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A Grande Mentira - Expondo As Raízes Nazistas Da Esquerda - Dinesh D'Souza - Compressed
A Grande Mentira - Expondo As Raízes Nazistas Da Esquerda - Dinesh D'Souza - Compressed
1a edição 2019
ISBN: 978-85-85034-13-9
***
___________
C999g D´Souza, Dinash 1961 -
A grande mentira: expondo as raízes nazistas da esquerda / Dinash D
´Souza ; [tradução: Elmer Pires]. - São Paulo: Trinitas, 2019.
Tradução de: The big lie: exposing the Nazi roots of the American Left.
Bibliografia: p. 263-[296]
ISBN 9788585034139 (ebook)
A Cartada Racial
Este é um tópico sobre o qual nunca antes escrevi. Em duas ocasiões,
uma vez em 1976 e, novamente, em 1980, Reagan associou, sem
cerimônias, o Partido Democrata ao fascismo. A mídia entrou naquele
alvoroço já previsível, sugerindo que, mais uma vez, o velho vaqueiro
estava tagarelando. “Reagan Ainda Acredita que Alguém do New Deal
Defenda o Fascismo” era o título da matéria no Washington Post.4 Quando
Reagan fez suas declarações, eu não tinha ideia do que ele queria dizer. Mas
ele sabia. Ele cresceu na década de 1930. Ele estava lá. Ele viu as
afinidades entre o fascismo e o New Deal, afinidades sobre as quais falarei
melhor em um capítulo mais adiante.
Somente agora, décadas depois, compreendo o que Reagan quis dizer.
Gostaria de que ele pudesse ter lido este meu livro; Reagan veria que, ao
invés de ser culpado de inverdade ou exagero, foi culpado de cometer um
enorme eufemismo. Mas, na época, tanto eu como a maioria dos meus
companheiros republicanos e conservadores éramos vítimas do paradigma
progressista, embebidos em todas as essas instituições culturais, desde a
academia a Hollywood, de Hollywood à mídia. Nesse caso, a história que
havíamos aceitado, feito otários, era que o fascismo e o nazismo são ideias
inerentes “à direita”.
A esquerda é realmente boa no inventar e disseminar esses paradigmas.
Quando um deles cai, eles simplesmente buscam outro. Em meu livro
anterior e também no documentário Hillary’s America, desafio um outro
poderoso paradigma esquerdista, o paradigma de que os progressistas e os
democratas são o partido da emancipação, da igualdade e dos direitos civis.
Demonstrei que, no entanto, em vez disso, eles são o partido da escravidão
e da remoção indígena, da segregação e do Jim Crow, do terrorismo racial e
da Ku Klux Klan, o partido da oposição ao movimento dos direitos civis da
década de 1960.
Meu objetivo foi tirar a cartada racial dos democratas — uma jogada
que vem surtindo efeito contra os republicanos por toda uma geração. É
impressionante o fato de os democratas terem recebido todo o crédito pelo
movimento dos direitos civis, sendo que foram os republicanos que os
conquistaram, ainda mais por que a oposição a esses direitos veio
praticamente toda do Partido Democrata. Os democratas acusam os
republicanos — o partido da emancipação e da oposição à segregação, à
intolerância e à supremacia branca — de ser o partido da intolerância e da
supremacia branca.
Bom, falemos sobre o termo transferência. Essa foi minha introdução à
política estratégica da esquerda de transferir a prática do racismo ao partido
que vem, no decorrer da História, opondo-se ao racismo em todas as suas
formas e vertentes. Os democratas foram tão bem-sucedidos neste golpe
que, em 2005, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Ken
Mehlman, saiu por aí pedindo desculpas a grupos negros por pecados
cometidos não pelos republicanos, mas pelos democratas.5 Igualmente
espantoso, os democratas nunca admitiram seu histórico racista, nunca
assumiram a responsabilidade pelo que fizeram, nunca se desculparam,
jamais restituíram um centavo por seus crimes.
O que mais me intrigou foi como alguém consegue se safar com tão
grande mentira. A resposta é entender como é imperativo dominar todos os
grandes porta-vozes da cultura, desde a academia ao cinema, do cinema aos
principais meios de comunicação. Com esse arsenal cultural à disposição,
grandes mentirosos podem, confiantes, espalhar mentiras e certos de que
mais ninguém terá porta-vozes tão grandes a ponto de desafiá-los. Eles
conseguem ter suas mentiras ensinadas nas salas de aula, transformadas em
filmes e em programas de TV, e enfaticamente distribuídas nos veículos de
comunicação do cotidiano público, tudo como a mais pura verdade. É assim
que grandes mentiras tornam-se amplamente aceitas, às vezes até mesmo
por aqueles que são os próprios alvos das mentiras.
Hillary’s America foi recebido com afronta pela esquerda, mas ninguém
pôde refutar um único fato do livro ou do documentário. Até mesmo as
alegações mais incriminadoras que apresentei provaram ser invulneráveis.
Acusei que, em 1860, ano anterior à Guerra Civil, nenhum republicano
possuía escravos; todos os quatro milhões de escravos naquela época
estavam sob posse democrata. Agora, tamanha generalização poderia ser
facilmente refutada com uma simples lista de republicanos detentores de
escravos. A esquerda não pôde fazê-lo. Houve certo pesquisador assíduo
que, finalmente, pretendeu contestar-me com um único contraexemplo. Ele
indicou que Ulysses S. Grant certa feita herdou um escravo da família de
sua esposa. Tolerei o argumento, mas o lembrei de que, naquela época,
Ulysses S. Grant não era republicano.
Temendo não ter resposta substancial para o Hillary’s America, os
principais meios de comunicação entraram numa negação completa. Quem
tivesse somente assistido às grandes redes de TV e aos canais abertos, ou
ouvido a Rádio Pública Nacional, não faria nem ideia de que o Hillary’s
America existe. O livro estava em primeiro lugar na lista dos livros mais
vendidos do New York Times, e a filmagem foi o documentário de maior
bilheteria do ano. Ambos densos e repletos de materiais diretamente
relevantes para o debate eleitoral em curso, no entanto completamente
ignorados pela imprensa, totalmente a favor de Hillary.
Apesar das manifestações fracassadas e da negação generalizada, o livro
e o documentário surtiram efeito. Muitos consideram que ambos tanto
motivaram os republicanos quanto persuadiram os hesitantes, ajudando
Trump a alcançar a Casa Branca. Não tenho ideia de como medir tamanhos
efeitos, mas sei que meu livro e meu documentário ajudaram a moldar a
narrativa eleitoral, expondo Hillary como a criminosa que é e os democratas
como seus cúmplices, todos culpados de um longo histórico de intolerância
e exploração. Pela primeira vez, nas eleições de 2016, os democratas não
conseguiram se servir da cartada racial e sair impunes.
Mesmo após as eleições, e por consequência do livro e do documentário,
agora será ainda mais difícil para os democratas lançarem mão da cartada
racial. Eles tentaram, por um breve momento, suspender a nomeação de Jeff
Sessions como procurador-geral de Trump. A acusação seria de que ele
teria dito coisas racistas há algumas décadas. Sim, mas e quanto ao
democrata Robert Byrd, conhecido como a “consciência do Senado”?
Décadas atrás, era ele um líder da Ku Klux Klan. Mesmo assim, os Clintons
e os Obamas o louvaram quando veio a óbito, em 2010. Os democratas
descobriram, para própria consternação, que sua cartada racial passou a ser
então um fracasso. Ela não funcionava mais. A festa acabou.
Então, agora, os democratas passaram da grande cartada racial, que não
mais funciona, para o seu maior trunfo: a cartada nazista. É claro que eles
não abandonaram a cartada racial, afinal o racismo era intrínseco ao
nazismo. Hitler, com seu ódio incansável pelos judeus — ódio baseado não
no que fizeram ou mesmo na religião, mas simplesmente por sua identidade
racial e biológica —, é o racista definitivo.
Consequentemente, os democratas não esperam apenas sustentar a
alegação nazista contra Trump e o GOP, mas também esperam recuperar a
cartada racial com nova roupagem. Como antes, meu objetivo é fazer com
esse novo paradigma, o nazista, o que meu livro anterior fez com a antiga
narrativa racial, ou seja, destruí-lo por completo. Aqui, refuto a falsa
narrativa deles, exponho sua grande mentira e prendo o rabo nazista
exatamente onde ele deve ficar — no burro democrata.
Reductio Ad Hitlerum
Os temas nazismo e fascismo devem ser abordados com o maior
cuidado, não só por envolverem sofrimento e perda de um grande número
de vidas, mas também porque os termos em si têm sofrido abusos e sido
deturpados sôfrega e promiscuamente em nossa cultura. Não posso melhor
ilustrar essa realidade do que com a reação de várias personagens de
Hollywood perante a eleição e posse de Trump.
“Eu sinto Hitler andando pelas ruas”, disse a atriz Ashley Judd. O cantor
John Legend afirmou que a retórica “nível Hitler” de Trump poderia
transformar a América na Alemanha nazista. De acordo com um tuíte feito
por RuPaul, em 8 de novembro de 2016, “a América ganhou uma gigante
suástica tatuada na testa”. A atriz Meryl Streep disse que sua crítica a
Trump produziu uma resposta “aterrorizante”. “Isso prepara você para todo
tipo de ataques e exércitos dos camisas pardas [...] e você só pode fazer isso
se você sente que deve fazer [...] Você não tem muita opção”.6
Essa é Streep fazendo sua melhor cópia de Dietrich Bonhoeffer. No
entanto, exatamente de que forma esses tais de camisas pardas a estavam
atacando? Acontece que esses ataques foram feitos no Twitter e em outras
mídias sociais. Ninguém a espancou de verdade. Os verdadeiros camisas
pardas já o teriam feito. Da mesma forma, RuPaul bem provavelmente sabe
que, na Alemanha nazista, um drag queen como ele teria sido enviado para
algum campo de concentração e morto por eutanásia. Se ele realmente
acreditasse que a América havia se transformado na Alemanha nazista, o
que se esperaria senão sua saída imediata do país? De alguma forma,
RuPaul sabe, assim como todos nós sabemos, que ele está perfeitamente
seguro aqui.
Alguns conservadores permanecem tranquilos enquanto a esquerda
rotula Trump de fascista. O historiador Victor Davis Hanson recorda,
perplexo, que Ronald Reagan e George W. Bush foram ambos, em algum
dado momento, ligados pela esquerda a Hitler. Daniel Greenfield devolveu
a analogia de Hitler para Goldwater e Nixon em seu artigo na FrontPage
Magazine intitulado “Todo Presidenciável Republicano é Hitler”. Um outro
livro meu, The End of Racism [O Fim do Racismo], perturbou tanto David
Nicholson, do The Washington Post, que ele chegou a ouvir “o pesado
marchar de coturnos, embora taciturnos e distantes, ainda se aproximando
constantemente”.7 Esses exemplos confirmam o ponto de Hanson, de que
comparar uma coisa aos nazistas geralmente não significa nada a não ser
representar aquilo que a esquerda desaprova vigorosamente.
Estudiosos têm se queixado de que termos como ‘nazista’ e ‘fascista’
praticamente perderam significado na cultura popular. Há muitos anos, o
filósofo Leo Strauss, ele próprio refugiado da Alemanha nazista, lamentou
por aquilo que chamou de Reductio ad Hitlerum, com isso pretendendo
expressar a tendência de querer refutar aquilo que desaprova associando-o a
Hitler. O raciocínio é o seguinte: Hitler não gostava de arte moderna, então
a crítica à arte moderna é um mal reminiscente dos nazistas. Hitler
detestava o comunismo, portanto os anticomunistas continuam seguindo o
método de Hitler. Tudo isso, lembrou Strauss, não passa de pura tolice.
Na Califórnia, onde a pura tolice abunda, ouve-se falar da “dieta nazi”,
do “saudável nazi” e dos “surfistas nazi”. Nesses casos, o nazismo parece
tomar uma acepção positiva, indicando compromisso rigoroso. O
historiador Anthony James Gregor, um dos principais estudioso do fascismo
italiano, diz que o fascismo é comumente atribuído a pessoas
declaradamente cristãs, pessoas que buscam por tributações menores, que se
opõem a regulamentações governamentais abusivas, que se mostram céticas
quanto ao aquecimento global e que parecem indiferentes ao destino das
espécies ameaçadas de extinção. “Infelizmente”, ele escreve, “o termo
fascismo foi dilatado a ponto de seu uso cognitivo tornar-se mais do que
suspeito”.8
Mas a acusação de fascismo e nazismo contra Trump e os republicanos
não pode ser tão facilmente descartada. Na verdade, ela não está na mesma
categoria que o emprego metafórico, os tropos desdenhosos comparando
Reagan a Hitler ou Bush a Hitler. Em primeiro lugar, a acusação
contemporânea está bem mais generalizada. Tanto antes quanto depois das
eleições, a analogia nazista não foi apenas um escárnio, mas também foi
empregada como descrição. A analogia é, agora, a estrutura central da
cobertura sobre Trump dada pela mídia, pela academia e por outros meios,
da imigração à política externa e ao comércio, tudo está agrupado sob essa
mesma bandeira.
Para o escritor Chris Hedges, a presidência de Trump é “o ensaio geral
para o fascismo”, significando, provavelmente, que o fascismo, ainda
embora não esteja presente, está prestes a se apresentar. Na mesma linha,
Ben Cohen viu em Trump “os primeiros passos de um Estado fascista”.
Deepak Malhotra insiste na revista Fortune que Trump representa “o
espectro do fascismo domiciliar”. Andrew Sullivan advertiu na revista The
New Republic que Trump “destruiu o Partido Republicano e criou, em seu
lugar, o que parece ser um partido neofascista”. Aaron Weinberg, do
HuffPost, diagnosticou o “engatinhar vagaroso do fascismo de Hitler”.
Escrevendo para o Salon, o historiador Fedja Buric procurou criticar
mudando um pouco o tom, insistindo que “Trump não é Hitler; Trump é
Mussolini”. A âncora da MSNBC, Rachel Maddow, revelou que “eu tenho
lido muito sobre como era na época quando Hitler se tornou chanceler [...]
porque acho possível ser onde estamos agora”. O jurista Juan Cole
exclamou o resultado das eleições com a seguinte frase: “Como os EUA se
tornaram fascistas”. Ken Burns, cineasta e produtor de documentários,
denominou Trump como “fascístico” e “hitleresco”. A reação mais
exagerada veio de Sunsara Taylor, ativista de um grupo chamado Refuse
Fascism [Rejeite o Fascismo]; ela apareceu no programa de Tucker Carlson
para comentar sobre Trump, dizendo que “ele é mais perigoso do que Hitler
jamais teria sido”.9
Como segundo ponto, a acusação de fascismo e nazismo é endossada
pelos principais personagens do Partido Democrata. O candidato à
presidência Martin O’Malley, um democrata, acusou Trump de carregar um
“apelo fascista bem para dentro da Casa Branca”. Fazendo menção a
Trump, Bernie Sanders invocou parentes que morreram no Holocausto
como resultado de “um lunático [...] despertando o ódio racial”. Invocando
a memória sombria dos “piores déspotas da História”, a senadora Elizabeth
Warren insistiu que Trump representa uma “séria ameaça”.10 Ainda que
Obama e Hillary não tenham jogado a cartada fascista ou nazista, ambos
não se afastaram dela nem a repudiaram, assim como nenhuma outra
autoridade do Partido Democrata. Afinal, como eles poderiam rejeitá-la?
Este é, agora, o lema da oposição por parte da esquerda democrata contra
Trump.
Em terceiro lugar, alguns líderes estrangeiros parecem já ter aceitado que
Trump seja fascista, talvez até nazista. Na Grã-Bretanha, o político do
Partido Trabalhista Dennis Skinner advertiu que, se permanecesse em
aliança com a América na sequência das eleições de Trump, seu país estaria
caminhando “de mãos dadas” com um fascista. No Canadá, o líder do Novo
Partido Democrata, Tom Mulcair, usou o rótulo fascista para descrever a
proibição temporária de viagens promulgada por Trump. Dois ex-
presidentes mexicanos, Enrique Calderon e Vicente Fox, compararam
Trump a Hitler, e Fox declarou que o discurso de Trump durante a
convenção republicana fez com que ele se lembrasse de “Hitler discursando
ao Partido Nazista”. Esses comentários dão confirmação internacional ao
que a esquerda americana diz aqui; e alguns deles poderiam até mesmo
causar implicações para as relações diplomáticas dos Estados Unidos.11
Em quarto lugar, alguns dos principais republicanos e conservadores
ecoaram a acusação da esquerda. Durante um evento filantrópico, o ex-
candidato do Partido Republicano ao cargo de governador, Meg Whitman,
comparou Trump a Hitler e a Mussolini. A ex-governadora republicana de
Nova Jersey, Christine Todd Whitman, disse o seguinte acerca das máximas
da campanha de Trump: “Esse é o tipo de retórica que permitiu Hitler
avançar”. Escrevendo para o jornal New York Times, Ross Douthat, uma
vez colunista conservador, concluiu que Trump é um “protofascista”.
Robert Kagan, historiador neoconservador, não se deu nenhuma reserva. “É
assim que o fascismo vem para a América”. Após as eleições, o senador
John McCain, candidato à presidência do Partido Republicano em 2008,
disse, a respeito da crítica de Trump à mídia, que foi dessa forma que os
ditadores do século XX surgiram.12 Trata-se de um padrão sem
precedentes. Quando várias pessoas do seu próprio partido dizem que você
é um fascista, isso faz com que você realmente pareça um fascista.
A esquerda mobiliza uma pilha de especialistas em apoio à equação de
que Trump e o GOP estão ao lado do fascismo e do nazismo. A revista Slate
entrevistou Robert Paxton, importante historiador do fascismo, sobre os
paralelos entre Trump, de um lado, e Mussolini e Hitler, de outro. Bill
Maher deu a deixa para o historiador Timothy Snyder, que vinculou a
ascensão de Trump à ascensão de Hitler. “No meu mundo, de onde venho,
estamos na década de 1930”. O biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, defendeu a
mesma posição num jornal britânico. “Os paralelos ao sombrio período
entreguerras não devem ser negligenciados”. E o historiador Ron
Rosenbaum, autor do livro Explaining Hitler [Explicando Hitler], explicou
que Trump chegou ao poder com “visões e perspectivas extraídas de um
livro escrito em alemão. Esse livro é o Mein Kampf”.13
Por fim, a acusação de fascismo contra Trump não é um elemento a ser
jogado fora; a esquerda apresenta uma infinidade de razões para apoiar tal
acusação. O historiador John McNeill fez chegar ao Washington Post a
alcunha sobre Trump dos “11 atributos do fascismo”. Escrevendo para o site
Alternet, Kali Holloway declarou: “É assustador como Trump se enquadra
perfeitamente no famoso guia dos 14 pontos para identificar líderes
fascistas”.14 Dessa vez a esquerda e os democratas parecem confiantes de
que poderão fazer o rótulo fascista pegar, de modo a desacreditar
permanentemente Trump e aqueles que o apoiam.
A Racionalização da Violência
A princípio, pensava estar simplesmente testemunhando consequências
chocantes de uma eleição chocante. A esquerda não esperava que Trump
vencesse. Em 20 de outubro de 2016, a revista American Prospect publicou
um artigo intitulado “Trump No Longer Really Running for President”
[“Trump já não mais Concorre à Presidência”], cuja intenção era concluir
que o “objetivo político real de Trump é tornar impossível o governo para
Hillary Clinton”. O resultado das eleições foi, nas palavras do colunista
David Brooks, “o maior choque de nossas vidas”.25 Trump venceu contra
probabilidades praticamente insuperáveis, entre elas os grandes meios de
comunicação que fizeram campanha aberta a favor de Hillary, além da
guerra civil dentro do GOP com toda a ala intelectual do movimento
conservador recusando-se a apoiá-lo. A princípio, interpretei a revolta
impetuosa por parte da esquerda como uma reação atordoada e calorosa,
porém momentânea, à maior vitória da história política dos Estados Unidos.
Então, duas coisas me fizeram perceber que eu estava errado. Primeiro, a
violência não desapareceu. Houve protestos violentos como o “Not My
President’s Day” [“Dia de Dizer: Não é o meu Presidente”] por todo o país,
em fevereiro; as violentas manifestações de 4 de março nos comícios de
Trump na Califórnia, Minnesota, Tennessee e Flórida; as manifestações de
abril contra os impostos de Trump, todas supostamente destinadas a forçar
Trump a revelar suas declarações de impostos; as manifestações pró-
impeachment de julho, buscando impulsionar a retirada de Trump do cargo;
e as múltiplas, e convulsivas, manifestações em Berkeley.26
Em Portland, os esquerdistas arremessaram pedras, bolas de chumbo,
latas de refrigerante, garrafas de vidro e dispositivos incendiários, tornando
necessária a intervenção policial sob a chamada “Alerta, alerta, temos um
motim”. Mais cedo, no Capitólio Estadual de Minnesota, alguns
esquerdistas lançaram bombas de fumaça na multidão pró-Trump enquanto
outros preparavam fogos de artifício dentro do prédio, fazendo com que
pessoas fossem tomadas pelo medo de um ataque terrorista. No rol de
detidos estava Linwood Kaine, filho do candidato à vice-presidência de
Hillary, Tim Kaine.27 Mais do mesmo, sem dúvida, está guardado pela
esquerda pelos próximos quatro anos.
O que isso mostrou é que a esquerda esteve envolvida em violência
premeditada; não uma violência ocasionada por surtos de fervor, mas uma
violência como estratégia política. Muitos da esquerda justificaram a
violência e defenderam o motivo por que a estavam causando. Como, então,
em uma sociedade democrática, alguns cidadãos pensam ter o direito de
calar outros eleitores e de interromper os resultados de uma eleição sob os
ditames da democracia?
De acordo com Jesse Benn, ao escrever para o HuffPost, Trump não
passa de um fascista do século XXI. Além do mais, “Trump não existe em
um vácuo. Ele é a consequência natural da ala republicana, que perdura em
racismo [...] e do uso de imigrantes como bodes expiatórios”. A ascensão
do fascismo, ele diz, não é um “típico desacordo político entre os
partidários”. Historicamente falando, os fascistas só foram contidos por
uma “insurreição impetuosa”. Acreditar de forma diferente, ele insiste, é
“pôr em risco sua oposição e expor-se à cumplicidade com uma nova era da
política fascista nos Estados Unidos”.28
Escrevendo para a Atlantic Monthly, Vann Newkirk insiste que “uma vez
que as instituições democráticas não impediram a ascensão de Trump [...]
por que as pessoas que ele pretende ludibriar e marginalizar deveriam
confiar nas instituições democráticas para as proteger?”. A verdadeira
agenda de Trump, argumenta Newkirk, é baseada na violência: a violência
da construção do muro, a violência da deportação, a violência de manter as
pessoas fora da América por causa de sua religião, a violência de “punir a
mulher por abortar”. Por consequência, um voto em Trump significa “um
voto a favor da ampla disseminação da violência”. Diante de uma ameaça
fascista à vida e à liberdade, os manifestantes não têm escolha senão usar de
força para a própria defesa. A única maneira de cessar a violência é fazer
com que Trump desista de sua agenda ou que seus defensores o substituam
por “alguém menos virulento”.29
Escrevendo para a Nation, Natasha Lennard inicia com a premissa de
que, porquanto Trump representa o fascismo, “é constitutivo ao fascismo
exigir um tipo diferente de oposição”. Lennard argumenta que não faz
sentido lutar contra o fascismo com argumentos; em vez deles, o fascismo
só pode ser interrompido com o uso da força física, do mesmo tipo que foi
usada pelas brigadas que combateram Franco na Espanha ou pelos grupos
comunistas que lutaram contra os nazistas na década de 1920 e no início
dos anos 1930. Os antifascistas, ela conclui, estão empenhados em impedir
que os fascistas tenham voz: “a característica essencial do antifascismo é
que ele não tolera o fascismo; não se trata de uma plataforma para
debates”.30
Escrevendo para a Salon, ainda no período de campanha eleitoral, o
ativista Chauncey DeVega começou por admitir que “numa democracia em
funcionamento, a violência política deveria, quase sempre, ser condenada”.
No entanto, neste caso, DeVega estaria disposto a fazer uma exceção,
porque Trump é um “incendiário político” que, além disso, está “do lado
errado da História”. Segundo DeVega, a violência da esquerda é “uma
resposta às ameaças abertas e implícitas de danos físicos e outros prejuízos
e males causados por Donald Trump e por aqueles que o apoiam contra
imigrantes hispânicos sem documentação, americanos negros, outras
pessoas de cor e muçulmanos”. Observe com cuidado a linguagem usada
por DeVega: mesmo que os partidários de Trump não sejam de fato
violentos, caso considerados “ameaças abertas ou implícitas”, a esquerda
possui justificativas para usar de violência efetiva contra eles.31
Sentimentos como esse também ecoaram no artigo do ativista Kelly
Hayes intitulado “No Welcome Mat for Fascism: Stop Whining About
Trump’s Right to Free Speech” [Sem Tapete de Boas-Vindas para o
Fascismo: Pare de Choramingar pelo Direito de Trump à Liberdade de
Expressão].32 De fato, o argumento total de todos esses escritores pode ser
resumido em uma única frase: “Não à liberdade de expressão para os
fascistas”. Esta frase — percebe-se — remonta à década de 1960, quando
usada pela Nova Esquerda em protestos contra a Guerra do Vietnã. A
inspiração para tal lema veio de um professor de Berkeley chamado Herbert
Marcuse, boa parte das vezes esquecido em nossos dias, mas um guru para
os radicais dos anos 1960; sua base argumentativa, porém, está agora no
centro do debate político contemporâneo.
Marcuse argumentou que a esquerda é o partido da tolerância, mas que a
tolerância não é para todos: só para pessoas tolerantes. Na visão de
Marcuse, a esquerda não deve ser tolerante com os intolerantes. As pessoas
intolerantes, segundo ele, são basicamente fascistas. Elas se recusam a
respeitar o processo democrático; assim, por que deveriam receber o
respeito que recusam aos outros? Marcuse então argumenta que, em vez de
tolerar esses fascistas de direita, a esquerda deveria reprimi-los, calá-los, e
até mesmo espancá-los ou matá-los. Em essência, a esquerda deveria
destruir o fascismo por todos os meios necessários, do contrário os fascistas
os destruiriam.
O argumento de Marcuse ecoa o próprio Hitler, que disse que ou os
nazistas destruiriam os judeus ou os judeus destruiriam os nazistas. “Se eles
vencerem”, escreve Hitler, “Deus nos ajude! Todavia, se nós vencermos,
que Deus os ajude!”. Marcuse mesmo era um refugiado da Alemanha
nazista. Ele também fugiu da brutalidade do nazismo. Mas, ao mesmo
tempo, ele também viu a eficácia nazista em dispersar seus inimigos e levar
o próprio povo alemão à submissão. Marcuse basicamente argumentava
que, para derrotar o nazismo na América, seria preciso que a esquerda se
valesse de táticas nazistas.
Por táticas nazistas não me refiro apenas à violência de estudantes e
ativistas irritados. Também me refiro ao que os nazistas chamaram de
Gleichschaltung. O termo em si significa “coordenação”, “uniformização”,
e refere-se ao esforço nazista de usar a intimidação em todas as instituições
culturais da sociedade para que todos se alinhem às prioridades e à doutrina
nazistas. Os progressistas na América estão usando seu predomínio — na
verdade, seu total monopólio — na área acadêmica, no campo de
Hollywood e nos meios de comunicação para impor seu próprio
Gleichschaltung.
Eles fazem isso não somente por meio da propaganda descarada e da
completa mentira que deixaria Joseph Goebbels orgulhoso, mas também
através da batalha implacável e da exclusão forçada das vozes dissidentes
de suas instituições culturais, de modo que a voz deles seja o único ponto de
vista comunicado à grande maioria dos estudantes e cidadãos. Novamente,
do ponto de vista da esquerda, tais intimidações e exclusões são justificadas
porque é correto e adequado que os antifascistas usem de repressão contra
aqueles que eles consideram fascistas.
Todo esse modus operandi — que Marcuse chamou de “tolerância
repressiva”, e que está encapsulado na doutrina não à liberdade de
expressão para os fascistas — está, agora, no cerne de nosso debate
político. Isso levanta duas perguntas importantes. Primeiro, é verdade que
os fascistas não merecem ser ouvidos e é justificável negar-lhes direitos
civis e constitucionais? Em segundo lugar — a pergunta mais importante
—, é verdade que as pessoas que a esquerda chama de fascistas e nazistas
são de fato fascistas e nazistas?
Os Verdadeiros Fascistas
Essas são as perguntas que pretendo responder neste livro. A primeira
pergunta eu deixo para o capítulo final, onde a respondo com um ressonante
não. Irônico o bastante, os esquerdistas deveriam gostar da resposta que
dou, pois basicamente estou dizendo é que não se pode privá-los de seus
direitos civis e constitucionais. Eles são os verdadeiros fascistas, mas ainda
assim merecem a plena proteção da constituição e da lei. E também
concordo com o princípio de que os fascistas não podem ser combatidos do
modo convencional. É preciso especial coragem para derrotar um
movimento tão vicioso e perverso. O que se faz necessário para derrotar a
esquerda é nada menos que a desnazificação, e no final deste livro mostro
como isso pode ser feito.
Meio que tendo dado a resposta, respondo agora à outra pergunta, mais
abrangente e mais importante: quem são os verdadeiros fascistas da política
americana? Essa pergunta raramente é feita de forma séria, e por isso quero
dar crédito a dois importantes predecessores notáveis que já araram este
solo. Primeiro, o economista Friedrich Hayek, cujo livro The Road to
Serfdom [O Caminho para a Sujeição], publicado pela primeira vez em
1944, fez a afirmação surpreendente de que democracias ocidentais sob o
Estado do bem-estar social [Welfare State], tendo derrotado o fascismo,
estavam se movendo inexoravelmente na direção fascista.
Hayek identificou o fascismo como um fenômeno de esquerda, um
primo do socialismo e do progressismo. E alertou: “O surgimento do
fascismo e do nazismo não foi uma reação contra as tendências socialistas
do período anterior, mas um resultado necessário dessas mesmas
tendências”. Embora o livro de Hayek tenha sido escrito num tom pedante e
medido, apelando aos progressistas que aprendessem de alguém que
testemunhou experiencialmente a ascensão do fascismo na Europa,
estudiosos progressistas, como, por exemplo, Herman Finer, puseram-se de
imediato a criticar Hayek, acusando-o de exibir um “profundo desprezo
hitleriano pelo homem democrático”.33
Se percebida nessa reação a tentativa progressista, que já soa familiar, de
se apossar da cartada hitleriana e jogá-la de volta contra Hayek, então já há
um vislumbre de como a grande mentira funciona. Aqui está Hayek
argumentando como os progressistas estão se movendo em direção a Hitler;
porém, sem responder à acusação, não propondo nenhuma evidência que
lhes dê algum suporte, a esquerda se volta e acusa Hayek de ser feito Hitler.
Jonah Goldberg recebeu praticamente o mesmo tratamento ao seu
importante livro Liberal Fascism [Fascismo Liberal]. Goldberg argumenta:
“O que chamamos de liberalismo — o edifício remodelado do progressismo
americano — é, de fato, um descendente e uma manifestação do fascismo”.
Goldberg argumenta que o fascismo e o comunismo, longe de serem
opostos, são “concorrentes históricos intimamente relacionados para os
mesmos constituintes”. Goldberg nomeia o progressismo de “movimento
irmão do fascismo” não menos que o comunismo, o qual exibe uma
“semelhança familiar que poucos admitem reconhecer”.34
Goldberg traça inúmeros paralelos entre o progressismo e o fascismo,
deixando clara a longa lista esquerdista nas plataformas de Mussolini e de
Hitler, para, em seguida, mostrar seu paralelo com o progressismo
americano moderno. Goldberg consegue ir fundo, detectando até mesmo o
odor do fascismo nas políticas modernas de ambientalismo progressista,
vegetarianismo, medicina holística e políticas pedagógicas. Embora às
vezes exagere nas comparações que faz com o fascismo, seu livro vale
muito a pena ser lido em virtude da originalidade e abrangência
apresentadas. Pois então, mais uma vez, a esquerda, vingativa, colocou-se
contra Goldberg, acusando-o de ser, sem contar todas as demais coisas,
fascista.
Hayek e Goldberg são o ponto de partida para o meu livro. Mas vou
muito além e cavo em áreas de pesquisa intocadas por eles. Hayek, por
exemplo, afirmou que o fascismo e o nazismo emergiram da esquerda, mas
nunca explicou como isso aconteceu. Com base no trabalho de estudiosos
como Anthony James Gregor, Renzo De Felice e Zeev Sternhell, conto a
fascinante história de como o fascismo e o nazismo emergiram de um
debate dentro do socialismo. O problema surgiu quando as profecias
centrais do marxismo não se cumpriram. Foi em uma enorme crise que a
esquerda caiu, e o marxismo basicamente dividiu-se em dois campos: o
primeiro tornou-se o leninismo e o bolchevismo, o outro tornou-se o
fascismo e o nazismo.
Goldberg associa a esquerda americana ao fascismo, mas não se atreve a
fazer ligação equivalente com o nazismo, provavelmente não querendo se
arriscar a associar a esquerda com genocídios e campos de concentração. É
daí que realmente começo com meu livro. Conforme Goldberg bem sabe, o
fascismo e o nazismo são duas coisas diferentes. Hitler praticamente nunca
referiu a si mesmo como fascista, e Mussolini nunca se autodenominou
nazista ou nacional-socialista. Pretendo demonstrar que há conexões
profundas não apenas entre a esquerda e o fascismo, mas também entre a
esquerda e o nazismo.
De certa forma, os democratas progressistas estão ainda mais próximos
dos nazistas alemães do que dos fascistas italianos. Os fascistas italianos,
por exemplo, eram muito menos racistas do que o Partido Democrata nos
Estados Unidos. Não existem, referindo-se à Itália, paralelos para o
terrorismo racial disfarçado do Ku Klux Klan, que também era apoiado pelo
Partido Democrata, mas estes são encontrados na Alemanha nazista. As
políticas democratas de supremacia branca, segregação racial e
discriminação fomentadas pelo Estado eram também estranhas ao fascismo
italiano, mas comuns ao Terceiro Reich.
