de Choramingar pelo Direito de Trump à Liberdade de
Expressão].32 De fato, o argumento total de todos esses escritores pode ser
resumido em uma única frase: “Não à liberdade de expressão para os
fascistas”. Esta frase — percebe-se — remonta à década de 1960, quando
usada pela Nova Esquerda em protestos contra a Guerra do Vietnã. A
inspiração para tal lema veio de um professor de Berkeley chamado Herbert
Marcuse, boa parte das vezes esquecido em nossos dias, mas um guru para
os radicais dos anos 1960; sua base argumentativa, porém, está agora no
centro do debate político contemporâneo.
Marcuse argumentou que a esquerda é o partido da tolerância, mas que a
tolerância não é para todos: só para pessoas tolerantes. Na visão de
Marcuse, a esquerda não deve ser tolerante com os intolerantes. As pessoas
intolerantes, segundo ele, são basicamente fascistas. Elas se recusam a
respeitar o processo democrático; assim, por que deveriam receber o
respeito que recusam aos outros? Marcuse então argumenta que, em vez de
tolerar esses fascistas de direita, a esquerda deveria reprimi-los, calá-los, e
até mesmo espancá-los ou matá-los. Em essência, a esquerda deveria
destruir o fascismo por todos os meios necessários, do contrário os fascistas
os destruiriam.
O argumento de Marcuse ecoa o próprio Hitler, que disse que ou os
nazistas destruiriam os judeus ou os judeus destruiriam os nazistas. “Se eles
vencerem”, escreve Hitler, “Deus nos ajude! Todavia, se nós vencermos,
que Deus os ajude!”. Marcuse mesmo era um refugiado da Alemanha
nazista. Ele também fugiu da brutalidade do nazismo. Mas, ao mesmo
tempo, ele também viu a eficácia nazista em dispersar seus inimigos e levar
o próprio povo alemão à submissão. Marcuse basicamente argumentava
que, para derrotar o nazismo na América, seria preciso que a esquerda se
valesse de táticas nazistas.
Por táticas nazistas não me refiro apenas à violência de estudantes e
ativistas irritados. Também me refiro ao que os nazistas chamaram de
Gleichschaltung. O termo em si significa “coordenação”, “uniformização”,
e refere-se ao esforço nazista de usar a intimidação em todas as instituições
culturais da sociedade para que todos se alinhem às prioridades e à doutrina
nazistas. Os progressistas na América estão usando seu predomínio — na
verdade, seu total monopólio — na área acadêmica, no campo de
Hollywood e nos meios de comunicação para impor seu próprio
Gleichschaltung.
Eles fazem isso não somente por meio da propaganda descarada e da
completa mentira que deixaria Joseph Goebbels orgulhoso, mas também
através da batalha implacável e da exclusão forçada das vozes dissidentes
de suas instituições culturais, de modo que a voz deles seja o único ponto de
vista comunicado à grande maioria dos estudantes e cidadãos. Novamente,
do ponto de vista da esquerda, tais intimidações e exclusões são justificadas
porque é correto e adequado que os antifascistas usem de repressão contra
aqueles que eles consideram fascistas.
Todo esse modus operandi — que Marcuse chamou de “tolerância
repressiva”, e que está encapsulado na doutrina não à liberdade de
expressão para os fascistas — está, agora, no cerne de nosso debate
político. Isso levanta duas perguntas importantes. Primeiro, é verdade que
os fascistas não merecem ser ouvidos e é justificável negar-lhes direitos
civis e constitucionais? Em segundo lugar — a pergunta mais importante
—, é verdade que as pessoas que a esquerda chama de fascistas e nazistas
são de fato fascistas e nazistas?

Os Verdadeiros Fascistas
Essas são as perguntas que pretendo responder neste livro. A primeira
pergunta eu deixo para o capítulo final, onde a respondo com um ressonante
não. Irônico o bastante, os esquerdistas deveriam gostar da resposta que
dou, pois basicamente estou dizendo é que não se pode privá-los de seus
direitos civis e constitucionais. Eles são os verdadeiros fascistas, mas ainda
assim merecem a plena proteção da constituição e da lei. E também
concordo com o princípio de que os fascistas não podem ser combatidos do
modo convencional. É preciso especial coragem para derrotar um
movimento tão vicioso e perverso. O que se faz necessário para derrotar a
esquerda é nada menos que a desnazificação, e no final deste livro mostro
como isso pode ser feito.
Meio que tendo dado a resposta, respondo agora à outra pergunta, mais
abrangente e mais importante: quem são os verdadeiros fascistas da política
americana? Essa pergunta raramente é feita de forma séria, e por isso quero
dar crédito a dois importantes predecessores notáveis que já araram este
solo. Primeiro, o economista Friedrich Hayek, cujo livro The Road to
Serfdom [O Caminho para a Sujeição], publicado pela primeira vez em
1944, fez a afirmação surpreendente de que democracias ocidentais sob o
Estado do bem-estar social [Welfare State], tendo derrotado o fascismo,
estavam se movendo inexoravelmente na direção fascista.
Hayek identificou o fascismo como um fenômeno de esquerda, um
primo do socialismo e do progressismo. E alertou: “O surgimento do
fascismo e do nazismo não foi uma reação contra as tendências socialistas
do período anterior, mas um resultado necessário dessas mesmas
tendências”. Embora o livro de Hayek tenha sido escrito num tom pedante e
medido, apelando aos progressistas que aprendessem de alguém que
testemunhou experiencialmente a ascensão do fascismo na Europa,
estudiosos progressistas, como, por exemplo, Herman Finer, puseram-se de
imediato a criticar Hayek, acusando-o de exibir um “profundo desprezo
hitleriano pelo homem democrático”.33
Se percebida nessa reação a tentativa progressista, que já soa familiar, de
se apossar da cartada hitleriana e jogá-la de volta contra Hayek, então já há
um vislumbre de como a grande mentira funciona. Aqui está Hayek
argumentando como os progressistas estão se movendo em direção a Hitler;
porém, sem responder à acusação, não propondo nenhuma evidência que
lhes dê algum suporte, a esquerda se volta e acusa Hayek de ser feito Hitler.
Jonah Goldberg recebeu praticamente o mesmo tratamento ao seu
importante livro Liberal Fascism [Fascismo Liberal]. Goldberg argumenta:
“O que chamamos de liberalismo — o edifício remodelado do progressismo
americano — é, de fato, um descendente e uma manifestação do fascismo”.
Goldberg argumenta que o fascismo e o comunismo, longe de serem
opostos, são “concorrentes históricos intimamente relacionados para os
mesmos constituintes”. Goldberg nomeia o progressismo de “movimento
irmão do fascismo” não menos que o comunismo, o qual exibe uma
“semelhança familiar que poucos admitem reconhecer”.34
Goldberg traça inúmeros paralelos entre o progressismo e o fascismo,
deixando clara a longa lista esquerdista nas plataformas de Mussolini e de
Hitler, para, em seguida, mostrar seu paralelo com o progressismo
americano moderno. Goldberg consegue ir fundo, detectando até mesmo o
odor do fascismo nas políticas modernas de ambientalismo progressista,
vegetarianismo, medicina holística e políticas pedagógicas. Embora às
vezes exagere nas comparações que faz com o fascismo, seu livro vale
muito a pena ser lido em virtude da originalidade e abrangência
apresentadas. Pois então, mais uma vez, a esquerda, vingativa, colocou-se
contra Goldberg, acusando-o de ser, sem contar todas as demais coisas,
fascista.
Hayek e Goldberg são o ponto de partida para o meu livro. Mas vou
muito além e cavo em áreas de pesquisa intocadas por eles. Hayek, por
exemplo, afirmou que o fascismo e o nazismo emergiram da esquerda, mas
nunca explicou como isso aconteceu. Com base no trabalho de estudiosos
como Anthony James Gregor, Renzo De Felice e Zeev Sternhell, conto a
fascinante história de como o fascismo e o nazismo emergiram de um
debate dentro do socialismo. O problema surgiu quando as profecias
centrais do marxismo não se cumpriram. Foi em uma enorme crise que a
esquerda caiu, e o marxismo basicamente dividiu-se em dois campos: o
primeiro tornou-se o leninismo e o bolchevismo, o outro tornou-se o
fascismo e o nazismo.
Goldberg associa a esquerda americana ao fascismo, mas não se atreve a
fazer ligação equivalente com o nazismo, provavelmente não querendo se
arriscar a associar a esquerda com genocídios e campos de concentração. É
daí que realmente começo com meu livro. Conforme Goldberg bem sabe, o
fascismo e o nazismo são duas coisas diferentes. Hitler praticamente nunca
referiu a si mesmo como fascista, e Mussolini nunca se autodenominou
nazista ou nacional-socialista. Pretendo demonstrar que há conexões
profundas não apenas entre a esquerda e o fascismo, mas também entre a
esquerda e o nazismo.
De certa forma, os democratas progressistas estão ainda mais próximos
dos nazistas alemães do que dos fascistas italianos. Os fascistas italianos,
por exemplo, eram muito menos racistas do que o Partido Democrata nos
Estados Unidos. Não existem, referindo-se à Itália, paralelos para o
terrorismo racial disfarçado do Ku Klux Klan, que também era apoiado pelo
Partido Democrata, mas estes são encontrados na Alemanha nazista. As
políticas democratas de supremacia branca, segregação racial e
discriminação fomentadas pelo Estado eram também estranhas ao fascismo
italiano, mas comuns ao Terceiro Reich.
Aqui, por exemplo, está uma passagem do livro The Anatomy of Fascism
[A Anatomia do Fascismo], de Robert Paxton: “Pode ser que o fenômeno
mais antigo a ser eficientemente ligado ao fascismo seja americano: a Ku
Klux Klan”. Muito antes dos nazistas, Paxton salienta, a KKK adotou seu
uniforme segregado, de vestimentas e capuzes, e engajou-se no tipo de
intimidação e violência que ofereceu “uma prévia contundente do modo
como os movimentos fascistas deveriam funcionar na Europa no período
entreguerras”.35 Ainda que pareça uma concessão surpreendente quando
por um progressista, Paxton protege seu lado político não mencionando
que, durante esse período, a Ku Klux Klan era o braço terrorista da família
do Partido Democrata.
O racismo do Partido Democrata na América não só precedeu o racismo
dos nazistas, mas perdurou por muito mais tempo — mais de um século, em
comparação com os doze anos do domínio nazista sobre a Alemanha. O
racismo do Partido Democrata após a Guerra Civil foi precedido pela defesa
da escravidão e pelo apoio às políticas de reassentamento e extermínio de
índios americanos por parte desse mesmo partido. Pensamos em conceitos
como “genocídio” e “campos de concentração” como exclusivos ao
nazismo, mas que termo exceto genocídio usar para descrever o
reassentamento em massa dos índios pelo presidente democrata Andrew
Jackson? Jackson e seus aliados não buscaram sistematicamente despojar,
deserdar e desmembrar os índios como povo? Usando a definição oficial de
genocídio dada pelas Nações Unidas, demonstro que, sim, foi um
genocídio.
Além disso, o que mais seriam as fazendas de escravos senão um tipo
particular do campo de concentração? Sim, pode parecer uma analogia
ultrajante. Como comparar um sistema de trabalho forçado, por mais injusto
que seja, aos campos nazistas, projetados e usados para matar seres
humanos? No entanto, como mais adiante será analisado, os campos de
concentração também eram campos de trabalho. Nos campos de
concentração alemães e nas fazendas de escravos regidas pelos democratas,
em ambos o trabalho forçado era empregado com “ferramentas humanas”
unicamente no que dizia respeito à produtividade, mas com pouca ou
nenhuma consideração pela vida dos trabalhadores, que eram, em ambos os
casos, considerados inferiores e até mesmo sub-humanos. A analogia entre
dois dos piores sistemas de confinamento compulsório e de trabalho
forçado na história da humanidade não é meramente legítima; ela já passou
da hora de ser feita.
Além do mais, toda essa questão foi levada a um patamar completamente
novo desde a publicação do livro, um marco pioneiro, do historiador
Stanley Elkins, Slavery [Escravidão]. Elkins, tecendo paralelos bem
elaborados, não só se refere às fazendas de escravos como um “sistema
fechado” consanguíneo do campo de concentração, mas também mostra que
a escravidão produziu tipos de personalidades estranhamente semelhantes
às descritas pelos sobreviventes dos campos nazistas. Logo, a questão é
que, mesmo em algumas das instituições e práticas associadas
exclusivamente aos nazistas — do genocídio aos campos de concentração
—, os democratas, em determinado sentido, foram os primeiros a chegar lá.

Aprendendo com Hitler


Neste livro, mostro o que a esquerda aprendeu com os nazistas e também
o que, por sua vez, a esquerda lhes ensinou. Acontece que a esquerda
forneceu aos nazistas certos esquemas políticos muito importantes, os quais,
por sua vez, foram por eles implementados na Europa com disposição
assassina. Por exemplo, Hitler disse especificamente que pretendia deslocar
e exterminar os russos, os poloneses e os eslavos do mesmo modo como os
americanos na era jacksoniana haviam deslocado e exterminado os índios.
As leis nazistas de Nuremberg foram diretamente modeladas com base nas
leis de segregação e nas leis contrárias ao casamento inter-racial, já
implementadas décadas antes no Sul democrata.
A esterilização forçada e a eutanásia, cujos objetivos eram eliminar os
“defeitos” raciais e produzir uma raça nórdica “superior”, foram outros dois
programas que os nazistas tomaram dos progressistas americanos. Não é
minha opinião sobre o assunto, esta era a visão dos eugenistas da Alemanha
nazista. No início do século XX, a eugenia e o darwinismo social eram
muito mais predominantes na América do que na Alemanha. Margaret
Sanger e seus companheiros eugenistas e progressistas não tomaram dos
nazistas suas ideias de matar aqueles seres indesejáveis — ou de impedir-
lhes a concepção. Mas foram os nazistas que as tomaram de seus
homólogos americanos, os quais dominavam o campo internacional da
eugenia. Há, portanto, uma via de mão dupla entre o nazismo e a esquerda
americana.
Essa é uma história que compromete profundamente os heróis do
progressismo americano: Woodrow Wilson, Franklin D. Roosevelt e John F.
Kennedy. Wilson foi um verdadeiro progenitor do fascismo americano. Eu
o chamo de protofascista. Ademais, foi ele um racista que carrega
praticamente toda a culpa pelo ressurgimento da Ku Klux Klan, organização
que, de acordo com o historiador Robert Paxton, foi a precursora americana
mais próxima de um movimento nazista.
Mussolini era, o que ficará evidente, avidamente admirado por Franklin
D. Roosevelt (FDR), que procurou importar programas fascistas italianos
para a América. FDR também colaborou com os piores elementos racistas
do solo americano, trabalhando com eles para impedir as leis contrárias ao
linchamento, para excluir os negros dos programas do New Deal e nomear
um ex-membro da Ku Klux Klan à Suprema Corte. Mussolini, por sua vez,
elogiou o livro de FDR, Looking Forward [Olhando Adiante], e
basicamente o considerou mais um companheiro fascista. Hitler também o
tinha por congênere de espírito, em consonância com o jornal oficial do
Partido Nazista, Volkischer Beobachter, e outros impressos da Alemanha
nazista que louvavam o New Deal por este ocupar um tipo americano de
fascismo.
JFK percorreu a Alemanha nazista na década de 1930 e voltou efusivo,
tecendo elogios a Hitler e sua teoria da superioridade nórdica. “Cheguei à
conclusão”, escreveu JFK em seu diário, “de que o fascismo é o caminho
certo para a Alemanha e para a Itália”. Ao visitar a Renânia, JFK fez eco à
propaganda nazista da época. “As raças nórdicas parecem definitivamente
superiores aos romanos”. A hostilidade a Hitler, insistiu JFK, decorria
sobretudo de ciúmes. “Os alemães realmente são muito bons — é por isso
que as pessoas conspiram contra eles”. Apesar de ter lutado na Segunda
Guerra Mundial, JFK continuou tendo uma queda por Hitler, inclusive até
1945, quando ele o descreveu como “a suma das lendas [...] Hitler emergirá
do ódio que agora o rodeia e será considerado uma das figuras mais
significativas que já viveu”.36
Tais fatos incriminatórios são do conhecimento de muitos intelectuais
progressistas. E foi depois da Segunda Guerra Mundial, quando este grupo
passou a dominar cada vez mais a academia — um domínio completamente
consolidado no final da década de 1960 —, que os progressistas
reconheceram como seria esmagador se os americanos conhecessem a
verdadeira história do progressismo e do Partido Democrata. E se o povo,
especialmente o público jovem, soubesse dos vínculos entre figuras
progressistas reverenciadas hoje como Wilson, FDR e JFK, de um lado, e,
do outro, aquelas repudiadas como Mussolini e Hitler? Chegar a esse
conhecimento não simplesmente derrubaria heróis progressistas de seu
pedestal, mas, basicamente, sinalizaria o fim do progressismo e do Partido
Democrata.
Desse modo, os progressistas decidiram contar uma nova história, e esta
é a história que hoje vigora. Nesta história, o fascismo e o nazismo, que
eram, desde o princípio, reconhecidos como fenômenos de esquerda por
ambos os lados do Atlântico, agora foram transportados para os pilares da
direita. De repente, Mussolini e Hitler tornaram-se “de direita”, ao contrário
daqueles que supostamente os levaram ao poder, que transformaram-se em
“conservadores”. A esquerda, então, tornou-se a gloriosa resistência contra
o fascismo e o nazismo.
Para que a história funcionasse, o fascismo e o nazismo tiveram de ser
radicalmente redefinidos. O grande problema era que Mussolini e Hitler
identificavam o socialismo como o cerne do fascismo e do weltanschauung
nazista. Mussolini era a figura principal do socialismo revolucionário
italiano e nunca renunciou sua fidelidade ao sistema. Já o partido de Hitler
definiu-se como defensor do “nacional-socialismo”. Assim, os progressistas
tiveram de descobrir como transportar esses esquerdistas confessos para a
direita e como arrancar o “socialismo” do “nacional-socialismo”. Não foi
uma tarefa fácil.
Como fazê-lo? Pegando uma deixa dos marxistas, a esquerda resolveu, já
na década de 1960, suprimir completamente o fato de que o fascismo e o
nazismo eram, ambos, sistemas de pensamento, conjuntos de crenças. De
acordo com Denis Mack Smith, historiador de esquerda, “o fascismo
italiano não se originou como doutrina, mas como método, como uma
técnica para ganhar poder, ainda que, à primeira vista, seus princípios não
fossem claros até para os seus próprios membros”. O historiador Ruth Ben-
Ghiat, citado constantemente pela mídia que vincula Trump ao fascismo,
insiste, no entanto, que o fascismo é “uma daquelas palavras muito difíceis
de definir com precisão”, porque “o regime fascista dizia respeito a tudo
quanto era contradição, e esse tipo de ambiguidade permaneceu no
fascismo”.37
Na verdade, tais tolices só podem ser sustentadas quando há recusa de
levar os próprios fascistas a sério. Conforme o historiador Anthony James
Gregor escreve: “Sob a influência desagradável da análise que o marxismo
faz do fascismo, as declarações fascistas nunca são analisadas como tais.
Elas são sempre “interpretadas”. Os fascistas nunca são compreendidos
naquilo que dizem. Por consequência, houve, até o momento, pouquíssimo
esforço para fornecer um relato sério do fascismo como ideologia”.38
Entretanto, a esquerda reconheceu no fascismo tendências amorfas que
poderiam ser aplicadas com facilidade em outras várias doutrinas políticas:
o autoritarismo, o militarismo, o nacionalismo, etc.
Pense no seguinte: conhecemos o nome do filósofo do capitalismo,
Adam Smith. Também conhecemos o nome do filósofo do marxismo, Karl
Marx. Então, rápido, qual o nome do filósofo do fascismo? Pois é,
exatamente. Você não sabe. Praticamente ninguém sabe. Meu ponto é: a
razão disso não é que não havia pensadores basilares para a formação e
estruturação do corpo fascista — seus nomes aparecem neste livro —, mas,
sim, que a esquerda teve de livrar-se deles para evitar o confronto com suas
inevitáveis propensões socialistas e esquerdistas. Pois então — assim como
quando o Hillary’s America surgiu —, os progressistas concordaram entre si
dizendo: “Vamos fingir que nada disso existe, pode ser?”. Eis a grande
mentira a todo vapor.
Se o estatismo e o coletivismo estão no cerne do fascismo, o nacional-
socialismo acrescenta outro ingrediente explosivo — o antissemitismo.
Trata-se de algo já bem conhecido. O que os progressistas têm
cuidadosamente disfarçado, no entanto, é o quanto o antissemitismo nazista
surgiu do ódio de Hitler pelo capitalismo. Hitler estabelece uma distinção
crucial entre o capitalismo produtivo, que ele consegue suportar, e o
capitalismo financeiro, que ele associa aos judeus. Para Hitler, o judeu é o
avarento improdutivo no centro do capitalismo financeiro, o empreendedor
trapaceiro par excellence. Dificilmente parece ser de “direita”; com efeito,
em havendo alguma leve modificação, isso ecoa uma retórica progressista
sobre os gananciosos banqueiros da Wall Street. Nessa condição, os
progressistas perceberam a necessidade de esconder a verdadeira base do
antissemitismo de Hitler; para tanto, o próprio antissemitismo precisou ser
redefinido.
Como você pode facilmente perceber, o que está em cena é uma grande,
uma grande mentira — uma mentira que continua a crescer e que contém
várias mentiras menores —, e é daí que o meu trabalho fica mais fácil. Mas,
antes, é preciso compreender a grande mentira em todas as suas dimensões,
a fim de nos mantermos livres dela. Uma vez livres, a esquerda estará
acabada. O seu poder sobre nós desaparecerá. Eles tinham em mãos a
cartada racial e agora têm a cartada nazista, mas não têm nenhuma outra
cartada. Se eles a perderem, perderão seu capital moral e estarão expostos
ao que realmente são — fanáticos, intolerantes, facínoras, assassinos, vis e
egoístas, ladrões da vida e da liberdade. Eles são os verdadeiros
descendentes de Mussolini e de Hitler; ao derrotá-los, poderemos
finalmente descansar dos fantasmas do fascismo e do nazismo.
Capítulo Dois
Falsificando
a História
A propaganda é sempre um meio para determinado fim. A propaganda que
produz os resultados desejados é boa, todas as demais são ruins.1
Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista
Este capítulo expõe a falsificação da história que apoia a acusação de que
Trump e o GOP são os fascistas e nazistas do século XXI. Tamanha
falsificação é produto de setenta anos de dissimulação e engano
progressistas. O engano envolve destacar características ocasionais de
Mussolini e Hitler e fingir que eles representam o fascismo no aspecto mais
essencial. A dissimulação envolve esconder a verdadeira essência do
fascismo — ocultando, inclusive, o próprio nome de seu principal filósofo
—, pois, uma vez exposta, torna-se óbvio que Trump e o GOP não podem
ser fascistas e que, pelo contrário, o fascismo e o nazismo são ideologias
inerentes à esquerda. Na verdade, veremos os paralelos surpreendentes
entre os temas centrais do fascismo e do nazismo do século XX, e os temas
do progressismo americano do século XXI.
Antes de entrar neste tópico, importa esclarecer o que se quer dizer pelos
termos “esquerda” e “direita”. O uso político de ambos remonta ao ano de
1789 e à Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional em Paris, os
partidários da Revolução sentaram-se do lado esquerdo e seus oponentes,
do lado direito. É assim que surgiu a origem da “esquerda” e da “direita”. O
termo “direita”, neste contexto, refere-se aos defensores do Ancien Régime,
desejosos de que a França retornasse à aliança entre a Coroa e a Igreja, que
precedeu a revolução. O termo “conservador” passou a descrever a velha
guarda, que intentava conservar a monarquia e as prerrogativas da Igreja
estabelecida pelo Estado contra a derrubada revolucionária.
Logo, de imediato, surge um problema: se isso for o que “direita” e
“conservador” significam, então não há líderes de direita ou conservadores
na América. A América nunca passou pela monarquia nem teve uma igreja
oficial. Os conservadores americanos modernos não têm a intenção de
introduzir nenhum dos dois. Em que sentido, então, os conservadores
modernos são de direita? O que é que os conservadores americanos querem
conservar?
A resposta é bastante simples. Eles querem conservar os princípios da
Revolução Americana. Assim, a direita francesa se opunha à Revolução
Francesa, ao passo que a direita americana defende a Revolução
Americana. Se parece paradoxal usar os termos “conservar” e “Revolução”
na mesma frase, é esse paradoxo, no entanto, que define o conservador
moderno. A Revolução Americana caracterizou-se por três liberdades
básicas: liberdade econômica, ou capitalismo, liberdade política, ou
democracia constitucional, e liberdade de expressão e religiosa. Essas são
as liberdades que os conservadores americanos procuram preservar em suas
formas originais.
Como os Pais Fundadores entenderam, a principal ameaça à liberdade
vem do governo federal. Consequentemente, nossos direitos são
mecanismos de proteção contra a invasão e intervenção excessiva do
governo. É por isso que a Declaração dos Direitos dos Estados Unidos se
inicia com: “Ao Congresso é proibida a criação de leis”. Tendo posto
grilhões ou restrições no governo federal, são garantidos os direitos e
liberdades fundamentais, cujo objetivo é dar ao americano o poder da
“busca por felicidade”. A felicidade é o fim e os direitos e as liberdades são
os meios que conduzem a esse fim. Os americanos de direita são aqueles
que, limitando o poder centralizado do Estado, procuram proteger os
direitos dos americanos de buscar pela felicidade.
“Um despotismo eletivo”, disse Jefferson, “não é aquilo por que
lutamos”.2 O Partido Democrata-Republicano de Jefferson precedeu o atual
sistema de dois partidos, mas o que ele pensava e sentia vai bem ao
encontro do coração daquilo que direitistas e conservadores apoiariam com
fervor. Nem mesmo os governos eleitos têm poder ilimitado. Estes devem
operar dentro de um domínio específico; quando o ultrapassam, tornam-se
uma ameaça à nossa liberdade e, a este respeito, tirânicos. Hoje, não mais é
preciso obedecer a uma tirania eleita como os próprios Pais Fundadores
foram obrigados a obedecer à autoridade tirânica da Coroa britânica.
Limitando o poder do Estado, os conservadores procuram, entre outras
coisas, proteger o direito do povo de reter os frutos do próprio trabalho.
Abraham Lincoln, o primeiro presidente republicano da América,
posicionou-se ao lado da tradição dos Pais Fundadores quando disse:
“Sempre pensei que o homem que planta o milho deve, também, comer o
milho”. Lincoln, bem como os Fundadores, não temia que a propriedade
privada ou os ganhos privados pudessem causar desigualdade econômica.
Em vez disso, ele acreditava que, assim como três dos Pais Fundadores
haviam escrito no Artigo 10 do O Federalista, “a proteção de diferentes e
desiguais faculdades de aquisição de propriedade” é a “primeira finalidade
do governo”.3
Os conservadores americanos também procuram preservar a ordem
moral transcendente que, embora não especificada na Constituição, está
clara sob a fundação americana. Considere, como um único exemplo, a
proposição da Declaração de Independência de que todos somos “criados
iguais” e dotados de “direitos inalienáveis”, incluindo o “direito à vida”.
Para os conservadores, isso significa que a vida humana é sagrada, dotada
da dignidade oriunda da criação divina, tão preciosa que o direito à vida não
pode ser vendido, mesmo com o consentimento do comprador e do
vendedor; e, por fim, que nenhum governo pode violar o direito à vida sem
que esteja perpassando e violando os valores morais e políticos mais
basilares da América.
Muito já foi dito a respeito da política de “direita”, e quanto à política de
“esquerda”? A esquerda na América é definida por sua hostilidade às
restrições postas sobre o governo federal pelos Pais Fundadores. É por essa
razão que os esquerdistas costumam lamentar as restrições constitucionais
sobre o poder do governo, alegando que a Constituição está tristemente
desatualizada e pedindo que seja adotada, em vez disso, uma “Constituição
viva” — uma Constituição adaptada ao que a esquerda considera
progressista. Na verdade, hoje em dia, muitos esquerdistas usam para si o
termo “progressista” como rótulo político preferido. Eles costumavam se
chamar de “liberais”, termo que pretendia fazer referência à liberalidade, ou
à liberdade; já agora eles se valem da palavra “progressista”, um termo que
os identifica com o futuro em oposição ao passado.
O termo progresso é, em si, um termo vago, tornando-se necessário,
portanto, compreender o que os progressistas querem dizer quando o
utilizam. O que eles querem dizer é o progresso em direção a um maior
poder e controle do governo. Os progressistas, em outras palavras, são
paladinos do poder do Estado centralizado. Três palavras muito ruins no
progressismo moderno são “direitos dos estados”. Os progressistas são mais
felizes quando o governo federal controla as coisas e ainda mais quando
eles mesmos são responsáveis por esse governo federal. Isso é o que garante
o “progresso”; sejam quais forem, reveses contra o programa representam
“reacionarismo” e “regresso”. Sem espanto nenhum, os esquerdistas
chamam de “regressistas” ou “reacionários” os conservadores que resistem
à expansão do poder do governo.
Mas por que o poder do Estado deve ser tão centralizado? Enquanto os
Fundadores consideravam o governo como o inimigo dos direitos, a
esquerda progressista considera o governo federal como seu amigo, como
aquele que lhe garante tais direitos. Além disso, os progressistas
desconfiam do sistema de livre mercado e querem que o governo controle e
direcione a economia, não necessariamente nacionalizando ou controlando
empresas privadas, mas, no mínimo, regulamentando suas operações e,
ocasionalmente, delimitando suas estratégias.
Ademais, a esquerda busca autoridade governamental para impor e
institucionalizar valores progressistas como o aborto e os direitos iguais
para gays e transexuais, tudo sob financiamento do governo federal. A
partir do posicionamento acerca do aborto, já se percebe que a esquerda
rejeita a ideia de uma ordem moral transcendente, rechaçando-a tão
fixamente quanto se opõe ao princípio conservador de um direito
inalienável à vida. Então, se a “direita”, na América, significa um governo
limitado e não intrusivo com amplo alcance para a busca individual da
felicidade, a “esquerda”, na América, significa um poderoso Estado
centralizado que implementa valores esquerdistas e é controlado pela
esquerda.

Introduzindo a Mentira
Munidos desta compreensão dos termos esquerda e direita, agora cabe
investigar para saber se acaso Trump e o GOP estão de alguma forma
aliados ao fascismo e ao nazismo; e, caso não estejam, quem está. Não faz
sentido começar com os vários especialistas como Bill Maher, Chris
Matthews, Michael Kinsley ou Chris Hedges que, em sua própria forma
vulgar, igualaram Trump a Hitler. Parece óbvio que nenhum deles sabe nada
sobre o fascismo senão por tagarelices durante coquetéis. Típico disso é
Matthews, que chamou de “cheiro de fascismo” o fato de Trump ter
demitido o diretor do FBI, mesmo que o presidente tenha todo o direito de
substituir seu diretor do FBI, como Bill Clinton fez.4 Não mencionarei os
demais listados.
Mas as coisas tornam-se interessantes quando um grande estudioso
progressista do fascismo se envolve. Então, começo com duas entrevistas
do historiador Robert Paxton, autor da obra The Anatomy of Fascism,
seguidas de uma citação especialmente reveladora desse livro. A primeira
entrevista é com a âncora de um programa de esquerda, Amy Goodman,
que parecia bastante incomodada por Trump haver retuitado uma citação de
Mussolini. A citação dizia: “É melhor viver um dia como leão do que cem
anos como ovelha”. Quando exigiram que se retratasse, Trump se recusou.
“É uma citação muito boa”, disse ele. “Que diferença faz se foi Mussolini
ou outra pessoa?”. Aqui está a marca registrada do destemor de Trump. Ele
acha a citação boa e se recusa a ser assustado pela associação supostamente
radioativa com Mussolini. Paxton observa com ironia os comentários de
Trump: “Eu o considero tolerante demais com esse tipo de oratória
política”. Em outra parte da conversa, Paxton observa que, assim como
Hitler, “Não faz muito tempo, Trump era motivo garantido de boas
gargalhadas. Era visto como um bufão. Tudo o que você tinha de fazer era
mostrar o cabelo e chamá-lo de “Donald” e todo mundo ria”.5 Segue-se,
portanto, que a transição de bufão para poderoso supostamente liga Trump
ao fürhrer.
Em sua segunda entrevista, então com Isaac Chotiner da revista Slate,
Paxton fica mais enfático: “O uso de estereótipos étnicos e a exploração do
medo de estrangeiros vêm diretamente do livro de receitas fascista. Fazer
do país uma grande nação outra vez vez soa exatamente como os
movimentos fascistas. Preocupações com a queda da nação, este era um dos
estados emocionais mais intensos evocados no discurso fascista, e Trump
está o usando com toda força. Uma política externa agressiva para barrar
este suposto declínio. Nada mais é que um golpe fascista”. Há muito aqui e
vou lidar com isso, mas gostaria de salientar que muitos outros presidentes
americanos já falaram sobre o declínio nacional, prometeram restaurar o
país e promoveram uma política externa agressiva, sem serem acusados de
terem lido o livro de receitas fascista.
E então Paxton prossegue: “Li determinado relato que absolutamente me
surpreendeu, em que Trump chega a um discurso enquanto sua audiência
estava reunida em um hangar; então ele pediu que o avião pousasse no
campo, logo depois que fosse feito o taxiamento até o hangar e só então
saiu. Foi exatamente o que fizeram em 1932 para a primeira vitória eleitoral
de Hitler. Suponho ter sido um acidente, mas, uau!, eis aí a repetição quase
perfeita de uma tática das eleições de Hitler”. Perceba, Trump é culpado de
usar das mesmas táticas eleitorais de Hitler porque pousou dentro de um
avião e por haver uma multidão reunida no hangar o esperando? No lugar
de apresentar conteúdo ligando Trump ao fascismo, Paxton concluiu
dizendo que Trump “parece mesmo com Mussolini na forma de mexer o
queixo”.6 Bom, Paxton ao menos não comenta se Trump tem a mesma
simpatia pela comida italiana que Mussolini tinha.
Finalmente, volto-me para uma passagem do livro The Anatomy of
Fascism, em que Paxton, observando atenciosamente o colapso dos regimes
de Hitler e Mussolini na Segunda Guerra Mundial, especula se o fascismo
poderia vir para a América e, em caso afirmativo, como seria sua aparência.
“A linguagem e os símbolos de um autêntico fascismo americano”, ele
escreve, “teriam pouca relação com os modelos europeus originais. Eles
teriam de ser tão familiares e de tal maneira encorajadores para americanos
fiéis de igual modo a linguagem e os símbolos dos fascismos originais eram
familiares e encorajadores a muitos italianos e alemães. Sem suásticas no
fascismo americano, mas com Estrelas, Listras, e Cruzes cristãs. Nada de
saudações fascistas, mas com recitações em massa jurando lealdade”.7
Observe o que Paxton está comunicando nessa passagem e nas duas
entrevistas anteriores. Como bom progressista, ele está dando aos canais da
mídia esquerdista o que eles querem. Mesmo às vezes rodeando sem saber
muito bem o que dizer — em determinado momento, ele percebe que o
individualismo de Trump não é inteiramente consistente com o fascismo —,
ele ainda confirma que Trump é, de modo geral, uma espécie de fascista e
protonazista. Em seguida, Paxton definitivamente liga o fascismo com as
exibições patrióticas da direita americana. Ele, no entanto, não menciona
limitações impostas sobre o governo ou sobre o capitalismo, nem sobre
nenhum dos principais aspectos que definem o conservadorismo americano.
Em nenhum momento Paxton sugere haver algo a respeito de Obama ou
Hillary que espelhe o fascismo ou o nazismo. O fascismo é um termo
italiano que significa “agrupamento” [groupism] ou “coletivismo”. Os fasci,
na Itália, eram grupos de ativistas políticos que pegaram seu nome dos
fasces da Roma antiga — feixes de varas carregados pelos lictores,
simbolizando a força unificada dos romanos. O significado central do termo
fascismo é que as pessoas são mais fortes como grupo do que como
indivíduos.
Paxton certamente o sabe, mas acha melhor não mencionar. Na verdade,
ele não insinua nenhuma vez que o fascismo possa ser, mesmo
remotamente, um fenômeno da esquerda política. E, ao longo dessas
entrevistas, é impressionante perceber quão pouco Paxton fala a respeito do
que é de fato o fascismo. Ele não cita nem ao menos um pensador fascista,
nada que forneça a compreensão fascista do próprio fascismo — tudo o que
temos é a interpretação progressista que parece avançar rapidamente a partir
de algumas poucas generalizações, como, por exemplo, o declínio nacional
e o patriotismo, para, depois, concluir resolutamente.
Mais uma vez, não estou dizendo que Paxton não possui um
conhecimento maior sobre o assunto. Seu livro mostra que possui. Ele
conhece os documentos relevantes; ele faz referência a eles e está
familiarizado com os intelectuais fascistas; ele os cita. É isso que torna o
seu desempenho tão intrigante. Embora tenha conhecimento, Paxton está
dialogando com pessoas ignorantes o suficiente para confirmar os
preconceitos delas ao mesmo tempo que mantém sua erudição bona fides.
No fim das contas, permita-me dizer, Paxton está participando,
conscientemente, da grande mentira.
Desta forma, portanto, a grande mentira é disseminada: acadêmicos
astutos como Paxton estabelecem a base intelectual, daí a mídia e
Hollywood dizem: “Olhe, aqui está um sujeito que realmente tem domínio
sobre a área, confirmando que a nossa posição política possui justificativa”.
Estranho notar, a área de Paxton não é o nazismo nem o fascismo italiano; é
a França de Vichy. Anthony James Gregor é a maior autoridade viva sobre o
fascismo, e Stanley Payne publicou não faz muito tempo seu livro sobre a
história do fascismo, obra definitiva da área. Entretanto, a mídia
progressista nunca os convida para entrevistas.
Por quê? Eis aqui uma citação direta da obra The Ideology of Fascism [A
Ideologia do Fascismo], de Gregor: “O movimento em si não foi
conservador. Foi revolucionário. Sua clara intenção era destruir todos os
artefatos sociais, econômicos e políticos do liberalismo clássico”. E aqui
está uma citação de Payne: “O núcleo que, por fim, fundou o fascismo na
Itália não decorreu dos nacionalistas de direita, mas da transformação por
parte da esquerda revolucionária”.8 Na visão esquerdista, este é um ponto
bastante inconveniente. Logo, por que entrevistar Gregor ou Payne quando
eles provavelmente não darão base ao que a esquerda tenta provar? É por
isso que Paxton é financiado, porque ele esteve disposto a participar desse
joguinho. A esquerda lhe oferece celebridade acadêmica, ele lhes diz o que
querem ouvir. É assim que funciona a grande mentira.

O Teste Fascista em Trump


Agora nos voltemos a algumas características que alegam pertencer ao
fascismo e ao nazismo, invocadas pela esquerda no intuito de provar que
Trump (e, de vez em quando, o GOP e os conservadores) se assemelha aos
fascistas e aos nazistas. Perceba que, em cada caso, a afirmação é
completamente falsa e que aproximar Trump do fascismo não faz sentido,
praticamente. O que torna as falsidades duplamente interessantes é que elas,
na maioria dos casos, são mentiras em dobro. Com isso não quero dizer
apenas que Trump e o GOP não são o que a esquerda diz que são, mas que
o fascismo e o nazismo também não são o que a esquerda diz que são.
Portanto, o acusado é literalmente inocente em dois pontos: ele não fez
aquilo do que é acusado e aquilo do que é acusado não é o crime pelo qual
foi acusado. Primeiro, lidarei com a maior acusação, então depois tratarei
das demais.
Racismo e xenofobia: essas são as questões mais polêmicas. Toda a
comparação entre Trump e os nazistas ocorre aqui. Elizabeth Warren
explica a ascensão de Trump como o produto de “uma feia animosidade do
racismo”. James Whitman, historiador, alertou que “o nacionalismo branco
mora na Casa Branca”. Jeet Heer, pela revista The New Republic, fez
acusações asseverando que o “racismo e a xenofobia” de Trump exibem
suas “raízes fascistas” que, não sendo somente suas, encontram-se cravadas
“no Partido Republicano”. Na mesma linha de pensamento, o escritor
esquerdista Michael Tomasky faz uma ligação “direta e indiscutível” de
“movimentos racistas e xenófobos” com o “GOP de Trump”, concluindo
que “eles estão apoiando Trump como pessoas brancas, uma vez que
sentem que ele protegerá seus privilégios brancos”.9
A bem da verdade, as evidências para acusar Trump de racismo e
xenofobia carecem de veracidade. Talvez, a base mais forte para acusá-lo
seja declarando que a esquerda descobriu alguns supremacistas e
antissemitas brancos que afirmam apoiar Trump. Um deles, Richard
Spencer, liderou uma manifestação enquanto ele e seus poucos seguidores
clamavam: “Hail Trump”. Parece ser o melhor que Spencer consegue fazer
para imitar Hitler. No entanto, se esses racistas e antissemitas endossam
Trump, o próprio Trump não os endossa. O melhor que a esquerda pode
fazer é mostrar que Trump retuitou algumas declarações de nacionalistas
brancos, mesmo que as declarações em si sejam benignas. Eu retuito
pessoas o tempo todo sem saber muito sobre elas. Os termos de uso das
mídias sociais não exigem que verifiquemos os antecedentes das pessoas
que compartilhamos.
Ao longo da história americana, muitos racistas votaram a favor de
Lincoln — eles cortejavam avidamente o voto a movimentos anti-
imigrantes, ao movimento Know-Nothing [“Não Sei de Nada”] — e de
Wilson e FDR, que buscavam ativamente o apoio de eleitores
declaradamente racistas. Agora, disso não se pode concluir necessariamente
racismo por parte de Lincoln, Wilson e FDR. Como evidencio na minha
obra antes dessa, é claro que Lincoln não era. Todavia, mais adiante, neste
mesmo livro, provo que Wilson era racista e que FDR estava envolvido com
os piores racistas da América. Meu argumento aqui é simplesmente
constatar que o voto de um racista por si só não transforma o seu
beneficiário num racista.
Obviamente, a dúvida ainda permanece: por que esses sujeitos gostam de
Trump, se Trump não é racista como eles? O mais provável é que são
indivíduos desempregados, fracassados, alguns deles completos dementes.
Independentemente do que arroguem ser — fascistas ou seja lá o que for
—, eu francamente não acredito que sejam fascistas ou conheçam muito
sobre o fascismo. Hitler teria enviado a maioria deles direto para as câmaras
de gás. (Lembre-se de que uma das primeiras categorias de pessoas que
Hitler exterminou foram os chamados “dementes”). É bem possível que
esse tipo de sujeito tenha votado em Trump esperando que, como
presidente, ele trouxesse de volta empregos para a mão de obra
desqualificada. Então, mesmo Trump não sendo racista, ainda é possível
que os racistas o quisessem por razões que nada têm que ver com o racismo.
Trump é racista e xenófobo porque “odeia os imigrantes” e certa vez
chamou um juiz federal hispânico de “mexicano”? Sim, eu sei que o juiz
em questão é um cidadão americano de descendência mexicana. Eu mesmo
sou um cidadão americano de descendência asiática e indiana, então seria o
equivalente a me chamar de “indiano-asiático”. Se alguém pretende me
insultar me chamando disso, confesso que não ficarei ofendido. Afinal,
onde está o problema? Mesmo no caso de pessoas sensíveis demais, Trump,
na pior das hipóteses, teria sido insensível. Insensibilidade não é o mesmo
que fanatismo.
O que Trump declara sobre os muçulmanos não pode ser chamado de
racismo simplesmente por ser o Islã uma religião, não uma raça. Pode-se,
então, chamar isso de xenofobia ou de palavras antimuçulmanas? Com
certeza os próprios muçulmanos não parecem achar que sim. Em maio de
2017, Trump visitou a Arábia Saudita, o país muçulmano mais devoto do
mundo, e recebeu as boas-vindas de um herói. O modo como Trump foi
recebido na região ganha forte contraste com a recepção recebida por
Obama. Ainda que se prostrasse covardemente perante o Islã, Obama
costumava ser tratado na região com desprezo e sob suspeita pelos aliados
muçulmanos da América.
Consideremos a ordem executiva de Trump proibindo vários países de
maioria muçulmana de entrar na América. Acontece que esses países são
criadouros de terroristas. Também são países cujo controle de quem entra e
sai é especialmente difícil; algumas dessas pessoas foram deslocadas de
suas casas e comunidades. John Locke diz que, seja qual for a tarefa da qual
um governo se encarregue — humanitária ou não —, seu principal dever é
o de proteger seus próprios cidadãos de criminosos, sejam eles estrangeiros,
sejam nativos. Não se trata de fascismo; trata-se de liberalismo clássico.
Do mesmo modo, o liberalismo clássico sustenta que a sociedade liberal
é formada por um pacto social entre os cidadãos que concordam em se unir
por certos benefícios e proteções buscadas em comum acordo. Em troca
dessas proteções e privilégios, eles desistem do exercício de alguns de seus
direitos naturais. A questão aqui é que os direitos naturais pertencem a
todos, mas os direitos civis e constitucionais são o produto de um pacto
social. Segue-se, portanto, que os direitos civis pertencem apenas aos
cidadãos. Estrangeiros que não fazem parte do pacto social americano não
têm nenhum direito constitucional. Mais uma vez, Trump negar a
estrangeiros ilegais que tenham o direito constitucional de estar aqui é a
principal corrente da tradição liberal.
Trump não é contra “imigrantes”, simplesmente porque estrangeiros
ilegais não são imigrantes. Os esquerdistas no Congresso e a mídia
costumam confundir imigrantes legais e ilegais, como faz Andrew Cuomo,
governador de Nova Iorque, com palavras de teor tão cômico, “Todos nós
somos imigrantes”, e nesta manchete da primeira página do New York
Times: “Mais Imigrantes Enfrentam a Deportação Sob Novas Regras”.10
De acordo com essa narrativa da esquerda, minha esposa, Debbie
(imigrante vinda da Venezuela) e eu (um imigrante proveniente da Índia)
deveríamos viver com medo. Mas é mentira, e Cuomo e os editores do New
York Times sabem disso. Trump não tem intenção de nos enviar de volta
aos nossos países de origem. A distinção que Trump faz está entre
imigrantes legais e infratores da lei que procuram contornar o processo de
imigração.
Essa não é uma distinção racial. Trump nunca disse que a América é um
país de homens brancos ou de negros, ou que os negros não deveriam
emigrar para lá. A maioria dos imigrantes hoje em dia vem da Ásia, África
e América do Sul, e Trump parece não ver problema nisso. Contraste a
posição de Trump com a posição de Hitler. Os judeus da Alemanha eram
imigrantes legais ou descendentes de imigrantes legais. Eles eram cidadãos
alemães. No entanto, Hitler não os considerava alemães genuínos. As leis
de Nuremberg despojaram dos judeus sua cidadania alemã. Então, para
Hitler, a fronteira não estava entre imigrantes legais e ilegais. Não estava
nem mesmo entre imigrantes e alemães nativos. Pelo contrário, era uma
fronteira racial entre nórdicos, ou germânicos arianos, de um lado, e os
judeus e demais povos “inferiores”, não arianos, do outro.
Por fim, o antissemitismo. Durante a campanha, Trump condenou a
“estrutura de poder global” por “arrancar a própria riqueza do país” e
“colocar dinheiro no bolso de um punhado de grandes corporações e
entidades políticas”. O senador Al Franken respondeu: “Quando vi o
anúncio, pensei que fosse algum tipo de código morse, alguma linguagem
secreta. Tinha um quê dos Protocolos dos Sábios de Sião nisso tudo, um ar
de conspiração internacional bancária”. Franken está, aqui, invocando o
notório tratado antissemita, Os Protocolos dos Sábios de Sião, para acusar
Trump de ser antissemita. Nessa mesma linha de pensamento, David Denby,
no New Yorker, e Peter Dreier, no jornal esquerdista The American
Prospect, comparam Trump ao notável demagogo antissemita, atuante na
rádio na década de 1930: o padre Charles Coughlin.11
O que Denby e Dreier não mencionam é: Charles Coughlin era um
esquerdista raivoso. Na verdade, Dreier chama Coughlin de “direitista”,
pois “ele usou seu programa de rádio para promover teorias de conspiração
antissemitas e para apoiar Adolf Hitler e Benito Mussolini”. Mas, claro, a
pergunta é: Hitler e Mussolini eram de direita? No decorrer deste livro,
você me verá provando que não, eles definitivamente não eram de direita.
Dreier está simplesmente cometendo um argumentum ad ignorantiam —
argumento baseado na ignorância de seu público. Em suma, ele está se
baseando na grande mentira.
Denby retrata Coughlin como um oponente de FDR, observando que
“não conseguiu impedir que FDR triunfasse politicamente”. Denby omite
que, em 1932, Coughlin era partidário entusiasta de FDR e crítico feroz do
presidente Hoover e dos republicanos. Na eleição presidencial de 1932,
Coughlin apresentou ao país uma escolha simples: “Roosevelt ou a Ruína”.
Dada a gigantesca audiência radiofônica de Coughlin, ele é amplamente
creditado à ascensão de FDR à presidência.
Mais tarde, Coughlin rompeu com FDR — é a isso que Denby está se
referindo —, mas só porque, na cabeça dele, achou que FDR houvesse
vendido alguns de seus próprios princípios. Em 1935, Coughlin fundou a
União Nacional da Justiça Social [National Union of Social Justice] para
pressionar FDR com a esquerda. Em seu jornal — provocadoramente
chamado Social Justice [Justiça Social] — e em seu programa de rádio,
Coughlin censurou Roosevelt por não ter nacionalizado a Reserva Federal
nem os bancos, e por outras supostas concessões à classe capitalista.
Trump não poderia ser uma símile moderna do padre Coughlin, pois este
era de extrema esquerda. Na verdade, o antissemitismo de Coughlin
contrasta radicalmente com o filossemitismo de Trump. E, no caso de
Trump, sua posição favorável aos judeus é de difícil surpresa. Uma de suas
noras é judia, um genro judeu, que também é um dos seus conselheiros mais
próximos, uma filha que ele diz ter se convertido ao judaísmo, e netos
judeus.
A partir de seu discurso de abril de 2017, em memória ao Holocausto, e
com seu discurso de maio no memorial de Yad Vashem, em Israel, nota-se
que Trump é, sem remorsos, pró-judaísmo e pró-Israel de uma maneira que
seu antecessor, Barack Obama, nunca foi. Nas palavras do primeiro-
ministro de Israel, Netanyahu, “Não existe maior defensor do povo judeu e
do Estado judaico do que o presidente Donald Trump”.12 Em suma, Trump
não é racista, ele não é xenófobo, ele não é antissemita.

As Características do Nazismo
Agora é hora de lidar com as outras características que dizem estabelecer
a ligação de Trump com o fascismo e com o nazismo.
Insanidade: uma das coisas mais estranhas que costumam afirmar sobre
Trump é que ele é, literalmente, insano. Os colunistas Andrew Sullivan e
Paul Krugman são os dois proponentes mais insistentes dessa tese; Rosie
O’Donnell também a ressoa. Dois congressistas democratas introduziram
uma legislação para arrancar o poder nuclear das mãos de Trump. Um
deles, Ted Lieu, tem um segundo projeto de lei no Congresso, exigindo que
Trump passe por acompanhamento psiquiátrico.13 Por que essa insistência
de que Trump seja lunático? A conexão subjacente estabelecida é com
Hitler e Mussolini. Toda uma geração de comentários progressistas insiste
que eles dois eram insanos. Por qual outro motivo ambos matariam tantos
milhões de pessoas e alavancariam uma guerra mundial?
Quanto a Trump, evidente que ele não é louco. Ele certamente nunca foi
diagnosticado com nenhum tipo de doença mental. Trump é altamente bem-
sucedido nos negócios. Sua esposa é dedicada e seus filhos são
extremamente bem-educados. Ele foi eleito e agora, embora lidando com a
oposição mais extrema, continua confiante e seguro. É óbvio que há um
método para conferir loucura. Nem Hitler nem Mussolini eram loucos.
Homens maus, sim, mas não insanos. Assassinatos a sangue frio não
transformam o indivíduo num louco. Há inúmeros assassinos na prisão e no
corredor da morte que não são insanos. (Na verdade, caso fossem, eles
“seriam absolvidos por motivos de insanidade”). Por outro lado, são
inúmeras as pessoas insanas internadas em hospícios que nunca
prejudicaram ninguém. Portanto, já basta da insanidade sem sentido. É
facílimo inocentar Trump desta culpa, e ainda mais fácil evitar o confronto
com o verdadeiro mal de Hitler e Mussolini.
Reacionário: Trump e o GOP são frequentemente descritos como
“reacionários”, rótulo igualmente usado para desacreditar os conservadores.
O texto clássico aqui recebe o título The Reactionary Mind [A Mente
Reacionária], do intelectual de esquerda Corey Robin, que identifica a
direita americana com a “nostalgia das lutas”, à qual Hitler e Mussolini
apelavam. Embora o livro tenha sido publicado em 2012, Matt Feeney o
chamou, apenas alguns dias antes da eleição de 2016, de “o livro que previu
Trump”.14 Então, nessa visão, Trump e os conservadores são, assim como
os fascistas e os nazistas, reacionários extremos.
A acusação reacionária é conveniente para a esquerda, afinal associa o
conservadorismo e o fascismo ao passado, mas o distingue do
progressismo, que está, evidentemente, preocupado com o futuro. O que
torna a acusação superficialmente crível é que Trump, à semelhança da
maioria dos conservadores, parece querer que a América volte aos bons e
velhos tempos. Não era isso que Hitler prometia fazer? Ser o Terceiro Reich
não foi uma tentativa reacionária de restabelecer o Primeiro Reich de
Carlomagno e o Segundo Reich de Bismarck?
Talvez, mas a restauração prometida por Trump está preocupada com a
recuperação dos empregos. Trata-se também de tornar o governo menor e
menos burocrático. Não se trata de revogar o progresso na América em
detrimento dos direitos civis ou do mercado de trabalho para as mulheres.
Não se trata de enviar gays de volta ao armário. Assim, o conservadorismo
moderno é, também, sobre restaurar os ideais dos Pais Fundadores, e não o
então mundo agrário e subdesenvolvido em que estes viveram. A direita,
portanto, busca aplicar princípios antigos — que considera verdades
duradouras, ou permanentes — em nossa situação atual, a fim de criar um
futuro melhor. Não há nada de reacionário nisso.
Tampouco o fascismo de Mussolini e o nacional-socialismo de Hitler
eram reacionários no sentido clássico. “Todas as ideias políticas de Hitler”,
escreve Stanley Payne em seu livro A History of Fascism [Uma História do
Fascismo], “tiveram sua origem no Iluminismo”. O historiador Richard
Evans escreve que “nenhum dos eleitores que foi às urnas em apoio a
Hitler” procurou “restaurar um passado perdido. Pelo contrário, eles foram
inspirados por uma visão vaga e poderosa do futuro”. Essa visão invocava
símbolos do passado, mas “não envolvia apenas olhar somente para trás ou
para frente, mas tanto para um quanto para outro”.15
Um dos grupos que mais apoiou o fascismo na Itália foi o movimento
que se autointitulava “Futuristas”. Liderados por Filippo Marinetti, os
futuristas defendiam carros rápidos e novas tecnologias, e se viram como
estando na vanguarda das ciências e da arte. Este foi o grupo que encorajou
o fascismo e o nazismo ao uso de novos avanços na tecnologia e técnicas
atualizadas de mídia e propaganda. O historiador Zeev Sternhell conclui
que, longe de ser reacionário, “o quadro conceitual do fascismo [...] era
dissidente, vanguardista e de caráter revolucionário”.16
Os fascistas e os nazistas procuraram criar um novo homem e uma nova
utopia a partir dos grilhões da velha religião e das velhas lealdades. Toda a
disposição do fascismo e do nazismo é capturada na juventude descrita pelo
filme Cabaret, que não canta sobre um passado perdido, mas sobre um
“amanhã” que “pertence a mim”. O apelo do fascismo era, como seus
críticos e entusiastas reconheceram na época, mais progressista e avançado
do que retrógrado e reacionário.
Autoritarismo: este é ponto muito importante. “Um Autoritário
Americano” era o título de uma manchete no Atlantic Monthly, ligando
Trump a Mussolini. Após a eleição de Trump, a revista New York
expressou-se sob o título “A República foi Revogada”. Dois cientistas
políticos, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, escrevendo pelo New York
Times, disseram que Trump não é o “primeiro político americano com
tendências autoritárias”, mas “é o primeiro [político autoritário] na história
americana moderna a ser eleito presidente”. Fazendo paralelos aos déspotas
autoritários Hitler e Mussolini, o historiador Timothy Snyder comenta que
Trump “não disse praticamente nada a favor da democracia” e que ele
ameaça o sistema de controle ao “denegrir juízes”.17
Hitler e Mussolini eram de fato autoritários, mas disso não se pode
concluir que o autoritarismo seja igual ao fascismo ou ao nazismo. Lênin e
Stalin eram autoritários, mas nem um nem outro era fascista. Muitos
ditadores — Franco na Espanha, Pinochet no Chile, Perón na Argentina,
Amin em Uganda — foram autoritários, mas não fascistas ou nazistas.
Trump certamente carrega um estilo mandão que adquiriu, bem, sendo
chefe. Ele esteve na chefia corporativa por toda sua vida, além de ter
também desempenhado cargos de chefia na TV. Os republicanos elegeram
Trump porque precisavam de alguém durão para combater Hillary; eles já
tentaram candidatos insípidos e inofensivos, como Romney, e veja que fim
levou.
Dito isso, Trump não fez nada para subverter o processo democrático.
Enquanto os progressistas continuam a alegar uma trama entre Trump e os
russos no propósito de fraudar as eleições, a única evidência de fraude vem
do Comitê Nacional Democrata nas prévias eleitorais de 2016 em favor de
Hillary sobre Bernie. A fraude não evocou praticamente nenhum dissidente
do público democrata nem da mídia, com isso sugerindo apoio, ou pelo
menos aquiescência, de todo o movimento progressista e da maioria do
próprio partido.
Trump demitiu seu diretor do FBI, provocando rumores obscuros no
Washington Post sobre o “respeito pelo Estado de Direito” de Trump, ainda
que sua ação tenha sido inteiramente legal.18 Ele criticou os juízes, às
vezes em termos irrisórios, mas, contrário ao que Timothy Snyder afirma,
não há nada antidemocrático nisso. Lincoln criticou o chefe de justiça
Taney sobre a decisão Dred Scott, e FDR ficou praticamente apoplético
quando a Suprema Corte bloqueou suas iniciativas do New Deal. Criticar a
mídia não é ato antidemocrático. A Primeira Emenda não é só uma
prerrogativa à imprensa; o presidente também tem direito à liberdade de
expressão.
Políticos e governantes autoritários minam estruturas legítimas de
autoridade. Trump ou o GOP fizeram isso? Alguns progressistas acusaram a
liderança do Senado do Partido Republicano de minar a ordem e o
equilíbrio invocando a “opção nuclear” para encerrar um obstrucionismo
democrata e confirmar Neil Gorsuch para a Suprema Corte. No entanto,
esses progressistas esqueceram-se de mencionar que foi o ex-líder
democrata do Senado, Harry Reid, que primeiro invocou a “opção nuclear”;
os republicanos, portanto, simplesmente agiram sobre seu precedente.
Governos autoritários costumam tentar controlar sua vida particular.
Pense na forma como regimes despóticos, nazistas e soviéticos, por
exemplo, procuraram regular a maneira de se prestar culto ou o que as
pessoas liam ou como conduziam a vida cotidiana. Percebe-se uma
mentalidade firmada ao se ler o que determinado ditado nazista dizia: “só o
ato de dormir é questão de cunho privado”. Você acha que Trump se
preocupa, ainda que remotamente, com seu jeito de viver sua vida
particular? Importa para ele qual deidade você adora ou que livros você lê?
Claro que não.
Governos autoritários lançam medo em seus adversários. O próprio fato
de Trump ser esfolado diariamente em inúmeras plataformas midiáticas
mostra que seus oponentes sentem-se livres para falar o que pensam.
Considere este contraste notável. Hitler aniquilou seus oponentes na infame
Noite das Facas Longas, em 30 de junho de 1934. Mussolini silenciou seus
críticos tomando controle das imprensas e assassinou Giacomo Matteotti,
um de seus proeminentes opositores. Considere o que Trump fez, em
contraste, com a cantora Cher, que certa vez disse “alguma merda
desagradável” sobre ele. “Eu tirei a merda dela”, Trump se gabou pelo
Twitter, “e ela nunca disse nada sobre mim depois disso”.19 Ele manteve o
problema no ambiente do Twitter. Esta dificilmente seria a marca de um
autoritário.
Nacionalismo: se existe uma característica que os progressistas
consideram essencial ao fascismo e ao nazismo, esta é o nacionalismo. Ele
permite que a esquerda ligue facilmente o nacionalismo fascista ao
patriotismo da direita americana. Certo escritor, Mark Rosenberg, falou por
muitos da esquerda quando descreveu o discurso inaugural de Trump como
“um apelo visceral e emocional para restabelecer parte da grandeza
americana no mundo”. Não é exatamente isso que Hitler prometeu — fazer
da Alemanha uma grande nação outra vez? Rosenberg concluiu que Trump
fez “sem dúvida, o discurso inaugural mais fascista da história
americana”.20
Trump é, sem contestação, nacionalista, e a direita americana moderna
também é nacionalista e sente-se confortável com os símbolos do
patriotismo tradicional, tais como o brandir da bandeira ou as
representações impactantes do hino nacional e do hino “Deus Abençoe a
América”. Em contraste, a esquerda moderna é internacionalista — tem
pouca paciência com o manifestar do patriotismo tradicional —, o que
parece distinguir os esquerdistas dos nazistas, dos fascistas e dos
conservadores americanos.
No entanto, seria o nacionalismo, ou até mesmo o ultranacionalismo,
suficiente para transformar alguém num fascista? Mussolini era mais
nacionalista do que, digamos, Churchill ou De Gaulle? George Washington
e Abraham Lincoln eram nacionalistas. Os revolucionários franceses eram
todos nacionalistas. Nelson Mandela era nacionalista. Castro era
nacionalista, ele que criou o lema revolucionário “Pátria ou Morte”. Che
Guevara era nacionalista, assim como Pol Pot. Mesmo vivendo na
Inglaterra e na África do Sul, Gandhi seguiu à risca seu nacionalismo
indiano. Obviamente, não faz sentido chamá-los de fascistas. Embora Lênin
tenha professado internacionalismo ao longo de sua vida, à espera de uma
revolução comunista global, Stalin modificou o leninismo para invocar o
que ele chamou de “A Mãe Rússia” e “O socialismo em um país”. O
nacionalismo de Stalin o torna fascista? É óbvio que não.
Também vale notar que, se eram nacionalistas — o que eram, sem
sombra de dúvida —, Hitler e Mussolini eram nacionalistas de um tipo bem
diferente da estirpe dos conservadores americanos. “Mussolini não era um
nacionalista tradicional”, escreve o historiador Zeev Sternhell. Anthony
James Gregor vai além: “Mussolini se opunha ao patriotismo tradicional e
aos apelos nacionalistas”. No início de sua carreira, Mussolini ridicularizou
a bandeira italiana e chamou o exército de “organização criminosa
destinada a proteger o capitalismo e a sociedade burguesa”. Hitler
autodenominava-se nacionalista, mas recusava-se a autodeclarar-se
patriota.21
Ambos buscaram um novo tipo de nacionalismo, um que gerasse
lealdade não pela nação como nação em si, mas pela nova nação que
visavam criar. O nacionalismo fascista chamou cidadãos a subordinarem
seus próprios interesses por completo ao Estado centralizado. Esse tipo de
nacionalismo — vamos chamá-lo de nacionalismo estatista ou coletivista —
se parece mais com a esquerda americana do que com a direita americana,
já que a direita americana mantém, com Reagan, que “o governo não é a
solução; o governo é o problema”.
Militarismo: outra característica usada regularmente pelos progressistas
para vincular Trump ao fascismo e ao nazismo é o seu suposto militarismo.
Mesmo antes de ser eleito, a revista Salon alegou que a candidatura de
Trump representava “o abraço e a glorificação do militarismo”,
precisamente o mesmo tipo de militarismo com que Hitler e Mussolini se
envolveram. De acordo com uma manchete de 1º de março de 2017 no
Washington Post, “A Presidência de Trump dá Entrada a uma Nova Era do
Militarismo”. Invocando o paralelo histórico fascista, a matéria acusa o
arranjo militar disposto por Trump de “lançar uma sombra beligerante sobre
todo o planeta”.22
Agora, o fascismo e o nazismo eram de fato militaristas. Hitler e
Mussolini, ambos veteranos da Primeira Guerra Mundial, foram, junto de
seus aliados japoneses, os perpetradores da Segunda Guerra Mundial.
Mesmo assim, o historiador Stanley Payne escreve: “costumava-se
denominar o fascismo de movimento expansionista e imperialista por
definição, embora isso não fique claro a partir da leitura de diversos
programas fascistas”. A bem da verdade, “muitos movimentos fascistas
tiveram pouco interesse ou até mesmo rejeitaram novas ambições
imperiais”, enquanto outros movimentos defendiam a guerra “geralmente
defensiva, mas não agressiva”.23
Digo isso não com a intenção de exonerar o fascismo e o nazismo nesse
sentido, mas para destacar que não se deve confundir os aspectos
incidentais de uma ideologia com suas características centrais. Se os
fascistas defendiam o expansionismo militar enquanto floresciam no
interregno entre duas guerras mundiais, não se segue que o fascismo seria
intrinsecamente militarista ou que o militarismo fosse uma de suas
características definidoras. Por analogia, se os fundadores norte-americanos
fossem agricultores, não se segue que a agricultura seria central para a
fundação dos Estados Unidos. Parece ser rotina aos esquerdistas atribuir os
traços acidentais do nazismo e do fascismo às ideologias em si mesmas.
Trump não é militarista. Ele é, decerto, menos militarista do que o seu
partido. Claro que Trump quer derrotar o ISIS com força militar, mas isso
porque o ISIS é uma organização terrorista que procura destruir os Estados
Unidos. No início de abril de 2017, Trump ordenou um ataque contra um
aeródromo sírio. Esta aparentemente foi a resposta de um Trump ultrajado
ao ver imagens horríveis que mostravam as vítimas de um ataque de gás
químico efetuado pelo déspota sírio, Bashar Assad. A medida tomada por
Trump surpreendeu tanto críticos quanto partidários, e nenhum deles
esperava tamanha intervenção por parte do presidente.
A ação de Trump na Síria parece anômala, dada sua postura geral semi-
isolacionista. Embora o GOP costumasse apoiar a invasão de Bush no
Iraque, por exemplo, Trump construiu uma campanha presidencial sobre
sua oposição à guerra. Se Trump quisesse anexar o México e fazê-lo parte
de um Estados Unidos maior, ele então poderia ser acusado de imitar o
Lebensraum de Hitler. Mas nada poderia estar mais longe da mente de
Trump, havendo ele delineado a visão de uma América menos
intervencionista, uma América que se concentra em seus próprios
problemas internos.
Capitalismo: por fim, o capitalismo. Admito que é preciso ser um
verdadeiro babaca para fazer essa acusação. Ainda assim, eis o ativista
acadêmico da esquerda, Cornel West, afirmando que Trump é um fascista e
um nazista porque “num movimento neofascista emergente, você tem o
domínio dos grandes negócios, que são os grandes bancos e as grandes
corporações”.24 O Ocidente está repetindo inconscientemente uma
acusação inventada pela máquina de propaganda comunista soviética, de
que os fascistas foram levados ao poder pelo financiamento das grandes
empresas e que o fascismo é o último suspiro do capitalismo industrial.
Foram os comunistas soviéticos que pela primeira vez apareceram com
esta ideia, influenciando em seguida os comunistas italianos e alemães, no
intuito de impedir o crescimento do fascismo nesses países. Stalin usou o
“fascismo” para referir-se a qualquer país ideologicamente oposto à União
Soviética. Quando a ruptura sino-soviética ocorreu, os comunistas
soviéticos chamaram os comunistas chineses de “fascistas”, ao passo que os
comunistas chineses chamaram os comunistas soviéticos de “fascistas”.
Certamente, estamos, aqui, lidando com a terra do faz de conta. Mesmo que
a velha mentira soviética de que o fascismo prova ser um subproduto do
capitalismo tenha sido totalmente desacreditada — nem mesmo Robert
Paxton, progressista que é, não tem nada que ver com ela —, outros da
esquerda, além de Cornel West, ainda ecoam a acusação de que Trump é
fascista por ser o capitalismo um traço determinante do fascismo.
Sim, Trump é capitalista, mas este é mais um exemplo daquilo que o
distingue dos fascistas e dos nazistas. “É impensável”, afirma Renzo De
Felice em seu livro Fascism [Fascismo], “supor que as grandes forças
econômicas da Itália quisessem levar o fascismo ao poder”. O grande poder
empresarial, afinal, não apoiou os fascistas de Mussolini nem os nacional-
socialistas de Hitler. Stanley Payne afirma que o partido nazista “foi
financiado sobretudo por seus próprios membros”.25 As grandes empresas
consideravam os fascistas e os nazistas como radicais perigosos. Entretanto,
depois que os radicais chegaram ao poder, corporações alemãs e italianas,
não surpreendentemente, optaram por cooperar com eles. Isso é verdade
para as grandes organizações em geral: os empresários fazem negócios com
aqueles que estão no poder. As grandes forças econômicas da América
trabalharam com Obama, e certamente trabalhariam com Hillary, caso
tivesse sido eleita.
O historiador Anthony James Gregor ressalta que não faz sentido
descrever o fascismo italiano como produto do capitalismo tardio mais
recente, porque “havia pouquíssimo de moderno acerca da economia
italiana na época da Primeira Guerra Mundial”.26 Conforme veremos no
próximo capítulo, Mussolini e os primeiros fascistas reconheceram esse
fato. Mussolini passou a enxergar o fascismo como Hitler mais tarde
passaria a enxergar o nazismo: como um mecanismo para o rápido
desenvolvimento econômico que operava através de uma estrutura que,
longe de ser capitalista, revelou ser coletivista, estatista e socialista. Como
estamos prestes a descobrir — no restante deste capítulo e no próximo — o
coletivismo, o estatismo e o socialismo são a essência do fascismo e do
nazismo.
O Karl Marx do Fascismo
Para o Fascismo [...] o Estado e o indivíduo são um só.27
Giovanni Gentile, Origins and Doctrine of Fascism
[As Origens e a Doutrina do Fascismo]
Giovanni Gentile não é exatamente um nome familiar, hoje em dia.
Mesmo no círculo de americanos melhor instruídos, seu nome é o de uma
figura desconhecida. No entanto, Gentile, cujos dias se passaram na
primeira metade do século XX, foi considerado um dos principais filósofos
de sua época. Estudioso de Hegel e Bergson e superintendente da
Encyclopedia Italiana, Gentile não foi apenas um pensador amplamente
divulgado e influente; foi ele também um estadista que serviu numa
variedade de importantes cargos governamentais. Por que, então, Gentile
desapareceu no nevoeiro da História?

