Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vedada, nos termos da lei, a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios, sem
autorização da Editora.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D553i
Didi-Huberman, Georges, 1953-
Invenção da histeria : Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière / Georges Didi-
Huberman ; tradução Vera Ribeiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Contraponto, 2015.
504p. : il. ; 23cm (ArteFíssil)
Tradução de: Invention de l’ hystérie: Charcot et l’ iconographie photographique de la
Salpêtrière
Apêndice / Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7866-115-1
1. Arte e doença mental. 2. Iconografia. I. Ribeiro, Vera. II. Título. III. Série.
15-26765
CDD: 779
CDU: 77.049
A Coleção ArteFíssil se propõe a pensar a
experiência estética no mundo contemporâneo,
refletindo sobre as condições e as forças históricas,
políticas e culturais que marcam seus caminhos. A
coleção publicará textos que contribuem para a
análise das práticas artísticas na atualidade,
enfatizando a influência das novidades conceituais,
tecnológicas e midiáticas. O caráter interdisciplinar
desta proposta visa a ampliar o campo da história da
arte, priorizando diálogos cada vez mais intensos
com a filosofia, a literatura, os estudos de mídia e as
teorias da imagem.
Programa MAR na Academia
Argumento
I. A evidência espetacular
Os desatamentos
O espetáculo
Invenção
O desatamento das loucas
Belas almas
Hipocrisia
O desatamento das imagens
O cristal da loucura
Moral do brinquedo
Desastres da eficácia
Saberes clínicos
O teatro dos crimes
Descida ao inferno
Veni - vidi
Emporium - imperium
Dar nome à histeria
A arte de pôr os fatos para trabalhar
A vida patológica, a natureza morta
A autópsia antecipada no sintoma
Exercício da clínica
Dramaturgia das convocações
Casos
Quadros
Observações, descrições
Curiosidades
Olhadelas, cliques
Lendas e legendas da fotografia
“Eis a verdade”
O museu, suplência do real
A grafia
A “verdadeira retina”
O iconográfico, a previsão
A mínima falha
Exageros do estilo
Traços de loucura
Primeiras provas
Gamação pelas imagens
Salpêtrière, serviço fotográfico
A lenda da memória
A lenda da superfície, a fácies
A lenda da identidade e seus protocolos
Paradoxo da evidência
Exatidão?
Facticidade!
Sujeito?
Traição!
Semelhança?
Vide!
Mil formas, sob nenhuma
“Eis a louca”
O bicho-papão [La bête noire]
A parte vergonhosa
A intratável
Malum sine materia
Paradoxos da causa
Paradoxos do foco
Paradoxo da evidência espetacular
Suspeitas: o sintoma como mentira
“Mas não impede que isso exista”
Extirpar uma forma, ainda assim
Passagem de uma silhueta
Traços de mulheres
II. O encantamento de Augustine
Auras
Quase rosto
A sombra e a lentidão
Pose, espectro, lateralidade
Aura, risco da distância
Contatos da distância
Véu, revelação
Iconografia da aura
Oráculos fotográficos
Aura hysterica
Os três nós
Dissimulação e dissimilação
A expectativa como método (“temporização”)
Um segredo logo visível
Sintoma-tempo (a narrativa impossível)
Tempo de exposição
A expectativa
“Não tenho tempo” (o entreato)
Perder os sentidos (a teatralização)
Ataques e poses
Um quadro clássico
Augustine como obra-prima
O momento escultórico (a contratura)
A mão-morta
O afeto, como algo projetado no alto
O olhar torto da histérica
Medição do olhar, à vontade
Sonhos (teatros, fogo, sangue)
Visões
Êxtases
O esposo infernal
A mulher alterada
Poses do prazer (um corpo duplo)
Gestos afetados
A cena primária, “como uma bofetada em cheio no rosto”
Recalcamentos e ressacas da cena primária
Conversões da cena primária
Lembranças encobridoras da cena primária
Posterioridades
Atentados
Retalhos obstinados de imagens (paradoxos da visibilidade)
Adornos e desvios
A parceria com a solidão
O desejo de cativar
A imposição de seduzir
“Desejar: minha glória” (como a histérica fazia o médico enamorar-
se)
Repetições, encenações
Olhares e toques
Sensibilidades “especiais”
Corpos experimentais
Corpos de sonho
A hipnose comparece - corpos sutis
“Per via diporre” - máquinas sublimes
Manipulações - prodígios dos corpos
Pinceladas - corpos galvanizados
“Estátuas expressivas”
Ofuscar e ensurdecer - quadros vivos
Escaladas, induções, “transferências”
Retratamento dos delírios
O chamariz (a arte de fascinar)
Pavana oculta
O auge do teatro
A repetição ideal
No limiar do crime perfeito
Bela alma, monopólio do espetáculo
O exibidor de coisas passadas
O milagreiro
“Confiem em mim, a fé alivia, orienta, cura...”
Teatro contra teatro
Beleza
Contrato
A cena a não fazer
A paciência extrema
O teatro em chamas
Os ganchos do espetáculo
Gritos
Sobressaltos
Máscara
Tormentos
Cravos, cruzes
Sacrifício
Sangue: segredos
Secreções
Simulacro e tormento
Fuga
O desconcerto e a imagem devolvida
Posfácio
Imagens e doenças
Imagem - sintoma
Sintoma - sublimação
Sublimação - símbolo
Símbolo - síntese
Síntese - mal-estar
Mal-estar - sintoma
Sintoma - imagem
Apêndices
O “museu patológico vivo”
As aulas clínicas de Charcot
A consulta
Prefácio a Revista fotográfica dos hospitais de Paris
Prefácio a Iconografia fotográfica da Salpêtrière, v. I
Prefácio a Iconografia fotográfica da Salpêtrière, v. II
O estrado, o apoio para a cabeça e o tripé fotográficos
A “observação” e a fotografia na Salpêtrière
A “ficha fotográfica” na Salpêtrière
Técnica da fotografia judiciária
O véu do retrato, a aura
O autorretrato “auracular”
A aura hysterica (Augustine)
Explicação do quadro sinóptico do grande ataque histérico
O “escotoma cintilante”
Curar ou experimentar
Gesto e expressão: o automatismo cerebral
Um quadro vivo de catalépticas
Delírios provocados: relatório de Augustine
Sugestões teatrais
Escrita sonambúlica
Até onde vai a submissão hipnótica?
Bibliografia (textos citados)
Argumento
No último terço do século XIX, a Salpêtrière foi o que sempre tinha sido:
uma espécie de inferno feminino, uma città dolorosa que encerrava 4 mil
mulheres incuráveis ou loucas. Um pesadelo em Paris, bem perto da sua
belle époque.
Foi precisamente lá que Charcot redescobriu a histeria. Como? Tentamos
descrevê-lo aqui, em meio a todos os procedimentos clínicos e
experimentais, através da hipnose e das espetaculares apresentações de
doentes em crise no anfiteatro das célebres “aulas das terças- -feiras”.
Descobrimos com Charcot do que é capaz um corpo histérico: pois bem,
parece um prodígio. Parece um prodígio, ultrapassa a imaginação e até
“qualquer expectativa”, como se costuma dizer.
Que imaginação, que expectativa? Tudo consiste nisso. O que as histéricas
da Salpêtrière exibiam de seus corpos decorria de uma extraordinária
conivência entre médicos e pacientes. Uma relação de desejos, olhares e
saberes. É isto que interrogamos.
Restam-nos hoje as séries de imagens da Iconografia fotográfica da
Salpêtrière. Está tudo ali: poses, crises, gritos, “atitudes passionais”,
“crucificações”, “êxtases”, todas as posturas do delírio. Tudo parece estar
presente, pois a situação fotográfica cristalizava idealmente a ligação entre a
fantasia histérica e uma fantasia do saber. Instaurou-se uma reciprocidade
da sedução: médicos com um insaciável apetite de imagens da “histeria”,
histéricas dando pleno consentimento, exagerando até nas teatralidades do
corpo. Assim, a clínica da histeria transformou-se em espetáculo, em
invenção da histeria. Identificou-se até, sub-repticiamente, com algo como
uma arte. Muito próxima do teatro e da pintura.
Mas o movimento sempre exagerado de encantamento produziu uma
situação paradoxal: na medida em que a histérica se deixava livremente
reinventar e ser cada vez mais colocada em imagens, uma dor como que se
ia agravando. Num dado momento, o encanto se rompeu e o consentimento
transformou-se em ódio. É essa virada que interrogamos aqui.
Freud foi uma testemunha desorientada dessa imensa discussão da
histeria a portas fechadas e dessa fabricação de imagens. Sua desorientação
não há de ter sido insignificante para os primórdios da psicanálise.
Paul Regnard, “Ataque: fase epileptoide”, fotografia, lâmina XVII, em Bourneville e Regnard,
Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès médical & Delahaye, 1877.
I. A evidência espetacular
Os desatamentos
O espetáculo
Invenção
Belas almas
Hipocrisia
Também podemos dar a isso o nome de hipocrisia: hipocrisia, aquilo que faz
passar por ato, ou até por decreto na realidade, um simples julgamento e
que, ainda que obscuramente, está bem ciente disso.7 Hipocrisia, o
deslocamento ambíguo, Verstellung, da consciência íntima de uma falsa
verdade para a assunção, diante de todos, de uma simulação de verdade - e o
desprezo por esse próprio deslocamento. A hipocrisia decerto caracteriza
um problema de ética, mas convém interrogá-la segundo esta extensão: em
que uma ciência que procurava fundamentar sua eficácia, sem dúvida, terá
encontrado na hipocrisia um princípio constitutivo da própria exigência
metódica? Digo que tudo que aconteceu na Salpêtrière, essa grande epopeia
da clínica, decorreu da hipocrisia, se admitirmos entender nessa palavra a
complexidade das práticas que ela designa e se aceitarmos não desmontar
essa complexidade.
Hipocrisia é o ato da escolha, da decisão, da triagem; é distinguir, separar
e resolver. É explicar. Mas é fazer de tudo isso um pouco, ou então fazê-lo
por baixo (hypós), secretamente. O verdadeiro hipócrita (o da tradição
grega, hypokriter) é, antes de tudo, aquele que sabe discriminar, mas de
maneira discreta (no direito, é o que dirige a investigação), e é aquele que
sabe dar uma resposta interpretativa: adivinho e terapeuta, é o explicador de
nossos sonhos; humildemente, empresta sua pessoa à voz da verdade e a
recita, é seu rapsodo. Ou seja, é também o ator. A hipocrisia é a arte grega, a
arte clássica do teatro: recitar a verdade pelos recursos cênicos - portanto,
feitos, falsificados e fingidos - da resposta interpretativa.
“Ele é um hipócrita, um virador de olhos, ele me virou os olhos, agora
tenho os olhos virados, agora vejo o mundo com outros olhos”, dizia uma
mulher sobre seu amado, uma mulher à beira da loucura.8
É que a hipocrisia, como teatro e como resposta interpretativa, comporta
um extraordinário benefício epistêmico: o amor. Pinel havia permitido o
“desvario” livre e público das loucas,9 e estas se encarregaram, em troca, de
uma imensa dívida amorosa para com ele. Ora, foi o efeito conjugado da
permissão e da dívida que permitiu a Pinel entrever a possibilidade de
manipular a loucura em sua totalidade. E é essa mesma hipocrisia, como
direção cênica, que interrogarei em Charcot: um estratégico deixar ser, uma
resposta que finge permitir que a fala do outro se prolongue no seu ritmo,
mas uma resposta sempre já interpretativa, portanto, oracular. É a hipocrisia
como método, um ardil da razão teatral em suas pretensões de inventar a
verdade.
O cristal da loucura
Moral do brinquedo
Desastres da eficácia
Figura 2. Anônimo, Terrível massacre de mulheres do qual a História nunca deu outro exemplo, 1792,
água-forte, Paris, Biblioteca Nacional da França.
Notas
1
F. Nietzsche, Par-delà Bien et Mal, in Oeuvres complètes VII, Paris, Gallimard, 1971, p. 105 [Além do
bem e do mal, ver dados completos na Bibliografia. (N.T.)].
2
Ibid., p. 109.
3
Sob a égide, pelo menos, de um retrato de Philippe Pinel. Cf. S. Freud, “Charcot”, in Gesammelte
Werke, I, 1893, p. 19 (coletânea doravante citada como GW) [“Charcot”, ver Bibliografia].
4
Cf. M. Foucault, Histoire de la folie à Page classique, Paris, Gallimard, 1972, p. 483497 [História da
loucura na idade clássica, ver Bibliografia], e M. Gauchet e G. Swain, La Pratique de l’esprit humain.
L’institution asilaire et la révolution démocratique, Paris, Gallimard, 1980, p. 68-100.
5
F. G. W. F. Hegel, Encyclopédie des Sciences philosophiques en abrégé, Paris, Gallimard, 1970, p. 376-
377 [Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio, ver Bibliografia]; M. Foucault, Histoire de la
folie à l’âge classique, op. cit., p. 501 [História da loucura..., op. cit., ver Bibliografia].
6
P. Pinel, Traité médico-philosophique sur l’aliénation mentale ou la manie, Paris, Richard, 1809, p. 437.
7
Cf. G. W. F. Hegel, La Phénoménologie de l’esprit, Paris, Aubier-Montaigne, 1947, v. II, p. 193, 195 e
168 [Fenomenologia do espírito, ver Bibliografia].
8
Cf. S. Freud, “L’Inconscient”, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, 1968, p. 113 [“O inconsciente”, ver
Bibliografia].
9
P. Pinel, citado em M. Gauchet e G. Swain, op. cit., p. 131.
10
Cf. E. Kant, Anthropologie du point de vue pragmatique, Paris, Vrin, 1970, p. 52-53 [Antropologia de
um ponto de vista pragmático, ver Bibliografia].
11
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. I, p.
321.
12
Cf. Bernard, Introduction à l’étude de la médecine expérimentale, Paris, Baillière, 1865, p. 173. Grifo
meu.
13
Cf. M. Heidegger, Chemins qui ne menent nulle part, Paris, Gallimard, 1980, p. 123.
14
S. Freud, Nouvelles conférences sur la psychanalyse, Paris, Gallimard, 1971, p. 80-81 [Novas
conferências introdutórias sobre psicanálise, ver Bibliografia].
15
Cf. G. Canguilhem, “Qu’est-ce que la psychologie?”, in Études d’histoire et de philosophie des sciences,
Paris, Vrin, 1968, p. 365.
16
Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1975-1976, v. I, p. 587 [A frase em inglês no
original traduz-se por “Pergunta intrigante!” (N.T.)].
17
Cf. F. Nietzsche, Par-delà Bien et Mal, op. cit. [Além do bem e do mal, op. cit., ver Bibliografia], p.
148.
18
Cf. G. Guillain e P. Mathieu, La Salpêtrière, Paris, Masson, 1925, p. 48.
Saberes clínicos
Descida ao inferno
Veni - vidi
Portanto, Charcot desceu aos infernos. E não se sentiu muito mal por lá.
É que essas quatro ou cinco mil mulheres infernais foram um material
para ele: de fato, mergulhado desde 1862 no inferno, Charcot teve a
sensação agradável e científica - como se diz, calorífica, soporífica ou
honorífica, onde o “-fica” aparece como uma derivação factitiva muito,
muito forte14 -, teve a agradável sensação, dizia eu, de penetrar num museu,
pura e simplesmente. Ele próprio o disse bem: um museu patológico vivo,
com seu “acervo” antigo e seu novo “acervo”... (cf. Apêndice 1).
Quando também lhe deu o nome de “grande empório das misérias
humanas”,15 foi para acrescentar prontamente que, graças a ele, organizou-se
um catálogo, e que o empório, o entreposto sob seus cuidados, tornou-se “a
sede de um ensino teórico e clínico realmente útil”.16
É que o que estava em jogo era um desafio de saber. Em 1872, Charcot foi
nomeado professor de anatomia patológica, mas isso não era o bastante para
a verdadeira abertura de um novo saber. Para tanto, houve necessidade do
seu amigo Gambetta, que fez o parlamento aprovar, em 1881, uma verba de
200 mil francos para a criação de uma “cadeira de clínica das doenças
nervosas” na Salpêtrière - invenção de Charcot. Será que isso não tem uma
amplitude diferente da compra de um piano e de uma verba para a
jardinagem?
Emporium - imperium
Não estarei sendo injusto? Devo dizer também que há na obra de Charcot
uma imensa tentativa de compreender o que é a histeria. Certo. E essa
tentativa foi metódica, com um método honesto.
Mas, como o método fracassou (por funcionar demais, bem ou mal), a
tentativa tornou-se forçada; depois, de certa maneira, ignóbil. E o que foi
esse método, para começar? O que queria Charcot, o que esperava do
método, em princípio? - Queria que nascesse nele uma ideia: um conceito
exato da “vida patológica”, a do sistema nervoso, no caso. Pierre Janet teve
razão em insistir no fato de que Charcot “prendia-se à teoria, à interpretação
dos fatos, pelo menos tanto quanto à descrição deles”.24 E como esperava
fazer nascer essa ideia? - Provocando sua observação, sua visibilidade
regulada.
Isto formula, estritamente, a definição do método experimental, tal como
fornecida por Claude Bernard. Volto a ela, portanto. O método
experimental não é a observação, escreve Bernard, mas uma observação
“provocada” - o que quer dizer, primeiramente, a arte de obter fatos e, em
segundo lugar, a arte de fazê-los trabalhar.25
A observação, na medida em que é “posta para trabalhar”, é a experiência.
E convém, diz Claude Bernard, aprender a não mais acreditar senão na
experiência, porque ela está fora das doutrinas.26
Ora, já toco aí, precisamente, numa espécie de borda doutrinai - e,
portanto, denegadora - da exposição desse método: eis que ele só se refere a
fatos, nunca a palavras;27 que é livre de qualquer ideia e sabe “fugir das
ideias fixas”;28 que oferece, por fim, uma garantia contra a aporia dos “fatos
contraditórios”.29 Falo em negação porque, na clínica charcotiana relativa à
histeria, tudo traz a marca de uma ideia fixa, justamente, e que talvez
decorra de um debate quase desesperado - o debate de um saber com
corpos, atos e “observações” que, apesar de “postos para trabalhar”,
continuam petrificados e repletos de contradições.
Mas ocorre que o método experimental foi feito para desafiar essas
contradições e que, como “arte de pôr os fatos para trabalhar”, decorre
igualmente de uma estética e de uma ética do fato.
Exercício da clínica
Casos
Quadros
A classificação configura a desordem e a multiplicidade dos casos,
transforma-os em quadros. E o que é um quadro? (Um quadro não possui
um ser, possui apenas quase seres; mas também não possui um ter... - O que
não é uma resposta.) - Ele faz as vezes disso. E prolifera. Todavia, responde a
algo como a preocupação com uma organização do simultâneo. A medicina
girava, já fazia muito tempo, em torno da fantasia de uma linguagem-quadro
- sua linguagem própria: integrar o “caso”, sua sucessividade, e, sobretudo,
sua disseminação temporal, a um espaço bidimensional, simultâneo, a uma
tabulação, a um traçado, até, sobre uma base de coordenadas cartesianas;
essa tabulação seria um “retrato” exato “da” doença, na medida em que
exporia, muito visivelmente, o que a história de uma doença (com suas
remissões e suas causalidades concorrentes ou percorrentes) tendia a
ocultar.
E, quando se sonha dessa maneira como uma linguagem-quadro, a
medicina dedica-se a seu propósito, ao desejo de resolver uma aporia dupla:
aporia da forma das formas, para começar. O “tipo”, segundo Charcot, é
justamente a forma da “totalidade” dos sintomas a partir da qual uma
doença passa a existir como conceito nosológico; é “um conjunto de
sintomas que dependem uns dos outros, que se dispõem numa hierarquia,
que podem ser classificados em grupos bem limitados, e que, sobretudo, por
sua natureza e suas combinações, distinguem-se de maneira evidente das
características das outras doenças vizinhas”.45 Isto é crucial, em se tratando
da histeria, porque todo o esforço de Charcot almejava trazer o mais
categórico desmentido à célebre definição de histeria formulada por Briquet
(retomando as de Galeno e Sydenham): “Um Proteu que se apresenta sob
mil formas e que não pode ser apreendido sob nenhuma.”46
Aporia da forma dos movimentos temporais, em segundo lugar. Se uma
gramática do visível é sonhada dessa maneira, é para transformar
completamente o sintoma em sinal, mais exatamente, em sinal
probabilístico: gerir espacialmente temporalidades esparsas. É que o tempo
instável do “caso” se tornaria o elemento ínfimo de um grande
procedimento narrativo-tabular, no qual seriam simultaneamente
configurados a história, o diagnóstico e o prognóstico: um verdadeiro sonho
à moda de Condillac...47
Mas acaso não era isso conceder uma espantosa confiança à forma?
Observações, descrições
Há uma coisa que não cansa de me surpreender (dizia Freud): como foi
possível nascerem nos autores as observações consequentes e precisas dos
histéricos?
Curiosidades
Olhadelas, cliques
“Ver o novo” é uma protensão temporal do ver; tanto decorre de um ideal (a
visão científica, o prognóstico clínico: ver é prever) quanto, penso eu, de
uma inquietação oculta, na qual ver seria pressentir - a instabilidade
fundamental do prazer de ver, do Schaulust, entre memória e ameaça.
Seu ideal é a certeza; no tempo do ver, sempre intersubjetivo, ela só advém
como furtada e como antecipada;55 isto quer dizer que também nega o
tempo que a gera, nega a memória e a ameaça, inventa a si mesma como
uma vitória sobre o tempo (a supracitada bela alma).
Ela inventa para si uma instantaneidade e uma eficácia do ver, ao passo
que o ver é de uma duração terrível, apenas um momento de hesitação na
eficácia.
E qual é o fruto de sua invenção? - Uma ética do ver. Isto é chamado,
inicialmente, de olhadela, relance de olhos, e também é da alçada da “bela
sensibilidade” com que se identifica o olhar clínico; é um “exercício dos
sentidos” - um exercício, uma passagem ao ato do ver: olhadela, diagnóstico,
tratamento, prognóstico. A olhadela clínica, portanto, já é um contato, ao
mesmo tempo ideal e percuciente; é uma flechada que vai direto ao corpo
do doente, quase o apalpa.
Pois bem, Charcot foi “mais longe” na percussão em linha reta, no contato
ideal e na instantaneidade da flecha; armou seu olhar para uma percussão
mais sutil, menos tátil, pois debatia com a neurose, entrelaçamento íntimo e
específico do fundo com a superfície.
Muniu-se da Fotografia.
Notas
1
Cf. G. Guillain e P. Mathieu, La Salpêtrière, op. cit., 1925, p. 41.
2
Deliberação do Hospital Geral, 1679, citada em M. Foucault, Histoire de la folie à l’âge classique, op.
cit. [História da loucura..., op. cit., ver Bibliografia], p. 97.
3
Cf. J. Losserand, “Épilepsie et hystérie. Contribution à l’histoire des maladies”, Revue française de
psychanalyse, Paris, PUF, 1978, p. 429.
4
Cf. J. Sonolet, Trois siècles dhistoire hospitalière. La Salpêtrière, exposição, Langres, L’Expansion
scientifique française, 1958, passim.
5
Cf. A. Husson, Rapport sur le service des aliénés du département de la Seine pour 1’année 1862, Paris,
Dupont, 1863, passim; cf. também A. Husson, Étude sur les hôpitaux considérés sous le rapport de leur
construction, de la distribution de leurs bâtiments, de l’ameublement, de lhygiène et du Service des salles
de malades, Paris, Dupont, 1862, passim.
6
Ibid., p. lvi-lvii.
7
Ibid., p. 11.
8
J. Claretie, “Charcot, le consolateur”, in Les Annales politiques et littéraires, XXI, n.° 1.056, 1903, p.
179-180.
9
Ibid., p. 179.
10
Cf. A. Souques, Charcot intime, Paris, Masson, 1925, p. 3-4; L. Daudet, Les Oeuvres dans les
hommes, Paris, Nouvelle Librairie Nationale, 1922, p. 205; G. Gilles de la Tourette, “Jean-Martin
Charcot”, in Nouvelle iconographie de la Salpêtrière, 1893, p. 245 (doravante citada como NIS).
11
Dante, Oeuvres complètes, trad. A. Pézard, Paris, Gallimard, 1965, p. 900-901.
12
C. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 20, “Don Juan aux Enfers”.
13
Marie, citado em G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, Paris, Masson, 1955,
p. 134-135. Grifo meu.
14
Cf. E. Benveniste, Problèmes de linguistique générale, Paris, Gallimard, 1966-1974, v. II, p. 248-249
[Problemas de linguística geral, ver Bibliografia].
15
J. -M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. I, p. 2.
16
Ibid.
17
Cf. L. Daudet, Les Morticoles, Paris, Charpentier & Fasquelle, 1894, passim; L. Daudet, Les Oeuvres
dans les hommes, op. cit., p. 197-243.
18
G. Gilles de la Tourette, “Jean-Martin Charcot”, op. cit., p. 249.
19
Cf. Revue neurologique, “Centenaire de Charcot”, Paris, Masson, 6 (1925), p. 7311192.
20
G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, op. cit., p. 143.
21
S. Freud, “Charcot”, GW, I, 1893, p. 13 [“Charcot”, op. cit., ver Bibliografia]; J. Nassif, “Freud et la
science”, in Cahiers pour l’analyse, Paris, 9, 1968, p. 155; F. Laplassotte, “Sexualité et névrose avant
Freud: une mise au point”, in Psychanalyse à Puniversité, Paris, PUF, v. 3, 10 (1978), p. 220-225.
22
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, Paris, Progrès Médical
& Lecrosnier & Babé, 1888-1889, p. 37.
23
Cf. J. Babinski, Oeuvre scientifique, recueil des principaux travaux, Paris, Masson, 1934, p. 457-527.
24
P. Janet, “J.-M. Charcot. Son oeuvre psychologique”, Revue philosophique, 39, 1895, p. 573.
25
C. Bernard, Introduction à Pétude de la médecine expérimentale, op. cit., p. 24.
26
Ibid., p. 382-396.
27
Ibid., p. 322-332.
28
Ibid., p. 63-71.
29
Ibid., p. 304-313.
30
Ibid., p. 170-171.
31
G. Canguilhem, Le Normal et le pathologique, Paris, PUF, 1966, p. 142 [O normal e o patológico, ver
Bibliografia]; cf. J.-M. Charcot, La Médecine empirique et la médecine scientifique, Paris, Delahaye,
1867, p. 4-5.
32
J.-M. Charcot, La Médecine empirique..., op. cit., p. 21; cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit.,
v. III, p. 9 (citando Claude Bernard).
33
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 115.
34
J.- M. Charcot, La Médecine empirique... , op. cit., p. 17. Grifo meu.
35
Cf. S. Freud, “Pour introduire le narcissisme”, in La Vie sexuelle, Paris, PUF, 1977, p. 99 [“Sobre o
narcisismo: uma introdução”, ver Bibliografia].
36
Cf. J.-M. Charcot & A. Pitres, Les Centres moteurs corticaux chez l’homme, Paris, Rueff, 1895, p. 17.
37
Cf. H. Meige, “Une révolution anatomique”, in NIS, 1907, p. 97.
38
M. Foucault, Naissance de la clinique. Une archéologie du regard médical, Paris, PUF, 1972, p. 54 [O
nascimento da clínica, ver Bibliografia].
39
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 22.
40
J.- M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, 1892-
1893, v. I, p. ii.
41
A. Souques e H. Meige, citados em G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, op.
cit., p. 51.
42
Cf. M. Foucault, Naissance de la clinique..., op. cit., p. 107-108 [O nascimento da clínica, op. cit., ver
Bibliografia].
43
Ibid., p. 89.
44
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 277.
45
P. Janet, “J.-M. Charcot. Son oeuvre psychologique”, Revue philosophique, 39, 1895, p. 576.
46
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, Paris, Baillière, 1859, p. 5; cf. J.-M.
Charcot, prefácio a Richer, Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéroépilepsie, Paris, Delahaye &
Lecrosnier, 1885, p. VII.
47
Cf. M. Foucault, Naissance de la clinique..., op. cit., p. 95-97, 105 [O nascimento da clínica..., op. cit.,
ver Bibliografia].
48
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1979, p. 8-9
[Fragmento da análise de um caso de histeria, ver Bibliografia].
49
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtriêre. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 231.
50
Cf. M. Foucault, Naissance de la clinique..., op. cit., p. 121-123 [O nascimento da clínica..., op. cit.,
ver Bibliografia].
51
Cf. A. Souques, Charcot intime, op. cit., p. 24-30; G. Guillain, J.-M. Charcot (18251893). Sa vie.
Son oeuvre, op. cit., p. 10-11, 26-30, passim.
52
S. Freud, “Charcot”, op. cit., p. 12-13 [“Charcot”, op. cit., ver Bibliografia]; J. Nassif, “Freud et la
science”, op. cit., p. 154-155; J. Nassif, Freud - Linconscient. Sur les commencements de la psychanalyse,
Paris, Galilée, 1977, p. 58, 62.
53
Cf. E. Burke, Recherche philosophique sur l’origine de nos idées du sublime et du beau, Paris, Vrin,
1973, p. 55-57.
54
Cf. M. Foucault, Histoire de la folie à Rage classique, op. cit., p. 326-342 [História da loucura..., op.
cit., ver Bibliografia].
55
Cf. J. Lacan, Écrits, Paris, Seuil, 1966, p. 197-213 [Escritos, ver Bibliografia].
Lendas e legendas da fotografia
“Eis a verdade”
Ou, melhor, sim, ainda era uma metáfora, mas erguida sobre a realidade. Era
o conluio de uma prática com seu valor metafórico (seu valor da época, ou
seja, do primeiro meio século da história da fotografia). Era, na verdade,
como que a declaração princeps de que o ideal de um olhar clínico absoluto e
de uma memória absoluta das formas estava em vias de se tornar real.
Aliás, acaso a fotografia não nasceu num momento em que se esperava
não apenas o fim da história,2 mas o advento de um saber absoluto? Hegel
morreu quando Niepce e Daguerre estavam quase em seu segundo ano de
associação.
Quanto a Charcot, quando imaginou sua famosa “cadeira de clínica das
doenças do sistema nervoso” (que ainda existe), ele não descuidou de
sublinhar, pessoalmente, a coerência epistemológica e prática de uma fábrica
de imagens, com seu tríplice projeto, científico, terapêutico e pedagógico:
Tudo isto forma um conjunto cujas partes se concatenam logicamente e
vêm complementar outros serviços conexos. Possuímos um museu
anatomopatológico ao qual estão anexados um ateliê de moldagem e de
fotografia, um laboratório de anatomia e de fisiopatologia bem equipado [...],
um consultório de oftalmologia, complemento obrigatório de um Instituto
neuropatológico; o anfiteatro de ensino no qual tenho a honra de recebê-los
e que, como os senhores estão vendo, é provido de todos os aparelhos
modernos de demonstração.3
Imiscuição e moldagem da metáfora na realidade. Eu disse que Charcot,
ao ingressar na Salpêtrière, tinha-se vivenciado sobretudo como visitante, ou
até como novo guarda de um museu - e eis que, passados vinte anos, como
conservador-chefe de um verdadeiro museu, ele erguia seu brinde de
inauguração.
(O século XIX foi uma grande época dos museus de medicina. Charcot
guardava deles numerosos catálogos: Pathological Museum of St. George’s
Hospital [Museu de Patologia do Hospital São Jorge, Londres], Museum of
the Royal College of Surgeons [Museu do Real Colégio de Cirurgiões,
Londres], museus Orfila e Dupuytren... Havia também o museu itinerante
do [charlatão] dr. Spitzner, que ia de feira em feira expondo, como sua peça
de número 100, um grupo que representava uma “Aula do professor
Charcot”4 em tamanho natural!)
Portanto, a fotografia deve ter sido para ele, a um só tempo, um processo
experimental (um instrumento de laboratório), um processo museológico
(arquivo científico) e um processo de ensino (instrumento de transmissão).
Foi bem mais que isso, na realidade, mas retenhamos ao menos a ideia de
que a fotografia, a princípio, foi uma instância museológica do corpo
enfermo, a instância museológica de sua “observação”: a possibilidade
figurativa de generalizar o caso como quadro. E sua modalidade significante
foi inicialmente contemplada apenas como um estado “intermediário” da
marca, entre o traço (um esquema, uma anotação clínica), sempre lacunar, e
a moldagem in vivo, muito praticada, porém sempre muito lenta (figuras 5-
6).
A grafia
O iconográfico, a previsão
Talvez porque vê-la assim armada torne-se não apenas probatório quanto ao
que é visto, e até quanto ao que seria invisível, ou apenas vislumbrado no
tempo normal, mas também quanto ao susceptível de previsão.
A imagem fotográfica tem valor de indício, no sentido de prova judicial;11
aponta o culpado pelo mal, antecipa sua detenção. É como se a fotografia
nos desse acesso à origem secreta da enfermidade; ela quase decorreria de
uma teoria microbiana da visibilidade (é sabido que, na medicina, “a teoria
microbiana das doenças contagiosas decerto deveu uma parte não
desprezível de seu sucesso ao fato de conter uma representação ontológica
da doença. O micróbio, ainda que seja necessária a complicada
intermediação do microscópio, de corantes e culturas, é algo que podemos
ver, ao passo que seria impossível ver um miasma ou uma influência. Ver
um ser já é prever um ato”).12
O valor de previsão do fotográfico prende-se também a sua
“sensibilidade” muito especial: “Sabemos que a chapa fotográfica não é
sensível aos mesmos raios que nossa retina; portanto, em alguns casos,
poderá dar-nos mais do que o olho, mostrar-nos o que este não teria como
perceber. Essa sensibilidade particular tem um valor todo especial e, em
nossa opinião, não é a menos importante das propriedades da fotografia.”13
E é justamente a partir desse valor probatório (diagnóstico, pedagógico) e
“previsor” (prognóstico, científico) da fotografia que convém compreender,
primeiramente, o que se chamou de impulso iconográfico do trabalho de
Charcot:
A mínima falha
Até aí, isso não passa de uma hipótese, mas ela me retém. Continuo a
pensar, estupidamente, diante de todas essas fotografias, no que devia ser
uma angústia de médico-fotógrafo. (Lembro-me - será que é oportuno? - da
história de Jumelin, um famoso moldador de anatomia daquela época, que
um dia moldou o fígado recém-retirado de um homem que sofria de
“avariose”* e, sem se angustiar minimamente e até meio distraído, assoou o
nariz no pano que envolvia o órgão a ser “reproduzido”; e assim, também ele
morreu da avariose, vítima de sua arte e de uma jovial recusa a se angustiar
com a dissecação de corpos alheios, de corpos enfermos...) Mas resumamos.
A partir de 1860, a fotografia fez uma entrada triunfal, triunfalista, no
museu da patologia. Ela, que mostra até a mínima falha. E foi uma
verdadeira explosão de crescimento - a endoscopia fotográfica! A mais
secreta anatomia, enfim, revelada, tal e qual! O próprio foco das doenças
nervosas, enfim, ao alcance da visão, e em pessoa!
Exageros do estilo
Traços de loucura
Figura 12. Reconstituição gravada da fotografia ao lado, publicada sob o título Melancholy passing into
Mania [Melancolia passando para a mania] em The Medical Times, 1858.
Primeiras provas
Figura 14. Restauração em gravura da fotografia ao lado, publicada sob o título Religious Mania
[Mania religiosa] em Medical Times, 1858.
Depois disso, mais nada. Um silêncio de quase dez anos, durante os quais
Bourneville e Regnard como que desapareceram dessa circulação de
imagens. Na verdade, foram substituídos em suas funções por Albert Londe,
muito mais formalista na organização e que tirou proveito dos recursos que
lhe foram conferidos pela abertura oficial da cátedra de Charcot.
Estranho silêncio de Londe sobre seus predecessores;26 terão sido as
fotografias deles tão mais bonitas que as suas? - Simples hipótese. Depois,
em 1888, saiu o primeiro volume de uma Nova iconografia da Salpêtrière,
esta publicada, sempre sob o patrocínio de Charcot, por Gilles de la
Tourette, Paul Richer e o próprio Londe.
Foi assim que a prática fotográfica acedeu por completo à dignidade de
um serviço hospitalar.27 Ou seja, um território: ateliê envidraçado,
laboratório escuro e laboratório claro28 (figura 17). Um dispositivo
protocolar: estrado, cama, biombos e cortinas de fundo, pretas, cinza-
escuras, cinza-claras; apoios para a cabeça, tripés (figura 18 e Apêndice 7).
Uma tecnologia fotográfica mais e mais sofisticada, como tão bem se diz:
multiplicação dos tipos de objetivas e câmeras (figuras 19-20), emprego de
luzes artificiais,29 “fotocronografia”30 e todos os aperfeiçoamentos da
revelação...31 E, por fim, os procedimentos clínicos e administrativos de
arquivamento: todo um encaminhamento das imagens, desde a “observação”
até o fichário (cf. Apêndices 8 e 9).
Serviço, no entanto, é uma palavrinha terrível; nela já estão servidão e
sevícia. Minha pergunta não é apenas: para que serviu a fotografia?, mas
também: quem ou o quê, na Salpêtrière, terá ficado escravizado às imagens
fotográficas?
A lenda da memória
Figura 18. Louis Poyet, Albert Londe na Salpêtrière, gravura reproduzida em La Nature, 1883.
Figura 19. Câmera estereoscópica, em Albert Londe, La Photographic médicale: application aux
sciences médicales et physiologiques, Paris, Gauthier-Villars, 1893.
Figura 20. Câmera com múltiplas objetivas, em Albert Londe, La Photographie médicale: application
aux sciences médicales et physiologiques, Paris, Gauthier-Villars, 1893.
Paradoxo da evidência
Mas o que é esse paradoxo? Vou chamá-lo de paradoxo da evidência
espetacular.
Primeiramente, ele é o paradoxo de um saber que foge de si mesmo, a
despeito de si; uma fuga infindável do saber, muito embora o objeto do
saber permaneça sob custódia fotograficamente, fixado na objetividade.
Depois, é exatamente o paradoxo da semelhança fotográfica, que, no entanto,
não é a essência da fotografia, mas desejaria sê-lo, e que, no fim das contas,
continuará sendo apenas estase, efeito, drama temporal de seu fracasso
repetido. Mas, talvez por isso, o paradoxo é justamente o do Parecer.
Cada convocação das imagens da Iconografia fotográfica da Salpêtrière nos
confrontará com esse paradoxo. Mas farei alguns esclarecimentos em
matéria de seus princípios.
Exatidão?
Facticidade!
Mas o que acontece com esse saber “exato”? Será que a fotografia tem razão
em algum lugar (mas onde?) aquém até daquilo em que pode fazer crer por
meio de seus truques, pontos de vista, suas fabricações de beleza? Ao
contrário, em que exatamente ela leva a acreditar, ou o que leva a imaginar,
daquilo cuja existência atesta, no entanto?
Há outra maneira de enunciar esse paradoxo da evidência: a fotografia é
uma prática de facticidade. Facticidade: a dupla qualidade daquilo que existe
de fato (irrefutável, ainda que contingente) e daquilo que é factício. Um
paradoxo da irrefutabilidade mentirosa, se me permitem dizer.
E que acontece, então, com o retrato fotográfico? É aí que está todo o meu
problema. Retomemos de Ernest Lacan este excerto da história:
Sujeito?
Então isso designaria uma ancoragem da fotografia na ficção? É pior, na
verdade.
E eis o pior: a máquina fotográfica, no fundo, é apenas um aparelho
subjetivo, um aparelho da subjetividade. Haveria nisto, com certeza, razão
para fazer alguém como Albert Londe dar voltas no túmulo. Mas, diga-se de
passagem, será que Albert Londe ignorava que a própria óptica, com suas
leis mais perenes, já funciona de acordo com uma relação, certamente
regulada, entre o espaço real e o que conviria chamar de espaço imaginário,
ou seja, um lugar psíquico?
Eu diria até que a máquina fotográfica é de fabricação inteiramente
filosófica: é um instrumento do cogito.
Chuva de metáforas. Desafios: universalidades. Valéry já comparava a
câmara escura à caverna platônica.65 E não terá a fotografia realizado,
finalmente, a “semelhança indiscreta”, aquela que não deixa subsistir
nenhuma “distância” entre retrato e retratado, e que ocupa na problemática
da certeza, em Descartes, uma posição tão decisiva? Convém notar,
entretanto, que a própria certeza cartesiana entre “ego sum” e “larvatus
prodeo” segue apenas desvios de facticidades, encenações, truques de
exposição, imitações ilusórias da realidade, figurações, máscaras e retratos:
sempre semelhanças impossíveis.66 A máquina fotográfica mais seria,
portanto, o aparelho de um cogito já insatisfeito com sua certeza, caotizado,
dilacerado.
Por fim, é num capítulo intitulado “A regressão” que ela aparece, na
Traumdeutung, para ilustrar uma concepção de lugar psíquico no sonho;67
mas a analogia não foi totalmente satisfatória, sendo simples demais ou
complexa demais como máquina metafórica, e também inadaptada, sem
dúvida, às vertigens próprias a que nos condena a máquina fotográfica, a
nós, sujeitos. Essas vertigens implicam, eminentemente, a dialética freudiana
do sujeito, diríamos, porém talvez menos em termos de tópica, de lugares
psíquicos, do que em termos econômicos ou dinâmicos. Em todo caso, ou
pelo menos, elas são como que vertigens de uma traição do sujeito a si
mesmo, uma autotraição experimental.
Traição!
Semelhança?
A fotografia, portanto, seria afinal uma técnica “pouco segura”,70 lábil - e
também mal-afamada. Ela põe corpos em cena: labilidade. E, em tal ou qual
momento sutil, desmente-os (inventa-os), submete-os, antes, a uma espécie
de extorsão figurativa. Como figuração, ela continua a enunciar o enigma de
um “jazer do corpo inteligível”,71 enquanto dá a entender alguma coisa e
enquanto esse entendimento é sufocado.
Um retrato fotográfico (“Semelhança garantida”, lia-se nos anúncios de
daguerreótipos), portanto, nunca terá apresentado “como tal” o seu
“modelo”, como dizem; já o terá representado, já complicado,72 já entalhado
sobre outra coisa, talvez um ideal, talvez um enigma, talvez ambos -
identidade de “modelo” essencialmente dissociada, distorcida e, por isso,
terrivelmente perturbadora. Essa perturbação seria a mesma que a da
evidência do Parecer: evidente demais (com um risco de esvaziamento) para
não ser teatralizada, a semelhança “ex-ato” passa ao ato, ao ato de
facticidade, ao ato de mímica (imitação da própria evidência). Ou seja, passa
à invenção de uma temporalidade diferente, alterante, da pose; “adiantando-
se aqui, rememorando ali, no futuro, no passado, sob uma falsa aparência de
presente”73 (por que essa frase do mímico exige tão imperiosamente seu
pensamento, seu repensar?)...
E, quando chegamos a nos formular, diante de uma fotografia, perguntas
paradoxais - Com quem se parece esse rosto fotografado? De quem é,
exatamente, um rosto fotografado? Uma fotografia, no fundo, não se parece
com qualquer um?74 -, ora, nem por isso afastamos a seleção como um
problema mal formulado; antes, apontamos o dedo para o Parecer como
movimento temporal instável, vão, fantasmático. Interrogamos um drama
evidentemente imaginário.
Figura 31. Albert Londe, o “retrato múltiplo”, em La Photographie moderne. Pratique et applications,
1888.
Vide!
Notas
1
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 178.
2
Cf. H. Damisch, “Agitphot. Pour le cinquantenaire de la ‘Petite histoire de la Photographie’ de Walter
Benjamin”, in Les cahiers de la photographie, 3, 1981, p. 25.
3
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. III, p. 5-
6.
4
Cf. Cires anatomiques du XIXe siècle. Collection du Docteur Spitzner, exposição, Paris, Centre
Culturel de la Communauté française de Belgique, 1980, p. 28, 33.
5
Cf. E. J. Marey, La Méthode graphique dans les sciences expérimentales et principalement en
physiologie et en médecine, Paris, Masson, 1885, p. 1.
6
E. J. Marey, Le Développement de la méthode graphique par la photographie, Paris, Masson, 1885, p. 2.
7
H. W. Diamond, “On the application of photography to the physiognomic and mental phenomena of
insanity” [1856], in The face of Madness. H. W Diamond and the origin of psychiatric photography,
Nova York, Brunnel & Mazel, 1976, p. 19. [O título de Talbot é O Lápis da natureza e o trecho citado
diz: “Em muitos casos, o fotógrafo não necessita da ajuda de nenhuma linguagem própria, antes
preferindo escutar, com a imagem à sua frente, a silenciosa mas reveladora linguagem da natureza.”
(N.T.)]
8
Cf. R. Barthes, “Le message photographique”, Communications, n.° 1, 1962, p. 128.
9
A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique de la photographie et de ses applications à
l’industrie et à la science, Paris, Masson, 1896, p. 546, 650.
10
É. Zola, citado em S. Sontag, La Photographie, Paris, Seuil, 1979, p. 102 [Sobre fotografia, ver
Bibliografia].
11
Cf. W. Benjamin, “L’Oeuvre d’art à l’ère de sa reproductibilité technique”, in L’Homme, le langage, la
culture, Paris, Denoel, 1974, p. 153 [“A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, ver
Bibliografia].
12
G. Canguilhem, Le Normal et le pathologique, op. cit., p. 12 [O normal e o patológico, ver
Bibliografia].
13
A. Londe, La Photographie dans les arts, les sciences et l’industrie, Paris, Gauthier- -Villars, 1888, p.
8.
14
A. Souques, Charcot intime, op. cit., p. 32-34.
15
A. Hardy e A. de Montméja, Clinique photographique de lHôpital Saint-Louis, Paris, Chamerot &
Lauwereyns, 1868, lâmina não numerada.
16
G. Bataille, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1970-1979, v. I, p. 229-230.
17
D.-M. Bourneville, “Notes et observations sur quelques maladies puerpérales. V. Deux cas de
déchirure du périnée”, Revue photographique des Hôpitaux de Paris: 1871, p. 137.
18
C. Le Brun, “Conférence sur l’expression générale et particulière”, Nouvelle Revue de Psychanalyse,
21, 1980, p. 95. Grifo meu.
19
Cf. H. Damisch, “L’Alphabet des masques”, Nouvelle Revue de Psych analyse, 21, 1980, p. 123-131.
20
Cf. G. Lavater, L’Art de connaítre les hommes par la physionomie, Paris, Depélafol, 1820, v. VII, p. 1-
71, v. VIII, p. 209-282.
21
E. Esquirol, citado em J. Adhemar, “Un dessinateur passionné pour le visage humain: Georges-
François-Marie Gabriel (1775-c. 1836)”, in Omagiu lui George Oprescu, Bucareste, Academia
Republicii, 1961, p. 1-2.
22
Cf. F. Cagnetta e J. Sonolet, Nascita della fotografia psichiatrica, exposição no Ca’ Corner della
Regina, Veneza, 1981, p. 44-45, 65-66.
23
Cf. as lâminas de B. A. Morel, Traité des dégénérescences physiques, intellectuelles et morales de
Pespèce humaine, et des causes qui produisent ces variétés maladives, Paris, Baillière, 1857; H. Dagonet,
Nouveau traité élémentaire et pratique des maladies mentales, Baillière, Paris, 1876; A. Voisin, Leçons
cliniques sur les maladies mentales professées à la Salpêtrière, Paris, Baillière, 1876; A. Voisin, Leçons
cliniques sur les maladies mentales et sur les maladies nerveuses, Paris, Baillière, 1883; J. Grasset, Traité
pratique des maladies du système nerveux, Montpellier, Coulet e Paris, Delahaye & Lecrosnier, 1886; J.-
G.-F. Baillarger, Recherches sur les maladies mentales, Paris, Masson, 1890; V. Magnan, Recherches sur
les centres nerveux. Alcoolisme, folie des héréditaires dégénérés, paralysie générale, médecine légale, Paris,
Masson, 1876-1893; D.-M. Bourneville, Album de photographie d’idiots de Bicêtre, Biblioteca Charcot,
Paris, s.d. etc.