Aqui, por exemplo, está uma passagem do livro The Anatomy of Fascism
[A Anatomia do Fascismo], de Robert Paxton: “Pode ser que o fenômeno
mais antigo a ser eficientemente ligado ao fascismo seja americano: a Ku
Klux Klan”. Muito antes dos nazistas, Paxton salienta, a KKK adotou seu
uniforme segregado, de vestimentas e capuzes, e engajou-se no tipo de
intimidação e violência que ofereceu “uma prévia contundente do modo
como os movimentos fascistas deveriam funcionar na Europa no período
entreguerras”.35 Ainda que pareça uma concessão surpreendente quando
por um progressista, Paxton protege seu lado político não mencionando
que, durante esse período, a Ku Klux Klan era o braço terrorista da família
do Partido Democrata.
O racismo do Partido Democrata na América não só precedeu o racismo
dos nazistas, mas perdurou por muito mais tempo — mais de um século, em
comparação com os doze anos do domínio nazista sobre a Alemanha. O
racismo do Partido Democrata após a Guerra Civil foi precedido pela defesa
da escravidão e pelo apoio às políticas de reassentamento e extermínio de
índios americanos por parte desse mesmo partido. Pensamos em conceitos
como “genocídio” e “campos de concentração” como exclusivos ao
nazismo, mas que termo exceto genocídio usar para descrever o
reassentamento em massa dos índios pelo presidente democrata Andrew
Jackson? Jackson e seus aliados não buscaram sistematicamente despojar,
deserdar e desmembrar os índios como povo? Usando a definição oficial de
genocídio dada pelas Nações Unidas, demonstro que, sim, foi um
genocídio.
Além disso, o que mais seriam as fazendas de escravos senão um tipo
particular do campo de concentração? Sim, pode parecer uma analogia
ultrajante. Como comparar um sistema de trabalho forçado, por mais injusto
que seja, aos campos nazistas, projetados e usados para matar seres
humanos? No entanto, como mais adiante será analisado, os campos de
concentração também eram campos de trabalho. Nos campos de
concentração alemães e nas fazendas de escravos regidas pelos democratas,
em ambos o trabalho forçado era empregado com “ferramentas humanas”
unicamente no que dizia respeito à produtividade, mas com pouca ou
nenhuma consideração pela vida dos trabalhadores, que eram, em ambos os
casos, considerados inferiores e até mesmo sub-humanos. A analogia entre
dois dos piores sistemas de confinamento compulsório e de trabalho
forçado na história da humanidade não é meramente legítima; ela já passou
da hora de ser feita.
Além do mais, toda essa questão foi levada a um patamar completamente
novo desde a publicação do livro, um marco pioneiro, do historiador
Stanley Elkins, Slavery [Escravidão]. Elkins, tecendo paralelos bem
elaborados, não só se refere às fazendas de escravos como um “sistema
fechado” consanguíneo do campo de concentração, mas também mostra que
a escravidão produziu tipos de personalidades estranhamente semelhantes
às descritas pelos sobreviventes dos campos nazistas. Logo, a questão é
que, mesmo em algumas das instituições e práticas associadas
exclusivamente aos nazistas — do genocídio aos campos de concentração
—, os democratas, em determinado sentido, foram os primeiros a chegar lá.
Introduzindo a Mentira
Munidos desta compreensão dos termos esquerda e direita, agora cabe
investigar para saber se acaso Trump e o GOP estão de alguma forma
aliados ao fascismo e ao nazismo; e, caso não estejam, quem está. Não faz
sentido começar com os vários especialistas como Bill Maher, Chris
Matthews, Michael Kinsley ou Chris Hedges que, em sua própria forma
vulgar, igualaram Trump a Hitler. Parece óbvio que nenhum deles sabe nada
sobre o fascismo senão por tagarelices durante coquetéis. Típico disso é
Matthews, que chamou de “cheiro de fascismo” o fato de Trump ter
demitido o diretor do FBI, mesmo que o presidente tenha todo o direito de
substituir seu diretor do FBI, como Bill Clinton fez.4 Não mencionarei os
demais listados.
Mas as coisas tornam-se interessantes quando um grande estudioso
progressista do fascismo se envolve. Então, começo com duas entrevistas
do historiador Robert Paxton, autor da obra The Anatomy of Fascism,
seguidas de uma citação especialmente reveladora desse livro. A primeira
entrevista é com a âncora de um programa de esquerda, Amy Goodman,
que parecia bastante incomodada por Trump haver retuitado uma citação de
Mussolini. A citação dizia: “É melhor viver um dia como leão do que cem
anos como ovelha”. Quando exigiram que se retratasse, Trump se recusou.
“É uma citação muito boa”, disse ele. “Que diferença faz se foi Mussolini
ou outra pessoa?”. Aqui está a marca registrada do destemor de Trump. Ele
acha a citação boa e se recusa a ser assustado pela associação supostamente
radioativa com Mussolini. Paxton observa com ironia os comentários de
Trump: “Eu o considero tolerante demais com esse tipo de oratória
política”. Em outra parte da conversa, Paxton observa que, assim como
Hitler, “Não faz muito tempo, Trump era motivo garantido de boas
gargalhadas. Era visto como um bufão. Tudo o que você tinha de fazer era
mostrar o cabelo e chamá-lo de “Donald” e todo mundo ria”.5 Segue-se,
portanto, que a transição de bufão para poderoso supostamente liga Trump
ao fürhrer.
Em sua segunda entrevista, então com Isaac Chotiner da revista Slate,
Paxton fica mais enfático: “O uso de estereótipos étnicos e a exploração do
medo de estrangeiros vêm diretamente do livro de receitas fascista. Fazer
do país uma grande nação outra vez vez soa exatamente como os
movimentos fascistas. Preocupações com a queda da nação, este era um dos
estados emocionais mais intensos evocados no discurso fascista, e Trump
está o usando com toda força. Uma política externa agressiva para barrar
este suposto declínio. Nada mais é que um golpe fascista”. Há muito aqui e
vou lidar com isso, mas gostaria de salientar que muitos outros presidentes
americanos já falaram sobre o declínio nacional, prometeram restaurar o
país e promoveram uma política externa agressiva, sem serem acusados de
terem lido o livro de receitas fascista.
E então Paxton prossegue: “Li determinado relato que absolutamente me
surpreendeu, em que Trump chega a um discurso enquanto sua audiência
estava reunida em um hangar; então ele pediu que o avião pousasse no
campo, logo depois que fosse feito o taxiamento até o hangar e só então
saiu. Foi exatamente o que fizeram em 1932 para a primeira vitória eleitoral
de Hitler. Suponho ter sido um acidente, mas, uau!, eis aí a repetição quase
perfeita de uma tática das eleições de Hitler”. Perceba, Trump é culpado de
usar das mesmas táticas eleitorais de Hitler porque pousou dentro de um
avião e por haver uma multidão reunida no hangar o esperando? No lugar
de apresentar conteúdo ligando Trump ao fascismo, Paxton concluiu
dizendo que Trump “parece mesmo com Mussolini na forma de mexer o
queixo”.6 Bom, Paxton ao menos não comenta se Trump tem a mesma
simpatia pela comida italiana que Mussolini tinha.
Finalmente, volto-me para uma passagem do livro The Anatomy of
Fascism, em que Paxton, observando atenciosamente o colapso dos regimes
de Hitler e Mussolini na Segunda Guerra Mundial, especula se o fascismo
poderia vir para a América e, em caso afirmativo, como seria sua aparência.
“A linguagem e os símbolos de um autêntico fascismo americano”, ele
escreve, “teriam pouca relação com os modelos europeus originais. Eles
teriam de ser tão familiares e de tal maneira encorajadores para americanos
fiéis de igual modo a linguagem e os símbolos dos fascismos originais eram
familiares e encorajadores a muitos italianos e alemães. Sem suásticas no
fascismo americano, mas com Estrelas, Listras, e Cruzes cristãs. Nada de
saudações fascistas, mas com recitações em massa jurando lealdade”.7
Observe o que Paxton está comunicando nessa passagem e nas duas
entrevistas anteriores. Como bom progressista, ele está dando aos canais da
mídia esquerdista o que eles querem. Mesmo às vezes rodeando sem saber
muito bem o que dizer — em determinado momento, ele percebe que o
individualismo de Trump não é inteiramente consistente com o fascismo —,
ele ainda confirma que Trump é, de modo geral, uma espécie de fascista e
protonazista. Em seguida, Paxton definitivamente liga o fascismo com as
exibições patrióticas da direita americana. Ele, no entanto, não menciona
limitações impostas sobre o governo ou sobre o capitalismo, nem sobre
nenhum dos principais aspectos que definem o conservadorismo americano.
Em nenhum momento Paxton sugere haver algo a respeito de Obama ou
Hillary que espelhe o fascismo ou o nazismo. O fascismo é um termo
italiano que significa “agrupamento” [groupism] ou “coletivismo”. Os fasci,
na Itália, eram grupos de ativistas políticos que pegaram seu nome dos
fasces da Roma antiga — feixes de varas carregados pelos lictores,
simbolizando a força unificada dos romanos. O significado central do termo
fascismo é que as pessoas são mais fortes como grupo do que como
indivíduos.
Paxton certamente o sabe, mas acha melhor não mencionar. Na verdade,
ele não insinua nenhuma vez que o fascismo possa ser, mesmo
remotamente, um fenômeno da esquerda política. E, ao longo dessas
entrevistas, é impressionante perceber quão pouco Paxton fala a respeito do
que é de fato o fascismo. Ele não cita nem ao menos um pensador fascista,
nada que forneça a compreensão fascista do próprio fascismo — tudo o que
temos é a interpretação progressista que parece avançar rapidamente a partir
de algumas poucas generalizações, como, por exemplo, o declínio nacional
e o patriotismo, para, depois, concluir resolutamente.
Mais uma vez, não estou dizendo que Paxton não possui um
conhecimento maior sobre o assunto. Seu livro mostra que possui. Ele
conhece os documentos relevantes; ele faz referência a eles e está
familiarizado com os intelectuais fascistas; ele os cita. É isso que torna o
seu desempenho tão intrigante. Embora tenha conhecimento, Paxton está
dialogando com pessoas ignorantes o suficiente para confirmar os
preconceitos delas ao mesmo tempo que mantém sua erudição bona fides.
No fim das contas, permita-me dizer, Paxton está participando,
conscientemente, da grande mentira.
Desta forma, portanto, a grande mentira é disseminada: acadêmicos
astutos como Paxton estabelecem a base intelectual, daí a mídia e
Hollywood dizem: “Olhe, aqui está um sujeito que realmente tem domínio
sobre a área, confirmando que a nossa posição política possui justificativa”.
Estranho notar, a área de Paxton não é o nazismo nem o fascismo italiano; é
a França de Vichy. Anthony James Gregor é a maior autoridade viva sobre o
fascismo, e Stanley Payne publicou não faz muito tempo seu livro sobre a
história do fascismo, obra definitiva da área. Entretanto, a mídia
progressista nunca os convida para entrevistas.
Por quê? Eis aqui uma citação direta da obra The Ideology of Fascism [A
Ideologia do Fascismo], de Gregor: “O movimento em si não foi
conservador. Foi revolucionário. Sua clara intenção era destruir todos os
artefatos sociais, econômicos e políticos do liberalismo clássico”. E aqui
está uma citação de Payne: “O núcleo que, por fim, fundou o fascismo na
Itália não decorreu dos nacionalistas de direita, mas da transformação por
parte da esquerda revolucionária”.8 Na visão esquerdista, este é um ponto
bastante inconveniente. Logo, por que entrevistar Gregor ou Payne quando
eles provavelmente não darão base ao que a esquerda tenta provar? É por
isso que Paxton é financiado, porque ele esteve disposto a participar desse
joguinho. A esquerda lhe oferece celebridade acadêmica, ele lhes diz o que
querem ouvir. É assim que funciona a grande mentira.
As Características do Nazismo
Agora é hora de lidar com as outras características que dizem estabelecer
a ligação de Trump com o fascismo e com o nazismo.
Insanidade: uma das coisas mais estranhas que costumam afirmar sobre
Trump é que ele é, literalmente, insano. Os colunistas Andrew Sullivan e
Paul Krugman são os dois proponentes mais insistentes dessa tese; Rosie
O’Donnell também a ressoa. Dois congressistas democratas introduziram
uma legislação para arrancar o poder nuclear das mãos de Trump. Um
deles, Ted Lieu, tem um segundo projeto de lei no Congresso, exigindo que
Trump passe por acompanhamento psiquiátrico.13 Por que essa insistência
de que Trump seja lunático? A conexão subjacente estabelecida é com
Hitler e Mussolini. Toda uma geração de comentários progressistas insiste
que eles dois eram insanos. Por qual outro motivo ambos matariam tantos
milhões de pessoas e alavancariam uma guerra mundial?
Quanto a Trump, evidente que ele não é louco. Ele certamente nunca foi
diagnosticado com nenhum tipo de doença mental. Trump é altamente bem-
sucedido nos negócios. Sua esposa é dedicada e seus filhos são
extremamente bem-educados. Ele foi eleito e agora, embora lidando com a
oposição mais extrema, continua confiante e seguro. É óbvio que há um
método para conferir loucura. Nem Hitler nem Mussolini eram loucos.
Homens maus, sim, mas não insanos. Assassinatos a sangue frio não
transformam o indivíduo num louco. Há inúmeros assassinos na prisão e no
corredor da morte que não são insanos. (Na verdade, caso fossem, eles
“seriam absolvidos por motivos de insanidade”). Por outro lado, são
inúmeras as pessoas insanas internadas em hospícios que nunca
prejudicaram ninguém. Portanto, já basta da insanidade sem sentido. É
facílimo inocentar Trump desta culpa, e ainda mais fácil evitar o confronto
com o verdadeiro mal de Hitler e Mussolini.
Reacionário: Trump e o GOP são frequentemente descritos como
“reacionários”, rótulo igualmente usado para desacreditar os conservadores.
O texto clássico aqui recebe o título The Reactionary Mind [A Mente
Reacionária], do intelectual de esquerda Corey Robin, que identifica a
direita americana com a “nostalgia das lutas”, à qual Hitler e Mussolini
apelavam. Embora o livro tenha sido publicado em 2012, Matt Feeney o
chamou, apenas alguns dias antes da eleição de 2016, de “o livro que previu
Trump”.14 Então, nessa visão, Trump e os conservadores são, assim como
os fascistas e os nazistas, reacionários extremos.
A acusação reacionária é conveniente para a esquerda, afinal associa o
conservadorismo e o fascismo ao passado, mas o distingue do
progressismo, que está, evidentemente, preocupado com o futuro. O que
torna a acusação superficialmente crível é que Trump, à semelhança da
maioria dos conservadores, parece querer que a América volte aos bons e
velhos tempos. Não era isso que Hitler prometia fazer? Ser o Terceiro Reich
não foi uma tentativa reacionária de restabelecer o Primeiro Reich de
Carlomagno e o Segundo Reich de Bismarck?
Talvez, mas a restauração prometida por Trump está preocupada com a
recuperação dos empregos. Trata-se também de tornar o governo menor e
menos burocrático. Não se trata de revogar o progresso na América em
detrimento dos direitos civis ou do mercado de trabalho para as mulheres.
Não se trata de enviar gays de volta ao armário. Assim, o conservadorismo
moderno é, também, sobre restaurar os ideais dos Pais Fundadores, e não o
então mundo agrário e subdesenvolvido em que estes viveram. A direita,
portanto, busca aplicar princípios antigos — que considera verdades
duradouras, ou permanentes — em nossa situação atual, a fim de criar um
futuro melhor. Não há nada de reacionário nisso.
Tampouco o fascismo de Mussolini e o nacional-socialismo de Hitler
eram reacionários no sentido clássico. “Todas as ideias políticas de Hitler”,
escreve Stanley Payne em seu livro A History of Fascism [Uma História do
Fascismo], “tiveram sua origem no Iluminismo”. O historiador Richard
Evans escreve que “nenhum dos eleitores que foi às urnas em apoio a
Hitler” procurou “restaurar um passado perdido. Pelo contrário, eles foram
inspirados por uma visão vaga e poderosa do futuro”. Essa visão invocava
símbolos do passado, mas “não envolvia apenas olhar somente para trás ou
para frente, mas tanto para um quanto para outro”.15
Um dos grupos que mais apoiou o fascismo na Itália foi o movimento
que se autointitulava “Futuristas”. Liderados por Filippo Marinetti, os
futuristas defendiam carros rápidos e novas tecnologias, e se viram como
estando na vanguarda das ciências e da arte. Este foi o grupo que encorajou
o fascismo e o nazismo ao uso de novos avanços na tecnologia e técnicas
atualizadas de mídia e propaganda. O historiador Zeev Sternhell conclui
que, longe de ser reacionário, “o quadro conceitual do fascismo [...] era
dissidente, vanguardista e de caráter revolucionário”.16
Os fascistas e os nazistas procuraram criar um novo homem e uma nova
utopia a partir dos grilhões da velha religião e das velhas lealdades. Toda a
disposição do fascismo e do nazismo é capturada na juventude descrita pelo
filme Cabaret, que não canta sobre um passado perdido, mas sobre um
“amanhã” que “pertence a mim”. O apelo do fascismo era, como seus
críticos e entusiastas reconheceram na época, mais progressista e avançado
do que retrógrado e reacionário.
Autoritarismo: este é ponto muito importante. “Um Autoritário
Americano” era o título de uma manchete no Atlantic Monthly, ligando
Trump a Mussolini. Após a eleição de Trump, a revista New York
expressou-se sob o título “A República foi Revogada”. Dois cientistas
políticos, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, escrevendo pelo New York
Times, disseram que Trump não é o “primeiro político americano com
tendências autoritárias”, mas “é o primeiro [político autoritário] na história
americana moderna a ser eleito presidente”. Fazendo paralelos aos déspotas
autoritários Hitler e Mussolini, o historiador Timothy Snyder comenta que
Trump “não disse praticamente nada a favor da democracia” e que ele
ameaça o sistema de controle ao “denegrir juízes”.17
Hitler e Mussolini eram de fato autoritários, mas disso não se pode
concluir que o autoritarismo seja igual ao fascismo ou ao nazismo. Lênin e
Stalin eram autoritários, mas nem um nem outro era fascista. Muitos
ditadores — Franco na Espanha, Pinochet no Chile, Perón na Argentina,
Amin em Uganda — foram autoritários, mas não fascistas ou nazistas.
Trump certamente carrega um estilo mandão que adquiriu, bem, sendo
chefe. Ele esteve na chefia corporativa por toda sua vida, além de ter
também desempenhado cargos de chefia na TV. Os republicanos elegeram
Trump porque precisavam de alguém durão para combater Hillary; eles já
tentaram candidatos insípidos e inofensivos, como Romney, e veja que fim
levou.
Dito isso, Trump não fez nada para subverter o processo democrático.
Enquanto os progressistas continuam a alegar uma trama entre Trump e os
russos no propósito de fraudar as eleições, a única evidência de fraude vem
do Comitê Nacional Democrata nas prévias eleitorais de 2016 em favor de
Hillary sobre Bernie. A fraude não evocou praticamente nenhum dissidente
do público democrata nem da mídia, com isso sugerindo apoio, ou pelo
menos aquiescência, de todo o movimento progressista e da maioria do
próprio partido.
Trump demitiu seu diretor do FBI, provocando rumores obscuros no
Washington Post sobre o “respeito pelo Estado de Direito” de Trump, ainda
que sua ação tenha sido inteiramente legal.18 Ele criticou os juízes, às
vezes em termos irrisórios, mas, contrário ao que Timothy Snyder afirma,
não há nada antidemocrático nisso. Lincoln criticou o chefe de justiça
Taney sobre a decisão Dred Scott, e FDR ficou praticamente apoplético
quando a Suprema Corte bloqueou suas iniciativas do New Deal. Criticar a
mídia não é ato antidemocrático. A Primeira Emenda não é só uma
prerrogativa à imprensa; o presidente também tem direito à liberdade de
expressão.
Políticos e governantes autoritários minam estruturas legítimas de
autoridade. Trump ou o GOP fizeram isso? Alguns progressistas acusaram a
liderança do Senado do Partido Republicano de minar a ordem e o
equilíbrio invocando a “opção nuclear” para encerrar um obstrucionismo
democrata e confirmar Neil Gorsuch para a Suprema Corte. No entanto,
esses progressistas esqueceram-se de mencionar que foi o ex-líder
democrata do Senado, Harry Reid, que primeiro invocou a “opção nuclear”;
os republicanos, portanto, simplesmente agiram sobre seu precedente.
Governos autoritários costumam tentar controlar sua vida particular.
Pense na forma como regimes despóticos, nazistas e soviéticos, por
exemplo, procuraram regular a maneira de se prestar culto ou o que as
pessoas liam ou como conduziam a vida cotidiana. Percebe-se uma
mentalidade firmada ao se ler o que determinado ditado nazista dizia: “só o
ato de dormir é questão de cunho privado”. Você acha que Trump se
preocupa, ainda que remotamente, com seu jeito de viver sua vida
particular? Importa para ele qual deidade você adora ou que livros você lê?
Claro que não.
Governos autoritários lançam medo em seus adversários. O próprio fato
de Trump ser esfolado diariamente em inúmeras plataformas midiáticas
mostra que seus oponentes sentem-se livres para falar o que pensam.
Considere este contraste notável. Hitler aniquilou seus oponentes na infame
Noite das Facas Longas, em 30 de junho de 1934. Mussolini silenciou seus
críticos tomando controle das imprensas e assassinou Giacomo Matteotti,
um de seus proeminentes opositores. Considere o que Trump fez, em
contraste, com a cantora Cher, que certa vez disse “alguma merda
desagradável” sobre ele. “Eu tirei a merda dela”, Trump se gabou pelo
Twitter, “e ela nunca disse nada sobre mim depois disso”.19 Ele manteve o
problema no ambiente do Twitter. Esta dificilmente seria a marca de um
autoritário.
Nacionalismo: se existe uma característica que os progressistas
consideram essencial ao fascismo e ao nazismo, esta é o nacionalismo. Ele
permite que a esquerda ligue facilmente o nacionalismo fascista ao
patriotismo da direita americana. Certo escritor, Mark Rosenberg, falou por
muitos da esquerda quando descreveu o discurso inaugural de Trump como
“um apelo visceral e emocional para restabelecer parte da grandeza
americana no mundo”. Não é exatamente isso que Hitler prometeu — fazer
da Alemanha uma grande nação outra vez? Rosenberg concluiu que Trump
fez “sem dúvida, o discurso inaugural mais fascista da história
americana”.20
Trump é, sem contestação, nacionalista, e a direita americana moderna
também é nacionalista e sente-se confortável com os símbolos do
patriotismo tradicional, tais como o brandir da bandeira ou as
representações impactantes do hino nacional e do hino “Deus Abençoe a
América”. Em contraste, a esquerda moderna é internacionalista — tem
pouca paciência com o manifestar do patriotismo tradicional —, o que
parece distinguir os esquerdistas dos nazistas, dos fascistas e dos
conservadores americanos.
No entanto, seria o nacionalismo, ou até mesmo o ultranacionalismo,
suficiente para transformar alguém num fascista? Mussolini era mais
nacionalista do que, digamos, Churchill ou De Gaulle? George Washington
e Abraham Lincoln eram nacionalistas. Os revolucionários franceses eram
todos nacionalistas. Nelson Mandela era nacionalista. Castro era
nacionalista, ele que criou o lema revolucionário “Pátria ou Morte”. Che
Guevara era nacionalista, assim como Pol Pot. Mesmo vivendo na
Inglaterra e na África do Sul, Gandhi seguiu à risca seu nacionalismo
indiano. Obviamente, não faz sentido chamá-los de fascistas. Embora Lênin
tenha professado internacionalismo ao longo de sua vida, à espera de uma
revolução comunista global, Stalin modificou o leninismo para invocar o
que ele chamou de “A Mãe Rússia” e “O socialismo em um país”. O
nacionalismo de Stalin o torna fascista? É óbvio que não.
Também vale notar que, se eram nacionalistas — o que eram, sem
sombra de dúvida —, Hitler e Mussolini eram nacionalistas de um tipo bem
diferente da estirpe dos conservadores americanos. “Mussolini não era um
nacionalista tradicional”, escreve o historiador Zeev Sternhell. Anthony
James Gregor vai além: “Mussolini se opunha ao patriotismo tradicional e
aos apelos nacionalistas”. No início de sua carreira, Mussolini ridicularizou
a bandeira italiana e chamou o exército de “organização criminosa
destinada a proteger o capitalismo e a sociedade burguesa”. Hitler
autodenominava-se nacionalista, mas recusava-se a autodeclarar-se
patriota.21
Ambos buscaram um novo tipo de nacionalismo, um que gerasse
lealdade não pela nação como nação em si, mas pela nova nação que
visavam criar. O nacionalismo fascista chamou cidadãos a subordinarem
seus próprios interesses por completo ao Estado centralizado. Esse tipo de
nacionalismo — vamos chamá-lo de nacionalismo estatista ou coletivista —
se parece mais com a esquerda americana do que com a direita americana,
já que a direita americana mantém, com Reagan, que “o governo não é a
solução; o governo é o problema”.
Militarismo: outra característica usada regularmente pelos progressistas
para vincular Trump ao fascismo e ao nazismo é o seu suposto militarismo.
Mesmo antes de ser eleito, a revista Salon alegou que a candidatura de
Trump representava “o abraço e a glorificação do militarismo”,
precisamente o mesmo tipo de militarismo com que Hitler e Mussolini se
envolveram. De acordo com uma manchete de 1º de março de 2017 no
Washington Post, “A Presidência de Trump dá Entrada a uma Nova Era do
Militarismo”. Invocando o paralelo histórico fascista, a matéria acusa o
arranjo militar disposto por Trump de “lançar uma sombra beligerante sobre
todo o planeta”.22
Agora, o fascismo e o nazismo eram de fato militaristas. Hitler e
Mussolini, ambos veteranos da Primeira Guerra Mundial, foram, junto de
seus aliados japoneses, os perpetradores da Segunda Guerra Mundial.
Mesmo assim, o historiador Stanley Payne escreve: “costumava-se
denominar o fascismo de movimento expansionista e imperialista por
definição, embora isso não fique claro a partir da leitura de diversos
programas fascistas”. A bem da verdade, “muitos movimentos fascistas
tiveram pouco interesse ou até mesmo rejeitaram novas ambições
imperiais”, enquanto outros movimentos defendiam a guerra “geralmente
defensiva, mas não agressiva”.23
Digo isso não com a intenção de exonerar o fascismo e o nazismo nesse
sentido, mas para destacar que não se deve confundir os aspectos
incidentais de uma ideologia com suas características centrais. Se os
fascistas defendiam o expansionismo militar enquanto floresciam no
interregno entre duas guerras mundiais, não se segue que o fascismo seria
intrinsecamente militarista ou que o militarismo fosse uma de suas
características definidoras. Por analogia, se os fundadores norte-americanos
fossem agricultores, não se segue que a agricultura seria central para a
fundação dos Estados Unidos. Parece ser rotina aos esquerdistas atribuir os
traços acidentais do nazismo e do fascismo às ideologias em si mesmas.
Trump não é militarista. Ele é, decerto, menos militarista do que o seu
partido. Claro que Trump quer derrotar o ISIS com força militar, mas isso
porque o ISIS é uma organização terrorista que procura destruir os Estados
Unidos. No início de abril de 2017, Trump ordenou um ataque contra um
aeródromo sírio. Esta aparentemente foi a resposta de um Trump ultrajado
ao ver imagens horríveis que mostravam as vítimas de um ataque de gás
químico efetuado pelo déspota sírio, Bashar Assad. A medida tomada por
Trump surpreendeu tanto críticos quanto partidários, e nenhum deles
esperava tamanha intervenção por parte do presidente.
A ação de Trump na Síria parece anômala, dada sua postura geral semi-
isolacionista. Embora o GOP costumasse apoiar a invasão de Bush no
Iraque, por exemplo, Trump construiu uma campanha presidencial sobre
sua oposição à guerra. Se Trump quisesse anexar o México e fazê-lo parte
de um Estados Unidos maior, ele então poderia ser acusado de imitar o
Lebensraum de Hitler. Mas nada poderia estar mais longe da mente de
Trump, havendo ele delineado a visão de uma América menos
intervencionista, uma América que se concentra em seus próprios
problemas internos.
Capitalismo: por fim, o capitalismo. Admito que é preciso ser um
verdadeiro babaca para fazer essa acusação. Ainda assim, eis o ativista
acadêmico da esquerda, Cornel West, afirmando que Trump é um fascista e
um nazista porque “num movimento neofascista emergente, você tem o
domínio dos grandes negócios, que são os grandes bancos e as grandes
corporações”.24 O Ocidente está repetindo inconscientemente uma
acusação inventada pela máquina de propaganda comunista soviética, de
que os fascistas foram levados ao poder pelo financiamento das grandes
empresas e que o fascismo é o último suspiro do capitalismo industrial.
Foram os comunistas soviéticos que pela primeira vez apareceram com
esta ideia, influenciando em seguida os comunistas italianos e alemães, no
intuito de impedir o crescimento do fascismo nesses países. Stalin usou o
“fascismo” para referir-se a qualquer país ideologicamente oposto à União
Soviética. Quando a ruptura sino-soviética ocorreu, os comunistas
soviéticos chamaram os comunistas chineses de “fascistas”, ao passo que os
comunistas chineses chamaram os comunistas soviéticos de “fascistas”.
Certamente, estamos, aqui, lidando com a terra do faz de conta. Mesmo que
a velha mentira soviética de que o fascismo prova ser um subproduto do
capitalismo tenha sido totalmente desacreditada — nem mesmo Robert
Paxton, progressista que é, não tem nada que ver com ela —, outros da
esquerda, além de Cornel West, ainda ecoam a acusação de que Trump é
fascista por ser o capitalismo um traço determinante do fascismo.
Sim, Trump é capitalista, mas este é mais um exemplo daquilo que o
distingue dos fascistas e dos nazistas. “É impensável”, afirma Renzo De
Felice em seu livro Fascism [Fascismo], “supor que as grandes forças
econômicas da Itália quisessem levar o fascismo ao poder”. O grande poder
empresarial, afinal, não apoiou os fascistas de Mussolini nem os nacional-
socialistas de Hitler. Stanley Payne afirma que o partido nazista “foi
financiado sobretudo por seus próprios membros”.25 As grandes empresas
consideravam os fascistas e os nazistas como radicais perigosos. Entretanto,
depois que os radicais chegaram ao poder, corporações alemãs e italianas,
não surpreendentemente, optaram por cooperar com eles. Isso é verdade
para as grandes organizações em geral: os empresários fazem negócios com
aqueles que estão no poder. As grandes forças econômicas da América
trabalharam com Obama, e certamente trabalhariam com Hillary, caso
tivesse sido eleita.
O historiador Anthony James Gregor ressalta que não faz sentido
descrever o fascismo italiano como produto do capitalismo tardio mais
recente, porque “havia pouquíssimo de moderno acerca da economia
italiana na época da Primeira Guerra Mundial”.26 Conforme veremos no
próximo capítulo, Mussolini e os primeiros fascistas reconheceram esse
fato. Mussolini passou a enxergar o fascismo como Hitler mais tarde
passaria a enxergar o nazismo: como um mecanismo para o rápido
desenvolvimento econômico que operava através de uma estrutura que,
longe de ser capitalista, revelou ser coletivista, estatista e socialista. Como
estamos prestes a descobrir — no restante deste capítulo e no próximo — o
coletivismo, o estatismo e o socialismo são a essência do fascismo e do
nazismo.
O Karl Marx do Fascismo
Para o Fascismo [...] o Estado e o indivíduo são um só.27
Giovanni Gentile, Origins and Doctrine of Fascism
[As Origens e a Doutrina do Fascismo]
Giovanni Gentile não é exatamente um nome familiar, hoje em dia.
Mesmo no círculo de americanos melhor instruídos, seu nome é o de uma
figura desconhecida. No entanto, Gentile, cujos dias se passaram na
primeira metade do século XX, foi considerado um dos principais filósofos
de sua época. Estudioso de Hegel e Bergson e superintendente da
Encyclopedia Italiana, Gentile não foi apenas um pensador amplamente
divulgado e influente; foi ele também um estadista que serviu numa
variedade de importantes cargos governamentais. Por que, então, Gentile
desapareceu no nevoeiro da História?
Em Palavras e em Atitudes
O fascismo não era conservador em sua inspiração, mas visava criar uma
nova sociedade com um novo tipo de ser humano.31
Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future
Para chegar ao cerne de uma ideologia, é imperativo explorá-la na teoria
antes de explorá-la na prática. É por isso que comecei com Gentile: ele
explica com autoridade o estatismo e o coletivismo que definem o fascismo
e, inclusive, o nazismo. De Gentile, passamos para as declarações
doutrinárias e à agenda política do fascismo italiano e do nacional-
socialismo alemão. Estes também representam o fascismo utópico, pode-se
dizer “fascismo no discurso”. Só então faz sentido examinar o que
Mussolini e Hitler realmente fizeram, pois o que fizeram foi,
necessariamente, uma aplicação daquilo que pretendiam originalmente
realizar, mas com adulterações e diluições já previsíveis. No discurso, o
fascismo é, necessariamente, comprometido com o fascismo da atitude.
Menciono essa distinção desde o princípio porque ela é que se tornou a
base para que os esquerdistas pudessem minimizar os princípios
fundamentais do fascismo, de modo a camuflar sua semelhança — e, em
alguns casos, seu relacionamento — com o progressismo moderno. Mais
uma vez, volto-me ao predileto progressista, Robert Paxton, que, em suas
entrevistas ao público em geral, enfatiza que, embora o fascismo “soe
bastante radical quando no poder, ele se alia a bancos, indústrias, ao
exército, às igrejas e assim por diante”. Paxton também salienta que,
“quando você lê o programa de Hitler, seus vinte e um pontos, e quando lê o
primeiro programa de Mussolini, de 1919, percebe que ambos tiveram
pouquíssima relação com o que acabaram fazendo afinal”.32 Paxton
conclui que, apesar dos objetivos outrora professados, o fascismo e o
nacional-socialismo não podem ser equiparados ao esquerdismo e ao
progressismo, porque Mussolini e Hitler não implementaram o escopo
completo de suas ideologias.
Como contra-argumentação da minha tese, devo dizer que, embora
verdade, este é um ponto extremamente inconvincente. Obviamente, toda
teoria deve acomodar as realidades da situação; fazê-lo não mina a teoria
em sua posição de ser uma visão do modo como as coisas deveriam ser.
Lincoln posicionava-se contra a escravidão, mas, se disposto a vencer a
guerra, manter estados fronteiriços na União era-lhe uma necessidade
política.