Cabe considerar alguns aspectos-chave da filosofia de Gentile.28


Seguindo Aristóteles e Marx, Gentile argumenta que o homem é um animal
social. Isso significa que não somos simplesmente indivíduos no mundo.
Em vez disso, nossa individualidade é expressa através de nossos
relacionamentos: somos estudantes ou empregados, maridos ou esposas,
pais e avós, membros desta ou daquela associação ou grupo, e também
cidadãos de uma comunidade ou nação. Falar acerca do homem só em seu
estado natural é ficção completa; o homem está naturalmente em casa
quando em comunidade, na sociedade.
De imediato, percebe-se que Gentile é comunitarista, em oposição à
teoria do individualismo radical. Isso o distingue de alguns libertários e
liberais clássicos, que enfatizam a individualidade em oposição à sociedade.
Mas, até agora, Gentile não disse nada de que os conservadores — digamos,
conservadores da linha de Reagan — discordariam. Em 1980, Reagan
enfatizou a importância de cinco temas: o indivíduo, a família, a igreja, a
comunidade e o país. Ele acusou o Estado centralizado — o grande governo
— de minar não apenas a individualidade, mas também essas outras
instituições.
Agora, Gentile contrasta dois tipos de democracia, que diz ele serem
“diametralmente opostas”. A primeira é a democracia liberal, que prevê
uma sociedade composta de indivíduos formando comunidades que
protegem e fomentam seus direitos e interesses individuais, em especial os
interesses econômicos sobre propriedade e comércio. Gentile considera esse
arranjo como uma democracia egoísta ou burguesa, termos que usa para
significar a democracia capitalista, democracia que foi basilar para a
formação da América. No lugar dela, Gentile incentiva um tipo diferente de
democracia, “a verdadeira democracia”, na qual indivíduos voluntariamente
se subordinam à sociedade e ao Estado.
Gentile reconhece que sua crítica à democracia burguesa ecoa a crítica
de Marx, sendo ele seu ponto de partida. Como Marx, Gentile quer uma
comunidade unificada, uma comunidade que se assemelhe à família, uma
comunidade em que estaríamos todos unidos. Lembro-me, por essa ocasião,
do discurso principal do governador de Nova Iorque, Mario Cuomo, na
Convenção Nacional Democrata de 1984. Cuomo comparou a América com
uma grande família, onde, por meio da ação do governo, uns cuidam dos
outros da mesma maneira como famílias cuidam de todos os seus membros.
Embora Marx e Cuomo aparentemente vejam comunidades políticas na
posição de associações naturais e inevitáveis, Gentile enfatiza que tais
comunidades devem ser criadas de maneira voluntária, por meio da ação
humana, operando como consequência da vontade humana. Elas são, nas
palavras de Gentile, uma criação idealista, ou “espiritual”. Para Gentile, o
povo por si só é preguiçoso e inerte demais para formar comunidades
genuínas; o povo, portanto, precisa ser mobilizado. Bom, até aqui, muitos
progressistas modernos concordariam. Falando em termos que Obama e
Hillary gostariam de ouvir, Gentile ressalta que líderes e organizadores são
necessários para direcionar e canalizar a vontade do povo.
Apesar de discordar de Marx no que diz respeito à inevitabilidade
histórica, vê-se com clareza que Gentile, até o dado momento, já rompeu
com o conservadorismo moderno, com o liberalismo clássico e revelou ser
um homem de esquerda. Gentile foi, a bem da verdade, socialista por toda a
vida. À semelhança de Marx, ele considerava o socialismo como a condição
sine qua non da justiça social, a fórmula definitiva para todos que pagam
sua “parcela justa”. No pensamento de Gentile, o fascismo é nada mais que
uma fórmula modificada do socialismo, um socialismo que não meramente
provém da privação material, mas também da consciência nacional
despertada, um socialismo que, em vez de dividir, une as comunidades.
Gentile também compreendia o fascismo como emergindo da luta
revolucionária, aquilo que a mídia hoje denomina “protesto” ou “ativismo”.
Ao contrário de Marx, ele não compreendia a luta entre a classe
trabalhadora e os capitalistas, mas entre o indivíduo egoísta, que tenta viver
para si, e o indivíduo totalmente realizado, que voluntariamente se coloca à
disposição da sociedade e do Estado. Gentile aparenta ser o antepassado
não reconhecido do ativismo de rua da Antifa e de outros grupos
esquerdistas. “Uma das principais virtudes do fascismo”, ele escreve, “é o
fato de ter sido um movimento que obrigou aqueles que assistiam de suas
janelas a descerem para as ruas”.
Para Gentile, a ação privada deve ser mobilizada para servir o interesse
público, não havendo distinção entre o interesse privado e o interesse
público. Compreendidos de maneira correta, ambos os modelos são
idênticos e o cidadão esclarecido entende e vive desta forma, tratando a
sociedade e o Estado como, em certo sentido, o seu eu maior. Gentile
argumenta que a sociedade representa “a própria personalidade do
indivíduo despojada de diferenças acidentais [...] onde o indivíduo sente o
interesse geral como sendo seu próprio interesse e o deseja, portanto, assim
como deseja a vontade geral”. Na mesma linha, Gentile argumenta que as
corporações também deveriam servir ao bem-estar público, e não apenas ao
bem-estar dos seus proprietários e acionistas.
A sociedade e o Estado — para Gentile, ambos eram um e a mesma
coisa. Gentile entendia o Estado centralizado como o braço administrativo
essencial à sociedade. Ademais, o Estado, por assim dizer, não presta contas
aos cidadãos. “A autoridade do Estado não está sujeita à negociação”, ele
escreve. “Ela é totalmente incondicional”. O Estado não poderia depender
do povo; na verdade, é o povo quem depende do Estado. A “moralidade e
religião [...] devem estar subordinadas às leis do Estado”. Quão familiar
isso tudo soa para quem já está habituado à ideologia e à retórica da
esquerda americana moderna.
Gentile insiste que todos os cidadãos devem se submeter à autoridade do
Estado, não apenas em questões econômicas, mas em todos os assuntos e
áreas da vida. Visto tudo ser de cunho político, o Estado dita a todos como
pensar e também o que fazer — não existe esfera privada desregulamentada
pelo Estado. O fascismo, segundo Gentile, é uma “concepção que soma o
total da vida [...] Não se pode ser fascista na política sem ser fascista na
escola, na família, no ambiente de trabalho”. O Estado deve trabalhar para
provocar essa consciência fascista generalizada.
Para alcançar tanto, Gentile defendeu que toda a sociedade deveria ser
alinhada com a ideologia fascista, o que os nazistas, mais tarde, viriam a
chamar de Gleichschaltung. Mesmo não tolerando as táticas brutais do
Gleichschaltung nazista, Gentile buscou a mesma conformidade ideológica
através da lei e da educação. Segundo Gentile, o governo não deve agir
apenas como legislador, mas também como professor, usando as escolas
para promulgar seus valores e prioridades. Expressando uma doutrina que
provavelmente a maioria dos professores progressistas da América
endossaria, Gentile disse: “Nosso trabalho como professores será
considerado completo quando nossos alunos falarem a nossa língua”.29
“Tudo está no Estado e nada humano existe nem tem valor fora do
Estado”, Mussolini verbaliza isso em La Dottrina del Fascismo [A Doutrina
do Fascismo], uma das primeiras declarações doutrinárias do fascismo, mas
Gentile a põe por escrito, ou, conforme se pode dizer hoje em dia, um
escritor-fantasma a deixou por escrito. Gentile foi, como dá para perceber, o
principal filósofo do fascismo. “Foi Gentile”, confessa Mussolini, “quem
preparou o caminho para aqueles que, como eu, querem segui-lo”.30
Gentile serviu como membro do Grande Conselho do Fascismo, senador na
Câmara Superior do Parlamento italiano e também Ministro da Educação de
Mussolini. Mais tarde, depois que Mussolini foi deposto e firmou-se em
Salo, Gentile tornou-se, a pedido do Duce, o presidente da Academia
Italiana.
Ele não era um homem mau. Rejeitou o antissemitismo e trabalhou com
judeus mesmo quando isso passou a ser algo controverso na Itália, após a
aliança de Mussolini com Hitler. Ele rejeitou muitas das doutrinas mais
basilares do fascismo, argumentando que o Estado, apesar de todo-
poderoso, deveria procurar persuadir cidadãos, ao invés de forçá-los. Isso é
o que ele chamou de “Estado Tutelar”. Em seu apartamento, em 1944,
Gentile foi abordado por membros de uma facção rival de esquerda, que
atiraram nele à queima-roupa. Mussolini prometeu executar os assassinos,
mas a família de Gentile implorou que fossem liberados, pedido que,
inesperadamente, Mussolini acatou.
Penso em Gentile mais ou menos como penso em Robert E. Lee,
general-chefe dos Estados Confederados. De modo geral, Lee era um bom
homem, no entanto, nas palavras de Ulysses Grant, nunca um homem lutou
“por tanto tempo e tão valentemente” nem sofreu “tanto por uma causa,
ainda que sendo, creio eu, uma das piores pela qual um povo já lutou”. E o
mesmo pode ser dito de Gentile: nunca um homem tão decente lutou por
um movimento mais horrível. No entanto, embora Gentile tenha sido
esquecido, sua filosofia não poderia ser mais relevante, pois ela se compara
à filosofia da esquerda americana moderna. Na verdade, o lema revelado
por Obama na Convenção Democrata de 2012 — “nós pertencemos ao
Governo” — não foi cunhado por Gentile, mas é totalmente congruente
com o centro de sua filosofia.
Este é o motivo da obscuridade de Gentile — suas ideias, longe de
mortas, estão muito bem vivas. Sem entrar em trivialidades, Gentile chega
ao cerne das questões. Em muitos aspectos, ele fornece uma base mais
profunda e firme para o progressismo americano moderno do que qualquer
escritor de hoje. John Rawls, considerado por muitos um guru filosófico do
progressismo moderno, assemelha-se a um grão fino em comparação a
Gentile, em se tratando de oferecer bases racionais para o forte Estado
centralizado. Enquanto Rawls soa abstrato e antiquado nos dias de hoje,
Gentile parece estar falando diretamente aos ativistas de esquerda do
Partido Democrata, e também àqueles que estão na mídia e nas
universidades.
Seria de esperar, ingenuamente, ver a esquerda abraçando e celebrando
Gentile. Mas isso, é claro, nunca acontecerá. A esquerda precisa
desesperadamente esconder a conexão do fascismo com o esquerdismo
contemporâneo. Mesmo quando a esquerda vale-se da retórica gentileana,
sua fonte jamais deve ser reconhecida publicamente. E uma vez que domina
a academia e a cultura popular, a esquerda tem nas mãos a influência para
realizar esse truque de desaparecer. É por isso que os progressistas
pretendem manter Gentile no lugar onde já o puseram: morto, enterrado e
esquecido.

Em Palavras e em Atitudes
O fascismo não era conservador em sua inspiração, mas visava criar uma
nova sociedade com um novo tipo de ser humano.31
Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future
Para chegar ao cerne de uma ideologia, é imperativo explorá-la na teoria
antes de explorá-la na prática. É por isso que comecei com Gentile: ele
explica com autoridade o estatismo e o coletivismo que definem o fascismo
e, inclusive, o nazismo. De Gentile, passamos para as declarações
doutrinárias e à agenda política do fascismo italiano e do nacional-
socialismo alemão. Estes também representam o fascismo utópico, pode-se
dizer “fascismo no discurso”. Só então faz sentido examinar o que
Mussolini e Hitler realmente fizeram, pois o que fizeram foi,
necessariamente, uma aplicação daquilo que pretendiam originalmente
realizar, mas com adulterações e diluições já previsíveis. No discurso, o
fascismo é, necessariamente, comprometido com o fascismo da atitude.
Menciono essa distinção desde o princípio porque ela é que se tornou a
base para que os esquerdistas pudessem minimizar os princípios
fundamentais do fascismo, de modo a camuflar sua semelhança — e, em
alguns casos, seu relacionamento — com o progressismo moderno. Mais
uma vez, volto-me ao predileto progressista, Robert Paxton, que, em suas
entrevistas ao público em geral, enfatiza que, embora o fascismo “soe
bastante radical quando no poder, ele se alia a bancos, indústrias, ao
exército, às igrejas e assim por diante”. Paxton também salienta que,
“quando você lê o programa de Hitler, seus vinte e um pontos, e quando lê o
primeiro programa de Mussolini, de 1919, percebe que ambos tiveram
pouquíssima relação com o que acabaram fazendo afinal”.32 Paxton
conclui que, apesar dos objetivos outrora professados, o fascismo e o
nacional-socialismo não podem ser equiparados ao esquerdismo e ao
progressismo, porque Mussolini e Hitler não implementaram o escopo
completo de suas ideologias.
Como contra-argumentação da minha tese, devo dizer que, embora
verdade, este é um ponto extremamente inconvincente. Obviamente, toda
teoria deve acomodar as realidades da situação; fazê-lo não mina a teoria
em sua posição de ser uma visão do modo como as coisas deveriam ser.
Lincoln posicionava-se contra a escravidão, mas, se disposto a vencer a
guerra, manter estados fronteiriços na União era-lhe uma necessidade
política.
Consequentemente, quando assinada, a Proclamação da Emancipação foi
aplicada apenas sobre áreas em rebelião contra os Estados Unidos que ainda
não haviam sido ocupadas pelo Exército da União. Salientar isso não
significa provar que Lincoln, na verdade, não era contra a escravidão, uma
vez que não a proibiu por todo o país.
Para segundo exemplo, cito Lênin. Marxista e comunista fervoroso,
Lênin comprometeu-se a banir o capitalismo de toda a União Soviética, e
ele o fez. A economia soviética, no entanto, entrou em colapso; assim, no
início da década de 1920, ele próprio consentindo, Lênin aceitou medidas
capitalistas para resolver o problema. Ele permitiu a propriedade privada,
incluindo fazendas privadas; ele permitiu que as empresas e os agricultores
mantivessem alguns dos seus ganhos; ele chegou mesmo a incentivar o
investimento por parte de empresas estrangeiras na União Soviética. Lênin
não entendeu sua Nova Política Econômica como traição ao comunismo,
mas a considerou uma forma de estabilizar a economia e, também, de
exercer controle político sobre o país, para que assim pudesse
verdadeiramente institucionalizar o comunismo. Contudo, apesar de
articular-se temporariamente para longe do socialismo, alguém realmente
poderia afirmar que Lênin não foi um socialista?
Agora, voltemo-nos para Mussolini, que, na teoria, era um estatista
completo. Uma das frases favoritas de Mussolini era “Tudo no Estado, nada
fora do Estado, nada contra o Estado”.33 Aqui, ouvem-se os ecos de
Gentile e também os ecos de um progressismo esquerdista moderno levados
às últimas consequências. Mussolini, em outras palavras, parece dizer
aquilo que vai ao encontro das fantasias secretas do progressista moderno.
Mussolini levava o estatismo tão ao extremo que, atrevo dizer, chegava a
ser mais estatista do que Barack Obama, mesmo quando este confessou ao
New York Times que invejava os líderes comunistas chineses quanto à
extensão de seus poderes.34
Mussolini era tão estatista que considerava positivo o termo “totalitário”.
Para Mussolini, a palavra não significava o que Orwell retrata em 1984.
Mussolini não tinha a intenção de esmagar o povo italiano com um coturno.
Em vez disso, o totalitarismo, para ele, significava que o Estado cuidaria de
tudo e de todos. Mussolini buscava uma Itália em que o Estado —
encarnado nele — viria a exercer controle total sobre todos os aspectos da
vida dos cidadãos.
Mussolini, contudo, nunca teve o coração para ser verdadeiramente
totalitário. Em parte porque era ele, bom, vejamos, italiano. Seu
totalitarismo sempre foi italiano, ou seja, meia-boca. Ele meio que prendia
seus oponentes, ele meio que controlava a mídia, e meio que tinha um
Parlamento em suas mãos, mas lhe faltava o escrutínio que caracterizava
seus mais sombrios companheiros totalitários, Stalin e Hitler. Ao longo de
seu reinado de vinte anos, Mussolini matou poucos de seus próprios
cidadãos e permitiu que as pessoas, incluindo os judeus, deixassem a Itália.
Stalin e Hitler nunca sonhariam em permiti-lo. Que tipo de controle
totalitário se pode ter sobre as pessoas se elas forem livres para arrumar
suas coisas e dizer saionará?
Muito embora o totalitarismo de Mussolini fosse um tanto anêmico, não
o foi seu socialismo. A agenda original dos fascistas, tal como delineada em
Fasci di Combattimento em Milão, em 1919, incluía sufrágio universal,
redução da idade de voto para dezoito anos, abolição do senado elitista,
obrigatoriedade das oito horas por dia trabalhadas, programa extenso de
serviços públicos, participação dos trabalhadores na gestão industrial,
nacionalização dos órgãos de defesa, direito a seguro-saúde e pensão por
velhice para todos os cidadãos, confisco estatal de terras não cultivadas,
tributação progressiva, imposto de 85% sobre os lucros da guerra e fortes
políticas anticlericais, incluindo a exclusão da instrução religiosa nas
escolas e apropriação governamental da propriedade de instituições
religiosas.
Mussolini foi capaz de decretar parte dessa agenda, em particular um
programa de serviços públicos, incomparável para a Europa da época. Os
fascistas construíram pontes, canais, estradas, estações ferroviárias, escolas,
hospitais e orfanatos. Drenaram pântanos, recuperaram terras, plantaram
florestas, legaram universidades e institutos de pesquisa. Mussolini também
expandiu os serviços sociais num programa que, confessou ele com
franqueza, equiparava-se ao New Deal de Franklin D. Roosevelt, até
mesmo chegando a superá-lo. (Mais sobre isso será explorado em um
capítulo posterior). Mesmo assim, apesar de tudo, grande parte do programa
socialista original de Mussolini permaneceu na gaveta.
A razão para tanto é que Mussolini, ao contrário de Hitler e Stalin, nunca
teve poder absoluto. Ele foi nomeado pelo rei Vítor Emanuel III, que
também tinha o poder para depô-lo, decisão que viria por fim a tomar.
Ainda que governando, Mussolini tinha de trabalhar com as estruturas de
poder existentes, incluindo membros da classe dominante tradicional.
Embora detestasse a Igreja Católica, Mussolini entendeu que lhe fazer
oposição tornaria seu governar mais difícil; então, em 1929, ele entrou em
concordata com o Vaticano, acordo que exigiu de Mussolini sua abdicação
do controle absoluto sobre o sistema educacional.
O poder de Mussolini alternava entre altos e baixos, dependendo das
circunstâncias. Ele não era o governante absoluto da Itália quando chegou
ao poder, mas depois que Giacomo Matteotti, político socialista, foi
assassinado por fascistas, Mussolini fez a aposta arriscada e bem-sucedida
de assumir o controle ditatorial. Mussolini evidentemente estava no auge de
seu poder durante meados da década de 1930, de modo que, durante esse
período, assegurou que o Estado tivesse controle sobre todas as atividades
industriais e sobre praticamente todas as finanças e o crédito. No entanto,
uma vez aliado à Alemanha, Mussolini teve de, novamente, operar dentro
da estrutura estabelecida por Hitler. Conforme mais adiante neste livro,
Mussolini abraçou parcialmente um racismo e um antissemitismo nos quais
ele não acreditava de fato e que não caracterizavam sua carreira quando ele
próprio estava à frente das tomadas de decisão.
Em 1943, as forças dos Aliados pisaram na Itália. Por meio da ação do
rei e do Grande Conselho do Fascismo, Mussolini foi deposto do poder.
Hitler, entretanto, resgatou-o do cativeiro e restabeleceu-o, então na posição
de governante em Saló, ao norte da Itália, território este que, na época,
estava sob controle alemão. Lá, por breve período, Mussolini pôde fazer o
que bem entendesse; ele era independente.
Daí, o que Mussolini fez? Fundou, como ele mesmo disse, o único
governo genuinamente socialista do mundo, com a possível exceção da
União Soviética.35 Mussolini tentou implementar o que ele chamou de
“verdadeiro socialismo”, afirmando que “elementos plutocráticos e partes
do clero” o impediram de antes implementá-lo na Itália.
Em Saló, Mussolini esboçou um programa socialista que ia mais além de
tudo aquilo que ele já havia tentado implementar na Itália. O novo
programa de novembro de 1943 exigiu que o Estado controlasse todas as
partes críticas da economia — energia, matérias-primas, todos os serviços
sociais mais essenciais —, deixando apenas poupanças privadas, casas e
bens próprios nas mãos do cidadão. O setor público deveria ser
administrado por comitês de gestão em que os trabalhadores teriam papel
fundamental. Os sindicatos também faziam parte do corpo legislativo
fascista.
O passo seguinte, declarou o conselheiro de Mussolini, Ugo Spirito, seria
abolir toda a propriedade privada. Estranho dizer, o conselheiro mais
próximo de Mussolini em Saló era Nicola Bombacci, amigo e discípulo de
Lênin que, em 1921, foi cofundador do Partido Comunista Italiano. O
período de Mussolini em Saló, embora de curta duração, prova que ele
nunca abandonou seus ideais esquerdistas originais. Ele, até o último
momento, manteve-se estadista, coletivista e socialista ferrenho.

O Programa Nacional-Socialista
Existe em Hitler, também, um socialista aplicado que, pouco depois de
assumir a liderança do Partido dos Trabalhadores Alemães, mudou o nome
deste para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães
(PNSTA). Com declaração após declaração, Hitler não poderia ter sido mais
claro sobre seus compromissos socialistas. Ele disse, por exemplo, num
discurso de 1927, que “Somos socialistas. Somos inimigos do sistema de
exploração capitalista atual [...] e estamos determinados a destruir tal
sistema sob a condição que for”.36
De início, o Partido Nazista ofereceu um programa que consistia em
vinte e cinco pontos, incluindo a nacionalização das grandes corporações e
dos fideicomissos, controle estatal sobre bancos e crédito; a apreensão de
terras sem compensação para uso público, a divisão de grandes
propriedades para formar unidades menores, o confisco dos lucros de
guerra; incluía também acusar banqueiros e outros credores por usura, a
abolição dos rendimentos mediante serviço não declarados, a participação
dos trabalhadores nos lucros em todas as grandes empresas, um sistema de
pensão mais abrangente, prestando maiores benefícios, e um sistema de
saúde e educação gratuitos para todos.
Lendo o programa nazista inconsciente das fontes, seria facilmente
perdoável confundi-lo com o programa do Partido Democrata de 2016 ou
mesmo com alguma plataforma democrata elaborada conjuntamente por
Bernie Sanders e Elizabeth Warren. É claro que um pouco da linguagem
está desatualizada. Os democratas não podem falar sobre “usura” nos dias
de hoje; eles teriam de substituir esse termo por “a ganância de Wall
Street”. Seja como for, está tudo lá. Tudo o que precisa fazer é riscar a
palavra “nazista” e escrever, em seu lugar, o termo “democrata”.
Progressistas como Paxton, que reconhecem o conteúdo esquerdista do
programa nazista, tentam distanciá-lo de Hitler, associando-o a uma suposta
facção de esquerda dentro do Partido Nazista, o qual Hitler viria a eliminar
mais tarde. Essa facção foi liderada pelos irmãos Strasser, Otto e Gregor.
Otto Strasser foi expulso do Partido Nazista em 1930 e exilado na
Checoslováquia. Gregor Strasser foi morto por ordens de Hitler em 30 de
junho de 1934, durante a Noite das Facas Longas.
Os Strassers, contudo, escreveram o programa nazista original em
parceria com o próprio Hitler. Os irmãos foram figuras-chave no Partido
Nazista durante a década de 1920. O partido expulsou Otto Strasser por
causa de suas ameaças de fundar seu próprio partido dissidente, o que
acabou por fazer. Gregor Strasser repudiou publicamente seu irmão e
permaneceu no Partido Nazista. Hitler nomeou-o chefe do partido nas
regiões norte e ocidental da Alemanha; lá, tornou-se o segundo com maior
autoridade, permanecendo abaixo apenas do próprio Hitler, que em nenhum
momento repudiou os princípios que ele mesmo e os irmãos Strasser
avançaram desde o início.
Sendo assim, por que Hitler matou Gregor Strasser? Uma pista pode ser
encontrada nos escritos de Joseph Goebbels, aliado íntimo de Strasser, que
se tornou o confidente de Hitler e ministro da propaganda. Num dos
registros de seu diário, Goebbels fez uma pergunta simples sobre o
nacional-socialismo: “O que é prioridade e o que vem em segundo lugar?”.
Goebbels responde: “Em primeiro lugar, vem o socialismo; depois, então, a
libertação nacional”.37
A resposta de Hitler foi o oposto: primeiro vem a libertação alemã e
depois, então, o socialismo. Goebbels, atraído pela pessoa de Hitler,
sucumbiu às prioridades dele. Gregor Strasser não, criticando Hitler por
trair o socialismo revolucionário, mesmo tendo Hitler assegurado que o
socialismo viria depois que a Alemanha consolidasse seu poder militar.
Strasser não estava persuadido. Em última análise, Hitler ficou cansado das
críticas de Strasser e o executou, eliminando um rival perigoso para o
processo em andamento.
Strasser acreditava que Hitler poderia ter tanto o nacionalismo quanto o
socialismo, pois, ao contrário de Mussolini, Hitler desfrutava de poder
quase absoluto para fazer o que quisesse. No entanto, o que Hitler desejava
fazer, antes das demais coisas, era começar uma guerra. Em essência, seu
objetivo era: em primeiro lugar, subjugar a Europa, ou ao menos a maior
parte dela; em segundo lugar, expulsar ou eliminar os judeus; e, em terceiro
lugar, implementar o socialismo na Alemanha enquanto institucionalizava a
subordinação e a escravidão para todos os demais povos. A visão de Hitler
era a de que o socialismo seria bom demais para qualquer povo que não
fosse verdadeiramente ariano; consequentemente, ele não estava prestes a
institucionalizar o socialismo antes de realizar suas duas primeiras tarefas.
Assim, Hitler também fez um acordo com o Vaticano e tentou apaziguar-
se com os cristãos. Ele precisava do apoio de católicos bávaros e luteranos
espalhados pela Alemanha. Hitler também precisava de grandes negócios,
tanto para manter a economia alemã acelerada como para fornecer-lhe o
vasto estoque de materiais de guerra, sabendo que precisaria disso sob o
objetivo de invadir a Europa Oriental, a França e a Rússia. Hitler alcançou
seu objetivo de colocar praticamente todos os setores da economia sob o
controle do Estado. Ele lançou enormes conglomerados estatais, como o
Reichwerke Hermann Göring, mas também adiou vários outros objetivos do
programa nazista. Esse adiamento e suas pechinchas com velhos inimigos
de modo nenhum prova que ele deixou de ser socialista ou um verdadeiro
nazista. À semelhança de Lincoln, Hitler tinha uma guerra que vencer com
sucesso, para realizar por completo suas ambições originais.
No entanto, para Hitler, ao contrário de Lincoln, a guerra não terminou
bem. Assim, o fascismo e o nazismo, então ainda em 1945, acabaram numa
pilha de cinzas da História. Levou muito mais tempo para o comunismo
soviético entrar em colapso. Pode-se ver, nesses dois exemplos, uma lição
desanimadora para a esquerda americana moderna. O coletivismo parecer
ter sido testado duas vezes e provado em ambas ser um fracasso. Mas não é
bem essa toda a verdade. O comunismo soviético foi testado e falhou por
sua própria conta. Já o fascismo e o nazismo, entretanto, foram destruídos
pelo lado de fora, pela guerra.
Consequentemente, pode-se dizer que, como planos ideológicos para a
sociedade, o fascismo e o nacional-socialismo ainda não fracassaram,
porque nunca foram completamente experimentados. No progressismo
moderno, portanto, vê-se uma tentativa de reavivamento e ressurreição.
Obviamente, este avivamento deve estar sob um nome diferente, e a
esquerda certamente precisará de alguma camuflagem antifascista. (Vejam,
não temos nenhum fascista por aqui! Você não percebe que estamos lutando
contra o fascismo?) Mesmo assim, para pessoas que sabem como
reconhecê-los, a esquerda de hoje ainda é o partido do fascismo e do
nacional-socialismo, velhas ideologias marchando agora em um diferente
continente sob novas cores e diferentes roupagens; um fascismo para o
século XXI.
Capítulo Três
A Jornada
de Mussolini
O conflito entre o fascista ou o nacional-socialista e os outros partidos
socialistas deve ser amplamente considerado como o tipo de conflito que
necessariamente surgirá dentre facções socialistas rivais.1
Friedrich Hayek, The Road to Serfdom
Em 23 de março de 1919, um dos socialistas mais famosos da Itália fundou
um novo partido, o Fasci di Combattimento, termo que significa “esquadrão
de combate fascista”. Este foi o primeiro partido fascista oficial e, portanto,
sua fundação representa o verdadeiro nascimento do fascismo. Da mesma
forma, esse homem foi o primeiro fascista. O termo “fascismo” remonta ao
ano de 1914, quando ele mesmo fundou o Fasci Rivoluzionari d’Azione
Internazionalista, movimento político cujos membros autodenominavam-se
fascisti, ou fascistas.
Em 1914, este pai fundador do fascismo já era, ao lado de Vladimir
Lênin na Rússia, Rosa Luxemburg na Alemanha e Antonio Gramsci na
Itália, um dos marxistas mais conhecidos do mundo. Seus companheiros
marxistas e socialistas o reconheceram como grande líder do socialismo.
Sua decisão de tornar-se fascista foi controversa, mas ele recebeu a
aprovação de Lênin, que continuou a considerá-lo um fiel revolucionário
socialista. E era assim também que ele mesmo se via.
Naquele mesmo ano, tendo apoiado o envolvimento italiano na Primeira
Guerra Mundial, ele seria expulso do Partido Socialista Italiano por
“heresia”, não significando, porém, que por isso havia deixado de ser
socialista. Era prática comum para os partidos socialistas a expulsão de
companheiros socialistas dissidentes, daqueles que discordavam de alguns
pontos importantes da linha do partido. Este então rejeitado pelo partido
insistiu que fora expulso por ter feito uma “revisão do socialismo do ponto
de vista revolucionário”.2 Pelo resto de sua vida — até ter seu corpo morto
e exposto numa praça da cidade de Milão —, ele confirmou os princípios
centrais do socialismo, os quais via refletidos de melhor forma no fascismo.
Quem, então, era esse homem? Era o futuro líder da Itália fascista, aquele
que os italianos chamavam de Il Duce, Benito Mussolini.
As credenciais socialistas de Mussolini eram impecáveis. Criado em
família socialista, com a idade de dezoito anos, em 1901, declarou
publicamente suas convicções. Aos vinte e um anos, já era marxista
ortodoxo, familiarizado não só com os escritos de Marx e Engels, mas
também com os mais influentes marxistas alemães, italianos e franceses do
período fin de siècle. Tais quais outros marxistas ortodoxos, Mussolini
rejeitou a fé religiosa e escreveu panfletos anticatólicos repudiando o
catolicismo de sua nação.
Mussolini embarcou em uma carreira ativa de escritor, editor e dirigente
político. Exilado na Suíça entre 1902 e 1904, colaborava semanalmente
com o Partido Socialista Italiano lançado lá; também escreveu para Il
Proletario, periódico semanal socialista publicado em Nova Iorque. Em
1909, Mussolini fez outra estada temporária em Trento — na época, parte
da Áustria-Hungria —, onde trabalhou para o Partido Socialista e editou seu
jornal. Ao retornar, no ano seguinte, à sua cidade natal, Forli, ele editou o
periódico semanal socialista La Lotta di Classe. Tão vastos foram seus
escritos sobre o marxismo, a teoria socialista e a política contemporânea
que sua produção agora preenche sete volumes.
Mussolini não era apenas um intelectual; ele organizou greves de
trabalhadores em nome do movimento socialista dentro e fora da Itália e foi
duas vezes preso por seu ativismo. Em 1912, Mussolini foi reconhecido
como líder socialista no Congresso Socialista de Reggio Emilia e designado
para o conselho administrativo do Partido Socialista Italiano. No mesmo
ano, aos vinte e nove anos, tornou-se editor da Avanti!, publicação oficial
do partido.
Do ponto de vista da narrativa progressista — narrativa que comecei a
desafiar no capítulo anterior —, a mudança de Mussolini, do socialismo
marxista para o fascismo, deve vir como uma grande surpresa. No
paradigma progressista, o socialismo marxista é o extremo do lado esquerdo
do espectro, ao passo que o fascismo é o extremo do lado direito. A
incredulidade progressista torna-se ainda maior quando se percebe que
Mussolini não era mais outro mero socialista; ele era, reconhecidamente, o
líder do movimento socialista na Itália. Além disso, ele não simplesmente
pegou o bonde do fascismo; ele o criou.
Hoje em dia pensamos em Adolf Hitler como o representante mais
famoso do fascismo. No entanto, conforme mencionei anteriormente, Hitler
não se considerava fascista. Ao invés disso, ele se considerava nacional-
socialista. As duas ideologias estão relacionadas na medida em que ambas
são baseadas no coletivismo e no poder centralizado no Estado. Elas
emergem, pode-se dizer, de um ponto de partida em comum. No entanto,
também são distintas; por exemplo, o fascismo não tinha conexão intrínseca
com o antissemitismo da mesma maneira como o nacional-socialismo o
tinha.
Seja como for, Hitler ainda era um obscuro dirigente na Alemanha
quando Mussolini ascendeu ao poder e, após sua famosa Marcha sobre
Roma, estabeleceu o primeiro regime fascista do mundo, na Itália, em 1922.
Hitler admirava muito Mussolini e almejava ser como ele. Segundo Hitler,
Mussolini era “o principal estadista do mundo, a quem ninguém pode, nem
mesmo remotamente, comparar-se”.3 Hitler tomou inspiração da bem-
sucedida Marcha sobre Roma guiada por Mussolini para o seu fracasso na
ocasião do Putsch de Munique, realizado em novembro de 1923.
Logo que chegou ao poder, Hitler manteve um busto de Mussolini em
seu escritório; e certo alemão chegou a chamá-lo de “Mussolini da
Alemanha”.4 Mais tarde, quando os dois homens conheceram-se pela
primeira vez, Mussolini não ficou muito impressionado com Hitler,
passando a considerá-lo com mais respeito só depois de 1939, quando
Hitler conquistou a Áustria, a Polônia, a Checoslováquia, a Bélgica, a
Noruega e a França. Hitler continuou a defender Mussolini como “esse
estadista incomparável” e “um dos Césares”, além de confessar que, sem o
fascismo italiano, não existiria o nacional-socialismo alemão: “Os camisas
pardas provavelmente não existiriam sem os camisas negras”.5
Assim como Mussolini, Hitler era homem da esquerda, sem contar que
também era líder socialista e cabeça da classe trabalhadora, fundador do
Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães, cujo programa provou ser
muito semelhante ao do partido fascista de Mussolini. Hitler, entretanto,
chegou ao poder na década de 1930, ao passo que o governo de Mussolini
abrangeu a maior parte da década de 1920. Durante esses anos, Mussolini
foi muito mais famoso do que Hitler, reconhecido inclusive como o pai
fundador do fascismo. Portanto, qualquer descrição da origem do fascismo
não deve se concentrar em Hitler, mas em Mussolini. Este, sim, Mussolini,
é o fascista original e prototípico.

Do Socialismo ao Fascismo
Como então — retornando ao paradigma progressista — os progressistas
retratam a conversão de Mussolini do socialismo ao fascismo, ou, mais
precisamente, seu abraçar simultâneo de ambas as ideologias? O problema é
aprofundado pelo fato de que Mussolini não estava sozinho. Centenas de
líderes socialistas, inicialmente na Itália mas posteriormente na Alemanha,
na França e em outros países, também tornaram-se fascistas. Na verdade,
vou além ao dizer que todas as principais figuras da fundação do fascismo
eram homens de esquerda. “Os primeiros fascistas”, diz Anthony James
Gregor, “eram quase todos marxistas”.6
Citarei alguns exemplos. Jean Allemane, famoso por seu papel no caso
Dreyfus, uma das grandes figuras do socialismo francês, viria a tornar-se
fascista anos mais tarde. Assim também foi com o socialista Georges
Valois. Marcel Deat, fundador do Parti Socialiste de France, acabou
abandonando o partido e, em 1936, deu início a um partido pró-fascismo.
Tempos depois, ele passou a colaborar com o nazismo durante o regime de
Vichy. Jacques Doriot, comunista francês, moveu seu Parti Populaire
Français para o campo fascista.
Henri de Man, teórico socialista belga, transformou-se num teórico
fascista. Na Inglaterra, Oswald Mosley, parlamentar socialista do Partido
Trabalhista, por fim rompeu com o Partido Trabalhista por não o considerar
suficientemente radical.
Mais tarde, ele fundou a União Britânica dos Fascistas e tornou-se o
principal simpatizante nazista do país. Na Alemanha, Gerhart Hauptmann,
dramaturgo socialista, abraçou Hitler e produziu peças durante o período do
Terceiro Reich. Após a guerra, passou para o comunismo e encenou suas
produções na Berlim Oriental, dominada pela União Soviética.
Na Itália, o filósofo Giovanni Gentile passou do marxismo para o
fascismo, assim como uma série de dirigentes sindicais italianos: Ottavio
Dinale, Tullio Masotti, Carlo Silvestri e Umberto Pasella. Agostino
Lanzillo, escritor socialista, juntou-se ao Parlamento de Mussolini como
membro do Partido Fascista. Nicola Bombacci, um dos fundadores do
Partido Comunista Italiano, tornou-se o principal assessor de Mussolini em
Saló. O discípulo de Gentile, Ugo Spirito, que também serviu a Mussolini
em Saló, passou do marxismo para o fascismo e depois de volta ao
marxismo. Como Hauptmann, Spirito tornou-se simpatizante do
comunismo após a Segunda Guerra Mundial e pediu uma nova “síntese”
entre o comunismo e o fascismo.
Outros que fizeram a mesma jornada do socialismo ao fascismo serão
nomeados neste capítulo. Uma coisa que ficará muito clara é que tais não
são histórias de “conversão”. Esses homens não “mudaram” do socialismo
para o fascismo. Ao contrário, eles tornaram-se fascistas da mesma forma
pela qual os socialistas russos tornaram-se bolcheviques leninistas. Tais
quais seus homólogos russos, aqueles socialistas acreditavam estar
crescendo no fascismo, amadurecendo no fascismo, uma vez que
consideravam o fascismo a forma mais bem pensada e prática do socialismo
para o novo século.
O progressismo simplesmente não consegue explicar a fácil mudança do
socialismo para fascismo. Sendo assim, os progressistas costumam manter
silêncio completo sobre toda essa relação histórica, a qual lhes é
profundamente embaraçosa. Em todos os artigos comparando Trump a
Mussolini, procurei em vão por referências ao antigo marxismo de
Mussolini e seu apego ao socialismo de toda uma vida. Tanto por
ignorância quanto por esquemas, essas referências não se fazem presentes.
Os relatos biográficos progressistas, no entanto, que não podem evitar o
passado socialista de Mussolini, recorrem e acusam-no — como o Partido
Socialista da Itália fez em 1914 — de ter “se vendido” ao fascismo por
dinheiro e poder. Outros relatos afirmam que, independentemente das
convicções originais de Mussolini, o próprio fato de seus fascistas terem
lutado contra os marxistas e os socialistas tradicionais mostra claramente
que Mussolini não permaneceu socialista, nem mesmo de esquerda.
Mas essas explicações não fazem sentido. Quando se “vendeu”,
Mussolini foi banido. Ele não tinha dinheiro, não tinha poder. Nem
tampouco qualquer um dos primeiros fascistas abraçou o fascismo por esse
motivo. Pelo contrário, eles passaram para o fascismo porque viram nele o
único meio de resgatar o socialismo e torná-lo viável. Em outras palavras, a
deserção deles estava dentro do socialismo — eles procuravam criar um
novo tipo de socialismo, um que realmente causasse aderência das massas e
produzisse a revolução dos trabalhadores que Marx anteviu e antecipou.
As lutas ferozes entre facções socialistas e esquerdistas são uma
característica reconhecida da história do socialismo. Na Rússia, por
exemplo, houve confrontos sangrentos entre rivais bolcheviques e
mencheviques. Mais tarde, os bolcheviques dividiram-se em leninistas e
trotskistas, e Trotsky acabou morto por ordens de Lênin. Todos eram figuras
da esquerda. O que essas rivalidades sangrentas provam é que as piores
divisões e conflitos às vezes surgem entre pessoas ideologicamente muito
parecidas e que diferem em pequenos — embora não tão pequenos aos
olhos delas — pontos doutrinários.
Neste capítulo, traçarei o desenvolvimento do fascismo, mostrando
exatamente como este surgiu de uma divisão doutrinária dentro da
comunidade de socialistas marxistas. Em suma, vou provar que o fascismo
é exclusivamente um produto da esquerda. Este não é um caso de
esquerdistas que passaram para a direita. Não, os fascistas estavam no
extremo esquerdo do movimento socialista. Eles não se viam como
desprezando o marxismo, mas como que o salvando da obsolescência. Do
ponto de vista deles, o marxismo e o socialismo eram inertes demais e,
portanto, precisavam ser ajustados mais para a esquerda. Em outras
palavras, eles consideravam o fascismo mais revolucionário do que o
socialismo tradicional.
Em grande parte, essa narrativa por si só é um capítulo não contado na
história das ideias. Eu a escavei de obras densamente acadêmicas dos
principais historiadores do fascismo, para colocá-la ao alcance de uma
audiência geral. Conforme esses estudiosos enfatizam, não foi assim que o
fascismo terminou, mas como começou. Hoje o fascismo é pensado em
termos das extremas perversidades da Segunda Guerra Mundial, mas o
movimento fascista não teria atraído um grande número de seguidores se
fosse, originalmente, visto dessa forma. Deve haver um apelo lógico e
emocional que hoje nos é invisível.
Tento mostrar, aqui, a força dessa lógica e dos tais apelos originais. Meu
objetivo é produzir uma genealogia no sentido do termo que Nietzsche
escreveu em sua Genealogia da Moral. Nietzsche buscava desacreditar a
moral cristã ao relatar sua origem, revelando suas supostas raízes basilares.
Meu objetivo é mostrar as origens fundacionais do fascismo, e não tanto
a fim de desacreditá-lo — dificilmente seria necessário fazê-lo em nossa
época —, mas para estabelecer, de uma vez por todas, a grande mentira que
é tornar o fascismo um fenômeno de direita. Sem essa mentira, a afirmação
de que Trump e o GOP são fascistas simplesmente desmorona.

A Crise do Marxismo
O fascismo surgiu da profunda crise enfrentada pelo marxismo no início
do século XX. Portanto, partamos dela. Lembre-se de que Marx não pediu
que os trabalhadores do mundo se levantassem e se rebelassem contra a
classe burguesa ou capitalista. Em vez disso, ele previu que isso
aconteceria. Marx se via como uma espécie de profeta, predizendo o que
viria a acontecer. Para Marx, não importava se alguém fosse a favor do
comunismo ou contra ele; de qualquer forma, a chegada do comunismo
seria inevitável.
Como sabia disso? Marx era um materialista histórico. Ele não recebeu
suas profecias de Deus; ele as recebeu por meio do estudo daquilo que ele
considerava ser os fundamentos materiais da História. De acordo com
Marx, a História é dividida em duas classes: a classe trabalhadora, ou o
proletariado, e a classe capitalista, ou a burguesia. Em essência, a classe
capitalista torna-se rica ao explorar continuamente a classe trabalhadora.
Portanto, é previsível que, em dado momento, este conflito fique tão severo
que seja inevitável a derrubada revolucionária da classe capitalista por parte
dos trabalhadores.
Marx considerava seu trabalho “estritamente científico” e, também,
“estritamente realista”. Seu ajudante, Engels, falou das “leis gerais do
movimento”. Marx e Engels alegaram saber até as condições precisas em
que essa revolta ocorreria. Primeiro, aconteceria nos países capitalistas mais
avançados. Especificamente, Marx esperava que o comunismo chegasse
primeiramente à Alemanha ou à Inglaterra. Em seguida, ele esperava que se
espalhasse para outros países europeus e, finalmente, por todo o mundo. Em
segundo lugar, Marx insistia que os sinais de uma revolução iminente
seriam o crescente empobrecimento da classe trabalhadora e a crescente
alienação de seus empregadores e da sociedade.
Parece meio cômico, em retrospecto, que pessoas altamente inteligentes
aceitaram toda essa ladainha marxista — os pressupostos infundados, o
pretensioso absurdo verborrágico — como um evangelho. Mas é certo que
assim a acolheram. Contudo, no início do século XX, tornou-se óbvio para
a maioria das pessoas — até mesmo para muitos marxistas — que nada do
que Marx havia previsto estava realmente acontecendo. Não só não havia
sinais de revolução na Alemanha ou na Inglaterra, mas também as classes
trabalhadoras nessas nações pareciam cada vez melhores e com notória
estabilidade.
Por exemplo, na Alemanha e na Inglaterra, a renda per capita, ajustada
pela inflação, praticamente dobrou no ínterim entre as previsões de Marx e
o início do século XX.7 Em suma, a barganha capitalista parecia estar
funcionando; o proletariado e a burguesia estavam se dando muito bem. O
socialismo parecia ainda menos provável na América, escreveu Werner
Sombart, economista alemão, porque todos estavam muito confortáveis.
Nas palavras de Sombart, todas as utopias revolucionárias falham quando se
trata de ter carne assada e torta de maçã que pôr no prato.
A crise do marxismo pode ser percebida em uma única carta escrita por
Eduard Bernstein, alemão exilado na Inglaterra, pupilo e protegido mais
próximo de Engels. Já em 1898, Bernstein escreveu: “Tentei, ao estender os
ensinamentos marxistas, deixá-los de acordo com as realidades práticas [...]
Mas, em terminada minha atuação, disse a mim mesmo — isso não pode
continuar. É inútil tentar conciliar o irreconciliável. É preciso esclarecer
com exatidão onde Marx está certo e onde ele está errado”.8
A necessidade de revisões fundamentais no marxismo tornou-se ainda
mais óbvia nas primeiras décadas do século XX. Em 1917, houve uma
revolução comunista, mas, entre todos os lugares possíveis, ela ocorreu na
Rússia, um dos países menos desenvolvidos da Europa. Para os marxistas,
aquela revolução sobreveio de surpresa. Marx insistia que a revolução na
Rússia, na Ásia ou na África eram impossíveis sem que essas regiões
passassem por etapas do desenvolvimento capitalista. A trajetória histórica
de Marx passou do feudalismo ao capitalismo e, então, ao comunismo. Em
outras palavras, é preciso tornar-se capitalista antes de tornar-se comunista.
Não menos do que os outros poderiam ver, os marxistas perceberam que
a revolução russa não foi uma revolta do proletariado contra uma classe
capitalista, mas uma operação militar organizada por revolucionários
profissionais contra uma ditadura czarista. Os revolucionários não eram da
classe trabalhadora, mas principalmente provenientes da intelligentsia —
advogados, jornalistas, ativistas sociais. Não era o que Marx havia previsto.
Quanto ao tipo de revolução que Marx previu, a revolta da classe
trabalhadora, nunca houve uma revolução que fosse proletária em qualquer
sentido inteligível do termo.
Como os marxistas reagiram a esses acontecimentos surpreendentes e,
para eles, inclusive, perturbadores da História? A maioria dos partidos
marxistas oficiais na Europa reagiu feito gado, de uma estupidez bovina. O
marxismo caiu em uma espécie de torpor intelectual. Muitos da liderança
marxista basicamente ignoraram o mundo como tal e continuaram a esperar
o mundo como ele deveria ser. Karl Kautsky e Rosa Luxemburg foram
líderes influentes do Partido Social-Democrata alemão, o principal partido
socialista do mundo, e mais tarde do Partido Social-Democrata
Independente da Alemanha. A posição deles era que a revolução realmente
chegaria à Alemanha, assim que as condições estivessem maduras.
No entanto, como Eduard Bernstein, muitos dos marxistas e socialistas
mais inteligentes reconheceram que se tratava de um sonho socialista. As
condições em toda a Europa estavam ficando menos maduras. A cada
década, a condição de vida dos trabalhadores melhorava consideravelmente.
E como explicar a Rússia? Marx ficaria chocado. Então um grande debate
surgiu entre os marxistas, socialistas e esquerdistas, daí surgindo duas novas
tensões do socialismo marxista, que dominariam o novo século. A primeira
era o bolchevismo, ou leninismo. A outra era o fascismo, ou nacional-
socialismo.
Comecemos por Lênin, líder revolucionário da revolução russa. Lênin
era, tal qual Mussolini, um revolucionário intelectual e também
revolucionário prático. Ele, como Mussolini, começou no socialismo
marxista ortodoxo e permaneceria, até o fim de sua vida, leal à essência da
doutrina marxista. No entanto, Lênin sabia que também deveria explicar por
que o comunismo havia chegado à Rússia, mas não aos países capitalistas
avançados como a Alemanha ou a Inglaterra.
Sua explicação, oferecida em seu livro chamado O Imperialismo: Fase
Superior do Capitalismo, é engenhosa. Basicamente, Lênin argumenta que
o capitalismo havia “exportado” sua própria crise, através do colonialismo e
do imperialismo, para o Terceiro Mundo. Em outras palavras, os capitalistas
no Ocidente estavam subornando sua classe trabalhadora ao explorar os
pobres em outros países. Isso, argumenta Lênin, não foi algo que Marx
previu. Por conseguinte, Lênin afirma, não deveríamos esperar uma
revolução na principal metrópole do capitalismo, na Europa Ocidental, mas
sim na periferia. A Rússia era simplesmente o primeiro caso de revoluções
socialistas ocorrendo pelo mundo subdesenvolvido previstas por Lênin.
Além disso, ele sabia que sua revolução bolchevique não era uma
revolução da classe trabalhadora. Ele percebeu não haver registros disso,
exceto a partir de uma revisão de Marx. Em seu livro mais famoso, Que
Fazer?, Lênin insiste que Marx havia sido muito complacente em esperar
que a revolução ocorresse por si só. De certo modo, Marx havia depositado
confiança demais nos trabalhadores. Lênin os considerava ignorantes e
oprimidos demais para dar início ao que quer que fosse.
Segundo Lênin, as revoluções futuras exigiriam uma vanguarda
profissional de combatentes militantes, lideradas por pessoas como ele, para
instigar a consciência de classe na sociedade e derrubar a classe dominante
em nome da classe trabalhadora. Esses militantes não precisavam ser
proletários; eles poderiam ser intelectuais, artistas, até membros da
burguesia. No dizer do cientista político Joshua Muravchik, do ponto de
vista de Lênin “a revolução proletária não precisava ser realizada por
proletários; ela poderia ser realizada em favor deles”.9
No final das contas, Lênin esperava que as coisas se tornassem bem
parecidas com o que Marx havia previsto. Lênin concordava com Marx
sobre a revolução comunista ser um evento internacional. Por fim, ela seria
um fenômeno mundial. Além disso, seria dirigida pelas diferenças de
classes, vistas em todos os países. Assim, o comunismo não pode ficar
restrito a um único país; de fato, como Marx disse certa vez, o operário não
tem país.
Lênin também esperava que, quando a revolução finalmente ocorresse, o
próprio Estado desapareceria. Este foi o tema central de seu livro O Estado
e a Revolução, no qual ele previa que da revolução do proletariado seguiria
uma ditadura do proletariado, a qual, por sua vez, seria seguida do
desaparecimento completo de qualquer tipo de Estado. Em outras palavras,
na utopia comunista, todos na sociedade possuirão conjuntamente os meios
de produção e não haverá a necessidade de um Estado.
Esse pequeno pedaço de artifício ideológico marxista fica especialmente
risível quando é posta sob consideração a União Soviética de Lênin, com
seu Estado militarizado e inchado, confiscando a riqueza do povo e
governando com um cetro de ferro sobre sua vida. À medida que
desprezava o povo russo em nome da ideologia socialista, Lênin, em total
insensatez, continuava a prever o desaparecimento de todo o aparelho do
Estado comunista.
Nota-se que as inovações de Lênin sobre o marxismo não foram bem
recebidas pela principal corrente dos marxistas europeus, como Kautsky e
Luxemburgo, que o acusaram de corromper os ensinamentos marxistas e
minar toda a lógica do próprio marxismo. Lênin não se importou, afinal
sabia que ele próprio representava o futuro. O leninismo sobreviveria à
“crise do marxismo” e mudaria o mundo. E o que aconteceu com Kautsky e
Luxemburgo? Ele desapareceu nos arquivos mofados da história marxista e
ela foi feita nota de rodapé — executada pelo regime de Weimar, em 1919,
por ter se associado a uma insurreição armada que por fim fracassou.
Na Itália, um homem de temperamento muito semelhante ao de Lênin,
não menos cruel e prático, ponderava sobre a mesma crise que o déspota
soviético. Ele estava acompanhado nessa busca por todo um movimento de
socialistas revolucionários, sobretudo na Itália, mas também na França e na
Alemanha. Eles chegariam a conclusões bem diferentes da de Lênin e
vislumbrariam um tipo de futuro socialista bastante distinto. Mesmo assim,
juntos, lançaram um movimento, o fascismo, que rivalizaria com o
comunismo soviético em seu alcance global e trágica destruição.

O Mito da Violência Revolucionária


A resposta fascista à “crise do marxismo” tomou um rumo diferente do
de Lênin, embora mantivesse algumas semelhanças de abordagem. Essa
mudança é mais interessante para o propósito aqui exposto, uma vez que o
fascismo de Mussolini exerce maior relevância sobre o progressismo
americano do que o bolchevismo de Lênin. No entanto, aqui devemos ver a
trajetória de Mussolini junto ao percurso dos demais, porque ele não agiu
sozinho. O fascismo italiano — o primeiro fascismo — surgiu como síntese
de dois movimentos socialistas: o movimento nacionalista e o movimento
sindicalista revolucionário. Ambos foram construídos sobre os fundamentos
de um homem, Georges Sorel.10
Não obstante marxista francês, Sorel partiu da premissa de que as
previsões de Marx falharam: “Sabemos que as coisas simplesmente não
acontecem como Marx supôs em 1847”. O problema para Sorel foi o
determinismo histórico de Marx. Em suas palavras: “Prometem-nos ciência,
mas recebemos apenas palavras. Não nos são dados novos meios de atuação
no mundo”. Em outras palavras, aos olhos de Sorel, a revolução não apenas
acontece para a classe trabalhadora; ela deve ser causada pela própria classe
trabalhadora.
Mas como? Neste ponto Sorel vai além de Marx e mergulha no domínio
da psicologia. O ser humano, diz ele, é motivado por poderosas aspirações
internas, aspirações que demonstram não ser inteiramente racionais. Sorel
as chama de “mitos”; por mitos ele quer dizer ideias poderosas que reúnem
grandes grupos de pessoas com o objetivo de agir. Ele ressalta que as
Cruzadas foram conduzidas pelo mito da santa missão de reconquistar
Jerusalém. Os mitos não são “descrições das coisas”, insiste Sorel, “mas
expressões da vontade”.
Assim como Lênin, Sorel considerava a classe trabalhadora inerte,
incapaz de dar-se à revolução por si só. Ela precisava era de líderes que
infundiriam suas lutas de classes com mitos poderosos, e esses mitos, por
sua vez, unificariam o proletariado e o levaria à ação. Sorel parece clamar
por algo semelhante à vanguarda revolucionária de Lênin, um líder, ou
grupo de líderes, que despertaria a consciência da classe trabalhadora. Eis o
conceito de “conscientização”, que é comum ao leninismo e ao fascismo
inicial, e também uma característica importante do progressismo americano
moderno. A conscientização parte do princípio de que o lugar onde a
revolução ocorre é na mente humana. A consciência — não a circunstância
— determina se você é verdadeiramente revolucionário. O intelectual
autoconscientizado pode considerar-se um dos proletários. O homem
trabalhador que rejeita a revolução pode ser diagnosticado como sofrendo
de “falsa conscientização”.
A Nova Esquerda, na década de 1960, estava obcecada com a
conscientização. Saul Alinsky, um mentor para Obama e Hillary, dedicou
grande parte dos seminários e treinamentos que ministrou para a
conscientização. Hoje em dia já é rotina para o movimento Black Lives
Matter e para outros grupos de esquerda promover seminários de
conscientização como parte do treinamento para protestos. Isso tudo
substitui a noção de Marx de inevitabilidade histórica, reconhecendo que as
pessoas não se perturbam por iniciativa própria; suas queixas e intempéries
lhes devem ser criadas, ou pelo menos interpretadas; o povo, de modo a
levantar e agir, precisa ser instigado.
Embora reconhecesse estar revisando Marx, Sorel insistia que sua
revisão estava inteiramente no espírito de Marx. O marxismo não estava
errado, ele apenas exigia uma “obra de conclusão”, a qual seria realizada
“pelos métodos marxistas”. O problema era que o marxismo havia sido
corrompido por marxistas cegos demais para entender que a revolução não
estava acontecendo no curso normal dos acontecimentos; eram também
pessoas inertes e preguiçosas demais para que o proletariado fosse levado à
ação.
Sorel concordava com Marx em afirmar que a divisão central da
sociedade é uma divisão de classes — uma divisão entre trabalhadores e
capitalistas. “A luta de classes é o alfa e o ômega do socialismo”. A luta de
classes era “o que realmente havia de verdadeiro no marxismo, de
poderosamente original, superior a todas as fórmulas”. Sorel insistia que
Marx, em seus primórdios, falava menos em termos de inevitabilidade da
revolução e mais em termos de motivar os trabalhadores e estimulá-los à
ação. Então, em certo sentido, Marx acertou desde o início.
A ação que Sorel queria ver era uma greve geral. Este era o “mito”, ou a
causa, que levaria os trabalhadores ao agir decisivo. Por greve geral Sorel
não imaginava uma série de confrontos de trabalhadores contra capitalistas
espalhados em várias indústrias, mas sim uma única greve nacional que, de
uma só vez, derrubaria o sistema capitalista. Assim como Lênin, Sorel
percebeu que tal greve dificilmente poderia ser pacífica, pela simples razão
de que os capitalistas nunca desistiriam de seu poder sem antes batalhar por
ele.
Sorel, portanto, aprovava uma greve geral como meio de revolução
violenta. De modo algum ele era alérgico à violência; na verdade, sua
principal obra se chama Reflexões sobre a Violência. Sorel falou da
violência como sendo “bela” e “heroica”. Para ele, a violência era uma
espécie de higienização saudável — uma remoção dos detritos sociais.
Percebe-se aqui, no início do fascismo, do leninismo e, mais tarde, do
progressismo americano, essa mesma glorificação da violência dando apoio
à revolta e ao protesto. Para todas essas ideologias, bater nas pessoas é uma
forma importante de purgar a sociedade de seus males longevos.
Sorel permaneceu marxista por toda sua vida. Ele dedicou seu livro
Reflexões sobre a Violência a Lênin, e deu boas-vindas à revolução russa.
Embora nunca tenha se autodenominado fascista, Sorel estava ciente de que
os fascistas haviam sido influenciados por seu trabalho, e jamais os
reprovou. Assim como tantos que viriam a segui-lo, Sorel viu o fascismo
como continuação e concretização do socialismo, a conclusão, termo que
ele usou, do “papel histórico” da esquerda.
Mussolini ficou bastante impressionado com Sorel. “As massas”, ele
escreve, “não podem ser os protagonistas da História — elas são o seu
instrumento”.11 Naturalmente, ele se considerava o tipo de líder que
invocaria os mitos coletivos, que, por sua vez, conduziriam o proletariado à
ação. Tal qual Sorel, Mussolini afirmava a necessidade, e até mesmo a
beleza, da violência no papel de consumação da revolução. Em outras
palavras, o socialismo das palavras teria de, por fim, resultar no socialismo
das atitudes. Os revolucionários da esquerda deviam realmente assumir o
controle do país; e, para fazê-lo, obviamente teriam de quebrar alguns
crânios.

Trata-se da Nação, seu Idiota!


