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15 DE NOVEMBRO DE 2022

ANO XXXII Nº310 GRATUITO PERIÓDICO


DIRETORA JOANA CARVALHO
EDITORES EXECUTIVOS LUÍSA MACEDO MENDONÇA E FÁBIO TORRES

(AAC)EITA-SE OPINIÃO
- E L E I Ç Õ E S D G /A A C 2 0 2 2 -
02 ENSINO SUPERIOR 15 de novembro de 2022

ÓRGÃOS CENTRAIS DA AAC

ASSEMBLEIA MAGNA
Constituída por todos os estudantes da UC,
é o órgão máximo deliberativo da casa. Pode
ser convocada a pedido da Direção-Geral ou
de cinco por cento dos associados efetivos da
AAC e tem a obrigatoriedade de se reunir pelo
menos quatro vezes ao ano. É da sua compe-
tência exclusiva a aprovação dos relatórios de
contas uma semana após o parecer dado pelo
Conselho Fiscal.

DIREÇÃO-GERAL
É o órgão máximo executivo da AAC e tem o poder
de convocar Assembleias Magnas. Faz a gestão da
casa a nível financeiro e de ordem de trabalhos e
põe em prática as decisões tomadas na Assembleia
CONSELHO FISCAL
Magna (AM). Constituída por 15 a 25 elementos, é Principal órgão fiscalizador da casa, é responsável
subdividida internamente por pelouros. por dar os pareceres dos relatórios de todos os or-
ganismos da AAC e festas académicas. É constituí-
da por onze membros e as suas eleições ocorrem
em março. Tem a palavra final no julgamento de
irregularidades estatutárias investigadas pela
Comissão Disciplinar.

MESA DA ASSEMBLEIA
MAGNA
Constituída por um presidente, um vice-presi-
dente e dois secretários, é quem divulga, organiza COMISSÃO DISCIPLINAR
e dirige a AM. Detém a responsabilidade pelas
eleições dos órgãos centrais da casa, de modo É o órgão de investigação da casa, criado nos últi-
que o seu presidente também preside a Comissão mos Estatutos da AAC. É eleita por sufrágio uni-
Eleitoral dos mesmos. versal. Detém a tutela e iniciativa da ação disci-
plinar na sua fase de inquérito. Posteriormente,
elabora uma nota de culpa acusatória que é en-
tregue ao Conselho Fiscal.
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João Maduro e Gonçalo Pardal disputam


presidência da MAM/AAC
Lista E propõe empregar núcleos na difusão de informação. Candidato de
continuidade chama a duração da assembleia “faca de dois gumes”
- MARIA INÊS PINELA E ALICE RODRIGUES -

ESTUDANTES PRIMEIRO

N
estas eleições, a lista E -Estudantes mais ativa ao dizer que "devem-se ir adotan- Gonçalo, capazes de defender as reivindicações
Primeiro- apresenta João Maduro como do medidas, e acompanhando os seus resulta- dos estudantes”. Por fim, apela à procura de in-
candidato ao órgão máximo delibera- dos, se estão a trazer mais pessoas, a ver como formação para que haja “um voto consciente e
tivo da AAC. O candidato destaca como moti- funcionam”. informado”. Termina ao desejar uma boa cam-
vos da sua candidatura a sua experiência na Em relação à falta de adesão, o candidato panha ao seu oponente.
Assembleia Magna (AM) aquando da “aprova- propõe a implementação de mais Assembleias
ção de lutas pela reivindicação” e a vontade de Magnas. “O facto de termos AM mais regula-
“garantir que há condições propícias à existên- res poderá potenciar os estudantes a ir a, pelo
cia desses momentos”. menos, uma Magna, ao contrário do que agora
Sobre as propostas da sua lista, o candida- acontece”, declara.
to destaca um “vetor de proximidade”, tendo No que toca à descentralização, João Maduro
como mote incentivar mais estudantes a com- acredita que a solução não é levar a AM aos ou-
parecerem em AM. Expressa também o desejo tros polos. “No fundo, o que nós temos de fazer
de garantir que todo o corpo estudantil tenha é garantir que existem transportes gratuitos
“oportunidade de falar e, quando a têm, que para que os estudantes se consigam deslocar”,
não haja impedimentos e possa expor toda a justifica. Reforça ainda que “a AAC tem trans-
sua ideia sem quaisquer limitações”. portes, podemos pô-los em uso”.
João Maduro sugere usar os núcleos para “di- Sobre as razões que o levaram a juntar o seu
vulgar quando vai haver uma AM, bem como a nome ao de Gonçalo Lopes, João Maduro refere
ordem de trabalhos”. Ao contrário do seu opo- a palavra “confiança” e argumenta que, sem-
sitor, o estudante da FDUC adota uma posição pre que foi a uma Magna, viu “pessoas como o

SENTIR ACADÉMICA

G
onçalo Pardal encabeça a Lista S - Sentir Reconhece ainda que o tempo de duração das o candidato procura “dignificar a nossa Casa”.
Académica na disputa pela presidência AM são um entrave à adesão. Reitera ainda Destaca “encontrar um equilíbrio entre uma
da MAM/AAC. Quando questionado que sente “que a duração é “uma faca de dois ordem de trabalhos fluída e a participação de
sobre os motivos da sua candidatura, reitera gumes”. “Ao dar mais tempo para interven- todos os estudantes” como principal objetivo
que reconhece “a importância da Assembleia ções, os estudantes vão querer participar, mas, da sua candidatura e promete “fazer o máxi-
Magna como um todo” e acha que “faz sentido a Assembleia estende-se” o que faz com que o mo para que todos sejam bem recebidos”. As
na nossa Academia que a pessoa que esteja à quórum se torne insuficiente, justifica. No en- eleições vão decorrer no próximo dia 17 de no-
frente seja competente”. tanto, pretende “nunca cortar palavra aos es- vembro, quinta-feira.
As propostas do projeto pautam-se pela com- tudantes”. Posto isto, promete “garantir que a
petência, brio e, nas palavras do candidato, “res- ordem de trabalhos é cumprida”.
peito pela Academia e por todos os associados O tema da descentralização, uma constante
que a compõem”. O mestrando em Engenharia ao longo das últimas eleições, voltou a ser men-
Química na Faculdade de Ciência e Tecnologia cionado. Os estudantes dos polos mais afasta-
da Universidade de Coimbra realça o papel da dos têm dificuldades em comparecer, devido à
MAM/AAC como órgão moderador. Lamenta dificuldade de deslocação até ao local. O atual
ainda a falta de participação de todos os estu- coordenador-geral da Política Educativa da
dantes na AM, assim como a falta de adesão. Direção Geral (DG/AAC) declara que “se hou-
“São todos convidados a participar, todos con- vesse uma solução-chave nas mãos, já teria sido
vidados a dar a sua palavra”, sublinha. implementada”.
“Comprometemo-nos a ter local, hora e Ao lado de João Caseiro, em quem Gonçalo
ordem de trabalhos definida com antecedên- Pardal vê competências “para trazer a estabi-
cia para a Assembleia”, declara Gonçalo Pardal. lidade e a união de que a Académica precisa”,
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Lista E
- Estudantes Primeiro
Gonçalo Lopes, estudante de licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra, candidata-se à DG/AAC pela lista E para acabar com “amplos ataques
a direitos dos estudantes”. Objetivo é alcançar reivindicações do projeto através da
combatividade. Aluno de direito apela a um voto “livre e consciente”.
- POR ANA CARDOSO -

Por Joana Carvalho


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A vossa lista conta com apoio partidário? órgãos da Universidade de Coimbra, não têm qualquer base de trabalho ser o estudo. A partir do momento
Não. tipo de voz no governo da sua universidade. A Direção- em que se estabelece uma relação de trabalho entre
Geral da AAC (DG/AAC) pode colocar pressão suficien- a pessoa e a Universidade, esta passa a ser regulada
Quais as bandeiras do teu projeto? te, organizar os seus estudantes e partir para a luta. conforme as normas do Código do Trabalho. Assim, o
Não lhes chamaria bandeiras, chamaria reivindica- Não ter medo disso porque sabemos que só a partir da próprio profissional terá acesso a muito mais direitos
ções e prioridades que encaramos como essenciais, em luta é que conseguiremos alcançar os nossos objetivos. do que aquilo que tem, que é quase nada.
especial com o aumento do custo de vida generalizado.
Existem situações como as questões da ação social, o Na tua opinião a atual DG/AAC não tem coloca- Que estratégias é que vês para unir as estru-
fim da propina, as residências e os SASUC que, se fos- do os interesses dos estudantes em primeiro turas internas da casa, nomeadamente os nú-
sem financiados de maneira correta, seriam capazes de lugar? cleos e as secções?
responder aos problemas dos estudantes. Outra prio- De facto, não. Existiram momentos que foram positi- Aquilo que me parece é que não são as secções que não
ridade é a aproximação aos estudantes. Só com uma vos, como a manifestação no dia 29 de setembro ou a se querem chegar às Direções-Gerais. São elas que se
unidade, quer no plano dos associados da Associação questão das cantinas rosa, mas isso não chega. Foram afastam das secções. Tem que haver um trabalho con-
Académica de Coimbra (AAC), quer no plano nacio- apresentadas em AM muitas propostas no sentido de junto, a DG/AAC tem que estar ao lado das secções para
nal, em especial no Encontro Nacional de Direções a DG/AAC sair à rua em defesa dos interesses dos seus poder avançar no seu trabalho. É muito importante um
Associativas (ENDA), em torno dos problemas concre- estudantes. Essas propostas muitas vezes não foram trabalho próximo, de diálogo e de união. Tem faltado a
tos, é que os conseguiremos resolver. votadas porque não existia quórum suficiente e a maio- visão de que são as secções que, de facto, levam a AAC
ria das vezes a DG/AAC não se vinculou, apesar de ter para lá do edifício. Nós não podemos ter as questões do
De que forma consideras possível lutar pelas essa obrigação. Isto resulta, portanto, numa DG/AAC financiamento das secções, nem de logística tal qual
necessidades dos estudantes no ENDA, apesar que teve os seus pontos positivos, mas com um saldo como estão a ser tratadas. Existem problemas nestas
do baixo poder de voto da AAC em comparação negativo. Nesse ponto, não responde às necessidades questões e a DG/AAC tem a obrigação de as resolver
com os estudantes que representa? dos estudantes nem defende os seus direitos da forma em articulação com as secções, de maneira a deixar
Quando colocamos a questão da baixa representati- que deveria. avançar a casa.
vidade, estamos a partir de uma premissa errada. O
ENDA tem as suas falhas, uma delas o modelo de voto. De que maneira é possível fomentar uma união O que motivou esta candidatura e qual a tua
No entanto, serve sobretudo como uma plataforma entre os estudantes e a AAC? relação com a AAC antes da mesma?
de discussão das associações, sejam elas académicas, Isto, de certa maneira, pode ser difícil de entender à Sem dúvida alguma o estado em que vemos a AAC, mas
de estudantes ou federações. Depois, é fundamental primeira vista. Há a ligação com os núcleos e com as mais ainda o estado em que os estudantes e a defesa dos
olharmos para o tipo de voto que devemos querer ter faculdades, as atividades da AAC e as secções que de- seus direitos está. Nos últimos tempos, o poder reivin-
e para o modo de funcionamento que o ENDA deve sempenham um papel fundamental nessa ligação dos dicativo da AAC está muito diminuído e isso influen-
ter. A melhoria do seu funcionamento passa não pela estudantes à AAC. Os estudantes querem resolver estas cia a sua relação com os estudantes. A minha relação
existência do voto, mas pela questão do consenso. questões, mas necessitam de uma AAC que os coloque nunca passou por participação em cargos de direção
Acreditamos que o tema mais falado no encontro seja primeiro. ou por qualquer tipo de envolvência nessas questões.
a falta da ação social escolar. Não queremos um ensino Passou sobretudo pela participação nas atividades que
superior elitizado. Achamos que o ENDA é um passo Qual é a tua opinião quanto às propinas dos a AAC faz, acima de tudo ações reivindicativas porque
importante para a unidade do movimento estudantil estudantes internacionais e de mestrados? considero que essas são primordiais e também em AM,
nacional, que vai permitir fazer grandes ações a nível Aqui não vou falar só sobre propinas, uma coisa que que são um ponto essencial. Acho que os estudantes
nacional com resultados visíveis para os estudantes. muitas vezes as pessoas esquecem são as taxas e emo- que nunca participaram em cargos de DG/AAC não
lumentos, que são importantes. São desde logo um en- devem ser vistos como menos capacitados de os exer-
O que destaca a vossa lista das restantes? trave ao acesso ao ensino superior e uma das manei- cer. É um ponto completamente errado e a realidade
A proximidade aos estudantes é algo que nos destaca e ras mais fáceis de o elitizar. Naturalmente, uma lista demonstra-o.
não queremos que se resuma aos momentos de campa- tem que defender o fim imediato de todas as taxas de
nha. Enquanto integrantes da Lista E somos frequenta- maneira a acabar com esta elitização. A propina zero Queres dei xar a lg uma mensagem aos
dores das Assembleias Magnas (AM) de uma maneira não é o objetivo, porque a existência de uma propina estudantes?
muito permanente, olhamos para a AAC como o único zero implica que possa aumentar. Nós defendemos a Em primeiro lugar, consideramo-nos a lista alternativa
meio possível para resolver os problemas dos estudan- extinção de todas as propinas, taxas e emolumentos que irá corresponder às expectativas dos estudantes
tes. Acho que também é importante colocar a questão em todos os ciclos de estudo. para uma AAC que os coloque a si e aos seus direitos,
da unidade, terceiro pilar do nosso projeto. Não existiu interesses e aspirações como agenda principal. A nossa
nenhum direito dos estudantes nos últimos anos que A precariedade no meio científico tem sido de- lista é luta, é combatividade. Isto quer dizer que vem
não tenha sido conquistado com ações reivindicativas batida. Como é que a tua lista pretende defen- de trás, de pessoas que sempre participaram nas AM,
desenvolvidas por eles. E isto vai para além daquilo der os interesses dos estudantes de doutora- sempre participaram ativamente na vida da AAC, du-
que deve ser a atuação de uma associação académica. mento que querem concorrer a bolsas, sendo rante a campanha, trabalham nesse sentido, e após
Consideramos o nosso projeto como alternativo: apre- que não há suficientes? a campanha cá estão para o continuar a fazer. Outra
sentamo-nos para estar sempre do lado dos estudantes, Não consideramos que os doutorandos sejam estudan- questão muito importante é a do voto, temos muitas
para os colocar sempre em primeiro. Isso é fundamen- tes. Os doutorandos são trabalhadores e, como tal, vezes abstenções a rondar os 95 por cento. Isso é alar-
tal e diferenciador. devem ter direito a um contrato de trabalho com os mante e deve ser uma preocupação de todas as listas.
seus direitos, o que não se tem verificado. Têm um tra- Por fim, mais do que apelar ao voto no nosso projeto,
Na tua candidatura referes um “ataque aos di- balho altamente precário, para aquilo que é a sua im- queria apelar a um voto livre, consciente, um voto que
reitos basilares dos estudantes”, em que medi- portância e para o que acrescentam à Universidade não defenda os interesses dos estudantes.
da é que esses direitos estão a ser atacados e o existe uma compensação justa. As bolsas de investiga-
que pode a DG/AAC fazer quanto a isso? ção, que muitas vezes chegam tarde e a más horas, obri-
Já há vários anos que os direitos dos estudantes são gam-nos a procurar outros meios de financiamento.
atacados, como as questões das refeições sociais, das
residências e das repúblicas. Colocaria também o pro- Então consideras que é incompatível essa con-
blema do próprio Regime Jurídico das Instituições de dição de estudante como o enquadramento
Ensino Superior (RJIES), que ataca a democracia inter- legal enquanto trabalhador?
na das instituições de ensino superior; os estudantes Eu não diria que é incompatível. Diria que o doutoran-
vêem-se espartilhados quanto à sua participação nos do tem de ser considerado trabalhador, apesar da sua
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Lista P
- Parem de EmPatar
Wilson Domingues, aluno da FDUC, candidata-se à presidência da DG/AAC lado a
lago com um pato. O candidato acredita que parte da melhoria da academia passa por
“rentabilizar mais os seus espaços”, através do estabelecimento de um ‘Airbnb’ no
edifício da AAC. Propõe também uma parceria da cantina com a ‘Uber Eats’, para que
possa haver um decréscimo nas filas da cantina .