Consequentemente, quando assinada, a Proclamação da Emancipação foi
aplicada apenas sobre áreas em rebelião contra os Estados Unidos que ainda
não haviam sido ocupadas pelo Exército da União. Salientar isso não
significa provar que Lincoln, na verdade, não era contra a escravidão, uma
vez que não a proibiu por todo o país.
Para segundo exemplo, cito Lênin. Marxista e comunista fervoroso,
Lênin comprometeu-se a banir o capitalismo de toda a União Soviética, e
ele o fez. A economia soviética, no entanto, entrou em colapso; assim, no
início da década de 1920, ele próprio consentindo, Lênin aceitou medidas
capitalistas para resolver o problema. Ele permitiu a propriedade privada,
incluindo fazendas privadas; ele permitiu que as empresas e os agricultores
mantivessem alguns dos seus ganhos; ele chegou mesmo a incentivar o
investimento por parte de empresas estrangeiras na União Soviética. Lênin
não entendeu sua Nova Política Econômica como traição ao comunismo,
mas a considerou uma forma de estabilizar a economia e, também, de
exercer controle político sobre o país, para que assim pudesse
verdadeiramente institucionalizar o comunismo. Contudo, apesar de
articular-se temporariamente para longe do socialismo, alguém realmente
poderia afirmar que Lênin não foi um socialista?
Agora, voltemo-nos para Mussolini, que, na teoria, era um estatista
completo. Uma das frases favoritas de Mussolini era “Tudo no Estado, nada
fora do Estado, nada contra o Estado”.33 Aqui, ouvem-se os ecos de
Gentile e também os ecos de um progressismo esquerdista moderno levados
às últimas consequências. Mussolini, em outras palavras, parece dizer
aquilo que vai ao encontro das fantasias secretas do progressista moderno.
Mussolini levava o estatismo tão ao extremo que, atrevo dizer, chegava a
ser mais estatista do que Barack Obama, mesmo quando este confessou ao
New York Times que invejava os líderes comunistas chineses quanto à
extensão de seus poderes.34
Mussolini era tão estatista que considerava positivo o termo “totalitário”.
Para Mussolini, a palavra não significava o que Orwell retrata em 1984.
Mussolini não tinha a intenção de esmagar o povo italiano com um coturno.
Em vez disso, o totalitarismo, para ele, significava que o Estado cuidaria de
tudo e de todos. Mussolini buscava uma Itália em que o Estado —
encarnado nele — viria a exercer controle total sobre todos os aspectos da
vida dos cidadãos.
Mussolini, contudo, nunca teve o coração para ser verdadeiramente
totalitário. Em parte porque era ele, bom, vejamos, italiano. Seu
totalitarismo sempre foi italiano, ou seja, meia-boca. Ele meio que prendia
seus oponentes, ele meio que controlava a mídia, e meio que tinha um
Parlamento em suas mãos, mas lhe faltava o escrutínio que caracterizava
seus mais sombrios companheiros totalitários, Stalin e Hitler. Ao longo de
seu reinado de vinte anos, Mussolini matou poucos de seus próprios
cidadãos e permitiu que as pessoas, incluindo os judeus, deixassem a Itália.
Stalin e Hitler nunca sonhariam em permiti-lo. Que tipo de controle
totalitário se pode ter sobre as pessoas se elas forem livres para arrumar
suas coisas e dizer saionará?
Muito embora o totalitarismo de Mussolini fosse um tanto anêmico, não
o foi seu socialismo. A agenda original dos fascistas, tal como delineada em
Fasci di Combattimento em Milão, em 1919, incluía sufrágio universal,
redução da idade de voto para dezoito anos, abolição do senado elitista,
obrigatoriedade das oito horas por dia trabalhadas, programa extenso de
serviços públicos, participação dos trabalhadores na gestão industrial,
nacionalização dos órgãos de defesa, direito a seguro-saúde e pensão por
velhice para todos os cidadãos, confisco estatal de terras não cultivadas,
tributação progressiva, imposto de 85% sobre os lucros da guerra e fortes
políticas anticlericais, incluindo a exclusão da instrução religiosa nas
escolas e apropriação governamental da propriedade de instituições
religiosas.
Mussolini foi capaz de decretar parte dessa agenda, em particular um
programa de serviços públicos, incomparável para a Europa da época. Os
fascistas construíram pontes, canais, estradas, estações ferroviárias, escolas,
hospitais e orfanatos. Drenaram pântanos, recuperaram terras, plantaram
florestas, legaram universidades e institutos de pesquisa. Mussolini também
expandiu os serviços sociais num programa que, confessou ele com
franqueza, equiparava-se ao New Deal de Franklin D. Roosevelt, até
mesmo chegando a superá-lo. (Mais sobre isso será explorado em um
capítulo posterior). Mesmo assim, apesar de tudo, grande parte do programa
socialista original de Mussolini permaneceu na gaveta.
A razão para tanto é que Mussolini, ao contrário de Hitler e Stalin, nunca
teve poder absoluto. Ele foi nomeado pelo rei Vítor Emanuel III, que
também tinha o poder para depô-lo, decisão que viria por fim a tomar.
Ainda que governando, Mussolini tinha de trabalhar com as estruturas de
poder existentes, incluindo membros da classe dominante tradicional.
Embora detestasse a Igreja Católica, Mussolini entendeu que lhe fazer
oposição tornaria seu governar mais difícil; então, em 1929, ele entrou em
concordata com o Vaticano, acordo que exigiu de Mussolini sua abdicação
do controle absoluto sobre o sistema educacional.
O poder de Mussolini alternava entre altos e baixos, dependendo das
circunstâncias. Ele não era o governante absoluto da Itália quando chegou
ao poder, mas depois que Giacomo Matteotti, político socialista, foi
assassinado por fascistas, Mussolini fez a aposta arriscada e bem-sucedida
de assumir o controle ditatorial. Mussolini evidentemente estava no auge de
seu poder durante meados da década de 1930, de modo que, durante esse
período, assegurou que o Estado tivesse controle sobre todas as atividades
industriais e sobre praticamente todas as finanças e o crédito. No entanto,
uma vez aliado à Alemanha, Mussolini teve de, novamente, operar dentro
da estrutura estabelecida por Hitler. Conforme mais adiante neste livro,
Mussolini abraçou parcialmente um racismo e um antissemitismo nos quais
ele não acreditava de fato e que não caracterizavam sua carreira quando ele
próprio estava à frente das tomadas de decisão.
Em 1943, as forças dos Aliados pisaram na Itália. Por meio da ação do
rei e do Grande Conselho do Fascismo, Mussolini foi deposto do poder.
Hitler, entretanto, resgatou-o do cativeiro e restabeleceu-o, então na posição
de governante em Saló, ao norte da Itália, território este que, na época,
estava sob controle alemão. Lá, por breve período, Mussolini pôde fazer o
que bem entendesse; ele era independente.
Daí, o que Mussolini fez? Fundou, como ele mesmo disse, o único
governo genuinamente socialista do mundo, com a possível exceção da
União Soviética.35 Mussolini tentou implementar o que ele chamou de
“verdadeiro socialismo”, afirmando que “elementos plutocráticos e partes
do clero” o impediram de antes implementá-lo na Itália.
Em Saló, Mussolini esboçou um programa socialista que ia mais além de
tudo aquilo que ele já havia tentado implementar na Itália. O novo
programa de novembro de 1943 exigiu que o Estado controlasse todas as
partes críticas da economia — energia, matérias-primas, todos os serviços
sociais mais essenciais —, deixando apenas poupanças privadas, casas e
bens próprios nas mãos do cidadão. O setor público deveria ser
administrado por comitês de gestão em que os trabalhadores teriam papel
fundamental. Os sindicatos também faziam parte do corpo legislativo
fascista.
O passo seguinte, declarou o conselheiro de Mussolini, Ugo Spirito, seria
abolir toda a propriedade privada. Estranho dizer, o conselheiro mais
próximo de Mussolini em Saló era Nicola Bombacci, amigo e discípulo de
Lênin que, em 1921, foi cofundador do Partido Comunista Italiano. O
período de Mussolini em Saló, embora de curta duração, prova que ele
nunca abandonou seus ideais esquerdistas originais. Ele, até o último
momento, manteve-se estadista, coletivista e socialista ferrenho.
O Programa Nacional-Socialista
Existe em Hitler, também, um socialista aplicado que, pouco depois de
assumir a liderança do Partido dos Trabalhadores Alemães, mudou o nome
deste para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães
(PNSTA). Com declaração após declaração, Hitler não poderia ter sido mais
claro sobre seus compromissos socialistas. Ele disse, por exemplo, num
discurso de 1927, que “Somos socialistas. Somos inimigos do sistema de
exploração capitalista atual [...] e estamos determinados a destruir tal
sistema sob a condição que for”.36
De início, o Partido Nazista ofereceu um programa que consistia em
vinte e cinco pontos, incluindo a nacionalização das grandes corporações e
dos fideicomissos, controle estatal sobre bancos e crédito; a apreensão de
terras sem compensação para uso público, a divisão de grandes
propriedades para formar unidades menores, o confisco dos lucros de
guerra; incluía também acusar banqueiros e outros credores por usura, a
abolição dos rendimentos mediante serviço não declarados, a participação
dos trabalhadores nos lucros em todas as grandes empresas, um sistema de
pensão mais abrangente, prestando maiores benefícios, e um sistema de
saúde e educação gratuitos para todos.
Lendo o programa nazista inconsciente das fontes, seria facilmente
perdoável confundi-lo com o programa do Partido Democrata de 2016 ou
mesmo com alguma plataforma democrata elaborada conjuntamente por
Bernie Sanders e Elizabeth Warren. É claro que um pouco da linguagem
está desatualizada. Os democratas não podem falar sobre “usura” nos dias
de hoje; eles teriam de substituir esse termo por “a ganância de Wall
Street”. Seja como for, está tudo lá. Tudo o que precisa fazer é riscar a
palavra “nazista” e escrever, em seu lugar, o termo “democrata”.
Progressistas como Paxton, que reconhecem o conteúdo esquerdista do
programa nazista, tentam distanciá-lo de Hitler, associando-o a uma suposta
facção de esquerda dentro do Partido Nazista, o qual Hitler viria a eliminar
mais tarde. Essa facção foi liderada pelos irmãos Strasser, Otto e Gregor.
Otto Strasser foi expulso do Partido Nazista em 1930 e exilado na
Checoslováquia. Gregor Strasser foi morto por ordens de Hitler em 30 de
junho de 1934, durante a Noite das Facas Longas.
Os Strassers, contudo, escreveram o programa nazista original em
parceria com o próprio Hitler. Os irmãos foram figuras-chave no Partido
Nazista durante a década de 1920. O partido expulsou Otto Strasser por
causa de suas ameaças de fundar seu próprio partido dissidente, o que
acabou por fazer. Gregor Strasser repudiou publicamente seu irmão e
permaneceu no Partido Nazista. Hitler nomeou-o chefe do partido nas
regiões norte e ocidental da Alemanha; lá, tornou-se o segundo com maior
autoridade, permanecendo abaixo apenas do próprio Hitler, que em nenhum
momento repudiou os princípios que ele mesmo e os irmãos Strasser
avançaram desde o início.
Sendo assim, por que Hitler matou Gregor Strasser? Uma pista pode ser
encontrada nos escritos de Joseph Goebbels, aliado íntimo de Strasser, que
se tornou o confidente de Hitler e ministro da propaganda. Num dos
registros de seu diário, Goebbels fez uma pergunta simples sobre o
nacional-socialismo: “O que é prioridade e o que vem em segundo lugar?”.
Goebbels responde: “Em primeiro lugar, vem o socialismo; depois, então, a
libertação nacional”.37
A resposta de Hitler foi o oposto: primeiro vem a libertação alemã e
depois, então, o socialismo. Goebbels, atraído pela pessoa de Hitler,
sucumbiu às prioridades dele. Gregor Strasser não, criticando Hitler por
trair o socialismo revolucionário, mesmo tendo Hitler assegurado que o
socialismo viria depois que a Alemanha consolidasse seu poder militar.
Strasser não estava persuadido. Em última análise, Hitler ficou cansado das
críticas de Strasser e o executou, eliminando um rival perigoso para o
processo em andamento.
Strasser acreditava que Hitler poderia ter tanto o nacionalismo quanto o
socialismo, pois, ao contrário de Mussolini, Hitler desfrutava de poder
quase absoluto para fazer o que quisesse. No entanto, o que Hitler desejava
fazer, antes das demais coisas, era começar uma guerra. Em essência, seu
objetivo era: em primeiro lugar, subjugar a Europa, ou ao menos a maior
parte dela; em segundo lugar, expulsar ou eliminar os judeus; e, em terceiro
lugar, implementar o socialismo na Alemanha enquanto institucionalizava a
subordinação e a escravidão para todos os demais povos. A visão de Hitler
era a de que o socialismo seria bom demais para qualquer povo que não
fosse verdadeiramente ariano; consequentemente, ele não estava prestes a
institucionalizar o socialismo antes de realizar suas duas primeiras tarefas.
Assim, Hitler também fez um acordo com o Vaticano e tentou apaziguar-
se com os cristãos. Ele precisava do apoio de católicos bávaros e luteranos
espalhados pela Alemanha. Hitler também precisava de grandes negócios,
tanto para manter a economia alemã acelerada como para fornecer-lhe o
vasto estoque de materiais de guerra, sabendo que precisaria disso sob o
objetivo de invadir a Europa Oriental, a França e a Rússia. Hitler alcançou
seu objetivo de colocar praticamente todos os setores da economia sob o
controle do Estado. Ele lançou enormes conglomerados estatais, como o
Reichwerke Hermann Göring, mas também adiou vários outros objetivos do
programa nazista. Esse adiamento e suas pechinchas com velhos inimigos
de modo nenhum prova que ele deixou de ser socialista ou um verdadeiro
nazista. À semelhança de Lincoln, Hitler tinha uma guerra que vencer com
sucesso, para realizar por completo suas ambições originais.
No entanto, para Hitler, ao contrário de Lincoln, a guerra não terminou
bem. Assim, o fascismo e o nazismo, então ainda em 1945, acabaram numa
pilha de cinzas da História. Levou muito mais tempo para o comunismo
soviético entrar em colapso. Pode-se ver, nesses dois exemplos, uma lição
desanimadora para a esquerda americana moderna. O coletivismo parecer
ter sido testado duas vezes e provado em ambas ser um fracasso. Mas não é
bem essa toda a verdade. O comunismo soviético foi testado e falhou por
sua própria conta. Já o fascismo e o nazismo, entretanto, foram destruídos
pelo lado de fora, pela guerra.
Consequentemente, pode-se dizer que, como planos ideológicos para a
sociedade, o fascismo e o nacional-socialismo ainda não fracassaram,
porque nunca foram completamente experimentados. No progressismo
moderno, portanto, vê-se uma tentativa de reavivamento e ressurreição.
Obviamente, este avivamento deve estar sob um nome diferente, e a
esquerda certamente precisará de alguma camuflagem antifascista. (Vejam,
não temos nenhum fascista por aqui! Você não percebe que estamos lutando
contra o fascismo?) Mesmo assim, para pessoas que sabem como
reconhecê-los, a esquerda de hoje ainda é o partido do fascismo e do
nacional-socialismo, velhas ideologias marchando agora em um diferente
continente sob novas cores e diferentes roupagens; um fascismo para o
século XXI.
Capítulo Três
A Jornada
de Mussolini
O conflito entre o fascista ou o nacional-socialista e os outros partidos
socialistas deve ser amplamente considerado como o tipo de conflito que
necessariamente surgirá dentre facções socialistas rivais.1
Friedrich Hayek, The Road to Serfdom
Em 23 de março de 1919, um dos socialistas mais famosos da Itália fundou
um novo partido, o Fasci di Combattimento, termo que significa “esquadrão
de combate fascista”. Este foi o primeiro partido fascista oficial e, portanto,
sua fundação representa o verdadeiro nascimento do fascismo. Da mesma
forma, esse homem foi o primeiro fascista. O termo “fascismo” remonta ao
ano de 1914, quando ele mesmo fundou o Fasci Rivoluzionari d’Azione
Internazionalista, movimento político cujos membros autodenominavam-se
fascisti, ou fascistas.
Em 1914, este pai fundador do fascismo já era, ao lado de Vladimir
Lênin na Rússia, Rosa Luxemburg na Alemanha e Antonio Gramsci na
Itália, um dos marxistas mais conhecidos do mundo. Seus companheiros
marxistas e socialistas o reconheceram como grande líder do socialismo.
Sua decisão de tornar-se fascista foi controversa, mas ele recebeu a
aprovação de Lênin, que continuou a considerá-lo um fiel revolucionário
socialista. E era assim também que ele mesmo se via.
Naquele mesmo ano, tendo apoiado o envolvimento italiano na Primeira
Guerra Mundial, ele seria expulso do Partido Socialista Italiano por
“heresia”, não significando, porém, que por isso havia deixado de ser
socialista. Era prática comum para os partidos socialistas a expulsão de
companheiros socialistas dissidentes, daqueles que discordavam de alguns
pontos importantes da linha do partido. Este então rejeitado pelo partido
insistiu que fora expulso por ter feito uma “revisão do socialismo do ponto
de vista revolucionário”.2 Pelo resto de sua vida — até ter seu corpo morto
e exposto numa praça da cidade de Milão —, ele confirmou os princípios
centrais do socialismo, os quais via refletidos de melhor forma no fascismo.
Quem, então, era esse homem? Era o futuro líder da Itália fascista, aquele
que os italianos chamavam de Il Duce, Benito Mussolini.
As credenciais socialistas de Mussolini eram impecáveis. Criado em
família socialista, com a idade de dezoito anos, em 1901, declarou
publicamente suas convicções. Aos vinte e um anos, já era marxista
ortodoxo, familiarizado não só com os escritos de Marx e Engels, mas
também com os mais influentes marxistas alemães, italianos e franceses do
período fin de siècle. Tais quais outros marxistas ortodoxos, Mussolini
rejeitou a fé religiosa e escreveu panfletos anticatólicos repudiando o
catolicismo de sua nação.
Mussolini embarcou em uma carreira ativa de escritor, editor e dirigente
político. Exilado na Suíça entre 1902 e 1904, colaborava semanalmente
com o Partido Socialista Italiano lançado lá; também escreveu para Il
Proletario, periódico semanal socialista publicado em Nova Iorque. Em
1909, Mussolini fez outra estada temporária em Trento — na época, parte
da Áustria-Hungria —, onde trabalhou para o Partido Socialista e editou seu
jornal. Ao retornar, no ano seguinte, à sua cidade natal, Forli, ele editou o
periódico semanal socialista La Lotta di Classe. Tão vastos foram seus
escritos sobre o marxismo, a teoria socialista e a política contemporânea
que sua produção agora preenche sete volumes.
Mussolini não era apenas um intelectual; ele organizou greves de
trabalhadores em nome do movimento socialista dentro e fora da Itália e foi
duas vezes preso por seu ativismo. Em 1912, Mussolini foi reconhecido
como líder socialista no Congresso Socialista de Reggio Emilia e designado
para o conselho administrativo do Partido Socialista Italiano. No mesmo
ano, aos vinte e nove anos, tornou-se editor da Avanti!, publicação oficial
do partido.
Do ponto de vista da narrativa progressista — narrativa que comecei a
desafiar no capítulo anterior —, a mudança de Mussolini, do socialismo
marxista para o fascismo, deve vir como uma grande surpresa. No
paradigma progressista, o socialismo marxista é o extremo do lado esquerdo
do espectro, ao passo que o fascismo é o extremo do lado direito. A
incredulidade progressista torna-se ainda maior quando se percebe que
Mussolini não era mais outro mero socialista; ele era, reconhecidamente, o
líder do movimento socialista na Itália. Além disso, ele não simplesmente
pegou o bonde do fascismo; ele o criou.
Hoje em dia pensamos em Adolf Hitler como o representante mais
famoso do fascismo. No entanto, conforme mencionei anteriormente, Hitler
não se considerava fascista. Ao invés disso, ele se considerava nacional-
socialista. As duas ideologias estão relacionadas na medida em que ambas
são baseadas no coletivismo e no poder centralizado no Estado. Elas
emergem, pode-se dizer, de um ponto de partida em comum. No entanto,
também são distintas; por exemplo, o fascismo não tinha conexão intrínseca
com o antissemitismo da mesma maneira como o nacional-socialismo o
tinha.
Seja como for, Hitler ainda era um obscuro dirigente na Alemanha
quando Mussolini ascendeu ao poder e, após sua famosa Marcha sobre
Roma, estabeleceu o primeiro regime fascista do mundo, na Itália, em 1922.
Hitler admirava muito Mussolini e almejava ser como ele. Segundo Hitler,
Mussolini era “o principal estadista do mundo, a quem ninguém pode, nem
mesmo remotamente, comparar-se”.3 Hitler tomou inspiração da bem-
sucedida Marcha sobre Roma guiada por Mussolini para o seu fracasso na
ocasião do Putsch de Munique, realizado em novembro de 1923.
Logo que chegou ao poder, Hitler manteve um busto de Mussolini em
seu escritório; e certo alemão chegou a chamá-lo de “Mussolini da
Alemanha”.4 Mais tarde, quando os dois homens conheceram-se pela
primeira vez, Mussolini não ficou muito impressionado com Hitler,
passando a considerá-lo com mais respeito só depois de 1939, quando
Hitler conquistou a Áustria, a Polônia, a Checoslováquia, a Bélgica, a
Noruega e a França. Hitler continuou a defender Mussolini como “esse
estadista incomparável” e “um dos Césares”, além de confessar que, sem o
fascismo italiano, não existiria o nacional-socialismo alemão: “Os camisas
pardas provavelmente não existiriam sem os camisas negras”.5
Assim como Mussolini, Hitler era homem da esquerda, sem contar que
também era líder socialista e cabeça da classe trabalhadora, fundador do
Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães, cujo programa provou ser
muito semelhante ao do partido fascista de Mussolini. Hitler, entretanto,
chegou ao poder na década de 1930, ao passo que o governo de Mussolini
abrangeu a maior parte da década de 1920. Durante esses anos, Mussolini
foi muito mais famoso do que Hitler, reconhecido inclusive como o pai
fundador do fascismo. Portanto, qualquer descrição da origem do fascismo
não deve se concentrar em Hitler, mas em Mussolini. Este, sim, Mussolini,
é o fascista original e prototípico.
Do Socialismo ao Fascismo
Como então — retornando ao paradigma progressista — os progressistas
retratam a conversão de Mussolini do socialismo ao fascismo, ou, mais
precisamente, seu abraçar simultâneo de ambas as ideologias? O problema é
aprofundado pelo fato de que Mussolini não estava sozinho. Centenas de
líderes socialistas, inicialmente na Itália mas posteriormente na Alemanha,
na França e em outros países, também tornaram-se fascistas. Na verdade,
vou além ao dizer que todas as principais figuras da fundação do fascismo
eram homens de esquerda. “Os primeiros fascistas”, diz Anthony James
Gregor, “eram quase todos marxistas”.6
Citarei alguns exemplos. Jean Allemane, famoso por seu papel no caso
Dreyfus, uma das grandes figuras do socialismo francês, viria a tornar-se
fascista anos mais tarde. Assim também foi com o socialista Georges
Valois. Marcel Deat, fundador do Parti Socialiste de France, acabou
abandonando o partido e, em 1936, deu início a um partido pró-fascismo.
Tempos depois, ele passou a colaborar com o nazismo durante o regime de
Vichy. Jacques Doriot, comunista francês, moveu seu Parti Populaire
Français para o campo fascista.
Henri de Man, teórico socialista belga, transformou-se num teórico
fascista. Na Inglaterra, Oswald Mosley, parlamentar socialista do Partido
Trabalhista, por fim rompeu com o Partido Trabalhista por não o considerar
suficientemente radical.
Mais tarde, ele fundou a União Britânica dos Fascistas e tornou-se o
principal simpatizante nazista do país. Na Alemanha, Gerhart Hauptmann,
dramaturgo socialista, abraçou Hitler e produziu peças durante o período do
Terceiro Reich. Após a guerra, passou para o comunismo e encenou suas
produções na Berlim Oriental, dominada pela União Soviética.
Na Itália, o filósofo Giovanni Gentile passou do marxismo para o
fascismo, assim como uma série de dirigentes sindicais italianos: Ottavio
Dinale, Tullio Masotti, Carlo Silvestri e Umberto Pasella. Agostino
Lanzillo, escritor socialista, juntou-se ao Parlamento de Mussolini como
membro do Partido Fascista. Nicola Bombacci, um dos fundadores do
Partido Comunista Italiano, tornou-se o principal assessor de Mussolini em
Saló. O discípulo de Gentile, Ugo Spirito, que também serviu a Mussolini
em Saló, passou do marxismo para o fascismo e depois de volta ao
marxismo. Como Hauptmann, Spirito tornou-se simpatizante do
comunismo após a Segunda Guerra Mundial e pediu uma nova “síntese”
entre o comunismo e o fascismo.
Outros que fizeram a mesma jornada do socialismo ao fascismo serão
nomeados neste capítulo. Uma coisa que ficará muito clara é que tais não
são histórias de “conversão”. Esses homens não “mudaram” do socialismo
para o fascismo. Ao contrário, eles tornaram-se fascistas da mesma forma
pela qual os socialistas russos tornaram-se bolcheviques leninistas. Tais
quais seus homólogos russos, aqueles socialistas acreditavam estar
crescendo no fascismo, amadurecendo no fascismo, uma vez que
consideravam o fascismo a forma mais bem pensada e prática do socialismo
para o novo século.
O progressismo simplesmente não consegue explicar a fácil mudança do
socialismo para fascismo. Sendo assim, os progressistas costumam manter
silêncio completo sobre toda essa relação histórica, a qual lhes é
profundamente embaraçosa. Em todos os artigos comparando Trump a
Mussolini, procurei em vão por referências ao antigo marxismo de
Mussolini e seu apego ao socialismo de toda uma vida. Tanto por
ignorância quanto por esquemas, essas referências não se fazem presentes.
Os relatos biográficos progressistas, no entanto, que não podem evitar o
passado socialista de Mussolini, recorrem e acusam-no — como o Partido
Socialista da Itália fez em 1914 — de ter “se vendido” ao fascismo por
dinheiro e poder. Outros relatos afirmam que, independentemente das
convicções originais de Mussolini, o próprio fato de seus fascistas terem
lutado contra os marxistas e os socialistas tradicionais mostra claramente
que Mussolini não permaneceu socialista, nem mesmo de esquerda.
Mas essas explicações não fazem sentido. Quando se “vendeu”,
Mussolini foi banido. Ele não tinha dinheiro, não tinha poder. Nem
tampouco qualquer um dos primeiros fascistas abraçou o fascismo por esse
motivo. Pelo contrário, eles passaram para o fascismo porque viram nele o
único meio de resgatar o socialismo e torná-lo viável. Em outras palavras, a
deserção deles estava dentro do socialismo — eles procuravam criar um
novo tipo de socialismo, um que realmente causasse aderência das massas e
produzisse a revolução dos trabalhadores que Marx anteviu e antecipou.
As lutas ferozes entre facções socialistas e esquerdistas são uma
característica reconhecida da história do socialismo. Na Rússia, por
exemplo, houve confrontos sangrentos entre rivais bolcheviques e
mencheviques. Mais tarde, os bolcheviques dividiram-se em leninistas e
trotskistas, e Trotsky acabou morto por ordens de Lênin. Todos eram figuras
da esquerda. O que essas rivalidades sangrentas provam é que as piores
divisões e conflitos às vezes surgem entre pessoas ideologicamente muito
parecidas e que diferem em pequenos — embora não tão pequenos aos
olhos delas — pontos doutrinários.
Neste capítulo, traçarei o desenvolvimento do fascismo, mostrando
exatamente como este surgiu de uma divisão doutrinária dentro da
comunidade de socialistas marxistas. Em suma, vou provar que o fascismo
é exclusivamente um produto da esquerda. Este não é um caso de
esquerdistas que passaram para a direita. Não, os fascistas estavam no
extremo esquerdo do movimento socialista. Eles não se viam como
desprezando o marxismo, mas como que o salvando da obsolescência. Do
ponto de vista deles, o marxismo e o socialismo eram inertes demais e,
portanto, precisavam ser ajustados mais para a esquerda. Em outras
palavras, eles consideravam o fascismo mais revolucionário do que o
socialismo tradicional.
Em grande parte, essa narrativa por si só é um capítulo não contado na
história das ideias. Eu a escavei de obras densamente acadêmicas dos
principais historiadores do fascismo, para colocá-la ao alcance de uma
audiência geral. Conforme esses estudiosos enfatizam, não foi assim que o
fascismo terminou, mas como começou. Hoje o fascismo é pensado em
termos das extremas perversidades da Segunda Guerra Mundial, mas o
movimento fascista não teria atraído um grande número de seguidores se
fosse, originalmente, visto dessa forma. Deve haver um apelo lógico e
emocional que hoje nos é invisível.
Tento mostrar, aqui, a força dessa lógica e dos tais apelos originais. Meu
objetivo é produzir uma genealogia no sentido do termo que Nietzsche
escreveu em sua Genealogia da Moral. Nietzsche buscava desacreditar a
moral cristã ao relatar sua origem, revelando suas supostas raízes basilares.
Meu objetivo é mostrar as origens fundacionais do fascismo, e não tanto
a fim de desacreditá-lo — dificilmente seria necessário fazê-lo em nossa
época —, mas para estabelecer, de uma vez por todas, a grande mentira que
é tornar o fascismo um fenômeno de direita. Sem essa mentira, a afirmação
de que Trump e o GOP são fascistas simplesmente desmorona.
A Crise do Marxismo
O fascismo surgiu da profunda crise enfrentada pelo marxismo no início
do século XX. Portanto, partamos dela. Lembre-se de que Marx não pediu
que os trabalhadores do mundo se levantassem e se rebelassem contra a
classe burguesa ou capitalista. Em vez disso, ele previu que isso
aconteceria. Marx se via como uma espécie de profeta, predizendo o que
viria a acontecer. Para Marx, não importava se alguém fosse a favor do
comunismo ou contra ele; de qualquer forma, a chegada do comunismo
seria inevitável.
Como sabia disso? Marx era um materialista histórico. Ele não recebeu
suas profecias de Deus; ele as recebeu por meio do estudo daquilo que ele
considerava ser os fundamentos materiais da História. De acordo com
Marx, a História é dividida em duas classes: a classe trabalhadora, ou o
proletariado, e a classe capitalista, ou a burguesia. Em essência, a classe
capitalista torna-se rica ao explorar continuamente a classe trabalhadora.
Portanto, é previsível que, em dado momento, este conflito fique tão severo
que seja inevitável a derrubada revolucionária da classe capitalista por parte
dos trabalhadores.
Marx considerava seu trabalho “estritamente científico” e, também,
“estritamente realista”. Seu ajudante, Engels, falou das “leis gerais do
movimento”. Marx e Engels alegaram saber até as condições precisas em
que essa revolta ocorreria. Primeiro, aconteceria nos países capitalistas mais
avançados. Especificamente, Marx esperava que o comunismo chegasse
primeiramente à Alemanha ou à Inglaterra. Em seguida, ele esperava que se
espalhasse para outros países europeus e, finalmente, por todo o mundo. Em
segundo lugar, Marx insistia que os sinais de uma revolução iminente
seriam o crescente empobrecimento da classe trabalhadora e a crescente
alienação de seus empregadores e da sociedade.
Parece meio cômico, em retrospecto, que pessoas altamente inteligentes
aceitaram toda essa ladainha marxista — os pressupostos infundados, o
pretensioso absurdo verborrágico — como um evangelho. Mas é certo que
assim a acolheram. Contudo, no início do século XX, tornou-se óbvio para
a maioria das pessoas — até mesmo para muitos marxistas — que nada do
que Marx havia previsto estava realmente acontecendo. Não só não havia
sinais de revolução na Alemanha ou na Inglaterra, mas também as classes
trabalhadoras nessas nações pareciam cada vez melhores e com notória
estabilidade.
Por exemplo, na Alemanha e na Inglaterra, a renda per capita, ajustada
pela inflação, praticamente dobrou no ínterim entre as previsões de Marx e
o início do século XX.7 Em suma, a barganha capitalista parecia estar
funcionando; o proletariado e a burguesia estavam se dando muito bem. O
socialismo parecia ainda menos provável na América, escreveu Werner
Sombart, economista alemão, porque todos estavam muito confortáveis.
Nas palavras de Sombart, todas as utopias revolucionárias falham quando se
trata de ter carne assada e torta de maçã que pôr no prato.
A crise do marxismo pode ser percebida em uma única carta escrita por
Eduard Bernstein, alemão exilado na Inglaterra, pupilo e protegido mais
próximo de Engels. Já em 1898, Bernstein escreveu: “Tentei, ao estender os
ensinamentos marxistas, deixá-los de acordo com as realidades práticas [...]
Mas, em terminada minha atuação, disse a mim mesmo — isso não pode
continuar. É inútil tentar conciliar o irreconciliável. É preciso esclarecer
com exatidão onde Marx está certo e onde ele está errado”.8
A necessidade de revisões fundamentais no marxismo tornou-se ainda
mais óbvia nas primeiras décadas do século XX. Em 1917, houve uma
revolução comunista, mas, entre todos os lugares possíveis, ela ocorreu na
Rússia, um dos países menos desenvolvidos da Europa. Para os marxistas,
aquela revolução sobreveio de surpresa. Marx insistia que a revolução na
Rússia, na Ásia ou na África eram impossíveis sem que essas regiões
passassem por etapas do desenvolvimento capitalista. A trajetória histórica
de Marx passou do feudalismo ao capitalismo e, então, ao comunismo. Em
outras palavras, é preciso tornar-se capitalista antes de tornar-se comunista.
Não menos do que os outros poderiam ver, os marxistas perceberam que
a revolução russa não foi uma revolta do proletariado contra uma classe
capitalista, mas uma operação militar organizada por revolucionários
profissionais contra uma ditadura czarista. Os revolucionários não eram da
classe trabalhadora, mas principalmente provenientes da intelligentsia —
advogados, jornalistas, ativistas sociais. Não era o que Marx havia previsto.
Quanto ao tipo de revolução que Marx previu, a revolta da classe
trabalhadora, nunca houve uma revolução que fosse proletária em qualquer
sentido inteligível do termo.
