Você está na página 1de 10

AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EM ÔNIBUS URBANOS E

ANÁLISE DO RISCO AUDITIVO DOS MOTORISTAS E


COBRADORES

João Candido Fernandes


Universidade Estadual Paulista – Depto de Engenharia Mecânica - Bauru

Luzia Maria Pozzobom Ventura


Universidade de São Paulo – Curso de Fonoaudiologia - Bauru

Aniele Demetrio do Silva


Universidade de São Paulo – Curso de Fonoaudiologia - Bauru

Silvia Tieko Kasama


Universidade de São Paulo – Curso de Fonoaudiologia - Bauru

Iara Lorca Narece


Universidade de São Paulo – Curso de Fonoaudiologia - Bauru

Janina Regina Bosso


Universidade de São Paulo – Curso de Fonoaudiologia - Bauru

SUMMARY: This work had as objective to measure the noise levels in the drivers and collectors' work
positions of urban bus and to verify the these professionals' risk to acquire the Hearing Induced Noise Loss.
10 bus was evaluated in 10 different lines in the city of Bauru. The noise levels were taken near to the hear
of the driver and of the collector, in 8 situations of traffic. It was also measured the medium level of noise
(continuous equivalent level, Leq) for a complete turn in a line. The results presented noise levels between
80 and 96 dB(A), with averages between 86 and 92 dB(A). When analyzed under the comfort point of view
this levels they are extremely high, not allowing the oral communication (with normal voice) inside the bus,
demanding that the people elevate the voice level (or shout); the driver should have difficulties in hearing the
passengers and the sounds of the traffic (horns and siren). The risk of hearing loss is big, because the driver
and the collector stay in these levels for more than 8 daily hours.

KEYWORDS: Noise, urban bus, hearing loss.

TEMA: Ergonomia, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho

1. INTRODUÇÃO
O ruído pode ser definido como sendo um som indesejável e, que perturba a
humanidade há pelo menos 2500 anos. Na antiga Grécia, em 600 a.C., os habitantes da
cidade de Sibaris expulsaram dos limites da cidade alguns ferreiros que trabalhavam
martelando metais, em razão do ruído que causavam. Plínio, o Velho, em sua História
Natural, citava que as pessoas que moravam próximas às cataratas do rio Nilo tinham
menor sensibilidade auditiva, caracterizando-se no primeiro homem a relacionar a
exposição ao ruído com a perda de audição.
No século XVIII, com a Revolução Industrial, apareceram as primeiras máquinas, e
o trabalho passou de doméstico para industrial. Surgiu assim o artífice e o capitalista, o
capital e o trabalho. Galpões, estábulos, velhos armazéns, eram transformados em fábricas
com o maior número possível de máquinas (em geral, de fiação e tecelagem). O
estabelecimento deste quadro (bastante comum até nossos dias), resultou na multiplicação
de ambientes de trabalho insalubres e, conseqüentemente, na proliferação das doenças
ocupacionais. Uma das principais doenças do trabalho é a Perda de Audição Induzida por
Ruído (PAIR), causada por longas exposições a altos níveis de ruído (Fernandes, 1996).
Apenas no século XIX apareceram os primeiros estudos sobre os efeitos do ruído
sobre o homem. Inicialmente os estudos se concentraram na audição; os outros efeitos
(fisiológicos, interferência na comunicação, eficiência no trabalho, conforto, etc.) somente
receberam atenção nas últimas três décadas de nosso século.
Atualmente, o ruído tem se constituído na principal forma de poluição do mundo
moderno. Em regiões urbanas, como centros comerciais, a principal fonte de ruído são os
veículos automotores; em residências, o ruído do tráfego urbano e os eletrodomésticos;
além das regiões próximas a aeroportos, vias férreas, casas noturnas, bares, etc. Em locais
de trabalho (escritórios e indústrias), o ruído tem atingido índices insalubres, levando os
países a publicarem leis de proteção dos trabalhadores (Fernandes, 1993). Dados recentes
mostram que 25 % da população européia é exposta a níveis médios de ruído diários
(média em dB(A) para 24 horas) acima de 65 dB(A) (Berglund e Lindvall, 1995). Em
1995, a Organização Mundial da Saúde declarou o ruído como um dos maiores problemas
de saúde nos EUA, uma vez que aproximadamente 30 milhões de trabalhadores estão
expostos a níveis de ruído prejudiciais a audição no ambiente de trabalho (SOBRAC,
1995).
Com o aparecimento dos motores a combustão, no início do século XIX
começaram a surgir os primeiros veículos auto-propelidos. Inicialmente os veículos a
vapor e, no final do século, os primeiros modelos equipados com motores a combustão
interna (explosão). Por mais paradoxal que seja, essas máquinas foram recebidas com
hostilidade pela população que, em razão do ruído que emitiam, preferia as carruagens a
cavalo (Wise, 1970).
A atividade de dirigir ônibus urbanos é uma das mais arriscadas, do ponto de vista
auditivo, em razão das condições de trabalho impostas ao motorista: a posição do motor
destes veículos (principal fonte de ruído, instalado na frente, junto ao motorista), a grande
potência deste motor (Diesel), o alto nível de ruído do ambiente urbano (principalmente o
trânsito), o tempo de exposição (mais que 8 horas diárias, normalmente, 10 horas), a falta
de manutenção dos veículos. Recentemente, o Ministério do Trabalho e Emprego, através
da Portaria n.º 340, de 04 de maio de 2000, enquadra a atividade de motorista de transporte
coletivo como um posto de trabalho idêntico ao industrial, com aplicação de toda a
legislação trabalhista, inclusive o uso de Equipamentos de Proteção Individual.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de ruído no interior de ônibus
urbanos e analisar o risco de perda auditiva em seus funcionários (motorista e cobrador).

2. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada para este trabalho consistiu em avaliar os níveis de ruído


em 10 veículos de transporte coletivo de Bauru (das 3 empresas), colhendo-se as
intensidades de som conforme a legislação vigente (Portaria 3.214 do Ministério do
Trabalho e Emprego, em sua Norma Regulamentadora N.º 15, anexos 1 e 2).

2.1 Materiais

Foram utilizados os seguintes equipamentos de medida:

- Um Medidor de Nível de Pressão Sonora (decibelímetro) portátil, marca


Instrutherm, modelo Integrator DEC 5010.
- Um Medidor de Nível de Pressão Sonora (decibelímetro) portátil, marca
Entelbra,, modelo 142 – A.

- Um Calibrador para o Medidor, marca Instrutherm, modelo CAL 1000.

Os instrumentos têm certificado de calibração de laboratório credenciado pelo


INMETRO.

2.1 Métodos

As medições dos níveis de ruído foram realizadas seguindo-se os critérios:

- medições próximas ao ouvido do trabalhador;


- medidor regulado na curva de ponderação “A”;
- medidor posicionado na resposta “lenta” (ruído contínuo);
- realização de 5 medições, e obtenção do valor médio;
- avaliação do ruído em várias situações operacionais do ônibus.

Avaliou-se o ruído no posto de trabalho do motorista e do cobrador. Quanto às


situações operacionais do ônibus, mediu-se o ruído nas seguintes condições:

- ônibus parado, com motor em marcha lenta;


- ônibus arrancando em primeira marcha;
- ônibus acelerando em segunda marcha;
- ônibus trafegando em velocidade normal;
- ônibus trafegando em um aclive;
- ônibus trafegando em um declive;
- ônibus freiando;
- ônibus parado, abrindo ou fechando a porta.

Avaliou-se o nível de ruído instantâneo para cada situação, como também o nível
médio (Nível Equivalente Contínuo, Leq) para uma volta completa na linha.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Tabelas 1 a 10 apresentam os níveis de ruído encontrados nas medições.


Tabela 1 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 1.
Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Unip/Makro/Jardim Nicéa
Data: 17 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 80 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 94 92
Ônibus acelerando em 2ª marcha 92 91
Transitando em velocidade normal 86 84
Ônibus trafegando em um aclive 91 91
Ônibus trafegando em um declive 84 85
Ônibus freiando 83 81
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 80 82

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 89,8 87,6
Comentário:
O trajeto é longo com alguns trechos em terra e com muitos buracos.

Tabela 2 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 2.


Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Centro
Data: 17 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 82 81
Ônibus arrancando em 1ª marcha 95 93
Ônibus acelerando em 2ª marcha 93 91
Transitando em velocidade normal 88 85
Ônibus trafegando em um aclive 96 96
Ônibus trafegando em um declive 92 92
Ônibus freiando 89 83
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 85 87

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 92,5 90,6
Comentário:
O trajeto é curto, com muitas paradas em semáforos. Muitas paradas e arranques.
Tabela 3 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 3.
Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Altos da cidade
Data: 30 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 80 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 92 88
Ônibus acelerando em 2ª marcha 90 87
Transitando em velocidade normal 86 84
Ônibus trafegando em um aclive 92 87
Ônibus trafegando em um declive 89 87
Ônibus freiando 83 81
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 80 80

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 89,1 85,8
Comentário:
Trajeto tranqüilo, com pouca lotação e poucas paradas.

Tabela 4 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 4.


Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Praça das Cerejeiras
Data: 30 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 80 79
Ônibus arrancando em 1ª marcha 87 87
Ônibus acelerando em 2ª marcha 86 86
Transitando em velocidade normal 84 82
Ônibus trafegando em um aclive 86 81
Ônibus trafegando em um declive 85 86
Ônibus freiando 83 83
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 82 80

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 85,3 82,5
Comentário:
Trajeto tranqüilo. Ônibus novo, com boa manutenção.
Tabela 5 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 5.
Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Shopping/Aeroporto
Data: 17 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 85 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 94 92
Ônibus acelerando em 2ª marcha 91 90
Transitando em velocidade normal 88 86
Ônibus trafegando em um aclive 92 87
Ônibus trafegando em um declive 90 90
Ônibus freiando 88 87
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 80 80

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 90,8 87,6
Comentário:
O trajeto é curto com poucos passageiros.

Tabela 6 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 6.


Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Parque Vista Alegre
Data: 30 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 86 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 95 90
Ônibus acelerando em 2ª marcha 94 88
Transitando em velocidade normal 88 85
Ônibus trafegando em um aclive 92 92
Ônibus trafegando em um declive 88 87
Ônibus freiando 87 83
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 84 81

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 90,1 86,9
Comentário:
O trajeto é longo e apresenta uma subida bastante íngreme, onde o motor
permanece acelerado muito tempo.
Tabela 7 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 7.
Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Mary Dota
Data: 31 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 86 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 95 90
Ônibus acelerando em 2ª marcha 91 90
Transitando em velocidade normal 86 84
Ônibus trafegando em um aclive 92 92
Ônibus trafegando em um declive 87 87
Ônibus freiando 86 83
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 84 81

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 90,6 86,5
Comentário:
O trajeto é longo (40 min.) com muitas paradas e arranques.

Tabela 8 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 8.


Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Câmpus da Unesp
Data: 31 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 83 83
Ônibus arrancando em 1ª marcha 90 87
Ônibus acelerando em 2ª marcha 88 85
Transitando em velocidade normal 85 81
Ônibus trafegando em um aclive 92 89
Ônibus trafegando em um declive 90 85
Ônibus freiando 86 84
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 81 80

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 88,8 86,9
Comentário:
O trajeto é longo com longas distâncias sem paradas.
Tabela 9 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 9.
Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Jardim Estoril
Data: 30 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 80 80
Ônibus arrancando em 1ª marcha 96 90
Ônibus acelerando em 2ª marcha 94 88
Transitando em velocidade normal 87 85
Ônibus trafegando em um aclive 92 87
Ônibus trafegando em um declive 90 95
Ônibus freiando 85 82
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 84 81

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 90,0 87,1
Comentário:
O trajeto é curto e calmo. Ônibus com manutenção ruim.

Tabela 10 - Níveis de ruído medidos para o ônibus no trajeto 10.


Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano
Trajeto: Câmpus/Duque de Caxias
Data: 31 de maio de 2001
Nível de ruído – dB(A)
Situação da medição Próximo ao Próximo ao
motorista cobrador
Ônibus parado, com o motor em marcha lenta 83 83
Ônibus arrancando em 1ª marcha 94 91
Ônibus acelerando em 2ª marcha 92 89
Transitando em velocidade normal 83 81
Ônibus trafegando em um aclive 91 85
Ônibus trafegando em um declive 89 83
Ônibus freiando 83 82
Ônibus parado, motor em marcha lenta, fechando a porta 81 80

Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Laeq)


Nível para todo o percurso 86,8 83,7
Comentário:
O trajeto ocorre em vias com tráfego intenso.
A Tabela 11 apresenta os níveis médios de ruído para cada trajeto e as médias
gerais para o os postos de trabalho do motorista e do cobrador.

Tabela 11 – Níveis médios de ruído para cada trajeto.


Níveis médios de ruído
Nível Contínuo Equivalente (Laeq)
Trajeto
Próximo ao motorista Próximo ao cobrador
Unip/Makro/Jardim Nicéa 89,8 87,6
Centro 92,5 90,6
Altos da Cidade 89,1 85,8
Praça das Cerejeiras 85,3 82,5
Shopping/Aeroporto 90,8 87,6
Parque Vista Alegre 90,1 86,9
Mary Dota 90,6 86,5
Câmpus da Unesp 88,8 86,9
Jardim Estoril 90,0 87,1
Câmpus/Duque de Caxias 86,8 83,7

Nível Médio Geral 89,38 86,52

Estes níveis de ruído podem ser analisados do ponto de vista de conforto ou de


segurança.

