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Unidade II Cinemática

1. Situando a Temática

No estudo dos movimentos dos corpos precisamos entender o como


um corpo se movimenta e porque um corpo se movimenta. O como e o por-
que dos movimentos dos corpos compõem a mecânica; a mais antiga das ci-
ências físicas.
A CINEMÁTICA é a parte da mecânica que descreve os movimentos dos corpos.
As trajetórias, as velocidades e as acelerações dos objetos. Este será nosso
objetivo para esta unidade.

2. Problematizando a Temática

O universo está em movimento. Todas as coisas que estão no univer-


so estão em movimento. Mesmo as coisas aparentemente em repouso, como
seu computador, estão em movimento com a Terra ao redor do Sol; com a
órbita do Sol ao redor do centro da Via Láctea; da via Láctea em relação às
outras galáxias. Então, o estudo dos movimentos dos corpos tem que fazer
parte das ciências físicas.
Quando um ônibus espacial é enviado à Lua, precisamos descrever,
antecipadamente, a posição do ônibus a cada instante (descrever sua trajetó-
ria), sua velocidade a cada instante e sua aceleração a cada instante. Isto é a
CINEMÁTICA. Estes são os conceitos que desenvolveremos nesta unidade.

Entretanto, nesta unidade os objetos em estudo terão seus movimen-


tos limitados às translações. Isto significa que todos os corpos serão tratados
como partículas; como se todas as forças estivessem atuando num único pon-
to. Nós falaremos de partículas, corpos e objetos indiscriminadamente, mas
tendo em mente, sempre, que eles se comportam como partículas. Sem rota-
ção. É preciso não confundir movimento de rotação com trajetória circular.
A Terra tem um movimento de translação na sua órbita quase circular em
torno do Sol e um movimento de rotação em torno de seu eixo. Os movimen-
tos de rotação serão estudados nas unidades VI e VII.

3. Vetor Posição e Vetor Deslocamento

h VETOR POSIÇÃO
o
O vetor r que localiza uma partícula no espaço tridimensional em
relação a um sistema de coordenadas é chamado de VETOR POSIÇÃO. Nada
mais justo que chamar de vetor posição o vetor que dá a posição da partícu-
o
la. O vetor r será escrito como:
G  
r x i  y ĵ  z k (2.1)
o
onde x, y e z são as projeções do vetor r .

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Se a partícula estiver em movimento, então sua posição estará vari-
ando com o tempo e, consequentemente, também o vetor posição estará vari-
o
ando com o tempo. Um vetor posição que varia com o tempo r (t) (Fig. 2.1)
será escrito, até o fim desta disciplina, como:
G   
r (t ) x(t ) i  y (t ) i  z (t ) k (2.2)

Isto significa que as coordenadas x(t), y(t) e z(t) estão variando com
o tempo.

h VETOR DESLOCAMENTO
Como vimos na unidade anterior, o VETOR DESLOCAMENTO é o vetor que repre-
senta a mudança de posição do corpo durante um intervalo de tempo 't. As-
sim, se um corpo estiver na posição {
A no instante t (início do intervalo de
tempo) e na posição {
B no instante t + 't (final do intervalo de tempo), en-

tão o seu deslocamento será dado por:


G G G
'rAB rB  rA
G G (2.3)
r (t  't )  r (t )
Se olharmos para a definição do vetor deslocamento Eq.2.2, podemos escre-
ver o vetor deslocamento em termos das componentes do vetor como
G  G 
'rAB [ x(t  't ) i  y (t  't ) j  z (t  't ) k ]
  
 [ x(t ) i  y (t ) i  z (t ) k ] (2.4)
 G 
'x i  'y j  'z k
A Fig. 2.2 mostra um vetor deslocamento em duas dimensões. O vetor des-
locamento resulta em
G G G  G
'rAB ( x B  x A ) i  ( y B  y A ) j 'x AB i  'y AB j (2.5)

Quando estivermos tratando de problemas em uma única dimensão, o vetor


deslocamento terá apenas uma componente diferente de zero; x(t), y(t) ou
z(t).

4. Velocidade Média e Velocidade Instantânea


h VELOCIDADE MÉDIA
O conceito de velocidade média é mais matemático que intuitivo.
Não tem muito a ver com as nossas observações do dia-a-dia. Vejamos.
Na Fig. 2.2 a partícula vai de {
A para { B num intervalo de tempo

o
't. A velocidade média, v , da partícula neste intervalo de tempo é definida
por
G
G 'r vetor deslocamento (vetor)
v (2.6)
't intervalo de tempo (escalar)
o
Na definição acima, o vetor deslocamento ' r é sempre o vetor ,que
vai da posição que a partícula ocupa no início do intervalo de tempo (posi-
ção inicial) até a posição que a partícula ocupa no final do intervalo de tem-
o o o
po (posição final), como na Eq. 2.2. Assim, ' r = r final – r inicial.