Como os marxistas reagiram a esses acontecimentos surpreendentes e,
para eles, inclusive, perturbadores da História? A maioria dos partidos
marxistas oficiais na Europa reagiu feito gado, de uma estupidez bovina. O
marxismo caiu em uma espécie de torpor intelectual. Muitos da liderança
marxista basicamente ignoraram o mundo como tal e continuaram a esperar
o mundo como ele deveria ser. Karl Kautsky e Rosa Luxemburg foram
líderes influentes do Partido Social-Democrata alemão, o principal partido
socialista do mundo, e mais tarde do Partido Social-Democrata
Independente da Alemanha. A posição deles era que a revolução realmente
chegaria à Alemanha, assim que as condições estivessem maduras.
No entanto, como Eduard Bernstein, muitos dos marxistas e socialistas
mais inteligentes reconheceram que se tratava de um sonho socialista. As
condições em toda a Europa estavam ficando menos maduras. A cada
década, a condição de vida dos trabalhadores melhorava consideravelmente.
E como explicar a Rússia? Marx ficaria chocado. Então um grande debate
surgiu entre os marxistas, socialistas e esquerdistas, daí surgindo duas novas
tensões do socialismo marxista, que dominariam o novo século. A primeira
era o bolchevismo, ou leninismo. A outra era o fascismo, ou nacional-
socialismo.
Comecemos por Lênin, líder revolucionário da revolução russa. Lênin
era, tal qual Mussolini, um revolucionário intelectual e também
revolucionário prático. Ele, como Mussolini, começou no socialismo
marxista ortodoxo e permaneceria, até o fim de sua vida, leal à essência da
doutrina marxista. No entanto, Lênin sabia que também deveria explicar por
que o comunismo havia chegado à Rússia, mas não aos países capitalistas
avançados como a Alemanha ou a Inglaterra.
Sua explicação, oferecida em seu livro chamado O Imperialismo: Fase
Superior do Capitalismo, é engenhosa. Basicamente, Lênin argumenta que
o capitalismo havia “exportado” sua própria crise, através do colonialismo e
do imperialismo, para o Terceiro Mundo. Em outras palavras, os capitalistas
no Ocidente estavam subornando sua classe trabalhadora ao explorar os
pobres em outros países. Isso, argumenta Lênin, não foi algo que Marx
previu. Por conseguinte, Lênin afirma, não deveríamos esperar uma
revolução na principal metrópole do capitalismo, na Europa Ocidental, mas
sim na periferia. A Rússia era simplesmente o primeiro caso de revoluções
socialistas ocorrendo pelo mundo subdesenvolvido previstas por Lênin.
Além disso, ele sabia que sua revolução bolchevique não era uma
revolução da classe trabalhadora. Ele percebeu não haver registros disso,
exceto a partir de uma revisão de Marx. Em seu livro mais famoso, Que
Fazer?, Lênin insiste que Marx havia sido muito complacente em esperar
que a revolução ocorresse por si só. De certo modo, Marx havia depositado
confiança demais nos trabalhadores. Lênin os considerava ignorantes e
oprimidos demais para dar início ao que quer que fosse.
Segundo Lênin, as revoluções futuras exigiriam uma vanguarda
profissional de combatentes militantes, lideradas por pessoas como ele, para
instigar a consciência de classe na sociedade e derrubar a classe dominante
em nome da classe trabalhadora. Esses militantes não precisavam ser
proletários; eles poderiam ser intelectuais, artistas, até membros da
burguesia. No dizer do cientista político Joshua Muravchik, do ponto de
vista de Lênin “a revolução proletária não precisava ser realizada por
proletários; ela poderia ser realizada em favor deles”.9
No final das contas, Lênin esperava que as coisas se tornassem bem
parecidas com o que Marx havia previsto. Lênin concordava com Marx
sobre a revolução comunista ser um evento internacional. Por fim, ela seria
um fenômeno mundial. Além disso, seria dirigida pelas diferenças de
classes, vistas em todos os países. Assim, o comunismo não pode ficar
restrito a um único país; de fato, como Marx disse certa vez, o operário não
tem país.
Lênin também esperava que, quando a revolução finalmente ocorresse, o
próprio Estado desapareceria. Este foi o tema central de seu livro O Estado
e a Revolução, no qual ele previa que da revolução do proletariado seguiria
uma ditadura do proletariado, a qual, por sua vez, seria seguida do
desaparecimento completo de qualquer tipo de Estado. Em outras palavras,
na utopia comunista, todos na sociedade possuirão conjuntamente os meios
de produção e não haverá a necessidade de um Estado.
Esse pequeno pedaço de artifício ideológico marxista fica especialmente
risível quando é posta sob consideração a União Soviética de Lênin, com
seu Estado militarizado e inchado, confiscando a riqueza do povo e
governando com um cetro de ferro sobre sua vida. À medida que
desprezava o povo russo em nome da ideologia socialista, Lênin, em total
insensatez, continuava a prever o desaparecimento de todo o aparelho do
Estado comunista.
Nota-se que as inovações de Lênin sobre o marxismo não foram bem
recebidas pela principal corrente dos marxistas europeus, como Kautsky e
Luxemburgo, que o acusaram de corromper os ensinamentos marxistas e
minar toda a lógica do próprio marxismo. Lênin não se importou, afinal
sabia que ele próprio representava o futuro. O leninismo sobreviveria à
“crise do marxismo” e mudaria o mundo. E o que aconteceu com Kautsky e
Luxemburgo? Ele desapareceu nos arquivos mofados da história marxista e
ela foi feita nota de rodapé — executada pelo regime de Weimar, em 1919,
por ter se associado a uma insurreição armada que por fim fracassou.
Na Itália, um homem de temperamento muito semelhante ao de Lênin,
não menos cruel e prático, ponderava sobre a mesma crise que o déspota
soviético. Ele estava acompanhado nessa busca por todo um movimento de
socialistas revolucionários, sobretudo na Itália, mas também na França e na
Alemanha. Eles chegariam a conclusões bem diferentes da de Lênin e
vislumbrariam um tipo de futuro socialista bastante distinto. Mesmo assim,
juntos, lançaram um movimento, o fascismo, que rivalizaria com o
comunismo soviético em seu alcance global e trágica destruição.
A Síntese Fascista
De um lado, na Itália, os nacionalistas faziam lobby pela lealdade
socialista tendo por base a etnia, de outro, na Alemanha, um grupo buscava
a unidade socialista com base na raça. Bom representante desse grupo foi o
marxista Ludwig Woltmann, que procurou integrar o materialismo
científico de Marx à ciência evolucionista de Darwin.15 Woltmann
basicamente argumenta que a luta darwinista por sobrevivência não ocorre
entre criaturas individuais, mas — dentro das comunidades humanas —
entre as raças. Esse Rassenkampf, ou conflito racial, como ele propôs,
naturalmente resultaria no triunfo das raças superiores e na eliminação das
raças inferiores.
Woltmann foi uma das inspirações para a origem do nacional-socialismo
de Hitler. Note que, desde o princípio, o nacional-socialismo alemão, por
tornar a raça primária — fazendo frente à fidelidade pela nação —, difere
do fascismo italiano. Interessante também perceber que o progressismo
americano moderno obcecou-se pela raça. Hoje, se alguém propor a
remoção de categorias raciais do censo, a oposição mais ferrenha
provavelmente virá dos progressistas, os quais fazem eco ao que Cornel
West coloca no título de um de seus livros, Race Matters [A Raça é
Fundamental]. Mussolini não teria concordado com isso, mas Woltmann
sim, como qualquer outro membro devoto do Partido Nazista.
Mussolini não acreditava em raça, nem era ele a princípio nacionalista;
na verdade, ele era um sindicalista revolucionário. O termo sindicalismo
refere-se às associações ou sindicatos a que os trabalhadores pertenciam.
Eram organizações de trabalhadores autônomos que, embora se
assemelhassem a tais, não eram sindicatos, porque estes eram organizados
regionalmente, e não por corporação ou função e cargo. Marxistas devotos
que eram, os sindicalistas revolucionários concordavam com Marx em que
a primazia pertencia às associações de classe e que elas deveriam ser o
princípio organizador da revolução socialista.
Muito em consonância com essa ênfase na classe, conceito tão
importante para Marx, os sindicalistas, fortemente influenciados por Sorel,
procuraram reunir os sindicatos trabalhistas através de uma greve geral que
derrubaria a classe dominante e estabeleceria o socialismo na Itália. Foi isso
que fez deles “revolucionários”. Eles pretendiam fomentar a revolução, não
a esperar acontecer. Eles foram considerados as pessoas mais inteligentes e
dedicadas do Partido Socialista Italiano e ocuparam sua ala esquerdista.
Os grandes nomes do sindicalismo revolucionário foram Giuseppe
Prezzolini, Angelo O. Olivetti, Arturo Labriola, Filippo Corridoni, Paolo
Orano, Michele Bianchi e Sergio Panunzio. A maioria deles era de
escritores ou dirigentes sindicais. Todos eram socialistas e, em pouco
tempo, todos se tornariam fascistas, apesar de Labriola ter se oposto ao
regime de Mussolini quando este chegou ao poder, e Corridoni, morto na
Primeira Guerra Mundial, não ter vivido para presenciá-lo.
Eles reconheciam Mussolini como seu líder. Ele os conhecia bem e
conspirava com eles em reuniões e comícios. Ele lia seus livros e artigos,
além de contribuir publicando em revistas criadas e organizadas por eles,
como a Avanguardia Socialista, fundada por Labriola, principal periódico
do pensamento sindicalista. Mussolini também analisou e publicou os
principais sindicalistas em suas próprias editorações de nicho socialista.
Concordes com todos os demais socialistas revolucionários, os
sindicalistas tinham pouca fé em procedimentos parlamentares
democráticos e, de acordo com Sorel e Lênin, buscavam por um líder
carismático, alguém que inspirasse os trabalhadores à ação, à atitude.
Mussolini, mais do que qualquer outra pessoa, encaixava-se nos requisitos,
este quem liderou os sindicalistas em uma união com os nacionalistas a fim
de formar o novo híbrido socialista, chamado de fascismo na Itália e (com
algumas modificações) de nacional-socialismo na Alemanha.
Os sindicalistas organizaram três greves gerais na Itália, a saber, em
1904, em 1911 e em 1913. Mussolini as apoiava. A greve de 1904 começou
em Milão e se espalhou por todo o país. Cinco milhões de trabalhadores
abandonaram seus empregos. A nação ficou paralisada: não havia
transporte público, ninguém conseguia comprar nada. Mesmo assim, a
greve terminou sem causar a queda do governo ou a instauração do
socialismo.
O próprio Mussolini organizou a segunda greve geral, em 1911, em
especial por tratá-la na forma de protesto contra a guerra que a Itália travou
com a Líbia. Outro fracasso e Mussolini foi preso por cinco meses. No ano
seguinte, Filippo Corridoni, compatriota de Mussolini, tentou outra greve
geral, que, novamente, foi mais um fracasso. Tantas tentativas seguidas de
fracasso fizeram com que Mussolini e seus companheiros sindicalistas,
desistindo do princípio de classes do socialismo e do conceito de greve
geral, olhassem para nacionalistas como Corradini, Rocco e Michels,
visando daí uma melhor abordagem.
Da colaboração dos sindicalistas e nacionalistas surgiu a nova síntese
fascista, que substituiu a categoria marxista tradicional de classes pela então
nova categoria, a de uma nação. A luta revolucionária, doravante, não seria
uma guerra de classes, mas uma batalha que diria respeito à nação. A guerra
revolucionária não seria uma luta entre as classes — ricos e pobres —, mas
uma luta de nações ricas contra nações pobres, em que as nações proletárias
derrubariam a hegemonia dos países plutocráticos. Com efeito, o mito da
greve geral foi substituído pelo mito da guerra revolucionária, uma guerra
que os fascistas conceberam como uma “guerra de redistribuição”.16
À primeira vista, pode parecer que o conceito de guerra colonial, ou
mesmo mundial, vá diretamente contra Marx. Mas como Angelo O. Olivetti
— sindicalista que passou ao fascismo, mas depois, por mais curioso que
pareça, ao judaísmo — salientou, o próprio Marx havia apoiado o
colonialismo como mecanismo necessário ao desenvolvimento de países
atrasados. Além disso, tanto Marx quanto Engels não hesitaram em
promover os interesses alemães — ambos apoiaram a guerra nacionalista de
Bismarck contra a França e suas reivindicações petulantes contra a Rússia
czarista. Após a morte de Marx, Engels apoiou a anexação de Schleswig,
que fazia parte da Dinamarca, pela Alemanha. Os fascistas enfatizaram tudo
isso como forma de salientar que seu nacionalismo era consistente com o
marxismo e que eles permaneceram, no fim de tudo, bons socialistas.
A síntese fascista não considerava a Itália uma sociedade dividida pelo
conceito de classe, mas sim um país unificado no qual todos os setores da
sociedade poderiam unir-se. Os fascistas substituíram a antiga divisão
marxista entre capitalistas improdutivos e trabalho produtivo pela categoria
única de nação produtiva. Mussolini a isso deu o nome de Fascio
Nazionale, uma união nacional. “Tornamo-nos”, disse Mussolini, “e
permaneceremos uma nação de produtores”.17 Já se podia vislumbrar,
ainda na Itália, a fusão que mais tarde daria ao fascismo de Hitler seu nome
distintivo. Quando combinadas as duas ideias de “nação” e “socialismo”, o
resultado é o nacional-socialismo.
Mussolini nunca usou o termo “nacional-socialismo” e, indignado, o
repudiou quando este foi associado a Hitler e à Alemanha nazista. Não
obstante, Mussolini havia criado o primeiro nacional-socialismo, e
despojado das conotações raciais alemãs. Sua era a visão de uma nação
organizada aos moldes socialistas, uma nação em que todos partilhariam
dos benefícios e em que todos contribuiriam com a sua devida parte. Essa
linguagem, é claro, carrega traços de Obama; vê-se uma congruência óbvia
entre a unificação fascista e a insistência progressista moderna de que a
América é uma comunidade única e que todos devem se unir para cada um
contribuir com sua própria “parcela justa”.
Por fim, a síntese fascista acrescentou o novo elemento do Estado como
braço executivo encarregado de definir e defender o bem geral da nação.
Esse é o ponto em que Giovanni Gentile, discutido no capítulo anterior,
emergiu como principal filósofo do fascismo. Gentile foi o grande apóstolo
do Estado centralizado. Para ele, o Estado era a nação e a nação era o
Estado. A identidade e o bem-estar estão todos subordinados à nação, mas
também sob a vara do todo-poderoso Estado centralizado. Entendo por que
Mussolini adorava tudo isso; ele compreendeu que era aquela a base
intelectual para, bem, ele próprio.
Marx, lembremos, havia predito o desaparecimento do Estado. Estranho
notar, da mesma forma Lênin. Mas, longe de desaparecer, o Estado
expandiu-se e ampliou-se num monstro totalitário sob ele. Não bastando,
sua teoria continuava a invocar o desaparecimento do Estado. Nesse
sentido, o fascismo é a primeira ideologia de esquerda do século XX a
afirmar explicitamente a necessidade de um poderoso Estado centralizado.
Em meados da mesma época, no entanto, e derrotados pelos fascistas por
um fio, na América uma ideologia estreitamente relacionada se desenvolvia,
pedindo também um poderoso Estado centralizado. Essa ideologia era,
naturalmente, o progressismo.
Os fascistas, assim como os progressistas, buscavam uma transformação
radical da sociedade, que é a própria antítese do liberalismo clássico ou do
conservadorismo americano moderno. A única revolução com a qual os
conservadores americanos se aliam é a revolução americana, a revolução
que estabeleceu o capitalismo burguês, coisa que os fascistas e os
progressistas procuram transformar e derrubar. As raízes do fascismo
expõem por completo a conexão existente entre o fascismo e a esquerda
política dos Estados Unidos, e também a antítese entre o fascismo e a
direita política dos Estados Unidos.
Fascistas e progressistas, ambos enxergavam no Estado centralizado o
desenvolvimento lógica de tudo o que eles representavam. O problema não
é falar sobre a nação dos produtores e os interesses da nação, mas quem
decide quais são seus verdadeiros interesses? Os socialistas afirmam ser a
favor da redistribuição equitativa da renda e da riqueza, mas quem
determina o que é equitativo e quem faz a verdadeira redistribuição? A
essas perguntas, os fascistas responderam: nós determinamos, por meio do
instrumento do poderoso Estado centralizado. E essa também é, na
América, a resposta que os progressistas de hoje dão.
Além disso, os fascistas adotaram uma política econômica estritamente
paralela e, em muitos demais aspectos, também idêntica ao progressismo
atual. A essa política Mussolini deu o nome de “corporativismo”, mas um
termo mais descritivo seria capitalismo estatal. Mussolini imaginava um
poderoso Estado centralizado dirigindo as instituições do setor privado,
fazendo com que, à força, a prosperidade privada deste fosse posta em
consonância com a prosperidade nacional. Não é exatamente assim que os
progressistas consideram o controle do governo federal sobre bancos,
companhias financeiras, companhias de seguro, plano de saúde, energia e
educação? Embora a esquerda americana de hoje não se atreva a invocar o
nome de Mussolini, aquele que no meio dela for honesto terá de admitir que
Mussolini e seus companheiros fascistas é que foram os precursores da
esquerda americana atual; foram aqueles que lhe abriram o caminho.
Capítulo Quatro
Um Segredo do
Partido Democrata
Nos pensamentos de Hitler para o futuro, a Alemanha lidaria com
os eslavos da mesma forma como os norte-americanos lidaram
com os índios. Ele disse, certa vez, que o rio Volga, na Rússia,
seria o Mississippi da Alemanha.1
Timothy Snyder, Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin
[Terras de Sangue: a Europa Entre Hitler e Stalin]
Os Campos de Escravos
e os Campos Nazistas
Agora passemos da remoção indígena para a escravidão. À primeira
vista, parece difícil comparar uma fazenda de escravos americana do século
XIX com os campos de concentração alemães do século XX. Estes eram
criações industriais modernas, aqueles pareciam ecos antiquados de uma era
passada. No entanto, em 1959, o historiador Stanley Elkins revolucionou a
história comparada de ambas as instituições. Assim como Marc Buggeln
usou o conceito de trabalho escravo para elucidar o sistema do campo de
concentração, Elkins usou o conceito de campo de concentração para
elucidar o estudo daquele sistema escravagista.
Elkins parte de uma compreensão assustadora. Ele entendeu que, até
hoje, os retratos estereotipados da escravidão sulista não só perduram na
literatura, mas também na experiência contemporânea. É possível enxergar,
em outras palavras, as subservientes “casas de negros” e os rebeldes
“negros do campo” sobre os quais os escravos e donos de escravos falavam.
Em outras palavras, os estereótipos não eram ficções racistas, que não
seriam tão persistentes, diz Elkins, a não ser que tivessem ao menos um
núcleo de verdade.
Elkins encontrou um estereótipo particularmente instigante: o do cafuzo
[Sambo] extravagante, desencanado, semi-idiota. Elkins observa: “Seu
comportamento era cheio de tolices infantis e sua conversa inflada de
exageros pueris”. O cafuzo, em outras palavras, é uma criatura infantil que
não amadureceu, jamais atingiu a hombridade. O cafuzo é personagem
persistente na literatura e no teatro do início do século XX. De onde veio o
cafuzo, indaga Elkis? Aqui ele não está se referindo ao cafuzo literário ou
artístico, mas ao real, à personalidade negra real que corresponde a esse
personagem estranho e ridículo.
Ao pensar nisso, Elkins teve uma súbita epifania. Ele lembrou que, nos
campos de concentração alemães, os internos descobriram, após o choque
inicial do deslocamento, que as regras do mundo exterior não se aplicavam
ali. Olhando ao redor, eles viram que os prisioneiros sobreviventes
desistiram completamente da dignidade e responsabilidade que, estivessem
do lado de fora, lhe caberiam. Eles se transformaram em seres infantis,
quase como crianças, em sua dependência e conformidade com as
autoridades. “O humor deles foi atingido por uma tolice e eles riam feito
crianças quando algum deles soltava um pum”.26 Em suma, aqui, num
cenário tão distante e pouco familiar, apareceu algo como o personagem
cafuzo, tão vividamente identificado como habitante da fazenda de escravos
democrata.
Ademais, Elkins observa, havia, nos campos nazistas, judeus e outros
presos que foram designados Kapos, isto é, prisioneiros postos na função de
supervisionar os esquadrões de trabalho chamados Kommandos, sem contar
que exerciam também o papel de escreventes ou eram aqueles que
registravam a rotina diária sob a supervisão da equipe da SS alemã. Os
sobreviventes dos campos disseram em entrevistas que os Kapos
basicamente assumiram o papel dos nazistas. Eles eram tão severos quanto,
ou até mesmo mais rígidos; alguns deles chegaram a se vestir e a falar como
tais. Em suma, eles assumiram o papel daqueles que os oprimiam. Logo, eis
aqui um segundo tipo, não o cafuzo, mas não menos desfigurado e estranho.
Como isso pôde acontecer? Elkins percebeu que as fazendas de escravos
democratas na América e os campos de concentração nazistas tinham algo
em comum. Ambos eram sistemas fechados em que os internos viviam num
mundo separado, em grande parte selado do mundo exterior.
Consequentemente, teoriza Elkins, o ritmo ordinário dos escravos nas
fazendas e dos internos dos campos de concentração foi corrompido e
transtornado a tal ponto que acabou criando novas personalidades —
personalidades anormais e distorcidas, sem paralelo no mundo normal.
No caso do cafuzo como personagem peculiar, Elkins nota que ele
simplesmente não existia na América do Sul, cujo sistema sustentava a
escravidão, mas sem o cafuzo. E por quê? Porque, respondeu Elkins, a
escravidão sul-americana não era um sistema fechado. Mesmo os escravos
da fazenda viviam em um mundo mais amplo, sob a proteção de seus
senhores da Coroa espanhola e da Igreja Católica. Nas fazendas democratas
do Sul dos EUA, em contraste, o escravo adulto era despojado de suas
responsabilidades masculinas usuais — homens maduros eram tipicamente
chamados de “garotos” —, resultando nessa criatura infantilizada chamada
cafuzo, a qual Elkins chama de a “perpétua criança”.27
Toda a comunidade de estudiosos do escravagismo logo percebeu que o
livro de Elkins havia levado o debate a um novo patamar. Quase duas
décadas após ser publicado, a editora da Universidade de Illinois lançou a
obra The Debate Over Slavery: Stanley Elkins and His Critics [O Debate
Sobre a Escravidão: Stanley Elkins e Seus Críticos], em que os principais
estudiosos da área responderam à tese de Elkins, que depois devolveu com
uma réplica. O falecido Eugene Genovese, talvez o mais conhecido
estudioso em escravidão da América, considera o livro de Elkins “um dos
ensaios históricos mais influentes da nossa geração”.28
Voltarei à tese, mas primeiro quero abordar um assunto que Elkins
evitou. Ele insistiu que não tinha a intenção de fazer uma análise comparada
das duas instituições em sua realidade, entre a fazenda de escravos e os
campos de concentração nazista. O autor não entra em questões como
itinerário, dieta, administração, de que modo eram tratados os escravos
cativos e os internos, ou as ideologias subjacentes que sustentavam ambos
os sistemas. Elkins deixa implícito que eram regimes tão diferentes que, na
maioria dos aspectos, seriam incomparáveis.
Discordo. E suspeito que Elkins não tenha se aventurado por
desconhecer parcialmente os campos de concentração nazistas. (Ele
certamente não desconhecia as fazendas de escravos). Elkins parece derivar
boa parte do que sabe a respeito dos campos de concentração a partir do
trabalho do sociólogo Bruno Bettelheim, ele mesmo um sobrevivente de
Buchenwald e Dachau e autor de um estudo inovador, Individual and Mass
Behavior in Extreme Situations [O Comportamento Individual e das Massas
em Situações Extremas]. No entanto, Bettelheim não tentou produzir uma
pesquisa abrangente sobre os campos, mas simplesmente destacou a
transformação do comportamento humano em condições de sobrevivência
extrema. Meu propósito de chegar aonde Elkins temeu pisar não é miná-lo,
mas avançar ainda mais a sua tese, para mostrar que ele realmente
subestimou os paralelos.
Acomodações e alimentos: a estrutura física dos campos de concentração
nazistas, e não a das fazendas, aproximava-se mais do sistema carcerário. O
típico campo de concentração tinha um quartel, uma oficina, um escritório
administrativo, uma enfermaria, uma prisão e um crematório. (O
comandante e a equipe da SS residiam fora das instalações). Já as fazendas
de escravos eram construídas de forma um tanto diferente. Elas geralmente
consistiam na mansão do senhor de escravos — a chamada Casa-Grande
—, senzalas em ruínas, possivelmente uma oficina e campos para plantação
de arroz ou algodão.
Os campos nazistas eram segregados por sexo, enquanto as senzalas se
formavam com habitações familiares contendo homens, mulheres e
crianças. Não obstante, o conteúdo físicos tangível de cada compartimento
ou habitação era bastante semelhante em ambos os casos: nada mais do que
um leito e um cobertor, um banheiro ou um penico e, quem sabe, uma
cadeira. Para o campo de Ravensbruck, a historiadora Sarah Helm relata
que as únicas provisões eram um prato, um copo, alguns utensílios, uma
escova de dentes, um pedaço de sabão e uma pequena toalha.29
Em termos de alimentação, os escravos estavam bem melhores, já que
recebiam porções regulares de carne e vegetais, enquanto os presos nos
campos nazistas recebiam pouco mais que uma sopa de aveia rala, pão e
água. Elie Wiesel, aprisionado em Auschwitz e depois em Buchenwald,
conta que sua ingestão diária consistia em uma “tigela de sopa” e uma
“crosta de pão velho”. Em Ravensbruck, as mulheres pareciam estar numa
situação um pouco melhor; aos domingos, elas recebiam um “bocado de
geleia, um tablete de margarina e uma salsicha”, e também eram
autorizadas a pegar dinheiro de casa e comprar bolachas e biscoitos na loja
da instalação local.30 A desnutrição, problema episódico no regime escravo
democrata, foi crônica nos campos de concentração nazistas.
Seja a fazenda de escravos dos democratas, seja o campo de
concentração nazista, ambos os regimes eram selados do mundo exterior,
demarcados, em alguns casos, por uma cerca alta ou arames farpados,
vigiados por guardas, nos campos, ou capatazes, nas fazendas, às vezes
auxiliados por cães treinados. Em ambos os casos, os cativos ficariam lá por
toda a vida; aqueles que entravam nunca mais sairiam, fato para ambos os
sistemas. Assim, Elkins não poderia estar mais certo de que esses eram
sistemas fechados, mundos para si mesmos, completamente separados do
mundo exterior.
Rotina de trabalho: aqui o termo “trabalho escravo” aplica-se igualmente
ao sistema das fazendas democratas e dos campos de concentração. O
trabalho começava com o nascer do sol e acabava ao anoitecer: era
contínuo, persistente e incessante. Enquanto a maioria dos escravos
trabalhavam em plantações de algodão, a maior parte dos cativos nos
campos de concentração trabalhava em locais de construção e pedreiras.
Durante a maior parte do tempo que passou em Auschwitz, Elie Wiesel
trabalhou na construção “onde, por doze horas diárias, arrastava pedras
pesadas”.31 Em ambos os sistemas o trabalho era principalmente braçal,
não qualificado ou pouquíssimo qualificado, embora também houvesse
tarefas que exigiam habilidade especializada como soldagem, carpintaria,
alvenaria e eletricidade, serviços atribuídos a um pequeno subconjunto de
prisioneiros um pouco mais qualificados.
Escravos e prisioneiros eram obrigados a trabalhar. O tempo trabalhado
dos escravos costumava ser de seis dias por semana, exceto na época de
plantação, e recebiam folga em virtude do feriado de Natal, que
normalmente era comemorado com música e um banquete. Os prisioneiros
nazistas trabalhavam todos os dias, sem feriados, sem festa. Se desse uma
pausa no trabalho, o escravo provavelmente seria açoitado; agora, se um
prisioneiro nazista parasse, ele provavelmente seria espancado ou baleado.
Obviamente, em nenhum dos casos os trabalhadores eram pagos, embora os
proprietários de escravos e os capatazes por vezes oferecessem incentivos
para trabalhar, incluindo ao permitir que escravos ficassem com parte da
produção. O único pagamento que os prisioneiros dos campos nazistas
recebiam era a chance de viver e trabalhar por mais um dia.
Os limites do poder absoluto: os democratas senhores de escravos não
possuíam, por lei, poder absoluto sobre seus escravos. Em todos os estados
sulistas, o assassinato de um escravo era proibido. Na maioria dos estados,
formas extremas de mutilação e ferimento também eram proibidas. Mas os
donos de escravos tinham o poder de facto, porque teriam o direito de
reivindicar invariavelmente que o escravo resistira à autoridade ou
inventariam alguma outra desculpa, medidas nas quais os tribunais
acabavam acreditando.
Com açoites e outras punições, os senhores de escravos democratas
possuíam uma autoridade praticamente desenfreada. Em 1829, no caso
Estado vs Mann, o juiz Thomas Ruffin decidiu o caso em que determinado
dono foi acusado de ferir gravemente seu escravo. Ruffin, embora
democrata, era relativamente humanitário, e disse que sua consciência se
revoltava ao permitir que o abuso ficasse impune. Apesar disso, declarou,
ele precisava unir-se ao senhor de escravos porque o “objetivo da
escravidão é o lucro do senhor” e a tarefa do escravo é “labutar duro para
que outro possa colher os frutos”.32 Tal sistema só poderia sobreviver se a
vontade do senhor fosse, praticamente falando, absoluta.
Ironicamente, o que mais protegia os escravos, se seus senhores
democratas tendessem à crueldade ou ao assassinato, era a própria posição
de posse, bem ou propriedade. Wolfgang Sofsky defende esse ponto em seu
livro The Order of Terror [A Ordem do Terror], um estudo sobre a vida nos
campos de concentração. Sofsky observa que, ao contrário dos escravos, as
vítimas dos campos de concentração “não eram propriedade pessoal desse
ou daquele senhor, mas detentos de uma instituição. Eles não pertenciam a
ninguém”. Assim, “os prisioneiros não tinham valor nem preço”.
Em contraste, “o escravo tinha valor e preço de mercado. O dono não
adquire para si escravos a fim de matá-los, mas tem por objetivo colocá-los
para trabalhar em benefício próprio”.33 Os escravos custavam entre 1 200 e
1 500 dólares no período entre 1830 e 1860. Isso significa que os senhores
democratas tinham grande investimento em seus escravos. Os donos não
desejavam danificá-los, cujo valor, afinal, decairia; em outras palavras, não
desejavam fazê-lo pelo mesmo motivo que você não gostaria de danificar
seu próprio carro.
Por mais marginal que fosse a proteção do escravo de seu senhor
democrata, os internos do campo nazista não tinham proteção de seus
algozes, que tinham total discrição para brutalizá-los e matá-los. Por razão
disso, não há sequer comparação quanto ao nível de perigo que sentiam os
presos do campo de concentração em relação aos escravos. Estes temiam
seus senhores e capatazes, mas não estavam em constante risco de morte;
aqueles, sim, estavam. O perigo era maior, é claro, para os judeus, mas
todos os presos sentiam com força esse medo.
Assim como com a escravidão, a escassa proteção que os presos dos
campos nazistas conseguiram foi por ocasião da utilidade que tinham para o
regime nazista. Quando as condições do campo melhoraram, Buggeln
conta: “tinha pouco que ver com o considerar a humanidade” e era, na
verdade, “um reflexo daquilo que se exigia da mão de obra” no regime.
É conveniente lembrar que, Buggeln comenta, no fim da guerra, os
nazistas pediram aos oficiais da SS que alimentassem melhor os
trabalhadores dos campos de concentração, que lhes dessem roupas de
inverno apropriadas e permitissem oito horas de sono, sem interrupção.
Foram regras que chegaram a se aplicar mesmo aos judeus, dando a
entender que, prevendo o fim, os nazistas estavam tão desesperados por
trabalhadores que se “dispuseram a rescindir temporariamente de uma das
principais exigências ideológicas do nazismo — livrar o Terceiro Reich dos
judeus”.34
Rebeliões e fugas: certa feita, Andrew Jackson ofereceu a recompensa de
cinquenta dólares a quem capturasse um fugitivo de sua fazenda “e dez
dólares a mais por cada cem chicotadas, até totalizar trezentas, a quem as
aplicasse ao fugitivo”.35 Fugas eram comuns na rotina dessas fazendas. Os
donos procuravam leis — A Lei do Escravo Fugitivo — que obrigassem os
estados livres a devolver fugitivos. O senhorio passou a empregar
patrulheiros a fim de impedir que os escravos tentassem escapar e
contratavam caçadores para recuperar fugitivos. Os jornais democratas
anunciavam “cachorros negreiros” para farejar fugitivos escondidos nas
florestas ou nos pântanos. Rebeliões por parte dos escravos eram um tanto
incomuns, e é por isso que sabemos sobre as poucas existentes, tais como as
rebeliões levantadas por Nat Turner e Denmark Vesey. No entanto, mesmo
estas falharam e os autores foram capturados e executados.
“Pouquíssimos prisioneiros escaparam dos campos”, relata Sofsky em
seu estudo The Order of Terror.36 Sofsky conta algumas centenas de
fugitivos, em si um pequeno milagre, já que os campos eram grandes
fortalezas. Sofsky salienta que as filiais menores ofereciam melhores
chances de fuga, embora até mesmo ali fosse necessário grande
planejamento. Ademais, civis da população local poderiam entregar o
fugitivo de volta aos campos.
Quanto às rebeliões, Sofsky contabiliza apenas três: uma em Treblinka,
outra em Sobibor, em 1943, e outra em 1944, em Auschwitz. A revolta de
Treblinka envolveu um ataque às cercas perimetrais, por onde em média
duzentos prisioneiros fugiram, perseguidos por guardas da SS em
caminhões e a cavalo. Sofsky estima “ser improvável que mais de cinquenta
ou sessenta dos que escaparam tenham sobrevivido para presenciar o fim da
guerra”. A rebelião de Sobibor foi um fracasso e resultou em cerca de cem
presos executados. Da mesma forma na rebelião de Auschwitz, todos os
fugitivos, conseguindo matar três oficiais da SS e ferir outros doze, foram
caçados e mortos.37
A mensagem essencial é a seguinte: com regimes fechados
profundamente opressivos como os campos nazistas e as fazendas dos
democratas, os oprimidos, por mais motivados que estivessem em se rebelar
e derrubar o sistema, simplesmente não conseguiam fazê-lo. Ainda que
desejosos, mas sem poder. Em última análise, tanto as fazendas de escravos
quanto o regime dos campos de concentração nazistas tiveram de ser
derrubados pelo lado de fora, pela invasão militar externa. Os Aliados e o
Exército dos Estados Unidos, cada qual tendo seu papel, foram os
libertadores dos prisioneiros e dos escravos.