3.1 – Análise dos resultados quanto ao conforto acústico

Quanto ao conforto acústico, os funcionários (motorista e cobrador), bem como os


usuários (passageiros), se expõem a um nível de ruído muito acima dos limites de conforto.
Considerando-se o nível normal da voz humana entre 60 e 65 dB(A), fica clara a
impossibilidade de comunicação oral (ou por telefone celular) no interior dos ônibus.
Certamente o conversação entre as pessoas se faz com voz bastante elevada, ou aos gritos.
A Norma Brasileira NBR 10152 considera 50 dB(A) como o nível máximo de ruído
para convivência humana, considerando 65 dB(A) como máximo valor aceitável. A
Norma L.11.034 da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB
indica o nível máximo de 55 dB(A) para conforto acústico em ambientes.
A Organização Mundial da Saúde (WHO) estabelece o nível de 50 dB(A) como
limite de conforto; acima deste valor haverá interferência na comunicação, tornando difícil
a conversa entre duas pessoas, dificultando falar no telefone, ou ouvir rádio ou televisão.
A mesma organização fixa o limite de 60 dB(A) para perda da concentração (Bergund e
Lindvall, 1995; Bergund, Lindval, Schwela, 1999)

3.1 – Análise dos resultados quanto à insalubridade

A insalubridade no posto de trabalho do motorista e do cobrador dos ônibus é


analisada pela Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego. Para níveis médios
de ruído de 90 dB(A) para o motorista e 87 dB(A) para o cobrador (valores arredondados
para o número inteiro superior, conforme NR 15 – anexo 1), a Portaria permite uma
exposição (sem proteção) de, respectivamente, 4 horas e 6 horas diárias. Como a
exposição diária destes trabalhadores é de mais de 8 horas (normalmente 10 horas, com
turnos das 5:00 às 15:00 e das 14:00 às 24:00 horas), o trabalho de motorista e de
cobrador de ônibus se caracteriza como uma atividade insalubre, indicando que existe
risco destes funcionários contraírem (PAIR) Perda Auditiva Induzida por Ruído (Art. 189
da CLT). Conforme Astete (1979), para exposições de 10 horas diárias, o nível de ruído
máximo permitido é de 83 dB(A).

4. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste trabalho permitiram as seguintes conclusões:


- A atividade de motorista e de cobrador de ônibus urbano na cidade de Bauru deve
ser caracterizada como insalubre, tendo em vista os níveis de ruído e o tempo de
exposição;
- A caracterização das atividades dos motoristas e cobradores de ônibus como
insalubres obriga as empresas ao pagamento do adicional de insalubridade aos empregados
(Port. 3.214/78 e Art. 192 da CLT). Neste caso (ruído) a insalubridade é de grau médio,
correspondendo a um adicional de 20% do salário mínimo vigente no país;
- A adoção de medidas que eliminem o ruído ou seus efeitos cessará o pagamento
do adicional de insalubridade. No caso de motoristas e cobradores, a empresa poderá
tomar duas providências: a diminuição do ruído nos veículos para níveis inferiores ao
limite máximo de exposição (Portaria 3.214/78 e Astete, 1979), ou a proteção dos
empregados.
- O uso de EPI auditivo em motoristas e cobradores, embora muito discutida, pode
ser adotada, conforme a Portaria 340/2000. Deve-se lembrar que, recentes pesquisas
(Fernandes, 2001; Berger, 1995) mostram que, para trabalhadores com audição normal e
níveis de ruído acima de 80 dB(A), os EPIs auditivos melhoram a capacidade de
comunicação e de identificar sons (sirenes e buzinas).

BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 10152 - Níveis de ruído
para conforto acústico. 1987.
BERGULUND, B.; LINDVALL, T. Archives of the Center for Sensory Research.
Stockholm: Center for Sensory Research Stockholm - World Health Organization, vol 2,
Issue 1, 1995.
BERGLUND, B., LINDVALL, T., SCHWELA – Guidelines for Community Noise –
WHO, Stockholm, 1999.
BRASIL – Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho – Institui as Normas
Regulamentadoras de Segurança do Trabalho. Brasília, 1978.
BRASIL – Portaria 340/2000 do Ministério do Trabalho – Normaliza o ambiente de
trabalho para veículos de transporte coletivo de passageiros. Brasília, 1978.
BERGER, E.H. – Respostas a perguntas e queixas com relação a audição e a protetores
auditivos. Revista Acústica e Vibrações, 16, dezembro, 1995.
FERNANDES, J.C. – Influência dos protetores auditivos na inteligibilidade da voz.
Monografia do Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho, Unesp, 2001.
FERNANDES, J.C. Conforto Acústico e Comportamento. In : Anais do Encontro Anual
de Etologia, vol I, 1993, Bauru, Anais ... Bauru, p. 74-84, 1993.
SOBRAC. Recomendações da Organização Mundial da Saúde sobre Ruído Industrial.
Revista de Acústica e Vibrações, nº 16, dezembro, p. 52-57, 1995.
WISE, D.B. Carros Famosos. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1970. 157 p.

Você também pode gostar