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Note que a velocidade média é um vetor e a barra, que está sobre o
vetor, indica o valor médio. Utilizando a Eq. 2.4 obtemos
G 'xG 'y G 'z G
v i j k (2.7)
't 't 't

Suponhamos que você saia de sua casa, vá até a padaria, compre um


pão e volte para casa. O vetor deslocamento total correspondente ao trajeto
casa o padaria o casa é nulo, já que o vetor posição no final do intervalo
de tempo é igual ao vetor posição do início do intervalo de tempo. Olhando
para a definição acima, concluímos que a sua velocidade média no trajeto ida
e volta é nula. Não importa o quão rápido você tenha ido e voltado.

h VELOCIDADE INSTANTÂNEA
Velocidade é sempre um deslocamento por unidade de tempo. A ve-
locidade instantânea é aquela medida num intervalo de tempo infinitesimal.
É claro que num intervalo de tempo infinitesimal o deslocamento também
será infinitesimal.
A velocidade instantânea é definida como:
G
G 'r
v (t ) lim
' t o 0 't
G G G (2.8)
r (t  't )  r (t ) d r (t )
lim
't o0 't dt

Lembrando da definição do vetor posição, escrevemos:


G d x(t ) G d y (t ) G d z (t ) G G G G
v (t ) i j k vx i  v y j  vz k (2.9a)
dt dt dt

Atenção:
As componentes vx, vy, e vz do vetor velocidade ficam:
d x (t ) d y (t ) d z (t )
vx ; vy ; vz (2.9b)
dt dt dt

O vETOR velocidade instantânea é a derivada do vetor posição. Como


o vetor posição localiza a partícula a cada instante, então ele dá a trajetória
da partícula. Desta forma, por ser a derivada, a velocidade instantânea é
sempre tangente à curva descrita pela partícula.

5. Velocidade Escalar e Velocidade Escalar Média

h VELOCIDADE ESCALAR
A velocidade escalar é o módulo da velocidade instantânea. É a ve-
locidade sem direção e sem o sentido. É a velocidade marcada no velocíme-
tro do automóvel. Apenas olhando para o velocímetro nós não sabemos se
estamos indo ou voltando. Dá para saber apenas se estamos indo rápido ou
devagar. Portanto,
G
v || v (t ) || módulo da velocidade instantânea (2.10)

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h VELOCIDADE ESCALAR MÉDIA
A velocidade escalar média é a que estamos acostumados no dia a
dia. É a distância total percorrida, num dado intervalo de tempo. Não impor-
ta o que aconteceu pelo caminho. Ela é definida como:
'S espaço percorrido (escalar)
v e. m. (2.11)
't intervalo de tempo (escalar)

6. Aceleração Média e Aceleração Instantânea

A aceleração de uma partícula mede a taxa de variação de sua velo-


cidade com o tempo. Assim, quando a velocidade de uma partícula varia, di-
zemos que ela está sendo acelerada.
o
Se a velocidade de uma partícula sofre uma variação ' v num inter-
valo de tempo 't, definimos aceleração média como:
G
G 'v
a (2.12a)
't
Note que a aceleração média é um vetor constante. É constante por-
que é um valor médio. O vetor velocidade tem componentes vx, vy e vz, como
na Eq 2.9b. Assim, analogamente ao que fizemos para a velocidade média,
Eq 2.7, encontramos
G ' vx G ' v y G ' vz G
a i j k (2.12b)
't 't 't
h ACELERAÇÃO INSTANTÂNEA
A aceleração instantânea mede a variação da velocidade de uma par-
tícula num intervalo de tempo infinitesimal:
G
G 'v
a (t ) lim
't o 0 't
G G G (2.13)
v (t  't )  v (t ) dv
lim
't o 0 't dt

Utilizando a Eq. 2.9, encontramos:


G d v x (t ) d v y (t ) d v z (t )
a (t ) î  ĵ  k̂ a x î  a y ĵ  a z k̂ (2.14)
dt dt dt

Atenção:
As componentes ax, ay e az do vetor aceleração, são

d v x (t ) d v y (t ) d v z (t )
ax ; ay ; az (2.15)
dt dt dt

A aceleração instantânea é um vetor que pode depender do tempo e


da posição. Ou seja, podemos nos deparar com um problema onde
o o
a = a (x, y, z, t).
Nos nossos problemas, abordaremos os casos especiais em uma e
duas dimensões, com acelerações constantes. Resolveremos também o pro-
blema do movimento circular.