Ideologias de inferioridade: o termo “escravo” [slave] deriva-se, na
verdade, do termo “eslavo” [slav]. Por certo os escravos do regime nazista
eram em grande parte eslavos e, em termos raciais, brancos. Mesmo assim
os nazistas consideravam os eslavos — bem como consideravam os judeus
e os russos — como Untermenschen, ou sub-humanos. Dentro dos campos
nazistas, havia uma hierarquia de inferioridade que determinava o
tratamento dos presos: os prisioneiros alemães eram considerados os mais
elevados e tratados melhor, enquanto os judeus — especialmente os judeus
não alemães — eram considerados os mais inferiores e tratados da pior
forma.
Os nazistas não apenas desenharam uma simples demarcação entre
captores e cativos; havia também subcategorias que estabeleciam uma
hierarquia ou gradação entre as populações cativas. Entre os democratas
donos de escravos, em contraste, havia uma única linha racial. Nem todos
os proprietários de escravos eram brancos — havia, inclusive, um número
substancial, embora proporcionalmente pequeno, de proprietários negros.
Mas todos os escravos eram negros. Conquanto ambos, nazistas e
democratas, tenham aplicado um código racial em seus sistemas de
escravidão, o código nazista era mais variado e multifacetado do que o dos
democratas.
É curioso perceber que os nazistas não precisaram defender sua
ideologia, pois não enfrentaram nenhum tipo de questionamento interno. Os
democratas, no entanto, enfrentaram oposição, primeiro do Partido Whig e
depois do Partido Republicano, sem contar a forte oposição do pequeno
grupo de republicanos conhecidos como abolicionistas. Isso posto, os
democratas desenvolveram uma ideologia abrangente pró-escravidão, na
qual tinham a cara de pau de afirmar que a escravatura era boa não só para
o dono, mas também para seu escravo.
George Fitzhugh, escritor democrata, argumentou que o escravos eram
como animais, nascidos para serem dominados por seus donos e que “a
equitação lhes faz bem”. Outros democratas, como o senador John C.
Calhoun, insistiram que a escravidão foi uma “escola civilizatória”, embora,
aparentemente, não fosse uma escola na qual alguém pretendesse se
graduar.38 Convém, nesse ponto, desfavorecer os democratas em
comparação aos nazistas. Mesmo estes não tiveram a audácia e a
desonestidade intelectual de sugerir que os Untermenschen e os judeus
eram, de alguma forma, beneficiados com o regime nazista.
Legado Duradouro
Volto-me a Elkins agora, para resumo e uma única observação final.
Resumindo, mesmo como um sistema fechado, a escravidão, tendo sido de
longa duração, produziu ao longo desse tempo uma cultura afro-americana
distinta. Eugene Genovese, em sua obra Roll, Jordan, Roll, bem como na
crítica mais compreensiva que faz a Elkins, destaca esse ponto. Os
escravos, por exemplo, desenvolveram um repertório de canções, histórias e
relacionamentos — às vezes relacionamentos vitalícios — que, em última
análise, ajudaram a formar uma identidade negra nos Estados Unidos.
Aqui não existe nenhum paralelo com os campos de concentração, em
parte por causa da natureza do ambiente e em parte porque duraram apenas
doze anos, de 1933 a 1945. Em geral, os prisioneiros dos campos não
estabeleceram relacionamentos íntimos, em parte porque era algo
desencorajado pelos guardas e em parte porque os prisioneiros perceberam
que a pessoa com quem foi feita a amizade na semana anterior poderia ser
sumariamente executada na semana seguinte. Assim, as únicas mudanças
comportamentais que os campos nazistas produziram estavam na natureza
do adaptar-se depressa à vida nos campos.
Segue-se disso, portanto, o fato de o legado cultural da escravidão ter
ultrapassado a escravidão, enquanto o legado cultural dos campos de
concentração — incluindo as peculiares desfigurações de personalidade que
Elkins detectou — provou ser um fenômeno temporário.
O fenômeno do muselmanner parecido com zumbis, substituto nazista
dos Kapos — tudo desapareceu. Não faz sentido dizer que os judeus ou os
europeus do Oriente atualmente apresentam quaisquer das características
que se desenvolveram dentro desse sistema temporariamente fechado.
No caso do negro americano, no entanto, a situação é bastante diferente.
Embora terminada em 1865, a escravidão perdurou por mais de duzentos
anos, e teve o seu maior alcance durante a era da supremacia democrata no
Sul, desde a década de 1820 até a década de 1860. Muitas das
características da antiga fazenda de escravos — a moradia em ruínas, a
família quebrada, o alto índice de violência usada para manter a ordem,
poucas oportunidades e escassas perspectivas de avanço, o senso
generalizado de niilismo e desespero — são evidentes em cidades urbanas
governadas por democratas como Oakland, Detroit, Baltimore e Chicago.
“Havia uma subclasse distinta de escravos”, escreve o cientista político
Orlando Patterson, “que vivia de forma fútil ou perigosa. Era o negro
incorrigível, de quem a classe de donos de escravos sempre reclamava. Eles
fugiam. Eram ociosos. Mentiam compulsivamente. Eles pareciam imunes
ao castigo”. Em seguida, Patterson chega ao clímax: “Pode-se traçar a
subclasse, como fenômeno social persistente, neste grupo”.39 A esquerda
não gosta de Patterson por ser ele um estudioso negro oriundo do oeste da
Índia e propenso a proferir verdades politicamente incorretas.
Pessoas mentirosas não gostam disso. Mas quantas mentiras você pode
contar? Quem pode negar que os negros ainda vivem sob os efeitos daquilo
que os democratas lhes fizeram? Hoje os negros sofrem uma taxa de
ilegitimidade na família de aproximadamente 80%. Não estou dizendo que
tudo se deve à escravidão, mas quem pode dizer que, em parte, não se deve
ao legado da escravatura? A taxa de criminalidade entre os negros é muito
maior, com altos índices de homicídio de negros contra negros. Quem pode
dizer que não é a consequência, ao menos parcial, da desvalorização que a
vida negra sofreu nas mãos do senhorio democrata? W. E. B. Du Bois,
estudioso democrata, certamente o fez.
São perguntas, e não respostas, embora pense que Du Bois tenha
acertado nesses pontos. Se assim for, significa que o progresso que fizemos
na erradicação dos campos de concentração e da escravidão não está nada
completo. Certamente, ambas as instituições foram derrotadas pela guerra e
permanentemente encerradas. Contudo, o legado de um deles continua.
Enquanto o legado nazista alemão mantém-se sobretudo na memória, o
legado dos democratas senhores de escravos na América ainda retém
cicatrizes feias na vidas de muitos afro-americanos.
Capítulo Cinco
Os Racistas
Originais
Foi com a instituição das Leis de Nuremberg, em 1935, que a
Alemanha tornou-se um regime racista de pleno direito. As leis
americanas foram os principais precedentes estrangeiros para tal
legislação.1
George Fredrickson, Racism: A Short History
[Racismo: uma Breve História]
Transferindo a Culpa
Meu plano de origem para este capítulo era demonstrar o
desenvolvimento paralelo entre o racismo no Partido Democrata, na
América, e o racismo, um tipo especial, o antissemitismo, na Alemanha
nazista.
Eu não fazia ideia de que o racismo dos democratas realmente havia
moldado e influenciado as políticas da Alemanha nazista. Sabia, sim, que
um precedeu o outro, mas não que um ajudou a causar o outro. Sou
agradecido, portanto, a Whitman e a outros por me mostrarem as relações
causais entre esses dois tipos de fanatismo.
Minha gratidão é restringida, no entanto, por reconhecer que esses
estudiosos são quase todos praticantes da grande mentira. Whitman
constantemente aponta o dedo culpando “a América”. Ele escreve: “A
legislação americana permaneceu um constante ponto de referência
nazista”. Os nazistas “voltaram-se repetidas vezes ao exemplo americano”.
E conclui, “a supremacia branca americana proporcionou, para nossa
vergonha coletiva, alguns materiais bastante efetivos para o nazismo da
década de 1930”. Whitman quer para a América um lugar seguro “na
História mundial do racismo”.6
Ira Katznelson, outro praticante da grande mentira, revela um tom
diferente em seu livro Fear Itself [O Medo Em Si]. Como Whitman,
Katznelson tem dizeres reveladores sobre como os nazistas pareciam
favoráveis ao racismo dos democratas. Ele escreve:
Quando os americanos se queixaram do antissemitismo nazista, os
representantes do partido responderam citando os preconceitos
raciais do Sul, reivindicando um parentesco. O Volkischer
Beobachter, mais antigo jornal do Partido Nazista, costumava
desprezar os africanos e os afro-americanos.
Como grande parte da imprensa alemã, o jornal frequentemente
imprimia charges depreciando os negros, lembrando aos leitores que
as acomodações públicas do Sul eram segregadas, satisfazendo-se ao
relatar que negros, bem como os judeus alemães, não podiam dormir
nos vagões-dormitórios Pullman nem exercer o direito ao voto.
Quando o Partido Nazista começou a se mobilizar [...] Der
Weltkampf, seu periódico ideológico, reproduziu os discursos do
Mago Imperial da Ku Klux Klan sobre miscigenação. Falar de
linchamento tinha espaço favorito. Neues Volk celebrou o
linchamento ocorrido no Sul para proteger as mulheres brancas do
desejo desenfreado dos negros. O Volkischer Beobachter publicou
muitas histórias gráficas em apoio ao linchamento como ferramenta
para proteger a pureza sexual branca.
O periódico da SS, Schwarze Korps, afirmou que, se linchamentos
ocorressem na Alemanha como no Sul dos EUA, o mundo inteiro se
queixaria com indignação.7
Quão cativante tudo isso. Katznelson mostra como os nazistas estavam
conscientes e entusiasmados com o fanatismo no Atlântico, que eles
acreditavam ser paralelo e reforçar seu próprio fanatismo. Ainda assim,
note que, do mesmo modo como Whitman culpa “a América”, Katznelson
culpa “o Sul”. Nenhum deles diz: “os democratas”. Nenhum dedo de culpa
jamais identifica “os progressistas”. Eles nunca apontam para “a esquerda”.
Eis algo significativo, porque toda a legislação de segregação no Sul foi
aprovada por uma legislatura democrata, firmada no poder por um
governador democrata e executada por delegados democratas e autoridades
municipais e estaduais democratas. A maioria das leis antimiscigenação foi
aprovada em estados democratas. Os progressistas aprovaram a (racista) Lei
da Imigração de 1924 e a celebraram como uma vitória da ciência e do
planejamento progressistas. A Ku Klux Klan foi criada pelos democratas e
serviu durante trinta anos, nas palavras do estudioso progressista Eric
Foner, de “braço terrorista domesticado do Partido Democrata”.
O que Whitman poderia dizer em resposta? Ele poderia afirmar que
culpa “a América” porque os próprios nazistas citavam leis e precedentes
americanos. Certamente, os nazistas, vendo os Estados Unidos a milhares
de quilômetros de distância, poderiam ter pensado que as políticas racistas
no país eram, de alguma forma, o resultado de um consenso nacional. A
Alemanha nazista chegou, em determinado momento, a ter este consenso.
Mas não na América, como Whitman e Katznelson indubitavelmente
sabem. Eles entendem que as políticas racistas neste país emergiram de uma
grande luta entre dois partidos e duas ideologias rivais, datados da época da
escravidão e da Guerra Civil.
Isso posto, a grande mentira aqui envolve Whitman e Katznelson
transferindo a culpa dos verdadeiros culpados — os progressistas e os
democratas — para um “Sul genérico” e uma “América” ainda mais
genérica. Ao fazê-lo, ambos esperam por dois resultados. Primeiro, esperam
que os conservadores caiam nessa armadilha e corram em defesa do Sul e
da América. Isso faria dos conservadores os defensores do racismo, da
segregação e do terrorismo racial.
Com certeza, meu antigo colega da AEI (American Enterprise Institute),
Josh Muravchik, lamenta que Whitman tente relacionar as políticas nazistas
às políticas americanas. Muravchik não nega que os nazistas tenham
apelarado para exemplos americanos. Pelo contrário, ele pergunta, qual é o
problema? Em outras palavras, que diferença faz? Ele escreve: “Suponha,
por um momento, que os nazistas não tivessem encontrado inspiração
nenhuma em exemplos americanos. Não existiriam as leis de Nuremberg?
Se não houvesse modelo americano, um judeu a menos teria morrido nas
mãos de Hitler?”.8
Muravchik faz uma boa observação. Minha resposta às suas perguntas é
que, com as Leis de Nuremberg, as coisas podem parecer um pouco
diferentes, mas o veneno contra os judeus e outras populações-alvo teria
continuado sem cessar. Ninguém está dizendo que os nazistas aprenderam a
odiar os judeus através dos exemplos americanos de racismo, ou que os
Estados Unidos motivaram os nazistas a matar mais judeus. Antes, a
questão é que os nazistas descobriram uma maneira de institucionalizar seu
antissemitismo usando um precedente legal já existente no Atlântico. A esse
respeito, o racismo estabelecido neste país ajudou a estabelecer o racismo
naquele outro.
Ah!, infelizmente, por toda sua ingenuidade, Muravchik ficou preso em
um racismo reducionista, na vã tentativa de exonerar a América. Ele está
indo exatamente aonde Whitman e Katznelson esperavam que este fosse. O
que ele deveria fazer, em vez disso, é mostrar que não foi “a América” que
fez tudo isso — mas, sim, os democratas. Inconscientemente, Muravchik
acaba por encobrir o racismo do Partido Democrata, deixando a esquerda
salvaguardada.
Os praticantes da grande mentira, como Whitman e Nelson, têm um
segundo objetivo. Convém notar que se trata de transformar vilões em
heróis. Tirando a culpa dos democratas e progressistas então pretendem
pavimentar o caminho para que esses mesmos democratas se ofereçam
como solução ao racismo. À medida que a grande mentira se desenrola, de
alguma forma as pessoas que envenenaram a água reaparecem vestidas dos
encarregados de tratar a água. É uma fraude incrível.
Vejamos como Whitman, em artigo recente, tenta impingir as atrocidades
democratas louvadas pelos nazistas a Trump e ao GOP: “Oitenta anos
depois, ressurge um movimento político americano dedicado à proposição
de que a América deve voltar às origens brancas nacionalistas. Existem
novas leis em muitos estados outrora sob as leis de Jim Crow que limitam o
acesso ao direito de voto. E proibições que colocam em prática aquilo que
mais uma vez parece considerar alguns pretensos imigrantes como
‘indesejados’. Há figuras poderosas em Washington que parecem dispostas
a devolver-nos ao que aconteceu aqui. É momento de lembrar-se do passado
e permanecer vigilante”.9
Tolices extremamente vergonhosas de mais outro estudioso que um dia
já foi responsável! Para ver o quão enganosa é esta retórica, é conveniente
pesquisar a profunda relação entre o racismo nazista e o racismo democrata.
Cumpre, em primeiro lugar, analisar como o antissemitismo nazista, que, a
princípio, parece dramaticamente distinto do fanatismo democrata, na
verdade brota da mesma fonte, o que chamo de socialismo herrenvolk,
supremacista. Em segundo lugar, veremos como o terrorismo racial da Ku
Klux Klan antecipa, e até mesmo fornece o modelo operacional, o culto
fascista da violência, testemunhado na década de 1930 durante o alvoroço
assassino de Kristallnacht — Noite dos Cristais — e durante outras
depredações das tropas nazistas de assalto especializado, as Stosstruppen.
Por fim, veremos como Hitler e a classe governante democrata do Sul
chegaram a lamentar a violência aleatória e caótica contra minorias
específicas. Tendo uma vez consentido, Hitler posteriormente repreendeu o
que veio a chamar de “antissemitismo emocional” dos camisas pardas e
pediu que fosse substituído pelo “antissemitismo racional” da política do
governo.10 Os democratas do Sul chegaram ao mesmo parecer, lamentando
os linchamentos, a KKK e, no lugar, institucionalizando, tal como os
nazistas, uma repressão organizada da segregação e da discriminação,
ambas patrocinadas pelo Estado.
Cobrindo Rastros
Foi Hitler, aponta o historiador George Fredrickson, que “prejudicou o
nome do racismo”.28 Na verdade, Fredrickson enfatiza que o próprio termo
“racismo” não passou a ter uso genérico antes da década de 1930, então em
conexão com a ascensão do Terceiro Reich. Enquanto os antigos
progressistas deleitavam-se na ocasião de associar-se com Hitler, a partir da
Segunda Guerra Mundial eles passaram a trabalhar com afinco para
encobrir pistas e enterrar todo tipo de conexão entre a causa progressista e a
causa nazista.
Um importante documento, neste enorme projeto que é a grande mentira,
é o livro do historiador Richard Hofstadter, Social Darwinism in America
[O Darwinismo Social na América]. Interessante notar, o livro foi publicado
em 1944, antes que os Aliados libertassem os campos de concentração e as
atrocidades nazistas fossem totalmente expostas. Mesmo em 1944, no
entanto, ter associação com os nazistas tornou-se algo politicamente
radioativo, e daí que Hofstadter começou a trabalhar para redefinir o
darwinismo social, romper vínculos com o eugenismo progressista e
vinculá-lo à direita política.
Hofstadter, esquerdista uma vez já membro do Partido Comunista, disse
que se juntou ao partido porque “não gostava do capitalismo”. Mesmo
depois de romper com o partido, ele manteve animosidade. “Odeio o
capitalismo e tudo aquilo que o acompanha”.29 A estruturação da grande
mentira, agora por parte de Hofstadter, implicava redirecionar o darwinismo
social e transformá-lo no fundamento filosófico do livre mercado, ou
capitalismo laissez-faire. Isso garantiria que, no futuro, a culpa do
darwinismo social pudesse ser colocada sobre “a direita”.
Hofstadter construiu seu argumento em torno da frase do sociólogo
inglês Herbert Spencer, “a sobrevivência do mais apto”. Esta, insistiu
Hofstadter, é a essência do capitalismo laissez-faire. Precisamente falando,
esse aspecto visceral da ideologia darwiniana, prossegue Hofstadter, é o que
os empresários americanos mais acham conveniente no darwinismo social.
Hofstadter dedicou grande parte do seu livro a Spencer e ao sociólogo
americano William Sumner, que, de fato, invoca a retórica da sobrevivência
do mais apto para defender o capitalismo.
Sumner, no entanto, foi praticamente o único a fazê-lo. Hofstadter
parecia incapaz de localizar outros exemplos da América, nem preocupado
estava com indagar empresários americanos. Houvesse feito, certamente
teria descoberto que a maioria não tinha ouvido falar do darwinismo social.
Se homens assim tivessem alguma base filosófica para a profissão, muito
mais provável que fosse em Adam Smith ou Friedrich Hayek, não em
Charles Darwin ou Herbert Spencer.
No fim de seu livro, Hofstadter faz algumas rápidas referências à
conexão entre o darwinismo social e a eugenia. Mesmo assim ele deixa uma
clara impressão de que se tratava de uma menor associação e amplamente
inesperada; em certo ponto, ele chama a eugenia americana de
“capricho”.30 Era, porém, como já notamos, muito mais do que isso.
Hofstadter não diz nada a respeito da forma como o eugenismo dos
progressistas inspirou leis de esterilização e modelou programas
eutanásicos na América, coisas que reconhecidamente forneceram estrutura
para programas de esterilização e de eutanásia ao regime nazista.
Os progressistas foram depressa louvar a grande mentira de Hofstadter,
proclamando seu livro uma obra-prima, fator que o ajudou a tornar-se
modelo a ser seguido sobre o assunto. Desde então, mesmo os historiadores
simpatizantes de Hofstadter — como o historiador progressista Eric Foner,
ex-aluno de Hofstadter na Universidade Columbia — reconhecem que as
teorias do livro Social Darwinism in America [O Darwinismo Social na
América] são profundamente falhas. A obra, contudo, continua a definir a
sabedoria convencional para a esquerda.
Trabalhos subsequentes lidando com a eugenia, como o livro In the
Name of Eugenics [Em Nome da Eugenia], de Daniel Kevles, fazem apenas
poucas referências aos fundamentos progressistas do eugenismo e aos
estreitos laços entre eugenistas do Partido Progressista e eugenistas do
Partido Nazista. Mesmo a obra The Nazi Connection [A Interligação
Nazista], escrita por Stefan Kuhl, que documenta a íntima influência do
eugenismo norte-americano sobre a eugenia nazista, recai sobre o engano
de Hofstadter de que a própria eugenia é, em grande medida, uma causa
direitista. Assim, a influência de Hofstadter continua viva, na medida em
que seu trabalho ainda apoia e avança a grande mentira.
Em circunstâncias ordinárias, o engodo promulgado por Hofstadter teria
sido suficiente. Por meio dos seus esforços, a esquerda teria enterrado o
programa eugenista e transferido o estigma do darwinismo social para a
direita política. Com essa manobra, no entanto, a esquerda pretenderia
continuar com sua agenda eugenista. Consequentemente, era necessário
redefinir a própria eugenia, para que ela então pudesse se passar por algo
diferente. Mas até mesmo isso não seria suficiente. Dando outro nome à
eugenia e ainda visando explicitamente populações minoritárias, aos velhos
moldes nazistas, a esquerda demonstraria óbvio relacionamento com o
nazismo.
O desafio à esquerda era formular uma nova agenda, uma que
renomeasse a eugenia e incorporasse seu programa em um quadro novo e
mais amplo. A historiadora Angela Franks nota que esse quadro começou
sob o nome de “controle populacional”, nas décadas de 1960 e 1970.31
Inclusive, mesmo alguns eugenistas de renome do regime nazista como
Otmar von Verschuer declararam-se pesquisadores do controle populacional
e foram reintegrados na comunidade progressista que ativamente promovia
a causa. Todavia, durante as últimas décadas, a eugenia tem marchado sob
uma nova bandeira, a bandeira “pró-escolha”.
Margaret Sanger, eugenista ávida, hoje é celebrada pela Planned
Parenthood como preciosa defensora da “escolha”. É dificílimo de
encontrar nos folhetos da Planned Parenthood referências à eugenia e ao
papel pioneiro que Sanger exerceu na organização. Tudo isso faz parte da
grande mentira; a verdadeira Sanger opunha-se à escolha. Fácil notar, ela
defendia que as populações ricas, educadas e “aptas” deveriam ter mais
filhos, já as mais pobres, sem instrução e “inaptas” deveriam ter menos.
Sanger, à semelhança de Hitler, acreditava que escolhas reprodutivas
deveriam satisfazer os interesses maiores da sociedade e das espécies.
Sendo que Sanger rejeitava a “escolha”, como a agenda pró-escolha da
Planned Parenthood continua a avançar os objetivos originais de Sanger?
Afinal, uma verdadeira agenda pró-escolha parece transferir a decisão do
aborto para a mãe. Perceba a profunda tragédia que é o aborto; não se trata
de uma mãe meramente matando uma criança, mas de uma mãe matando a
sua própria criança. O papel do Estado é simplesmente autorizar o
assassinato, torná-lo legal.
Embora a mãe faça a escolha, sua escolha não é feita no vácuo; a
Planned Parenthood faz propaganda ávida em prol do aborto e também
lobby em favor do financiamento federal para o procedimento abortivo. Se
o governo não pagar, a esquerda insiste, então as mulheres pobres terão
dificuldade de abortar. Com o subsídio do governo, no entanto, a esquerda
pode garantir não só que a população mais pobre possa realizá-los, mas —
o que é de fato o caso — também que a maioria dos abortos neste país seja
realizada pelas proles minoritárias e mais pobres. Inacreditável dizer, o
antigo desejo eugenista é mais uma vez satisfeito, mas desta vez no quadro
supostamente neutro da “escolha”.
Para entender o radicalismo do apoio da esquerda ao aborto financiado
pelo governo federal, basta considerar que o aborto como direito não é
mencionado na Constituição. No entanto, ainda que fosse considerado
direito constitucional, nenhum dos outros direitos fundamentais é
financiado pelo governo. Ainda que a Primeira Emenda disponha o direito à
livre expressão e à livre prática da religião, ainda assim nenhum deles é
subsidiado pelo governo. A Segunda Emenda garante o direito de portar
armas, mas o governo não as paga. É direito constitucional o reunir-se em
grupos para determinados fins, mas o Estado não subsidia tal direito.
Assim, a esquerda quer um tipo de apoio federal para a causa do aborto que
nenhum desses direitos fundamentais recebe. Ademais, o apoio federal
transforma o aborto, que antes era um homicídio sancionado pela força
estatal, num assassinato patrocinado pelo Estado.
Até hoje, mais de cinquenta milhões de crianças não nascidas foram
mortas na América após a decisão da Suprema Corte em 1973, no caso Roe
vs Wade. Verdade seja dita: trata-se de um genocídio numa escala que
supera o Holocausto nazista. O que é o aborto, senão uma eutanásia para
bebês? Desse modo a esquerda prosperou além dos sonhos mais selvagens
de Sanger, mesmo após desenterrá-la com seus registros eugenistas e
transformá-la em ícone cultural, da forma como Mengele gostaria de ser
lembrado. Quão orgulhosos e até mesmo invejados Sanger e os nazistas
seriam se estivessem vivos para contar história. Para os progressistas, a
grande mentira valeu muitíssimo a pena.
Onde a esquerda obteve essa nova estratégia eugenista? Pensei muito
acerca disso, então finalmente entendi. Eles a conseguiram desenterrando o
próprio passado, a partir de uma abordagem democrata centenária, o
método de lidar com a escravidão. “Escolha”, afinal, era a palavra de ordem
dos democratas do Norte liderados pelo senador Stephen Douglas, de
Illinois. Douglas lançava mão de sua doutrina da “escolha” para apoiar a
instituição da escravatura sulista enquanto, ao mesmo tempo, era ainda
capaz de garantir aos eleitores do Norte que ele próprio não estava
defendendo a escravidão.
Cabe lembrar o significado central da infame doutrina de Douglas acerca
da “soberania popular”. Ele defendia que cada estado, cada território e cada
comunidade tinham de decidir por si se queriam ou não a escravidão.
Douglas dizia não endossar pessoalmente a escravidão, mas que sua opinião
sobre o assunto era irrelevante. Vivemos em um país grande, dizia ele, em
que as pessoas possuem opiniões diferentes. Portanto, concordemos em
discordar e coloquemos o poder de decisão nas mãos de cada estado ou
comunidade. Dessa forma o direito de escolha passa a ser supremo. A
soberania popular, em outras palavras, é uma ideologia pró-escolha.
O argumento de Douglas é idêntico na forma, e quase idêntico na
substância, à ideologia pró-escolha agora empregada pela esquerda para
defender o aborto como direito. Toda a cadência da retórica de Douglas é
completa e estranhamente familiar. Claro que a esquerda de hoje fala em
termos de escolha individual, enquanto Douglas falava em termos de cada
comunidade fazendo uma escolha por si mesma. Mas essa é a única
diferença, e ela é insignificante.
No mais, as duas posições formam a mesma posição. Ouvimos hoje da
esquerda a mesma afirmação de “escolha” que Douglas asseverava há quase
um século, mas sem considerar o conteúdo de tal escolha. Assim como
Douglas ignorou os direitos dos escravos, presumindo que eles não teriam
interesse pela própria liberdade, de igual maneira a esquerda ignora o
direito à vida da prole em desenvolvimento, pressupondo que eles não têm
interesse por viver ou morrer. O feto de hoje, tal qual o escravo de
antigamente, é considerado uma ferramenta para benefício e conveniência
de outra pessoa. Ele ou ela não é um ser humano, ou ao menos é um ser
humano, mas totalmente descartável. Nesse sentido, a mentalidade nazista,
letal e desumanizadora, perdura.
Capítulo Sete
Führers
Americanos
Muitas passagens no livro do presidente Roosevelt poderiam ser
escritas por um nacional-socialista. Supõe-se que ele tenha uma
afinidade considerável com a filosofia do nacional-socialismo.1
Crítica do Völkischer Beobachter, jornal nazista, ao livro
de Franklin D. Roosevelt intitulado Looking Forward
Aconteceu Aqui
Voltando aos Estados Unidos, vinda de Roma, onde trabalhava de
correspondente para o jornal New York Times, Anne McCormick notou
algo muito marcante. A atmosfera em Washington dois meses após a posse
do presidente Franklin D. Roosevelt (FDR), ela escreveu para o Jornal em 7
de maio de 1933, “é uma estranha reminiscência da Roma nas primeiras
semanas após a Marcha dos camisas negras”. McCormick achava aquilo
estranho, porém agradável. E mencionou a semelhança não para criticar o
então presidente, mas para louvá-lo. Do que ela mais gostou em FDR foi
que ele estava agindo feito Mussolini e modelando o Estado do New Deal
conforme o fascismo italiano.
Em Roma, McCormick ganhou a reputação de ser um dos muitos
correspondentes estrangeiros progressistas apaixonados pelo regime de
Mussolini. Ela costumava relatar acerca da “solidariedade” que os italianos
sentiam pelo “impulso” à ditadura de Mussolini. “É possível perceber”,
escreveu algumas semanas após a incursão ao território etíope comandada
por Mussolini, “uma manifestação notável — uma nação movendo-se numa
espécie de transe —, encantada, convicta de ser invencível em força”.
Quanto a McCormick, o historiador John Diggins escreve no livro
Mussolini and Fascism [Mussolini e o Fascismo] que “por quase vinte anos
ela carregou um caso de amor político com uma Itália idealizada e por seu
nobre líder”.
De volta à América, McCormick sentia igual paixão por FDR, cuja
administração, escreveu ela, “prevê uma federação de indústria, trabalho e
administração pública segundo os moldes do Estado Corporativo tal como
existe na Itália”. O Congresso havia aprovado uma legislação que
“conferiria ao presidente a autoridade de ditador”. Era “uma espécie de
poder unânime de procuradores” em que “todos os demais poderes —
indústria, comércio, finanças, trabalho, do fazendeiro ao chefe de família,
estado e cidade — praticamente abdicam em seu favor”. O estado de
espírito nacional, bem como o de McCormick, era a favor da ditadura. “A
América hoje literalmente pede ordem. Ninguém está lá muito incomodado
com a ideia de uma ditadura”.7
Ao mesmo tempo, outros na mídia comparavam FDR com o novo líder
da Alemanha, Adolf Hitler. Hitler, tal qual FDR, ascendeu ao poder por
meio do processo democrático. Claro que até então ele havia se tornado,
como Mussolini, um ditador, termo que não tinha o mau cheiro que tem
agora. McCormick e outros não hesitaram em chamar FDR de ditador ou
mesmo exortá-lo a tornar-se um. Os ditadores eram vistos como figuras
resolutas, que de fato faziam as coisas acontecer. Eles alegavam representar
a vontade genuína e o espírito de seu povo.
A visão da esquerda na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos era a
de que sociedades estruturadas funcionariam melhor sob a mão firme de um
único líder. “Hitler é a Alemanha e a Alemanha é Hitler”, gostava de dizer
Rudolf Hess. Esta era a expressão clássica do que se pode chamar de
princípio da infalibilidade da liderança, ou Führerprinzip. Da mesma forma
os italianos gostavam de dizer que “Mussolini é a Itália e a Itália é
Mussolini”. FDR e os progressistas apreciavam essa forma de pensar. O
Führerprizip na Alemanha e seu equivalente na Itália refletiam de perto a
própria visão de FDR — ecoada na mídia progressista —, de que FDR é a
América e a América é FDR.
Esse sentimento por parte de McCormick e outros não era uma visão de
outliers, de alguns poucos caprichosos. Pelo contrário, era o sentimento
progressista como um todo e, até certo ponto, a principal linha de
pensamento durante a era inicial de FDR. Até mesmo as revistas Saturday
Evening Post e Fortune falavam em termos semelhantes. Atente-se à
recepção concedida ao extravagante ministro das Forças Aéreas de
Mussolini, Italo Balbo, na ocasião em que veio à América, em 1933, para
participar da Feira Mundial de Chicago.
Balbo havia sido um dos primeiros camisas negras da Itália. Tendo
crescido em sua região natal, Ferrara, foi um dos primeiros a aderir ao
Partido Fascista e um dos principais organizadores da Marcha sobre Roma.
Nada disso impediu que Balbo fosse apresentado na capa da revista Time de
26 de junho de 1933, com um artigo anexo apresentando os triunfos
fascistas na tecnologia de aviação como um exemplo ao qual a América
poderia seguir.
No dia 20 de julho de 1933, o presidente Roosevelt ofereceu um almoço
na Casa Branca em honra a Balbo e condecorou-o com a Cruz de Voo
Distinto. Balbo disse ao presidente que voltaria para casa, mas FDR o
convenceu a ficar mais tempo e fazer um tour por todo o país. De acordo
com o New York Times, o “Ministro das Forças Aéreas deixou a Casa
Branca com o rosto cheio de sorrisos”.
Os assessores de FDR organizaram para Balbo um enorme desfile no
centro de Nova Iorque, após o qual discursou sobre as virtudes do regime
fascista para 65 mil democratas no complexo Madison Square Garden.
Balbo ecoou Mussolini ao dizer: “A existência do sentimento antifascista
no exterior é um mito”, um mito “desmascarado pela recepção entusiasta
que meu esquadrão aéreo recebeu na América”.8
Enquanto os grandes meios de comunicação progressistas estimulavam o
sentimento público em favor do regime de Mussolini, os progressistas das
universidades de elite da América cortejavam Adolf Hitler. Sete meses após
a queima de livros na Alemanha, em 1933, a Universidade Columbia
convidou o embaixador alemão para discursar no câmpus, onde foi
introduzido pelo presidente da universidade, Nicholas Murray Butler. Paul
Hollander, cientista político, relata que a Universidade Columbia “mantinha
relações amigáveis com instituições acadêmicas e representantes da
Alemanha nazista”.9
Em 1934, o presidente de Harvard, James Conant, ofereceu um chá em
sua casa para Ernst Hansfstaengl, chefe do Gabinete de Imprensa Nazista
sob o Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels. Hansfstaengl era
amigo íntimo de Hitler e jantava em sua casa com frequência. Hitler
gostava de escutar Hansfstaengl interpretando no piano as vibrantes
marchas de futebol de Harvard. Ele gostava em especial da parte final com
o grito de guerra: “Harvard, Harvard! Rah! Rah! Rah!”. Hitler deu a
Hansfstaengl o afetuoso apelido de “Putzi”, cujo filho, Egon, referia-se
calorosamente a Hitler como “tio Dolf”.