24
Cf. A. Tebaldi, Fisionomia ed espressione studiate nelle loro deviasioni con una appendice sulla
espressione dei delirio nell’arte, Verona, Drucker e Tedeschi, 1884, lâminas.
25
Iconographie photographique de la Salpêtrière, coletânea não publicada, Biblioteca Charcot,
Salpêtrière, 1875, passim.
26
Cf. especialmente A. Londe, La Photographie moderne. Pratique et applications, Paris, Masson,
1888; A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique... , op. cit., passim.
27
Cf. A. Londe, Le Service Photographique de la Salpêtrière, Paris, O. Doin, s.d., passim.
28
Cf. A. Londe, La Photographie moderne. Pratique et applications, op. cit., p. 212; A. Londe, La
Photographie médicale: application aux sciences médicales et physiologiques, Paris, Gauthier-Villars,
1893, p. 12-16.
29
Cf. A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 131-135; A. Londe, La Photographie à l’éclair
magnésique, Paris, Gauthier-Villars, 1905, passim; A. Londe, La Photographie à la lumière artificielle,
Paris, O. Doin, 1914, passim.
30
Cf. A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 105-115.
31
Cf. A. Londe, Traité pratique du développement. Étude raisonnée des divers révélateurs et de leur
mode d’emploi, Paris, Gauthier-Villars, 1889, passim; A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p.
53, 63.
32
A. Londe, La Photographie dans les arts, les sciences et l’industrie, op. cit., p. 9.
33
É.-J. Marey, Le Développement de la méthode graphique par la photographie, Paris, Masson, 1885, p.
3.
34
Cf. A. Londe, La Photographic dans les arts, les sciences et l’industrie, op. cit., p. 6-7, 26-40; A. Londe,
La Photographie médicale..., op. cit., p. 176-212; A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique... ,
op. cit., p. 456-512.
35
Cf. A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 6; A. Londe, Aide-mémoire pratique de la
photographie, Paris, Baillière, 1893, passim.
36
A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 64.
37
Ibid., p. 77.
38
A. Londe, “L’Évolution de la photographie”, in Association Française pour l’avancement des
sciences, Paris, 1889, p. 15.
39
Cf. G. W. F Hegel, La Phénoménologie de l’esprit, op. cit., v. II, p. 244 [Fenomenologia do espírito, ver
Bibliografia].
40
Cf. A. Comte, “Considerations generales sur l’etude positive des fonctions intellectuelles et morales,
ou cerebrales (45e leçon du Cours de Philosophie positive, 1837)”, in Philosophie première, Paris,
Hermann, 1975, p. 846-882.
41
Cf. D.-M. Bourneville, Album de photographie d’idiots de Bicêtre, op. cit., passim; D.- M.
Bourneville, “Memoire sur la condition de la bouche chez les idiots, suivi d’une etude sur la medecine
legale des alienes, à propos du Traite de Medecine legale de M. Casper”, in Journal des connaissances
médicales et pharmaceutiques, 1862-1863, p. 7-13.
42
Cf. G. B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine ou analyse électro-
physiologique de l’expression des passions, Paris, Renouard, 1862, passim.
43
Cf. C. Darwin, L’Expression des émotions chez l’homme et chez les animaux, Paris, Reinwald, 1877,
passim \A expressão das emoções no homem e nos animais, ver Bibliografia].
44
Cf. F. Galton, Inquiries into Human Faculty and its Development, Londres, Macmillan, 1883, passim.
45
A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique..., op. cit., p. 654; A. Londe, La photographie
médicale..., op. cit., p. 77 (citando Galton).
46
A. Londe, La Photographie dans les arts, les sciences et l’industrie, op. cit., p. 24; A. Londe, La
Photographie médicale..., op. cit., p. 5.
47
Cf. A. Londe, La Photographie moderne. Pratique et applications, op. cit., p. 165-171; A. Londe, La
Photographie moderne. Traité pratique..., op. cit., p. 636-648; A. Gilardi, Storia sociale della fotografia,
Milão, Feltrinelli, 1976, p. 231ss; F. Cagnetta & J. Sonolet, Nascita della fotografia psichiatrica, op. cit.,
p. 45-48.
48
E. Lacan, Esquisses photographiques, à propos de l’Exposition universelle et de la guerre d’Orient,
Paris, Grassart, 1856, p. 39-40.
49
Cf. F. Cagnetta e J. Sonolet, Nascita della fotografia psichiatriea, op. cit., p. 47.
50
Cf. A. Bertillon, La Photographie judiciaire, Paris, Gauthier-Villars, 1890, p. 81-111.
51
Ibid., p. 81.
52
Ibid., p. 3.
53
Ibid., p. 6-25, 60-74.
54
A. Bertillon, Identification anthropométrique - Instructions signalétiques, Paris, Gauthier-Villars,
1890-1893, p. 129.
55
Ibid., p. 133.
56
Cf. A. Bertillon, La Photographie judiciaire, op. cit., p. 26-45, 104-106.
57
A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique..., op. cit., p. 655.
58
C. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 617.
59
Ibid., p. 617-618.
60
Cf. R. Barthes, “Le message photographique”, op. cit., p. 133.
61
Cf. W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, in L’Homme, le langage. la culture, Paris,
Denoel, 1974, p. 74; H. Damisch, “Agitphot. Pour le cinquantenaire de la ‘Petite histoire de la
Photographie’ de Walter Benjamin”, in Les cahiers de la photographie 3, 1981, p. 24.
62
Cf. R. Barthes, La Chambre claire. Note sur la photographie, Paris, Cahiers du Cinéma- -Gallimard,
1980, p. 54, 119-122, 134-135 [A câmara dara, ver Bibliografia].
63
E. Lacan, Esquisses photographiques, op. cit., p. 125.
64
Cf. M. Heidegger, Chemins qui ne menent nulle part, op. cit., p. 145.
65
Cf. P. Valéry, “Centenaire de la Photographie (1939)”, in Vues, Paris, La Table ronde, 1948, passim.
66
Cf. J.-L. Nancy, Ego sum, Paris, Flammarion, 1979, p. 61-94.
67
Cf. S. Freud, L’Interprétation des rêves, Paris, PUF, 1967, p. 455 [A interpretação dos sonhos, ver
Bibliografia].
68
Cf. G. Janouch, Conversations avec Kafka, Paris, Les Lettres nouvelles, 1978, p. 191 [Conversas com
Kafka, ver Bibliografia].
69
Cf. P. Lacoue-Labarthe, Portrait de Partiste, en général, Paris, Bourgois, 1979, p. 61.
70
Cf. R. Barthes, La Chambre claire, op. cit., p. 36 [A câmara clara, op. cit., ver Bibliografia].
71
J. L. Schefer, Le Déluge, la Peste, Paolo Uccello, Paris, Galilée, 1976, p. 12.
72
Cf. C. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 456, “De l’idéal et du modèle”.
73
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1945, p. 310, “Mimique”.
74
Cf. R. Barthes, Barthes par lui-même, Paris, Seuil, 1975, p. 40; P. Lacoue-Labarthe, op. cit., p. 24; R.
Barthes, La Chambre claire, op. cit., p. 160 [A câmara clara, op. cit., ver Bibliografia].
75
Cf. W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, op. cit., p. 62; R. Barthes, La Chambre claire,
op. cit., p. 47-50, 73-95, 141-143 [A câmara clara, op. cit.].
“Eis a louca”
A parte vergonhosa
Dez mil vezes a histeria foi denominada, desdenominada e redenominada
(Janet, que já não acreditava numa histeria uterina, ainda assim achava
“doloroso renunciar” a essa palavra tão aristotélica).6 Eis um breve excerto
do catálogo:
Entre os franceses: histeria, histericia, histerismo, histeralgia, espasmo
histérico, paixão histérica, espasmos, doenças dos nervos, ataques de nervos,
calores, madre-assanhada, asma das mulheres, melancolia das virgens e das
viúvas, sufocação uterina, sufocação da matriz - Jorden dizia “sufocação da
madre” -, epilepsia uterina, estrangulamento uterino, exalações uterinas,
neurose uterina, metroneuria, neurose métrica, metralgia, ovarialgia,
uterocefalia, encefalia espasmódica etc.7
Mas o que Histeria quer dizer, o que se queria dizer com essa palavra, essa
palavra tão batida, ora, isso foi silenciado com frequência, inclusive num
século em que, decididamente, tudo era decretado enunciável; testemunha
disto seria, por exemplo, a ilustre figura de Rougon, contemporâneo de
Charcot:
A intratável
Paradoxos da causa
Paradoxos do foco
Se ao menos se encontrasse alguma coisa em algum lugar! Mas não. É que as
histéricas eram tudo ao mesmo tempo - paradoxo clínico! -, afetadas pelos
mais graves sintomas, e, ainda assim, incólumes! Incólumes em termos de
lesões concomitantes. Histeralgia ou ovarialgia: procurava-se no útero, nos
ovários, nada; desfalecimentos ou delírios: procurava-se no crânio, nada.
Os paradoxos do foco da histeria: o que se conta neles é toda a história da
histeria. É a história de um grande debate, tão inútil quanto encarniçado:
exploradores do útero contra inquisidores do encéfalo, diria eu, para resumir
(os mais refinados foram os teóricos das trocas entre a cabeça e o sexo da
mulher: nelas o cérebro desempenhava o papel de um intermediário, um
“distribuidor” visceral). As “teorias uterinas”, velhas como a eternidade,
eram duras de matar, digo, foram muito duradouras. Landouzy, em 1846,
ainda definiu a histeria como uma “neurose do aparelho reprodutor da
mulher”; “permaneceremos convencidos”, postulou, “de que o aparelho
genital é, com frequência, a causa e sempre o foco da histeria”.25
(“Neurose do aparelho reprodutor da mulher”? Ou seria neurose de um
imenso aparelho discursivo, que gerou “a mulher” como imagem
especificada e compatível da histeria?)
Não, retrucou Briquet, alguns anos depois: “para mim, a histeria é uma
neurose do encéfalo, cujos fenômenos aparentes consistem, principalmente,
na perturbação dos atos vitais que servem para a manifestação das sensações
afetivas e das paixões”.26 Arauto da tradição número dois (que remonta a
Sydenham, Baglivi e muitos outros), Briquet sustentou que a histeria era
uma doença da impressão, da impressionabilidade: “Existe no eixo
encefalorraquidiano uma divisão do sistema nervoso consagrada a receber
as impressões afetivas, isto é, a ação das causas que, vindas de fora ou da
intimidade dos órgãos, produzem o prazer ou a dor, tanto físicos quanto
psíquicos. [...] Podemos considerar a histeria como produto do sofrimento
da porção do encéfalo destinada a receber as impressões afetivas e as
sensações.”27
Aliás, não tinha Voisin “verificado”, não havia ele “aberto”, como dizia,
algumas histéricas, sem discernir nada nas cavidades pélvicas, e acreditado
ver um foco da loucura histérica numa substância cinzenta?28 (O que não o
impediu de afirmar, em outro texto, a pura espiritualidade da alma e sua
imortalidade...)29
Nota bene, convém repetir: “A mulher, para cumprir sua missão
providencial, tinha que apresentar essa susceptibilidade num grau muito
superior ao do homem”;30 sendo tudo questionado como obra do útero, a
histeria realmente continuou, portanto, a ser apanágio feminino, e Briquet
logrou êxito na violência de fazer dela, ao mesmo tempo, uma doença
feminina e uma doença dessexualizada, uma doença sentimental.31
A histeria, contudo, não é apenas um evento sentimental; nela os afetos se
tornam catástrofes corporais, espacialidade enigmática e violenta. Se houve
um recurso ao útero e ao encéfalo, foi porque ambos também eram cadinhos
de fantasias onde a ignorância e o desamparo médicos iam buscar
informações. Quando a causa escapava, era por causa do útero ou então de
alguma obscuridade central da parte posterior da cabeça. Sim, a histeria era
um prodígio e um drama das profundezas, e assim iam-se buscar seus
meandros na cabeça (substância cinzenta de infinitas circunvoluções, por
trás dos traços do rosto) e nos recônditos do sexo, que é o outro do rosto e,
por isso, conivente com ele.
Mas a histeria insistia em desafiar qualquer conceito de foco, qualquer
ideia de monomania (loucura local). Sua extrema visibilidade guardava
consigo um segredo, uma invisibilidade e uma labilidade, uma liberdade de
manifestações absolutamente intratáveis: uma imprevisibilidade irredutível.
A histeria obrigava a pensar em paradoxos - aqui era uma porosidade
integral do corpo, ali uma dinâmica de emanações e simpatias, acolá os
obscuros caminhos dos “nervosismos”. Só que os caminhos próprios do
pensamento médico obscureciam-se na mesma proporção.
Paradoxo da evidência espetacular
Então será que a histeria decorreria de uma força realmente abissal e secreta,
ainda não violada após séculos de investigações perseverantes? Ou
decorreria de uma farsa? De um puro fenômeno superficial? Como? O
sintoma histérico não passaria de uma mentira [mensonge]? (... palavra que,
até o século XVII, era feminina,** talvez, no dizer dos etimólogos, sob a
influência de sonho [songe]...).
Uma mentira!... Que o louco seja aquele que perdeu o sentido de sua
verdade, que as leis do mundo lhe escapem, inclusive as leis da sua essência,
isso ainda é concebível. Mas que uma mulher faça o próprio corpo mentir!
Como pode a medicina continuar a ser honestamente exercida, se os corpos
se puserem a mentir? Todo mundo mente, mas, em situações comuns, o
corpo de cada um deixa transparecer e “acusa” a verdade, na ponta de um
nariz, na rosácea de uma bochecha. Então como é possível uma traição
transformada em corpo e sintoma, ultrapassando qualquer intencionalidade
concebível do sujeito? Mas como pode uma febre ser mentira?
E aí está de novo o paradoxo da evidência espetacular, até em seu ponto
crucial: uma visibilidade sintomática (sua “apresentação”) pode não passar
de representação, máscara ou fictum, encenação farsesca de um sintoma
orgânico “verdadeiro”. O sintoma pode ocorrer, mas ser falso: pseudo-
hemiplegia, pseudo-hipertrofia etc. A histérica pode ser espontaneamente
atacada por “estigmas”, por uma gangrena cutânea, por exemplo, e nada se
opõe a que morra disso; mas Charcot diria: desconfiem, é uma
pseudogangrena, uma “sósia” da afecção orgânica “que precisamos saber
desmascarar”.36 E a morte: será que também era uma sósia, uma sósia da
morte “de verdade”?
Para isso, também era preciso que, diante de uma histérica, ele não
formulasse a pergunta existencial - Quem é o ser, aí? -, nem qualquer outra
do gênero. Era preciso negar qualquer paradoxo e qualquer fictum (isto é,
guardá-los, apesar de tudo, num canto escuro do pensamento, como
maldades: malefícios vigilantes). E, sobretudo, era preciso postular,
“enunciar como fato”, como se diz nas chamadas ciências exatas.
“Não se trata de um romance: a histeria tem suas leis.” E se submete a
elas! E eu lhes afirmo que terá “a regularidade de um mecanismo”.39
O notável é que Charcot quase cumpriu sua palavra: forneceu da histeria
uma forma, um quadro. Começou por dar um passo decisivo: formulou
diagnosticamente a diferenciação entre histeria e epilepsia - o que Landouzy,
aliás, havia empreendido antes dele.40 Disse que os epilépticos tinham
“acessos”, e as histéricas, “ataques”; comparou a gravidade recíproca dos
sintomas; decretou que a epilepsia era mais “verdadeira” (porque mais
“grave”) do que a histeria - e formulou até seu modelo figurativo: a histeria
imita a epilepsia. Era o que Charcot via diariamente em seu serviço na
Salpêtrière.
Depois, como todos os grandes médicos, ele formulou seu conceito
nosológico, a histeroepilepsia, ou hysteria major [grande histeria], em prol do
qual teve de erigir toda uma combinação de “crises mistas” e “crises
separadas”,41 daquilo que pertencia propriamente a tal ou qual afecção num
dado sintoma complexo etc. Queria forjar o conceito de uma histeria que
não mentisse, uma grande histeria.
Essa combinação, exigida por um diagnóstico sempre complicado
(exemplo: “Em resumo, trata-se aqui de uma neurite ciática provocada pelo
uso da máquina de costura, [...] depois generalizada para todo o membro
[...] com complicação de histeria”),42 requeria, por sua vez, uma espécie de
compromisso teórico quanto à dialética das formas nosológicas: Charcot
sustentava, por um lado, a “doutrina da fixidez das espécies mórbidas”43 e,
por outro, reconhecia “complexos nosológicos” tais que “não representam na
realidade formas híbridas, produtos variáveis e instáveis de uma mistura, de
uma fusão íntima, e sim o resultado de uma associação, de uma justaposição
em que cada componente preserva sua autonomia”.44 É que era
absolutamente necessário isolar a histeria, porque, justamente, ela tendia a
contaminar (não apenas imitar) todos os referenciais nosológicos; assim, a
histeria “complicava” a epilepsia, mas não devia, no dizer imperativo de
Charcot, “fundir-se” com ela.45
Isolar a histeria também significava isolá-la na teoria, ou seja, do ponto de
vista da anatomia e da fisiologia patológicas. Assim, apesar do “sine
materia”, Charcot teria fomentado um conceito de lesão histérica: lesão da
casca, não do centro, “lesão dinâmica”, dizia ele, fisiológica e não anatômica,
“fugaz, lábil, sempre susceptível de desaparecer”.46
Puro efeito de traço, então? Nada disso. O indício do caráter forçado dessa
explicação teórica da histeria, diria eu, fica bem marcado na persistência, em
toda essa história, do ideal anatomoclínico. Como se tudo não passasse de
um acordo e uma espera, mesmo assim, de uma “matéria” da histeria: “É
importante sabermos que a histeria tem suas leis, seu determinismo,
exatamente como uma afecção nervosa com lesão material. Sua lesão
anatômica ainda escapa a nossos meios de investigação, mas se traduz de
maneira inegável para o observador atento [...].”47 Ao dizer isso, Charcot
abriu caminho para todo o espaço de inteligibilidade da neurologia e lançou
as bases da moderna psicofisiologia;48 digo que ele explicitou a histeria, no
sentido de haver antecipado um conceito por cálculo e tática de visões
prévias: o oposto diametral de uma “captação virgem”. Uma invenção.
Traços de mulheres
Encher os olhos de quê? Esta é toda a minha pergunta. De corpos de
mulheres, em todos os seus estados.
É claro que “a histeria no homem não é tão rara quanto se supõe”,62 e as
“policlínicas” de Charcot estavam cheias de homens histéricos, basta ver o
célebre caso do chamado Pin... Foi até uma grande “coragem” de Charcot a
sua “descoberta”63 da histeria masculina...
Ocorre que a Iconografia fotográfica da Salpêtrière, entre 1875 e 1880, não
nos dá um único retrato de homem. Os homens só entraram na Salpêtrière,
na condição de doentes, a partir de 21 de junho de 1881, data de
inauguração da chamada “consulta externa”.64 Mas foi preciso esperar até
1888 para poder contemplar os traços fotografados de um homem
histérico.65
Mesmo assim, trata-se de uma tática de diferenciação entre os sexos. O
fato de se elevar a histeria ao nível de um “temperamento” não modifica
nada, muito pelo contrário: como “temperamento feminino transformado
em neurose”, conforme ainda diziam os dicionários em 18 8 9,66 essa histeria
permitia circunscrever ainda melhor as sexualidades nômades dos
“efeminados” de todos os gêneros. Por outro lado, a histerização instituída,
se não institucionalizada, do corpo da mulher persistiu e até voltou a ser
fabricada no século XIX; aí o asilo se redefiniu, por exemplo, como a
inversão medicalizada da casa de tolerância (... porque da histérica à
prostituta havia apenas um passo, e simples: transpor os muros da
Salpêtrière e se descobrir na rua...); em suma, todos os processos de
invenção generalizada de uma sexualidade de época67 ainda compreendiam
a histeria como uma posse de feminilidade.
Assim, é preciso registrar o fato de que essas imagens da Iconografia
fotográfica da Salpêtrière, antes de tudo, extraem traços, extraem traços de
mulheres.
Aliás, a palavra estrela [vedette] só é dita no feminino. Diderot escreveu
que “quando se escreve sobre mulheres é preciso molhar a pena no arco-íris
e lançar sobre a linha a poeira das asas da borboleta...”68 Mas onde foi
molhada a pena de Bourneville? E o passarinho de Regnard?
E, para começar, como veio a se prender o alfinete nas asas da borboleta?
Notas
1
Cf. Lautréamont, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1970, p. 136-137.
2
S. Freud, “Hystérie”, in Standard Edition, I, p. 41 (doravante citada como SE) [“Histeria”, ver
Bibliografia].
3
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. v.
4
Citado em I. Veith, Histoire de Thystérie, Paris, Seghers, 1973, p. 19.
5
F. Rabelais, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1955, p. 445-446.
6
P. Janet, État mental des hystériques. Les stigmates mentaux, Paris, Rueff, 1893, p. 300.
7
H. Landouzy, Traité complet de Thystérie, Paris, Baillière, 1846, p. 14; cf. F. Dubois, Histoire
philosophique de l’hypocondrie et de Thystérie, Paris, Baillière, 1837, p. 13-14.
8
E. Zola, Son Excellence Eugène Rougon, 1876, p. 114.
9
A. Paré, citado em P. Morel e C. Quetel, Les Fous et leurs médecines de la Renaissance au XIXe siècle,
Paris, Hachette, 1979, p. 42.
10
Ibid., p. 43.
11
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Thystérie, op. cit., p. 605-717.
12
Ibid., p. 706.
13
F. Dubois, Histoire philosophique de l’hypocondrie et de l’hystérie, op. cit., p. 455.
14
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Thystérie, op. cit., p. 632 [“Eliminada a causa,
desaparece o efeito”, diz o provérbio (N.T.)].
15
Cf. Boissier de Sauvages, citado em I. Veith, Histoire de l’hystérie, op. cit., p. 166-168.
16
G. Gilles de la Tourette, Leçons de clinique thérapeutique sur les maladies du système nerveux, Paris,
Plon-Nourrit, 1898, p. 154-155.
17
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. III, p.
15.
18
J.-M. Charcot e A. Pitres, Les Centres moteurs corticaux chez l’homme, Paris, Rueff, 1895, p. 27.
19
Cf. M. Foucault, Histoire de la folie à Tâge classique, op. cit., p. 243-250 [História da loucura..., op.
cit., ver Bibliografia]; J. Starobinski, “Le passé de la passion. Textes médicaux et commentaires”,
Nouvelle revue de psychanalyse, 21, 1980, passim.
20
F. J. V. Broussais, De Tirritation et de la folie, ouvrage dans lequelles rapports du physique et du moral
sont établis sur les bases de la médecine physiologique, Paris, Baillière, 1828, v. I, p. 3.
21
Ibid., v. II, p. 348.
22
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Thystérie, op. cit., p. 164-165.
23
Ibid., p. 51.
24
G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Thystérie, d’après l’enseignement de la
Salpêtrière, Paris, Plon-Nourrit, 1891-1895, v. I, p. 576; cf. ibid., p. 37-127; G. Guinon, Les Agents
provocateurs de l’hystérie, Paris, Progrès Médical & Delahaye & Lecrosnier, 1889, passim; A. Pitres,
Leçons cliniques sur Vhystérie et Vhypnotisme, Paris, Doin, 1891, v. I, p. 13-46.
25
H. Landouzy, Traité complet de Vhystérie, op. cit., p. 230; cf. ibid., p. 211-213; cf. J.-B. Louyer-
Villermay, Traité des maladies nerveuses en vapeurs et particulièrement de Vhystérie et de l’hypocondrie,
Paris, Méquignon, 1816, passim.
26
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 3.
27
Ibid., p. 600-601.
28
Cf. A. Voisin, Leçons cliniques sur les maladies mentales professées à la Salpêtrière, Paris, Baillière,
1876, p. 348-359.
29
Ibid., p. xiii.
30
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 600.
31
Ibid., p. vii.
32
A. Pitres, Leçons cliniques sur Vhystérie et Vhypnotisme, op. cit., v. I, p. 2.
33
Ibid., p. 11.
34
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1879-1880, p. 3 (doravante citada como IPS, III);
35
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 490-604; P. Richer,
“Observation de contracture hystérique guérie subitement après une durée de deux années”, in NIS,
1889, p. 208 etc.
36
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, Paris, Progrès Médical &
Lecrosnier & Babé, 1888-1889, p. 522.
37
S. Freud, “Préface et notes à la traduction de Charcot: Leçons du mardi, 1887-1888”, in SE, I, p. 139
[“Prefácio e notas de rodapé à tradução de Aulas das terças-feiras, de Charcot”, ver Bibliografia]; cf. S.
Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1979, p. 86 [Fragmento
da análise de um caso de histeria, ver Bibliografia]; S. Freud, Ma vie et la psychanalyse, Paris,
Gallimard, 1968, p. 17-19 [Um estudo autobiográfico, ver Bibliografia].
38
S. Freud, “Note sur l’inconscient en psychanalyse”, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, 1968, p.
179 [“Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise”, ver Bibliografia]. Grifo meu.
39
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 277, e v. III, p. 15.
40
Cf. H. Landouzy, Traité complet de Vhystérie, op. cit., p. 236-238.
41
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès Médical
& Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 121-122; cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in
Cinq psychanalyses, op. cit., p. 142 (nota crítica sobre a histeroepilepsia) [Fragmento da análise..., op.
cit., ver Bibliografia].
42
J.-M. Charcot, Clinique dês maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, 1892-1893,
v. I, p. 177. Grifo meu.
43
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 178-179.
44
Ibid., p. 151.
45
Ibid., p. 252.
46
J.-M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, op. cit., v. I, p. 362; cf. J-M. Charcot,
Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 113.
47
J.-M. Charcot, “Préface”, in A. Athanassio, Les Troubles trophiques dans Phystérie, Paris, Progrès
Médical & Lecrosnier & Babé, 1890, p. 3. Grifo meu.
48
Cf. P. Sollier, Genèse et nature de Phystérie. Recherches cliniques et expérimentales de psycho-
physiologie, Paris, Alcan, 2 v., 1897, passim; G. Haberberg, De Charcot à Babinski. Étude du rôle de
Phystérie dans la naissance de la neurologie moderne, tese de medicina, faculdade de Créteil, 1979,
passim.
49
Cf. S. Freud, Correspondance, Paris, Gallimard, 1966, p. 183-185, 191, 195-197, 214, 220.
50
Ibid., p. 212-213.
51
S. Freud, “Bericht über meine mit Universitàts-Jubilàums Reisestipendium unternommene
Studienreise nach Paris und Berlin”, in SE, I, p. 5 [“Relatório sobre meus estudos em Paris e Berlim”,
ver Bibliografia].
52
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1878, p. 22-27 e lâmina III (doravante citada como IPS, II).
53
S. Freud, Correspondance, op. cit., p. 197.
54
Ibid., p. 206.
55
Ibid.
56
Cf. E. Jones, La Vie et l’oeuvre de Sigmund Freud, Paris, PUF, 3 v., 1970, v. I, p. 75 [A vida e a obra de
Sigmund Freud, ver Bibliografia].
57
Ibid., p. 201.
58
Cf. S. Freud, prefácio a “Neue Vorlesungen über die Krankheiten des Nervensystems insbesondere
über Hysterie”, in SE, I, p. 21 [“Prefácio à tradução das Conferências sobre as doenças do sistema
nervoso, de Charcot”, ver Bibliografia]; S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq
psychanalyses, op. cit., passim [Fragmento de análise..., op. cit., ver Bibliografia].
59
Cf. S. Freud, “Esquisses pour la ‘Communication préliminaire’ de 1893”, in GW, XVII, 1892, p. 151
[Esboços para a “Comunicação preliminar” de 1893, ver Bibliografia].
60
Cf. S. Freud, “Charcot”, in GW, I, 1893, passim [“Charcot”, op. cit., ver Bibliografia].
61
Cf. J. Nassif, “Freud et la science”, in Cahiers pour l’analyse, Paris [9, 1968], p. 161; J. Nassif, Freud -
L’Inconscient. Sur les commencements de la psychanalyse, Paris, Galilée, 1977, p. 78; J. A. Miller, “Some
aspects of Charcot’s influence on Freud”, Journal of the American Psychoanalytic Association, 2, 1969,
p. 608-623, passim; L. Chertok e R. de Saussure, Naissance du psychanalyste. De Mesmer à Freud, Paris,
Payot, 1973, p. 114-129; J.-B. Pontalis, “Entre Freud et Charcot: d’une scène à l’autre”, in Entre le rêve et
la douleur, Gallimard, Paris, 1977, p. 15-17 [Entre o sonho e a dor, ver Bibliografia].
62
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 253.
63
G. M. Debove, “Éloge de J.-M. Charcot”, Bulletin Médical [103, 1900], p. 1.390.
64
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 3 (nota de Bourneville).
65
Cf. G. Gilles de la Tourette, “L’Attitude et la marche dans l’hémiplégie hystérique”, in NIS, 1888, p. i-
ii.
66
Dictionnaire encyclopédique des sciences médicales, Paris, Masson/Hasselin/ Houzeau/ Labé, 1864-
1889, 4a série, XV, p. 331; cf. também P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p.
VII.
67
Cf. M. Foucault, Histoire de la sexualité. 1 - La volonté de savoir, Paris, Gallimard, 1976, p. 11, 137-
139, 201-204 [História da sexualidade, I: A vontade de saber, ver Bibliografia]; G. Wajeman, “Psyché de
la femme: note sur l’hystérique au XIXe siècle”, in Romantisme [13-14, 1976], passim.
68
D. Diderot, “Sur les femmes”, in Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1951, p. 956.
Quase rosto
Uma palavra de lado, no canto da imagem, para a qual chamo atenção. Uma
pergunta, melhor dizendo. A dama que os senhores veem aqui - terá seu
meio sorriso curado o mal que seu olhar lançava?1 Que mal? Mas deixem de
lado esta pergunta, mais uma vez. E olhem (figura 34). Esta é Augustine. Seu
caso predileto, senhores.2 Será que sua curiosidade, sua curiosidade
sacrílega e “mexeriqueira”, como escreveu Baudelaire, estaria em condições
de ficar satisfeita? Pois aqui está Augustine, tal e qual ela é, graças à
Fotografia; e eis, portanto, o retrato do seu chamado “estado normal” e
“atual”.
Mas notem bem: a perfeição do gesto fotográfico teria sido, sem dúvida,
surpreender “seu modelo” Augustine, não? E até surpreendê-la sem ela
saber... Não é o caso aqui. Aqui, “nosso modelo” posa. Imobilidade de busto,
olhar de esguelha, braço rígido. Corpo fazendo pose.
E, por outro lado, vejam, Augustine não se apresenta totalmente de frente.
É um detalhe, com certeza. Mas será que esse ligeiro viés de seu “faire-
visage” [mostrar o rosto] (é assim que o francês antigo chamava a
apresentação) não é, para mim, indício de que a “matéria do retrato” consiste
apenas num “quase rosto”?3 E que curiosidade, uma cara tão... tão neutra,
será que ela poderia mesmo ser satisfatória? De que drama subjetivo essa
neutralidade poderia ser o suporte? É verdade. Tal neutralidade desprovê,
para começar. Desprovê a imagem de algo que seria um sentido, uma
história, um drama que, no entanto, a imagem supostamente ilustraria.
Nessa lâmina XIV da Iconografia fotográfica da Salpêtrière, Augustine é mais
ou menos parecida com qualquer pessoa. E é por isso que, a princípio, dela
nos chega apenas um quase rosto.
É também por isso que a Iconografia nos propõe uma disposição serial das
imagens, série esta, por sua vez, presa a outra disposição que a fundamenta:
uma narratividade completa, o roteiro do caso: suplência e explicitação das
imagens, comentário, legenda do que seria, no fundo, seu teor enigmático
essencial - embora se supusesse, justamente, que essas imagens deveriam
apenas ilustrar, esclarecer e provar a veracidade do discurso clínico. Pequeno
círculo vicioso, no que concerne ao saber: em cada caso, a legenda e a
imagem estão ali para vir em socorro do outro, que está sempre em risco -
em risco de quê: de ficção?
Figura 34. Paul Regnard, “Histeroepilepsia, estado normal”, fotografia de Augustine reproduzida em
fototipia, lâmina XIV (detalhe), em Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la
Salpêtrière, Paris, Progrès Médical & Delahaye, 1878.
Mas o fato é que o comentário desenvolve aqui (quanto a esta foto) algo
completamente diferente da explicitação de uma coisa à flor da imagem. E,
talvez para suprir a neutralidade do rosto, ele vem contar-nos, antes, a
história de um personagem: Augustine “é loura, grande e forte para sua
idade, e oferece todo o aspecto de uma menina púbere. É ativa, inteligente,
afetuosa e impressionável, mas é caprichosa, e gosta muito de chamar
atenção. É vaidosa, empenha muito cuidado em sua toalete, em arrumar os
cabelos, que são abundantes, ora de um jeito, ora de outro; as fitas,
sobretudo de cores vivas, são sua grande alegria”4 (figura 34).
E não se admirem com o fato de já estarem vasculhando embaixo da
roupa, para além do retrato - porque isto diz respeito à histeria. Augustine,
portanto, “é grande, bem desenvolvida (pescoço meio grosso, seios
volumosos, axilas e púbis cobertos de pelos), decidida no tom e nos modos,
de humor inconstante, barulhenta. Já não tendo mais nada dos modos
infantis, exibe quase o aspecto de uma mulher feita, mas nunca menstruou.
Foi internada por uma paralisia da sensibilidade do braço direito e por
ataques de histeria grave, precedidos por dores no baixo-ventre, à direita”.5
Tinha quinze anos e meio.
É essa a “apresentação” de Augustine. Ao longo das páginas e ilustrações,
no correr de observações, cenários, medidas e registros, o mais íntimo de
sua história, de sua doença, nos é prometido numa exposição às claras - a
Iconografia está aí justamente para isso. Mas digo que Augustine nunca
ficará para nós senão como um quase, um quase rosto, quase corpo, quase
história. E direi que seu próprio nome permanecerá como quase: cientistas
tarimbados como Bourneville e Regnard, tão cuidadosos com a avaliação
dos protocolos clínicos, nem sequer conseguiram denominá-la como “uma”,
hesitando constantemente entre “Augustine”, “Louise”, “X.”, “L.”, “G.”.6
E eu mesmo não terei escrito senão sobre uma quase Augustine.
A sombra e a lentidão
Tanto que sua figura nunca vai além de emergir das trevas. Como ver, por
exemplo, o que Bourneville nos afirma dela: que era loura?
O grande problema, assim como a qualidade de todas essas imagens, eu
diria que é sua lentidão. Isto remete, para começar, ao problema fotográfico
da preparação sensível, como se costuma dizer. Regnard trabalhava com
placas em que aplicava colódio úmido: lentidão do preparado, lentidão do
processo, lentidão da pose e da exposição, lentidão da revelação; e imagens
sempre como que obscurecidas (assim que possível, na época da Nova
iconografia, essas placas foram substituídas pelas que usavam
gelatinobrometo de prata). As fotografias de Regnard, para destacar e
ilustrar a histeria, não foram, portanto, predações inteiramente instantâneas
do visível; foram como que intervalos - infaustos, no fundo, desejos quase
fracassados de instantaneidade.
O escurecimento desses retratos, portanto, não é algo que eu possa
considerar como simples falta de luz; nele encontro, antes, uma demora da
revelação fotográfica, portanto, uma retirada temporária da luz, uma
suspensão do manifesto naquilo que, no entanto, é manifestação por
excelência. E essa retirada, essa suspensão tenebrosa, indica-me algo como
um ser-aí, como o que diz Heidegger sobre a ironia de um “domínio estático
da declosão e da retirada do ser”.7
Mas que nome dar ao tipo de eficácia que emana dessas imagens, a tudo
que delas nos “impressiona” como um aquém da sua própria organização
figurativa? Repito: “A sombra não é um efeito da luz e tampouco um duplo
inquietante; é, como no teatro, uma verdadeira trave interna de todo palco.”8
Repito: essas imagens são de uma época em que ainda era preciso esperar a
luz.
E a qualidade de sua “grafia” tinha magia ainda maior nessas placas lentas.
Mas quem estava esperando? Quem esperava, de verdade? Regnard? Ele se
atarefava, principalmente; desfrutava de um tempo da visão, do
enquadramento e da “focagem”, do posicionamento do corpo; com certeza,
esperava, durante o tempo da tomada, por longos segundos, ou até minutos,
para que “a coisa se fizesse”, essa grafia de luz.
Augustine, por sua vez, esperava, mas não estava apta - adolescente e
histérica, ainda por cima, e objeto da imagem - a saber o que estava
esperando. Assim, no meu entender, ficava realmente na expectativa.
Tramava-se alguma coisa em torno do seu corpo como visibilidade. Se ela
oferecesse um olhar (como nessa lâmina XIV), decerto ele não seria
verdadeiramente retribuído (com Regnard camuflado, escondido sob seu
véu preto de fotógrafo). Até a pose, suponho, e já pelo simples enigma de
sua finalidade, podia ser para ela uma angústia.
Observe bem que Nadar não hesitou em qualificar a pose fotográfica de
“doença do cérebro”, e se atreveu a descrever as “ondas de pavor” de todos os
seus modelos; com uma piscadela para Balzac, chamou de “espectros” os
corpos ao serem fotografados.9
Posar é como a espera de um momento, aquele em que se bate a
fotografia, sobre o qual quase nada se sabe, exceto que deve ser o momento
“certo”. É uma espécie de urgência, muito simples e muito obscura: a
urgência de ter que se parecer consigo mesmo num dado momento, e esse
momento vai chegar, e sempre chega quase agora, sempre já, já, sempre com
o risco de um tarde demais ou um cedo demais. Ora, ter que se parecer
consigo mesmo torna-se rapidamente o requisito de um corpo pronto,
aprontado, portanto, para a imagem. Posar equivale a inventar para si, e
mesmo a contragosto, um corpo de reposição, o lugar propício para um resto
futuro da semelhança; posar, nesse sentido, é uma “microexperiência da
morte”; quando poso, sim, “torno-me realmente um espectro”,10 torno-me
eu mesmo, como fotografado, prestes a virar aparição espectral.
Aliás, foi justamente a uma espécie de teoria espectral dos corpos
fotografados que Nadal chegou: cada um, escreveu ele, “seria composto por
uma série de imagens fantasmáticas, superpostas em camadas até o infinito,
cobertas por películas infinitesimais”.11
Bourneville, digo-o de passagem, teria tomado a precaução de nos
apresentar o retrato de Augustine, de saída, como a sobrevivente de sete
fantasmas, sete mortos: o pai e seis irmãos e irmãs.12
Seria mais por uma espécie de lateralidade na imagem que eu qualificaria
qualquer obsessão temporal da pose. A título de indicação, há o próprio fato
de que o corpo de Augustine nunca se decidiu a se apresentar unicamente de
frente, exceto quando ela era hipnotizada; também a título de indicação, há
sua mão na têmpora - aqui, na temporalidade pensativa ou contraída do
retrato.
Mas ela continua difícil de pensar, essa obsessão temporal. Recapitulo. Ela
atesta um momento de captura, esta imagem entre minhas mãos, e, em
termos mais centrais, um ser-aí de pose. É que a fotografia me obriga a um
afeto, a um afeto diferente, digo: não mais relativo a uma simples ficção de
corpo e aos trinta centímetros que separam meu olho da superfície da prova,
desta prova em minhas mãos, porém a um corpo de outra pessoa,
autenticado e, portanto, talvez autêntico. Um brilho totalmente diverso entra
então na palavra prova. Os corpos de terceiros assombram, e o fazem de um
modo diferente do cara a cara ortogonal das superfícies; são uma espécie de
ação imaginária vinda de todos os azimutes, e é como se lateralizassem a
própria visão. Quero dizer, simplesmente, que eles a infectam ao afetá-la,
com uma ação, talvez uma carne, talvez uma morte. E a “carne” da imagem
seria, portanto, como que um investimento lateral, pelo qual corremos
grande risco de obnubilação imaginária.
Benjamin acrescentou:
Contatos da distância
Véu, revelação
Figura 35. Hippolyte Baraduc, Psychod: OD, força vital atraída pelo estado de espírito enternecido de
um menino, reprodução de uma fotografia sem eletricidade, com Dmáquina fotográfica, prova I,
p ç g q g p
extraída do livro do dr. H. Baraduc, LÂme humaine, ses mouvements, ses lumières et l’iconographie de
l’invisible fluidique, Paris, Carré, 1896.
Iconografia da aura
Figura 36. Hippolyte Baraduc, experiência sobre a “vibração da força vital cósmica” no retrato de dois
meninos, reprodução de duas fotografias feitas sem eletricidade, com uma máquina fotográfica, prova
XXXVIII, extraída do livro do dr. H. Baraduc, L’Âme humaine, ses mouvements, ses lumières et
l’iconographie de l’invisible fluidique, Paris, Carré, 1896.
Oráculos fotográficos
E o que obsedava Baraduc era o tempo, com certeza. Ele, que ia tão longe
na interpretação literal do tempo de exposição como prae-sens,* isto é, como
iminência38 - iminência revelada na placa sensível no próprio momento em
que o visível, captado, se vela -, ele que intitulava suas provas fotográficas de
“sinais providenciais” ou “apelo a alguma coisa”,39 pois bem, ele procurava
ver alguma coisa do tempo, pura e simplesmente, reconhecer a grafia de
uma assinatura temporal nas falhas da luz visível. A alma humana, seu
tratado técnico da fotografia das auras, encerra-se num capítulo dedicado à
profecia. Nele, Baraduc defende uma “síntese” da ciência experimental, de
algo que seria um êxtase do tempo na aproximação do visível, e define a
Fotografia como uma modalidade do “Verbo” - a Profecia.40
E seu retorno quase histérico à histeria, essa espécie de contorno do
objetivo pelo qual ele mesmo se transformou em espectro, o próprio Baraduc
o formulou como uma espécie de inversão delirante de seu engajamento no
saber neuropatológico: como psiquiatra, mas psiquiatra infectado por
tamanha paixão fotográfica, ele exigiu verificar, ou seja, ver e confirmar o que
se vê num delírio: a hiperestesia histérica tornou-se sua meta epistêmica: “Os
resultados obtidos são dos mais convincentes, e, portanto, cabe à
neuropatologia refazer o tratado das alucinações, porque a retina
hiperestesiada é capaz de perceber formas que a Iconografia demonstra
serem reais.”41
Tudo isso, é claro, foi refutado por fotógrafos e psiquiatras como um
produto duvidoso (embora ignorado) da revelação fotográfica.42 Mas tudo
estava longe de ser marginal, tanto nos conhecimentos quanto nas práticas
da fotografia e da neuropatologia da época. A teratologia científica é eficaz
no próprio campo da ciência.
Aura hysterica
Os três nós
Dissimulação e dissimilação
Qual seria uma razão, ou, pelo menos, um aspecto dessa complexidade?
Lembre-se da suspeita da mentira, lembre-se do próton pseudos hystericon,54
a “primeira mentira histérica” atrás da qual Freud começou a correr.
Os médicos observavam as histéricas e seus espetáculos de dores,
clamadas como lancinantes, ou de estrangulamentos e convulsões
espontâneas, e ficavam assombrados, procurando ajustar o pincenê diante
do que Freud chamou, citando Charcot, a “bela indiferença das histéricas”.55
A desconfiança voltava quando eles avaliavam o seguinte paradoxo, que não
deixava de lhes evocar certo paradoxo da atriz: as histéricas falavam de sua
dor e a atuavam, entregavam-se a encenações de auras e sintomas, embora,
um minuto antes, houvessem estado vivas, belas, livres de qualquer afeto e
qualquer angústia, e, um minuto depois do ignóbil ataque, retornassem
alegres, livres de qualquer angústia. Em 1926, Freud confessou ainda saber
muito pouco sobre esse paradoxo, que era um paradoxo da intermitência.56
Essa desconfiança só faz acentuar o enigma do retrato de Augustine, de
sua “bela indiferença”, sua neutralidade, seu quase sorriso. A Iconografia
fotográfica da Salpêtrière, aliás, forneceu muitas outras imagens de histéricas
a respeito das quais talvez Breuer revisse sua referência ao livro ilustrado sem
imagens...57 É o caso dos retratos de “Th.”, logo nas primeiras lâminas da
Iconografia, cuja fácies durante o ataque desfrutava, digamos, da mesma
“reserva” de sua “fisionomia normal”, exceto pela camisa de força: de olhos
abertos ou fechados, ela continuava, segundo a confissão de seus fotógrafos
e de observadores tarimbados, a ser “dissimulada”.58 Ou então, numa série
de imagens de “Geneviève”, aquilo que é legendado como aura,
“aproximação do ataque” ou “início do ataque” (figuras 4142) só se
manifestava como visibilidade por uma espécie de inflexão simples dos
olhares, que eu chamaria, talvez, de paciência.
Em todo caso, essas jovens parecem mostrar que não são o que aparentar
ser. As imagens tiradas delas já nos forçam a um ceticismo em relação às
imagens, o que é um efeito dos seus quase rostos. Isso dá nome à aura, ao
farfalhar de plumas e ao voo de sua actio in distans, e a tudo que delas nos
atrai por essa razão. É desvio, dissimulação que vela, suspensão de qualquer
oposição decidível entre a verdade e a inverdade da imagem, é o enigma
velado de uma proximidade imediata.
Ora, esse efeito de dissimulação, ninguém mais sabe como poderia
extinguir-se. A suspeita de simulação pesava e continuaria a pesar,
justamente por causa dessa neutralidade dos rostos. A aura significa que o
ataque temporal de Augustine, ao posar para o fotógrafo e esperar - o quê:
uma crise, aquela que a legenda já nos indica? -, significa que esse ataque,
essa tormenta do tempo, destina Augustine ao recuo e à ação de uma
dessemelhança: à dissimilação.59
Quer a própria Augustine se dissimulasse e se “dissimilasse”, quer não,
resta-nos a indicação de que ela estava perto do desastre. O quase rosto de
seu retrato, próximo do que se manifestaria como aura hysterica, mas não se
manifestando na imagem, ainda não, esse quase corpo continua a ser para
nós, como foi para Bourneville e Regnard, mais do que aparência e menos
do que fenômeno. Algo como um fenômeno-índice, talvez:
Tempo de exposição**
Veja, por exemplo, o vento de pavor que parece passar pelo rosto de outra
histérica da Iconografia, denominada “Ler... Rosalie” (figura 43); pois bem,
não há nada de passageiro nisso, mas, antes, uma espécie de transfixação,
uma duração intensiva, uma verdadeira “contratura do rosto”, “mais ou
menos persistente”,74 e que permite a relativa nitidez da imagem, para um
tempo de exposição que era fatalmente longo.
A grande preocupação de Regnard, com suas placas de colódio úmido,
devia ser sempre esta: dados certa luz (o emprego da luz artificial só viria a
se instaurar alguns anos depois), certa objetiva, certo diafragma, certa
“agitação” do sujeito, certa distância, sem falar ainda no revelador, como
obter uma “boa prova”?