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7. Movimento Em Uma Dimensão Com Aceleração Constante

h MOVIMENTO RETILÍNEO
O movimento restrito a uma única dimensão, movimento retilíneo.
Por exemplo, o de um carro que anda com velocidade constante em uma pis-
ta reta e plana, ou o de um corpo que cai em queda livre partindo do repouso,
ou o de um bloco preso a uma mola que oscila sobre uma mesa plana e assim
por diante.
Os três exemplos acima correspondem a movimentos em uma di-
mensão, i.e., retilíneos, mas com características diferentes.
i O carro, andando com uma velocidade que não varia — velocida-
de constante —, caracteriza um movimento retilíneo uniforme
(MRU) na horizontal. Um movimento sem aceleração, ou com
aceleração nula.

i O corpo caindo em queda livre caracteriza um movimento retilí-


neo na vertical. Desta vez, como ele está sujeito a uma aceleração
constante (da gravidade), o movimento será uniformemente vari-
ado.
i O bloco que oscila está sujeito à força de uma mola que varia com
a posição. Então a aceleração também variará com a posição.
Neste caso nós teremos um movimento ainda linear, mas com a-
celeração variável. Mais complicado que os anteriores.

Consideremos um corpo que se movimenta na direção horizontal


o
com aceleração, a , constante (Fig. 2.3c).

h É preciso que o vetor aceleração seja constante para que o movimento se-
o
ja retilíneo; a = constante.

Vamos escolher a direção horizontal para colocar o nosso eixo x.


Assim, as acelerações nas direções y e z serão nulas. Da Eq. 2.15 encontra-
mos:
d v x (t )
ax constante
dt

onde ax é a aceleração na direção x. Integrando a relação acima, encontra-


mos:

d v x (t ) a x dt Ÿ vx ³ a x dt ³
a x dt a x t  constante .

Assim, a velocidade do corpo será uma função linear do tempo,


Fig.2.3b:
vx v0 x  ax t (2.16)

Onde v0x é a velocidade do corpo no instante t = 0.


A posição x em função do tempo é obtida a partir da Eq. 2.9b:

159
d x (t )
v x (t )
dt
Integrando a Eq.2.16 encontramos:

d x(t ) v x dt Ÿ x (t ) ³ v dt ³ (v
x 0x  a x t ) dt

v 0 x t  12 a x t 2  constante

Finalmente.

x (t ) x 0  v 0 x t  12 a x t 2
(2.17)

A Eq 2.17 é chamada de equação horária da partícula. A Fig. 2.3a


mostra o gráfico de x(t). Observe que fazendo t = 0 na Eq. 2.17, obtemos x =
x0 que é a posição inicial da partícula.
A Fig. 2.3c mostra o gráfico da aceleração (constante) de uma partí-
cula em função do tempo. Note que quando a aceleração é constante, a acele-
ração média é igual à aceleração instantânea. A velocidade é mostrada na
Fig. 2.3b. Como a velocidade varia linearmente com o tempo, então a velo-
cidade média entre dois instantes t1 e t2, é igual a média das velocidades;
v1  v2
v (2.18)
2
Podemos combinar as Eqs, 2.16 e 2.17 para eliminar o tempo e ob-
termos a relação:
v 2 v02  2 a 'x (2.19)
A Eq. 2.18 pode ser utilizada entre dois instantes tinicial e tfinal. As velocidades
v e v0 correspondem aos instantes final e inicial, respectivamente.

Problema Resolvido 2.1

O motorista de um carro, viajando por uma rodovia a 108 km/h (30 m/s),
freia ao avistar um obstáculo a 200 m na sua frente. Ele bate no obstáculo 10
s depois de acionar os freios. (a) Qual a desaceleração do automóvel, suposta
constante? (b) Qual a velocidade do carro ao atingir o obstáculo?
SOLUÇÃO: Vamos supor que o movimento aconteça ao longo do sentido po-
sitivo do eixo do x. Vamos considerar, também, ti = 0 o instante quando o
motorista começa a frear e tf.= 10 s o instante que ele bate no obstáculo. Sa-
bemos que x(tf = 0) = 0 e x(t = 10s) = 200 m. Então, da Eq. 2.17, temos:
(a) x(t f ) x 0  v 0 x t f  12 a t 2f
Então,
200  300
200 0  30 u 10  12 a10 2 Ÿ a m / s2
50
 2m / s2
O sinal de menos indica que a aceleração é contrária ao sentido do movi-
mento, i.e., é um movimento uniformemente desacelerado.
(b) Da Eq. 2.16, que dá a velocidade em função do tempo, temos:
vf v x (t f ) v 0 x  a t f Ÿ vf [ 30  ( 2) ˜ 10 ] m / s
10 m / s