Durante a ascensão de Hitler ao poder, Hansfstaengl ajudou a financiar a
publicação do livro Mein Kampf e também a compra do Völkischer
Beobachter, que veio a tornar-se o jornal oficial do Partido Nazista. Embora
certo rabino de Boston estivesse incitando um protesto de judeus, o
periódico estudantil Harvard Crimson repudiava os críticos e ainda pedia
que Hansfstaengl, ex-aluno de Harvard, recebesse um diploma honorário
“apropriado para sua alta posição” no governo de “uma grande e profunda
nação”.10
Naquele mesmo ano, os mais importantes professores, administradores e
líderes estudantis de Harvard visitaram o navio de guerra nazista Karlsruhe
quando este atracou no porto de Boston, hasteando a bandeira da suástica.
O grupo de Harvard também participou de uma recepção de gala em que o
capitão do navio de guerra tecia elogios a Hitler. Em 1936, Harvard enviou
uma delegação acadêmica para comemorar o aniversário da Universidade
de Heidelberg. O evento foi boicotado pelas universidades britânicas por ser
altamente politizado, no sentido de apresentar o nazismo de forma positiva.
Presentes, misturando-se com a delegação de Harvard, estavam o teórico
nazista Alfred Rosenberg, o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels e o
líder da SS, Heinrich Himmler.11
Na frente cultural, outro admirador de FDR, o compositor Cole Porter,
compôs uma melodia cativante em 1934 com a seguinte letra: “Você é o
maior! Você é o grande Houdini! Você é o maior! Você é Mussolini”. Não é
assim que a música é cantada hoje, pois Porter mais tarde viria a mudar a
letra, quando os progressistas perceberam que lhes seria embaraçoso, assim
como seria para qualquer um na América, ter ligações com Mussolini. Daí
Cole Porter associou-se à grande mentira. Suas letras originais, junto das
obras de McCormick, do circuito percorrido por Balbo e da conexão
Harvard-Hitler, têm, como consequência dos esforços progressistas,
simplesmente desaparecido na neblina da História.
O Proto-Fascista
Embora este capítulo concentre-se em FDR — nosso führer norte-
americano não reconhecido —, a história estaria incompleta sem começar
com o presidente progressista que o precedeu quase duas décadas,
Woodrow Wilson. FDR, lembre-se disso, era o secretário da Marinha na
administração de Wilson, mas durante o mandato e os anos subsequentes
jamais discordou publicamente de qualquer ação de Wilson descrita aqui.
Na verdade, FDR e sua equipe falaram abertamente do New Deal como
continuação das políticas de Wilson. Conforme mostro, esse foi um caso do
proto-fascismo de Wilson, caso esse maturado no fascismo mais
desenvolvido da era FDR.
Wilson, é claro, precedeu Mussolini e Hitler. É por isso que eu o chamo
de proto-fascista. Não digo que ele teria sido fã do verdadeiro fascismo,
mas que foi um precursor, visto que seu regime revela tensões fascistas
mesmo antes de haver um nome oficial a descrevê-las. Para entender o
proto-fascismo, considere o debate acadêmico que discute se o filósofo
Nietzsche era ou não proto-fascista. Nietzsche morreu na década de 1880,
então, obviamente, não existe associação direta entre ele e o fascismo.
Estivesse vivo na época, provavelmente teria ficado horrorizado com Hitler
e Mussolini. Nietzsche detestava o nacionalismo alemão nem era ele
antissemita.
Por outro lado, Nietzsche foi um dos pensadores favoritos de Mussolini,
que, em sua época, disse “A ambição por poder na Europa é representada
unicamente pelo fascismo”. Hitler visitou os arquivos de Nietzsche em
Weimar e lá, desejoso de expôr o entusiasmo que tinha pelo filósofo, foi
fotografado por seu fotógrafo pessoal, Heinrich Hoffman. Hitler também
enviou a Mussolini uma edição, até então recente, das obras completas de
Nietzsche, com dedicatória autografada. Esse passou a ser um dos bens
mais preciosos de Mussolini.
Se Nietzsche rejeitava explicitamente o nacionalismo e o antissemitismo,
o que é que havia nele para despertar tamanho interesse nesses homens?
Nietzsche falava em termos de criar não apenas um übermensch, ou super-
homem, mas uma raça de super-homens, uma raça superior para governar o
mundo. Nietzsche também falava do untermenschen, os povos inferiores
que deveriam ser eliminados ou exterminados por meio da guerra ou da
eugenia numa inevitável luta por poder. Assim fica fácil entender por que
tais ideias eram apelativas a Hitler.
Livre das restrições morais do cristianismo — as quais Hitler e
Mussolini também criticavam —, Nietzsche deleitava-se ao pensar em
povos, que ele então considerava inferiores, sendo apagados da terra. “Que
venha uma tempestade”, ele escreve em Vontade de Potência, “e derrube da
árvore esta fruta podre e devorada por vermes”. Mais uma vez, vislumbre
os nazistas e os camisas negras vibrando. E logo, cortesia de Hitler e
Mussolini, a tempestade chegou. Por isso, posso entender por que Hitler e
Mussolini apreciavam Nietzsche; e, qualificando-o adequadamente, eu o
considero proto-fascista.12
Da mesma forma era Wilson. O que ele, um discípulo de Hegel, mais
gostava no filósofo alemão era a apoteose hegeliana de um Estado todo-
poderoso. Tendo estudado sob mentores alemães, o modelo de governo de
Wilson foi extraído da experiência militarista da Prússia de Bismarck.
Wilson ridicularizava os Pais Fundadores — primeiro presidente americano
a fazê-lo —, chamando suas ideias sobre direitos individuais, poder
descentralizado e freios e contrapesos de simplórias e obsoletas. Wilson
preferia um modelo de poder centralizado com ele próprio no leme e toda a
sociedade em obediência inerte a ditames do esquerdismo progressista.
Como Giovanni Gentile reconheceria ser este, mesmo sem ainda ser
chamado pelo nome, o significado essencial do fascismo.
É certo que dar a Wilson o título de proto-fascista soará absurdo àqueles
que, criados sob a fúria progressista, aprenderam que Wilson é um campeão
da democracia global e defensor do direito à autodeterminação a todos.
Com efeito, Wilson teve a chance de promover ambos, mas, no fim das
contas, não fomentou nenhum. Houvesse lutado ativamente pela
autodeterminação da Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial,
Wilson poderia ter impedido a Segunda Guerra.
Uma das queixas mais amargas de Hitler — atingindo acorde ressonante
com seus companheiros alemães — era a de que seu país jamais teria
buscado a paz na Primeira Guerra se soubesse que seria quase que
completamente privado de seus direitos à autonomia e à autodeterminação.
A maioria dos historiadores reconhece que termos mais sensatos do que os
que foram impostos à Alemanha em Versalhes poderiam ter impedido a
ascensão de Hitler ao poder, assim prevenindo uma Segunda Guerra
Mundial. Wilson poderia ter insistido e logrado êxito, mas não o fez.
Portanto, atenue-se o disparate retórico de Wilson diante da realidade
histórica.
Não cabe concentrar-se apenas no que Wilson disse, mas em duas coisas
que ele fez. Primeiro, não só nos moldes fascistas, mas também nos do
nacional-socialismo, Wilson pôs em prática políticas racistas sobre todo o
governo federal e ajudou a reviver a inativa organização terrorista e racista,
Ku Klux Klan. Em segundo lugar, Wilson suprimiu as liberdades civis dos
americanos de uma maneira nunca antes vista; seria necessário ir à Itália de
Mussolini e à Alemanha nazista para encontrar comparações mais
próximas.
Os progressistas estão conscientes disso e, com tanto, confessam
profunda confusão. Escrevendo no Christian Science Monitor, Randy
Dotinga enumera “5 fatos surpreendentes” acerca de Wilson, um dos quais
que ele era “atrasado e intolerante quando se tratava de raça”. Dado o
progressismo de Wilson, Dotinga acredita ser esta “a maior contradição de
todas”. Aqui, Dotinga, um jornalista, ecoa historiadores como Arthur Link,
editor dos artigos de Wilson, e John Milton Cooper, que exercia posição
semelhante sobre o então presidente. Cooper, por exemplo, classifica o
comportamento intolerante e tirânico de Wilson de “intrigante”, um
“mistério”, perguntando-se como “uma pessoa tão arguta e cheia de ideias
como Wilson deixou isso acontecer”.13
A essa altura, espero que meus leitores estejam sorrindo, percebendo o
território da grande mentira em que estamos pisando. A mentira está na
pretensão de que existe algo estranho ou anômalo em relação a um
progressista como Wilson ser racista, supressor das liberdades
constitucionais e proto-fascista. O objetivo deste livro está em demonstrar
que esse é o curso previsível, se não inevitável, do progressismo e da
esquerda. Wilson, óbvio dizer, era racista, como a maioria de seus
antecessores democratas desde Andrew Jackson. E, é claro, ele estava
envolvido em supressões das liberdades individuais aos moldes fascistas; é
assim que os coletivistas de todos os tipos costumam proceder uma vez que
assumem o poder.
O racismo de Wilson pode ser destacado pelo cumprimento da
segregação em todo o governo federal. Muitos não percebem que, embora
as legislaturas estaduais dominadas pelo Partido Democrata tenham
difundido a segregação por toda a região do Sul, o governo federal de
Washington, D.C. não havia se segregado desde o fim da Guerra Civil.
Wilson então reverte a situação e institui a segregação em basicamente
todas as divisões do governo federal.
As ações de Wilson foram amargamente protestadas pelo principal porta-
voz da América negra, Booker T. Washington, que era republicano. Quando
um grupo de líderes negros, incluindo a jornalista republicana Ida B. Wells,
confrontou Wilson, ele disse que deveriam agradecer-lhe, afinal a
segregação era, em grande parte, para o benefício dos negros. Wilson era,
como Chris Myers Asch escreve no Washington Post, um “supremacista
branco descarado”.14
Seus aliados mais próximos no Congresso eram democratas, e ainda
mais racistas do que o próprio Wilson. Quando a questão sobre os Estados
Unidos juntarem-se à Sociedade das Nações chegou ao Congresso, James
Reed, senador democrata, irrompeu: “Imagine submeter questões
envolvendo a própria vida dos Estados Unidos a um tribunal em que se
senta um negro da Libéria, um negro de Honduras, um negro da Índia”.15
Como bom internacionalista e progressista, Wilson era, é claro, a favor da
Sociedade das Nações, mas também impediu que posturas racistas fossem
sentenciadas no Tratado de Versalhes e nunca pronunciou nem ao menos
uma palavra condenatória sobre a violência retórica racial contra negros e
outras minorias por parte de seus companheiros progressistas.
Wilson também ajudou a reviver a Ku Klux Klan. Curiosamente, esse foi
o resultado de uma única exibição do filme The Birth of a Nation [O
Nascimento de uma Nação], de David W. Griffith, que retrata a Ku Klux
Klan como a salvadora do Sul. Apesar da tecnologia restrita da época, o
filme agora é reconhecido como uma obra-prima cinematográfica. Eu o
considero como um dos filmes de propaganda mais poderosos já
produzidos. A esse respeito, ele prenunciou os brilhantes filmes de
propaganda de Leni Riefenstahl, Victory of Faith [Vitória da Fé] e Triumph
of the Will [Triunfo da Vontade], ambos retratando Hitler como o salvador
da Alemanha.
A pedido de Griffith, Wilson fez com que o filme The Birth of a Nation
fosse exibido na Casa Branca, com o seu gabinete e outros amigos de
influência presentes. Após a exibição, de acordo com Griffith, Wilson
descreveu o filme como “terrivelmente verdadeiro” e “é como escrever a
História com raios”. Já hoje alguns progressistas questionam se Wilson
realmente disse isso, pois não há corroboração suficiente em seus arquivos.
Contudo, também não há motivo para duvidar da veracidade de Griffith
nesse ponto.
Imediatamente após a exibição, houve um reavivamento da Klan por
todo o país, o que testemunhou tanto o poder do filme quanto do evidente
endosso de Wilson. Anteriormente, a KKK estava sobretudo no Sul
democrata; depois, então, de acordo com o historiador David Chalmers, a
KKK espalhou-se do “estado de Maine ao da Califórnia”. De repente, havia
ramificações da KKK em Oregon, Colorado, Wisconsin, Ohio, Pensilvânia
e Nova Jersey.16 Com isso não quero dizer que era esse o desejo de Wilson,
mas a maioria dos historiadores concorda que a exibição do filme na Casa
Branca conferiu à Ku Klux Klan nova legitimidade e popularidade.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Wilson criou um Ministério da
Propaganda, servindo de precursor a ministérios similares criados por
Mussolini e Hitler. Quanto ao assédio e à intimidação da imprensa e da
oposição política que precisou enfrentar, Jonah Goldberg escreve que a
operação de Wilson foi mais efetiva — em outras palavras, implacável —
do que a de Mussolini.
Os capangas de Wilson até viraram seu veneno contra cidadãos comuns,
encorajando crianças a espionar seus pais e vizinhos, e vizinhos a espionar
outros vizinhos. Eles incentivavam vigilantes a ameaçar e até espancar
inconformistas ideológicos. Numa frase que facilmente poderia ter sido dita
por Hitler ou Mussolini, Wilson insistia que “a conformidade será a única
virtude e qualquer homem que se recuse a conformar-se terá de pagar o
preço”.
É difícil imaginar um sentimento mais intolerante. Em consonância, a
administração de Wilson reprimiu de forma geral as liberdades civis,
posturas que fariam com que o macartismo da década de 1950 parecesse
brincadeira de criança; em essência, qualquer crítica ao governo, até mesmo
proferida em particular a um amigo, poderia levar a pessoa para a cadeia. E,
de fato, dezenas de milhares de americanos foram detidos e presos sob as
famosas Palmer Raids. Goldberg escreve: “Mais pessoas foram detidas ou
encarceradas em alguns poucos anos sob o governo de Wilson do que sob
Mussolini durante toda a década de 1920”. Goldberg conclui que, durante a
Primeira Guerra Mundial sob Woodrow Wilson, “a América tornou-se um
país fascista”.17
Ecco Un Ditatore!
Por fim, demonstro como FDR chegou assustadoramente perto de tornar-
se um ditador fascista durante seu longo mandato no governo, de 1932 a
1945. Se não um déspota em maior escala, FDR chegou perto mais do que
qualquer outra pessoa na história dos EUA. A essa altura do livro, já
antevejo a indignação que isso provocará na esquerda. Mas é também hora
de, calmamente, ignorá-la. A indignação em si é uma tática para proteger a
grande mentira. “Como você pode dizer isso?” e “Como você ousa?”. Ouso,
porque é verdade.
Analisados há pouco, os fascistas italianos e até mesmo os nazistas
reconheceram as tendências ditatoriais de FDR e também a
consanguinidade ideológica que havia entre as políticas dos três. Herbert
Hoover, antecessor republicano de FDR, percebeu paralelos bastante
íntimos entre o New Deal e o fascismo. O socialista Norman Thomas, do
outro extremo político, percebeu o mesmo. E, em 1933, o colunista mais
respeitado da América, Walter Lippmann, disse a FDR que ele não tinha
“nenhuma alternativa, senão assumir poderes ditatoriais”.33 Portanto, não
estou falando invencionices; FDR foi amplamente considerado um ditador
fascista, ou futuro ditador, por muitos de seus contemporâneos.
Não digo que era o caso de um ditador aos moldes de Hitler, afinal FDR
nunca teve o aquele mesmo poder absoluto nem, é claro, matou seus
oponentes, nem enviou judeus a câmaras de gás, nem iniciou uma guerra
mundial. Então, ao retratá-lo na posição de führer americano, quero dizer
que FDR era führer da maneira americana, e não do jeito alemão. Melhor
comparação pode ser feita entre FDR e Mussolini; ambos se julgavam uma
espécie de comandante da nação, superando as restrições da democracia
enquanto ainda funcionavam dentro das limitações políticas impostas por
seus respectivos sistemas. Os poderes legais de FDR permaneceram abaixo
dos de Mussolini; e não por ele ter “se contido”, mas, pelo contrário, por ter
sido constrangido pelo sistema constitucional dos Estados Unidos, que
impediu esse perigoso homem de trazer o fascismo na íntegra à América.
Considere uma das principais iniciativas de FDR, peça central do New
Deal: a National Recovery Act [Lei de Recuperação da Indústria Nacional
(LRIN)]. Em essência, a lei sentenciou à morte o livre mercado nos Estados
Unidos. Acontece que essa lei dava ao governo federal a força para criar
alianças trabalhistas e de gestão em cada indústria, a fim de estabelecer
objetivos de produção, de salário, de precificação e até mesmo de horas
mínimas e máximas trabalhadas. Eram acordos que seriam analisados por
um Conselho Consultivo da Indústria gerido pelo governo, que daria
satisfação ao próprio FDR. Além disso, a legislação da LRIN aumentou os
impostos sobre o rendimento, sobre as empresas e expandiu o eminente
poder de domínio do governo usado para confiscar terras privadas e
transferi-las ao uso público. De acordo com o conselheiro de FDR, Rexford
Tugwell, a LRIN foi projetada para “eliminar a anarquia do sistema
competitivo”.34
Jamais havia se contemplado — e muito menos decretado — uma
intervenção governamental na economia dos EUA nessa escala. Na época, a
LRIN era amplamente reconhecida em todo o espectro político como um
projeto fascista. Escrevendo para a revista North American Review, Roger
Shaw, escritor progressista, afirmou que a LRIN era “uma nítida adaptação
americana do Estado Corporativo italiano”. Victor F. Calverton, escritor
marxista, destacou esse mesmo ponto escrevendo para o periódico Modern
Monthly: “A LRIN tem feito parte do trabalho que o fascismo europeu se
propôs a executar”. E o próprio secretário do Interior de FDR, Harold Ickes,
admitiu: “O que estamos fazendo neste país é, em certa medida, o mesmo
que está sendo feito na Rússia e até mesmo na Alemanha de Hitler”.
Mussolini mesmo, ao ouvir falar da LRIN, fez um único e intenso
comentário,“Ecco un ditatore!”, que significa “Eis um ditador!”.35
O homem que FDR escolheu para gerir a LRIN, o General Hugh
Johnson, era ele fascista, um que tinha prazer de associar-se àquilo que ele
chamou de “o brilhante nome” de Mussolini. Johnson carregava consigo um
exemplar do pequeno livro-propaganda The Structure of the Corporate
State [A Estrutura do Estado Corporativo], escrito em italiano por um dos
acólitos do Il Duce, Raffaello Vigone, e traduzido para o inglês pela União
Britânica de Fascistas, partido fundado por Oswald Mosley, em 1933.
Johnson gostava de citar especialmente as seções sobre como o fascismo
passava por cima do aparato confuso da democracia em direção à plena
autoridade do Estado centralizado. Sob Johnson, a LRIN publicou um
panfleto, Capitalism and Labor Under Fascism [O Capitalismo e o Labor
sob o Fascismo], que admitiu: “os princípios fascistas são muito
semelhantes aos que estavam em evolução na América”.36
Para o desgosto de FDR, sua LRIN foi derrubada pela Suprema Corte em
decisão histórica no caso Schechter Poultry Corp vs Estados Unidos, em
março de 1935. Outras iniciativas do New Deal também foram
transtornadas. A Suprema Corte estava inquieta com a forma como FDR
procurou passar por cima dos direitos da propriedade privada e contratuais.
Tais direitos — que podem ser vistos sob a cobertura da liberdade
econômica —, desde os Pais Fundadores, são considerados tão basilares
quanto outros direitos fundamentais, como os direitos à liberdade de
expressão, de religião e de assembleia. Atuando em seu papel de protetor
dos direitos das minorias — parte do nosso sistema de freios e contrapesos
—, a Suprema Corte barrou FDR de reverter 150 anos de liberdade
econômica.
Daí o que FDR fez? Em 1937, ele apresentou a Lei de Reforma do
Processo Judiciário, um infame projeto que ficou mais conhecido por
“aparelhamento do judiciário” [Court Packing]. Basicamente, FDR
ameaçou aumentar o número de juízes da Suprema Corte, de nove para até
quinze. Isso lhe daria a chance de nomear até seis juízes a mais, dando-lhe
uma grande maioria. A mentalidade por trás disso pode ser vista no que o
principal assessor de FDR, Harry Hopkins, disse a uma audiência de
ativistas do New Deal em Nova Iorque. “Desejo garantir”, disse ele, “que
teremos advogados que declararão legal tudo aquilo que vocês quiserem
fazer”. Essa foi a abordagem de FDR: se quer fazer algo, diga estar de
acordo com a lei; e, se a Suprema Corte discordar, expanda-a. É perceptível
o clássico desprezo do fascismo pelo papel distintivo da Suprema Corte
como fiscal dos direitos das minorias em um sistema de equilíbrio.
Em pânico, a Suprema Corte fez uma rápida mudança e cedeu a FDR,
um movimento que os progressistas chamaram, um tanto quanto
maliciosamente, de the switch in time that saved nine, isto é, “porque o
tempo mudaram, nove se salvaram”. Esse pequeno gracejo foi cunhado para
desviar a atenção da enormidade daquilo que FDR fez, que basicamente
ameaçava destruir nosso Sistema Constitucional, a menos que obtivesse o
que queria — e assim ele conseguiu o que queria. As ações de FDR aqui —
na tênue penumbra entre o legal e o ilegal — são diretamente comparáveis
ao que era feito na Alemanha nazista e na Itália fascista, táticas de
intimidação usadas para forçar o judiciário à conformidade.
A rendição da Suprema Corte significou, em substância, o fim da
liberdade econômica como direito constitucional. Não, FDR não conseguiu
reviver a LRIN naquele momento, e ter violado os direitos de propriedade e
contratuais, por meio dos vários programas do New Deal, foi uma atitude
relativamente modesta. Em essência, FDR nos deu o Estado do Bem-Estar
Social, e não pense que com isso eu que o denomino um conceito fascista
por si só. O Estado do Bem-Estar Social na Alemanha, por exemplo,
originou-se do progressismo moderado e conservador de Otto von Bismarck
e antecedeu o fascismo em mais de meio século. No entanto, não esqueça
que foi a esquerda — os socialistas, os fascistas e os progressistas — que
vastamente aprofundaram o Estado do Bem-Estar Social.
Meu objetivo aqui, entretanto, é dizer que FDR estabeleceu as bases para
que futuras administrações progressistas minassem continuamente a
liberdade econômica. O Governo Leviatã que temos agora não se deve
totalmente ao que FDR fez, mas ele quem o iniciou. Antes dele, tínhamos
liberdade econômica como direito constitucional. Depois dele, não mais. O
principal impulso da economia fascista envolve a expansão do poder estatal
centralizado à custa dos direitos individuais e da liberdade da esfera
privada. Assim, nesse sentido, as ações de FDR, com a destruição da
liberdade econômica, são fascistas.
Ainda que intimidasse a Suprema Corte, FDR não precisava intimidar o
Poder Legislativo, já que o seu partido, o Partido Democrata, controlava o
Congresso. FDR convenceu seus aliados democratas à passada do controle
praticamente absoluto sobre uma grande área da economia nacional. Em
substância, FDR já não mais tinha de consultar o Congresso e poderia
prosseguir por iniciativa própria em grandes áreas das tomadas de decisão.
Com efeito, invocando os gritos de “emergência econômica” durante a
Grande Depressão e depois de “emergência nacional” durante a Segunda
Guerra Mundial, FDR pôde assumir poderes quase ditatoriais.
Da mesma forma Mussolini, que subverteu o Poder Legislativo e
convenceu seu Parlamento, flexível e maleável, a entregar-lhe o poder. O
Parlamento italiano não precisava nem mesmo congregar durante o reinado
de Mussolini, pois ele, na prática, tomava quase todas as decisões. Assim
também Hitler, que na vigília do incêndio do Reichstag, em 1933,
convenceu o Parlamento alemão a aprovar a Lei de Concessão de Plenos
Poderes, que lhe confiava a autoridade legislativa, tornando-o, portanto, de
forma aparentemente legal, o supremo governante da Alemanha nazista. Tal
como FDR, esses ditadores fascistas não apenas derrubaram o sistema, mas,
mais que isso, persuadiram-no e pressionaram-no a dar-lhes uma autoridade
essencialmente absoluta.
Como FDR lançou mão de tamanha autoridade? Mais uma vez, aos
moldes do clássico despotismo fascista, ele a usou para intimidar empresas
privadas e cidadãos comuns à submissão diante de suas iniciativas estatais.
O exemplo mais evidente foi o programa Blue Eagle de FDR, simbolizado
pela imagem de uma águia azul. Hoje em dia, ninguém reconheceria esse
símbolo, cuidadosamente pulverizado da História pelos progressistas. Mas,
na época, era o símbolo mais reconhecido na América, amplamente
comparado ao símbolo da suástica da Alemanha nazista.
O objetivo do programa Blue Eagle consistia em forçar as empresas à
submissão “voluntária” às iniciativas de FDR. As empresas que se
submetiam penduravam o símbolo da Águia Azul em suas lojas ou o
exibiam mediante publicidade corporativa. O governo ativamente
estimulava o público a comprar apenas das lojas Blue Eagle e a boicotar as
empresas que não exibiam o símbolo. Os capangas de FDR organizavam
manifestações do estilo de Nuremberg para chicotear o público em um
frenesi contra aqueles que se decidissem contra a submissão ao Blue Eagle.
Novamente, essa era precisamente a função do símbolo da suástica:
juntamente da saudação “Heil Hitler!”, servia para notificar a conformidade
com as políticas do regime nazista. O historiador Aryeh Unger tem um
termo direto para isso; ele o chama de “compulsão voluntária”. Certo
admirador alemão de Hitler na década de 1930 a isso deu o nome de
“trabalhar para o Führer”.37 Todos prestavam lealdade orientando suas
ações em função de Hitler, entrando nos eixos com ele. FDR empregou
precisamente a mesma compulsão voluntária para que todo o país
trabalhasse em função do führer americano.
Como Hitler e Mussolini, FDR estabeleceu uma máquina de propaganda
maciça dentro do governo e, ao mesmo tempo, procurou restringir a
liberdade da imprensa. Na Alemanha, os jornalistas eram praticamente
obrigados a fazer união com o Ministério da Propaganda. Do mesmo modo
a Itália, que dispunha de seu Sindicato Nacional Fascista de Jornalistas ao
qual era preciso pertencer para ser um jornalista de “boa reputação”. A
abordagem de FDR foi apenas um pouco mais sutil. Ele nomeou um de seus
escudeiros mais devotos como presidente da Comissão Federal de
Comunicações (CFC). Sob esse capanga, a CFC exigiu que as estações de
rádio enviassem transcrições de todos os programas que lidassem com
“assuntos públicos” para passar pela autorização da Comissão.
A CFC também deixava claro que criticar o governo poderia levar a uma
revogação de licença de transmissão. Muitos âncoras de rádios progressistas
estavam bastante ansiosos para servir como animais de estimação de FDR,
da mesma maneira como a nossa mídia convencional tornou-se
voluntariamente serviçal de Obama e Hillary. Henry Bellows, da CBS, disse
a FDR que valorizava a “cooperação” entre o governo e sua rede e “como
um democrata ao longo da vida, queria garantir seus melhores esforços para
fazer com que essa cooperação fosse bem-sucedida”. A CBS e a NBC
baniram críticas ao New Deal de suas estações durante a década de 1930 e o
início dos anos 1940. Apenas poucas estações resistiram, mas para salvar
suas licenças, elas logo foram obrigadas a entrar na linha.38
Embusteiros à Esquerda
O primeiro embusteiro na tentativa de encobrir os laços de FDR com o
fascismo foi, ironicamente, o próprio FDR. No dia 29 de abril de 1938, em
mensagem ao Congresso, FDR disse que “eventos infelizes no exterior”
ensinaram a América uma simples verdade: “A liberdade de uma
democracia não será segura se o povo tolerar o crescimento do poder
privado a ponto de este tornar-se mais forte do que o próprio Estado
democrático. Isso, em essência, é o fascismo — o indivíduo, um grupo ou
qualquer outro poder privado de controle tomando posse do governo”.43
Até o momento, conseguimos reconhecer a grande mentira em pleno
andamento. O fascismo não é o controle privado do governo; é o controle
governamental do setor privado. Ao aumentar o poder do Estado
centralizado em paralelo com os fascistas, FDR finge que o faz para salvar
a democracia americana do controle fascista sobre o governo imposto por
interesses do setor empresarial privado. FDR inverte o significado do
fascismo, assim fazendo com que seus oponentes republicanos pareçam
fascistas e ele, portanto, o antifascista.
Hoje, tamanha inversão é simplesmente demais para qualquer indivíduo
acreditar. Portanto, o historiador Ira Katznelson tenta encobrir FDR usando
uma abordagem mais delicada, uma forma superior de embuste, pode-se
dizer. Num capítulo anterior, demonstrei como Katznelson contribui para a
grande mentira ao jogar a culpa das atrocidades racistas do Partido
Democrata sobre o Sul. Junto de FDR, Katznelson emprega um modo de
defesa diferente.
Ele admite abertamente as tendências racistas e ditatoriais de FDR. O
comando de FDR, ele diz, carregava as “mais profundas imperfeições”.
Graças a FDR, “Taparam-se os olhos quando a insensibilidade e a
brutalidade seguiram adiante”. Os negócios que ele fez com os fanáticos de
seu próprio partido foram um “acordo podre”. Entretanto, no fim,
Katznelson apoia a linha do fascismo ditatorial de FDR, porque, em suas
palavras, “Com isso, o New Deal tornou-se possível”.44
O objetivo de Katznelson é convencer os progressistas e a esquerda de
que FDR foi um nobre estadista, disposto a sujar as mãos para conseguir
algo grande. Diz Katznelson, considere os limites sob os quais FDR operou;
ao contrário da Alemanha nazista, “não houve uma lei americana para
concessão de plenos poderes”.45 (Se Katznelson preferiria que houvesse é
questionável). Logo FDR teve de trabalhar com o Congresso; ele precisou
operar por dentro do sistema político americano para aprovar o New Deal,
por isso fazendo os acordos que fez.
Acredito que Katznelson não tenha percebido que, a fim de salvar FDR
da acusação de fascismo, ele próprio construiu um argumento fascista
clássico. Não me refiro à implicação por parte de Katznelson de que os fins
justificam os meios. Essa afirmação, por si só, é preocupante. Realmente
valeu a pena um cenário com negros sendo linchados e sistematicamente
discriminados por décadas, isso tudo no propósito de impulsionar um
punhado de programas do New Deal? Bom, ao menos na minha concepção,
digo que não. No entanto, independentemente da resposta, o impulso
fascista do argumento de Katznelson está em outro lugar.
O tema central do fascismo — e aqui podemos nos lembrar do filósofo
do fascismo, Giovanni Gentile, endossado pelo fundador oficial do
fascismo, Benito Mussolini — é o impulso do Estado centralizado. Na visão
de mundo fascista, como Mussolini nunca se cansava de dizer, o Estado é
tudo, e tudo mais está subordinado ao Estado. Diante disso, todas as
medidas são permitidas — por mais brutais e pesadas, por mais
inconsistentes que sejam com a liberdade privada ou com o sistema
constitucional de freios e contrapesos — quando se tem por fim expandir o
controle e o poder do Estado centralizado.
Mesmo perplexo e duvidoso quanto às táticas fascistas que FDR usava
para armar os tribunais, usurpar a autoridade do Congresso e fomentar as
formas mais repulsivas de racismo, Katznelson lhes é favorável, pois,
afinal, estas ajudaram a alcançar o objetivo fascista de FDR, que era
expandir o poder centralizado. E esse é o fascismo à esquerda com o qual
vivemos agora, tanto no impulso ideológico perpétuo da esquerda para
ampliar o poder do governo quanto na vontade da esquerda de usar quais
sejam as táticas mais desprezíveis e fundamentais necessárias para sair de
determinado lugar e chegar a outro. FDR não só foi o führer primitivo da
América; ele também ajudou a criar exércitos de camisas pardas da
esquerda americana, que ainda hoje permanecem presentes.
Capítulo Oito
Políticas de
Intimidação
A legitimação da violência contra um inimigo interno demonizado
nos aproxima do coração do fascismo.1
Robert Paxton, The Anatomy of Fascism
Meio ano depois, o choque da eleição de Trump ainda não foi totalmente
absorvido pela esquerda. Batalhas políticas amargas e incessantes levantam-
se entre Trump e seus adversários. Trata-se de uma resistência, em
proporção e veemência, que jamais presenciei. Os adversários não querem
apenas frustrar Trump, para vencê-lo e humilhá-lo; eles também querem
tirá-lo de lá. A mensagem oculta dos inimigos de Trump é a seguinte: é um
fato para nós, e não podemos descansar até que tenhamos expurgado esse
fascista e seus apoiadores dos corredores do poder.
Mas de onde é que tamanha oposição de fato vem? Onde está seu
epicentro? É tentador supor que venha do Partido Democrata. No entanto,
os democratas são minoria no Parlamento e no Congresso, e os
republicanos dominam as legislaturas estaduais e as governadorias. Apesar
de os democratas oporem-se tenazmente, o partido em posição minoritária
uma só coisa pode fazer. Ninguém, contudo, pode reduzir a profundidade e
a ferocidade do movimento contrário a Trump, de modo que o centro da
resistência deve estar em outro lugar.
Alguns dos chamados trumpsters comentam, na calada das redes
sociais, sobre a existência de um deep state, um “Estado profundo”,
“obscuro”, um Estado secreto dentro de um Estado de oposição,
naturalmente montado contra um presidente “de fora”, um intruso, que
prometeu “drenar o pântano”. Esses aliados de Trump direcionam o dedo
para ratos secretos do pântano, principalmente em várias agências de
inteligência do governo, da NSA à CIA, da CIA ao FBI. É certo que há
resistência burocrática a Trump dentro do governo, mas isso é algo com que
ele consegue lidar como chefe desse mesmo governo.
O verdadeiro poder da esquerda não se deriva de nenhuma conspiração
secreta, mas sim de um Estado dentro de um Estado, que está bem à vista.
A esquerda não precisa confiar no FBI, na CIA e na NSA, afinal já possui
três das instituições mais poderosas da nossa sociedade. A esquerda domina
a academia, Hollywood e a mídia. Esses são os três megafones mais
poderosos da nossa cultura, os principais instrumentos para disseminar
informações ao público, em especial aos jovens. Em uma sociedade
democrática, quem controla o fluxo de informações, esse também controla a
opinião pública, a qual, finalmente, decide todas as questões. Esse Estado
dentro do Estado é a arma mais forte e mortal do progressismo e do Partido
Democrata. Sem ela, progressistas e democratas não teriam chegado tão
longe nem erguido essa oposição implacável e impetuosa contra Trump.