Nessa época, o ato fotográfico ainda era um risco quanto ao tempo, uma
aposta no tempo de exposição. E, mesmo mais tarde, Albert Londe não se
livrou com muita facilidade da questão desse tempo, “uma das questões
mais delicadas da fotografia”.75 Sabemos que o primeiro modelo a posar para
um fotógrafo ficou imóvel diante da objetiva durante oito horas seguidas, e
era, graças a Deus para ela, uma natureza já morta. Depois, a história da
fotografia desejou saber-se escandida como um progressivo “arrancar do
tempo”. Fez-se do instante a essência do fotográfico, também querendo
esquecer que o instante traz em si ausência e retraimento (dizia-se instante,
pensava-se em síntese temporal). Assim, era preciso cortar a duração,
sempre excessiva, da exposição (excesso que me oferece aqui como que a
contraescansão dessa história): o reforço de guilhotinas, obturadores
circulares mais rápidos, cálculos do “tempo útil” de exposição (que reduzia o
“tempo total”), piscadelas das lamínulas, refinada supersensibilidade de
películas cada vez mais impressionáveis, flashes de magnésio, tudo servia
para reduzir esse tempo, esse verdadeiro tempo de incômodo.
(E note que “incômodo” significava, em primeiro lugar, humilhação,
tortura e confissão. Bossuet empregou essa palavra para dizer Inferno.)
Figura 43. Paul Regnard, “Contratura do rosto”, fotografia de “Ler... Rosalie”, lâmina VIII, em
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès Médical &
Delahaye, 1877.
De qualquer modo, “quando se trata de reproduzir doentes”, escreveu
ainda Albert Londe, “de fato há um evidente interesse em diminuir tanto
quanto possível o tempo de exposição, quer por estarmos lidando com
sujeitos que dificilmente conservam a imobilidade, quer por trabalharmos
em salas de hospitais, em geral mal iluminadas. O aumento da rapidez dos
preparativos fotográficos foi decisivo, portanto, do ponto de vista da
aplicação às ciências médicas”.76
Pois bem, o que a fotografia, logo chamada de “instantânea”, queria negar
e reduzir, no tocante a isso, era meio parecido com sua matriz temporal, ou
seja, sua temporalidade-madre,*** algo que estivera no ponto fundamental
de seu nascimento. Trata-se da pose. Palavra que já convém escutar:
– A partir de ponere, isto é, postar um personagem, colocá-lo de pé,
“posicioná-lo”, pô-lo no lugar. Olhe de novo para Augustine, nem que
seja para sua verticalidade, sua verticalidade provisória, que é
“iconografada” como significante de uma espécie de ideal de conceito
clínico, seu chamado “estado normal”.
– A partir de pausa (a paúsis grega), a paralisação, a cessação, a pausa.
Refiro-me à paralisação, sim, à paralisação pela qual se constitui a pose
fotográfica, como retenção num ritmo, retenção de um ritmo.
– Pausa é também o nome da “estação” numa procissão, uma penitência
na Via Crúcis, e os corpos fotografados já são, para nós, corpos gloriosos
e mártires, em razão mesmo de terem sido entregues à imagem e
retidos (pela câmera) “na fronteira ambígua entre a execução e a
representação, entre a câmara de tortura e a sala do trono”.77
– Tornemos a escutar ponere, pôr, depor: é estender no leito fúnebre, é
acalmar para sempre, até mesmo destruir, é sepultar, dispor das
relíquias. Os cadáveres, escreveu Barthes, nunca são mais vivos que na
fotografia,78 porque a fotografia é uma prática das relíquias mais
paradoxais que há: momentos de vida.
– Pela última vez, preste atenção na palavra: ela significa depositar, ou
seja, investir. E da retenção (detenção e cessação) relança-se uma
espécie de protensão que é, ao mesmo tempo, um ato de desviar
(pauein, em grego): investimento e desvio, ou subtração, ou aposta num
futuro, especulação. Quero dizer, sobretudo, que a pose é um
movimento íntimo de expectativa. A propósito dos antigos retratos
fotográficos, Benjamin escreveu: “Durante a longa duração da pose,
eles [os ‘modelos’] como que se instalavam no interior da imagem”;79 e
essa instalação era investimento, protensão, expectativa, pois “o que
devia parecer desumano, diríamos até mortal, no daguerreótipo era que
ele obrigava a olhar (por um longo tempo, aliás) para um aparelho que
recebia a imagem do homem sem retribuir seu olhar. Pois não há olhar
que não espere, isto é o que importa, não há olhar que não espere uma
resposta do ser a que ele diz respeito”.80
A expectativa
E ela também dizia (talvez até se atordoando, de tanto repetir): “Não tenho
tempo (bis).” E depois: “Estou te dizendo que esta noite eu não posso [...] ele
me declarou que me mataria...”86
Realmente creio que a prova fotográfica (sua imposição da expectativa)
tenha-se beneficiado de uma coincidência, uma verdadeira sorte para uma
fábrica de imagens: o tempo da histérica já é culpado. Já é culpado e, em sua
relação simples com a visibilidade, recorta sua silhueta como no teatro de
sombras.
Traduziríamos o grego hystériké por: aquela que está sempre atrasada, a
intermitente. Sim, intermitente e histérica, ela é a intermitente por seu corpo;
vive no risco e na infelicidade de se enganar constantemente quanto à posse
de seu corpo, vive a experiência de que ele talvez não seja seu, chega até a
tentar, muitas vezes, tomar o corpo de outrem como o próprio corpo, e esse
risco é uma hesitação infindável, bem como uma tentativa reiterada de pôr
termo à hesitação, um questionamento incansável da infelicidade: onde
colocar este corpo, onde?
Ao temporalizar o sentido de acordo com essa hesitação, com esse risco e
essa intermitência, a histérica talvez experimente uma espécie de fora de si
da relação com o tempo, o fora de si que deixa um rastro, deixa traços e
sintomas no visível: adornos e rodeios da histérica no ser, uma relação do
tempo com o ser-aí: talvez seja este, bem aí, o “questionável” por excelência.
Esse rastro poderia ser a aura, um sopro a lhe acariciar o cabelo e a levar à
sua mente como que ruídos estranhos.87 Um desejo, alguma coisa do futuro
que afeta a representação e na qual um sujeito, uma louca, autodetermina
todo o seu poder.88 Uma infelicidade, já aquela, muito simplesmente, de um
“rumo incerto e cambiante dos acontecimentos” - o próprio sentido da
palavra grega aura.
Tal infelicidade afeta o retrato de Augustine (lâmina XIV) nos seguintes
termos: essa imagem, em si, não passa de uma intermitência; é, muito
exatamente, um entreato, um tempo de repouso no “estado patológico
histérico”, pois, no dizer de Charcot, “a contratura é sempre iminente nas
histéricas”,89 porque, “no estado patológico histeroepiléptico, de tempos em
tempos há momentos de trégua, uma espécie de entreatos durante os quais
as convulsões e o delírio se interrompem momentaneamente”.90 Esse retrato
corresponde a um ataque e uma pressa: esperou-se por essa trégua no
sofrimento de Augustine para fazê-la subir rapidamente no estrado, talvez,
penteada e vestida, entre uma cortina escura e o véu preto do fotógrafo, para
então tirar dela, com toda a pressa, uma “fisionomia normal”. Logo, é
provável que esse tenha sido o entreato de cenas violentas e gestos teatrais...
Por fim, quero dizer que talvez, nesse retrato, Augustine esteja prestes a
perder a consciência. Como posso me expressar? Próxima de um estado
corporal que é um estado, e de um estado que já não o é, e diante do corpo,
mas do outro lado, paralela a ele, porém do outro lado, ainda se sobressalta a
consciência, como membro de um ser esquecido, e a consciência é um teatro
em que um dia houve alguma coisa, dava para sentir, acho que se sentia isso,
como o membro esticado de um ser no auge do paroxismo, mas a cabeça é
parte disso, já não há cabeça nem ser, nem paroxismo nem auge, e em
frente, mas do outro lado, paralelo a ela, como ela esteve paralela a ele, já
não se encontra senão o corpo, despojado de sua consciência, mais vivo
ainda por estar morto,91 e o corpo já não pertence, não pertence mais a
Augustine.
Figura 44. Paul Regnard, “Histeroepilepsia, estado normal”, fotografia de Augustine reproduzida em
fototipia, lâmina XIV, em Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris,
Progrès Médical & Delahaye, 1878.
Figura 45. Paul Regnard, “Início do ataque, grito”, fotografia de Augustine reproduzida em fototipia,
lâmina XV, em Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès
Médical & Delahaye, 1878. [O editor optou por respeitar a disposição original (posicionamento como
retrato ou como paisagem) das imagens provenientes das páginas da edição de referência da
Iconographie photographique de la Salpêtrière.]
E o corpo de Augustine já nem sequer nos resta como imagem,
exatamente; não nos resta senão como intermitência de duas imagens: veja a
simples transposição de uma página - da lâmina XIV para a lâmina XV
(figuras 44-45).
Lâmina XV: um grito, uma camisa de força, os retoques de guache
necessários a uma prova toda estragada, a prova das convulsões de
Augustine, num leito que ela viraria de cabeça para baixo, se não estivesse
entravada; um acontecimento que teria feito tremer a própria imagem, e
talvez até pusesse em perigo a integridade da máquina fotográfica, se a
jovem não tivesse sido amarrada...
E há entre essas duas imagens a intermitência, sem descanso para nós, de
alguém que já quase não se parece nada consigo. Pois bem, essa perda
transtornadora, de uma página e uma imagem para outra, esse verdadeiro
golpe teatral, nada mais é que o vento do sintoma na imagem: a crise, o
ataque, como diziam, está apenas começando:
Notas
1
Cf. S. Mallarmé, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1945, p. 115, “Photographies”.
2
Cf. IPS, II, p. 123-186 e lâminas XIV-XXX; IPS, III, p. 187-199 e lâminas XIII-XVIII; P. Richer,
Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéro-épilepsie, Paris, Delahaye & Lecrosnier, 1885, passim.
3
J.-P. Sartre, L’lmaginaire. Psychologie phénoménologique de i'magination, Paris, Gallimard, 1940, p.
104 [O imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação, ver Bibliografia].
4
IPS, II, p. 127-128.
5
Ibid., p. 125.
6
Ibid., p. 124, 133 etc.
7
M. Heidegger, Chemins qui ne menent nulle part, Paris, Gallimard, 1980, p. 146.
8
J. L. Schefer, L’Homme ordinaire du cinéma, Paris, Cahiers du Cinéma / Gallimard, 1980, p. 85.
9
Nadar, Quand j’étais photographe, Paris, Flammarion, 1900, p. 7, 8 e passim.
10
R. Barthes, La Chambre claire. Note sur la photographie, Paris, Cahiers du Cinéma / Gallimard,
1980, p. 30 [A câmara clara, ver Bibliografia].
11
Citado em S. Sontag, La Photographie, Paris, Seuil, 1979, p. 174 [Sobre a fotografia, ver Bibliografia];
cf. R. Krauss, “Tracing Nadar”, in October, 5, 1978, passim.
12
Cf. IPS, II, p. 124.
13
W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, in LHomme, le langage, la culture, Paris, Denoel,
1974, p. 70.
14
Ibid.
15
W. Benjamin, “L’Oeuvre d’art à l’ère de sa reproductibilité technique”, in LHomme, le langage, la
culture, op. cit., p. 152 [“A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, ver Bibliografia].
16
W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, op. cit., p. 61.
17
Ibid., p. 60.
18
Ibid., p. 62.
19
Cf. A. Guébhard, “L’Auréole photographique”, in Moniteur de la Photographie, ‘29, 1890, passim.
20
A. Guébhard, “Pourquoi les lointains viennent trop en photographie”, in Photo-midi, 1, 1898, p. 3.
21
W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, op. cit., p. 58-59.
22
Cf. H. Baraduc, Double prolapsus ovarien chez une hystérique. Compression ovarienne intravaginale
produisant le transfert, Paris, Parent-Davy, 1882, passim.
23
Cf. H. Baraduc, La Force vitale. Notre corps vital fluidique, sa formule biométrique, Paris, Carré,
1893, p. 197.
24
Ibid., p. 169.
25
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, Paris, Baillière, 1859. p. 600-601; H.
Baraduc, Double prolapsus ovarien..., op. cit., passim.
26
Cf. H. Baraduc, Méthode de radiographie humaine. La force courbe cosmique. Photographie des
vibrations de l’éther. Loi des Auras, Paris, Ollendorff, 1897, p. 3, 6, 12-14 etc.
27
Ibid., p. 33, 49.
28
Cf. H. Baraduc, La Force vitale..., op. cit., p. 220.
29
Cf. H. Baraduc, LÂme humaine, ses mouvements, ses lumières et Ficonographie de ^invisible
fluidique, Paris, Carré, 1896, p. 4-5, 51-52 etc.
30
Ibid., p. 109.
31
Cf. H. Baraduc, Méthode de radiographie humaine..., op. cit., passim.
32
Ibid., p. 49-50.
33
H. Baraduc, LÂme humaine..., op. cit., explicação da prova XXXVIII; ver H. Baraduc, Méthode de
radiographie humaine..., op. cit., p. 14 e figura 6.
34
H. Baraduc, LÂme humaine, op. cit., explicação da prova XXXV; cf. H. Baraduc, Méthode de
radiographie humaine..., op. cit., p. 21 e figura 9.
35
H. Baraduc, Méthode de radiographie humaine..., op. cit., p. 21, 27 e figuras 11-12.
36
H. Baraduc, LÂme humaine..., op. cit., p. 121.
37
Ibid., explicação da prova XIV.
38
Cf. E. Benveniste, Problèmes de linguistique générale, Paris, Gallimard, 1966-1974, v. I, p. 134-135
[Problemas de linguística geral, ver Bibliografia].
39
H. Baraduc, LÂme humaine, op. cit., provas XLIX e LII.
40
Ibid., p. 285-299.
41
Ibid., p. 111.
42
Cf. E. Azam, Hypnotisme et double conscience, Paris, Alcan, 1893, p. 348-349; A. Guébhard, “Sur les
prétendus enregistrements photographiques de fluide vital”, in La vie scientifique, n. 106, 108 e 110,
1897, passim; A. Guébhard, “Petit manuel de photographie spirite sans ‘fluide’”, in La photographie
pour tous, 1897-1898, passim.
43
IPS, II, p. 167.
44
Ibid., p. 125.
45
Cf. J.-M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, 1892-
1893, v. II, p. 389; P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. 197-203.
46
Cf. A. Artaud, Oeuvres complètes, v. 1*, p. 58.
47
Cf. IPS, II, p. 134-135.
48
Ibid., p. 133.
49
Ibid., p. 129, 143; cf. IPS, III, p. 190-191.
50
Cf. IPS, II, p. 143.
51
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 29. Cf. também p. 22.-23.
52
Ibid., p. 22.
53
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. I, p.
325; J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 381.
54
Cf. S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, in La Naissance de la psychanalyse, Paris,
PUF, 1973, p. 363-367 [“Projeto para uma psicologia científica”, ver Bibliografia].
55
S. Freud, “Le refoulement”, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, 1968, p. 60-61 [“Repressão”, ver
Bibliografia]; J. Breuer e S. Freud, Études sur l,hystérie (1893-1895), Paris, PUF, 1973, p. 106 [Estudos
sobre a histeria, ver Bibliografia].
56
Cf. S. Freud, Inhibition, symptôme et angoisse, Paris, PUF, 1978, p. 31 [“Inibições, sintomas e
ansiedade”, ver Bibliografia].
57
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur lhystérie (1893-1895), op. cit., 1973, p. 21 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
58
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtriere, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1876-1877, p. 6 e pranchas I -III (doravante citada como IPS, I).
59
Cf. P. Lacoue-Labarthe, Le Sujet de la philosophie: Typographies 1, Paris, AubierFlammarion, 1979,
p. 106-109; P. Lacoue-Labarthe, Portrait de l’artiste, en général, Paris, Bourgois, 1979, p. 24.
60
M. Heidegger, LÊtre et le Temps, Paris, Gallimard, 1964, p. 46. Grifo meu [Ser e tempo, ver
Bibliografia].
61
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 390.
62
J.-M. Charcot, De l’expectation en médecine, tese de concurso para o magistério superior, Paris,
Baillière, 1857, p. 43. Grifo meu.
63
Ibid., p. 45.
64
Ibid., p. 43.
65
Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1975-1976, v. I, p. 163, “Les promesses d’un
visage” [As promessas de um rosto].
66
IPS, II, p. 167. Grifo meu.
67
P. Brouardel, Le Secret Médical, Paris, Baillière, 1887, p. 240.
68
Ibid., p. 241-242.
69
F W. J. von Schelling, citado em H. Maldiney, Aitres de la langue et demeures de la pensée, Lausanne,
L’Âge d’homme, 1975, p. 38.
70
L. Marin, Détruire la peinture, Paris, Galilée, 1977, p. 70.
71
Cf. L.-B. Carré de Montgeron, La Vérité des miracles opérés à ^intercession de M. de Paris et autres
appelans, démontrée contre M. VArchevêque de Sens, s.e., 3 v., 1737, passim.
72
G. E. Lessing, Laocoon, ou des frontières de la peinture et de la poésie, Paris, Rermann, 1964, p. 109
[Laocoonte, ou Sobre as fronteiras da pintura e da poesia..., ver Bibliografia].
73
Cf. G. W. F Hegel, La Phénoménologie de l’esprit, Paris, Aubier-Montaigne, 1947, v. I, p. 83-92
[Fenomenologia do espirito, ver Bibliografia].
74
IPS, I, p. 22 e lâmina VIII.
75
A. Londe, La Photographie moderne. Pratique et applications, Paris, Masson, 1888, p. 78.
76
A. Londe, “L’Évolution de la photographie”, in Association Française pour l’avancement des sciences,
Paris, 1889, p. 14.
77
W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, op. cit., p. 66.
78
Cf. R. Barthes, La Chambre claire, op. cit., p. 123 [A câmara clara, ver Bibliografia].
79
W. Benjamin, “Petite histoire de la Photographie”, op. cit., p. 64.
80
W. Benjamin, citado em P. Lacoue-Labarthe, op. cit., p. 55. Grifo meu.
81
Cf. J. Joyce, Finnegans Wake, fragmentos adaptados por André du Bouchet, Paris, Gallimard, 1962,
p. 61, 72. [As traduções de eyegonblack (oliocêntrico) e fadograph (etereografia) são de Afonso
Teixeira Filho, em “A noite e as vidas de Renatos Avelar - Considerações sobre a tradução do primeiro
capítulo de Finnegans Wake, de James Joyce”, tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, do Departamento de Letras Modernas da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, São Paulo, 2008. (N.T.)]
82
R. Barthes, La Chambre claire, op. cit., p. 140 [A câmara clara, ver Bibliografia].
83
Cf. G. Deleuze, Différence et répétition, Paris, PUF, 1968, p. 152, 156, 162-163 [Diferença e repetição,
ver Bibliografia].
84
Cf. S. Freud, “Considérations actuelles sur la guerre et la mort”, in Essais de psychanalyse, Paris,
Payot, 1968, p. 267 [“Reflexões para os tempos de guerra e morte”, ver Bibliografia. Diz a citação
latina: “Se queres suportar a vida, prepara-te para a morte.”].
85
Cf. IPS, II, p. 129.
86
Ibid., p. 161.
87
Cf. A. Rimbaud, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1972, p. 12, “Ophélie” [Ofélia].
88
Cf. E. Kant, Anthropologie du point de vue pragmatique, Paris, Vrin, 1970, p. 109. “De la faculté de
désirer” [Antropologia de um ponto de vista pragmático, ver Bibliografia].
89
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IV, p. 322-323.
90
J. M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, Paris, Progrès Médical &
Lecrosnier & Babé,1888-1889, p. 69.
91
A. Artaud, Oeuvres complètes, v. XIV, p. 245.
92
IPS, II, p. 143.
* O neologismo prae-sens, homófono de présence, joga com as acepções de presença e de algo anterior
ao sentido, pré-significado. [N.T.]
** No francês, convém lembrar, temps de pose tanto expressa a ideia (técnica) do tempo de exposição
fotográfica quanto a ideia do tempo durante o qual um “modelo” posa para uma fotografia. E há
ainda as considerações sobre a pose na histeria, que o autor desenvolve adiante. [N.T.]
*** O autor parece jogar aqui com as acepções de “madre” como mãe e útero. [N.T.]
**** No francês antigo, traçar as primeiras linhas, delinear grosseiramente, adumbrar, esboçar,
tracejar, bosquejar. [N.T.]
Ataques e poses
Um quadro clássico
A mão-morta
Repito que isso foi uma bênção para Regnard, porque o tétano constituía, ao
mesmo tempo, uma trégua do movimento, a viabilização da pose e,
portanto, a possibilidade da nitidez da imagem - e era, ao mesmo tempo, o
sinal mais convincente da gesticulação totalmente desregulada do corpo
histérico durante o ataque: era, portanto, um momento fixo da contorção, ou
mesmo da convulsão. O momento escultórico de uma espécie de
motricidade, só que completamente aquietada. Uma estátua de dor viva.
E isso não deve ser entendido como uma metáfora, porque as contraturas
histéricas, em especial as das mãos e dos pés, forneceram a mais generosa
matéria-prima a um museu de moldes que Charcot também havia criado na
Salpêtrière - outro eminente “laboratório” de predação das formas
patológicas (hoje quase totalmente destruído). Com efeito, era muito fácil
jogar gesso numa dada “mão torta” ou noutro “pé equinovaro”, muito fácil
misturar o gesso e recobrir os membros atados de dor, muito fácil deixar
secar o gesso e obter um belo molde dos poros e dobras mais ínfimos, as
dobras do próprio ataque histérico! Era fácil porque significava apenas
confirmar o estado vigente, a contratura; provavelmente prolongá-la só um
pouquinho, vez por outra - mas isso não tinha importância: o corpo
histérico engessado era ainda mais digno de atenção, de ciência e de ternura,
quem sabe (figura 51).
Neste momento, penso numa palavra, mão-morta, que designa uma
prática que você talvez suponha obsoleta: o direito de um senhor dispor dos
bens de um vassalo quando da morte deste. Assim, o ateliê de moldagem e o
ateliê de fotografia foram como que instrumentos de uma espécie de direito
de mão-morta figurativa sobre os corpos das histéricas. O corpo era o único
bem que elas possuíam, e suas contraturas foram, notadamente, uma espécie
de doação ao grande museu parisiense da patologia. Refiro-me mais a um
direito do que a um saber porque isso nem sempre explicava grande coisa do
mecanismo em si da contratura histérica.23 Mas já fazia as vezes, e
esplendidamente, da melhor descrição ou do melhor esquema.24
Será mesmo? Nada é simples, e uma coisa, pelo menos, não nos deve
escapar: nem os moldes nem as fotografias suplantaram realmente, nos
processos de figuração e transmissão, a prática do esquema. Paul Richer
serviu-se, de fato, da fotografia de Augustine tetanizada (figura 49) para
gravar alguma coisa da chamada “primeira fase” - a “epileptoide” - do ataque
histérico25 (figura 50). Essa é uma operação fundamental, porque recompõe
a imagem fotográfica e, ao fazê-lo, finalmente a atribui a um relato clínico, e
esse era todo o desafio.
Figura 49. Paul Regnard, “Tetania”, fotografia de Augustine reproduzida em fototipia, lâmina XVI, em
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès Médical &
Delahaye, 1878.
Assim, a própria gravura assume o direito de mão-morta sobre a
fotografia: compõe com ela uma coerência significante a posteriori, com base
no “bem” visível deixado pela prova fotográfica. Compare as imagens:
pernas desnudadas, com uma nova contratura, como revelação da parte
inferior de uma fotografia que não mostrava o bastante; um exagero
absolutamente “expressivo” da crispação dos ombros; seios um pouco mais à
mostra; uma espuma bem nítida saindo da boca; desaparecimento das
correias de atamento ao leito; e até a cabeleira Richer nos torna mais
“expressiva”, como uma torrente desordenada de paixão.
Figura 55. Diferentes fases do escotoma cintilante, segundo Huber Airy (as
letras indicam as cores), em Oeuvres complètes de J.-M. Charcot. Leçons sur
les maladies du système nerveux, reunidas e publicadas pelos srs. Babinski,
Bernard, Féré, Guinon, Marie e Gilles de la Tourette, Paris, Progrès Médical
& Lecrosnier & Babé, 1890, v. III, p. 76.
Outro exemplo, ligado a essa paixão de penetrar pelo olhar na intimidade
da visão do outro, e até na intimidade do seu não ver, é um caso de
“supressão brusca e isolada da visão mental de signos e objetos, formas e
cores”;54 alguém até parecido com Charcot, com o que me refiro a um
homem dotado de gosto pelas formas e de uma memória visual
extraordinária, foi procurá-lo por estar experimentando uma perda
completa de qualquer ideação da forma e da cor; já não conseguia fazer
nenhuma “representação figurada” para si e esquecia os rostos de todos os
que lhe eram próximos, até mesmo o seu, o qual não reconhecia no espelho.
Sonhava sem imagens, o pobre infeliz.55 Não sabemos se esse caso estranho
e anônimo foi curado, mas serviu justamente de material para que Charcot
elaborasse conceitos inteiramente dominados pela função da imagem: um
conceito da palavra como “complexo” de imagens (“imagem comemorativa”,
“imagem auditiva”, “imagem visual”, “imagem motora de articulação”,
“imagem motora gráfica”); uma teoria das amnésias e da memória em geral
como pregnância de imagens; e até uma ciência dos sonhos, como ciência de
imagens íntimas...56
As desgraças da visão, ao menos para ele, eram uma oportunidade de ver
o novo.
Lembra-se dos sonhos com fogo, com caixas de imagens ou de joias, sonhos
com pinturas, com a Madona Sistina? Freud escandiu a fala de Dora, que lhe
desfiou uma meada de dois sonhos, e o que compreendeu? Desde logo, que
havia uma cisão do corpo histérico e do sonho histérico (o sonho com um
corpo erótico, totalmente erótico, mas no fundo não simbolizado,
cristalizado como imagem);57 Freud entendeu isso como uma não direção da
representação, o que o obrigou a seguir os significantes não apenas por suas
pistas, mas também pelas modulações de desvios - e isso era interpretar.58
Quanto a Charcot, ele estava em busca de uma unidade dramática, não de
uma cisão. Mais do que interpretar, criava uma cenografia, de acordo com a
unidade de lugar e tempo de uma representação muito “clássica”. Precisava
ter tudo na mesma cena, uma espécie de recinto de visibilidade, para seu
olhar unificado. Era surdo aos ruídos dos bastidores, aos ruídos da rua às
suas costas. Não imaginava a existência de outra teatralidade, de outro estilo
- o de um “teatro privado”, por exemplo, talvez privado de espectadores. É
que Charcot exigia assistir a tudo. Refutava de antemão a ideia de “outra
cena” (isto é, de uma cena absolutamente inatingível pelo olhar).
Indico de passagem que ele foi leitor de Hervey de Saint-Denys, autor de
uma espécie de manual de direção cênica, um pequeno guia dos meios de
dirigir os próprios sonhos.59 Um capítulo inteiro do livro era dedicado à
analogia entre sonho e fotografia (os “clichês- -lembranças”);60 um
frontispício fornecia até um esquete “típico” de sonho (mulher nua, olhares
de homens, um pintor etc.) e a representação de alguns lindos escotominhas
coloridos (figura 56).
Quanto a Bourneville, podemos dizer que ele fez uma tentativa honesta de
contar tudo que Augustine sonhava. Contar a clínica (de kliné, o leito), se
não a chave de seus sonhos. Sonhos com fogo também.61 Sonhos de não
estar mais aprisionada na Salpêtrière, de sair e assistir “a uma peça teatral
em que representassem uma revolução”.62 Sonhos com sangue. “Sonhos
pavorosos, sobre os quais a doente se recusa a fornecer detalhes”, muitas
vezes.63
Augustine também desfiava outras palavras, mas para a escuta de quem?
“A pessoa imagina que sonhou”, dizia, “quando simplesmente ouviu uma
conversa.”64 E não saberemos muito mais a respeito disso, porque nisso,
justamente, Bourneville não insistia muito.
Visões
Êxtases
O esposo infernal
A mulher alterada
Não consigo imaginar que essa culpa, já cisão, e que a outra cisão entre
perda e suplemento, no gozo, não consigo imaginar que tudo isso não afete o
espetáculo.
Como? - Para começar, cindindo os corpos em dois. No plano temporal,
uma pose é extirpada de um movimento, de uma tensão; uma pose é uma
intermitência, há nela uma divisão interna da imagem do corpo.
Gestos afetados
Muitas vezes, porém, ele também só podia ficar perplexo: certa mulher
deu o mais corriqueiro dos tapas em seu filho pequeno, e eis que ficou
totalmente paralisada; por quê?121 Seria possível chamar de trauma uma
coisa insignificante, ou algo que por pouco não tinha acontecido, ou mesmo
algo que estava apenas na imaginação das histéricas?122
Por fim, a frequente discrepância entre os efeitos e a suposta causa
traumática (um choque aqui, um sintoma ali) levou Charcot, entre outras
razões, a considerar o acontecimento, o “golpe”, apenas como um simples
“agente provocador” da histeria;123 a causa determinante continuava a ser o
fator hereditário.
Pois bem, essa mesma discrepância, essa “desproporção”, foi o que
manteve Freud perto da histeria, justamente.124 Ele anotou as descrições do
ataque histérico feitas por Charcot, referindo a “atitude passional” a um
efeito não do trauma, porém da lembrança do trauma; simplesmente
transpôs, de certo modo, para começar, o determinismo “físico” enunciado
por Charcot para o “campo psíquico”.125
E, além disso, foi pela palavra que ele tomou a histérica. Compreendeu
que uma simples frase podia ser “como uma bofetada em cheio no rosto”,126
ou seja, uma pancada, de qualquer modo, uma verdadeira pancada, e da
qual era bem possível que o rosto trouxesse a marca, de uma forma ou de
outra. Freud viu que algumas contraturas histéricas - em Elisabeth von R.,
por exemplo, o fato de ela se descobrir “pregada num lugar” - podiam ser,
digamos, a imagem- -ato de antigos pavores.127 Ele não refutou a
temporalidade invertida da eficácia dos traumas nem refutou sua facticidade
sempre possível; ao contrário, interrogou tudo isso como a estranheza de um
funcionamento da memória.128 Também tentou compreender a capacidade
não menos estranha de convocação dos traumas na atualidade dos sintomas
histéricos.129
Em suma, mesmo quando o reconhecia como um fragmento referido ao
real, Freud interrogava o trauma de acordo com seus efeitos de sentido, seus
deslocamentos na memória.
Portanto, o trauma como incidente130 já se prestava, em seu conceito, ao
jogo a que se prestava a matriz de sua significação; é que em incidente há o
incidere, com i breve, que é in-cado, cair por acaso, abater-se sobre, ou
sobrevir, ou tornar-se a presa súbita de alguma coisa (incidere in furorem et
insaniam: enlouquecer); mas há também o incidere, só que com i longo, que
é in-caedo, verbo do entalhe, da incisão: corte e gravura ao mesmo tempo, a
violência de uma ferida - perenidade de um estigma, de uma escrita, de uma
frase. Freud interrogava o trauma como evento significante.
Posterioridades
Atentados
Adornos e desvios
O desejo de cativar
Freud admitiu desde cedo que, quando um médico estuda a histeria, isso
“lhe toma um tempo considerável e pressupõe nele um grande interesse pelos
fatos psicológicos, além de muita simpatia pessoal pelos doentes de quem
trata. Eu não conseguiria imaginar-me estudando em detalhe o mecanismo
psíquico de uma histeria num sujeito que me parecesse desprezível e
repugnante, e que, uma vez mais conhecido, viesse a revelar-se incapaz de
inspirar qualquer simpatia humana!”.204 Tempo tomado, sedução, tempo
para ocorrer a transferência.
Na Salpêtrière, porém, “sedução” e “simpatia” não eram processos que se
deixassem confinar num consultório burguês, em meio a divãs, veludos e
objetos artísticos. “Encanto” e “simpatia” eram uma algazarra de bordel, com
todas as mulheres misturadas, proferindo interjeições ao interno de plantão
ou de passagem, esfalfando- -se em interpelações crassas, fazendo strip-
teases, digamos, insignes, “grosseiras solicitações carnais”.205 Seriam
seduções, ainda assim?
Podemos ao menos dar a isso o nome de transferências, no sentido
freudiano. Mas convém compreender que, nesse caso, as transferências eram
repetições, no sentido do ensaio teatral, e teatro no sentido pesado da
obscenidade.
“Que são essas transferências? São reedições, cópias das tendências e
fantasias que devem ser despertadas e tornadas conscientes pelo progresso
da análise, e cujo traço característico é substituir uma pessoa anteriormente
conhecida pela pessoa do médico.”206 Ora, esse movimento da fantasia para
sua reprodução podia chegar a se perder, escreveu Freud, numa verdadeira
servidão sexual.207 E o que caracteriza a histeria, desse ponto de vista, é sua
incansável criatividade transferenciai, incessantemente renovada208 e que,
por sua vez, reveza-se com a incansável criatividade (sim, criatividade) dos
sintomas.
E a demanda de amor das histéricas era sintoma, tanto quanto o sintoma
era demanda de amor. Desenfreada.
Que fazer? Que fazer, perguntou-se Freud diante do “desnudamento do
corpo” de uma dada paciente?209 Abster-se? “Deixar subsistirem as
necessidades e os desejos?”210 Suores frios. Em todo caso, pensava ele,
visando as “mulheres de paixões elementares”, uma “necessidade tão
incoercível de amor” impelia o tratamento para um “fracasso inevitável” (do
ponto de vista terapêutico; mas seria esse o único ponto de vista, em toda a
prática da Loucura?), e assim “[era] preciso bater em retirada”.211 Que fazer?
Freud tentou encontrar uma solução, outro pacto, nessa alternativa ética
ou erótica. Era preciso, escreveu, “manter a transferência, tratando-a como
algo irreal”, sem esquecer jamais que o amor da histérica é “alienado”, que ela
“se acha impossibilitada de dispor livremente de sua faculdade de amar”.212
Porém isto soa um pouco como uma utopia. Amar já é menos uma
faculdade (controlável) do que algo como uma precipitação da existência,
talvez; e o amor da histérica, ainda que atiçado pela ilusão, é muito violento,
muito veraz (ao menos por algum tempo; teria o médico que especular
sobre o tempo, sobre a fidelidade de sua paciente em transferência?). Como
existir em face de um amor voraz e vociferante, implacável, especulando
sobre ele, irrealizando-o, quando, por meio de gestos teatrais e toda sorte de
atuações, ele não para de se manifestar, e de forma ultrajante?
A transferência é de uma consistência louca. E é como a distância
(gritante, na Salpêtrière) necessária para que os corpos fiquem em condições
de finalmente se tocar.213 E só é consistente e persistente assim por ser
benéfica para todos.
Para a histérica, ela é, de fato, o único “lucro da doença”:214 um bônus de
sedução oferecido pelo sintoma aos olhos do médico. Nela um desejo é
representado, posto em cena, deixa-se transparecer (se não escutar) e, apesar
de infeliz, existe aos olhos de todos. Como um modo de afirmação.
Para o médico, na transferência, a histérica se cria inteira à imagem do seu
desejo de saber. À imagem do conceito de “histeria” que um dado médico
possa haver tentado formular, diante da incoerência de “mil formas sob
nenhuma”. E isso funciona. Ou parece funcionar, ao menos por algum
tempo, mas com intensa esperança, para o médico, de que perdure. Dupla
sedução, portanto: Augustine não apenas oferecia seu corpo a Bourneville e
o chamava, quem sabe fazendo “psiu, psiu”, por seu prenome providencial,
“Désiré Magloire”, como também produzia “atitudes passionais” de seu
desejo. Como poderia Bourneville não adorá-la como ídolo de toda a sua
ciência?
E foi assim, talvez, que ele veio a se enamorar de sua histérica, nem que
fosse por isto: a permanência da transferência assegurava a perenidade de
sua fantasia científica, e a permanência da transferência devia realizar a
perenidade de seu conceito de histeria. Digo bem: devia. Em todos os
sentidos. A histérica devia “permanecer para ele”, continuar a ser (sua)
histérica, isto graças à transferência.
É assim que podemos até imaginar Bourneville, Charcot ou outros,
idealmente ou não, secretamente ou não, se adonizando215 (Adônis como
caçador quase sádico de desejos, ou Adônis morrendo nos braços de Vênus),
talvez se embriagando com a própria mentira das histéricas.
(Ah! “Deixa meu coração embriagar-se com uma mentira, / Mergulhar em
teus belos olhos como num belo sonho, / E dormitar por muito tempo à
sombra de teus cílios!” - “Mas não basta que sejas a aparência / Para alegrar
um coração que foge da verdade?”)216
Seria este, talvez, o continente negro da “bela sensibilidade” e do tato
médico: uma adoração. Ora, a adoração nada mais é, justamente, que uma
demanda idólatra, e passa inteira por uma operação figurativa. Formulo a
hipótese de uma paixão de Bourneville (ou Regnard, não sei) por Augustine,
no sentido em que a paixão seria a consagração extemporânea de um corpo
como quadro, segundo a modalidade temporal de um puro “passado
simples”, como escreveu Roland Barthes.217 Você entende o porquê do fraco
de um médico por esse objeto tão feminino da ciência, e entende por que
esse médico retribuiria a transferência com práticas cênicas e fotográficas?
Note bem uma consequência da minha hipótese: o juramento de
Hipócrates - “eu me proibirei qualquer ato voluptuoso” etc. -, na Salpêtrière,
ficaria meio atordoado. A menos que encontrasse na transferência, o que é
outra hipótese, uma espécie de reformulação de seu mito de origem (porque
a primeira paciente de Hipócrates foi a sedutora Avlavia, cuja doença vinha
resistindo aos cuidados de seu pai, também médico; Hipócrates ordenou
delicadamente à jovem que fosse consultar o oráculo de Delfos, que então
expressou o seguinte: ama, ama esse jovem e belo médico, e ficarás curada; e
os dois se casaram...). Mas enfim.
Toda interpretação implica-se numa história de transferência, ou seja,
numa história de amor que, no fundo, está sempre prestes a dar mau
resultado. Seria a transferência o não teorizável da relação do saber com a
loucura?218 Não sei. A verdade é que, na Salpêtrière, sob a orientação de
Charcot, essa questão foi tão pouco pensada (apesar de e em virtude de ter
sido utilizada, instrumentalizada) que a transferência retirou de cada
histérica a intenção de renunciar a sua doença.219
E era assim que a histeria, na Salpêtrière, vivia sempre se repetindo.
Notas
1
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 1886-1893, v. I, p.
367-385, 435-448; P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéro-épilepsie, op. cit., p. 1-
168; G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, d’après l’enseignement de la
Salpêtrière, Paris, Plon-Nourrit, 1891-1895, v. II, p. 1-76.
2
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 1-338.
3
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 435-448 (descrição redigida por Richer).
4
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 367-385.
5
Cf. S. Freud, “Bericht über meine mit Universitats-Jubilaums Reisestipendium unternommene
Studienreise nach Paris und Berlin”, in SE, I, p. 10-11 [“Relatório sobre meus estudos em Paris e
Berlim”, ver Bibliografia]; S. Freud, “Hystérie”, in SE, I, p. 41-43 [“Histeria”, ver Bibliografia].
6
Citados e reproduzidos em J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889,
Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 1888-1889, p. 425-430.
7
Cf. G. Rummo, Iconografia fotografica del Grande Isterismo - Istero-Epilessia, omaggio al Prof. J.-M.
Charcot, Nápoles, Clinica Medica Propedeutica di Pisa, 1890, passim.
8
IPS, II, p. 200-201.
9
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 396; cf. D.-M. Bourneville, Recherches cliniques et
thérapeutiques sur lépilepsie et Phystérie, compte-rendu des observations recueillies à la Salpêtrière de
1872 à 1875, Paris, Progrès Médical & Delahaye, 1876, p. 100-101.
10
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 90.
11
Cf. P. J. Moebius, Allgemeine Diagnostik der Nervenkrankheiten, Leipzig, Vogel, 1886, p. 110 (figura
33); P. J. Moebius, De la débilité mentale physiologique chez la femme, Paris, Solin, 1980, passim.
12
IPS, II, p. 184.
13
Ibid., p. 132-133, 137 etc.
14
Ibid., p. 130-131, 169-173 etc.; cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 75-
76, 186.
15
G. W. F Hegel, La Phénoménologie de lesprit, op. cit., v. II, p. 239-240 [Fenomenologia do espírito, ver
Bibliografia].
16
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 456. Grifo meu. Cf. também J.-M. Charcot,
Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 347-366.
17
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 447; cf. P. Richer, “Diathèse de contracture”, in
NIS, 1891, passim.
18
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. 477-478.
19
Cf. A. Pitres, Leçons cliniques sur l’hystérie et lhypnotisme, Paris, Doin, 1891, v. 1, p. 377-481; G.
Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., v. I, p. 433-485, e v. III, p. 1-
157; P. Richer, Paralysies et contractures hystériques, Paris, Doin, 1892, p. 2-3 etc.
20
Cf. IPS, II, p. 183.
21
Ibid., p. 134, 135, 137, 139, 144.
22
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie... , op. cit., p. 44.
23
Cf. M. Noica, “Le mécanisme de la contracture chez les spasmodiques, hémiplégiques ou
paraplégiques”, in NIS, 1908, p. 36.
24
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 99-100; J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la
Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 350.
25
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., lâmina II, p. 39-68 (especialmente p.
61-62).
26
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 41-42; Cf. Bourneville e Voulet, De la contracture
hystérique permanente, Paris, Delahaye, 1872, passim; P. Richer, “Observation de contracture
hystérique guérie subitement après une durée de deux années”, in NIS, 1889, passim.
27
E. Kant, Anthropologie du point de vue pragmatique, op. cit., p. 115 [Antropologia de um ponto de
vista pragmático, ver Bibliografia], grifo meu.
28
Ibid.
29
S. Freud, “Quelques considérations pour une étude comparative des paralysies motrices organiques
et hystériques”, in GW, I, 1888-1893, p. 50-51 [“Algumas considerações para o estudo comparativo das
paralisias motoras orgânicas e histéricas”, ver Bibliografia].
30
Ibid., p. 52.
31
Ibid., p. 53, 54.
32
IPS, II, p. 142.
33
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 294.
34
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 163.
35
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 429 (redigido por Bourneville).
36
Ibid.; cf. G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Phystérie, op. cit., v. I, p. 321-
432.
37
Cf. C. Schaffer, “De la morphologie des contractures réflexes intrahypnotiques et de l’action de la
suggestion sur ces contractures”, in NIS, 1893, e NIS, 1894, passim.
38
IPS, II, p. 129, 136.
39
Ibid.
40
Cf. C. Lafon e M. Teulières, “Mydriase hystérique”, in NIS, 1907, passim.
41
Cf. C. Féré, De Pasymétrie chromatique de l’iris considérée comme stigmate névropathique (stigmate
iridien), Paris, Delahaye & Lecrosnier, 1886, passim.
42
A. Londe, La Photographie moderne. Traité pratique de la photographie et de ses applications à
l’industrie et à la science, Paris, Masson, 1896, p. 290.
43
G. Gilles de la Tourette, “De la superposition des troubles de la sensibilité et des spasmes de la face
et du cou chez les hystériques”, in NIS, 1889, p. 111.
44
Ibid., p. 129.
45
Ibid., p. 186-187.
46
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 6.
47
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 430.
48
Cf. S. Freud, “Le trouble psychogène de la vision dans la conception psychanalytique”, in Névrose,
psychose et perversion, Paris, PUF, 1978, p. 168-169 [“A concepção psicanalítica da perturbação
psicogênica da visão”, ver Bibliografia].
49
Ibid.
50
Ibid., p. 171.
51
Ibid., p. 168.
52
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 74-75.
53
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 69. [Sébastien
Le Prestre Vauban (1633-1707) foi um engenheiro militar francês que revolucionou a construção de
fortificações. (N.T.)]
54
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 178-192.
55
Ibid., p. 182, 187 etc.
56
Ibid., p. 188-192.
57
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1979, p. 46-83
[Fragmento da análise de um caso de histeria, ver Bibliografia].
58
Ibid., p. 8.
59
L. d’Hervey de Saint-Denys, Les Rêves et les moyens de les diriger. Observations pratiques, Paris,
Amyot, 1867, passim.
60
Ibid., p. 18-33.
61
Cf. IPS, II, p. 131.
62
IPS, III, p. 189-190.
63
IPS, II, p. 135.
64
IPS, III, p. 199. Grifo meu.
65
Cf. Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 159.
66
Cf. R. Descartes, Oeuvres et lettres, Paris, Gallimard, 1953, p. 706.
67
Cf. A. Pitres, Leçons cliniques sur Phystérie et l’hypnotisme, op. cit., v. II, p. 34-47.
68
Cf. S. Freud, “Les psychonévroses de défense. Essai d’une théorie psychologique de l’hystérie
acquise, de nombreuses phobies et obsessions et de certaines psychoses hallucinatoires”, in Névrose,
psychose et perversion, Paris, PUF, 1978, p. 11-13 [“As neuropsicoses de defesa”, ver Bibliografia].
69
IPS, II, p. 162.
70
A. Rimbaud, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1972, p. 100, “Une saison en enfer” [Uma
temporada no inferno]. Grifo meu.
71
IPS, II, p. 147.
72
Ibid., p. 129; cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 29; P. Richer, Études cliniques sur
la grande hystérie..., op. cit., p. 9.
73
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 11.
74
IPS, II, p. 132.
75
Ibid., p. 164; cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hysteric..., op. cit., p. 10.
76
Cf. IPS, II, p. 147-151 etc.
77
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 432-433; P. Richer, Études cliniques sur la
grande hystérie..., op. cit., p. 10.
78
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 89-116 e lâmina IV.
79
IPS, II, p. 220.
80
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 211-222.
81
Cf. S. Mallarmé, Pour un Tombeau d’Anatole, org. J.-P Richard, Paris, Seuil, 1961, p. 110.
82
IPS, II, p. 162.
83
Ibid., p. 162-163; cf. também p. 135, 140, 145-146, 164; IPS, III, p. 189-190; P. Richer, Études
cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 121-123, 134-135, 211-222, 226229.
84
Cf. A. Artaud, Oeuvres complètes, v. I*, p. 235, “Extase”.
85
Ibid.
86
Cf. J. Lacan, Le Séminaire, XX. Encore, Paris, Seuil, 1975 (seminário de 1972-1973), p. 11, 18, 68
[Mais, ainda, ver Bibliografia].
87
Cf. R. Descartes, Oeuvres et lettres, op. cit., p. 751, “De la pâmoison”.
88
L. Aragon e A. Breton, “Le cinquantenaire de l’hysterie”, La Révolution surréaliste, n.° 11, 1928, p.
20.
89
IPS, I, p. 151.
90
IPS, II, p. 203.
91
Ibid., p. 207.
92
J. Lacan, “Letourdit”, in Scilicet, 4 (1973), p. 23 [“O aturdito”, ver Bibliografia].
93
IPS, I, p. 72.
94
Ibid., p. 70-7l.
95
A. Rimbaud, Oeuvres complètes, op. cit., p. 102-103, “Une saison en enfer”, “Delires I”, “Vierge folle”.
96
Cf. E. Kant, Anthropologie du point de vue pragmatique, op. cit., p. 98 [Antropologia de um ponto de
vista pragmático, ver Bibliografia].
97
D. Diderot, “Sur les femmes”, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1951, p. 950.
98
Cf. J. Lacan, Le Séminaire, XX. Encore, op. cit., p. 12-13 [Mais, ainda, ver Bibliografia].