160
Apenas para conferir vamos fazer:
v f  v1
'x v ˜ ' t Ÿ 'x 't
2
§ 30  10 ·
¨ u 10 ¸ m 200 m
© 2 ¹

Problema Resolvido 2.2

Um automóvel, que está parado no sinal de trânsito, parte assim que o sinal
fica verde com uma aceleração de 2 m/s2. Nesse mesmo instante um cami-
nhão viajando com velocidade constante de 10 m/s ultrapassa o automóvel.
(a) A que distância, contando a partir do semáforo, o automóvel ultrapassará
o caminhão? (b) Qual será a velocidade do automóvel neste instante?
SOLUÇÃO: Vamos supor, novamente, que o movimento aconteça ao longo
do sentido positivo do eixo do x. Vamos considerar, também, x0 = 0 e ti = 0 o
instante que o semáforo fica verde.
Neste exemplo nós temos o movimento uniforme do caminhão (velocidade
constante) e o movimento uniformemente acelerado do automóvel (acelera-
ção constante). A Fig. 2.4a mostra que os dois veículos têm a mesma posi-
ção x em dois instantes diferentes; em x = 0 e no instante de ultrapassagem.
As equações horárias são:
(a)
xcam (t ) x0  vcamt
e
xaut (t ) x0  v0,aut t  12 aaut t 2
N
0

Quando eles estiverem na mesma posição xcam(tu) = xaut(tu), onde tu é o ins-


tante de ultrapassagem. Assim,
x  v cam t u x 0  v 0,aut t u  12 a aut t u2
N0 N N
0 0 0

Resolvendo para tu, encontramos:


2 v cam 2 u 10
v cam t u 1
2
a aut t u2 Ÿ tu s 10 s
a aut 2
Substituindo em qualquer uma das duas equações horárias obtemos:
xaut (tu ) xcam (tu ) vcam tu 100 m
(b) A velocidade do automóvel neste instante será:
vaut (tu ) v0,aut  aaut tu 0  2 u 10 s 20 m / s

8. Aceleração de Queda Livre

Quando deixamos um objeto cair verticalmente, observamos que ele


é acelerado. Desprezando a resistência do ar, verificamos que esta aceleração
é aproximadamente constante nas proximidades da superfície da Terra. Veri-

161
ficamos também que todos os corpos caem com a mesma aceleração em um
mesmo ponto da superfície, independentemente da sua massa, tamanho ou
forma. Este movimento é chamado de queda livre e esta aceleração, constan-
te, é chamada de aceleração de queda livre, Fig 2.5. A aceleração de queda
livre tem origem no campo gravitacional da Terra. É a aceleração da gravi-
o
dade, g , cujo módulo é aproximadamente igual a 9,8 m/s2, próximo da su-
perfície da Terra.
As equações que encontramos para um movimento com aceleração
constante na horizontal, eixo x, são válidas para o movimento de queda livre
nas proximidades da Terra. Aqui, o movimento acontece ao longo do eixo y.
Assim.

y (t ) y 0  v 0 y t  12 g t 2
v y (t ) v 0 y  g t (2.20)
v1 y  v 2 y
vy
2

Vale também, no intervalo de tempo entre ti e tf , instantes inicial e


final, podemos escrever:
v 2f y vi2y  2 g ( y f  y i ) (2.21)


'y

Problema Resolvido 2.3


Um balão está “estacionado” sobre um lago quando o piloto do balão decide
soltar os lastros para subir, Fig. 2.6. O lastro é largado de uma altura de 4,9
m acima da superfície do lago e cai verticalmente, sem perceber a resistência
do ar. Entretanto, ao penetrar na água ele afunda com velocidade constante
devido à resistência da água. O lastro atinge o fundo do lago 5 s após ter sido
solto do balão. (a) Qual a profundidade do lago? (b) Qual a velocidade mé-
dia do lastro desde { A até { C ? (c) Se a água fosse retirada, qual deveria ser

a velocidade inicial (na vertical) do lastro para que ele chegasse ao fundo do
lago vazio nos mesmos 5 s?
(a) Desta vez o movimento acontece na vertical, na direção do eixo y. Fa-
remos yC = 0
2 ( yA  yB )
y B y A  v oy t B  12 g t B2 Ÿ t B
N g
0

2 u 4,9
s 1s
9,8
Neste instante a velocidade da pedra é:
v By v 0y  g t B Ÿ v By (0  9,8 u 1 ) m / s  9,8 m / s
O sinal negativo indica que a velocidade tem sentido contrário ao sentido
positivo do eixo do y. Afundando com esta velocidade (constante) de B até
C, durante um intervalo de tempo 'tBC = 'ttotal – 'tAB = 4s, a lastro percorre
uma distância dada por:

162
yC y B  v By 't BC Ÿ yB  yC v By 't BC
 ( 9,8 u 4) m 39,2 m

Portanto o lago tem uma profundidade de 39,2 m.