Em 1911, a Itália invadiu Trípoli e Cirenaica no objetivo de arrancar a
província da Líbia do Império Otomano. Observando a campanha italiana,
Mussolini descobriu algo surpreendente. Ele notou que a classe
trabalhadora italiana respondia mais poderosamente ao apelo da nação do
que jamais teria respondido ao apelo de classes, percepção que se fortificou
alguns anos mais tarde, quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial
ao lado da Grã-Bretanha e da França. Mussolini viu que os socialistas
italianos lutaram pela Itália, os socialistas franceses lutaram pela França, e
os socialistas alemães lutaram pela Alemanha.
A importância desta descoberta não pode ser suficientemente relatada.
Socialista imbuído de conceitos de classe marxistas, Mussolini acreditava
que a associação de classes era o principal motor da História. Determinado,
acreditava que as pessoas estavam principalmente ligadas à classe a que
pertenciam. Elas morreriam por sua classe, se desafiadas a fazê-lo. Isso se
aplicaria igualmente aos trabalhadores e à burguesia. Na segunda década do
século XX, Mussolini viu que não era esse o caso. O povo não daria a vida
pela classe pertencente, mas a daria pela nação.
A princípio, Mussolini recusou-se a acreditar nisso. Marx insistia que as
alianças de classe eram fundamentais e que o nacionalismo era invenção da
classe dominante burguesa. Na verdade, Marx repudiava o antigo
patriotismo, cuja ostentação de bandeiras e parafernálias ele considerava
um ardil da classe dominante burguesa para manter a classe trabalhadora
sob controle. Ele acreditava que o patriotismo era uma estratégia para
reprimir o conflito de classes. Mussolini concordava com isso. Ele se opôs
vigorosamente à guerra da Líbia e ridicularizou demonstrações do
patriotismo italiano. A bandeira italiana, disse ele com palavras que
permaneceram na História, não passava de um “pano” que merecia ser
“plantado em monturos”.12
Em 1914, ano da Grande Guerra, Mussolini começava a pensar de forma
diferente. Sua mudança de coração surgiu principalmente a partir da
observação pessoal e direta do que realmente unia a classe trabalhadora, ou
seja, seu apego à Itália em vez de seu apego a este grupo chamado
proletariado. Mussolini observou que, nas trincheiras, “ninguém mais falava
de retornar à sua aldeia ou região. Todos falavam sobre voltar para a
Itália”.13 Todavia, a mudança de Mussolini também foi influenciada por
um grupo de socialistas revolucionários que já defendia a nação acima das
classes. Estes eram os nacionalistas, cujos personagens mais proeminentes
eram Roberto Michels, Enrico Corradini e Alfredo Rocco.
Mais tarde, todos eles tornaram-se fascistas. Michels, socialista alemão
até antes de se mudar para a Itália, juntou-se primeiro ao Partido Socialista
Italiano e depois ao Partido Fascista de Mussolini. Corradini e Rocco eram
ativistas do socialismo; Corradini foi o principal motor da Associação
Nacionalista Italiana, à qual Rocco mais tarde juntou-se. Finalmente, este
grupo fundiu-se e formou o partido fascista. Corradini foi nomeado por
Mussolini para servir no Senado italiano e ligou-se ao governo de Mussolini
em 1928. Rocco foi eleito fascista para a Câmara dos Deputados e, mais
tarde, como ministro da justiça de Mussolini, tornou-se um importante
arquiteto do código penal do Estado fascista.
Havendo sido ex-aluno de Max Weber na Alemanha, Michels defendeu o
nacionalismo por meio de um exame sociológico sobre o que fazia grupos
se juntarem. Ele concordou com Marx que o homem não é uma criatura
solitária e que, desde o princípio da História, os povos coalescem em
grupos sociais. Contudo, Michels argumentava que a instituição humana
mais forte, fora a família, não era a classe social, mas, no lugar dela, a tribo.
No dizer dele, as tribos são os ancestrais das nações modernas e as nações
são estruturas construídas sobre costumes compartilhados e sobre a história
compartilhada. Elas, as nações, é que controlam as lealdades mais
profundas dos povos. Michels chamava as nações de “comunidades da
volição”.
Corradini e Rocco foram além, argumentando que não fazia sentido falar
sobre diferença de classes em um país agrícola subdesenvolvido como a
Itália. Aqui, disseram eles, não há diferenças acentuadas entre a classe
trabalhadora e a classe capitalista. Aqui, todo o país é pobre e praticamente
todos têm de lançar das mãos ao trabalho. Em certo sentido, todos os
italianos pertencem a uma única classe de luta.
Suas lealdades, portanto, não surgiram da classe, mas de um apego
comum a memórias partilhadas e participação compartilhada no modo de
vida italiano. Em outras palavras, o que os italianos tinham em comum era a
etnia. Eis a base do nacionalismo, característica importante do fascismo.
Reconheçamos, no entanto, que este é o nacionalismo étnico — um
nacionalismo de identidade étnica. Como tal, ele está na raiz não só do
fascismo, mas também na do progressismo moderno, cuja afirmação e
celebração da identidade étnica servem de base para a motivação e
participação política.
Havendo refletido sobre a etnia, pressupondo ser ela a identidade
compartilhada dos operários italianos, Corradini e Rocco concluíram que o
nacionalismo étnico era o mito estimulante dos trabalhadores. Apenas uma
dedicação sacrificial à nação italiana, ambos argumentaram, permitiria que
a Itália ultrapassasse a frágil unificação do Risorgimento e conquistasse um
“segundo Risorgimento”, que então tornaria a Itália um país
verdadeiramente maduro e desenvolvido.
Corradini também viria a reforçar que os italianos que se encontravam na
miséria por vezes precisavam ir para o exterior na busca por trabalho, onde
acabavam sendo explorados por sua mão de obra em países ricos como
Inglaterra, França e Alemanha. Diante disso, Corradini propôs uma revisão
do conceito marxista de divisão de classes. A divisão real, disse ele, era
entre nações ricas e nações pobres. A Alemanha, a Inglaterra e a França
eram países plutocráticos — nações formadas por capitalistas — e a própria
Itália, o país inteiro, poderia ser considerado uma “nação proletária”, uma
nação de trabalhadores explorados.14
Em última análise, os nacionalistas revolucionários propuseram que a
própria Itália precisaria unir-se e revoltar-se contra a exploração capitalista
e globalista dos países europeus solidificados na riqueza, que engordaram
não só por ocasião do trabalho italiano, mas também com colônias e
conquistas estrangeiras, com as quais haviam ampliado seu “espaço vital”.
Esse era chamado de spazio vitale na Itália; os alemães o chamavam de
Lebensraum. Os nacionalistas defenderam o spazio vitale para a Itália
crendo ser esse o único meio através do qual a Itália se ergueria e sairia da
posição de nação proletária.
Na opinião dos adeptos do socialismo nacionalista mas, então,
derradeiramente fascistas, a Itália também precisava de seu próprio “espaço
vital”, necessidade esta que poderia demandar ou campanhas de
colonização no exterior ou uma guerra dentro da própria Europa, para
ampliar a influência e o poder da Itália e, com isso, permitir o seu povo de
juntar-se à comunidade das nações abastadas. Ao contrário de Mussolini, os
nacionalistas apoiaram a intervenção italiana na Líbia em 1911 e também a
participação italiana na Primeira Guerra Mundial. Mussolini acompanhou
com avidez esses nacionalistas e — primeiro com relutância, mas,
finalmente, com entusiasmo — veio a concordar com eles.

A Síntese Fascista
De um lado, na Itália, os nacionalistas faziam lobby pela lealdade
socialista tendo por base a etnia, de outro, na Alemanha, um grupo buscava
a unidade socialista com base na raça. Bom representante desse grupo foi o
marxista Ludwig Woltmann, que procurou integrar o materialismo
científico de Marx à ciência evolucionista de Darwin.15 Woltmann
basicamente argumenta que a luta darwinista por sobrevivência não ocorre
entre criaturas individuais, mas — dentro das comunidades humanas —
entre as raças. Esse Rassenkampf, ou conflito racial, como ele propôs,
naturalmente resultaria no triunfo das raças superiores e na eliminação das
raças inferiores.
Woltmann foi uma das inspirações para a origem do nacional-socialismo
de Hitler. Note que, desde o princípio, o nacional-socialismo alemão, por
tornar a raça primária — fazendo frente à fidelidade pela nação —, difere
do fascismo italiano. Interessante também perceber que o progressismo
americano moderno obcecou-se pela raça. Hoje, se alguém propor a
remoção de categorias raciais do censo, a oposição mais ferrenha
provavelmente virá dos progressistas, os quais fazem eco ao que Cornel
West coloca no título de um de seus livros, Race Matters [A Raça é
Fundamental]. Mussolini não teria concordado com isso, mas Woltmann
sim, como qualquer outro membro devoto do Partido Nazista.
Mussolini não acreditava em raça, nem era ele a princípio nacionalista;
na verdade, ele era um sindicalista revolucionário. O termo sindicalismo
refere-se às associações ou sindicatos a que os trabalhadores pertenciam.
Eram organizações de trabalhadores autônomos que, embora se
assemelhassem a tais, não eram sindicatos, porque estes eram organizados
regionalmente, e não por corporação ou função e cargo. Marxistas devotos
que eram, os sindicalistas revolucionários concordavam com Marx em que
a primazia pertencia às associações de classe e que elas deveriam ser o
princípio organizador da revolução socialista.
Muito em consonância com essa ênfase na classe, conceito tão
importante para Marx, os sindicalistas, fortemente influenciados por Sorel,
procuraram reunir os sindicatos trabalhistas através de uma greve geral que
derrubaria a classe dominante e estabeleceria o socialismo na Itália. Foi isso
que fez deles “revolucionários”. Eles pretendiam fomentar a revolução, não
a esperar acontecer. Eles foram considerados as pessoas mais inteligentes e
dedicadas do Partido Socialista Italiano e ocuparam sua ala esquerdista.
Os grandes nomes do sindicalismo revolucionário foram Giuseppe
Prezzolini, Angelo O. Olivetti, Arturo Labriola, Filippo Corridoni, Paolo
Orano, Michele Bianchi e Sergio Panunzio. A maioria deles era de
escritores ou dirigentes sindicais. Todos eram socialistas e, em pouco
tempo, todos se tornariam fascistas, apesar de Labriola ter se oposto ao
regime de Mussolini quando este chegou ao poder, e Corridoni, morto na
Primeira Guerra Mundial, não ter vivido para presenciá-lo.
Eles reconheciam Mussolini como seu líder. Ele os conhecia bem e
conspirava com eles em reuniões e comícios. Ele lia seus livros e artigos,
além de contribuir publicando em revistas criadas e organizadas por eles,
como a Avanguardia Socialista, fundada por Labriola, principal periódico
do pensamento sindicalista. Mussolini também analisou e publicou os
principais sindicalistas em suas próprias editorações de nicho socialista.
Concordes com todos os demais socialistas revolucionários, os
sindicalistas tinham pouca fé em procedimentos parlamentares
democráticos e, de acordo com Sorel e Lênin, buscavam por um líder
carismático, alguém que inspirasse os trabalhadores à ação, à atitude.
Mussolini, mais do que qualquer outra pessoa, encaixava-se nos requisitos,
este quem liderou os sindicalistas em uma união com os nacionalistas a fim
de formar o novo híbrido socialista, chamado de fascismo na Itália e (com
algumas modificações) de nacional-socialismo na Alemanha.
Os sindicalistas organizaram três greves gerais na Itália, a saber, em
1904, em 1911 e em 1913. Mussolini as apoiava. A greve de 1904 começou
em Milão e se espalhou por todo o país. Cinco milhões de trabalhadores
abandonaram seus empregos. A nação ficou paralisada: não havia
transporte público, ninguém conseguia comprar nada. Mesmo assim, a
greve terminou sem causar a queda do governo ou a instauração do
socialismo.
O próprio Mussolini organizou a segunda greve geral, em 1911, em
especial por tratá-la na forma de protesto contra a guerra que a Itália travou
com a Líbia. Outro fracasso e Mussolini foi preso por cinco meses. No ano
seguinte, Filippo Corridoni, compatriota de Mussolini, tentou outra greve
geral, que, novamente, foi mais um fracasso. Tantas tentativas seguidas de
fracasso fizeram com que Mussolini e seus companheiros sindicalistas,
desistindo do princípio de classes do socialismo e do conceito de greve
geral, olhassem para nacionalistas como Corradini, Rocco e Michels,
visando daí uma melhor abordagem.
Da colaboração dos sindicalistas e nacionalistas surgiu a nova síntese
fascista, que substituiu a categoria marxista tradicional de classes pela então
nova categoria, a de uma nação. A luta revolucionária, doravante, não seria
uma guerra de classes, mas uma batalha que diria respeito à nação. A guerra
revolucionária não seria uma luta entre as classes — ricos e pobres —, mas
uma luta de nações ricas contra nações pobres, em que as nações proletárias
derrubariam a hegemonia dos países plutocráticos. Com efeito, o mito da
greve geral foi substituído pelo mito da guerra revolucionária, uma guerra
que os fascistas conceberam como uma “guerra de redistribuição”.16
À primeira vista, pode parecer que o conceito de guerra colonial, ou
mesmo mundial, vá diretamente contra Marx. Mas como Angelo O. Olivetti
— sindicalista que passou ao fascismo, mas depois, por mais curioso que
pareça, ao judaísmo — salientou, o próprio Marx havia apoiado o
colonialismo como mecanismo necessário ao desenvolvimento de países
atrasados. Além disso, tanto Marx quanto Engels não hesitaram em
promover os interesses alemães — ambos apoiaram a guerra nacionalista de
Bismarck contra a França e suas reivindicações petulantes contra a Rússia
czarista. Após a morte de Marx, Engels apoiou a anexação de Schleswig,
que fazia parte da Dinamarca, pela Alemanha. Os fascistas enfatizaram tudo
isso como forma de salientar que seu nacionalismo era consistente com o
marxismo e que eles permaneceram, no fim de tudo, bons socialistas.
A síntese fascista não considerava a Itália uma sociedade dividida pelo
conceito de classe, mas sim um país unificado no qual todos os setores da
sociedade poderiam unir-se. Os fascistas substituíram a antiga divisão
marxista entre capitalistas improdutivos e trabalho produtivo pela categoria
única de nação produtiva. Mussolini a isso deu o nome de Fascio
Nazionale, uma união nacional. “Tornamo-nos”, disse Mussolini, “e
permaneceremos uma nação de produtores”.17 Já se podia vislumbrar,
ainda na Itália, a fusão que mais tarde daria ao fascismo de Hitler seu nome
distintivo. Quando combinadas as duas ideias de “nação” e “socialismo”, o
resultado é o nacional-socialismo.
Mussolini nunca usou o termo “nacional-socialismo” e, indignado, o
repudiou quando este foi associado a Hitler e à Alemanha nazista. Não
obstante, Mussolini havia criado o primeiro nacional-socialismo, e
despojado das conotações raciais alemãs. Sua era a visão de uma nação
organizada aos moldes socialistas, uma nação em que todos partilhariam
dos benefícios e em que todos contribuiriam com a sua devida parte. Essa
linguagem, é claro, carrega traços de Obama; vê-se uma congruência óbvia
entre a unificação fascista e a insistência progressista moderna de que a
América é uma comunidade única e que todos devem se unir para cada um
contribuir com sua própria “parcela justa”.
Por fim, a síntese fascista acrescentou o novo elemento do Estado como
braço executivo encarregado de definir e defender o bem geral da nação.
Esse é o ponto em que Giovanni Gentile, discutido no capítulo anterior,
emergiu como principal filósofo do fascismo. Gentile foi o grande apóstolo
do Estado centralizado. Para ele, o Estado era a nação e a nação era o
Estado. A identidade e o bem-estar estão todos subordinados à nação, mas
também sob a vara do todo-poderoso Estado centralizado. Entendo por que
Mussolini adorava tudo isso; ele compreendeu que era aquela a base
intelectual para, bem, ele próprio.
Marx, lembremos, havia predito o desaparecimento do Estado. Estranho
notar, da mesma forma Lênin. Mas, longe de desaparecer, o Estado
expandiu-se e ampliou-se num monstro totalitário sob ele. Não bastando,
sua teoria continuava a invocar o desaparecimento do Estado. Nesse
sentido, o fascismo é a primeira ideologia de esquerda do século XX a
afirmar explicitamente a necessidade de um poderoso Estado centralizado.
Em meados da mesma época, no entanto, e derrotados pelos fascistas por
um fio, na América uma ideologia estreitamente relacionada se desenvolvia,
pedindo também um poderoso Estado centralizado. Essa ideologia era,
naturalmente, o progressismo.
Os fascistas, assim como os progressistas, buscavam uma transformação
radical da sociedade, que é a própria antítese do liberalismo clássico ou do
conservadorismo americano moderno. A única revolução com a qual os
conservadores americanos se aliam é a revolução americana, a revolução
que estabeleceu o capitalismo burguês, coisa que os fascistas e os
progressistas procuram transformar e derrubar. As raízes do fascismo
expõem por completo a conexão existente entre o fascismo e a esquerda
política dos Estados Unidos, e também a antítese entre o fascismo e a
direita política dos Estados Unidos.
Fascistas e progressistas, ambos enxergavam no Estado centralizado o
desenvolvimento lógica de tudo o que eles representavam. O problema não
é falar sobre a nação dos produtores e os interesses da nação, mas quem
decide quais são seus verdadeiros interesses? Os socialistas afirmam ser a
favor da redistribuição equitativa da renda e da riqueza, mas quem
determina o que é equitativo e quem faz a verdadeira redistribuição? A
essas perguntas, os fascistas responderam: nós determinamos, por meio do
instrumento do poderoso Estado centralizado. E essa também é, na
América, a resposta que os progressistas de hoje dão.
Além disso, os fascistas adotaram uma política econômica estritamente
paralela e, em muitos demais aspectos, também idêntica ao progressismo
atual. A essa política Mussolini deu o nome de “corporativismo”, mas um
termo mais descritivo seria capitalismo estatal. Mussolini imaginava um
poderoso Estado centralizado dirigindo as instituições do setor privado,
fazendo com que, à força, a prosperidade privada deste fosse posta em
consonância com a prosperidade nacional. Não é exatamente assim que os
progressistas consideram o controle do governo federal sobre bancos,
companhias financeiras, companhias de seguro, plano de saúde, energia e
educação? Embora a esquerda americana de hoje não se atreva a invocar o
nome de Mussolini, aquele que no meio dela for honesto terá de admitir que
Mussolini e seus companheiros fascistas é que foram os precursores da
esquerda americana atual; foram aqueles que lhe abriram o caminho.
Capítulo Quatro
Um Segredo do
Partido Democrata
Nos pensamentos de Hitler para o futuro, a Alemanha lidaria com
os eslavos da mesma forma como os norte-americanos lidaram
com os índios. Ele disse, certa vez, que o rio Volga, na Rússia,
seria o Mississippi da Alemanha.1
Timothy Snyder, Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin
[Terras de Sangue: a Europa Entre Hitler e Stalin]

Em 1924, sentado na prisão de Landsberg, Adolf Hitler teve uma grande


ideia. Sabemos que ele a teve lá porque foi lá é que ele estruturou a maior
parte do pensamento estratégico que guiou suas ações posteriores. Hitler
salientou os frutos daquelas reflexões em sua autobiografia, Mein Kampf, e
também em discursos e gravações subsequentes, que hoje já estão
disponíveis. Por exemplo, Hitler’s Table Talk (Conversas à Mesa com
Hitler) é um extenso arquivo de declarações privadas de Hitler durante a
Segunda Guerra Mundial, gravadas por um ajudante, Heinrich Heim,
agindo sob as ordens do secretário de Hitler, Martin Bormann.
Antes de examinar sua ideia, revisemos o contexto por trás. Hitler,
veterano da Primeira Guerra Mundial, estava, junto de muitos alemães,
sofrendo sob a derrota de seu país e com os vexatórios termos impostos
pelo Tratado de Versalhes, incluindo o confisco das poucas colônias da
Alemanha, que também foi forçada a devolver a Alsácia e Lorena à França.
Hitler, inclusive, sabia que a Grã-Bretanha e a França eram grandes
potências com colônias por todo o mundo. Havia pouco território para a
Alemanha, um retardatário no colonialismo, um país atrasado no ato de
conquistar e ocupar.
Hitler também tinha um problema em seu próprio quintal, os judeus.
Todavia, a “solução final”, envolvendo o extermínio dos judeus, chegaria
muito mais tarde, quando Hitler começaria a articular a uniformização, o
alinhamento nazista por meio de eventos como a notória Conferência de
Wannsee, que ocorreu em 20 de janeiro de 1942. Nesse momento, Hitler
simplesmente procurava uma maneira de lidar com cerca de setecentos e
cinquenta mil judeus que, na época, viviam na Alemanha.
Uma ideia era isolar os judeus para os guetos e forçá-los a viver em
comunidades segregadas como subcidadãos. Outra era expulsar os judeus,
deslocá-los para a colônia francesa de Madagascar, no Oceano Índico, ao
longo da costa da África, ou apenas forçar-lhes a ida para algum outro país.
Por fim, cerca de quinhentos mil judeus viriam a deixar a Alemanha no
período entre a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, e o início da Segunda
Guerra Mundial, em 1939.2
Enquanto ponderava tais problemas, a América tomou a atenção de
Hitler, cujo conhecimento a respeito era escasso. Nunca fora à América, e a
desprezava. “Meus sentimentos contra o americanismo”, diria ele mais
tarde, em 1942, “são sentimentos de ódio e profunda repugnância”. Por
quê? Ele afirmou: “Tudo sobre o comportamento da sociedade americana
revela que ela é metade judaica e metade enegrecida”. Ademais, a América
é “um país onde tudo é construído sobre o dólar”. Para Hitler, a América
representava o pior caso do capitalismo desenfreado dos judeus.3
Hitler, apesar disso, tinha um interesse genuíno em certos aspectos da
história americana. Quando menino, foi cativado por uma série de romances
escritos por Karl May, romancista alemão, em que caubóis eram retratados
no oeste americano. Hitler não era o único fã de May; os romances eram
amados também por Albert Einstein, Albert Schweitzer e milhões de outros
alemães. May era o J. K. Rowling de sua época, escrevendo histórias
amplamente populares de dois amigos do Velho Oeste: um topógrafo
alemão, chamado Old Shatterhand, e seu companheiro, Apache Winnetou.
O tema geral dos romances era a trágica desaparição dos índios do
Continente, o heroísmo indígena dando lugar à inevitabilidade do
assentamento e do progresso dos brancos.4
Hitler também se interessava nas lições da Guerra Civil americana. Mais
uma vez, embora seu conhecimento se derivasse principalmente de fontes
impressionistas e novelísticas, a escassez dele não o impediu de tirar
conclusões muito firmes. O historiador Ira Katznelson relata: “Hitler
denegria os negros, admirava o racismo americano e lamentava a derrota do
Sul em 1865. [...] Como outros líderes nazistas, Hitler, em 1937, estava
fascinado por Vom Winde verweht, a versão alemã do filme E o Vento
Levou. Este épico melodramático da Guerra Civil e da Reconstrução dos
EUA foi líder de vendas. Sem surpresa nenhuma, agora o filme também
provava ser de grande sucesso. Nervoso, enquanto aguardava o início da
invasão da URSS, numa ação que daria início à Operação Barbarossa,
Joseph Goebbels passou algumas horas após a meia-noite, em 22 de junho
de 1941, assistindo a uma versão alemã de pré-lançamento com um grupo
de amigos convidados”.5
É óbvio que tudo isso ocorreu muito mais tarde. Voltemos à prisão de
Landsberg e à grande ideia de Hitler. Ele entendeu, Hitler escreve em Mein
Kampf, que a Alemanha não precisava imitar os britânicos e os franceses na
busca por colônias no exterior instauradas na Ásia, África e América do
Sul. Quem quer governar um bando de pessoas pardas e negras? Além
disso, dizia Hitler, o clima nesses lugares não é adequado para um
assentamento feito por alemães nórdicos. Deixe os britânicos e os franceses
ficarem com a Ásia e com a África. “Para a Alemanha”, dizia Hitler, “a
única possibilidade de levar a cabo uma política territorial saudável consiste
na aquisição de novas terras na própria Europa [...] terras dentro de nosso
próprio continente”.6
Hitler chamou seu plano de Lebensraum e encontrou um importante
precedente histórico para isso nos Estados Unidos da América. Hitler sabia
que, no século XIX, o homem branco havia dizimado basicamente a maior
parte dos habitantes de origem continental norte-americana, os nativos
americanos. Investida essa tomada através de políticas implacáveis de
ruptura de tratados, guerras promovidas contra os índios, eliminando a
resistência, deslocando-os e realocando-os forçosamente, capturando suas
terras para o assentamento branco. Ele basicamente decidiu adotar o mesmo
plano para que assim conseguisse fixar os alemães em grandes partes do
Continente Europeu.
Como o próprio Hitler disse em um discurso de 1928, os americanos
“dizimaram milhões de peles-vermelhas e os reduziram a poucas centenas
de milhares, mantendo agora o modesto restante deles sob observação
dentro de uma gaiola”. Longe de opor-se a este precedente, Hitler pretendia
imitá-lo. No dizer do historiador Norman Rich: “A política dos Estados
Unidos de expansão para o oeste, no decorrer da qual o homem branco
impiedosamente impugnou as populações indígenas “inferiores”, serviu de
modelo para toda a concepção do Lebensraum de Hitler”.7
Obviamente, Hitler sabia que a terra que ele tinha em mente — a
Polônia, grande parte do Leste Europeu e grande parte da Rússia Europeia
— estava ocupada, respectivamente, por poloneses, eslavos, alguns outros
povos da Europa Oriental e por russos. Para Hitler, esses eram os seus
“índios”. Ele decidiu que o destino deles seria o mesmo que os nativos
americanos tiveram: Hitler travaria guerras contra esses povos, assassinaria
a resistência, viria a deslocá-los e realocá-los, e conquistaria suas terras.
Para os remanescentes, Hitler tinha outro plano, também derivado da
história americana: escravizá-los e alistá-los no trabalho forçado em
benefício dos cidadãos brancos arianos da Grande Alemanha.
O conceito de Lebensraum, Hitler confessou, “dominará toda a minha
existência”. Não estou supondo que sua ideia fosse proveniente apenas da
América; havia escritores alemães conclamando um lebensraum desde a
virada do século anterior. Por exemplo, em 1900, Ludwig Woltmann,
antropólogo alemão, defendeu, por motivos raciais, um lebensraum. A
“raça alemã”, disse ele, “foi escolhida para dominar a Terra”. Woltmann
teve sua ideia não a partir de uma superlotação alemã — a Alemanha não
estava superlotada —, mas de um conceito de territorialidade derivado do
reino animal e aplicado à sociedade humana.8 Woltmann era um darwinista
social progressista, e o darwinismo social progressista, conforme veremos
mais adiante neste livro, foi um importante progenitor do fascismo e do
nazismo.
O programa específico de Hitler de Lebensraum, no entanto, parece ter
sido inspirado pelas políticas e práticas do Partido Democrata na América
do século XIX. A analogia não termina por aí. Aqui está uma passagem
bastante expressiva do livro escrito pelo historiador John Toland, Adolf
Hitler: The Definitive Biography [Adolf Hitler: Biografia Definitiva]: “O
conceito de campos de concentração engendrado por Hitler, bem como a
praticidade do genocídio, devia muito, afirmou ele, aos seus estudos sobre a
história da Inglaterra e dos Estados Unidos. Ele admirava os campos para
prisioneiros bôeres na África do Sul e para índios no Velho Oeste, sem
contar que, muitas vezes, enquanto em seu círculo interno, elogiava a
América por sua eficiência no extermínio dos vermelhos selvagens —
mediante a fome e o combate desigual —, aqueles que não podiam ser
domesticados pelo cativeiro”.9
O mesmo tema é enfatizado ainda com mais força no livro de Timothy
Snyder, Terras de Sangue: A Europa Entre Hitler e Stalin. Snyder revela
que, sob o esquema chamado Generalplan Ost, Hitler procurou “deportar,
matar, absorver ou escravizar” entre trinta e quarenta e cinco milhões de
poloneses, ucranianos e eslavos.
Os nazistas pretendiam criar, em suas terras, comunidades agrícolas
alemãs com quinze a vinte mil pessoas. Snyder escreve: “A colonização
faria da Alemanha um império continental capaz de rivalizar com os
Estados Unidos, seria outro Estado de fronteira resistente baseado no
colonialismo exterminador e no trabalho escravo [...] Na visão de Hitler,
‘No Oriente, um processo semelhante se repetirá pela segunda vez, como
quando na conquista da América’”.10

Uma Pré-História do Nazismo


Tiremos as implicações disso. Primeiro, a esquerda gosta de retratar
Hitler como se fosse de extrema direita. Mas observe, aqui, como ele se
aliou sem restrições com as políticas a favor da remoção dos índios e da
pró-escravidão oriundas do Partido Democrata. Hitler claramente estaria
muito mais confortável com o presidente democrata Andrew Jackson ou o
senador democrata John C. Calhoun do que com, vejamos, Abraham
Lincoln. Note, ademais, que, em parte, Hitler odiava tanto a América por ter
sido ela capitalista demais. Hitler identifica os Estados Unidos do
capitalismo e da corrupção capitalista com os judeus. Falarei mais a
respeito disso depois.
Uma segunda implicação está no fato de aqui, na América, tendermos a
ser muito provincianos acerca de nossa história. Não conseguimos imaginar
o quanto os acontecimentos na América, como a remoção e a escravidão de
índios, influenciaram os acontecimentos em todo o Atlântico; aliás, tanto
quanto não reconhecemos como os acontecimentos europeus exercem
impacto aqui. Este livro tem por objetivo corrigir tal provincianismo. Não
quero dizer que, sem a influência americana, Hitler não teria invadido a
Polônia nem a Rússia, ou que ele não teria orquestrado os campos de
concentração. É para dizer, no entanto, que o exemplo americano
desempenhou um papel em mostrar-lhe como isso poderia ser feito e em
dar-lhe a confiança, com base na História, de que algo assim já havia sido
realizado.
Este capítulo, sobre a escravidão e a remoção dos índios, e o próximo,
sobre o racismo, a segregação e o terrorismo racial, têm por objetivo
fornecer uma pré-história do nazismo e do Holocausto. Uso o termo “pré-
história” precisamente no mesmo sentido que o historiador Gotz Aly, que,
em recente publicação, fornece o que ele chama de a “pré-história do
Holocausto”.11 O antissemitismo racial na Alemanha, no final do século
XIX e no início do século XX, Aly mostra, precede e prepara o caminho
para o Holocausto. Embora, é claro, os antissemitas do final do século XIX
e início do século XX não tenham matado seis milhões de judeus, ainda
assim lideraram massacres contra eles e adotaram leis discriminatórias que
ofereceram uma previsão horrível das coisas que estavam por vir. Hitler
mais tarde viria a basear-se nessa cultura antissemita para recrutar alemães
visando a “Solução Final”.
Assim, também, minha pré-história pretende não apenas prefigurar os
horrores do fascismo alemão, mas mostrar a suscetibilidade histórica do
Partido Democrata na América aos apelos e às práticas fascistas. Muito
antes do surgimento do fascismo em si, eles inventaram algumas dessas
práticas aqui. Não é de admirar que, quando o fascismo de fato surgiu,
como demonstro mais adiante, os democratas tenham se sentido em casa.
Então, para colocar da maneira mais clara possível, pode-se dizer que o
DNA nazista estava no Partido Democrata desde o início. Os democratas —
não os nazistas — são os criadores da política de ódio.
Neste capítulo, tomo alguns dos “conceitos-chave” do nazismo —
Lebensraum, campos de concentração, genocídio — e mostro que, por meio
do apoio do Partido Democrata à remoção indígena e à plantação da
escravidão, estes já estavam sob aplicação nos Estados Unidos muito antes
de serem aplicados na Alemanha nazista. Percebo que, fazendo esse tipo de
comparação, me arrisco a atiçar até mesmo a indignação de alguns
conservadores, que dirão, de praxe: “Você está comparando os Estados
Unidos com a Alemanha Nazista?”. Na verdade, não. Estou apenas
comparando as práticas do Partido Democrata com as do Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães. A ideia de que a “América” é
responsável pelas atrocidades do Partido Democrata é parte da grande
mentira que estou tentando expor neste livro.
Em segundo lugar, arrisco-me a ofender a sensibilidade dos judeus e de
outros que acreditam na singularidade do Holocausto. De acordo com esse
ponto de vista, o Holocausto é único e nada pode ser comparado a ele.
Concordo em grande parte. Todavia, ainda que o Holocausto seja singular,
nem tudo que Hitler e os nazistas fizeram o foi. Mesmo o genocídio não é
singular. As Nações Unidas publicaram uma definição funcional de
“genocídio” reconhecidamente extraída do exemplo dos nazistas. Não
obstante, o alvo da definição é ajudar a identificar outros casos de genocídio
que possam ocorrer em todo o mundo.
Mas espere um minuto, você me diz. Como posso comparar, por
exemplo, a escravidão do Sul Democrata aos campos de concentração
alemães? O primeiro existiu para o trabalho forçado, já os últimos foram
construídos para o extermínio em massa. Na verdade, os campos de
concentração eram campos de trabalho forçado. Certo estudioso, Marc
Buggeln, intitulou um estudo recente de Slave Labor in the Nazi
Concentration Camps [Trabalho Forçado nos Campos de Concentração
Nazistas]. Outro trabalho recentemente publicado, organizado por
Alexander Von Plato dentre outros, foi chamado de Hitler’s Slaves [Os
Escravos de Hitler].12 A representação dos campos em ambos os estudos é
muito semelhante à representação da vasta rede de campos de trabalho
stalinistas, apresentada na obra Arquipélago Gulag, escrita por Alexander
Solzhenitsyn.
Os estudiosos da Alemanha nazista fazem distinção entre os campos de
concentração, que existiam para detenção e trabalho forçado, e os campos
de extermínio, concebidos com o propósito exclusivo de matar pessoas.
Dachau, Buchenwald, Mauthausen, Flossenberg, Bergen-Belsen e
Ravensbruck foram campos de concentração para trabalho forçado, todos
localizados na Alemanha. (Ravensbruck foi um campo para mulheres, com
prisioneiras e guardas mulheres). Treblinka, Sobibor, Belzec e Chelmno —
todos estabelecidos na Polônia ocupada pelos alemães — foram campos de
extermínio. Auschwitz e Majdanek tinham ambos os papéis: uma parte
campo de trabalho, outra parte campo de extermínio.
Alguns estudiosos argumentaram que mesmo os campos de trabalho
serviam de campo de extermínio, uma vez que as taxas de mortalidade eram
elevadas e os nazistas tinham uma política implícita de “extermínio lento”
ou “extermínio mediante o trabalho”. Certamente, matar pessoas, em
particular os mais velhos, os doentes e os “encrenqueiros”, era um tipo de
rotina para os guardas em campos de trabalho forçado. Às vezes os internos
dos campos de trabalho já destinados à execução eram transportados até um
campo de extermínio para ali serem mortos. Buggeln calculou a taxa de
mortalidade em campos de trabalho e a considerou consistentemente alta,
embora fosse significativamente menor no caso de prisioneiras judias, nos
campos para mulheres.
A maioria dos estudiosos, no entanto, concorda que a distinção entre
campos de extermínio e campos de trabalho é importante. O procedimento
habitual consistia em enviar os prisioneiros para um ou para outro: aquele
era uma sentença de morte, ao passo que este era uma possível sentença de
morte. É claro que, no caso dos campos nazistas, bem como nos campos
soviéticos, nem Hitler nem Stalin se importavam pessoalmente com quantos
trabalhadores morriam. Entretanto, os campos soviéticos, como no caso dos
campos nazistas, são corretamente chamados de campos de trabalho
forçado, em oposição aos campos de extermínio, porque eles existiam com
a finalidade de extrair trabalho dos presos, mesmo sob o risco de morte por
tanto trabalhar.
No caso de Hitler, o trabalho foi considerado necessário para alimentar a
máquina de guerra alemã. Trabalhadores forçados nos campos trabalhavam
principalmente para o setor de defesa, para a Luftwaffe e para o
conglomerado estatal Hermann Göring Reichwerke. Alguns trabalharam
para empresas privadas contratadas para o Estado alemão, como a Siemens,
gigante da energia, a empresa de armamentos Bussing e a Volkswagen,
fabricante de aeronaves e automóveis. De acordo com Rudolf Hoss,
comandante de Auschwitz, o lema de seu chefe, Heinrich Himmler, para os
campos passou a ser “Armamentos! Prisioneiros! Armamentos!”.13
A dependência nazista do trabalho forçado tornou-se ainda maior à
medida que a guerra se desenrolava e a oferta de trabalho nacional ficava
cada vez mais escassa. Digno de nota dizer que, a essa altura, os nazistas
pediram aos oficiais do campo de concentração que reduzissem as taxas de
mortalidade para que mais trabalho pudesse ser aproveitado dos
prisioneiros. Himmler, na verdade, autorizou que familiares enviassem
quantidades de alimentos para parentes em campos de concentração e
ordenou a pena de morte para os membros da SS que roubassem desses
alimentos.14 Buggeln observa que a taxa de mortalidade caiu em 1943 e
permaneceu baixa até o final da guerra quando, num irromper de fúria
niilista, o corpo nazista fez uma matança até mesmo dentro dos campos de
trabalho, para livrar-se dos cativos antes que os Aliados chegassem.
Entre 1943 e 1945, os nazistas forçaram os internos dos campos a
esvaziarem os escombros, a reconstruírem estradas e trilhas bombardeadas
por aviões americanos e britânicos, e a cavar valas antitanque para retardar
o avanço das tropas aliadas. Assim, os campos de trabalho zumbiam dada
sua atividade na última fase da Segunda Guerra Mundial. Em contraste com
os campos de trabalho, os campos de extermínio, também conhecidos como
campos da morte, desde o início não possuíam instalações de trabalho.
Eram centros modernos de execução industrial, cujo objetivo único era o de
matar pessoas em câmaras de gás ou por fuzilamento.
No geral, havia entre quinze mil e vinte mil campos de concentração de
maior jurisdição e subcampos abaixo destes na Alemanha e na Europa
ocupada pelos alemães. Havia um número muito menor de campos de
extermínio, mas nenhum deles na Alemanha, já que o regime queria
esconder sua existência do povo alemão. A maioria deles foi construída na
fase pós-guerra, desde 1942, enquanto os campos de concentração estavam
em operação desde 1933, quando os nazistas ascenderam ao poder.
Lembre-se daquelas imagens que retratam sobreviventes emaciados após
serem libertos de campos como Dachau e Auschwitz, em 1945. Cem mil
pessoas sobreviveram ao Auschwitz, que, houvesse sido apenas um campo
de extermínio, reteria para si número próximo de zero. Sem contar que a
maioria dos sobreviventes em Dachau e Auschwitz não eram judeus, mas
alemães sem nenhuma ligação com a etnia judia e europeus do Leste
Europeu. Isso porque se costumava matar os judeus nos campos de
extermínio.
A maioria desses judeus, aliás, não era de judeus alemães. Apenas um
quarto de um milhão de judeus permaneceu na Alemanha em 1939.
Portanto, não havia como Hitler matar cerca de seis milhões de judeus
alemães, pois não havia tantos judeus alemães para matar. Mas a população
de judeus expandiu-se amplamente sob o controle de Hitler e suas
conquistas sobre a Polônia, a Europa Oriental e a Rússia. Conclui-se que a
maioria dos judeus mortos nos campos de extermínio provinham dessas
regiões.
No dizer de Timothy Snyder em sua obra Terras de Sangue: A Europa
entre Hitler e Stalin, “A vasta maioria dos judeus mortos no Holocausto
nunca viu um campo de concentração […] As pessoas passavam a noite nos
campos […] A maioria dos que foram levados para os campos de
concentração alemães sobreviveu. O destino dos internos em campos de
concentração, por mais horrível que fosse, era distinto do daqueles milhões
que foram intoxicados com gás, fuzilados ou morreram de fome”.15
Não é irracional, portanto, comparar dois tipos de sistemas de trabalho
forçado, um na América e outro na Alemanha. Na verdade, a noção de
considerar as fazendas de escravos um tipo de campo de concentração é
bastante familiar para estudiosos americanos, pelo menos desde a
publicação do livro Slavery, em que Stanley Elkins, estudioso em
escravidão, dá ao assunto um tratamento especialmente provocador. Elkins
conhece muito bem a verdade do ditado acadêmico de que “no analogy
travels on all fours”, isto é, que nenhuma analogia veste a mesma roupa.
Isso significa que não há duas coisas exatamente idênticas; portanto, ao
fazer comparações frutíferas, deve-se notar mais as semelhanças do que as
diferenças. Em fazendo isso, o resultado pode ser uma melhor compreensão
dos fenômenos de ambos os lados da comparação.
Mais uma vez, não estou afirmando que o lebensraum de Andrew
Jackson era idêntico ao de Hitler, mas sim que um foi prenúncio e
inspiração do outro. Não estou dizendo que os campos de trabalho escravo
do Sul democrata eram idênticos aos campos de concentração alemães;
estou dizendo que os democratas são capazes de atrocidades parecidas com
as atrocidades nazistas, não tanto contra os judeus quanto contra os
poloneses, os eslavos e os russos. Eu sei que os nazistas mataram um
número muito maior de pessoas do que os democratas. Também é verdade,
porém, que as atrocidades nazistas duraram doze anos, ao passo que as
atrocidades democratas vêm ocorrendo desde que o partido foi fundado, em
1828.

O Falso e o Verdadeiro Genocídio


Os internos dos campos de concentração nazistas perceberam que,
naquele meio, havia um tipo estranho e particular de prisioneiro, o chamado
muselmann. Ninguém sabe como o termo se originou, pois literalmente
significa “muçulmano”. Mesmo assim, muselmann, nesse contexto, refere-
se ao preso emocionalmente destruído pela experiência do campo de
concentração, uma pessoa que o historiador Wolfgang Sofsky define como
estando “entre a vida e a morte”.16 Os muselmanneres caminhavam como
se estivessem atordoados; eles não reagiam a conversas, a ordens, nem
mesmo a agressões físicas. Eles tinham dificuldade de enxergar além do que
estivesse bem à frente. Esses presos literalmente perderam a vontade de
viver e simplesmente existiam como os personagens zumbis do seriado The
Walking Dead.
Para mim, o prisioneiro muselmann é uma metáfora trágica do que
aconteceu aqui, na América, com os índios. É evidente que não quero
comparar literalmente os índios nativos com zumbis humanos. Alguns deles
tiveram muito sucesso e se adaptaram bem à vida americana. O que quero
dizer, na verdade, é que, como comunidade, os índios parecem ser uma
versão americana do muselmanner. Eles perderam sua personalidade moral
de origem e ainda têm dificuldade de substituí-la por outra coisa.
Não me refiro apenas às condições patéticas da reserva indígena
americana — a pobreza, o crime, as elevadas taxas de alcoolismo e suicídio,
a redução de um povo convicto e pretensioso a indivíduos operando
cassinos e fabricando bugigangas. Pense nisso: enquanto a cultura negra
tem forte presença na América atual, a cultura indígena é ignorada,
esquecida, praticamente inexistente. Mesmo após o Holocausto, a cultura
judaica prospera em Israel, na América e em todo o mundo. Em contraste,
os índios americanos parecem ainda ter de suportar o choque que originou o
deslocamento e a potencial obliteração deles como povo.
David Stannard, historiador de esquerda, intitula sua história dos índios
de American Holocaust [O Holocausto Americano]. A partir do título, é
perceptível que Stannard não defende o conceito de Holocausto na posição
de algo singular. Na verdade, ele afirma: “A destruição dos índios das
Américas foi, de longe, o ato mais maciço de genocídio na história do
mundo”. Stannard considera um holocausto toda a história dos nativos
americanos, o que ele chama de “uma série ininterrupta de campanhas de
genocídio”, as quais tiveram início com a chegada de Colombo, em 1492.17
Observemos Stannard cuidadosamente, porque ele toca em um ponto
importante, mas temos de entender bem que ponto é esse. Ele afirma que,
sim, existiu um holocausto, mas nada, mesmo em se tratando dos índios,
comparável ao Shoah (O Holocausto) dos judeus. Ele afirma que os índios
foram vítimas de genocídio — e, afinal, veremos que ele está certo em
assim chamar. Por genocídio, no entanto, ele não se refere enfaticamente ao
verdadeiro genocídio, mas inventa um falso genocídio, para evitar de acusar
Andrew Jackson e o Partido Democrata do verdadeiro.
Stannard começa com uma estatística impressionante: dos dez a doze
milhões de índios nativos que uma vez povoaram o continente americano,
de 90% a 95% morreram por consequência da exposição ao homem branco.
Trata-se de um evento catastrófico, seja como for, mas ainda assim
Stannard admite que a maioria dessas mortes resultou de pragas e epidemias
transmitidas inconscientemente pelos europeus aos índios. Do que quer que
chamem esses acontecimentos, não é factível chamá-los de genocídio,
porque genocídio envolve a intenção de exterminar uma população.
Colombo não tinha essa intenção, nem os Pais Fundadores. No entanto,
Stannard concentra muito de seu ataque sobre eles, afinal lhe é
ideologicamente importante jogar a culpa do genocídio indígena no
“Ocidente” e na “América”. Stannard, portanto, recusa-se propositadamente
a distinguir as mortes indígenas causadas por epidemia das mortes
indígenas causadas pelo massacre deliberado ou reassentamento. Ambos,
ele insiste, contam em favor do genocídio.
Esse é o falso genocídio de Stannard. Acredito ser esse o tipo de recusa
medíocre, a recusa de fazer distinções, que provoca o tipo de resposta
conservadora que se encontra no ensaio de Guenter Lewy: Were American
Indians the Victims of Genocide? [“Os Índios Americanos Foram Vítimas
de Genocídio?”].18 O ensaio, publicado pela primeira vez no periódico
Commentary, agora disponível on-line, vai em defesa de Colombo e dos
Pais Fundadores. Lidando diretamente com Stannard, Lewy levanta vários
pontos válidos, observando, por exemplo, que os próprios índios eram tão
implacáveis quanto as tropas de Andrew Jackson nas guerras indígenas. Ele
afirma que os homens de Jackson simplesmente tiveram melhor
treinamento e melhor munição.
Lewy, porém, caiu aqui em uma armadilha progressista, cuja astúcia
também me pegou no início da minha carreira. Basicamente, para defender
“o Ocidente” e a “América”, Lewy se envolve no que se pode chamar de a
estratégia de minimização do genocídio. Na verdade, não há necessidade
dela, porque nem “o Ocidente” nem a “América” são culpados de
genocídio; pelo contrário, Andrew Jackson e o Partido Democrata são.
Infelizmente, Lewy, em sua posição de defender a América, acaba
minimizando o que Jackson e os democratas fizeram. Sim, embora admita
que os índios foram extensivamente dizimados, ninguém deve ser
culpabilizado. Além disso, não se tratou, na prática, de um genocídio.
Encontremos algum termo mais favorável.
Até aqui não foi genocídio? Comecemos com a Resolução 96 (I) das
Nações Unidas, que coloca o termo “genocídio” na lei internacional. Ela
prossegue, “Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos
seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte,
um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: a) assassinato de
membros do grupo; b) dano grave à integridade física ou mental de
membros do grupo; c) submissão intencional do grupo a condições de
existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; d) medidas
destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) transferência
forçada de menores de um grupo para outro”.19
Observe que a definição do termo não exige que um grupo seja reduzido
à extinção (mesmo os judeus não estão extintos). O genocídio, para sê-lo,
também não requer um número de mortes na magnitude do Holocausto. O
genocídio é a tentativa de destruir um grupo como um todo ou em parte.
Ademais, o genocídio não exige a satisfação de todas as medidas
específicas mencionadas; qualquer uma delas já é suficiente. Levando essa
definição em consideração, voltemo-nos às ações de Andrew Jackson e do
Partido Democrata no período de 1828 ao ano de 1860.

Já Eram Trevas Quando


Ele Acabou de Matá-los
Andrew Jackson tinha um problema com índios, cujo povo, em sua
concepção, formava uma “nação dentro de uma nação”. Eles eram
estrangeiros ocupando o solo americano — uma terra destinada à ocupação
branca e ao assentamento branco. Assim, sua presença constituía
malignidade e ameaça. Não importava que toda a América, América do
Norte e do Sul, fosse, originalmente, a terra deles. Os Estados Unidos
estavam crescendo. O crescimento exigia expansão. A expansão exigia que
os nativos fossem embora. Em suma, do ponto de vista de Jackson, era
preciso que eles fossem persuadidos a abandonar suas terras ancestrais, ou
evacuados à força ou mesmo mortos. Este era o lebensraum no estilo
Partido Democrata.
Mas foram os aliados democratas de Jackson, como o governador Lewis
Cass, que lhe estabeleceram as bases. “Nós falamos deles aquilo que eles
são”, disse Cass sobre os índios. Ele continuou: “Eles desconhecem um
sistema de governo. Não têm nenhum tipo de código penal, nenhum
tribunal, nenhum oficial, nenhuma punição. Indiferente às consequências, o
índio é filho do impulso. Sem barreiras morais, segundo suas próprias
paixões, ele assim procede. Percorrer as florestas à vontade, caçar, atacar
seus inimigos, passar o resto de suas vidas em indolência apática e estar
pronto para morrer — essas são as principais ocupações de um índio”.20
Aqui, portanto, aparece o primeiro critério para se considerar o
genocídio: alvejar um grupo racial e étnico específico. Cass condena os
índios em termos raciais bastante semelhantes àqueles que os nazistas
usavam contra judeus, ciganos e outras populações do Leste Europeu
consideradas inferiores. Aqui também há casos de transferência e
culpabilização da vítima — acontece que Cass tenta culpar os índios pela
própria remoção que estava prestes a sobrevir. Veja, essas pessoas são
indignas da civilização; são elas é que nos estão fazendo lançá-las fora de
suas terras.
O próprio Jackson não seguiu por esse caminho. Ele professou ser amigo
dos índios, insistindo estar, na verdade, forçando-os a sair de suas terras
para mantê-los “livres da influência mercenária do homem branco e da
perturbação que autoridades locais dos estados poderiam causar”. Eles
poderiam viver em outro lugar, em terras longínquas, onde o governo
federal de Jackson poderia “exercer um controle paternal acima dos
interesses”.21 Jackson costumava assinar as cartas que escrevia aos índios
como “Vosso Pai”, deixando implícito ter uma devoção paterna ao bem-
estar deles. Convém lembrar que ele adotou um índio órfão como seu filho.
Jackson declarava-se partidário dos índios assim como ele e seus
companheiros democratas donos de escravos diziam-se preocupados, em
primeiro lugar, com o bem-estar de seus próprios escravos. Mas as
profissões de paternalismo daqueles dias até o presente, devemos agora ser
capazes de enxergar, são um estratagema destinado a explorar o povo de
maneira cruel, insistindo que os democratas estiveram fazendo infinitos
favores. Tudo o que podemos dizer sobre tantas declarações
pretensiosamente transparentes é: com amigos como os democratas, quem
precisa de inimigos?
Para um amigo dos índios, Jackson parecia extraordinariamente
propenso a matá-los. Na realidade, seu apelido era “matador de índios”, o
que tomou por elogio. Em Horseshoe Bend, no território do Mississippi
(agora sul do Alabama), Jackson e suas tropas encurralaram um grupo de
várias centenas de refugiados do povo Creek, que procuravam abrigo do
conflito militar entre a milícia de Jackson e um grupo separatista dos
combatentes do povo Creek, chamado Red Sticks.
As forças de Jackson aniquilaram os refugiados. Como Jackson escreveu
em uma carta à sua esposa, Rachel: “Já estava escuro quando terminamos
de matá-los”. Jackson estimou que, além dos 557 cadáveres, encontrou 300
índios “submergidos em seus próprios túmulos de água”. Os homens de
Jackson arrancavam o nariz dos índios mortos enquanto contavam os
corpos. Depois, houve poucos arrependimentos; um dos soldados de
Jackson riu-se de ter matado um menino de “cinco ou seis anos de idade”
porque “ele se tornaria indígena um dia”.22 Veja aqui um critério distinto
para o genocídio: a matança desenfreada dos membros de um grupo racial
distinto no objetivo de destruí-lo como um todo ou em parte.
A Lei pela Remoção Indígena, estruturada por Jackson — sua principal
prioridade ao assumir a presidência, em 1829 —, mais tarde veio a servir de
base para a infame Trail of Tears [Trilha das Lágrimas]. Seu discurso em
dezembro de 1830 no Congresso sobre a implementação da Lei a
apresentou como benéfica para os índios, alegando que assim “os
capacitaria a buscar a felicidade da maneira como eles a viam e sob suas
próprias instituições rústicas” e os pouparia do destino das “tribos que
ocuparam os países que hoje constituem os Estados orientais, agora
aniquiladas ou dissolvidas para abrir espaço para os brancos”.23 No
entanto, ao longo de sua carreira, Jackson combinou engano, ameaças e
assassinatos para expulsar índios da Flórida, Alabama, Mississippi e
Tennessee. Várias tribos — a Chickasaw, a Choctaw, a Creek e a Seminole
— foram forçadas a evacuar. A Cherokee, no entanto, resistiu. Jackson
declarou: “Toda a nação Cherokee deve ser flagelada”.
Ele prendeu o líder cherokee eleito, John Ross, e incendiou o jornal da
tribo, The Cherokee Phoenix. Jackson encontrou um grupo rival do
Cherokee — não representante da tribo — e o subornou para aprovar um
tratado falso em que o povo Cherokee concordava em abandonar suas terras
e se mudar para o oeste do Mississippi. Porém, quando o prazo da
realocação chegou, a grande maioria da tribo não havia abandonado suas
casas. Apenas quatro mil cherokees partiram para o território indígena
designado mais a oeste, mil estavam escondidos e dezessete mil
permaneceram. Consequentemente, os democratas no Congresso e a Casa
Branca decidiram expulsá-los. Essencialmente, eles forçaram uma nação
inteira a se mudar sob a mira de armas.
A realocação forçada desses dezessete mil do povo Cherokee tornou-se,
nas palavras de Stanford, uma “marcha da morte” comparável à Marcha da
Morte de Bataan, de 1942 — uma das atrocidades japonesas da Segunda
Guerra Mundial. Os democratas enviaram tropas para atacar casas
cherokees, capturando os moradores e aprisionando-os em campos de
detenção. As cabanas foram incendiadas, o gado roubado ou executado, os
homens, mulheres e crianças brutalizados. Certo voluntário da Geórgia, que
mais tarde veio a servir no Exército Confederado, comentou: “Lutei na
Guerra Civil e vi homens mortos e despedaçados aos milhares, mas a
remoção Cherokee foi a operação mais cruel que já conheci”.
Os campos eram miseráveis pastos cercados, onde a fome e a doença
reinavam. Essa doença não pode ser comparada às pragas que antes
perseguiram as populações indígenas das Américas porque aquelas foram
acidentais — o homem branco não tinha ideia de que havia trazido consigo
doenças das quais os índios não eram imunes —, enquanto estas eram o
produto da política e da ação oficial do governo democrata. Por causa da
escassez de registros, os estudiosos não sabem quantos cherokees
morreram. As estimativas variam de dois mil a oito mil — estimativa de
Stannard. Se ele estiver certo, é o equivalente a quase metade dos dezessete
mil cherokees que permaneceram em suas terras e mais de um terço dos que
restauram na nação Cherokee.24
Enquanto isso, na Califórnia, o Poder Legislativo e o Executivo
controlados pelos democratas montaram uma guerra contra a população
indígena. Peter Burnett, governador democrata, não hesitou em chamá-la de
“guerra de extermínio”, que “deve continuar a ser travada entre as raças até
que os índios sejam extintos”. Aqui, novamente, temos uma clara expressão
da intenção genocida. O objetivo claro era matar os índios através de
expedições de milícias e do desencadeamento de multidões de vigilantes
democratas, e levar o restante dos índios para as montanhas a fim de que
suas terras pudessem ser subtraídas. Funcionou — a população indígena do
estado foi amplamente eliminada.
Mais recentemente, estudiosos encontraram evidências de que o Serviço
de Saúde Indígena (SSI) realizou uma estratégia de longa data de
esterilização de mulheres indígenas, e, em alguns casos, tirou delas os seus
filhos e os colocou para adoção em casas de brancos. Lembre-se de que este
é um dos critérios específicos para o genocídio sê-lo de fato, na definição
da ONU. Era de se esperar que coisas assim tivessem acontecido antes de a
ONU emitir seus princípios a respeito do genocídio, talvez antes da era
nazista, mas na verdade continuou durante a década de 1970. Em estudo
recente, Jane Lawrence estima que 25% de todas as mulheres nativas
americanas (índias) com idade entre quinze e quarenta e quatro anos foram
esterilizadas pela SSI na década de 1970. Elas foram enganadas e assinaram
termos de consentimento maquinados por administradores progressistas que
insistiam que o objetivo era reduzir a incidência da pobreza dos índios
americanos ao manter a população indígena sob controle.25
Esse, então, é o genocídio perpetrado por Andrew Jackson e seus
sucessores democratas progressistas. Os biógrafos esquerdistas de Jackson,
como Sean Wilentz, procuram minimizar as atrocidades do político. Seus
argumentos parecem insinuar que, comparativamente falando, o genocídio
de Jackson e de seus sucessores democratas foi um pequeno genocídio; mas
um pequeno genocídio continua sendo genocídio. Perceba que designações
assim não são meramente numéricas. Muitos ditadores, embora tenham
matado grande número do próprio povo, não são contados com aqueles que
cometeram genocídio, porque não visavam especificamente uma população
separada e distinta. Além disso, Stalin e Mao parecem ter matado mais do
seu próprio povo do que Hitler matou judeus, mas ainda assim a atrocidade
deste é geralmente aceita como maior por causa da intenção e do desejo de
acabar com toda uma população étnica.
Não faz muito, progressistas — rompendo com historiadores democratas
que celebram Andrew Jackson — exigiram que o rosto de Jackson fosse
removido da cédula de vinte dólares. Como vemos no decorrer deste livro,
os progressistas costumam ser os perpetradores, não os críticos, da matança
em massa.
O mais controverso — dado que Jackson esteve na cédula de vinte
dólares desde 1928, ainda com Calvin Coolidge na presidência — é que o
presidente Trump tem um retrato de Jackson no Salão Oval, bem como uma
reprodução em miniatura sobre sua mesa da estátua equestre de Jackson em
Lafayette Park. Trump visitou a fazenda que pertencia a Jackson e depois
falou com admiração do fundador do Partido Democrata. Ele não é o único
presidente republicano a fazê-lo. Theodore Roosevelt o fez e meu ex-chefe,
Ronald Reagan, também visitou a fazenda e pendurou o retrato de Jackson
no Salão Oval.
Aqui, devo admitir, coloco-me ao lado dos progressistas. E fico feliz,
que o horrível democrata, Jackson, será substituído por uma heroína
republicana, Harriet Tubman, na cédula de vinte dólares, em 2020. Trump,
como Reagan, é ex-democrata, e imagino que seu entusiasmo por Jackson
seja parcialmente impulsionado pela hagiografia anterior do Partido
Democrata de Jackson e, em parte, pela atual calúnia de Jackson nas mãos
de muitos progressistas de esquerda. Mas é verdade que mesmo os
progressistas ocasionalmente podem acertar — nesse caso, penso eu, eles
acertaram.

Os Campos de Escravos
e os Campos Nazistas
Agora passemos da remoção indígena para a escravidão. À primeira
vista, parece difícil comparar uma fazenda de escravos americana do século
XIX com os campos de concentração alemães do século XX. Estes eram
criações industriais modernas, aqueles pareciam ecos antiquados de uma era
passada. No entanto, em 1959, o historiador Stanley Elkins revolucionou a
história comparada de ambas as instituições. Assim como Marc Buggeln
usou o conceito de trabalho escravo para elucidar o sistema do campo de
concentração, Elkins usou o conceito de campo de concentração para
elucidar o estudo daquele sistema escravagista.
Elkins parte de uma compreensão assustadora. Ele entendeu que, até
hoje, os retratos estereotipados da escravidão sulista não só perduram na
literatura, mas também na experiência contemporânea. É possível enxergar,
em outras palavras, as subservientes “casas de negros” e os rebeldes
“negros do campo” sobre os quais os escravos e donos de escravos falavam.
Em outras palavras, os estereótipos não eram ficções racistas, que não
seriam tão persistentes, diz Elkins, a não ser que tivessem ao menos um
núcleo de verdade.
Elkins encontrou um estereótipo particularmente instigante: o do cafuzo
[Sambo] extravagante, desencanado, semi-idiota. Elkins observa: “Seu
comportamento era cheio de tolices infantis e sua conversa inflada de
exageros pueris”. O cafuzo, em outras palavras, é uma criatura infantil que
não amadureceu, jamais atingiu a hombridade. O cafuzo é personagem
persistente na literatura e no teatro do início do século XX. De onde veio o
cafuzo, indaga Elkis? Aqui ele não está se referindo ao cafuzo literário ou
artístico, mas ao real, à personalidade negra real que corresponde a esse
personagem estranho e ridículo.
Ao pensar nisso, Elkins teve uma súbita epifania. Ele lembrou que, nos
campos de concentração alemães, os internos descobriram, após o choque
inicial do deslocamento, que as regras do mundo exterior não se aplicavam
ali. Olhando ao redor, eles viram que os prisioneiros sobreviventes
desistiram completamente da dignidade e responsabilidade que, estivessem
do lado de fora, lhe caberiam. Eles se transformaram em seres infantis,
quase como crianças, em sua dependência e conformidade com as
autoridades. “O humor deles foi atingido por uma tolice e eles riam feito
crianças quando algum deles soltava um pum”.26 Em suma, aqui, num
cenário tão distante e pouco familiar, apareceu algo como o personagem
cafuzo, tão vividamente identificado como habitante da fazenda de escravos
democrata.
Ademais, Elkins observa, havia, nos campos nazistas, judeus e outros
presos que foram designados Kapos, isto é, prisioneiros postos na função de
supervisionar os esquadrões de trabalho chamados Kommandos, sem contar
que exerciam também o papel de escreventes ou eram aqueles que
registravam a rotina diária sob a supervisão da equipe da SS alemã. Os
sobreviventes dos campos disseram em entrevistas que os Kapos
basicamente assumiram o papel dos nazistas. Eles eram tão severos quanto,
ou até mesmo mais rígidos; alguns deles chegaram a se vestir e a falar como
tais. Em suma, eles assumiram o papel daqueles que os oprimiam. Logo, eis
aqui um segundo tipo, não o cafuzo, mas não menos desfigurado e estranho.
Como isso pôde acontecer? Elkins percebeu que as fazendas de escravos
democratas na América e os campos de concentração nazistas tinham algo
em comum. Ambos eram sistemas fechados em que os internos viviam num
mundo separado, em grande parte selado do mundo exterior.
Consequentemente, teoriza Elkins, o ritmo ordinário dos escravos nas
fazendas e dos internos dos campos de concentração foi corrompido e
transtornado a tal ponto que acabou criando novas personalidades —
personalidades anormais e distorcidas, sem paralelo no mundo normal.
No caso do cafuzo como personagem peculiar, Elkins nota que ele
simplesmente não existia na América do Sul, cujo sistema sustentava a
escravidão, mas sem o cafuzo. E por quê? Porque, respondeu Elkins, a
escravidão sul-americana não era um sistema fechado. Mesmo os escravos
da fazenda viviam em um mundo mais amplo, sob a proteção de seus
senhores da Coroa espanhola e da Igreja Católica. Nas fazendas democratas
do Sul dos EUA, em contraste, o escravo adulto era despojado de suas
responsabilidades masculinas usuais — homens maduros eram tipicamente
chamados de “garotos” —, resultando nessa criatura infantilizada chamada
cafuzo, a qual Elkins chama de a “perpétua criança”.27
Toda a comunidade de estudiosos do escravagismo logo percebeu que o
livro de Elkins havia levado o debate a um novo patamar. Quase duas
décadas após ser publicado, a editora da Universidade de Illinois lançou a
obra The Debate Over Slavery: Stanley Elkins and His Critics [O Debate
Sobre a Escravidão: Stanley Elkins e Seus Críticos], em que os principais
estudiosos da área responderam à tese de Elkins, que depois devolveu com
uma réplica. O falecido Eugene Genovese, talvez o mais conhecido
estudioso em escravidão da América, considera o livro de Elkins “um dos
ensaios históricos mais influentes da nossa geração”.28
Voltarei à tese, mas primeiro quero abordar um assunto que Elkins
evitou. Ele insistiu que não tinha a intenção de fazer uma análise comparada
das duas instituições em sua realidade, entre a fazenda de escravos e os
campos de concentração nazista. O autor não entra em questões como
itinerário, dieta, administração, de que modo eram tratados os escravos
cativos e os internos, ou as ideologias subjacentes que sustentavam ambos
os sistemas. Elkins deixa implícito que eram regimes tão diferentes que, na
maioria dos aspectos, seriam incomparáveis.
Discordo. E suspeito que Elkins não tenha se aventurado por
desconhecer parcialmente os campos de concentração nazistas. (Ele
certamente não desconhecia as fazendas de escravos). Elkins parece derivar
boa parte do que sabe a respeito dos campos de concentração a partir do
trabalho do sociólogo Bruno Bettelheim, ele mesmo um sobrevivente de
Buchenwald e Dachau e autor de um estudo inovador, Individual and Mass
Behavior in Extreme Situations [O Comportamento Individual e das Massas
em Situações Extremas]. No entanto, Bettelheim não tentou produzir uma
pesquisa abrangente sobre os campos, mas simplesmente destacou a
transformação do comportamento humano em condições de sobrevivência
extrema. Meu propósito de chegar aonde Elkins temeu pisar não é miná-lo,
mas avançar ainda mais a sua tese, para mostrar que ele realmente
subestimou os paralelos.
Acomodações e alimentos: a estrutura física dos campos de concentração
nazistas, e não a das fazendas, aproximava-se mais do sistema carcerário. O
típico campo de concentração tinha um quartel, uma oficina, um escritório
administrativo, uma enfermaria, uma prisão e um crematório. (O
comandante e a equipe da SS residiam fora das instalações). Já as fazendas
de escravos eram construídas de forma um tanto diferente. Elas geralmente
consistiam na mansão do senhor de escravos — a chamada Casa-Grande
—, senzalas em ruínas, possivelmente uma oficina e campos para plantação
de arroz ou algodão.
Os campos nazistas eram segregados por sexo, enquanto as senzalas se
formavam com habitações familiares contendo homens, mulheres e
crianças. Não obstante, o conteúdo físicos tangível de cada compartimento
ou habitação era bastante semelhante em ambos os casos: nada mais do que
um leito e um cobertor, um banheiro ou um penico e, quem sabe, uma
cadeira. Para o campo de Ravensbruck, a historiadora Sarah Helm relata
que as únicas provisões eram um prato, um copo, alguns utensílios, uma
escova de dentes, um pedaço de sabão e uma pequena toalha.29
Em termos de alimentação, os escravos estavam bem melhores, já que
recebiam porções regulares de carne e vegetais, enquanto os presos nos
campos nazistas recebiam pouco mais que uma sopa de aveia rala, pão e
água. Elie Wiesel, aprisionado em Auschwitz e depois em Buchenwald,
conta que sua ingestão diária consistia em uma “tigela de sopa” e uma
“crosta de pão velho”. Em Ravensbruck, as mulheres pareciam estar numa
situação um pouco melhor; aos domingos, elas recebiam um “bocado de
geleia, um tablete de margarina e uma salsicha”, e também eram
autorizadas a pegar dinheiro de casa e comprar bolachas e biscoitos na loja
da instalação local.30 A desnutrição, problema episódico no regime escravo
democrata, foi crônica nos campos de concentração nazistas.
Seja a fazenda de escravos dos democratas, seja o campo de
concentração nazista, ambos os regimes eram selados do mundo exterior,
demarcados, em alguns casos, por uma cerca alta ou arames farpados,
vigiados por guardas, nos campos, ou capatazes, nas fazendas, às vezes
auxiliados por cães treinados. Em ambos os casos, os cativos ficariam lá por
toda a vida; aqueles que entravam nunca mais sairiam, fato para ambos os
sistemas. Assim, Elkins não poderia estar mais certo de que esses eram
sistemas fechados, mundos para si mesmos, completamente separados do
mundo exterior.
Rotina de trabalho: aqui o termo “trabalho escravo” aplica-se igualmente
ao sistema das fazendas democratas e dos campos de concentração. O
trabalho começava com o nascer do sol e acabava ao anoitecer: era
contínuo, persistente e incessante. Enquanto a maioria dos escravos
trabalhavam em plantações de algodão, a maior parte dos cativos nos
campos de concentração trabalhava em locais de construção e pedreiras.
Durante a maior parte do tempo que passou em Auschwitz, Elie Wiesel
trabalhou na construção “onde, por doze horas diárias, arrastava pedras
pesadas”.31 Em ambos os sistemas o trabalho era principalmente braçal,
não qualificado ou pouquíssimo qualificado, embora também houvesse
tarefas que exigiam habilidade especializada como soldagem, carpintaria,
alvenaria e eletricidade, serviços atribuídos a um pequeno subconjunto de
prisioneiros um pouco mais qualificados.
Escravos e prisioneiros eram obrigados a trabalhar. O tempo trabalhado
dos escravos costumava ser de seis dias por semana, exceto na época de
plantação, e recebiam folga em virtude do feriado de Natal, que
normalmente era comemorado com música e um banquete. Os prisioneiros
nazistas trabalhavam todos os dias, sem feriados, sem festa. Se desse uma
pausa no trabalho, o escravo provavelmente seria açoitado; agora, se um
prisioneiro nazista parasse, ele provavelmente seria espancado ou baleado.
Obviamente, em nenhum dos casos os trabalhadores eram pagos, embora os
proprietários de escravos e os capatazes por vezes oferecessem incentivos
para trabalhar, incluindo ao permitir que escravos ficassem com parte da
produção. O único pagamento que os prisioneiros dos campos nazistas
recebiam era a chance de viver e trabalhar por mais um dia.
Os limites do poder absoluto: os democratas senhores de escravos não
possuíam, por lei, poder absoluto sobre seus escravos. Em todos os estados
sulistas, o assassinato de um escravo era proibido. Na maioria dos estados,
formas extremas de mutilação e ferimento também eram proibidas. Mas os
donos de escravos tinham o poder de facto, porque teriam o direito de
reivindicar invariavelmente que o escravo resistira à autoridade ou
inventariam alguma outra desculpa, medidas nas quais os tribunais
acabavam acreditando.
Com açoites e outras punições, os senhores de escravos democratas
possuíam uma autoridade praticamente desenfreada. Em 1829, no caso
Estado vs Mann, o juiz Thomas Ruffin decidiu o caso em que determinado
dono foi acusado de ferir gravemente seu escravo. Ruffin, embora
democrata, era relativamente humanitário, e disse que sua consciência se
revoltava ao permitir que o abuso ficasse impune. Apesar disso, declarou,
ele precisava unir-se ao senhor de escravos porque o “objetivo da
escravidão é o lucro do senhor” e a tarefa do escravo é “labutar duro para
que outro possa colher os frutos”.32 Tal sistema só poderia sobreviver se a
vontade do senhor fosse, praticamente falando, absoluta.
Ironicamente, o que mais protegia os escravos, se seus senhores
democratas tendessem à crueldade ou ao assassinato, era a própria posição
de posse, bem ou propriedade. Wolfgang Sofsky defende esse ponto em seu
livro The Order of Terror [A Ordem do Terror], um estudo sobre a vida nos
campos de concentração. Sofsky observa que, ao contrário dos escravos, as
vítimas dos campos de concentração “não eram propriedade pessoal desse
ou daquele senhor, mas detentos de uma instituição. Eles não pertenciam a
ninguém”. Assim, “os prisioneiros não tinham valor nem preço”.
Em contraste, “o escravo tinha valor e preço de mercado. O dono não
adquire para si escravos a fim de matá-los, mas tem por objetivo colocá-los
para trabalhar em benefício próprio”.33 Os escravos custavam entre 1 200 e
1 500 dólares no período entre 1830 e 1860. Isso significa que os senhores
democratas tinham grande investimento em seus escravos. Os donos não
desejavam danificá-los, cujo valor, afinal, decairia; em outras palavras, não
desejavam fazê-lo pelo mesmo motivo que você não gostaria de danificar
seu próprio carro.
Por mais marginal que fosse a proteção do escravo de seu senhor
democrata, os internos do campo nazista não tinham proteção de seus
algozes, que tinham total discrição para brutalizá-los e matá-los. Por razão
disso, não há sequer comparação quanto ao nível de perigo que sentiam os
presos do campo de concentração em relação aos escravos. Estes temiam
seus senhores e capatazes, mas não estavam em constante risco de morte;
aqueles, sim, estavam. O perigo era maior, é claro, para os judeus, mas
todos os presos sentiam com força esse medo.
Assim como com a escravidão, a escassa proteção que os presos dos
campos nazistas conseguiram foi por ocasião da utilidade que tinham para o
regime nazista. Quando as condições do campo melhoraram, Buggeln
conta: “tinha pouco que ver com o considerar a humanidade” e era, na
verdade, “um reflexo daquilo que se exigia da mão de obra” no regime.
É conveniente lembrar que, Buggeln comenta, no fim da guerra, os
nazistas pediram aos oficiais da SS que alimentassem melhor os
trabalhadores dos campos de concentração, que lhes dessem roupas de
inverno apropriadas e permitissem oito horas de sono, sem interrupção.
Foram regras que chegaram a se aplicar mesmo aos judeus, dando a
entender que, prevendo o fim, os nazistas estavam tão desesperados por
trabalhadores que se “dispuseram a rescindir temporariamente de uma das
principais exigências ideológicas do nazismo — livrar o Terceiro Reich dos
judeus”.34
Rebeliões e fugas: certa feita, Andrew Jackson ofereceu a recompensa de
cinquenta dólares a quem capturasse um fugitivo de sua fazenda “e dez
dólares a mais por cada cem chicotadas, até totalizar trezentas, a quem as
aplicasse ao fugitivo”.35 Fugas eram comuns na rotina dessas fazendas. Os
donos procuravam leis — A Lei do Escravo Fugitivo — que obrigassem os
estados livres a devolver fugitivos. O senhorio passou a empregar
patrulheiros a fim de impedir que os escravos tentassem escapar e
contratavam caçadores para recuperar fugitivos. Os jornais democratas
anunciavam “cachorros negreiros” para farejar fugitivos escondidos nas
florestas ou nos pântanos. Rebeliões por parte dos escravos eram um tanto
incomuns, e é por isso que sabemos sobre as poucas existentes, tais como as
rebeliões levantadas por Nat Turner e Denmark Vesey. No entanto, mesmo
estas falharam e os autores foram capturados e executados.
“Pouquíssimos prisioneiros escaparam dos campos”, relata Sofsky em
seu estudo The Order of Terror.36 Sofsky conta algumas centenas de
fugitivos, em si um pequeno milagre, já que os campos eram grandes
fortalezas. Sofsky salienta que as filiais menores ofereciam melhores
chances de fuga, embora até mesmo ali fosse necessário grande
planejamento. Ademais, civis da população local poderiam entregar o
fugitivo de volta aos campos.
Quanto às rebeliões, Sofsky contabiliza apenas três: uma em Treblinka,
outra em Sobibor, em 1943, e outra em 1944, em Auschwitz. A revolta de
Treblinka envolveu um ataque às cercas perimetrais, por onde em média
duzentos prisioneiros fugiram, perseguidos por guardas da SS em
caminhões e a cavalo. Sofsky estima “ser improvável que mais de cinquenta
ou sessenta dos que escaparam tenham sobrevivido para presenciar o fim da
guerra”. A rebelião de Sobibor foi um fracasso e resultou em cerca de cem
presos executados. Da mesma forma na rebelião de Auschwitz, todos os
fugitivos, conseguindo matar três oficiais da SS e ferir outros doze, foram
caçados e mortos.37
A mensagem essencial é a seguinte: com regimes fechados
profundamente opressivos como os campos nazistas e as fazendas dos
democratas, os oprimidos, por mais motivados que estivessem em se rebelar
e derrubar o sistema, simplesmente não conseguiam fazê-lo. Ainda que
desejosos, mas sem poder. Em última análise, tanto as fazendas de escravos
quanto o regime dos campos de concentração nazistas tiveram de ser
derrubados pelo lado de fora, pela invasão militar externa. Os Aliados e o
Exército dos Estados Unidos, cada qual tendo seu papel, foram os
libertadores dos prisioneiros e dos escravos.
Ideologias de inferioridade: o termo “escravo” [slave] deriva-se, na
verdade, do termo “eslavo” [slav]. Por certo os escravos do regime nazista
eram em grande parte eslavos e, em termos raciais, brancos. Mesmo assim
os nazistas consideravam os eslavos — bem como consideravam os judeus
e os russos — como Untermenschen, ou sub-humanos. Dentro dos campos
nazistas, havia uma hierarquia de inferioridade que determinava o
tratamento dos presos: os prisioneiros alemães eram considerados os mais
elevados e tratados melhor, enquanto os judeus — especialmente os judeus
não alemães — eram considerados os mais inferiores e tratados da pior
forma.
Os nazistas não apenas desenharam uma simples demarcação entre
captores e cativos; havia também subcategorias que estabeleciam uma
hierarquia ou gradação entre as populações cativas. Entre os democratas
donos de escravos, em contraste, havia uma única linha racial. Nem todos
os proprietários de escravos eram brancos — havia, inclusive, um número
substancial, embora proporcionalmente pequeno, de proprietários negros.
Mas todos os escravos eram negros. Conquanto ambos, nazistas e
democratas, tenham aplicado um código racial em seus sistemas de
escravidão, o código nazista era mais variado e multifacetado do que o dos
democratas.
É curioso perceber que os nazistas não precisaram defender sua
ideologia, pois não enfrentaram nenhum tipo de questionamento interno. Os
democratas, no entanto, enfrentaram oposição, primeiro do Partido Whig e
depois do Partido Republicano, sem contar a forte oposição do pequeno
grupo de republicanos conhecidos como abolicionistas. Isso posto, os
democratas desenvolveram uma ideologia abrangente pró-escravidão, na
qual tinham a cara de pau de afirmar que a escravatura era boa não só para
o dono, mas também para seu escravo.
George Fitzhugh, escritor democrata, argumentou que o escravos eram
como animais, nascidos para serem dominados por seus donos e que “a
equitação lhes faz bem”. Outros democratas, como o senador John C.
Calhoun, insistiram que a escravidão foi uma “escola civilizatória”, embora,
aparentemente, não fosse uma escola na qual alguém pretendesse se
graduar.38 Convém, nesse ponto, desfavorecer os democratas em
comparação aos nazistas. Mesmo estes não tiveram a audácia e a
desonestidade intelectual de sugerir que os Untermenschen e os judeus
eram, de alguma forma, beneficiados com o regime nazista.

