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OK (4p) PSICOLOGIA FORENSE E CRlMINAL - Psicologia-do-Crime-Odon-Ramos-Maranhão (Resumo)
OK (4p) PSICOLOGIA FORENSE E CRlMINAL - Psicologia-do-Crime-Odon-Ramos-Maranhão (Resumo)
A CLASSIFICAÇÃO “ETIOLÓGICA”
Várias classificações foram encetadas de acordo com diversas teorias do
crime, o que provocava uma postura apriorística do pesquisador chegando a
conclusões diferentes dependendo da teoria adotada.
Veiga de Carvalho apresenta uma classificação pretensamente
desvinculada de uma “teoria do crime” é a classificação etiológica que
considera a criminalidade natural comparativamente ao comportamento
socialmente ajustado. O ponto de partida é o seguinte: quando se dá a
produção de uma ato criminoso, o agente responde a estímulos que procedem
de seu meio interno (biologia) ou do ambiente circundante (mesológico). O
processo de integração psíquica atenderá a um dinamismo do tipo descrito por
Abrahamsen:
(Que apregoa que as solicitações externas ou internas terão de
vencer os meios contensores – resistências – para chegar a levar
alguém à prática criminosa. Estabelece que a vontade do agente é
o elemento central no processo decisório).
Assim, a classificação fundamenta-se no elemento preciso que é saber se
as forças que venceram a contenção do agente criminal procederam do seu
meio interno ou externo. Um desequilíbrio de forças em determinado momento,
seja do meio interno (biológicas- condição de ser) seja do ambiente social
(mesológicas). Daí surgem dois grupos puros que se subdividem:
1
Fatores do ato criminoso:
FIC – fatores individuais corporais
+ atuando diante do FM (fatores men tais) = ato
criminoso ou ato ajustável
FGS – fatores gerais sociais
Obs: A personalidade global num dado momento será levada a executar certa
ação ou freará os impulsos.
Obs: Considerar também que diante de inimputabilidade não se cogitará de
punição ao agente.
Trata-se de teoria objetiva que não aborda a natureza e complexidade da
motivação humana em termos de “fatores causais” e, de outra parte, as
“teorias criminogenéticas”, mas sob a ótica do ato, em síntese, significa que
qualquer ato implica uma personalidade, com suas disposições e seus
meios contensores a par de fator ou fatores precipitantes ou
desencadeantes.
Cada pessoa adquire, pela integração desses elementos uma
configuração própria e unitária, uma fisionomia própria chamada de
personalidade. Toda esta estruturação desses fatores são considerados
PRIMÁRIOS (constituição biopsíquica e o process histórico).
De outra parte, os fatores que agem sobre uma estrutura pronta e
acabada pode ser considerado como SECUNDÁRIOS (fatores que
desencadeiam uma ação).
Em termos dinâmicos, a categoria (biológica, psicológica ou social) a que
pertençam, nem se procedem do meio interno ou do ambiente exterior, é mais
importante saber se interferiram na formação da personalidade do agente ou
no desencadeamento da ação.
- Uma pessoa bem formada e bem constituída poderá ter rompido o seu
equilíbrio e praticar um crime, por reação – crime eventual (agente
personalidade normal em conduta psicologicamente atípica)
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- Uma pessoa com defeito da personalidade, por má constituição ou por má
formação e o ato criminoso chega a ser uma expressão do caráter
(personalidades psicopáticas e personalidades delinquentes). Agente com
personalidade anormal em conduta psicologicamente típica).
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mesmo valor que os demais, guarda nexo causas com a perturbação
referida, seja esta de natureza permanente ou transitória.
3º DELITO PRIMÁRIO OU ESSENCIAL ou CARACTEROLÓGICO–
personalidade portadora de defeito. Manifestação fundamental do delito
pessoal, agente portador de defeito de caráter. Com mínimo ou nulo fator
desencadeante.
Distinções relevantes:
Personalidade normal – indivíduo comum que, apesar de problemas,
traumas e conflitos apresenta-se como ajustado até o tempo da pratica
antissocial de certo modo imprevista e inesperada.
Personalidade mórbida – quando apresenta perturbações psíquicas de
qualquer natureza, importando sua existência ao tempo da ação delituosa.
