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2.

Cinemática

2.1 Movimento 28

2.2 Movimento Retilíneo 30


2.2.1 Deslocamento
2.2.2 Velocidade
2.2.3 Aceleração

2.3 Queda livre 44

2.4 Lançamento Oblíquo 47

2.5 Teste seus conhecimentos 56

2.6 Atividade Avaliativa 58

"A condição natural dos corpos


não é o repouso, mas o
movimento."

Galileu Galilei

Neste capítulo, estudaremos algumas características do movimento, que incluem o con-


ceito de referencial, deslocamento, velocidade e aceleração, sendo eles fundamentais para
retratar as atividades humanas.

Ao estudar este capítulo, você será capaz de:

1. Definir o conceito de referencial e movimento;


2. Descrever o movimento retilíneo em termos de velocidade e aceleração;
3. Interpretar gráficos de posição em função do tempo, velocidade em função do tempo e
aceleração em função do tempo;
4. Descrever as equações do movimento retilíneo (em uma, duas e três dimensões usando
vetores);
5. Interpretar o movimento dos corpos em queda;
6. Analisar o movimento oblíquo realizado por uma partícula;
7. Descrever a trajetória em curva percorrida por um projétil;
8. Solucionar problemas envolvendo os conceitos de deslocamento, velocidade e aceleração.

27
28 2.1. Movimento

2.1 Movimento

Para definir se um corpo ou partícula está em movimento ou repouso, primeiro, preci-


samos estabelecer um ponto de referência (ou referencial). E, isto nos leva a refletir sobre a
seguinte pergunta:

O que é referencial?

Definição 2.1 Em física, um referencial é "um padrão relativo ao qual o movimento


e o repouso de corpos podem ser medidos"[8]. Em outras palavras, um referencial é
um sistema de coordenadas usados para mensurar uma determinada quantidade (ou
grandeza) física por um observador, tais como, deslocamento, aceleração, velocidade
e força. Por exemplo, no caso unidimensional, o referencial é uma reta orientada em
que se escolhe a origem o ponto zero do eixo x, conforme mostra a figura 2.1.

Figura 2.1 – Sistema de referência unidimensional.

x(t)
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 x (m)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Na figura 2.1, podemos observar que o sentido positivo de um eixo é aquele em que
os números positivos aumentam; caso contrário é o sentido negativo [9].

Quanto à classificação, um referencial pode ser: inercial e não-inercial.

O que é referencial inercial?

Definição 2.2 Um referencial inercial é aquele em que o sistema de coordenadas


não sofre aceleração ou rotação em relação a um ponto fixo. Dito de outra forma, um
referencial inercial é homogêneo no espaço e no tempo, ou seja, não há diferença entre
dois pontos quaisquer do espaço ou dois instantes quaisquer de tempo. Além disso,
um referencial inercial é isotrópico, ou seja, não há direção preferencial no espaço
[10]. Nesse sistema, a 1ª lei de Newton é válida. São exemplos de referenciais inerciais
o movimento de um automóvel em velocidade constante em linha reta (figura 2.2) e
um trem parado.
Capítulo 2. Cinemática 29

Figura 2.2 – Análise do movimento unidimensional realizado pelo carro de fricção com o uso
do software Tracker[11].

Fonte: Arquivo pessoal.

O que é referencial não inercial?

Definição 2.3 Um referencial não-inercial é um sistema de referência que possui


aceleração em relação aos corpos fixos, o que invalida a 1ª lei de Newton. São exemplos
de referenciais não-inerciais o movimento de um carro em uma curva com velocidade
constante e um observador dentro de um ônibus em movimento.

Outra pergunta fundamental em física que merece uma atenção especial é:

O que é movimento?

Embora, existam diferentes tipos de movimento em física, nesta disciplina, vamos nos
concentrar em apenas dois, sendo eles: o retilíneo (ou de translação) e o circular (ou de
rotação). Nesta unidade, dedicaremos nossos esforços ao estudo do movimento retilíneo.

Definição 2.4 É dito que um corpo está em movimento, quando a sua posição muda
com o tempo, conforme ilustra a figura 2.3. Para analisar o movimento da partícula
ao longo da reta, figura 2.3, vamos adotar como referência a posição inicial igual a
0,5 m, no instante de tempo inicial (t0 = 0 s). E, uma certa quantidade de tempo de-
pois, verificamos que a partícula está mudando de posição e, portanto, encontra-se
em movimento. Caso contrário, ela estaria em repouso. É dito que o corpo está em
repouso, quando sua posição não muda com o passar do tempo.
30 2.2. Movimento Retilíneo

Figura 2.3 – Movimento de uma partícula ao longo do eixo x, sentido positivo, para
diferentes instantes de tempo t.

t0 = 0s t1 = 2s t2 = 4s t3 = 6s
0 1 2 3 4 5 6 7 x (m)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Quanto à classificação, o movimento retilíneo pode ser uniforme e uniformemente vari-


ado.
Definição 2.5 O movimento retilíneo uniforme (MU) ocorre quando a partícula re-
aliza um movimento ao longo de uma reta com velocidade constante, ou seja, a sua
aceleração é nula. São exemplos de movimento retilíneo uniforme (MRU): caminhar
com velocidade constante ao longo de um trajetória retilíneo, nadar em uma piscina,
ou ainda, dirigir um carro em uma rodovia ou estrada reta, com a utilização do con-
trole de velocidade (ou também conhecido como controle de cruzeiro automático)
para manter a sua velocidade constante por um determinado período de tempo, as-
sim como, planejar trajetos em aplicativos de navegação.

Definição 2.6 O movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV) ocorre


quando há variação de velocidade do móvel entre dois instantes de tempo quaisquer e,
portanto, a partícula passa a exibir uma aceleração constante. São exemplos de movi-
mento retilíneo uniformemente variado (MRUV): o lançamento de um projétil, como
foguete, bolas ou chaves, que sofrem a ação da gravidade e têm uma aceleração cons-
tante para baixo, ou ainda, a frenagem ou a aceleração de um automóvel, que depende
da força aplicada nos freios ou acelerador e, por fim, podemos citar a queda dos corpos.