Legado Duradouro
Volto-me a Elkins agora, para resumo e uma única observação final.
Resumindo, mesmo como um sistema fechado, a escravidão, tendo sido de
longa duração, produziu ao longo desse tempo uma cultura afro-americana
distinta. Eugene Genovese, em sua obra Roll, Jordan, Roll, bem como na
crítica mais compreensiva que faz a Elkins, destaca esse ponto. Os
escravos, por exemplo, desenvolveram um repertório de canções, histórias e
relacionamentos — às vezes relacionamentos vitalícios — que, em última
análise, ajudaram a formar uma identidade negra nos Estados Unidos.
Aqui não existe nenhum paralelo com os campos de concentração, em
parte por causa da natureza do ambiente e em parte porque duraram apenas
doze anos, de 1933 a 1945. Em geral, os prisioneiros dos campos não
estabeleceram relacionamentos íntimos, em parte porque era algo
desencorajado pelos guardas e em parte porque os prisioneiros perceberam
que a pessoa com quem foi feita a amizade na semana anterior poderia ser
sumariamente executada na semana seguinte. Assim, as únicas mudanças
comportamentais que os campos nazistas produziram estavam na natureza
do adaptar-se depressa à vida nos campos.
Segue-se disso, portanto, o fato de o legado cultural da escravidão ter
ultrapassado a escravidão, enquanto o legado cultural dos campos de
concentração — incluindo as peculiares desfigurações de personalidade que
Elkins detectou — provou ser um fenômeno temporário.
O fenômeno do muselmanner parecido com zumbis, substituto nazista
dos Kapos — tudo desapareceu. Não faz sentido dizer que os judeus ou os
europeus do Oriente atualmente apresentam quaisquer das características
que se desenvolveram dentro desse sistema temporariamente fechado.
No caso do negro americano, no entanto, a situação é bastante diferente.
Embora terminada em 1865, a escravidão perdurou por mais de duzentos
anos, e teve o seu maior alcance durante a era da supremacia democrata no
Sul, desde a década de 1820 até a década de 1860. Muitas das
características da antiga fazenda de escravos — a moradia em ruínas, a
família quebrada, o alto índice de violência usada para manter a ordem,
poucas oportunidades e escassas perspectivas de avanço, o senso
generalizado de niilismo e desespero — são evidentes em cidades urbanas
governadas por democratas como Oakland, Detroit, Baltimore e Chicago.
“Havia uma subclasse distinta de escravos”, escreve o cientista político
Orlando Patterson, “que vivia de forma fútil ou perigosa. Era o negro
incorrigível, de quem a classe de donos de escravos sempre reclamava. Eles
fugiam. Eram ociosos. Mentiam compulsivamente. Eles pareciam imunes
ao castigo”. Em seguida, Patterson chega ao clímax: “Pode-se traçar a
subclasse, como fenômeno social persistente, neste grupo”.39 A esquerda
não gosta de Patterson por ser ele um estudioso negro oriundo do oeste da
Índia e propenso a proferir verdades politicamente incorretas.
Pessoas mentirosas não gostam disso. Mas quantas mentiras você pode
contar? Quem pode negar que os negros ainda vivem sob os efeitos daquilo
que os democratas lhes fizeram? Hoje os negros sofrem uma taxa de
ilegitimidade na família de aproximadamente 80%. Não estou dizendo que
tudo se deve à escravidão, mas quem pode dizer que, em parte, não se deve
ao legado da escravatura? A taxa de criminalidade entre os negros é muito
maior, com altos índices de homicídio de negros contra negros. Quem pode
dizer que não é a consequência, ao menos parcial, da desvalorização que a
vida negra sofreu nas mãos do senhorio democrata? W. E. B. Du Bois,
estudioso democrata, certamente o fez.
São perguntas, e não respostas, embora pense que Du Bois tenha
acertado nesses pontos. Se assim for, significa que o progresso que fizemos
na erradicação dos campos de concentração e da escravidão não está nada
completo. Certamente, ambas as instituições foram derrotadas pela guerra e
permanentemente encerradas. Contudo, o legado de um deles continua.
Enquanto o legado nazista alemão mantém-se sobretudo na memória, o
legado dos democratas senhores de escravos na América ainda retém
cicatrizes feias na vidas de muitos afro-americanos.
Capítulo Cinco
Os Racistas
Originais
Foi com a instituição das Leis de Nuremberg, em 1935, que a
Alemanha tornou-se um regime racista de pleno direito. As leis
americanas foram os principais precedentes estrangeiros para tal
legislação.1
George Fredrickson, Racism: A Short History
[Racismo: uma Breve História]

Em 5 de junho de 1934, pouco depois da ascensão de Hitler ao poder, as


principais figuras por trás das Leis de Nuremberg reuniram-se para
determinar o que elas deveriam de fato declarar. Entre os presentes estavam
Bernhard Losener, principal formulador do texto escrito da legislação de
Nuremberg, Franz Gurtner, ministro da Justiça do Reich, Roland Freisler,
secretário estadual do Ministério da Justiça e mais tarde presidente do
“Tribunal Popular” nazista, e Karl Klee, juiz presidente do Tribunal
Criminal. Uma das fontes mais eruditas dos nazistas era o jovem advogado
Heinrich Krieger, que havia estudado na Universidade de Arkansas e cuja
pesquisa sobre a legislação racial dos EUA formou a base da obra do
Ministério da Justiça nazista.
O ambiente era de seriedade, até mesmo de gravidade, e um estenógrafo
estava presente para realizar a transcrição. O encontro foi significativo, uma
vez que os nazistas sabiam desde então que estavam construindo pela
primeira vez no mundo um Estado racista. E determinados estavam a fazê-
lo com precisão alemã, ou seja, determinados a fazê-lo corretamente. Nas
palavras de Michael Burleigh em seu livro The Racial State [O Estado
Racial]: “O Terceiro Reich tornou-se o primeiro Estado da História mundial
cujo dogma e prática eram o racismo”.2
Não faz muito que o jurista James Whitman estudou essa transcrição e
ficou surpreso com o que encontrou. Conforme Whitman escreve em seu
livro, Hitler’s American Model [O Modelo Americano de Hitler], “A
reunião envolveu longas discussões sobre a legislação dos Estados Unidos
da América”. A reunião abriu com Gurtner apresentando um memorando
sobre a legislação racial dos EUA e, à medida que avançava, Whitman
observa: “Os participantes voltavam para o exemplo dos EUA
repetidamente”.
Basicamente, os nazistas estavam interessados em três coisas da
América: leis acerca do casamento inter-racial, leis que restringiam a
imigração com base na raça e as Leis de Jim Crow. Os nazistas
compreenderam que as leis dos EUA de segregação e miscigenação
aplicadas aos negros e às leis de imigração aplicavam-se a outros grupos
étnicos minoritários nos Estados Unidos. Mas as leis não — Krieger
observou de forma otimista com um “até agora” — se aplicavam aos
judeus. No entanto, os nazistas estavam convencidos de que poderiam
aplicar essas mesmas leis, ainda que com modificações adequadas ao
contexto. Especificamente falando, eles estavam formulando leis para lidar
com judeus enquanto também pensavam nos ciganos e outras populações
“indesejadas”.
Os nazistas presentes na reunião dividiam-se em duas alas, às quais
Whitman dá o nome de “moderados” e “radicais”. Os moderados insistiam
que era impraticável e absurdo ter leis que proibissem o casamento inter-
racial entre, digamos, alemães nórdicos, ou “arianos”, e judeus. Tais leis,
segundo eles, praticamente nunca existiram por todo o mundo. Além disso,
as novas leis deviam basear-se em alguns precedentes alemães e o único
encontrado era o de leis contra a bigamia e a poligamia. Em vez de testar e
aplicar essas leis, que tratavam da questão à parte de múltiplas esposas, este
grupo propôs simplesmente usar “uma campanha de conscientização
pública e esclarecimento” para desencorajar os alemães nórdicos de
casarem-se ou de coabitarem com os judeus.
A isso os radicais responderam não haver necessidade de alarde, porque
decerto havia precedentes para as leis que proibiam o casamento inter-
racial. Esse precedente veio dos Estados Unidos; cerca de trinta estados
americanos proibiam o casamento inter-racial. Freisler admitiu que a
América era única ao passar esse tipo de lei que proibia a “mestiçagem”,
não obstante insistiu que o exemplo da jurisprudência americana no tocante
à questão racial “lhes serviria perfeitamente”.
Além do mais, havia nos EUA a Lei da Imigração de 1924, que
estabelecia cotas para a imigração com base na raça, concedendo tratamento
preferencial aos brancos e discriminando os pardos e os negros que
desejavam mudar-se para a América em busca de cidadania. Havia também
toda uma rede de leis de segregação que separava os brancos dos negros —
escolas separadas, acomodações de hotel separadas, bebedouros separados e
assim por diante. Os nazistas as colocaram na categoria de “indivíduos sem
direitos de cidadania”. Em outras palavras, os nazistas estavam
entusiasmados com a criação americana, base para duas categorias de
cidadania: cidadãos de primeira classe e cidadãos de segunda classe. Isso,
eles sabiam, tinha aplicabilidade direta à incumbência de elaborar as Leis
de Nuremberg.
Os moderados então questionaram: por que separar os judeus? Talvez,
diziam eles, as Leis de Nuremberg devam simplesmente proibir o
casamento inter-racial entre pessoas de diferentes raças. Erich Mobius,
médico nazista afiliado ao Ministério do Interior, indicou que evitar
referências específicas aos judeus melhoraria a reputação internacional da
Alemanha.
No que diz respeito a esse ponto, os radicais opuseram-se, defendendo
que a Alemanha deveria tomar coragem a partir do exemplo americano.
Klee disse que, assim como a legislação americana sobre questões raciais e
de imigração reconhecia especificamente a inferioridade de certas raças, em
particular a dos negros, a legislação alemã também deveria reconhecer
especificamente a inferioridade do povo judeu. Em ambos os casos, disse
Klee, tratava-se simplesmente de uma “proteção racial”, salvar a maioria
nativa branca da ameaça e da contaminação impostas por raças inferiores.
Logo a reunião tocou em uma questão persistente: quem é judeu? Os
moderados insistiam que não era fácil de identificar a etnia de uma pessoa,
dada a realidade das raças mestiças. Seria preciso ser cem por cento judeu
ou ser metade judeu já bastaria? Nesse ponto os radicais destacaram que as
leis de segregação do Sul baseavam-se na chamada one drop rule, isto é, a
“regra de uma única gota”. Em outras palavras, ter qualquer ascendência
negra discernível — teoricamente, mesmo uma única gota de sangue negro
— faria do indivíduo alguém negro.
No entanto, diz Whitman, até mesmo os nazistas radicais consideraram
esta uma posição extremista. Admitiu-se a “dureza humana” dos
regulamentos americanos e questionou-se: como alguém poderia considerar
negro aquele indivíduo “de aparência predominantemente branca”? Os
radicais foram obrigados a recuar de propor algo tão extremo para o caso
dos judeus. “Para eles”, Whitman observa sarcasticamente, “o racismo
americano às vezes era simplesmente desumano”.3
Por fim, mas sem surpresa, os radicais prevaleceram e seu triunfo
refletiu-se nas infames Leis de Nuremberg de 1935. Essas leis —
oficialmente denominadas Lei da Proteção do Sangue Alemão e a Lei da
Cidadania do Reich — foram, de fato, modeladas a partir das leis
americanas de antimiscigenação, das leis de imigração e das Leis de Jim
Crow. Elas proibiam o casamento e a relação sexual entre judeus e
“cidadãos de sangue ou parentesco alemão”. Aos judeus foi negada a
cidadania alemã; eles agora eram considerados estrangeiros residentes, não
privados de todos os direitos em geral, mas certamente de todos os direitos
políticos. Como Burleigh observa: “As Leis de Nuremberg oficialmente
transformaram os judeus em cidadãos de segunda classe”, exatamente como
a maioria dos negros foi considerada nos Estados Unidos.4
Convém notar que os nazistas radicais rejeitaram a “regra de uma única
gota” e determinaram que, para ser considerado judeu, o indivíduo teria de
ter três avós judeus. Aqueles que eram um quarto ou metade judeu só
seriam assim considerados se praticassem o judaísmo ou se casassem com
outros judeus; do contrário, seriam contados como alemães. Assim os
nazistas foram por uma linha mais leve quanto à definição da identidade
racial do que seus precedentes dos EUA. “No que diz respeito a este
alcance contido, escreve o historiador George Fredrickson, “o
antissemitismo alemão era menos rigoroso com a pureza racial do que a
supremacia branca americana”.5

Transferindo a Culpa
Meu plano de origem para este capítulo era demonstrar o
desenvolvimento paralelo entre o racismo no Partido Democrata, na
América, e o racismo, um tipo especial, o antissemitismo, na Alemanha
nazista.
Eu não fazia ideia de que o racismo dos democratas realmente havia
moldado e influenciado as políticas da Alemanha nazista. Sabia, sim, que
um precedeu o outro, mas não que um ajudou a causar o outro. Sou
agradecido, portanto, a Whitman e a outros por me mostrarem as relações
causais entre esses dois tipos de fanatismo.
Minha gratidão é restringida, no entanto, por reconhecer que esses
estudiosos são quase todos praticantes da grande mentira. Whitman
constantemente aponta o dedo culpando “a América”. Ele escreve: “A
legislação americana permaneceu um constante ponto de referência
nazista”. Os nazistas “voltaram-se repetidas vezes ao exemplo americano”.
E conclui, “a supremacia branca americana proporcionou, para nossa
vergonha coletiva, alguns materiais bastante efetivos para o nazismo da
década de 1930”. Whitman quer para a América um lugar seguro “na
História mundial do racismo”.6
Ira Katznelson, outro praticante da grande mentira, revela um tom
diferente em seu livro Fear Itself [O Medo Em Si]. Como Whitman,
Katznelson tem dizeres reveladores sobre como os nazistas pareciam
favoráveis ao racismo dos democratas. Ele escreve:
Quando os americanos se queixaram do antissemitismo nazista, os
representantes do partido responderam citando os preconceitos
raciais do Sul, reivindicando um parentesco. O Volkischer
Beobachter, mais antigo jornal do Partido Nazista, costumava
desprezar os africanos e os afro-americanos.
Como grande parte da imprensa alemã, o jornal frequentemente
imprimia charges depreciando os negros, lembrando aos leitores que
as acomodações públicas do Sul eram segregadas, satisfazendo-se ao
relatar que negros, bem como os judeus alemães, não podiam dormir
nos vagões-dormitórios Pullman nem exercer o direito ao voto.
Quando o Partido Nazista começou a se mobilizar [...] Der
Weltkampf, seu periódico ideológico, reproduziu os discursos do
Mago Imperial da Ku Klux Klan sobre miscigenação. Falar de
linchamento tinha espaço favorito. Neues Volk celebrou o
linchamento ocorrido no Sul para proteger as mulheres brancas do
desejo desenfreado dos negros. O Volkischer Beobachter publicou
muitas histórias gráficas em apoio ao linchamento como ferramenta
para proteger a pureza sexual branca.
O periódico da SS, Schwarze Korps, afirmou que, se linchamentos
ocorressem na Alemanha como no Sul dos EUA, o mundo inteiro se
queixaria com indignação.7
Quão cativante tudo isso. Katznelson mostra como os nazistas estavam
conscientes e entusiasmados com o fanatismo no Atlântico, que eles
acreditavam ser paralelo e reforçar seu próprio fanatismo. Ainda assim,
note que, do mesmo modo como Whitman culpa “a América”, Katznelson
culpa “o Sul”. Nenhum deles diz: “os democratas”. Nenhum dedo de culpa
jamais identifica “os progressistas”. Eles nunca apontam para “a esquerda”.
Eis algo significativo, porque toda a legislação de segregação no Sul foi
aprovada por uma legislatura democrata, firmada no poder por um
governador democrata e executada por delegados democratas e autoridades
municipais e estaduais democratas. A maioria das leis antimiscigenação foi
aprovada em estados democratas. Os progressistas aprovaram a (racista) Lei
da Imigração de 1924 e a celebraram como uma vitória da ciência e do
planejamento progressistas. A Ku Klux Klan foi criada pelos democratas e
serviu durante trinta anos, nas palavras do estudioso progressista Eric
Foner, de “braço terrorista domesticado do Partido Democrata”.
O que Whitman poderia dizer em resposta? Ele poderia afirmar que
culpa “a América” porque os próprios nazistas citavam leis e precedentes
americanos. Certamente, os nazistas, vendo os Estados Unidos a milhares
de quilômetros de distância, poderiam ter pensado que as políticas racistas
no país eram, de alguma forma, o resultado de um consenso nacional. A
Alemanha nazista chegou, em determinado momento, a ter este consenso.
Mas não na América, como Whitman e Katznelson indubitavelmente
sabem. Eles entendem que as políticas racistas neste país emergiram de uma
grande luta entre dois partidos e duas ideologias rivais, datados da época da
escravidão e da Guerra Civil.
Isso posto, a grande mentira aqui envolve Whitman e Katznelson
transferindo a culpa dos verdadeiros culpados — os progressistas e os
democratas — para um “Sul genérico” e uma “América” ainda mais
genérica. Ao fazê-lo, ambos esperam por dois resultados. Primeiro, esperam
que os conservadores caiam nessa armadilha e corram em defesa do Sul e
da América. Isso faria dos conservadores os defensores do racismo, da
segregação e do terrorismo racial.
Com certeza, meu antigo colega da AEI (American Enterprise Institute),
Josh Muravchik, lamenta que Whitman tente relacionar as políticas nazistas
às políticas americanas. Muravchik não nega que os nazistas tenham
apelarado para exemplos americanos. Pelo contrário, ele pergunta, qual é o
problema? Em outras palavras, que diferença faz? Ele escreve: “Suponha,
por um momento, que os nazistas não tivessem encontrado inspiração
nenhuma em exemplos americanos. Não existiriam as leis de Nuremberg?
Se não houvesse modelo americano, um judeu a menos teria morrido nas
mãos de Hitler?”.8
Muravchik faz uma boa observação. Minha resposta às suas perguntas é
que, com as Leis de Nuremberg, as coisas podem parecer um pouco
diferentes, mas o veneno contra os judeus e outras populações-alvo teria
continuado sem cessar. Ninguém está dizendo que os nazistas aprenderam a
odiar os judeus através dos exemplos americanos de racismo, ou que os
Estados Unidos motivaram os nazistas a matar mais judeus. Antes, a
questão é que os nazistas descobriram uma maneira de institucionalizar seu
antissemitismo usando um precedente legal já existente no Atlântico. A esse
respeito, o racismo estabelecido neste país ajudou a estabelecer o racismo
naquele outro.
Ah!, infelizmente, por toda sua ingenuidade, Muravchik ficou preso em
um racismo reducionista, na vã tentativa de exonerar a América. Ele está
indo exatamente aonde Whitman e Katznelson esperavam que este fosse. O
que ele deveria fazer, em vez disso, é mostrar que não foi “a América” que
fez tudo isso — mas, sim, os democratas. Inconscientemente, Muravchik
acaba por encobrir o racismo do Partido Democrata, deixando a esquerda
salvaguardada.
Os praticantes da grande mentira, como Whitman e Nelson, têm um
segundo objetivo. Convém notar que se trata de transformar vilões em
heróis. Tirando a culpa dos democratas e progressistas então pretendem
pavimentar o caminho para que esses mesmos democratas se ofereçam
como solução ao racismo. À medida que a grande mentira se desenrola, de
alguma forma as pessoas que envenenaram a água reaparecem vestidas dos
encarregados de tratar a água. É uma fraude incrível.
Vejamos como Whitman, em artigo recente, tenta impingir as atrocidades
democratas louvadas pelos nazistas a Trump e ao GOP: “Oitenta anos
depois, ressurge um movimento político americano dedicado à proposição
de que a América deve voltar às origens brancas nacionalistas. Existem
novas leis em muitos estados outrora sob as leis de Jim Crow que limitam o
acesso ao direito de voto. E proibições que colocam em prática aquilo que
mais uma vez parece considerar alguns pretensos imigrantes como
‘indesejados’. Há figuras poderosas em Washington que parecem dispostas
a devolver-nos ao que aconteceu aqui. É momento de lembrar-se do passado
e permanecer vigilante”.9
Tolices extremamente vergonhosas de mais outro estudioso que um dia
já foi responsável! Para ver o quão enganosa é esta retórica, é conveniente
pesquisar a profunda relação entre o racismo nazista e o racismo democrata.
Cumpre, em primeiro lugar, analisar como o antissemitismo nazista, que, a
princípio, parece dramaticamente distinto do fanatismo democrata, na
verdade brota da mesma fonte, o que chamo de socialismo herrenvolk,
supremacista. Em segundo lugar, veremos como o terrorismo racial da Ku
Klux Klan antecipa, e até mesmo fornece o modelo operacional, o culto
fascista da violência, testemunhado na década de 1930 durante o alvoroço
assassino de Kristallnacht — Noite dos Cristais — e durante outras
depredações das tropas nazistas de assalto especializado, as Stosstruppen.
Por fim, veremos como Hitler e a classe governante democrata do Sul
chegaram a lamentar a violência aleatória e caótica contra minorias
específicas. Tendo uma vez consentido, Hitler posteriormente repreendeu o
que veio a chamar de “antissemitismo emocional” dos camisas pardas e
pediu que fosse substituído pelo “antissemitismo racional” da política do
governo.10 Os democratas do Sul chegaram ao mesmo parecer, lamentando
os linchamentos, a KKK e, no lugar, institucionalizando, tal como os
nazistas, uma repressão organizada da segregação e da discriminação,
ambas patrocinadas pelo Estado.

O Fascismo Como Conceito Não Racista


Começo com o fenômeno do racismo fascista, mas aqui enfrento um
paradoxo. Parece que tal coisa não existe. “Racismo fascista” soa oximoro.
Apesar do embuste praticamente infindável do progressismo taxando o
fascismo de racista, não há nada intrinsecamente racista no fascismo. É o
que se percebe pelo exemplo de Mussolini e do fascismo italiano, que, já
analisado, é o fascismo autêntico e original.
Mussolini pouco tinha contra os negros e absolutamente nada contra os
judeus. De fato, ele partilhou do preconceito europeu, um tanto genérico,
contra a África como sendo primitiva e incivilizada, o que redundou numa
visão inferior da civilização negra. Mas quase não havia negros na Itália.
Quanto aos judeus, Mussolini parecia gostar deles. A amante e biógrafa de
Mussolini, Margherita Sarfatti, que o acompanhou em sua jornada do
socialismo ao fascismo, era judia. Havia judeus no início do movimento
fascista com quem Mussolini trabalhava e confraternizava, em particular
junto de Angelo O. Olivetti. “Antes do final da década de 1930”, escreve o
historiador Anthony James Gregor, “Mussolini nunca deixou traçar
qualquer evidência de antissemitismo”.
Comum para a época, Mussolini falava sobre nações em termos de raça.
À semelhança de muitos contemporâneos, ele usava expressões como “a
raça italiana”. Em 1923, Mussolini disse: “Antes de amar os franceses, os
ingleses, os hotentotes, eu amo os italianos. Isto é, amo aqueles da minha
própria raça, aqueles que falam o meu idioma, que partilham dos meus
costumes, que partilham comigo da mesma história”.
Nesse contexto, enfatiza Gregor, a raça não é uma questão de cor de
pele, mas de um modo de vida compartilhado. O orgulho da própria raça
refere-se a “uma nova consciência nacional”. Os italianos de todas as
origens étnicas, cristãos e judeus, podem partilhar desse mesmo “orgulho
racial”. Mussolini coloca o seu carinho pelos italianos acima não só dos
“hotentotes” negros, mas também acima dos franceses e ingleses brancos.
Vemos aqui, penso eu, o tipo de orgulho nacionalista que Donald Trump
reflete e fomenta; assemelha-se, inclusive e curiosamente, também com o
sentimento de Mussolini, um tanto ausente de fanatismo racial.
Todavia, Mussolini sucumbiu ao antissemitismo depois de entrar em
aliança com Hitler. Os estudiosos concordam que este foi um
antissemitismo estratégico, não proveniente do coração; um antissemitismo
com fins de demonstrar solidariedade política. Em 1938, o governo de
Mussolini emitiu o Manifesto Racial Fascista. O documento, promulgado
com o objetivo de publicar a proximidade do fascismo com o nazismo,
acabou por revelar a distância entre ambos.
O documento proibiu o casamento com judeus, declarou-os
inassimiláveis e sancionou leis discriminatórias contra eles. Essa foi a parte
que vergonhosamente cedeu ao racismo nazista. “Muitos intelectuais
fascistas”, escreve Gregor, “representados da melhor forma por Giovanni
Gentile, consideraram a legislação moralmente censurável”. Mussolini, no
entanto, sentiu que lhe cabia adotá-la.
Apesar disso, Mussolini não seguiu Hitler por completo, pois sabia que a
doutrina acerca da superioridade nórdica fazia com que outros grupos,
incluindo os italianos, fossem racialmente inferiores. Não é de surpreender
que Mussolini tenha a abominado em absoluto. Mesmo durante sua aliança
com Hitler, jamais apoiou publicamente a doutrina que um dia havia
descartado por completo. Apesar de suas concessões ao antissemitismo, o
Manifesto Racial Fascista rejeitava a doutrina biológica da superioridade
nórdica — e decerto rejeitava todas as doutrinas biológicas de superioridade
—, afirmando, ao contrário disso, a união e a solidariedade dos italianos
como uma única raça.
O paradoxo, sem dúvida, é que, se ser “italiano” for uma raça, então os
judeus italianos seriam parte dela. Mussolini parece ter mantido essa visão
de forma privada. Gregor nos diz que, durante o domínio de vinte anos de
Mussolini, “há evidências escassas, caso ainda haja alguma, de que
qualquer judeu tenha morrido nas mãos dos fascistas pelo simples fato de
ser judeu”. Pelo contrário, nas palavras de Gregor, “milhares de judeus
foram assistidos pelos fascistas a escapar da destruição nacional-socialista”.
Entre os líderes europeus Mussolini foi exemplar e prestou socorro aos
judeus, ajudando-os a fugir de Hitler. Por sua vez, Hitler queria que
Mussolini entregasse aos nazistas os judeus da França, da Croácia, da
Iugoslávia, Grécia, Albânia e do Norte da África sob ocupação italiana.
Mussolini comunicou às autoridades diplomáticas e militares que nenhum
judeu deveria ser levado. E nenhum deles foi.11
Meu propósito ao discorrer a respeito não é eximir o regime fascista de
racismo — embora eu, no interesse da exatidão histórica, esteja satisfeito
por tê-lo feito —, mas sim mostrar que os fascistas de Mussolini eram bem
menos racistas do que os nacional-socialistas de Hitler e o Partido
Democrata na América. Esses dois últimos refletiram o racismo profundo e
permanente que é a ênfase deste capítulo.

O Judeu Como Capitalista Ganancioso


Voltemo-nos agora ao racismo nazista, e aqui levanto duas questões.
Primeira, o racismo nazista, em sua forma característica antissemita de ser,
era de direita ou de esquerda? E segunda, o que a causou? Com isso não me
refiro ao que havia nos judeus que gerava tanto ódio em Hitler e nos
nazistas, mas ao que havia em Hitler e nos nazistas para que eles odiassem
tanto os judeus. O objetivo é chegar à raiz psicológica do antissemitismo e
examinar suas semelhanças e diferenças com o racismo democrata dos
Estados Unidos.
A verdadeira origem do ódio nazista para com os judeus é retomada em
um livro importante e recente do historiador alemão Gotz Aly. Este enfatiza
o aspecto secular e racial do antissemitismo, distinguindo-o da antiga
hostilidade religiosa contra o povo judeu por este ter rejeitado o Messias e
participado da crucificação. O antigo antissemitismo, ele ressalta, sempre
teve uma porta de escape: os judeus podiam escapar ao converter-se ao
cristianismo.
O antissemitismo moderno, no entanto, define os judeus não como grupo
religioso, mas como grupo racial — uma vez que suas falhas são biológicas,
e não confessionais —, não havendo, portanto, uma porta de escape. Logo,
o que deve ser feito com os judeus? Esta era a Judenfrage — a questão
judaica —, que, desde meados do século XIX, ganhava espaço e passou a
ser tratada como uma questão legítima e importante. Algo aparentemente
precisava ser “feito” em relação aos judeus, e os antissemitas apresentaram-
se como aqueles com soluções prontas.
Aly chega a uma conclusão surpreendente: o antissemitismo moderno
está enraizado não em considerar o povo judeu inferior, mas em reputá-lo
por bem-sucedido. Os judeus são odiados porque são mais trabalhadores,
mais criativos, mais educados e mais ricos do que outros alemães. Em
outras palavras, o antissemitismo está ancorado no pior dos sete pecados
capitais, isto é, a inveja.
Normalmente o racismo envolve depreciar o indivíduo ao considerá-lo
inferior. Aly no entanto mostra que o antissemitismo envolve admirar os
judeus e desprezá-los por aquilo que conquistaram. No fim, o
antissemitismo une-se ao racismo típico ao declarar essas conquistas um
resultado da perversidade. Os antissemitas retratam os judeus como
espertalhões, astutos, guiados pelo dinheiro, “usurpadores” e “vigaristas”.
Em suma, o sucesso dos judeus é retratado não como consequência do
empreendedorismo ou do esforço, mas como consequência da depravação
moral judaica.
Aly mobiliza várias provas com o objetivo de argumentar, das quais
ofereço apenas alguns exemplos. Wilhelm Marr, revolucionário esquerdista,
fundador da German League of Anti-Semites [Liga Alemã Antissemita] em
1879, aquele que cunhou o termo ‘antissemitismo’, descreveu sua
motivação nas palavras “um grito de dor de alguém reprimido” e criticou os
judeus por superarem os alemães comuns. Ele disse: “Nós não mais
estamos em patamar de igualdade para o desafio desta tribo estrangeira”.
O historiador Heinrich von Trietschke, outro antissemita do século XIX,
descreve os judeus que migraram do Leste Europeu para a Alemanha como
“uma invasão de jovens e ambiciosos vendedores de calças” que procuram
fazer com que seus “filhos e netos dominem o mercado financeiro da
Alemanha”. Trietschke contrasta o trabalho honesto e o “velho amor ao
trabalho” dos alemães com uma sorrateira lucratividade dos gordos e
gatunos judeus. E Aly ainda seleciona outras, muitas outras fontes
antissemitas da década de 1880 até a década de 1930.12
Aqui eu gostaria de concentrar-me numa fonte que Aly não usa muito:
Hitler. No início de sua carreira, Hitler participou de uma palestra do
economista alemão de esquerda Gottfried Feder, que mais tarde passaria ao
nacional-socialismo. A palestra de Feder foi intitulada “Como e por quais
meios o capitalismo deve ser eliminado?”. Hitler ficou impressionado com
a distinção de Feder entre “capitalismo produtivo” e “capitalismo
financeiro”. Feder argumentou que tal distinção fugiu a Marx, ele que
simplesmente não era radical o bastante. Feder viu-se erguendo uma crítica
a Marx do ponto de vista da esquerda.
Feder argumentou que o capitalismo produtivo consiste em fazer coisas
de valor real, mas o capitalismo financeiro consiste na usura, ou seja, na
fraude. Para ainda maior entusiasmo de Hitler, Feder associou o capitalismo
produtivo ao alemão honesto e o capitalismo financeiro ao judeu
abominável. Hitler escreve em seu livro Mein Kampf: “Logo que ouvi a
primeira palestra de Feder, sobreveio-me o pensamento de que eu acabara
de encontrar o caminho para uma das premissas mais essenciais à fundação
de um novo partido”.13
Hitler colocou a distinção de Feder em prática em sua infame palestra de
20 de agosto de 1920, “Por que Somos Antissemitas”. Aqui, Hitler
identifica os judeus com duas características abomináveis: dinheiro e
materialismo. Hitler argumenta que os judeus acumulam riqueza “sem
empregar o suor e o esforço exigidos de todos os demais mortais”. O
domínio judeu das finanças internacionais, afirma Hitler, “corrompe todo o
trabalho honesto”. O nacional-socialismo, ele declara, entrou em cena ao
“despertar, aumentar e incitar a antipatia instintiva do nosso povo pelos
judeus”.14
Observe que a distinção então feita por Feder e Hitler de dois tipos de
capitalismo — capitalismo produtivo e capitalismo financeiro — é
precisamente a distinção feita hoje pela esquerda democrata na América. Os
democratas raramente protestam contra o “capitalismo produtivo”. Quando
a esquerda democrata denunciou a General Mills ou a Procter and Gamble?
Em vez disso ela foca sua cólera em direção ao “capitalismo financeiro”,
nos supostos crimes dos bancos e da Wall Street. Hitler teria acrescentado
mais uma só palavra nesta injúria da esquerda: “judeus”.
As seguintes passagens são da obra Hitler’s Table Talk, declarações
privadas de Hitler feitas durante a Segunda Guerra Mundial e transcritas por
um assessor nazista do alto escalão. Como já era de esperar, ele ataca os
judeus. Agora prestemos atenção no porquê desse ataque. “O judeu não tem
interesse nenhum nas coisas do espírito [...] Antes as palavras eram usadas
para expressar pensamentos; ele [o judeu] as usou para inventar a arte de
disfarçar pensamentos. O judeu é tido por dotado. Seu único dom é o de
fazer malabarismo com a propriedade de outrem e enganar a todos.
Suponha que eu encontre, por acaso, um quadro que acredite ser de Ticiano.
Digo ao proprietário o que penso a respeito e proponho um valor. Em caso
semelhante, o judeu começa declarando que a imagem não tem valor,
compra-a por uma merreca e a revende com lucro de 5.000%”.
Discursando durante um jantar em 29 de março de 1942, Hitler elogia a
Liga Hanseática da Idade Média por manter os preços fixos a despeito das
vicissitudes da oferta e demanda: “É assim que o preço do pão se mantém o
mesmo por quatrocentos anos, o da cevada — e, consequentemente, da
cerveja — por mais de quinhentos anos, e tudo isso apesar de todas as
mudanças monetárias”. Já em contraste, nas palavras de Hitler: “Assim que
se liberou aos judeus a bisbilhotice nos guetos afora, o senso de honra e
lealdade no comércio começou a dissolver. Na verdade, o judaísmo [...]
tornou a fixação dos preços dependente das leis dos fatores de oferta e
demanda — fatores que, em outras palavras, nada tem que ver com o valor
intrínseco do produto”.15
De acordo com o argumento acima, evidente fica que, para Hitler e para
os demais, o antissemitismo está em grande parte enraizado no
anticapitalismo. Os judeus são os capitalistas par excellence. “Desde a sua
concepção”, escreve Aly, “o antissemitismo foi direcionado contra as
políticas econômicas liberais e contra o capitalismo como um todo e, em
particular, contra o capital financeiro e as bolsas de valores”.16 Aly
demonstra que o antissemitismo surgiu da mesma fonte que o esquerdismo
e o socialismo. O antagonismo esquerdista ao empreendedorismo como
forma de “lucro” injusto e ao financiamento como forma de “ganância” e
“aproveitamento” transforma-se na representação antissemita do judeu
como explorador injusto e trapaceiro ganancioso.
Os esquerdistas e os socialistas realmente pensam assim? Aqui está uma
passagem do ensaio de Marx, de 1844, Sobre a Questão Judaica:
“Consideremos o verdadeiro judeu, o judeu mundano, não o judeu do Sabá,
como Bauer faz, mas o judeu de todos os dias. Não procuremos o segredo
do judeu em sua religião. Qual é a base secular do judaísmo? A necessidade
prática, o interesse próprio. Qual é a religião mundana do judeu? O
regateio, a falcatrua, a barganha. Qual é o deus mundano? O dinheiro.
Muito bem, então! Emancipar-se do regateio, da falcatrua, da barganha e do
dinheiro, por consequência emancipando-se do judaísmo real e prático,
seria a auto-emancipação do nosso tempo”.
Portanto, os esquerdistas e os socialistas podem pensar e realmente
pensam dessa maneira. Para Marx, o socialismo representa a humanidade
emancipando-se do capitalismo judaico. O capitalismo judeu é o verdadeiro
inimigo. Aly mostra que este é o impulso central do antissemitismo, não
apenas o antissemitismo dos nazistas, mas o antissemitismo que precedeu e
lançou as bases para o nazismo na Alemanha durante a metade do século
passado.
O que os antissemitas concluem disso? Ao demonizar o capitalismo e
seu representante, o povo judeu, eles conseguem restringir e proibir o
capitalismo, além de restringir e proibir o judeu de participarem plenamente
da economia. Ao remover a ameaça que o sucesso judaico representa, os
antissemitas conseguem eliminar os judeus como concorrentes e melhorar
as perspectivas do seu próprio sucesso. Ao confiscar os frutos do sucesso
judeu, eles agora podem distribuí-los entre si.
À parte desses benefícios materiais, há também um benefício psicológico
que não deve ser perdido de vista. O antissemitismo oferece a pessoas com
menos desempenho uma solução para o seu próprio senso interior de
inferioridade. Pessoas assim podem então convencer-se de que, ainda que
não sejam tão inteligentes ou tão diligentes quanto os judeus, são de fato
moralmente superiores. No caso, os judeus os vencem no jogo da vida
justamente por serem inferiores e perversos demais. O antissemitismo é
fonte de autoestima aos ignorantes e preguiçosos.
É também uma fonte, estranho dizer, de igualdade e solidariedade. Aly a
reconhece. “O desejo por igualdade social está selado no antissemitismo
alemão”.17 Como isso é possível? Em vez da antiga divisão entre aqueles
que obtêm sucesso e aqueles que fracassam — em outras palavras, entre
vencedores e perdedores — o antissemitismo cria uma nova divisão: entre
judeus, na parte inferior, e brancos ou nórdicos, na superior. Todo alemão
branco ou nórdico, por menos instruído e incompetente que seja, está agora
acima de todo judeu. E do mesmo modo como todos os judeus pertencem
igualmente ao mesmo grupo inferior, todos os brancos ou nórdicos
pertencem igualmente ao mesmo grupo superior. O antissemitismo,
portanto, promete uma espécie de igualdade entre brancos, ou nórdicos. O
antissemitismo é, a este respeito, um tipo de socialismo branco ou nórdico,
um socialismo que atrai sobretudo os perdedores à corrida da vida. Nesse
sentido, como veremos, isso reflete de perto o racismo dos democratas.

O Apelo Oculto do Racismo


Passemos agora ao racismo dos democratas e progressistas da década de
1860 até a década de 1930. O racismo de então, obviamente, voltava-se
principalmente contra os negros. Devo logo dizer que, em essência, com
seu volume e veemência, o racismo dos democratas e progressistas supera
não só o racismo fascista italiano, que era marginal, mas também o
antissemitismo alemão. Somente o antissemitismo do período nazista
coincide com o racismo dos democratas. A vil injúria do Der Sturmer,
jornal antissemita do antigo aliado de Hitler, Julius Streicher, está
praticamente no mesmo patamar da vil injúria dos democratas racistas.
Considere o que os democratas costumavam falar dos negros antes da
Segunda Guerra Mundial. Eis aqui James Vardaman, senador democrata,
respondendo a Theodore Roosevelt, presidente republicano, durante um
jantar de negócios, em 1901, com o mais importante líder negro norte-
americano, Booker T. Washington: “Sou tão contrário a Booker T.
Washington, com todos os seus reforços anglo-saxões, quanto sou contrário
ao cabeça de coco, negro cor de chocolate, Andy Dotson, que engraxa os
meus sapatos todas as manhãs”. Benjamin Tillman, outro senador
democrata, ainda acrescentou: “Agora que Roosevelt comeu com aquele
negro em Washington, teremos de matar mil negros para fazê-los voltar ao
seu devido lugar”.18
Aqui está o senador Theodore Bilbo, aliado íntimo do presidente
democrata Franklin D. Roosevelt, durante uma de suas campanhas de
reeleição, defendendo a violência por parte de seus partidários brancos no
intuito de impedir que os negros pudessem votar: “Os brancos têm
justificativas para chegar a qualquer tipo de extremo no objetivo de evitar
que os negros votem. Você e eu sabemos qual é a melhor maneira de
impedir o voto por parte dos negros. Você faz isso na noite anterior à
eleição. Não preciso dizer mais nada. Os homens de sangue forte sabem o
que quero dizer”.19
Eis o democrata Robert Byrd, a “consciência do Senado”, tratado como
celebridade por Obama, Hillary, e Bill quando falecido em 2010, falando
durante a guerra sobre sua relutância em lutar num exército racialmente
integrado: “Sou leal ao meu país e nada faço além de reverenciar sua
bandeira, MAS jamais me submeterei a lutar sob essa mesma bandeira com
um negro ao meu lado. Antes prefiro morrer mil vezes e ver essa antiga
glória pisoteada na sujeira para nunca mais ascender a ver nossa amada
terra degradada por raças mestiças, um retrocesso às espécies mais negras
das terras selváticas”.20
E aqui estão alguns dos livros publicados por democratas progressistas
no início do século XX: The Negro a Beast [O Negro: uma Besta], de
Charles Carroll (1900); The Negro: A Menace to American Civilization [O
Negro: uma Ameaça à Civilização Americana], de Robert Shufeldt (1907);
The American Negro as a Dependent, Defective and Delinquent [O Negro
Americano como Dependente, Deficiente e Delinquente], de Charles
McCord (1914); e novamente Shufeldt, em 1915, com o título America’s
Greatest Problem: The Negro [O Maior Problema Americano: o Negro].
Como parte da grande mentira, os progressistas gostam de passar a
impressão de que esse racismo é de algum modo característica intrínseca da
história americana, que de alguma forma faz parte de sua psique e remonta
à fundação da América. Derrick Bell, jurisconsulto esquerdista, afirmou que
“o racismo é um componente integral, permanente e indeformável dessa
sociedade”. Em White Racism [O Racismo Branco], Joel Kovel sustenta
que “o racismo é, em última instância, indivisível do resto da vida
americana”. Cornel West, historiador e ativista de esquerda, insiste que a
América é “cronicamente racista”.21
Todavia, estudaremos o período da Fundação em vão, pois o tipo de
extremismo intolerável que define a retórica e a prática democratas vem do
século XIX e do início do século XX. Considere o argumento que os
progressistas normalmente dão para provar o racismo de Thomas Jefferson.
Aqui está a evidência do crime, encontrada em Notes on the State of
Virginia [Notas sobre o Estado da Virgínia], de Jefferson: “Pondero,
portanto, em forma de suspeita, se os negros, quer originalmente uma raça
distinta, quer tornados distintos pelo tempo e pela circunstância, são
inferiores aos brancos no que diz respeito ao corpo e à mente”.22
Jefferson nem sequer tem certeza de que os negros originalmente
constituem uma raça. Ele passa por uma “suspeita”, mas tão só uma
suspeita de que os negros possam ser menos inteligentes do que os brancos.
Nenhum dos outros Pais Fundadores concordaram com ele. Hamilton, por
exemplo, estava convencido de que a inferioridade negra era o resultado das
condições sob as quais os negros viviam e que melhores circunstâncias
remediariam o problema. Além disso, nem os Pais Fundadores nem seus
sucessores implementaram programas racistas, como segregações gerais
patrocinadas pelo Estado, nem criaram instituições, de exemplo a Ku Klux
Klan, com o propósito de aterrorizar e exterminar negros. Essas foram
invenções de uma era posterior e de um novo partido fundado na década de
1820, o Partido Democrata.
Quanto ao racismo democrata, à semelhança do que perguntamos ao
antissemitismo alemão, perguntemos: o que eles ganharam com isso? Como
o racismo ajudou a manter a hegemonia do Partido Democrata no Sul por
quase três gerações após a Guerra Civil? Essas questões estabelecem o
propósito político do racismo. Ao contrário da grande mentira progressista,
o racismo não existe apenas como uma característica inexplicável da
sociedade americana desde o princípio; não, mas é fabricado, encorajado e
usado para fins partidários pelo próprio partido que perpetua a grande
mentira.
O racismo, é claro, precedeu o Partido Democrata; entretanto, em certo
sentido, os democratas inventaram o racismo político no início do século
XIX intentando salvaguardar a escravidão dos investidas republicanas e
abolicionistas. O ataque ocorreu desta forma: todos os homens são criados
iguais; os negros são homens; portanto, os negros não devem ser
escravizados. Republicanos como Lincoln admitiram que os Pais
Fundadores permitiram temporariamente a escravidão porque não havia
outra maneira de haver união. Apesar disso, Lincoln discursou sobre o
direito à vida e à liberdade, enumerados na Declaração de Independência,
nos quais os Fundadores “desejam absolutamente proclamar o direito para
que, disto, sua execução possa resultar o mais rápido que as circunstâncias
permitam”.23
Democratas progressistas no século XX, de fato, atacaram os Pais como
equivocados, ou consideraram suas idéias retrógradas. Mas, no século XIX,
os democratas tomaram um rumo diferente. Eles negaram que os negros
fossem seres humanos, ou seja, negaram aos negros sua plena humanidade.
Assim, a defesa democrata tomou a seguinte forma: todos os homens são
criados iguais; os negros são sub-humanos, isto é, não são totalmente
humanos; portanto, somos escusados ao escravizá-los.
E assim o racismo surgiu no Partido Democrata, como uma
racionalização da escravidão. Em nenhum lugar o racismo foi mais
claramente expresso do que nas palavras do democrata jacksoniano Roger
Taney, presidente da Suprema Corte, em sua notória decisão no Caso Dred
Scott. Taney fez sua infame declaração asseverando que os negros “não têm
direitos os quais o homem branco deva respeitar”.24 Essa mesma doutrina
racista serviu de base para que o democrata do Norte Stephen Douglas
fizesse sua defesa da soberania popular — isto é, que cada estado e
território deve decidir por si se deseja ou não a escravidão — e para a
alegação do democrata do Sul, John C. Calhoun, defendendo a escravidão
como bem positivo.
Mesmo após o fim da escravidão, os democratas descobriram que o
racismo lhes era muito útil. Na verdade, confiando no escravagismo mais
do que nunca, eles construíram toda uma ideologia e estrutura da
supremacia branca a fim de estabelecer domínio sobre a política do Sul. E
mais adiante veremos como o fizeram. Mas, antes, pergunto: como eles
fizeram funcionar? O que a proposta de uma supremacia branca oferecia
que convencesse os eleitores brancos do Sul a continuar reelegendo os
democratas?
Posso responder voltando momentaneamente à escravidão propriamente
dita e respondendo a uma pergunta que os historiadores levantaram acerca
da Guerra Civil. Por que a maioria dos brancos pobres, aqueles que não
possuíam escravos, lutou ao lado dos Confederados? Sim, é certo o porquê
de os proprietários de escravos terem lutado: para proteger sua
“propriedade”. Mas como eles convenceram os brancos que não possuíam
escravos a tomar partido?
Há uma pista num discurso dado em 1860 por John Townsend,
democrata senhor de escravos. Falando em nome da secessão a um grupo
chamado 1860 Association, Townsend abordou diretamente a questão de
como o sistema escravagista beneficiava os brancos não possuintes de
escravos. Ele sustentava que “agora, no Sul, a cor branca confere ao homem
branco título de nobreza em suas relações com os negros”. Ainda que um
indivíduo negro “fosse imensamente superior em riquezas, o homem
branco, mesmo pobre, não possuinte de nem sequer um escravo, lhe é
superior aos olhos da lei, podendo servir e comandar a milícia, podendo
presidir sobre o júri para decidir sobre os direitos dos mais ricos da terra,
podendo dar seu testemunho no tribunal e podendo votar igualmente ao
lado do mais abastado senhor de escravos na escolha de seus
governantes”.25
Aí está. O que o senhorio escravagista democrata ofereceu ao branco
pobre é precisamente o que o Partido Democrata ofereceu ao eleitor branco
do Sul, isto é, a oportunidade de pertencer a uma aristocracia de cor. Ao
traçar uma linha precisa entre o branco e o negro, colocando todos os
brancos acima da linha e todos os negros abaixo dela, os democratas
poderiam assegurar ao homem branco mais pobre, mais preguiçoso e mais
estúpido que ainda estaria acima do homem negro mais rico, mais
trabalhador e mais inteligente.
Além do quê, enfatiza Townsend, existe uma suposta igualdade de
orgulho entre os membros da classe alta bem como existe uma suposta
igualdade de degradação entre os membros da classe inferior. Portanto, o
racismo, agora entendemos, cumpre a mesma exata função psicológica do
antissemitismo. Ambos reforçam o que podemos chamar de “socialismo
herrenvolk” — a igualdade social da classe mestre. E é assim que o racismo
compensou o homem branco com autoestima, reforçando com fortes cordas
o estrangulamento político do Partido Democrata no Sul, desde a Guerra
Civil até a década de 1960.

Terrorismo Racial: Lá e Aqui


Nesta seção final pretendo mostrar como os democratas e os nazistas
desencadearam orgias de violência terrorista contra, respectivamente,
negros e judeus, passando da então violência caótica de massas para a
consagração e o fortalecer de instituições sistemáticas do racismo. Começo
por notar uma estreita semelhança entre a Ku Klux Klan (KKK) e os
camisas pardas da Alemanha nazista. Interessante notar que, durante seu
auge nas décadas de 1920 e de 1930, as duas organizações tinham
aproximadamente o mesmo tamanho, com membresias variando de três a
cinco milhões.
A KKK e os camisas pardas também visavam o mesmo tipo de pessoas.
Por exemplo, ambas direcionavam sua violência não apenas às minorias
raciais, mas também a adversários políticos. O início da KKK, por exemplo,
matou tantos republicanos brancos quanto negros. Além disso, mesmo que
o principal alvo minoritário fosse os negros, a KKK era também
anticatólica e antissemita — fato evidenciado no linchamento de Leo Frank,
em 1915. Enquanto concentravam seu ódio racial contra os judeus, os
camisas pardas também eram racistas contra os ciganos — os povos de
Roma e sinti, cujas origens remontam à Índia — e os negros, como visto na
invectiva contra negros em panfletos e publicações dos camisas pardas.
Os americanos, em visita à Alemanha na década de 1930, costumavam
perceber a semelhança entre a KKK e os camisas pardas. E os alemães
familiarizados com a América faziam precisamente o mesmo paralelo. Eis
um trecho do Neues Volk, boletim de propaganda do Departamento
Nacional-Socialista da Política Racial: “O que é a justiça do linchamento
senão a resistência natural da Volk a uma raça estrangeira que tenta levar
vantagem?”.26 O artigo compara massacres contra judeus aos linchamentos
realizados por grupos como a Ku Klux Klan. O artigo conclui que os dois
visavam basicamente o mesmo objetivo.
Mas, novamente, ambos os países chegam a uma mudança, e mais uma
vez os democratas e os nazistas ficam cara a cara. A partir da década de
1890, os poderes governantes do Partido Democrata procuraram substituir o
terrorismo racial da KKK por uma discriminação fomentada pelo Estado,
refletida em uma estrutura abrangente de leis de segregação. Essas leis
desrespeitavam os negros e os forçavam à parte mais inferior da sociedade
sulista. De forma semelhante, cerca de três décadas depois, os nazistas
passavam do terrorismo racial dos camisas pardas às leis de Nuremberg e a
outras medidas para despojar os judeus, privá-los de seus direitos e rebaixá-
los à parte mais inferior da sociedade.
Agora, convém investigar as semelhanças entre a Ku Klux Klan e os
camisas pardas da Alemanha nazista. A KKK originalmente começou como
uma espécie de sociedade obscura. Membros brancos da KKK invadiam à
noite casas de negros com o objetivo de assustá-los. Às vezes, os membros
da KKK cercavam um homem negro na rua e tiravam suas calças à força.
Da mesma forma os camisas pardas, que oprimiam os judeus, rebaixando-
os e humilhando-os; uma das táticas favoritas era lhes tirar as roupas ou
raspar a metade da barba deles.
Ambas, a KKK e os camisas pardas, usavam vestuário específico e
desenvolveram estilos que refletiam, pelo menos aos olhos modernos, o
mais nobre estilo espalhafatoso e brega. Parte do atrativo da KKK era
montar cavalos vestidos com trajes elaborados, chamar-se de “Kleagle”, ou
“grande dragão”, ir até os “kloncliums” ultrassecretos e participar da
queima de cruzes à noite. Da mesma forma os camisas pardas, que usavam
camisas, calças, botas e chapéus marrons. Seus uniformes exibiam suásticas
e outras insígnias, eles marchavam a passos largos, e sua saudação consistia
em levantar um dos braços e esticá-lo com a palma da mão voltada para
baixo. Ambos os grupos tinham elaboradas hierarquias de organização e
autoridade. Os camisas pardas cultivavam a mesma aura secreta de seitas
que a KKK.
Ambos eram grupos paramilitares crentes na eficácia da violência.
Quando a KKK liderava um linchamento, associados e famílias
costumavam aparecer para assistir. Para aumentar a emoção do público,
membros da KKK incendiavam cruzes e às vezes forneciam comida e
bebida para que todos pudessem ser entretidos. Assim também os camisas
pardas, que consideravam a violência não um mal necessário, ou, nas
palavras do personagem Sollozzo em O Poderoso Chefão — “sangue custa
muito caro” —, mas, sim, uma bela limpeza, uma reforma social a ser
realizada e apreciada periodicamente.
Os camisas pardas, bem como a KKK, retratavam-se os defensores da
justiça social. Mesmo sendo assassinatos extrajudiciais, os membros da
KKK os consideravam acertos judiciais contra ofensores negros que não
careciam de julgamento. Assim também os camisas pardas se viam na
posição de punindo judeus por crimes que haviam sido cometidos, mas não
registrados nem detectados. Os camisas pardas, bem como os membros da
KKK, consideravam-se vigilantes, ou “soldados políticos”, encarregados de
superar o sistema de justiça disfuncional e agindo de forma decisiva para
corrigir as coisas.
Na Kristallnacht — a Noite dos Cristais —, em novembro de 1938, os
camisas pardas incendiaram sinagogas, vandalizaram casas, escolas e
empresas dos judeus, mataram aproximadamente cem deles e levaram
muitos outros para campos de concentração. Esse incidente, horrível por si
só, que Goebbels disse ter sido provocado pelas atrocidades cometidas
pelos próprios judeus, parece uma misteriosa reconstituição da rebelião
racial de Tulsa, provocada pela Ku Klux Klan em 1921. Nesse incidente,
supostamente em retaliação por um cruel estupro de uma mulher branca
cometido por um homem negro, milhares de democratas racistas causaram
alvoroço em bairros negros, queimando casas, saqueando empresas,
matando dezenas de pessoas, detendo centenas e deixando milhares de
negros sem teto.
Por fim, no entanto, democratas e nazistas levantaram-se contra o tipo de
violência aleatória nas ruas representado pela KKK e pelos camisas pardas.
Cabe entender como isso se desenrolou, primeiro no caso dos democratas e
depois no caso dos nazistas. O historiador Joel Williamson afirma que os
democratas usaram a KKK para ajudá-los na consolidação do poder do
partido no Sul. Uma vez consolidado, os poderes governantes do Partido
Democrata decidiram reduzir a ênfase na KKK e implementar, em vez dele,
um sistema formal de segregação e discriminação patrocinado pelo Estado,
este que viria a institucionalizar a supremacia branca. O terrorismo agora,
em certo sentido, não seria tão importante, afinal estaria incorporado à
lei.27
Assim, os democratas institucionalizaram, por toda a região do Sul, um
sistema abrangente de discriminação contra os negros patrocinado pelo
Estado. Porque apoiada pela força da lei, era algo muito mais desagradável
do que a discriminação factual contra os negros em outras partes do país.
Os negros foram sistematicamente excluídos de praticamente todos os
cargos governamentais, exceto dos baixos e mais humildes. Esta
discriminação fomentada pelo Estado persistiu por três quartos de um
século, desde a década de 1880 até a década de 1960.
No Sul, a segregação implementada pelos democratas era tão profunda
que se baseava na “regra da única gota”, significando basicamente que
qualquer herança negra fazia de alguém negro. Alguns historiadores
remontam a regra da única gota ao período da escravidão, o que está errado.
Durante a escravidão, havia uma regra diferente: a posição de escravo era
passada através da mãe.28 Quer dizer, se um democrata dono de escravos
tivesse relações sexuais com uma escrava e gerasse uma criança, ela se
tornaria escrava, porque sua mãe já estava sob a escravidão. Uma regra
muito conveniente, pensando a respeito do ponto de vista dos democratas
senhores de escravos. No entanto, sob o domínio da escravatura, se o
escravo negro gerasse um filho com uma mulher branca livre — decerto
algo extremamente raro —, essa criança também seria livre.
De acordo com a regra da única gota, contudo, a prole de todos esses
concubinatos seria contada como negra. Na prática, é claro, havia negros de
pele clara que conseguiam burlar a regra e se “passar” por brancos. Mas a
própria regra exigia 100% de brancura para se poder estudar em uma escola
para brancos, beber em um bebedouro para brancos ou mesmo desfrutar da
seção de brancos numa praia pública. Essa, como visto antes, é a regra que
até mesmo os nazistas acharam um tanto extremista e repulsiva.
Curiosamente, enquanto as Leis de Nuremberg são agora história, a
“regra da única gota” está presente, não só como uma questão da lei, mas
também como uma questão de identidade pessoal. Pense em Obama: ele é
metade branco e metade negro, mas se identifica como negro. Muitos afro-
americanos são de ascendência branca, mas consideram-se negros. Por quê?
Por causa da regra da única gota. Se alguma delas se declarasse branca —
ou recusasse a se classificar racialmente —, grupos de esquerda como o
Caucus Negro e o Centro Legal da Carência do Sul as condenariam. O
Departamento do Censo dos EUA até hoje conta negros e brancos de
acordo com a regra da única gota e a utiliza para implementar uma série de
ações afirmativas e outros programas baseados na raça.

