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Série

Energias Renováveis

BIOMASSA
ISBN 978-85-60856-07-1
Karina Ribeiro Salomom
Geraldo Lúcio Tiago Filho

Série
Energias Renováveis

BIOMASSA

1º Edição
Organizado por Geraldo Lúcio Tiago Filho

Itajubá, 2007.
Obra publicada com o apoio do Ministério de Minas e Energia e da Fundação de Apoio
ao Ensino Pesquisa e Extensão de Itajubá Sumário
1.0 – Introdução 04
1.1 – Principais tipos de biomassa 05
Edição
Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas
2.0 – O biogás 08
Presidente: Ivonice Aires Campos 2.1 – Histórico do biogás 09
Secretário Executivo: Geraldo Lúcio Tiago Filho
2.2 – Características do biogás 11
Revisão Projeto Gráfico
Ângelo Stano Júnior Orange Design
2.3 – Composição química do biogás 13
Adriana Barbosa
Editoração e Arte-Final
2.3.1 – Diferentes biomassas e a produção de biogás 13
Organização Adriano Silva Bastos 3.0 – Processos de produção do biogás 14
Prof. Dr. Geraldo Lúcio Tiago Filho 3.1 – Biodigestão anaeróbica 16
Colaboração
Camila Rocha Galhardo
3.2 – Condições indispensáveis à digestão anaeróbica 17
4.0 – Biodigestores 19
4.1 – Tipos de biodigestores 21
CERPCH - Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas 4.1.1 – Processo descontínuo (batelada) 22
Avenida BPS, 1303 - Bairro Pinheirinho CEP: 37500-903 - Itajubá - MG - Brasil
Tel: (+55 35) 3629-1443 Fax: (+55 35) 3629 1265
4.1.2 – Processo contínuo 22
4.2 – Operação e carregamento do biodigestor 23
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mauá -
Bibliotecária Margareth Ribeiro - CRB_6/1700
4.3 – Biofertilizante 23
5.0 – Outras tecnologias para conversão energética 25
S173b
5.1 – Uso de biomassa para produção de energia 27
Salomom, Karina Ribeiro 6.0 – Unidade experimental de biodigestor rural 31
Biomassa / Karina Ribeiro Salomom e Geraldo Lúcio Tiago Filho;
organizado por Geraldo Lúcio Tiago Filho ; revisão de Ângelo Stano
6.1 – Descrição 31
Júnior e Adriana Barbosa ; colaboração Camila Rocha Galhardo edi_
6.2 – Materiais e serviços necessários 33
toração e arte-final de Adriano Silva Bastos. -- 7.0 – Referências bibliográficas 34
Itajubá, MG : FAPEPE, 2007.
36 p. : il. -- (Série Energias Renováveis)

ISBN: 978 - 85 - 60858 - 01 - 9


ISBN: 978 - 85 - 60858 - 07 - 1

1. Energias renováveis. 2. Termoeletricidade. I. Título.


CDU 620.91
Capítulo 1 as que não necessitam de oxigênio (anaeróbias), que são chamadas metanogênicas porque pro-
Introdução duzem o chamado biogás, composto principalmente pelo gás metano.
Até há pouco tempo o biogás era simplesmente encarado como um sub-produto, obtido a
Nesta apostila serão abordados os temas sobre biogás, bem como sua gasificação. Será apre-
partir da decomposição anaeróbia (sem presença de oxigênio) de lixo urbano, resíduos animais
sentado um pouco do histórico do biogás, suas características, o processo de produção e equipa-
e de lodos provenientes de estações de tratamento de efluentes domésticos. No entanto, o acele-
mentos utilizados para isto.
rado desenvolvimento econômico dos últimos anos e a subida acentuada do preço dos combus-
Biomassa é toda a matéria de origem vegetal, existente na natureza ou gerada pelo homem tíveis convencionais, têm encorajado as investigações na produção de energia a partir de novas
ou animal. Os materiais mais utilizados para obter energia a partir de biomassa são a lenha, o fontes alternativas e economicamente atrativas, buscando, sempre que possível, criar novas for-
carvão vegetal, a cana-de-açúcar e seus produtos, os óleos vegetais, entre outros. A energia dis- mas de produção energética que possibilitem a conservação dos recursos naturais.
ponível na biomassa tem sua origem na energia solar, dado que os vegetais, através da fotossín-
tese, absorvem uma pequena quantidade de energia da radiação visível do espetro solar, con-
forme mostrado na figura 1.1.
O exemplo mais conhecido do uso da biomassa é a madeira, a fonte de energia mais antiga
que a humanidade conhece. A madeira é composta de celulose, lignina e outros componentes.
Para produzir calor durante a combustão da madeira, é requerido oxigênio e liberado dióxido Fotossíntese Resíduos sólidos
Resíduos agrícolas Resíduos animais Resíduos industriais urbanos e
de carbono (CO2). e florestais águas residuais