Personalidade defeituosa – quando, apesar da preservação das funções
psíquicas superiores, está comprometida a capacidade de julgamento, levando
o agente a uma atitude antissocial ou parassocial. Candidato à reincidência na
prática delituosa, dependente direto da estrutura do referido “defeito”.
DELINQUÊNCIA OCASIONAL
Não é simples a estrutura conceitual da delinquência ocasional é dissenso
doutrinário, pois cada um emprega conteúdo com aspectos diversos. Em que
pese as discussões históricas:
a) A ocasião faz o ladrão (Garofalo);
b) Ocasionais são ligeiramente dispostos à delinquência (Carrara);
c) Não é revelado pela ocasião, mas produzido por ela – qualquer um pode
ser levado excepcionalmente ao delito (Ottolenghi);
d) Sem apresentar tendência inata para o delito o cometem sob a influência
de tentações causadas por fatores pessoais ou do ambiente exterior
(Ferri)
e) Etc.
Dessas, a classificação natural optou pela mais clara:
Delito praticado por agente até então socialmente ajustado (“normal”),
obediente à lei e só chegou à ação delituosa respondendo a uma forte
solicitação externa. Logo:
- sem história de vida registrada por eventos psicopatológicos ou disgênicos;
- exame mental dentro da normalidade
- provas psicológicas indicam harmonia, controle de impulsos, e
adaptabilidade;
- a observação social indicará ajuste dos valores socioculturais ao meio no
passado e no presente.
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OBS: muitas subdivisões podem ser lembradas enquadrando os:
delitos por equívoco (são os delitos culposos – o ego está com
atenção fixa em coisa distinta da ocupação real que o indivíduo
compreende e, no caso, qualquer tendência criminal inconsciente
chega a desbordá-lo);
delitos de situação (ocasionais) onde estas ações são executadas
em circunstâncias em que o choque afetivo provoca uma reação
criminal. Preferencialmente de causas exógenas. Subdividem-se em:
1) Ocasional puro – delitos de levíssima gravidade por causas e
circunstâncias completamente acidentais;
2) Por situações ambientais desfavoráveis, hábitos prejudiciais, más
companhias, sugestões imorais;
3) Por estados emocionais e passionais.
Importante aqui que fique constatada uma ruptura lacunar no
funcionamento de seus meios contensores de impulsos, que
sucumbiram frente a desproporcional solicitação fortuita.
Ao mesmo tempo os ocasionais NÃO APRESENTAM:
1) Sintomas de desvios ou de perturbações psíquicas - Quando há sofrimento
(neurótico) este deve ser insuficiente para produzir um desajuste social
grave;
2) Desobediência à lei – com infrações evidentes. Se cometer alguma falha
será insignificante, tolerada pela sociedade, não dando lugar a um processo
criminal;
3) Revolta imotivada aos usos e valores – em que pese sempre existirem
limites socialmente aceitos. Portanto, não são revoltados.
VER- Laudo de delinquência ocasional/eventual:
Sujeito diz-se epilético que ingeriu bebida alcoólica, 21 anos, e disparou
com arma de fogo matando 1 e ferindo outros.
Entendido plenamente imputável penalmente (neurótico imaturo e
inseguro, sujeito a condutas reativas (página 42-48 do livro).
DELINQUÊNCIA SINTOMÁTICA
Agente portador de anomalia da personalidade com prática vinculada a essa
perturbação, por isso, “delito sintomático”.
Obs: é preciso que o delito seja consequência do conjunto mórbido ou tenha
sido resultante do psicodinamismo patológico – precisa desse nexo causal. Ou
seja, se o delito não estiver associado à anomalia não será enquadrado como
ato sintomático.
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Porot e Kammerer subclassificam:
1) Delinquência frenastênica (oligofrenias) – uma insuficiência global
com diagnóstico pluridimensional (escolar, clínico, psicométrico, social,
etc) de origem em diversas causas, por ex: disgenias, defeitos do
desenvolvimento, distúrbios do metabolismo hereditariedade dominante,
etc. ou seja, um agente que está abaixo da média dos seus pares e tem
dificuldades adaptativas, essencialmente sem presença de tóxicos, sendo
pessoa altamente sugestionável por indução ao crime.