Enquanto a vitória de Trump e o domínio político do GOP são
temporários, o Estado dentro do Estado da esquerda é permanente. A
esquerda essencialmente domina a academia, Hollywood e a mídia. É algo
que fica claro quando se pergunta como seria possível mudá-los.
Praticamente impossível. Hollywood é uma cultura incestuosa no íntimo e
altamente autoperpetuadora. Inclusive há um grupo conservador em
Hollywood, Friends of Abe, mas que, além de se reunir em segredo, tem
alguns de seus membros disfarçados.
Recentemente, um dos raros conservadores sinceros em Hollywood, Tim
Allen, suscitou certo furor quando disse a Jimmy Kimmel: “Bom, você é
atropelado se não acredita no que todos acreditam”. Allen acrescenta: “É
como na Alemanha de 1930”. Pouco tempo depois, a ABC chegou e
cancelou seu programa, Last Man Standing, apesar dos seis anos de alta
avaliação positiva.2 Se acontece com uma grande estrela como Allen, pode
acontecer com qualquer um, obviamente. Depois do meu documentário em
2016, Obama’s America [A América de Obama], membros do Friends of
Abe disseram-me que ficaram felizes com a produção, uma vez que eles
teriam perdido a carreira em Hollywood se o filme fosse produzido pelo
grupo. Na verdade, algumas pessoas de dentro de Hollywood ajudaram-me
com a produção, e todos insistiram em usar pseudônimos nos créditos.
A academia contrata seu próprio pessoal e de forma ampla não presta
satisfação a nenhuma força externa; pais, órgãos legislativos estaduais e ex-
alunos exercem um impacto meramente periférico sobre o que acontece lá.
Claro, conservadores conseguem ter uma cadeira ou enviar um palestrante
para essa ou aquela universidade, mas o impacto dessas medidas é,
certamente, apenas marginal. Afinal, a esquerda domina os departamentos
de humanas e ciências sociais de praticamente todas as universidades; e,
quanto mais seletiva for a universidade, maior será a extensão desse
domínio.
Em relatório recente, a Oregon Association of Scholars, grupo
conservador, mostra que as universidades sistematicamente “arrancam”
professores conservadores e se recusam a contratar novos. Curioso notar, o
mecanismo usado para arrancá-los está nas declarações sobre diversidade.
Os esquerdistas dentro das universidades insistem que os conservadores não
têm compromisso com a diversidade. Assim, tal fator torna-se o pretexto
para os progressistas erradicarem a pouca diversidade intelectual e
ideológica que resta no câmpus.3 Não bastasse ser deprimente, também é
uma situação improvável de mudar. E para mudá-la, os conservadores
teriam de começar várias centenas de câmpus próprios, o que é impossível.
A mídia convencional não é menos ideologicamente insular. Na verdade,
a mídia de direita não é uma refutação, mas uma constatação da grande
mídia. A mídia independente de direita existe desde que os conservadores
foram sistematicamente excluídos das redes de TV, redes a cabo, como a
CNN e a HBO, e dos jornais, como o New York Times, The Washington
Post e Los Angeles Times. O canal de direita Fox News tem uma grande
audiência em comparação a outras redes a cabo, mas está sob cerco
constante; e, de qualquer forma, sua audiência é uma pequena fração da
audiência da ABC, CBS e NBC. Estações de rádio conservadoras, mesmo
com todo o seu alcance, são coletivamente menores do que a Rádio Pública
Nacional, que é um órgão estatal da esquerda política.
Isso quer dizer que a esquerda pode trabalhar em conjunto para divulgar
amplamente sua mensagem, e o faz com naturalidade. É assim que grandes
mentiras são contadas e, em seguida, amplamente aceitas como verdade
incontestável. Normalmente, a mentira se origina na academia, onde um
acadêmico de esquerda a inventa e outros acadêmicos de esquerda a
celebram. Em seguida, a mídia a adota, invocando a teoria acadêmica para
dar-lhe validade e, ato contínuo, a ecoa na mente popular como uma
verdade comprovada. Então, periodicamente, Hollywood converte essa
narrativa em seriados de TV ou longas-metragens e cria um apoio
emocional para a causa, ao mesmo tempo em que faz tudo parecer maneiro
e moderno. Por fim, as três instituições aliam-se contra quem questiona a
grande mentira, procurando desacreditá-los, arruiná-los e, de preferência,
expulsá-los da vida pública.
Cultura de Intimidação
Como chegamos até aqui? Afinal de contas, as coisas nem sempre foram
assim. A velha Hollywood, da década de 1930 à década de 1950, era
dominada por imigrantes judeus que acreditavam no sonho americano e na
América como força para o bem no mundo. Conservadores como Reagan,
John Wayne e Jimmy Stewart tinham lugar naquela Hollywood. Mas
nenhum deles teria vez na atual. A mídia sempre se inclinou para a
esquerda, mas nem mesmo durante o caso Watergate foi tão agressiva e
proselitista com suas pautas esquerdistas quanto é agora. De certa forma, a
máscara de objetividade caiu por completo; o New York Times de hoje nem
sequer finge cobrir notícias de forma neutra ou equilibrada.
Quando eu era aluno em Dartmouth, no início da década de 1980, ainda
havia liberais clássicos da antiga leva no corpo docente. Agora eles já se
foram. Naquela época, como jovem que apoiava Reagan, eu podia debater
questões políticas com professores e estudantes de esquerda. É claro que a
Ivy League era de esquerda, mas não de maneira monolítica. Hoje, ao
contrário, os pontos de vista conservadores foram basicamente erradicados.
Hoje em dia, os jovens não rejeitam o conservadorismo; eles nem mesmo
sabem o que é isso. Se questionados acerca do “que conservadores
batalham para preservar?”, alunos até mesmo de nossos melhores câmpus
olharão boquiabertos e confusos.
Vivemos, hoje, numa das culturas mais fechadas, excludentes e
repressivas da História Moderna. De certa forma, a esquerda não precisa
promover uma caça às bruxas contra conservadores e atormentá-los; eles
simplesmente não os contratam, em primeiro lugar. Quando palestrantes
conservadores se apresentam em universidades, eles frequentemente são
impedidos de falar por manifestantes violentos de esquerda ou calados por
ativistas portando megafones. Esquerdistas rasgaram meus cartazes na
Universidade Trinity, San Antonio, onde palestrei recentemente. Já eu usei a
ação deles a meu favor, publicando aqueles atos de intolerância nas mídias
sociais. Como resultado, mil pessoas apareceram para a minha palestra, e a
tentativa esquerdista de frustrá-la falhou.
Mas quando Gavin McInnes, polêmico podcaster de direita, foi à
Universidade de Nova Iorque (UNI), em fevereiro de 2017, os antifascistas
de lá apareceram em massa para agredir McInnes e os alunos que o
convidaram; eles desferiram golpes contra os conservadores e atingiram o
próprio McInnes com spray de pimenta. “Estou assustado, a UNI
convidando um disseminador do ódio”, disse a ativista Tamara Fine. “Ele é
um fascista”. McInnes tentou falar, mas foi abafado pelos manifestantes.
Então ele interrompeu a palestra e deixou o local, enquanto os
manifestantes que estavam do lado de fora gritavam e brigavam com a
polícia local.4
Em abril de 2017, a especialista conservadora Heather MacDonald foi
impedida de falar na Universidade de Claremont McKenna. Cerca de
duzentos e cinquenta manifestantes barraram sua entrada ao auditório,
muitos deles berrando “fascista” enquanto alguns outros repetiam “a vida
negra importa”. As autoridades da Universidade citaram razões de
segurança para cancelar o evento público de MacDonald. Como alternativa,
foi sugerido que a palestra fosse dada somente aos organizadores do evento
e transmitida ao vivo nas redes sociais. “Decidiram que eu daria a palestra
ao vivo para um salão praticamente vazio”, disse MacDonald.5
Lembre-se de que estas são vozes conservadoras a serem importadas
para o câmpus. Não existe nenhum conservadorismo primitivo entre o
corpo docente dessas instituições. Mesmo assim, em ocasiões raras, quando
um conservador aparece, ele ou ela é vexado e às vezes agredido e
perseguido.
Essa é a América em que vivemos agora. Nossa cultura é uma cultura de
abuso e humilhação ritualísticos, em que as vozes dissidentes são
perseguidas, envergonhadas e aterrorizadas, em alguns casos não só para
silenciá-las quanto para destruir-lhes a carreira e a vida. A demonização é a
cultura corrente da esquerda nos dias de hoje. Por essa razão, por sinal, é
que muitos republicanos são tão tímidos no Congresso; eles estão
aterrorizados com o poder da mídia de humilhá-los de tal forma que seus
próprios apoiadores terão de sepultá-los.
Em contraste, manifestantes que usam de violência e criminosos são
celebrados na academia, na mídia e em Hollywood como ícones do
idealismo e mártires de uma grande causa. Considere o caso de Bill Ayers e
Bernardine Dohrn, chefes do serviço meteorológico Weather Underground,
ambos anteriormente citados na lista dos mais procurados do FBI. Mesmo
não se arrependendo do passado terrorista contra a própria pátria, ambos
foram reabilitados e reintegrados na comunidade progressista. Ayers e
Dohrn são agora professores ilustres, Ayers na Universidade de Illinois,
Chicago, e Dohrn na Faculdade Northwestern de Direito.
No universo progressista, facínoras também transformam-se em
celebridades. Che Guevara, assassino comunista e diretor de um campo de
prisioneiros políticos, ele que ordenou a execução de presos políticos e
causou caos em Cuba, na África e na América do Sul, provocando
problemas na Bolívia antes de ser morto, foi feito herói, venerado pelos
progressistas, destacado em inúmeras camisetas e cartazes de dormitórios
universitários. Trayvon Martin, arruaceiro que brigou violentamente com
um homem, o mesmo que então atirou nele em defesa própria,
imediatamente foi feito mártir da causa progressista. O presidente Obama
validou a santidade do rapaz dizendo que, no lugar de Trayvon, poderia ter
sido seu próprio filho.
De onde vem toda essa loucura? Melhor dizendo, como nossas
instituições culturais — da academia à mídia, da mídia à indústria do
cinema e da música — tornaram-se tão profundamente pervertidas? A
explicação mais corrente, oferecida por Allan Bloom no livro The Closing
of the American Mind [A Oclusão da Mente Americana], depois continuada
por Jonah Goldberg na obra Liberal Fascism, diz que todos esses traços
vêm da década de 1960. Como relata Bloom, na primavera de 1969,
esquerdistas armados e vestidos com uniformes militares invadiram os
escritórios da administração da Universidade Cornell. Eles também
tomaram o controle da união estudantil e a da estação de rádio local. Esta
foi uma tomada de controle no estilo fascista. Walter Berns, cientista
político que, na época, ensinava na Cornell e amigo de Bloom, leu para os
manifestantes excertos de discursos de Mussolini, ao que eles aplaudiram
descontroladamente, sem saber que estavam aplaudindo o fascismo.
Muitos conservadores aceitam o relato de Bloom de que foi a covarde
submissão da administração e do corpo docente às demandas dos
criminosos esquerdistas que simbolizaram a subsequente renúncia
ideológica da universidade americana à esquerda política. Alguns, é claro,
não se entregaram; eles apoiaram a tomada do poder e abraçaram as
demandas dos criminosos. Um desses colaboradores foi James Perkins,
presidente da Cornell — ex-partidário do New Deal no Escritório de
Administração de Preços de FDR —, ele próprio um esquerdista. Assim
também eram muitos dos jovens professores nos departamentos de ciências
humanas e sociais.
Um grupo de professores — principalmente liberais clássicos da velha
guarda — resistiu às demandas “irredutíveis” dos estudantes. Em sua
maioria democratas, eles acreditavam, no entanto, nos propósitos de uma
educação liberal e não tinham nenhuma intenção de permitir que os alunos
universitários criminosos lhes ditassem o que e como ensinar. Daí os
bandidos fizeram uma oferta irrecusável: submeter-se ou morrer. E eles se
submeteram. Apenas alguns docentes não esmoreceram — incluindo Bloom
— e quase todos deixaram a Universidade Cornell pouco tempo depois.
A esse respeito, em Cornell e em outros lugares, houve de fato uma
rendição. Hoje, em Cornell e em outras universidades, os manifestantes
esquerdistas não precisam assumir o establishment; eles são o
establishment. Atualmente a esquerda não precisa fazer demandas
curriculares; ela controla o comitê curricular. Não há necessidade de a
esquerda queimar ou proibir livros politicamente contestáveis; eles
simplesmente não os prescrevem. Assim, hoje, os esforços dos progressistas
visam excluir as poucas e raras vozes de oposição que ameaçam impedir a
consolidação de um completo monopólio sobre a informação e a opinião
dentro das universidades.
Portanto, o que Bloom explica a respeito da década de 1960 diz muito,
mas, por si só, é insuficiente. Então surge a seguinte pergunta: de onde os
criminosos de Cornell tiraram a ideia de tomar o controle conforme os
moldes fascistas? Quem lhes ensinou essas táticas que persistem até hoje?
Mostro, aqui, que os verdadeiros antepassados dos ativistas de Cornell e
seus sucessores são os mestres da opressão, da intimidação e do terror — os
nazistas.
Ao longo desse livro venho lidando com paralelos entre a esquerda
americana e os nazistas, mas esse é o ponto em que a esquerda de hoje mais
se parece com seu análogo nazista. Foram os nazistas que criaram um
Estado dentro do Estado e inventaram a sistematização do controle cultural,
as técnicas de propaganda, de opressão e intimidação agressivas que agora
servem de modus operandi para a esquerda progressista.
O Gleichschaltung Progressista
O termo nazista para tanto era Gleichschaltung, o que significa alinhar
toda a sociedade às prioridades esquerdistas do nazismo. Em seu cerne, o
Gleichschaltung é uma doutrina de uniformizar a política e controlar a
sociedade; é a forma original do politicamente correto. O Gleichschaltung
opera em grande parte por meio da pressão externa e da intimidação, mas os
nazistas o consideravam mais bem-sucedido quando redundava em
Selbsgleichschaltung, ou um tipo de “cooperação espontânea”, quando as
pessoas colocavam-se voluntariamente debaixo do domínio do regime
nazista. Aqui, argumento que a esquerda americana vem tentando fazer algo
semelhante ao aproximar a sociedade do progressismo.
Cabe ponderar dois casos paralelos em que a propaganda cultural foi
usada para transformar um marginal num ícone ideológico. Horst Wessel,
jovem de vinte e um anos, membro dos camisas pardas, era conhecido por
sua sangrenta luta contra os esquerdistas do Partido Comunista e contra os
rivais dos nazistas. Wessel também era artista. Mudou-se para uma
vizinhança boêmia de classe baixa e compôs um poema de dezesseis linhas
para o jornal nazista local. Os comunistas assassinaram Wessel em meio a
uma disputa envolvendo a proprietária de seu apartamento tentando
expulsar a namorada do jovem rapaz, uma ex-prostituta, chamada Erna
Jaenicke.
Ordinariamente falando, este seria um episódio sórdido que melhor teria
sido se caído no esquecimento. Mas Goebbels usou a mídia nazista para
retratar Wessel como mártir. Um grupo de nazistas colocou o poema de
Horst Wessel em uma antiga melodia alemã, e assim nasceu a canção de
Horst Wessel. Seu funeral foi uma enorme manifestação nazista, com
milhares de pessoas de luto e com o próprio Goebbels discursando. Em
meio a lágrimas e aplausos, Goebbels declarou: “Onde quer que haja uma
Alemanha, você, Horst Wessel, também estará lá”.6 Em seguida todos
entoaram em alta voz a canção de Horst Wessel, que se tornou uma espécie
de hino nazista, cantado durante a década de 1930 e durante a guerra para
gerar entusiasmo no público e nas tropas.7
Esse falso martírio é a base para os hinos progressistas entoados a
facínoras e criminosos de hoje, de Che Guevara a Bill Ayers e Trayvon
Marker. Da mesma forma para a esquerda e para os nazistas, parece não
haver nada que seu próprio lado não possa fazer e depois sair ileso. De certa
forma, quanto pior a ofensa, mais duro a esquerda luta para legitimá-la. Os
facínoras da esquerda não só tornam-se heróis culturais, mas também
aqueles que os criticam de alguma forma transformam-se nos vilões da
história. É a história de Horst Wessel sendo repetida vez após vez. Suponho
que a única diferença seja que ainda não existe uma canção para Trayvon
Martin, e que Goebbels nunca afirmou que, no lugar de Horst Wessel,
poderia ter sido seu próprio filho.
No entanto, mesmo quando abraça a propaganda nazista e suas táticas de
opressão, a esquerda insiste, engraçado dizer, afirmando que suas ações são
em nome do antinazismo. É daí que a respeitabilidade moral vem. É assim
que os facínoras fascistas podem ser retratados por seus aliados
progressistas na mídia e em Hollywood como sendo bonzinhos. Por
contraste, os seus alvos — as vítimas dos abusos e opressões fascistas —
são retratados como fascistas que merecem ser humilhados e abusados
dessa maneira. Se agora você começou a sentir que isso tudo não passa de
uma construção horrivelmente doentia e invertida, você está certo. Pois,
sim, realmente é.
Como as coisas chegaram a tal ponto? Essa incrível história começa com
um filósofo nazista que, por acaso, é um dos grandes filósofos do século
XX, Martin Heidegger. Ela continua com um dos alunos judeus de
Heidegger, Herbert Marcuse, que, curioso notar, aprendeu a sua mais
importante lição com os nazistas e a trouxe para a América. Por razões que
serão reveladas em breve, Marcuse ensinou a esquerda dos anos 1960 a
imitar os fascistas enquanto posava de antifascista.
Finalmente, voltamo-nos para outro refugiado do nazismo, que, no
entanto, em sua juventude, trabalhou com os nazistas e agora lidera, de
maneira semelhante a Mussolini e Hitler no passado, sua própria milícia
privada. Note que Trump não possui uma milícia privada, mas que esse
sujeito a tem. No caso dele, bem como no de Marcuse, a selvageria fascista
deriva sua legitimidade moral e respeitabilidade pública de uma falsa pose
antifascista. Seu nome é George Soros.
Intolerância Repressiva
Marcuse era ativo em todas as frentes. Em seu livro One Dimensional
Man [O Homem Unidimensional], ele critica o capitalismo americano por
reduzir todos os valores aos valores do mercado e os seres humanos a
consumidores manipulados pela publicidade corporativa. A solução de
Marcuse consistia em combater a publicidade corporativa com a
propaganda política, visando motivar a consciência pública e mobilizá-la
contra o capitalismo.
Marcuse também escreveu seu An Essay on Liberation [Um Ensaio
sobre a Libertação], mostrando à esquerda na América como ela poderia
ajudar as revoluções socialistas no Vietnã, Cuba e mundo afora: em
essência, ajudaria ao tornar-se parte de uma guerrilha de resistência nos
Estados Unidos. Mais uma vez, música aos ouvidos de ativistas de esquerda
na década de 1960. Sem dúvida eles pensaram: “Quer dizer que eu também
posso me juntar a uma guerrilha à lá Che Guevara bem aqui, em Ann Arbor,
Michigan?”.
Aqui, desejo concentrar-me na ideia de que Marcuse provavelmente seja
melhor lembrado como alguém que não poderia ser mais pertinente nos dias
de hoje, o que bem se percebe a partir de um famoso ensaio escrito por ele,
intitulado Repressive Tolerance [Tolerância Repressiva]. Este, publicado em
1970, junto de vários outros em um livro chamado A Critique of Pure
Tolerance [Crítica da Tolerância Pura].
Sigamos o argumento do ensaio, pois ele fornece a base para a
intolerância viciosa que a esquerda atualmente desencadeia contra todas as
formas de dissidência em nossa cultura. O assédio, a opressão e o
terrorismo contra conservadores no câmpus universitário, a ridicularização
dos republicanos na mídia, a profanação da bandeira americana, a
interrupção dos comícios de Trump — todo esse comportamento recebe sua
justificativa moral no notório ensaio de Marcuse.
Ele começa admitindo que, se nada mudar no cenário em questão,
virtudes liberais clássicas como a tolerância e a liberdade de expressão são
desejáveis. Mas, segundo ele, dada a estrutura de classe da sociedade, em
que os grupos governantes têm a maior parte do poder e os grupos
desprotegidos têm pouco, “os limites da tolerância estão lotados”. Estender
tolerância a grupos intolerantes, Marcuse argumenta, “na verdade protege
as já consagradas máquinas de discriminação”.
Portanto, Marcuse argumenta que um princípio geral de tolerância liberal
— tolerância em relação a todos os pontos de vista — deve ser abandonado:
“A tolerância não pode ser indiscriminada e igual no que diz respeito ao
conteúdo daquilo que é expresso, nem em palavras nem em ações; a
tolerância não pode proteger palavras de falsidade nem atitudes erradas,
estas manifestando que contradizem e neutralizam as possibilidades de
libertação”.
Na sociedade, Marcuse insiste: “Certas coisas não podem ser ditas,
certas políticas não podem ser propostas, certos comportamentos não
podem ser permitidos, sem fazer da tolerância um instrumento para a
continuação da servidão”. Marcuse não era nada menos que contundente
sobre o que defendia: “revogue-se sistematicamente a tolerância para com
opiniões regressivas e repressivas”.
O que especificamente Marcuse procurava reprimir? Ele cita “a retirada
da liberdade de expressão e do direito de assembleia de grupos e
movimentos que promovem políticas agressivas, armamento, chauvinismo,
discriminação racial e religiosa, ou que se opõem à ampliação dos serviços
públicos, segurança social, assistência médica, etc”. Além disso, Marcuse
acrescenta que sua “abordagem poderia exigir novas e rígidas restrições aos
ensinos e práticas nas instituições educacionais”, incluindo a supressão de
certos tipos de “pesquisa científica”.
Sem rodeios, Marcuse clama por “intolerância contra os movimentos de
direita e tolerância aos movimentos de esquerda”. Ele confessa que seu
objetivo é “mudar o equilíbrio entre a direita e a esquerda, restringindo a
liberdade da direita”, para, assim, “fortalecer os oprimidos contra os
opressores”. O argumento de Marcuse resume-se nesta frase: sem tolerância
para com o intolerante. Na década de 1960, os acólitos de Marcuse
entoaram uma máxima semelhante: “Abaixo a liberdade de expressão para
os fascistas”.
Marcuse lembra seus leitores de que, quando os fascistas planejavam um
massacre, “os discursos dos líderes fascistas e nazistas eram o prólogo
imediato ante o massacre”. No entanto, ele diz: “Poderia ter sido possível
interrompê-lo enquanto ainda estivesse na posição de mensagem propagada,
antes que fosse tarde demais”. Na verdade, se desde antes não houvesse
tolerância para com os nazistas, “a humanidade poderia ter evitado
Auschwitz e uma guerra mundial”. Marcuse convida companheiros
esquerdistas e progressistas a dar à direita na América o que se pode chamar
de tratamento fascista ou nazista — uma forte dose de repressão e
intolerância.26
À primeira vista, “restringir a liberdade de expressão para fascistas” soa
irrepreensível. Mas basta refletir um pouco que a ideia torna-se
problemática. Debaixo da Constituição, não são os direitos iguais a todos os
cidadãos e, assim sendo, não têm eles os mesmos direitos à liberdade de
expressão, à livre assembleia, e assim por diante? Se assim for, os fascistas
também têm tais direitos. Então, com base em que os fascistas na América
podem ter seus direitos negados? Visto ter isso em mente, Marcuse
obviamente não acredita nos direitos iguais em pé de igualdade para todos
os cidadãos; nem seus seguidores de hoje, pelo visto.
Além disso, Marcuse não prova nem sequer por um instante que os
grupos que ele pretende reprimir são de fato fascistas. O alvo de Marcuse
não são nazistas, mas sim patriotas, republicanos e conservadores. O
significado verdadeiro de seu ensaio é o seguinte: não à liberdade de
expressão para patriotas e conservadores! Nenhuma tolerância para
capitalistas e cristãos! Já era esperado, fascistas e nazistas, eles mesmos
procuravam minar as instituições da democracia liberal como a liberdade de
expressão e a tolerância, ato congênere aos ensinamentos de Marcuse.
Lutar contra o fascismo com intolerância é uma coisa. Mas lutar contra o
liberalismo clássico e o conservadorismo americano moderno com
intolerância é, a bem da verdade, fascismo. Stanley Payne, historiador —
que não é conservador —, sem dúvida entendeu a mensagem. Em seu livro
A History of Fascism, Payne analisa o argumento de Marcuse sobre a
tolerância repressiva e conclui: “Em vez de apresentar uma interpretação do
fascismo, Marcuse parece simplesmente refletir o tipo de pensamento que,
desde o princípio, formou o próprio fascismo”.27 Em outras palavras, quem
quiser saber como é um fascista, que comece com Marcuse.
Às vezes me pergunto como é que Marcuse, um refugiado da Alemanha
nazista, poderia tão sofisticamente recomendar as mesmas táticas nazistas
das quais fugiu. Lendo Marcuse — sua admiração maquiavélica pelo uso
astuto da força, sua exaltação do poder nietzschiano —, acho que descobri.
Qualquer que fosse sua repulsa ao antissemitismo nazista, Marcuse
entendeu que o uso de táticas terroristas da Alemanha nazista era efetivo.
Eles conseguiram, os nazistas derrotaram seus adversários e os subjugaram.
Resumidamente, eles produziram o seu próprio Gleichschaltung. Então,
Marcuse imaginou, por que nós, que também somos de esquerda, não
aplicamos algumas dessas mesmas táticas triunfantes nos Estados Unidos?
O objetivo último de Marcuse nesse ensaio é bastante claro. Ele pretende
capacitar progressistas e esquerdistas ao uso de todo tipo de tática, desde a
discriminação até a repressão e a violência direta, a fim de erradicar sua
oposição conservadora. Não se preocupe com ser intolerante, ele diz, mas
lembre-se somente de que a luta é contra a intolerância! Percebe-se assim
como grupos facínoras de esquerda, Black Lives Matter, Antifa e todos os
demais, recebem suas táticas de guerrilha contra a moral.
Há, na tese de Marcuse, um corolário final que geralmente passa
desapercebido. Marcuse não só autoriza o que for preciso para o uso de
táticas opressoras e terroristas contra a direita. Ele também garante aos
esquerdistas que o escape é certo, eles podem fazer o que quiser e sair
ilesos, afinal são eles é que estão do lado da humanidade e da libertação.
Vale considerar por um instante o porquê de o comportamento predatório
de Bill Clinton ser rotineiramente desculpado pela esquerda, mesmo por
supostas feministas que ficariam loucas se um republicano ou conservador
fizesse algo remotamente parecido. É útil lembrar que Bill não foi um mero
galanteador; muitas mulheres o acusaram de assédio, tentativas de agressão
e até mesmo estupro. A explicação óbvia para tamanha imunidade é que
Bill está politicamente ao lado dos anjos, ou seja, ele está no campo
progressista e, portanto, não há limites quanto ao nível de proteção que lhe
é permitido.
A mídia de esquerda foi meticulosamente protetora ao falar do filantropo
democrata Jeffrey Epstein e de sua ilha, onde eram organizadas orgias,
muito menos mostrou interesse em cobrir as perversidades de Anthony
Podesta com suas práticas de “spirit cooking”*. Mesmo o caso de Anthony
Weiner com escândalos envolvendo meninas menores de idade não seria
problema para a esquerda, desde que não causasse maiores alardes e
tornasse Wiener politicamente calamitoso.
Concluo esta parte sobre Marcuse voltando-me aos artigos esquerdistas
mencionados anteriormente; estes insistem que os escritos da Escola de
Frankfurt são de necessidade crítica para entender Trump e nosso momento
atual. Acredito eu que possamos ver agora que de fato são. Deles não se
entende Trump e o GOP como fascistas perigosos. Pelo contrário. Eles
mostram é que Marcuse, Adorno e os demais eram fraudes intelectuais e
políticas. Artistas vigaristas de esquerda, uma classe que criou sua própria
versão da grande mentira e deu uma bela demonstração de como orquestrar
uma vingança nos moldes fascistas enquanto posando de antifascistas.
O Onzeneiro de Hitler
Soros adora jogar a cartada nazista, como, por exemplo, quando após o
11 de setembro depreciou o procurador-geral do presidente Bush, John
Ashcroft, por questionar o patriotismo de seus críticos — uma tática que
Soros comparou aos nazistas. “Isso me fez lembrar da Alemanha sob o
comando dos nazistas”, Soros disse, “é o tipo de conversa que Goebbels
costumava usar para alinhar os alemães. Lembro bem, eu tinha treze ou
catorze anos. Foi o mesmo tipo de propaganda”.32
Essa referência à juventude torna a transcrição de uma entrevista com
Soros, ao ar em 1998 pela rede CBS no programa Sixty Minutes,
especialmente reveladora. Aqui está o que Soros contou ao entrevistador
Steve Kroft sobre esses dias fatídicos na Alemanha de Hitler:
Kroft: Você é um judeu húngaro.
Soros: Hum...
Kroft: . . . que escapou do Holocausto.
Soros: Hum...
Kroft: . . . se… se passando por cristão.
Soros: Isso.
Kroft: E você viu muitas pessoas sendo levadas para os campos de
extermínio.
Soros: Isso. Eu tinha catorze anos. Diria que foi quando o meu
caráter foi formado.
Kroft: De que maneira?
Soros: De um jeito que faz você pensar no futuro. É necessário
entender e antecipar os eventos quando se está sob ameaça. Foi um
tremenda ameaça do mal. Quero dizer — foi uma experiência muito
pessoal do mal.
Kroft: Meu entendimento é que você saiu com este seu protetor, ele
jurando que você era o afilhado dele por adoção.
Soros: Sim. Sim.
Kroft: Saiu e, mesmo assim, ajudou no confisco de propriedade dos
judeus.
Soros: Sim. Isso mesmo. Sim.
Kroft: Quero dizer, isso. . . essa parece uma experiência que enviaria
muitas pessoas para o divã por muitos, muitos anos. Foi difícil?
Soros: Não, de jeito nenhum. Talvez, quando criança, você não —
você não veja a conexão. Mas foi, assim — não, não me causou
absolutamente nenhum tipo de problema.
Kroft: Sem sentimento de culpa.
Soros: Nenhum.
Kroft: Por exemplo, “eu sou judeu e aqui estou, vendo essas pessoas
partindo. Eu poderia tão facilmente estar lá. Eu deveria estar lá”.
Nada disso?
Soros: Bom, claro que eu, que eu poderia estar do outro lado ou eu
poderia ser aquele de quem o objeto está sendo tirado. Mas não faria
sentido eu não estar lá, porque — bem, na verdade, é cômico dizer, é
como no mercado — se eu não estivesse lá, é claro que não estaria
fazendo aquilo, mas outra pessoa estaria — alguém estaria tirando de
qualquer forma.
E foi assim mesmo — se eu estivesse lá ou não, eu não passava de um
espectador, a propriedade estava sendo tomada. Então, eu... não fiz o papel
de tirar essa propriedade. Assim eu não tenho sentimento de culpa.33
O que me interessa aqui não é aquilo que o jovem Soros fez — não
pretendo impor peso demasiado à conduta de alguém com catorze anos de
idade —, mas sim como o Soros já maduro interpreta retroativamente suas
ações do passado como um rapazote que confiscava a mando de Hitler.
Evidentemente, Soros acredita que acompanhar uma autoridade do governo
fascista em colaboração com os nazistas no propósito de cumprir mandados
de confisco aos judeus para roubar seus bens e propriedades não seja algo
de que se deva sentir-se culpado ou arrependido.
Por quê? Pois, assim como uma transação de mercado, o resultado teria
acontecido de qualquer forma. Quem já disse isso antes? Ah, sim, claro.
Lembre-se da resposta de Josef Mengele quando confrontado por seu filho,
Rolf, acerca de seus crimes. Mengele insistiu que não era responsável pelo
que aconteceu em Auschwitz, dado que os cativos lá já estavam
sentenciados à morte. Eis então Soros montando o que pode ser chamado de
Defesa Mengele. A única diferença é que Mengele não se safou, enquanto a
explicação de Soros parece totalmente satisfatória para a esquerda política.
Numa breve biografia de Soros para a revista New Yorker, Jane Mayer
nota que Soros uma vez descreveu 1944 — o ano em que Hitler despachou
mais de 500 mil judeus para campos de extermínio — como “o ano mais
feliz da minha vida”. Mayer acrescenta que este foi o ano em que o pai de
Soros salvou sua família fornecendo-lhes falsos documentos de identidade.
Aparentemente, o pai de Soros fez o mesmo por outras famílias judias,
embora tenha vendido os papéis e, assim, lucrado com esse esforço.
Mayer perguntou a Soros sobre o ocorrido e este disse: “Eu tive a sorte
de ter um pai que entendeu que não estávamos no estado normal das coisas,
e se seguir as regras convencionais, você morre. Muitos judeus não
tomaram medidas evasivas. O que aprendi durante a guerra é que, às vezes,
você pode perder tudo, mesmo a sua vida, ao não correr riscos”.34 Mais
uma vez, Soros se esquiva do problema. Justamente por não ser uma época
normal, parece não ser razoável ganhar dinheiro ajudando seus
companheiros judeus a sair da Alemanha.
Soros não enxerga assim. Ele não vê nada de errado com o que seu pai
fez. Pelo contrário, ele o vê como um herói pessoal. Ele parece culpar os
judeus não tão visionários quanto seu pai. Por que aqueles que pensaram à
frente não deveriam se beneficiar daqueles que não o fizeram? E, mais uma
vez, Soros, de maneira rude, associa toda a questão a decisões de mercado e
de investimento: vejam o que acontece quando os tipos corretos de riscos
não são tomados!
Percebe-se em Soros o tipo de amoralismo padrão que o coloca na
mesma categoria de Heidegger e Marcuse. Estes três homens foram
profundamente íntimos do nazismo, com toda uma visão formada em
resposta a essa relação. Consequentemente, o movimento esquerdista que
eles moldaram na América também é produto desse engajamento. Somos
vítimas dessa possessão demoníaca. Em certo sentido, o fascismo deixou
esses três homens loucos, e agora eles estão tentando deixar todos nós
loucos também.
Veja como esse trio, Heidegger, Marcuse e Soros, colocou seus talentos e
recursos por trás das causas esquerdistas truculentas. Heidegger apoiou
abertamente os nazistas. Marcuse e Soros promovem táticas nazistas em
nome de uma esquerda supostamente antifascista. Juntos, esse trio horrendo
desempenhou um papel importante na destruição das universidades, na
propaganda esquerdista da mídia e nas táticas dos camisas pardas usadas
pelos progressistas de hoje.