- POR IARA SOTTO MAYOR -

Por Sofia Ramos


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Pedia que te apresentasses. De regresso ao alojamento, se investirmos nas aulas à das nossas propostas é saldar essa dívida. Como? O Pato
Nesta campanha, como estou em representação do Pato, distância, vamos retirar os estudantes da cidade. Vão teve a ideia de uma campanha solidária, chamada "És
queria que se dirigissem a mim como Zé. Foi o nome que ter de vir aqui de vez em quando, porque é bom para sedentário, doa o teu inventário", que consiste em cada
ele utilizou para se dirigir a mim naquela noite em que o turismo poder tirar umas fotos com os estudantes um de nós dar material desportivo que não usa de forma
eu o conheci e em que ele expôs toda a sua mágoa com o de capa e batina. O turismo é um pilar muito impor- a que possa reverter a favor das secções desportivas.
que se está a passar na academia. tante, no nosso entender. Achamos que as Repúblicas
podiam ser inseridas nas rotas turísticas, inclusive. Há alguma razão pela qual a vossa lista não avan-
Queres contar como é que conheceste o Pato? Outra questão é a falta de afluência dos estudantes, çou com candidato para a Mesa da Assembleia
Bom, foi uma noite de festa, uma noite louca. Eu nem tanto às eleições quanto às Assembleias Magnas (AM). Magna?
quero falar muito disso, mas a verdade é que eu fui, Defendemos que quem for votar nas eleições, deve ter Acredito que, para o Pato, se deve ao facto de ele consi-
enfim… Fui, de facto, fazer aquilo que não é suposto. direito a um bilhete pontual para as Queima das Fitas, derar que a DG/AAC é o órgão que mais pode aplicar as
Não sei se entende. Enfim, deixar um pouco a minha e, se conseguir trazer dez estudantes consigo, pode medidas para conseguir limpar o lago. Não o questionei
marca no lago. E pronto, o Pato abordou-me e disse: receber um bilhete geral. Acho também que devemos muito sobre isso. Enfim, a minha missão é fazer o Pato
"não podes fazer isso, está errado”. Depois disse-me sempre abrir dois barris de cerveja depois de cada AM. ser ouvido. Sou um mero mensageiro.
que havia algo que se estava a passar e que precisava
da minha ajuda, uma vez que não é associado efetivo. Falaste na questão do alojamento. Outra gran- Como é que planeiam construir uma relação
Agora sou mais consciente, portanto, estou aqui para de preocupação é a ação social. Gostava que fi- com a Reitoria? Como é que se querem distin-
ajudar nesta luta. zesses assim um apanhado do que é que o Pato guir de DG/AAC anteriores no que diz respeito
pensa sobre isso? à relação com o reitorado?
O vosso projeto conta com algum apoio Como fomentamos a biodiversidade, e para além das pro- Eu acho que a nossa atuação perante a reitoria vai ser
partidário? postas que já referi para acabar com as filas, acho o pro- de proximidade. Nós partilhamos de muitas das ideias
Não, não temos nenhum apoio partidário. Temos algum blema da propina muito importante. O Pato defende que a que a reitoria tem. Aliás, uma das nossas propostas vai
apoio financeiro e logístico que vem do bando dos propina nacional deve subir para igualar a internacional. ao encontro de algo que a reitoria já aposta que é no tu-
patos. Conseguiram juntar um pouco as suas pou- rismo. A UC é uma melhor agência de turismo do que a
panças para ajudar e temos também o ‘plafond’ que a O que distingue o vosso projeto dos outros? Universidade. Sugerimos passar as aulas de Direito para
Associação Académica de Coimbra (AAC) nos atribuiu O nosso projeto distingue-se, desde logo, por estarmos a a modalidade online. Dessa forma, os estudantes não
para a campanha. tentar dar voz aos patos. Queremos corrigir os problemas poderiam sair e ocupar os espaços, pelo que o turismo
da AAC, limpar o lago e, ao contrário de todas as outras poderia ser plenamente explorado pela Universidade.
Quais são as principais bandeiras do vosso listas que têm surgido nos últimos tempos, temos pro- Mas acho que deve ser aprofundado e é esse apoio que
projeto? postas eficazes que vão apostar na captação de fundos queremos dar à UC.
O nosso projeto segue três pilares fundamentais: o para resolver estes problemas. É isso que distingue a
empreendedorismo, as juventudes e a biodiversidade. nossa lista: a eficácia e a abertura de dizermos “é isto A abstenção tem sido uma coisa que tem pautado
Em primeiro lugar, é necessário rentabilizar a AAC e a que a AAC e a UC sabem fazer e é isto que vão fazer”. muito as últimas eleições. Consideram que exis-
Universidade de Coimbra (UC), por exemplo, através da te uma responsabilidade para combater isso,
transformação dos espaços da AAC em 'Airbnb's'. Iria Das várias propostas que vocês apresentam, se quiserem combater como é que o vão fazer?
trazer muitos fundos para a casa e iria permitir que se qual é a prioritária? A que vão atacar em pri- É precisamente o que eu já referi. Temos que dar para
fizessem as obras que o edifício necessita. Achamos tam- meiro lugar? receber algo em troca. O ser humano tem essa nature-
bém que deve ser atribuída uma sala da Direção-Geral da Os três pilares são tão importantes que é difícil priorizar, za. O Pato, do contacto que tem com o ser humano, viu
AAC (DG/AAC) a cada juventude. A Juventude Monárquica teria de ser visto de acordo com as nossas possibilidades isso. Por essa razão, defendemos aquelas entregas de
Portuguesa, por exemplo, está claramente sub-representa- no imediato. São tudo problemas que já vêm de trás que bilhetes para a Queima das Fitas. E assim, com toda a
da. A biodiversidade também é muito importante, porque não estão a ser resolvidos e nós, tendo capacidade para certeza, a abstenção iria diminuir muito.
estamos a falar de patos que querem ser representados. resolvê-los, vamos resolvê-los. Não vai ficar nada para
Não queremos discriminações. Queremos que os patos trás. O nosso objetivo é implementar todas as nossas Mas estás a dizer que manterias o mesmo plano
tenham voz. Estou aqui para fazer isso mesmo. propostas assim que for possível, porque tem de ser de ação para cativar os estudantes a ir às AM?
feito, não há tempo a perder. Não, para as a magnas seria abrir dois barris. Acho
Dirias que foi isso que motivou a candidatura? que um é pouco. No fundo, é o mesmo princípio: dar
Sim, porque os patos vieram para ficar. Chegaram Qual é que é o posicionamento da vossa lista algo aos estudantes, um incentivo, um prémio, ou um
ao lago da AAC e não querem ir embora, mas querem em relação à saída da AAC do ENDA (Encontro docinho, se posso chamar assim.
boas condições e o lago limpo. O pato acredita que só Nacional de Direções Associativas)?
somos capazes de limpar o lago se limparmos a AAC. O Pato diz que não tem uma opinião formada sobre isso Como é que a vossa lista encara a crise a nível
Esta candidatura surge nesse sentido. neste momento. Ele vai pesquisar um pouco. Depois, de saúde mental no Ensino Superior?
quando ele tiver uma resposta, eu partilharei. Bom, o Pato diz que a saúde mental é algo que entre os
Quais são os principais problemas que querem patos não está a ser valorizado. A partir do momento
resolver? Já falaste do espaço que as secções podem uti- que a saúde mental dos patos for valorizada, ele vai
Os problemas de rentabilidade da própria AAC: fazer lizar e sugeriste o ‘Student Hub’ como respos- poder falar sobre isso, mas, neste momento, ele não
obras, reformar casas de banho, colocar saídas de ta. De que outra forma pretendem articular a tem muitas condições para falar.
emergência. Os problemas de espaço das secções e dos relação com as restantes estruturas internas
organismos também têm de ser resolvidos, por isso é de secções e núcleos? Por que é que os estudantes deviam confiar no
que defendemos que passem a ter as suas salas e sedes no Nós achamos que se deve apoiar ao máximo as secções vosso projeto e votar em vocês?
‘Student Hub’. Os problemas dos alojamentos são muito culturais e os organismos autónomos. Por isso, uma das Deviam confiar porque estamos aqui com ideias à
importantes. O Pato acredita que se retirarmos os estu- propostas que nós temos é dar-lhes formações de em- mostra de toda a gente. Queremos empreendedorismo,
dantes que estão em Coimbra, muitos destes problemas preendedorismo, de forma a permitir uma rentabilização juventudes e biodiversidade. Portanto, somos os mais
vão acabar, bem como as filas nas cantinas. A melhor para que depois consigam pagar a taxa para aceder ao eficazes e não têm outra razão para não votar em nós
forma de eliminar os problemas da oferta é eliminar a TAGV. Como o Pato aceita todas as migalhas que lhe dão, a não ser que não queiram o melhor para a academia.
procura. Devia haver uma parceria entre os Serviços consideramos que tudo o que é caridade deve continuar
de Ação Social da UC e a ‘Uber Eats’. Eliminava-se a a existir, através do contrato programa da UC. Em rela- Querem deixar alguma mensagem aos estudantes?
procura das cantinas presencialmente, a refeiçãozinha ção às secções desportivas, a dívida que a DG/AAC tem O Pato gosta sempre de participar e falar um pouco...
seria entregue onde quer que o estudante estivesse. perante o Conselho Desportivo não está a ser paga. Uma (Chiar de pato de borracha). É isto que ele tem a dizer.
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Lista S
- Sentir Académica
João Caseiro, mestrando em Administração Educacional na Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação, recandidata-se à presidência da Direção-Geral da Associação
Académica de Coimbra (DG/AAC). O atual presidente diz que o seu trabalho ainda não
está concluído e afirma que a “Académica sente-se em todas as áreas”. O candidato
pretende elevar o nome e o símbolo da casa e promete fazer Coimbra e todos sentirem
o valor da Académica.
- POR HUGO MARQUES -