Ex: na forma leve se inclinam ao roubo, atentados ao pudor, falsas
denúncias. Em grau médio homicidas agressão à autoridade, atos de
bestialidades, uso de tóxicos e atentados ao pudor mais graves e
violências sexuais. Nas formas mais graves são irritáveis, praticam atos
monstruosos como parricídios ou tornarem-se incendiários. (obs: graus
avançados comprometem a capacidade de imputação).
DELINQUÊNCIA NEURÓTICA
A doutrina circunda entre delinquência por neurose (sintoma de neurose)
ou desvios de caráter (neurose de caráter) e outros negam a participação da
neurose na gênese do comportamento criminal.
O autor considera a mesma coisa delinquência por neurose ou desvio de
caráter por neurose – é uma integração defeituosa de valores resultado de
comportamento cronicamente antissocial (personalidade dissocial) aproxima-se
mais dos psicopatas verdadeiros do que dos socialmente ajustados.
Neuróticos são portadores de fortes processos inibitórios, sujeitos, portanto, a
mais conflitos internos do que a conflitos externos. A delinquência neurótica (é
delinquência sintomática) é consequência do próprio distúrbio da neurose.
As neuroses são positivamente síndromes clínicas definidas e negativamente
pela ausência de claras alterações orgânicas, demência, ou alterações
primitivas do caráter ou transtornos substanciais e permanentes da
experiência externa afetiva (Hurwitz, conceito baseado em Sturup).
Apesar de intimamente ligadas à vida psíquica do paciente, não lhe alteram a
personalidade como as psicoses e, consequentemente, acompanha uma
consciência penosa e frequentemente excessiva do estado de morbidez
próprio.
Apresentam vários sintomas precisos que se associam de diferentes formas,
apresentando infinitas variações. Têm como elementos comuns:
a) Uma perturbação afetiva, mais ou menos consciente, que se expressa
por uma hiperemotividade parasita no sujeito (angústia e emoções
derivadas);
b) Um comportamento de inadaptação à realidade e ao meio social, por
impossibilidade de desviar o interesse de si mesmo e usar a atividade
para objetivos da vida prática;
c) Uma sensação de insuficiência afetiva e sexual (em sentido amplo), por
incapacidade de sobrepujar os conflitos da vida moral íntima;
d) Uma insatisfação vital que se traduz por:
d.1 – desordens neurovegetativas, na neurose de angústia;
d.2 – fuga dos objetos simbolicamente relacionados aos conflitos, nas
neuroses fóbicas;
d.3 – atos mágicos de solução do conflito, nas neuroses obsessivas;
d.4 – conversão da tensão emocional em expressões corpóreas, nas
neuroses histéricas.
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São perturbações subjetivamente passíveis de percepção, mas não suficientes
para provocar importantes alterações do comportamento exterior e se assim
mantidas internas não chegam a ser apreciáveis nos fatores delinquenciais.
Embora apreciável o número de neuroses que não levam à prática da
delinquência, podemos concluir:
a) Neurose conflitiva, com permanência em nível intrapsíquico, não levando
a ato antissocial; e;
b) Neurose conflitiva com tendência à passagem ao ato (do tipo acting-out),
com 2 possibilidades:
b.1 – acting-out do tipo de conduta psicopática – neurose pré-edipiana,
que dá origem ao delinquente essencial (preferível incluir esta entre
os distúrbios de caráter);
b.2 – acting-out especificamente ligado a determinado complexo ou
conflito – neurose edipiana – predominantemente inconsciente, em que a
conduta criminal pode ser interpretada como ação simbólica.
Claramente é uma delinquência sintomática e estes sintomas são tentativas de
solução para conflitos internos. Apreciável número de neuróticos é
representado por pessoas válidas e socialmente úteis e os sintomas fazem
parte do processo adaptativo normal. Tanto é assim que a ansiedade, a
angústia, a insônia, a queda de produtividade, a insatisfação sexual, a
desadaptação, a reação psicossomática, a depressão, etc. se apreciadas de
forma isolada integram as experiências humanas universais, entretanto,
quando associadas e persistentes desborda os limites do equilíbrio emocional,
encontra o quadro neutótico, neurose ou estado neurótico.
Neurose é uma falha no controle de dada situação em que a pessoa deixa de
ser capaz de obter gratificação socialmente aceitável para as suas
necessidades subjetivas (Alexander & French).