99
Ibid., p. 44, 68.
100
Cf. IPS, II, p. 123, 153 etc.
101
Cf. M. Safouan, LÉchec du principe de plaisir, Paris, Seuil, 1979, p. 60-61, 64 [O fracasso do
princípio do prazer, ver Bibliografia].
102
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur Phystérie (1893-1895), Paris, PUF, 1973, p. 132 [Estudos sobre a
histeria, ver Bibliografia]; S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique” [“Projeto para uma
psicologia científica”, ver Bibliografia], in La Naissance de la psychanalyse, Paris, PUF, 1973, p. 336-
338, “L’epreuve de la satisfaction” [A experiência de satisfação].
103
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. XIV**, p. 56.
104
F. Dostoievski, Les Demons, Paris, Gallimard, 1955, p. 291-292 [Os demônios: romance, ver
Bibliografia].
105
A. Londe, La Photographie médicale: application aux sciences médicales et physiologiques, Paris,
Gauthier-Villars, 1893, p. 102.
106
Cf. S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 359-360 [“Projeto para uma
psicologia...”, op. cit., ver Bibliografia].
107
Cf. G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., v. I, p. 486-555.
108
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur Vhystérie (1893-1895), op. cit., p. 152-161, 165166 [Estudos...,
op. cit., ver Bibliografia]; S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique” [“Projeto...”, op. cit., ver
Bibliografia], p. 315-317.
109
Cf. S. Freud, “Quelques considerations pour une étude comparative des paralysies motrices
organiques et hystériques”, op. cit., p. 53-54 [“Algumas considerações para o estudo comparativo...”, op.
cit., ver Bibliografia]; S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 339-340
[“Projeto...”, op. cit., ver Bibliografia].
110
J. Breuer e S. Freud, Études sur lhystérie (1893-1895), op. cit., p. 5-6 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
111
Ibid., p. 8.
112
Cf. S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 318-322 [“Projeto...”, op. cit., ver
Bibliografia]; J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 128, 231 [Estudos..., op.
cit., ver Bibliografia].
113
J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 5; cf. também p. 172-178
[Estudos..., op. cit., ver Bibliografia].
114
Cf. S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 326-327 [“Projeto...”, op. cit., ver
Bibliografia], “L’épreuve de la souffrance” [A experiência do sofrimento].
115
J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 11 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
116
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 131-139; E.
H. M. Thyssen, Contribution à l’étude de Vhystérie traumatique, Paris, Davy, 1888, passim.
117
IPS, III, p. 33.
118
IPS, II, p. 189.
119
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 439 e
figura 95.
120
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 251.
121
Ibid., p. 111.
122
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 527-535
(redigido por Dutil).
123
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IV, p. 323.
124
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 2 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
125
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1979, p. 137
[Fragmento da análise..., op. cit., ver Bibliografia]; S. Freud, Cinq leçons sur la psychanalyse, Paris,
Payot, 1968, p. 21 [Cinco lições de psicanálise, ver Bibliografia].
126
J. Breuer e S. Freud, Études sur lhystérie (1893-1895), op. cit., p. 142 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
127
Ibid., p. 119.
128
Ibid., p. 97; cf. S. Freud, “L’Étiologie de l’hystérie” , in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p. 92-
94 [“A etiologia da histeria”, ver Bibliografia].
129
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur 1’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 138 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
130
Ibid., p. 1.
131
Cf. J. L. Schefer, L’Invention du corps chrétien. Saint-Augustin, le dictionnaire, la mémoire, Paris,
Galilée, 1975, p. 128-129.
132
Cf. R. Descartes, Oeuvres et lettres, op. cit., p. 715-716.
133
Cf. H. Bergson, Oeuvres, Paris, PUF, 1959, p. 276-277.
134
J.-M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical e Babé, 1892-1893,
v. II, p. 266.
135
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 178, 518-519.
136
S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 363 [“Projeto...”, op. cit., ver
Bibliografia].
137
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 8 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia]; S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 9-10 [Fragmento de análise...,
op. cit., ver Bibliografia]; S. Freud, Inhibition, symptôme et angoisse, Paris, PUF, 1978, p. 92 [“Inibições,
sintomas e ansiedade”, ver Bibliografia].
138
Cf. S. Freud, Inhibition, symptôme et angoisse, op. cit., p. 15 [“Inibições,...”, op. cit., ver Bibliografia].
139
J. L. Schefer, L’Invention du corps chrétien. Saint-Augustin, le dictionnaire, la mémoire, op. cit., p. 24.
140
Cf. A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. XIV**, p. 48. Grifo meu.
141
Cf. M. David-Ménard, Pour une épistémologie de la métaphore biologique en psychanalyse: la
conversion hystérique. Tese, Université de Paris VIII, 1978, p. 283-284 e passim.
142
C. S. Freud, “Les psychonévroses de défense. Essai d’une théorie psychologique...”, op. cit., p. 4-5
[“As neuropsicoses...”, op. cit., ver Bibliografia]; S. Freud, “Le refoulement”, in Métapsychologie, Paris,
Gallimard, 1968, p. 60-61 etc. [“Repressão”, ver Bibliografia].
143
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 62 [“Fragmento...”, op. cit., ver
Bibliografia].
144
IPS, II, p. 126-127.
145
Cf. G. Wajeman, “Théorie de la simulation”, in Ornicar? - Analytica, 22, 1980, passim.
146
Cf. S. Freud, “Sur les souvenirs-écrans”, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., passim
[“Lembranças encobridoras”, ver Bibliografia]; S. Freud, Psychopathologie de la vie quotidienne, Paris,
Payot, 1979, p. 51-59 [A psicopatologia do cotidiano, ver Bibliografia].
147
S. Freud, “Sur les souvenirs-écrans”, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p. 118
[“Lembranças...”, op. cit., ver Bibliografia].
148
Cf. S. Freud, Psychopathologie de la vie quotidienne, op. cit., p. 56 [A psicopatologia..., op. cit., ver
Bibliografia].
149
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur Vhystérie (1893-1895), op. cit., p. 240-241 [Estudos..., op. cit.,
ver Bibliografia].
150
Ibid., p. 143-144.
151
Ibid., p. 140.
152
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 19 [Fragmento da análise..., op. cit., ver
Bibliografia]; S. Freud, “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, in Névrose, psychose
et perversion, op. cit., p. 152-153 [“Fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade”, ver
Bibliografia].
153
S. Freud, “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, op. cit., p. 151 [“Fantasias...”,
op. cit., ver Bibliografia]. Grifo meu.
154
Ibid.
155
S. Freud, “Esquisses pour la ‘Communication préliminaire’, de 1893”, in GW, XVII, 1892, p. 152
[“Esboços para a ‘Comunicação preliminar’ de 1893”, ver Bibliografia]; cf. S. Freud, “Les fantasmes
hystériques et leur relation à la bisexualité”, op. cit., p. 150 [“Fantasias...”, op. cit., ver Bibliografia].
156
S. Freud, “Considérations générales sur l’attaque hystérique”, in Névrose, psychose et perversion, op.
cit., p. 161 [“Algumas observações gerais sobre os ataques histéricos”, ver Bibliografia].
157
Ibid., p. 162.
158
S. Freud, “Esquisse d’une psychologie scientifique”, op. cit., p. 366 [“Projeto...”, op. cit., ver
Bibliografia].
159
IPS, I, p. 78. Grifo meu.
160
IPS, II, p. 139, 161.
161
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 34-35; em francês no texto [Fragmento...,
op. cit., ver Bibliografia].
162
Cf. P. Guiraud, Dictionnaire historique, stylistique, rhétorique, étymologique de la littérature
érotique, Paris, Payot, 1978, p. 15-23 (as 1.300 palavras do coito).
163
Cf. S. Freud, “L’Hérédité et l’étiologie des névroses”, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p.
53-55 [“A hereditariedade e a etiologia das neuroses”, ver Bibliografia]; S. Freud, “Nouvelles remarques
sur les psychonévroses de défense”, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p. 62-66 [“Novas
observações sobre as neuropsicoses de defesa”, ver Bibliografia]; S. Freud, Trois essais sur la théorie de
la sexualité, Paris, Gallirnard, 1962, p. 45, 157-159 [Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, ver
Bibliografia].
164
Cf. S. Freud, L’Interprétation des rêves, Paris, PUF, 1967, p. 298 [A interpretação dos sonhos, ver
Bibliografia].
165
Cf. S. Freud, “Consídératíons générales sur l’attaque hystéríque”, op. cit., p. 164-165 [“Algumas
observações gerais...”, op. cit., ver Bibliografia].
166
S. Freud, “Contribution à l’histoire du mouvement psychanalytíque”, in Cinq leçons sur la
psychanalyse, op. cit., p. 78 [“A história do movimento psicanalítico”, ver Bibliografia].
167
IPS, II, p. 151, 161; cf. p. 150, 152-153.
168
IPS, I, p. 70-71.
169
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 388-390.
170
Cf. IPS, II, p. 133, 139, 147 etc.
171
Cf. S. Freud, “Considérations générales sur l’attaque hystérique”, op. cit., p. 163-165 [“Algumas
observações gerais...”, op. cit., ver Bibliografia].
172
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 33 [Fragmento da..., op. cit., ver
Bibliografia].
173
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 69-78, especialmente p. 76.
174
S. Freud, “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, op. cit., p. 155 [“Fantasias
histéricas...”, op. cit., ver Bibliografia].
175
Ibid. Grifo meu.
176
Cf. H. Maldiney, Aitres de la langue et demeures de la pensée, Lausanne, L’Âge d’homme, 1975, p.
18-20; M. David-Ménard, Pour une épistémologie de la métaphore biologi que en psychanalyse... , op.
cit., p. 33-36.
177
Cf. M. Blanchot, L’Espace littéraire, Paris, Gallimard, 1955, p. 227-234, “Le regard d’Orphée” [O
olhar de Orfeu].
178
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 310, “Mimique” [Mímica].
179
D. Diderot, “Sur les femmes”, op. cit., p. 952. Grifo meu.
180
G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., v. I, p. 111.
181
Cf. IPS, III, p. 22 etc.
182
Cf. S. Freud, “Psychologie collective et analyse du Moi”, in Essais de psychanalyse, op. cit., p. 128-
129 [“Psicologia de grupo e análise do ego”, ver Bibliografia].
183
Cf. S. Freud, “Considérations générales sur l’attaque hystérique”, op. cit., p. 162 [“Algumas
observações gerais...”, op. cit., ver Bibliografia].
184
IPS, II, p. 135 etc.
185
Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 714, “La femme” [A mulher], e p. 715, “Éloge du
maquillage” [Elogio à maquiagem].
186
F. Dostoievski, Les Démons, op. cit., p. 150-151 [Os demônios, ver Bibliografia].
187
IPS, II, p. 168.
188
Ibid., p. 167-168.
189
Cf. M. Heidegger, Introduction à la métaphysique, Paris, Gallimard, 1967, p. 109 [Introdução à
metafísica, ver Bibliografia].
190
IPS, II, p. 214.
191
Ibid., p. 215.
192
Ibid., p. 206, lâmina XXXIX.
193
IPS, III, p. 7-
194
Cf. J. Lacan, Le Séminaire, XI. Les quatre concepts fondamentaux de la psychanaIyse, Paris, Seuil,
1973 (seminário de 1964), p. 194-195 [O Seminário, livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise, ver Bibliografia]; J. Lacan, Écrits, Paris, Seuil, 1966, p. 843-844 [Escritos, ver Bibliografia].
195
Cf. J. Lacan, Le Séminaire, XI. Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse, op. cit., p. 38-
39 [Os quatro conceitos..., op. cit., ver Bibliografia].
196
Cf. S. Freud, “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, op. cit., p. 80-81
[“Fantasias histéricas...”, op. cit., ver Bibliografia].
197
J. Lacan, Séminaire sur ^identification (1961-1962), Nova York, International General, s.d., p. 315-
316 ; cf. J. Lacan, Écrits, op. cit., p. 221-222 [Escritos, op. cit., ver Bibliografia].
198
Cf. J. Lacan, Séminaire sur l’identification, op. cit., p. 362.
199
Ibid., p. 281; cf. J. Lacan, Écrits, op. cit., p. 99, 165-166, 170-177, 524 etc. [Escritos, op. cit., ver
Bibliografia].
200
Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 713, “La femme” [A mulher].
201
S. Freud, “Observations sur l’amour de transfert”, in La Technique psychanalytique, op. cit., p. 128-
129 [“Observações sobre o amor transferencial”, ver Bibliografia]. Grifo meu.
202
Cf. G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, Paris, Masson, 1955, p. 134-135.
203
R. Barthes, Fragments d’un discours amo^reux, Paris, Seuil, 1977, p. 79 [Fragmentos de um discurso
amoroso, ver Bibliografia].
204
J. Breuer e S. Freud, Études sur rhystérie (1893-1895), op. cit., p. 213 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia]. Grifo meu.
205
Cf. IPS, I, p. 70-71 etc.
206
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 86-87 [Fragmento da análise..., op. cit., ver
Bibliografia].
207
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur 1’hystérie (1893-1895), op. cit., p. 245 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
208
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 87 [Fragmento da análise..., op. cit., ver
Bibliografia].
209
S. Freud, “Observations sur 1’amour de transfert”, op. cit., p. 128 [“Observações sobre o amor...”, op.
cit., ver Bibliografia].
210
Ibid., p. 123.
211
Ibid., p. 125.
212
Ibid., p.124, 128.
213
Cf. D. Sibony, Le Nom et le corps, Paris, Seuil, 1974, p. 194.
214
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 30 [Fragmento da análise..., op. cit., ver
Bibliografia].
215
Cf. Ch. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 546, “Choix de maximes consolantes sur
l’amour” [Seleta de máximas consoladoras sobre o amor].
216
Ibid., p. 41, “Semper Eadem”, e p. 99, “L’Amour du mensonge”.
217
Cf. R. Barthes, Fragments d’un discoursamo^reux, op. cit., p. 227-229 [Fragmentos de um discurso
amoroso, ver Bibliografia].
218
Cf. O. Mannoni, Un Commencement qui nen finit pas. Transfert, interpretation, théorie, Paris, Seuil,
1980, p. 13-55; D. Sibony, Le Nom et le corps, op. cit., p. 179.
219
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, op. cit., p. 30 [Fragmento da análise..., op. cit., ver
Bibliografia].
* Convém lembrar que o advérbio francês corresponde, em português, além do ainda, a mais
[conotando intensidade], a de novo [repetição] e a diversas construções que indicam a continuação
de uma ação no tempo, como “ele continua a trabalhar” (il travaille encore), ou “continua a chover”
(il pleut encore). [N.T.]
** A Deck-Erinnerung freudiana traduz-se em francês por souvenir-écran, ou “lembrança-tela”, se
vertida ao pé da letra. [N.T.]
*** Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, v. 4, Sodoma e Gomorra, trad. Mário Quintana, 3ª ed.
rev. por Olgária Chaim F. Matos, notas e resumo de Guilherme Inácio da Silva, posfácio de Regina
Salgado, São Paulo, Globo, 2008. [N.T.]
Repetições, encenações
Olhares e toques
Sensibilidades “especiais”
Com certeza, o corpo histérico é todo um mistério de sensações.
“Perversões da sensibilidade”, escrevia Briquet.9 Isso significa, em primeiro
lugar, as anestesias. Pele, músculos, ossos, órgãos dos sentidos, “membranas
mucosas”10 e tutti quanti. Depois, secundariamente, as hiperestesias, ou
“hiperalgesias”: exatamente o inverso das primeiras, mas, de qualquer modo,
em toda parte e de todas as espécies: “dermalgias”, “mialgias”, “cefalalgias”,
“epigastralgias”, “raquialgias”, “pleuralgias”, “celialgias”, “toracalgias”,
“mielalgias”, “artralgias”, “nevralgias”, “hiperestesias laringobrônquicas”,
“asfixias pseudocrupais”, “hiperestesias das vias digestivas”, “nefralgias”,
“cistalgias”, “histeralgias” etc.11 Cada órgão do corpo histérico, portanto,
teria sua dor própria.
A Escola da Salpêtrière levou a descrição muito além do simples
recenseamento. Esboçou-se uma teoria geral, psicofisiológica; por exemplo,
a afirmação de que a própria emotividade histérica, a “impressionabilidade”
em geral da histérica, “é apenas uma fraqueza congênita ou adquirida da
resistência dos centros vasomotores”.12 Ora, o que era preciso para o
estabelecimento dessa teoria era uma verificação experimental: antes de
tudo, tirar a medida de todas as sensibilidades histéricas.
No protocolo clínico, para começar, era preciso ordenar toda essa
fenomenologia dispersa num quadro das chamadas “sensibilidades
especiais”. Eis um pequeno resumo:
Sensibilidade especial. O tique-taque de um relógio encostado na orelha
esquerda mal chega a ser percebido; é ouvido a dez centímetros da orelha
direta. Visão: W. só distingue o vermelho, do lado esquerdo; no direito, tem
noção de todas as cores, com exceção do violeta. Olfato: abolido à esquerda,
um pouco diminuído à direita. Paladar: sal, açúcar, pimenta e colocíntide
não são percebidos de um lado nem do outro. Sentido genital: as relações
sexuais não produzem sensação alguma; ela é acusada de frigidez; tudo
acontece na cabeça.13
Figura 67. Esquema das zonas de anestesia histérica, em Nouvelle iconographie de la Salpêtrière, Paris,
Lecrosnier & Babé, 1888.
Corpos experimentais
Como não teria ele suspeitado da virtude fundadora dos fatos de que é
dotada a montagem cênica? Será que a esqueceu, adiante, ao escrever, ou,
melhor, ao se dirigir a seu público, falando de uma paciente, bem na frente
dela (que não era surda): “Os senhores têm aqui pontos histerogênicos,
podem servir-se deles, nem que seja com um objetivo experimental”?27
Fez-se uma acusação a Charcot: o senhor não trata, o senhor
experimenta.28 Seus discípulos ergueram uma barreira, tomaram da pena e
tentaram responder. Bem estranhas respostas. Argumentos simplistas (“bom
remédio é o que cura”) ou ambíguos, denegatórios (“ele que, na terapêutica,
nunca recuou diante de experimentação alguma”)29 (cf. Apêndice 16). Mas a
questão ia além. A questão concernia à ideia ou à ideologia de um “avanço”
da ciência médica nesse campo; concernia também a uma concepção
psiquiátrica da verificação: entre outras coisas, como viriam a se verificar
todos os temas que serviam de princípio à psicofisiologia, sua ideia de
determinismo, seus esquemas fundadores, estímulo e reação, e assim por
diante?
A questão ainda ia além. Dizia respeito ao fato de que um empirismo do
corpo suscitava ou até fabricava um empirismo do sujeito. Assim, Augustine,
como “histeroepiléptica”, seria um sujeito empírico; este era tramado e
inventado ao longo dos quase rostos e quase poses de Augustine, no
movimento da transferência. Ao se inventar, o empirismo do sujeito passava
para uma modalidade estética de existência, celebrada (muito sexualmente,
no fundo) por toda a organização institucional e tecnológica da Salpêtrière...
Figura 69. Albert Londe, “Sono histérico”, em La Photographie médicale: application aux sciences
médicales et physiologiques, Paris, Gauthier-Villars, 1893.
Corpos de sonho
(Contudo, você deve ter-se apercebido de que, com isso, tornava- -se a
provocar, quando elas não se davam espontaneamente, as mesmas
contraturas em razão das quais, já cinco anos antes, Augustine fora “tratar-
se” na Salpêtrière.)
... Um virtuosismo e uma moral do brinquedo, portanto. Tudo era bom
para reproduzir - as acromatopsias, os estigmas, as crises, os delírios, as
auras!64 Todos artificiais, como se dizia. É que o corpo histérico, nesse
ponto, era investido de pelo menos duas qualidades prodigiosas.
Para começar, ele era um corpo desencadeador. Alguém comprimia,
ordenava, e a coisa vinha (nem sempre: sucedia que uma mesma fricção da
pele hipnotizada surtia efeitos opostos, contrações ou relaxamentos, mas,
enfim, de qualquer modo eram efeitos...).65
Ele era ainda articulável à vontade, dotado de uma incrível submissão
plástica (e essa submissão era também o que permitia a Regnard ajustar bem
suas objetivas, seus diafragmas, suas distâncias focais e seus tempos de
exposição):
“Estátuas expressivas”
“Et caetera”, Monsieur Loyal, sim, o senhor iria cada vez mais longe no
deslumbrante espetáculo de seus corpos-fenômenos. E mostre-nos logo a
recíproca: a expressão induzindo gestos e posturas!91 E redistribua tudo isso
para nós, de acordo com suas simetrias preferidas, seus territórios eletivos:
porque “o fenômeno pode ser unilateral e, quando um dos braços é levado
para a frente, com o punho cerrado, e o outro conduz a mão para junto da
comissura labial, um lado do rosto apresenta uma expressão de cólera, e o
outro, de sorriso”.92
Ou seja, o corpo histérico se deixa impor toda a configuração das divisões
em que seu desejo se demora. É por isso que é mágico e prodigioso. A
“simultaneidade contraditória plasticamente representada” é característica
sua. Vejamos aqui Augustine posando para Regnard, hemiletárgica à direita,
hemicataléptica à esquerda, numa cisão de que ela nos dá sinal com uma
gentil piscadela (figura 84). E, com certeza, poder-se-ia ter feito o contrário,
variando ao infinito os tropos dessa acrobacia da transferência e da
conversão.93
Figura 89 b. Reprise experimental do mesmo fenômeno por Paul Richer, Catalepsia provocada -
influência de um barulho intenso e inesperado, lâmina VIII, extraída de Études cliniques sur la grande
hystérie ou l’hystéro-épilepsie, Paris, Delahaye & Lecrosnier, 1881.
Impor uma forma exige técnica, tékhnê: toda uma arte. O método clássico,
mais uma vez.
É preciso começar por escolher o sujeito:
Pavana oculta
Figura 96. Paul Regnard, “Catalepsia, sugestão”, fotografia de Augustine, lâmina XVIII, em
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, Paris, Progrès Médical &
Delahaye, 1879-1880.
O auge do teatro
E o texto, o texto dos papéis? E o autor dos delírios induzidos? Que sentido
era soprado às histéricas?
Duchenne de Boulogne, o diretor elétrico, havia constituído seu
repertório recorrendo à própria fênix dos dramaturgos, William
Shakespeare. Suas “experiências eletrofisiológicas representadas pela
fotografia” dão-nos como exemplo uma “lady Macbeth com expressão de
crueldade, em três graus diferentes”:140 três intensidades elétricas,
determinando três estilos de mímica, com seu projeto odioso perturbando -
um pouco, ou muito, ou apaixonadamente - o seu músculo “piramidal do
nariz”, enquanto ela aperta cada vez com mais força o seu seio criminoso;
veja (figura 99) e se lembre, ato I, cena V:
Vinde, espíritos
A repetição ideal
Figura 106. André Brouillet, Uma aula clínica na Salpêtrière, óleo sobre tela, 1887, Paris, Museu de
História da Medicina.
Imagine, por outro lado, que uma pedagogia que utilizasse projeções
fotográficas teria com que constituir, na época, algo como uma verdadeira
“sensação”, como se costuma dizer sobre os grandes eventos de nossas
temporadas teatrais.
As aulas das terças-feiras eram rigorosamente “organizadas de modo a
fornecer, em especial, a imagem da clínica cotidiana, da policlínica
imaginem belli, com todas as suas surpresas, toda a sua complexidade”,
escreveu Babinski no prefácio à primeira publicação das aulas.188 E citava
nisso “o próprio professor”, o pensamento clínico do próprio Charcot:
imaginem belli...
Portanto, Charcot teria utilizado o caráter de coleção do campo hospitalar
(o “museu patológico vivo”) para ali conjugar um estilo de transmissão do
saber, apropriado para “já exercer uma influência ditosa no espírito de seus
ouvintes, particularmente dos que tinham ambição de fazer novas
explorações no campo muito atraente da neuropatologia”.189 Com isso,
Charcot abriu caminho para uma atração, Reize, uma atração das doenças
nervosas, para uma consciência doravante estética da patologia.
E todos se interessaram por essa atração, não nos esqueçamos; não nos
esqueçamos da sedução nem do consentimento: “Vi clientes de Charcot”,
relatou Daudet, “muito aborrecidos com o desaparecimento de um sinal ou
um reflexo que sabiam ser particularmente caro ao cientista: ‘O que ele vai
pensar disto? Não se interessará mais pelo meu caso! Com que cara vou
aparecer agora na consulta com ele?’”190 Será que isso significa que era
preciso fazer boa figura da própria doença? Sim, em certo sentido. Era a
dialética da incitação à boa forma.
E Charcot não apenas incitava os sintomas como que a uma imitação
perpétua deles mesmos, mas também os inspirava, qual um modelo,
convocando todas as “transferências”, ao se entregar pessoalmente à
pantomima dos sintomas perante seu público.191
No que dava mostra das virtudes do ator, além de todas as do autor: autor
(mestre e garante das formas), áugure (senhor do tempo), instigador dos
atos (o auctor é, literalmente, aquele que impele a agir), diretor das atrizes da
Histeria, um conceito seu. Foi isso que também chamei, sem moralismo, na
falta aflitiva de outra palavra, de habilidade da hipocrisia. Essa habilidade,
portanto, glorificou a histeria como “grande forma”. E deu crédito, ao
mesmo tempo, a um corpo real da histeria.
O milagreiro
Sganarelle: O quê?
Beleza
Contrato
Fragmentação de uma cena, aquela que não se deve fazer, cujo próprio
advento é alucinante. Momento derradeiro no drama histérico: o auge do
consentimento:
Basta que eu o diga
e imediatamente
e se juntar
notórios.
Um novo corpo
poderão me esquecer236
A paciência extrema
Chamo de íntima essa libertação porque o diretor teatral, por sua vez, está
sempre ali, de frente, com suas mesmas e tirânicas exigências. Então a
contraefetuação da histérica se crispa, ainda mais impossível de pacificar na
medida em que ela vem induzir, de maneira mais ou menos oculta, porém
inelutável, uma relação de quase luta até a morte. É uma luta pela imagem a
ser feita “do” corpo histérico, essa ficção. Todos querem crer na existência
desse corpo: vontade compartilhada, conivência, consentimento recíproco.
Mas como compartilhar até o fim tal conteúdo de crença? Por isso, no fim,
uma luta: quase luta de morte.
Tudo que chamei de consentimento, vamos chamá-lo agora de paciência:
uma espécie de suspensão ante um desastre inelutável mediante o qual essa
luta aparece às claras. Tudo se fez para mascarar essa luta, porque ela trazia
um prejuízo extremo para todas as partes, rompia uma estrutura habitável.
Mas era inelutável e fez seu caminho lentamente, através de olhares,
encenações, consentimentos.
As histéricas foram obrigadas a ter paciência, já sob a forma de uma
espera pela representação para encontrarem alívio. Charcot, por exemplo,
adiou a faradização de certa mão paralisada “porque qualquer tentativa
desse gênero talvez levasse ao retorno da motilidade e à cura, e ele fazia
questão de que sua plateia fosse testemunha do que viesse a acontecer”;243
ou seja, ele curava em horários fixos do espetáculo, o que permitia que todos
se cumprimentassem pelo milagre e que a doente, uma vez eletrizada diante
de todos, “apertasse vigorosamente a mão dos ouvintes desejosos de
apreender a realidade dos fenômenos recém-produzidos diante de seus
olhos”.244
Paciência também na espera da sessão para reencenar o sintoma, para
voltar a padecer dele. Assim, Charcot produzia para seu público “dores por
imaginação”, ou seja, hipnoticamente sugeridas e que produziam, por sua
vez, gritos muito reais; ele tornava a provocar todas as dores, contraturas etc.
diante de seu público, muito embora esclarecesse: “Não convém deixar que
esses fenômenos durem; não se divirtam permitindo que persistam por dois
dias, ou sequer por um dia, porque não conseguirão mais fazê-los
desaparecer”;245 logo, prudência! Mas um desses “acidentes” ocorreu com
Augustine, um dia:
O teatro em chamas
Notas
1
Cf. M. Foucault, Naissance de la clinique. Une archéologie du regard médical, Paris, PUF, 1972, p. 121-
123 [O nascimento da clínica, ver Bibliografia].
2
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 693-696.
3
Ibid., p. 694.
4
IPS, I, p. 118-121, 153.
5
Cf. G. Gilles de la Tourette, Leçons de clinique thérapeutique sur les maladies du système nerveux,
Paris, Plon-Nourrit, 1898, p. 181; H. Cesbron, Histoire critique de Vhystérie, Paris, Asselin & Houzeau,
1909, p. 171-173; J. Carroy-Thirard, “Figures de femmes hystériques dans la psychiatrie française du
XIXe siècle”, in Psychanalyse à Vuniversité, Paris, PUF, IV, n.° 14, 1979, p. 315.
6
Cf. J. Clavreul, LOrdre médical, Paris, Seuil, 1978, p. 102 [A ordem médica: poder e impotência do
discurso médico, ver Bibliografia].
7
Cf. IPS, I, lâmina XXXIX.
8
Cf. P. Regnard, Les Maladies épidémiques de lesprit - Sorcellerie, magnétisme, morphinisme, délire des
grandeurs, Paris, Plon-Nourrit, 1887, passim.
9
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 307.
10
Ibid., p. 267-306; cf. P. Janet, L’Automatisme psychologique. Essai de psychologie expérimentale sur les
formes inférieures de lactivité humaine, Paris, Alcan, 1889, p. 280288; A. Pitres, Leçons cliniques sur
Vhystérie et lhypnotisme, Paris, Doin, 1891, v. I, p. 55-180.
11
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. 204-266; A. Pitres, Leçons
cliniques sur Vhystérie et l’hypnotisme, op. cit., v. I, p. 181-206.
12
C. Féré, La Pathologie des émotions. Études physiologiques et cliniques, Paris, Alcan, 1892, p. 499
(segundo Rosenthal).
13
IPS, III, p. 26.
14
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. I, p.
315.
15
Ibid., p. 300-319; cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris,
Progrès Médical & Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 138 etc.
16
Cf. IPS, II, p. 123-124 etc.
17
Cf. A. Souques, “Contribution à l’étude des syndromes hystériques ‘simulateurs’ des rnaladies
organiques de la moelle épinière”, in NIS, 1891, p. 427-429, e lâmina XLIII.
18
Cf. A. Binet e C. Féré, Recherches expérimentales sur la physiologie des mouvements chez les
hystériques, Paris, Masson, 1887, passim.
19
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéro-épilepsie, op. cit., p. 63 etc.
20
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, Paris, Progrès Médical
& Lecrosnier & Babé, 1888-1889, p. 507; D.-M. Bourneville, Études cliniques et thermométriques sur les
maladies du système nerveux, Paris, Delahaye, 1872-1873, p. 241-328.
21
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 96-97, 139.
22
J.-M. Charcot, De l’expectation en médecine, tese de concurso para o magistério superior, Paris,
Baillière, 1857, p. 5.
23
Ibid., p. 4, 5.
24
Ibid., p. 11.
25
Cf. J. Derrida, LArchéologie du frivole, Paris, Galilée, 1973, p. 11, 18, 84 [A arqueologia do frívolo,
ver Bibliografia].
26
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 174.
27
Ibid., p. 179.
28
Cf. J. Delboeuf, “De l’influence de limitation et de l’éducation dans le somnambulisme provoqué”, in
Revue philosophique, XXII, 1886, passim; H. F. Ellenberger, A la découverte de l’inconscient,
Villeurbanne, SIMEP, 1974, p. 83-85, 617-633.
29
G. Gilles de la Tourette, “Jean-Martin Charcot”, in NIS, 1893, p. 246.
30
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 256.
31
Cf. A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. I*, p. 85.
32
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 65.
33
Ibid., p. 67.
34
Ibid., p. 64.
35
Cf. IPS, III, p. 118-139.
36
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 63-64.
37
Ibid., p. 271-277; cf. G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, d’après
l’enseignement de la Salpêtrière, Paris, Plon-Nourrit, 1891-1895, v. II, p. 202-263; O. Conta,
Contributions à l’étude du sommeil hystérique, Paris, Ollier- -Henry, 1897, passim.
38
Cf. IPS, III, p. 88-100; P. Regnard, Les Maladies épidémiques de l’esprit, op. cit., p. 203; J.-M. Charcot,
Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, 1892-1893, v. II, p. 56-69,
168-176; G. Guinon, “Documents pour servir à l’histoire des somnambulismes”, in Clinique des
maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, v. 2, 1892-1893, p. 70-167, 177-265.
39
P. Regnard, Les Maladies épidémiques de l’esprit..., op. cit., p. 203.
40
Cf. L. Chertok e R. de Saussure, Naissance du psychanalyste. De Mesmer à Freud, Paris: Payot, 1973,
p. 71; I. Veith, Histoire de l’hystérie, Paris, Seghers, 1973, p. 235.
41
J.-M. Charcot, “Préface”, in E. Azam, Hypnotisme et double conscience, Paris, Alcan, 1893, p. 10.
42
S. Freud, “Bericht über meine mit Universitàts-Jubilàums Reisestipendium unternommene
Studienreise nach Paris und Berlin”, in SE, I, p. 13 [“Relatório sobre meus estudos...”, op. cit., ver
Bibliografia].
43
Cf. E. Azam, Hypnotisme, double conscience et altérations de la personnalité, Paris, Baillière, 1887, p.
9-60; E. Azam, Hypnotisme et double conscience, op. cit., passim.
44
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 505-798.
45
Cf. G. Gilles de La Tourette, LHypnotisme et les états analogues au point de vue médico-légal, Paris,
Plon-Nourrit, 1887, p. 215-244.
46
Cf. P. Regnard, Les Maladies épidémiques de Vesprit..., op. cit., p. 205; P. Richer, Études cliniques sur
la grande hystérie..., op. cit., p. 505.
47
Cf. A. Pitres, Leçons cliniques sur l’hystérie et l’hypnotisme, op. cit., v. II, p. 68-533 etc.
48
Cf. IPS, III, p. 147-228, lâminas XIII-XL.
49
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 310.
50
J.-M. Charcot, La Médecine empirique et la médecine scientifique, Paris, Delahaye, 1867, p. 20.
51
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 337.
52
J. O. de La Mettrie, citado em D. Leduc-Fayette, “La Mettrie et ‘le labyrinthe de l’homme’”, in Revue
Philosophique de la France et de létranger, Paris, PUF, 3, 1980, p. 349.
53
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 468-469, cf. também p. 297-308, passim.
54
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 340; cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la
Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 376-377.
55
Cf. S. Freud, “De la psychothérapie”, in La Technique psychanalytique, Paris, PUF, 1977, p. 13
[“Sobre a psicoterapia”, ver Bibliografia].
56
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 373.
57
Ibid., p. 136.
58
P. Regnard, Les Maladies épidémiques de l’esprit..., op. cit., p. 243; cf. IPS, III, p. 463.
59
Cf. IPS, III, p. 458-462.
60
Ibid., p. 469.
61
J. Breuer e S. Freud, Études sur l’hystérie (1893-1895), Paris, PUF, 1973, p. 218 [Estudos sobre a
histeria, ver Bibliografia].
62
IPS, III, p. 192; cf. p. 19-20 etc.
63
Idem, p. 191; cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 314-335, 463.
64
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 278-288; C. Laufenauer, “Des contractures
spontanées et provoquées de la langue chez les hystéro-épileptiques” [Contraturas espontâneas e
provocadas da língua em histeroepilépticas], in NIS, 1889, passim; G. Guinon e S. Woltke, “De
l’influence des excitations sensitives et sensorielles dans les phases cataleptique et somnambulique du
grand hypnotisme” [Da influência das excitações sensitivas e sensoriais nas fases cataléptica e
sonambúlica do grande hipnotismo], in NIS, 1891, e G. Guinon e S. Woltke, “De l’influence des
excitations des organes des sens sur les hallucinations de la phase passionnelle de l’attaque hystérique”
[Sobre a influência das excitações dos órgãos sensoriais nas alucinações da fase passional do ataque
histérico], in Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, v. 2, 1892-
1893, passim.
65
Cf. C. Schaffer, “De la morphologie des contractures réflexes intrahypnotiques et de l’action de la
suggestion sur ces contractures” [Sobre a morfologia das contraturas reflexas intra-hipnóticas e da
ação da sugestão nessas contraturas], in NIS, 1893, p. 305.
66
IPS, III, p. 192.
67
Ibid., p. 193.
68
J.-M. Charcot, Oeuvres completes, op. cit., v. IX, p. 257; cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande
hystérie..., op. cit., p. 253-323.
69
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 309-421.
70
Cf. C. Bernard, Leçons sur la physiologie et la pathologie du système nerveux, Paris, Baillière, 1858, v.
II, p. 32-35, 40-41.
71
Ibid., v. I, p. 144, figuras 14-16.
72
G.-B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine ou analyse électro-
physiologique de l’expression des passions, Paris, Renouard, 1862, p. 15.
73
Ibid., p. 38, 15.
74
Cf. G.-B. Duchenne de Boulogne, De lélectrisation localisée et de son application à la pathologie et à
la thérapeutique, Paris, Baillière, 1872, p. 316, 574, 711-728 etc.
75
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 483-501.
76
A. de Montméja, “Machine d’induction” [Máquina de indução], in Revue Médico- -photographique
des Hôpitaux de Paris, 1874, p. 250, lâmina XXXVI; cf. C. Legros e E. Onimus, Traité d’électricité
médicale. Recherches physiologiques et cliniques [Tratado de eletricidade médica. Pesquisas fisiológicas
e clínicas], Paris, Alcan, 1888, passim; E. Onimus, “De l’action thérapeutique des courants continus”
[Sobre a ação terapêutica das correntes contínuas], in Revue photographique des Hôpitaux de Paris,
1872, passim; A. Arthuis, Traitement des maladies nerveuses, affections rhumatismales, maladies
chroniques, par Pélectricité statique [Tratamento das doenças nervosas, afecções reumáticas e doenças
crônicas por eletricidade estática], Paris, Delahaye, 1880, passim; A. Arthuis, Électricité statique.
Manuel pratique de ses applications médicales [Eletricidade estática. Manual prático de suas aplicações
médicas], Paris, Doin, 1887, passim.
77
Cf. G.-B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine..., op. cit., p. 15 etc.; J.-M.
Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 410 etc.
78
G.-B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine..., op. cit., p. v-vi.
79
Ibid., p. 45-47.
80
Ibid., p. 133.
81
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 362.
82
A. Artaud, Oeuvres complètes, v. XVI**, p. 62.
83
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 671.
84
Ibid. Grifo meu.
85
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 355-377, lâminas V-IX; IPS, III, lâminas XIII-
XL.
86
Cf. A. Binet e C. Féré, Recherches expérimentales..., op. cit., p. 323-332.
87
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 434-447.
88
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 443.
89
Ibid.
90
A. Londe, La photographie médicale; application aux sciences médicales et physiologiques, Paris,
Gauthier-Villars, 1893, p. 91. Grifo meu.
91
Ibid.
92
Ibid.
93
Cf. C. Schaffer, “De la morphologie des contractures réflexes intrahypnotiques et de l’action de la
suggestion sur ces contractures”, op. cit., passim.
94
IPS, III, p. 194.
95
J. B. Luys, Leçons cliniques sur les principaux phénomènes de l’hypnotisme dans leurs rapports avec la
pathologie mentale, Paris, Carré, 1890, p. 285, lâmina III.
96
Cf. IPS, III, p. 178, figura 11, 194.
97
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 304-305.
98
P. Regnard, Les Maladies épidémiques de l’esprit..., op. cit., p. 262.
99
Cf. A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 90-91; P. Richer, Études cliniques sur la grande
hystérie..., op. cit., p. 525-529.
100
A. Londe, La Photographie médicale..., op. cit., p. 90.
101
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 294.
102
C. Laufenauer, “Des contractures spontanées et provoquées de la langue chez les hystéro-
épileptiques”, op. cit., p. 205, lâminas XXXIII-XXXIV.
103
Cf. J-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 213-252, 265-271.
104
Cf. IPS, III, p. 132-133, 137, 141, 143; J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 234, 396
etc.
105
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 220-221.
106
Cf. D.-M. Bourneville, Recherches cliniques et thérapeutiques sur l’épilepsie, l’hystérie et l’idiotie,
comptes-rendus du service des épileptiques et des enfants arriérés de Bicêtre, 27 v., 1880-1906, v. III, p.
89-91 e figuras 1-13.
107
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 245.
108
Idem, p. 230-231. Grifo meu.
109
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 117.
110
Cf. J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 228-229 etc.
111
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 328-329.
112
Cf. C. Bernard, Leçons sur la physiologie..., op. cit., v. I, p. 75-97.
113
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 402; cf. IPS, II, p. 130.
114
IPS, II, p. 158.
115
Ibid., p. 161.
116
IPS, III, p. 188.
117
Ibid., p. 189.
118
Ibid.
119
IPS, II, p. 160.
120
Ibid.
121
Cf. IPS, 1, p. 10 ; IPS, II, p. 46, 55, 78, 81; IPS, III, p. 35, 67, 83.
122
Cf. M. Éloire, “Vomissements chez une hystérique. Traitement par la fumée de tabac” [Vômitos
numa histérica. Tratamento com fumaça de tabaco], in Revue médico-photographique des Hôpitaux de
Paris, 1874, p. 102-105.
123
Cf. S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1979, p. 68-69,
82-91 [Fragmento da análise de um caso de histeria, ver Bibliografia].
124
Cf. J. B. Luys, Les Émotions chez les sujets en état d’hypnotisme. Études de psychologie expérimentale
faites à l’aide de substances médicamenteuses ou toxiques impressionnant à distance les réseaux nerveux
périphériques, Paris, Baillière, 1887, passim.
125
Cf. G. Guinon e S. Woltke, “De l’influence des excitations des organes des sens sur les
hallucinations de la phase passionnelle de l’attaque hystérique”, op. cit., p. 46-51.
126
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 374.
127
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 475.
128
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 173; cf. J.
Carroy-Thirard, “Hypnose et expérimentation”, in Bulletin de psychologie, XXXIV, n. 348, 1981, p. 41.
129
G. Guinon e S. Woltke, “De l’influence des excitations des organes des sens sur les hallucinations
de la phase passionnelle de l’attaque hystérique”, op. cit.; cf. G. Gilles de la Tourette, Traité clinique et
thérapeutique de Phystérie, op. cit., v. II, p. 264-376.
130
IPS, III, p. 162-163.
131
Ibid., p. 180.
132
Ibid., p. 194.
133
Ibid., p. 192.
134
P. Regnard, Les Maladies épidémiques de l’esprit..., op. cit., p. 247.
135
S. Kierkegaard, Le Journal du séducteur, in Oeuvres complètes, v. III, Paris, L’Orante, 1970, p. 362
[Diário de um sedutor, ver Bibliografia].
136
J. B. Luys, Leçons cliniques sur les principaux phénomènes de lhypnotisme dans leurs rapports avec la
pathologie, op. cit., p. 287, lâmina XI.
137
IPS, III, p. 194.
138
Ibid., p. 195.
139
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 293.
140
G.-B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine..., op. cit., p. 194; cf. p. 169-
183, figuras 81-83.
141
W. Shakespeare, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1959, v. II, p. 965 [tradução de Carlos
Alberto Nunes, Macbeth, em Shakespeare - Teatro completo. Tragédias, São Paulo, Edições
Melhoramentos, 1956].
142
G.-B. Duchenne de Boulogne, Mécanisme de la physionomie humaine..., op. cit., p. 174.
143
Cf. A. Pitres, Leçons cliniques sur Vhystérie et l’hypnotisme, op. cit., v. II, p. 144-194, lâminas II-
VIII.
144
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 728.
145
Ibid.
146
Ibid., p. 729-730.
147
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. IV, p. 125.
148
Cf. D. Diderot, “Paradoxe sur le comédien”, in Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1951, p. 1.022.
149
Idem, p. 1.008-1.009.
150
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 137, 375.
151
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 663.
152
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 136.
153
Ibid., p. 113, 114.
154
W. Shakespeare, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 1.000. Grifo meu [tradução de Carlos Alberto
Nunes, Macbeth, op. cit.].
155
Ibid.
156
Cf. J.-M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, Paris, Progrès Médical & Babé, 1892-
1893, v. II, p. 126-129.
157
S. Freud, “Remémoration, répétition et perlaboration”, in La Technique psychanalytique, Paris, PUF,
1977, p. 109 [“Recordar, repetir e elaborar”, ver Bibliografia].
158
Cf. J. Breuer e S. Freud, Études sur Vhystérie (1893-1895), op. cit., p. 8-12, 201 etc. [Estudos..., op.
cit., ver Bibliografia].
159
S. Freud, “Psychologie collective et analyse du Moi”, in Essais de psychanalyse, op. cit., p. 138-139
[“Psicologia de grupo e análise do ego”, ver Bibliografia].
160
Ibid., cf. p. 140-141; S. Freud, Ma Vie et la psychanalyse, Paris, Gallimard, 1968, p. 35-36 [Um
estudo autobiográfico, ver Bibliografia].
161
Cf. S. Freud, “Psychologie collective et analyse du Moi”, op. cit., p. 174-175 [“Psicologia de grupo...”
op. cit., ver Bibliografia].
162
Ibid., p. 108; cf. S. Freud, Ma Vie et la psychanalyse, op. cit., p. 23-24 [Um estudo..., op. cit., ver
Bibliografia].
163
Cf. I. Veith, Histoire de lhystérie, op. cit., p. 236-237; H. F. Ellenberger, À la découverte de
l’inconscient, op. cit., p. 617-634; L. Chertok e R. de Saussure, Naissance du psychanalyste. De Mesmer à
Freud, op. cit., p. 61-84; G. Miller, “Crime et suggestion”, seguido por “Note sur Freud et l’hypnose”, in
Ornicar? 4, 1975, passim.
164
Cf. E. Azam, Hypnotisme, double conscience et altérations de la personnalité, op. cit., p. 231-280.
165
Cf. G. Gilles de La Tourette, L’hypnotisme et les états analogues au point de vue médico-légal, op.
cit., p. 279-528.
166
Cf. J. Carroy-Thirard, “Hypnose et expérimentation”, op. cit., p. 45, 49.
167
J. Babinski, Oeuvre scientifique, Paris, Masson, 1934, p. 513; cf. G. Ballet, “La suggestion
hypnotique au point de vue médico-légal”, in Gazette hebdomadaire de Médecine et de Chirurgie,
outubro de 1891, p. 6-13 etc.
168
H. Bergson, “Simulation inconsciente dans l’état d’hypnotisme”, in Revue philosophique, XXII,
1886, p. 531.
169
Cf. F. V. Foveau de Cormelles, LHypnotisme, Paris, Hachette, 1890, p. 33 etc.; G. Hahn, “Charcot et
son influence sur l’opinion publique”, in Revue des questions scientifiques, 2a série, VI, 1894, passim.
170
Cf. J. Delboeuf, “De l’influence de Limitation et de l’éducation dans le somnambulisme provoqué”,
op. cit., p. 147.
171
Cf. G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, Paris, Masson, 1955, p. 62.
172
Cf. H. Bergson, “Simulation inconsciente dans l’état d’hypnotisme”, in Revue philosophique, XXII,
1886, passim; J. Delboeuf, “De l’infiuence de Limitation et de l’éducation dans le somnambulisme
provoqué”, op. cit., passim; S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, in Cinq psychanalyses, Paris,
PUF, 1979, p. 141 [Fragmento da análise..., op. cit., ver Bibliografia] etc.
173
Cf. J.-M. Charcot, “Préface”, in E. Azam, Hypnotisme et double conscience, Paris, Alcan, 1893, p. 10.