Por Hugo Marques


15 de novembro de 2022 ENSINO SUPERIOR 09
A tua candidatura conta com algum apoio de uma obra mais estrutural. A AAC tem que se manter ao menos profícuo e os seus resultados escolares diminuídos.
partidário? lado dos estudantes que estão nas residências para procu- Outra vertente da crise é o impacto financeiro que pode
Não. rar e manter as melhores condições possíveis. significar para a AAC: o maior apoio habitual que recebe-
mos é o da UC, que consiste em 233 mil euros negociados.
Qual o motivo da tua recandidatura à presidên- Face às críticas apresentadas à falta de recursos Sentimos uma necessidade de reforçar este apoio, assim
cia da Direção-Geral da Associação Académica para a mobilidade reduzida, a AAC tem planos como as parcerias existentes e tornar a Académica mais
de Coimbra (DG/AAC)? para avançar com alguma solução? estável financeiramente. Temos de ser os primeiros a de-
Assumo duas posições por detrás da recandidatura: a minha Temos completa consciência de que, aqui no edifício fender os estudantes e as estruturas de base como um só.
vontade de continuar a contribuir para a AAC, sentir que da AAC, estamos muito limitados, tal como em vários
ainda posso dar mais de mim a esta causa e o apoio dos meus edifícios da Universidade, em termos de acessibilidade. Pretendes continuar com a mesma postura
colegas que motiva também a avançar com este projeto. Devido à necessidade de aprovação e de todas as compo- face à reitoria?
nentes legais inerentes ao que é o património cultural Sim. O trabalho que temos feito face à reitoria tem sido
Quais são os principais objetivos do projeto e histórico, é uma causa complicada. Ainda assim, es- sempre de acompanhamento, mas quando necessário
"Sentir Académica"? tamos sempre atentos e vamos trabalhar para ter uma também de crítica e reivindicação. Não nos inibimos de
Dar mais estabilidade à casa e elevar o nome da Académica cidade mais inclusiva, para dar melhores condições às criticar a reitoria quando necessário. Ainda assim, acima
a partir de uma administração mais robusta, mais eficien- pessoas com dificuldade motora. Pretendemos junto da de tudo, o trabalho que temos para com a Universidade
te e também de uma atuação política mais concertada. Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e da UC encontrar é a de reportar situações e chegar com matéria concre-
Com um maior alcance, trabalhar para a cultura, para o as melhores soluções para estas problemáticas, porque ta, com dados, para procurar as melhores soluções. A
desporto e para os estudantes a partir destas duas bases, sozinhos não conseguimos dar resposta a tudo. nossa postura será sempre procurar o melhor para os
a administração e a política, para garantir o máximo de estudantes e para a Académica.
estabilidade interna. Pretendemos recuperar a saúde finan- Os movimentos de ação social são um ponto
ceira da AAC, o que vai possibilitar o desenvolvimento das crucial da AAC. De que forma pretendes con- "Por uma Académica mais representativa,
secções culturais, das secções desportivas e dos núcleos. tinuar com essa luta? unida e ligada às suas gentes" são palavras da
Queremos apresentar novas propostas também ao nível do Existe uma necessidade de continuar com reivindica- tua candidatura. Como pretendes ligar-te mais
ensino superior que sejam consistentes e fundamentadas. ções, tanto relativas ao Regime Jurídico das Instituições à comunidade estudantil?
do Ensino Superior (RJIES), cuja revisão tem sido uma Quando falo de uma Académica “mais representativa e
Como presidente atual da DG/AAC, qual o ba- luta e uma bandeira da AAC ao longo dos anos, como ligada às suas gentes” incluo os estudantes e incluo toda a
lanço que fazes a este mandato? relativas à ação social. Não podemos deixar de estar à gente que com ela se identifique. Pretendemos implementar
Vou incluir o período de dezembro a março porque foi a frente de lutas como o combate à propina e a reversão programas internos que aproximem a comunidade estu-
mesma equipa que esteve em funções. Foi um mandato da recente decisão governamental do seu congelamen- dantil da AAC, através do Gabinete de Apoio ao Estudante
marcante pela negativa, com o falecimento do Cesário, o to. Isto estende-se para os estudantes internacionais (GAPE) e de um projeto que é o “De portas abertas”. Neste
que exigiu uma reformulação e as eleições extraordinárias e de segundo e terceiro ciclo. Temos que estar sempre último, os estudantes vão poder deslocar-se até à DG/AAC,
de abril. Apesar das adversidades, conseguimos conquistas presentes na luta por mais ação social e ter uma maior com horários estabelecidos, e reportarem situações, faze-
para os estudantes e lidar com os obstáculos de uma forma ligação, tanto com a UC, como com a CMC. rem questões, falarem simplesmente da sua opinião face
sustentável, assim como dar respostas aos pedidos das à Academia e à Universidade. Pretendemos estar ligados
secções e dos núcleos. Creio que foi um mandato positivo Na apresentação da candidatura referiste aos antigos e atuais estudantes e representá-los cada vez
e gostava de salientar a resiliência desta equipa, que se apostar mais na cultura e no desporto. De que mais, estar mais próximos de toda a cidade de Coimbra,
manteve até agora a trabalhar para o melhor da Académica. forma pretendem investir e criar uma maior da região e também de todo o país. No fundo, de todos
adesão a essas secções? aqueles que se identificam com a AAC.
Quais as principais mudanças entre ambas as Temos 27 secções desportivas e 16 secções culturais,
candidaturas? o que nos dá um peso único nestas áreas na cidade. O Que novos v a lores espelha m est a nov a
A renovação da DG/AAC, caso sejamos eleitos, é um trabalho que tem que ser feito pela AAC é procurar candidatura?
projeto que contém elementos de continuidade, mas junto da CMC e da UC as melhores condições possíveis A AAC tem de ser inclusiva e procurar a contribuição de
também outros membros novos que vão integrar a para o desenvolvimento das nossas estruturas. A nível todos para o desenvolvimento da casa. Nos momentos mais
equipa, com experiência em diversas áreas. O objetivo desportivo precisamos de utilizar espaços da Academia adversos a Académica mostrou-se resiliente, mostrou a
é trazer o máximo de qualidade à AAC. Na cultura e no para termos boas condições para treinar e desenvolver sua capacidade de fazer mais e melhor e de conseguir con-
desporto, o trabalho será semelhante. Temos alterações a prática desportiva. A Câmara Municipal também tem quistas para si através da união. Eu apontava que os cinco
ao nível do desporto, cultura, política, administração, complexos desportivos que não são tão acessíveis, mas pilares da minha candidatura são a estabilidade, confiança,
intervenção cívica e cidadania,pedagogia e informação. que existem e podem ser disponibilizados. A nível cul- união, proximidade e a inclusão, que acabam por refletir
tural, temos de assegurar as melhores condições para um conjunto de valores que nós pretendemos implemen-
És associado efetivo da AAC há 5 anos. Numa as secções, porque isto vai não só ajudar a elevar ainda tar na atuação no próximo mandato, caso sejamos eleitos.
visão geral, onde vês a necessidade de uma mais o nosso símbolo e nome, como também o da região
grande ação? como um todo. Quando uma secção está fora de Coimbra Quais as estratégias a adotar para o sucesso
Durante cinco anos passei por diversas estruturas e tive a representar a Académica, está também está a repre- neste novo ano?
várias etapas dentro do meu percurso, tendo passado por sentar a cultura coimbrã, a UC e a cidade. Uma administração forte e robusta que possibilite um
vários órgãos da casa. Consigo assim identificar diversos desenvolvimento da casa interna e externamente. Este
planos de ação onde existem melhorias a ser feitas. Divido Em entrevista à RUC, afirmas ser prioridade projeto candidato à DG/AAC pretende ser um projeto
a resposta em dois planos: o plano mais interno da AAC e o manter a estabilidade financeira da AAC. Como de trabalho, união e que consiga elevar o nome da AAC
plano mais externo, direcionado para a relação entre a co- pretendes solucionar a possível crise económi- de uma forma sustentável.
munidade estudantil com a UC. A nível das cantinas, temos co-social que se avizinha?
mais uma a servir prato social. Porém, as filas continuam Quando referi a crise, direcionei-me mais ao impacto di- Tens algo a acrescentar?
a ser bastante grandes, o que faz com que os estudantes as reto nos estudantes e às dificuldades que as suas famílias Gostava de acrescentar que as portas da AAC com este
evitem, uma vez que têm consciência do tempo reduzido vão passar. A UC, a CMC e o Governo têm um papel muito projeto "Sentir Académica" estarão sempre abertas a
de hora de almoço. No que toca às residências, temos que importante no combate ao eventual aumento do abandono todos os que queiram participar na sua construção.
continuar a fazer uma regular monotorização do estado escolar por motivos de ordem socioeconómica e relacio- Somos uma casa inclusiva e deixo assim o repto à comu-
das mesmas. O que não pode acontecer é passarem anos nados com a saúde mental. Se um estudante tiver num nidade estudantil para se aproximarem, para ouvirem
sem uma manutenção devida, porque, se o problema se contexto mais desfavorecido ou se estiver a atravessar por as nossas ideias, naturalmente se desenvolverem com
arrastar, vai existir uma necessidade de requalificação ou dificuldades socioeconómicas em casa, pode ter um estudo a AAC e sentirem a Académica.
10 CULTURA 15 de novembro de 2022

Por entre as várias vidas do Salão Brazil


No aniversário de dez anos do Salão Brazil sob gestão do Jazz ao Centro Clube,
José Miguel Pereira comemora história da casa. Para além disso, clama uma maior
participação da comunidade na construção do futuro do espaço.
- POR SOFIA MOREIRA -

S
alão de jogos, panificadora, pensão, res- Sobre as dificuldades encontradas nos primei- De acordo com José Miguel Pereira, “as dimen-
taurante: o Salão Brazil já viveu muitas ros anos de gestão, José Miguel Pereira declara sões reduzidas do espaço são perfeitas” para a
vidas desde a sua construção. Erguida há que o JACC iniciou as suas atividades no Salão atmosfera intimista que pretendem proporcio-
cerca de cem anos, a casa comemorou os seus dez “num contexto difícil” de crise internacional e nar. Congratula ainda os avanços em que tem
anos sob gestão do Jazz ao Centro Clube (JACC) intervenção externa em Portugal. Contudo, o reparado, no que diz respeito à disseminação
em outubro deste ano. Nos dias que correm, coordenador salienta os esforços do Clube em cultural: “hoje em dia é possível verificar uma
José Miguel Pereira é, ao mesmo tempo, músico construir um espaço que “as pessoas se orgu- tendência à profissionalização de estruturas e
contrabaixista e responsável pela coordenação lhem de frequentar e onde possam ver concertos disciplinas artísticas”, pelo que se revela espe-
e direção artística do Salão. de todos os géneros musicais”. Ademais, reco- rançoso para o que está por vir.
Nos primórdios da sua existência, o edifício foi nhece o papel essencial que a compra do espaço Quanto ao futuro do Salão Brazil, o contra-
uma panificadora, no seu primeiro piso, e uma pela Câmara Municipal de Coimbra teve nesta baixista promete “uma grande festa” no ano
pensão, no segundo, para depois ser convertido construção, ao legitimá-lo como património vindouro, de comemoração do vigésimo aniver-
num salão de jogos. No ano 2000, tornou-se um cultural do município. sário do JACC e dos cem anos do edifício. Para
restaurante, e foi nesta época que o JACC iniciou Em relação à cidade, o dirigente celebra que terminar, José Miguel Pereira acentua o desejo
lá as suas exibições, ainda que pontuais. Em ou- “não há nenhuma outra com a oferta cultural, de envolver a comunidade na gestão do espaço:
tubro de 2012, a titularidade do Salão Brazil foi o tipo, a quantidade e a diversidade entre dis- “gostávamos de ouvir as pessoas, perceber o que
adquirida pela associação e, logo no próximo ciplinas artísticas e número de espetáculos que acham que pode ser o futuro do local”. Assim,
mês, o JACC transformou a casa na sua sede. Por Coimbra tem”. Para se destacar no meio deste apela aos coimbrenses que “decidam quais vão
meio de mudanças de senhorio e crises financei- oceano de projetos, o músico considera que o ser as próximas vidas do Salão Brazil”.
ras, o Salão Brazil continuou a reinventar-se e Salão Brazil se distingue pela “proximidade que
assim se mantém até aos dias de hoje. oferece entre os artistas e o público”.

Renovam-se os espaços,
melhora-se o Cinema de Coimbra
Casa de Cinema de Coimbra com novos métodos de exibição após aquisição por parte da
CMC. Tiago Santos afirma querer “agitar as águas do cinema de Coimbra”.

- POR SAM MARTINS -

A
compra das salas de cinema do Edifício por criar “na Região de Coimbra um ponto de mana, para fazer formações”, que se tornam
Avenida por parte da Câmara Municipal encontro da cinefilia e dos seus promotores”. possíveis agora com a reativação dos espaços.
de Coimbra (CMC) ocorreu no dia 11 de A preservação das salas no panorama cultural Neste sentido, explica que o Auditório Salgado
maio de 2022, e apresenta já mudanças para a da cidade vai trazer “coesão regional e nacional Zenha é "um espaço interessante” para essas
área da cultura. As salas utilizadas pelo Centro na promoção da cultura cinematográfica”, ex- atividades, mas critica os seus acessos, que
de Estudos Cinematográficos da Associação plica o autarca. José Manuel Silva menciona que equipara ao “caminho para a cadeira elétrica”.
Académica de Coimbra (CEC/AAC), a Fila K e o a compra possibilita, ainda, receber neste espa- No que toca ao público, declara que, desde que
Caminhos do Cinema Português são agora um ço “os vários agentes que trabalham na promo- existe uma sala aberta na cidade, a adesão dos
equipamento do município. ção e produção da sétima arte”. Tiago Santos, estudantes aumentou “de 10 para 35 por cento
Segundo o presidente da CMC, José Manuel membro do CEC/AAC, demonstra-se otimista ao longo do ano”. Denota também um aumento
Silva, a compra das salas de cinema do Edifício em relação à parceria com a Câmara, uma vez no envolvimento na Associação Caminhos, que
Avenida “não estava prevista”. No entanto, a que “é importante trabalhar em conjunto, para “triplicou no espaço de um ano”.
autarquia continuava “atenta ao excelente tra- que Coimbra seja um destino cinematográfico”. Tiago Santos conclui que “com o potencial
balho promovido no espaço”, esclarece o diri- Salienta também que “a confiança e apoio por de equipamento que existe, consegue-se fazer
gente. Refere também a sua preocupação na parte da CMC no trabalho até agora realizado” uma coisa fundamental: levar o cinema às pes-
“transação do imóvel para investidores priva- motivam as associações, no sentido de “não de- soas”. Assim, as salas ganham valor ao “envol-
dos”, pois tal poderia significar a perda da “di- siludir as expectativas”. ver as pessoas, as comunidades e as institui-
namização de atividades sócio-cinéfilo-cultu- O responsável admite “ser esgotante não ter ções” e torna-se possível “agitar as águas do
rais”. Acrescenta que o objetivo da CMC passou salas dignas no polo I, disponíveis ao fim de se- cinema de Coimbra”.
15 de novembro de 2022 CULTURA 11

Afinal, o Amor do
Estudante também pode
ser Folclore
Noivo e Noiva, Tricana e Citadino, Barqueiro e
Arrufadeira dançam, cantam e encantam na Orquestra
Típica e Rancho da SF/AAC. Futuras participações nos
encontros nacionais de folclore e festivais internacionais
são algumas das ambições.