(b) O vetor velocidade média, definida na Eq. 2.6, é dado por
G
G 'r 'y AC ˆ y C  y A ˆ
v j j
't 't AC 't AC
G § 0  44,1 ·
v ¨ m / s ¸ ˆj (8,82 m / s) ˆj
© 5 ¹
O módulo do vetor velocidade média é 8,82 m/s.
(c) A velocidade inicial do lastro é obtida a partir da equação horária:
yC yA  vAyt voo  12 g t voo
2

Como queremos que o lastro demore os mesmos 5,0 s para chegar ao fundo,
obtemos:
( yC  yA ) 1  (0  44,1) 1
v Ay  2 g t voo [  2 9,8 u 5] m / s
t voo 5
15,68 m / s

9. Movimento em Duas Dimensões

Nas duas últimas seções estudamos movimentos em uma dimensão;


numa reta. Agora, estudaremos dois movimentos, diferentes, que acontecem
no plano: Movimento de um Projétil e o Movimento Circular.

9.1 Projéteis

Chamaremos de projétil um corpo que é lançado, de alguma forma,


com uma componente de velocidade na horizontal. Embora o movimento do
projétil seja um movimento de queda livre, uma vez que ele está sujeito ape-
nas à ação da gravidade, ele acontece no plano quando visto do referencial
Terra. Daí a diferença.
O vetor posição da Eq. 2.2, que localiza a partícula no plano, fica:
G
r (t ) x(t ) î  y (t ) ĵ (2.22)
As acelerações ao longo dos eixos x e y são

ax 0 e ay g 9,8 m / s 2

Como as duas componentes do vetor aceleração são constantes, o ve-


tor aceleração é constante. É preciso que o vetor seja constante, e não apenas
o seu módulo, para que tenhamos um movimento uniformemente variado.
Ao estudar o movimento do corpo no plano, nós podemos trabalhar
com as componentes x(t) e y(t) do vetor posição, separadamente. Assim, a

163
partir das Eqs. (2.17) e (2.20), encontramos as equações horárias para o mo-
vimento do projétil ao longo das direções x e y, como:
­ x (t ) x 0  v 0 x t
x(t ) x 0  v 0 x t  12 a x t 2 Ÿ ® (2.23)
¯ ax 0
e
­° y (t ) y 0  v 0 y t  12 g t 2
y (t ) y 0  v 0 y t  12 a y t 2 Ÿ ® (2.24)
°̄ a y g
Ou seja, a equação horária x(t) na direção x é aquela que corresponde a um
movimento retilíneo e uniforme com ax = 0 e vx = constante e a equação ho-
rária y(t) na direção y é aquela que corresponde a um movimento retilíneo
uniformemente variado com ay = constante = – g.
A Fig. 2.7 mostra a trajetória de um projétil lançado a partir do solo
o
com uma velocidade inicial v 0, que forma um ângulo T 0 com a horizontal.
o
Em termos das componentes o vetor v 0 é escrito como:
G
v v 0 cos T 0 î  v 0 sen T 0 ĵ (2.25)



v0 x v0 y

h A TRAJETÓRIA
Apenas para facilitar os cálculos (sem perda de generalidade), vamos
colocar a origem do nosso sistema de coordenadas no ponto de lançamento
do projétil, ou seja, x0 = 0 e y0 = 0. Da Eq. 2.23 temos:
x
t .
v0 x
Substituindo em (2.24) obtemos a equação da trajetória, y(x),
v0 y 1 1
y (t ) x  g 2 x2
v0 x 2 v0 x
(2.26)
g
tan T x  2 x2
2 v0 cos 2 T
que é a equação de uma parábola. O sinal negativo no termo quadrático indi-
ca que é uma parábola com a “boca” voltada para baixo.

h O ALCANCE
Chamamos de alcance a distância total, R, que o projétil percorre na
direção x (horizontalmente), independente do ponto de lançamento. Esta dis-
tância é sempre dada por:
R v 0 x t voo (2.27)