174
G. Gilles de La Tourette, “Jean-Martin Charcot”, op. cit., p. 246; G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-
1893). Sa vie. Son oeuvre, op. cit., p. 165-176; H. F. Ellenberger, À la découverte de Vinconscient, op.
cit., p. 85.
175
G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, op. cit., p. 165.
176
Ibid., p. 175.
177
Ibid., p. 174; cf. H. F. Ellenberger, A la découverte de Vinconscient, op. cit., p. 86.
178
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, op. cit., p. 247-256.
179
Cf. G. Gilles de La Tourette, LHypnotisme et les états analogues au point de vue médico-légal, op.
cit., p. 298-320.
180
Cf. H. F. Ellenberger, A la découverte de Vinconscient, op. cit., p. 621 etc.
181
IPS, III, p. 150.
182
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 479-480.
183
A. Binet e C. Féré, Le Magnétisme animal, Paris, Alcan, 1887, p. 283.
184
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 113.
185
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1945, p. 269, “Le phénomène futur”.
186
Cf. F. V. Foveau de Cormelles, LHypnotisme, op. cit., p. 33 etc.
187
Cf. H. F. Ellenberger, A la découverte de Vinconscient, op. cit., p. 84.
188
J. Babinski, prefácio a J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op.
cit., p. II.
189
Ibid., p. III.
190
L. Daudet, Les Oeuvres dans les hommes, Paris, Nouvelle Librairie Nationale, 1922, p. 201.
191
G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, op. cit., p. 54 (cf. Apêndice 2); G. M.
Debove, “Éloge de J.-M. Charcot”, in Bulletin Médical, 103, 1900, p. 1391.
192
Cf. L. Daudet, Les Oeuvres dans les hommes, op. cit., p. 226.
193
Cf. J. Carroy-Thirard, “Possession, extase, hystérie au XIXe siècle”, in Psychanalyse à Vuniversité,
Paris, PUF, V, n. 19, 1980, p. 507.
194
Cf. Lyubimov, citado em H. F. Ellenberger, A la découverte de I’inconscient, op. cit., p. 83.
195
J.-M. Charcot, Clinique des maladies du système nerveux, op. cit., v. II, p. 280.
196
S. Kierkegaard, Le Journal du séducteur, op. cit., p. 341-342 [Diário de um sedutor, ver Bibliografia].
197
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 245-246.
198
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 385.
199
Freud, citado em E. Jones, La vie et l’oeuvre de Sigmund Freud, Paris, PUF, 3 v., 1970, v. I, p. 230 [A
vida e a obra de Sigmund Freud, ver Bibliografia].
200
Ibid., p. 204.
201
Ibid., p. 231-232.
202
P. Brouardel, M. Leygues e F. Raymond, “Inauguration du monument élevé à la mémoire du
Professeur Charcot”, in La Médecine moderne, IX, n. 86, 1898, p. 683.
203
J. Claretie, “Charcot, le consolateur”, in Les Annales politiques et littéraires, Paris, Brisson, XXI, n.
1.056, 1903, p. 179.
204
Ibid., p. 180.
205
A. Rimbaud, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1972, p. 101-102, “Une saison en enfer” [Uma
temporada no inferno].
206
J. Lacan, Télévision, Paris, Seuil, 1973, p. 17 [Televisão, ver Bibliografia]. Grifo meu.
207
Cf. J.-M. Charcot, La Foi qui guérit, Paris, Progrès Médical & Alcan, 1897, p. 3.
208
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 139.
209
J.-M. Charcot, La Foi qui guérit, op. cit., p. 4-5, 16.
210
G. Gilles de la Tourette, Leçons de clinique thérapeutique sur les maladies du système nerveux, op.
cit., p. 181.
211
J.-M. Charcot, La Foi qui guérit, op. cit., p. 10.
212
Citado em E. Jones, La Vie et l’oeuvre de Sigmund Freud, op. cit., v. I, p. 204-205 [A vida e a obra de
Sigmund Freud, op. cit., ver Bibliografia].
213
Cf. J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès
Médical & Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888; idem, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique
1888-1889, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 1888-1889, passim.
214
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 433.
215
D. Sibony, Le Groupe inconscient - Le lien et la peur, Paris, Bourgois, 1980, p. 167; cf. P. Legendre,
La Passion d’être un autre. Étude pour la danse, Paris, Seuil, 1978, p. 24 etc.
216
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 316, “Crayonné au théâtre” [Rabiscado no teatro, trad. e
notas de Tomaz Tadeu, Belo Horizonte, Autêntica, 2010]; J. Lacan, “La méprise du sujet supposé
savoir”, in Scilicet, 1, 1968, passim [“O engano do sujeito suposto saber”, ver Bibliografia].
217
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 314, “Crayonné au théâtre” [Rabiscado no teatro, op.
cit.].
218
C. Baudelaire, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1975-1976, v. I, p. 682, “Mon coeur mis à nu”.
219
Cf. M. Heidegger, UÊtre et le Temps, Paris, Gallimard, 1964, p. 206-215 (tagarelice, curiosidade,
dubiedade) [Ser e tempo, ver Bibliografia].
220
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 384.
221
Cf. J. Lacan, Le Séminaire. 1. Les écrits techniques de Freud, Paris, Seuil, 1975 (seminário de 1953-
1954), p. 152 [O Seminário, livro 1, Os escritos técnicos de Freud, ver Bibliografia].
222
E. Kant, Critique de la faculté de juger, Paris, Vrin, 1979, p. 65, § 12 [Crítica da faculdade de julgar,
ver Bibliografia].
223
IPS, II, p. 138, 146.
224
Ibid., p. 123.
225
Cf. S. Freud, Trois essais sur la théorie de la sexualité, Paris, Gallimard, 1962, p. 42 (curiosidade,
velamento, beleza) [Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, ver Bibliografia].
226
Cf. P. Fédida, Le Concept et la violence, Paris, UGE, 1977, p. 39 [O conceito e a violência, ver
Bibliografia].
227
S. Freud, Trois essais sur la théorie de la sexualité, op. cit., p. 54 [Três ensaios..., op. cit., ver
Bibliografia].
228
S. Freud, “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, in Névrose, psychose et
perversion, Paris, PUF, 1978, p. 152 [“Fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade”, ver
Bibliografia].
229
Cf. P. Fédida, Le Concept et la violence, op. cit., p. 41-42 (o contrato perverso) [O conceito e..., op.
cit., ver Bibliografia].
230
IPS, II, p. 148.
231
Cf. J. Clavreul, “Le couple pervers”, in Le Désir et la perversion, Paris, Seuil, 1967, p. 117 [“O casal
perverso”, ver Bibliografia]; J. Lacan, Télévision, op. cit., p. 60-61 [Televisão, op. cit., ver Bibliografia].
232
Cf. J. Lacan, Le Séminaire. I. Les écrits techniques de Freud (seminário de 1953-1954), op. cit., p. 246
[O Seminário, livro 1, Os escritos técnicos..., op. cit., ver Bibliografia].
233
S. Freud, Trois essais sur la théorie de la sexualité, op. cit., p. 39 [Três ensaios..., op. cit., ver
Bibliografia]; cf. J. Lacan, Séminaire sur “la relation d’objet” (19 de dezembro de 1956), Paris, Seuil,
1994 [O Seminário, livro 4, A relação de objeto, ver Bibliografia].
234
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 311, “Crayonné au théâtre” [Rabiscado no teatro, op.
cit.].
235
Ibid., p. 319 (Mallarmé efetivamente escreveu “o ator”) [Rabiscado..., op. cit.].
236
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. XIII, p. 118, “Le théâtre de la cruauté”.
237
Ibid., v. IV, p. 127, “Le théâtre et sou double” [O teatro e seu duplo, trad. Teixeira Coelho, São
Paulo, Martins Fontes, 1993].
238
Cf. G. Deleuze, Difference et repetition, Paris, PUF, 1968, p. 93-95 (mas o “díspar” ainda é mais
chamado ali de “sub-representativo”) [Diferença e repetição, ver Bibliografia].
239
S. Mallarmé, Oeuvres complètes, op. cit., p. 315, “Crayonné au théâtre” [Rabiscado..., op. cit.].
240
Ibid., p. 310, “Mimique”.
241
Ibid., p. 304, “Ballets”.
242
Cf. A. Artaud, Oeuvres complètes, v. IV, p. 125, “Un athlétisme affectif ”.
243
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 476.
244
Ibid., p. 476-477.
245
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, op. cit., p. 140.
246
IPS, II, p. 165-166.
247
Cf. G. Guillain, J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre, op. cit., p. 174.
248
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. IX, p. 281; cf. IPS, I, p. 14-28.
249
G. Gilles de la Tourette, G. Guinon e E. Huet, “Contribution à l’étude des bâillements hystériques”,
in NIS, 1890, p. 111.
250
S. Freud, “Remémoration, répétition et perlaboration”, op. cit., p. 109 [“Recordar...”, op. cit., ver
Bibliografia].
251
C. Baudelaire, Oeuvres complètes, op. cit., v. 1, p. 321, ”Une mort héroique”.
252
IPS, I, p. 79.
253
IPS, II, p. 205.
254
Cf. J. Lacan, Le Séminaire. XX. Encore, Paris, Seuil, 1975 (seminário de 1972-1973), p. 79 [O
Seminário, livro 20, Mais, ainda, ver Bibliografia]; J. Lacan, Séminaire sur “la relation d’objet”, op. cit.
(Seminário de 23 de janeiro de 1957: O dom de amor: para nada) [O Seminário, livro 4, A relação de
objeto, op. cit., ver Bibliografia].
255
S. Freud, “Observations sur l’amour de transfert”, in La Technique psychanalytique, op. cit., p. 125
[“Observações sobre o amor transferencial”, ver Bibliografia].
256
IPS, II, p. 160.
257
Ibid., p. 148, 150.
258
Ibid., p. 150.
259
S. Freud, “Observations sur l’amour de transfert”, in La Technique psychanalytique, op. cit., p. 119
[“Observações sobre o amor...”, op. cit., ver Bibliografia].
* É interessante notar que o termo planche, usado nesse trecho pelo autor, não apenas significa
lâmina, estampa, figura impressa, gravura etc., mas também, sobretudo no plural, o palco, o
tablado, a cena do teatro. [N.T.]
** As abreviaturas significam “toucher rectal” [toque retal] e “toucher vaginal” [toque vaginal]. [N.T.]
*** Etimologia que aponta para “de boa reputação”. [N.T.]
**** Personagem hipócrita da comédia Tartufo, de Molière, e exemplo de nome próprio (de mestre de
cerimônias ou diretor de circo) que se tornou comum como designação geral de toda sorte de
“mestres”. [N.T.]
***** O francês salpêtrière traduz-se por salitreira, ou fábrica/depósito de pólvora. [N.T.]
****** Vale lembrar que filosofia, pensamento (pensée) e culpa são femininos em francês. [N.T.]
Os ganchos* do espetáculo
Gritos
Tentar:
Sobressaltos
Esta última frase soa aos meus ouvidos como um ódio à imprevisibilidade,
ou à invisibilidade. À invisibilidade das causas.
Numa outra ocasião, Charcot estava tentando demonstrar o despertar de
uma histérica “ovariana” que, em prol das necessidades da causa pedagógica,
tinha sido deixada no pesadelo de seu “ataque de sono”. Vejamos:
Máscara
Cristalizado
Foram reabsorvidos.24
Tormentos
Cravos, cruzes
Sangue: segredos
Ora, esse elo talvez denomine justamente um segredo das imagens. Para
além de sua evidência espetacular. No ponto em que a evidência constitui
um excesso, torna-se intolerável, em certo sentido, ainda que seja
obscenamente “apetitosa”.
O “tipo de mulher” que era a histérica sempre mostrava em excesso e não
o bastante, porque ela fazia de seu narcisismo uma razão aparente - e como!
-, porém seu desejo continuava inteiramente impenetrável. Era exatamente
por isso que ela convocava todas as técnicas de visibilidade, sempre
supervalorizadas, enquanto a visibilidade de seu corpo, por sua vez,
permanecia paradoxal, constrangedora.
Nisso reside também todo o problema do que existe naquilo que se vê e
no que não se vê. “Ser isto ou aquilo não se vê”, como escreveu Artaud; e
depois: ver “é tornar obscena a realidade, pois que a vidência veio de um
obsceno que queria acreditar no que era”, no que via; “pois não há nada mais
obsceno e apetitoso, além disso, do que um ser...”43 Há também, portanto, a
questão de um segredo da obscenidade.
O segredo dessas imagens de Augustine, nas quais supostamente se
esgotava seu “caso”, no entanto, como imaginá-lo? Proponho o seguinte: eu
diria que ele era uma passagem, a única que a técnica fotográfica da época
não poderia alegar, integrar à sua pretensão de veracidade e autenticação - a
passagem para a cor. Imagino o “segredo” dos retratos de Augustine como
certa forma de impossibilidade de passagem para o vermelho: mais
precisamente, como um tremor de tempos brancos e tempos vermelhos.
O vermelho estava no cerne dos delírios de Augustine. Sempre associado
ao olhar. Olhares pesados, desejos não compartilhados, violação. Perda de
sangue. Sofrimento. Segredo terrível, a ser silenciado. Palidez. “Olhares
ameaçadores, a fim de lhe impor silêncio.” Vômitos. Olhos de gato, pavor,
grito, sangramento no nariz. Primeiro ataque histérico.44 Depois, mais tarde,
na Salpêtrière, a primeira menstruação de Augustine, sendo
cuidadosamente registrado na Iconografia o fato de ela haver sonhado com o
vermelho, no mesmo momento: “Das 5 às 7 horas, ela dormiu, mas sonhou
que estava num abatedouro, vendo animais serem mortos e o sangue correr.
Ao acordar, ela havia menstruado pela primeira vez.”45
Essa consignação meticulosa, sublinhada, é para nós um indício do
questionamento com que Bourneville introduziu toda a história de
Augustine; com efeito, o relato de seu caso se abriu (e se fechou) num
problema: qual é a ligação da histeria com a menstruação?46 Desse ponto de
vista, o caso de Augustine seria exemplar, rico em ensinamentos teóricos.
Mas, no fim das contas, continua a ser um enigma por excelência.
Exemplar no sentido de que os primeiros ataques de Augustine ocorreram
antes do aparecimento das primeiras regras, o que tende a rejeitar como
impertinente a tese da histeria como uma “neurose métrica”.47 Todavia, cabe
observar que as dores e os gritos da paciente, após seu estupro, tinham sido
tenazmente imputados ao aparecimento das regras - hipótese reconfortante,
em certo sentido, quase inculcada -, e, posteriormente, “os ataques teriam
coincidido, ao que dizem, com o desenvolvimento dos seios e do sistema
piloso do monte pubiano”.48 Por outro lado, a afirmação teórica de
Bourneville não o impediu de observar constantemente (isto chega até a
fazer parte dos protocolos mais “clássicos” da clínica) uma espécie de
coincidência, mais uma vez, entre os períodos de menstruação e os períodos
dos ataques, coincidência esta que, diziam, chegava até a transformar o
caráter de Augustine nessas ocasiões.49
Em suma, a coincidência introduzia sub-repticiamente a dúvida e a
indecisão na teoria. “Sabemos disto, mas, ainda assim...” Houve uma
indecisão já identificável em Landouzy ou Briquet: a indecisão quanto ao
caráter feminino, ovariano, uterino da histeria.50 Charcot foi mais brilhante
em face da indecisão, mas, em certo sentido, não menos ambíguo. Eis como
comentou o caso de Augustine: levando em conta que “o aparecimento das
regras [...] não modificou em nada de essencial o quadro clínico”, ele passou
a insistir não numa ausência de ligação causal, mas na hipótese de que “a
atividade ovariana é muito anterior à função menstrual e sobrevive a esta”.51
É que a “histeroepilepsia” de Augustine continuava realmente a ser
“ovariana”, o que - atenção!, como esclarecia Charcot - não queria dizer, em
caráter obrigatório, que ela era fundamentalmente de natureza “lúbrica”52
(de qualquer modo, era preciso “salvar a histeria”, ou seja, discriminá-la do
desejo, a fim de que ela existisse para a ciência, do mesmo modo que um
físico já poderia atribuir-se o dever de “salvar os fenômenos”).
Essa casuística indica, em todo caso, uma persistência do enigma, da
dificuldade de um positivismo neurofisiológico escapar do problema,
confrontado com a ostentação histérica do rubro mistério do feminino.
Secreções
Simulacro e tormento
Essa virada do corpo de cabeça para baixo me evoca uma ação que o latim
chama de torquere, virar até torcer, portanto: submeter à prova de um
tormento. Uma tortura. Tormentum designa a máquina, o instrumento dessa
provação. De início, era uma máquina de guerra que fazia prodígios.
Lentamente se enrolavam cordas num cilindro, as quais depois eram
distendidas, lançando flechas. Foi também uma máquina de tortura cujos
prodígios particulares utilizavam o mesmo princípio: ela esticava, puxava,
torcia, ia esquartejando devagar e, de repente, desmembrava os corpos. Se o
sujeito não falasse, ao menos gritaria até a morte. Evoco isso como um
funcionamento muito imponderável da máquina fotográfica na Iconografia:
uma tortura invisível para tornar os corpos cada vez mais visíveis, para
expor adequadamente (de acordo com a adaequatio rei et intellectus) seu
sofrimento; e para chegar a isso, de maneira mais ou menos invisível,
desmembrá-los. Através de uma maquinaria técnica; de uma maquinação,
astúcia, sedução, visando ao consentimento.
A Iconografia fotográfica da Salpêtrière instrumentalizou os corpos, jogou
ardilosamente com os corpos - com as histéricas corpos-simulacros -,
almejando uma verdade conceitual. Abusou ardilosamente do ostentatório
“fazer as vezes de” praticado pelas histéricas. Mas, para instrumentalizar
“com discernimento”, para usar de artifícios e obter o “aspecto verdadeiro”
de um sintoma, a Iconografia foi obrigada a prezar, a valorizar e a exagerar
cada vez mais este ou aquele simulacro de sua escolha, manipulável, obtido
por consentimento ou por extorsão, o que não vinha ao caso. Portanto, o
mesmo, no final. Ela empurrou o conceito e o uso do simulacro até seu
sentido sacrificial e de réplica - o sentido da palavra simulacrum tal como a
encontramos em César, ao longo de seu itinerário sangrento e belicoso.
Simulacrum designa (além da “imagem” ou da “representação
mnemotécnica”) os manequins de vime em que eram encerradas vítimas
bem escolhidas, que eram queimadas vivas em homenagem aos deuses.
Histeria e resposta, réplica à histeria, ambas são, em certo sentido,
irrupções de simulacros. Cada uma sacrifica o corpo à imagem, consome o
corpo na imagem. Consentimento e paciência, portanto, também eram
palavras equivalentes a tormento.
O que ainda é difícil considerar é que o tormento era consensual. A
histérica já fazia do simulacro - com o qual gozava, no entanto - um tempo
do tormento. O simulacro - ataque, atitude passional, sintoma -, o simulacro
investia a histérica de acordo com a intermitência de um período
enigmático. Novamente, uma passagem temporal designou o segredo de
uma evidência espetacular - como o segredo da visibilidade e sua
perturbação: muitas vezes convocado aqui, o tempo do fluxo menstrual, de
novo,63 a passagem temporal, periódica, da secreção sangrenta na similitudo,
na semelhança. Recordemos Aristóteles: “Dizem que o vermelho é
produzido quando as mulheres se olham no espelho no momento de suas
regras, porque surge no espelho uma nuvem ensanguentada que é, portanto,
a perturbação da imagem: a razão pela qual um corpo, entregue à sua
quantidade de humor, não é mais que um lugar trocado. Uma cor deglutida
nessa ficção: o que restaria de um corpo desviado de seu rosto.”64
Fuga
Essa fuga final não é um fim, portanto. A não ser, talvez, para a quase
Augustine de que falei, que talvez tenha se tornado simplesmente Augustine,
talvez não. Quanto a mim, interrompi o desdobramento da minha questão
num ponto que nada tem de garantido. É que nele se encontra, de fato, um
nó dramático. Ele permanecerá em suspenso numa sedução que não pegou
até o fim. “É assunto resolvido, em suma”, dissera Augustine um dia,
premonitoriamente.75
O que se detém aí é o círculo vicioso da transferência. Todos pediram
muito: o médico, por sua escalada experimental e sua vertigem de diretor
cênico que acreditava tudo poder fazer, desfazer e refazer com os corpos que
lhe eram entregues; a histérica, por seu excesso de consentimentos, na
verdade rompendo qualquer reserva e graciosidade das representações. O
que cessa aí é, de fato, a operação recíproca da sedução. Morte de um desejo,
talvez de dois. Desconcerto: o engodo embaraçado, o rompimento de um
ritmo pelo qual uma estrutura se expandia.
Mas essa parada não é um fim, e é por isso que falo em suspensão.
Considere que, com ou sem sedução, tudo - a fabricação de imagens, os
procedimentos clínicos e experimentais - teria de continuar a funcionar na
Salpêtrière, a despeito do ódio e com ele. Como? Essa continuação exigiria
que minha narração mesma continuasse, que também se “restabelecesse”.
Essa parada não é um fim, mas uma exasperação. Na fuga, é o momento da
strette, ou “imitação estreita”, resposta que já não espera o repouso do
sujeito, imitação que se precipita, momento estrutural de um perigo.
Momento estrutural, igualmente, de um desamparo.
Na histérica, trata-se de um desamparo da imagem. É o momento em que
uma morte se transmite no próprio teatro, e esse momento, embora
obcecado por uma ausência, não torna nada simplesmente ausente, muito
pelo contrário: presentifica, atualiza alguma coisa, de modo muito, muito
intenso; não um objeto, mas sua iminência absoluta, gritante - a pulsão. E
para isso toda metáfora se aniquila, despedaça-se numa gesticulação de
recusa e apelo misturados. Momento de holófrase. Grito, convulsão: uma
invasão imaginária. E tão pronta, tão virulenta, que, no ato, desloca o
imaginário, sua bela organização. Em face da espera de uma imagem,
também não é isso que esperamos de um espetáculo - sua precipitação,
enfim?
Trata-se, pois, de uma passagem catastrófica, da qual o intenso narcisismo
da histérica teria sido apenas uma retenção sutilíssima. E agora, temos um
encontro muito faltoso com todo o ideal, um encontro muito, muito mais
cruel com a face do real. O fracasso da sedução é sempre como um
despertar horrorizado. No fundo, é uma intensa autopunição da fantasia
histérica, o próprio Talião da imagem. Um derradeiro simulacro: o de um
suicídio, talvez. Nele, muito momentaneamente, a imagem atinge algo como
seu próprio limite, torna-se desarticulação da imagem em ato, em gestos,
figurada, portanto, decerto contraditoriamente. De qualquer modo, aí está a
aporia, a aporia em ato da visibilidade histérica. Uma crispação convulsiva
do próprio imaginário na dessemelhança em si. A imagem passa então a
existir como algo que faria uma histérica “morrer de medo”.76
Nós, que olhamos essas fotografias da Salpêtrière, imagens fixas de
imagens gesticuladas, no fundo isso nos agride, nos altera. Estraga, mas
reinstaura o nosso desejo de ver. Infecta nosso olhar, o que significa que o
refreia; mas ele se sustenta, resiste, retorna. Fascinum: encantamento, isto é,
malefício, azar. Advém-nos uma espécie de obsessão. É também por isso
que, para além das fotografias, imaginamos esse antigo “teatralismo”
histérico como uma autêntica prática de crueldade, a epidemia das fantasias
histéricas em todas as direções, mas elas mesmas em grande perigo.
Devoramos a histeria do olhar e, em troca, a histeria devora nosso olhar.
Veja a extrema bizarrice de um “riso histérico”, expressão que entrou na
linguagem corrente para dizer insuportável. Aqui, a mímica e a
contraefetuação fazem as vezes do assassinato daquele que olha. Ad facinus
accedit: ele acaba chegando ao crime, ela acaba chegando ao crime. A
histérica devia amar com a imagem, esperar com a imagem, odiar, morrer e
assassinar com a imagem. Contam que, no dia da morte de Charcot, várias
histéricas da Salpêtrière haviam sonhado com a morte de Charcot.77 Uma
peça do Teatro do horror de André Lorde, dedicada ao grande psicólogo
Alfred Binet e representada no Grand-Guignol de Paris, desceu a cortina
sobre a vingança da histérica, isto é, uma devolução do dessemelhante ao
médico: “Claire” jogou no rosto de seu experimentador o eficaz desfigurador
que era o vitríolo...78
Repito que a histérica, para precipitar sua aflição, espera sua hora, que não
sabe qual é. Essa espera esvazia a temporalidade do mimo, que já não deve
ser chamado de “como se”, mas de um como se... como se, uma hesitação.
Repetição esvaziada de um drama, espera misteriosa, às vezes de uma
precipitação berrada do mistério, ou insinuada, ou cercada de ironia, ou de
um turbilhão de hilaridade e horror, sempre esvoaçando em torno de um
abismo, sempre desamparo.
Em face desse desamparo que não tem fim, só resta uma exasperação do
saber. Que também não acaba. Não sabe mais que máscara usar. É a
exasperação indecisa das formas de seu poder, de sua eficácia.
E a indecisão viria a se transformar, num dado momento propício, em
ódio à imagem. Efeito das decepções, dos paradoxos da evidência. Seria o
ódio a tudo que se mantinha, resistia e retornava como que do real nas
imagens, poses, atitudes e nos delírios histéricos. “Curar” [curer] a histeria
equivaleria a fazer de suas mil produções imaginárias, de seus “espectros”,
um banquete [curée].** Primeiro, empanturrar-se delas. Em seguida,
reproduzi-las e controlarsua reprodução. E, por fim, conjurá-las, exorcizá-las
para sempre. Não houve em Freud esse ódio, ainda que o “desbaste das
imagens”, seu desaparecimento sem volta, como “fantasmas redimidos”, disse
ele, tivesse sido sua esperança, por um momento,79 pouco antes de uma
teoria da fantasia reintroduzir o desfile dos fantasmas, que nesse caso já não
se deixavam redimir tão facilmente, porque vinham de um interior.
Na Salpêtrière, uma forma se impôs: a Histeria. Às vezes, mulheres
contratadas como simples “serventes” tornavam-se histéricas em apenas
alguns dias, e chegavam a tentar o suicídio, como que em desespero diante
dessa forma.80 Nem tudo era consentimento. A forma se alimentava das
imagens, testava-as e acabava por detestá-las, quando as imagens se
tornavam por demais desconcertantes, ou perdiam a beleza. Mas nunca se
deixou de fabricar outras imagens, na esperança perversa de uma imagem
adequada à forma.
Assim, a invenção da Histeria continuou a se intensificar. Em dois
sentidos. Como gestão infernal, digamos, como tirania, subjugação cada vez
mais rigorosa das fantasias histéricas, dos corpos histéricos. Escalada das
represálias. Mas também, e ao mesmo tempo, como gestão das imagens
visando às formas, ou seja, como estética. Um paradigma para além da
fotografia e do teatro: a pintura. É que as “mil formas” da histeria, Charcot
teria tentado, como quem não quer nada, enquadrá-las, em ultimíssima
instância, na hipótese ou no cânone histórico e estético daquilo que
chamava Os demoníacos na arte:81 certa concepção da arte barroca, certo
uso da iconografia extensa, dessa vez em seu sentido mais tradicional, o das
representações pictóricas.
Apelo derradeiro esse apelo à pintura. Apelo inquieto, sem dúvida (“e, se
olhares por muito tempo para um abismo, o abismo também te olhará”).82
Porém de uma inquietação portadora dos mais cruéis efeitos. Isto porque a
ligação do amor à arte com a represália (a represália contra histéricas
incapazes de se elevar à dignidade, não digo de artistas, mas de simples
objetos de arte), essa ligação inaugurou um novo paradoxo de atrocidade,
ou, pelo menos, uma pergunta: qual é a natureza particular do ódio que
experimenta, inventa e produz imagens - desse ódio transformado em
“arte”?
Notas
1
A. Artaud, Oeuvres completes, op. cit., v. IV, p. 144.
2
IPS, II, p. 162.
3
P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéro-épilepsie, op. cit., p. 82.
4
Ibid., p. 19, 44.
5
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Vhystérie, op. cit., p. 317-318.
6
Cf. IPS, II, p. 139, 164.
7
Ibid., p. 138.
8
Ibid., p. 155.
9
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 90-97.
10
S. Freud, Inhibition, symptôme et angoisse, Paris, PUF, 1978, p. 32 [“Inibições, sintomas e ansiedade”,
ver Bibliografia].
11
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, Paris, Progrès Médical &
Delahaye & Lecrosnier, 1887-1888, p. 176.
12
J.-M. Charcot, Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, Paris, Progrès Médical &
Lecrosnier & Babé, 1888-1889, p. 276.
13
S. Freud, Nouvelles conférences sur la psychanalyse, Paris, Gallimard, 1971, p. 125 [Novas
conferências introdutórias sobre psicanálise, ver Bibliografia].
14
J. Lacan, Écrits, Paris, Seuil, 1966, p. 848 [Escritos, ver Bibliografia].
15
Ibid., p. 847.
16
Ibid., p. 774.
17
Cf. S. Freud, “L’Inconscient”, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, 1968, p. 90-91 [“O inconsciente”,
ver Bibliografia]; S. Freud, Nouvelles conférences sur la psychanalyse, op. cit., p. 108-109, 124 [Novas
conferências..., op. cit., ver Bibliografia].
18
G. Bataille, Oeuvres complètes, op. cit., v. II, p. 403-404, “Masque”.
19
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. IV, p. 130.
20
Ibid., p. 120, 143.
21
Cf. M. Blanchot, LEspace littéraire, Paris, Gallimard, 1955, p. 44-48.
22
G. E. Lessing, Laocoon, ou les frontières de la peinture et de la poésie, Paris, Hermann, 1964, p. 68
[Laocoonte, ou, Sobre as fronteiras da pintura e da poesia..., ver Bibliografia].
23
Cf. G. Bataille, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 237-238, “Bouche”.
24
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. I*, p. 185, “Horripilation”.
25
Ibid., p. 58.
26
Cf. S. Freud, Nouvelles conférences sur la psychanalyse, op. cit., p. 111-114 [Novas conferências..., op.
cit., ver Bibliografia].
27
Cf. M. Heidegger, LÊtre et le Temps, Paris, Gallimard, 1964, p. 226-233 (a angústia como “revelação
privilegiada do ser-aí”) [Ser e tempo, ver Bibliografia]; J. Lacan, Le Séminaire. XI. Les quatre concepts
fondamentaux de la psychanalyse (1964), Paris, Seuil, 1973, p. 40 (angústia: aquilo que não engana)
[Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, ver Bibliografia].
28
S. Freud, “Quelques considérations pour une étude comparative des paralysies motrices organiques
et hystériques”, in GW, I, 1888-1893, p. 45 [“Algumas considerações para o estudo comparativo das
paralisias motoras orgânicas e histéricas”, ver Bibliografia].
29
Cf. H. Maldiney, Aitres de la langue et demeures de la pensée, Lausanne, L’Âge d’homme, 1975, p. 41-
50 (temporalidade do desejo segundo Schelling); cf. H. Maldiney, “Pulsion et présence”, in
Psychanalyse à l’université, Paris, PUF, 5, 1976, passim.
30
Cf. M. Heidegger, LÊtre et le Temps, op. cit., p. 226-233 [Ser e tempo, op. cit., ver Bibliografia].
31
M. Blanchot, L’Espace littéraire, op. cit., p. 227.
32
J. Lacan, Séminaire sur l’identification (1961-1962), Nova York, International General, 2 v., s.d., p.
356; cf. J. Lacan, Écrits, op. cit., p. 824 [Escritos, op. cit., ver Bibliografia].
33
Cf. H. Maldiney, Aitres de la langue..., op. cit., 1975, p. 252-253.
34
S. Freud, “Considérations générales sur l’attaque hystérique”, in Névrose, psychose et perversion, op.
cit., p. 162 [“Algumas observações gerais sobre os ataques histéricos”, op. cit., ver Bibliografia].
35
G. Bataille, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 105-106, “L’Impossible”.
36
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de Phystérie, op. cit., p. 215; J. Livi, “Vapeurs de
femmes”, in Ornicar? 15, 1978, p. 77.
37
IPS, III, p. 190.
38
A. Rimbaud, Oeuvres complètes, Paris, Gallimard, 1972, p. 65.
39
IPS, II, p. 141.
40
Ibid., p. 140.
41
G. Bataille, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 553, “La pratique de la joie devant la mort”.
42
G. Bataille, Oeuvres complètes, op. cit., v. III, p. 26, “Mme Edwarda”.
43
A. Artaud, Oeuvres complètes, op. cit., v. XIV*, p. 48-49.
44
IPS, II, p. 126-127 (o texto integral é citado supra, p. 219).
45
Ibid., p. 132.
46
Ibid., p. 123.
47
Cf. H. Landouzy, Traité complet de Phystérie, Paris, Baillière, 1846, p. 14.
48
IPS, II, p. 125.
49
Ibid., p. 133, 137, 166-168; cf. IPS, III, p. 198-199.
50
Cf. H. Landouzy, Traité complet de l’hystérie, op. cit., 1846, p. 164-165, 195-196;
51
P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. 149.
52
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, Paris, Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 18861893, v. I, p.
394.
53
Ibid., p. 301-302.
54
Cf. P. Legendre, “La phalla-cieuse”, in A. Verdiglione, La jouissance et la loi, Paris, UGE, 1976, p. 14-
15; M. Foucault, Histoire de la folie à l’age classique, Paris, Gallimard, 1972, p. 299-302 (o quente e o
úmido), 322-323 (a urina, o sangue) [História da loucura na idade clássica, ver Bibliografia]; M.
Foucault, Histoire de la sexualité. I - La volonté de savoir, Paris, Gallimard, 1976, p. 193-196 [História
da sexualidade, I: A vontade de saber, ver Bibliografia].
55
H. Landouzy, Traité complet de l’hystérie, op. cit., p. 81.
56
Cf. P. Briquet, Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, op. cit., p. 479-489.
57
P. Pomme, citado em M. Foucault, Naissance de la clinique. Une archéologie du regard médical, op.
cit., p. V [O nascimento da clínica, ver Bibliografia].
58
H. Landouzy, Traité complet de l’hystérie, op. cit., p. 299, 342.
59
Cf. IPS, II, p. 140 (texto citado supra, p. 377), 141, 153; P. Richer, Études cliniques sur la grande
hystérie..., op. cit., p. 228.
60
IPS, II, p. 131.
61
IPS, I, p. 83.
62
H. Meige, “La maladie de la fille de Saint-Géosmes, d’après Jean-François-Clément Morand (1754)”,
in NIS, 1896, p. 223.
63
H. Landouzy, Traité complet de l’hystérie, op. cit., p. 130; W. Fliess, Les Relations entre le nez et les
organes génitaux féminins, présentés selon leurs significations biologiques, Paris, Seuil, 1977, passim, em
especial p. 9-10.
64
Comentado em J. L. Schefer, LEspèce de chose mélancolie, Paris, Flammarion, 1978, p. 133.
65
PS, II, p. 168.
66
J. Breuer e S. Freud, Études sur Phystérie (1893-1895), Paris, PUF, 1973. p. 163 [Estudos sobre a
histeria, op. cit., ver Bibliografia].
67
Cf. J. Lacan, Écrits, op. cit., p. 197-213, “Le temps logique et l’assertion de certitude anticipée” [“O
tempo lógico e a asserção de certeza antecipada”, Escritos, ver Bibliografia].
68
J.-M. Charcot, Oeuvres complètes, op. cit., v. I, p. 386, caso Augustine.
69
IPS, II, p. 172.
70
Cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 88.
71
IPS, III, p. 11.
72
IPS, II, p. 139; cf. P. Richer, Études cliniques sur la grande hystérie..., op. cit., p. 134.
73
IPS, III, p. 197.
74
Cf. D.-M. Bourneville, Manuel des infirmières, Paris, Progrès Médical, 3 v., 1878, passim.
75
IPS, II, p. 150.
76
J. Breuer e S. Freud, Études sur Phystérie (1893-1895), op. cit., p. 50 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
77
Cf. H. F. Ellenberger, À la Découverte de Pinconscient, Villeurbanne, SIMEP, 1974, p. 633.
78
A. de Lorde, Théâtre d’épouvante, Paris, Charpentier et Fasquelle, 1909, p. 79-81, “Une leçon à la
Salpêtrière”.
79
J. Breuer e S. Freud, Études sur Phystérie (1893-1895), op. cit., p. 227 [Estudos..., op. cit., ver
Bibliografia].
80
Cf. IPS, II, p. 187, 196.
81
Cf. J.-M. Charcot e P. Richer, Les Démoniaques dans Part, Paris, Delahaye & Lecrosnier, 1887,
passim. Faço aqui apenas uma introdução a um próximo episódio desta pesquisa.
82
F. Nietzsche, Par-delà Bien et Mal, in Oeuvres complètes VII, Paris, Gallimard, 1971, p. 91 [Além do
bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro, ver Bibliografia].
* No título deste capítulo - Clous du spectacle -, o autor deixa entrever seu jogo com múltiplos sentidos
do termo clou, que vão, entre outros, de “prego” até “aquilo que prende/fixa a atenção” (como o
“gancho” de um texto ou uma peça teatral e similares), passando ainda por “cravo” (como os da
Crucificação) e por uma antiga expressão médica francesa, clou hystérique, que designava uma dor
intensa sentida pelos histéricos num ponto exato do corpo, o clavus. [N.T.]
** O autor joga, neste trecho, com a homonímia entre curer, em suas acepções de tratar, debelar um
mal, curar (mas também aludindo à de limpar), e curée, termo aqui adaptado por “banquete”, que
designa a parte da caça oferecida aos cães depois que um animal é capturado, e designa também,
figurativamente, o butim, a pilhagem. [N.T.]
Posfácio
Imagens e doenças*
Imagem - sintoma
Este livro, o primeiro que publiquei, já com seus trinta e poucos anos, o
que dizer dele hoje? Nunca o reli. Poderia até dizer que nunca o li.
Certamente o abordei, construí, escrevi, e depois o discuti asperamente com
Jean Clay, o mago das Éditions Macula. Por fim, deixei-o entregue a seu
destino. Mas, bem depressa, seu estilo tornou-se insuportável para mim:
estranho demais e familiar demais, ao mesmo tempo. Reconheci nele, de
modo muito imediato e claro, a voz inquieta do homem moço que procura e
procura um estilo, estilo que, por sua vez, procura uma resposta - um
responso, melhor dizendo - para seu objeto intimidante, esse feminino
terrível da histeria na Salpêtrière. Busca penosa e muito dramatizada.
Sucedeu-me ouvir, no presente de minha pesquisa, os gritos de dor dos
pacientes femininos e masculinos internados nos pavilhões que cercavam a
Biblioteca Charcot, onde eu estava explorando o arquivo de todas essas
dores passadas. Foi bem perto dali, em 1984, que morreu Michel Foucault, a
quem este livro deve o apoio recebido para sua publicação, em 1982.
Insuportáveis os gritos ouvidos no presente, imaginados no passado,
insuportável a debilidade da minha voz diante deles. Ao pousar os olhos
apenas nas primeiras frases do livro, fui tomado pelo mesmo sentimento
doloroso que me traria ouvir numa gravação minha voz de adolescente, às
voltas com a dificuldade de entrar no mundo de uma fala adulta. Primeiro
livro, livro de fase da muda. Audácias e inabilidades. Assim, de modo algum
eu poderia julgar este livro - ou sequer relê-lo - hoje em dia, a partir de certa
altura improvável adquirida nesse meio-tempo. Sei apenas que foi a partir
dele que todo o meu trabalho seguiu seu rumo, sua bifurcação inicial, sua
decisão que conduziu todo o resto.
Que decisão? Havia na França dos anos 1970, que foram os da minha
formação, uma notável efervescência do pensamento artístico voltado para
as exigências do impensado, ou, mais exatamente, do inconsciente freudiano.
De um lado, alguns sociólogos e semiólogos da arte aproveitaram a teoria
lacaniana par elevar a “psicanálise da arte” a uma prática do significante e a
uma interrogação sobre o estatuto da interpretação simbólica, o que era um
modo de conjugar a obra de Freud com a iconologia de Erwin Panofsky.3 Do
outro lado, certos filósofos, entre os quais se destacava Jean-François
Lyotard, aproveitaram a tradição do sublime para elevar - mas num sentido
bem diferente - a “psicanálise da arte” a uma prática do figural e a uma
interrogação sobre o estatuto da produção artística vista como “economia
libidinal”.4 Embora eu fosse formado nessa dupla escola - sem contar a
abordagem fenomenológica proveniente dos trabalhos de Maurice Merleau-
Ponty e Henri Maldiney -, minha decisão consistiu, inicialmente, em entrar
em cheio num mundo de imagens inerente ao que se poderia chamar de
regiões baixas do sintoma.
Minhas preocupações de jovem pesquisador tinham-me orientado, a
princípio, para algumas formas corporais da transgressão,5 e depois para um
projeto sobre as formas do páthos em Goya: para aquelas bocas ao mesmo
tempo abertas e tapadas, aqueles corpos atolados que se debatiam com
impotência e furor. Quando Hubert Damisch recusou - por razões que ainda
me são obscuras - a orientação dessa pesquisa, passei um tempo
desocupado, sem saída. Então veio o encontro fortuito, num pequeno café
feminista da rue Saint-Jacques - onde o bolo de chocolate era uma delícia, o
que fizera de mim um frequentador habitual -, com algumas fotografias
enigmáticas de mulheres de gestos estranhos. De algumas dessas imagens
destacava-se uma certa beleza (eu ainda não sabia que se tratava dos retratos
de Augustine), mas era uma beleza que não me trazia nenhum alento,
nenhuma elevação de qualquer tipo. Por isso eram imagens perturbadoras e
até dolorosas de olhar. Bastou-me uma primeira aproximação para
compreender a força delas, sua estranheza, o problema que elas levantavam:
havia ali uma dor em ação, mas exatamente onde, na imagem? Impossível
dizer, no começo.
Já não era a imagem-sorriso de que Freud tinha feito, com sua análise da
Gioconda, o exemplo crucial de uma atividade artística pensada através do
conceito de sublimação,6 e sim uma espécie de imagem-sofrimento, surgida
de um plano de imanência - gestual, orgânica e psíquica - chamado
“contratura”, em particular, ou “atitude passional”, ou até “clownismo”, como
aprouvera a Charcot dizer: algo que podia ser chamado de sintoma em geral.
Foi a extrema violência atestada pela iconografia fotográfica da Salpêtrière
que me deixou sem fôlego, a princípio: ela me impôs a necessidade de
manter em aberto a questão do aparecimento ou da manifestação do
sintoma, quando o quadro freudiano da interpretação - o sintoma psíquico
como “satisfação substituta” - talvez bastasse para tornar a fechá-la,
facilmente. A única frase deste primeiro livro de que ainda me lembro é a
que se abre para uma questão com a qual ainda não parei de me inquietar,
longe disso: “De que maneira, em nossa abordagem das obras, das imagens,
já se acha como que projetada uma relação com a dor? De que modo ela
entra em ação, a dor, qual seria a forma, a temporalidade de sua vinda, ou de
sua reaparição, e isto diante e dentro de nós mesmos, do nosso olhar?”7
Hoje, que a Associação Psicanalítica da França pede que eu reflita sobre o
“uso da sublimação”,8 eu poderia começar dizendo - o que continua
insuficiente, é claro - que minha “via real” para interrogar as imagens da arte
foi a do sintoma (por exemplo, voltando à “brancura cativante” evocada por
Dora até em sua contemplação da Madona Sistina de Rafael),9 e não a da
sublimação, conceito cujas dificuldades intrínsecas fizeram-me suspeitar,
durante muito tempo, de que seu uso decorria, na maioria das vezes, de uma
espécie de “falso problema”. Freud não modificou, não deslocou realmente
nosso olhar tradicional sobre a pintura de Leonardo, ao situá-la como “a
mais alta sublimação acessível ao homem” (der hochsten, dem Menschen
erreichbaren Sublimierung), o que é um modo de renovar uma teoria muito
antiga sobre o gênio, ou ao esperar ver na Sant’Ana do Louvre “a síntese de
sua história infantil” (in dieses Bild ist die Synthese seiner
Kindheitsgeschichte), o que é um modo de renovar uma teoria não menos
antiga da pintura como istoria.10
Não foi nas altas esferas da genialidade artística, ainda que
problematizada pelos parâmetros da fantasia inconsciente, que comecei a
aprender a olhar - ou, melhor, a criticar meu olhar sobre - as imagens. Foi
seguindo Freud no próprio campo da gesticulação histérica, essa terra baixa
do sintoma. Um texto continua fundamental para mim: trata-se da
descrição de Freud de um ataque histérico, observado no exato momento
em que Charcot, diante da espetacular desordem corporal da crise,
renunciou a compreendê-la e até a descrevê-la:
Sintoma - sublimação
Sublimação - símbolo
Símbolo - síntese
Síntese - mal-estar
Sem dúvida, as críticas formuladas por Adorno não são desprovidas de certa
propensão ao exagero, com o risco de perderem algumas nuances, e à
radicalização, com o risco de serem injustas. Mas têm pelo menos uma
grande virtude teórica: a de nos incitarem a não perdermos de vista o
elemento de conflito e de “desafio aos critérios usuais”, desafio este que o
próprio Adorno reconhecia como uma contribuição decisiva da teoria
freudiana para o pensamento filosófico em geral. Portanto, é longe dos
resultados (sempre provisórios), dos sucessos (sempre relativos) e das
conformidades (sempre criticáveis) que doravante é preciso procurar: longe
das sínteses e mais perto dos mal-estares, ou até dos sintomas. Ali onde os
conflitos não cessaram, pelo menos. Ali onde se enfrentam, indecisos, ali
onde se encontram e se batem os movimentos da tese contra os da antítese.
Ali onde se atam os paradoxos, onde ocorrem os choques do pensamento.
Para reencontrarmos essa inquietação fecunda - na qual a sublimação,
como conceito, realmente corre o risco de se difratar um pouco mais e ligar
algumas de suas ramificações às do sintoma, sua antítese, segundo dizem -,
basta voltarmos, por meio de alguns exemplos, à economia interna do
pensamento freudiano. Em 1910, ou seja, no mesmo ano do ensaio sobre
Leonardo da Vinci, Freud afirmou que a “plasticidade dos componentes
sexuais” explicava “sua aptidão a serem sublimados”, isto é, utilizados - e em
toda a sua intensidade - para “objetivos mais elevados [...] em lugar do
objetivo não utilizável”.78 Era uma forma de definir a “moção pulsional
inibida quanto ao alvo” e, com isso, não isolar a sublimação, como ele disse
nesse momento, do movimento inicialmente indicado como “desejo
patogênico” (pathogen Wunsch): “Esse desejo é conduzido a um alvo mais
elevado e, desse modo, fica livre das objeções (einwandfrei)”, escreveu
Freud; mas isso não quer dizer, justamente, que fique a salvo de todo
conflito (Konflikt), visto que, até para o artista e o homem culto, “a realidade
[continua a ser] insatisfatória”79 (die Wirklichkeit ganz allgemein
unbefriedigend finden). Daí a “ligação das neuroses com as outras produções
da vida psíquica humana, mesmo com as mais preciosas (wertvollsten)
dentre elas”.80
Em 1913, no artigo entregue à revista Scientia sobre “O interesse da
psicanálise”, Freud examina, sucessivamente, os campos da “história
cultural” (kulturhistorische Interesse) e da “ciência da arte”81
(kunstwissenschaftliche Interesse). Parece, a princípio, que o ponto de vista
freudiano sobre a atividade artística poderia resumir-se na economia da
sublimação como “pacificação” dos conflitos: “A psicanálise reconhece [...]
na prática da arte uma atividade que se propõe apaziguar desejos insaciados
(Beschwichtigung unerledigter Wünsche), na verdade, primeiro no artista
criador e, por conseguinte, no ouvinte ou espectador.”82 Mas logo surge o
seguinte esclarecimento: “As forças pulsionais em ação na arte [die
Triebkrafte der Kunst] são os mesmos conflitos [sind dieselben Konflikte] que
impelem outros indivíduos para a neurose [e] que determinaram à
sociedade a construção de suas instituições.”83 Conflitos psíquicos e
conflitos sociais ao mesmo tempo: conflitos que a arte de modo algum
poderia “resolver”, já que é constituída por eles (sind). Tanto assim que
Freud acaba situando o campo da arte como um “reino intermediário
(Zwischenreich) preso entre a realidade (Realitat) que proíbe o desejo e o
mundo imaginário (Phantasiewelt) que realiza o desejo”.84 E como poderia
um “reino intermediário” escapar dos conflitos opondo os “reinos” dos quais
define, justamente, a zona fronteiriça?