Por Benny Correia - POR MATEUS ARAÚJO E BENNY CORREIA -

C
om mais de vinte participações no pois representa não só a Orquestra, como tam- A Típica nos palcos
Encontro Nacional de Etnografia e bém a Tuna Universitária, que tem uma versão O último festival internacional no qual a OTR
Folclore (ENEF), a Orquestra Típica e própria”. O tema não representa tanto o folclore participou foi em Espanha, antes da COVID-19,
Rancho (OTR) da Secção de Fado da Associação regional, pelo que “hoje é mais a capa e a bati- “onde o tratamento é mais formal e há mais
Académica de Coimbra (SF/AAC) perfaz 41 anos na”, menciona. respeito pelo trabalho”, confidencia Beatriz
de história. O amor do estudante que defende Nogueira. Já passaram por Itália, Roménia,
e representa o folclore encontra neste grupo O esqueleto da Típica México, Hungria e Canadá. No âmbito nacio-
um lugar cativo, que se destaca por ser único Na Orquestra, o canto, a dança e a música regio- nal, promovem o Festival “O Mondego”, no final
na região de Coimbra. O grupo foi fundado em nal são partes integrantes das apresentações. do primeiro semestre, e outro intitulado ENEF,
maio de 1981, carrega no estandarte uma sim- Fazem parte da cantata apenas dois membros: no segundo. Neste último encontro, os grupos
ples imagem com um par a dançar e diferentes a cantadeira, de voz mais estridente, e o cantor. académicos vêm conhecer Coimbra e, “sob um
fitas com as cores das faculdades. Muitos dos instrumentos que compõem o ima- acordo de amizade”, também convidam a OTR
À conversa com quatro dos seus membros ginário folclórico da orquestra são típicos da para os seus festivais, refere a jovem.
- Beatriz “Luna” Nogueira, Rodrigo Pereira, cidade de Coimbra, como o acordeão, o bombo, Nessas festas convivem com outros grupos
Rebecca Battisti e Soraia Cardoso - ficaram-se a viola, o pandeiro e o violino. No entanto, “o “com a mesma coluna portuguesa, mas toda
a conhecer as experiências e a visão de cada um último não é tão casual por faltar alguém que o uma vestimenta e trajes diferentes”, explicam
sobre passado, presente e futuro do folclore de saiba tocar”, explica Rodrigo Pereira. O jovem os membros do grupo. Voltar a participar em
Coimbra. Distintas entre si, Beatriz “Luna” infere que as pessoas podem aprender a tocar os festivais internacionais e assegurar a evolu-
refere que entrou na OTR há “mais ou menos instrumentos quando se juntam à toccata: “tal ção da OTR, no que toca à dança e à música, são
dois anos, porque tinha lá amigos e parecia um como nas danças, na música há sempre alguém grandes ambições da Orquestra para o futuro.
grupo divertido”. Rodrigo Pereira era seccio- disponível para ensinar”, reforça. Rebecca Battisti afirma que todos os entrevista-
nista antes de integrar a Orquestra, por isso “já Importante imagem das apresentações da dos entraram na OTR por brincadeira. Ao con-
lá tinha pessoas conhecidas”. Salienta que este Orquestra, os trajes típicos foram concebidos trário do que estavam à espera, ficaram porque,
foi o primeiro grupo criado da SF/AAC e que com base em exemplares do século XIX. Rodrigo afinal, “é interessante, engraçado e divertido”,
“é sempre importante experimentar uma vez”. Pereira menciona que “o folclore, como qual- confessa entre risos. Beatriz Nogueira acredita
Quando esteve pela primeira vez em Coimbra quer tema, evolui”. Ainda assim, a OTR tenta que “há estudantes que querem fazer parte de
de Erasmus, Rebecca Battisti entrou na OTR, preservar a tradição coimbrã, em especial os ranchos, mas ainda não têm conhecimento da
pois conhecia alguns seccionistas. Ao regres- trajes, que representam diversos ofícios e clas- Orquestra Típica”.
sar a Coimbra, desta vez de forma definitiva, ses sociais da região. Destacam-se a Noiva, a Os interessados podem entrar na parte da
voltou a integrar o grupo. Por sua vez, Soraia Tricana, a Arrufadeira, a Tremoceira, o Noivo, dança, da cantata ou da toccata. Os ensaios
Cardoso foi “puxada pela colega” no seu primei- o Citadino, o Estudante e o Jornaleiro. Beatriz ocorrem todas as segundas-feiras, às 19h00, e
ro ano em Coimbra e por lá continuou. Beatriz Nogueira afirma que a participação assídua de quartas-feiras, às 21h00, na Sala Tó Nogueira,
Nogueira enfatiza que a “Vira de Coimbra” é antigos é um fator determinante para a preser- por baixo da sala de estudo da AAC.
uma canção “obrigatória em qualquer atuação, vação desse património.

Por Benny Correia


12 CENTRAL 15 de novembro de 2022

Sondagem A CABRA/RUC: João Caseiro à


frente na corrida eleitoral
Gonçalo Lopes e Wilson Rodrigues estão empatados. Sondagem revela que estudantes de
Coimbra não querem Propina Zero e 7,5 por cento não tem opinião formada sobre tema.

A
pós anos adormecida, a sondagem elei-
toral A CABRA/Rádio Universidade de Resultados DG/AAC
Coimbra (RUC) regressa para mais uma Percentagem com distribuição de indecisos
previsão. Uma análise inicial indica que a lista
S – Sentir Académica, liderada por João Caseiro,
se encontra à frente dos outros projetos. Por sua
vez, a lista E – Estudantes Primeiro, encabeçada
por Gonçalo Lopes, encontra-se em pé de igual-
dade com a lista P – Parem de Empatar, de Wilson
Domingues, representante do Pato.
Existe ainda um nível de indecisão no seio da
comunidade estudantil em relação às eleições
da Direção-Geral da Associação Académica de
Coimbra (DG/AAC), assim como da Mesa da
Assembleia Magna da AAC (MAM/AAC). O nível
de estudantes que não sabe do que se trata ou não
se interessa ultrapassa os 50 por cento.
Ao olhar para os resultados, no geral, a lista de
João Caseiro arrecadou uma intenção de voto su-
perior a 40 por cento em ambas as faculdades do
Polo III, com 43,1 por cento na FMUC e 40,5 por Caseiro, o que demonstra uma tendência de po- FFUC - Na Faculdade de Farmácia a intenção de
cento na FMUC. Já o projeto de Gonçalo Lopes pularidade para a lista nesta faculdade. Houve voto com maior expressividade foi na lista S (34).
demonstra uma maior popularidade na FDUC, seis votos em branco. Aqui, 14 estudantes declararam estar indecisos
onde estuda, com 10,7 por cento, e na FLUC (7,5 e 27 não saber. Os votos em branco foram cinco,
por cento). Já o projeto Parem de Empatar tem FLUC - Num universo de 3397 alunos, responde- pelo que ultrapassaram a totalidade de votos an-
a sua maior expressão geral na Faculdade de ram 201. Na Faculdade de Letras da UC (FLUC), a gariados pelas listas E e P, que, mais uma vez,
Direito da UC, com 7,9 por cento das intenções resposta dominante foi “Não sei” (89). Aqui, mais surgiram empatadas com dois votos cada. Num
de voto, seguida da FLUC, onde contou com 7%. uma vez, a lista E e a lista P estão equilibradas, total de 84 inquiridos, verifica-se uma falta de
Em suma, a sondagem aponta para uma vi- com 15 e 14 votos, respetivamente. Já a lista S popularidade das últimas duas listas referidas.
tória distanciada de João Caseiro, com cerca encontra-se na frente com 42 intenções de voto
de 36,7 por cento na amostra de 1000 estudan- e supera os indecisos, que são 30. Os votos em FCDEF - A Faculdade de Ciências de Desporto e
tes com distribuição proporcional de indecisos branco, nesta faculdade, foram 11. Educação Física foi onde a amostra foi menos re-
pelos candidatos. Ainda assim, a abstenção do- presentativa, dado terem sido abordados apenas
mina mais de metade da tendência, o que vem FCTUC - À semelhança de outras unidades or- 13 de 732 estudantes. Ainda assim, seis destes con-
dar força aos resultados dos últimos anos. gânicas, a Faculdade de Ciências e Tecnologia fessaram “não saber”, enquanto dois votaram em
da UC (FCTUC) (polo I e II) revela uma predomi- branco. Os outros cinco inquiridos demonstra-
FEUC - Na Faculdade de Economia da nância do “Não Sei” (54,6 por cento). No entan- ram intenções de votar na lista de continuidade.
Universidade de Coimbra (FEUC) foram aborda- to, João Caseiro lidera a sondagem, com 17,6 por
dos 101 estudantes, dos quais 49 demonstraram cento. Em 238 inquiridos, Wilson Domingues e o FPCEUC - O candidato da lista S não conseguiu o
a intenção de voto na lista S (48,5 por cento). Por Pato contabilizaram 12 apoiantes. A lista E soma melhor resultado em casa. Obteve 29 intenções de
sua vez, os alunos desta faculdade mostraram- 13 votos entre a amostra abordada. Também se voto dentro de um total de 86 estudantes. 33 alunos
-se divididos entre a lista E e a lista P, com seis verificou que 19 pessoas admitiram votar em da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
estudantes a escolherem cada uma. Os indecisos branco ou nulo. Os indecisos perfazem um total não sabem e 11 estão indecisos. Já 8 optam pelo
(13) e os que admitem não saber (21) contam com de 9,2 pontos percentuais nesta faculdade. voto em branco. Nesta unidade orgânica, a lista P
um total inferior ao projeto encabeçado por João angariou três votos, um a mais que a lista E.
FDUC - Para lá da Porta Férrea, as diferenças
Nº de matrículas atenuam um pouco. Num total de 140 pessoas, FMUC - Na Faculdade de Medicina foram 137 o
49 declararam não saber, enquanto 24 se mos- total de pessoas sondadas, dos quais 57 dizem
traram indecisos e 13 admitiram votar bran- que não sabem do que se trata, enquanto 11 afir-
co. A lista Estudantes Primeiro surgiu com 15 mam estar indecisos. Aqui a lista do Pato conse-
votos, atrás da Sentir Académica, que angariou guiu 4 votos, o projeto Estudantes Primeiro con-
28 pessoas. A lista do Pato conseguiu 11 votos, quistou apenas uma pessoa, enquanto Sentir
pelo que obteve, nesta faculdade, a maior dis- Académica alcançou o seu melhor resultado:
tância da lista encabeçada por Gonçalo Lopes: 59 estudantes (43,1 por cento).
quatro votos de diferença.
15 de novembro de 2022 CENTRAL 13
MAM/AAC - Para a Mesa da Assembleia Magna
Resultados MAM/AAC da AAC (MAM/AAC), encontram-se na corrida
Percentagem com distribuição de indecisos Gonçalo Pardal, estudante da FCTUC, pela lista
S, enquanto João Maduro, da FDUC, se candida-
ta pela lista E. Nas sondagens, a primeira pre-
nuncia-se vencedora, com 314 estudantes (31,4
por cento) a assumirem votar no projeto. Por
sua vez, a lista E aglomera 66 intenções de voto
(6,6 por cento).
O número de estudantes que não sabe se vai
votar ultrapassa os 400. Dos restantes, há 116
indecisos e 68 inclinados a votar em branco ou
nulo. No geral, Gonçalo Pardal detém um maior
apoio na FEUC, com 49,5 por cento. Por sua vez,
e apesar de continuar atrás da lista S, João
Maduro tem uma maior expressão em casa, ao
obter 15,7 por cento de apoiantes na FDUC.
De um modo geral, a sondagem aponta para
uma vitória do candidato da lista S, o que segue
a tendência da eleição para a DG/AAC.