Dos Tumultos Causados pelos Camisas


Pardas às Leis de Nuremberg
Percebe-se que os nazistas seguiram precisamente os mesmos passos
históricos dos democratas em relação ao uso da violência nas ruas. No final
da década de 1920 e no início dos anos 1930, os camisas pardas de Hitler
— liderados pelo extravagante homossexual Ernst Röhm — governavam as
ruas da mesma maneira como uma gangue do interior da cidade governaria
um bairro. Hitler, aliado íntimo de Röhm, encorajou o uso da violência por
parte de suas tropas.
No entanto, uma vez que chegou ao poder em 1933, Hitler considerou
Röhm uma ameaça. Röhm tinha seus camisas pardas, mas Hitler agora tinha
as forças armadas e as SS sob a supervisão de Heinrich Himmler. No desejo
de que a força militar se concentrasse no governo e sob seu controle
absoluto, Hitler enviou Theodor Eicke, comandante em Dachau, e outro
oficial para executar Röhm. Alguns especialistas progressistas insinuam que
Hitler mandou matar Röhm por ele ser homossexual. Um verdadeiro
absurdo. Hitler não queria o líder da gangue rival espalhando violência
aleatória pelas ruas, mas, pelo contrário, queria ser ele o único a chefiar
gangues que espalhavam a violência sob a tutela do próprio Estado.
Anteriormente, Hitler havia falado que o “antissemitismo racional”
substitui o “antissemitismo emocional”. Goebbels, convocando o povo
alemão, agora invoca tamanha distinção para que todos eles “desistam
estritamente de todo tipo de retaliação, seja da forma que for, contra os
judeus”. Eis o incrível exemplo de um líder nazista que exorta à moderação
no que diz respeito a manifestar o antissemitismo publicamente. No
entanto, é claro, Goebbels pretendia com isso algo ainda mais traiçoeiro.
Ele prometeu: “Os judeus receberão a resposta final pelas vias da
legislação, através de determinações e decretos legais”.29
Em 1935, sete anos antes de a Solução Final ser fixada pelos nazistas,
Hitler defendeu a emigração e a guetização como soluções provisórias para
o problema judaico. Os judeus, disse Hitler, devem ser “removidos de todas
as profissões, devem ser guetizados, restritos a um determinado território,
onde possam vagar de acordo com seu caráter enquanto o povo alemão os
observa, como são observados os animais na natureza”.30
Começando em 1933, primeiro ano do Terceiro Reich, os nazistas
também começaram a excluir sistematicamente os judeus dos cargos
públicos. Hitler adicionou uma “cláusula ariana” à lei de serviço civil que
efetivamente proibia os judeus de cargos no governo. Logo os judeus
também foram removidos e excluídos do jornalismo, da agricultura, do
ensino e do teatro. Em 1938, os judeus não podiam investir em aplicações
financeiras nem exercer profissões no ramo do direito e da medicina. Essa
combinação de segregação e discriminação contra os judeus, patrocinada
pelo Estado, reflete o que os democratas fizeram aos afro-americanos.
Óbvio dizer, as leis raciais nazistas foram o equivalente preciso das leis
raciais do Partido Democrata. Não significa apenas que a primeira forneceu
precedente para a última; ambos os conjuntos de leis tinham o mesmo
propósito funcional. Assim como as leis de segregação e discriminação
serviam para complementar e, em alguns aspectos, substituir a violência
sem rumo espalhada pela Ku Klux Klan, também as Leis de Nuremberg e a
legislação discriminatória dos nazistas tinham por destino complementar e,
em alguns aspectos, a substituir a violência sem rumo espalhada pelos
camisas pardas. A esse respeito, como em tantos outros, os nazistas e os
democratas assemelham-se tanto que cada vez mais difícil fica separar um
do outro.
Capítulo Seis
Pessoas
Descartáveis
Mais crianças nascidas dos qualificados, menos filhos nascidos
dos inaptos — eis o ponto nevrálgico do controle de natalidade.1
Da revista Birth Control Review
[Analisando o Controle de Natalidade], organizada por Margaret Sanger

Como o comportamento altamente anormal e patológico por parte de


algumas pessoas veio a lhes parecer normal? O comportamento que é
monstruoso ou bestial para os seres humanos é, certamente, bastante
habitual no reino animal. Por exemplo, é normal que um gorila entre numa
caverna, capture determinada fêmea, atordoe-a com golpes, arraste-a
sangrando para sua própria toca e acasale-se com ela. Em se tratando de
animais, às atitudes desse tipo não sobrevém nenhuma condenação moral;
são as vias da natureza. Contudo, em se tratando de seres humanos, agindo
dessa forma a pessoa prova ser doente, moralmente anestesiada,
profundamente perturbada.
Então como o ser humano passa ao domínio do inconsciente, do
inconcebível? A História mostra que, por vezes, o ser humano o faz sem
nenhuma consciência do horror que está cometendo. Hannah Arendt a isso
chamou de “a banalidade do mal”, o mal que aos perpetradores, e até a
muitos observadores, soa absolutamente natural. Disso se levanta uma
possibilidade assustadora: é possível que nós daqui, na América, estejamos
fazendo ou tolerando coisas completamente vis e horríveis? Que garantia
temos de que coisas assim não nos pareceriam normais, da mesma forma
como pareciam aos olhos daqueles que praticavam monstruosidades no
passado?
Josef Mengele — como tantos outros nazistas — não parecia anormal
quando chegou ao campo de Auschwitz, na primavera de 1943, como
médico e cientista pesquisador. Era homem viciado em trabalho, cheio de
rigor e escrúpulos obsessivos, traços, afinal, comuns a muitos alemães.
Estudante de medicina, Mengele costumava assistir às palestras de Ernst
Rudin, um dos mais importantes intelectuais da eugenia, estudioso que
inspirou Mengele com a doutrina nazista da evolução social, que viria a ser
estabelecida mediante a criação de um novo tipo de ser humano.2 Mengele
todavia nunca se considerou ativista político. Ao contrário, era ele um
pesquisador, com especial interesse em pesquisas no ramo dos estudos de
gêmeos.
Anteriormente havia trabalhado sob a direção de Otmar von Verschuer,
respeitado geneticista, diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia,
Hereditariedade Humana e Eugenia. O Instituto Kaiser Wilhelm era
reconhecido na Alemanha e em todo o mundo por realizar um trabalho
pioneiro no campo da hereditariedade e da genética. Verschuer escreveu
uma carta de recomendação para Mengele, o que o ajudou a garantir sua
nomeação em Auschwitz.
O interesse de Mengele era a hereditariedade: esperava que, ao estudar a
anatomia dos gêmeos — tanto gêmeos idênticos, que compartilham os
mesmos genes, quanto gêmeos fraternos, que compartilham metade dos
genes —, ele poderia desemaranhar a importância relativa da natureza e do
crescimento no desenvolvimento humano. Mengele também queria estudar
anões, mutantes e outras anormalidades a fim de entender até que ponto
seus traços seriam transmitidos à próxima geração. Em Auschwitz, Mengele
encontrou de pronto um suprimento de amostras laboratoriais para suas
experiências, em especial crianças. Eram crianças judias, crianças ciganas,
filhos de eslavos e russos capturados na guerra.
Porque considerava esses cativos como os mais inferiores dos inferiores,
espólios da guerra, pessoas descartáveis, Mengele decidiu que eles seriam
utilizados em seus experimentos. Assim iniciou-se seu regime macabro de
torturas e testes, tratamento de eletrochoque, injeções no tórax e injeções
intraoculares. Mengele extraía globos oculares e os enviava dentro de
pequenas caixas próprias do exército, grafadas com “Materiais de Guerra —
Urgente”, tendo por destinatário o Instituto Kaiser Wilhelm, no objetivo de
estudos posteriores. Ele também enviava partes de corpos para Verschuer e
para um colega de pesquisas, Julius Hallervorden, nazista e atuante no
campo de pesquisas da área cerebral, no Instituto de Psiquiatria Max
Planck, em Munique.
Mengele determinou-se a abrir novos caminhos na pesquisa de gêmeos.
Para este fim, certa feita ele costurou um par de gêmeos ciganos para ver se
deles poderia criar gêmeos siameses. Mengele também realizava autópsias
em gêmeos fraternos e idênticos. Mas para que seus dados fossem úteis, ele
precisava que os gêmeos morressem ao mesmo tempo. Somente mortes
simultâneas permitiriam uma comparação de cadáveres significativa. E
assim ele prestava bastante atenção aos vários pares de gêmeos em
cativeiro; se um morresse de fome ou doença, não hesitava em aplicar uma
injeção letal no outro. Basicamente, era ele um assassino em série vestido
com jaleco de laboratório.
Ao longo de tudo, Mengele jamais demonstrou a menor consciência de
que estivesse fazendo algo de errado. Mais tarde, na década de 1970, ele
explicaria a seu filho, Rolf, que os presos de Auschwitz viriam a morrer de
qualquer maneira e que seu papel era simplesmente o de separar os sadios
dos doentes, além de promover a causa da ciência através de experimentos
com amostras humanas úteis.3 A pesquisa de Mengele era legal; era
sancionada pelo Estado, e foi por uma causa progressista. Assim, deste
ponto de vista, do que Mengele precisaria se envergonhar?

A Esquerda e o seu Próprio Mengele


Hoje os crimes de Mengele são considerados impensáveis,
inconcebíveis. Concordamos prontamente com o lema diante do
Holocausto: “Nunca mais”. Há o consenso de ter sido este um evento que
não pode jamais ser repetido; aliás, cremos que não está se repetindo, pois
esperaríamos que, assim fosse, ele aconteceria da mesma forma.
Procuramos, hoje, é por outro sujeito executando gêmeos e aplicando
hediondas injeções intraoculares. Como esse tipo não aparece, a maioria se
convence de que Mengele e os nazistas foram uma aberração histórica.
No entanto, o nazismo foi o produto de um tempo e lugar. Mas já agora
os tempos mudaram,o lugar não é mais o mesmo. No que Robert Paxton
observou anteriormente, um fascismo americano, caso surja, não será
suscetível aos coturnos marchando, braços levantados em saudações
nazistas e aos cânticos de Heil Hitler. E poderá não visar os judeus, mas,
sim, algum outro grupo. O fascismo americano seria uma insígnia no
uniforme da América, um fascismo de apetrecho, inventado por
progressistas e esquerdistas americanos no lugar dos progressistas e
esquerdistas alemães. O Mengele da América faria coisas não menos
horríveis do que o próprio Mengele, mas sua causa seria protegida por uma
nova e elegante ideologia da ciência e do progresso.
Na verdade, o Mengele americano existe, seu nome é Kermit Gosnell.
Desde 1979, Gosnell geriu uma clínica de aborto chamada Women’s
Medical Society, na zona oeste da Filadélfia. Lá, ele realizava abortos
induzidos de gestação tardia e, inclusive, indução ao aborto por dilatação e
evacuação, principalmente em mulheres pobres. Se, por algum erro, a
criança nascesse viva, Gosnell a matava no processo que ele chamava de
“morte fetal garantida”. Sua técnica favorita consistia em sedar o bebê
prematuro e, em seguida, cravar uma tesoura no pescoço e cortar sua
medula espinhal. Por três décadas, Gosnell matou centenas, isso se não
foram milhares, de crianças dessa maneira, muito mais do que Mengele
matou durante o período de dois anos em Auschwitz.4
Se Gosnell é a analogia americana de Mengele, existe também o Instituto
Kaiser Wilhelm da América: seu nome é Planned Parenthood. Gosnell não
trabalhou lá, mas nem Mengele trabalhou para o Instituto Kaiser Wilhelm.
Ambos, todavia, tiveram legitimidade institucional para cumprir seu
trabalho, recebida do apoio e defesa de organizações como o Planned
Parenthood e o Instituto Kaiser Wilhelm. Ambos se consideravam pioneiros
trabalhando na fronteira científica e progressista; Gosnell deu continuidade
à visão da Planned Parenthood exatamente da mesma forma como Mengele
se via avançando a visão do Instituto Kaiser Wilhelm.
Parece exagero, e mesmo errado, comparar a principal instituição da
eugenia nazista com a Planned Parenthood? De modo nenhum. Em alguns
aspectos, a conduta desta última chega a ser pior. Enquanto a organização se
apresenta como um promotor benigno do “controle de natalidade”, seu
modus operandi foi revelado por uma série de vídeos gravados
secretamente mostrando funcionários dispostos a vender membros extraídos
de fetos abortados, resultado da organização nacional da indústria de aborto.
Estes funcionários não expressaram repulsa ou remorso moral pela prática.
Em maio de 2017, um novo vídeo apareceu, com abortistas filiados à
Planned Parenthood admitindo cenas macabras. Um falou de garantir a
morte usando “um segundo conjunto de fórceps para segurar o corpo no
colo do útero e retirar uma ou duas pernas”. Outro confessou, para o riso
dos demais, que, fato recente, durante determinado procedimento abortivo
“um globo ocular caiu no meu colo, foi nojento”. Um terceiro confessou
que, quando as empresas de células-troncos quiserem comprar cérebros,
“vamos permitir o sofrimento se prolongar ao máximo, e então tentar
basicamente extraí-lo ou, na verdade, bom, pegar tudo e manter o material
separado do tecido para que nada se perca”.5 O Instituto Kaiser Wilhelm,
considerando-se uma organização de pesquisa de alto nível, nunca fez nada,
nem mesmo remotamente, parecido com isso.
Os progressistas querem distanciar-se de Gosnell, mesmo continuamente
defendendo ferozmente a Planned Parenthood. Em certo sentido, a esquerda
está desistindo de um dos seus pioneiros enquanto tenta salvar a instituição
principal que dará seguimento a esse tipo de trabalho. Tchau-tchau, Gosnell;
avante, Planned Parenthood. E caso alguém pergunte se o projeto eugenista
do Instituto Kaiser Wilhelm persiste ainda hoje, sim, persiste. Como
veremos, embora adequadamente modificado, o Instituto agora ganha cores
sob a bandeira da International Planned Parenthood.
De volta a Gosnell e Mengele. Na narrativa progressista, Gosnell “foi
longe demais”. Mas é o mesmo que dizer que Mengele foi longe demais.
Mengele seria aceitável aos olhos progressista se simplesmente tivesse se
contido um pouco? Na verdade, como a esquerda sabe, Mengele e Gosnell
simplesmente trilharam o caminho que os progressistas, em seus
respectivos países, lhes prepararam. Ambos acreditavam estar livrando-se
de pessoas descartáveis, tudo em prol da causa do progresso. A causa de
Mengele estava “dentro” do círculo esquerdista e progressista da Alemanha;
a causa de Gosnell está “dentro” do círculo esquerdista e progressista da
América atual.
Escrevendo para a revista Slate, o colunista e progressista William
Saletan pergunta: qual foi exatamente o crime que Gosnell cometeu? O que
ele fez de tão mal assim? Do ponto de vista da esquerda, não poderia ser
apenas um aborto de gestação tardia, afinal são muitos os esquerdistas e
partidários da Planned Parenthood que apoiam esse método abortivo.
Saletan cita Steph Herold e Susan Yanow, ambos defensores dos direitos
reprodutivos, argumentando que “as mulheres não são obrigadas a tomar
uma decisão enquanto não se sentirem prontas” e devem ser autorizadas a
optar pelo aborto, até mesmo no oitavo ou no nono mês de gestação. Da
mesma maneira, Marge Berer, organizadora da Reproductive Health
Matters, insiste que, independentemente dos limites de tempo e períodos,
“quem pensa ter o direito de proibir o aborto à mulher, que seja a uma única
mulher, não pode reivindicar para si a posição pró-escolha”.6 Aqui, então,
está a ideologia da Planned Parenthood, instituição que, tão certo quanto a
ideologia eugenista ajudou a criar Mengele, ajudou a criar Gosnell.
Gosnell foi julgado e condenado por três acusações de homicídio de
crianças em sua clínica. Estes foram apenas os casos mais gritantes que o
Estado decidiu processar. Gosnell hoje cumpre uma sentença perpétua por
homicídio em primeiro grau. Já na minha opinião, ele merece a pena de
morte para pagar por todas as crianças que assassinou. Se capturado após a
guerra, Mengele certamente teria sido executado. Mas, fugindo para a
Argentina, tornou-se, ironicamente, um abortista.7 E, em 1979, com a idade
de sessenta e sete anos, em São Paulo, Brasil, morreu acometido de um
acidente vascular cerebral.

Os Primeiros Campos de Extermínio


Examinamos até o momento o que há de paralelo entre nazistas e
democratas em questões como a escravidão, a remoção e aniquilação dos
índios, e o racismo, questões, até certo ponto, passadas. Certo, o passado
continua aqui, mas não da mesma forma. O racismo, por exemplo, não é o
mesmo hoje como há meio século ou há um século. Com efeito, os
democratas substituíram suas velhas fazendas no campo por novas, agora
urbanas, chamadas guetos para negros, bairros para latinos e reservas para
índios americanos. Eles transformaram milhões de minorias em pessoas
descartáveis, cujas vidas não lhes interessam e cuja principal utilidade é
depender. Conseguindo angariar votos, os democratas continuam felizes e a
utilidade das minorias permanece em prática.
Mas ainda assim existem diferenças importantes entre as novas
“fazendas” e as do passado. Os escravos precisavam trabalhar, as
populações minoritárias de hoje não precisam. E, na verdade, os democratas
preferem que seja assim, afinal o que eles querem são eleitores que
dependam deles até nas necessidades mais básicas da vida. Além do mais,
mesmo que, por assim dizer, cativos do pacto fáustico oferecido pelos
democratas, estes que dependem podem escolher deixar a fazenda. Quanto
aos escravos, se simplesmente tentassem, eles seriam caçados, capturados e
levados de volta ao cativeiro. Logo, as colônias urbanas não constituem
escravidão no sentido tradicional; e, enquanto a antiga escravidão das
fazendas e do senhorio podem ser comparadas aos campos de concentração,
segundo já vimos, as colônias urbanas de hoje, também sob poder dos
democratas, não podem.
Neste capítulo e em capítulos subsequentes serão examinados paralelos e
conexões entre os nazistas e a esquerda democrata; não são uma “história
antiga”, mas, antes, são coisas que se aplicam às ações da esquerda hoje.
Isso, por si só, é um enigma. Como é possível que os democratas da
esquerda continuem com práticas remontando aos nazistas? São práticas
provavelmente rechaçadas por associarem-se com o nazismo. Então como a
esquerda, que agora finge ser o partido antifascista e antinazista, afasta-se
das políticas e práticas fascistas e nazistas? Trata-se de uma manobra que
parece exigir não apenas audácia, mas também extrema desenvoltura.
Tal desenvoltura, com certeza, exige algumas grandes mentiras. A
esquerda precisa de alguma forma pegar suas próprias paridades e
equivalências com os nazistas e jogar a culpa na direita. O que, entretanto, é
insuficiente, porque a esquerda quer continuar fazendo as coisas que
costumava fazer quando estava em estreita aliança com o nazismo. Para
fugir disso, os esquerdistas precisam coligar um novo nome às suas
práticas, para camuflar o elo com o passado. A esquerda também precisa de
uma nova estratégia e de um novo programa que de alguma forma consiga
alcançar, ainda que não plenamente, o máximo possível daquele velho
objetivo. Essa, portanto, é a história de como a esquerda aprendeu a ser tão
astuta.
Comecemos por examinar o crime que une os nazistas com os
democratas — ou, nesse caso, mais precisamente, com os progressistas —
antes de analisarmos como a esquerda descobriu um modo de evitar a culpa
e, de fato, prosseguir com seus crimes, apesar do mau cheiro e do odor
pútrido que acompanharam a descoberta das atrocidades em questão. Há
não primeiramente o Holocausto, evento que entrou em cena mais tarde,
mas o crime que lhe serviu de exórdio, o que por vezes é chamado pelos
estudiosos de o “ensaio geral” para o Holocausto.
Em 1933, ano em que os nazistas assumiram o poder, eles emitiram a
“Lei para a Prevenção de Filhos com Doenças Hereditárias”, que exigia a
esterilização forçada de pessoas consideradas “inaptas”, incluindo imbecis,
esquizofrênicos, maníaco-depressivos, cegos e surdos, pessoas
diagnosticadas com deformidades físicas ou mentais e viciados em drogas e
substâncias alcoólicas. Cerca de trezentos e cinquenta mil alemães foram
esterilizados sob essa lei, entre 1933 e 1939.
Em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, a lei de esterilização foi
complementada e, até certo ponto, suplantada por uma nova lei eutanásica.
Nessa época, os nazistas tinham sob seu comando uma rede de campos de
concentração, incluindo campos de extermínio, onde os prisioneiros eram
exterminados por fuzilamento ou gás letal. Sob o programa chamado T4,
entre 1939 e 1941, os nazistas diagnosticaram cerca de duzentos mil
alemães com insanidade ou doenças incuráveis. Eles foram então
eutanasiados em câmaras de gás.8
Estas foram as primeiras câmaras de gás, usadas não para matar
propriamente judeus, mas os portadores de doenças físicas e transtornos
mentais. Elas foram as pessoas descartáveis originais. “As câmaras de gás
não foram projetadas para campos de concentração”, escreve o historiador
Timothy Snyder, “mas para a matança clínica do programa de eutanásia”.
Essas primeiras câmaras de gás eram menores e menos desenvolvidas,
menos industriais do que as construídas e usadas posteriormente no
assassinato de judeus, ciganos e outros povos, numa proporção muito maior.
No entanto, os procedimentos revelaram-se muito semelhantes. As vítimas
passavam por exame médico, no que as obturações de ouro da boca eram
removidas; depois elas eram submetidas ao processo de eutanásia mediante
gás venenoso, tipicamente monóxido de carbono bombeado por caminhões.
Em relação aos quatro dos mais famosos campos de extermínio, Snyder
comenta: “1,6 milhão de judeus mortos em Treblinka, Chelmni, Belzec e
Sobibor foram asfixiados por monóxido de carbono”. Em Auschwitz, os
nazistas usaram o gás cianeto de hidrogênio Zyklon B para matar mais um
milhão de judeus. Snyder diz que os supervisores das operações em
Treblinka, Belzec e Sobibor eram todos veteranos do programa nazista de
eutanásia.9 Assim, esse programa e a Solução Final do Partido Nazista
estão indissoluvelmente ligados.
Convém notar que mesmo a linguagem comum tem sido distorcida e
manipulada. A esse respeito, uma grande mentira já vigorava desde os
nazistas. A palavra ‘eutanásia’ significa “morte por misericórdia”. O termo
refere-se às pessoas velhas demais ou doentes e sentindo tanta dor que
recebem a morte como alívio. Nessas circunstâncias, e com seu
consentimento, ou, incapazes de consentir, com o consentimento de
familiares, elas são sacrificadas como um ato de misericórdia ou
compaixão. Mas, como o historiador Michael Burleigh ressalta, a morte por
misericórdia não tinha nada que ver com a cartilha nazista; a eutanásia não
passava de “um termo cosmético para o assassinato”.10

Aprendendo com os Progressistas


Quem então é o responsável por esses crimes horríveis, crimes que
abriram a porta para os horrores ainda maiores do Holocausto? Os nazistas,
é claro. Mas de onde eles tiraram a ideia para tanto? A resposta: dos
progressistas americanos. Não dos “democratas” desta vez, mas,
especificamente, dos “progressistas”. Por progressismo refiro-me ao
movimento de esquerda do início do século XX que buscava reformar as
leis trabalhistas e as condições de trabalho, mas um movimento também
obsessivamente preocupado com a melhoria social por meio do restringir da
imigração baseado-se na raça e através da eliminação das pessoas chamadas
inferiores, inaptas e descartáveis.
Sim, alguns republicanos eram progressistas também, mas moderados.
Exemplo típico é Theodore Roosevelt, que, anote isso, tornou-se um
ardente progressista somente quando deixou o Partido Republicano, depois
de dois mandatos presidenciais. Daí, ele voltou a concorrer pelo Partido
Progressista, ou, como foi apelidado, Partido Bull Moose. Não bastasse, o
progressismo suave de Roosevelt manteve-se em contraste com o duro
progressismo do democrata Woodrow Wilson, que estava enraizado numa
filosofia racista e eugenista. Embora seja plausível conceber Wilson, se
estivesse vivo na época, abraçando as leis nazistas de esterilização forçada,
é inconcebível pensar em Roosevelt fazendo o mesmo. Logo, não acuso
todos os progressistas, mas somente aqueles da esquerda que, juntos, deram
forma ao corpo antepassado, político e espiritual dos progressistas que hoje
estão no páreo.
Os progressistas da esquerda americana não apenas superaram os
nazistas, dando início a programas de encarceramento forçado e
esterilização em massa, mas também lhes mostraram um modo de
implementá-los. Os nazistas reconheceram o papel pioneiro da esquerda
americana no que diz respeito à formação dos seus próprios programas de
contracepção e matança. Os progressistas, por sua vez, parabenizaram-se
pela influência que exerceram sobre os nazistas. Tudo isso então foi varrido
para baixo do tapete por uma geração progressista subsequente, de modo a
esconder a culpa da esquerda e permitir que os programas eugenistas atuais
continuem esterilizados de qualquer associação com o nazismo.
“A América liderou o caminho da legalização e fomentação de
esterilizações eugênicas forçadas”, escreve a historiadora Angela Franks.11
Os progressistas tiveram seu primeiro sucesso no ano de 1907, quando o
estado de Indiana aprovou uma lei que exigia a esterilização de “criminosos
crônicos, lesados, deficientes mentais e estupradores”. Durante os próximos
trinta anos, vinte e seis outros estados passaram leis semelhantes. No início
da década de 1930, quando os nazistas chegaram ao poder, os estados
americanos já esterilizavam de duas a quatro mil pessoas por ano. No total,
cerca de sessenta e cinco mil pessoas foram esterilizadas contra a própria
vontade por consequência da legislação eugênica dos progressistas nos
Estados Unidos.
Por volta da mesma época, os progressistas persuadiram os estados de
todo o país a aprovar leis restritivas proibindo o casamento de brancos com
negros. Essas leis eram baseadas em um princípio que pressupunha a
inferioridade negra, apoiadas por pressões sociais que desencorajavam
todas as minorias, incluindo nativos americanos e hispânicos, de casarem-se
com brancos. Para os progressistas, essas leis e costumes de segregação
tinham o mesmo propósito das leis de esterilização forçada: proteger os
genes raciais da inundação e contaminação por pessoas “inúteis” e
“incapazes”.
O terceiro argumento desse mesmo projeto embasava-se no restringir da
imigração. Os progressistas entenderam que, em primeiro lugar, se
mantivessem fora essas pessoas supostamente degradadas, não seria
necessário segregá-las, esterilizá-las ou restringir suas perspectivas de
casamento. Em 1924, os progressistas receberam uma grande vitória com a
aprovação da Lei da Imigração, que restringia bruscamente a imigração ao
preferir os norte-europeus ou “nórdicos” e discriminando os imigrantes da
Ásia, África, América do Sul e até mesmo os vindos da Europa Central e
Meridional. Os progressistas hoje culpam Trump de apoiar políticas racistas
de imigração, sendo que foram os próprios progressistas que, na verdade,
implementaram tais políticas e até hoje nunca reconheceram ou pediram
desculpas.
A peça central da iniciativa progressista na América, no entanto, era a
eugenia. Originalmente, ela foi concebida na Inglaterra pelo primo de
Charles Darwin, Francis Galton. Tentando aplicar a teoria de Darwin da
sobrevivência do mais apto na espécie humana, Galton cunhou o termo
“eugenia” para descrever um projeto que melhoraria a humanidade
mediante a seleção genética. “Embora concebida na Inglaterra”, escreve
Angela Franks, “a eugenia nasceu de fato na América, onde um programa
político e legal bem-sucedido foi desenvolvido” para melhorar o que os
progressistas chamaram de estoque genético americano.12 Isso, nota-se, vai
muito além da sobrevivência do mais apto.
Os progressistas na América fundaram muitas organizações pelo
eugenismo, entre elas o Eugenics Record Office em Cold Spring Harbor,
Long Island, a National Conference on Race Betterment e a American
Breeders Association. Entre os principais eugenistas estavam Charles
Davenport, fundador do Escritório de Arquivos da Eugenia; Harry
Laughlin, primeiro superintendente do Escritório de Arquivos da Eugenia;
Leon Whitney, secretário executivo da Sociedade Americana de Eugenia;
Madix Grant, presidente da Sociedade de Zoologia de Nova Iorque e
administrador do Museu Americano de História Natural; Paul Popenoe,
editor do periódico Journal of Heredity; Eugene Gosney, diretor da
Fundação para a Melhoria Humana; e o progressista filantropo Clarence
Gamble.
Laughlin, talvez o mais influente eugenista na América, desenvolveu um
programa de esterilização em massa que visava como primeiro passo cobrir
10% da população. Em suma, ele queria esterilizar onze milhões de
pessoas. Laughlin pretendia compensar essas reduções na população, em
suas palavras, “incentivando a intensa fecundidade entre os mais dotados”.
Nada tão ambicioso quanto o projeto de 10% de Laughlin se concretizou,
mas sua estratégia de conseguir que mulheres se submetessem à
esterilização patrocinada pelo Estado foi implementada.
Basicamente, os educadores progressistas e as autoridades de saúde
começariam classificando as mulheres sem educação formal e de classe
baixa — a maioria delas negras, hispânicas ou ameríndias — como
“inaptas” ou “imbecis” congênitas.
A polícia era chamada e as mulheres eram então presas ou segregadas da
população em geral, aparentemente para evitar que contaminassem outros.
Em alguns casos, as mulheres eram postas em cativeiro por tempo
indeterminado, com o objetivo de impedi-las de reproduzir durante os seus
anos fecundos.
Após o encarceramento ou confinamento forçado, as mulheres poderiam
optar por serem esterilizadas e retornar a uma vida normal. Diante da
escolha entre segregação e prisão de um lado ou esterilização do outro,
muitas mulheres submetiam-se à esterilização. Consequentemente, os
funcionários do serviço social progressista classificavam as esterilizações
como “voluntárias” em vez de coagidas.
Os eugenistas progressistas na América também introduziram a ideia de
eutanásia como uma alternativa ao encarceramento e à esterilização
forçada. O principal defensor da matança de pessoas indesejáveis, inaptas,
foi Paul Popenoe, geneticista atuante na Califórnia, que argumentou em seu
compêndio Applied Eugenics [Eugenia Aplicada], no qual, em se tratando
de débeis congênitos ou pessoas que praticavam crimes recorrentes,
escreve: “o primeiro método que se tem é a execução”.13 Popenoe propôs
“câmaras letais” para realizar essas execuções.
A sugestão de Popenoe havia sido controversa desde o início. No fim das
contas, os progressistas rejeitaram a eutanásia, desconsiderando-a como
programa viável para fins de eliminar pessoas descartáveis, mas ainda
afirmavam o princípio de que elas deveriam ser eliminadas de outras
formas. Entretanto, onde os progressistas americanos traçaram uma linha,
os nazistas avançaram com seu próprio programa de eutanásia, em grande
parte alinhado pelas ideias que Popenoe propôs originalmente.
Os progressistas a favor do eugenismo na América mediaram-se com
seus homólogos europeus em conferências internacionais. Veja bem como o
eugenismo atraía a esquerda política não só na América, mas também na
Inglaterra e na Alemanha. Na Inglaterra, por exemplo, entre os paladinos da
eugenia estavam Fabian George Bernard Shaw, que era socialista, H. G.
Wells, romancista utópico e esquerdista, e John Maynard Keynes,
economista progressista. Na Alemanha, o principal teórico marxista, Karl
Kautsky, fomentava o eugenismo assim como seu companheiro socialista,
Eduard David.
Outro socialista de notável presença, o médico alemão Alfred Ploetz,
defendia a eugenia desde a década de 1880 e viveu tempo suficiente para
ver seu sonho eugenista realizado na Alemanha nazista. Ploetz e seu
companheiro socialista, Ernst Rudin, fundaram a Sociedade da Higiene
Racial. Rudin mais tarde foi feito o maior estruturador do programa do
eugenismo nazista e participante dos departamentos superiores de saúde do
regime nazista, criados para decidir quem deveria ser esterilizado à força.
Os mais importantes nazistas em prol do eugenismo da década de 1930 —
Rudin, Fritz Lens e Eugen Fischer — eram todos homens de esquerda que
interagiam de perto com os progressistas dos Estados Unidos.
Nas conferências internacionais pelo eugenismo, os alemães eram
tipicamente considerados a segunda comunidade eugenista mais avançada
do mundo; os americanos eram os mais avançados. É provável que a mais
significativa dessas conferências tenha sido o Terceiro Congresso
Internacional pela Eugenia, que ocorreu em 1932 no Museu de História
Natural de Nova Iorque. Um ano antes de os nazistas ascenderem ao poder,
a imprensa alemã falou, com entusiasmo, acerca do “progresso” das
políticas eugenistas dos Estados Unidos.
“A Alemanha certamente desenvolveu seu próprio corpo de
conhecimento eugenista”, escreve Edwin Black, no livro The War Against
the Weak [A Guerra Contra os Fracos]. “No entanto, os leitores alemães
ainda tinham por forte modelo as conquistas do eugenismo americano — os
tribunais biológicos, a esterilização forçada, a detenção de pessoas
socialmente inaptas, debates a respeito da eutanásia”. Aos olhos dos
progressistas americanos, mesmo antes dos nazistas, “uma raça superior de
nórdicos era cada vez mais vista como a solução final para os problemas do
eugenismo pelo mundo”. E no que os nazistas puseram em prática suas
políticas eugenistas, os progressistas norte-americanos caíram em inveja,
com um deles protestando que “os alemães estão nos dando uma surra no
nosso próprio jogo”.14

Refreando as “Ervas Daninhas Humanas”


Uma personagem sombria intimamente relacionada ao movimento
eugenista é a fundadora da Planned Parenthood, Margaret Sanger. Na
verdade, os principais eugenistas evitavam Sanger, considerada por eles
uma pessoa de credenciais acadêmicas fracas e pessoalmente excêntrica.
Apesar dos pedidos frequentes de Sanger, eles mantinham recusa a falar em
suas conferências ou a convidá-la para que se juntasse aos seus conselhos.
Entre eles, alertavam-se à suspeita de que Sanger levaria a causa eugenista
ao descrédito. Mesmo assim, ao longo de sua vida, Sanger defendeu
descaradamente o eugenismo e procurou desesperadamente a aprovação dos
líderes da causa eugenista.
Uma amostra do cortejo persistente de Sanger com os pesos-pesados da
eugenia está em seus seus convites anuais enviados a Charles Davenport,
pedindo que ele discursasse em suas várias conferências. Davenport
recusou-se repetidas vezes. Desesperada por “conseguir” Davenport, Sanger
instou seu colega de trabalho, Edward East, amigo de Davenport, que
convencesse Davenport a juntar-se ao conselho da Birth Control League
[Liga de Controle de Natalidade], Massachusetts. Davenport novamente
disse não. Finalmente, depois de muito suplicar, Davenport concordou com
participar de uma mesa-redonda sobre eugenia e controle de natalidade
durante a Conferência Internacional Neomalthusiana e de Controle de
Natalidade de 1925. Esse foi o único assentimento que Sanger conseguiu de
Davenport. Ocorre que foi mais um ceder à perseguição obstinada do que
um empenho por formar alianças.
Para destacar a ávida defesa eugenista de Sanger, cabe considerar dois
documentos reveladores: seu artigo “My Way to Peace” [Meu Caminho para
a Paz], de janeiro de 1932, e seu artigo “America Needs a Code for Babies”
[A América Precisa ter um Código de Controle para Bebês], de 27 de março
de 1934. Neste último, Sanger convoca o governo a estabelecer um código
“para a melhor repartição dos bebês [...] para proteger a sociedade contra a
propagação e o aumento dos inaptos”. Esse código deveria declarar, dizia
ela, que “nenhuma mulher deveria ter o direito legal de ter filhos e nenhum
homem de ser pai sem uma permissão à paternidade”. Além disso,
“nenhuma permissão à paternidade deveria ser válida para mais de uma
concepção”.
Quanto aos inaptos, Sanger insiste que “Diversos grupos de pessoas
socialmente inaptas, como, por exemplo, os doentes mentais e os
criminosos, não são suficientemente sensíveis à educação ou à pressão
moral da comunidade”. Sanger identifica que cinco milhões de americanos
cumpriam seus critérios de degeneração mental ou moral”. Ela declarou
morbidamente: “Para tais pessoas, a esterilização é indicada”, mas “em caso
de dúvida”, elas devem ser “rigorosamente isoladas, que assim evitemos a
perpetuação de suas aflições geradas pela reprodução”. Em seu artigo de
1932, Sanger pede a fundação de “fazendas e propriedades onde os
segregados seriam ensinados a trabalhar sob instrutores competentes” e
impedidos de reproduzir “por toda a vida”.15
Sanger era, à semelhança de muitos progressistas do seu tempo, uma
racista declarada que considerava os negros como pessoas baixas e sem
educação, merecedoras da segregação e esterilização forçada. Sob convite,
Sanger aceitou discursar acerca da ramificação feminina da Ku Klux Klan
em Nova Jersey e estabeleceu um projeto especial, chamado Negro Project,
a fim de pressionar pessoas negras de baixa renda a se inscreverem em
programas de controle de natalidade e esterilização. Em carta a seu amigo e
sócio, Clarence Gamble, Sanger explica por que contratou ministros negros
para serem seus embaixadores na comunidade negra. “Nós não queremos
que a notícia de que nosso desejo é exterminar a população negra se
espalhe, e o ministro é o homem que pode dispersar essa ideia, caso algo
venha a acontecer com algum de seus membros mais rebeldes”.16
A militância de Sanger é tão flagrante e persistente que é claro quão
desonestas são as tentativas de seus biógrafos progressistas quando negam o
papel central que o eugenismo exerceu em sua ideologia. No livro de Linda
Gordon, Woman’s Body, Woman’s Right [O Corpo da Mulher, o Direito da
Mulher], o qual consiste numa história do movimento de controle de
natalidade na América, a autora tenta distinguir a eugenia de Sanger,
supostamente modesta, benigna e de esquerda, da eugenia supostamente
extremista, maligna e de direita que emergiu com o nazismo.17 Tamanha
distinção não passa da mais pura ficção e depende inteiramente da
suposição de que o nazismo fosse, de alguma forma, de direita. Como já
entendemos, isso faz parte da grande mentira. Com efeito, a eugenia de
Sanger e a eugenia nazista eram farinha do mesmo saco, fato percebido por
ela própria.
Percebe-se isso em dois dos associados próximos de Sanger, Clarence
Gamble, que financiava os projetos de Sanger e falava em suas
conferências, e Lothrop Stoddard, que publicava nas revistas de Sanger e
atuava no conselho da Liga Americana de Controle de Natalidade, a
organização precursora do Planned Parenthood. Stoddard foi o autor mais
vendido de um folheto notório, The Rising Tide of Color Against White
World Supremacy [A Crescente Maré da Cor Contra a Supremacia do
Mundo Branco], retratando a antiga raça nórdica como sendo pisada através
da imigração e do casamento inter-racial por multidões degeneradas de
outras raças inferiores. Tanto Lothrop quanto Gamble tornaram-se ávidos
simpatizantes do nazismo, procurando importar programas de esterilização
nazistas em toda a sua magnitude para a América.
Gamble proclamava que o programa nazista “garantiria à Alemanha um
lugar na história das raças” e insistia que “estabeleceria o padrão que outras
nações e outros grupos raciais deveriam seguir”.18 Stoddard viajou para a
Alemanha, onde encontrou-se com os principais eugenistas raciais do
regime nazista, Eugen Fischer e Fritz Lenz. Também teve encontro com os
principais oficiais nazistas, Heinrich Himmler e Joachim von Ribbentrop, e
até mesmo conseguiu uma cobiçada audiência com Hitler. O livro de
Stoddard escrito em 1940, Into the Darkness [No Interior da Escuridão], é
um louvor ao eugenismo nazista e de Hitler. Esses eram os círculos que
Sanger frequentava e o tipo de pessoas com quem ela se associava.
Agora cabe mencionar a própria Sanger. Em abril de 1933, a revista
Birth Control Review, editada por Sanger, publicou um artigo “Esterilização
Eugênica, uma Necessidade Urgente”, escrito por Ernst Rudin, maior
estruturador do programa nazista de esterilização e mentor de Joseph
Mengele, e também reimprimiu um livreto que ele escreveu para os
eugenistas britânicos. Escrevendo em 1938, enquanto o projeto de
esterilização do regime nazista estava em pleno andamento, Sanger pediu
que os Estados Unidos fizessem o que os nazistas estavam fazendo. “Na
indústria animal, o gado inferior não tem permissão para reproduzir”, disse
Sanger. “Nos jardins, as ervas daninhas são mantidas podadas”. A América,
concluiu Sanger, deve aprender com os alemães e cumprir o próprio
mandato da natureza de livrar-se das “ervas daninhas humanas”.19

O Exemplo Americano para Hitler


Adolf Hitler parece nunca ter ouvido falar de Margaret Sanger. Quando
preso em Landsberg, no entanto, ele já seguia o darwinismo social,
ideologia que daria forma não só à sua filosofia social, mas também à sua
política externa. Por exemplo, ele via nações envolvidas em uma luta
darwiniana por sobrevivência com apenas os mais fortes, ou mais aptos,
destinados a sobreviver. O historiador Richard Weikart escreve no livro
From Darwin to Hitler [De Darwin a Hitler] que “Hitler valeu-se
extensamente do pensamento proveniente do darwinismo social para
construir sua própria filosofia racista”.20
Enquanto na prisão, Hitler comentou sobre como os progressistas na
América haviam passado leis de imigração baseadas na raça que davam
tratamento preferencial aos brancos, mas discriminavam pessoas negras,
amarelas e pardas. Mesmo entre os brancos, as leis preferiam os imigrantes
do norte da Europa — os países nórdicos — aos do leste e do sul da Europa,
julgados inferiores pelos progressistas. Hitler aprovava completamente as
premissas por trás dessa legislação progressiva.
“O germano que habita no continente americano”, escreveu Hitler em
Mein Kampf, “e que se manteve racialmente puro e sem mistura, surgiu para
dominar o continente; ele permanecerá mestre desde que não seja vítima da
corrupção do sangue”. Uma maneira de preservar a pureza dos nórdicos na
América era, é claro, restringir a entrada de outros povos. Hitler invocou o
exemplo americano para explicar o porquê de ser favorável às leis contra a
mistura racial na Alemanha.
Hitler também pretendia, ao tomar o poder, purgar a Alemanha do que
ele considerava ser uma raça inferior, invocando, para tanto, as leis de
imigração progressistas da América, objetivando mostrar como lá já haviam
adotado, por meio das leis de imigração, o mesmo princípio geral. Embora
não gostasse de admitir a liderança americana — ele queria que a Alemanha
liderasse em todas as frentes —, Hitler admitiu, mesmo com raiva, que a
imigração era uma área onde os nazistas teriam de alcançar os progressistas
norte-americanos.
Em Mein Kampf, Hitler escreve: “Há hoje um Estado em que pelo menos
fracos avanços rumo a uma melhor concepção são visíveis. Claro que não é
o modelo de nossa República Alemã, mas da União Americana, na qual é
feito grande esforço para consultar a razão, pelo menos parcialmente. Ao
recusar, por princípios, a imigração, considerando elementos de
precariedade na saúde, simplesmente excluindo certas raças da
naturalização, professa-se, no início lentamente, uma visão peculiar do
conceito de estado Völkisch”.
Uma vez que Hitler tivesse entendido a política de imigração como um
mecanismo para manter as pessoas descartáveis de fora, ele então
entenderia, em primeiro lugar, a eugenia como um mecanismo para impedir
que elas se reproduzissem e nascessem. “A exigência de que pessoas com
deficiências sejam impedidas de propagar descendência igualmente
defeituosa”, escreveu Hitler, “é uma exigência da mais clara razão. Se
executada sistematicamente, representa o ato mais humano da
humanidade”.21 Perceba como Hitler, seguindo o progressismo clássico,
apresenta suas ideias não como um ataque ao humanitarismo, mas como sua
melhor execução.
Hitler comunicou sua familiaridade com a legislação do progressismo
eugenista dos Estados Unidos. E mais uma vez reconheceu, com certa
irritação, que, também nesse ponto, progressistas e socialistas na Alemanha
teriam de seguir seus homólogos nos Estados Unidos. “Estudei com grande
interesse e afinco as leis de vários estados americanos em relação à
prevenção da reprodução de pessoas cuja progênie provavelmente não teria
valor ou seria prejudicial à linhagem racial”.
Interessante dizer, Hitler sabia que havia conservadores religiosos na
América que se opunham a tais leis por serem draconianas e excessivas. Ele
os desprezava, chamando-os de “mentirosos” e “hipócritas”. Não bastasse,
também agiu para rapidamente refutar tais objeções. “Eventuais excessos”,
disse Hitler, “não constituem prova da incorreção dessas leis. Isto
unicamente nos exorta à maior conscientização possível”.22
Hitler por vezes é caracterizado pela esquerda como conservador,
dedicado ao casamento e à família tradicional. Vejamos o que Hitler
realmente diz com seu livro Mein Kampf acerca do propósito que o
casamento carrega: “O casamento não pode ser um fim em si mesmo, mas
deve servir àquele propósito mais elevado, o aumento e a preservação das
espécies e da raça. Este somente é o seu significado e sua incumbência”.23
Por consequência, o casamento não é primariamente um meio de unir
pessoas que se amam e dar-lhes as alegrias da paternidade; ao contrário, o
casamento existe, em grande parte, para servir aos objetivos coletivos do
Estado e das espécies. Nenhum tradicionalista concordaria com isso, mas
muitos progressistas concordaram e ainda concordam.
Por meio de onde Hitler se familiarizou com as fontes americanas?
Enquanto na prisão, Hitler lia com avidez os folhetos e compêndios da
didática eugenista, que citavam extensivamente Davenport, Popenoe e
outros progressistas do eugenismo. Hitler compartilhou suas ideias com seu
companheiro de cela, Rudolf Hess, mais tarde uma figura proeminente do
Terceiro Reich, a mesma que popularizou o lema “O nacional-socialismo é
nada mais do que a biologia aplicada”.24
O próprio Hitler foi especialmente influenciado pelos escritos de Leon
Whitney, da Sociedade Americana de Eugenia, e Madison Grant, autor de
vários livros que exaltam a superioridade racial nórdica e criticam a
corrupção dela por raças menores. Para próprio deleite, Hitler observou que
esses americanos não meramente defendiam a superioridade racial europeia
ou branca, mas especificamente a superioridade germânica ou nórdica.
Durante a década de 1930, Whitney em certa ocasião visitou Grant, na
época presidente de um comitê eugenista de imigração. Whitney foi para
mostrar a Grant uma carta que havia acabado de receber de Hitler
solicitando uma cópia do livro de Whitney intitulado The Case for
Sterilization [Em Defesa da Esterilização]. Para não ser ultrapassado, Grant
pegou sua própria carta de Hitler em que era elogiado por escrever a obra
The Passing of the Great Race [A Morte da Grande Raça], livro que Hitler
chamou de sua própria “bíblia” eugenista.25 O que isso mostra é que os
eugenistas progressistas na América não estavam apenas cientes, mas
também orgulhosos de associar-se com Hitler.
Pouco depois de os nazistas implementarem seus programas de
esterilização e eutanásia, Paul Popenoe elogiou Hitler por basear
“solidamente suas esperanças de uma regeneração biológica na aplicação de
princípios biológicos da sociedade humana”. O jornal Eugenic News, de
Harry Laughlin e Charles Eugen, chamou o programa nazista de “o marco
histórico que registra o controle das nações mais avançadas do mundo sob
um aspecto importante do controle da reprodução humana”. Se esses
comentários parecem praticamente incompreensíveis hoje, o historiador
Stefan Kuhl explica que os eugenistas do progressismo “entendiam as
políticas nazistas como a realização direta de seus objetivos científicos e
demandas políticas”.26
Outro exemplo do entusiasmo progressista com o programa de
esterilização de Hitler envolve Charles Goethe, fundador da Sociedade de
Eugenismo do Norte da Califórnia, que, ao retornar à Alemanha após viajar
em busca de fatos, em 1934, escreveu uma carta de felicitações ao colega
Eugene Gosney, chefe da Human Betterment Foundation [Fundação em
prol do Aperfeiçoamento Humano], sediada em San Diego. “Você desejará
saber”, disse Goethe por carta, “que seu trabalho desempenhou papel
poderoso na definição das opiniões do grupo de intelectuais que estão por
trás de Hitler neste programa que definirá toda uma era. Durante todo o
processo, percebo que suas opiniões foram tremendamente estimuladas pelo
pensamento americano e, em particular, pelo trabalho da Human Betterment
Foundation. Desejo que você, meu querido amigo, carregue consigo este
pensamento pelo resto de sua vida”.27

Cobrindo Rastros
Foi Hitler, aponta o historiador George Fredrickson, que “prejudicou o
nome do racismo”.28 Na verdade, Fredrickson enfatiza que o próprio termo
“racismo” não passou a ter uso genérico antes da década de 1930, então em
conexão com a ascensão do Terceiro Reich. Enquanto os antigos
progressistas deleitavam-se na ocasião de associar-se com Hitler, a partir da
Segunda Guerra Mundial eles passaram a trabalhar com afinco para
encobrir pistas e enterrar todo tipo de conexão entre a causa progressista e a
causa nazista.
Um importante documento, neste enorme projeto que é a grande mentira,
é o livro do historiador Richard Hofstadter, Social Darwinism in America
[O Darwinismo Social na América]. Interessante notar, o livro foi publicado
em 1944, antes que os Aliados libertassem os campos de concentração e as
atrocidades nazistas fossem totalmente expostas. Mesmo em 1944, no
entanto, ter associação com os nazistas tornou-se algo politicamente
radioativo, e daí que Hofstadter começou a trabalhar para redefinir o
darwinismo social, romper vínculos com o eugenismo progressista e
vinculá-lo à direita política.
Hofstadter, esquerdista uma vez já membro do Partido Comunista, disse
que se juntou ao partido porque “não gostava do capitalismo”. Mesmo
depois de romper com o partido, ele manteve animosidade. “Odeio o
capitalismo e tudo aquilo que o acompanha”.29 A estruturação da grande
mentira, agora por parte de Hofstadter, implicava redirecionar o darwinismo
social e transformá-lo no fundamento filosófico do livre mercado, ou
capitalismo laissez-faire. Isso garantiria que, no futuro, a culpa do
darwinismo social pudesse ser colocada sobre “a direita”.
Hofstadter construiu seu argumento em torno da frase do sociólogo
inglês Herbert Spencer, “a sobrevivência do mais apto”. Esta, insistiu
Hofstadter, é a essência do capitalismo laissez-faire. Precisamente falando,
esse aspecto visceral da ideologia darwiniana, prossegue Hofstadter, é o que
os empresários americanos mais acham conveniente no darwinismo social.
Hofstadter dedicou grande parte do seu livro a Spencer e ao sociólogo
americano William Sumner, que, de fato, invoca a retórica da sobrevivência
do mais apto para defender o capitalismo.
Sumner, no entanto, foi praticamente o único a fazê-lo. Hofstadter
parecia incapaz de localizar outros exemplos da América, nem preocupado
estava com indagar empresários americanos. Houvesse feito, certamente
teria descoberto que a maioria não tinha ouvido falar do darwinismo social.
Se homens assim tivessem alguma base filosófica para a profissão, muito
mais provável que fosse em Adam Smith ou Friedrich Hayek, não em
Charles Darwin ou Herbert Spencer.
No fim de seu livro, Hofstadter faz algumas rápidas referências à
conexão entre o darwinismo social e a eugenia. Mesmo assim ele deixa uma
clara impressão de que se tratava de uma menor associação e amplamente
inesperada; em certo ponto, ele chama a eugenia americana de
“capricho”.30 Era, porém, como já notamos, muito mais do que isso.
Hofstadter não diz nada a respeito da forma como o eugenismo dos
progressistas inspirou leis de esterilização e modelou programas
eutanásicos na América, coisas que reconhecidamente forneceram estrutura
para programas de esterilização e de eutanásia ao regime nazista.
Os progressistas foram depressa louvar a grande mentira de Hofstadter,
proclamando seu livro uma obra-prima, fator que o ajudou a tornar-se
modelo a ser seguido sobre o assunto. Desde então, mesmo os historiadores
simpatizantes de Hofstadter — como o historiador progressista Eric Foner,
ex-aluno de Hofstadter na Universidade Columbia — reconhecem que as
teorias do livro Social Darwinism in America [O Darwinismo Social na
América] são profundamente falhas. A obra, contudo, continua a definir a
sabedoria convencional para a esquerda.
Trabalhos subsequentes lidando com a eugenia, como o livro In the
Name of Eugenics [Em Nome da Eugenia], de Daniel Kevles, fazem apenas
poucas referências aos fundamentos progressistas do eugenismo e aos
estreitos laços entre eugenistas do Partido Progressista e eugenistas do
Partido Nazista. Mesmo a obra The Nazi Connection [A Interligação
Nazista], escrita por Stefan Kuhl, que documenta a íntima influência do
eugenismo norte-americano sobre a eugenia nazista, recai sobre o engano
de Hofstadter de que a própria eugenia é, em grande medida, uma causa
direitista. Assim, a influência de Hofstadter continua viva, na medida em
que seu trabalho ainda apoia e avança a grande mentira.
Em circunstâncias ordinárias, o engodo promulgado por Hofstadter teria
sido suficiente. Por meio dos seus esforços, a esquerda teria enterrado o
programa eugenista e transferido o estigma do darwinismo social para a
direita política. Com essa manobra, no entanto, a esquerda pretenderia
continuar com sua agenda eugenista. Consequentemente, era necessário
redefinir a própria eugenia, para que ela então pudesse se passar por algo
diferente. Mas até mesmo isso não seria suficiente. Dando outro nome à
eugenia e ainda visando explicitamente populações minoritárias, aos velhos
moldes nazistas, a esquerda demonstraria óbvio relacionamento com o
nazismo.
O desafio à esquerda era formular uma nova agenda, uma que
renomeasse a eugenia e incorporasse seu programa em um quadro novo e
mais amplo. A historiadora Angela Franks nota que esse quadro começou
sob o nome de “controle populacional”, nas décadas de 1960 e 1970.31
Inclusive, mesmo alguns eugenistas de renome do regime nazista como
Otmar von Verschuer declararam-se pesquisadores do controle populacional
e foram reintegrados na comunidade progressista que ativamente promovia
a causa. Todavia, durante as últimas décadas, a eugenia tem marchado sob
uma nova bandeira, a bandeira “pró-escolha”.
Margaret Sanger, eugenista ávida, hoje é celebrada pela Planned
Parenthood como preciosa defensora da “escolha”. É dificílimo de
encontrar nos folhetos da Planned Parenthood referências à eugenia e ao
papel pioneiro que Sanger exerceu na organização. Tudo isso faz parte da
grande mentira; a verdadeira Sanger opunha-se à escolha. Fácil notar, ela
defendia que as populações ricas, educadas e “aptas” deveriam ter mais
filhos, já as mais pobres, sem instrução e “inaptas” deveriam ter menos.
Sanger, à semelhança de Hitler, acreditava que escolhas reprodutivas
deveriam satisfazer os interesses maiores da sociedade e das espécies.
Sendo que Sanger rejeitava a “escolha”, como a agenda pró-escolha da
Planned Parenthood continua a avançar os objetivos originais de Sanger?
Afinal, uma verdadeira agenda pró-escolha parece transferir a decisão do
aborto para a mãe. Perceba a profunda tragédia que é o aborto; não se trata
de uma mãe meramente matando uma criança, mas de uma mãe matando a
sua própria criança. O papel do Estado é simplesmente autorizar o
assassinato, torná-lo legal.
Embora a mãe faça a escolha, sua escolha não é feita no vácuo; a
Planned Parenthood faz propaganda ávida em prol do aborto e também
lobby em favor do financiamento federal para o procedimento abortivo. Se
o governo não pagar, a esquerda insiste, então as mulheres pobres terão
dificuldade de abortar. Com o subsídio do governo, no entanto, a esquerda
pode garantir não só que a população mais pobre possa realizá-los, mas —
o que é de fato o caso — também que a maioria dos abortos neste país seja
realizada pelas proles minoritárias e mais pobres. Inacreditável dizer, o
antigo desejo eugenista é mais uma vez satisfeito, mas desta vez no quadro
supostamente neutro da “escolha”.
Para entender o radicalismo do apoio da esquerda ao aborto financiado
pelo governo federal, basta considerar que o aborto como direito não é
mencionado na Constituição. No entanto, ainda que fosse considerado
direito constitucional, nenhum dos outros direitos fundamentais é
financiado pelo governo. Ainda que a Primeira Emenda disponha o direito à
livre expressão e à livre prática da religião, ainda assim nenhum deles é
subsidiado pelo governo. A Segunda Emenda garante o direito de portar
armas, mas o governo não as paga. É direito constitucional o reunir-se em
grupos para determinados fins, mas o Estado não subsidia tal direito.
Assim, a esquerda quer um tipo de apoio federal para a causa do aborto que
nenhum desses direitos fundamentais recebe. Ademais, o apoio federal
transforma o aborto, que antes era um homicídio sancionado pela força
estatal, num assassinato patrocinado pelo Estado.
Até hoje, mais de cinquenta milhões de crianças não nascidas foram
mortas na América após a decisão da Suprema Corte em 1973, no caso Roe
vs Wade. Verdade seja dita: trata-se de um genocídio numa escala que
supera o Holocausto nazista. O que é o aborto, senão uma eutanásia para
bebês? Desse modo a esquerda prosperou além dos sonhos mais selvagens
de Sanger, mesmo após desenterrá-la com seus registros eugenistas e
transformá-la em ícone cultural, da forma como Mengele gostaria de ser
lembrado. Quão orgulhosos e até mesmo invejados Sanger e os nazistas
seriam se estivessem vivos para contar história. Para os progressistas, a
grande mentira valeu muitíssimo a pena.
Onde a esquerda obteve essa nova estratégia eugenista? Pensei muito
acerca disso, então finalmente entendi. Eles a conseguiram desenterrando o
próprio passado, a partir de uma abordagem democrata centenária, o
método de lidar com a escravidão. “Escolha”, afinal, era a palavra de ordem
dos democratas do Norte liderados pelo senador Stephen Douglas, de
Illinois. Douglas lançava mão de sua doutrina da “escolha” para apoiar a
instituição da escravatura sulista enquanto, ao mesmo tempo, era ainda
capaz de garantir aos eleitores do Norte que ele próprio não estava
defendendo a escravidão.
Cabe lembrar o significado central da infame doutrina de Douglas acerca
da “soberania popular”. Ele defendia que cada estado, cada território e cada
comunidade tinham de decidir por si se queriam ou não a escravidão.
Douglas dizia não endossar pessoalmente a escravidão, mas que sua opinião
sobre o assunto era irrelevante. Vivemos em um país grande, dizia ele, em
que as pessoas possuem opiniões diferentes. Portanto, concordemos em
discordar e coloquemos o poder de decisão nas mãos de cada estado ou
comunidade. Dessa forma o direito de escolha passa a ser supremo. A
soberania popular, em outras palavras, é uma ideologia pró-escolha.
O argumento de Douglas é idêntico na forma, e quase idêntico na
substância, à ideologia pró-escolha agora empregada pela esquerda para
defender o aborto como direito. Toda a cadência da retórica de Douglas é
completa e estranhamente familiar. Claro que a esquerda de hoje fala em
termos de escolha individual, enquanto Douglas falava em termos de cada
comunidade fazendo uma escolha por si mesma. Mas essa é a única
diferença, e ela é insignificante.
No mais, as duas posições formam a mesma posição. Ouvimos hoje da
esquerda a mesma afirmação de “escolha” que Douglas asseverava há quase
um século, mas sem considerar o conteúdo de tal escolha. Assim como
Douglas ignorou os direitos dos escravos, presumindo que eles não teriam
interesse pela própria liberdade, de igual maneira a esquerda ignora o
direito à vida da prole em desenvolvimento, pressupondo que eles não têm
interesse por viver ou morrer. O feto de hoje, tal qual o escravo de
antigamente, é considerado uma ferramenta para benefício e conveniência
de outra pessoa. Ele ou ela não é um ser humano, ou ao menos é um ser
humano, mas totalmente descartável. Nesse sentido, a mentalidade nazista,
letal e desumanizadora, perdura.
Capítulo Sete
Führers
Americanos
Muitas passagens no livro do presidente Roosevelt poderiam ser
escritas por um nacional-socialista. Supõe-se que ele tenha uma
afinidade considerável com a filosofia do nacional-socialismo.1
Crítica do Völkischer Beobachter, jornal nazista, ao livro
de Franklin D. Roosevelt intitulado Looking Forward

No início da década de 1930, a administração recém-inaugurada de


Roosevelt tomou uma decisão fatídica. Decidiu não tentar fazer da América
um país socialista. O socialismo, é claro, exigiria uma nacionalização
extensiva da indústria. Com efeito, o governo assumiria o setor privado:
bancos, setores de comunicação, energia, saúde, educação e assim por
diante. Estritamente falando, o socialismo envolve trabalhadores que detêm
os meios de produção. Ao tentar superar a Grande Depressão, Franklin D.
Roosevelt (FDR) e sua equipe progressista claramente rejeitaram o caminho
socialista.
Mas que caminho eles escolheram então? Aqui a narrativa esquerdista
entra em cena. De acordo com os biógrafos progressistas de FDR, ele
escolheu um “caminho intermediário” entre o socialismo e o capitalismo, o
caminho do bem-estar social. Ao fazê-lo, transformou o progressismo no
salvador do capitalismo americano. O progressismo — esta história conta
— resgatou a economia americana e supriu os meios para vencer a
Segunda Guerra Mundial. Nesse rumo, FDR é o herói canonizado do
progressismo americano. Os presidentes democratas subsequentes, de
Lyndon Johnson a Obama, procuraram expandir o poder do Estado,
invocando o modelo de FDR.
A Grande Sociedade de Johnson ergueu-se conscientemente com base no
New Deal de FDR. E os funcionários de Obama, ao longo de oito anos,
nunca se cansaram de ressoar FDR, não só para pressionar o programa
Obamacare, mas também para comparar as ações de Obama na onda da
crise hipotecária de 2008 às ações de FDR na onda da quebra do mercado
de ações de 1929. Em essência, Obama fez com que o governo federal
adquirisse as indústrias bancárias e financeiras — novamente, não uma
nacionalização real, mas um capitalismo gerido pelo Estado, no qual o
governo efetivamente controlava essas indústrias e ditava-lhes o que fazer.
Por meio do programa Obamacare, os progressistas estabeleceram o
controle estatal sobre o setor de cuidados de saúde, um sexto de toda a
economia. Por meio dos poderes de regulamentação da Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos (APA) e de outras agências, o governo
federal manipula ativamente — embora ainda não controle — a indústria de
energia. Durante a campanha de 2016, Hillary e Bernie avançaram
propostas que aumentariam o controle do governo sobre o ensino superior.
Por meio do sistema de escolas públicas, o governo, é claro, já controla
grande parte do ensino fundamental e secundário.
Embora os progressistas continuem a retratar essas medidas como um
“caminho intermediário” entre o socialismo e o capitalismo, há um nome
técnico para tanto: fascismo. Isso é o que fascistas como Giovanni Gentile e
Mussolini realmente defendiam. Eles não eram favoráveis à propriedade do
Estado socialista; Gentile e Mussolini sabiam que seus companheiros
socialistas não tinham ideia de como gerir as indústrias. Em vez disso, eles
defendiam o capitalismo estatal, colocando a força industrial do setor
privado às ordens do Estado. Os nazistas tinham seu próprio termo para
isso, Gemeinnutz vor Eigennutz, que significa o bem comum acima do bem
individual. FDR, como a maioria dos progressistas modernos, compreendeu
este sentimento e o compartilhou.
Agora, a essa altura, convém dar uma pausa para reconhecer uma
erupção progressista. Como é possível supor — prossegue o argumento —
algum tipo de fascismo em se tratando de FDR? Não foi ele quem lutou
contra os fascistas? Não foi a América, sob a liderança de FDR, que
derrotou Hitler e os nazistas? Do ponto de vista da esquerda, é
absolutamente imoral a qualquer um que se dê ao respeito alegar uma
relação entre o sagrado FDR e os fascistas e nazistas, que eram genocidas.
Hitler assassinou milhões de judeus, mas FDR os libertou dos campos de
morte e trouxe de volta para casa os sobreviventes do Holocausto judeu.
“Ele salvou a América da Grande Depressão e dos nazistas”. É assim que
FDR é lembrado. E é por isso que historiadores progressistas, como Arthur
Schlesinger Jr. e William Leuchtenburg, o consideram um dos maiores
presidentes, se não o maior. Mesmo alguns da direita caíram nesse discurso.
“Como FDR Salvou o Capitalismo” [How FDR Saved Capitalism] é o título
de um artigo de Seymour Martin Lipset para o periódico Hoover Digest. A
revista Economist resume o legado de FDR na seguinte manchete: “O
Homem que Salvou seu País e o Mundo”.2 Desta perspectiva, longe de ser
fascista ou nazista, FDR deve ser visto como o precursor dos progressistas
de hoje que se autodenominam antifascistas.
Essa narrativa progressista contém uma molécula de verdade em meio a
um sistema inteiro de absurdos. Concordo, FDR é o precursor dos
progressistas que hoje autodenominam-se antifascistas. Contudo,
simplesmente insisto que tanto FDR quanto sua progênie moderna estão
muito mais próximos do fascismo e do nazismo do que eles se permitem
admitir. FDR é aquele que colocou a esquerda moderna em seu caminho
fascista. Para entender isso, é preciso começar por dissipar o miasma da
criação de mitos progressistas.
Em primeiro lugar, FDR não derrotou Hitler. Pode-se dizer que a
América sob FDR, e mais tarde sob Truman, derrotou o Japão Imperial
tomando a liderança na batalha pelo Pacífico e, finalmente, soltando as duas
bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Mas, como o historiador
Richard Evans escreve em seu livro The Third Reich in History and
Memory [O Terceiro Reich na História e na Memória], “a União Soviética
foi a força decisiva na derrota da Alemanha”.3 Evans nota que a Wehrmacht
foi destruída em seu fracassado esforço de dominar Moscou e Stalingrado e
pelo subsequente contra-ataque soviético. No máximo, FDR ajudou a
acelerar a derrota final de Hitler, abrindo uma nova frente no teatro
europeu, fornecendo ao exército soviético auxílio Lend-Lease (Empréstimo
e Arrendamento) e remessas de suprimento militar americano. Nada disso é
para depreciar o heroísmo da “maior geração” dos Estados Unidos; é, no
entanto, para não dar louvor a FDR onde o crédito não lhe é devido.
De fato, a América libertou os cativos dos campos de concentração
alemães, mas estes eram campos de trabalho, e é portanto que neles havia
sobreviventes, embora a maioria não fosse de judeus. Como o historiador
Timothy Snyder mostra em seu livro Terras de Sangue: A Europa Entre
Hitler e Stalin, a América não libertou nenhum campo de extermínio; todos
estavam no território ocupado pelos soviéticos. “O Exército Vermelho
libertou Auschwitz”, escreve Snyder, “e também libertou os campos de
Treblinka, Sobibor, Belzec, Chelmno e Majdanek. As forças americanas e
britânicas não presenciaram nenhum dos principais locais de extermínio”.4
Praticamente não havia sobreviventes desses campos, nem os soviéticos
poderiam preservá-los, já que os alemães destruíram as estruturas antes de
evacuá-los.
Em segundo lugar, FDR e a Grande Depressão. Atualmente, mesmo os
historiadores progressistas como Ira Katznelson admitem que FDR não
salvou os Estados Unidos da Grande Depressão, que só crescia mais e mais
profundamente durante seu mandato. “Mesmo quando a recuperação
econômica começou”, escreve Katznelson, “esta provou ser fútil,
permanecendo bem abaixo dos níveis do fim da década de 1920 pela maior
parte da década de 1930”.5 O que verdadeiramente levantou a América da
depressão econômica não foi a política do New Deal, mas sim o vigor
empreendedor, a proeza em manufatura e a pura ética trabalhista dos
americanos na era pós-guerra.
É claro que FDR levou a América à luta contra a Alemanha de Hitler e a
Itália de Mussolini, mas isso dificilmente prova que ele, FDR, não teve
afinidades com o nazismo ou com o fascismo. Por analogia, Martinho
Lutero liderou os protestantes em uma luta contra a Igreja Católica, mas a
partir disso é possível concluir que Martinho Lutero não teve afinidades
com o cristianismo? Pelo contrário, Lutero e seus seguidores eram cristãos
devotos, não menos que os católicos. A Reforma foi uma luta intramuros
entre dois grupos de cristãos em contenda — uma luta, pode-se dizer,
dentro da casa da cristandade.
Da mesma maneira, a luta entre as facções xiitas e sunitas dificilmente
prova que uma ou outra não seja islâmica. Ambas são islâmicas e, de fato,
suas crenças teológicas são praticamente idênticas. A principal diferença
repousa sobre a linha de sucessão de Maomé. No entanto, esta diferença,
aparentemente supérflua, não impediu o surgimento de conflitos sangrentos
entre as duas facções muçulmanas. E mais outro caso, na Rússia, os
conflitos amargos entre leninistas e trotskistas no início do século XX
refletiram uma disputa intramuros dentro do mesmo campo ideológico.
Como mostram esses exemplos, lutas incessantes e amargas podem surgir
entre parentes ideológicos. É o mesmo que acontece entre familiares do
mesmo sangue.
Assim, também, a luta entre FDR, Hitler e Mussolini foi uma batalha
intramuros, uma guerra por poder entre líderes esquerdistas, antes
amigáveis uns com os outros, todos de uma ideologia coletivista partilhada.
Mas, para melhor entendimento, antes é preciso remover as barreiras
visuais do período que sucedeu à Segunda Guerra Mundial, empecilhos
postos pela historiografia de esquerda. Faz-se necessário recuperar o mundo
de FDR antes da guerra, antes que tudo fosse reduzido a estilhaços e
detritos — quero dizer, detritos ideológicos —, varridos progressivamente
numa operação de limpeza progressista. Ouçamos aqueles em quem FDR e
o seu cérebro confiam e o que os aliados ideológicos realmente disseram a
respeito do fascismo e do nazismo; é preciso ouvir também o que os
fascistas e nazistas — Mussolini e Hitler inclusos — falaram sobre FDR.
Essa investigação produz uma imagem completamente diferente daquela
construída por livros didáticos progressistas e pela grande mídia.
Antes de embarcar nessa pesquisa, gostaria de visualizar uma das minhas
conclusões, respondendo à seguinte pergunta: o progressismo é realmente
um meio termo entre o socialismo e o capitalismo? Claro que não, nem
mais do que o fascismo. O absurdo total do caminho intermediário, “do
meio”, faz parte da grande mentira. Na realidade, o socialismo, o fascismo e
o progressismo são três formas semelhantes de esquerdismo — embora não
idênticas. Todas as três marcham na mesma direção, longe do capitalismo
liberal; logo não há tal coisa como uma via intermediária.
Das três vias esquerdistas, uma delas, o socialismo, vem desaparecendo,
conquanto ainda galgada, ao menos em teoria, nas principais universidades
americanas. Quanto à doutrina fascista, o fascismo formal está morto,
contudo demonstrarei neste capítulo que o fascismo continua a permear
todo o progressismo americano moderno. A economia progressista é
essencialmente idêntica à fascista; todo o conceito fascista de governo e sua
exigência de que o indivíduo sujeite-se ao Estado são a cause célèbre da
esquerda americana atual. É algo tão real hoje quanto na década de 1930.
A esse respeito, FDR foi quem inventou o fascismo americano, nosso
duce, ou führer, ainda que seu caminho tenha sido pavimentado por
Woodrow Wilson, seu antecessor proto-fascista. Teço meu argumento
expondo as decisões de Wilson e de FDR, permeadas de elementos
fascistas, exibindo a admiração mútua, durante a década de 1920 e 1930,
entre os americanos progressistas, de um lado, e os fascistas italianos e
alemães nazistas, do outro. Ao longo deste processo, devo descortinar as
grandes mentiras progressistas. Exemplo é quando o historiador William
Leuchtenburg defende que “O Estado Corporativo de Mussolini não
enxerga a existência de um seguimento americano”.6 Como mais adiante
será exposto, nada poderia estar mais distante da verdade.

