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A visita as exposições do Museu de Arte Moderna foi especialmente marcante a mim, que não
tinha visitado um museu a mais de três meses. A apreciação de arte é uma parte importante de
minha existência e, pela correria do cotidiano, tinha deixado de ter tempo. O museu, com duas
exposições em um mesmo andar, parece convidar você a elaboração de pensamentos e de
caminhos por meio da visualização das obras em certa ordem.
Duzentos anos após a indepedência brasileira, o Museu de Arte Moderna abre a exposição
“Atos de revolta: outros imaginários sobre independência.” A exposição visa repensar o
processo histórico de independência e a memória coletiva imposta sobre a sociedade desse
evento. As artes curadas e suas disposições surgem de como um espaço para manutenção de
experiências e rompimento de lógicas coloniais.
Uma das artistas expostas, Marcela Cantuária, é brasileira e a sua arte busca representar
mulheres batalhadoras da história, que não são representadas pelos registros escritos, mas
ainda vivem através da transmissão de conhecimento oralizado e a são protagonizadas nas
composições pictóricas da artista. É impossível não entrar na sala de exposição e não ver seu
olhar preso as cores vivas e chamativas da obra de Marcela. Com a utilização de cores
quentes, que representam vivacidade, a artista celebra a vida dessas mulheres que pinta. A
obra “Maria Felipa e o Mar”, a pintura a óleo e acrílico se mistura com a costura, que a artista
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começou a utilizar após convidar meninas de uma ocupação para participar da montagem do
quadro. Maria Felipa não é uma mulher que você vai encontrar nos livros de história, mas ela
ainda existe na memória oral da Independência da Bahia. A narrativa dessas lideranças
históricas devem ser revisitadas e expostas como Marcela Cantuária fez, pela quebra de
amarras coloniais que calaram essas vozes no passado e ainda calam. Quantas Marias Felipas
não lutaram contra a opressão e não ganharam o crédito histórico de suas lutas relevantes?
Ainda hoje há mulheres assassinadas pela coragem de se opor a máquina da opressão, como
Marielle Franco, em 2018. Esse protagonismo precisa ser espalhado, não só de maneira oral,
mas na permanência da arte e do papel.