Da Propina ao ENDA: o que conhecem os dicativa levada a cabo pela AAC (34,8 por cento), Acredito que a propina deveria ser:
estudantes? do que os que a consideram insuficiente (25,9
Todos os anos, as eleições são marcadas por vá- por cento). Neste tema, 38,7 por cento declara-
rios temas de destaque, como a propina, a ação ram não ter opinião formada. Apesar de não ser
reivindicativa estudantil e o Regime Jurídico tão representativo, houve ainda 6 estudantes
das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Por que a consideram excessiva.
outro lado, o Encontro Nacional de Direções RJIES
Associativas (ENDA) adquiriu um maior relevo Quanto ao assunto da revisão, manutenção ou
este ano letivo. Dentro destes temas, os resulta- revogação do RJIES, as respostas foram as mais
dos destas sondagens foram reveladores. expressivas no que toca à ignorância acerca do
Propina tema. Este tópico contou com 59,5 por cento dos
Nos Estatutos da AAC, o ponto 1 do artigo 2.º inquiridos a responder nesse sentido. Foram 319
oficializa o “Princípio da Defesa do Ensino os estudantes que responderam no sentido da
Superior Público, democrático, universal, gra- revisão, e apenas 22 prezam pela revogação. Por
tuito e de qualidade”. De acordo com os resul- último, 64 pessoas apoiam a sua manutenção.
tados, foram 35,4 por cento os estudantes que ENDA Riscos da Sondagem
defendem a diminuição da propina e 13,2 por O resultado desta sondagem foi surpreenden- - POR JOANA CARVALHO -
cento que optaram por manter o seu valor. Já te neste tema: após aprovação em Assembleia Esta sondagem apresenta uma margem de erro de
1,3 pontos percentuais apelaram ao aumento. Magna da saída da AAC do ENDA, apenas 6,3 3 por cento e de confiança de 95 por cento. Este in-
quérito vai ter uma grande influência nos resulta-
Em contrapartida, 24,6 por cento procuram a por cento dos inquiridos apoiam a saída. A per-
dos. A sua divulgação vai ocorrer no último dia de
diminuição gradual até 0, enquanto 18 por cento manência no ENDA arrecadou 55,7 por cento campanha, pelo que não há muito espaço para os
lutam pela abolição. Aqui, apenas 7,5 por cento dos votos, enquanto os estudantes sem opinião candidatos se mobilizarem e tentarem chegar aos
declarou não saber ou não ter opinião. correspondem a 38 por cento. Isto demonstra sítios em que se encontram mais desfalcados.

Ação Reivindicativa uma clara discrepância com o deliberado na Também é importante ter em conta que, ao con-
De um modo geral, foram mais os estudantes AM de 19 de outubro. trário de anos anteriores, contamos com uma lista
para a DG/AAC sem um candidato para MAM/AAC.
que se mostraram satisfeitos com a ação reivin-
Isto pode ter influência na forma como os votos da
lista P se vão distribuir depois no voto para o órgão
deliberativo máximo da AAC.
Espaço de Opinião em larga medida, o ato eleitoral. Os números A amostra desta sondagem revela ainda que a
- POR TOMÁS CUNHA, são claros e não mentem. Um vasto setor do maioria das pessoas inquiridas são de primeiro ano,
o que pode explicar a falta de conhecimento por parte
ANTIGO PRESIDENTE DA RUC - eleitorado não se revê nos cavalos de batalha
das pessoas que responderam em relação a determi-
defendidos pelas sucessivas DG/AAC. nadas matérias. Por fim, a categoria “não sei” não se
Todos os anos a história repete-se. Em novem- Comecemos pela propina zero, uma velha rei- cinge exclusivamente às abstenções, e pode refletir
bro, os candidatos à DG/AAC prometem uma casa vindicação. O que é que os números relativos a falta de interesse da amostra, como também a já
referida falta de informação sobre o assunto.
aberta, democrática e próxima dos estudantes. a esta questão nos dizem? Primeiro, mostram
No final, as tarjas produzidas na mesma em- que a maioria dos estudantes se mostra con- *Ficha Técnica na última página.
presa de sempre são guardadas e o restante tra esta reivindicação. Segundo, indica que o
'merchandise' de campanha torna-se uma re- caderno reivindicativo da AAC está parado no mental por várias DG/AAC ao longo dos anos.
líquia de uma semana, onde os cafés de Coimbra tempo, não existindo, por parte dos sucessivos Em suma, as preocupações dos dirigentes as-
são palco de conversas sobre o PROJETO, a dirigentes, uma preocupação de perceber quais sociativos não casam com as da maioria dos
"casa" e onde as palavras "irreverência", “va- são os novos anseios dos estudantes. estudantes. Como é que podemos mitigar este
lores” ou “causa” são repetidas até à exaustão. Esta indiferença perante o trabalho da AAC é evi- problema?, perguntará o leitor mais atento.
Este ano, os artistas mudaram, mas a músi- dente. Por exemplo, 38,7 por cento dos estudantes Diria que um bom primeiro passo seria atuali-
ca foi a mesma. Ora, este trabalho conjunto A não têm opinião formada sobre o papel da ação zar as bandeiras da AAC, de forma a moderni-
CABRA/RUC, dá-nos algumas luzes sobre as ra- reivindicativa da AAC e apenas 6,3 por cento dos zar tanto as reivindicações como a política da
zões que explicam este triste fado. estudantes questionados consideram que a AAC Académica. Caso contrário, este disco arranha-
A importância desta sondagem ultrapassa, deve sair do ENDA, uma ação considerada funda- do vai continuar a tocar até riscar totalmente.
14 DESPORTO 15 de novembro de 2022

Estudantes e atletas: outra forma de


viver a experiência universitária
Judocas treinam na SJ/AAC desde crianças. Para Francisco Mendes,
apoio da UC facilita vida aos desportistas.

- POR ANDREINA DE FREITAS E MARIANA NEVES -

A
Secção de Judo da Associação Académica anos, alcançou a medalha de ouro que “procu- “estão atentos e procuram que se sintam mo-
de Coimbra (SJ/AAC) tem já 65 anos de rava desde 2018”. Para o judoca, conquistar este tivados e acarinhados”.
existência e é tida como uma referên- troféu foi uma honra por estar a “representar a As lesões são uma das partes mais desafian-
cia da modalidade em Portugal. Na atualidade, AAC”. Por sua vez, Beatriz Moreira, de 20 anos, tes para estes atletas. Estas representam, para
conta com 20 estudantes universitários, de di- conquistou a medalha de bronze, o que se tor- Francisco Mendes, uma mudança completa da
ferentes polos académicos, que dividem a sua nou para si “um dia bastante feliz”. sua rotina, visto que “não conseguem ter os
vida entre a paixão pela modalidade e as suas Para os estudantes-atletas, estes triunfos são o mesmos hábitos, nem realizar as atividades
aspirações académicas. resultado de um forte compromisso e exigência, regulares”. Francisco Rovira refere que nunca
Vicente Rovira, estudante da Faculdade pois, como a judoca refere, “é um desafio conci- teve nada grave, mas confessa que tem “colegas
de Economia da Universidade de Coimbra, e liar as duas vertentes” e confessa que já chegou a que sentem o perigo de lesões que possam aca-
Francisco Rovira, da Faculdade de Direito da deixar as aulas e os estudos para trás. Para estes bar com as suas carreiras”. Todos estes atletas
UC, são gémeos com 21 anos e partilham o tapete quatro, conciliar os dois aspetos da sua vida é concordam que a parte mais difícil é ficarem
desde os três anos. Para o primeiro, ter um irmão bastante difícil, mas Francisco Mendes frisa afastados do que mais gostam - o tapete.
na mesma modalidade é bom porque "se tem que “os apoios que a universidade tem dado e Em relação ao futuro, o desejo geral de todos
um ombro amigo e um apoio extra para conse- as condições que há em Coimbra facilitam uma é prosseguir com a sua carreira desportiva e
guir chegar mais longe.” Por sua vez, Francisco vida tanto desportiva como de estudante”. conquistar novos títulos. Francisco Mendes
Rovira salienta que “é ter um parceiro para tudo De acordo com Beatriz Moreira, as conquis- ambiciona “medalhar no circuito mundial”.
numa modalidade individual como é o judo”. tas validam o esforço colocado na modalidade Em contrapartida, Vicente Rovira não tem um
Francisco Mendes, estudante da Faculdade de e incentivam os atletas a continuar. Contudo, objetivo fixo e está disposto a ir para onde o
Farmácia da UC (FFUC) e Beatriz Moreira, da Vicente Rovira realça que “não é só uma ques- judo o levar. Esta posição é também adotada por
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação tão de mérito, mas também uma questão de se Beatriz Moreira, que quer ir com calma e ver o
da UC, foram medalhados nos últimos Jogos perceber em que patamar se está e a qual se quer que o futuro lhe espera. Já Francisco Rovira
Universitários Europeus, no passado mês de chegar”. Francisco Mendes sublinha que pode- não quer estragar a "magia" e, por isso, não tem
julho, na Polónia. Francisco Mendes, de 24 ria haver mais reconhecimento por parte das planos definidos.
várias entidades desportivas a nível nacional.
Por Andreina Neves Para o estudante da FFUC, os resultados fazem Por Mariana Neves

parte do desporto, uma vez que “quando se


entra no tapete, apenas um vai vencer”. Beatriz
Moreira acredita que se deve ver o lado positivo,
ainda que as derrotas sejam frustrantes.
Uma das dificuldades apontadas pelos estu-
dantes-atletas está relacionada com a gestão do
tempo, pois entre treinos, competições, estágios
e a faculdade, não há muito espaço para descan-
sar ou socializar. Vicente Rovira confessa que
a vida social acaba por ser na faculdade. Esta
opinião é também partilhada pelo seu irmão
Francisco, que explica que “para chegar a um
certo nível há horários que são incompatíveis
em termos sociais”. Para Beatriz Moreira, a vida
Por Andreina Neves social ficou "um bocado para trás”. A mesma Cedida por Francisco Neves

explica que apenas frequentou poucas praxes e


teve que falhar certos jantares de curso.
Como consequência das responsabilidades
presentes na vida de um atleta-estudante, o
‘stress’ e a ansiedade podem afetar a sua saúde
mental. Beatriz Moreira conta que aprendeu
a lidar com estas emoções. Segundo Vicente
Rovira, a ansiedade é apenas ao nível das pro-
vas, por lhes dar mais importância. Filipe
Rosa, coordenador técnico da SJ/AAC, salien-
ta que ainda não foi sentida a necessidade de
dar acompanhamento psicológico aos atle-
tas, mas destacou que os membros da secção
15 de novembro de 2022 DESPORTO 15

AAC com olhos no pódio


Diogo Tomázio acredita ser possível equipas da casa superarem a
marca da edição passada. Vencedores dos CNU têm oportunidade de se
mostrar contra melhores da Europa.

- POR LETÍCIA LOPES E ALICE RODRIGUES -

Por Simão Moura

O
s Campeonatos Nacionais Universi- ocorrer apenas no próximo semestre. vai ser realizada em Coimbra, de 27 de fevereiro
tários (CNU), organizados pela O treinador da equipa universitária de bad- a 1 de março. Das dez equipas inscritas, as duas
Federação Académica de Desporto minton, Diogo Silva, que ocupa este cargo pelo melhores vão ter acesso direto para a Fase Final
Universitário (FADU), iniciam-se neste mês quinto ano consecutivo, revela que o desempe- e o terceiro classificado vai disputar os ‘play-o-
de novembro. Segundo o vogal para a políti- nho da academia tem sido positivo. Os atletas ffs’ contra a melhor associação das ilhas. Os re-
ca desportiva da Direção-Geral da Associação têm conseguido medalhas de pódio nas últi- sultados vão ser disputados em jogos, de quatro
Académica de Coimbra (DG/AAC), Diogo mas edições dos jogos da FADU. Nesta edição, os partes com seis minutos de duração cada uma.
Evangelista, foi um dos clubes fundadores da participantes pretendem manter ou melhorar A primeira JC de basquetebol femini-
FADU, pelo que não é a primeira vez que a aca- os seus resultados. no realiza-se nos dias 29 e 30 de novembro,
demia compete neste nível. A AAC também está inscrita na competição de em Guimarães, acolhida pela Associação
O vice-presidente da DG/AAC para as Relações xadrez, modalidade disputada em equipas mis- Académica da Universidade do Minho. Já a
Externas e para as Relações Internacionais, tas. Este campeonato tem data marcada para segunda, vai ser disputada em Coimbra e, tal
Diogo Tomázio, esclareceu que, com o passar o próximo dia 24, no Porto. Embora ainda não como acontece com a competição masculina,
dos anos, os resultados das equipas académicas tenha a equipa finalizada, o vice-presidente da apenas as duas melhores equipas têm acesso
têm sido cada vez melhores. As suas expectati- Secção de Xadrez da AAC (SX/AAC), Eduardo direto para a Fase Final. De acordo com o trei-
vas são que a AAC continue a sua trajetória e que Nunes, mostra-se confiante em relação ao po- nador da equipa, Gonçalo Melo, a mesma não
exceda as 65 medalhas, conseguidas na edição tencial dos participantes. Revelou ainda que, participa há duas edições consecutivas e a sua
anterior. Realça ainda que este é o “maior clube para além de se sentir aliviado com o regres- presença este ano deve-se à iniciativa das pró-
desportivo da zona centro, de longe”. so aos campeonatos presenciais, sente que “há prias atletas. Por questões logísticas, ainda não
Para além de participar, a AAC vai também mais do que qualidade na SX/AAC” para ficar tiveram a possibilidade de iniciar os treinos.
receber alguns eventos desportivos. Em feve- bem qualificada. Diogo Tomázio mostra-se confiante no desem-
reiro, Coimbra vai ser palco das segundas jor- Outros campeonatos a serem disputados pela penho dos atletas e na preparação das compe-
nadas de basquetebol, tanto o feminino como AAC são os de basquetebol. Nesta modalida- tições. O vice-presidente da DG/AAC acredita
do masculino, as duas vertentes do andebol e do de, a organização do campeonato é diferente que, mesmo após uma pausa forçada causada
futsal feminino. De acordo com o vice-presiden- das anteriores. Os rapazes vão passar por duas pela pandemia da COVID-19, “o rendimento dos
te da DG/AAC, estas competições vão ser dispu- Jornadas Concentradas (JC), com a primeira atletas continua ao nível desejado”.
tadas no Estádio Universitário e no Pavilhão dividida entre Norte e Sul. O mesmo acontece Os vencedores dos CNU qualificam-se para os
Jorge Anjinho, com a possibilidade de recorrer com as atletas, mas sem divisões regionais. Jogos Europeus Universitários, organizados pela
a outros pavilhões da cidade. A equipa conimbricense masculina vai par- ‘European University Sports Association’. A edi-
Uma das modalidades que a Académica vai ticipar na primeira JC do Sul, que vai ter lugar ção de 2023 vai decorrer entre os dias 25 de junho
disputar é o badminton em regime misto. O em Faro, sob a coordenação da Associação e 2 de julho, na cidade de Tirana, na Albânia.
evento vai decorrer nos dias 22 e 23 de novem- Académica da Universidade do Algarve, nos
bro, no Porto. A segunda fase, individual, vai dias 16, 17 e 18 de novembro. A segunda jornada
16 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 15 de novembro de 2022

Como a linguística nos constrói


Estudo visa analisar particularidades de várias linguagens. Cientista
reforça a importância “transversal” da área.