Onde tvoo é o tempo que o projétil fica no ar. Quer dizer, a distância
percorrida pelo projétil na direção horizontal é igual à velocidade do projétil
na direção x — velocidade constante — vezes o tempo de duração do movi-
mento.
Em particular, para um projétil lançado nas condições da Fig. 2.7,
o tempo de vôo é calculado fazendo y(tvoo) = yfinal = 0. Então.
y (t voo ) y 0  v0 y t voo  12 gt voo
2
Ÿ v0 y t voo  12 gt voo
2
0

N
0 0

164
2 v0 y
Portanto, tvoo .
g
Assim, o alcance fica
2v0 y v0 x 2 v02 sen T cos T v02
R sen (2T) (2.28)
g g g
Vemos então que o alcance de um projétil, cuja posição final está no
mesmo nível que sua posição inicial ( yfinal = yinicial ), será máximo quando T
= 45º.

v 02
h O resultado R sen (2T) é válido, apenas, para lançamentos onde yfinal
g
= yinicial. O resultado que vale sempre é o da Eq. (2.27).

Problema Resolvido 2.4


Você arremessa uma bola em direcão a uma parede com uma velocidade de
25 m/s fazendo um ângulo de 37° acima da horizontal (Fig. 2.8). A parede
está a 20 m do ponto de lançamento da bola. (a) A que distância acima do
ponto de lançamento a bola bate na parede? (b) Quais são as componentes
horizontal e vertical da sua velocidade quando ela bate na parede? (c)
Quando ela bate, ela já passou do ponto mais alto da sua trajetória? (use g =
10 m/s2, cos 37° = 0,8 )
SOLUÇÃO:
(a) Chamaremos de tf o instante (final) quando a bola bate na parede. Preci-
saremos saber este instante para calcularmos a posição final y(tf). O tempo
de vôo da bola é igual ao tempo que a bola gasta para percorrer 20 m na ho-
rizontal com um velocidade vox = vocos(T) = 20 m/s:
xf  xo 20
xf xo  vox tf Ÿ tf s 1s
vox 20

Então, a posição yf da bola será:

yf y (t f ) y o  voy t f  12 g t f2
[0  (25 u 0,6) u 1  12 10 u 12 ] m
10 m
o
(b) As componentes de v f são:
vfx vox 20 m/s
vfy voy  gt f (15  10 u 1) m/s 5 m/s
(c) Como a componente y da velocidade final é positiva, então concluímos
que a bola ainda está subindo. Logo a bola ainda não passou pelo máximo.

165
Problema Resolvido 2.5
Quando o projétil da Fig. 2.9, lançado da posição {
A no solo, passa pela po-
o ^ ^
sição {
B a 15 m de altura, sua velocidade é v B = (8 m/s)i + (10 m/s)j . (a)
o
Determine o vetor velocidade v A no instante do lançamento. (b) Quanto
tempo o projétil permanece no ar (tempo de vôo) até atingir o solo no mes-
mo nível? (c) Qual a altura máxima atingida pelo projétil? (d) Determine o

o
vetor velocidade média v CD desde o instante que o projétil passa pelo ponto
de altura máxima até o instante que ele atinge o solo.
SOLUÇÃO:
(a) O projétil está a 15 m do solo em dois instantes diferentes: na subida e na
o
descida. Entretanto, como a componente y da velocidade v B é positiva, con-
cluímos que o projétil ainda está subindo. Desta forma, podemos calcular a
componente vAy usando a Eq. 2.21.
2
v By v 2Ay  2 g ( y B  y A ) Ÿ v Ay 2
v By  2 g ( yB  y A )

100  2 u 10 u 15 m/s
20 m/s
o š š
Desta forma, v A = (8 m/s) j + (20 m/s) j .
(b) Como o projétil atinge o solo no mesmo nível em que foi lançado, a
componente y da velocidade final será igual à componente y inicial, com
sentido contrário (vDy = – vAy). Então,
v Dy v Ay  g t voo com v Dy  v Ay

2 v Ay
Portanto, t voo 4s
g
(c) A altura máxima alcançada pelo projétil é yC. Neste instante a componen-
te y da velocidade é nula. Assim temos:
2
vA y
v C2 y 2
vA y  2 g ( yC  yA ) Ÿ yC 20 m
2g

o
(d) A velocidade média v CD é dada por:
G G   
G rD  rC G
v CD com rD R i v Ax t voo i (32 m ) i
't
G R   
rC i  H j (16 m ) i  ( 20 m ) j
2

Finalmente,
 
G (16 m ) i  (20 m ) j  
vCD (8 m/s ) i  (10 m/s ) j
2s

166
9.2 Movimento Circular

Outro exemplo de movimento que acontece no plano é o de uma par-


tícula que descreve uma trajetória circular como aquela mostrada na Fig.
2.10. Nós vamos considerar nesta seção apenas os movimentos circulares u-
niformes, i.e., aqueles onde o módulo da velocidade permanece constante.