Depois, em 1914, o conflito - psíquico, social - assumiu a aparência
assustadora e concreta de uma guerra total entre as nações. Ficou claro,
naquele momento, que a sublimação não nos salva de nada, na verdade. E foi
por isso que Freud insistiu tanto, nessa época, em distingui-la de qualquer
idealização. O que já aparecia em seu debate contraditório com Jung a
respeito desse ponto tornou-se muito claro no texto crucial que é “Sobre o
narcisismo: uma introdução”.85 Texto em que, não por acaso, foi citado um
poema de Heinrich Heine, proposto por Freud como uma máxima sobre a
“psicogênese da criação”, nada menos: “Foi realmente a doença [Krankheit]
que constituiu a base última [der letzte Grund] / De todo impulso criador
[Schopferdrang].”86 Ao que logo responderiam as frases de Bertolt Brecht: “A
desconjunção do mundo, é este o tema da arte. É impossível afirmar que
sem desordem não haveria arte, e tampouco que poderia haver alguma: não
conhecemos um mundo que não seja desordem. O que quer que nos
sussurrem as universidades sobre a harmonia grega, o mundo de Ésquilo era
cheio de lutas e terror, assim como o de Shakespeare e o de Homero, os de
Dante e de Cervantes, de Voltaire e de Goethe. Por mais pacífica que
parecesse a descrição que se fez dele, ela fala de guerras, e, quando a arte fez
as pazes com o mundo, sempre assinou com um mundo em guerra.”87
É isso que deveria prevenir-nos, pelo menos, contra a idealização da
sublimação em si por meio dessas palavras em maiúsculas - dessas
convenções sociais provenientes de escolhas filosóficas a serem sempre
reinterrogadas - que são as palavras “Arte”, “Espírito” ou “Civilização”, por
exemplo. As obras de arte e do espírito, assim como a civilização, não se
salvam e não nos salvam de nenhum mal e nenhuma doença. Elas os
figuram, o que é bem diferente (pensemos outra vez em Goya, em Picasso).
E o fato de as imagens da arte ou do espírito se afigurarem a nossos olhos
como cristais admiráveis não impede que em seu âmago continuem a correr
as linhas de suas clivagens, de suas fragilidades, de suas fraturas passadas ou
vindouras: “Se jogarmos no chão um cristal”, logo escreveria Freud em suas
Novas conferências, “ele se quebrará, não de um modo qualquer, mas de
acordo com suas linhas de clivagem, em pedaços cuja delimitação, embora
invisível, terá sido determinada de antemão pela estrutura do cristal.”88
Invisíveis a olho nu, como nem sempre são os veios do mármore, essas
fissuras do cristal - suportes de sua constituição estrutural, mas também de
suas possíveis rachaduras sintomáticas - oferecem um precioso paradigma
para compreendermos o que a sublimação expõe e rouba, ao mesmo tempo:
objetos de criação tecidos por destruições; objetos de contemplação
possibilitados pelo pavor - ou pelo menos pela angústia, como mostrou
Melanie Klein89 -; objetos de consenso entremeados de agressividade;90
objetos culturais perpassados de perversões;91 objetos de reparação
corroídos pelo trauma;92 objetos de vida atravessados pela pulsão de morte
ou de destruição.93 Objetos paradoxais, em suma, objetos não sintéticos, ou,
para dizê-lo como Lacan, objetos “antinômicos” ou “antagônicos”.94 Por mais
que as maçãs de Cézanne manifestem, como repete Lacan, uma “relação
com o real [que visa a fazer] surgir o objeto de um modo que é lustral”,95 isto
é, purificador, elas jamais deixarão de vagar por um “reino intermediário”,
privado do “real” e do “ideal”: um Zwischenreich marcado pelo infortúnio,
como bem indica o adjetivo “desastroso”, que encerra a última carta de
Cézanne a seu filho.96
Mal-estar - sintoma
Por fim, haveria com a sublimação o mesmo que com a própria cultura, seu
campo operatório por excelência: gostaríamos de poder falar dela como de
uma felicidade pura - esperança a que logo se percebe que será preciso
renunciar, necessariamente. Foi o que aconteceu com Freud em julho de
1929, quando ele trabalhava no rascunho de um texto sobre “A felicidade e a
cultura” (Das Glück und die Kultur), cujo título, no entanto, transformou-se
rapidamente em “A infelicidade na cultura” (Das Unglück in der Kultur),
antes de se fixar, por fim, na palavra que conhecemos: “mal-estar” (Das
Unbehagen in der Kultur). O que a Grande Guerra já havia mostrado de
maneira desastrosa no campo do espírito - a saber, uma “derrota da razão”,
conduzida a grandes golpes de palavras filosóficas, em primeiro lugar a
palavra Kultur - a iminência dos fascismos europeus e da Segunda Guerra
Mundial veio agravar ainda mais em 1929, época em que, nas livrarias
alemãs e austríacas, sucediam-se triunfalmente as edições de Mein Kampf.
Existe “mal-estar na cultura” porque a cultura de modo algum é de facto o
que deveria ser de jure. Ela deveria ser o reino do espírito ou da sublimação
de nossas pulsões. Na realidade, porém, é um campo de batalha de grande
violência e grande complexidade, o Zwischenreich impuro da sabedoria e da
loucura, um posto avançado dos mais acerbos conflitos políticos, os menos
“cultos” que há. Freud, com certeza, contrasta cultura e pulsão, mas o faz
para recorrer prontamente à ideia de “libido inibida quanto ao alvo”
(zielgehemmte Libido), o que fada a cultura a dois destinos igualmente
perigosos: os ideais, de um lado (com suas mentiras correspondentes, do
tipo “Amarás o próximo como a ti mesmo”, ou do tipo “Um povo, um reino,
um Führer”), e os sintomas, do outro97 (com seus recalcamentos e seus
sofrimentos concomitantes, seu estado de conflitos nunca apaziguados).
Freud certamente contrasta cultura e natureza, uma vez que a cultura é
definida por ele como “a proteção do homem contra a natureza e [como] a
regulamentação dos homens entre si”.98 Mas essa grande arquitetura de
“dispositivos pelos quais nossa vida se distancia da de nossos ancestrais” é
também o que instaura a impossibilidade de tal afastamento, de tal
esquecimento do “primitivo”, à imagem - célebre - da topografia e da
arqueologia de Roma, que metaforizam a “conservação do primitivo”
(Erhaltung des Primitiven) na cultura, porta aberta para dolorosos processos
de “clivagem do desenvolvimento”99 (Entwicklungsspaltung). Esse é um
modo de nomear uma espécie de “sintoma na temporalidade cultural”, que
de modo algum será resolvido pelos ideais filosóficos, pelos valores sociais
nem pelas belezas artísticas, sejam quais forem a força e o esplendor de suas
construções culturais: “A sublimação pulsional é um traço particularmente
destacado do desenvolvimento da cultura; permite que atividades psíquicas
superiores, científicas, artísticas e ideológicas desempenhem na vida cultural
um papel imensamente significativo. [...] Porém melhor será refletirmos
sobre isto ainda mais longamente. [Porque] é impossível não ver em que
medida a cultura é edificada sobre a renúncia pulsional, até que ponto ela
pressupõe precisamente a não satisfação (repressão, recalcamento e o que
mais?) de pulsões poderosas.”100
Isso bem poderia significar que não existe sublimação “em estado puro”,
sejam quais forem as conotações “lustrais” de que a palavra é portadora. A
sublimação certamente fornece um modelo teórico pertinente e até
indispensável para se considerar a cultura humana sob seus aspectos
metapsicológicos. Mas nem por isso constitui uma categoria suficiente para
interpretar ou, simplesmente, para descrever as produções culturais, esses
objetos fatalmente impuros, perpassados, como diz Freud, de “repress[ões],
recalcamento[s] e o que mais?”... O fato de cultura e destruição se oporem
não impede que a cultura - nem que seja através da ideia absolutamente
central de culpa - deva ser pensada através das perturbações de uma grande
“discórdia na economia libidinal”101 (Zwist im Haushalt der Libido), na qual
se debaterão enxurradas de sintomas, entre angústias e pensamentos
substitutos, entre conflitos e valores de compromisso, entre destruições e
belezas reativas...
É significativo que o texto do Mal-estar na cultura comece pelo tema da
“discordância”, esse verdadeiro conflito inerente às sociedades humanas,
segundo Freud - conflito entre atos e pensamentos, entre “critérios falsos” e
“valores verdadeiros”102 etc. - e se prolongue imediatamente, através das
duas primeiras partes do livro, em torno do tema do sofrimento,
reconhecido como base do “mal-estar”, essa espécie de parte maldita - mas
central - da cultura como tal. Para compreendê-la, Freud parte de situações
arcaicas ou excessivas, situações ditas patológicas, “nas quais a delimitação
entre o eu e o mundo externo torna-se incerta, ou nas quais as fronteiras são
traçadas de maneira realmente inexata”103 Então o “exterior estranho e
ameaçador” vem opor-se ao “eu-prazer”, e surgem as “inevitáveis sensações
de dor (Schmerz) e desprazer (Unlust)”.104 E é assim que Freud nos revela,
bem no princípio de nossa bela cultura humana, o mal-estar nascido de uma
ameaça fundamental que o sofrimento faz pesar por toda parte: “O
sofrimento ameaça por três lados: ao provir do próprio corpo, que, fadado
ao declínio e à dissolução, nem sequer pode prescindir da dor e da angústia
como sinais de alerta; ao provir do mundo externo, que pode enfurecer-se
contra nós com forças superpotentes, inexoráveis e destrutivas; e, por fim, ao
provir das relações com outros homens.”105
Assim, convirá compreendermos a cultura como um conjunto de
“distrações poderosas”106 (machtige Ablenkungen), destinadas a prevenir ou
superar o sofrimento. E Freud fornece então um catálogo assombroso em
que o pior situa-se ao lado do melhor, numa indiferença calculada para com
os valores sociais comumente aceitos: isso vai das intoxicações (por álcool
ou drogas) e das perversões até as idealizações e as sublimações (arte,
pensamento); vai do trabalho ao delírio, e do amor ou do simples culto
estético da beleza até os sintomas como tais (“fuga para a doença neurótica”,
psicoses); e dentre eles a religião, evocada in fine nesse contexto, aparece
quase como um simples avatar.107 Pior: Freud, a despeito de sua crítica do
pessimismo e da hostilidade à cultura, reconhece - exatamente como diz
sobre os sintomas como “satisfações substitutas” que levam o sujeito a novos
sofrimentos - que a cultura traz consigo toda a “miséria” que supostamente
deveria conjurar ou redimir: assim, não protege em nada do sofrimento,
embora “tudo aquilo pelo qual tentamos proteger-nos da ameaça que emana
das fontes do sofrimento seja justamente da alçada dessa mesma cultura”.108
Que as palavras sublimação e sintoma tenham sido escolhidas por Freud
para marcar, de certa maneira, a articulação dialética dessa ambivalência de
toda cultura, isto é algo que não deixa de lembrar certa tradição de
pensamento - em algum ponto entre Kant e Goethe, Heine e Nietzsche - a
que Freud deve um grande número de suas formulações, e até de seus
argumentos. O inventor da psicanálise pretendia manter a palavra
Sublimierung longe das tradições físicas e metafísicas da Sublimation. Mas
será possível esquecer que a filosofia do sublime do século XVIII - a de
Edmund Burke, transmitida até o cerne do vocabulário kantiano, que Freud
conhecia muito bem - não define o sublime senão como uma emoção
estética que foi buscar na dor seu próprio recurso? Acaso o sublime não é,
como escreveu Burke, “esse prazer que só pode existir mediante uma
relação, e até mediante uma relação com a dor”?109
Talvez convenha, um dia, reinterrogarmos a sublimação freudiana pelo
parâmetro da centralidade do “sublime” numa longa tradição filosófica,
psicológica, estética e até política.110 Talvez convenha seguirmos a linha de
pensamento que remonta do Mal-estar na cultura ao primeiro parágrafo de
Humano, demasiado humano, no qual Nietzsche recorre à palavra
Sublimation - no sentido químico do termo - para lembrar que, no campo da
cultura e da moral, “as cores mais magníficas são obtidas a partir de matérias
vis ou desprezadas”,111 o que é um modo de falar do material pulsional em
que se enraíza a vida do espírito, nem que seja para negá-lo. Sabemos
também que, em Aurora, Nietzsche tomaria os próprios “juízos morais” por
simples “transformações” - derivações, sublimações, recalcamentos e o que
mais?... - dos “instintos”.112
Quase poderíamos dizer que, no vocabulário de Freud, a palavra mal-estar
- que não é uma categoria clínica tradicional nem um conceito filosófico,
tampouco uma ideia específica da psicanálise - lhe serve para estabelecer a
ligação entre os dois movimentos opostos que formam a sublimação, por um
lado, e o sintoma, por outro. Ou que ela serve para indicar que os termos
dessa oposição se debatem - logo, reúnem-se corpo a corpo para se
combater - em cada obra de arte, em cada trabalho do pensamento, em cada
produção cultural. Alguns psicanalistas sentiram bem, aliás, que sublimação
e sintoma não podiam ser mantidos à distância até o fim. Daniel Lagache,
em primeiro lugar, admitiu que a sublimação brota de um conflito cuja
“neutralização” ela de modo algum assegura, e que seu vínculo com o
mundo normativo dos valores culturais não impede as “manifestações
sintomáticas” de nos lembrarem que todo investimento de valor, ou de
norma, só é “possível quando está de acordo com os desejos mais ocultos”
de um mundo que Lagache qualifica de inaceitável .113
Esse debate - tão íntimo quanto agonístico - entre o “normativo” e o
“inaceitável” não deixa de evocar, evidentemente, a descrição que Georges
Bataille faz de um mundo cultural (e até econômico) constantemente
entregue aos demônios de sua “parte maldita”.114 No próprio ano em que
Freud publicou seu Mal-estar na cultura, Bataille fustigou ironicamente a
idealização fetichista de que as obras de arte eram objeto, como se fossem
instrumentos de uma pacificação e de uma neutralização terapêuticas de
nossos desejos menos confessáveis: “Entra-se na loja do negociante de
quadros como na de um farmacêutico, em busca de remédios bem
apresentados para doenças confessáveis”...115 Em A literatura e o mal, de
1957, Bataille retomaria o fio de um pensamento que se expressava desde
Heine até Nietzsche, começando por esta proposta anti-idealista e até
“desidealizante”: “O tumulto é fundamental [...]. O Mal - uma forma aguda
do Mal - de que [a literatura] é a expressão tem para nós, creio eu, o valor
soberano”, um valor “inaceitável” diante do qual o artista é solicitado a se
posicionar, nem que seja para “se confessar culpado”.116
Por que voltar aqui a Georges Bataille? Em especial, por seu papel decisivo
- embora negado - no pensamento de Jacques Lacan. Recordemos que a
ideia de “Coisa” a cuja “dignidade” a sublimação elevaria o objeto foi
construída por Lacan, exatos dois anos depois de A literatura e o mal, tanto
no plano da ética quanto no da estética, e com a ideia de que “o mal pode
estar na Coisa, no que ela [...] mantém a presença do humano”.117
Lembremos também que, quando Lacan reflete sobre a “crueza paradoxal”
do mundo sublimatório, não faz mais do que retomar um tema batailliano
fundamental, do qual a revista Médecine de France havia publicado, em
1949, um desdobramento intitulado “A arte, exercício da crueldade”.118 Em
suma, a sublimação pede claramente que seja compreendida em sua relação
com o “mal”, ou, melhor dizendo, com os males, quer entendamos por isso o
“mal-estar”, a “infelicidade”, a inaceitável “falta moral” ou até o “sintoma”. E
isso não escapou a Lacan, quando, em sua Selbstdarstellung de 1966, ele
invocou sua atenção ao “envoltório formal do sintoma” para justificar seu
trabalho clínico inaugural (o caso Aimée), bem como seu interesse
fundamental pelos “efeitos de criação”, como dizia, do sintoma.119
Retorno à dor, portanto. Em seu seminário sobre a ética, Lacan voltou
logicamente - na linha direta do Mal-estar da cultura - ao “horizonte do
Schmerz, da dor”, como horizonte comum do sintoma e da sublimação, seja
esta pensada na ordem ética ou na ordem estética.120 Por fim, como
sabemos, Lacan inventou o vocábulo sinthoma para designar, mais uma vez,
essa interface tão misteriosa da sublimação com o sintoma, tudo para
reconhecer o “mal” - o embaraço ou a infelicidade - dos psicanalistas diante
da questão da arte: “Mas até agora só fiz aflorar isso, em vista de meu
embaraço quanto à arte, na qual Freud bebia, não sem infortúnio.”121
Sintoma - imagem
Notas
1
R. Heine, citado em S. Freud, “Pour introduire le narcissisme” (1914), trad. D. Berger, J. Laplanche et
al., in La Vie sexuelle, Paris, PUF, 1969 (ed. revista e corrigida, 1977), p. 91 [“Sobre o narcisismo: uma
introdução”, ver Bibliografia].
2
S. Freud, La Naissance de la psychanalyse (1887-1902), trad. A. Berman, Paris, PUF, 1956 (ed. 1973),
p. 336 (tradução modificada). Ibid., Lettres à Wilhelm Fliess (1887-1904), ed. completa de J. M.
Masson, revisada por M. Schroter, trad. F. Kahn e F Robert, Paris, PUF, 2006, p. 626 (tradução
modificada) [Jeffrey Moussaieff Masson (org.), A correspondência completa de Sigmund Freud para
Wilhelm Fliess, 1887-1904, ver Bibliografia].
3
Cf. H. Damisch, “La partie et le tout”, in Revue d’esthétique, XXIII, 1970, p. 168-188; idem, “Le
gardien de l’interprétation”, in Tel Quel, n.os 44-45, 1971, p. 70-84 e 82-96; L. Marin, Études
sémiologiques, Paris, Klincksieck, 1971, p. 17-60; C. Metz, Le Signifiant imaginaire. Psychanalyse et
cinéma (1977), Paris, Christian Bourgois, 1984 [O significante imaginário, ver Bibliografia].
4
Cf. S. Kofman, LEnfance de l’art. Une interprétation de l’esthétique freudienne, Paris, Éditions Payot,
1970 (ed. revista e ampliada, Paris, Galilée, 1985), p. 155-214 [A infância da arte: uma interpretação da
estética freudiana, ver Bibliografia]; J.-F. Lyotard, Discours, figure, Paris, Klincksieck, 1971, p. 271-354;
idem, “La peinture comme dispositif libidinal” (1972), in Des dispositifs pulsionnels, Paris, Union
Générale d’Éditions, 1973. p. 237-280.
5
Cf. G. Didi-Huberman, “L’Icone, le corps, le sacrilège”, in Études psychothérapiques, XXXII, 1978, n.°
3, p. 197-201.
6
S. Freud, Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci (1910), trad. J. Altounian, A. Bourguignon, P.
Cotet e A. Rauzy, Paris, Gallimard, 1987, p. 132-145 e 174-178 [“Leonardo da Vinci e uma lembrança
de sua infância”, ver Bibliografia].
7
Cf. supra, p. 21.
8
LUsage de la sublimation, Paris, Bibliothèque Nationale de France, 24 de setembro de 2011 (com Jean
Clair como outro interventor e Daniel Widlocher como “mediador do debate”).
9
Cf. G. Didi-Huberman, “Une ravissante blancheur” (1986), in Phasmes. Essais sur l’apparition, Paris,
Les Éditions de Minuit, 1998, p. 76-98.
10
S. Freud, Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci, op. cit., p. 140 e 155 [“Leonardo da Vinci e uma
lembrança...”, op. cit., ver Bibliografia].
11
Idem, “Les fantasmes hystériques et leurs relations à la bisexualité” (1908), trad. J. Laplanche et J.-B.
Pontalis, in Névrose, psychose et perversion, Paris, PUF, 1973 (ed. 1978), p. 155 [“Fantasias histéricas e
sua relação com a bissexualidade”, ver Bibliografia].
12
D. Lagache, “La sublimation et les valeurs” (1962), in Oeuvres, V (1962-1964), De la fantaisie à la
sublimation, Paris, PUF, 1984, p. 6.
13
J. Laplanche e J.-B. Pontalis, Vocabulaire de la psychanalyse (1967), Paris, PUF, 1981, p. 467
[Vocabulário da psicanálise, ver Bibliografia].
14
S. de Mijolla-Mellor, Le Choix de la sublimation, Paris, PUF, 2009, p. 2-3.
15
Cf. A. Ernout e A. Meillet, Dictionnaire étymologique de la langue latine. Histoire des mots, Paris,
Klincksieck, 1932 (ed. revista e corrigida, 1959), p. 660.
16
Ibid., p. 359.
17
Cf. A. Rey (org.), Dictionnaire historique de la langue française, Paris, Dictionnaires Le Robert, 1992
(ed. 1995), p. 2.032. Cf. igualmente S. de Mijolla-Mellor, La Sublimation, Paris, PUF, 2005, p. 3.
18
A. Vergote, La Psychanalyse à Vépreuve de la sublimation, Paris, Éditions du Cerf, 1997, p. 11. Cf. A.
Delrieu, Sigmund Freud: index thématique, Paris, Economica-Anthropos, 1997 (ed. revista e ampliada,
2008), p. 1.582-1.587.
19
J. Laplanche, Problématiques, III. La sublimation, Paris, PUF, 1980, p. 30 [Problemáticas, ver
Bibliografia].
20
Cf. P. Gay, Freud, une vie (1988), Paris, Hachette Littérature, 2002, v. II, p. 25 [Freud: uma vida para
o nosso tempo, ver Bibliografia].
21
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hysterie (Dora)” (1905), trad. M. Bonaparte e R. M.
Loewenstein, Cinq psychanalyses, Paris, PUF, 1954 (ed. 1979), p. 36 [Fragmento da análise de um caso
de histeria, ver Bibliografia]. Idem, “La morale sexuelle ‘civilisée’ et la maladie nerveuse des temps
modernes” (1908), trad. D. Berger, J. Laplanche et al., La Vie sexuelle, Paris, PUF, 1969 (ed. revista e
corrigida, 1977), p. 33 [“Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”, ver Bibliografia].
22
S. Freud, Métapsychologie (1915), trad. J. Laplanche e J.-B. Pontalis, Paris, Gallimard, 1968 (ed.
revista e corrigida, 1986), p. 24 [ver Bibliografia, textos diversos]. Infelizmente, Freud esclarece logo
de saída que não tem “intenção de tratar aqui da sublimação”.
23
Ibid., p. 29-31. [A Schautrieb também é chamada de “pulsão escópica” ou “pulsão escopofílica.
(N.T.)]
24
S. Freud, Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci, op. cit., p. 171 [“Leonardo da Vinci e uma
lembrança...”, op. cit., v. Bibliografia].
25
Ibid., p. 84-85.
26
Cf. J. Laplanche, Problématiques, III. La sublimation, op. cit., p. 23-27 e 56-62 [Problemáticas III, op.
cit., ver Bibliografia]; J.-M. Porret, La Consignation du sublimable. Les deux théories freudiennes du
processus de sublimation et notions limitrophes, Paris, PUF, 1994, p. 1-110; S. de Mijolla-Mellor, Le
Choix de la sublimation, op. cit., p. 10-14, 43-48 e 129-149.
27
S. Freud, Lettres à Wilhelm Fliess, op. cit., p. 303 [Moussaieff-Masson, A correspondência completa...,
op. cit., ver Bibliografia].
28
Ibid., p. 305.
29
Cf. G. Didi-Huberman, “Charcot, l’histoire et l’art. Imitation de la croix et démon de l’imitation”,
posfácio de J. M. Charcot e P. Richer, Les Démoniaques dans l’art (1887), seguido por La Foi qui guérit
(1892), Paris, Macula, 1984, p. 125-211.
30
S. Freud, Lettres à Wilhelm Fliess, op. cit., p. 305 [Moussaieff-Masson, A correspondência completa...,
op. cit., ver Bibliografia].
31
Ibid., p. 305.
32
S. Freud, “Fragment d’une analyse d’hystérie”, artigo citado, p. 87 [Fragmento da análise..., op. cit.,
ver Bibliografia].
33
Idem, “Les fantasmes hystériques et leurs relations à la bisexualité”, art. cit., p. 151 [“Fantasias
histéricas e sua relação...”, op. cit., ver Bibliografia].
34
Idem, Conférences d’introduction à la psychanalyse (1916-1917), trad. F. Cambon, Paris, Gallimard,
1999, p. 474 [Conferências introdutórias sobre psicanálise, ver Bibliografia].
35
Ibid., p. 477.
36
D. Lagache, “La sublimation et les valeurs”, art. cit., p. 1-3.
37
S. Freud, Trois Essais sur la théorie sexuelle (1905), trad. P. Koeppel, Paris, Gallimard, 1987, p. 74
“Três ensaios..., op. cit., ver Bibliografia].
38
Cf. D. Lagache, “La psychanalyse comme sublimation” (1962-1964), in Oeuvres, V (1962-1964), De
la fantaisie à la sublimation, op. cit., p. 191-225.
39
Cf. C. G. Jung, La Psychologie du transfert (1946), trad. É. Perrot, in La Réalité de l’âme, I. Structure
et dynamique de l’inconscient, Paris, Librairie générale française, 1998, p. 815-858.
40
Idem, “La névrose et l’autorégulation psychologique” (1934), trad. R. Cahen, in ibid., p. 362; “Le
relativisme essentiel de la psychothérapie” (1951), trad. R. Cahen, in ibid., p. 1.088.
41
E. Kris, Psychanalyse de l’art (1952), trad. B. Beck, M. de Venoge e C. Monod, Paris, PUF, 1978, p. 30
[Psicanálise da arte, ver Bibliografia].
42
Cf. A. Vergote, La Psychanalyse à l’épreuve de la sublimation, op. cit., p. 34-37, 77113 e 249-256.
43
J. Laplanche, Problématiques, III. La sublimation, op. cit., p. 122 [Problemáticas III, op. cit., ver
Bibliografia].
44
Ibid., p. 113-115 e 142-167.
45
Ibid., p. 129-133.
46
J. Laplanche, “Sublimation et/ou inspiration”, in Entre séduction et inspiration: l’homme, Paris, PUF,
1999, p. 313-314.
47
Ibid., p. 315-322.
48
A. Green, Le Travail du négatif, Paris, Les Éditions de Minuit, 1993 (ed. 2011), p. 298, 306 e 320 [O
trabalho do negativo, ver Bibliografia].
49
Ibid., p. 297.
50
S. de Mijolla-Mellor, Le Choix de la sublimation, op. cit., p. 89-96.
51
Ibid., p. 241-277.
52
Cf. G. Didi-Huberman, L’Image survivante. Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby
Warburg, Paris, Les Éditions de Minuit, 2002, p. 249-306 [A imagem sobrevivente, ver Bibliografia].
53
Cf. M. Klein, “Les situations d’angoisse de l’enfant et leur reflet dans une oeuvre d’art et dans l’élan
créateur” (1929), trad. M. Derrida, in Essais de psychanalyse (19211945), Paris, Payot, 1968 (ed. 1996),
p. 254-262 [“Situações de ansiedade infantil refletida numa obra de arte e no impulso criador”, ver
Bibliografia].
54
J. Lacan, Le Séminaire, VII. LÉthique de la psychanalyse (1959-1960), org. J.-A. Miller, Paris,
Éditions du Seuil, 1986, p. 114-119, 132-135 e 139-142 [O Seminário, livro 7, A ética da psicanálise, ver
Bibliografia].
55
Cf. M. Heidegger, “L’Origine de l’oeuvre d’art” (1935-1936), trad. W Brokmeier, in Chemins qui ne
menent nulle part, Paris, Gallimard, 1962 (ed. 1980), p. 13-98; idem, “La chose” (1950), trad. A. Préau,
in Essais et conférences, Paris, Gallimard, 1958 (ed. 1976), p. 194-218.
56
J. Lacan, Le Séminaire, VII, op. cit., p. 134-137 e 160-164 [O Seminário, livro 7, op. cit., ver
Bibliografia].
57
Ibid., p. 142.
58
Cf. F. Wahl, Introduction au discours du tableau, Paris, Éditions du Seuil, 1996, p. 172185; J.-A.
Miller, “Le séminaire de Barcelone sur Die Wege der Symptombildung”, in Le Symptôme-charlatan,
textos reunidos pela Fondation du Champ freudien, Paris, Éditions du Seuil, 1998, p. 14-19; S. André,
Le Symptôme et la création, Lormont, Éditions Le Bord de l’eau, 2010, p. 10.
59
Cf. E. Panofsky, Idea. Contribution à l’histoire du concept de l’ancienne théorie de l’art (1924), trad. H.
Joly, Paris, Gallimard, 1983 [Idea: contribuição à história do conceito da antiga teoria da arte, ver
Bibliografia].
60
S. Freud, Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci, op. cit., p. 147-148 [“Leonardo da Vinci e uma
lembrança...”, op. cit., ver Bibliografia].
61
Ibid., p. 155.
62
Ibid., p. 177.
63
S. Freud, Conférences d’introduction à la psychanalyse, op. cit., p. 439 [Conferências introdutórias...,
op. cit., ver Bibliografia].
64
Idem, Nouvelles Conférences d’introduction à la psychanalyse (1933), trad. R.-M. Zeitlin, Paris,
Gallimard, 1984, p. 212 [Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, ver Bibliografia].
65
Ibid., p. 214.
66
J. Laplanche, Problématiques, III. La sublimation, op. cit., p. 139-142 [Problemáticas III, op. cit., ver
Bibliografia]; idem, “Sublimation et/ou inspiration”, art. cit., p. 323- 338; P.-L. Assoun, Littérature et
psychanalyse. Freud et la création littéraire, Paris, Ellipses, 1996, p. 124; S. Mellor-Picaut, “La
sublimation, ruse de la civilisation?”, in Psychanalyse à Puniversité, IV, 1979, n.° 15, p. 473-481; S. de
Mijolla-Mellor, Le Choix de la sublimation, op. cit., p. 408; G. Rosolato, “Nos sublimations”, in Revue
française de psychanalyse, LXII, 1998, n.° 4, p. 1.203.
67
J. Lacan, Le Séminaire. XI. Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse (1964), org. J.-A.
Miller, Paris, Seuil, 1973, p. 102 e 151 [O Seminário, livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise, ver Bibliografia].
68
Idem, Le Sémínaire. VII, op. cit., p. 113 [O Seminário, livro 7, ver Bibliografia].
69
Cf. especialmente D. Freedberg, The Power of Images. Studíes ín the History and Theory of Response,
Chicago/Londres, The University of Chicago Press, 1989; J. Goody, La Peur des représentatíons.
L’ambívalence à Pégard des images, du théâtre, de la fiction, des reliques et de la sexualité (1997), trad.
P.-E. Dauzat, Paris, Éditions La Découverte, 2003; B. Latour e P. Weibel (orgs.), Iconoclash. Beyond the
Image Wars ín Science, Religion, and Art, Karlsruhe/Cambridge/Londres, ZKM-The MIT Press, 2002;
J. Rancière, Le Partage du sensible. Esthétique et politique, Paris, La Fabrique Éditions, 2000; G. Didi-
Huberman, Quand les images prennent position. L’oeil de l’histoire, 1, Paris, Les Éditions de Minuit,
2009; T. Schlesser, LArt face à la censure. Cinq siècles d’interdits et de résistances, Paris, Beaux Arts
Éditions, 2011.
70
Cf. O. Flournoy, “La sublimation”, in Revue française de psychanalyse, XXXI, 1967, n.° 1, p. 59-99.
71
Cf. G. Mendel, “La sublimation artistique”, in Revue française de psychanalyse, XXVIII, 1964, n.os 5-
6, p. 729-808; J. Sandler e W. G. Joffe, “À propos de la sublimation”, in Revue française de psychanalyse,
XXXI, 1967, n.° 1, p. 3-17; J.-L. Donnet, “Processus culturel et sublimation”, in Revue française de
psychanalyse, LXII, 1998, n.° 4, p. 1.0531.067. Cf. também, a título de exemplo, a coletânea La
Sublimation. Journées occitanes de psychanalyse, org. M. Barbonneau e K. Varga, Paris, Éditions In
Press, 2004.
72
T. W. Adorno, “À propos du rapport entre sociologie et psychologie” (1955), trad. P. Arnoux, J.
Christ, G. Felten e F. Nicodème, in Société: intégration, désintégration. Écrits sociologiques, Paris, Payot
& Rivages, 2011, p. 316.
73
Ibid., p. 330.
74
Ibid., p. 317-318 e 335.
75
Ibid., p. 336.
76
Ibid., p. 319 e 331.
77
Ibid., p. 351 e 354.
78
S. Freud, Sur la psychanalyse. Cinq conférences (1910), trad. C. Heim, Paris, Gallimard, 1991, p. 114-
115 [Cinco lições de psicanálise, ver Bibliografia].
79
Ibid., p. 63-64 e 107.
80
Ibid., p. 106-107.
81
S. Freud, “L’intérêt de la psychanalyse” (1913), trad. P.-L. Assoun, in Résultats, idées, problèmes, I.
1890-1920, Paris, PUF, 1984, p. 207-211 [na tradução da Imago, o artigo aparece com o título
“Sobre a psicanálise”, ver Bibliografia].
82
Ibid., p. 210.
83
Ibid.
84
Ibid., p. 211.
85
S. Freud, carta a C. G. Jung de 10 de janeiro de 1912, Correspondance avec C. G. Jung, II. 1910-
1914, trad. R. Fivaz-Silbermann, Paris, Gallimard, 1975, p. 245; idem, “Pour introduire le
narcissisme”, art. cit., p. 87-88 e 98-99 [“Sobre o narcisismo...”, op. cit., ver Bibliografia]. Cf. sobretudo
os comentários de J.-M. Porret, La Consignation du sublimable, op. cit., p. 153-172; S. de Mijolla-
Mellor, La Sublimation, op. cit., p. 7275; idem, Le Choix de la sublimation, op. cit., p. 106-124.
86
S. Freud, “Pour introduire le narcissisme”, art. cit., p. 91 [“Sobre o narcisismo...”, op. cit., ver
Bibliografia].
87
B. Brecht, “Exercices pour comédiens”, trad. dirigida por J.-M. Valentin, in L’Art du comédien. Écrits
sur le théâtre (1940), Paris, L’Arche, 1999, p. 121 (tradução ligeiramente modificada).
88
S. Freud, Nouvelles Conférences d’introduction à la psychanalyse, op. cit., p. 82-83 [Novas
conferências..., op. cit., ver Bibliografia].
89
Cf. M. Klein, “Les situations d’angoisse de l’enfant...”, art. cit., p. 254-262 [“Situações de ansiedade
infantil...”, op. cit., ver Bibliografia]; E. Glover, “Sublimation, Substitution and Social Anxiety”,
International Journal of Psycho Analysis, XII, 1931, p. 263-297.
90
Cf. H. Deutsch, “La sublimation de l’agressivité chez les femmes” (1970), in Les “Comme si” et
autres textes (1933-1970), trad. M.-C. Hamon e C. Orsot, Paris, Éditions du Seuil, 2007, p. 353-359.
91
Cf. D. Lagache, “La sublimation et les valeurs”, art. cit., p. 38-46; J. Kristeva, UAmour de soi et ses
avatars. Démesure et limites de la sublimation, Nantes, Éditions Pleins Feux, 2005, p. 28-34. Para um
ponto de vista diferente, cf. J. Chasseguet-Smirgel, “Sublimation et idéalisation”, in La Sublimation: les
sentiers de la création, Paris, Tchou, 1979, p. 299-314; V. P. Gay, Freud on Sublimation:
Reconsiderations, Albany, State University of New York Press, 1992, p. 294.
92
Cf. P. Fédida, “Temps et négation. La création dans la cure psychanalytique (II)”, in Psychanalyse à
Vuniversité, II, 1977, n.° 8, p. 617-618.
93
Cf. A. Green, Le Travail du négatif, op. cit., p. 302 e 39-313 (com uma análise de Aurélia de Nerval,
sob o título de “La sublimation entre réparation et destruction”, p. 331-349) [O trabalho do negativo,
op. cit., ver Bibliografia].
94
J. Lacan, Le Séminaire. VII, op. cit., p. 114 [O Seminário, livro 7, op. cit., ver Bibliografia]. Cf. P.
Stasse, “Paradoxes de la sublimation”, in Le Symptôme-charlatan, textos reunidos pela Fondation du
Champ freudien, Paris, Éditions du Seuil, 1998, p. 119-125.
95
J. Lacan, Le Séminaire. VII, op. cit., p. 170 [O Seminário, livro 7, op. cit., ver Bibliografia].
96
P. Cézanne, Correspondance (1858-1906), org. J. Rewald, Paris, Grasset, 1978, p. 332.
97
S. Freud, Le Malaise dans la culture (1930), trad. P. Cotet, R. Lainé e J. Stute-Cadiot, Paris, PUF,
1995 (ed. 2010), p. 49-51 [O mal-estar na cultura, traduzido na ESB por O mal-estar na civilização, ver
Bibliografia].
98
Ibid., p. 32-33.
99
Ibid., p. 10-13 e 32.
100
Ibid., p. 40-41.
101
Ibid., p. 84.
102
Ibid., p. 5.
103
Ibid., p. 7.
104
Ibid., p. 8.
105
Ibid., p. 19 (cf. também p. 29).
106
Ibid., p. 17.
107
Ibid., p. 20-28.
108
Ibid., p. 29. Cf. J.-B. Pontalis, “Permanence du malaise”, in Le Temps de la reflexion, IV, 1983, p.
403-423. J. Le Rider, “Cultiver le malaise ou civiliser la culture?”, in Autour du Malaise dans la culture
de Freud, Paris, PUF, 1998, p. 79-118 [Em torno de O mal-estar na cultura, de Freud, ver Bibliografia].
109
E. Burke, Recherches philosophiques sur l’origine de nos idées du sublime et du beau (1757), trad. E.
Lagentie de Lavaisse (1803), Paris, Vrin, 1973, p. 64 (cf. também p. 69-70) [Uma investigação filosófica
sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, ver Bibliografia].
110
Cf. J.-L. Nancy (org.), Du sublime, Paris, Belin, 1988; B. Saint Girons, Fiat Lux. Une philosophie du
sublime, Paris, Quai Voltaire, 1993; E. Goebel, Jenseits des Unbehagens. “Sublimierung” von Goethe bis
Lacan, Bielefeld, Transcript Verlag, 2009.
111
F. Nietzsche, Humain, trop humain. Un livre pour esprits libres (1878), trad. R. Rovini, revisada por
M. B. de Launay, in Oeuvres philosophiques complètes, III-1, org. G. Colli e M. Montinari, Paris,
Gallimard, 1988, p. 31-32 [Humano, demasiado humano, ver Bibliografia].
112
Idem, Aurore. Pensées sur les préjugés moraux (1881-1887), trad. J. Hervier, in Oeuvres
philosophiques complètes, IV, org. G. Colli e M. Montinari, Paris, Gallimard, 1980, p. 42-43 [Aurora:
reflexões sobre os preconceitos morais, ver Bibliografia].
113
D. Lagache, “La sublimation et les valeurs”, art. cit., p. 2, 19-38 e 71.
114
Cf. G. Bataille, La Part maudite. Essai d’économie générale (1949), in Oeuvres complètes, v. VII,
Paris, Gallimard, 1976, p. 17-179 [A parte maldita, precedida de “A noção de dispêndio”, ver
Bibliografia].
115
Idem, “L’Esprit moderne et le jeu des transpositions” (1930), in Oeuvres complètes, v. I, Paris,
Gallimard, 1970, p. 273.
116
Idem, La Littérature et le mal (1957), Oeuvres complètes, IX, Paris, Gallimard, 1979, p. 171-172 [A
literatura e o mal, ver Bibliografia].
117
J. Lacan, Le Séminaire, VII, op. cit., p. 150 [O Seminário, livro 7, ver Bibliografia].
118
Ibid., p. 107. Cf. G. Bataille, “L’Art, exercice de la cruauté” (1949), in Oeuvres complètes, v. XI, Paris,
Gallimard, 1988, p. 480-486.
119
J. Lacan, “De nos antécédents” (1966), in Écrits, Paris, Éditions du Seuil, 1966, p. 66 [“De nossos
antecedentes”, ver Bibliografia].
120
Idem, Le Séminaire, VII, op. cit., p. 129 [O Seminário, livro 7, op. cit., ver Bibliografia].
121
Idem, “Préface à l’édition anglaise du Séminaire XI” (1976), in Autres Écrits, Paris, Éditions du
Seuil, 2001, p. 573 [“Prefácio à edição inglesa do Seminário 11”, ver Bibliografia]. Cf. idem, Le
Séminaire, XXIII. Le sinthome (1975-1976), org. J.-A. Miller, Paris, Éditions du Seuil, 2005 [O
Seminário, livro 23, O sinthoma, ver Bibliografia]. Cf. também F. Perena, “Symptôme et création”, in Le
Symptôme-charlatan, op. cit., p. 213-223; P. Stasse, “Paradoxes de la sublimation”, art. cit., p. 119.
122
Cf. J. Laplanche e J.-B. Pontalis, Vocabulaire de la psychanalyse, op. cit., onde, no entanto, numa
subseção do conceito de “formação”, trata-se da “formação do sintoma” (p. 168) [Vocabulário da
psicanálise, op. cit., ver Bibliografia].
123
Cf. M. Foucault, Les Mots et les choses. Une archéologie des sciences humaines, Paris, Gallimard,
1966, p. 229-233, 260, 357 etc. [As palavras e as coisas, op. cit., ver Bibliografia]. Sobre o “quadro
clínico” da histeria como “quadro clássico” em Charcot, cf. supra, p. 169-171.
124
Cf. G. Didi-Huberman, Devant l’image. Question posée aux fins d’une histoire de l’art, Paris, Les
Éditions de Minuit, 1990, p. 169-218.
125
O que seria testemunhado, desde os anos 1980 até a morte de meu grande interlocutor Pierre
Fédida, em 2002, por meu diálogo com alguns psicanalistas, entre eles Jean- -Bertrand Pontalis, Marie
Moscovici ou Patrick Lacoste. Cf. idem, “Dialogue sur le symptôme” (com Patrick Lacoste), in
L’Inactuel, n.° 3, primavera de 1995, p. 191226; idem, Gestes d’air et de pierre. Corps, parole, souffle,
image, Paris, Les Éditions de Minuit, 2005.
126
S. Freud, “L’Intérêt de la psychanalyse”, art. cit., p. 207-211 [“Sobre a psicanálise”, op. cit., ver
Bibliografia].
127
S. Freud e L. Binswanger, Correspondance 1908-1938, trad. R. Menahem e M. Strauss, Paris,
Calmann-Lévy, 1995, p. 230-232 (cartas de 3 e 8 de novembro de 1921). Sobre a história clínica de
Aby Warburg, ver L. Binswanger e A. Warburg, La Guérison infinie. Histoire clinique d’Aby Warburg
(1921-1929), org. D. Stimilli, trad. M. Renouard e M. Rueff, Paris, Éditions Payot & Rivages, 2007.
128
Cf. A. Warburg, Essais florentins (1893-1920), trad. S. Muller, Paris, Klincksieck, 1990.
129
S. Freud, Métapsychologie, op. cit., p. 11-43. A. Warburg, “Schicksalsmàchte im Spiegel
antikisierender Symbolik” (1924), “Per Monstra ad Sphaeram”. Sternglaube und Bilddeutung. Vortrag
in Gedenken an Franz Boll und andere Schriften 1923 bis 1925, org. D. Stimilli e C. Wedepohl,
Munique-Hamburgo: Dolling und Galitz Verlag, 2008, p. 41-50.
130
Cf. G. Didi-Huberman, L’Image survivante, op. cit., p. 9-270 [A imagem sobrevivente, op. cit., ver
Bibliografia].
131
Ibid., p. 271-514.
132
S. de Mijolla-Mellor, Le Choix de la sublimation, op. cit., p. 245-260.
133
A. Warburg, “La Naissance de Vénus et Le Printemps de Sandro Botticelli. Une recherche sur les
représentations de l’Antique aux débuts de la Renaissance italienne” (1893), trad. S. Muller, Essais
florentins, op. cit., p. 47-100.
134
F. Coblence, Les Attraits du visible. Freud et l’esthétique, Paris, PUF, 2005, p. 149.
135
R. Pfaller, “Die Sublimierung und die Schweinerei. Theoretischer Ort und kulturkritische Funktion
eines psychoanalytischen Begriffs”, in Psyche. Zeitschrift für Psychoanalyse und ihre Anwendungen,
LXIII, 2009, n.° 7, p. 621-650.
136
A. Warburg, “La divination paienne et antique dans les écrits et les images à l’époque de Luther”
(1920), trad. S. Muller, in Essais florentins, op. cit., p. 245-294.
137
Idem, Der Bilderatlas Mnemosyne (1927-1929), org. M. Warnke e C. Brink, Gesammelte Schriften,
II-1, Berlim, Akademíe Verlag, 2000 (2a ed. rev., 2003), p. 133.
138
W Benjamin, “Sur le concept d’histoire” (1940), trad. M. de Gandillac, revista por P. Rusch, in
Oeuvres, III, Paris, Gallimard, 2000, p. 433.
139
A. Warburg, Der Bilderatlas Mnemosyne, op. cit., p. 13.
140
Cf. G. Didi-Huberman, Atlas ou le gai savoir inquiet. L’oeil de l’histoire, 3, Paris, Les Éditions de
Minuit, 2011, p. 212-247.
141
S. Freud, Nouvelles Conférences d’introduction à la psychanalyse, op. cit., p. 237-238 [Novas
conferências..., op. cit., ver Bibliografia].
142
T. W. Adorno, “Post-scriptum” (1966), trad. p. Arnoux, J. Christ, G. Felten e F. Nicodème, Société:
intégration, désintégration, op. cit., p. 375 (tradução modificada).
143
Ibid., p. 375-376.
144
W Benjamin, “Le surréalisme. Le dernier instantané de l’intelligentsia européenne” (1929), trad.
M. de Gandillac, revista por P. Rusch, Oeuvres, II, Paris, Gallimard, 2000, p. 113-134.
145
Ibid., p. 133. Cf. também idem, “Paralipomenes et variantes des thèses sur le concept d’histoire”
(1940), in Écrits français, org. J.-M. Monnoyer, Paris, Gallimard, 1991, p. 350: “Organizar o
pessimismo significa [...] no espaço da conduta política [...] descobrir um espaço de imagens. Mas esse
espaço de imagens não pode ser medido de maneira contemplativa. Esse espaço das imagens
[Bildraum] que procuramos [...] é o mundo de uma atualidade integral e aberta por todos os lados
[die Welt allseitiger und integraler Aktualitat].”