- POR BRUNA PASSAS -

O
projeto “TypoMetaLing: Effect of lin- os monolíngues tinham dificuldades que os só uma ou duas línguas. Leona Polyanskaya es-
guistic experience on metacognition bilíngues não tinham. pera que o projeto se realize, tanto em campo,
in language tasks and transfer to non- Após observar estas divergências, a investiga- como em laboratório, pois pretende analisar
-linguistic behavior” ganhou 1,5 milhões de dora da UC ganhou interesse em compreendê- os resultados entre as instâncias. Revela, tam-
euros do Conselho Europeu de Investigação. -las. O objetivo prendia-se em inferir o porquê bém, que o ambiente em que se analisa uma po-
Desenvolvido por Leona Polyanskaya, investi- de monolíngues e bilíngues diferirem, assim pulação é influenciado por vários fatores, como
gadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências como tornar as aulas para os dois grupos mais a distância ao mar, o contacto com animais, o
da Educação da Universidade de Coimbra eficazes. Dedicou-se à linguística no seu dou- ruído da cidade, entre outros.
(FPCEUC), o projeto internacional liga lingua- toramento e trabalhou em diferentes países, A investigadora vai contar com ajuda de uma
gem e comportamento. o que lhe possibilitou a observação de outras equipa, já que “o projeto tem uma dimensão
O projeto procura entender as particulari- convivências e linguagens. Apesar de já possuir grande”. Leona Polyanskaya admite ter preci-
dades de várias linguagens e de que forma in- um maior entendimento sobre o tema, a antiga sado de “recrutar pessoas para formar um bom
fluenciam a nível cognitivo e comportamen- docente continuou focada na “procura de res- corpo”. A equipa vai englobar outros investiga-
tal. A ideia para esta pesquisa surgiu quando postas” e candidatou-se à bolsa. Estes fundos dores, estudantes de doutoramento e técnicos,
Leona Polyanskaya era professora na Rússia e vão permitir levar esta pesquisa aos locais e às que vão ajudar na pesquisa, na comunicação
dava aulas a alunos monolíngues e bilíngues. pessoas necessárias. “Quando és investigadora com o público e na construção de ‘websites’. A
Nessa altura, a investigadora reparou que os tu queres sempre mais, tens uma resposta e dez cientista afirma que o projeto tem uma impor-
alunos bilíngues abordavam a resolução de perguntas”, contou. tância “transversal” para a sociedade, dado que
problemas matemáticos e aprendiam novas Esta investigação vai ser realizada à escala todas as áreas beneficiam deste.
línguas de forma diferente. Ao mesmo tempo, mundial e tem como critério pessoas que falem

4 milhões de euros vêm limpar


água europeia
UE financia projeto internacional para proteção da qualidade da água de consumo.
Objetivos principais são mudança de legislação e estudo de impactos na saúde.

- POR FREDERICO CARDOSO -

N
o âmbito do “Horizonte Europa”, pro- potável são feitos através de produtos químicos de distribuição. “É necessário o desenvolvi-
grama da União Europeia (UE) para o à base de cloro, para a eliminação de microrga- mento e a aplicação de sensores que detetem os
incentivo da investigação e da inova- nismos. “Apesar dos produtos usados não serem subprodutos de desinfeção no fluxo da água”,
ção, surge o “H2OforAll”, projeto internacio- nocivos para a saúde humana, ao entrarem em refere. A professora confessa que esta é uma
nal liderado pela Universidade de Coimbra contacto com matéria orgânica presente na “tarefa árdua”, dado que as redes têm cente-
(UC). A iniciativa arrancou dia 1 de novembro água, originam subprodutos de desinfeção”, nas de quilómetros, mas acredita que “é fulcral
e acaba de receber um financiamento de qua- esclarece a investigadora do DEQ. Esses com- perceber onde se formam estes compostos, e
tro milhões de euros. Este projeto conta com a postos criados são difíceis de controlar por po- evitar que se formem, para assegurar que não
parceria de 18 entidades de dez países diferen- derem surgir ao longo da rede de distribuição chegam às habitações".
tes, dentro e fora da UE. O principal objetivo é da água, o que obriga a um controlo até ao ponto Dada a magnitude do projeto e da parceria
o desenvolvimento de tecnologias inovadoras de abastecimento do utilizador, explica ainda. entre os diversos investigadores, institutos e
que permitam a monitorização, prevenção da Para garantir a qualidade da água em toda a empresas de países participantes, a investiga-
contaminação e o tratamento da água canali- rede, a docente revela que vão ser estudadas dora considera o financiamento suficiente para
zada destinada ao consumo humano. e aplicadas, ainda que em protótipo, tecnolo- atingir os objetivos do projeto. A correspon-
Luísa Durães, investigadora no Departamento gias de deteção rápida in-situ. Estas podem ter sável espera que, da colaboração de todos os
de Engenharia Química (DEQ), é corresponsá- uma aplicação direta na qualidade e desinfeção intervenientes, surja um estudo aprofundado
vel pelo projeto coordenado por Rui Martins, da água e a utilização de radiação ultravioleta para a alteração da legislação europeia, caso
professor no mesmo departamento. A docente vem permitir eliminação dos microrganismos. os resultados sejam positivos. “Queremos que
explica que, hoje em dia, a maior parte dos pro- Além disso, Luísa Durães indica como um dos não só a Europa, mas todo o planeta beba água
cessos de desinfeção e de tratamento da água principais desafios a complexidade das cadeias de elevada qualidade”, finaliza Luísa Durães.
15 de novembro de 2022 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 17

A (falta de)
sustentabilidade
na Festa das Latas
Desperdício na Festa das Latas de Coimbra
conta com cerca de cinco mil toneladas de
lixo. Ativista ambiental refere aumento de
furtos de carrinhos de compras.
Cedida por Câmara Municipal de Coimbra

- POR SAM MARTINS E LUÍSA RODRIGUES -

O
desperdício na Festa das Latas e tervenientes, desde 2014 a 2019”, mas que “nin- Comissão Organizadora da FL tem o trabalho
Imposição de Insígnias (FL) que regres- guém quis saber”, confessa. O militante conclui de “sensibilização para a não utilização dos car-
sou este ano entre os dias 4 e 9 de outu- que não encontrou, até agora, uma pessoa num rinhos de compras no cortejo”. O facto de este
bro, observou-se ao longo das ruas de Coimbra. cargo de liderança que quisesse resolver a ques- ocorrer em espaço aberto torna “muito compli-
A festa académica, que visa integrar os novos tão. Por outro lado, elogia a atitude da Escola cado tomar uma atitude de proibição”, ressalva
alunos da Universidade de Coimbra (UC) e do Superior Agrária de Coimbra que não utiliza o administrador da DG/AAC. Por outro lado, o
Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) tem sus- carros de compras no decorrer do cortejo. Deixa controlo dos “resíduos produzidos nas barracas”
citado críticas. O Movimento Não Lixes, uma ainda um apelo para que esta “moda que alguém seria algo mais fácil, afirma Rodrigo Marques.
associação sem fins lucrativos, começou a tentar inventou seja desmontada”, face ao aumento de O dirigente finaliza com um apelo às próximas
combater alguns dos excessos em 2013 e, desde furtos registados. comissões organizadoras para terem uma maior
então, tem-se destacado neste sentido. Por parte da Direção-Geral da Associação atenção quanto à “política de sustentabilidade
Fernando Jorge Paiva tornou-se ativista devi- Académica de Coimbra (DG/AAC), o responsável nas festas académicas”, para que seja possível
do ao impacto do cortejo da Festa das Latas no pela coordenação da FL foi o seu administrador, “obter maiores resultados”.
rio Mondego. Sendo também atleta de desportos Rodrigo Marques. O estudante acredita que, Em colaboração, os serviços da Divisão de
náuticos, comenta que observou “não existirem este ano, “houve uma diminuição dos resíduos Saúde e Ambiente da CMC e a empresa SUMA,
melhorias nenhumas” e acrescenta que, este acumulados”, devido à maior sensibilização a contrato da autarquia, recolheram os resíduos
ano, houve “um aumento de carros de compras por parte dos intervenientes. Destacou ainda do cortejo deste ano. Os dados, segundo a página
furtados”. No entanto, sente-se honrado por algumas parcerias efetuadas no âmbito da re- oficial da CMC, foram de cerca de cinco tonela-
estar a “proteger o rio das atrocidades ambien- dução de desperdícios, com a empresa Refood, a das e meia, Das mesmas, foi possíveis reciclar
tais”. Salienta ainda que “faz sentido haver um ERSUC – Resíduos Sólidos do Centro e também quatro toneladas e meia. Quanto ao número de
desfile e os estudantes divertirem-se, o que não com a Câmara Municipal de Coimbra (CMC). recursos humanos nesta ação contou-se com 38
faz sentido é roubar carros de compras e atirar Rodrigo Marques menciona que se deve “conti- operacionais e, no que toca a recursos materiais,
lixo para o chão”. O ativista quer reforçar ainda nuar a trabalhar em cooperação e de forma cada recorreu-se à utilização de 12 meios mecânicos.
a ilegalidade destes atos. vez mais atempada e evoluída”, para possibili- Por parte da CMC foram coletados quinhentos
No que toca à atitude dos estudantes, o ativista tar uma diminuição da quantidade de resíduos carrinhos de compras, acrescendo a outras en-
menciona que, neste último desfile, se “torna- produzidos. Para o administrador , os esfor- tidades, como a Não Lixes, que recolheram mais
ram violentos”, ao serem abordados pelos mem- ços da DG/AAC, da CMC, do público e de outras de dois mil no total. Em contacto com a SUMA, a
bros do movimento com o intuito de recolher os entidades foram essenciais para a recolha dos requisição de dados ficou a cargo da autorização
carrinhos de compras. Fernando Jorge Paiva carrinhos e do lixo produzido durante o cortejo. da CMC, da qual não foi obtida resposta.
reforça que fez dez reuniões com diversos in- Segundo o coordenador-geral do evento, a

Arquivo
18 CIDADE 15 de novembro de 2022

@BaixaCoimbra avança para


segunda fase de candidatura
Objetivo é dinamizar comércio local com apoio da CMC, APBC e Coimbra Mais Futuro.
Inclusão e melhoria na relação entre consumidor e comerciante são pilares do projeto.

- POR BRUNA SANTA -

O
s Bairros Comerciais Digitais chegam a salienta que “quanto mais Coimbra crescer to, conforme consta na página da Secretaria-
Coimbra após a confirmação da elegibi- para o mundo, mais se pode beneficiar com Geral da Economia. Assim, o foco desta linha
lidade da candidatura @BaixaCoimbra essa reciprocidade”. de financiamento são os setores económicos
para a linha de financiamento do Plano de A principal finalidade é proporcionar uma nova e os modelos de negócio de elevada densidade
Recuperação e Resiliência (PRR). A Câmara identidade visual e disponibilizar informações em estabelecimentos comerciais e prestação
Municipal de Coimbra (CMC), a Agência para importantes para a tomada de decisões do con- de serviços. A presidente da APBC conta que se
a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e a sumidor, de modo a facilitar o comércio. Desta pretende englobar a “comunidade e não deixar
associação Coimbra Mais Futuro reúnem-se forma, pretende-se “englobar a comunidade” de parte determinadas áreas porque a socieda-
para recorrer às novas tecnologias. O objetivo e o comércio citadino diversificado e inclusivo, de é um todo”.
é transformar as relações entre os comercian- salienta Assunção Ataíde. Para o futuro, a presi- Não obstante, Assunção Ataíde refere que “o
tes e os consumidores no espaço público. dente da APBC revela a possibilidade de alargar que se pretende é potenciar o comércio local
Esta candidatura constitui uma medida para o núcleo geográfico envolvido, para otimizar a com outras ferramentas, sem matar o contac-
a inclusão de um maior número de comercian- relação entre comerciantes e consumidores. to do olho a olho, que é a vitalidade de uma ci-
tes, cujo acesso a ferramentas digitais é limita- O conceito de Bairro Digital permite moder- dade”. Os locais abrangidos pelas medidas si-
do. Em suma, o objetivo é capacitar os vende- nizar a vivência dos utentes de um determina- tuam-se entre as imediações da Sé Velha e o
dores para formas distintas da loja física, como do espaço urbano contíguo, com o objetivo de Rio Mondego, e também entre a Rua da Sofia e
a digital e a híbrida, para promover negócios promover o seu comércio e a integração digi- o Parque do Mondego.
locais. A presidente da APBC, Assunção Ataíde, tal das cadeias de abastecimento e escoamen-

Open Day do canil promove o


combate ao abandono de animais
Sobrelotação e taxa de abandono são alguns problemas que preocupam vereador da
CMC. Objetivo do projeto é dar visibilidade ao espaço e promover adoções responsáveis.