Aconteceu Aqui
Voltando aos Estados Unidos, vinda de Roma, onde trabalhava de
correspondente para o jornal New York Times, Anne McCormick notou
algo muito marcante. A atmosfera em Washington dois meses após a posse
do presidente Franklin D. Roosevelt (FDR), ela escreveu para o Jornal em 7
de maio de 1933, “é uma estranha reminiscência da Roma nas primeiras
semanas após a Marcha dos camisas negras”. McCormick achava aquilo
estranho, porém agradável. E mencionou a semelhança não para criticar o
então presidente, mas para louvá-lo. Do que ela mais gostou em FDR foi
que ele estava agindo feito Mussolini e modelando o Estado do New Deal
conforme o fascismo italiano.
Em Roma, McCormick ganhou a reputação de ser um dos muitos
correspondentes estrangeiros progressistas apaixonados pelo regime de
Mussolini. Ela costumava relatar acerca da “solidariedade” que os italianos
sentiam pelo “impulso” à ditadura de Mussolini. “É possível perceber”,
escreveu algumas semanas após a incursão ao território etíope comandada
por Mussolini, “uma manifestação notável — uma nação movendo-se numa
espécie de transe —, encantada, convicta de ser invencível em força”.
Quanto a McCormick, o historiador John Diggins escreve no livro
Mussolini and Fascism [Mussolini e o Fascismo] que “por quase vinte anos
ela carregou um caso de amor político com uma Itália idealizada e por seu
nobre líder”.
De volta à América, McCormick sentia igual paixão por FDR, cuja
administração, escreveu ela, “prevê uma federação de indústria, trabalho e
administração pública segundo os moldes do Estado Corporativo tal como
existe na Itália”. O Congresso havia aprovado uma legislação que
“conferiria ao presidente a autoridade de ditador”. Era “uma espécie de
poder unânime de procuradores” em que “todos os demais poderes —
indústria, comércio, finanças, trabalho, do fazendeiro ao chefe de família,
estado e cidade — praticamente abdicam em seu favor”. O estado de
espírito nacional, bem como o de McCormick, era a favor da ditadura. “A
América hoje literalmente pede ordem. Ninguém está lá muito incomodado
com a ideia de uma ditadura”.7
Ao mesmo tempo, outros na mídia comparavam FDR com o novo líder
da Alemanha, Adolf Hitler. Hitler, tal qual FDR, ascendeu ao poder por
meio do processo democrático. Claro que até então ele havia se tornado,
como Mussolini, um ditador, termo que não tinha o mau cheiro que tem
agora. McCormick e outros não hesitaram em chamar FDR de ditador ou
mesmo exortá-lo a tornar-se um. Os ditadores eram vistos como figuras
resolutas, que de fato faziam as coisas acontecer. Eles alegavam representar
a vontade genuína e o espírito de seu povo.
A visão da esquerda na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos era a
de que sociedades estruturadas funcionariam melhor sob a mão firme de um
único líder. “Hitler é a Alemanha e a Alemanha é Hitler”, gostava de dizer
Rudolf Hess. Esta era a expressão clássica do que se pode chamar de
princípio da infalibilidade da liderança, ou Führerprinzip. Da mesma forma
os italianos gostavam de dizer que “Mussolini é a Itália e a Itália é
Mussolini”. FDR e os progressistas apreciavam essa forma de pensar. O
Führerprizip na Alemanha e seu equivalente na Itália refletiam de perto a
própria visão de FDR — ecoada na mídia progressista —, de que FDR é a
América e a América é FDR.
Esse sentimento por parte de McCormick e outros não era uma visão de
outliers, de alguns poucos caprichosos. Pelo contrário, era o sentimento
progressista como um todo e, até certo ponto, a principal linha de
pensamento durante a era inicial de FDR. Até mesmo as revistas Saturday
Evening Post e Fortune falavam em termos semelhantes. Atente-se à
recepção concedida ao extravagante ministro das Forças Aéreas de
Mussolini, Italo Balbo, na ocasião em que veio à América, em 1933, para
participar da Feira Mundial de Chicago.
Balbo havia sido um dos primeiros camisas negras da Itália. Tendo
crescido em sua região natal, Ferrara, foi um dos primeiros a aderir ao
Partido Fascista e um dos principais organizadores da Marcha sobre Roma.
Nada disso impediu que Balbo fosse apresentado na capa da revista Time de
26 de junho de 1933, com um artigo anexo apresentando os triunfos
fascistas na tecnologia de aviação como um exemplo ao qual a América
poderia seguir.
No dia 20 de julho de 1933, o presidente Roosevelt ofereceu um almoço
na Casa Branca em honra a Balbo e condecorou-o com a Cruz de Voo
Distinto. Balbo disse ao presidente que voltaria para casa, mas FDR o
convenceu a ficar mais tempo e fazer um tour por todo o país. De acordo
com o New York Times, o “Ministro das Forças Aéreas deixou a Casa
Branca com o rosto cheio de sorrisos”.
Os assessores de FDR organizaram para Balbo um enorme desfile no
centro de Nova Iorque, após o qual discursou sobre as virtudes do regime
fascista para 65 mil democratas no complexo Madison Square Garden.
Balbo ecoou Mussolini ao dizer: “A existência do sentimento antifascista
no exterior é um mito”, um mito “desmascarado pela recepção entusiasta
que meu esquadrão aéreo recebeu na América”.8
Enquanto os grandes meios de comunicação progressistas estimulavam o
sentimento público em favor do regime de Mussolini, os progressistas das
universidades de elite da América cortejavam Adolf Hitler. Sete meses após
a queima de livros na Alemanha, em 1933, a Universidade Columbia
convidou o embaixador alemão para discursar no câmpus, onde foi
introduzido pelo presidente da universidade, Nicholas Murray Butler. Paul
Hollander, cientista político, relata que a Universidade Columbia “mantinha
relações amigáveis com instituições acadêmicas e representantes da
Alemanha nazista”.9
Em 1934, o presidente de Harvard, James Conant, ofereceu um chá em
sua casa para Ernst Hansfstaengl, chefe do Gabinete de Imprensa Nazista
sob o Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels. Hansfstaengl era
amigo íntimo de Hitler e jantava em sua casa com frequência. Hitler
gostava de escutar Hansfstaengl interpretando no piano as vibrantes
marchas de futebol de Harvard. Ele gostava em especial da parte final com
o grito de guerra: “Harvard, Harvard! Rah! Rah! Rah!”. Hitler deu a
Hansfstaengl o afetuoso apelido de “Putzi”, cujo filho, Egon, referia-se
calorosamente a Hitler como “tio Dolf”.
Durante a ascensão de Hitler ao poder, Hansfstaengl ajudou a financiar a
publicação do livro Mein Kampf e também a compra do Völkischer
Beobachter, que veio a tornar-se o jornal oficial do Partido Nazista. Embora
certo rabino de Boston estivesse incitando um protesto de judeus, o
periódico estudantil Harvard Crimson repudiava os críticos e ainda pedia
que Hansfstaengl, ex-aluno de Harvard, recebesse um diploma honorário
“apropriado para sua alta posição” no governo de “uma grande e profunda
nação”.10
Naquele mesmo ano, os mais importantes professores, administradores e
líderes estudantis de Harvard visitaram o navio de guerra nazista Karlsruhe
quando este atracou no porto de Boston, hasteando a bandeira da suástica.
O grupo de Harvard também participou de uma recepção de gala em que o
capitão do navio de guerra tecia elogios a Hitler. Em 1936, Harvard enviou
uma delegação acadêmica para comemorar o aniversário da Universidade
de Heidelberg. O evento foi boicotado pelas universidades britânicas por ser
altamente politizado, no sentido de apresentar o nazismo de forma positiva.
Presentes, misturando-se com a delegação de Harvard, estavam o teórico
nazista Alfred Rosenberg, o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels e o
líder da SS, Heinrich Himmler.11
Na frente cultural, outro admirador de FDR, o compositor Cole Porter,
compôs uma melodia cativante em 1934 com a seguinte letra: “Você é o
maior! Você é o grande Houdini! Você é o maior! Você é Mussolini”. Não é
assim que a música é cantada hoje, pois Porter mais tarde viria a mudar a
letra, quando os progressistas perceberam que lhes seria embaraçoso, assim
como seria para qualquer um na América, ter ligações com Mussolini. Daí
Cole Porter associou-se à grande mentira. Suas letras originais, junto das
obras de McCormick, do circuito percorrido por Balbo e da conexão
Harvard-Hitler, têm, como consequência dos esforços progressistas,
simplesmente desaparecido na neblina da História.

O Proto-Fascista
Embora este capítulo concentre-se em FDR — nosso führer norte-
americano não reconhecido —, a história estaria incompleta sem começar
com o presidente progressista que o precedeu quase duas décadas,
Woodrow Wilson. FDR, lembre-se disso, era o secretário da Marinha na
administração de Wilson, mas durante o mandato e os anos subsequentes
jamais discordou publicamente de qualquer ação de Wilson descrita aqui.
Na verdade, FDR e sua equipe falaram abertamente do New Deal como
continuação das políticas de Wilson. Conforme mostro, esse foi um caso do
proto-fascismo de Wilson, caso esse maturado no fascismo mais
desenvolvido da era FDR.
Wilson, é claro, precedeu Mussolini e Hitler. É por isso que eu o chamo
de proto-fascista. Não digo que ele teria sido fã do verdadeiro fascismo,
mas que foi um precursor, visto que seu regime revela tensões fascistas
mesmo antes de haver um nome oficial a descrevê-las. Para entender o
proto-fascismo, considere o debate acadêmico que discute se o filósofo
Nietzsche era ou não proto-fascista. Nietzsche morreu na década de 1880,
então, obviamente, não existe associação direta entre ele e o fascismo.
Estivesse vivo na época, provavelmente teria ficado horrorizado com Hitler
e Mussolini. Nietzsche detestava o nacionalismo alemão nem era ele
antissemita.
Por outro lado, Nietzsche foi um dos pensadores favoritos de Mussolini,
que, em sua época, disse “A ambição por poder na Europa é representada
unicamente pelo fascismo”. Hitler visitou os arquivos de Nietzsche em
Weimar e lá, desejoso de expôr o entusiasmo que tinha pelo filósofo, foi
fotografado por seu fotógrafo pessoal, Heinrich Hoffman. Hitler também
enviou a Mussolini uma edição, até então recente, das obras completas de
Nietzsche, com dedicatória autografada. Esse passou a ser um dos bens
mais preciosos de Mussolini.
Se Nietzsche rejeitava explicitamente o nacionalismo e o antissemitismo,
o que é que havia nele para despertar tamanho interesse nesses homens?
Nietzsche falava em termos de criar não apenas um übermensch, ou super-
homem, mas uma raça de super-homens, uma raça superior para governar o
mundo. Nietzsche também falava do untermenschen, os povos inferiores
que deveriam ser eliminados ou exterminados por meio da guerra ou da
eugenia numa inevitável luta por poder. Assim fica fácil entender por que
tais ideias eram apelativas a Hitler.
Livre das restrições morais do cristianismo — as quais Hitler e
Mussolini também criticavam —, Nietzsche deleitava-se ao pensar em
povos, que ele então considerava inferiores, sendo apagados da terra. “Que
venha uma tempestade”, ele escreve em Vontade de Potência, “e derrube da
árvore esta fruta podre e devorada por vermes”. Mais uma vez, vislumbre
os nazistas e os camisas negras vibrando. E logo, cortesia de Hitler e
Mussolini, a tempestade chegou. Por isso, posso entender por que Hitler e
Mussolini apreciavam Nietzsche; e, qualificando-o adequadamente, eu o
considero proto-fascista.12
Da mesma forma era Wilson. O que ele, um discípulo de Hegel, mais
gostava no filósofo alemão era a apoteose hegeliana de um Estado todo-
poderoso. Tendo estudado sob mentores alemães, o modelo de governo de
Wilson foi extraído da experiência militarista da Prússia de Bismarck.
Wilson ridicularizava os Pais Fundadores — primeiro presidente americano
a fazê-lo —, chamando suas ideias sobre direitos individuais, poder
descentralizado e freios e contrapesos de simplórias e obsoletas. Wilson
preferia um modelo de poder centralizado com ele próprio no leme e toda a
sociedade em obediência inerte a ditames do esquerdismo progressista.
Como Giovanni Gentile reconheceria ser este, mesmo sem ainda ser
chamado pelo nome, o significado essencial do fascismo.
É certo que dar a Wilson o título de proto-fascista soará absurdo àqueles
que, criados sob a fúria progressista, aprenderam que Wilson é um campeão
da democracia global e defensor do direito à autodeterminação a todos.
Com efeito, Wilson teve a chance de promover ambos, mas, no fim das
contas, não fomentou nenhum. Houvesse lutado ativamente pela
autodeterminação da Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial,
Wilson poderia ter impedido a Segunda Guerra.
Uma das queixas mais amargas de Hitler — atingindo acorde ressonante
com seus companheiros alemães — era a de que seu país jamais teria
buscado a paz na Primeira Guerra se soubesse que seria quase que
completamente privado de seus direitos à autonomia e à autodeterminação.
A maioria dos historiadores reconhece que termos mais sensatos do que os
que foram impostos à Alemanha em Versalhes poderiam ter impedido a
ascensão de Hitler ao poder, assim prevenindo uma Segunda Guerra
Mundial. Wilson poderia ter insistido e logrado êxito, mas não o fez.
Portanto, atenue-se o disparate retórico de Wilson diante da realidade
histórica.
Não cabe concentrar-se apenas no que Wilson disse, mas em duas coisas
que ele fez. Primeiro, não só nos moldes fascistas, mas também nos do
nacional-socialismo, Wilson pôs em prática políticas racistas sobre todo o
governo federal e ajudou a reviver a inativa organização terrorista e racista,
Ku Klux Klan. Em segundo lugar, Wilson suprimiu as liberdades civis dos
americanos de uma maneira nunca antes vista; seria necessário ir à Itália de
Mussolini e à Alemanha nazista para encontrar comparações mais
próximas.
Os progressistas estão conscientes disso e, com tanto, confessam
profunda confusão. Escrevendo no Christian Science Monitor, Randy
Dotinga enumera “5 fatos surpreendentes” acerca de Wilson, um dos quais
que ele era “atrasado e intolerante quando se tratava de raça”. Dado o
progressismo de Wilson, Dotinga acredita ser esta “a maior contradição de
todas”. Aqui, Dotinga, um jornalista, ecoa historiadores como Arthur Link,
editor dos artigos de Wilson, e John Milton Cooper, que exercia posição
semelhante sobre o então presidente. Cooper, por exemplo, classifica o
comportamento intolerante e tirânico de Wilson de “intrigante”, um
“mistério”, perguntando-se como “uma pessoa tão arguta e cheia de ideias
como Wilson deixou isso acontecer”.13
A essa altura, espero que meus leitores estejam sorrindo, percebendo o
território da grande mentira em que estamos pisando. A mentira está na
pretensão de que existe algo estranho ou anômalo em relação a um
progressista como Wilson ser racista, supressor das liberdades
constitucionais e proto-fascista. O objetivo deste livro está em demonstrar
que esse é o curso previsível, se não inevitável, do progressismo e da
esquerda. Wilson, óbvio dizer, era racista, como a maioria de seus
antecessores democratas desde Andrew Jackson. E, é claro, ele estava
envolvido em supressões das liberdades individuais aos moldes fascistas; é
assim que os coletivistas de todos os tipos costumam proceder uma vez que
assumem o poder.
O racismo de Wilson pode ser destacado pelo cumprimento da
segregação em todo o governo federal. Muitos não percebem que, embora
as legislaturas estaduais dominadas pelo Partido Democrata tenham
difundido a segregação por toda a região do Sul, o governo federal de
Washington, D.C. não havia se segregado desde o fim da Guerra Civil.
Wilson então reverte a situação e institui a segregação em basicamente
todas as divisões do governo federal.
As ações de Wilson foram amargamente protestadas pelo principal porta-
voz da América negra, Booker T. Washington, que era republicano. Quando
um grupo de líderes negros, incluindo a jornalista republicana Ida B. Wells,
confrontou Wilson, ele disse que deveriam agradecer-lhe, afinal a
segregação era, em grande parte, para o benefício dos negros. Wilson era,
como Chris Myers Asch escreve no Washington Post, um “supremacista
branco descarado”.14
Seus aliados mais próximos no Congresso eram democratas, e ainda
mais racistas do que o próprio Wilson. Quando a questão sobre os Estados
Unidos juntarem-se à Sociedade das Nações chegou ao Congresso, James
Reed, senador democrata, irrompeu: “Imagine submeter questões
envolvendo a própria vida dos Estados Unidos a um tribunal em que se
senta um negro da Libéria, um negro de Honduras, um negro da Índia”.15
Como bom internacionalista e progressista, Wilson era, é claro, a favor da
Sociedade das Nações, mas também impediu que posturas racistas fossem
sentenciadas no Tratado de Versalhes e nunca pronunciou nem ao menos
uma palavra condenatória sobre a violência retórica racial contra negros e
outras minorias por parte de seus companheiros progressistas.
Wilson também ajudou a reviver a Ku Klux Klan. Curiosamente, esse foi
o resultado de uma única exibição do filme The Birth of a Nation [O
Nascimento de uma Nação], de David W. Griffith, que retrata a Ku Klux
Klan como a salvadora do Sul. Apesar da tecnologia restrita da época, o
filme agora é reconhecido como uma obra-prima cinematográfica. Eu o
considero como um dos filmes de propaganda mais poderosos já
produzidos. A esse respeito, ele prenunciou os brilhantes filmes de
propaganda de Leni Riefenstahl, Victory of Faith [Vitória da Fé] e Triumph
of the Will [Triunfo da Vontade], ambos retratando Hitler como o salvador
da Alemanha.
A pedido de Griffith, Wilson fez com que o filme The Birth of a Nation
fosse exibido na Casa Branca, com o seu gabinete e outros amigos de
influência presentes. Após a exibição, de acordo com Griffith, Wilson
descreveu o filme como “terrivelmente verdadeiro” e “é como escrever a
História com raios”. Já hoje alguns progressistas questionam se Wilson
realmente disse isso, pois não há corroboração suficiente em seus arquivos.
Contudo, também não há motivo para duvidar da veracidade de Griffith
nesse ponto.
Imediatamente após a exibição, houve um reavivamento da Klan por
todo o país, o que testemunhou tanto o poder do filme quanto do evidente
endosso de Wilson. Anteriormente, a KKK estava sobretudo no Sul
democrata; depois, então, de acordo com o historiador David Chalmers, a
KKK espalhou-se do “estado de Maine ao da Califórnia”. De repente, havia
ramificações da KKK em Oregon, Colorado, Wisconsin, Ohio, Pensilvânia
e Nova Jersey.16 Com isso não quero dizer que era esse o desejo de Wilson,
mas a maioria dos historiadores concorda que a exibição do filme na Casa
Branca conferiu à Ku Klux Klan nova legitimidade e popularidade.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Wilson criou um Ministério da
Propaganda, servindo de precursor a ministérios similares criados por
Mussolini e Hitler. Quanto ao assédio e à intimidação da imprensa e da
oposição política que precisou enfrentar, Jonah Goldberg escreve que a
operação de Wilson foi mais efetiva — em outras palavras, implacável —
do que a de Mussolini.
Os capangas de Wilson até viraram seu veneno contra cidadãos comuns,
encorajando crianças a espionar seus pais e vizinhos, e vizinhos a espionar
outros vizinhos. Eles incentivavam vigilantes a ameaçar e até espancar
inconformistas ideológicos. Numa frase que facilmente poderia ter sido dita
por Hitler ou Mussolini, Wilson insistia que “a conformidade será a única
virtude e qualquer homem que se recuse a conformar-se terá de pagar o
preço”.
É difícil imaginar um sentimento mais intolerante. Em consonância, a
administração de Wilson reprimiu de forma geral as liberdades civis,
posturas que fariam com que o macartismo da década de 1950 parecesse
brincadeira de criança; em essência, qualquer crítica ao governo, até mesmo
proferida em particular a um amigo, poderia levar a pessoa para a cadeia. E,
de fato, dezenas de milhares de americanos foram detidos e presos sob as
famosas Palmer Raids. Goldberg escreve: “Mais pessoas foram detidas ou
encarceradas em alguns poucos anos sob o governo de Wilson do que sob
Mussolini durante toda a década de 1920”. Goldberg conclui que, durante a
Primeira Guerra Mundial sob Woodrow Wilson, “a América tornou-se um
país fascista”.17

Olhando para Mussolini


Se Wilson pode ser considerado o proto-führer dos Estados Unidos,
Franklin D. Roosevelt tornou-se, ao menos por certo tempo, o real führer da
América. Tal terminologia não é originária minha, mas quem a cunhou foi
simplesmente o principal jornal da Alemanha, Frankfurter Zeitung, em um
artigo que comparava FDR com Hitler. O termo führer não significa nada
mais do que “líder” ou “líder supremo”, e o Frankfurther Zeitung não usou
o termo com intuito de insultar. Apesar de crítico das políticas de Hitler até
ser finalmente forçado à complacência, o jornal elogiava o estilo de
liderança do führer alemão. A publicação, ao referir-se a FDR como führer
americano, tinha por intenção o elogio.
Pretendo vindicar esse termo como aplicado a FDR mediante uma
demonstração de duas partes. Nesta seção, examino o entusiasmo de FDR
por Mussolini, não algo exclusivo a ele em si, mas que representava um
maior movimento de progressistas americanos que olhavam para o fascismo
italiano como modelo para a América. Alguns da esquerda chegaram a
buscar em Hitler o conceito de liderança. E o entusiasmo foi recíproco:
tanto Hitler quanto Mussolini elogiaram FDR e viram no New Deal
progressista uma realização, pelo menos parcial, dos ideais do fascismo e
do nacional-socialismo. Convém dar uma espiada pela fechadura dessa
sociedade de admiração mútua.
Menciono, desde o início, que FDR, pessoalmente, não tinha nenhuma
simpatia por Hitler. Mas ele a tinha por Mussolini. Em carta ao jornalista
John Lawrence, admirador de Mussolini, FDR confessou: “Não me importo
em dizer, com confiança, que venho mantendo um contato bastante próximo
com esse admirável cavalheiro italiano”. Em junho de 1933, FDR escreveu
a seu embaixador italiano, Breckinridge Long — outro admirador de
Mussolini —, referindo-se ao déspota fascista: “Não há dúvida de que ele
realmente se interessa pelo que estamos fazendo. Grande é meu interesse e
estou profundamente impressionado com o que ele realizou e com seu
propósito evidentemente honesto de restaurar a Itália”.18
Do ponto de vista de FDR, Mussolini teve um início precoce na
expansão do poder do Estado, iniciando da maneira como o próprio FDR
pretendia começar. A Itália sob Il Duce parecia ter avançado mais adiante
na estrada progressista do que a América. Então FDR pediu aos líderes de
seu brain trust, grupo de conselheiros especialistas, que visitassem a Itália e
estudassem as políticas fascistas de Mussolini, de modo a descobrir quais
delas poderiam ser integradas ao New Deal. FDR também enviou três
integrantes do seu Comitê de Gestão Administrativa à Roma para examinar
a estrutura administrativa e organizacional do governo ditatorial de
Mussolini. Novamente, com o objetivo de reorganizar a própria gestão de
FDR.
Rexford Tugwell, um dos conselheiros mais próximos de FDR, retornou
da Itália notando que “é certo afirmar que as mesmas pessoas que se opõem
a Mussolini são as mesmas que também se opõem a FDR”. Mesmo assim,
“ele parece ter feito enorme progresso”. Tugwell ficou especialmente
impressionado ao ver como os fascistas italianos conseguiram superar a
oposição política, da imprensa e concretizar o que tinha de ser feito. Ele cita
favoravelmente a Carta del Lavoro, documento do fascismo italiano
produzido em 1927, que, aparentemente, impressionou-o muito mais do que
a Constituição americana. O fascismo, ele conclui, “é o pedaço de
maquinaria social mais limpo, mais organizado e eficiente que já vi. É algo
de me dar inveja”.19
Essa devoção bajuladora ao fascismo, por mais repulsiva que aparente
ser nos dias de hoje, naquela época era característica, tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos, ao sentimento que líderes esquerdistas tinham
por Mussolini. Na Inglaterra, George Bernard Shaw, socialista fabiano,
louvou Mussolini pelo cumprimento de ideais socialistas. Em 1932, H. G.
Wells, romancista utópico e esquerdista, rogou por um “fascismo liberal”
para o Ocidente, enfatizando a necessidade de “nazistas esclarecidos”.
Encontraríamos, na Alemanha e na França, hinos semelhantes aos do
fascismo italiano compostos por progressistas.20
A esquerda americana, no entanto, estava ainda mais consagrada ao
fascismo italiano do que a esquerda europeia. Ida Tarbell, jornalista de
esquerda, entrevistou Mussolini, em 1926, para a revista McCall, e retornou
cheia de louvores e elogios. Muckraker Lincoln Steffens, notório em apoio
à União Soviética, mais conhecido por ter dito dela “Eu vi o futuro e ele
funciona”, também elogiou Mussolini por sua simpatia com a esquerda,
dizendo com entusiasmo que “Deus formou Mussolini da costela da Itália”.
Steffens não demonstrava preocupação diante da privação das liberdades
civis que o fascismo impunha, afirmando que a verdadeira liberdade seria
“uma medida do nosso senso de segurança”. Durante a Grande Depressão,
FDR disse aos americanos que eles não tinham “nada que temer, exceto o
próprio medo”. Do mesmo modo Steffens, considerando Mussolini alguém
que tentava abolir o medo.21
Horace Kallen, escritor progressista, um dos primeiros defensores do
multiculturalismo, disse que era um “grande erro” julgar o fascismo como
meramente tirânico, observando que era, na justiça social, “não muito
diferente da revolução comunista”. Ambos os sistemas, disse ele, deram aos
cidadãos um senso de unidade; seria, assim, dever nosso abordá-los com
paciência e julgá-los apenas por seus resultados. Para Charles Beard,
historiador progressista — conhecido por atacar os Pais Fundadores,
chamando-os de capitalistas egoístas e territoriais —, a mão pesada de
Mussolini era uma de suas características positivas. Beard admirava o
ditador fascista por causar, “pela força do Estado, a organização mais
compacta e unificada de capitalistas e trabalhadores que o mundo já viu”.22
Herbert Croly, editor da revista New Republic, parabenizou Mussolini
por “despertar em toda uma nação o crescimento da energia moral” e
subordinar os cidadãos “a um propósito comum profundamente
vivenciado”. Outro editor da New Republic, George Soule, prestou louvores
ao New Deal por ter-se enamorado das políticas de Mussolini: “Estamos
experimentando a economia do fascismo”. Essa emblemática revista do
progressismo americano louvou o regime de Mussolini durante a década de
1920, chegando a publicar artigos de intelectuais fascistas como Giuseppe
Prezzolini, que escreveu que o verdadeiro socialismo seria tornado real não
na Rússia pelos bolcheviques, mas na Itália pelos camisas negras.23
Em 1934, William Pepperell, economista de esquerda, viajou de suas
instalações na Universidade Columbia para o Congresso Internacional de
Filosofia em Praga, onde descreveu o New Deal sob a bandeira do
“Fascismo Fabiano”, considerado por William um híbrido criativo do
socialismo com o fascismo. Alguns anos mais tarde, em 1938, em visita ao
governador Philip La Follette, certo jornalista descobriu que esse fundador
do Partido Progressista de Wisconsin tinha duas fotografias emolduradas
em seu escritório: uma de Louis Brandeis, juiz da Suprema Corte, e outra de
Benito Mussolini. La Follette admitiu que esses eram seus dois heróis
pessoais.24
Alguns da esquerda foram ainda mais longe e elogiaram o nazismo. A
escritora Gertrude Stein insistiu, em 1937, que o candidato mais digno ao
Prêmio Nobel da Paz era Adolf Hitler. Lawrence Dennis, diplomata de
Relações Internacionais e autor, exaltava o nazismo por produzir “uma
fórmula de solidariedade nacional dentro dos laços espirituais e da
disciplina de ferro em que a elite e as massas, de qualquer nação que seja
[…] possam cooperar para o bem comum”. Dennis pediu que os americanos
abraçassem o fascismo, reconhecendo que este poderia parecer muito
diferente na América se comparado com o da Itália ou da Alemanha. Em
1936, Dennis participou do Congresso do Partido de Nuremberg, onde
compartilhou seus entusiasmos com o ideólogo nazista Alfred Rosenberg e
com outro aliado já há tempos de Hitler, Rudolf Hess.25
W.E.B. Du Bois, intelectual progressista afro-americano, disse que a
ditadura de Hitler era “absolutamente necessária à ordem do Estado”.
Hitler, diz Du Bois, “mostrou uma saída para a Alemanha” ao fazer de seu
país um “conteúdo e um todo próspero”. Em 1937, ele escreveu:
“Atualmente, em alguns aspectos, há mais democracia na Alemanha do que
houve nos anos passados”. Du Bois inclusive contrastou o racismo
americano, considerado por ele irracional, com o antissemitismo nazista,
segundo ele uma estrutura baseada no “preconceito arrazoado ou no temor
financeiro”.26

Com Elogios de Hitler


Até agora, vimos o que a esquerda americana, dentro e fora da
administração de FDR, pensava dos fascistas e dos nazistas. Mas o que os
fascistas e os nazistas pensavam deles? Começo com a análise de Mussolini
do livro de FDR, Looking Forward. Mussolini notou que o livro consistia
num bom repúdio ao liberalismo clássico. O New Deal, acrescentou ele, era
“ousadamente intervencionista no campo da economia” com base na ideia
de que “o Estado não mais deixa a economia aos seus próprios artifícios” e
que, a esse respeito, as políticas de FDR “relembram o fascismo”.
Consequentemente, a tentativa de FDR de fazer com que toda a economia
funcionasse para o bem comum, comentou Mussolini, “pode lembrar as
bases do corporativismo fascista”. Na verdade, toda a abordagem de FDR
“assemelha-se à do fascismo”.27
FDR tinha contato com Mussolini antes mesmo de assumir a presidência.
Por sua vez, Mussolini a princípio voltava-se muito mais a FDR do que a
Hitler. Na verdade, a imprensa italiana, bem como a mídia americana,
costumava comparar Mussolini a FDR. Quando visitou Mussolini, em
1926, o jornalista Irving Cobb disse: “Sabe como muitos americanos
chamam Vossa Excelência? De Roosevelt italiano”. Mussolini ficou
emocionado. “Com isso”, respondeu, “fico muito feliz e orgulhoso. Pois
muito admiro Roosevelt”. Mussolini cerrou os punhos. “Roosevelt teve
força — teve a coragem de fazer o que viu ser necessário”.28 Nesse
momento, Mussolini está elogiando FDR basicamente por ser, tal qual ele
próprio, um forte homem político.
Na Alemanha, a imprensa nazista também tinha coisas positivas a dizer a
respeito de FDR. No livro Hitler’s American Model — obra já mencionada
anteriormente —, o jurista e progressista James Whitman constata “o
estranho fato de os nazistas frequentemente elogiarem Franklin D.
Roosevelt e o governo do New Deal no início dos anos 1930”. Um alerta da
grande mentira! Na verdade, esse fato é meramente chamado “estranho”
porque estudiosos como Whitman têm camuflado as afinidades ideológicas
entre a esquerda americana e os nazistas. Portanto, descarte a falsa
perplexidade de Whitman. Ainda mais interessante é a documentação que
ele faz de hinos entusiastas louvando FDR, publicados na revista à
juventude de Hitler, Will and Power
[Vontade e Poder], além de fotografias retratando um heroísmo de FDR
na Berlin Illustrated Magazine [Revista Ilustrada de Berlim], revista
controlada pelos nazistas, acompanhadas de um artigo sobre “O New Deal
fascista”.29
Em 11 de maio de 1933, o jornal do Partido Nazista, Volkischer
Beobachter, em artigo intitulado “As Medidas de Roosevelt para a
Retomada Ditatorial”, elogiou FDR por “realizar experimentos audaciosos.
Nós, também, tememos diante da mera possibilidade de falha. Nós,
também, como nacional-socialistas que somos, estamos olhando para a
América”. Analisando favoravelmente o livro de FDR, o jornal Völkischer
Beobachter concluiu que, mantendo uma “aparência fictícia de
democracia”, na realidade o “curso político fundamental de FDR [...] é
completamente modulado por um forte nacional-socialismo”. Em 21 de
junho de 1934, o mesmo jornal comentou: “Roosevelt adota tendências
nacional-socialistas em suas políticas socioeconômicas” e comparou seu
estilo de liderança com o próprio Führerprinzip ditatorial de Hitler.30
Hitler mesmo disse a um correspondente do New York Times que via
FDR trilhando o mesmo caminho que o dele. “Tenho simpatia pelo Sr.
Roosevelt”, disse Hitler, “pois ele marcha em direção aos próprios objetivos
acima do Congresso, acima da influência de poderes e da burocracia”.
Hitler, bem como Mussolini, via em FDR um companheiro ditador. Hitler
acrescenta que era o único líder na Europa que “compreendia genuinamente
os métodos e motivações do presidente Roosevelt”.31
Hitler comentou com William Dodd, embaixador dos Estados Unidos na
Alemanha, que o fato de FDR insistir para que os cidadãos americanos
colocassem o bem comum acima do próprio bem pessoal “era a
quintessência da filosofia também do Estado alemão, o qual encontra sua
força de ser no lema ‘O Bem Público Transcende o Interesse do
Indivíduo’”. Mesmo em 1938, o sucessor de Dodd, Hugh Wilson, informou
a FDR que Hitler continuava seu fã: “Hitler disse ter observado com
interesse os métodos que você, Senhor Presidente, tenta adotar para os
Estados Unidos ao enfrentar alguns dos mesmos problemas que ele
enfrentou quando assumiu o cargo”.32

Ecco Un Ditatore!
Por fim, demonstro como FDR chegou assustadoramente perto de tornar-
se um ditador fascista durante seu longo mandato no governo, de 1932 a
1945. Se não um déspota em maior escala, FDR chegou perto mais do que
qualquer outra pessoa na história dos EUA. A essa altura do livro, já
antevejo a indignação que isso provocará na esquerda. Mas é também hora
de, calmamente, ignorá-la. A indignação em si é uma tática para proteger a
grande mentira. “Como você pode dizer isso?” e “Como você ousa?”. Ouso,
porque é verdade.
Analisados há pouco, os fascistas italianos e até mesmo os nazistas
reconheceram as tendências ditatoriais de FDR e também a
consanguinidade ideológica que havia entre as políticas dos três. Herbert
Hoover, antecessor republicano de FDR, percebeu paralelos bastante
íntimos entre o New Deal e o fascismo. O socialista Norman Thomas, do
outro extremo político, percebeu o mesmo. E, em 1933, o colunista mais
respeitado da América, Walter Lippmann, disse a FDR que ele não tinha
“nenhuma alternativa, senão assumir poderes ditatoriais”.33 Portanto, não
estou falando invencionices; FDR foi amplamente considerado um ditador
fascista, ou futuro ditador, por muitos de seus contemporâneos.
Não digo que era o caso de um ditador aos moldes de Hitler, afinal FDR
nunca teve o aquele mesmo poder absoluto nem, é claro, matou seus
oponentes, nem enviou judeus a câmaras de gás, nem iniciou uma guerra
mundial. Então, ao retratá-lo na posição de führer americano, quero dizer
que FDR era führer da maneira americana, e não do jeito alemão. Melhor
comparação pode ser feita entre FDR e Mussolini; ambos se julgavam uma
espécie de comandante da nação, superando as restrições da democracia
enquanto ainda funcionavam dentro das limitações políticas impostas por
seus respectivos sistemas. Os poderes legais de FDR permaneceram abaixo
dos de Mussolini; e não por ele ter “se contido”, mas, pelo contrário, por ter
sido constrangido pelo sistema constitucional dos Estados Unidos, que
impediu esse perigoso homem de trazer o fascismo na íntegra à América.
Considere uma das principais iniciativas de FDR, peça central do New
Deal: a National Recovery Act [Lei de Recuperação da Indústria Nacional
(LRIN)]. Em essência, a lei sentenciou à morte o livre mercado nos Estados
Unidos. Acontece que essa lei dava ao governo federal a força para criar
alianças trabalhistas e de gestão em cada indústria, a fim de estabelecer
objetivos de produção, de salário, de precificação e até mesmo de horas
mínimas e máximas trabalhadas. Eram acordos que seriam analisados por
um Conselho Consultivo da Indústria gerido pelo governo, que daria
satisfação ao próprio FDR. Além disso, a legislação da LRIN aumentou os
impostos sobre o rendimento, sobre as empresas e expandiu o eminente
poder de domínio do governo usado para confiscar terras privadas e
transferi-las ao uso público. De acordo com o conselheiro de FDR, Rexford
Tugwell, a LRIN foi projetada para “eliminar a anarquia do sistema
competitivo”.34
Jamais havia se contemplado — e muito menos decretado — uma
intervenção governamental na economia dos EUA nessa escala. Na época, a
LRIN era amplamente reconhecida em todo o espectro político como um
projeto fascista. Escrevendo para a revista North American Review, Roger
Shaw, escritor progressista, afirmou que a LRIN era “uma nítida adaptação
americana do Estado Corporativo italiano”. Victor F. Calverton, escritor
marxista, destacou esse mesmo ponto escrevendo para o periódico Modern
Monthly: “A LRIN tem feito parte do trabalho que o fascismo europeu se
propôs a executar”. E o próprio secretário do Interior de FDR, Harold Ickes,
admitiu: “O que estamos fazendo neste país é, em certa medida, o mesmo
que está sendo feito na Rússia e até mesmo na Alemanha de Hitler”.
Mussolini mesmo, ao ouvir falar da LRIN, fez um único e intenso
comentário,“Ecco un ditatore!”, que significa “Eis um ditador!”.35
O homem que FDR escolheu para gerir a LRIN, o General Hugh
Johnson, era ele fascista, um que tinha prazer de associar-se àquilo que ele
chamou de “o brilhante nome” de Mussolini. Johnson carregava consigo um
exemplar do pequeno livro-propaganda The Structure of the Corporate
State [A Estrutura do Estado Corporativo], escrito em italiano por um dos
acólitos do Il Duce, Raffaello Vigone, e traduzido para o inglês pela União
Britânica de Fascistas, partido fundado por Oswald Mosley, em 1933.
Johnson gostava de citar especialmente as seções sobre como o fascismo
passava por cima do aparato confuso da democracia em direção à plena
autoridade do Estado centralizado. Sob Johnson, a LRIN publicou um
panfleto, Capitalism and Labor Under Fascism [O Capitalismo e o Labor
sob o Fascismo], que admitiu: “os princípios fascistas são muito
semelhantes aos que estavam em evolução na América”.36
Para o desgosto de FDR, sua LRIN foi derrubada pela Suprema Corte em
decisão histórica no caso Schechter Poultry Corp vs Estados Unidos, em
março de 1935. Outras iniciativas do New Deal também foram
transtornadas. A Suprema Corte estava inquieta com a forma como FDR
procurou passar por cima dos direitos da propriedade privada e contratuais.
Tais direitos — que podem ser vistos sob a cobertura da liberdade
econômica —, desde os Pais Fundadores, são considerados tão basilares
quanto outros direitos fundamentais, como os direitos à liberdade de
expressão, de religião e de assembleia. Atuando em seu papel de protetor
dos direitos das minorias — parte do nosso sistema de freios e contrapesos
—, a Suprema Corte barrou FDR de reverter 150 anos de liberdade
econômica.
Daí o que FDR fez? Em 1937, ele apresentou a Lei de Reforma do
Processo Judiciário, um infame projeto que ficou mais conhecido por
“aparelhamento do judiciário” [Court Packing]. Basicamente, FDR
ameaçou aumentar o número de juízes da Suprema Corte, de nove para até
quinze. Isso lhe daria a chance de nomear até seis juízes a mais, dando-lhe
uma grande maioria. A mentalidade por trás disso pode ser vista no que o
principal assessor de FDR, Harry Hopkins, disse a uma audiência de
ativistas do New Deal em Nova Iorque. “Desejo garantir”, disse ele, “que
teremos advogados que declararão legal tudo aquilo que vocês quiserem
fazer”. Essa foi a abordagem de FDR: se quer fazer algo, diga estar de
acordo com a lei; e, se a Suprema Corte discordar, expanda-a. É perceptível
o clássico desprezo do fascismo pelo papel distintivo da Suprema Corte
como fiscal dos direitos das minorias em um sistema de equilíbrio.
Em pânico, a Suprema Corte fez uma rápida mudança e cedeu a FDR,
um movimento que os progressistas chamaram, um tanto quanto
maliciosamente, de the switch in time that saved nine, isto é, “porque o
tempo mudaram, nove se salvaram”. Esse pequeno gracejo foi cunhado para
desviar a atenção da enormidade daquilo que FDR fez, que basicamente
ameaçava destruir nosso Sistema Constitucional, a menos que obtivesse o
que queria — e assim ele conseguiu o que queria. As ações de FDR aqui —
na tênue penumbra entre o legal e o ilegal — são diretamente comparáveis
ao que era feito na Alemanha nazista e na Itália fascista, táticas de
intimidação usadas para forçar o judiciário à conformidade.
A rendição da Suprema Corte significou, em substância, o fim da
liberdade econômica como direito constitucional. Não, FDR não conseguiu
reviver a LRIN naquele momento, e ter violado os direitos de propriedade e
contratuais, por meio dos vários programas do New Deal, foi uma atitude
relativamente modesta. Em essência, FDR nos deu o Estado do Bem-Estar
Social, e não pense que com isso eu que o denomino um conceito fascista
por si só. O Estado do Bem-Estar Social na Alemanha, por exemplo,
originou-se do progressismo moderado e conservador de Otto von Bismarck
e antecedeu o fascismo em mais de meio século. No entanto, não esqueça
que foi a esquerda — os socialistas, os fascistas e os progressistas — que
vastamente aprofundaram o Estado do Bem-Estar Social.
Meu objetivo aqui, entretanto, é dizer que FDR estabeleceu as bases para
que futuras administrações progressistas minassem continuamente a
liberdade econômica. O Governo Leviatã que temos agora não se deve
totalmente ao que FDR fez, mas ele quem o iniciou. Antes dele, tínhamos
liberdade econômica como direito constitucional. Depois dele, não mais. O
principal impulso da economia fascista envolve a expansão do poder estatal
centralizado à custa dos direitos individuais e da liberdade da esfera
privada. Assim, nesse sentido, as ações de FDR, com a destruição da
liberdade econômica, são fascistas.
Ainda que intimidasse a Suprema Corte, FDR não precisava intimidar o
Poder Legislativo, já que o seu partido, o Partido Democrata, controlava o
Congresso. FDR convenceu seus aliados democratas à passada do controle
praticamente absoluto sobre uma grande área da economia nacional. Em
substância, FDR já não mais tinha de consultar o Congresso e poderia
prosseguir por iniciativa própria em grandes áreas das tomadas de decisão.
Com efeito, invocando os gritos de “emergência econômica” durante a
Grande Depressão e depois de “emergência nacional” durante a Segunda
Guerra Mundial, FDR pôde assumir poderes quase ditatoriais.
Da mesma forma Mussolini, que subverteu o Poder Legislativo e
convenceu seu Parlamento, flexível e maleável, a entregar-lhe o poder. O
Parlamento italiano não precisava nem mesmo congregar durante o reinado
de Mussolini, pois ele, na prática, tomava quase todas as decisões. Assim
também Hitler, que na vigília do incêndio do Reichstag, em 1933,
convenceu o Parlamento alemão a aprovar a Lei de Concessão de Plenos
Poderes, que lhe confiava a autoridade legislativa, tornando-o, portanto, de
forma aparentemente legal, o supremo governante da Alemanha nazista. Tal
como FDR, esses ditadores fascistas não apenas derrubaram o sistema, mas,
mais que isso, persuadiram-no e pressionaram-no a dar-lhes uma autoridade
essencialmente absoluta.
Como FDR lançou mão de tamanha autoridade? Mais uma vez, aos
moldes do clássico despotismo fascista, ele a usou para intimidar empresas
privadas e cidadãos comuns à submissão diante de suas iniciativas estatais.
O exemplo mais evidente foi o programa Blue Eagle de FDR, simbolizado
pela imagem de uma águia azul. Hoje em dia, ninguém reconheceria esse
símbolo, cuidadosamente pulverizado da História pelos progressistas. Mas,
na época, era o símbolo mais reconhecido na América, amplamente
comparado ao símbolo da suástica da Alemanha nazista.
O objetivo do programa Blue Eagle consistia em forçar as empresas à
submissão “voluntária” às iniciativas de FDR. As empresas que se
submetiam penduravam o símbolo da Águia Azul em suas lojas ou o
exibiam mediante publicidade corporativa. O governo ativamente
estimulava o público a comprar apenas das lojas Blue Eagle e a boicotar as
empresas que não exibiam o símbolo. Os capangas de FDR organizavam
manifestações do estilo de Nuremberg para chicotear o público em um
frenesi contra aqueles que se decidissem contra a submissão ao Blue Eagle.
Novamente, essa era precisamente a função do símbolo da suástica:
juntamente da saudação “Heil Hitler!”, servia para notificar a conformidade
com as políticas do regime nazista. O historiador Aryeh Unger tem um
termo direto para isso; ele o chama de “compulsão voluntária”. Certo
admirador alemão de Hitler na década de 1930 a isso deu o nome de
“trabalhar para o Führer”.37 Todos prestavam lealdade orientando suas
ações em função de Hitler, entrando nos eixos com ele. FDR empregou
precisamente a mesma compulsão voluntária para que todo o país
trabalhasse em função do führer americano.
Como Hitler e Mussolini, FDR estabeleceu uma máquina de propaganda
maciça dentro do governo e, ao mesmo tempo, procurou restringir a
liberdade da imprensa. Na Alemanha, os jornalistas eram praticamente
obrigados a fazer união com o Ministério da Propaganda. Do mesmo modo
a Itália, que dispunha de seu Sindicato Nacional Fascista de Jornalistas ao
qual era preciso pertencer para ser um jornalista de “boa reputação”. A
abordagem de FDR foi apenas um pouco mais sutil. Ele nomeou um de seus
escudeiros mais devotos como presidente da Comissão Federal de
Comunicações (CFC). Sob esse capanga, a CFC exigiu que as estações de
rádio enviassem transcrições de todos os programas que lidassem com
“assuntos públicos” para passar pela autorização da Comissão.
A CFC também deixava claro que criticar o governo poderia levar a uma
revogação de licença de transmissão. Muitos âncoras de rádios progressistas
estavam bastante ansiosos para servir como animais de estimação de FDR,
da mesma maneira como a nossa mídia convencional tornou-se
voluntariamente serviçal de Obama e Hillary. Henry Bellows, da CBS, disse
a FDR que valorizava a “cooperação” entre o governo e sua rede e “como
um democrata ao longo da vida, queria garantir seus melhores esforços para
fazer com que essa cooperação fosse bem-sucedida”. A CBS e a NBC
baniram críticas ao New Deal de suas estações durante a década de 1930 e o
início dos anos 1940. Apenas poucas estações resistiram, mas para salvar
suas licenças, elas logo foram obrigadas a entrar na linha.38

Um Pacto com o Racismo


Por fim, FDR acolheu-se e fez negócios com os piores racistas da
América. Não estou dizendo que o próprio FDR era racista. Não sei se sim
ou se não. Mas sei que ele trabalhou em estreita colaboração com os
racistas do Partido Democrata. Um lado ajudava a avançar a agenda do
outro. Por esse aspecto, FDR de fato aproxima-se mais do nazismo do que
do fascismo, já que o racismo não era uma marca dos fascistas de
Mussolini, mas sim dos nacional-socialistas de Hitler. Novamente, esse é
um aspecto de FDR que os progressistas trabalharam arduamente para
manter fora dos livros didáticos e da consciência nacional.
Primeiro, FDR nomeou Hugo Black, antigo membro da Ku Klux Klan, à
Suprema Corte. Black, completamente desqualificado — sua única
experiência no ramo judiciário formava-se de dezoito meses como juiz de
um tribunal municipal — levava a reputação de apaixonado entusiasta do
New Deal, endossando publicamente o plano de FDR de aumentar o
número de juízes em seu projeto de aparelhar o judiciário. Membro ainda
ativo, Black chegou a discursar em comícios e liderar manifestações da
KKK por todo o seu estado de origem, o Alabama. Conquanto FDR
afirmasse desconhecer os fatos, é difícil de entender como isso seria
possível, uma vez que Black os listou em seu currículo.
Quando certo jornal de Pittsburgh expôs quão profundamente Black era
próximo da KKK — advogado da KKK que construiu petições abertamente
racistas aos júris —, houve grande furor. FDR, por sua vez, ficou ao lado de
Black, que mais tarde, lembrando o ocorrido, escreveu: “O presidente
Roosevelt disse que não havia porquê de eu me preocupar por ter sido
membro da Ku Klux Klan. Disse também que alguns de seus melhores
amigos e apoiadores eram fortes membros dessa mesma organização. Ele
nunca, de nenhuma maneira, por palavra ou atitude, indicou qualquer
dúvida sobre o fato de minha estadia na KKK, nem demonstrou qualquer
crítica contra mim por ter sido eu membro da organização”.39
Além disso, FDR apoiou democratas racistas no Congresso em seus
esforços de frustrar leis contrárias ao linchamento. Essa foi uma condição
fundamental que os racistas colocaram perante o então presidente. Eles
disseram que não apoiariam os programas do New Deal, a menos que FDR
apoiasse os esforços para bloquear as leis contrárias ao linchamento
investidas pelos republicanos. Então FDR foi e convenceu até mesmo
democratas e progressistas do Norte a apoiar suas contrapartidas do Sul,
que buscavam prevenir que tais leis chegassem à votação.40 Eis um dos
legados mais vergonhosos da presidência de FDR, algo praticamente não
mencionado em biografias escritas por progressistas.
Somado a isso, FDR fez um acordo com os democratas racistas, o de
cortar negros da maioria dos programas do New Deal, incluindo benefícios
do Seguro Social e seguro-desemprego. Ele executou essa parte escrevendo
exceções nos programas, exceções que excluíam do programa as ocupações,
como trabalho agrícola e serviço doméstico, em que os negros
concentravam-se com maior força. FDR também deixou a administração
desses programas ao arbítrio local, permitindo que os funcionários
democratas locais rotineiramente negassem benefícios aos negros.41 Foi em
1954, quando os republicanos controlaram a presidência, a Câmara e o
Senado, que eles finalmente eliminaram as exclusões que negavam o
Seguro Social e outros benefícios a muitos negros.
FDR também deu continuidade à segregação no governo federal, embora
ele tivesse o poder unilateral de reduzi-la ou suspendê-la. Os republicanos e
negros pediam com regularidade pelo fim da segregação nas Forças
Armadas e pela promoção por mérito. FDR mantinha sua recusa. Os
programas de habitação de FDR [Federal Housing Authority]
impulsionaram a habitação segregada, seu Corpo de Preservação Civil
[Civilian Conservation Corps] era segregado, até mesmo o centro de
pesquisa de bombas atômicas, em Oak Ridge, no Tennessee, era segregado,
e os jornalistas negros eram rotineiramente excluídos das conferências de
imprensa do presidente.42 Novamente, exceto a crédulos da grande
mentira, nada disso é “surpresa”; trata-se de algo totalmente de acordo com
a história racista do Partido Democrata.
Por fim, FDR internou mais de 120 000 nipo-americanos no que ele
mesmo chamou de ‘campos de concentração’ durante todo o envolvimento
da América na Segunda Guerra Mundial. Esses campos — que
funcionavam como prisões com censo diário e toques de recolher — eram
cercados de arame farpado e protegidos pela polícia militar. Sim, a América
estava em guerra contra o Japão. Mas a América também estava em guerra
contra a Alemanha e a Itália. Drasticamente menor foi o número de
germano-americanos ou de ítalo-americanos feito alvo do governo e
forçado a se mudar das regiões costeiras dos Estados Unidos. É difícil não
concordar com os nipo-americanos que contam ter sido marginalizados por
FDR da mesma maneira como Hitler marginalizou os judeus.

Embusteiros à Esquerda
O primeiro embusteiro na tentativa de encobrir os laços de FDR com o
fascismo foi, ironicamente, o próprio FDR. No dia 29 de abril de 1938, em
mensagem ao Congresso, FDR disse que “eventos infelizes no exterior”
ensinaram a América uma simples verdade: “A liberdade de uma
democracia não será segura se o povo tolerar o crescimento do poder
privado a ponto de este tornar-se mais forte do que o próprio Estado
democrático. Isso, em essência, é o fascismo — o indivíduo, um grupo ou
qualquer outro poder privado de controle tomando posse do governo”.43
Até o momento, conseguimos reconhecer a grande mentira em pleno
andamento. O fascismo não é o controle privado do governo; é o controle
governamental do setor privado. Ao aumentar o poder do Estado
centralizado em paralelo com os fascistas, FDR finge que o faz para salvar
a democracia americana do controle fascista sobre o governo imposto por
interesses do setor empresarial privado. FDR inverte o significado do
fascismo, assim fazendo com que seus oponentes republicanos pareçam
fascistas e ele, portanto, o antifascista.
Hoje, tamanha inversão é simplesmente demais para qualquer indivíduo
acreditar. Portanto, o historiador Ira Katznelson tenta encobrir FDR usando
uma abordagem mais delicada, uma forma superior de embuste, pode-se
dizer. Num capítulo anterior, demonstrei como Katznelson contribui para a
grande mentira ao jogar a culpa das atrocidades racistas do Partido
Democrata sobre o Sul. Junto de FDR, Katznelson emprega um modo de
defesa diferente.
Ele admite abertamente as tendências racistas e ditatoriais de FDR. O
comando de FDR, ele diz, carregava as “mais profundas imperfeições”.
Graças a FDR, “Taparam-se os olhos quando a insensibilidade e a
brutalidade seguiram adiante”. Os negócios que ele fez com os fanáticos de
seu próprio partido foram um “acordo podre”. Entretanto, no fim,
Katznelson apoia a linha do fascismo ditatorial de FDR, porque, em suas
palavras, “Com isso, o New Deal tornou-se possível”.44
O objetivo de Katznelson é convencer os progressistas e a esquerda de
que FDR foi um nobre estadista, disposto a sujar as mãos para conseguir
algo grande. Diz Katznelson, considere os limites sob os quais FDR operou;
ao contrário da Alemanha nazista, “não houve uma lei americana para
concessão de plenos poderes”.45 (Se Katznelson preferiria que houvesse é
questionável). Logo FDR teve de trabalhar com o Congresso; ele precisou
operar por dentro do sistema político americano para aprovar o New Deal,
por isso fazendo os acordos que fez.
Acredito que Katznelson não tenha percebido que, a fim de salvar FDR
da acusação de fascismo, ele próprio construiu um argumento fascista
clássico. Não me refiro à implicação por parte de Katznelson de que os fins
justificam os meios. Essa afirmação, por si só, é preocupante. Realmente
valeu a pena um cenário com negros sendo linchados e sistematicamente
discriminados por décadas, isso tudo no propósito de impulsionar um
punhado de programas do New Deal? Bom, ao menos na minha concepção,
digo que não. No entanto, independentemente da resposta, o impulso
fascista do argumento de Katznelson está em outro lugar.
O tema central do fascismo — e aqui podemos nos lembrar do filósofo
do fascismo, Giovanni Gentile, endossado pelo fundador oficial do
fascismo, Benito Mussolini — é o impulso do Estado centralizado. Na visão
de mundo fascista, como Mussolini nunca se cansava de dizer, o Estado é
tudo, e tudo mais está subordinado ao Estado. Diante disso, todas as
medidas são permitidas — por mais brutais e pesadas, por mais
inconsistentes que sejam com a liberdade privada ou com o sistema
constitucional de freios e contrapesos — quando se tem por fim expandir o
controle e o poder do Estado centralizado.
Mesmo perplexo e duvidoso quanto às táticas fascistas que FDR usava
para armar os tribunais, usurpar a autoridade do Congresso e fomentar as
formas mais repulsivas de racismo, Katznelson lhes é favorável, pois,
afinal, estas ajudaram a alcançar o objetivo fascista de FDR, que era
expandir o poder centralizado. E esse é o fascismo à esquerda com o qual
vivemos agora, tanto no impulso ideológico perpétuo da esquerda para
ampliar o poder do governo quanto na vontade da esquerda de usar quais
sejam as táticas mais desprezíveis e fundamentais necessárias para sair de
determinado lugar e chegar a outro. FDR não só foi o führer primitivo da
América; ele também ajudou a criar exércitos de camisas pardas da
esquerda americana, que ainda hoje permanecem presentes.
Capítulo Oito
Políticas de
Intimidação
A legitimação da violência contra um inimigo interno demonizado
nos aproxima do coração do fascismo.1
Robert Paxton, The Anatomy of Fascism

Meio ano depois, o choque da eleição de Trump ainda não foi totalmente
absorvido pela esquerda. Batalhas políticas amargas e incessantes levantam-
se entre Trump e seus adversários. Trata-se de uma resistência, em
proporção e veemência, que jamais presenciei. Os adversários não querem
apenas frustrar Trump, para vencê-lo e humilhá-lo; eles também querem
tirá-lo de lá. A mensagem oculta dos inimigos de Trump é a seguinte: é um
fato para nós, e não podemos descansar até que tenhamos expurgado esse
fascista e seus apoiadores dos corredores do poder.
Mas de onde é que tamanha oposição de fato vem? Onde está seu
epicentro? É tentador supor que venha do Partido Democrata. No entanto,
os democratas são minoria no Parlamento e no Congresso, e os
republicanos dominam as legislaturas estaduais e as governadorias. Apesar
de os democratas oporem-se tenazmente, o partido em posição minoritária
uma só coisa pode fazer. Ninguém, contudo, pode reduzir a profundidade e
a ferocidade do movimento contrário a Trump, de modo que o centro da
resistência deve estar em outro lugar.
Alguns dos chamados trumpsters comentam, na calada das redes
sociais, sobre a existência de um deep state, um “Estado profundo”,
“obscuro”, um Estado secreto dentro de um Estado de oposição,
naturalmente montado contra um presidente “de fora”, um intruso, que
prometeu “drenar o pântano”. Esses aliados de Trump direcionam o dedo
para ratos secretos do pântano, principalmente em várias agências de
inteligência do governo, da NSA à CIA, da CIA ao FBI. É certo que há
resistência burocrática a Trump dentro do governo, mas isso é algo com que
ele consegue lidar como chefe desse mesmo governo.
O verdadeiro poder da esquerda não se deriva de nenhuma conspiração
secreta, mas sim de um Estado dentro de um Estado, que está bem à vista.
A esquerda não precisa confiar no FBI, na CIA e na NSA, afinal já possui
três das instituições mais poderosas da nossa sociedade. A esquerda domina
a academia, Hollywood e a mídia. Esses são os três megafones mais
poderosos da nossa cultura, os principais instrumentos para disseminar
informações ao público, em especial aos jovens. Em uma sociedade
democrática, quem controla o fluxo de informações, esse também controla a
opinião pública, a qual, finalmente, decide todas as questões. Esse Estado
dentro do Estado é a arma mais forte e mortal do progressismo e do Partido
Democrata. Sem ela, progressistas e democratas não teriam chegado tão
longe nem erguido essa oposição implacável e impetuosa contra Trump.
Enquanto a vitória de Trump e o domínio político do GOP são
temporários, o Estado dentro do Estado da esquerda é permanente. A
esquerda essencialmente domina a academia, Hollywood e a mídia. É algo
que fica claro quando se pergunta como seria possível mudá-los.
Praticamente impossível. Hollywood é uma cultura incestuosa no íntimo e
altamente autoperpetuadora. Inclusive há um grupo conservador em
Hollywood, Friends of Abe, mas que, além de se reunir em segredo, tem
alguns de seus membros disfarçados.
Recentemente, um dos raros conservadores sinceros em Hollywood, Tim
Allen, suscitou certo furor quando disse a Jimmy Kimmel: “Bom, você é
atropelado se não acredita no que todos acreditam”. Allen acrescenta: “É
como na Alemanha de 1930”. Pouco tempo depois, a ABC chegou e
cancelou seu programa, Last Man Standing, apesar dos seis anos de alta
avaliação positiva.2 Se acontece com uma grande estrela como Allen, pode
acontecer com qualquer um, obviamente. Depois do meu documentário em
2016, Obama’s America [A América de Obama], membros do Friends of
Abe disseram-me que ficaram felizes com a produção, uma vez que eles
teriam perdido a carreira em Hollywood se o filme fosse produzido pelo
grupo. Na verdade, algumas pessoas de dentro de Hollywood ajudaram-me
com a produção, e todos insistiram em usar pseudônimos nos créditos.
A academia contrata seu próprio pessoal e de forma ampla não presta
satisfação a nenhuma força externa; pais, órgãos legislativos estaduais e ex-
alunos exercem um impacto meramente periférico sobre o que acontece lá.
Claro, conservadores conseguem ter uma cadeira ou enviar um palestrante
para essa ou aquela universidade, mas o impacto dessas medidas é,
certamente, apenas marginal. Afinal, a esquerda domina os departamentos
de humanas e ciências sociais de praticamente todas as universidades; e,
quanto mais seletiva for a universidade, maior será a extensão desse
domínio.
Em relatório recente, a Oregon Association of Scholars, grupo
conservador, mostra que as universidades sistematicamente “arrancam”
professores conservadores e se recusam a contratar novos. Curioso notar, o
mecanismo usado para arrancá-los está nas declarações sobre diversidade.
Os esquerdistas dentro das universidades insistem que os conservadores não
têm compromisso com a diversidade. Assim, tal fator torna-se o pretexto
para os progressistas erradicarem a pouca diversidade intelectual e
ideológica que resta no câmpus.3 Não bastasse ser deprimente, também é
uma situação improvável de mudar. E para mudá-la, os conservadores
teriam de começar várias centenas de câmpus próprios, o que é impossível.
A mídia convencional não é menos ideologicamente insular. Na verdade,
a mídia de direita não é uma refutação, mas uma constatação da grande
mídia. A mídia independente de direita existe desde que os conservadores
foram sistematicamente excluídos das redes de TV, redes a cabo, como a
CNN e a HBO, e dos jornais, como o New York Times, The Washington
Post e Los Angeles Times. O canal de direita Fox News tem uma grande
audiência em comparação a outras redes a cabo, mas está sob cerco
constante; e, de qualquer forma, sua audiência é uma pequena fração da
audiência da ABC, CBS e NBC. Estações de rádio conservadoras, mesmo
com todo o seu alcance, são coletivamente menores do que a Rádio Pública
Nacional, que é um órgão estatal da esquerda política.
Isso quer dizer que a esquerda pode trabalhar em conjunto para divulgar
amplamente sua mensagem, e o faz com naturalidade. É assim que grandes
mentiras são contadas e, em seguida, amplamente aceitas como verdade
incontestável. Normalmente, a mentira se origina na academia, onde um
acadêmico de esquerda a inventa e outros acadêmicos de esquerda a
celebram. Em seguida, a mídia a adota, invocando a teoria acadêmica para
dar-lhe validade e, ato contínuo, a ecoa na mente popular como uma
verdade comprovada. Então, periodicamente, Hollywood converte essa
narrativa em seriados de TV ou longas-metragens e cria um apoio
emocional para a causa, ao mesmo tempo em que faz tudo parecer maneiro
e moderno. Por fim, as três instituições aliam-se contra quem questiona a
grande mentira, procurando desacreditá-los, arruiná-los e, de preferência,
expulsá-los da vida pública.