Capítulo Nove
Desnazificação
Este não é o fim. Não é nem o começo do fim. Mas é, talvez, o fim
do começo.1
Winston Churchill, 10 de novembro de 1942
A Agenda Antifascista
Como seria uma agenda antifascista? Aqui, minha abordagem é simples.
Primeiro, identifico a doutrina ideológica central do fascismo de esquerda;
então, recomendo medidas políticas para desfazê-la, movendo as coisas na
direção oposta. Em seguida, volto-me ao Gleichschaltung progressista na
arena cultural, onde a esquerda reforça um alinhamento nos moldes
fascistas através do politicamente correto e das grandes mentiras. Mostro
como quebrar esse monopólio institucional, acabar com a arregimentação
do pensamento e explodir a grande mentira. Por fim, volto-me à depredação
fascista da esquerda, que se destina não apenas a forçar a oposição, mas
também a intimidar adversários em potencial e aterrorizá-los em submissão.
Aqui, mantenho-me firme e mostro como a direita deveria combater fogo
com fogo. Modificando uma frase de Marcuse, frase que aplico agora à
própria progênie ideológica dele, “Não ao tratamento leve com fascistas”.
Em seu cerne, o fascismo é a construção do Estado Leviatã todo-
poderoso. Como Mussolini deixa claro em sua Autobiografia, “O
fundamento do fascismo é a concepção do Estado. O fascismo concebe o
Estado como absoluto, em comparação com o qual todos os indivíduos ou
grupos são relativos, apenas para serem concebidos em sua relação com o
Estado. Para nós, fascistas, o Estado não é apenas uma realidade viva do
presente; ele também está ligado ao passado e ao futuro e, assim,
transcendendo os limites breves da vida individual, representa o espírito
imanente da nação”.3 Acredito que, se algum líder democrata dissesse isso
na convenção nacional do partido, substituindo a palavra ‘fascismo’ por
‘progressismo’, a plateia toda se levantaria aplaudindo.
De acordo com a descrição de Mussolini, teóricos fascistas como
Giovanni Gentile falaram do Estado fascista como um único corpo e de
indivíduos como células dentro desse corpo. Cada célula isolada não tem
significado; as células são valiosas apenas na medida em que servem o
corpo. Nas palavras de Gentile, “a vontade legítima dos cidadãos é essa
vontade que corresponde à vontade do Estado”.4 Na esfera econômica,
como já vimos, o Estado fascista, por meio de mandatos e de
regulamentação, controla as operações das corporações e entidades privadas
e, em especial, dos setores críticos como bancos, saúde, energia e educação.
E esse estado Leviatã, é claro, também é o principal plano ideológico do
progressismo americano moderno.
Assim, o projeto antifascista é desmantelar o Estado Leviatã. Não estou
sugerindo que conservadores ou republicanos devam livrar-se do Estado.
Não seria algo possível nem desejável. Pelo contrário, é preciso restaurar o
governo aos limites no poder e na esfera de atuação delineados pela
Constituição. Sob comando progressista, o Estado agigantou-se; tornou-se
voraz e tirânico. É necessário matar a besta de fome, arrancar alguns de
seus órgãos e diminuí-la de tamanho.
Mas como? O primeiro passo, claro, é livrar-se do legado de Obama.
Isso significa derrubar o programa Obamacare, com o qual os progressistas
confiscam um sexto da economia dos EUA, e substituí-lo por um sistema de
saúde que restaure a gestão de regime privado e incentive a iniciativa
privada. Em segundo lugar, revogar a lei Dodd-Frank e devolver as
indústrias bancárias e de investimento ao controle privado. Em terceiro
lugar, deve-se funilar os requisitos mínimos para beneficiados, de modo que
cestas básicas cheguem à pequena população que realmente precisa. Obama
aumentou deliberadamente o número de pessoas beneficiadas por cestas
básicas, pois assim as torna mais dependentes do governo americano.
Trump e os republicanos, no entanto, devem ir além de revogar o que
Obama fez. Eles devem passar uma reforma fiscal abrangente, o que
idealmente envolve uma redução acentuada na taxa de imposto corporativo
e uma taxa fixa para impostos de renda de pessoa física na faixa de 15% a
20%. Por que não ter uma forma de impostos simplificada para pessoa
física, uma com poucas deduções que possam ser preenchidas numa única
página? A redução e a simplificação de impostos são duas das melhores
maneiras de refrear o Leviatã e, portanto, constituir um golpe de mestre
antifascista. A direita também deveria reduzir abruptamente os
regulamentos federais, privatizar as funções do governo ao máximo e
vender as grandes extensões de terra que o governo atualmente possui sem
nenhum motivo aparente.
Uma das características essenciais tanto do fascismo quanto do nazismo
foi eliminar a autonomia regional, transferindo todo o poder para o centro.
Na Alemanha, William Shirer escreve: “Hitler conseguiu o que Bismarck,
Wilhelm II e a Alemanha de Weimar nunca se atreveram a tentar — ele
aboliu os poderes separados dos estados e os sujeitou à autoridade central
do Reich”. O ministro do Interior de Hitler declarou, sem rodeios: “Os
governos estaduais de agora em diante são meramente órgãos
administrativos do Reich”.5
Aqui, na América, refletindo o que os nazistas fizeram, a esquerda
progressista tem trabalhado há mais de meio século para fortalecer a
autoridade do governo federal em detrimento dos estados. Este projeto foi
realizado, em parte, em nome da uniformidade administrativa e, em parte,
em nome da eliminação de um suposto racismo, implícito no conceito de
direitos dos estados. Afinal, os direitos dos estados foram o grito de
secessão e de posterior segregação e mais tarde da discriminação fomentada
pelo Estado.
Esse ataque esquerdista aos direitos dos estados é uma fraude. Em
primeiro lugar, a razão pela qual os Pais Fundadores criaram um sistema de
dupla soberania, no qual os poderes separados são atribuídos ao governo
federal e aos estados, é precisamente por que eles não queriam — e os
povos dos estados soberanos, que, em grande parte, tinham governo sobre si
próprios, não aceitariam — uma uniformidade maçante e potencialmente
tirânica de regras para todos os cidadãos. Em vez disso, eles queriam o que
o economista Friedrich Hayek chamou de uma “estrutura de utopias
concorrentes”, cada estado experimentando regras diferentes. Dessa forma,
o povo poderia ver o que funciona melhor. Caso não fosse do agrado a
forma como as coisas são executadas no estado em questão, a pessoa
poderia simplesmente mudar-se para outro estado. Em suma, os Pais
Fundadores desejavam a verdadeira diversidade, e isso é o que a esquerda
— ao impor um conjunto nacional de regras — procura erradicar.
Sim, os direitos dos estados foram invocados para defender a escravidão
e a segregação, mas lembre-se de quem impôs isso — o Partido Democrata.
Assim, os democratas hoje professam defender os direitos dos estados para
evitar as atrocidades que cometeram. Pode-se dizer que eles estão tentando
salvar o país de si mesmos. Acredito que o lema deles seja “Impeça-nos
antes antes que nos tornemos racistas contra vocês mais uma vez”. Ao
contrário da propaganda de esquerda, não há nada de errado com o conceito
de direitos dos estados. O problema se encontra com a ideologia do Partido
Democrata, e o remédio para prevenir futuras atrocidades democratas é
nunca, em nenhuma circunstância, votar em um democrata.
Trump e os republicanos precisam restaurar a integridade da divisão dos
poderes constitucionais original, devolvendo grandes extensões do poder
federal aos estados. Reconheço que este é um projeto de longo prazo que
durará mais que a presidência de Trump, porque a esquerda, com a
vergonhosa cumplicidade dos tribunais, distorceu completamente o arranjo
constitucional. Ainda assim, digo, que comece a restauração.
O Fim da Gleichschaltung
Finalmente, agora chegou a vez de analisar o semblante mais repulsivo
do fascismo progressista; a saber, seu empenho em estabelecer a
uniformidade de pensamento e de sentimento por todo o país. O projeto da
esquerda aqui reflete aquilo que Joseph Goebbels declarou a respeito do
Gleichshaltalung nazista: “O nacional-socialismo não só é uma doutrina
política; é uma perspectiva universal e toda abrangente sobre os tópicos do
coletivo. Esperamos que chegue o dia quando ninguém mais terá de referir-
se ao nacional-socialismo, uma vez que este haverá se transformado no ar
que respiramos. O povo precisa internalizar essa disposição mental, as
pessoas devem apossar-se dessa postura. Tão somente quando isso for
assimilado é que uma nova inclinação terá surgido na cultura”.6
A esquerda, buscando precisamente esta mesma conformidade de
pensamento e sentimento sobre toda a sociedade americana, tem seu próprio
Gleichshaltalung não meramente “ateando fogo nas ruas”, mas também
através de uma longa guerrilha por meio das instituições. Havendo cercado
boa parte delas, a esquerda agora pode usar a academia, a mídia e
Hollywood — seu Estado dentro do Estado — para, sem reservas em ato
contínuo, disseminar a propaganda fascista. Concorrente a isso, tamanha
propaganda expele conservadores e vozes dissidentes destas mesmas
instituições. Seus marginais fascistas — autointitulando-se “ativistas” —
não hesitam em assediar, intimidar e espancar aqueles que vierem a
representar ameaça ao Gleichshaltalung da esquerda atual.
Esse é um tipo de fascismo que exige da direita um novo tipo de reação.
Até agora os conservadores contentaram-se em documentar e lastimar as
tendências e predisposições da academia, da mídia e de Hollywood. Postura
que não chega nem perto de ser suficiente. É preciso romper com esse
monopólio da informação. É imperativo abrir um novo espaço para pontos
de vista rivais e dissidentes. É necessário criar instituições culturais que
façam rivalidade. E é preciso parar esses marginais que vão às ruas para não
fazer nada além de causar tumulto. Isso tudo exigirá da direita nova
criatividade, nova resolução, uma nova disposição para fazer uso da força
física prescrita na lei. Quem disser que a força física está fora de cogitação
não entende o que significa deter o fascismo.
O primeiro passo é, para nós da direita, cultivarmos uma nova
mentalidade. Devemos aprender a decifrar aquilo que lemos, vemos e
ouvimos. Quando vemos na CNN, por exemplo, sendo dito que Trump
pende a um péssimo início de mandato, devemos aprender a reconhecer que
isso significa que Trump pende a um ótimo início de mandato — pois
aquilo que é ruim no ponto de vista da CNN, na verdade é bom no nosso
ponto de vista. Devemos nos habituar a tratar como falso tudo o que a
academia progressista, a mídia progressista e o Hollywood progressista nos
apresentam. Obviamente não no sentido concreto da coisa, mas num sentido
mais profundo, de que os fatos estão sendo manipulados a serviço de uma
metanarrativa fascista. Em suma, devemos estar sempre alertas para a
grande mentira em todas as suas formas.
Segundo passo, devemos usar todo o arsenal à nossa disposição, da
mídia conservativa às mídias sociais, para esfolar em público a academia,
Hollywood e a mídia por seu partidarismo e exclusivismo unilaterais.
Trump já vem agindo a este respeito, e é essa uma das coisas que eu mais
amo nele. Gostaria de vê-lo indo mais a fundo nessa direção política,
cortando os fundos federais para a Rádio Pública Nacional e para o Serviço
Público de Transmissão dos EUA. Ambos são órgãos de propaganda da
esquerda fascista.
Quando as universidades estatais expulsam palestrantes conservadores,
os legisladores republicanos deveriam mover-se depressa para cortar o
financiamento federal e estatal dessas instituições. Em locais como
Berkeley, onde o reitor universitário, o prefeito e a polícia local parecem
conspirar para sufocar os direitos da Primeira Emenda da Constituição,
Trump deveria enviar a Guarda Nacional até lá, bem do jeito como
Eisenhower fez em 1957, para impedir outro grupo de democratas fanáticos
de reprimir os direitos constitucionais dos estudantes negros. É lógico que a
esquerda vai berrar. Mas deixe-os berrando. É para isso que estamos aqui.
Note que não estamos tentando persuadir os fascistas de esquerda. Nada
seria mais inútil. Pelo contrário, o que estamos por fazer é reduzi-los o
máximo possível. Também estamos alertando o público de que aquilo que
eles recebem da esquerda não é mero “conhecimento”, “notícias”,
“entretenimento”, mas propaganda política mascarada de conhecimento, de
notícias e de entretenimento. Este é o significado original das #FakeNews.
Uma vez que o povo americano passe a enxergar tudo isso, o poder dos
megafones da esquerda será dissolvido. E a partir daí é que então a política
americana se tornará genuinamente competitiva. Estamos, aqui e agora,
lutando contra todo o aparato da cultura geral contra nós.
Terceiro, ao longo do tempo temos de criar nossas próprias instituições
para fazer rivalidade. É claro, eu sei que não conseguiremos dar início a
milhares de novos câmpus, mas a boa notícia é que, com a ajuda da
tecnologia, não precisamos. Em vez disso, o que devemos fazer é criar as
melhores universidades on-line, para que batam de frente com o melhor que
a academia progressista pode oferecer. Se descobrirmos um jeito de
providenciar uma educação de alta qualidade por uma fração do que é
cobrado pelo ensino superior atual, nós podemos revolucioná-lo e desafiar,
talvez até substituir, sua estrutura de poder vigente.
Também precisamos produzir nossos próprios filmes — não meramente
documentários, mas também longas-metragens. Dentro de poucos anos,
superei Michael Moore nos gráficos de produção de documentários,
obtendo, sucessivamente, a segunda, a sexta e a oitava maior arrecadação
vinda de documentários políticos de todos os tempos. Mas isso está longe
de ser o suficiente. Hollywood comunica a maior parte de suas mensagens
ideológicas via comédias românticas, filmes de suspense, de terror e
animações para toda a família. O chefão de Hollywood não é Michael
Moore; é Stephen Spielberg. Precisamos competir em todos os gêneros do
cinema.
Além do mais, temos de construir canais de comunicação que consigam
ir mais longe do que o alcance relativamente limitado das rádios e do canal
Fox News. Pense no seguinte. No mundo da comédia da TV, a esquerda tem
Bill Maher, Jon Stewart, Stephen Colbert e John Oliver. Até o momento,
temos pouquíssimos para competir com eles, e muitos jovens não só
adquirem desses palhaços seu próprio estilo e senso de humor como
também sua própria instrução política.
A solução, obviamente, é que precisamos ter nossos próprios palhaços.
Isto certamente levará tempo — Maher e companhia começaram com
apresentações locais, fazendo seus eight days a week, “oito dias por
semana”, ao estilo Beatles. Nós deveríamos ao menos já ter começado.
Pense em quão valiosas seriam as doações feitas por conservadores se
fossem para alguns daqueles projetos inovadores, e não tudo para as já tão
conhecidas ONGs partidárias ou para as ONGs sem fins lucrativos ou para
as think tanks, que há muito tempo já chegaram aos limites da eficácia. Só
tomando tais medidas, com criatividade e abrangência exaustivas, é que
conseguiremos alcançar a verdadeira desnazificação, uma vez que isso trará
fim ao Gleichschaltung da esquerda.
Devemos também lidar com as brigadas de Soros, e com isso estou
falando dos marginais de rua que usam táticas de terror e de opressão para
nos calar e nos apagar. Quando eles expulsarem algum de nossos
palestrantes de determinado câmpus universitário, devemos enviar outros
dez palestrantes e acompanhados de uma segurança pesada. Se eles
destroem nossos cartazes e nossas placas, devemos do mesmo modo
destruir os cartazes e placas deles. Alguns “trumpsters” abraçaram medidas
defensivas como rastrear a identidade dos Antifas mascarados em protestos
para revelar seus nomes nas mídias sociais ou amarrá-los em postes e placas
de trânsito com fita adesiva. Reconheço ser este um ativismo republicano
atípico, mas com certeza isso dá o troco aos tirânicos de esquerda.
E o mais importante, não podemos hesitar em romper a lei e a polícia
sobre esses camisas pardas da esquerda. Reagan deu bom exemplo disso
enquanto ainda governador da Califórnia, em 1960. Toda perturbação
violenta de hoje deveria ser agressivamente julgada. O Partido Democrata,
lembremo-nos, usou a Ku Klux Klan como um de seus executores políticos.
A KKK não saiu da ativa por livre e espontânea vontade. Primeiro ela foi
combatida por Ulysses Grant, presidente republicano, durante o período de
Reconstrução dos EUA, e mais tarde pela aplicação legítima das leis com o
FBI. Quando os “protestos” da Antifa chegam ao patamar de violência,
crime, tumulto ou até mesmo terrorismo nacional, os culpados também
devem ser julgados pela força completa da lei.
Para fins de jurisprudência, cerca de duzentos esquerdistas — dos quais
muitos eram jornalistas — que perturbaram com violência a cerimônia de
posse presidencial foram acusados de perturbação pública, crime que pode
chegar a dez anos de prisão.7 A esquerda queria nos fazer acreditar que
tumultos e desordens são formas nobres de protesto político e que, de certa
forma, a lei não se aplica ao caso deles. Como já é típico, casos assim caem
nas mãos de juízes progressistas, que liberam os manifestantes mediante
uma pena simbólica ou, afinal, nem chegam a penalizá-los. Nas confusões
causadas em Berkeley foi ainda pior: apesar do turbilhão de violência,
quase não houve prisões, uma vez que a polícia permaneceu inerte. Mas
ninguém deveria estar acima da lei. Se juízes e júris passassem a decretar de
cinco a dez anos de prisão a esses casos, todo esse absurdo rapidamente
diminuiria.
Capítulo Três
A Jornada de Mussolini
1 HAYEK, F. A. The Road to Serfdom. Chicago: University of Chicago Press, 2007. p. 145.
2 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994. p.
208.
3 SHIRER, William. The Rise and Fall of the Third Reich. New York: Simon & Schuster, 2011. p.
298.
4 ULLRICH, Volker. Hitler. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 125.
5 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. Intro. H. R. Trevor-Roper. New York: Enigma Books, 2000. p.
xxiv, 10.
6 GREGOR, A. James. The Faces of Janus. New York: Encounter Books, 2002. p. 105.
7 MURAVCHIK, Joshua. Heaven on Earth. New York: Encounter Books, 2002. p. 105.
8 ______. ______. p. 101.
9 ______. ______. p. 108.
10 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton University Press, 1994.
p. 39-66.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p. 159.
12 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press, 1995. p. 84.
13 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Berkeley:
University of California Press, 1979. p. 20.
14 GREGOR, A. James. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 33.
15 Para uma melhor discussão acerca de Woltmann, veja A. James Gregor em seu livro: Marxism,
Fascism and Totalitarianism. Standford: Standford University Press, 2000. p. 183-186.
16 GREGOR, A. James. Giovanni Gentile. New Brunswick: Transaction Publishers, 2008. p. 100.
17 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Berkeley:
University of California Press, 1979. p. 215.
Capítulo Quatro
Um Segredo do Partido Democrata
1 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
2 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 54.
3 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. New York: Enigma Books, 2000. p. 188.
4 GILBERT, Alan. The Cowboy Novels that Inspired Hitler. Daily Beast, 20 ago. 2016. Disponível
em: http://www.thedailybeast.com/the-cowboy-novels-that-inspired-hitler.
5 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright Publishing, 2003. p. 282-283.
6 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 139.
7 RICH, Norman. Hitler’s Foreign Policy. In: MARTEL, Gordon (Ed.). The Origins of the Second
World War Reconsidered: The A.J.P. Taylor Debate After Twenty-Five Years. Boston: Allen &
Unwin, 1986. p. 136.
WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 9-
10.
8 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent, 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 665.
EVANS, Richard. The Coming of the Third Reich. New York: Penguin Books, 2005. p. 111.
9 TOLAND, John. Hitler: the Definitive Biography. New York: Anchor Books, 1992. p. 702.
10 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
11 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt, 2014. p. 2.
12 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014.
PLATO, Alexander Von; LEH, Almut; THONFELD, Christoph (Ed.). Hitler’s Slaves. New York:
Berghahn Books, 2010.
13 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014. p. 22.
14 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 244.
15 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xiii, 256, 76, 382.
16 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 199.
17 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press, 1992. p. x, 147.
18 LEWY, Guenter. Were American Indians the Victims of Genocide? History News Network, set.
2004. Disponível em: http://historynewsnetwork.org/article/7302.
19 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER.
“Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide”. 9 dez. 1948.
Disponível em: http://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CrimeOfGenocide.aspx.
20 INSKEEP, Steve. Jacksonland. New York: Penguin Books, 2015. p. 203-204.
21 ______. ______. p. 205.
22 JACKSON, Andrew. Andrew Jackson to Rachel Jackson, March 28, 1814 [carta]. In: OWSLEY,
Harriet et. al. (Colab.). The Papers of Andrew Jackson. Knoxville: University of Tennessee Press,
1980. v. 3, p. 54.
BALL, Timothy Horton; HALBERT, Henry Sale. The Creek War of 1813 and 1814.
Montgomery: White, Woodruff & Fowler, 1895. p. 276-277.
23 “Andrew Jackson’s Speech to Congress on Indian Removal”. 6 dez. 1830. Disponível em:
https://www.nps.gov/museum/tmc/MANZ/handouts/Andrew_Jackson_Annual_Message.pdf.
24 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press, 1992. p. 123-
124.
25 LAWRENCE, Jane. The Indian Health Service and the Sterilization of Native American Women.
In: MIHESUAH, Devon A (Ed.). American Indian Quarterly. University of Nebraska Press,
2000. v. 24, n. 3, p. 400-419.
26 ELKINS, Stanley. Slavery: A Problem in American Institutional and Intellectual Life. Chicago:
University of Chicago Press, 1976. p. 111.
27 ______. ______. p. 130.
28 GENOVESE, Eugene. Rebelliousness and Docility in the Negro Slave. In: LANE, Ann (Ed.). The
Debate Over Slavery: Stanley Elkins and His Critics.Urbana: University of Illinois Press, 1975.
p. 43.
29 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 25.
30 WIESEL, Elie. Night. New York: Hill & Wang, 2006. p. 52.
HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 34.
31 ______. ______. p. 70.
32 GENOVESE, Eugene. The World the Slaveholders Made. Middletown: Wesleyan University
Press, 1988. p. 200.
33 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 171-
172.
34 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford University
Press, 2014. p. 37-38, 46.
35 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 188.
36 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press, 1993. p. 58.
37 ______. ______. p. 271-274.
38 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 11, 420.
39 PATTERSON, Orlando. Towards a Study of Black America. Dissent, Fall 1989, 480 p. Disponível
em: https://www.dissentmagazine.org/article/toward-a-study-of-black-america.
Capítulo Cinco
Os Racistas Originais
1 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton University Press, 2002.
p. 123-124.
2 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 23.
3 WHITMAN, James Q. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 1,
80, 95, 104, 127, 160.
WHITMAN, James Q. When the Nazis Wrote the Nuremberg Laws, They Looked to Racist
American Statutes. Los Angeles Times, 22 fev. 2017. Disponível em:
http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-whitman-hitler-american-race-laws-20170222-
story.html.
4 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 45.
5 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton University Press, 2002.
p. 124.
6 WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 50,
138, 145.
7 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright, 2013. p. 283.
8 MURAVCHIK, Joshua. Did American Racism Inspire the Nazis? Mosaic, 19 mar. 2017.
Disponível em: https://mosaicmagazine.com/observation/2017/03/did-american-racism-inspire-
the-nazis/.
9 WHITMAN, James. Why the Nazis Loved America. Time, 21 mar. 2017.
10 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 84.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p. 246-248.
______. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 214-217.
12 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt and Company, 2014. p. 70,
77-78.
13 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 210.
14 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 102-103.
15 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. Intro. H. R. Trevor-Roper. New York: Enigma Books, 2000.
p. 117-118, 373-374.
16 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt and Company, 2014. p. 72.
17 ______. ______. p. 8.
18 FRANKLIN, John Hope. From Slavery to Freedom. New York: Alfred A. Knopf, 1967. p. 341.
HIGGINBOTHAM, A. Leon. Groundwork: Charles Hamilton and the Struggle for Civil Rights.
Intro. Genna Rae McNeil. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1983. p. xvi.
19 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright, 2013. p. 90.
20 ______. When Affirmative Action Was White. New York: W. W. Norton, 2005. p. 81.
21 BELL, Derrick. Faces at the Bottom of the Well: The Permanence of Racism. New York: Basic
Books, 1992. p. 1, 3, 10, 52.
KOVEL, Joel. White Racism. New York: Columbia University Press, 1984. p. xi, 32.
WEST, Cornel. Keeping Faith: Philosophy and Race in America. New York: Routledge, 1993. p.
236.
22 JEFFERSON, Thomas. Notes on the State of Virginia. New York: W. W. Norton, 1982. p. 143.
23 LINCOLN, Abraham. Speech on the Dred Scott Decision. Springfield, Illinois, 26 jun. 1857. In:
CUOMO, Cuomo; HOLZER, Harold (Ed.). Lincoln on Democracy. New York: HarperCollins,
1990. p. 90-91.
24 Dred Scott v. Sandford, 60 U.S. 393 (1856).
25 TOWNSEND, John. The Doom of Slavery in the Union: Its Safety Out of It. [Enviado para a
Vigilant Association de Edisto em 29 out. 1860]. Disponível em:
http://civilwarcauses.org/townsend.htm.
26 WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University Press, 2017. p. 59-
60.
27 WILLIAMSON, Joel. The Crucible of Race. New York: Oxford University Press, 1984.
28 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p. 193.
29 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 672.
30 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 82.
Capítulo Seis
Pessoas Descartáveis
1 SANGER, Margaret (Ed.). Intelligent or Unintelligent Birth Control?. Birth Control Review, maio
1919. Disponível em: https://lifedynamics.com/app/uploads/2015/09/1919-05-
May.pdf.WEIKART, Richard. From Darwin to Hitler. New York: Palgrave Macmillan, 2004. p.
135.
2 POSNER, Gerald; WARE, John. Mengele. New York: Cooper Square Press, 200. p. 9.
3 ______. ______. p. 279.
4 KLIFF, Sarah. The Gosnell Case: Here’s What You Need To Know. Washington Post, 15 abr. 2013.
Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2013/04/15/the-gosnell-case-
heres-what-you-need-to-know/?utm_term=.61910f9f415c.
5 DESANCTIS, Alexandra. A Shocking New Undercover Video Exposes the Grisly Reality of
Ripping Apart Fetuses. National Review, 25 maio 2017. Disponível em:
http://www.nationalreview.com/article/447939/undercover-video-center-medical-progress-
exposes-gruesome-abortion-practices.
6 SALETAN, William. The Baby Butcher. Slate, 20 jan. 2011. Disponível em:
http://www.slate.com/articles/health_and_science/human_nature/2011/01/the_baby_butcher.html.
7 NASH, Nathaniel. Mengele an Abortionist, Argentine Files Suggest. New York Times, 11 fev.
1992. Disponível em: http://www.nytimes.com/1992/02/11/world/mengele-an-abortionist-
argentine-files-suggest.html.
8 EVANS, Richard. The Third Reich in History and Memory. New York: Oxford University Press,
2015. p. 21.
9 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xv, 257, 261, 382.
10 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 142.
11 FRANKS, Angela. Margaret Sanger’s Eugenic Legacy. Jefferson, NC: McFarland & Co., 2005. p.
180.
12 ______. ______. p. 70.
13 POPENOE, Paul; JOHNSON, Roswell Hill. Applied Eugenics. New York: Macmillan, 1918. p.
184.
14 BLACK, Edwin. The War Against the Weak. Washington, D.C.: Dialog Press, 2013. p. xvii, 258.
15 SANGER, Margaret. My Way to Peace. Discurso, 17 jan. 1932. In: Margaret Sanger Papers.
Disponível em: https://www.nyu.edu/projects/sanger/webedition/app/documents/show.php?
sangerDoc=129037.xml.
______. America Needs a Code for Babies. Discurso, 27 mar. 1934. In: Margaret Sanger Papers.
Disponível em: https://www.nyu.edu/projects/sanger/webedition/app/documents/show.php?
sangerDoc=101807.xml.
16 “Letter From Margaret Sanger to Dr. C. J. Gamble, December 10, 1939”. Genius. Disponível em:
https://genius.com/Margaret-sanger-letter-from-margaret-sanger-to-dr-cj-gamble-annotated.
17 GORDON, Linda. Woman’s Body, Woman’s Right: Birth Control in America. New York:
Penguin Books, 1990.
18 KUHL, Stefan. The Nazi Connection. New York: Oxford University Press, 1994. p. 34.
19 SANGER, Margaret. Human Conservation and Birth Control. Discurso, 3 mar. 1938. In:
Margaret Sanger Papers. Disponível em:
https://www.nyu.edu/projects/sanger/webedition/app/documents/show.php?
sangerDoc=220126.xml.
20 WEIKART, Richard. From Darwin to Hitler. New York: Palgrave Macmillan, 2004. p. 9.
21 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 286,
439-440.
22 WAGENER, Otto. Hitler: Memoirs of a Confidant. New Haven: Yale University Press, 1987. p.
145-146.
23 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 252.
24 BLACK, Edwin. The War Against the Weak. Washington, D.C.: Dialog Press, 2013. p. 270.
25 ______. ______. p. 259.
26 KUHL, Stefan. The Nazi Connection. New York: Oxford University Press, 1994. p. 36, 46.
27 ______. ______. p. 277.
28 FREDRICKSON, George. Racism. Princeton: Princeton University Press, 2002. p. 2.
29 FONER, Eric. Introduction. In: HOFSTADTER, Richard. Social Darwinism in America. Boston:
Beacon Press, 1992. p. x-xi.
30 HOFSTADTER, Richard. Social Darwinism in America. Boston: Beacon Press, 1992. p. 161.
31 FRANKS, Angela. Margaret Sanger’s Eugenic Legacy. Jefferson, NC: McFarland & Co., 2005. p.
141.
Capítulo Sete
Führers Americanos
1 “Volkischer Beobachter, May 11, 1933”. In: GOLDBERG, Jonah. Liberal Fascism. New York:
Doubleday, 2007. p. 148.
SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Three New Deals. New York: Henry Holt, 2006. p. 19.
2 LIPSET, Seymour Martin; MARKS, Gary. How FDR Saved Capitalism. Hoover Digest, 30 jan.
2001. Disponível em: http://www.hoover.org/research/how-fdr-saved-capitalism.
The Man Who Saved His Country and the World. The Economist, 30 out. 2008. Disponível em:
http://www.economist.com/node/12502823.
3 EVANS, Richard. The Third Reich in History and Memory. New York: Oxford University Press,
2015. p. 302.
4 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xiv.
5 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright Publishing, 2013. p. 38.
6 WHITMAN, James Q. Corporatism, Fascism and the First New Deal. Faculty Scholarship Series.
Yale Law School, 1991. Disponível em: http://digitalcommons.law.yale.edu/fss_papers/660/.
7 DIGGINS, John P. Mussolini and Fascism: The View from America. Princeton: Princeton
University Press, 1972. p. 47-48.
BOAZ, David. Hitler, Mussolini, Roosevelt. Reason, out. 2007. Disponível em:
http://reason.com/archives/2007/09/28/hitler-mussolini-roosevelt.
KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright Publishing, 2013. p. 123.
8 ______. ______. p. 58-59, 67.
9 HOLLANDER, Paul. From Benito Mussolini to Hugo Chavez. Cambridge: Cambridge University
Press, 2016. p. 109.
10 KERSHAW, Ian. Hitler, 1889-1936: Hubris. New York: W. W. Norton, 2000. p. 261.
SEDGWICK, John. The Harvard Nazi. Boston, mar. 2005. Disponível em:
http://www.bostonmagazine.com/2006/05/the-harvard-nazi/.
GRYNBAUM, Michael. Nazi in Our Midst. Harvard Crimson, 10 fev. 2005. Disponível em:
http://www.thecrimson.com/article/2005/2/10/nazi-in-our-midst-theres-bound/.
11 HOLLANDER, Paul. From Benito Mussolini to Hugo Chavez. Cambridge: Cambridge University
Press, 2016. p. 109.
12 NIETZSCHE, Friedrich. The Will to Power. New York: Vintage, 1967. p. 734.
GOLOMB, Jacob; WISTRICH, Robert S. Nietzsche, Godfather of Fascism? Princeton: Princeton
University Press, 2002. p. 254-255.
13 DOTINGA, Randy. 5 Surprising Facts about Woodrow Wilson and Race. Christian Science
Monitor, 14 dez. 2015. Disponível em: http://www.csmonitor.com/Books/chapter-and-
verse/2015/1214/5-surprising-facts-about-Woodrow-Wilson-and-racism.
GAGE, Beverly. He Was No Wilsonian. New York Times, 10 dez. 2009. Disponível em:
http://www.nytimes.com/2009/12/13/books/review/Gage-t.html?_r=0.
14 ASCH, Chris Myers. Woodrow Wilson’s Racist Legacy. Washington Post, 11 dez. 2015.
Disponível em: https://www.washingtonpost.com/opinions/woodrow-wilsons-racist-
legacy/2015/12/09/6a27aad4-9937-11e5-b499-76cbec161973_story.html?
utm_term=.f703a0772bb4.
WALWORTH, Arthur. Woodrow Wilson. New York: Longmans, 1958. p. 325.
15 KATZNELSON, Ira. When Affirmative Action Was White. New York: W. W. Norton, 2005. p. 85.
16 CHALMERS, David. Hooded Americanism. Durham: Duke University Press, 1987. p. 3.
17 GOLDBERG, Jonah. Liberal Fascism. New York: Doubleday, 2007. p. 11, 80.
18 DIGGINS, John P. Mussolini and Fascism: The View from America. Princeton: Princeton
University Press, 1972. p. 279.
19 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Three New Deals. New York: Henry Holt, 2006. p. 32.
TUGWELL, Rexford G. Design for Government. Political Science Quarterly, 1933. v. 48, p. 323,
326, 330.
20 DIGGINS, John P. Mussolini and Fascism: The View from America. Princeton: Princeton
University Press, 1972. p. 241.
COUPLAND, Philip. H. G. Wells’ Liberal Fascism: The View from America. In: Journal of
Contemporary History, 2000. v. 35, n. 4, p. 549.
21 DIGGINS, John P. Mussolini and Fascism: The View from America. Princeton: Princeton
University Press, 1972. p. 28, 224.
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Capítulo Oito
Políticas de Intimidação
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Capítulo Nove
Desnazificação
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