h POSIÇÃO ANGULAR
A Fig. 2.11 mostra uma partícula descrevendo uma trajetória circu-
lar. Vamos considerar que a velocidade da partícula tenha de módulo cons-
tante.
Para localizarmos a partícula no círculo, precisamos conhecer apenas
o ângulo T. Como o ângulo está mudando a medida que a partícula se deslo-
ca, nós precisamos conhecer T(t). Esta é a posição angular da partícula.
Como na geometria, ângulos no sentido anti-horário serão positivos e ângu-
los no sentido horário serão negativos.

h DESLOCAMENTO ANGULAR
Quando a partícula “gira” de A para B num intervalo de tempo 't, o
ângulo muda de TA para TB. Isto corresponde a um deslocamento angular
'T$% = TB  TA.

h VELOCIDADE ANGULAR MÉDIA E VELOCIDADE INSTANTÂNEA


A velocidade angular média é definida como
'T T final  T inicial
Z (2.29)
't 't
onde Tfinal é a posição angular no final do intervalo de tempo e Tinicial é a po-
sição angular no início do intervalo de tempo.
A velocidade angular instantânea é a velocidade medida quando o
intervalo de tempo tende a zero. Assim,
T(t  't )  T(t ) dT(t )
Z(t ) lim
't o 0 't dt
Nesta seção nós trataremos de problemas onde a velocidade angular
 = Z. Assim, escolhendo a posição inicial T = 0 o deslo-
é constante, então Z 0

camento angular da partícula T(t) é escrito como


T(t ) Zt (2.31)

h ACELERAÇÃO RADIAL
o
Da Fig. 2.11 vemos que o vetor posição r (t) é escrito, em termos
das componentes como
G
r (t ) x(t ) î  y (t ) ĵ ( R cos T) î  R sen (T) ĵ
onde R é o raio da órbita. Com a Eq. 2.31, escrevemos
G
r (t ) ( R cos Zt ) î  ( R sen Zt ) ĵ (2.32)

167
Derivando a Eq. 2.32 em relação ao tempo, encontramos a velocida-
o
de v (t),
G
G d r (t )
v (t ) (  RZ sen Zt ) î  ( RZ cos Zt ) ĵ
dt

Derivando, agora, a Eq. 2.33 em relação ao tempo, encontramos a aceleração


o
a (t) do movimento;
G
G d v (t )
a (t ) ( RZ 2 cos Zt ) iˆ  ( RZ 2 sen Zt ) ˆj
dt
> @
(2.33)
Z 2 ( R cos Zt ) iˆ  ( R sen Zt ) ˆj  Z 2 r
 G

Portanto, no movimento circular uniforme a aceleração é um vetor


o
que tem a mesma direção do vetor r (t), mas tem o sentido contrário ao do
o
vetor r (t). Ou seja, a aceleração é um vetor que tem a direção radial e apon-
ta para o centro. Por esse motivo (apontar para o centro) esta aceleração re-
cebe o nome de aceleração centrípeta.
O módulo da componente radial da aceleração (componente centrí-
peta) é
G
a radial Z 2 || r || Z 2 R . (2.34)

Note que o módulo da aceleração radial é constante quando a velocidade an-


gular é constante.
Quando a velocidade angular não é constante, então é porque a par-
tícula está sendo acelerada (ou desacelerada). Nestes casos, além da compo-
nente radial a aceleração da partícula tem uma componente tangente à traje-
tória (perpendicular ao raio) como mostra a Fig. 2.10. Ainda assim, em qual-
quer instante a aceleração radial está relacionada com a velocidade angular
como na Eq. 2.34.

h VELOCIDADE ANGULAR E VELOCIDADE LINEAR


A Fig. 2.12 mostra o deslocamento de uma partícula num intervalo
de tempo 't. A partícula se desloca de {
A para {
B ao longo do arco de cir-
o
cunferência 's. O vetor deslocamento está representado pelo vetor ' r . O
espaço percorrido pela partícula está relacionado com o deslocamento angu-
lar por:
's R 'T
Quando o intervalo de tempo tende a zero, os deslocamentos ficam infinite-
simais. Assim,
­ 'r o dr
°
't o 0 Ÿ ® 's o ds Ÿ dr ds R dT
°'T o dT
¯
Então encontramos as relações:
dr dT
R Ÿ v RZ (2.35)
dt dt

168
Substituindo 2.35 em 2.34, encontramos:

v2
a radial (2.36)
R

Esta relação vale instantaneamente, não importando se é um movi-


mento circular uniforme ou não.
Por enquanto nós abordaremos apenas o movimento circular com ve-
locidade constante. Ao abordarmos o tema rotações, aí escreveremos uma
relação equivalente à Eq. 2.35 para a aceleração angular.