- POR MARCELLE BROOMAN -

D
evido ao aumento do número de aban- nar melhor qualidade de vida no canil, tenta- nómica, que levam a que continue a haver so-
donos, o Canil Municipal de Coimbra -se incluí-los em projetos. brelotação no canil. Explica ainda que os preços
está a apostar no projeto Open Day. O Uma das iniciativas atuais do canil é o Cão da alimentação e saúde dos animais são tanto
evento, lançado a 27 de março deste ano, em- Combate a Solidão, onde se escolhem animais a causa como a consequência deste problema.
barca na sua oitava edição no mês de novembro. do abrigo para trabalhar em lares de pessoas Construído em 1986, o vereador da CMC ga-
Para quem decide adotar um animal, neste dia, idosas, “fragilizadas pela idade e pela solidão”, rante que o local já não satisfaz as necessidades
há isenção de taxas, tratamento prévio de doen- como explicou o vereador. A seleção feita pela para alocar os animais. Francisco Queirós men-
ças e registro com ‘microchip’. equipa veterinária do canil é baseada no com- ciona que a solução “passa pela construção de
Francisco Queirós, vereador do serviço portamento e personalidade dos cães, de modo um canil novo”, mas que não há previsão para
Médico Veterinário da Câmara Municipal de a definir perfis compatíveis. Outra proposta a o efeito por dificuldades económicas.
Coimbra (CMC), afirma que o resultado da úl- ser implementada é a inserção de animais nas O foco dos trabalhos da CMC para o canil não
tima edição foi positivo. A seu ver, “muitas fa- escolas – com início nas áreas suburbanas. se vai basear só no que diz respeito à adoção.
mílias foram ver a exposição, o que levou ao Mesmo com a criação de novos planos por Francisco Queirós menciona ainda a aprovação
aumento do número de adoções”. De acordo parte do município, a falta de conscientização de um novo projeto em reunião camarária, se-
com o autarca, durante o Open Day muitas fa- dos cidadãos afeta o progresso para prevenir o gundo o qual vai ser possível fornecer serviços
mílias optam por adotar animais mais novos aumento do número de animais de rua. Além veterinários a animais oriundos do canil que
em detrimento daqueles com deficiência ou disso, Francisco Queirós apontou para a falta sejam adotados por famílias carenciadas.
mais velhos. Como não é possível proporcio- de apoios financeiros e para a atual crise eco-
15 de novembro de 2022 CIDADE 19

Por Daniela Fazendeiro

O “fantasma” da inflação assombra Coimbra


Futuro causa apreensão nos conimbricenses. Taxa de variação do índice
de preços do consumidor tem valor mais elevado desde maio de 1992.

- POR DANIELA FAZENDEIRO E LUÍS GONÇALVES -

A
crescente inflação que impacta Portugal com a qual trabalha ainda não ter aumentado (CMC). O autarca explicou que “num contexto
tem-se revelado uma fonte de preocupa- os preços dos produtos. Já para Aida Lopes, a como o presente, quaisquer evoluções negativas
ção para a população das cidades portu- sua clientela ser composta, sobretudo, por es- ou positivas na situação macroeconómica na-
guesas. Os negócios de Coimbra estão dentro tudantes e turistas, ainda não causou uma di- cional repercutem-se no concelho de Coimbra”.
dessa realidade e, nesse sentido, importa perce- minuição na afluência. A taxa de variação do índice de preços do con-
ber como os cidadãos estão a lidar com a subida Ana Paula Simões tem 52 anos e é funcioná- sumidor alcançou os 10,1 por cento, o valor mais
de preços observada no dia a dia. ria num talho no mesmo mercado onde Maria elevado dos últimos 30 anos. Para o vereador,
Bruno Pedrosa, de 35 anos, trabalha como Bento trabalha. A talhante partilhou uma preo- este indicativo é “um fantasma que estava no
coordenador de operações da Praça da cupação comum entre as duas trabalhadoras: armário e que já há muito tempo se pensava que
Restauração do Mercado Municipal D. Pedro V a quebra de vendas. Neste sentido, Ana Paula teria deixado de exercer a sua ameaça”. Miguel
e mostrou-se receoso quanto ao panorama que Simões reitera que “há um tempo [os clien- Fonseca mencionou também um estudo reali-
assola o país. O coordenador caracterizou esta tes] levavam quilos, agora levam só aquilo que zado por especialistas do sono da Eachnight,
operação como “sem precedentes” na cidade precisam, não levam em excesso”. Na mesma no qual consta que Portugal é o terceiro país
coimbrã e salientou o contexto recente e parti- linha, as três comerciantes mostraram-se com maiores níveis de ‘stress’ financeiro para
cular da sua criação – no meio de uma guerra. apreensivas quanto ao futuro, pois, segundo as famílias mais pobres.
Essa é uma das razões para ainda não se ter sen- Maria Bento, “ninguém gosta de comprar as Devido à CMC considerar que o comércio local
tido um impacto tão significativo. Embora ad- coisas mais caras”. pode estar mais exposto do que empresas mul-
mita a dificuldade em manter os preços atuais A inflação obrigou também a que se tivesse tinacionais, estão a ser estudadas medidas que
e a possibilidade de aumentos no futuro, frisou que “poupar em tudo”, como aconteceu com combatam a inflação. Assim, o orçamento fiscal
que este contratempo, até ao momento, não foi Dulce Ramos, de 62 anos e cliente do mercado para o ano de 2023 vai contar com uma redução
transmitido ao cliente. municipal. Contudo, esclareceu que não é a pri- na derrama, de 1,5 para 1,45 por cento sobre os
O orientador acredita que as pessoas tomam meira vez na sua vida que se sentiu forçada a negócios de volume superior a 150 mil euros. No
decisões mais ponderadas numa situação de mudar os seus hábitos de consumo e a abdicar entanto, estas soluções vão ser apenas “comple-
crise como a atual e, por isso, priorizam “outras de certos produtos para adquirir a medicação mentares às do Governo”, explicitou o vereador.
necessidades ao lazer, como as refeições fora das para a diabetes. Por fim, Miguel Fonseca relatou a discussão
suas próprias casas”. No entanto, deixa um apelo Assim como Dulce Ramos, Ana Paula Simões corrente na Associação Nacional de Municípios
à valorização das pequenas e médias empresas, e Maria Bento mencionam passar por proble- Portugueses sobre a necessidade de elaboração
pois “as dificuldades são sentidas por todos”. mas semelhantes nos seus quotidianos fora do de medidas de auxílio às autarquias, por parte
Maria Bento, de 65 anos, vendedora de frutas negócio. Como relatou Maria Bento: “temos de do Governo Central. Enquanto esperam que o
no mercado municipal e Aida Lopes, de 50, pro- viver com o que temos e gerir o dinheiro da me- apelo seja ouvido, declarou que a CMC vai fazer
prietária do Mercadinho da Sé Velha, revelam lhor maneira”. os possíveis para aliviar este cenário ao máxi-
que os seus negócios ainda não sofreram efeitos Uma visão mais minuciosa quanto à crise que mo. Quando questionado sobre a possibilidade
significativos causados pelo aumento de pre- o país atravessa foi apresentada por Miguel deste apelo ser ignorado, o vereador assumiu:
ços. As razões apontadas são distintas. No caso Fonseca, vereador da Economia, Contabilidade “não temos plano B”.
da vendedora deve-se ao facto da fornecedora e Finanças da Câmara Municipal de Coimbra
20 SOLTAS 15 de novembro de 2022

CRÓNICAS DO TRODA
O REGRESSO DOS XOXALISTAS
- POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

C
omo é que é chavalos? Então, estáva-
mos nós tão descansados depois de uma
Latada cheia de oferta cultural e não
é que o trono desta monarquia está à venda
outra vez? Desta vez são três patos que se can-
didataram ao poleiro. Nem tudo é mau, ao que
parece um deles finalmente assumiu-se como Desta vez são três patos
xoxalista perdido a querer liderar a AAC. Será
que é filho bastardo? Custou, demorou um ano que se candidataram
a revelar ao pessoal, mas agora já conseguimos
ver que todas as famílias passam por dificul- ao poleiro
dades mas acabam por se voltar a unir. Sejam
bem-vindos de volta, xoxalistas <3 Mas não o pior que nos podia acontecer, mas afinal há
se preocupem, se quiserem reclamar, agora sempre mais um prego para pôr neste caixão.
podem ir à Magna à borla. Será que também O que vale é que em maio voltamos a ter mais
já se oferecem finos? Ah desculpem... Ao que um festival, cheio de artistas que ninguém
parece, anda para aí um artista a prometer quer ver e com preços exorbitantes! A casa tá
que basta entrar num autocarro dos SMTUC difícil de pagar, mas para a Queima há sem-
e temos um bilhete gratuito para as Magnas. pre dinheiro. O tio Costa já deu 50 paus para
Já alguém avisou o Zé Manel que os "seus" ajudar... Vá portem-se bem e não mijem no
SMTUC falidos ainda vão ter mais esta des- lago, o ecológico já acabou mas há por aí uns
pesa? O que vale é que o Metro está a chegar... gajos que ainda se preocupam com ele... Beijos
Nós a pensar que a Briosa estar na terceira era molhados da vossa Orxestra <3

ÉXTÉGUES DA ISABEL

T á bonito tá. São


quase nove horas e o
trânsito a passo de cara-
C om a chuva de outo-
no a cidade fica cada
vez mais só nossa. Dos
A inda agora chega-
ram e já estão a par-
tir para fim de semana
col na entrada da cidade. que cá vivem, dos que a com suas malas com
visitam com calma e da- rodinhas!
#hávidanestesntuc queles que têm tempo
para a partilhar. #hávidanestesntuc

#hávidanestacidade

cabreando por aí...


15 de novembro de 2022 SOLTAS 21

MULHERES, VIDA,
LIBERDADE
- POR MATILDE MARQUES - SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA AAC -

P
assaram-se 2 meses desde a morte de WhatsApp, e a morte de dezenas de protestan- dade do hijab. A força contra esta revolução
Mahsa Amini após ter estado presa pela tes por forças de segurança apenas por exigirem foi sentida com muita força, com prisões em
polícia da moralidade do Irão por, ale- direitos humanos básicos, ao mesmo tempo que massa e execuções. Em 1999, estudantes reali-
gadamente violar as regras de uso do hijab ao mais de 32 jornalistas já foram detidos. zaram durante várias demonstrações contra a
ter deixado alguns fios de cabelo visíveis fora A luta contra a obrigatoriedade do hijab, no República Islâmica instaurada.
do seu lenço de cabeça. No entanto, o trabalho entanto, já é uma luta longa. A submissão das mulheres aos poderes dos
para o ser feita justiça pela morte da mulher A consagração da República Islâmica após o regimes opressores é histórica e só podemos
iraniana não parou. fim da monarquia tinha como papel preponde- pará-la reivindicando e dando voz a quem não
Desde a sua morte a 16 de setembro, ocorre- rante a mulher e o seu papel na sociedade. Os consegue ter a sua. A luta é e sempre será pelo
ram demonstrações e protestos em mais de 80 líderes desta república utilizavam a mulher e direito de escolha, pelos direitos humanos bá-
cidades. Hoje, passadas 8 semanas, continuam os seus direitos para contrastar uma mudança sicos e transversais. Uma sociedade só será evo-
os protestos: mulheres a cortar os seus cabelos contra o liberalismo ocidental. Embora muitas luída quando atingirmos isso, e a luta só acabará
e a queimar os seus hijabs, assim como demons- mulheres tivessem apoiado a revolução irania- quando mais nenhuma de nós seja refém do ma-
trações de apoio por parte de estudantes. Estas na (por razões religiosas, políticas ou económi- chismo e do patriarcado. Quantas mais de nós
são algumas das formas que o povo iranianoes- cas) muitas viram os seus direitos serem-lhes têm de morrer por causa de um lenço de cabelo?
tá a usar para se tentar fazer ouvir contra o rígi- retirados numa questão de dias: foram encora-
do código de vestimenta da República e aqueles jadas a criar famílias numerosas e se focar em
que o aplicam. No entanto, esta revolução não apenas trabalho doméstico, levando ao fecho de
foi feita sem uma reação por parte do governo centros de mulheres, infantários e abolição de
da República Islâmica. A resposta por parte do iniciativas de planeamento familiar. Menos de
Governo iraniano foi feita através do bloqueio um mês depois do instauro da república ocor-
das duas redes sociais restantes, Instagram e reu o primeiro protesto contra a obrigatorie-

OBITUÁRIO
- POR CABRA COVEIRA -

Cabritando por aí MAM/AQUI

A i Guiguinho! O que andaste a fazer por


aqui… O tacho não te chegou? Precisavas
também da carrinha, não é? Espero que tenhas
O h chefes! Gostam de frango? Kentucky’s
Fado chicken bate bué. Mas agora muito a
sério, ir com fino para uma entrevista é bom,
dado um beijinho de pedido de desculpas aos ir com whisky e um cigarro é de lord. Grande
putos do basquetebol. Mas calma que, tu poden- academista que me saíste. Gosto.
do, resolves tudo com grades no bar de Direito. Mas vamos fazer isto curto e grosso, como o
Mas alto lá, que conseguiste um feito: que a povo gosta. De letras ou não, ainda és melhor a
Académica era uma nódoa em campo já toda a contar votos do que o teu antecessor. De degrau
gente sabia, mas evitar vergonhas ao não deixá- em degrau, toma a bastilha o galo. Sem brinco e
-los sequer chegar lá, isso é de génio. Resta uma sem tacho, estás a ficar depenado. Os galos can-
pergunta: Limites de velocidade, cumpren- tam o fado? Voa, meu fofo, com toda a cagança
-se? 120 km/h em localidades? Parece pouco. e toda a pujança. FRA!
És lindo, vamos sentir a tua falta, Cabrita
Académico . Não leves o autocarro!
22 ARTES FEITAS 15 de novembro de 2022

CINEMA
Trás-os-montes como objeto artístico
- POR BRUNO OLIVEIRA -

U
m dos marcos do novo cinema portu- habitantes, as preocupações do quotidiano, o “Alma Viva” de Cristèle Alves Meira cruza o luto
guês é o filme “Trás-os-montes” de 1976. fascínio ingénuo das crianças por brincadeiras com a perspetiva de Alma (Lua Michel) numa
Dirigido por António Reis e Margarida simples e a angústia das mulheres que viram narrativa que encontra suporte no desconheci-
Cordeiro, é ele também um marco na docufic- os maridos partir – o objeto artístico forma-se. do e no medo. Num jogo constante entre o terre-
ção portuguesa. O filme acima de tudo vale por O cinema português (e a arte portuguesa de no e o espiritual, o preconceito e a superstição.
ser uma peça com valor etnográfico. Esse olhar forma geral) nunca esqueceram a região, com O medo como traço de personalidade de um país
sobre a gentes da terra fria mostra-nos um sítio excelentes exemplos como “Restos do vento” e que ainda vive. Medo que surge neste retrato de
que apesar de geograficamente não ser uma ilha “Herdade”, de Tiago Guedes. trás-os-montes como intrínseco num Portugal
parece viver num ritmo próprio. Impermeável 2022 ofereceu-nos mais uma peça que coloca que resiste no nordeste transmontano. Um re-
ao passar do tempo. Entre os olhares dos seus trás-os-montes como personagem principal. trato simples em vários aspetos, mas perspicaz.

