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01/04/24, 20:45 SICC (R) 2021 | Sistema de Informação do Contabilista Certificado

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PT26636 - Suprimentos
Segunda, 01 de Novembro, 2021

Suprimentos

Actualizado em: Sexta, 03 de Dezembro, 2021

Determinado sujeito passivo, para reforçar o capital, converteu suprimentos em prestações suplementares, dado que está previsto no
pacto social que as prestações suplementares podem ser exigidas até um montante global igual ao dobro do capital social. Esta
conversão, dado que foi superior ao dobro do capital social (limite que consta no pacto), obriga a algum tipo de registo ou atualização
do pacto social?

Parecer Técnico
Na situação exposta a questão colocada refere-se à base legal para suportar a conversão de suprimentos em prestações
suplementares.

No caso em apreço a entidade tem previsto no pacto social a possibilidade de exigir prestações suplementares aos sócios até ao
dobro do valor social da sociedade. A entidade acabou por converter suprimentos em prestações suplementares num valor superior ao
estipulado no pacto social.

Começamos por referir que a questão colocada está for ado âmbito deste consultório, pelo que, para o cabal esclarecimento desta
questão, sugerimos a consulta de um jurista ou advogado. Não obstante, sobre o temos, partilhamos as seguintes notas:

As prestações suplementares de capital encontram-se regulamentadas nos artigos 210.º a 214.º do Código das Sociedades
Comerciais (CSC).

O artigo 210.º do CSC determina que, se o contrato de sociedade assim o permitir, podem os sócios deliberar que lhes sejam exigidas
prestações suplementares.

Em conformidade com o disposto no n.º 2 do artigo 210.º do Código das Sociedades Comerciais, as prestações suplementares têm
sempre dinheiro por objeto.

De acordo com a informação n.º 960/09, de 11.05, da DSIRC, sempre que suprimentos sejam convertidos em prestações
suplementares, desde que os suprimentos tenham natureza pecuniária originária e tal seja comprovado por ROC ou CC e desde que
em ata de deliberação os sócios expressamente renunciem aos suprimentos, tal operação é possível, sem quaisquer implicações em
IRC.

O n.º 3 estabelece que o contrato de sociedade que permita prestações suplementares fixará:

a) O montante global das prestações suplementares;

b) Os sócios que ficam obrigados a efetuar tais prestações;

c) O critério de repartição das prestações suplementares entre os sócios a elas obrigados.

Por seu turno, o n.º 4 determina que a menção referida na alínea a) do número anterior é sempre essencial; faltando a menção referida
na alínea b), todos os sócios são obrigados a efetuar prestações suplementares; faltando a menção referida na alínea c), a obrigação
de cada sócio é proporcional à sua quota de capital.

Assim, mesmo que a operação seja viável nos termos acima referidos pode continuar a não ser legal, pelo facto de ser contrária ao
pacto social.

Não obstante o exposto, não podemos deixar de referir que questão semelhante já foi apreciada pelos tribunais superiores e assim
decidida:

Uma leitura atenta do regime que regula a realização de prestações suplementares revela que a
ratio legis
da necessidade de cláusula estatutária resultante do regime ínsito no artigo 210.º do CSC é que os sócios não sejam surpreendidos
com uma obrigação que não previram aquando da celebração do pacto social, cujo incumprimento, no limite, pode conduzir à sua
exclusão. No entanto, uma vez que essa obrigação seja voluntariamente contraída, cessa a razão de ser da necessidade de cláusula
estatutária que a preveja, sendo que o conteúdo de uma tal deliberação não se revela ofensivo de preceitos legais que não possam ser
derrogados por vontade unânime dos sócios (neste sentido vide Rui Pinto Duarte in "Suprimentos, prestações acessórias e prestações
suplementares - Notas e Questões", texto doutrinário integrado na obra "Problemas do Direito das Sociedades", IDET, Ed. Almedina,
2002).

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, Processo n.º 00155/13.4BEBRG.

Assim, e conforme decorre da jurisprudência acima, desde que exista uma deliberação estatutária confirmando, ainda que a posteriori,
a realização dos montantes a título de prestações suplementares, a inexistência de previsão estatutária que as permitissem que as
determinassem em conformidade com o regime legal estatuído nos artigos 210.º e 211.º do CSC, as entregas mantêm a sua natureza
jurídica de prestações suplementares.

https://sicc.occ.pt/app/ 1/2
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É, contudo, essencial que ocorra deliberação social que determine, posteriormente, a alteração do pacto social, no sentido de admitir a
solicitação das prestações suplementares. Neste âmbito, o tribunal em causa entendeu que não poderá deixar de entender-se que a
entrega dos montantes contabilizada na conta de prestações suplementares, revestiu, de facto, esse carácter, e não a de suprimentos.

Tem sido juridicamente aceite a consolidação de suprimentos e empréstimos de sócios em prestações suplementares de capital.

Para este efeito, tem de existir uma renúncia formal, por escrito, por parte dos sócios ao reembolso dos empréstimos ou empréstimos
efetuados e bem assim a deliberação da Assembleia Geral.

Para efeitos contabilísticos, o movimento contabilístico poderá ser através da transferência dos empréstimos da conta 2531 ou 2532
para a conta 53 - Prestação Suplementares.

Os empréstimos de sócios e suprimentos devem estar registados na conta 2531- Participantes de capital - Empresa-mãe -
suprimentos e outros mútuos ou 2532 - Participantes de capital - Outros participantes - suprimentos e outros mútuos.

Tratando-se de um aumento de capital diferente de dinheiro, o artigo 89.º, n.º 4 do Código das Sociedades Comerciais estabelece que,
para efeitos de verificação das entradas, no caso de conversão de suprimentos, é suficiente declaração do contabilista certificado ou
do revisor oficial de contas, sempre que a revisão de contas seja legalmente exigida, mencionando que a quantia consta dos regimes
contabilísticos bem como a proveniência e a data.

Atendendo, ao estipulado no artigo 89.º e à informação n.º 960/09, de 11.05, da DSIRC, deverá então o contabilista certificado
comprovar através da declaração que os suprimentos têm natureza pecuniária originária.

De qualquer forma, tal como já referido anteriormente, questões diretamente relacionadas com o direito das sociedades devem ser
acompanhadas por advogado que seja especialista na área.

https://sicc.occ.pt/app/ 2/2

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