Saiba mais
[ Leia o artigo intitulado A Evolução do Pensamento sobre o Conceito de Movimento,
disponível em: http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v21_187.pdf

2.2 Movimento Retilíneo


2.2.1 Deslocamento

O que é deslocamento?

Definição 2.7 O vetor deslocamento (ou deslocamento vetorial) é uma grandeza fí-
sica que está associada a mudança de posição de um objeto (ou corpo ou partícula) em
relação a um determinado referencial com o tempo. Isto implica dizer que o movi-
mento é um fenômeno relativo. Desta forma, o sistema de coordenadas adotado deve
Capítulo 2. Cinemática 31

conter orientações fixas em relação às quais a direção do deslocamento está aconte-


cendo. Assim, em geral, utilizamos como referência o sistema de coordenadas carte-
sianas, conforme ilustra a figura 2.4.

Figura 2.4 – Trajetória de uma partícula em espaço tridimensional.

⃗r(t) = xı̂ + y ȷ̂ + zk̂


ȷ̂

ı̂ y(t)

z(t) x
z x(t)

Diante do exposto, o vetor posição ⃗r é descrito para um dado instante de tempo t através
da expressão matemática:

⃗r(t) = r(t)r̂(t) = x(t)ı̂ + y(t)ȷ̂ + z(t)k̂ (2.1)

em que a magnitude (ou intensidade) de ⃗r é dada por:

q
r = ⃗r = x2 + y 2 + z2 (2.2)

sendo r a distância traçada a partir da origem, conforme ilustra a figura 2.4.


A direção de ⃗r é obtida através da seguinte sentença matemática:

⃗r x y z
r̂ = = ı̂ + ȷ̂ + k̂ (2.3)
r r r r

Além disso, quando a posição da partícula muda em função da variação de tempo ∆t,
como mostra a figura 2.5, o vetor posição será expressa por:

Figura 2.5 – Vetor posição


em relação a variação de
tempo, ∆t.

v⃗(t)
⃗r(t + ∆t) = x(t + ∆t)ı̂ + y(t + ∆t)ȷ̂ + z(t + ∆t)k̂ (2.4)
∆⃗r
∆⃗r ∆t
⃗r(t) ⃗r(t + ∆t)

em que x, y e z representam o deslocamento ao longo do eixo x, y e z, respectiva-


32 2.2. Movimento Retilíneo

mente, conforme indicado pelos versores unitários ı̂, ȷ̂ e k̂ do sistema de coordenadas


cartesianas.
Diante do exposto, a expressão matemática do vetor deslocamento é:

∆⃗r = ⃗rf − ⃗ri = (xf − xi )ı̂ + (yf − yi )ȷ̂ + (zf − zi )k̂ (2.5)

em que ⃗rf e ⃗ri representam o vetor posição final e inicial da partícula.


Quando a partícula realiza um movimento bi-dimensional, isto é, ao longo do eixo ho-
rizontal (ou eixo x) ou vertical (ou eixo y) como, por exemplo, no caso do lançamento
oblíquo, o vetor deslocamento pode ser escrito como:

∆⃗r = (xf − xi )ı̂ + (yf − yi )ȷ̂ (2.6)

Por fim, quando a partícula realiza um movimento unidimensional como, por exem-
plo, ao longo do eixo horizontal (ou eixo x), conforme mostra a figura 2.6, o desloca-
mento da partícula é descrito por:

Figura 2.6 – Uma partícula desloca-se no eixo x, no instante de tempo t.

x0 x
0 1 2 3 4 5 6 7 x (m)

Matematicamente, o deslocamento é expresso por:

∆x = x − x0 (2.7)

em que x0 e x representam a posição inicial e final da partícula em relação a um deter-


minado referencial. No sistema internal de medidas (SI), o deslocamento é dado em
metros (m).

Definição 2.8 Outra possível definição do vetor de deslocamento é expressa pelo


conceito de limites de uma função, em que a equação para a variação da posição em
relação a um determinado instante de tempo pode ser escrita como:

∆⃗r(t) = lim ∆⃗r(t + ∆t) − ∆⃗r(t) (2.8)


∆t→0

em que o limite da função tende a zero (lim∆t→0 ). Para mais detalhes consultar a
bibliografia sugerida [12].

Nesse instante, vamos analisar um exemplo do conceito de deslocamento.

Exemplo 2.1 Você caminha 3,00 km para o leste e depois 4,00 km para o norte. De-
termine seu deslocamento resultante somando graficamente estes dois vetores deslo-
camento.
Capítulo 2. Cinemática 33

Solução 2.1 Vamos traçar os vetores posição do caminhante de acordo com as instru-
ções fornecidas pelo problema 2.1, conforme mostra a figura 2.7. Perceba que a solução
do problema consiste em aplicar o conceito de deslocamento.

Figura 2.7 – Deslocamento realizado por uma pessoa que caminha 3 km para o leste e
depois 4 para o norte

⃗r A intensidade de |r| é:

y
p
|r| = x2 + y 2

O
x

Assim, o deslocamento resultante é:

p
|r| = 4 km2 + 3 km2 = 5 km

2.2.2 Velocidade

O que é velocidade?

Definição 2.9 (Velocidade Média) A velocidade média é uma grandeza vetorial e, por-
tanto, definida por módulo, direção e sentido. Logo, a velocidade de uma partícula é
definida pela razão entre o vetor deslocamento e o tempo gasto para realizar o movi-
mento, conforme mostra a equação 2.11:

⃗rf ⃗r0
z }| { z }| {
∆⃗r xf ı̂ + yf ȷ̂ + zf k̂ − x0 ı̂ + y0 ȷ̂ + z0 k̂
v⃗ = = (2.9)
∆t t − t0
34 2.2. Movimento Retilíneo

∆x ∆y ∆z
z }| { z }| { z }| {
(xf − x0 ) ı̂ + (yf − y0 ) ȷ̂ + (zf − z0 ) k̂
v⃗ = (2.10)
t − t0

E, finalmente, o vetor velocidade média é escrito como:

∆xı̂ + ∆y ȷ̂ + ∆zk̂
v⃗ = = vx ı̂ + vy ȷ̂ + vz k̂ (2.11)
t − t0

em que t0 e t representam o tempo inicial e final; ı̂, ȷ̂ e k̂ são os vetores unitários e


indicam a direção da componente do vetor deslocamento.
No sistema internal de medidas (SI), a velocidade é expressa em metros por segundos
(m/s), ou seja:

[m] {L}
[v] = =
[s] {T }

em que os termos dentro dos colchetes indicam as unidades de medidas das grandezas
físicas, enquanto que os termos dentro das chaves representam as dimensões, isto é,
{L} indica o comprimento e {T } o tempo. Cabe destacar que essa notação é usada para
realizar análise dimensional de quantidades físicas.

