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TÍTULO:

ANTI-PAIDÉIA, ANTI-PLATÃO: CORPO, AFETOS E


IMANÊNCIA – PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE
GILLES DELEUZE.

ORIENTADOR:
Prof. Dr. Vitor Chaves

DOUTORANDO:
Rafael Assis

Introdução

Embora tenha se dedicado à prática docente por quase quatro décadas – a saber,
entre os anos de 1948 e 1987 – Gilles Deleuze (1925-1995) não desenvolveu nenhum
trabalho específico direcionado ao campo educacional. Nesse sentido, ao nos
debruçarmos sobre a produção deleuziana (que tem como ponto de partida o livro
Empirismo e Subjetividade, publicado originalmente em 1953, e encerra-se com o
sucinto
texto Imanência: uma vida..., escrito poucos meses antes da morte do filósofo, ocorrida
em novembro de 1995), é possível localizarmos apenas citações esparsas no que diz
respeito ao tema em questão, fato que não nos impossibilita – mas, ao contrário, serve-
nos enquanto estímulo – à problematizá-lo.

Na realidade, diferentemente do que se pode observar em determinadas correntes


artístico-filosóficas – a exemplo do surrealismo – surgidas nos séculos XIX e XX,
Deleuze se negou a constituir qualquer tipo de escola à qual, tomando-o como
precursor,
administrador e mestre, pudéssemos aderir. Em uma palavra, Deleuze recusou-se a
carregar quaisquer espécies de estandartes filosóficos e, em igual medida, a agregar
discípulos em torno de si. Sendo assim, o distanciamento mantido por ele em relação às
grandes linhas de pensamento comuns ao período no qual produziu – especialmente, ao
marxismo, à psicanálise de orientação freudo-lacaniana e à fenomenologia – nos
apresenta uma característica muito peculiar de sua filosofia: a experiência do fora.

Portanto, será nos rincões da história da filosofia – mas, também, entre os


poetas,
cineastas, pintores e literatos – que Deleuze encontrará seus companheiros de andanças,
seus intercessores. Nesse sentido, às margens dos territórios consagrados pela tradição,
que aparecerão as figuras de Baruch de Espinosa (1632-1677), Friedrich Nietzsche
(1844-1900), Henri Bergson (1859-1941), D. H. Lawrence (1885-1930), Henry Miller
(1891-1980), F. S. Fitzgerald (1896-1940) e Antonin Artaud (1896-1948) – apenas para
mencionarmos alguns nomes, posto que tal listagem é demasiada extensa – com as quais
o pensamento deleuziano estabelecerá alianças, colocando-se para além dos limites da
representação, da hermenêutica, do binômio significante-significado.

Inimigo declarado da transcendência dos além-mundos e do linguístico


dominante, Deleuze irá se empenhar, pois, em criar conceitos capazes de povoar o
deserto do plano puro da imanência, espaço de superfície em que se inscrevem os
acontecimentos e de onde brota, incessante e abundantemente, a multiplicidade dos
devires, a real potência dos viventes. Eis aqui uma questão de importância central:
pensamento e vida, filosofia e prática, não se opõe como dois planos substanciais
distintos, como dois domínios submetidos a uma possível hierarquização ontológica de
modo que um se sobressaia em depreciação do outro. Logo, o ato de pensar não alude à
boa vontade daquele que deseja conhecer, tampouco à uma faculdade cognitiva
apriorística que fundamenta e sustenta um eu pensante. Destarte, a empreitada de
Deleuze consistirá em não se deixar dirigir pelas tendências que, à sua época, mesmo de
maneira sutil, insistiram em postular graus de diferenciação entre o corpo e a mente,
entre o sujeito cognoscente e as coisas a serem conhecidas.

Objetivo Geral
O objetivo geral da presente pesquisa é examinar em que medida o maquinário
conceitual deleuziano pode contribuir à reflexão – e, principalmente – à prática de uma
pedagogia do corpo, que não pretende formular novos modelos educacionais ou teorias
cognitivas visando o melhor aproveitamento conteudístico dos estudantes, mas, na
direção contrária disto, enquanto uma prática menor, empreender movimentos
nomádicos em relação ao ambiente de aprendizado destes, abrindo vias para que os
mesmos conectem-se àquilo que de mais imediato lhes pertence, sua própria potência
vital.