Problema Resolvido 2.6

Um astronauta é colocado para girar em uma centrífuga horizontal com um


raio de 5 m. (a) Qual o módulo da sua velocidade escalar se a aceleração
centrípeta (radial) possui um módulo de 7 g? (b) Quantas rotações por
minuto são necessárias para produzir esta aceleração? (c) Qual é o período
do movimento?
(a) A Eq. 2.35b relaciona a aceleração radial e a velocidade escalar. Então
v R a radial 5 u 7 u 9,8 m/s # 18,5 m/s
(b) Da Eq. 2.35a, podemos encontrar a velocidade angular:
v 18,5
Z rad/s 3,7 rad/s
R 5
(c) O período do movimento é
2S 2 u 3,14
T s # 1,7 s
Z 3,7

10. Problemas

Prob 2.1 Você dirige na rodovia interestadual de João Pessoa até Natal, metade do
tempo a 55 km/h e a outra metade a 90 km/h. No caminho de volta você viaja
metade da distância a 55 km/h e a outra metade a 90 km/h. Qual a sua velocidade
escalar média (a) de João Pessoa até Natal, (b) de Natal voltando para San António,
e (c) para a viagem completa? (d) Qual a sua velocidade média para a viagem
completa? (e) Faça um esboço de x contra t para (a), supondo que o movimento é
todo no sentido positivo de x. Indique como a velocidade média pode ser
determinada no esboço.

Prob 2.2 Quando um trem de passageiros de alta velocidade trafegando a 161 km/h
faz uma curva, o maquinista fica chocado ao ver que uma locomotiva entrou
incorretamente no trilho saindo de um ramal e está a uma distância D = 676 m à
frente. A locomotiva está se movendo a 29,0 km/h. O maquinista do trem-bala
aciona os freios imediatamente, (a) Qual deve ser o módulo da desaceleração
constante resultante mínima para se evitar uma colisão? (b) Suponha que o maqui-
nista esteja em x = 0 quando, em t = 0, ele consegue avistar a locomotiva. Faça um
esboço das curvas x(t) representando a locomotiva e o trem de alta velocidade para
as situações nas quais se evita uma colisão por pouco e quando ela não consegue ser
evitada.

169
Prob 2.3 Deixa-se cair (do repouso) uma pedra do alto de um edifício de 60 m de
altura. A que distância acima do chão estará a pedra l ,2 s antes de ela atingir o
chão?

Prob 2.4 Uma bola de golfe é tacada ao nível do solo. A velocidade da bola de
golfe em função do lempo é mostrada na Fig. 2.13, onde t = 0 no instante em que a
bola é tacada, (a) Que distância a bola de golfe percorre na horizontal antes de voltar
ao nível do solo? (b) Qual é a altura máxima acima do nível do solo que a bola
alcança?

Prob 2.5 Dois segundos após ser projetado do nível do chão, um projétil se deslocou
40 m na horizontal e 53 m na vertical acima do seu ponto de lançamento. Quais são
as componentes (a) horizontal e (b) vertical da velocidade inicial do projétil? (c) No
instante em que o projélil alcança a sua altura máxima acima do nível do solo, qual a
distância percorrida na horizontal a partir do ponto de lançamento?

Prob 2.6 Uma bola de futebol é chutada do chão com uma velocidade inicial de 19,5
m/s fazendo um ângulo de 45° para cima. Naquele instante, um jogador a uma
distância de 55 m na direção do chute começa a correr para receber a bola. Qual
deve ser a sua velocidade escalar média para que ele chegue na bola imediatamente
antes dela bater no chão? Despreze a resistência do ar.

Prob 2.7 Uma roda-gigante possui um raio de 15 m e completa cinco voltas em


tomo do seu eixo horizontal por minuto, (a) Qual é o período do movimento? Qual é
a aceleração centrípeta de um passageiro no (b) ponto mais alto e (c) ponto mais
baixo, supondo que o passageiro esteja em um raio de 15 m?

Prob 2.8 O trem-bala francês conhecido como TGV (Train à Grande Vitesse) possui
uma velocidade média programada de 216 km/h. (a) Se o trem faz uma curva àquela
velocidade e o módulo da aceleração que os passageiros sentem deve ser limitado a
0,050g (g = aceleração (a gravidade), qual é o menor raio de curvatura admissível
para os trilhos? (b) A que velocidade o trem deve fazer uma curva com um raio de l
km para que esteja no limite da aceleração?

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