Em uma dimensão, a velocidade média é descrita por:

∆x xf − x0
v= = (2.12)
t − t0 t − t0

Se considerarmos que no instante inicial do movimento do corpo o tempo é igual a zero,


então a equação 2.12 pode ser reescrita da seguinte forma:

x = x0 + v · t (2.13)

em que x0 representa a posição inicial da partícula e v a sua velocidade.


A equação 2.13 caracteriza a equação horária do movimento retilíneo uniforme, na qual
verifica-se que a velocidade é constante.
Capítulo 2. Cinemática 35

Figura 2.8 – Gráfico de posição em função do tempo.

x (m)

t (s)

Fonte: Arquivo pessoal.

Agora, vamos examinar alguns exemplos para compreender o conceito de velocidade.


Além disso, analisaremos a construção de gráficos a partir da equação horária do móvel.

Exemplo 2.2 A figura 2.9 retrata o movimento de uma partícula, quando ela passa na
posição S1 = 2, 5 m no instante de tempo t1 e S2 = 5, 5 m no instante de tempo t2 . Consi-
dere que t1 = 0 s e t2 = 2 s e calcule a velocidade da partícula. Represente graficamente
o movimento realizado pela partícula. Mostre a equação horária do movimento.

Figura 2.9 – Uma partícula desloca-se no eixo x, nos instantes de tempo t1 e t2 .

x (t1 ) x (t2 )
0 1 2 3 4 5 6 7 x (m)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Solução 2.2 A velocidade da partícula será calculada pela equação 2.12, como segue:

5, 5 − 2, 5
v= = 1, 5 m/s (2.14)
2−0

A equação horária do movimento é obtida pela expressão 2.13, como segue:

S = 2, 5 + 1, 5 · t (2.15)
Neste caso, o movimento retilíneo uniforme será classificado como progressivo, cujo o
gráfico da equação é apresentado na figura 2.10.
36 2.2. Movimento Retilíneo

Figura 2.10 – Representação gráfica do movimento da partícula.

Deslocamento (m)
5

2
0 0.5 1 1.5 2
tempo (s)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Exemplo 2.3 Um pedestre desloca-se numa estrada do quilometro 5 até o 2 em 20


minutos, conforme mostra a figura 2.11. Calcule a rapidez do carro. Represente grafi-
camente o movimento.

Figura 2.11 – Uma partícula desloca-se no eixo x, nos instantes de tempo t1 e t2 .

x (t2 ) x (t1 )
0 1 2 3 4 5 x (m)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Solução 2.3 Primeiro, precisamos converter o tempo dado em minutos para horas.
Assim, temos que:
!
1h
[v] = 20 min · = 0, 33 h (2.16)
60 min
Agora, podemos calcular a velocidade, como segue:
2−5
= −9.09 km/h v= (2.17)
0.33
Neste caso, o movimento retilíneo uniforme será classificado como retrógrado. A
equação horária do movimento será expressa por:

S = 5 − 9, 09 · t (2.18)

A representação gráfica do movimento retilíneo uniforme retrógrado é retratado pela


figura 2.12.
Capítulo 2. Cinemática 37

Figura 2.12 – Representação gráfica do movimento retilíneo uniforme retrógrado da


partícula.

Deslocamento (m)
0

−5

−10
0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Definição 2.10 (Velocidade Instantânea.) A velocidade instantânea é definida como a


taxa de variação do deslocamento realizado por uma partícula em relação ao tempo:

∆⃗r d⃗r
v⃗(t) = lim = (2.19)
∆t→0 ∆t dt
Portanto, a velocidade instantânea é obtida para um dado instante de tempo. Para mais
detalhes a respeito do conceito de limites, consultar a bibliografia sugerida [12].
Desde que ı̂, ȷ̂, k̂ são constantes em dado instante de tempo, podemos re-escrever a
equação 2.19 como:

d
v⃗(t) = (⃗r(t))
dt !
d
= xî + y jˆ + zk̂
dt
dx dy ˆ dz
= î + j + k̂
dt dt dt
df
Como f˙ ≡ , logo
dt
v⃗(t) = ẋı̂ + ẏ ȷ̂ + żk̂ = vx ı̂ + vy ȷ̂ + vz k̂

v | = [vx2 + vy2 + vz2 ]1/2


v = |⃗
é a magnitude do vetor velocidade da partícula. Então, a direção do movimento é

v̂ = v⃗/v, |v̂| = 1

onde v̂ é também a unidade tangente da trajetória.


38 2.2. Movimento Retilíneo

Exemplo 2.4 Uma partícula move-se ao longo do eixo x variando com o tempo de
acordo com expressão x = (4t 2 + 2t − 10) m. Calcule a velocidade instantânea em t = 2 s.

Solução 2.4 !
dx d 2
v= = 4t + 2t − 10 = 8t + 2
dt dt
Em t = 2 s, a velocidade é igual a 18 m/s. Outra maneira de resolver este problema é
pela aplicação do conceito de limites, como segue:

x(t + ∆t) − x(t)


v(t) = lim
∆t→0 ∆t
4(t + ∆t)2 + 2(t + ∆t) − 10 − (4t 2 + 2t − 10)
= lim
∆t→0 ∆t
4t + 8t∆t + 4(∆t) + 2t + 2∆t − 4t 2 − 2t
2 2
= lim
∆t→0 ∆t
8t∆t + 4(∆t)2 + 2∆t
= lim = 8t + 2
∆t→0 ∆t
v(t = 2) = 8(2) + 2 = 18 m/s

Exemplo 2.5 Obtenha a equação horária para o movimento retilíneo uniforme, a


partir da definição de velocidade instantânea (eq. 2.19).