Objetivos Específicos

a) Investigar as possibilidades de desenvolvimento de uma pedagogia


materialista e construtivista, que estimule o contato dos discentes com
problemas efetivos, atrelados às respectivas conjunturas de vida que os
atravessam. Uma pedagogia voltada à produção de conceitos;
b) Examinar o papel do professor dentro do referido contexto;
c) Problematizar o espaço escolar enquanto um espaço imediato de transmissão
das significações dominantes.

Justificativa

Como sublinhamos, Deleuze foi um radical opositor de quaisquer modalidades


de universalismos. A própria noção de Direitos Humanos, nessa direção, causava-lhe
estranhamento e repulsa, considerando-se que, para concebê-la, deve-se
necessariamente partir de certos pressupostos ontológicos, sociológicos e
antropológicos (em uma palavra, em modelo de ser humano), condição tal que deixaria
de considerar as diferenças, as singularidades de muitos existentes. Assim, tendo em
vista que o pensamento deleuziano tem suscitado inúmeros artigos, teses e, inclusive,
livros relacionados ao âmbito da Educação, nos propomos a apresentar a filosofia do
autor sob o viés da diferença, do nomadismo e da materialidade absoluta relacionada à
Espinosa (bem como à literatura anglo-americana) para que futuros debates e novas
alianças sejam traçadas no plano educacional, com vistas a proporcionar condições à
construção de práticas pedagógicas que, diferentemente dos padrões estabelecidos,
possam colaborar ao advento de estratégias educacionais alternativas.

Fundamentação Teórica

O presente texto tem como base problematizadora as obras Diferença e


Repetição (1968), Espinosa e o Problema da Expressão (1968), Spinoza: Filosofia
Prática (1970) e Conversações (1990), ao lado do projeto intitulado Capitalismo e
Esquizofrenia, iniciado no ano de 1972 junto à parceria com o militante e psicanalista
Félix Guattari (1930-1992) e concluído no ano de 1980. Recorreremos, em ocasião
oportuna, a excertos do curso Spinoza (1978-1981) proferido por Deleuze na
Universidade de Vincennes.

Metodologia

Tem-se como metodologia a pesquisa de revisão bibliográfica e documental, de


cunho analítico-reflexivo, ancorada nas supramencionadas obras de Deleuze, bem como
no diálogo com comentadores, a exemplo de Claudio Ulpiano (1932-1999), Luiz
Orlandi (1936-), Roberto Machado (1942-2021), Peter Pelbart (1956-), Eric Alliez
(1957-), Michel Hardt (1960-) e David Lapoujade (1964-).

Cronograma

O planejamento e as várias etapas do desenvolvimento deste trabalho de


pesquisa
estão dispostos da seguinte forma:

1. Ano I: pesquisa bibliográfica, leitura e fichamento das fontes primárias, sessões


de orientação, disciplinas obrigatórias e demais atividades do programa (Em vias de
realização).

2. Ano II: leitura e fichamento das fontes secundárias, estruturação provisória do


texto, aprofundamento bibliográfico em autores correlatos, sessões de orientação;

3. Ano III: qualificação da dissertação, sessões de orientação, produção de artigos


científicos, participação em eventos, congressos e outras atividades acadêmicas;

4. Ano IV: estruturação definitiva do trabalho, sessões finais de orientação, defesa.


Bibliografia utilizada no projeto de pesquisa:

ALLIEZ, E. (Org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica. Coordenação da tradução de


Ana
Lúcia Oliveira. São Paulo: 34, 2000. 557 p.

COMENIUS. Didática Magna. Tradução Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins
Fontes, 2011. 432 p.

DELEUZE, Gilles. Abecedário. Realização Pierre-André Boutang, produzido pelas


editions Montparnasse, Paris. No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da
Educação.