Cultura de Intimidação
Como chegamos até aqui? Afinal de contas, as coisas nem sempre foram
assim. A velha Hollywood, da década de 1930 à década de 1950, era
dominada por imigrantes judeus que acreditavam no sonho americano e na
América como força para o bem no mundo. Conservadores como Reagan,
John Wayne e Jimmy Stewart tinham lugar naquela Hollywood. Mas
nenhum deles teria vez na atual. A mídia sempre se inclinou para a
esquerda, mas nem mesmo durante o caso Watergate foi tão agressiva e
proselitista com suas pautas esquerdistas quanto é agora. De certa forma, a
máscara de objetividade caiu por completo; o New York Times de hoje nem
sequer finge cobrir notícias de forma neutra ou equilibrada.
Quando eu era aluno em Dartmouth, no início da década de 1980, ainda
havia liberais clássicos da antiga leva no corpo docente. Agora eles já se
foram. Naquela época, como jovem que apoiava Reagan, eu podia debater
questões políticas com professores e estudantes de esquerda. É claro que a
Ivy League era de esquerda, mas não de maneira monolítica. Hoje, ao
contrário, os pontos de vista conservadores foram basicamente erradicados.
Hoje em dia, os jovens não rejeitam o conservadorismo; eles nem mesmo
sabem o que é isso. Se questionados acerca do “que conservadores
batalham para preservar?”, alunos até mesmo de nossos melhores câmpus
olharão boquiabertos e confusos.
Vivemos, hoje, numa das culturas mais fechadas, excludentes e
repressivas da História Moderna. De certa forma, a esquerda não precisa
promover uma caça às bruxas contra conservadores e atormentá-los; eles
simplesmente não os contratam, em primeiro lugar. Quando palestrantes
conservadores se apresentam em universidades, eles frequentemente são
impedidos de falar por manifestantes violentos de esquerda ou calados por
ativistas portando megafones. Esquerdistas rasgaram meus cartazes na
Universidade Trinity, San Antonio, onde palestrei recentemente. Já eu usei a
ação deles a meu favor, publicando aqueles atos de intolerância nas mídias
sociais. Como resultado, mil pessoas apareceram para a minha palestra, e a
tentativa esquerdista de frustrá-la falhou.
Mas quando Gavin McInnes, polêmico podcaster de direita, foi à
Universidade de Nova Iorque (UNI), em fevereiro de 2017, os antifascistas
de lá apareceram em massa para agredir McInnes e os alunos que o
convidaram; eles desferiram golpes contra os conservadores e atingiram o
próprio McInnes com spray de pimenta. “Estou assustado, a UNI
convidando um disseminador do ódio”, disse a ativista Tamara Fine. “Ele é
um fascista”. McInnes tentou falar, mas foi abafado pelos manifestantes.
Então ele interrompeu a palestra e deixou o local, enquanto os
manifestantes que estavam do lado de fora gritavam e brigavam com a
polícia local.4
Em abril de 2017, a especialista conservadora Heather MacDonald foi
impedida de falar na Universidade de Claremont McKenna. Cerca de
duzentos e cinquenta manifestantes barraram sua entrada ao auditório,
muitos deles berrando “fascista” enquanto alguns outros repetiam “a vida
negra importa”. As autoridades da Universidade citaram razões de
segurança para cancelar o evento público de MacDonald. Como alternativa,
foi sugerido que a palestra fosse dada somente aos organizadores do evento
e transmitida ao vivo nas redes sociais. “Decidiram que eu daria a palestra
ao vivo para um salão praticamente vazio”, disse MacDonald.5
Lembre-se de que estas são vozes conservadoras a serem importadas
para o câmpus. Não existe nenhum conservadorismo primitivo entre o
corpo docente dessas instituições. Mesmo assim, em ocasiões raras, quando
um conservador aparece, ele ou ela é vexado e às vezes agredido e
perseguido.
Essa é a América em que vivemos agora. Nossa cultura é uma cultura de
abuso e humilhação ritualísticos, em que as vozes dissidentes são
perseguidas, envergonhadas e aterrorizadas, em alguns casos não só para
silenciá-las quanto para destruir-lhes a carreira e a vida. A demonização é a
cultura corrente da esquerda nos dias de hoje. Por essa razão, por sinal, é
que muitos republicanos são tão tímidos no Congresso; eles estão
aterrorizados com o poder da mídia de humilhá-los de tal forma que seus
próprios apoiadores terão de sepultá-los.
Em contraste, manifestantes que usam de violência e criminosos são
celebrados na academia, na mídia e em Hollywood como ícones do
idealismo e mártires de uma grande causa. Considere o caso de Bill Ayers e
Bernardine Dohrn, chefes do serviço meteorológico Weather Underground,
ambos anteriormente citados na lista dos mais procurados do FBI. Mesmo
não se arrependendo do passado terrorista contra a própria pátria, ambos
foram reabilitados e reintegrados na comunidade progressista. Ayers e
Dohrn são agora professores ilustres, Ayers na Universidade de Illinois,
Chicago, e Dohrn na Faculdade Northwestern de Direito.
No universo progressista, facínoras também transformam-se em
celebridades. Che Guevara, assassino comunista e diretor de um campo de
prisioneiros políticos, ele que ordenou a execução de presos políticos e
causou caos em Cuba, na África e na América do Sul, provocando
problemas na Bolívia antes de ser morto, foi feito herói, venerado pelos
progressistas, destacado em inúmeras camisetas e cartazes de dormitórios
universitários. Trayvon Martin, arruaceiro que brigou violentamente com
um homem, o mesmo que então atirou nele em defesa própria,
imediatamente foi feito mártir da causa progressista. O presidente Obama
validou a santidade do rapaz dizendo que, no lugar de Trayvon, poderia ter
sido seu próprio filho.
De onde vem toda essa loucura? Melhor dizendo, como nossas
instituições culturais — da academia à mídia, da mídia à indústria do
cinema e da música — tornaram-se tão profundamente pervertidas? A
explicação mais corrente, oferecida por Allan Bloom no livro The Closing
of the American Mind [A Oclusão da Mente Americana], depois continuada
por Jonah Goldberg na obra Liberal Fascism, diz que todos esses traços
vêm da década de 1960. Como relata Bloom, na primavera de 1969,
esquerdistas armados e vestidos com uniformes militares invadiram os
escritórios da administração da Universidade Cornell. Eles também
tomaram o controle da união estudantil e a da estação de rádio local. Esta
foi uma tomada de controle no estilo fascista. Walter Berns, cientista
político que, na época, ensinava na Cornell e amigo de Bloom, leu para os
manifestantes excertos de discursos de Mussolini, ao que eles aplaudiram
descontroladamente, sem saber que estavam aplaudindo o fascismo.
Muitos conservadores aceitam o relato de Bloom de que foi a covarde
submissão da administração e do corpo docente às demandas dos
criminosos esquerdistas que simbolizaram a subsequente renúncia
ideológica da universidade americana à esquerda política. Alguns, é claro,
não se entregaram; eles apoiaram a tomada do poder e abraçaram as
demandas dos criminosos. Um desses colaboradores foi James Perkins,
presidente da Cornell — ex-partidário do New Deal no Escritório de
Administração de Preços de FDR —, ele próprio um esquerdista. Assim
também eram muitos dos jovens professores nos departamentos de ciências
humanas e sociais.
Um grupo de professores — principalmente liberais clássicos da velha
guarda — resistiu às demandas “irredutíveis” dos estudantes. Em sua
maioria democratas, eles acreditavam, no entanto, nos propósitos de uma
educação liberal e não tinham nenhuma intenção de permitir que os alunos
universitários criminosos lhes ditassem o que e como ensinar. Daí os
bandidos fizeram uma oferta irrecusável: submeter-se ou morrer. E eles se
submeteram. Apenas alguns docentes não esmoreceram — incluindo Bloom
— e quase todos deixaram a Universidade Cornell pouco tempo depois.
A esse respeito, em Cornell e em outros lugares, houve de fato uma
rendição. Hoje, em Cornell e em outras universidades, os manifestantes
esquerdistas não precisam assumir o establishment; eles são o
establishment. Atualmente a esquerda não precisa fazer demandas
curriculares; ela controla o comitê curricular. Não há necessidade de a
esquerda queimar ou proibir livros politicamente contestáveis; eles
simplesmente não os prescrevem. Assim, hoje, os esforços dos progressistas
visam excluir as poucas e raras vozes de oposição que ameaçam impedir a
consolidação de um completo monopólio sobre a informação e a opinião
dentro das universidades.
Portanto, o que Bloom explica a respeito da década de 1960 diz muito,
mas, por si só, é insuficiente. Então surge a seguinte pergunta: de onde os
criminosos de Cornell tiraram a ideia de tomar o controle conforme os
moldes fascistas? Quem lhes ensinou essas táticas que persistem até hoje?
Mostro, aqui, que os verdadeiros antepassados dos ativistas de Cornell e
seus sucessores são os mestres da opressão, da intimidação e do terror — os
nazistas.
Ao longo desse livro venho lidando com paralelos entre a esquerda
americana e os nazistas, mas esse é o ponto em que a esquerda de hoje mais
se parece com seu análogo nazista. Foram os nazistas que criaram um
Estado dentro do Estado e inventaram a sistematização do controle cultural,
as técnicas de propaganda, de opressão e intimidação agressivas que agora
servem de modus operandi para a esquerda progressista.

O Gleichschaltung Progressista
O termo nazista para tanto era Gleichschaltung, o que significa alinhar
toda a sociedade às prioridades esquerdistas do nazismo. Em seu cerne, o
Gleichschaltung é uma doutrina de uniformizar a política e controlar a
sociedade; é a forma original do politicamente correto. O Gleichschaltung
opera em grande parte por meio da pressão externa e da intimidação, mas os
nazistas o consideravam mais bem-sucedido quando redundava em
Selbsgleichschaltung, ou um tipo de “cooperação espontânea”, quando as
pessoas colocavam-se voluntariamente debaixo do domínio do regime
nazista. Aqui, argumento que a esquerda americana vem tentando fazer algo
semelhante ao aproximar a sociedade do progressismo.
Cabe ponderar dois casos paralelos em que a propaganda cultural foi
usada para transformar um marginal num ícone ideológico. Horst Wessel,
jovem de vinte e um anos, membro dos camisas pardas, era conhecido por
sua sangrenta luta contra os esquerdistas do Partido Comunista e contra os
rivais dos nazistas. Wessel também era artista. Mudou-se para uma
vizinhança boêmia de classe baixa e compôs um poema de dezesseis linhas
para o jornal nazista local. Os comunistas assassinaram Wessel em meio a
uma disputa envolvendo a proprietária de seu apartamento tentando
expulsar a namorada do jovem rapaz, uma ex-prostituta, chamada Erna
Jaenicke.
Ordinariamente falando, este seria um episódio sórdido que melhor teria
sido se caído no esquecimento. Mas Goebbels usou a mídia nazista para
retratar Wessel como mártir. Um grupo de nazistas colocou o poema de
Horst Wessel em uma antiga melodia alemã, e assim nasceu a canção de
Horst Wessel. Seu funeral foi uma enorme manifestação nazista, com
milhares de pessoas de luto e com o próprio Goebbels discursando. Em
meio a lágrimas e aplausos, Goebbels declarou: “Onde quer que haja uma
Alemanha, você, Horst Wessel, também estará lá”.6 Em seguida todos
entoaram em alta voz a canção de Horst Wessel, que se tornou uma espécie
de hino nazista, cantado durante a década de 1930 e durante a guerra para
gerar entusiasmo no público e nas tropas.7
Esse falso martírio é a base para os hinos progressistas entoados a
facínoras e criminosos de hoje, de Che Guevara a Bill Ayers e Trayvon
Marker. Da mesma forma para a esquerda e para os nazistas, parece não
haver nada que seu próprio lado não possa fazer e depois sair ileso. De certa
forma, quanto pior a ofensa, mais duro a esquerda luta para legitimá-la. Os
facínoras da esquerda não só tornam-se heróis culturais, mas também
aqueles que os criticam de alguma forma transformam-se nos vilões da
história. É a história de Horst Wessel sendo repetida vez após vez. Suponho
que a única diferença seja que ainda não existe uma canção para Trayvon
Martin, e que Goebbels nunca afirmou que, no lugar de Horst Wessel,
poderia ter sido seu próprio filho.
No entanto, mesmo quando abraça a propaganda nazista e suas táticas de
opressão, a esquerda insiste, engraçado dizer, afirmando que suas ações são
em nome do antinazismo. É daí que a respeitabilidade moral vem. É assim
que os facínoras fascistas podem ser retratados por seus aliados
progressistas na mídia e em Hollywood como sendo bonzinhos. Por
contraste, os seus alvos — as vítimas dos abusos e opressões fascistas —
são retratados como fascistas que merecem ser humilhados e abusados
dessa maneira. Se agora você começou a sentir que isso tudo não passa de
uma construção horrivelmente doentia e invertida, você está certo. Pois,
sim, realmente é.
Como as coisas chegaram a tal ponto? Essa incrível história começa com
um filósofo nazista que, por acaso, é um dos grandes filósofos do século
XX, Martin Heidegger. Ela continua com um dos alunos judeus de
Heidegger, Herbert Marcuse, que, curioso notar, aprendeu a sua mais
importante lição com os nazistas e a trouxe para a América. Por razões que
serão reveladas em breve, Marcuse ensinou a esquerda dos anos 1960 a
imitar os fascistas enquanto posava de antifascista.
Finalmente, voltamo-nos para outro refugiado do nazismo, que, no
entanto, em sua juventude, trabalhou com os nazistas e agora lidera, de
maneira semelhante a Mussolini e Hitler no passado, sua própria milícia
privada. Note que Trump não possui uma milícia privada, mas que esse
sujeito a tem. No caso dele, bem como no de Marcuse, a selvageria fascista
deriva sua legitimidade moral e respeitabilidade pública de uma falsa pose
antifascista. Seu nome é George Soros.

O Nazista Predileto da Esquerda


Desde a publicação de sua magnum opus, Ser e Tempo, a filosofia de
Martin Heidegger passou ao ramo de ampla influência. Especificamente, é
ela que fornece fundamentação intelectual para toda uma série de causas
progressistas. Primeiro, o ataque radical de Heidegger à metafísica
ocidental, de Platão até a então presente, inspiraram o movimento
acadêmico esquerdista chamado de desconstrucionismo. O questionamento
fundamental de Heidegger em relação à tecnologia é invocado pelos
chamados ecologistas radicais do movimento ambientalista. Sua oposição
ao capitalismo e ao materialismo — ambos associados ao “americanismo”
— impulsionou os ânimos do anticapitalismo e do antiamericanismo
esquerdista. O ataque de Heidegger ao individualismo e seu entusiasmo
pelas comunidades sob o conceito de sangue e solo ajudaram a fornecer
base à política de identidade moderna em que negros, hispânicos e outros
reivindicam uma identidade única baseada no pertencimento a um
determinado grupo étnico. Por fim, o ateísmo de Heidegger — sua
afirmação feita em Ser e Tempo de que somos seres mortais e devemos
encontrar o nosso propósito não em uma ordem transcendente, mas dentro
da força de nossa moralidade humana — fortificou a base secular e não
religiosa do progressismo moderno.
À luz disso, seria surpreendente — ou simplesmente apropriado? — o
fato de Heidegger admirar Hitler e ser membro ativo do Partido Nazista?
Heidegger foi nomeado reitor da Universidade de Friburgo apenas alguns
meses após Hitler ser feito chanceler da Alemanha, em 1933. Mais tarde,
naquele mesmo ano, na véspera da votação de Reichstag, Heidegger fez seu
Rektoratsrede, ou o pronunciamento do reitor, em que se pronunciava a
favor do “ressurgimento” alemão de Hitler. Ao mesmo tempo, Heidegger
circulou um manifesto de acadêmicos alemães que pleiteava lealdade a
Hitler e ao Estado nacional- socialista, estabelecendo-se assim como um
dos principais coordenadores do Gleichschaltung nazista.
Em seu então infame discurso como reitor, Heidegger ridicularizou a
noção de liberdade intelectual, dizendo que não passava de uma falsa
liberdade a ser subordinada aos objetivos maiores da nova Alemanha de
Hitler. Heidegger declarou que a verdadeira educação não está meramente
relacionada aos livros, mas também envolve a participação no Ministério do
Trabalho da Alemanha Nazista. Em suas palavras, “o Estado nacional-
socialista é um Estado dos trabalhadores”.
O discurso de Heidegger foi seguido de uma emocionante interpretação
da canção de Horst Wessel e de pessoas gritando Sieg Heil. Tempo depois,
Heidegger discursou sobre “a verdade e a grandeza interior” do nazismo.
Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, quando os crimes monstruosos
do nazismo já eram inegáveis, Heidegger manteve silêncio no tocante ao
que os nazistas fizeram aos judeus e a outras populações cativas.
Apesar de cúmplice do nazismo, muitos progressistas correram para
defendê-lo. Primeiro, dizem que Heidegger foi nazista por apenas um breve
período de tempo, na década de 1930; e que, em meados dessa mesma
década, já começava a distanciar-se do nazismo. Em segundo lugar, os
progressistas salientam que muitos dos mais brilhantes alunos de
Heidegger, como Karl Lowith, Herbert Marcuse e Hannah Arendt, com
quem teve um caso extraconjugal, eram judeus; assim, ele não poderia ter
sido antissemita. Talvez, dizem esses defensores esquerdistas, Heidegger
estivesse brevemente apaixonado pelo nazismo, mas logo viu o erro de
aliar-se àquele partido.
O próprio Heidegger seguiu essa linha após a Segunda Guerra Mundial,
na qual minimizava seu compromisso com o Partido Nazista. Heidegger
dizia que suas palestras sobre Nietzsche, no final da década de 1930 e início
da década de 1940, eram, se interpretadas corretamente, críticas ao
nazismo. No entanto, neste ponto, Heidegger foi insincero. As chamadas
críticas ao nazismo, se é que existiram, foram tão obscuras que nem mesmo
o leitor mais cuidadoso as decifraria. A insinceridade de Heidegger, na
verdade completamente desonesta, pode ser comparada, aqui, aos
eugenistas do Partido Nazista, que, tendo participado dos projetos de
esterilização e eutanásia durante o reinado de Hitler, depois tentaram cobrir
suas pegadas negando o passado e silenciosamente entrando no movimento
de controle populacional.
O problema para Heidegger e muitos de seus apologistas de esquerda é
que muita coisa veio à tona, expondo o relacionamento íntimo e permanente
de Heidegger com o nazismo. Esse é o homem que, extasiado, disse de
Hitler: “Somente o Führer é a realidade presente e futura das leis alemãs. O
Führer despertou essa vontade em todo o povo e consolidou-a em uma
solução única”.8 Heidegger não só abraçava os nazistas, mas também via o
próprio nazismo como decorrente de sua filosofia, uma expressão política
dos temas inovadores de Ser e Tempo. Além do mais, a recente publicação
dos cadernos negros de Heidegger [black notebooks], escritos durante um
período de quarenta anos, de 1931 até o início da década de 1970, mostra
como ele foi um antissemita no decorrer da vida.
Diante desse assustador conjunto de provas, muitos dos defensores
esquerdistas de Heidegger mudaram sua linha de apologética. Agora eles
afirmam que, embora um filósofo possivelmente comprometido ao Partido
Nazista, isso não faz dele um filósofo nazista. A esse respeito, a esquerda
distingue Heidegger dos fomentadores intelectuais e teóricos da doutrina
nazista como Alfred Rosenberg, ideólogo do Partido. O objetivo da
esquerda aqui é descartar o homem Heidegger por sua política desprezível,
mas retê-lo Heidegger, o filósofo, como inspiração para toda uma série de
causas esquerdistas.
Bom, é verdade, Heidegger não foi um filósofo do nazismo, assim
dizendo, igual Giovanni Gentile foi do fascismo. Mas não se deduz disso
que o nazismo de Heidegger não estivesse enraizado nas premissas de sua
filosofia. Basicamente, o pensamento de Heidegger emergiu de uma
distinção entre a sociedade tribal, ou Gemeinschaft, e a sociedade
comercial, ou Gesellschaft. Essa distinção não se originou com Heidegger
— foi adotada pela primeira vez pelo sociólogo alemão Ferdinand Toennies
—, mas sua obra se construiu a partir dela.
Essencialmente, Heidegger apoiou o nazismo como atestação do
conceito “solo e sangue” da Gemeinschaft tribal. Ele detestava a
Gesellschaft cosmopolita, uma vez que a julgava uma erosão dos laços da
sociedade tribal. Heidegger associava a Gesellschaft à América, um país
baseado em comércio e negócios. Ele também associava a Gesellschaft aos
judeus. Em seus cadernos negros, Heidegger chama os judeus de “sem
mundo”, pelo que ele quer dizer que judeus são pessoas sem lugar, sem
terra, unidos continentes afora, no que ele enxergava a mais imunda caça
por renda e comércio. Mesmo nesse breve relato, nota-se como as
afinidades de Heidegger com o nazismo emergem das profundezas de seus
compromissos filosóficos.
Karl Lowith, um dos alunos de Heidegger, protestou contra o esforço
feito para evitar a conexão entre a filosofia de Heidegger e seu nazismo,
indicando que, décadas atrás, o próprio Heidegger havia entendido sua
filosofia como um guia ao nazismo; portanto, não faria sentido aos
discípulos de Heidegger fingir que entenderam Heidegger melhor do que o
próprio Heidegger.9 Apesar de tudo, seus acólitos progressistas recusam-se
a atender os protestos de Lowith.
Em publicação recente, Sheldon Wolin, cientista político esquerdista,
ataca seus companheiros progressistas por agora serem defensores tão
persistentes e iludidos de um pensador nazista.10 Wolin se propõe a
resolver um mistério: como, pergunta ele, um nazista de direita confesso
virou o queridinho da esquerda acadêmica e política contemporânea? É
claro, a essa altura, já se sabe que não se trata de mistério coisa nenhuma. O
nazismo é de esquerda, não de direita. Assim, não é um enigma que as
mesmas convicções da esquerda — ódio a Deus, ao capitalismo tecnológico
e ao “americanismo” —, convicções que conduziram Heidegger ao
nazismo, sejam, precisamente, bem aquilo que o tornam atraente aos
esquerdistas de hoje.
O que Wolin quer então? Basicamente, ele quer que seus camaradas
progressistas retornem à grande mentira. Wolin percebe que simplesmente
não há como vencer enquanto se encobre um entusiasta nazista, por mais
nobre que seja sua linhagem filosófica. Wolin urge aos companheiros
esquerdistas que se livrem de Heidegger, denunciando-o e fazendo com que
ele não seja feito um deles. Se pudesse me colocar no lugar de Wolin e
expor seu argumento em minhas próprias palavras, eu diria o seguinte: “Tá,
e se Heidegger fosse um de nós? Mussolini também foi um de nós.
Significa que devemos tentar redimir Mussolini? Vamos, esquerdistas.
Progredimos tanto culpando a direita pelo nazismo. Continuemos a dissertar
que Heidegger foi de direita e fiquemos longe dele. Não acabemos com a
nossa farsa agora, e só para salvar Heidegger”.
A urgência que Wolin usa para instar com a esquerda que se separe de
Heidegger talvez se explique pelo fato de que o maior projeto de Heidegger
e o maior projeto da esquerda moderna são exatamente o mesmo.
Heidegger insistia que tudo era político e é no que a esquerda de hoje
também acredita.
Heidegger dizia que a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica
eram mitos. O que realmente importava era a comunidade maior. A
esquerda pensa o mesmo, mais uma vez. Heidegger favorecia não só o
debate como a doutrinação ideológica aberta sobre a juventude. Soa
familiar? Heidegger conhecia e, evidentemente, apoiava a opressão e a
expulsão de judeus e outros “indesejáveis” do câmpus alemão. A esquerda
de hoje tem uma nova categoria de indesejáveis; dessa vez não são judeus,
mas os conservadores. Por fim, o objetivo de Heidegger era, de modo geral,
atingir a conformidade ou unidade ideológica, e, embora a esquerda fale
muito de diversidade dentro dos câmpus, é bastante óbvio que a dita
diversidade não passa de cobertura para a unidade e a conformidade
ideológica, exatamente do tipo que Heidegger buscou no seu tempo e para o
seu país.
Ainda mais do que a maioria dos outros professores na Alemanha,
Heidegger acedeu com entusiasmo ao Gleichschaltung de Hitler. Na
verdade, ele buscou a liderança acadêmica do Gleichschaltung nas
universidades alemãs. Não funcionou, os nazistas descobriram que ele era
um típico intelectual incompetente e deram a posição a outra pessoa. Ocorre
que o Gleichschaltung de Heidegger é precisamente o que a esquerda tenta
hoje, não apenas com as universidades da América, mas com toda a cultura
americana. Por consequência, Wolin não quer o odor nazista de Heidegger
permeando o amplo projeto bem-sucedido da esquerda de criar um Estado
dentro de um Estado.

As Táticas Básicas dos Camisas Pardas


Em 1925, Theodor Lessing, filósofo judeu, falou contra o clima político
repressivo da Alemanha Weimar. Embora mirasse explicitamente a covardia
do regime de Weimar sob Paul von Hindenburg, seu verdadeiro alvo era o
poder emergente do nazismo, criticando o governo por ceder-lhe espaço. Os
nazistas imediatamente reconheceram a ameaça representada por Lessing.
A juventude hitlerista da Universidade de Hanôver formou um “comitê
contra Lessing”. Eles encorajaram os alunos a boicotar suas palestras. Uma
juventude de nazistas então fazia-se presente e interrompia as aulas de
Lessing, que foi forçado a desistir de sua ocupação acadêmica no ano
seguinte.
Descrevendo o que aconteceu, Lessing reconhece que nada poderia ter
feito para evitar que fosse “calado, ameaçado e denegrido” por ativistas
estudantis. Conforme o relato, ele estava indefeso “contra as vozes
assassinas de jovens que não aceitam responsabilidades individuais, uma
juventude que se apresenta como porta-voz de um grupo ou de um ideal
impessoal, sempre falando de um tipo nobre de “nós”, só que distribuindo
insultos pessoais [...] e reivindicando que tudo aquilo que acontece é em
nome do verdadeiro, do bom e do belo”.11 Década de 1920, eis o fascismo
no estilo alemão.
Em março de 2017, Charles Murray, célebre cientista político — ex-
colega meu no Instituto American Enterprise —, marcou de palestrar sobre
as divisões de classe na sociedade americana em um bastião progressista, a
Universidade de Middlebury, em Vermont. Centenas de manifestantes
compareceram ao lado do Centro Estudantil McCullough, onde Murray
estava programado para falar e dialogar com a cientista política de
Middlebury, Allison Stanger. Murray é libertário e tende ao Partido
Republicano, ainda que não seja fã de Donald Trump. Ao contrário de
Lessing, que ensinava na universidade onde foi assediado, Murray não
leciona em Middlebury, praticamente desprovido de um corpo docente e
gerencial conservador. (Stanger é uma democrata moderada e afiliada ao
grupo New America Foundation).
De qualquer forma, a discussão pretendia ser acadêmica e esclarecedora,
dando aos alunos uma perspectiva que nunca tiveram. Mas os manifestantes
de Middleburry não tinham interesse nenhum nisso. Os ativistas
enfrentaram Murray e Stanger, atacando-a em dado momento. Dentro então
do Wilson Hall, os manifestantes viraram as costas para Murray e
começaram a gritar, berrar e a vaiá-lo. Murray percebeu que simplesmente
não podia ser ouvido. Funcionários da universidade escoltaram Murray e
Stanger para outro local, onde o diálogo, por razões de segurança, foi
exibido via televisão através de circuitos internos.
De acordo com Bill Burger, porta-voz da Middlebury, Murray e Stanger
foram, após o evento, “confrontados fisicamente, e violentamente, por um
grupo de manifestantes”, mascarados no estilo característico da Antifa.
Murray e Stanger abaixaram-se no interior do veículo de um dos
administradores, mas os manifestantes atacaram o carro, golpeando-o,
balançando-o e tentando evitar que o automóvel se movesse. “Em dado
momento”, disse Burger, “uma grande placa de trânsito foi jogada na frente
do carro. Então finalmente alguns guardas conseguiram abrir caminho e
permitiram que o veículo saísse do câmpus”.
De acordo com Burger, “durante o confronto fora do Centro Estudantil
McCullough, um dos manifestantes puxou o cabelo da professora Stanger e
torceu seu pescoço. Ela foi atendida no hospital Porter mais tarde e está
usando um colar cervical”. Murray elogiou os seguranças do câmpus pela
proteção que proveram, mas descreveu o que passou como uma “ação
assustadora e violenta de uma multidão”.12 Meados de 2017, eis o tão
aclamado antifascismo progressista no estilo americano.
Por que esse aparente antifascismo por parte dos progressistas se parece
tanto com o fascismo ao qual pretende se opor? Indo mais a fundo, o que é
o antifascismo conforme o termo agora é usado pela esquerda americana? A
fim de resposta, cabe recorrer aos fundadores do chamado movimento
antifascista da esquerda progressista, o sociólogo Herbert Marcuse e seu
companheiro, Theodor Adorno, ambos da Escola de Frankfurt, ou do
Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt sobre o Meno, Alemanha.
Por cerca de um ano ou pouco mais, temos ouvido muito sobre a Escola
de Frankfurt. Aqui estão dois artigos recentes: um de Sean Illing no site
Vox, intitulado “Quer Entender a Era Trump? Leia a Escola Frankfurt”; o
outro, de Alex Ross para a revista New Yorker, intitulado “A Escola
Frankfurt Sabia que Trump Estava Chegando”.13 Ambos esquerdistas, o
que eles querem é que vejamos a relevância da Escola de Frankfurt — e
eles estão certos, mas não pelas razões que pensam.
O homem que se tornou a figura mais influente da Escola de Frankfurt,
Herbert Marcuse, foi aluno de Heidegger em Freiburgo, onde também
passou a ser seu assistente. Marcuse, jovem marxista, atraiu-se por
Heidegger pelo que viu nele um revolucionário igual a Marx. Um dos temas
centrais de Marx, a alienação, também é central para Heidegger. Ambos
foram homens de esquerda que desprezaram o capitalismo tecnológico. Em
sua obra, Marcuse procurou incorporar Marx a Heidegger. A Stanford
Encyclopedia of Philosophy [Enciclopédia de Filosofia de Stanford]
expressa o projeto de Marcuse como uma tentativa de criar um “marxismo
heideggeriano”.14
Marcuse reconheceu o crescente fascismo de Heidegger, o que, por si só,
não foi um problema. O fascismo, como já mencionado, não é
inerentemente antissemita. Marcuse sabia que o ódio de Heidegger pelo
individualismo, pelo capitalismo e pelo “americanismo” era partilhado por
fascistas e marxistas. Precisamente por essa razão, Marcuse acreditava que
uma fusão do socialismo marxista com o fascismo heideggeriano resultaria
numa síntese lógica. Percebe-se no projeto intelectual do jovem Marcuse
uma confirmação daquilo que demonstrei anteriormente, as raízes
esquerdistas e socialistas do fascismo. Mas Marcuse percebeu que Hitler era
um profundo antissemita. Como judeu, Marcuse compreendia o perigo que
o nacional-socialismo alemão lhe representava pessoalmente.
Logo Marcuse rompeu com Heidegger e fugiu do país. Depois juntou-se
à Escola de Frankfurt, formada em 1922, mas a maioria dos seus estudiosos
durante a era de Hitler foi exilada para viver e trabalhar no exterior, uma
vez que eram judeus em território alemão. Um dos colegas de Marcuse foi
Theodor Adorno. Ambos vieram para os Estados Unidos. Adorno trabalhou
no Instituto de Pesquisa Social, filial da Escola de Frankfurt em Nova
Iorque, e depois se mudou para a Califórnia, onde permaneceu por vários
anos antes de retornar à Europa, em 1949.
Marcuse trabalhou na Universidade Columbia e mais tarde se mudou,
durante a Segunda Guerra Mundial, para Washington, D.C. a trabalho em
duas agências do governo: o Departamento de Informações de Guerra e
depois o Escritório de Serviços Estratégicos, precursor da CIA.
Posteriormente Marcuse ensinou na Universidade Brandeis e depois na
Universidade da Califórnia em San Diego, onde permaneceu até a sua
morte, no ano de 1979.
A Enganosa Origem do “Antifascismo”
Estes dois homens exerceram enorme influência sobre a cultura
acadêmica, sobre a cultura popular e deram ao progressismo suas
credenciais antifascistas. Mas não no início. A princípio, a Escola de
Frankfurt tentou vender seus vários rótulos de marxismo e socialismo na
América, mas encontraram poucos compradores. Quem queria ouvir um
grupo de alemães enfadonhos balbuciar sobre os males da cultura de
consumo capitalista? Embora tal retórica fosse comum nos partidos
socialistas e nos movimentos da Europa, os americanos não reagiram bem.
Aqui as pessoas gostam de lindas casas, carros e piscinas no quintal.
Assim Marcuse e Adorno colocaram suas cabeças para trabalhar e
tiveram uma epifania conjunta. Eles perceberam que poderiam vender a si
próprios como antifascistas. Afinal de contas, esta era a era após a Segunda
Guerra Mundial. A América havia acabado de guerrear contra os nazistas.
O nazismo, logo depois da guerra, tornou-se a própria medida do mal.
Marcuse e Adorno perceberam que tudo associado ao nazismo ou ao
fascismo seria automaticamente manchado. E eles se propuseram a
estabelecer esse fato óbvio para uso político em favor da esquerda política.
Não se sabia muito a respeito do fascismo e do nazismo fora da
cobertura superficial dos jornais e das rádios. Academia e mídia, ambas
reconhecidamente desconheciam o que atraía tantas pessoas ao fascismo e
ao nazismo, ainda mais com o antissemitismo que os permeava. Marcuse e
Adorno eram intelectuais alemães. Ambos judeus, era de se esperar que
conhecessem o antissemitismo e o destino dos judeus. Eram, ademais,
refugiados da Alemanha nazista, o que lhes possibilitaria reclamar a
oportunidade de falar sobre o nazismo “de dentro”, por assim dizer.
A estratégia de marketing funcionou. Marcuse foi contratado pelo
governo dos EUA para prover informações sobre como combater o nazismo
ideologicamente. Após a guerra, Marcuse foi instrumental na formação de
programas de reeducação na Alemanha, alguns visando explicitamente
erradicar o que restasse da lealdade ao nazismo das pessoas. Ao lado de
Adorno, Marcuse também moldou a considerada educação antifascista nos
Estados Unidos. A obra de Adorno e Marcuse foi adotada pelo Comitê
Judaico Americano, sentindo naturalmente que esses dois judeus alemães
exilados conheceriam precisamente a natureza do nazismo, do fascismo e
do antissemitismo, sabendo como superá-las.
Na verdade, nem o governo dos EUA nem o Comitê Judaico Americano
perceberam que Adorno e Marcuse tinham sua própria agenda: não lutar
contra o fascismo per se, mas promover o marxismo e uma agenda política
de esquerda. O marxismo e o fascismo são, conforme já visto, bastante
próximos; são ideologias coletivistas da esquerda. Seus inimigos comuns
são, é claro, o livre mercado e as diversas instituições do setor privado,
incluindo a igreja e a família tradicional. Marxismo e fascismo, ambos
procuraram livrar-se do capitalismo e recriar a ordem social. Assim também
Marcuse, Adorno e a Escola de Frankfurt.
Portanto, a Escola de Frankfurt decidiu reembalar o fascismo como
forma de capitalismo e tradicionalismo moral. Com efeito, eles
reinventaram o fascismo como fenômeno da direita política. Nesta
interpretação estapafúrdia, o fascismo foi transformado em duas coisas que
os verdadeiros fascistas desprezavam: livre mercado e apoio a uma ordem
moral tradicional. Resoluta e determinada, a Escola de Frankfurt, tornando
o povo menos apegados às principais instituições econômicas e sociais da
sociedade americana, lançou um programa maciço para erradicar o
fascismo nascente nos Estados Unidos.
O documento clássico sobre este ponto é a famosa Escala F de Adorno.
O F vem de fascismo. Adorno esboçou-a em seu livro The Authoritarian
Personality [A Personalidade Autoritária], escrito em 1950. O argumento
de base consistia em afirmar que o fascismo é uma forma de autoritarismo e
que a pior manifestação do autoritarismo é a repressão voluntariosa. Adorno
argumentou que o fascismo desenvolve-se cedo e que podemos encontrá-lo
no apego dos jovens à superstição religiosa e aos valores convencionais
pertencentes à classe média de família, sexo e sociedade.15
Cínico, Adorno produziu essa lista de perguntas, objetivando detectar
afinidades fascistas: “A obediência e o respeito pela autoridade são as
virtudes mais importantes que uma criança deve aprender [...] A
homossexualidade é uma forma particularmente doentia de delinquência
[...] Nenhum insulto à própria honra deve ficar impune [...] Não importa seu
modo aparente de agir, os homens estão interessados em mulheres por
apenas uma razão”. Resumindo, uma resposta positiva já faria da pessoa um
fascista em ascensão.
A lógica subjacente à posição de Adorno estava ali para garantir que o
fascismo alemão e italiano seriam, em seu cerne, caracterizados pela
repressão interna tanto psicológica quanto sexual. No entanto, um momento
de reflexão mostra por que sua posição não tem sentido. De modo geral, a
sociedade, no que dizia respeito à religião, à família e à sexualidade, era
bastante semelhante em todos esses países, permitindo-se a variações
moderadas. Talvez alguém argumente, não sem especulações, que os
alemães da época eram mais rígidos do que, por exemplo, os franceses, mas
quem argumentaria que os italianos eram mais oprimidos do que, digamos,
os ingleses?
Assim a Escala F de Adorno não tinha poder para explicar por que o
fascismo chegou ao poder na Alemanha e na Itália, mas não em outros
lugares. A maioria dos verdadeiros fascistas, observa objetivamente o
historiador Anthony James Gregor no livro The Ideology of Fascism, “não
teria atingido pontuações especialmente altas”.16 A única pergunta que de
fato teria descoberto afinidades fascistas — “Você apoia o aumento do
poder do Estado centralizado sobre os indivíduos, as famílias, as igrejas e
sobre todo o setor privado?” —, Adorno deixou de fora da Escala F,
provavelmente por ocasião de que progressistas e democratas a isso
responderiam positivamente.
Dado o absurdo patente do antifascismo de Adorno com sua Escala F
obviamente fraudulenta e pseudocientífica, por que os principais meios de
comunicação da academia americana apaixonaram-se por ela? Por que
acompanharam Adorno e declararam seu trabalho como sendo a base
definitiva da educação antifascista? Abreviando a resposta, até mesmo
naquela época a academia tinha fortes inclinações progressistas; além do
mais, os progressistas estavam em busca de como encobrir a cumplicidade
progressista com o fascismo e com o nazismo.
Os progressistas já começavam a enterrar aquilo que os associava com
Mussolini e Hitler. Ato contínuo, ocultavam também o vínculo de FDR com
o fascismo e com o nazismo. Em meio a tudo isso, os progressistas
perceberam, para admiração e alívio, que ali estava um intelectual, judeu da
Alemanha, afirmando que o fascismo era um fenômeno de direita. Óbvio
dizer, o que ele fazia era ligar o fascismo aos conservadores que apoiavam o
capitalismo e afirmavam a religião e a família tradicional. Tratava-se de
uma mentira — os verdadeiros fascistas detestavam essas instituições e
intentavam destruí-las —, mas uma mentira politicamente conveniente.
Dessa forma, com prazer os progressistas aderiram à falácia e a
brindaram; e o brinde perdura. Em 2005, por exemplo, Alan Wolfe,
sociólogo progressista, admitiu falhas na obra de Adorno, mas elogiou seu
livro The Authoritarian Personality como “mais relevante agora”, pois
“parece capturar o prisma por que muitos políticos da direita cristã
enxergam o mundo”.17 O valor de Adorno é que ele capacita muitos a
dizer: “Abaixo o fascismo! Agora, vamos nos livrar do conservadorismo e
expor esse pessoal maligno da direita”.

O Pervertido Sexual como Antifascista


Agora, cumpre passar de Adorno para um réu sob ainda maiores
acusações, Marcuse, que fez duas contribuições significativas para conferir
ao progressismo sua reputação antifascista, cada uma delas significativa por
direito próprio. A primeira delas é, em certo sentido, derivada. Ela procede
de um pensamento corolário de Adorno. Se o fascismo é definido pela
repressão interna tanto psicológica como sexual, conforme Adorno
defendia, o antifascismo significa o oposto — significa libertação interna
tanto psicológica como sexual.
Esta é a mensagem do primeiro livro importante de Marcuse, Eros e
Civilização. Marcuse defendeu a liberdade sexual ao inverter o famoso
argumento que Freud apresenta em sua obra O Mal-Estar na Civilização.
Freud argumenta que as civilizações se constroem reprimindo impulsos
eróticos e sexuais. Esses impulsos estão transbordando e, se não
controlados, terão o poder de produzir o caos social. Mas quando
controlados, quando, por assim dizer, adiada a gratificação, pode-se daí
canalizar as energias e voltá-las a iniciativas produtivas.
Marcuse argumenta o contrário, que a sociedade capitalista tecnológica
moderna estabeleceu elaborados sistemas de controle dos órgãos sexuais, o
que Marcuse chama de “o sacrifício da libido”. Marcuse não só culpa o
sistema do livre mercado por, supostamente, codificar e comercializar o
sexo — transformando-o em mercadoria —, mas além disso culpa os
costumes religiosos e sociais de repressão e escravização dos instintos
sexuais. Triste em constatar, Marcuse notou que existe atualmente na
América uma “canalização da sexualidade na reprodução monógama” e um
“tabu sobre perversões”.
Despojada e involuntariamente cômico, Marcuse torna público que essa
“sexualidade reprimida” indiciava o emergente fascismo americano. Se
permanecer presa, “tamanha sexualidade será manifesta nas formas mais
hediondas e tão bem conhecidas”, incluindo as “orgias sádicas e
masoquistas” dos prisioneiros e “guardas do campo de concentração”. O
mantra de Marcuse era “acabe com isso tudo”. Liberte a libido. Libere tudo.
Marcuse denominou o que ele promoveu de “sexualidade polimórfica”.18
Celebrando a mais absoluta perversão, tal mantra não poderia estar mais
perfeitamente preciso do que na década de 1960, quando uma geração de
jovens ativistas alienou-se dos pais, dos pastores e das normas da sociedade.
Eles estavam buscando por um guru do sexo, e Marcuse tornou-se seu
apóstolo da liberdade sexual, descrição de si mesmo que rejeitava
formalmente — ele gostava de posar de intelectual desinteressado —, mas
também entendia que, precisamente, tal era a base para sua posição de
celebridade na contracultura dos anos 1960. Marcuse supria os jovens de
bases formuladas para suas aventuras genitais: era isso que os filhos da
revolução sexual mais gostavam nele. Basicamente, Marcuse fez da boêmia
sexual sua valente manifestação do antifascismo.
Assim como seu colega Adorno, Marcuse estava por criar uma grande
fraude. Os enfadonhos boêmios da década de 1960 não faziam ideia, mas
Marcuse certamente sabia que os nazistas e os fascistas italianos eram eles
mesmos — quase que unanimemente — boêmios. O próprio Hitler foi
pintor e artista antes de entrar para a política. Richard Evans, historiador,
não hesita em chamá-lo de “boêmio”.19 Obcecado pela música, costumava
participar do Festival de Bayreuth. Segundo Hitler, a música de Wagner
refletia o triunfo da arte sobre a vida. Ele também era vegetariano. Hitler
tinha uma amante secreta chamada Eva Braun, com quem só casou um dia
antes de ambos cometerem suicídio. No caso deles, o voto “até que a morte
nos separe” foi, literalmente, uma questão de horas.
Hitler desprezava o cristianismo considerando-o uma espécie de doença
e costumava comentar que buscaria por fim erradicá-lo no Terceiro Reich.
“O cristianismo puro”, dizia Hitler, “conduz simplesmente à aniquilação da
humanidade [...] Sejamos os únicos imunes a esta doença”. Embora
reconhecesse não convir politicamente o ataque aberto ao cristianismo,
Hitler o chamou, em particular, de “invenção de cérebros doentes: não se
poderia imaginar nada mais sem sentido”. Sobre o cristianismo, palavras de
Hitler: “A catástrofe para nós é a de estarmos amarrados a uma religião que
se revolta contra todas as alegrias dos sentidos”.20
Himmler, segundo braço direito de Hitler e comandante da SS, era ateu e
tinha sua secretária, Hedwig Potthast, como amante. Embora por vezes
retratado como rígido tradicionalista moral, nada poderia estar mais longe
da verdade: Himmler imaginava fazendas de procriação humana em que os
tipos arianos selecionados se reproduziriam de forma promíscua com
mulheres arianas selecionadas para reprodução. Nas palavras da
historiadora Sarah Helm, “um constante fornecimento de crianças arianas
perfeitas”.
Himmler também era entusiasta da alimentação natural e fervoroso
defensor da agricultura orgânica. Ele insistia no cultivo de alimentos
orgânicos em campos de concentração; certa feita, parou em Auschwitz
simplesmente para visitar a horta que lá havia. Muitos dos principais
nazistas condenavam o congestionamento das cidades e afirmavam o valor
de viver em comunhão com a natureza. O historiador Stanley Payne escreve
que, no nazismo, encontram-se “as primeiras grandes expressões do
ambientalismo moderno”.21
Goebbels também, ateu e galanteador, com uma série de romances
notórios, sendo um com Lida Baarova, atriz tcheca. Ele escreveu uma peça
e um romance autobiográfico, sem contar que se supunha romanesco, e
escreveu sua tese de doutorado na Universidade de Heidelberg sobre o
Romantismo alemão. Antes de entrar na política, Goebbels queria ser artista
e escritor. Se vivo hoje, seria fácil imaginá-lo vivendo nas redondezas de
Greenwich Village e ensinando línguas românicas na Universidade
Columbia ou na Universidade de Nova Iorque.
O mesmo com Mussolini, boêmio que escreveu uma peça e se
considerava talentoso violinista. Também era ateu e, apesar de casado,
homem promíscuo que, dado à jactância, ostentava sua promiscuidade.
Richard Evans, historiador, nota que “Mussolini gastou um bom tempo com
a própria vida sexual; sua imagem oficial como homem de família, amoroso
e fiel existia em paralelo a uma imagem não oficial do homem de impulsos
priápicos incontroláveis”.22 Burgueses religiosos e tradicionalistas morais é
que esses homens não foram.
Progressistas e esquerdistas ocasionalmente procuram defender Adorno e
Marcuse e provar o tradicionalismo moral dos fascistas, alegando que estes
eram contra os homossexuais. É verdade que os homossexuais foram, mais
tarde, um dos grupos capturados e presos nos campos de concentração, mas
isso nada teve que ver com questões morais. Em vez disso, baseava-se na
ideia nazista de que era imperativo que a Alemanha multiplicasse sua
população nórdica ou ariana, e a homossexualidade, por sua vez, era vista
como impedimento a esse processo. Dois homossexuais, ambos
notoriamente extravagantes, do Partido Nazista — o especialista jurídico do
partido, Helmut Nicolai, e Achim Gerke, que serviu no Ministério do
Interior de Hitler — foram purgados em 1935 com base nessa alegação.
Extensamente reconhecido nas décadas de 1920 e de 1930, um número
significativo de camisas pardas nazistas, incluindo o líder do grupo, Ernst
Röhm, era “como tantos dos primeiros nazistas”,23 homossexuais. William
Shirer conta que o líder dos camisas pardas de Munique, Edmund Heines,
não só era um assassino condenado, mas também homossexual. Os
comunistas e os democratas sociais zombavam dos camisas pardas nazistas,
chamando-os de nomes como a Irmandade dos Efeminados na Casa Parda.
Himmler e Goebbels, temerosos de que uma reputação gay prejudicasse
as perspectivas políticas do Partido Nazista, exortaram Hitler a reduzir a
presença homossexual entre os camisas pardas. Mas Hitler se recusava,
afirmando que essas coisas diziam respeito “puramente à esfera privada”.
Os camisas pardas, enfatizava ele, não eram uma “ordem da moral social”,
mas, sim, um “grupo de guerreiros”. Por que então, perguntou Hitler, ele
deveria se importar com o que seus homens faziam no quarto depois de
cumprir com o dever?24
Os camisas pardas só se tornaram um problema quando ameaçaram
substituir, como brigada de execução do país, a polícia alemã e as Forças
Armadas. Hitler precisava do exército e da polícia, e assim concordou,
ainda que relutante, em suprimi-los. Quando apareceu no Hotel
Hanselbauer para prender Röhm e seus principais tenentes, Hitler se viu no
meio de uma orgia homossexual. Na primeira porta que abriu, deparou-se
com Heines nu na cama com um jovem de dezoito anos, comandante das
tropas dos camisas pardas. Hitler lhe disse: “Se não estiver vestido dentro
de cinco minutos, atirarei em você aqui mesmo”. Heines saltou de debaixo
dos lençóis e fez a saudação Heil Hitler.
Quando os homens de Hitler abriram a porta de Röhm, o cabeça dos
camisas pardas, fingiu ser aquela uma atitude muito casual. Hitler
simplesmente disse: “Você está preso”. Uma a uma, as portas se abriam e as
duplas dos camisas pardas saíam depressa, despidos de várias formas.25
Essa era a atmosfera nazista daqueles dias, o que mais se parece com a
atmosfera da Village Voice ou a Convenção Nacional Democrata do que
com a National Review ou com a atmosfera da Casa Branca de Trump.

Intolerância Repressiva
Marcuse era ativo em todas as frentes. Em seu livro One Dimensional
Man [O Homem Unidimensional], ele critica o capitalismo americano por
reduzir todos os valores aos valores do mercado e os seres humanos a
consumidores manipulados pela publicidade corporativa. A solução de
Marcuse consistia em combater a publicidade corporativa com a
propaganda política, visando motivar a consciência pública e mobilizá-la
contra o capitalismo.
Marcuse também escreveu seu An Essay on Liberation [Um Ensaio
sobre a Libertação], mostrando à esquerda na América como ela poderia
ajudar as revoluções socialistas no Vietnã, Cuba e mundo afora: em
essência, ajudaria ao tornar-se parte de uma guerrilha de resistência nos
Estados Unidos. Mais uma vez, música aos ouvidos de ativistas de esquerda
na década de 1960. Sem dúvida eles pensaram: “Quer dizer que eu também
posso me juntar a uma guerrilha à lá Che Guevara bem aqui, em Ann Arbor,
Michigan?”.
Aqui, desejo concentrar-me na ideia de que Marcuse provavelmente seja
melhor lembrado como alguém que não poderia ser mais pertinente nos dias
de hoje, o que bem se percebe a partir de um famoso ensaio escrito por ele,
intitulado Repressive Tolerance [Tolerância Repressiva]. Este, publicado em
1970, junto de vários outros em um livro chamado A Critique of Pure
Tolerance [Crítica da Tolerância Pura].
Sigamos o argumento do ensaio, pois ele fornece a base para a
intolerância viciosa que a esquerda atualmente desencadeia contra todas as
formas de dissidência em nossa cultura. O assédio, a opressão e o
terrorismo contra conservadores no câmpus universitário, a ridicularização
dos republicanos na mídia, a profanação da bandeira americana, a
interrupção dos comícios de Trump — todo esse comportamento recebe sua
justificativa moral no notório ensaio de Marcuse.
Ele começa admitindo que, se nada mudar no cenário em questão,
virtudes liberais clássicas como a tolerância e a liberdade de expressão são
desejáveis. Mas, segundo ele, dada a estrutura de classe da sociedade, em
que os grupos governantes têm a maior parte do poder e os grupos
desprotegidos têm pouco, “os limites da tolerância estão lotados”. Estender
tolerância a grupos intolerantes, Marcuse argumenta, “na verdade protege
as já consagradas máquinas de discriminação”.
Portanto, Marcuse argumenta que um princípio geral de tolerância liberal
— tolerância em relação a todos os pontos de vista — deve ser abandonado:
“A tolerância não pode ser indiscriminada e igual no que diz respeito ao
conteúdo daquilo que é expresso, nem em palavras nem em ações; a
tolerância não pode proteger palavras de falsidade nem atitudes erradas,
estas manifestando que contradizem e neutralizam as possibilidades de
libertação”.
Na sociedade, Marcuse insiste: “Certas coisas não podem ser ditas,
certas políticas não podem ser propostas, certos comportamentos não
podem ser permitidos, sem fazer da tolerância um instrumento para a
continuação da servidão”. Marcuse não era nada menos que contundente
sobre o que defendia: “revogue-se sistematicamente a tolerância para com
opiniões regressivas e repressivas”.
O que especificamente Marcuse procurava reprimir? Ele cita “a retirada
da liberdade de expressão e do direito de assembleia de grupos e
movimentos que promovem políticas agressivas, armamento, chauvinismo,
discriminação racial e religiosa, ou que se opõem à ampliação dos serviços
públicos, segurança social, assistência médica, etc”. Além disso, Marcuse
acrescenta que sua “abordagem poderia exigir novas e rígidas restrições aos
ensinos e práticas nas instituições educacionais”, incluindo a supressão de
certos tipos de “pesquisa científica”.
Sem rodeios, Marcuse clama por “intolerância contra os movimentos de
direita e tolerância aos movimentos de esquerda”. Ele confessa que seu
objetivo é “mudar o equilíbrio entre a direita e a esquerda, restringindo a
liberdade da direita”, para, assim, “fortalecer os oprimidos contra os
opressores”. O argumento de Marcuse resume-se nesta frase: sem tolerância
para com o intolerante. Na década de 1960, os acólitos de Marcuse
entoaram uma máxima semelhante: “Abaixo a liberdade de expressão para
os fascistas”.
Marcuse lembra seus leitores de que, quando os fascistas planejavam um
massacre, “os discursos dos líderes fascistas e nazistas eram o prólogo
imediato ante o massacre”. No entanto, ele diz: “Poderia ter sido possível
interrompê-lo enquanto ainda estivesse na posição de mensagem propagada,
antes que fosse tarde demais”. Na verdade, se desde antes não houvesse
tolerância para com os nazistas, “a humanidade poderia ter evitado
Auschwitz e uma guerra mundial”. Marcuse convida companheiros
esquerdistas e progressistas a dar à direita na América o que se pode chamar
de tratamento fascista ou nazista — uma forte dose de repressão e
intolerância.26
À primeira vista, “restringir a liberdade de expressão para fascistas” soa
irrepreensível. Mas basta refletir um pouco que a ideia torna-se
problemática. Debaixo da Constituição, não são os direitos iguais a todos os
cidadãos e, assim sendo, não têm eles os mesmos direitos à liberdade de
expressão, à livre assembleia, e assim por diante? Se assim for, os fascistas
também têm tais direitos. Então, com base em que os fascistas na América
podem ter seus direitos negados? Visto ter isso em mente, Marcuse
obviamente não acredita nos direitos iguais em pé de igualdade para todos
os cidadãos; nem seus seguidores de hoje, pelo visto.
Além disso, Marcuse não prova nem sequer por um instante que os
grupos que ele pretende reprimir são de fato fascistas. O alvo de Marcuse
não são nazistas, mas sim patriotas, republicanos e conservadores. O
significado verdadeiro de seu ensaio é o seguinte: não à liberdade de
expressão para patriotas e conservadores! Nenhuma tolerância para
capitalistas e cristãos! Já era esperado, fascistas e nazistas, eles mesmos
procuravam minar as instituições da democracia liberal como a liberdade de
expressão e a tolerância, ato congênere aos ensinamentos de Marcuse.
Lutar contra o fascismo com intolerância é uma coisa. Mas lutar contra o
liberalismo clássico e o conservadorismo americano moderno com
intolerância é, a bem da verdade, fascismo. Stanley Payne, historiador —
que não é conservador —, sem dúvida entendeu a mensagem. Em seu livro
A History of Fascism, Payne analisa o argumento de Marcuse sobre a
tolerância repressiva e conclui: “Em vez de apresentar uma interpretação do
fascismo, Marcuse parece simplesmente refletir o tipo de pensamento que,
desde o princípio, formou o próprio fascismo”.27 Em outras palavras, quem
quiser saber como é um fascista, que comece com Marcuse.
Às vezes me pergunto como é que Marcuse, um refugiado da Alemanha
nazista, poderia tão sofisticamente recomendar as mesmas táticas nazistas
das quais fugiu. Lendo Marcuse — sua admiração maquiavélica pelo uso
astuto da força, sua exaltação do poder nietzschiano —, acho que descobri.
Qualquer que fosse sua repulsa ao antissemitismo nazista, Marcuse
entendeu que o uso de táticas terroristas da Alemanha nazista era efetivo.
Eles conseguiram, os nazistas derrotaram seus adversários e os subjugaram.
Resumidamente, eles produziram o seu próprio Gleichschaltung. Então,
Marcuse imaginou, por que nós, que também somos de esquerda, não
aplicamos algumas dessas mesmas táticas triunfantes nos Estados Unidos?
O objetivo último de Marcuse nesse ensaio é bastante claro. Ele pretende
capacitar progressistas e esquerdistas ao uso de todo tipo de tática, desde a
discriminação até a repressão e a violência direta, a fim de erradicar sua
oposição conservadora. Não se preocupe com ser intolerante, ele diz, mas
lembre-se somente de que a luta é contra a intolerância! Percebe-se assim
como grupos facínoras de esquerda, Black Lives Matter, Antifa e todos os
demais, recebem suas táticas de guerrilha contra a moral.
Há, na tese de Marcuse, um corolário final que geralmente passa
desapercebido. Marcuse não só autoriza o que for preciso para o uso de
táticas opressoras e terroristas contra a direita. Ele também garante aos
esquerdistas que o escape é certo, eles podem fazer o que quiser e sair
ilesos, afinal são eles é que estão do lado da humanidade e da libertação.
Vale considerar por um instante o porquê de o comportamento predatório
de Bill Clinton ser rotineiramente desculpado pela esquerda, mesmo por
supostas feministas que ficariam loucas se um republicano ou conservador
fizesse algo remotamente parecido. É útil lembrar que Bill não foi um mero
galanteador; muitas mulheres o acusaram de assédio, tentativas de agressão
e até mesmo estupro. A explicação óbvia para tamanha imunidade é que
Bill está politicamente ao lado dos anjos, ou seja, ele está no campo
progressista e, portanto, não há limites quanto ao nível de proteção que lhe
é permitido.
A mídia de esquerda foi meticulosamente protetora ao falar do filantropo
democrata Jeffrey Epstein e de sua ilha, onde eram organizadas orgias,
muito menos mostrou interesse em cobrir as perversidades de Anthony
Podesta com suas práticas de “spirit cooking”*. Mesmo o caso de Anthony
Weiner com escândalos envolvendo meninas menores de idade não seria
problema para a esquerda, desde que não causasse maiores alardes e
tornasse Wiener politicamente calamitoso.
Concluo esta parte sobre Marcuse voltando-me aos artigos esquerdistas
mencionados anteriormente; estes insistem que os escritos da Escola de
Frankfurt são de necessidade crítica para entender Trump e nosso momento
atual. Acredito eu que possamos ver agora que de fato são. Deles não se
entende Trump e o GOP como fascistas perigosos. Pelo contrário. Eles
mostram é que Marcuse, Adorno e os demais eram fraudes intelectuais e
políticas. Artistas vigaristas de esquerda, uma classe que criou sua própria
versão da grande mentira e deu uma bela demonstração de como orquestrar
uma vingança nos moldes fascistas enquanto posando de antifascistas.

A Violência de Risco de George Soros


Finalmente, voltemo-nos para o terceiro facínora da trilogia, investidor e
magnata dos negócios, George Soros. Como Heidegger e Marcuse, ele
também faz parte do Gleichschaltung progressista e todos os três parecem
fazer isso da mesma maneira. De origem húngara, Soros passou ao patamar
de bilionário por meio de astutos investimentos globais e manipulações da
moeda; seu grupo Quantum Fund é um dos primeiros fundos de hedge, ou
fundo de cobertura, privados do mundo. Ao mesmo tempo que Heidegger e
Marcuse podem ser considerados intelectuais por trás do fascismo
progressista, Soros com certeza é seu maior financiador.
Soros é o que mais financia cerca de duzentos grupos esquerdistas,
incluindo Planned Parenthood, MoveOn.org e várias organizações
ambientalistas e de direitos humanos de esquerda. Todos são resolutamente
opostos a Trump e ao GOP. A Marcha das Mulheres, propagada pela mídia
como uma erupção espontânea contra Trump, foi subsidiada em peso pela
rede de Soros. Ele também apoia os chamados grupos antifascistas e a
organização Black Lives Matter. Em 2015, por exemplo, a ONG Open
Society de Soros doou 650 mil dólares em apoio à manifestação do grupo
Black Lives Matter logo após o assassinato de Freddie Gray, em Baltimore.
Este ano, o Pacto pela Justiça Global [Alliance for Global Justice], grupo
apoiado por Soros, doou 50 mil dólares para os criminosos militantes
associados ao grupo Refuse Fascism.28
Como Soros vê seu papel na formação da América e do mundo? Que ele
fale por si mesmo. “Eu me imaginei como um tipo de deus”, nas palavras
de Soros. “Para falar a verdade, carrego comigo, desde a infância, algumas
fantasias messiânicas bastante potentes”. Quando o jornal britânico
Independent pediu-lhe que explicasse essa estranha afirmação, Soros disse:
“É uma espécie de doença quando você se considera um tipo de deus, o
criador de tudo, mas agora estou confortável, desde que aceitei e comecei a
agir assim”.29 Seria necessário voltar às declarações de Hitler após suas
primeiras vitórias para ouvir palavras de tamanho calão, das quais até os
déspotas mais descarados costumam se abster.
E, neste caso, o que viria a ser a agenda desse “deus”? Em outras
palavras, o que os grupos financiados por Soros realmente fazem? Um
deles, o Revolutionary Love Project [Projeto de Amor Revolucionário],
envia ativistas a audiências públicas em determinadas prefeituras e os mune
de roteiros sobre como humilhar deputados e senadores republicanos. A
ideia toda é criar uma impressão artificial — e, em seguida, exagerada nos
meios de comunicação — de que há uma onda de oposição pública a Trump
e ao GOP. Outra tática favorita dos grupos financiados por Soros é o falso
ataque racista. Houve dezenas desses dentro dos últimos anos,
principalmente nos câmpus universitários. Esquerdistas pintam frases
racistas nas paredes ou nos banheiros e depois, já posto o alvoroço, eles
próprios, os perpetradores, organizam manifestações em protesto contra o
que eles afirmam ser um ressurgir do ódio, e tudo inspirado por Trump.30
Soros não apenas financia o ativismo como financia a violência
disruptiva. Seus esquadrões fantasiados e empunhando bastões equivalem a
um exército particular. Ele criou uma milícia paga de marginais muito
semelhante aos camisas negras, na Itália, e aos camisas pardas, na
Alemanha nazista. A estratégia de Soros é lançar dezenas, até mesmo
centenas de grupos, e depois ver quem dá conta. Tomando emprestado do
capital de risco, meu termo para o que Soros faz é violência de risco,
operada através de manifestantes pagos.
O manifestante remunerado é fenômeno novo na política americana. Na
década de 1960, havia manifestantes de esquerda, até mesmo os violentos,
mas ninguém era alugado por hora. Os grupos de Soros, pelo contrário,
lançam anúncios de ‘contrata-se’ para arruaceiros, marginais e ladrões. Vi
um anúncio no Craigslist oferecendo quinze dólares por hora para
manifestantes; a vaga, causar problemas. Daí os esquerdistas podem
imaginar que estão lutando contra Hitler e recebendo por vandalismo.
Infelizmente o anúncio não menciona se Soros também oferece plano de
saúde.
David Brock, administrador de vários grupos financiados por Soros,
dentre eles o Media Matters, é seu escudeiro por excelência. Conheço
Brock desde os velhos tempos, quando ele professava ser conservador. Já
naquela época, Brock era conhecido como um homem desprezível e
desonesto. Ele se gabava por não ter escrúpulos, de estar disposto a mentir
por uma causa. Tendo sido exposto, confessou. No entanto, longe de tentar
limpar o que havia feito, ele se apresentou à esquerda como alguém
disposto a oferecer sua inescrupulosidade pela causa deles.
Brock fingiu ter sido forçado àquela “conversão” política, causada pelos
conservadores de Reagan que desaprovavam sua homossexualidade. A bem
da verdade, sua postura homossexual era bem conhecida entre nós, jovens
reaganitas, e não tínhamos nenhum problema com isso, desde que Brock
mantivesse discrição pública, o que ele fazia. Apesar dos pesares, quando
Brock perdeu o rumo e vendeu seus serviços para a esquerda, parte da
aceitação que conseguiu estava ligada à homossexualidade.
E-mails divulgados pela Wikileaks mostram Neera Tanden, ativista de
esquerda e chefe do Centro em prol do Progresso Americano, descrevendo
Brock como alguém “obscuro” e uma “ameaça”.31 Com Brock, mas
também com tantos jovens nazistas, a maldade e o oportunismo parecem
andar juntos. Seja qual for a posição política, todos os que conhecem Brock
podem ver quão bem ele se encaixaria com os antigos camisas pardas
homossexuais. De vez em quando consigo imaginá-lo em posição de
sentido e saudando de braço erguido sempre que Soros entrar pela porta.
Posso parecer grosseiro, até mesmo insensível, no uso dessa linguagem
quando falo sobre Soros, judeu que, afinal de contas, refugiou-se do
nazismo. Além do mais, Soros afirma ser devoto do filósofo Karl Popper;
uma rede deste grande magnata, a Open Society Institute, recebeu seu nome
por causa de um dos livros mais conhecidos do filósofo. Popper é um
paladino das ideias clássicas liberais de liberdade de expressão e debate
aberto, o que faz com que ele e Soros estejam em um relacionamento
bastante estranho. Vasculhei o trabalho de Popper para descobrir o que
Soros viu nele, mas não achei nada. Sou forçado a concluir que tamanho
apreço por Popper é completa fachada. Isso faz com que Soros possa fingir
ser amigo da liberdade enquanto maquina miná-la.