Solução 2.5 Para obter a equação horário, vamos integrar a equação 2.19, como segue:
Z x Z t
dx
v= ∴ x= v · dt ∴ x = x0 + v · t (2.20)
dt x0 0

Definição 2.11 (Velocidade escalar média.) A velocidade escalar média é a razão entre
a distância percorrida (d) por uma partícula e o intervalo de tempo (∆t) gasto para
realizar o movimento:

d
v= (2.21)
∆t

note que: não há direção associada a este quantidade física, visto que ela não é um
vetor.

Exemplo 2.6 (Retirado de [7]) Um automóvel, em uma viagem de 100 km, faz 40 km/h
durante os primeiros 50 km. Qual deverá ser sua rapidez durante os segundos 50 km
para fazer a média de 50 km/h?

Solução 2.6 O tempo total de viagem é:


Capítulo 2. Cinemática 39

100 km
∆t =
50 km/h
∆t = 2 h
O tempo da primeira parte da viagem é:

50 km
∆t =
40 km/h
∆t = 1, 25 h
Logo, o tempo para realizar a segunda parte da viagem é: 0, 75 h. Assim, a velocidade
será de: 67 km/h

2.2.3 Aceleração

O que é aceleração?

Definição 2.12 (Aceleração Média) A aceleração média é uma gradeza vetorial defi-
nida pela razão entre a velocidade e o tempo como mostra a equação 2.22:

v v⃗ − v⃗0
∆⃗
a=
⃗ = (2.22)
∆t t − t0

em que v⃗0 e v⃗ representam o vetor velocidade inicial e final.


A equação 2.22 também pode ser escrita da seguinte forma:

v⃗ v0
z }| { z }| {
vx ı̂ + vy ȷ̂ + vz k̂ − v0,x ı̂ + v0,y ȷ̂ + v0,z k̂
a=
⃗ (2.23)
t − t0

Ou ainda:

∆vx ı̂ + ∆vy ȷ̂ + ∆vz k̂


a=
⃗ (2.24)
t − t0

No sistema internal de medidas (SI), a aceleração é expressa em metros por segundos


ao quadrado (m/s2 ), visto que:

[m]/[s] [m]
[a] = = 2
[s] [s ]
40 2.2. Movimento Retilíneo

Em uma dimensão, a aceleração média é descrita por:

∆vx
ax = (2.25)
t − t0

Se considerarmos que no instante inicial do movimento do corpo o tempo é igual a zero,


então a equação 2.25 pode ser reescrita da seguinte maneira:

v = v0 + a · t (2.26)

em que v0 a velocidade inicial e a a aceleração.


A equação 2.26 representa a equação horária do movimento retilíneo uniforme acele-
rado, sendo representada graficamente na figura 2.13. São características deste tipo de mo-
vimento: a aceleração não nula e, portanto, a velocidade do corpo não é constante.

Figura 2.13 – Representação gráfico da velocidade em função do tempo para o movimento


retilíneo uniformemente variado.

v (m/s)

∆x
v0
t (s)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Pela análise da figura 2.13, verifica-se que o deslocamento é numericamente igual a área
da curva do gráfico de velocidade em função do tempo. Desta forma, a expressão matemática
para o deslocamento pode ser escrita da seguinte maneira:

v + v0
∆x = (2.27)
2

Assim sendo, a expressão matemática para a velocidade nos casos em que a aceleração é
constante é:

v + v0
v= (2.28)
2
Capítulo 2. Cinemática 41

Agora, se substituirmos a equação 2.28 na equação do deslocamento (equação 2.13), ob-


teremos:

 
 v + v0 
x = x0 +  t (2.29)
2 

Além disso, substituiremos a equação da velocidade (eq. 2.13) na equação 2.29 de modo
a escrevermos a expressão matemática para a posição da partícula no movimento uniforme-
mente variado:

 
 v0 + at + v0 
x = x0 +  t (2.30)
2 

Por fim, organizaremos o termos da equação 2.30, com a finalidade de obtermos a equa-
ção horária do movimento uniformemente variado:

1
x = x0 + v0 t + at 2 (2.31)
2

em que x0 representa a posição inicial da partícula, v0 a velocidade inicial e a a aceleração.


A representação gráfica da equação 2.30 é apresentada na figura 2.14.

Figura 2.14 – Representação do gráfico da posição em função do tempo para o movimento


retilíneo uniformemente variado.

x (m)

x0
t (s)

Fonte: Arquivo Pessoal.

Outra importante contribuição ao estudo dos corpos em movimento com aceleração cons-
tante foi dada por Evangelista Torricelli, quando ele propôs uma equação independente do
tempo para calcular a velocidade, a aceleração e o deslocamento de uma partícula. Para
obtermos a equação de Torricelli realizaremos os seguintes procedimentos matemáticos: (i)
42 2.2. Movimento Retilíneo

isolaremos a variável t da equação 2.26; e (ii) substituiremos o termo obtido na equação 2.31.
Dito isto, segue o desenvolvimento matemática para obter a equação de Torricelli:

v = v0 + at
 
 v − v0 
t =  
a 
  
 v + v0  v − v0 
x = x0 +   
2  a 
1  v 2 − vv0 + vv0 − v02 
 
x = x0 + 
2 a


1  v 2 − v02 


 
x = x0 + 
2 a 

v 2 = v02 + 2a∆x (2.32)

Esta última expressão matemática é conhecida como equação de Torricelli.


Agora, vamos examinar alguns exemplos para compreender o conceito de aceleração.
Além disso, analisaremos a aplicação dos conceitos de limites, derivada e integral na resolu-
ção de exercícios em física.

Exemplo 2.7 Uma partícula move-se ao longo do eixo x, com velocidade variando com
o tempo de acordo com expressão v = (5t 2 + 5t + 10) m/s. Calcule a aceleração média no
intervalo de tempo entre t = 0 e t = 2 s.