_______________. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora


34,
1992. 226 p.

_______________. Cursos sobre Spinoza (Vincennes, 1978-1981) / Gilles Deleuze;


tradução para o português de Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso, Francisca Evilene
Barbosa de Castro, Hélio Rebello Cardoso Júnior e Jefferson Alves de Aquino. – 3. ed.
– Fortaleza: EDUECE, 2019.
_______________. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto
Machado.
Rio de Janeiro: Graal, 1988. 437 p.

_______________. Espinosa – Filosofia prática. Tradução de Daniel Lins e Fabien


Pascal Lins. São Paulo: Escuta, 2002. 135 p.

_______________. Espinosa e o Problema da Expressão. Tradução de GT Deleuze. São


Paulo: Editora 34, 2017. 427 p.

_______________. Proust e os Signos. Tradução de Carlos Piquet e Roberto Machado.


Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. 173 p.

GILLES, Deleuze. & GUATTARI, Félix. Mil Platôs 4 – Capitalismo e Esquizofrenia.


Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 1997. 170 p.

___________________________. O que é a filosofia?. Tradução de Bento Prado Jr. e


Alberto Alonzo Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992. 279 p.

HARDT, Michael. Gilles Deleuze: um aprendizado em filosofia. Tradução de Sueli


Cavendish. São Paulo: Editora 34, 1996. p.185.

Referências bibliográficas a – possivelmente – serem utilizadas no


desenvolvimento da dissertação:

DELEUZE, Gilles. Abecedário. Realização Pierre-André Boutang, produzido pelas


editions Montparnasse, Paris. No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da
Educação.

_______________. A dobra: Leibniz e o barroco. Tradução de Luiz Orlandi. Campinas:


Papirus, 2012. 240 p.

_______________. A filosofia crítica de Kant. Tradução de Fernando Scheibe. Belo


Horizonte: Autêntica, 2018. 94 p.

_______________. A ilha deserta e outros textos. Edição preparada por David


Lapoujade
(organização da edição brasileira e revisão técnica de Luiz Orlandi). São Paulo:
Iluminuras, 2006. 383 p.

_______________. Bergsonismo. Tradução de Luiz Orlandi. São Paulo: Editora 34,


2012. 157 p.

_______________. Cartas e outros textos. Tradução de Luiz Orlandi. São Paulo: N-1
Edições, 2018. 320 p.

_______________. Cinema 1 – A imagem movimento. Tradução de Stella Senra. São


Paulo: Editora 34, 2018. 337 p.

_______________. Cinema 2 – A imagem tempo. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro.


São Paulo: Editora 34, 2018. 419 p.

_______________. Crítica e Clínica. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora
34, 2011. 205 p.

_______________. Diálogos. Tradução de Eloisa Araújo de Oliveira. São Paulo:


Escuta,
1998. 180 p.

_______________. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto


Machado.
Rio de Janeiro: Graal, 1988. 437 p.

_______________. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas. Tradução de


Guilherme
Ivo. São Paulo: Editora 34, 2016. 443 p.
_______________. Foucault. Tradução de Claudia Sant’ Anna Martins. São Paulo:
Brasiliense, 1988. 142 p.

_______________. Espinosa – Filosofia prática. Tradução de Daniel Lins e Fabien


Pascal Lins. São Paulo: Escuta, 2002. 135 p.

_______________. Espinosa e o problema da expressão. Tradução de GT Deleuze. São


Paulo: Editora 34, 2017. 427 p.

_______________. Francis Bacon – lógica da sensação. Tradução de José Miranda


Justo. Lisboa: 2011. 271 p.

_______________. Lógica do sentido. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. São


Paulo: Perspectiva, 1998. 342 p.

_______________. Nietzsche. Tradução de Alberto Campos. Lisboa: Edições 70, 1994.


86 p.

_______________. Nietzsche e a filosofia. Tradução de Mariana de Toledo Barbosa e


Ovídio de Abreu Filho. São Paulo: N-1 Edições, 2018. 256 p.

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