Essa falha pode desencadear um processo de consequências e manifestações
são polimorfas. Veja o modelo proposto por Alexander:
1) Fator precipitante > 2) Falha na solução dos problemas atuais > 3)
Regressão > 4) Revivência do conflito primário pela regressão > 5) Medidas
autopunitivas > 6) Conflito secundário, com empobrecimento do EU (EGO).
Fator precipitante – é uma situação atual, geradora do conflito, do que
resulta sentimento de culpa. Esse conflito torna a pessoa incapaz de manipular
adequadamente suas dificuldades e lhe comunica uma sensação de impotência
para enfrentar as questões presentes produzindo a falha na solução dos
problemas atuais – fenômeno que se torna agudo e sua intensidade só pode
ser compreendida com base nas suas experiências antigas (com seus
genitores) – ocorre daí a revivência do conflito edipiano, pois há uma
regressão às fases precoces do processo psicoevolutivo. Dessa maneira, o
conflito primário ressurge em forma de fantasias, de sorte que as
sensações culposas se avolumam. Daí surgirem medidas autopunitivas
variadas que consequentemente geram um conflito secundário, alimentam a
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incapacidade de resolver a situação atual e a regressão, criando-se um círculo
vicioso:
Fatores precipitantes e regressivos > sentimento de culpa > medidas
autopunitivas.
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a) Apresentam conflitos, mais frequentemente inconscientes;
b) Assumem atitudes emocionais irracionais;
c) As ações tem significado simbólico;
d) Apresentam, no desenvolvimento psicossexual, fixações precoces;**
e) São extremamente narcísicos;
f) São desconfiados (apesar da necessidade básica de confiar);
g) Todos apresentam sentimento de culpa;
h) Precisam de um ou mais eventos para desencadear a sintomatologia,
mas são de natureza psicológica interna.
** na neurose simples (sem delinquência) tem origem no conflito edipiano e o
caráter neurótico delinquente (delinquência essencial ou neurose de caráter) é
anterior, tem conflito pré-edipiano.
Obs: a frequência da delinquência neurótica é variável, dependendo da
diversidade de conceitos que interferem nos dados, variando de 35 a 2%. O
autor encontrou tais percentagens em 300 perícias:
Esquizofrenias – 18%;
Distúrbios de caráter – 16,3% (incluída aqui as personalidades delinquentes por
considerar o autor entidade autônoma);
Personalidades psicopáticas – 15,6%;
Debilidade mental – 13%;
Epilepsias – 7,6%;
Alcoolismo – 6%;
Lesões cerebrais – 3.3%;
Neuroses – 2%
Outros – 18,2%
3 Laudos: pg 70-76
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Para alguns, o ambiente deficitário vivido incorporam maus valores ou,
reagindo a um abandono, tornam-se adversas à estrutura social, uma
inconveniente estrutura cultural que não os oportunizou melhor formação.
Para outros, mostram-se incapazes de aprender pela experiência, integrar
grupos e efetivar um plano de vida, neste caso, não são mal formados, mas
sim mal constituídos.
Assim, possível subclassificar:
a) Delinquência caracterológica por má constituição – portadora de defeito
do caráter (antissociais) aqui personalidade psicopática.
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Para fins didáticos, a associação dos critérios referidos, provas psicológicas e
um traçado eletroencefalográfico (contando com a presença de ondas lentas) é
suficiente. Deve-se reiterar aqui a observação que a personalidade antissocial
se inclui entre os de natureza psiquiátrica, já que se trata de forma especial de
distúrbio da personalidade, como consta da C.I.D. e do D.M.S..
Ver dois laudos pgs 90-98.
Detalhamento:
1-Persistência do princípio do prazer – não chegando ao adequado
conhecimento da realidade exterior e conservando características de profunda
imaturidade emocional, o delinquente guia-se exclusivamente pelo “princípio
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do prazer”. O “sentido de realidade” ou o “princípio do dever” que orienta a
pessoa adulta ajustada está ausente na dinâmica dessa personalidade
malformada.
2-Exacerbação do narcisismo primário – É normal nos primórdios da
formação da personalidade e leva a criança a se considerar o centro do
universo, voltando a si mesma toda afetividade, faz com que o delinquente
também ame a si mesmo, primordial e exageradamente.