Solução 2.7
vi = (5t 2 + 5t − 10) m/s = 5(0)2 + 5(0) + 10 = 10 m/s
vf = (5t 2 + 5t − 10) m/s = 5(2)2 + 5(2) + 10 = 40 m/s
Portanto, a aceleração média no tempo especificado no problema será:
vf − vi (40 − 10) [m]/[s]
a= = = 15 [m]/[s2 ]
tf − ti (2 − 0) [s]

Definição 2.13 (Aceleração Instantânea.) A aceleração instantânea de uma partícula


em um dado instante de tempo t é definida por:

v d⃗
∆⃗ v
a(t) = lim
⃗ = (2.33)
∆t→0 ∆t dt
ˆ k̂ são constantes em dado instante de tempo:
Desde que î, j,
Capítulo 2. Cinemática 43

d
a(t) =
⃗ (⃗
v (t))
dt !
d ˆ
= v î + vy j + vz k̂
dt x
dv dvy dv
a(t) = x î +
⃗ jˆ + z k̂
dt dt dt
d2 f
Como f¨ ≡ 2 ,
dt
Logo,

a(t) = ẍî + ÿ jˆ + z̈k̂



a(t) = ax î + ay jˆ + az k̂

a(t) nos diz como a velocidade muda em função do tempo t.

Exemplo 2.8 Obtenha a equação horária da velocidade a partir da definição de acele-


ração instantânea (eq. 2.33).

Solução 2.8 Para obter a equação horária para a velocidade, basta integrar a equação
2.33, como segue:
Z v Z t
dv
a= ∴ dv = a·t ∴ v = v0 + a · t (2.34)
dt v0 0

Exemplo 2.9 Uma partícula move-se ao longo do eixo x, com velocidade variando
com o tempo de acordo com expressão v = (5t 2 + 5t − 10) m/s. Calcule a aceleração
instantânea em t = 4 s.

Solução 2.9 !
dv d 2
a= = 5t + 5t − 10 = 10t + 5
dt dt
Em t = 4 s, a aceleração é igual a 45 m/s2 . Outra maneira de resolver este problema é
pela aplicação do conceito de limites, como segue:

v(t + ∆t) − v(t)


a(t) = lim
∆t→0 ∆t
5(t + ∆t)2 + 5(t + ∆t) − 10 − (5t 2 + 5t − 10)
= lim
∆t→0 ∆t
5t 2 + 10t∆t + 5(∆t)2 + 5t + 5∆t − 5t 2 − 5t
= lim
∆t→0 ∆t
2
10t∆t + 5(∆t) + 5∆t
= lim = 10t + 5
∆t→0 ∆t
a(t = 4) = 10(4) + 5 = 45 m/s2
44 2.3. Queda livre

Exemplo 2.10 (Retirado de [7]) Um carro esportivo acelera em terceira marcha de


48,3 km/h (cerca de 30 mi/h) até 80,5 km/h (cerca de 50 mi/h) em 3,70 s. (a) Qual é a
aceleração média deste carro em m/s2 ? (b) Se o carro mantivesse esta aceleração, com
que rapidez ele estaria se deslocando um segundo mais tarde?

Solução 2.10 (a) Primeiro precisamos converter a velocidade para m/s e, depois a
aceleração média, como segue:

(22, 36 − 13, 39)m/s


a= ∴ a = 2, 42 m/s2
3, 70 s
(b) A velocidade 1 segundo depois é:

∆v1s = a · ∆t
∆v1s = 2, 42 m/s2 · 1 s
∆v1s = 2, 42 m/s
∴ v4,7s = 22, 36 m/s + 2, 42 m/s
∴ v4,7s = 24, 78 m/s = 89, 21 km/h

Definição 2.14 (Aceleração escalar média.) Quando a velocidade duma partícula se


altera com tempo, diz que ela está acelerada ou desacelerado. Dito isto, a aceleração
escalar média de uma partícula é expressa pela razão entre a variação da velocidade em
relação ao tempo
∆v vf − vi
a= = (2.35)
∆t tf − ti

onde :
vf = é a velocidade final da partícula
tf = é o tempo final
vi = é a velocidade inicial
ti = é o tempo inicial

Saiba Mais
Æ Assista ao vídeo de um experimento sobre movimento retilíneo uniformemente variado,
disponível em: https://youtu.be/4azUn0j4e_w

2.3 Queda livre


O estudo do movimento dos corpos em queda livre é um tema recorrente nas aulas de
física para explicar o movimento retilíneo uniformemente acelerado, conforme destaca Nus-
senzveig (2013)[13]. Dito isto, destaca-se que diversos autores dedicaram seus esforços para
determinar o valor da aceleração da gravidade por diferentes métodos [14, 15, 16, 17, 18].
Para Serway e Jewett (2004) [19] um corpo em queda livre é aquele que "se move livre-
mente sob a influência apenas da gravidade, independentemente do seu movimento inicial".
Capítulo 2. Cinemática 45

Logo, qualquer corpo em queda livre tem aceleração apontada para baixo. Portanto, ao des-
prezarmos a resistência do ar, então um corpo em queda livre, solto a partir do repouso
ou arremessado com uma velocidade vertical, desloca-se em uma dimensão com aceleração
constante.
Neste sentido, Sears e Zemansky (2008) [20] ensinam que: "quando a distância da queda
livre é pequena em comparação com o raio da Terra, e se ignorarmos os pequenos efeitos
exercidos pela sua rotação, a aceleração pode ser tratada como constante". De acordo com
estes autores, a aceleração constante de um corpo em queda livre é denominada aceleração
da gravidade, cujo valor aproximado na superfície terrestre ou próxima a ela é g = 9, 8 m/s2 .
No entanto, destaca-se que o valor da aceleração da gravidade muda de local para local,
em virtude da latitude e longitude promovido pelo efeito inercial de rotação e achatamento
da Terra, conforme esclarece Nussenzveig (2013) [13]. Dito isto, Lopes (2008) [21] propôs
uma equação matemática para calcular o valor da aceleração da gravidade, em função da
latitude e altitude. Por exemplo, para um município situado a uma altitude de 200 metros
em relação ao nível do mar e uma latitude de 15°como é o caso de Cuiabá - MT, a aceleração
da gravidade calculada por meio da equação proposta por Lopes é de 9, 7832 m/s2 .
A figura 2.15 mostra o movimento de queda de uma bola de borracha.
Por questões didáticas, vamos modelar a bola como uma
Figura 2.15 – Movimento partícula com aceleração constante. E, de acordo com as leis
de um corpo em queda. do movimento, quando um objeto se desloca com a aceleração
constante, a função da posição em relação ao tempo é descrita
por:

1
y = y0 + v0 · t − · g · t2 (2.36)
2
em que y0 é a posição inicial do objeto; v0 é a velocidade
inicial; e g é a aceleração da gravidade.
A equação (2.36) pode ser reescrita da seguinte forma:

1
y − y0 = v0 · t − · g · t2 (2.37)
2
Agora, vamos analisar o movimento da bola ilustrada na
figura 2.15. A bola é solta de uma altura inicial diferente de
zero (y0 , 0) a partir do repouso (v0 = 0), sendo que o seu mo-
vimento no eixo y ocorre em virtude da atuação da força de
atração do campo gravitacional da Terra de modo a atingir o
solo (y = 0). Logo, a equação (2.37) pode ser escrita como:
Fonte: Arquivo Pessoal.
1
y0 = · g · t2 (2.38)
2
perceba que o sinal de negativo de y0 se cancela com o sinal de negativo de g na equação
(2.37).
A equação (2.38) evidencia que a distância percorrida pelo móvel em queda livre é pro-
porcional ao quadrado do tempo. Dito isto, também podemos calcular a aceleração da gra-
vidade local, isolando g na equação (2.38) de modo a obter a sentença matemática:

2·h
g= (2.39)
t2
46 2.3. Queda livre

em que h é a altura inicial ao qual a bola é liberada. Pela análise da equação (2.39),
verifica-se que a unidade de medida para a aceleração da gravidade no SI é o metro por
segundos ao quadrado m/s2 .
Agora, vamos explorar alguns exemplos sobre queda livre para aprofundar a discussão
teórica.

Exemplo 2.11 (Retirado de [7]) Uma pedra é atirada verticalmente, para baixo, do
topo de um penhasco de 200 m. Durante o último meio segundo de seu voo, a pedra
percorre uma distância de 45 m. Encontre a rapidez inicial da pedra.

Solução 2.11 Na ausência de resistência do ar, a aceleração da pedra é constante, logo,


a velocidade é descrita por:
v + v0,5 ∆x
v= =
2 ∆t
v + v0,5 45 m
=
2 0, 5 s
v + v0,5 = 180 m/s
A mudança da velocidade da pedra no último meio segundo pode ser descrita em ter-
mos da aceleração, como segue:

v − v0,5 = g · t
v − v0,5 = 10 m/s2 · 0, 5 s
v − v0,5 = 5 m/s
E, isto nos leva a:
v + v0,5 = 180 m/s
v − v0,5 = 5 m/s
2v = 185 m/s
∴ v = 92, 5 m/s
Por fim, podemos calcular a velocidade inicial da pedra, aplicando a seguinte equação:

v 2 = v02 − 2g∆y
v02 = v 2 + 2g∆y
q
v0 = (92, 5 m/s)2 + 2 · 10 m/s2 · (−200 m)
v0 = 68 m/s

Exemplo 2.12 (Retirado de [7]) Um objeto é largado do repouso de uma altura h. Ele
percorre 0,4 h durante o primeiro segundo de sua descida. Determine a velocidade
média do objeto durante toda sua descida.
Capítulo 2. Cinemática 47

Solução 2.12
1
y = y0 + v0 · t − gt 2
2
1 2
∆y = gt
2
0, 4h = 5 m
∴ h = 12, 5 m
Como aceleração é constante, tem-se que:
p
v = 2 · 10 m/s2 · 12, 5 m
v = 15, 8 m/s
Logo, a velocidade média é:

0 + 15, 8 m/s
v=
2
v = 7, 91 m/s

Saiba Mais
Æ Assista ao vídeo de um experimento sobre queda livre, disponível em:
https://youtu.be/I9jLwT7Qikg

2.4 Lançamento Oblíquo

"O projétil dotado de um movimento uni-


forme horizontal, composto por um movi-
mento acelerado naturalmente (movimento
uniformemente acelerado) na direção verti-
cal, descreve uma curva que é uma semi-
parábola."
Discurso sobre duas Novas Ciências.
Galileu Galilei

Um projétil é qualquer corpo lançado com uma velocidade inicial e que segue uma tra-
jetória determinada exclusivamente pela aceleração da gravidade e pela resistência do ar. Se
a resistência do ar é desprezível, então, podemos dizer que o projétil está em queda livre [7].
São exemplos de projéteis uma bola de beisebol batida, uma bola de futebol chutada, um
pacote largado de um avião e uma bala atirada por uma arma de fogo. A curva descrita pelo
projétil é denominada de trajetória [20]. A figura 2.16 descreve a trajetória de uma partícula
lançada obliquamente.
Dito isto, quando um projétil é lançado obliquamente a partir do solo, ele realiza uma
trajetória parabólica com cavidade para baixo, conforme mostra a figura 2.16 e, portanto,
descrito por uma equação do 2º grau. No ponto mais alto da trajetória a componente da
velocidade no eixo y é igual a zero (vy = 0), enquanto que a componente da velocidade no
eixo x apresenta um valor diferente de zero (vx , 0). Logo após, a componente da velocidade
48 2.4. Lançamento Oblíquo

Figura 2.16 – Lançamento oblíquo de um objeto para um ângulo genérico.

jˆ y
vy vy = 0
vx v0,x g
î v0,y v0,x
v⃗0
H
θ vy
x
v0,x
Solo
R

Fonte: Arquivo Pessoal.