O Onzeneiro de Hitler
Soros adora jogar a cartada nazista, como, por exemplo, quando após o
11 de setembro depreciou o procurador-geral do presidente Bush, John
Ashcroft, por questionar o patriotismo de seus críticos — uma tática que
Soros comparou aos nazistas. “Isso me fez lembrar da Alemanha sob o
comando dos nazistas”, Soros disse, “é o tipo de conversa que Goebbels
costumava usar para alinhar os alemães. Lembro bem, eu tinha treze ou
catorze anos. Foi o mesmo tipo de propaganda”.32
Essa referência à juventude torna a transcrição de uma entrevista com
Soros, ao ar em 1998 pela rede CBS no programa Sixty Minutes,
especialmente reveladora. Aqui está o que Soros contou ao entrevistador
Steve Kroft sobre esses dias fatídicos na Alemanha de Hitler:
Kroft: Você é um judeu húngaro.
Soros: Hum...
Kroft: . . . que escapou do Holocausto.
Soros: Hum...
Kroft: . . . se… se passando por cristão.
Soros: Isso.
Kroft: E você viu muitas pessoas sendo levadas para os campos de
extermínio.
Soros: Isso. Eu tinha catorze anos. Diria que foi quando o meu
caráter foi formado.
Kroft: De que maneira?
Soros: De um jeito que faz você pensar no futuro. É necessário
entender e antecipar os eventos quando se está sob ameaça. Foi um
tremenda ameaça do mal. Quero dizer — foi uma experiência muito
pessoal do mal.
Kroft: Meu entendimento é que você saiu com este seu protetor, ele
jurando que você era o afilhado dele por adoção.
Soros: Sim. Sim.
Kroft: Saiu e, mesmo assim, ajudou no confisco de propriedade dos
judeus.
Soros: Sim. Isso mesmo. Sim.
Kroft: Quero dizer, isso. . . essa parece uma experiência que enviaria
muitas pessoas para o divã por muitos, muitos anos. Foi difícil?
Soros: Não, de jeito nenhum. Talvez, quando criança, você não —
você não veja a conexão. Mas foi, assim — não, não me causou
absolutamente nenhum tipo de problema.
Kroft: Sem sentimento de culpa.
Soros: Nenhum.
Kroft: Por exemplo, “eu sou judeu e aqui estou, vendo essas pessoas
partindo. Eu poderia tão facilmente estar lá. Eu deveria estar lá”.
Nada disso?
Soros: Bom, claro que eu, que eu poderia estar do outro lado ou eu
poderia ser aquele de quem o objeto está sendo tirado. Mas não faria
sentido eu não estar lá, porque — bem, na verdade, é cômico dizer, é
como no mercado — se eu não estivesse lá, é claro que não estaria
fazendo aquilo, mas outra pessoa estaria — alguém estaria tirando de
qualquer forma.
E foi assim mesmo — se eu estivesse lá ou não, eu não passava de um
espectador, a propriedade estava sendo tomada. Então, eu... não fiz o papel
de tirar essa propriedade. Assim eu não tenho sentimento de culpa.33
O que me interessa aqui não é aquilo que o jovem Soros fez — não
pretendo impor peso demasiado à conduta de alguém com catorze anos de
idade —, mas sim como o Soros já maduro interpreta retroativamente suas
ações do passado como um rapazote que confiscava a mando de Hitler.
Evidentemente, Soros acredita que acompanhar uma autoridade do governo
fascista em colaboração com os nazistas no propósito de cumprir mandados
de confisco aos judeus para roubar seus bens e propriedades não seja algo
de que se deva sentir-se culpado ou arrependido.
Por quê? Pois, assim como uma transação de mercado, o resultado teria
acontecido de qualquer forma. Quem já disse isso antes? Ah, sim, claro.
Lembre-se da resposta de Josef Mengele quando confrontado por seu filho,
Rolf, acerca de seus crimes. Mengele insistiu que não era responsável pelo
que aconteceu em Auschwitz, dado que os cativos lá já estavam
sentenciados à morte. Eis então Soros montando o que pode ser chamado de
Defesa Mengele. A única diferença é que Mengele não se safou, enquanto a
explicação de Soros parece totalmente satisfatória para a esquerda política.
Numa breve biografia de Soros para a revista New Yorker, Jane Mayer
nota que Soros uma vez descreveu 1944 — o ano em que Hitler despachou
mais de 500 mil judeus para campos de extermínio — como “o ano mais
feliz da minha vida”. Mayer acrescenta que este foi o ano em que o pai de
Soros salvou sua família fornecendo-lhes falsos documentos de identidade.
Aparentemente, o pai de Soros fez o mesmo por outras famílias judias,
embora tenha vendido os papéis e, assim, lucrado com esse esforço.
Mayer perguntou a Soros sobre o ocorrido e este disse: “Eu tive a sorte
de ter um pai que entendeu que não estávamos no estado normal das coisas,
e se seguir as regras convencionais, você morre. Muitos judeus não
tomaram medidas evasivas. O que aprendi durante a guerra é que, às vezes,
você pode perder tudo, mesmo a sua vida, ao não correr riscos”.34 Mais
uma vez, Soros se esquiva do problema. Justamente por não ser uma época
normal, parece não ser razoável ganhar dinheiro ajudando seus
companheiros judeus a sair da Alemanha.
Soros não enxerga assim. Ele não vê nada de errado com o que seu pai
fez. Pelo contrário, ele o vê como um herói pessoal. Ele parece culpar os
judeus não tão visionários quanto seu pai. Por que aqueles que pensaram à
frente não deveriam se beneficiar daqueles que não o fizeram? E, mais uma
vez, Soros, de maneira rude, associa toda a questão a decisões de mercado e
de investimento: vejam o que acontece quando os tipos corretos de riscos
não são tomados!
Percebe-se em Soros o tipo de amoralismo padrão que o coloca na
mesma categoria de Heidegger e Marcuse. Estes três homens foram
profundamente íntimos do nazismo, com toda uma visão formada em
resposta a essa relação. Consequentemente, o movimento esquerdista que
eles moldaram na América também é produto desse engajamento. Somos
vítimas dessa possessão demoníaca. Em certo sentido, o fascismo deixou
esses três homens loucos, e agora eles estão tentando deixar todos nós
loucos também.
Veja como esse trio, Heidegger, Marcuse e Soros, colocou seus talentos e
recursos por trás das causas esquerdistas truculentas. Heidegger apoiou
abertamente os nazistas. Marcuse e Soros promovem táticas nazistas em
nome de uma esquerda supostamente antifascista. Juntos, esse trio horrendo
desempenhou um papel importante na destruição das universidades, na
propaganda esquerdista da mídia e nas táticas dos camisas pardas usadas
pelos progressistas de hoje.
Capítulo Nove
Desnazificação
Este não é o fim. Não é nem o começo do fim. Mas é, talvez, o fim
do começo.1
Winston Churchill, 10 de novembro de 1942

Em 1945, as forças americanas, britânicas e soviéticas convergiram na


Alemanha nove meses após os Aliados chegarem à Normandia. Escondido
em seu bunker em Berlim, Hitler, acompanhado de sua nova esposa, Eva
Braun, viu que a derrota era, agora, fait accompli, um fato consumado. Em
30 de abril de 1945, ele fez sua resolução final. Rejeitando o conselho de
companheiros leais do Partido, de fugir da cidade, Hitler e Braun retiraram-
se em privado. Lá, Eva Braun engoliu cianeto. Hitler fez o mesmo, ao
mesmo tempo que — para certificar-se do resultado — deu um tiro na
própria cabeça. Seus partidários queimaram o corpo de Hitler de tal forma
que este ficou irreconhecível, evitando assim que fosse recuperado pelos
Aliados.
Três dias antes, Mussolini vestiu um disfarce, entrou num carro esporte
Alfa Romeo e tentou fugir da Itália com a amante, Claretta Petacci. O
disfarce não funcionou; as características de Mussolini eram distintas
demais. Sua amante e ele foram presos na fronteira com a Suíça. Ambos
fuzilados no dia seguinte por guerrilheiros locais. O corpo de Mussolini
acabou pendurado de cabeça para baixo na Praça de Loreto, em Milão. No
espaço de alguns dias, Mussolini e Hitler morreram, e assim o fascismo e o
nazismo chegaram a um fim ignominioso.
Por mais difícil que seja de acreditar, o fascismo está de volta, não na
Europa, mas nos Estados Unidos. Parafraseando o livro de Sinclair Lewis,
It Can’t Happen Here [Aqui Não Pode Acontecer], sim, está acontecendo
aqui. Por meio do implacável ataque contra Trump de todos os lados, a
esquerda está, basicamente, tentando dar um golpe fascista. Por um golpe
fascista refiro-me ao exercício do poder pelos meios não eletivos
pertencentes à esquerda — principalmente a mídia esquerdista —, para
reverter o resultado e o mandato de uma eleição livre. Se o golpe for bem-
sucedido, a América, de fato, deixará de ser uma democracia. Os fascistas
— vestidos com trajes antifascistas — provarão que são totalmente capazes
de anular a vontade do eleitorado. De certa forma, não fará mais sentido
realizar eleições, pois a esquerda poderá estabelecer poder de veto sobre os
resultados.
Deixemos que essa concepção seja absorvida. Se realmente acreditamos
que a América está enfrentando uma ameaça fascista — se reconhecemos
que o argumento deste livro está correto —, então segue-se que não
podemos fazer as coisas como antes. Em outras palavras, a política normal
e despreocupada está amplamente obsoleta. Não faz sentido prosseguir
como se o que está acontecendo não estivesse acontecendo. Em vez disso,
devemos encarar a realidade da situação e elaborar uma resposta adequada
ao perigo que estamos enfrentando. Neste capítulo final, mostro como fazer
isso.
O velho fascismo foi derrotado por força militar externa. Foi necessária
uma guerra mundial com dezenas de milhões de vítimas para que isso
acontecesse. O novo fascismo pode ser vencido de dentro, sem força
militar. Os historiadores concordam que, se os italianos e os alemães
tivessem respondido de forma diferente, eles poderiam ter impedido
Mussolini e Hitler de chegar ao poder. Por exemplo, os militares e a polícia
italianos eram muito mais fortes do que os camisas negras de Mussolini e,
assim, poderiam ter frustrado sua marcha triunfal em Roma. Em vários
estágios do ascender ao poder, Hitler poderia ter sido barrado e seus
camisas pardas, dispersos ou presos. Em outras palavras, os compatriotas de
Mussolini e Hitler poderiam ter parado o fascismo e o nazismo antes que
fosse tarde demais.
Por que eles não impediram tudo aquilo? Falando sobre a Itália, o
historiador Renzo De Felice diz que a classe dominante italiana cometeu o
erro catastrófico de continuar com a política normal: “Eles agiram em
completa falta de imaginação política e com uma total incapacidade de
assumir verdadeiras responsabilidades. Eles adotaram uma política de
constitucionalizar o fascismo ao mesmo tempo que tentavam derrotá-lo”.
Segundo o historiador Anthony James Gregor escreve, essa complacência
“nasceu de uma indisposição de levar a doutrina fascista a sério”.2
Essa mesma complacência e covardia caracterizaram a formação e o
estabelecimento político na Alemanha. Hindenburg, Reichstag e os partidos
políticos rivais tentaram “harmonizar” Hitler, sem reconhecer que ele não
estava jogando com as mesmas regras deles. Ao fazê-lo, as mesmas pessoas
que tinham a capacidade de parar Hitler foram as que facilitaram a sua
assunção do poder absoluto e a influência do nazismo sobre toda a
sociedade. Então veio o dilúvio, pelo qual a maioria desses facilitadores
foram varridos.
O apaziguar de Hitler continuou no fronte da política externa. Aqui, a
figura-chave foi o primeiro-ministro da Inglaterra, Neville Chamberlain.
Para Hitler, Chamberlain era simbolizado por seu guarda-chuva. Hitler
concluiu que Chamberlain era fraco. Já não era mais, pensou ele, o
desafiador Sir Francis Drake. Se tivessem lutado contra Hitler desde o
princípio, a Grã-Bretanha e a França poderiam tê-lo derrotado. Ao acarinhá-
lo, deram-lhe assim uma chance de fortalecer-se, até que a própria França
foi invadida e a Inglaterra quase reduzida a escombros. Harmonizar o
fascismo, ao que parece, carrega consigo um custo muito alto, custo este
que pode incluir a própria sobrevivência.

Dialogando com Gregos e Troianos


Hoje, os conservadores e o Partido Republicano, agora poderes
governantes da nação, também estarão em grande risco se buscarem
apaziguar o fascismo da esquerda política. É certo que o fascismo da
esquerda atual difere em um aspecto importante do fascismo da esquerda de
Hitler e Mussolini. Ao menos os antigos fascistas usavam o nome;
autointitulavam-se do que eram de verdade. Nossa esquerda fascista, ao
contrário, pretende passar por antifascista. Eu sei, é loucura. As mesmas
pessoas que defendem o Estado centralizado carregam uma longa história
de racismo e terrorismo racial, usaram o poder do governo contra os seus
oponentes políticos enquanto puderam e continuam se valendo da opressão
cultural e da desordem causada nas ruas para impor sua ideologia,
insistindo que são eles os antifascistas.
Ao mesmo tempo, reconhecendo que o fascismo e o nazismo são, agora,
rótulos tóxicos — os rótulos mais tóxicos da cultura ocidental — esses
autodenominados antifascistas impuseram o rótulo fascista à direita. Ainda
mais loucos, eles chamam de fascistas aqueles mesmos que defendem um
governo limitado e os direitos individuais, pessoas que não chegariam nem
mesmo a sonhar com usar o poder do Estado contra seus críticos ou se
envolver em opressão e exclusão culturais nos moldes fascistas. A este
respeito, a esquerda é como o irmão maldoso que bate no seu rosto e depois
começa a lamuriar por você bater nele. Assim sendo, estamos numa
situação bizarra, onde os verdadeiros fascistas fingem ser antifascistas
enquanto acusam os verdadeiros antifascistas de fascismo.
O mecanismo da esquerda para produzir essa inversão é a grande
mentira. A grande mentira não consiste apenas em consertar os rótulos
fascistas e nazistas no que dizem respeito a Trump e à direita — essa é a
parte superficial da mentira, descartei-a em um único capítulo — mas, mais
profundamente, visa esconder as raízes fascistas e nazistas próprias da
esquerda americana. Ainda hoje, os planos e as táticas da esquerda são
profundamente moldados pelo fascismo e pelo nazismo. Para esconder essa
relação óbvia, a esquerda mente em todas as frentes, quero dizer, ela mente
sobre quem eram os fascistas e os nazistas, e, depois, mentem sobre quem
ela própria é.
É conveniente analisar esse processo em andamento. Assim é que a
esquerda mente sobre os nazistas, para criar um contraste falso entre os
nazistas e ela. A esquerda diz que os nazistas eram capitalistas, ao passo
que a esquerda era anticapitalista. Os nazistas eram cristãos; a esquerda,
secular. Os nazistas eram antiaborto, já a esquerda apoiava o direito a
abortar. Os nazistas eram refreados e sexualmente convencionais, mas os
esquerdistas boêmios e sexualmente liberais. De fato, em cada um desses
pontos, as posições da esquerda e dos nacional-socialistas são
essencialmente as mesmas: anticapitalistas, anticristãos (na crença e na
ética sexual) e contrários ao direito à vida.
Agora, vejamos a grande mentira funcionando do outro lado. É assim
que a esquerda mente sobre si mesma, para camuflar sua afinidade
ideológica e tática com os nazistas. A esquerda diz que os nazistas eram o
partido do racismo, mas a esquerda o partido do antirracismo. O Partido
Nazista escravizou o povo, já a esquerda é o partido contra a escravidão. Os
nazistas perpetraram o genocídio e o terrorismo raciais, ao passo que a
esquerda jamais faria algo do tipo. Os nazistas eram violentamente
intolerantes às visões dissidentes, a esquerda era incrivelmente tolerante.
Porém, com efeito, na América, o Partido Democrata é que foi o partido da
escravidão, da segregação, do racismo e da Ku Klux Klan. E continua a ser
o partido das políticas de identidade racial até hoje, ao passo que os
republicanos foram fundados como um partido contrário à escravidão,
favorecendo uma sociedade livre de preconceitos raciais; são tolerantes à
antiga maneira americana, educada e respeitosa, que discursos
politicamente corretos progressistas não suporta.
Evidentemente, qualquer estratégia para derrotar a esquerda fascista deve
começar por desmascarar, como fiz neste livro, as dimensões completas da
grande mentira. Os chamados antifascistas devem ser expostos como
fascistas que são. Os esforços da esquerda de expulsar Trump por qualquer
meio possível devem ser reconhecidos pelo que são: uma tentativa de golpe
fascista. Nós, acusados de fascistas, devemos entender que somos os
verdadeiros antifascistas. Estamos vindicando os resultados de uma eleição
livre cujo mandato desejamos pôr em prática. Esse é o ponto de partida; a
partir daqui, podemos chegar a algum lugar.
Para crédito de Trump, ele sabe que algo está acontecendo, que ele
precisa fazer as coisas de maneira diferente e que deve tomar medidas
decisivas contra uma extrema, e às vezes violenta, esquerda que se
considera “a resistência”. Trump reconhece que a luta não é meramente
legal e política; ela é, também, cultural. Por isso é que Trump, enquanto
ajusta os juízes da Suprema Corte, assina ordens executivas, opera para
revogar o programa Obamacare e trabalha para aprovar a reforma tributária,
também coloca seu perfil multitarefa em prática ao trabalhar no ataque
contra Meryl Streep, o programa Saturday Night Live e contra o elenco da
peça Hamilton, Broadway, isso sem mencionar o “fracassado” New York
Times e a “baixa audiência” da CNN.
Independentemente de suas falhas, Trump é, agora, o homem mais
destemido do país. Ao contrário de praticamente todos os republicanos
passados, ele se recusa a caminhar dentro dos parâmetros estabelecidos pela
esquerda. Longe de ser intimidado pelos ataques culturais esquerdistas, ele
parece fazer bom proveito de seu alto e rixoso palanque, bem como de seus
megafones nas mídias sociais, repelindo ataques. Sendo ele próprio um
ícone da cultura pop, sabe bem como fazê-lo. Trump é um personagem
chamativo que, quanto mais recebe ataques, mais cresce. A esquerda já
digeriu isso. Tendo ridicularizado e zombado dele antes, agora a esquerda
está com muito medo; e muito da astúcia dos esquerdistas se dedica a
descobrir uma maneira de destruí-lo.
Para prevalecer — talvez até mesmo sobreviver —, Trump precisa de
aliados. E onde eles estão? Felizmente, há seguidores de Trump fortemente
comprometidos com seu governo, mas eles por si não conseguem levar as
ideias de Trump à vitória. A única maneira de fazê-lo é com um movimento
conservador e um GOP unificados. A má notícia é que grande parte da
intelectualidade conservadora e da estrutura geral do GOP continuam num
conto de fadas. Alguns ainda têm suas armas políticas voltadas para Trump.
Os chamados Never Trumpers [Trump Jamais] parecem ter aceitado a
grande mentira da esquerda de que Trump é o fascista. Como vencer com
uma equipe tão confusa e desorientada?
Em geral, a direita e o GOP nacional recusam-se a levar a sério ou
mesmo a compreender e reconhecer os perigos das doutrinas fascistas da
esquerda. Como desfazer os elementos fascistas da ideologia progressista e
reduzir o poder do Estado centralizado? Eles não fazem ideia. Na verdade,
o corpo de elite republicano não vê problema em podar programas do
governo, mas também não está tão certo de se quer ou não erradicá-los
completamente. Como combater o Gleichschaltung progressista, que busca
impor uma uniformidade de pensamento em toda a cultura? Superando-o.
Mas não, esses republicanos preferem ir junto dos bandidos na esperança
fúnebre de acabar não se tornando um dos alvos. Como responder ao
vandalismo de rua da esquerda? Acovardar-se e fugir da luta é a única coisa
que esse corpo conhece. Desnorteados, sem estrutura óssea e ocos, esses
republicanos procuram, acomodando o fascismo de esquerda, moderá-lo.
Suas ações já estão tendo o efeito oposto. O fascismo da esquerda não
mostra sinais de diminuição. Na verdade, ele se fortalece. Tendo dominado
a cultura, a esquerda tem seus ideais decididamente focadas em dominar o
país. Seu objetivo é livrar-se de Trump — quanto mais cedo, melhor — e
também usar a nódoa fascista para desacreditar permanentemente o GOP.
Em última análise, a esquerda procura fazer o que todos os fascistas fazem:
efetivamente eliminar toda a oposição. Eles querem nos desacreditar e nos
reduzir a pessoas sem casta, destruindo nossas carreiras e, se por fim
conseguirem, devastando nosso espírito. Depois, eles começam com o
familiar processo fascista de “reeducar”, até o ponto em que não apenas
deixamos de resistir, mas, na verdade, lhes prestamos reverência.
Que a lição seja aprendida a partir da História e que não se cometa o
mesmo erro que os italianos e os alemães cometeram. É preciso extirpar o
fascismo antes que ele se torne imparável de dentro para fora; e, então,
realizar uma desnazificação interior, exatamente como os Aliados fizeram
no pós-guerra da Itália e da Alemanha. Nossos avós e bisavós erradicaram o
fascismo de fora para dentro, mas, evidentemente, não o destruíram de uma
vez por todas. Podemos erradicá-lo de dentro e, finalmente, colocá-lo nos
vestígios da História.

A Agenda Antifascista
Como seria uma agenda antifascista? Aqui, minha abordagem é simples.
Primeiro, identifico a doutrina ideológica central do fascismo de esquerda;
então, recomendo medidas políticas para desfazê-la, movendo as coisas na
direção oposta. Em seguida, volto-me ao Gleichschaltung progressista na
arena cultural, onde a esquerda reforça um alinhamento nos moldes
fascistas através do politicamente correto e das grandes mentiras. Mostro
como quebrar esse monopólio institucional, acabar com a arregimentação
do pensamento e explodir a grande mentira. Por fim, volto-me à depredação
fascista da esquerda, que se destina não apenas a forçar a oposição, mas
também a intimidar adversários em potencial e aterrorizá-los em submissão.
Aqui, mantenho-me firme e mostro como a direita deveria combater fogo
com fogo. Modificando uma frase de Marcuse, frase que aplico agora à
própria progênie ideológica dele, “Não ao tratamento leve com fascistas”.
Em seu cerne, o fascismo é a construção do Estado Leviatã todo-
poderoso. Como Mussolini deixa claro em sua Autobiografia, “O
fundamento do fascismo é a concepção do Estado. O fascismo concebe o
Estado como absoluto, em comparação com o qual todos os indivíduos ou
grupos são relativos, apenas para serem concebidos em sua relação com o
Estado. Para nós, fascistas, o Estado não é apenas uma realidade viva do
presente; ele também está ligado ao passado e ao futuro e, assim,
transcendendo os limites breves da vida individual, representa o espírito
imanente da nação”.3 Acredito que, se algum líder democrata dissesse isso
na convenção nacional do partido, substituindo a palavra ‘fascismo’ por
‘progressismo’, a plateia toda se levantaria aplaudindo.
De acordo com a descrição de Mussolini, teóricos fascistas como
Giovanni Gentile falaram do Estado fascista como um único corpo e de
indivíduos como células dentro desse corpo. Cada célula isolada não tem
significado; as células são valiosas apenas na medida em que servem o
corpo. Nas palavras de Gentile, “a vontade legítima dos cidadãos é essa
vontade que corresponde à vontade do Estado”.4 Na esfera econômica,
como já vimos, o Estado fascista, por meio de mandatos e de
regulamentação, controla as operações das corporações e entidades privadas
e, em especial, dos setores críticos como bancos, saúde, energia e educação.
E esse estado Leviatã, é claro, também é o principal plano ideológico do
progressismo americano moderno.
Assim, o projeto antifascista é desmantelar o Estado Leviatã. Não estou
sugerindo que conservadores ou republicanos devam livrar-se do Estado.
Não seria algo possível nem desejável. Pelo contrário, é preciso restaurar o
governo aos limites no poder e na esfera de atuação delineados pela
Constituição. Sob comando progressista, o Estado agigantou-se; tornou-se
voraz e tirânico. É necessário matar a besta de fome, arrancar alguns de
seus órgãos e diminuí-la de tamanho.
Mas como? O primeiro passo, claro, é livrar-se do legado de Obama.
Isso significa derrubar o programa Obamacare, com o qual os progressistas
confiscam um sexto da economia dos EUA, e substituí-lo por um sistema de
saúde que restaure a gestão de regime privado e incentive a iniciativa
privada. Em segundo lugar, revogar a lei Dodd-Frank e devolver as
indústrias bancárias e de investimento ao controle privado. Em terceiro
lugar, deve-se funilar os requisitos mínimos para beneficiados, de modo que
cestas básicas cheguem à pequena população que realmente precisa. Obama
aumentou deliberadamente o número de pessoas beneficiadas por cestas
básicas, pois assim as torna mais dependentes do governo americano.
Trump e os republicanos, no entanto, devem ir além de revogar o que
Obama fez. Eles devem passar uma reforma fiscal abrangente, o que
idealmente envolve uma redução acentuada na taxa de imposto corporativo
e uma taxa fixa para impostos de renda de pessoa física na faixa de 15% a
20%. Por que não ter uma forma de impostos simplificada para pessoa
física, uma com poucas deduções que possam ser preenchidas numa única
página? A redução e a simplificação de impostos são duas das melhores
maneiras de refrear o Leviatã e, portanto, constituir um golpe de mestre
antifascista. A direita também deveria reduzir abruptamente os
regulamentos federais, privatizar as funções do governo ao máximo e
vender as grandes extensões de terra que o governo atualmente possui sem
nenhum motivo aparente.
Uma das características essenciais tanto do fascismo quanto do nazismo
foi eliminar a autonomia regional, transferindo todo o poder para o centro.
Na Alemanha, William Shirer escreve: “Hitler conseguiu o que Bismarck,
Wilhelm II e a Alemanha de Weimar nunca se atreveram a tentar — ele
aboliu os poderes separados dos estados e os sujeitou à autoridade central
do Reich”. O ministro do Interior de Hitler declarou, sem rodeios: “Os
governos estaduais de agora em diante são meramente órgãos
administrativos do Reich”.5
Aqui, na América, refletindo o que os nazistas fizeram, a esquerda
progressista tem trabalhado há mais de meio século para fortalecer a
autoridade do governo federal em detrimento dos estados. Este projeto foi
realizado, em parte, em nome da uniformidade administrativa e, em parte,
em nome da eliminação de um suposto racismo, implícito no conceito de
direitos dos estados. Afinal, os direitos dos estados foram o grito de
secessão e de posterior segregação e mais tarde da discriminação fomentada
pelo Estado.
Esse ataque esquerdista aos direitos dos estados é uma fraude. Em
primeiro lugar, a razão pela qual os Pais Fundadores criaram um sistema de
dupla soberania, no qual os poderes separados são atribuídos ao governo
federal e aos estados, é precisamente por que eles não queriam — e os
povos dos estados soberanos, que, em grande parte, tinham governo sobre si
próprios, não aceitariam — uma uniformidade maçante e potencialmente
tirânica de regras para todos os cidadãos. Em vez disso, eles queriam o que
o economista Friedrich Hayek chamou de uma “estrutura de utopias
concorrentes”, cada estado experimentando regras diferentes. Dessa forma,
o povo poderia ver o que funciona melhor. Caso não fosse do agrado a
forma como as coisas são executadas no estado em questão, a pessoa
poderia simplesmente mudar-se para outro estado. Em suma, os Pais
Fundadores desejavam a verdadeira diversidade, e isso é o que a esquerda
— ao impor um conjunto nacional de regras — procura erradicar.
Sim, os direitos dos estados foram invocados para defender a escravidão
e a segregação, mas lembre-se de quem impôs isso — o Partido Democrata.
Assim, os democratas hoje professam defender os direitos dos estados para
evitar as atrocidades que cometeram. Pode-se dizer que eles estão tentando
salvar o país de si mesmos. Acredito que o lema deles seja “Impeça-nos
antes antes que nos tornemos racistas contra vocês mais uma vez”. Ao
contrário da propaganda de esquerda, não há nada de errado com o conceito
de direitos dos estados. O problema se encontra com a ideologia do Partido
Democrata, e o remédio para prevenir futuras atrocidades democratas é
nunca, em nenhuma circunstância, votar em um democrata.
Trump e os republicanos precisam restaurar a integridade da divisão dos
poderes constitucionais original, devolvendo grandes extensões do poder
federal aos estados. Reconheço que este é um projeto de longo prazo que
durará mais que a presidência de Trump, porque a esquerda, com a
vergonhosa cumplicidade dos tribunais, distorceu completamente o arranjo
constitucional. Ainda assim, digo, que comece a restauração.

Feito Para Durar


Mesmo que Trump e o GOP executem tais coisas, como, todavia,
sustentá-las? Como ter uma vitória feita para durar? Uma maneira de
sustentar tudo isso é certificando-se de que haverá uma Suprema Corte
constituída por pessoas de nossa equipe. Durante as audiências de Gorsuch,
os republicanos continuaram insistindo que Gorsuch é um bom
constitucionalista. Não vejo problema nisso. Mas a pergunta à qual gostaria
de ter respondido é outra — Gorsuch é um bom republicano? Espero que a
equipe de Trump a pondere antes de nomear o sujeito.
É por isso que, além de sua filosofia do direito, a ideologia política de
Gorsuch e o compromisso do GOP são importantes. Na última década, uma
maioria decisiva de juízes da Suprema Corte foi nomeada pelos
republicanos. No entanto, o Tribunal permanece precariamente equilibrado
entre a esquerda e a direita. Como isso é possível? Acontece que a esquerda
pode contar, numa certeza euclidiana, com quatro votos. Os republicanos,
pelo contrário, estão sempre no limbo. Em quem o juiz Kennedy vai votar?
E, mesmo quando ele vota em favor da direita, muitas vezes surge a
questão: “Sim, nós conseguimos Kennedy! Ops, mas agora perdemos
Roberts”.
Enquanto os republicanos chegam à Suprema Corte tentando decifrar a
intenção original dos legisladores ou visando solenemente os precedentes,
os democratas buscam servir a causa democrata. Nossos homens estimam a
Constituição e tentam evitar até mesmo a aparência de partidarismo. Tal
como acontece com Roberts, eles fazem o impossível para defender o
programa Obamacare e deixar ao Congresso a incumbência de revogá-lo,
enquanto a equipe democrata envolve-se precisamente com ativismo
judicial para promulgar uma agenda esquerdista. Nossa equipe é
completamente a favor de preservar o precedente, na verdade manter as
coisas no lugar, já os democratas são completamente a favor de sempre
puxar sardinha para a esquerda. Em suma, há uma desproporção do
compromisso ideológico entre nós e eles, cujo resultado final é o constante
bloqueio da jurisprudência da Suprema Corte ao longo do tempo em favor
da esquerda.
A única maneira de barrar tal efeito é nomeando republicanos
ideologicamente comprometidos a lutar contra democratas ideologicamente
comprometidos. É óbvio que pode haver todos os tipos de discursos
pomposos possíveis sobre teorias de interpretação constitucional. Mas, no
fim, trata-se de uma simples questão, de saber se as nossas leis serão aceitas
e as leis deles derrubadas ou se as leis deles serão aceitas e as nossas
derrubadas. É melhor — digo eu — que as nossas sejam mantidas e que as
deles caiam.
Tanto com a legislação quanto com a Suprema Corte, só conseguiremos
o que desejamos ganhando eleições. Uma das lições da história recente é
que mesmo as mudanças aparentemente duradouras no governo — veja o
Obamacare — podem ser desfeitas quando outro partido retorna ao poder.
A América tem vivido sob um governo dividido desde 1980; quando um
partido controla a presidência, o outro normalmente controla o Congresso.
É difícil consolidar alguma coisa, em especial consolidar mudanças que
durem.
Mudanças duradouras só ocorrem na política americana quando o
mesmo partido controla a presidência, o Congresso e os tribunais. Por sinal,
não há nada de fascista sobre isso; trata-se de maiorias políticas criadas
através de eleições e consentimento popular, como o que aconteceria em
qualquer sistema parlamentar. Curioso notar, o domínio de um partido foi a
regra, e não a exceção, na história dos EUA. De 1820 a 1860, o Partido
Democrata foi o partido majoritário, controlando a maior parte da
presidência, do Congresso e da Suprema Corte. De 1865 a 1932, período
após a Guerra Civil, os republicanos tornaram-se a maioria. De 1932 a
1980, os democratas voltaram a ser a maior parte.
Não quer dizer que, durante essas eras, o partido minoritário tenha sido
excluído do governo — por vezes, a propósito, chegou a vencer a
presidência —, mas mesmo assim o partido majoritário estabeleceu e
controlou a agenda. Eisenhower era republicano e não tinha intenção de
reverter o New Deal; e, ainda que quisesse, não teria tido sucesso. Aquela
era a época do domínio democrata, cuja maré varreu Eisenhower. Durante
esse tempo, os democratas, começando com FDR, criaram uma mudança
semipermanente na estrutura do governo. Trump deve aspirar por fazer o
mesmo na direção oposta.
Significa que Trump e os republicanos devem trabalhar para construir
uma aliança governamental permanente do GOP. Eles não a têm agora. E
como obtê-la? Primeiro, Trump precisa garantir que tanto sua retórica como
suas políticas estejam consistentemente direcionadas a consolidar e
expandir seu apoio à classe trabalhadora — não apenas à classe
trabalhadora branca, mas a todos os trabalhadores em geral. Operários são
fundamentais para o Partido Democrata; sem eles, é muito difícil para a
esquerda garantir uma maioridade eleitoral. Trump recebeu uma nova
oportunidade aqui com o que Tom Perez, presidente do Comitê Nacional
Democrata, já deixou claro ser um desejo seu, purgar o Partido Democrata
dos eleitores e candidatos pró-vida.
Em segundo lugar, Trump e o GOP devem fazer de tudo para ganhar os
votos das minorias. Como o partido da aspirante classe média, não há
motivo para que o GOP não obtenha 20% do voto dos negros, 50% dos
votos hispânicos e a grande maioria dos votos ásio-americanos. Se os
republicanos conseguissem chegar a esse patamar, os democratas jamais
venceriam outras eleições de âmbito nacional. Os republicanos já têm
muitas das políticas corretas — uma ênfase em empregos e crescimento
econômico —, mas o que falta é ter “organizadores comunitários”
conservadores nessas comunidades para mostrar como as políticas
republicanas podem reviver as cidades do interior da América e
proporcionar oportunidades para todos.
Esses grupos de divulgação republicana precisam ser tão dedicados
quanto os “organizadores comunitários” da esquerda, que tentam inflamar
as queixas comunitárias e convencer os eleitores minoritários de que seu
único amigo é um grande governo (o qual é, muito pelo contrário, a fonte
da maioria dos problemas). Durante a campanha, Trump investiu contra isso
— demonstrando, em especial, os enormes fracassos das políticas
democratas, estas que, no caso, deveriam beneficiar as comunidades
minoritárias —, mas é necessário que haja um esforço republicano
combinado para acompanhar as propostas do presidente e defender a livre
escolha dos pais no que se refere à educação (ensino domiciliar ou escolar),
o incentivo ao desenvolvimento socioeconômico em zonas urbanas, e
também políticas “broken windows”, ou “janelas quebradas”, mais rígidas,
de modo a garantir ruas mais seguras. O sonho americano ainda é,
claramente, um atrativo aos olhos imigrantes — e deveria ser tão atraente
também para os grupos minoritários que aqui já estão. Ganhar eleitores das
minorias é crucial para criar a maioria republicana, uma duradoura, que
possa, finalmente, derrubar o fascismo da esquerda.

O Fim da Gleichschaltung
Finalmente, agora chegou a vez de analisar o semblante mais repulsivo
do fascismo progressista; a saber, seu empenho em estabelecer a
uniformidade de pensamento e de sentimento por todo o país. O projeto da
esquerda aqui reflete aquilo que Joseph Goebbels declarou a respeito do
Gleichshaltalung nazista: “O nacional-socialismo não só é uma doutrina
política; é uma perspectiva universal e toda abrangente sobre os tópicos do
coletivo. Esperamos que chegue o dia quando ninguém mais terá de referir-
se ao nacional-socialismo, uma vez que este haverá se transformado no ar
que respiramos. O povo precisa internalizar essa disposição mental, as
pessoas devem apossar-se dessa postura. Tão somente quando isso for
assimilado é que uma nova inclinação terá surgido na cultura”.6
A esquerda, buscando precisamente esta mesma conformidade de
pensamento e sentimento sobre toda a sociedade americana, tem seu próprio
Gleichshaltalung não meramente “ateando fogo nas ruas”, mas também
através de uma longa guerrilha por meio das instituições. Havendo cercado
boa parte delas, a esquerda agora pode usar a academia, a mídia e
Hollywood — seu Estado dentro do Estado — para, sem reservas em ato
contínuo, disseminar a propaganda fascista. Concorrente a isso, tamanha
propaganda expele conservadores e vozes dissidentes destas mesmas
instituições. Seus marginais fascistas — autointitulando-se “ativistas” —
não hesitam em assediar, intimidar e espancar aqueles que vierem a
representar ameaça ao Gleichshaltalung da esquerda atual.
Esse é um tipo de fascismo que exige da direita um novo tipo de reação.
Até agora os conservadores contentaram-se em documentar e lastimar as
tendências e predisposições da academia, da mídia e de Hollywood. Postura
que não chega nem perto de ser suficiente. É preciso romper com esse
monopólio da informação. É imperativo abrir um novo espaço para pontos
de vista rivais e dissidentes. É necessário criar instituições culturais que
façam rivalidade. E é preciso parar esses marginais que vão às ruas para não
fazer nada além de causar tumulto. Isso tudo exigirá da direita nova
criatividade, nova resolução, uma nova disposição para fazer uso da força
física prescrita na lei. Quem disser que a força física está fora de cogitação
não entende o que significa deter o fascismo.
O primeiro passo é, para nós da direita, cultivarmos uma nova
mentalidade. Devemos aprender a decifrar aquilo que lemos, vemos e
ouvimos. Quando vemos na CNN, por exemplo, sendo dito que Trump
pende a um péssimo início de mandato, devemos aprender a reconhecer que
isso significa que Trump pende a um ótimo início de mandato — pois
aquilo que é ruim no ponto de vista da CNN, na verdade é bom no nosso
ponto de vista. Devemos nos habituar a tratar como falso tudo o que a
academia progressista, a mídia progressista e o Hollywood progressista nos
apresentam. Obviamente não no sentido concreto da coisa, mas num sentido
mais profundo, de que os fatos estão sendo manipulados a serviço de uma
metanarrativa fascista. Em suma, devemos estar sempre alertas para a
grande mentira em todas as suas formas.
Segundo passo, devemos usar todo o arsenal à nossa disposição, da
mídia conservativa às mídias sociais, para esfolar em público a academia,
Hollywood e a mídia por seu partidarismo e exclusivismo unilaterais.
Trump já vem agindo a este respeito, e é essa uma das coisas que eu mais
amo nele. Gostaria de vê-lo indo mais a fundo nessa direção política,
cortando os fundos federais para a Rádio Pública Nacional e para o Serviço
Público de Transmissão dos EUA. Ambos são órgãos de propaganda da
esquerda fascista.
Quando as universidades estatais expulsam palestrantes conservadores,
os legisladores republicanos deveriam mover-se depressa para cortar o
financiamento federal e estatal dessas instituições. Em locais como
Berkeley, onde o reitor universitário, o prefeito e a polícia local parecem
conspirar para sufocar os direitos da Primeira Emenda da Constituição,
Trump deveria enviar a Guarda Nacional até lá, bem do jeito como
Eisenhower fez em 1957, para impedir outro grupo de democratas fanáticos
de reprimir os direitos constitucionais dos estudantes negros. É lógico que a
esquerda vai berrar. Mas deixe-os berrando. É para isso que estamos aqui.
Note que não estamos tentando persuadir os fascistas de esquerda. Nada
seria mais inútil. Pelo contrário, o que estamos por fazer é reduzi-los o
máximo possível. Também estamos alertando o público de que aquilo que
eles recebem da esquerda não é mero “conhecimento”, “notícias”,
“entretenimento”, mas propaganda política mascarada de conhecimento, de
notícias e de entretenimento. Este é o significado original das #FakeNews.
Uma vez que o povo americano passe a enxergar tudo isso, o poder dos
megafones da esquerda será dissolvido. E a partir daí é que então a política
americana se tornará genuinamente competitiva. Estamos, aqui e agora,
lutando contra todo o aparato da cultura geral contra nós.
Terceiro, ao longo do tempo temos de criar nossas próprias instituições
para fazer rivalidade. É claro, eu sei que não conseguiremos dar início a
milhares de novos câmpus, mas a boa notícia é que, com a ajuda da
tecnologia, não precisamos. Em vez disso, o que devemos fazer é criar as
melhores universidades on-line, para que batam de frente com o melhor que
a academia progressista pode oferecer. Se descobrirmos um jeito de
providenciar uma educação de alta qualidade por uma fração do que é
cobrado pelo ensino superior atual, nós podemos revolucioná-lo e desafiar,
talvez até substituir, sua estrutura de poder vigente.
Também precisamos produzir nossos próprios filmes — não meramente
documentários, mas também longas-metragens. Dentro de poucos anos,
superei Michael Moore nos gráficos de produção de documentários,
obtendo, sucessivamente, a segunda, a sexta e a oitava maior arrecadação
vinda de documentários políticos de todos os tempos. Mas isso está longe
de ser o suficiente. Hollywood comunica a maior parte de suas mensagens
ideológicas via comédias românticas, filmes de suspense, de terror e
animações para toda a família. O chefão de Hollywood não é Michael
Moore; é Stephen Spielberg. Precisamos competir em todos os gêneros do
cinema.
Além do mais, temos de construir canais de comunicação que consigam
ir mais longe do que o alcance relativamente limitado das rádios e do canal
Fox News. Pense no seguinte. No mundo da comédia da TV, a esquerda tem
Bill Maher, Jon Stewart, Stephen Colbert e John Oliver. Até o momento,
temos pouquíssimos para competir com eles, e muitos jovens não só
adquirem desses palhaços seu próprio estilo e senso de humor como
também sua própria instrução política.
A solução, obviamente, é que precisamos ter nossos próprios palhaços.
Isto certamente levará tempo — Maher e companhia começaram com
apresentações locais, fazendo seus eight days a week, “oito dias por
semana”, ao estilo Beatles. Nós deveríamos ao menos já ter começado.
Pense em quão valiosas seriam as doações feitas por conservadores se
fossem para alguns daqueles projetos inovadores, e não tudo para as já tão
conhecidas ONGs partidárias ou para as ONGs sem fins lucrativos ou para
as think tanks, que há muito tempo já chegaram aos limites da eficácia. Só
tomando tais medidas, com criatividade e abrangência exaustivas, é que
conseguiremos alcançar a verdadeira desnazificação, uma vez que isso trará
fim ao Gleichschaltung da esquerda.
Devemos também lidar com as brigadas de Soros, e com isso estou
falando dos marginais de rua que usam táticas de terror e de opressão para
nos calar e nos apagar. Quando eles expulsarem algum de nossos
palestrantes de determinado câmpus universitário, devemos enviar outros
dez palestrantes e acompanhados de uma segurança pesada. Se eles
destroem nossos cartazes e nossas placas, devemos do mesmo modo
destruir os cartazes e placas deles. Alguns “trumpsters” abraçaram medidas
defensivas como rastrear a identidade dos Antifas mascarados em protestos
para revelar seus nomes nas mídias sociais ou amarrá-los em postes e placas
de trânsito com fita adesiva. Reconheço ser este um ativismo republicano
atípico, mas com certeza isso dá o troco aos tirânicos de esquerda.
E o mais importante, não podemos hesitar em romper a lei e a polícia
sobre esses camisas pardas da esquerda. Reagan deu bom exemplo disso
enquanto ainda governador da Califórnia, em 1960. Toda perturbação
violenta de hoje deveria ser agressivamente julgada. O Partido Democrata,
lembremo-nos, usou a Ku Klux Klan como um de seus executores políticos.
A KKK não saiu da ativa por livre e espontânea vontade. Primeiro ela foi
combatida por Ulysses Grant, presidente republicano, durante o período de
Reconstrução dos EUA, e mais tarde pela aplicação legítima das leis com o
FBI. Quando os “protestos” da Antifa chegam ao patamar de violência,
crime, tumulto ou até mesmo terrorismo nacional, os culpados também
devem ser julgados pela força completa da lei.
Para fins de jurisprudência, cerca de duzentos esquerdistas — dos quais
muitos eram jornalistas — que perturbaram com violência a cerimônia de
posse presidencial foram acusados de perturbação pública, crime que pode
chegar a dez anos de prisão.7 A esquerda queria nos fazer acreditar que
tumultos e desordens são formas nobres de protesto político e que, de certa
forma, a lei não se aplica ao caso deles. Como já é típico, casos assim caem
nas mãos de juízes progressistas, que liberam os manifestantes mediante
uma pena simbólica ou, afinal, nem chegam a penalizá-los. Nas confusões
causadas em Berkeley foi ainda pior: apesar do turbilhão de violência,
quase não houve prisões, uma vez que a polícia permaneceu inerte. Mas
ninguém deveria estar acima da lei. Se juízes e júris passassem a decretar de
cinco a dez anos de prisão a esses casos, todo esse absurdo rapidamente
diminuiria.

Quid Pro Quo


Por fim, chego à questão que tem me preocupado desde a posse de
Trump: como parar o uso que a esquerda faz dos poderes governamentais
contra a oposição? Sob o governo Obama, a esquerda usou os poderes do
Estado — o serviço da Receita Federal Internal Revenue Service (IRS), o
FBI, o Departamento de Justiça e os programas de espionagem do governo
— contra seus críticos conservadores. Como quando a IRS perseguiu
grupos do movimento Tea Party com vigilância secreta e hostilização de
jornalistas dissidentes como Sharyl Attkisson e James Rosen; inclusive eu
fui seletivamente acusado de exceder as lei de financiamento de campanha.
Nenhum americano jamais foi sentenciado e encarcerado durante as noites
por oito meses pelo que eu fiz.
Esse uso do poder governamental como armamento contra dissidentes é
um comportamento puramente fascista. Gentile o descreve como uma etapa
no desenvolvimento do fascismo, quando este “não mais é uma revolução
contra o Estado, mas um Estado revolucionário mobilizado contra resíduos
e restos internos que obstruem sua evolução e estruturação”. O próprio
Hitler chamou esse tipo de retaliação do Estado fascista de uma forma de
“terror físico e espiritual”. Segundo Hitler, o proveito de tamanho terror está
em que os alvos desse mesmo horror “não estão preparados nem
moralmente nem mentalmente a esse tipo de ataque”. Eles então são pegos
de surpresa “até que os nervos da pessoa alvejada entrem em colapso”. De
acordo com Hitler, o objetivo de tão grande terror é produzir submissão,
alinhamento e conformidade política: “O adversário derrotado, na maioria
dos casos, desespera-se de ter sucesso em manter resistência”.8
Como alguém que experimentou em primeira mão este uso da
intimidação fomentada pelo Estado, eu sei quão ruim tudo isso é. Estou
convencido de que alguns da equipe de Obama com quem tive de lidar se
encaixariam muito bem no célebre Tribunal do Povo da Alemanha Nazista.
Não devemos pensar que, porque estamos na América, nós estamos imunes
a esse tipo de pessoa. Também temos a nossa escória da humanidade, e
alguns dessa escória usam crachá. Fortemente munidos de poder estatal,
justamente como as autoridades nazistas também eram, eles são muito mais
perigosos do que criminosos comuns e têm à disposição tribunais, presídios
e a força da Swat.
Assim eu me sinto severamente tentado a propor que Trump use este
mesmo aparato mortal contra a esquerda. Por que não mover o IRS, o FBI e
a Agência de Segurança Nacional contra a esquerda da mesma forma como
Obama fez com o Tea Party. Por que não colocar a IRS para investigar
Michael Moore do mesmo modo como a administração de Obama usou o
FBI para me investigar? Afinal das contas, se não fizermos a eles o que eles
fazem contra nós, como é que conseguiremos detê-los? Eles não só pararão
de nos assediar e aterrorizar quando virem que nós também conseguimos
assediá-los e aterrorizá-los? Pessoalmente falando, eu amaria ver Obama
dormindo no beliche que usei onde fiquei confinado.
E há precedentes para esta abordagem que estou indicando. No período
da Guerra Civil, Lincoln soube que soldados do Exército Confederado
estavam matando tropas de soldados negros capturados da União ou os
vendendo como escravos em vez de tratá-los como prisioneiros de guerra
com direitos legais. Lincoln imediatamente emitiu a Ordem de Retaliação.
Ela dizia: “É, portanto, ordenado que, para cada soldado dos Estados da
União assassinado, em violação das leis de guerra, um soldado insurgente
seja executado; e, para cada soldado escravizado pelo inimigo ou vendido
como escravo, um soldado insurgente seja submetido ao trabalho pesado
nos serviços públicos”.9
Apesar do evidente rigor daquele comando, Lincoln sabia que era o
único modo de mudar o comportamento do Exército Confederado. E
mudou. No entanto, eram tempos de guerra e, pensando bem, estamos em
situações diferentes. Não estamos em guerra civil, ao menos ainda não
estamos, e não queremos nos tornar instrumentos da ilegalidade. Por sorte,
não precisa ser assim, pois há uma melhor solução — uma solução que
funcionou. Em novembro de 2016, nós expomos a bandidagem de Obama e
de Hillary perante o povo Americano, o povo Americano disse “chega!” e
livrou-se daqueles idiotas.
Foi um bom começo. O próximo passo é investigar e processar os abusos
de poder durante a administração Obama. Os esquerdistas bradarão por
vendeta política — a única vendeta que eles querem é para o próprio lado
deles —, mas estamos fazendo nada mais que responsabilizar Obama,
Holder, Lynch, Hillary e Lerner por suas ações. Em suma, para esmagar o
fascismo da esquerda, não precisamos combater ilegalidade com
ilegalidade; precisamos, contudo, ser firmes e resolutos, compreendendo o
tipo de pessoas com quem estamos lidando.
Nós, conservadores e republicanos, estamos à altura do desafio? Sim,
creio que estamos. Olhe para a nossa história. Somos o partido que batalhou
uma grande guerra para pôr fim na escravidão, que combateu linchamentos
e segregação, que apagou a Ku Klux Klan, que fez oposição à eugenia e à
esterilização forçada, que resistiu ao fascismo incipiente dos marginais e
vândalos em 1960. Em suma, somos o partido que, por um século e meio,
tem lutado contra o fascismo da esquerda política. Já vencemos antes,
podemos vencer novamente. Temos agora o poder para impedi-los de
continuar. Precisamos apenas pegar e fazer. Nas palavras de um lema vindo
dos anos 1960, “Se não agora, quando? Se não nós, quem?”.
Capítulo Um
O Retorno dos Nazistas
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Capítulo Dois
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11 JR., Cleve R. Wootson. Sen. Al Franken: Donald Trump’s New Adon the Economy is Anti-Semitic.
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13 SULLIVAN, Andrew. The Madness of King Donald. New York Magazine, 10 fev. 2017.
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14 FEENEY, Matt. The Book That Predicted Trump. New Yorke. Disponível em:
http://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/the-book-that-predicted-trump.
15 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press, 1995. p. 203.
EVANS, Richard. The Coming of the Third Reich. New York: Penguin Books, 2005. p. 449.
16 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994.
p. 4.
17 BEN-GHIAT, Ruth. An American Authoritarian. The Atlantic, 10 ago. 2016. Disponível em:
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SNYDER, Timothy. Donald Trump and the New Dawn of Tyranny. Time, 3 mar. 2017.
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18 HOHMANN, James. The Daily 202: Trump’s Warning to Comey Deepens Doubts About His
Respect for the Rule of Law. Washington Post, 12 maio 2017. Disponível em:
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trump-s-warning-to-comey-deepens-doubts-about-his-respect-for-the-rule-of-
law/5915063ee9b69b209cf2b814/?utm_term=.29f8b7dd4e5f.
19 MCADAMS, Dan P. The Mind of Donald Trump. The Atlantic, jun. 2016. Disponível em:
https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2016/06/the-mind-of-donald-trump/480771/.
20 ROSENBERG, Mark Y. Donald Trump’s Use of Fascist Language Forebodes a Dark American
Future. Quartz, 24 jan. 2017. Disponível em: https://qz.com/892091/is-trump-a-fascist-donald-
trumps-inaugural-speech-used-fascist-language-to-prime-america-for-a-dark-future-agenda/.
21 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994.
p. 215.
GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Berkeley:
University of California Press, 1979. p. 98.
SMITH, Denis Mack. Mussolini. New York: Vintage Books, 1982. p. 15.
22 NIOSE, David. Our Memorial Day Collision Course with Fascism. Salon, 30 maio 2016.
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THAROOR, Ishaan. The Trump Presidency Ushers in a New Age of Militarism. Washington Post,
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in-a-new-age-of-militarism/?utm_term=.843868bacc08.
23 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press, 1995. p. 11.
24 DEMOCRACY NOW. Cornel West on Donald Trump: This is What Neo-Fascism Looks Like.
Democracy Now, 1 dez. 2016. Disponível em:
https://www.democracynow.org/2016/12/1/cornel_west_on_donald_trump_this.
25 FELICE, Renzo De. Fascism. New Brunswick: Transaction Publishers, 2009. p. 63.
MOSSE, George. The Fascist Revolution. New York: Howard Fertig, 1999. p. 22.
PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press, 1995. p. 168.
26 GREGOR, A. James. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 5.
27 GENTILE, Giovanni. Origins and Doctrine of Fascism. New Brunswick: Transaction Publishers,
2009. p. 25.
28 Além dos escritos de Gentile, minha narrativa fica em dívida especialmente com o livro de A.
James Gregor: Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism. New Brunswick: Transaction
Publishers, 2008.
29 GENTILE, Giovanni. Origins and Doctrine of Fascism. New Brunswick: Transaction Publishers,
2009. p. 28, 31, 55, 57, 67, 87.
30 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p. 207, 223.
31 LAQUEUR, Walter. Fascism: Past, Present and Future. New York: Oxford University Press,
1996. p. 13.
32 DEMOCRACY NOW. Father of Fascism Studies: Donald Trump Shows Alarming Willingness to
Use Fascist Terms and Styles. Democracy Now, 15 mar. 2016. Disponível em:
https://www.democracynow.org/2016/3/15/father_of_fascism_studies_donald_trump.
CHOTINER, Isaac. Is Donald Trump a Fascist? Slate, 10 fev. 2016. Disponível em:
http://www.slate.com/articles/news_and_politics/interrogation/2016/02/is_donald_trump_a_fascis
t_an_expert_on_fascism_weighs_in.html.
33 GREGOR, A. James. Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism. New Brunswick: Transaction
Publishers, 2008. p. 63.
34 LANDLER, Mark; COOPER, Helene. Obama Seeks a Course of Pragmatism in the Middle East.
New York Times. 10 mar. 2011. Disponível em:
http://www.nytimes.com/2011/03/11/world/africa/11policy.html.
35 SMITH, Dennis Mack. Mussolini. New York: Vintage Books, 1982. p. 312.
36 TOLAND, John. Adolf Hitler. New York: Anchor Books, 1992. p. 224-225.
37 ULLRICH, Volker. Hitler. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 193.

Capítulo Três
A Jornada de Mussolini
1 HAYEK, F. A. The Road to Serfdom. Chicago: University of Chicago Press, 2007. p. 145.
2 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994. p.
208.
3 SHIRER, William. The Rise and Fall of the Third Reich. New York: Simon & Schuster, 2011. p.
298.
4 ULLRICH, Volker. Hitler. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 125.
5 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. Intro. H. R. Trevor-Roper. New York: Enigma Books, 2000. p.
xxiv, 10.
6 GREGOR, A. James. The Faces of Janus. New York: Encounter Books, 2002. p. 105.
7 MURAVCHIK, Joshua. Heaven on Earth. New York: Encounter Books, 2002. p. 105.
8 ______. ______. p. 101.
9 ______. ______. p. 108.
10 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994.
p. 39-66.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p. 159.
12 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press, 1995. p. 84.
13 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Berkeley:
University of California Press, 1979. p. 20.
14 GREGOR, A. James. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 33.
15 Para uma melhor discussão acerca de Woltmann, veja A. James Gregor em seu livro: Marxism,
Fascism and Totalitarianism. Standford: Standford University Press, 2000. p. 183-186.
16 GREGOR, A. James. Giovanni Gentile. New Brunswick: Transaction Publishers, 2008. p. 100.
17 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Berkeley:
University of California Press, 1979. p. 215.

Capítulo Quatro
Um Segredo do Partido Democrata
1 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
2 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 54.
3 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. New York: Enigma Books, 2000. p. 188.
4 GILBERT, Alan. The Cowboy Novels that Inspired Hitler. Daily Beast, 20 ago. 2016. Disponível
em: http://www.thedailybeast.com/the-cowboy-novels-that-inspired-hitler.
5 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright Publishing, 2003. p. 282-283.
6 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 139.
7 RICH, Norman. Hitler’s Foreign Policy. In: MARTEL, Gordon (Ed.). The Origins of the Second
World War Reconsidered: The A.J.P. Taylor Debate After Twenty-Five Years. Boston: Allen &
Unwin, 1986. p. 136.
WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 9-
10.
8 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent, 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 665.
EVANS, Richard. The Coming of the Third Reich. New York: Penguin Books, 2005. p. 111.
9 TOLAND, John. Hitler: the Definitive Biography. New York: Anchor Books, 1992. p. 702.
10 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
11 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt, 2014. p. 2.
12 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014.
PLATO, Alexander Von; LEH, Almut; THONFELD, Christoph (Ed.). Hitler’s Slaves. New York:
Berghahn Books, 2010.
13 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014. p. 22.
14 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 244.
15 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xiii, 256, 76, 382.
16 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 199.
17 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press, 1992. p. x, 147.
18 LEWY, Guenter. Were American Indians the Victims of Genocide? History News Network, set.
2004. Disponível em: http://historynewsnetwork.org/article/7302.
19 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER.
“Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide”. 9 dez. 1948.
Disponível em: http://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CrimeOfGenocide.aspx.
20 INSKEEP, Steve. Jacksonland. New York: Penguin Books, 2015. p. 203-204.
21 ______. ______. p. 205.
22 JACKSON, Andrew. Andrew Jackson to Rachel Jackson, March 28, 1814 [carta]. In: OWSLEY,
Harriet et. al. (Colab.). The Papers of Andrew Jackson. Knoxville: University of Tennessee Press,
1980. v. 3, p. 54.
BALL, Timothy Horton; HALBERT, Henry Sale. The Creek War of 1813 and 1814.
Montgomery: White, Woodruff & Fowler, 1895. p. 276-277.
23 “Andrew Jackson’s Speech to Congress on Indian Removal”. 6 dez. 1830. Disponível em:
https://www.nps.gov/museum/tmc/MANZ/handouts/Andrew_Jackson_Annual_Message.pdf.
24 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press, 1992. p. 123-
124.
25 LAWRENCE, Jane. The Indian Health Service and the Sterilization of Native American Women.
In: MIHESUAH, Devon A (Ed.). American Indian Quarterly. University of Nebraska Press,
2000. v. 24, n. 3, p. 400-419.
26 ELKINS, Stanley. Slavery: A Problem in American Institutional and Intellectual Life. Chicago:
University of Chicago Press, 1976. p. 111.
27 ______. ______. p. 130.
28 GENOVESE, Eugene. Rebelliousness and Docility in the Negro Slave. In: LANE, Ann (Ed.). The
Debate Over Slavery: Stanley Elkins and His Critics.Urbana: University of Illinois Press, 1975.
p. 43.
29 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 25.
30 WIESEL, Elie. Night. New York: Hill & Wang, 2006. p. 52.
HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 34.
31 ______. ______. p. 70.
32 GENOVESE, Eugene. The World the Slaveholders Made. Middletown: Wesleyan University
Press, 1988. p. 200.
33 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 171-
172.
34 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014. p. 37-38, 46.
35 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 188.
36 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 58.
37 ______. ______. p. 271-274.
38 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 11, 420.
39 PATTERSON, Orlando. Towards a Study of Black America. Dissent, Fall 1989, 480 p. Disponível
em: https://www.dissentmagazine.org/article/toward-a-study-of-black-america.
Capítulo Cinco
Os Racistas Originais
1 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton University Press, 2002.
p. 123-124.
2 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 23.
3 WHITMAN, James Q. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 1,
80, 95, 104, 127, 160.
WHITMAN, James Q. When the Nazis Wrote the Nuremberg Laws, They Looked to Racist
American Statutes. Los Angeles Times, 22 fev. 2017. Disponível em:
http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-whitman-hitler-american-race-laws-20170222-
story.html.
4 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 45.
5 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton University Press, 2002.
p. 124.
6 WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 50,
138, 145.
7 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright, 2013. p. 283.
8 MURAVCHIK, Joshua. Did American Racism Inspire the Nazis? Mosaic, 19 mar. 2017.
Disponível em: https://mosaicmagazine.com/observation/2017/03/did-american-racism-inspire-
the-nazis/.
9 WHITMAN, James. Why the Nazis Loved America. Time, 21 mar. 2017.
10 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 84.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p. 246-248.
______. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 214-217.
12 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt and Company, 2014. p. 70,
77-78.
13 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 210.
14 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 102-103.
15 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. Intro. H. R. Trevor-Roper. New York: Enigma Books, 2000.
p. 117-118, 373-374.
16 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt and Company, 2014. p. 72.
17 ______. ______. p. 8.
18 FRANKLIN, John Hope. From Slavery to Freedom. New York: Alfred A. Knopf, 1967. p. 341.
HIGGINBOTHAM, A. Leon. Groundwork: Charles Hamilton and the Struggle for Civil Rights.
Intro. Genna Rae McNeil. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1983. p. xvi.
19 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright, 2013. p. 90.
20 ______. When Affirmative Action Was White. New York: W. W. Norton, 2005. p. 81.
21 BELL, Derrick. Faces at the Bottom of the Well: The Permanence of Racism. New York: Basic
Books, 1992. p. 1, 3, 10, 52.
KOVEL, Joel. White Racism. New York: Columbia University Press, 1984. p. xi, 32.
WEST, Cornel. Keeping Faith: Philosophy and Race in America. New York: Routledge, 1993. p.
236.
22 JEFFERSON, Thomas. Notes on the State of Virginia. New York: W. W. Norton, 1982. p. 143.
23 LINCOLN, Abraham. Speech on the Dred Scott Decision. Springfield, Illinois, 26 jun. 1857. In:
CUOMO, Cuomo; HOLZER, Harold (Ed.). Lincoln on Democracy. New York: HarperCollins,
1990. p. 90-91.
24 Dred Scott v. Sandford, 60 U.S. 393 (1856).
25 TOWNSEND, John. The Doom of Slavery in the Union: Its Safety Out of It. [Enviado para a
Vigilant Association de Edisto em 29 out. 1860]. Disponível em:
http://civilwarcauses.org/townsend.htm.
26 WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 59-
60.
27 WILLIAMSON, Joel. The Crucible of Race. New York: Oxford University Press, 1984.
28 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 193.
29 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 672.
30 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 82.
Capítulo Seis
Pessoas Descartáveis
1 SANGER, Margaret (Ed.). Intelligent or Unintelligent Birth Control?. Birth Control Review, maio
1919. Disponível em: https://lifedynamics.com/app/uploads/2015/09/1919-05-
May.pdf.WEIKART, Richard. From Darwin to Hitler. New York: Palgrave Macmillan, 2004. p.
135.
2 POSNER, Gerald; WARE, John. Mengele. New York: Cooper Square Press, 200. p. 9.
3 ______. ______. p. 279.
4 KLIFF, Sarah. The Gosnell Case: Here’s What You Need To Know. Washington Post, 15 abr. 2013.
Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2013/04/15/the-gosnell-case-
heres-what-you-need-to-know/?utm_term=.61910f9f415c.
5 DESANCTIS, Alexandra. A Shocking New Undercover Video Exposes the Grisly Reality of
Ripping Apart Fetuses. National Review, 25 maio 2017. Disponível em:
http://www.nationalreview.com/article/447939/undercover-video-center-medical-progress-
exposes-gruesome-abortion-practices.
6 SALETAN, William. The Baby Butcher. Slate, 20 jan. 2011. Disponível em:
http://www.slate.com/articles/health_and_science/human_nature/2011/01/the_baby_butcher.html.
7 NASH, Nathaniel. Mengele an Abortionist, Argentine Files Suggest. New York Times, 11 fev.
1992. Disponível em: http://www.nytimes.com/1992/02/11/world/mengele-an-abortionist-
argentine-files-suggest.html.
8 EVANS, Richard. The Third Reich in History and Memory. New York: Oxford University Press,
2015. p. 21.
9 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xv, 257, 261, 382.
10 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 142.
11 FRANKS, Angela. Margaret Sanger’s Eugenic Legacy. Jefferson, NC: McFarland & Co., 2005. p.
180.
12 ______. ______. p. 70.
13 POPENOE, Paul; JOHNSON, Roswell Hill. Applied Eugenics. New York: Macmillan, 1918. p.
184.
14 BLACK, Edwin. The War Against the Weak. Washington, D.C.: Dialog Press, 2013. p. xvii, 258.
15 SANGER, Margaret. My Way to Peace. Discurso, 17 jan. 1932. In: Margaret Sanger Papers.
Disponível em: https://www.nyu.edu/projects/sanger/webedition/app/documents/show.php?
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______. America Needs a Code for Babies. Discurso, 27 mar. 1934. In: Margaret Sanger Papers.
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sangerDoc=101807.xml.
16 “Letter From Margaret Sanger to Dr. C. J. Gamble, December 10, 1939”. Genius. Disponível em:
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17 GORDON, Linda. Woman’s Body, Woman’s Right: Birth Control in America. New York:
Penguin Books, 1990.
18 KUHL, Stefan. The Nazi Connection. New York: Oxford University Press, 1994. p. 34.
19 SANGER, Margaret. Human Conservation and Birth Control. Discurso, 3 mar. 1938. In:
Margaret Sanger Papers. Disponível em:
https://www.nyu.edu/projects/sanger/webedition/app/documents/show.php?
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20 WEIKART, Richard. From Darwin to Hitler. New York: Palgrave Macmillan, 2004. p. 9.
21 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 286,
439-440.
22 WAGENER, Otto. Hitler: Memoirs of a Confidant. New Haven: Yale University Press, 1987. p.
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24 BLACK, Edwin. The War Against the Weak. Washington, D.C.: Dialog Press, 2013. p. 270.
25 ______. ______. p. 259.
26 KUHL, Stefan. The Nazi Connection. New York: Oxford University Press, 1994. p. 36, 46.
27 ______. ______. p. 277.
28 FREDRICKSON, George. Racism. Princeton: Princeton University Press, 2002. p. 2.
29 FONER, Eric. Introduction. In: HOFSTADTER, Richard. Social Darwinism in America. Boston:
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30 HOFSTADTER, Richard. Social Darwinism in America. Boston: Beacon Press, 1992. p. 161.
31 FRANKS, Angela. Margaret Sanger’s Eugenic Legacy. Jefferson, NC: McFarland & Co., 2005. p.
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Capítulo Sete
Führers Americanos
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Capítulo Oito
Políticas de Intimidação
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Capítulo Nove
Desnazificação
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9 LINCOLN, Abraham. Selected Speeches and Writings. New York: Vintage Books, 1992. p. 386/; .

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