146
M. Schneider, La Détresse, aux sources de Péthique, Paris, Éditions du Seuil, 2011.
147
S. de Mijolla-Mellor, Le Choix de la sublimation, op. cit., p. 58-68, 100, 179-198 e 356-364.
148
W. Benjamin, “Critique de la violence” (1921), trad. M. de Gandillac, revista por R. Rochlitz,
Oeuvres, I, Paris, Gallimard, 2000, p. 210-243.
Apêndice 1
O “museu patológico vivo”
“Este grande asilo, como decerto nenhum dos senhores ignora, encerra uma
população de mais de cinco mil pessoas, entre as quais figuram em grande
número, sob o título de incuráveis, internados em caráter vitalício, sujeitos
de todas as idades, afetados por toda sorte de doenças crônicas e, em
particular, por aquelas que têm por sede o sistema nervoso.
É esse o material considerável, mas necessariamente de caráter particular,
que forma o que chamarei de acervo antigo, o único que, durante longos
anos, tivemos à nossa disposição para nossas pesquisas patológicas e para
nosso ensino clínico.
Os serviços que podem ser oferecidos pelos estudos e pelo ensino feitos
nestas condições não são de desdenhar, com certeza. Os tipos clínicos se
oferecem à observação, representados por numerosos exemplares que
permitem considerar ao mesmo tempo a afecção, de maneira permanente,
por assim dizer, pois os vazios que se formam com o tempo, nesta ou
naquela categoria, são rapidamente preenchidos. Em outras palavras,
estamos de posse de uma espécie de museu patológico vivo cujos recursos
são consideráveis.”
“A revista que temos a honra de oferecer ao público médico tem por objetivo
divulgar os casos mais interessantes colhidos nos hospitais de Paris.
Uma modalidade de ilustração totalmente nova na medicina permite-nos
juntar a esta revista lâminas cuja Verdade é sempre superior à de qualquer
outro gênero de iconografia.
Os benefícios da fotografia aplicada à medicina renderam pleno sucesso à
clínica fotográfica de doenças da pele dos srs. A. Hardy e A. de Montméja.
Esperamos que nossa publicação, reunindo esses mesmos benefícios e os
que podem resultar de uma experiência maior, possa merecer uma acolhida
semelhante.
O sr. diretor geral da Assistência Pública teve a gentileza de colocar a nova
publicação sob seu patrocínio, e de mandar construir no Hospital Saint-
Louis um magnífico ateliê de fotografia, que é o ponto de encontro do que a
patologia tem de mais interessante e mais raro.”
A. de Montméja e J. Rengade, prefácio a Revue photographique des
Hôpitaux de Paris, n.° 1, Paris, 1869.
Apêndice 5
Prefácio a Iconografia fotográfica da Salpêtrière, v. I
Apêndice 6
Prefácio a Iconografia fotográfica da Salpêtrière, v. II
Apêndice 7
O estrado, o apoio para a cabeça e o tripé fotográficos
“O estrado que empregamos na Salpêtrière pode ser desdobrado e ocupar
toda a largura do ateliê; esse dispositivo nos serve, por exemplo, quando
queremos fotografar um doente caminhando; dessa maneira, este pode dar
alguns passos, o que é suficiente, na maioria dos casos.
Será necessário ter um apoio para a cabeça, solidamente firmado, embora
o uso desse instrumento, que resulta em poses muito rígidas e muito pouco
naturais, não nos pareça recomendável na prática da fotografia médica.
De fato, a rapidez dos processos atuais torna cada vez menos necessário o
uso desse acessório, muito empregado na fotografia corrente. Todavia, será
preciso recorrer a ele quando o doente não consegue manter a imobilidade e
quando a falta de luz não permite fazer uma prova fotográfica instantânea.
O mesmo acontece quando operamos muito de perto e queremos fazer em
escala ampliada a cabeça ou algumas partes dela: os olhos, a boca, o nariz ou
as orelhas. A grande dimensão da imagem, nesse caso particular, exige
tempos de exposição mais demorados que de hábito e, por outro lado, a
completa imobilidade do sujeito é ainda mais indispensável; entretanto,
sempre que a postura ou a atitude do paciente forem características, será
preciso proscrever, em caráter absoluto, o emprego do apoio para a cabeça.
Por último, em alguns casos, servimo-nos de um tripé de ferro, que se
destina a sustentar os doentes que não podem andar nem se manter de pé.
Esse tripé, que se desloca sobre um eixo, fica deitado, nos dias comuns, ao
longo da parede do ateliê. O doente é sustentado por meio de um aparelho
de suspensão que o segura pelos braços e pela cabeça; esse aparelho é do
mesmo gênero que aquele que serve para o método de suspensão.”
Apêndice 8
A “observação” e a fotografia na Salpêtrière
“Quando o doente é admitido no hospital, redige-se, aos cuidados do
pessoal médico, uma espécie de laudo a que chamamos observação. Nesse
documento são colhidas todas as informações concernentes aos
antecedentes do enfermo e a seu estado atual. À medida que se produzem
modificações, elas são anotadas com extremo cuidado, e assim
sucessivamente, até a cura, quando ela se dá, ou ao falecimento, quando ele
ocorre. Em muitos casos, a observação é suficiente para o médico; em
outros, porém, seria vantajoso vê-la complementada por documentos
iconográficos.
Quando se trata de qualquer deformidade, de uma chaga ou uma ferida,
por mais perfeita que seja a descrição, uma boa fotografia dirá mais do que
muitas linhas de explicações.
Em alguns doentes, o aspecto geral, a postura e a fácies são absolutamente
característicos e, nesses casos, mais uma vez, a prova fotográfica anexada à
observação a complementa de maneira proveitosa. Do mesmo modo, para
guardar as marcas de um estado passageiro, nada é mais cômodo que tirar
um clichê; em síntese, todas as vezes que o médico o julgar necessário, será
conveniente tirar a fotografia do doente por ocasião de seu ingresso no
hospital.
Toda vez que ocorrer uma modificação em seu estado, uma nova prova
fotográfica será necessária; dessa maneira, será possível acompanhar o
progresso da cura ou da moléstia.
Nos casos de paralisia, contratura, atrofia, ciática etc., será muito
importante conservar a aparência do doente antes de qualquer tratamento.
No estudo de algumas afecções nervosas, como a epilepsia, a
histeroepilepsia e a grande histeria, nas quais encontramos posturas e
estados essencialmente passageiros, a fotografia se impõe para guardar a
imagem exata desses fenômenos, de muito pouca duração para serem
analisados pela observação direta. Há, inclusive, hipóteses de que o próprio
olho não conseguiria perceber os movimentos muito rápidos; é o que
acontece nas crises de epilepsia, nos ataques de histeria, na marcha em casos
patológicos etc. Graças aos métodos cronofotográficos, supre-se facilmente a
impotência do olho nesse caso particular, e com isso se obtêm documentos
de grande valor.
Depois de estudar os conjuntos, cuidamos dos diferentes membros [do
corpo] que possam estar isoladamente afetados, ou que, numa afecção geral,
peçam que sejam reproduzidos em maior escala.
Do mesmo modo, depois de analisar o rosto, podemos ser levados a
reproduzir especialmente os diferentes órgãos que ele encerra.
Nem sempre nos limitamos a assinalar o aspecto externo do enfermo; em
alguns casos, é preciso examinar o interior de alguns órgãos acessíveis. Hoje
em dia, por meio de instrumentos muito engenhosos, é fácil explorar as
diversas cavidades do indivíduo. Esse exame, evidentemente, só pode ser
muito rápido; por isso, nesses casos particulares, é vantajoso fazer uma
prova fotográfica, a qual, além de sua sinceridade, trará o benefício de
lembrar bem ao observador o que ele percebeu, e de lhe permitir fazer um
estudo, com a cabeça descansada, sobre um documento indiscutível.
Infelizmente, como veremos adiante, as dificuldades práticas a resolver são
numerosas e, até o momento, só foram feitas poucas aplicações nesta ordem
de ideias.”
Apêndice 9
A “ficha fotográfica” na Salpêtrière
N.° 10
Idade: 27 anos
Domicilio: rue de l’Entrepôt, 72
Diagnóstico
Contratura histérica
Informações
A contratura tem duração de dois meses.
Sobreveio após uma emoção violenta.
Obter, se possível, uma fotografia anterior do sujeito.
Médico: Charcot
Apêndice 10
Técnica da fotografia judiciária
“1. Cada sujeito deve ser fotografado (1) de frente e (2) de perfil,
pelo lado direito, nas seguintes condições (a) de iluminação, (b) de
redução, (c) de pose, e (d) de formato.
2. A pose de frente é iluminada por uma luz proveniente da esquerda em
relação ao sujeito, permanecendo a metade direita em relativa sombra.
3. A pose de perfil é iluminada por uma luz que cai perpendicularmente
sobre a figura do sujeito.
4. A escala de redução adotada para o retrato judiciário, tanto de frente
quanto de perfil, é de um sétimo. Em outras palavras, o número da
objetiva deve ser escolhido, e a distância que separa a objetiva da
cadeira de pose deve ser calculada de tal maneira que um comprimento
de 28 centímetros, passando verticalmente pelo ângulo externo do olho
esquerdo do sujeito a ser fotografado, forneça no clichê uma imagem
reduzida a 4 centímetros, mais ou menos (4 x 7 = 28).
5. É sobre o ângulo externo do olho esquerdo que deve ser ajustado o foco
do aparelho para a fotografia de frente, enquanto, para a de perfil, será
usado o ângulo externo do olho direito, correspondendo essas duas
partes, respectivamente, ao posicionamento mediano mais iluminado
de cada pose. [...]
6. Será suficiente, para evitar hesitações nas sessões posteriores, fixar de
uma vez por todas, no assoalho do ateliê, dois pequenos suportes que
permitam repor imediatamente a cadeira e a máquina fotográfica em
suas respectivas posições.
7. É absolutamente indispensável que as duas tomadas das fotografias
judiciárias de identificação sejam feitas com o sujeito com a cabeça
descoberta.
8. Se, por razões particulares da instrução do caso, for necessário que o
sujeito seja igualmente fotografado de chapéu na cabeça, esta última
pose deverá ser objeto de uma terceira fotografia, a qual será muito
vantajoso, então, que seja tirada de pé, em conformidade com as
prescrições que serão fornecidas no parágrafo 25.
9. Tanto na pose de frente quanto na de perfil, é preciso zelar para que o
sujeito esteja muito corretamente sentado, com os ombros na mesma
altura, tanto quanto possível, a cabeça encostada no apoio de cabeça, e
o olhar horizontal, voltado para a frente.
10. Na pose de frente, os olhos do sujeito devem ser levados a se fixar na
objetiva, o que não costuma suscitar nenhuma dificuldade. Na foto de
perfil, deve-se evitar o deslocamento muito frequente dos olhos para o
lado, na direção do operador, pedindo ao sujeito que olhe para um alvo,
ou, melhor, um espelho, que será colocado no sentido do perfil, tão
longe quanto o permita a largura do ateliê, e na mesma altura que a
objetiva, isto é, aproximadamente 1,20 m acima do piso.
11. Colocação da imagem na placa. São formalmente proibidos o ato de
“mergulhar” e o de mandar “levantar o nariz” para a objetiva. [...]
12. As orelhas devem estar sempre descobertas pelo cabelo, tanto de perfil
quanto de frente.
Para obter esse resultado com algumas cabeleiras malcuidadas e rebeldes,
às vezes é necessário subjugar os cabelos, seja com um barbante, seja
com um elástico (somente para a pose de perfil).
13. As fotografias de perfil em que o contorno da orelha não aparecer por
inteiro deverão ser refeitas. [...]
14. Os clichês não deverão ser objeto de nenhum tipo de retoque, com
exceção de buracos ou furos na gelatina que possam causar manchas
pretas na prova fotográfica, imitando sinais ou cicatrizes. O ato de
embelezar e rejuvenescer a imagem, apagando no clichê as rugas,
cicatrizes e acidentes da pele, é rigorosamente proibido.
15. No serviço fotográfico da chefatura de polícia, para evitar confusões
na transcrição dos registros civis e facilitar a classificação posterior dos
clichês, atribui-se a cada um deles um número de ordem provisório,
conforme a categoria de inscrição do sujeito na lista cotidiana das
fotografias a serem tiradas. Os números, impressos em etiquetas móveis
de aproximadamente 3 centímetros de lado, são sucessivamente
inseridos num pequeno compartimento colocado no alto do espaldar
da cadeira, vista de lado.
16. Essa indicação, reproduzida no clichê pela própria fotografia, permite,
mediante referência à lista do dia, descobrir prontamente o nome do
indivíduo, que é então grafado em letras invertidas na gelatina, na parte
inferior do perfil. Imediatamente a seguir, coloca-se a data de
confecção do clichê, formulada em números, na ordem de praxe: dia,
mês, ano. Por fim, adiante, à direita, abaixo do retrato do rosto, grava-se
do mesmo modo o número de ordem geral, que determinará a
colocação definitiva de cada clichê nos arquivos.”
Alphonse Bertillon, Identification antropométrique - Instructions
signalétiques, Paris, Gauthier-Villars, 1890, p. 130-132.
Apêndice 11
O véu do retrato, a aura
Apêndice 12
O autorretrato “auracular”
Apêndice 13
A aura hysterica (Augustine)
“Ela se compõe dos seguintes fenômenos: (1°) dor com foco no nível do
ovário direito (hiperestesia ovariana); (2°) sensação de uma bola subindo
para a região epigástrica (nó epigástrico); (3°) palpitações cardíacas e
constrição laríngea (terceiro nó); (4°) por último, problemas encefálicos
(latejos no nível da têmpora e da parte anterior do parietal, do lado direito,
silvo no ouvido direito).
A aura só aparece alguns minutos antes do ataque; a doente sempre tem
tempo para se deitar. Às vezes, porém, imagina que o ataque vai parar, que
os fenômenos que ela experimenta não terão sucesso, e não se deita; ou
então sucede-lhe enganar-se e cair, sem se ferir seriamente. [...] Além dos
pródromos já assinalados, temos que destacar os seguintes: a fala torna-se
breve; G. mostra-se indelicada, irritadiça; seus movimentos são bruscos; os
olhos ficam desvairados, fixados; as pupilas se dilatam e o ataque eclode sem
gritos.”
Bourneville e Regnard, Iconographie photographique de la Salpêtrière, v. II,
p. 129, 133.
Apêndice 14
Explicação do quadro sinóptico do grande ataque histérico
Apêndice 16
Curar ou experimentar
“Quantas vezes, quando eu era seu interno ou seu chefe de clínica, não ouvi
dizer, no correr de uma discussão sobre os trabalhos do meu professor: ‘Na
Salpêtrière, vocês cultivam a histeria, não a curam’! Quando isso chegava aos
ouvidos de Charcot, ele respondia: ‘Para aprender a curar, primeiro é preciso
aprender a conhecer; o diagnóstico é o melhor trunfo do tratamento.’ Era a
ele que se dirigia a censura de não ser terapeuta! A Charcot, que deu a
verdadeira fórmula do tratamento da histeria e da epilepsia, que descobriu o
único meio de curar os pacientes com vertigem auricular, que antes dele
eram abandonados à própria e infausta sorte, a ele que, na terapêutica,
nunca recuou diante de experimentação alguma, cuja máxima nessa matéria
era que ‘bom remédio é o que cura’. Releia-se a respeito disso um de seus
últimos trabalhos, uma espécie de testamento filosófico, A fé que cura!”
Georges Gilles de La Tourette, “Jean-Martin Charcot”, in Nouvelle
iconographie de la Salpêtrière, 1893, p. 246.
Apêndice 17
Gesto e expressão: o automatismo cerebral
Apêndice 18
Um quadro vivo de catalépticas
Apêndice 19
Delírios provocados: relatório de Augustine
Apêndice 20
Sugestões teatrais
Apêndice 21
Escrita sonambúlica
“Na primeira vez que fizemos esta experiência, ele começou a escrever para
nós uma canção intitulada ‘O vinho de Marsala’. Uma vez engajado nessa
ocupação, concentrou-se totalmente, num grau inimaginável. Podia-se
gritar a seu lado, falar junto a seus ouvidos, correr os dedos em volta do seu
rosto e até em suas conjuntivas, chegando de lado. Se, nesse momento, a
mão que se agitava a seu redor entrasse no círculo estreito ao qual parecia
restringir-se seu campo visual, geralmente o que ele via não era uma mão, e
sim uma barata, a qual tentava pegar. Depois, recomeçava a escrever. Podia-
se colocar um cartão entre sua mão e seus olhos, mas ele prosseguia sem
direção, sem tinta na pena, a rigor, porém não se ocupava do obstáculo
introduzido. Dir-se-ia que tudo se passava no seu cérebro, que ele não
conduzia a mão com os olhos, na realidade, mas que, em tudo isso, tratava-
se de uma simples imagem mental do que ele estava realizando.
Suponhamos que se colocasse diante dele uma pilha com várias folhas de
papel. Se lhe fosse rapidamente retirada a folha em que estava escrevendo,
ele, sem se ocupar dessa ocorrência, terminava na folha seguinte a perna da
letra que estivesse traçando, e prosseguia em sua tarefa nessa página, cuja
metade superior estaria em branco. Podia-se até retirar toda a pilha de papel
colocada diante dele. Pouco importava; ele continuava a escrever na madeira
da mesa, ou na toalha encerada que a cobria.
E muito mais: uma vez terminada a estrofe que estava escrevendo, ele
parava e se preparava para reler tudo que havia escrito. Colocávamos então
uma folha em branco diante dos seus olhos; assim, ele ficava na presença de
uma página completamente virgem de caracteres. Isso não o detinha em
nada: não era no papel, como dissemos, que estava sua canção, mas na
cabeça. Assim, ele continuava a vê-la nessa página inteiramente em branco e
relia seu texto, acrescentando pontos, vírgulas, acentos, riscos nos tês.
Depois, bastava fazermos coincidirem exatamente as duas primeiras folhas
com a terceira, para ver que um risco atravessado, ou um acento agudo ou
grave marcados nesta última correspondiam exatamente a uma letra não
acentuada ou a um tê não cortado numa ou noutra das páginas anteriores.
Esta experiência é tudo que se poderia imaginar de mais característico.”
Apêndice 22
Até onde vai a submissão hipnótica?
“Eu disse à Wit... enquanto ela dormia: ‘Quando acordar, você porá este
chapéu na cabeça e dará uma volta ao redor da mesa.’ Soprei seus olhos e ela
despertou; os senhores estão vendo que ela cumpriu minuciosamente o ato
que eu lhe havia ordenado. Notem que eu poderia ter-lhe ordenado que só
executasse esse ato dentro de uma hora, ou amanhã, ou daqui a oito dias, e
as coisas aconteceriam exatamente no momento indicado.
São os fatos desta segunda categoria que têm impressionado
particularmente os observadores. Houve quem dissesse: mas, se é possível
ordenar dessa maneira a uma hipnotizada que cometa um ato numa data
estabelecida, nada será mais fácil, para um criminoso hábil, do que fazer
adormecer, como e quando quiser, uma pessoa hipnotizável que esteja à sua
disposição, e fazê-la cometer uma fraude, um roubo ou um assassinato
numa data mais ou menos distante.
É essa a hipótese aparentemente plausível, que se torna ainda mais
plausível porque, de fato, as sugestões experimentais não se limitaram a atos
insignificantes, análogos aos que acabo de mandar Wit... executar, mas
pudemos realizar uma espécie de crimes de laboratório.
Será possível fazer um crime ser praticado por sugestão?
À primeira vista, as experiências levam a responder a esta pergunta na
afirmativa. É incontestável que, no laboratório, podemos fazer histéricas
hipnotizadas cometerem simulações de roubos ou assassinatos. As
experiências dessa natureza chegam a ser tão impressionantes que é difícil
resistir à tendência a supor que, na vida prática, as coisas se passariam como
no hospital. Essa tendência encontra-se na comunicação que foi feita na
Sociedade Médico-Psicológica, em 1883, pelo sr. Charles Féré, hoje médico
de Bicêtre.
Com efeito, os hipnotizados afiguram-se puros autômatos. E é
perfeitamente concebível que, sob a influência das aparências, tenha sido
possível dizer que o hipnotizado pertence ao hipnotizador ‘como o cajado
do viajante pertence ao viajante’. Ou ainda, seguindo o dito do sr. Liébault,
que os hipnotizados ‘caminham para seu objetivo como uma pedra que cai’.
Todavia, ao examinarmos os fatos de perto, facilmente nos damos conta
de que não é nada disso que acontece.
Vou mostrar-lhes que a pessoa sugestionada não é, como tem aprazido
dizer a alguns, um autômato absolutamente passivo. A jovem que lhes
apresento é, como os senhores podem julgar, hipnotizável com muita
facilidade. Vou mandá-la sair. Ela voltará daqui a pouco, para executar as
sugestões que lhe farei. Mas, enquanto ela não está presente, faço questão de
lhes dizer o que espero demonstrar-lhes com ela. Os senhores verão que essa
jovem executa, sem a menor dificuldade, as sugestões indiferentes, mas,
quando eu lhe ordenar atos que a repugnem, por diversas razões, ela os
cumprirá com uma resistência tão maior quanto mais esses atos lhe forem
repugnantes.
Mando-a entrar novamente e torno a fazê-la dormir.
1a experiência: ordeno que ela coce o nariz ao despertar; acordo- -a, e os
senhores podem constatar que ela cumpre prontamente o ato ordenado.
2a experiência: ordeno que ela faça fiau para o auditório. Observem que
esta segunda sugestão é executada com certas hesitações. Mas, pensando
bem, não se trata de um ato realmente grave, simplesmente de uma falta de
respeito com as pessoas presentes.
3a experiência: esta eu não reproduzirei na sua frente, por razões que os
senhores vão compreender. Mas já a fiz em diversas ocasiões, no relativo
isolamento do consultório. Ordenei à doente (pois, notem, era de uma
doente que se tratava) que beijasse uma das pessoas presentes. Ao despertar,
os instintos de pudor se rebelaram nessa jovem honesta e casta; ela acabou
por me obedecer (em parte, porque contive o ato quando estava prestes a ser
executado), mas depois de opor uma enorme resistência à tentação sugerida.
4a experiência: mostrei-lhe um vidro e lhe disse: ‘Aí há arsênico. Ao
acordar, você dará o vidro de presente ao sr. X., que é muito malvado e falou
mal de você.’ Soprei seus olhos e ela acordou. Segurou o vidro, mas com
dificuldade. Observem que a experiência não obteve êxito. Em meia hora ou
quinze minutos, talvez o obtivesse. Não tenho certeza, mas admito esta
possibilidade.
O que desejo guardar destas quatro experiências é que esta jovem não
obedece passivamente a uma sugestão. Ela resiste a algumas, e com energia
tão maior quanto mais o ato sugerido é contrário a seus instintos e suas
tendências. A obediência, portanto, não é tão constante nem tão absoluta
quanto dizem. O automatismo é positivo, mas é relativo. Este fato permite
aos senhores vislumbrar que seríamos expostos a deparar com pelo menos
algumas dificuldades, se pretendêssemos servir-nos de uma pessoa de bem
para fazê-la praticar, por sugestão, um ato criminoso.”
DESM
A
Adhémar, Jean. “Un dessinateur passionné pour le visage humain:
GeorgesFrançois-Marie Gabriel (1775-c.1836)”, in Omagiu lui George
Oprescu. Bucareste: Academia Republicii, 1961.
Adorno, Theodor W. “À propos du rapport entre sociologie et psychologie”
(1955), trad. P. Arnoux, J. Christ, G. Felten e F. Nicodème, in Société:
integration, désintégration. Écrits sociologiques. Paris: Payot & Rivages,
2011.
_____. “Post-scriptum” (1966), trad. P. Arnoux, J. Christ, G. Felten e F.
Nicodème, in Société: intégration, désintégration. Écrits sociologiques. Paris:
Payot & Rivages, 2011.
André, Serge. Le Symptôme et la création. Lormont: Éditions Le Bord de
l’eau, 2010.
Aragon, Louis e André Breton. “Le cinquantenaire de l’hystérie”, in La
Révolution surréaliste, 1928, n° 11, p. 20-22.
Artaud, Antonin. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1970-1981, 16 v.
Arthuis, Arthur. Traitement des maladies nerveuses, affections rhumatismales,
maladies chroniques, par Vélectricité statique. Paris: Delahaye (3a ed.),
1880.
_____. Électricité statique. Manuel pratique de ses applications médicales.
Paris: Doin (3a ed.), 1887.
Assoun, Paul-Laurent. Littérature et psychanalyse. Freud et la création
littéraire. Paris: Ellipses, 1996.
Athanassio, Alexandre. Les Troubles trophiques dans Vhystérie, prefácio de
Charcot, Paris: Progrès Médical & Lecrosnier & Babé, 1890.
Azam, Eugène. Hypnotisme, double conscience et alterations de la
personnalité, prefácio de Charcot. Paris: Baillière, 1887.
_____. Hypnotisme et double conscience, prefácios de Bert, Charcot e Ribot.
Paris: Alcan, 1893.
B
Babinski, Joseph. Oeuvre scientifique, coleção dos principais trabalhos. Paris:
Masson, 1934.
Baillarger, Jules-Gabriel-François. Recherches sur les maladies mentales.
Paris: Masson, 2 v., 1890.
Ballet, Gilbert. “La suggestion hypnotique au point de vue médico-légal”, in
Gazette hebdomadaire de Médecine et de Chirurgie, outubro de 1891.
Baraduc, Hippolyte. Double prolapsus ovarien chez une hystérique.
Compression ovarienne intravaginale produisant le transfert. Paris: Parent-
Davy, 1882.
_____. La force vitale. Notre corps vital fluidique, sa formule biométrique.
Paris: Carré, 1893.
_____. LÂme humaine, ses mouvements, ses lumières et l’iconographie de
l’invisible fluidique. Paris: Carré, 1896.
_____. Méthode de radiographie humaine. La force courbe cosmique.
Photographie des vibrations de Véther. Loi des Auras. Paris: Ollendorff,
1897.
Barbonneau, M. e K. Varga (orgs.). La Sublimation. Journées occitanes de
psychanalyse. Paris: Éditions In Press, 2004.
Barthes, Roland. “Le message photographique”, in Communications, n.° 1,
1962, p. 127-138.
_____. “Le troisième sens”, in Cahiers du Cinéma, n.° 222, 1970, p. 12-19.
_____. Barthes par lui-même. Paris: Seuil, 1975.
_____. Fragments d’un discours amoureux. Paris: Seuil, 1977 [Fragmentos de
um discurso amoroso, trad. Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo:
Martins Fontes, 2003].
_____. La Chambre claire. Note sur la photographie. Paris: Cahiers du
Cinéma/ Gallimard, 1980 [A câmara clara: nota sobre a fotografia, trad.
Júlio Castanon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989].
Bataille, Georges. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 9 v., 1970-1979.
_____. La Part maudite. Essai d’économie générale (1949), in Oeuvres
complètes, v. VII. Paris: Gallimard, 1976 [A parte maldita, precedida de “A
noção de dispêndio”, trad. Júlio Castanon Guimarães. Belo Horizonte:
Autêntica, ed. rev., 2013].
_____. “L’Esprit moderne et le jeu des transpositions” (1930), in Oeuvres
complètes, v. I. Paris: Gallimard, 1970.
_____. La Littérature et le mal (1957). Oeuvres complètes, IX. Paris:
Gallimard, 1979 [A literatura e o mal, trad. Suely Bastos. Porto Alegre:
L&PM, 1989].
_____. “L’Art, exercice de la cruauté” (1949), in Oeuvres complètes, v. XI.
Paris: Gallimard, 1988, p. 480-486.
Baudelaire, Charles. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 2 v., 1975-1976.
Baumgartner, Karl Heinrich. Kranken-physionomik. Stuttgart: Rieger, 1842.
Benjamin, Walter. “Petite histoire de la Photographie” [1931], trad. M. de
Gandillac, in LHomme, le langage, la culture. Paris: Denoel, 1971 (ed.
1974, p. 57-79); “Pequena história da fotografia”, in Walter Benjamin,
Obras escolhidas, v. I - Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre
literatura e história da cultura, trad. Sérgio Paulo Rouanet, rev. técnica de
Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Brasiliense, 8a ed. revista, 2012].
_____. “L’Oeuvre d’art à l’ère de sa reproductibilité technique” [1935], trad.
M. de Gandillac, in LHomme, le langage, la culture. Paris: Denoel, 1971
(ed. 1974, p. 137-181) [“A obra de arte na era da sua reprodutibilidade
técnica”, in W. Benjamin et al., Benjamin e a obra de arte - Técnica,
imagem, percepção, trad. do alemão: Marijane Lisboa, trad. do inglês: Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012].
_____. “Sur le concept d’histoire” (1940), trad. M. de Gandillac, revista por
P. Rusch, in Oeuvres, III. Paris: Gallimard, 2000, p. 433 [“Sobre o conceito
de história”, in Walter Benjamin, Obras escolhidas, v. I, op. cit.].
_____. “Le surréalisme. Le dernier instantané de l’intelligentsia européenne”
(1929), trad. M. de Gandillac, revista por P. Rusch, in Oeuvres, II. Paris:
Gallimard, 2000, p. 113-134 [“O surrealismo: o último instantâneo da
inteligência europeia”, in Walter Benjamin, Obras escolhidas, v. I, op. cit.].
_____. “Paralipomenes et variantes des thèses sur le concept d’histoire”
(1940), in Écrits français, org. J.-M. Monnoyer. Paris: Gallimard, 1991.
_____. “Critique de la violence” (1921), trad. M. de Gandillac, revista por R.
Rochlitz, in Oeuvres, I. Paris: Gallimard, 2000, p. 210-243.
Benveniste, Émile. Problèmes de linguistique générale. Paris: Gallimard, 2 v.,
1966-1974 [Problemas de linguística geral I, trad. Maria da Gloria Novak e
Maria Luiza Neri. Campinas, SP: Pontes/Ed. da UNICAMP, 1991; e
Problemas de linguística geral II, trad. Eduardo Guimarães et al.
Campinas, SP: Pontes Editores, 1989].
Bercherie, Paul. Les Fondements de la clinique. Histoire et structure du savoir
psychiatrique, prefácio de Lantéri-Laura. Paris: Navarin, 1980 [Os
fundamentos da clínica - História e estrutura do saber psiquiátrico, trad.
Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989].
Bergson, Henri. Oeuvres. Paris: PUF, 1959.
_____. “Simulation inconsciente dans l’etat d’hypnotisme”, in Revue
philosophique XXII, 1886, p. 525-531.
Bernard, Claude. Leçons sur la physiologie et la pathologie du système
nerveux. Paris: Baillière, 2 v., 1858.
_____. Introduction à létude de la médecine expérimentale. Paris: Baillière,
1865. Bertillon, Alphonse. La Photographie judiciaire. Paris: Gauthier-
Villars, 1890. . Identification anthropométríque - Instructions signalétiques.
Paris: Gauthier-Villars (nova edição revista), 1890-1893.
Binet, Alfred e Charles Féré. Recherches expérimentales sur la physiologie des
mouvements chez les hystériques. Paris: Masson, 1887.
_____. Le Magnétisme animal. Paris: Alcan, 1887.
Binswanger, Ludwig e Aby Warburg. La Guérison infinie. Histoire clinique
d’Aby Warburg (1921-1929), org. D. Stimilli, trad. M. Renouard e M. Rueff.
Paris: Éditions Payot & Rivages, 2007.
Blanchot, Maurice. L’Espace littéraire. Paris: Gallimard, 1955.
Bourneville, Désiré-Magloire. “Mémoire sur la condition de la bouche chez
les idiots, suivi d’une étude sur la médecine légale des aliénés, à propos du
Traité de Médecine légale de M. Casper”, in Journal des connaissances
médicales et pharmaceuttques n.os 13, 15, 22, 26 (1862) e 3, 19, 20, 22
(1863).
_____. “Notes et observations sur quelques maladies puerpérales. V. Deux
cas de déchirure du périnée”, in Revue photographique des Hôpitaux de
Paris, 1871, p. 135-140.
_____. Études cliniques et thermométriques sur les maladies du système
nerveux. Paris: Delahaye, 1872-1783.
_____. Recherches cliniques et thérapeutiques sur l’épilepsie et l’hystérie,
compte-rendu des observations recueillies à la Salpêtrière de 1872 à 1875.
Paris: Progrès Médical & Delahaye, 1876.
_____. Manuel des infirmières. Paris: Progrès Médical, 3 v., 1878.
_____. Recherches cliniques et thérapeutiques sur l’épilepsie, l’hystérie et
I’idiotie, comptes-rendus du service des épileptiques et des enfants arriérés
de Bicêtre, 27 v., 1880-1906.
_____. Album de photographie d’idiots de Bicêtre. Paris: Bibliothèque
Charcot, s.d.
Bourneville, Désiré-Magloire e Paul Voulet. De la contracture hystérique
permanente. Paris: Delahaye, 1872.
Brecht, Bertolt, “Exercices pour comédiens”, trad. dirigida por J.-M.
Valentin, in LArt du comédien. Écrits sur le théâtre (1940). Paris: L’Arche,
1999.
Breuer, Josef e Sigmund Freud. Études sur l’hystérie (1893-1895), trad.
Berman. Paris: PUF, 1956 (ed. rev., 1973) [Estudos sobre a histeria, trad. e
rev. Vera Ribeiro, in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud [ESB], v. 2, 2a ed. revista. Rio de Janeiro:
Imago, 1990].
Briquet, Pierre. Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie. Paris: Baillière,
1859. Brouardel, Paul. Le Secret médical. Paris: Baillière, 1887.
Brouardel, Paul, M. Leygues e F. Raymond. “Inauguration du monument
élevé à la mémoire du Professeur Charcot”, in La Médecine moderne, IX, n.
° 86, 1898, p. 681-683.
Broussais, François-Joseph-Viktor. De l’irritation et de la folie, ouvrage dans
lequel les rapports du physique et du moral sont établis sur les bases de la
médecine physiologique. Paris: Baillière, 2 v., 1828.
Burke, Edmund. Recherche philosophique sur l’origine de nos idées du sublime
et du beau (1757), trad. E. Lagentie de Lavaisse. Paris: Pichon &
Depierreux, 1803 (reed. Paris: Vrin, 1973) [Uma investigação filosófica
sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, trad., apres. e notas de
Enid Abreu Dobianszky. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP/Papirus, 1993].
C
Cagnetta, Franco e Jacqueline Sonolet. Nascita dell fotografia psichiatrica,
exposição no Ca’ Corner della Regina, Veneza, 1981.
Canguilhem, Georges. “Qu’est-ce’que la psychologie?”, in Études d’histoire et
de philosophie des sciences. Paris: Vrin (1958), 1968, p. 365-381.
_____. Le Normal et le pathologique. Paris: PUF, 1966 [O normal e o
patológico, trad. Maria Thereza Redig de Carvalho Barrocas; trad. do
posfácio de Pierre Macherey e da apresentação de Louis Althusser por
Luiz Otávio F. Barreto Leite. Rio de Janeiro: Forense Universitária, ed. rev.
com posfácio de Pierre Macherey, 2006].
Carré de Montgeron, Louis-Basile. La Vérité des miracles opérés à
l’intercession de M. de Pâris et autres appelans, démontrée contre M.
lArchevêque de Sens, s. e., 3 v., 1737.
Carroy-Thirard, Jacqueline. “Figures de femmes hystériques dans la
psychiatrie française du XIXe siècle”, in Psychanalyse à I’universite. Paris:
PUF, IV, n.° 14, 1979, p. 313-324.
_____. “Possession, extase, hystérie au XIXe siècle”, in Psychanalyse à
l’université. Paris: PUF, V, n.° 19, 1980, p. 499-515.
_____. “Hypnose et expérimentation”, in Bulletin de psychologie, XXXIV, n.°
348, 1981, p. 41-50.
Cesbron, Henri. Histoire critique de l’hystérie. Paris: Asselin & Houzeau,
1909.
Cézanne, Paul. Correspondance (1858-1906), org. J. Rewald. Paris: Grasset,
1978.
Charcot, Jean-Martin. Oeuvres complètes, aulas compiladas e publicadas por
Bourneville, Babinski, Bernard, Féré, Guinon, Marie, Gilles de La
Tourette, Brissaud e Sevestre. Paris: Progrès Médical & Lecrosnier & Babé,
9 v., 1886-1893.
_____. De l’expectation en médecine, tese de concurso para o magistério no
ensino superior. Paris: Baillière, 1857.
_____. La Médecine empirique et la médecine scientifique. Paris: Delahaye,
1867.
_____. Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1887-1888, anotações
de aulas dos srs. Blin, Charcot e Colin. Paris: Progrès Médical & Delahaye
& Lecrosnier, 1887-1888.
_____. Leçons du mardi à la Salpêtrière. Policlinique 1888-1889, anotações
de aulas dos srs. Blin, Charcot e Colin. Paris: Progrès Médical &
Lecrosnier & Babé,1888-1889.
_____. La Foi qui guérit. Paris: Progrès Médical & Alcan, 1897 (1a ed.,
1892).
_____. Clinique des maladies du système nerveux, publicado sob a direção de
G. Guinon. Paris: Progrès Médical & Babé, 2 v., 1892-1893.
Charcot, Jean-Martin e Paul Richer, Les Démoniaques dans l’art. Paris:
Delahaye & Lecrosnier, 1887.
Charcot, Jean-Martin e Albert Pitres. Les Centres moteurs corticaux chez
l’homme. Paris: Rueff, 1895.
Chasseguet-Smirgel, Janine. “Sublimation et idéalisation”, in La Sublimation:
les sentiers de la création. Paris: Tchou, 1979.
Chertok, Léon e Raymond de Saussure. Naissance du psychanalyste. De
Mesmer à Freud, Paris: Payot, 1973.
_____. Cires anatomiques du XIXe siècle. Collection du Docteur Spitzner,
exposição. Paris: Centre Culturel de la Communauté française de
Belgique, 1980.
Claretie, Jules. “Charcot, le consolateur”, in Les annales politiques et
littéraires. Paris: Brisson, XXI, n.° 1.056, 1903, p. 179-180.
Clavreul, Jean. “Le couple pervers”, in Le Désir et la perversion. Paris: Seuil,
1967, p. 91-117 [“O casal perverso”, in O desejo e a perversão, trad. Marina
Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1990].
_____. “Sémiologie clinique et sémiotique”, in Psychanalyse et sémiotique
(colóquio de Milão, 1974). Paris: UGE, 1975, p. 231-245.
_____. L’Ordre médical. Paris: Seuil, 1978 [A ordem médica: poder e
impotência do discurso médico, trad. Jorge Gabriel Noujaim, Marco
Antônio Coutinho Jorge e Potiguara Mendes da Silveira Jr. São Paulo:
Brasiliense, 1983].
Coblence, Françoise. Les Attraits du visible. Freud et Pesthétique. Paris: PUF,
2005, p. 149.
Comte, Auguste. “Considérations générales sur l’étude positive des fonctions
intellectuelles et morales, ou cérébrales (45e leçon du Cours de
Philosophie positive, 1837)”, in Philosophie première. Paris: Hermann,
1975, p. 842-882.
Conta, Olga. Contribution à Pétude du sommeil hystérique. Paris: Ollier-
Henry, 1897.
D
Dagonet, Henri. Nouveau traité élémentaire et pratique des maladies
mentales. Paris: Baillière, 1876.
Damisch, Hubert. “L’Alphabet des masques”, in Nouvelle Revue de
Psychanalyse, 21, 1980, p. 123-131.
_____. “Agitphot. Pour le cinquantenaire de la ‘Petite histoire de la
Photographie’ de Walter Benjamin”, in Les Cahiers de la photographie, 3,
1981, p. 24-26. Dante Allighieri. Oeuvres complètes, trad. André Pézard.
Paris: Gallimard, 1965. Darwin, Charles. LExpression des émotions chez
l’homme et chez les animaux, trad. Samuel Pozzi e René Benoit. Paris:
Reinwald, 2a ed. revista, 1877 (ed. original inglesa, 1871) [A expressão das
emoções no homem e nos animais, prefácio de Konrad Lorenz, trad. Leon
de Souza Lobo Garcia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009].
Daudet, Léon. Les Morticoles. Paris: Charpentier & Fasquelle, 1894.
_____. Les Oeuvres dans les hommes. Paris: Nouvelle Librairie Nationale,
1922. David-Ménard, Monique. Pour une épistémologie de la métaphore
biologique en psychanalyse: la conversion hystérique, tese, Université de
Paris VIII, 1978.
Debove, Georges Maurice. “Éloge de J.-M. Charcot”, in Bulletin médical, 103,
1900, p. 1.389-1.394.
Delboeuf, Joseph. “De l’influence de l’imitation et de l’éducation dans le
somnambulisme provoqué”, in Revue philosophique, XXII, 1886, p. 146-
171.
Deleuze, Gilles. Différence et répétition. Paris: PUF, 1968 [Diferença e
repetição, trad. Luiz Orlandi. Rio de Janeiro: Graal 1998].
Delrieu, A. Sigmund Freud: index thématique. Paris: Economica-Anthropos,
1997 (ed. revista e ampliada, 2008).
Derrida, Jacques. L’Archéologie du frivole. Paris: Galilée, 1973 [A arqueologia
do frívolo, trad. José Bragança de Miranda e João Afonso Santos. Lisboa:
Via Editora, 1979].
Descartes, René. Oeuvres et lettres. Paris: Gallimard, 1953.
Deutsch, Helene. “La sublimation de l’agressivité chez les femmes” (1970), in
Les “Comme si” et autres textes (1933-1970), trad. M.-C. Hamon e C.
Orsot. Paris: Éditions du Seuil, 2007, p. 353-359.
Diamond, Hugh Welch. “On the application of photography to the
physiognomic and mental phenomena of insanity” (1856), in The face of
Madness. H. W. Diamond and the origin of psychiatric photography. Nova
York: Brunnel & Mazel, 1976, p. 19-24.
Diderot, Denis. “Sur les femmes”, in Oeuvres complètes. Paris: Gallimard,
1951, p. 949-958 (1a ed., 1772).
_____. “Paradoxe sur le comédien”, in Oeuvres complètes, op. cit., p.
1.0031.058 (1a ed., 1773).
Didi-Huberman, Georges. “Charcot, l’histoire et l’art. Imitation de la croix et
démon de l’imitation”, posfácio de J. M. Charcot e P. Richer, in Les
Démoniaques dans l’art (1887), seguido por La Foi qui guérit (1892). Paris:
Macula, 1984.
_____. L’Image survivante. Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby
Warburg. Paris: Les Éditions de Minuit, 2002 [A imagem sobrevivente:
história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg, trad. Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013].
_____. Quand les images prennent position. L’oeil de l’histoire, 1. Paris: Les
Éditions de Minuit, 2009.
_____. Devant l’image. Question posée aux fins d’une histoire de l’art. Paris:
Les Éditions de Minuit, 1990, p. 169-218.
_____. “Dialogue sur le symptôme” (com Patrick Lacoste), in L’Inactuel, n.°
3, primavera de 1995, p. 191-226.
_____. Gestes d’air et de pierre. Corps, parole, souffle, image. Paris: Les
Éditions de Minuit, 2005.
_____. Atlas ou le gai savoir inquiet. L’oeil de l’histoire, 3. Paris: Les Éditions
de Minuit, 2011, p. 212-247.
Donnet, J.-L. “Processus culturel et sublimation”, in Revue française de
psychanalyse, LXII, 1998, n.° 4, p. 1.053-1.067.
Dostoiévski, Fiodor. Les Démons, trad. Boris de Schloezer. Paris: Gallimard,
1955 (ed. original russa, 1873) [Os demônios: romance, trad. Rachel de
Queiroz, prefácio de Roberto Alvim Correia, xilogravura de Axel
Leskoschek. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967].
Dubois, Frédéric. Histoire philosophique de l’hypocondrie et de l’hystérie.
Paris: Baillière, 1837.
Duchenne de Boulogne, Guillaume-Benjamin. Mécanisme de la physionomie
humaine ou analyse électro-physiologique de l’expression des passions. Paris:
Renouard, 1862.
_____. De l’électrisation localisée et de son application à la pathologie et à la
thérapeutique. Paris: Baillière, 3a ed., 1872 (1a ed., 1862).
E
Ellenberger, Henri F. À la découverte de l’inconscient, trad. Joseph Feisthauer.
Villeurbanne: SIMEP, 1974 (ed. original em inglês [Canadá], 1970).
Éloire, M. “Vomissements chez une hystérique. Traitement par la fumée de
tabac”, in Revue médico-photographique des Hôpitaux de Paris, 1874, p.
102-105.
Ernout, A. e A. Meillet. Dictionnaire étymologique de la langue latine.
Histoire des mots. Paris: Klincksieck, 1932 (ed. revista e corrigida, 1959).
Esquirol, Étienne. Traités des maladies mentales considérées sous le rapport
médical, hygiénique et médico-légal. Paris: J.-B. Baillière, 2 v., 1838.
F
Fédida, Pierre. Le Concept et la violence. Paris: UGE, 1977 [O conceito e a
violência, s/ind. trad. Lisboa: Universidade Aberta Socicultur, 1978].
_____. “Temps et négation. La création dans la cure psychanalytique (II)”, in
Psychanalyse à Puniversité, II, 1977, n.° 8, p. 617-618.
Féré, Charles. De Pasymétne chromatique de l’iris considérée comme stigmate
névropathique (stigmate indien). Paris: Delahaye & Lecrosnier, 1886.
_____. La Pathologie des émotions. Études physiologiques et cliniques. Paris:
Alcan, 1892.
Fliess, Wilhelm. Les Relations entre le nez et les organes génitaux féminins,
présentés selon leurs significations biologiques, trad. Patrick Ach e Jean
Guir. Paris: Seuil, 1977 (ed. original alemã, 1897).
Flournoy, O. “La sublimation”, in Revue française de psychanalyse, XXXI,
1967, n.° 1, p. 59-99.
Foucault, Michel. Histoire de la folie à l’âge classique. Paris: Gallimard, 1972
(ed. original Plon, 1961) [História da loucura na idade clássica, trad. José
Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Perspectiva, 2003].
_____. Naissance de la clinique. Une archéologie du regard médical. Paris:
PUF, 1963 (2a ed. revista, 1972) [O nascimento da clínica, trad. Roberto
Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 5a ed., 1998].
_____. Les Mots et les choses. Une archéologie des sciences humaines. Paris:
Gallimard, 1966 [As palavras e as coisas - uma arqueologia das ciências
humanas, trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 3a ed.,
1985].
_____. LArchéologie du savoir. Paris: Gallimard, 1969 [A arqueologia do
saber, trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
6a ed., 2000].
_____. Histoire de la sexualité. 1 - La volonté de savoir. Paris: Gallimard, 1976
[História da sexualidade, I: A vontade de saber, trad. Maria Thereza da
Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal,
15a ed., 2003].
Foveau de Courmelles. François Victor, L’Hypnotisme. Paris: Hachette, 1890.
Freedberg, D. The Power of Images. Studies in the History and Theory of
Response. Chicago/Londres: The University of Chicago Press, 1989.
Freud, Sigmund. Correspondance, trad. Anne Berman e Jean-Pierre
Grossein. Paris: Gallimard, 1966 (correspondência escrita entre 1873 e
1939).