no eixo y altera a sua direção e o objeto inicia o seu movimento de queda com aceleração
constante.
Por questões didática, vamos desconsiderar os efeitos da resistência do ar sob o projétil
ao longo do percurso de modo que o movimento possa ser decomposto em um movimento
uniforme ao longo do eixo horizontal (ou eixo x) e um movimento uniformemente variado
ao longo do eixo vertical (ou eixo y) e, como consequência, a trajetória seja um segmento de
parábola. Além disso, desconsideraremos a rotação da Terra e a sua rotação. A curvatura da
Terra tem de ser considerada no movimento de um míssil de longo alcance e a resistência
do ar é de importância fundamental para o movimento de um pará-quedista. Como todo
modelo este possui suas limitações [20]. Dito de outra forma, faremos uma aproximação do
movimento do projétil lançado obliquamente, haja vista que a resistência do ar oferecida ao
corpo depende de sua geometria e da velocidade inicial. Para mais detalhes sobre os efeitos
da resistência do ar, consulte livros que abordem conceitos de Mecânica dos Fluidos.
Aqui, estamos interessado na determinação dos seguintes parâmetros, a saber:

1. Altura máxima atingida pelo projétil;

2. Alcance máximo do projétil; e

3. Tempo de voo do projétil.

Para descrever o movimento do projétil, nós iremos decompor o vetor velocidade inicial,
como segue:

v0,x = v⃗0 · cos θ (2.40)

v0,y = v⃗0 · sin θ (2.41)

No eixo y, o movimento é retilíneo uniformemente variado e, portanto, a aceleração é


constante. Logo, o tempo de subida do projétil, é descrito como o tempo que o projétil leva
para atingir a altura máxima e, sendo obtido por:
Capítulo 2. Cinemática 49

v0,y v0 · sin θ
vy = v0,y − g · t ∴ t= = (2.42)
g g

A expressão matemática para altura máxima (H) é obtida a partir da equação de Torri-
celli, como segue:

2
v0,y v02 · sin2 θ
vy2 2
= v0,y −2·g · H ∴ H= = (2.43)
|{z} 2·g 2·g
∆y

No eixo x, o movimento é retilíneo uniforme e, portanto, a aceleração é nula (a = 0).


Assim sendo, o alcance máximo (R), que é a distância entre o ponto de partida e o de chagada,
é expresso por:

R = v · cos θ ·t (2.44)
|{z} |0 {z }
x−x0 v0,x

em que R representa o alcance máximo e t é o tempo de voo do projétil, isto é, a soma do


tempo de subida e o tempo de descida. Substituindo a equação 2.42 na 2.44, resulta em:

v2
!
v0 · sin θ
R = v0 · cos θ · 2 · = 0 · (2 · cos θ · sin θ ) (2.45)
g g | {z }
sin 2θ

Assim, chega-se a expressão matemática para o alcance horizontal:

v02 · sin 2θ
R= (2.46)
g

Agora, vamos escrever a função que descreve a trajetória do projétil.

1
y = y0 + v0,y · t − · g · t2 (2.47)
2
Substituindo 2.44 em 2.47 chega-se a:
! !2
x − x0 1 x − x0
y = y0 + v0 · sin θ · − ·g ·
v0 · cos θ 2 v0 · cos θ
Isto nos leva a:

(x − x0 )2
!
y = y0 + (x − x0 ) · tan θ − g · (2.48)
2(v02 · cos2 θ)

A equação 2.48 descreve uma parábola. Se y0 = 0 e x0 = 0 podemos re-escrever a equação


da parábola da seguinte forma:
50 2.4. Lançamento Oblíquo

x2
!
y = x · tan θ − g · (2.49)
2(v02 · cos2 θ)

Saiba Mais
€ Para observar a influência do ângulo na trajetória de um projétil, realize o experimento
disponível em: https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations/projectile-motion.

Saiba Mais
Æ Assista ao vídeo de um experimento sobre lançamento de projétil disponível em:
https://youtu.be/UxP77692yeM

Agora, vamos explorar alguns exemplos sobre lançamento de projétil para aprofundar a
discussão teórica.
Exemplo 2.13 Um jogador de futebol norte-americano tem de chutar uma bola de
um ponto a 36 m (ao redor de 40 jardas) do gol, e metade da plateia espera que a bola
passe por cima da barra do gol, que tem 3,05 m de altura. Quando chutada, a bola
deixa o solo com uma velocidade escalar de 20 m/s fazendo um ângulo de 53 ° com
a horizontal. (a) Por quanto a bola ultrapassa ou fica abaixo da barra? (b) A bola se
aproxima da barra enquanto ainda está subindo ou quando está caindo? [19]

Solução 2.13 Vamos calcular o tempo que bola leva para alcançar a posição final, uma
vez que o exercício nos forneceu os valores velocidade inicial, o ângulo de lançamento
e a posição final, como segue:

x − x0
x = x0 + v0,x · t ∴ t= (2.50)
v0,x

Assim, o tempo será de:

36, 0 m − 0
t= ∴ t = 2, 99 s (2.51)
(20 m/s) · cos 53 °
Como a aceleração é constante na vertical, tem-se:
1
y = y0 + v0,y t − gt 2 (2.52)
2
Assim sendo,

1
y = 0 + (20 m/s)(2, 99 s) − (9, 8 m/s2 )(2, 99 s)2 ∴ 3, 94 m (2.53)
2
Dito isto, verifica-se que a bola passa a barra por 0,89 m.
(b) No ponto mais alto, o tempo pode ser obtido da seguinte forma:
Capítulo 2. Cinemática 51

v0,y − vy
vy = v0,y − gt ∴ t= (2.54)
g

Diante do exposto,

(20 m/s) · sin 53 ° − 0


t= ∴ t = 1, 63 s (2.55)
9, 8 m/s2
Portanto, a bola atinge o gol na descida da bola.

Exemplo 2.14 Uma pedra é arremessada do alto de um prédio em um ângulo de 30 °


com a horizontal e com velocidade escalar inicial de 20 m/s, como na Figura 2.17. Se
a altura do prédio é de 45 m, (a) por quanto tempo permanece a pedra "em voo"? (b)
Qual é a velocidade escalar da pedra logo antes de alcançar o solo? (c) Qual é o alcance
máximo da pedra? [19]

Figura 2.17

Fonte: Retirado de [19].