3-Dificuldade nas identificações construtivas – É a resultante mais
imediata e direta do narcisismo do delinquente. Amando a si mesmo acima de
tudo o mais, não se identifica com ninguém, exceto que lhe seja
absolutamente igual. Por isso o delinquente primário é capaz de formar gangs,
onde a lealdade se baseia na única identificação que lhe é possível
desenvolver.
4-Insatisfação emocional – é o sentimento central do processo dinâmico.
Devido à falta de identificações estas personalidades estão sempre
necessitando fazer algo para obter tranquilização interna e, assim, buscam em
práticas inopinadas e intempestivas uma satisfação que os valores materiais
efetivamente não oferecem.
5-Defeituosa integração do superego – Não se apropriando dos valores de
sua cultura, o delinquente essencial só compreende os valores que lhe causam
satisfação imediata e se associa a outros, com igual formação (ou deformação).
Esse superego mal estruturado é ao mesmo tempo muito exigente e de
extrema complacência. Daí ficar fácil a compreensão tanto dos aparentes
períodos de acalmia, como de reincidência específica na prática criminal. O
produto final desse dinamismo é o defeito formativo da personalidade e uma
cronicidade em ações antissociais.
A insatisfação emocional e a defeituosa integração do superego podem ser
considerados processo secundários, enquanto a persistência do princípio do
prazer, a exacerbação do narcisismo primário e a dificuldade nas identificações
são processos primários.
Por outro lado, muitos autores não aceitam essas concepções, pois
partem do narcisismo primário que contestam. Por ex: Bowlby que considera
como fator primário a privação emocional por abandono nos dois primeiros
anos de vida, o que ocasionaria comprometimento no desenvolvimento físico e
emocional, podendo voltar-se contra a sociedade.
Uma das mais claras exposições sobre formação do caráter dissocial se deve a
Mucchielli no seguinte esquema:
I- Alguns fenômenos se apresentam como sequenciais e com aparente
nexo causal:
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a) Ociosidade dissocial – ociosidade primária não construtiva, ou
seja, o ócio pelo ócio, a recusa ao trabalho, desinteresse pelo
estudo, a incapacidade para atividades construtivas, etc.
b) Parasitismo – fruto da ociosidade dissocial, não construindo nada,
não tem o que desfrutar senão às custas da sociedade,
configurando um parasitismo crônico, habitual.
c) Rejeição à sociedade – decorrência do desencontro dos valores
sociais que passam a rejeitar e serem rejeitados, ocorrendo procura
por seus iguais dissociais, formando grupos ou gangs cuja postura
diante da sociedade é marcadamente autocrática.
d) Falta de horizonte temporal – as condições mencionadas levam
essas pessoas a viver somente o momento presente, perdem a
visão de futuro, não tem expectativas profissionais, econômicas,
retributivas, etc., evidentemente tudo vinculado a uma profunda
insatisfação emocional inconsciente.
e) Ressentimento dissocial – a pessoa tem consciência de ser um
parassocial pelas diferenças culturais e se percebe em prejuízo,
sentindo-se com direito de desfrutar do que são incapazes de
construir. Cai o sentimento de justiça social e aumenta o
sentimento de justiça individual, se relacionando em termos
afetivos com quem adote o mesmo código de valores, daí os
“valores do grupo”.
f) Negação do eu-social – já no relacionamento com a figura
materna, nos primórdios do processo formativo, ao lado do “eu
individual” vai se formando um sentido de relação com os outros
(Eu-social). Isso não ocorre com o dissocial. A carência emocional
precoce impede a formação de uma “consciência social” daí a
rejeição da sociedade geral, dos seus valores, de seus usos, de
seus códigos, o dissocial volta-se integralmente para o “seu
grupo”.
Portanto, essa sequência anterior pode levar ao comportamento
delitivo.
II- Mucchielli oferece outra explicação psicodinâmica: essa teoria causal
e dinâmica pode ser resumida no seguinte processo sequencial:
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equilibrada, o pai não pode ser ausente, omisso, submisso à esposa, mas
também não pode ser incompreensível, arbitrário, despótico.
- o lugar da habitação (lar) deve representar a solidariedade e equilíbrio. A
busca da “casa” é uma reação usual frente às frustrações da vida. Saber-se
compreendido e aceito é o maior desejo de todos e isso é vivenciado
intensamente pelas crianças. Para onde pode ir alguém que se sinta rejeitado?