_____. “Bericht über meine mit Universitats-Jubilaums Reisestipendium
unternommene Studienreise nach Paris und Berlin”, in Standard Edition
(SE) I, p. 3-15 (ed. original alemã, 1886) [“Relatório sobre meus estudos
em Paris e Berlim”, trad. rev. Vera Ribeiro, in Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB] I, 2a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Préface à: Neue Vorlesungen über die Krankheiten des Nervensystems
insbesondere über Hysterie” (trad. de Charcot), in SE I, p. 19-22 (ed.
original alemã, 1886) [“Prefácio à tradução das Conferências sobre as
doenças do sistema nervoso, de Charcot”, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB I,
2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Hystérie”, in SE I, p. 39-59 (ed. original alemã, 1886) [“Histeria”,
trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB I, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Quelques considérations pour une étude comparative des paralysies
motrices organiques et hystériques”, in Gesammelte Werke (GW) I,
18881893, p. 39-55 [“Algumas considerações para o estudo comparativo
das paralisias motoras orgânicas e histéricas”, trad. rev. Vera Ribeiro, in
ESB I, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Esquisses pour la ‘Communication préliminaire’ de 1893”, in GW
XVII, 1892, p. 9-13 [“Esboços para a ‘Comunicação preliminar’” de 1893,
trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB I, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Préface et notes à la traduction de Charcot: Leçons du mardi,
18871888”, in SE I, p. 131-143 (ed. original alemã, 1892-1894) [Prefácio e
notas de rodapé à tradução de Conferências das terças-feiras, de Charcot,
trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB I, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Charcot”, in GW I, 1893, p. 21-35 [“Charcot”, trad. rev. Vera Ribeiro,
in ESB III, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Les psychonévroses de défense. Essai d’une théorie psychologique
de l’hystérie acquise, de nombreuses phobies et obsessions et de certaines
psychoses hallucinatoires”, trad. Jean Laplanehe, in Névrose, psychose et
perversion. Paris: PUF, 1973 (3a ed., 1978), p. 1-14 (ed. original alemã,
1894) [“As neuropsicoses de defesa”, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB III, 2a
ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Esquisse d’une psychologie scientifique”, trad. Anne Berman, in La
Naissance de la psychanalyse. Paris: PUF, 1956 (3a ed., 1973), p. 307-396
(ed. original alemã, 1895) [“Projeto para uma psicologia científica”, trad. rev.
Vera Ribeiro, in ESB I, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “L’Hérédité et l’étiologie des névroses”, in Névrose, psychose et
perversion, op. cit., p. 47-59 (ed. original alemã, 1896) [“A hereditariedade
e a etiologia das neuroses”, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB III, 2a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1987].
_____. “La morale sexuelle ‘civilisée’ et la maladie nerveuse des temps
modernes” (1908), trad. D. Berger, J. Laplanche et al., in La Vie sexuelle.
Paris: PUF, 1969 (ed. revista e corrigida, 1977), p. 33 [“Moral sexual
‘civilizada’ e doença nervosa moderna”, in ESB, IX, 1a ed. Rio de Janeiro:
Imago, 1975].
_____. “Nouvelles remarques sur les psychonévroses de défense”, in Névrose,
psychose et perversion, op. cit., p. 61-81 (ed. original alemã, 1896) [“Novas
observações sobre as neuropsicoses de defesa”, trad. rev. Vera Ribeiro, in
ESB III, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “L’Étiologie de l’hystérie”, trad. Jacqueline Bissery e Jean Laplanche,
in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p. 83-112 (ed. original alemã,
1896) [“A etiologia da histeria”, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB III, 2a ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. “Sur les souvenirs-écrans”, trad. Denise Berger, Pierre Bruno, Daniel
Guérineau e F. Oppenot, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p.
113132 (ed. original alemã, 1899) [“Lembranças encobridoras”, trad. rev.
Vera Ribeiro, in ESB III, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987].
_____. L’lnterprétation des rêves, trad. Ignace Meyerson, rev. de Denise
Berger. Paris: PUF, 1926 (ed. 1967) (ed. original alemã, 1900) [A
interpretação dos sonhos, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB IV e V, 2a ed. Rio
de Janeiro: Imago, 1987].
_____. Psychopathologie de la vie quotidienne, trad. Serge Jankélévitch. Paris:
Payot, 1948 (ed. 1979) (ed. original alemã, 1901) [A psicopatologia do
cotidiano, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB VI, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago,
1988].
_____. “Fragment d’une analyse d’hystérie”, trad. Marie Bonaparte e
Rudolph Loewenstein, relida por Berman, in Cinq psychanalyses. Paris:
PUF, 1954 (ed. 1979), p. 1-91 (ed. original alemã, 1901-1905) [Fragmento
da análise de um caso de histeria, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB VII, 2a ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1988].
_____. Trois essais sur la théorie de la sexualité, trad. Blanche Reverchon-
Jouve. Paris: Gallimard, 1962 (ed. original alemã, 1905) [Três ensaios sobre
a teoria da sexualidade, trad. rev. Vera Ribeiro, in ESB VII, 2a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1988].
_____. “De la psychothérapie”, trad. Anne Berman, in La
Techniquepsychanalytique. Paris, PUF, 1953 (ed. 1977), p. 9-22 (ed.
original alemã, 1905) [“Sobre a psicoterapia”, trad. rev. Vera Ribeiro, in
ESB VII, 2a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1988].
_____. “Les fantasmes hystériques et leur relation à la bisexualité”, trad. Jean
Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, in Névrose, psychose et perversion, op.
cit. p. 149-155 (ed. original alemã, 1908) [“Fantasias histéricas e sua
relação com a bissexualidade”, s/ind. trad., in ESB IX, 1a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Considérations générales sur l’attaque hystérique”, trad. Daniel
Guérineau, in Névrose, psychose et perversion, op. cit., p. 161-165 (ed.
original alemã, 1909) [“Algumas observações gerais sobre os ataques
histéricos”, s/ind. trad., in ESB IX, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Cinq leçons sur la psychanalyse, trad. Yves Lelay. Paris: Payot, 1950
(ed. 1968) (ed. original alemã, 1909-1910) [Cinco lições de psicanálise,
s/ind. trad., in ESB, XI, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Sur la psychanalyse. Cinq conférences (1910), trad. C. Heim. Paris:
Gallimard, 1991 [Cinco lições de psicanálise, s/ind. trad., in ESB, XI, 1a ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Le trouble psychogène de la vision dans la conception
psychanalytique”, trad. DanieI Guérineau, in Névrose, psychose et
perversion, op. cit., p. 167-173 (ed. original alemã, 1910) [“A concepção
psicanalítica da perturbação psicogênica da visão”, s/ind. trad., in ESB, XI,
1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Note sur l’inconscient en psychanalyse”, trad. Jean Laplanche e
JeanBertrand Pontalis, in Métapsychologie. Paris: Gallimard, 1968, p. 175-
187 (ed. original alemã, 1912) [“Uma nota sobre o inconsciente na
psicanálise”, s/ind. trad., in ESB, XII, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “L’intérêt de la psychanalyse” (1913), trad. P.-L. Assoun, in Résultats,
idées, problèmes, I. 1890-1920. Paris: PUF, 1984, p. 207-211 [“Sobre a
psicanálise”, s/ind. trad., in ESB, XII, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Contribution à l’histoire du mouvement psychanalytique”, trad.
Serge Jankélévitch, in Cinq leçons sur la psychanalyse, op. cit., p. 67-155
(ed. original alemã, 1914) [“A história do movimento psicanalítico”, s/ind.
trad., in ESB, XIV, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Remémoration, répétition et perlaboration”, trad. Anne Berman, in
La Technique psychanalytique, op. cit., p. 105-115 (ed. original alemã,
1914) [“Recordar, repetir e elaborar”, s/ind. trad., in ESB, XII, 1a ed. Rio
de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Pour introduire le narcissisme”, trad. Denise Berger e Jean
Laplanche, in La Vie sexuelle. Paris: PUF, 1969 (ed. revista e corrigida,
1977), p. 81-105 (ed. original alemã, 1914) [“Sobre o narcisismo: uma
introdução”, s/ind. trad., in ESB, XIV, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Observations sur l’amour de transfert”, trad. Anne Berman, in La
Technique psychanalytique, op. cit., p. 116-130 (ed. original alemã, 1915)
[“Observações sobre o amor transferenciai”, s/ind. trad., in ESB, XII, 1a ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Considérations actuelles sur la guerre et la mort”, trad. Serge
Jankélévitch, revista por Angelo Hesnard, in Essais de psychanalyse. Paris:
Payot, 1951 (ed. 1968), p. 235-267 (ed. original alemã, 1915) [“Reflexões
para os tempos de guerra e morte”, s/ind. trad., in ESB, XIV, 1a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1975].
_____. “Le refoulement”, trad. Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, in
Métapsychologie, op. cit., p. 45-63 (ed. original alemã, 1915) [“Repressão”,
s/ind. trad., in ESB, XIV, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. “L’Inconscient”, trad. Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, in
Métapsychalogie, op. cit., p. 65-123 (ed. original alemã, 1915) [“O
inconsciente”, s/ind. trad., ESB, XIV, 1a ed., 1975].
_____. “Psychologie collective et analyse du Moi”, trad. Serge Jankélévitch,
revista por Angelo Hesnard, in Essais de psychanalyse, op. cit., p. 83-175
(ed. original alemã, 1921) [“Psicologia de grupo e análise do ego”, s/ind.
trad., ESB, XVIII, 1a ed., Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Ma vie et la psychanalyse, trad. Marie Bonaparte. Paris: Gallimard,
1950 (ed. 1968) (ed. original alemã, 1925) [Um estudo autobiográfico,
s/ind. trad., in ESB, XX, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Inhibition, symptôme et angoisse, trad. Michel Tort. Paris: PUF, 1951
(ed. 1978) (ed. original alemã, 1926) [“Inibições, sintomas e ansiedade”, s/
ind. trad., in ESB, XX, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Nouvelles conférences sur la psychanalyse, trad. Anne Berman. Paris:
Gallimard, 1936 (ed. 1971) (ed. original alemã, 1933) [Novas conferências
introdutórias sobre psicanálise s/ind. trad., in ESB, XXII, 1a ed. Rio de
Janeiro: Imago, 1975].
_____. Conférences d’introduction à la psychanalyse (1916-1917), trad. F.
Cambon. Paris: Gallimard, 1999 [Conferências introdutórias sobre
psicanálise, s/ind. trad., in ESB, XV e XVI, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago,
1975].
_____. Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci (1910), trad. J. Altounian,
A. Bourguignon, P. Cotet e A. Rauzy. Paris: Gallimard, 1987 [“Leonardo
da Vinci e uma lembrança de sua infância, s/ind. trad., in ESB XI, 1a ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1975].
_____. Le Malaise dans la culture (1930), trad. P. Cotet, R. Lainé e J.
StuteCadiot. Paris: PUF, 1995 (ed. 2010) [O mal-estar na civilização, s/ind.
trad., in ESB, XXI, 1a ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975].
Freud, Sigmund e Ludwig Binswanger. Correspondance 1908-1938, trad.
R. Menahem e M. Strauss. Paris: Calmann-Lévy, 1995.
Freud, Sigmund e Joseph Breuer, ver Breuer e Freud.
G
Galton, Francis. Inquiries into Human Faculty and its Development. Londres:
Macmillan, 1883.
Gauchet, Marcel e Gladys Swain. La pratique de l’esprit humain. ^institution
asilaire et la révolution démocratique. Paris: Gallimard, 1980.
Gay, Peter. Freud, une vie (1988). Paris: Hachette Littérature, 2002 [Freud:
uma vida para o nosso tempo, trad. Denise Bottmann. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995].
Gay, Volney P. Freud on Sublimation: Reconsiderations. Albany: State
University of New York Press, 1992.
Gilardi, Ando. Storia sociale della fotografia. Milão: Feltrinelli, 1976.
Gilles de La Tourette, Georges. L’Hypnotisme et les états analogues au point
de vue médico-légal, prefácio de Paul Brouardel. Paris: Plon-Nourrit, 1887.
_____. “L’Attitude et la marche dans l’hémiplégie hystérique”, in NIS, 1888, p.
1-12.
_____. “De la superposition des troubles de la sensibilité et des spasmes de
la face et du cou chez les hystériques”, in NIS, 1889, p. 107-129 e 170-187.
_____. Traité clinique et thérapeutique de Phystérie, d’après l’enseignement de
la Salpêtrière, prefácio de Jean-Martin Charcot. Paris: Plon-Nourrit, 1891,
3 v., 1891-1895.
_____. “Jean-Martin Charcot”, in NIS, 1893, p. 241-250.
_____. Leçons de clinique thérapeutique sur les maladies du système nerveux.
Paris: Plon-Nourrit, 1898.
Gilles de La Tourette, Georges, Georges Guinon e E. Huet. “Contribution à
l’étude des baillements hystériques”, in NIS, 1890, p. 97-119.
Glover, E. “Sublimation, Substitution and Social Anxiety”, International
Journal of PsychoAnalysis, XII, 1931, p. 263-297.
Goebel, E. Jenseits des Unbehagens. “Sublimierung” von Goethe bis Lacan
Bielefeld: Transcript Verlag, 2009.
Goody, Jack. La Peur des représentatíons. L’ambivalence à Fégard des images,
du théâtre, de la fiction, des reliques et de la sexualité (1997), trad. P.-E.
Dauzat. Paris: Éditions La Découverte, 2003.
Grasset, Joseph. Traité pratique des maladies du système nerveux.
Montpellier: Coulet e Paris: Delahaye & Lecrosnier, 1886 (3a ed.).
Green, André. Le Travail du négatif. Paris: Les Éditions de Minuit, 1993 (ed.
2011) [O trabalho do negativo, trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed,
2010].
Guébhard, Adrien. “L’Auréole photographique”, in Moniteur de la
Photographie, 29, 1890, p. 115-119.
_____. “Sur les prétendus enregistrements photographiques de fluide vital”,
in La Vie scientifique, n.os 106, 108 e 110, 1897.
_____. “Petit manuel de photographie spirite sans ‘fluide’”, in La
Photographie pour tous, 1897-1898.
_____. “Pourquoi les lointains viennent trop en photographie”, in Photo-
midi, 1, 1898, p. 3-7.
Guillain, Georges. J.-M. Charcot (1825-1893). Sa vie. Son oeuvre. Paris:
Masson, 1955.
Guillain, Georges e Pierre Mathieu. La Salpêtrière. Paris: Masson, 1925.
Guinon, Georges. Les Agents provocateurs de Vhystérie. Paris: Progrès
Médical & Delahaye & Lecrosnier, 1889.
_____. “Documents pour servir à l’historre des somnambulismes”, in Progrès
Médical, 1891-1892, reed. in Clinique des maladies du système nerveux,
org. G. Guinon. Paris: Progrès Médical & Babé, v. 2, 1892-1893, p. 70-167
e 177-265.
Guinon, Georges e Sophie Woltke. “De l’influence des excitations sensitives
et sensorielles dans les phases cataleptique et somnambulique du grand
hypnotisme”, in NIS, 1891, p. 77-88.
_____. “De l’influence des excitations des organes des sens sur les
hallucinations de la phase passionnelle de l’attaque hystérique”, in Archives
de Neurologie, 63, 1891, reed. in Clinique des maladies du système nerveux,
org. G. Guinon. Paris: Progrès Médical & Babé, v. 2, 1892-1893, p. 36-55.
Guiraud, Pierre. Dictionnaire historique, stylistique, rhétorique, étymologique
de la littérature érotique. Paris: Payot, 1978.
H
Haberberg, Georges. De Charcot à Babinski. Étude du rôle de Vhystérie dans
la naissance de la neurologie moderne, tese de medicina, faculdade de
Créteil, 1979. Hahn, G. “Charcot et son influence sur l’opinion publique”,
in Revue des questions scientifiques, 2a série, VI, 1894, p. 230-261 e 353-
379.
Hardy, Alfred e A. de Montméja. Clinique photographique de VHôpital
SaintLouis. Paris: Chamerot & Lauwereyns, 1868.
Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. La Phénoménologie de l’esprit, trad. Jean
Hyppolite. Paris: Aubier-Montaigne, 1947 (ed. original alemã, 1807)
[Fenomenologia do espírito, trad. Paulo Meneses c/colab. de Karl-Heinz
Efken e José Nogueira Machado. Petrópolis, RJ/Bragança Paulista, SP:
Vozes/ Ed. Universitária São Francisco, 7a ed. 2012].
_____. Encyclopédie des sciences philosophiques en abrégé, trad. Maurice de
Gandillac. Paris: Gallimard, 1970 (ed. original alemã, 1817-1830)
[Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio, 1830, v. I: A ciência
da lógica, trad. Paulo Meneses c/colab. do Pe. José Machado. São Paulo:
Loyola, 1995; v. II: A filosofia da natureza, trad. José Nogueira Machado
c/colab. de Paulo Meneses. São Paulo: Loyola, 1997; v. III: A filosofia do
espírito, trad. Paulo Meneses c/colab. de José Machado. São Paulo: Loyola,
1995].
Heidegger, Martin. L’Être et le Temps, trad. Rudolf Boehm e Adolphe de
Waelhens. Paris: Gallimard, 1964 (ed. original alemã, 1927) [Ser e tempo,
trad. revisada de Marcia Sá Cavalcante Schuback, Petrópolis, RJ: Vozes/
Bragança Paulista, SP: EDUSP, 2006].
_____. Introduction à la métaphysique, trad. Gilbert Kahn. Paris: Gallimard,
1967 (ed. original alemã, 1935-1952) [Introdução à metafísica, apres. e
trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999].
_____. Chemins qui ne menent nulle part, trad. Wolfgang Brokmeier. Paris:
Gallimard, 1962 (2a ed., 1980) (ed. original alemã, 1949).
_____. Essais et conferences. Paris: Gallimard, 1958 (ed. 1976).
Hénocque, Albert. “Photographie - Application aux scienees médicales”, in
Dictionnaire encyclopédique des sciences médicales (DESM). Paris: Asselin
et Masson, 2a série, v. 24, 1887, p. 414-418.
Hervey de Saint-Denys, Léon d’. Les Rêves et les moyens de les diriger.
Observations pratiques. Paris: Amyot, 1867.
Hirt, Ludwig. Das Hospiz “La Salpêtrière” in Paris und die Charcot’sche
Klinik für Nervenkrankheiten. Breslau: Grass-Barth, 1883.
Husson, Armand. Étude sur les hôpitaux considérés sous le rapport de leur
construction, de la distribution de leurs bâtiments, de l’ameublement, de
l’hygiène et du Service des salles de malades. Paris: Dupont, 1862.
_____. Rapport sur le service des aliénés du département de la Seine pour
Vannée 1862. Paris: Dupont, 1863.
J
Janet, Pierre. L’Automatisme psychologique. Essai de psychologie
expérimentale sur les formes inférieures de Vactivité humaine. Paris: Alcan,
1889.
_____. État mental des hystériques. Les stigmates mentaux. Paris: Rueff, 1893.
_____. “J.-M. Charcot. Son oeuvre psychologique”, in Revue philosophique,
39, 1895, p. 569-604.
Janouch, Gustav. Conversations avec Kafka, trad. Bernard Lortholary. Paris:
Les Lettres nouvelles, 1978 (ed. original alemã, 1968) [Conversas com
Kafka, trad. Celina Luz. São Paulo: Novo Século, 2008].
Jones, Ernest. La Vie et l’oeuvre de Sigmund Freud, trad. Anne Berman. Paris:
PUF, 3 v., 1958 (2a ed., 1970) (ed. original inglesa, 1953) [A vida e a obra
de Sigmund Freud, trad. Julio Castanon Guimarães. Rio de Janeiro: Imago,
3 v., 1989].
Joyce, James. Finnegans Wake, fragmentos adaptados por André du Bouchet.
Paris: Gallimard, 1962 (ed. original inglesa, 1939).
Jung, C. G. La Psychologie du transfert (1946), trad. É. Perrot, in La Réalité
de l’âme, I. Structure et dynamique de l’inconscient. Paris: Librairie générale
française, 1998.
_____. “La névrose et l’autorégulation psychologique” (1934), trad. R.
Cahen, in La Réalité de l’âme, I. Structure et dynamique de I’inconscient.
Paris: Librairie générale française, 1998.
_____. “Le relativisme essentiel de la psychothérapie” (1951), trad. R.
Cahen, in La Réalité de l’âme, I. Structure et dynamique de I’inconscient.
Paris: Librairie générale française, 1998.
K
Kant, Emmanuel. Critique de la Faculté de juger, trad. Alexis Philonenko.
Paris: Vrin, 1979 (4a ed.) (ed. original alemã, 1790) [Crítica da faculdade
de julgar, trad. Daniela Botelho B. Guedes. São Paulo: Ícone, 2009].
_____. Anthropologie du point de vue pragmatique, trad. Michel Foucault.
Paris: Vrin, 1970 (2a ed.) (ed. original alemã, 1798) [Antropologia de um
ponto de vista pragmático, trad. Clélia Aparecida Martins, rev. téc. Márcio
Suzuki (c/ colab. de Vinícius de Figueiredo). São Paulo: Iluminuras, 2006].
Kierkegaard, S0ren. Le Journal du séducteur, trad. Paul-Henri Tisseau, in
Oeuvres Complètes, v. III. Paris: L’Orante, 1970 (ed. original dinamarquesa,
1843), p. 283-412 [Diário de um sedutor, trad. Carlos Grifo, in
Kierkegaard. São Paulo: Abril Cultural (série Os Pensadores), 2a ed.,
1984].
Klein, Melanie. “Les situations d’angoisse de l’enfant et leur reflet dans une
oeuvre d’art et dans l’élan créateur” (1929), trad. M. Derrida, in Essais de
psychanalyse (1921-1945). Paris: Payot, 1968 (ed. 1996) [“Situações de
ansiedade infantil refletida numa obra de arte e no impulso criador”, in M.
Klein, Contribuições à psicanálise, trad. Miguel Maillet. São Paulo: Ed.
Mestre Jou, 1a ed., 1970].
Kofman, Sarah. LEnfance de l’art. Une interprétation de Lesthétique
freudienne. Paris: Éditions Payot, 1970 (ed. revista e ampliada. Paris:
Galilée, 1985). [A infância da arte: uma interpretação da estética freudiana,
trad. Maria Ignez Duque Estrada. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996].
Krauss, Rosalind. “Tracing Nadar”, in October, 5, 1978, p. 29-47.
Kris, Ernst. Psychanalyse de l’art (1952), trad. B. Beck, M. de Venoge e C.
Monod. Paris: PUF, 1978 [Psicanálise da arte, s/ind. trad. São Paulo:
Brasiliense, 1968].
Kristeva, Julia. L’Amour de soi et ses avatars. Démesure et limites de la
sublimation. Nantes: Éditions Pleins Feux, 2005.
L
Lacan, Ernest. Esquisses photographiques, à propos de l’Exposition universelle
et de la guerre d’Orient. Paris: Grassart, 1856.
Lacan, Jacques. Le Séminaire. I. Les écrits techniques de Freud, Paris: Seuil,
1975 (seminário de 1953-1954) [O Seminário, livro 1, Os escritos técnicos
de Freud, versão bras. Betty Milan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979].
_____. Le Séminaire. II. Le Moi dans la théorie de Freud et dans la technique
de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1978 (seminário de 1954-1955) [O
Seminário, livro 2, O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise,
versão bras. M. Christine Laznik Penot, c/colab. A. L. Quinet de Andrade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985].
_____. Séminaire sur “la relation d’objet”. Paris: Seuil, 1994 (seminário de
1956-1957) [O Seminário, livro 4, A relação de objeto, versão bras. Dulce
Duque Estrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995].
_____. Le Séminaire. VII. LÉthique de la psychanalyse (seminário de
19591960), org. J.-A. Miller. Paris: Éditions du Seuil, 1986 [O Seminário,
livro 7, A ética da psicanálise, versão bras. Antonio Quinet. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1988].
_____. Séminaire sur l’identification. Nova York: International General, 2 v.,
s.d. (seminário de 1961-1962).
_____. Le Séminaire. XI. Les quatre concepts fonda mentaux de la
psychanalyse. Paris: Seuil, 1973 (seminário de 1964) [O Seminário, livro
11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, versão bras. M. D.
Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979].
_____. Le Séminaire, XXIII. Le sinthome (seminário de 1975-1976), org. J.-A.
Miller. Paris: Éditions du Seuil, 2005 [O Seminário, livro 23, O sinthoma,
trad. Sergio Laia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007].
_____. Écrits. Paris: Seuil, 1966 [Escritos, versão bras. Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1998].
_____. “De nos antécédents” (1966), in Écrits. Paris: Éditions du Seuil, 1966,
p. 66 [“De nossos antecedentes”, in Escritos, op. cit.].
_____. “La méprise du sujet supposé savoir”, in Scilicet, 1, 1968, p. 31-41 [“O
engano do sujeito suposto saber”, in Outros escritos, trad. brasileira Vera
Ribeiro, versão final Angelina Harari e Marcus André Vieira. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2003].
_____. Le Séminaire. XX. Encore (seminário de 1972-1973). Paris: Seuil,
1975 [O Seminário, livro 20, Mais, ainda, versão bras. M. D. Magno. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1982, (2a ed. rev., 1989)].
_____. Télévision. Paris: Seuil, 1973 [Televisão, versão bras. Antonio Quinet.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993].
_____. “L’Étourdit”, in Scilicet, 4, 1973, p. 5-52 [“O aturdito”, in Outros
escritos, op. cit.].
_____. “Préface à rédition anglaise du Séminaire XI” (1976), in Autres Écrits.
Paris: Éditions du Seuil, 2001 , p. 573 [“Prefácio à edição inglesa do
Seminário 11”, in Outros escritos, op. cit.].
Lacoue-Labarthe, Philippe. Portrait de l’artiste, en général. Paris: Bourgois,
1979.
_____. Le Sujet de la philosophie: Typographies 1. Paris: Aubier-Flammarion,
1979.
Lafon, C. e Maurice Teulières. “Mydriase hystérique”, in NIS, 1907, p. 243-
251.
Lagache, Daniel. “La sublimation et les valeurs” (1962), in Oeuvres, V
(19621964), De la fantaisie à la sublimation. Paris: PUF, 1984.
Landouzy, Hector. Traité complet de l’hysterie. Paris: Baillière, 1846.
Laplanche, Jean. Problématiques, III. La sublimation. Paris: PUF, 1980
[Problemáticas, v. 3. A sublimação, trad. Álvaro Cabral. São Paulo:
Martins Fontes, 1989].
_____. “Sublimation et/ou inspiration”, in Entre séduction et inspiration:
l’homme. Paris: PUF, 1999.
Laplanche, Jean e Jean-Bertrand Pontalis. Vocabulaire de la psychanalyse
(1967). Paris: PUF, 1981 [Vocabulário da psicanálise, trad. Pedro Tamen.
Lisboa: Moraes Eds., 4a ed., 1977 (1a ed., 1971)].
Laplassotte, François. “Sexualité et névrose avant Freud: une mise au point”,
Psychanalyse à l’université. Paris: PUF, v. 3, 10, 1978, p. 203-226.
Latour, Bruno e P. Weibel (orgs.). Iconoclash. Beyond the Image Wars in
Science, Religion, and Art. Karlsruhe/Cambridge/Londres: ZKM-The MIT
Press, 2002.
Laufenauer, Charles. “Des contractures spontanées et provoquées de la
langue chez les hystéro-épileptiques”, in NIS, 1889, p. 203-207.
Lautréamont. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1970.
Lavater, Gaspard [Johann Caspar]. L’Art de connaitre les hommes par la
physionomie (1775-1778), nova edição por Moreau de la Sarthe. Paris:
Depélafol, 1820, 10 v.
Le Brun, Charles. “Conférence sur l’expression générale et particulière”, in
Nouvelle Revue de Psychanalyse (1980), p. 93-121 (Conferência de 1668, 1a
ed., 1896).
Lechuga, Paul. Introduction à une anatomie de la pensée médicale, à propos
de l’hystérie au XIXe siècle, tese de medicina, Montpellier, 1978.
Leduc-Fayette, Denise. “La Mettrie et ‘le labyrinthe de l’homme’”, in Revue
Philosophique de la France et de Fétranger. Paris: PUF, 3, 1980, p. 343-364.
Legendre, Pierre. “La phalla-cieuse”, in Armando Verdiglione, La Jouissance
et la loi. Paris: UGE, 1976.
_____. La Passion d’etre un autre. Étude pour la danse. Paris: Seuil, 1978.
Legros, Charles e Ernest Onimus. Traité d’électricité médicale. Recherches
physiologiques et cliniques. Paris: Alcan, 2a ed. rev., 1888 (1a ed., 1872).
Léonard, Jacques. La France médicale. Médecins et malades au XIXe siècle.
Paris: Gallimard & Julliard, Paris, 1978.
Lessing, Gotthold Ephraim. Laocoon, ou des frontières de la peinture et de la
poésie, trad. Jolanta Bialostocka e Robert Klein. Paris: Hermann, 1964 (ed.
original alemã, 1766) [Laocoonte, ou, Sobre as fronteiras da pintura e da
poesia: com esclarecimentos ocasionais sobre diferentes pontos da história da
arte antiga, introdução, trad. e notas Márcio Seligmann-Silva. São Paulo:
Iluminuras/Secretaria do Estado da Cultura, 1998].
Livi, Jocelyne. “Vapeurs de femmes”, in Ornicar? 15, 1978, p. 73-80.
Lombroso, Cesare. L’Homme criminel, criminel-né, fou moral, épileptique,
étude anthropologique et médico-légale, trad. Régnier e Bournet. Paris:
Alcan, 2 v., 1887 (ed. original italiana, 1878).
Lombroso, Cesare e Guglielmo Ferrero. La Femme criminelle et la prostituée,
trad. Louise Meille, rev. Saint-Aubin. Paris: Alcan, 1896 (ed. original
italiana, 1893).
Londe, Albert. La Photographie instantanée. Théorie et pratique. Paris:
Gauthier-Villars, 1886.
_____. La Photographie moderne. Pratique et applica tions. Paris: Masson,
1888.
_____. La Photographie dans les arts, les sciences et l’industrie. Paris:
GauthierVillars, 1888.
_____. Traité pratique du développement. Étude raisonnée des divers
révélateurs et de leur mode d’emploi. Paris: Gauthier-Villars, 1889.
_____. “L’Évolution de la photographie”, in Association Française pour
l’avancement des sciences. Paris, 1889, p. 146-163.
_____. La Photographie médicale: application aux sciences médicales et
physiologiques, prefácio de Charcot. Paris: Gauthier-Villars, 1893.
_____. Aide-mémoire pratique de la photographie. Paris: Baillière, 1893.
_____. La Photographie moderne. Traité pratique de la photographie et de ses
applications à l’industrie et à la science. Paris: Masson, 1896.
_____. La Photographie à Véclair magnésique. Paris: Gauthier-Villars, 1905.
_____. La Photographie à la lumière artificielle. Paris: O. Doin, 1914.
_____. Le Service photographique de la Salpêtrière. Paris: O. Doin, s.d.
(1892?) Larde, André de. Théâtre d’épouvante. Paris: Charpentier et
Fasquelle, 1909. Le Rider, Jacques et al. Autour du Malaise dans la culture
de Freud. Paris: PUF, 1998 [Em torno de O mal-estar na cultura, de Freud,
trad. Carmen Lucia Montechi Valladares de Oliveira, Caterina Koltai. São
Paulo: Escuta, 2002]. Losserand, Jean. “Épilepsie et hystérie. Contribution
à l’histoire des maladies”, in Revue française de psychanalyse. Paris: PUF, v.
42, 3, 1978, p. 411-438.
Louyer-Villermay, Jean-Baptiste. Traité des maladies nerveuses en vapeurs et
particulièrement de l’hystérie et de l’hypocondrie. Paris: Méquignon, 2 v.,
1816.
Luys, Jules Bernard. Iconographie photographique des centres nerveux. Paris:
Baillière, 1873.
_____. Traité clinique et pratique des maladies mentales. Paris: Delahaye &
Lecrosnier, 1881.
_____. Les Émotions chez les sujets en état d’hypnotisme. Études de
psychologie expérimentale faites à l’aide de substances médicamenteuses ou
toxiques impressionnant à distance les réseaux nerveux périphériques. Paris:
Baillière, 1887.
_____. Leçons cliniques sur les principaux phénomènes de 1’hypnotisme dans
leurs rapports avec la pathologie mentale. Paris: Carré, 1890.
M
Magnan, Valentin. Recherches sur les centres nerveux. Alcoolisme, folie des
héréditaires dégénérés, paralysie générale, médecine légale. Paris: Masson, 2
v., 1876-1893.
Maldiney, Henri. Aitres de la langue et demeures de la pensée. Lausanne:
L’Âge d’homme, 1975.
_____. “Pulsion et présence”, in Psychanalyse à Luniversité. Paris: PUF, 5,
1976, p. 49-77.
Mallarmé, Stéphane. Oeuvres complètes. Paris, Gallimard, 1945.
_____. Pour un Tombeau d’Anatole, org. Jean-Pierre Richard. Paris: Seuil,
1961.
Mannoni, Octave. Un commencement qui nen finitpas. Transfert,
interprétation, théorie. Paris: Seuil, 1980.
Marey, Étienne-Jules. La Méthode graphique dans les sciences expérimentales
et principalement en physiologie et en médecine. Paris: Masson, 1885 (2a
ed.).
_____. Le Développement de la méthode graphique par la photographie. Paris:
Masson, 1885.
Marin, Louis. Détruire la peinture. Paris, Galilée, 1977.
Meige, Henry. “La maladie de la fille de Saint-Géosmes, d’après Jean-
FrançoisClément Morand (1754)”, in NIS, 1896, p. 223-256.
_____. “Une révolution anatomique”, in NIS, 1907, p. 97-115 e 174-183.
Mellor-Picaut, S. “La sublimation, ruse de la civilisation?”, in Psychanalyse à
l’université, IV, 1979, n.° 15, p. 473-481.
Mendel, G. “La sublimation artistique”, in Revue française de psychanalyse,
XXVIII, 1964, n.os 5-6, p. 729-808.
Metz, Christian. Le Signifiant imaginaire. Psychanalyse et cinéma (1977).
Paris: Christian Bourgois, 1984 [O significante imaginário: psicanálise e
cinema, s/ ind. trad. Lisboa: Livros Horizonte, 1980].
Mijolla-Mellor, S. de. La Sublimation. Paris: PUF, 2005.
_____. Le Choix de la sublimation. Paris: PUF, 2009.
Miller, Gerard. “Crime et suggestion”, seguido por “Note sur Freud et
l’hypnose”, in Ornicar? 4, 1975, p. 27-51.
Miller, Jacques-Alain. “Le séminaire de Barcelone sur Die Wege der
Symptombildung”, in Le Symptôme-charlatan, textos reunidos pela
Fondation du Champ freudien. Paris: Éditions du Seuil, 1998.
Miller, Julian A. “Some aspects of Charcot’s influence on Freud”, in Journal of
the American Psychoanalytic Association, 2, 1969, p. 608-623.
Moebius, Paulus Julius. Allgemeine Diagnostik der Nervenkrankheiten.
Leipzig: Vogel, 1886.
_____. De la débilité mentale physiologique chez la femme, trad. Nicole e
Simone Roche. Paris: Solin, 1980 (ed. original alemã, 1898).
Montméja, A. de. “Machine d’induction”, in Revue Médico-photographique
des Hôpitaux de Paris, 1874, p. 250.
Montméja, A. de e J. Rengade. “Préface”, in Revue photographique des
Hôpitaux de Paris, n.° 1, Paris, 1869.
Morel, Bénédicte Auguste. Études cliniques. Traité théorique et pratique des
maladies mentales. Paris: Grimblot & Raybois, Nancy & Masson, 2 v.,
1852.
_____. Traité des dégénérescences physiques, intellectuelles et morales de
l’espèce humaine, et des causes qui produisent ces variétés maladives. Paris:
Baillière, 1857. Morel, Pierre e Claude Quétel. Les Fous et leurs médecines
de la Renaissance au XIXe siècle. Paris: Hachette, 1979.
Moussaieff Masson, Jeffrey (org.). Lettres à Wilhelm Fliess (1887-1904), ed.
completa, revisada por M. Schroter, trad. F. Kahn e F. Robert. Paris: PUF,
2006 [Jeffrey Moussaieff Masson (org.), A correspondência completa de
Sigmund Freud para Wilhelm Fliess, 1887-1904, trad. Vera Ribeiro. Rio
de Janeiro: Imago, 1986].
N
Nadar. Quand fétais photographe, prefácio de Léon Daudet. Paris:
Flammarion, 1900.
Nancy, Jean-Luc. Ego sum. Paris: Flammarion, 1979.
(org.). Du sublime. Paris: Belin, 1988.
Nassif, Jacques. “Freud et la science”, in Cahiers pour l’analyse. Paris, 9, 1968,
p. 147-167.
_____. Freud - L’inconscient. Sur les commencements de la psychanalyse.
Paris: Galilée, 1977.
Nietzsche, Friedrich. Par-delà Bien et Mal, trad. Cornelius Heim, in Oeuvres
Complètes VII. Paris: Gallimard, 1971, p. 1-212 (ed. original alemã, 1886)
[Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro, trad., notas e
posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2a ed.,
2001, 7a reimpr., 2002].
_____. Humain, trop humain. Un livre pour esprits libres (1878), trad. R.
Rovini, revisada por M. B. de Launay, in Oeuvres philosophiques complètes,
III-1, org. G. Colli e M. Montinari. Paris: Gallimard, 1988 [Humano,
demasiado humano: um livro para espíritos livres, trad., notas e posfácio
Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000].
_____. Aurore. Pensées sur les préjugés moraux (1881-1887), trad. J. Hervier,
in Oeuvres philosophiques complètes, IV, org. G. Colli e M. Montinari.
Paris: Gallimard, 1980 [Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais,
trad., notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004].
Noica, M. “Le mécanisme de la contracture chez les spasmodiques,
hémiplégiques ou paraplégiques”, in NIS, 1908, p. 25-36.
O
Onimus, Ernest. “De l’action thérapeutique des courants continus”, in Revue
photographique des Hôpitaux de Paris, 1872, p. 286-292 e 332-341.
P
Panofsky, Erwin. Idea. Contribution à I’histoire du concept de 1’ancienne
théorie de Part (1924), trad. H. Joly. Paris: Gallimard, 1983 [Idea:
contribuição à história do conceito da antiga teoria da arte, trad. Paulo
Neves. São Paulo: Wmfmartinsfontes, 2013].
Perena, F. “Symptôme et création”, in Le Symptôme-charlatan, textos
reunidos pela Fondation du Champ freudien. Paris: Éditions du Seuil,
1998, p. 213-223.
Pfaller, R. “Die Sublimierung und die Schweinerei. Theoretischer Ort und
kulturkritische Funktion eines psychoanalytischen Begriffs”, in Psyche.
Zeitschrift für Psychoanalyse und ihre Anwendungen, LXIII, 2009, n.° 7, p.
621-650.
Pinel, Philippe. Traité médico-philosophique sur 1’aliénation mentale ou la
manie (2a ed.). Paris: Richard, 1809 [Tratado médico-filosófico sobre a
alienação mental ou a mania, trad. Joice Armani Galli. Porto Alegre:
UFRGS Ed./MUHM, 2007].
Pitres, Albert. Leçons cliniques sur Phystérie et l’hypnotisme. Paris: Doin, 2 v.,
1891.
Pontalis, Jean-Bertrand. “Entre Freud et Charcot: d’une scène à l’autre”, in
Entre le rêve et la douleur. Paris: Gallimard, 1977, p. 11-17 [Entre o sonho e
a dor, trad. Claudia Berliner. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2005].
_____. “Permanence du malaise”, in Le Temps de la réflexion, IV, 1983, p.
403-423.
Porret, J.-M. La Consignation du sublimable. Les deux théories freudiennes du
processus de sublimation et notions limitrophes. Paris: PUF, 1994.
R
Rabelais, François. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1955.
Rancière, Jacques. Le Partage du sensible. Esthétique et politique. Paris: La
Fabrique Éditions, 2000 [A partilha do sensível: estética e política, trad.
Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO experimental org./Ed. 34, 2005].
Regnard, Paul. Les Maladies épidémiques de l’esprit - Sorcellerie, magnétisme,
morphinisme, délire des grandeurs. Paris: Plon-Nourrit, 1887.
Regnard, Paul e Paul Richer. “Études sur l’attaque hystéro-épileptique faites à
l’aide de la méthode graphique”, in Revue mensuelle de médecine et de
chirurgie. Paris, 1878, p. 641-661.
Revue Neurologique, “Centenaire de Charcot”. Paris: Masson, 6, 1925, p. 731-
1192.
Rey, A. (org.). Dictionnaire historique de la langue française. Paris:
Dictionnaires Le Robert, 1992 (ed. 1995).
Richer, Paul. Études cliniques sur la grande hystérie ou hystéro-épilepsie. Paris:
Delahaye & Lecrosnier, 2a ed. revista e ampliada, 1885 (1a ed., 1881).
_____. “Observation de contracture hystérique guérie subitement après une
durée de deux années”, in NIS, 1889, p. 208-213.
_____. “Diathèse de contracture”, in NIS, 1891, p. 344-353.
_____. Paralysies et contractures hystériques. Paris: Doin, 1892.
Rimbaud, Arthur. Oeuvres complètes. Paris: Gallimard, 1972.
Rosolato, Guy. “Nos sublimations”, in Revue française de psychanalyse, LXII,
1998, n.° 4.
Rummo, Gaetano. Iconografia fotografica del Grande Isterismo - Istero-
Epilessia, omaggio al Prof. J.-M. Charcot. Nápoles: Clinica Medica
Propedeutica di Pisa, 1890.
S
Safouan, Moustapha. LÉchec du principe de plaisir. Paris: Seuil, 1979 [O
fracasso do princípio do prazer, trad. Regina Steffen. Campinas, SP:
Papirus, 1988].
Saint Girons, Benoit. Fiat Lux. Une philosophie du sublime. Paris: Quai
Voltaire, 1993.
Sandler, J. e W. G. Joffe. “À propos de la sublimation”, in Revue française de
psychanalyse, XXXI, 1967, n.° 1, p. 3-17.
Sartre, Jean-Paul. L’Imaginaire. Psychologiephénoménologiquede
l’imagination. Paris: Gallimard, 1940 [O imaginário: psicologia
fenomenológica da imaginação, ed. rev. por Arlette Elkaim-Sartre, trad.
Duda Machado. São Paulo: Ática, 1996].
Schaffer, C. “De la morphologie des contractures réflexes intrahypnotiques
et de l’action de la suggestion sur ces contractures”, in NIS, 1893, p. 305-
321, e NIS, 1894, p. 22-34.
Schefer, Jean Louis. L’Invention du corps chrétien. Saint-Augustin, le
dictionnaire, la mémoire. Paris: Galilée, 1975.
_____. Le Déluge, la Peste, Paolo Uccello. Paris: Galilée, 1976.
_____. LEspèce de chose mélancolie. Paris: Flammarion, 1978.
_____. L’Homme ordinaire du cinéma. Paris: Gallimard/Cahiers du Cinéma,
1980.
Schlesser, T. L’Art face à la censure. Cinq siècles d’interdits et de résistances
Paris: Beaux Arts Éditions, 2011.
Schneider, M. La Détresse, aux sources de léthique. Paris: Éditions du Seuil,
2011.
Shakespeare, William. Oeuvres complètes. Paris, Gallimard, 2 v., 1959.
Sibony, Daniel. Le Nom et le corps. Paris: Seuil, 1974.
_____. Le Groupe inconscient - Le lien et la peur. Paris: Bourgois, 1980.
Sollier, Paul. Genèse et nature de Vhystérie. Recherches cliniques et
expérimentales de psycho-physiologie. Paris: Alcan, 2 v., 1897.
Sonolet, Jacqueline. Trois siècles d’histoire hospitalière. La Salpêtrière,
exposição. Langres: L’Expansion scientifique française, 1958.
Sontag, Susan. La Photographie, trad. G. H. e G. Durand. Paris: Seuil, 1979
[Sobre fotografia, trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004].
Souques, Achille. “Contribution à l’étude des syndromes hystériques
‘simulateurs’ des maladies organiques de la moelle épiniere”, in NIS, 1891,
p. 1-52, 130-150, 300-326, 366-406, 409-455.
_____. Charcot intime. Paris: Masson, 1925.
Starobinski, Jean. “Le passé de la passion. Textes médicaux et eommentaires”,
in Nouvelle revue de psychanalyse, 21, 1980, p. 51-76.
Stasse, P. “Paradoxes de la sublimation”, in Le Symptôme-charlatan. Paris:
Éditions du Seuil, 1998, p. 119-125.
T
Tebaldi, Augusto. Fisionomia ed espressione studiate nelle loro deviasioni con
una appendice sulla espressione del delirio nell’arte. Verona: Drucker e
Tedeschi, 1884.
Thyssen, Eduard Hendrik Marie. Contribution à Vétude de Vhystérie
traumatique. Paris: Davy, 1888.
V
Valéry, Paul. Centenaire de la Photographie (1939), in Vues. Paris: La Table
ronde, 1948.
Veith, llza. Histoire de Vhystérie, trad. Sylvie Dreyfus. Paris: Seghers, 1973
(1a ed., 1965).
Vergote, A. La Psychanalyse à Vépreuve de la sublimation. Paris: Éditions du
Cerf, 1997.
Villechenoux, Camille Bonnafé. Le Cadre de la folie hystérique de 1870 à
1918, contribution à l’histoire de la psychiatrie, aspects de Vévolution des
idées sur la frontière entre la névrose et la psychose, tese de medicina. Paris,
1968.
Voisin, Auguste. Leçons cliniques sur les maladies mentales professées à la
Salpêtrière. Paris: Baillière, 1876.
_____. Leçons cliniques sur les maladies mentales et sur les maladies
nerveuses. Paris: Baillière, 1883.
Voisin, Félix. Des Causes morales et physiques des maladies mentales et de
quelques autres affections nerveuses, telles que Vhystérie, la nymphomanie
et le satyriasis. Paris: Baillière, 1826.
W
Wahl, François. Introduction au discours du tableau. Paris: Éditions du Seuil,
1996. Wajeman, Gérard. “Psyché de la femme: note sur l’hystérique au
XIXe siècle”, in Romantisme, 13-14, 1976, p. 57-66.
_____. “La convulsion de Saint-Médard”, in Ornicar?, 15, 1978, p. 13-30.
_____. “Théorie de la simulation”, in Ornicar? - Analytica, 22, 1980, p. 17-
33.
Warburg, Aby. Essais florentins (1893-1920), trad. S. Muller. Paris:
Klincksieck, 1990.
_____. “Schicksalsmachte im Spiegel antikisierender Symbolik” (1924), “Per
Monstra ad Sphaeram”, in Sternglaube und Bilddeutung. Vortrag in
Gedenken an Franz Boll und andere Schriften 1923 bis 1925, org. D.
Stimilli e C. Wedepohl. Munique/Hamburgo: Dolling und Galitz Verlag,
2008.
_____. “La Naissance de Vénus et Le Printemps de Sandro Botticelli. Une
recherche sur les representations de l’Antique aux débuts de la
Renaissance italienne” (1893), trad. S. Muller, in Essais florentins (1893-
1920), trad. S. Muller. Paris: Klincksieck, 1990, p. 47-100.
_____. “La divination paienne et antique dans les écrits et les images à
l’époque de Luther” (1920), trad. S. Muller, in Essais florentins (1893-
1920), trad. S. Muller. Paris: Klincksieck, 1990, p. 245-294.
_____. Der Bilderatlas Mnemosyne (1927-1929), org. M. Warnke e C. Brink,
in Gesammelte Schriften, II-1. Berlim: Akademíe Verlag, 2000 (2a ed. rev.,
2003).
Agradecimentos do autor