Solução 2.14 As componentes da velocidade no eixo x e y são:

v0,x = v0 · cos θi ∴ v0,x = 20 m/s · cos 30° ∴ v0,x = 17, 3 m/s (2.56)

v0,y = v0 · sin θi ∴ v0,y = 20 m/s · sin 30° ∴ v0,y = 10, 0 m/s (2.57)

(a) Para encontrar o tempo, analisaremos o movimento na vertical, como segue:


1
y = y0 + v0,y t − gt 2 (2.58)
2
52 2.4. Lançamento Oblíquo

1
−45 m = 0 + (10, 0 m/s)t − (9, 8 m/s2 )t 2 (2.59)
2
Portanto, temos que:

(4, 9 m/s2 ) t 2 − (10, 0 m/s) t − 45 m = 0 (2.60)


| {z } | {z } |{z}
a b c

A equação 2.60 é uma equação do 2º grau, cujas raízes podem ser obtidas por meio da
equação de Bhaskara, como segue:


−b ± ∆
x= (2.61)
2·a

em que δ é calculada da seguinte forma:

∆ = b2 − 4 · a · c (2.62)

∆ = (−10)2 − 4 · (4, 9) · (−45) ∴ ∆ = 982 (2.63)

Logo, os valores positivos e negativos da raízes são:



−(−10) ± 982
x= (2.64)
2 · 4, 9
Assim, o valor positivo da raiz é:

10 + 982
x+ = = x+ = 4, 22 s (2.65)
2 · 4, 9
Por outro lado, o valor negativo da raiz é:

10 − 982
x− = = x− = −2, 18 s (2.66)
2 · 4, 9
Como o tempo não pode assumir valores negativos, logo, o valor para o tempo é de
4,22 s.
(b) A velocidade da pedra logo antes de alcançar o solo é:

vy = v0,y − gt ∴ vy = 10 m/s − 9, 8 m/s2 · 4, 22 s ∴ vy = −31, 4 m/s (2.67)

Na horizontal, isto é, eixo x o movimento é retilíneo uniforme, logo, a velocidade é


constante. Assim sendo, a velocidade final será obtida por:
q q
2
v= v0,x + vy2 ∴ v = (17, 3 m/s)2 + (−31, 4 m/s)2 ∴ v = 35, 9 m/s (2.68)
Capítulo 2. Cinemática 53

(c) O alcance máximo da pedra é dada por:

x = x0 + v0,x t ∴ x = 0 + (17, 3 m/s) · (4, 22 s) ∴ x = 73, 0 m (2.69)

Exemplo 2.15 Um jogador de basquete que tem 2,0 m de altura está parado no solo
a 10 m da cesta, como mostra a figura 2.18. Se ele arremessa a bola a um ângulo de
40 ° com a horizontal, com que velocidade escalar inicial ele tem de lançar a bola de tal
forma que ela passe pelo aro sem tocar na tabela? A altura da cesta é de 3,05 m [19].

Figura 2.18

Fonte: Retirado de [19].

Solução 2.15 No eixo x, a equação do movimento é descrita por:

x − x0 10 m
x = x0 + v0,x · t ∴ t = ∴ t= (2.70)
v0 · cos 40 ° v0 · cos 40 °

Por sua vez, no eixo y, a equação do movimento é descrita por:


1
y = y0 + v0,y · t − g · t 2 (2.71)
2
Substituindo os valores dados pelo problema na equação 2.71 nos leva a:

3, 05 m = 2, 0 m + v0 · sin 40 ° · t − (4, 9 m/s2 ) · t 2 (2.72)


Substituindo 2.70 em 2.72, resulta em:
! !2
10 m 2 10 m
1, 05 m = v0 · sin 40 ° · −(4, 9 m/s ) · (2.73)
v0 · cos 40 ° v0 · cos 40 °
| {z }
=(10 m)·tan 40 °

Isolando v0 na equação 2.73 nos leva a seguinte sentença matemática:


s
490
v0 = ∴ v0 = 10, 67 m/s (2.74)
7, 34 · (cos 40 °)2
54 2.4. Lançamento Oblíquo

Diante do exposto, o jogador deve lançar a bola com uma velocidade inicial de
10,67 m/s.

Exemplo 2.16 Um tenista a 12,6 m da rede atinge a bola a 3,0 ° acima da horizontal.
Para ultrapassar a rede, a bola tem de subir pelo menos 0,330 m. Se a bola passa exa-
tamente pela rede no ponto mais alto de sua trajetória, com que rapidez estava ela se
movendo quando deixou a raquete? [19]

Solução 2.16 No eixo x, a equação do movimento será descrita por:

x − x0 12, 6 m
x = x0 + v0,x · t ∴ t = ∴ t= (2.75)
v0 · cos 3 ° v0 · cos 3 °

Por sua vez, no eixo y, a equação do movimento será descrita por:


1
y = y0 + v0,y · t − g · t 2 (2.76)
2
Substituindo os valores dados pelo problema na equação 2.76 nos leva a:

0, 330 m = 0 m + v0 · sin 3 ° ·t − (4, 9 m/s2 ) · t 2 (2.77)


| {z }
v0,y

Substituindo 2.75 em 2.77, resulta em:


! !2
12, 6 m 2 12, 6 m
0, 330 m = v0 · sin 3 ° · −(4, 9 m/s ) · (2.78)
v0 · cos 3 ° v0 · cos 3 °
| {z }
=tan 3 °·12,6 m
!
778, 99
0, 330 m = 0, 660 m − 2 (2.79)
v0 · cos2 3 °
Isolando o termo v0 na equação 2.79 nos leva a seguinte sentença matemática:
r
778, 99
v0 = ∴ v0 = 48, 6 m/s (2.80)
0, 33 · cos2 3 °
Diante do exposto, verifica-se que a bola deixou a raquete com uma velocidade de
48,6 m/s.

Leitura recomendada
` Leia o artigo intitulado ’Quatro textos de Galileu’ de Carlos Arthur Ribeiro do Nasci-
mento, disponível em https://www.scielo.br/j/trans/a/bqx4GcJYjWBnP7xFzZg7Dkf/
?format=pdf.
Capítulo 2. Cinemática 55

Considerações sobre o capítulo

Neste capítulo, você estudou o movimento de uma partícula em trajetória retilínea em


uma, duas e três dimensões através do conceito de deslocamento, velocidade e aceleração,
conforme ilustra o mapa conceitual disposto na figura 2.19.

Figura 2.19 – Mapa conceitual sobre movimento retilíneo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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