"DEMOCRATIA DRAMATICAE
- PELO CONSELHO DE VETERANOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - MAGNUM CONSILIUM VETERANORUM -

A
Academia vive por estes dias mais um Perto da data da eleição, um Brioso influente cada um de nós o dever cívico e académico de
momento de escrutínio democráti- recebeu um telegrama com a notícia do fale- pugnar por um processo eleitoral limpo e hon-
co, não fizéssemos nós jus ao título de cimento da sua mãe. Sem telefones ainda em rado e apelar aos nossos colegas para que façam
Academia mais votável do País. existência, e com as distâncias na escala dos o voto de forma consciente e responsável."
Constituem já umas quasi-tradições os vários dias, este teve que ausentar-se para a sua terra Sem mais de momento,
fenómenos de chicana eleitoral que se perpe- natal para ir tratar dos assuntos funéreos. Deu-
tuam pelas gerações e programas políticos. se o acaso de, no caminho para a sua cidade, P'lo Magnum Consilium Veteranorum - Conselho
Nos tempos do Clube Dramático do séc. XIX, cruzar-se com um colega conterrâneo, ao qual de Veteranos da Universidade de Coimbra
precursor da nossa Associação Académica, as ficou a saber que a mãe também tinha padecido
eleições eram vividas não com menos entu- de mal superior. Mas sucede-se que ao chegar a
siasmo ou criatividade. A sociedade estudan- casa, para grande espanto seu, depara-se com
til dividia-se em duas facções: Os Polainudos, a sua progenitora fresca e de boa saúde!
da alta classe, de charutos, luva e polaina e a Tudo não passava de uma grande farsa para
restante 'plebe', os Briosos. Eram frequentes desviar o seu voto e a sua influência do dia das
as confrontações não só através do voto, mas eleições! Soube-se mais tarde, que foram cente-
também da chacota e do murro. Os Cafés ha- nas os telegramas, que invariavelmente culmi-
bituais viravam sedes de campanha e na rua a naram com a vitória da lista oposta à desejada!
batalha era regida pelos vários líderes de opi- Hoje em dia, já não há telegramas malan-
nião que argumentavam, e esmurravam-se dros, mas ainda se extravia uma urna de vez
efusivamente, pelo voto dos restantes. em quando, ou forjam-se uns Grelos...! Cabe a ESPAÇO PATROCINADO PELO MCV
15 de novembro de 2022 ARTES FEITAS 23

DO JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA A CABRA E DO PORTAL INFORMATIVO ACABRA.PT

De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de


Imprensa, qualquer publicação deve divulgar,
anualmente, o seu estatuto editorial.
4 ACABRA e ACABRA.PT praticam um jorna-
lismo que se quer universitário no sentido
amplo do termo – desprovido de preconceitos,
são responsáveis; contudo, as decisões edito-
riais d’ ACABRA e d’ ACABRA.NET não estão
subordinadas aos interesses ou a qualquer posi-
criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente. ção da Secção de Jornalismo, nem aquele facto

1 ACABRA e ACABRA.PT são dois órgãos de


comunicação social académicos cujo objeti-
vo é constituírem-se – numa simbiose capaz de 5 ACABRA e ACABRA.PT praticam um jorna-
lismo de qualidade, que foge ao sensaciona-
interfere com a relação sempre honesta e trans-
parente que ACABRA e ACABRA.NET se obri-
gam a ter perante os seus leitores.
aproveitar o formato e estilo diferente que cada lismo e reconhece como limite a fronteira da
um possui – enquanto Jornal Universitário de
Coimbra.
vida privada.
8 A CABRA é um jornal quinzenal, cuja pe-
riodicidade acompanha os períodos de ati-

2 ACABRA e ACABRA.PT têm como público- 6 ACABRA e ACABRA.PT são na sua essência
constituídos por um conteúdo informativo,
vidade letiva.

-alvo a Academia de Coimbra e é sob este


princípio que devem guiar as decisões editoriais.
mas possuem espaço e abertura para conteúdos
não informativos, que se pautem por critérios
de qualidade e criatividade.
9 ACABRA.PT é um site informativo, de atua-
lização diária, cuja atividade acompanha os
períodos de atividade letiva.

3 ACABRA e ACABRA.PT orientam o seu con-


teúdo por critérios de rigor, criatividade e
independência política, económica, ideológica 7 ACABRA e ACABRA.PT integram-se
na Secção de Jornalismo da Associação
ou de qualquer outra espécie. Académica de Coimbra, perante cuja Direção

Princípios e normas de conduta


A isenção, imparcialidade e integrida- tidas através de conversas informais ou outras si- ou interesses antagónicos, evitando que o Jornal
de que devem marcar o trabalho no Jornal tuações em que o jornalista não se identifica como Universitário de Coimbra se torne meio de comu-
Universitário de Coimbra implicam por parte tal e como estando em exercício de atividade. nicação de qualquer instituição, grupo ou pessoa.
dos seus jornalistas o conhecimento e aceitação Num meio em que o desenrolar de acontecimen-
de regras de conduta. Assim, o jornalista deve: 4. Abdicar de se envolver em atividades ou to- tos pode afetar, direta ou indiretamente, o Jornal
madas de posição públicas que comprometam Universitário de Coimbra, o jornalista tem tam-
1. Recusar cargos e funções incompatíveis com a imagem de isenção e independência do Jornal bém que saber manter o distanciamento necessá-
a sua atividade de jornalista. Neste grupo in- Universitário de Coimbra. Contudo, o Jornal rio para a produção de uma informação rigorosa.
cluem-se ligações à Direção-Geral da Associação Universitário de Coimbra reconhece o direito
Académica de Coimbra, à Queima das Fitas, ao inalienável do jornalista universitário a assu- 6. Garantir a originalidade do seu trabalho. O plá-
poder autárquico, bem como a atividade em mir-se como cidadão. Assim, nunca um jorna- gio é proibido. Nestes casos, a Direção do Jornal
gabinetes de imprensa, na área da publicida- lista do Jornal Universitário de Coimbra será Universitário de Coimbra deverá agir disciplinar-
de e das relações públicas. Deste grupo estão impedido de se manifestar em Reunião Geral de mente e o jornal deverá retratar-se publicamente.
excluídos, por respeito para com o direito do Alunos ou Assembleia Magna, desde que não es-
estudante de Coimbra de participar na gestão teja nessa altura em exercício da sua atividade 7. Recusar qualquer tipo de gratificação exter-
da Universidade de Coimbra, os cargos em ór- jornalística, em cujo caso deverá prescindir do na pela realização de um trabalho jornalístico.
gãos de gestão das faculdades e da universida- seu direito de expressão e voto. De igual forma, Estão excluídos deste grupo livros, cd’s, bilhe-
de. Cabe à Direção do Jornal Universitário de nunca será impedido de participar ativamente tes para cinema, espetáculos ou outros eventos,
Coimbra decidir quais os casos em que a ativi- em qualquer atividade pública. Cabe à Direção bem como qualquer outro material que venha a
dade jornalística se encontra prejudicada por do Jornal Universitário de Coimbra decidir ser alvo de tratamento crítico ou jornalístico;
outras atividades e agir em conformidade. quais os casos em que a atividade jornalística constituem também exceção convites de enti-
se encontra prejudicada por outras atividades dades para eventos que tenham um inegável
2. Abdicar do uso de informações obtidas sob a e agir em conformidade. interesse jornalístico (por exemplo, convites
identificação de “jornalista do Jornal Universitário da Direção-Geral da Associação Académica de
de Coimbra” (ou similares) em trabalhos que não 5. Ter consciência do valor da informação e das Coimbra para cobertura do Fórum AAC). Cabe
sejam realizados no âmbito do Jornal Universitário suas eventuais consequências, particularmente à Direção do Jornal Universitário de Coimbra
de Coimbra. Além disso, o jornalista compromete- no meio académico de Coimbra, no qual o Jornal resolver qualquer questão ambígua.
-se ao sigilo das informações obtidas desta forma. Universitário de Coimbra é produzido e para o
Exceções a esta norma poderão ser autorizadas qual produz. Neste contexto particularmente 8. Qualquer derespeiro em relação aos pontos
pela Direção do Jornal Universitário de Coimbra. sensível, o jornalista deve ter especial atenção à acima vigentes implicará uma queixa por parte
proveniência da informação e à eventual parcia- da Direção do Jornal Universitário de Coimbra
3. Recorrer apenas a meios legais para a obtenção lidade ou interesses da fonte (não descurando o e do seu Conselho de Redação às entidades com-
da informação, sendo norma a identificação como imprescindível processo de cruzamento de fon- petentes, nomeadamente o Conselho Fiscal da
jornalista do Jornal Universitário de Coimbra. De tes), bem como garantir uma igualdade de repre- Associação Académica de Coimbra, ou à forma-
forma alguma podem ser usadas informações ob- sentação em caso de informações contraditórias lização de procedimentos legais.
Mais informação disponível em

Editorial
Deixem a Sátira em Paz
- POR JOANA CARVALHO -

A
época eleitoral é sempre um momento manas, nem tão pouco as propostas que apresen-
tumultuoso na Academia. Muitas reu- tam. Estes projetos trazem ao de cima, por entre
niões, manifestos, conversas de café risos, os problemas fundamentais não só do
marcam a semana de campanha, enquanto o Ensino Superior, como também, neste contex-
“trono real” se encontra à espera do seu su- to em específico, os problemas estruturais que
cessor. Pelo menos, o cargo de presidente de assolam a nossa casa, e que parecem persistir. Não me considero uma
dois dos órgãos centrais mais importantes da Não é que as listas de sátira representem uma
Associação Académica de Coimbra parece ter falta de seriedade para com os assuntos que in- pessoa necessariamente
sido encarado assim por muitos. teressam aos estudantes. Precisamente por
Este ano prova não ser diferente, sobretudo serem ridículas e de paródia é que é possível fatalista, mas faço parte
agora que vemos o regresso de uma tradição, ver o quanto estes assuntos não estão a ser le-
que parece estar por muitos esquecida: as listas vados a sério. desta casa há tempo
satíricas. A lista P – Parem de Empatar traz de Não me considero uma pessoa necessariamen-
volta à memória a candidatura de Bruno Briosa, te fatalista, mas faço parte desta casa há tempo suficiente para perceber
um canídeo que por aqui passou em 1997 e quis suficiente para perceber que velhos hábitos são
deixar a sua marca. difíceis de mudar. No entanto, não me considero que velhos hábitos são
O mais importante destas listas não é o facto acima de uma boa gargalhada acerca dos vícios
de terem como cara principal criaturas não hu- de uma instituição que a muitos diz tanto. difíceis de mudar.

Ficha técnica
O inquérito publicado nesta edição foi realizado da UC, de forma aleatória, de entre todas as fa- unidade orgânica. A responsabilidade desta
no dia 10 de novembro, entre as 9 e as 18 horas. culdades. A distribuição das amostras foi feita sondagem é do Jornal Universitário de Coimbra
Mil estudantes foram questionados, correspon- com base em dados numéricos cedidos pela UC, – A CABRA e do departamento de informação
dente a cerca de 3,5 por cento dos estudantes tendo em conta quantos estudantes tem cada da RUC.

FICHA TÉCNICA Diretora Joana Carvalho Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês
Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro,
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel,
Depósito Legal nº478319/20 (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva
Registo ICS nº116759 Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves
Propriedade Associação Académica de Coimbra & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Fotografia Hugo Marques, Daniela Fazendeiro, Andreina
Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Gabriela Moore & De Freitas, Mariana Neves, Benny Correia, Joana Carvalho
Morada Secção de Jornalismo Sofia Ramos (Fotografia)
Rua Padre António Vieira, 1 Paginação Ricardo Sacadura, Mariana Tavares da Silva
300-315 Coimbra Colaborou nesta edição Mateus Araújo, Marcelle
Brooman, Ana Cardoso, Frederico Cardoso, Benny Correia, Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.
Daniela Fazendeiro, Andreina de Freitas, Luís Gonçalves, Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt
Letícia Lopes, Hugo Marques, Sam Martins, Sofia Moreira,
Mariana Neves, Bruna Passas, Maria Inês Pinela, Alice Produção Secção de Jornalismo da Associação
Rodrigues, Luísa Rodrigues, Bruna Santa Académica de Coimbra

Tiragem 2000

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