Se o lar descumpre suas funções, facilita a fuga e a vida na rua, com suas
consequências.
Ver quadro estatístico pgs 108-110.
3 -Inadaptação familiar e inadaptação escolar – o abandono ou mal
estruturação afetiva logo resulta em rebeldia e rejeição da disciplina e
dos valores familiares, o que ocasiona atritos entre pais e filhos (no lar
em geral) resultando em castigos, por vezes de natureza física, por
provocações até mesmo recíprocas.
A escola geralmente representa o primeiro contato com o mundo “extra-
lar”. A importância socializadora da escola no processo de formação de
personalidade é tema da pedagogia moderna. Se a criança chega à
escola já tendo em si o germe da indisciplina e a disposição à ociosidade,
dificilmente se adaptará à nova realidade social. O desinteresse e a
ociosidade levarão ao absenteísmo (“cabulação”) e ao abandono da
escola. Ao serem interrogados em vida adulta, fornecem relato
geralmente insincero, tais como: deixar a escola para ajudar como
trabalho e a economia doméstica, etc. Os que tiveram mãe inconstante e
procederam de lares desagregados apresentam essas desadaptações por
motivos psicológicos (psicodinâmicos) e não de ordem social,
frequentemente invocados como “justificativa pessoal consciente”.
4- Fuga – Vida na rua - os processos psíquicos antes descritos
explicam as fugas e a necessidade de viver na rua. Considera-se também
o falso conceito de liberdade, que requer nomadismo e ociosidade sem
disciplina. Assim evidente que essas crianças vão desenvolver hostilidade
ao meio social, inveja dos que desfrutam de conforto e agressividade
para assegurar satisfação imediata de seus desejos e impulsos. A
formação de grupos “parassociais” (bandos) é fruto de uma
“identificação psicológica” com os que são “o seu semelhante”,
igualmente carentes de valores sócio-morais que seguem seus “códigos”
particulares. A falta absoluta de profissionalização leva, de início, a
atividades pseudolaborativas e depois à delinquência. A passagem a esta
é simples questão de circunstância ou necessidade.
5- Adaptação ao “real imediato” Falta de adaptação social –
formação de grupos “dissociais” e delinquência dissocial – surgem
como consequências diretas e inevitáveis. Os dissociais conservam
capacidade adaptativa, mas voltada à realidade imediata. A necessidade
de resolver prontamente os problemas consequentes à vida na rua os
leva a viver o dia-a-dia sem preocupações teleológicas. Contestam o
19
passado, levam o presente, sem planos para o futuro. Aceitar os valores
as sociedade geral, seus métodos e seus objetivos se constitui em algo
impensável. O comportamento socialmente lesivo se cronifica e se
converte em “estilo de vida”.
Ver quadros pg 112-115.
Ver laudos pg 115-123.
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Interessa aqui diferenciar neurose, antissocialidade, e dissocialidade.
Esquema de Jenkins:
– o neurótico é uma personalidade muito contida, com conflitos
intrapsíquicos, mas socialmente ajustada.
- o psicopata é uma personalidade não socializada, com tendência a ser
solitária (em termos externos ou internos), com inibição inadequada pelo
superego.
- o delinquente essencial – que não se adapta à sociedade geral, mas forma
o seu grupo particular em relação ao qual desenvolve inibições, pelo que é um
“pseudo-socializado”
Ver quadro pgs 128-129.
Roteiro de Abrahamsen: (diferencia o neurótico do dissocial (que é
personalidade delinquente)).
Ver pg 130.
Índices de Maranhão: (organizado com base na doutrina e na prática
criminológica)
Diferenças quanto a: Antissociais Dissociais
Família de origem - qualquer tipo desagregada
Escola - Suspensões/expulsões Faltas/abandono
Fugas do lar - raramente ocorrem São usuais
Trabalho - caráter imediatista Ociosidade
Grupos – raros/instáveis Usuais/coesos
Código de ética - Hedonista Grupal
Lealdade - a si mesmo ao grupo
Experiência - não aproveita incorpora as
negativas
Delitos - Grave/misterioso (prática solitária) Organizado (prática
grupal)
E.E.G - “ondas lentas” sem alterações
Tratamento - Quase impossível
Possível/problemático
Causa “constitucional” Processo formativo
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