O uso da biomassa oferece grandes vantagens energéticas, ambientais e econômicas. Além


BIOMASSA
de ser uma fonte de energia renovável, não ocorrem, durante sua utilização, emissões de óxidos Figura 1.1 - Processo de produção de biomassa
de enxofre, responsáveis pelas chuvas ácidas, e nem contribuição para o aumento do efeito estu-
fa, já que o CO2 emitido é novamente absorvido durante a fotossíntese das plantas. 1.1 - Principais Tipos de Biomassa
Uma das principais fontes de energia de biomassa é o aproveitamento do excremento. Esta
biomassa, quando decomposta pela ação de bactérias em recipientes totalmente fechados, cha-
De forma geral, qualquer resíduo orgânico pode ser utilizado como biomassa, embora uns te-
mados digestores anaeróbicos, produz gás metano, dióxido de carbono, hidrogênio, nitrogênio
nham características energéticas mais interessantes que outros. À seguir são listadas algumas
e ácido sulfídrico. O metano recuperado pode ser aproveitado para diferentes aplicações, como
fontes de biomassa e suas características.
por exemplo para cozinhar, esquentar água e como fonte de luz artificial. Além disso, os sub-
produtos do processo, que são o nitrogênio, o fósforo e o potássio, podem ser usados como ferti- Lenha
lizantes. A lenha foi a primeira fonte de energia usada pelo homem para a obtenção do fogo, que pas-
A exploração agrícola e pecuária gera um grande volume de resíduos, da mesma forma que sou a ser usado para aquecer e iluminar o ambiente, para cozer alimentos e até mesmo para defe-
acontece no caso de matadouros, destilarias, fábricas de lacticínios, esgotos domésticos e esta- sa contra animais ferozes. O desenvolvimento das técnicas de combustão da lenha tornou-se a
ções de tratamento de lixo urbano. A carga poluente assim produzida é muito elevada, e impõe base energética da civilização antiga, levando ao desenvolvimento de atividades importantes,
a necessidade de criação de soluções que permitam diminuir os danos provocados por essa po- como a fabricação de vidro, a fundição de metais, a cerâmica, etc.
luição, uma das quais é a utilização dessa biomassa para geração de energia. A energia dessa bio- Pode-se obter a lenha através do extrativismo da mata nativa ou a partir de áreas refloresta-
massa pode ser aproveitada de duas formas, ou através da conversão termoquímica ou através das. A lenha continua a ser usada ainda hoje por aproximadamente metade da população da
da conversão biológica. A primeira se refere à utilização de vegetais e rejeitos orgânicos para Terra, em lareiras, fornalhas, fogões a lenha, caldeiras industriais, principalmente por ser uma
produzir calor mediante a combustão (queima). O segundo tipo de conversão acontece por me- fonte energética de baixo custo.
io da fermentação anaeróbica, na qual a matéria orgânica se descompõe em presença de bactéri- Quando a extração é feita de modo irracional, as conseqüências para o ambiente podem ser

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notáveis, como por exemplo, a destruição dos habitats de várias espécies da fauna e flora, mu- Com o caldo extraído, através de moendas, pode-se produzir garapa, pinga, açúcar, rapadu-
danças climáticas e, conseqüentemente, o desequilíbrio ecológico. Sendo assim, uma das alter- ra, álcool combustível e álcool de cozinha.
nativas para evitar que danos ambientais causados pelo desmatamento de florestas nativas
Atualmente, usa-se o bagaço da cana como combustível para a geração de energia elétrica
aconteçam, está em fazer o plantio de espécies apropriadas em áreas de reflorestamento para a
em turbinas a vapor.
produção da lenha. O pinheiro é a árvore mais utilizada nos reflorestamentos porque sua made-
ira possui baixa quantidade de água em sua composição, caracterizando-se como boa produto- No Brasil, afirma-se que coube a Martim Afonso de Souza a instalação do primeiro engenho,
ra de calor. A serragem e os cavacos que sobram das serrarias ou do corte de madeiras apresen- na capitania de São Vicente - SP, no ano de 1.533. O segundo foi instalado em Pernambuco, por
tam melhor combustão porque são pequenos em relação aos troncos. Jerônimo de Albuquerque, em 1.535. O Brasil é o segundo país do mundo com grandes canavi-
ais, que abrangem Estados como São Paulo, Paraná, Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, Mato
Carvão vegetal
Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Paraíba, ficando abaixo da Índia que ainda é o pri-
O carvão vegetal é obtido pela queima da madeira em fornos especiais, feitos de alvenaria, meiro produtor mundial de cana.
que atingem uma temperatura média de 500ºC. O Brasil é o maior produtor de carvão vegetal
O processo de produção do álcool, que é um biocombustível, está apresentado na cartilha de
do mundo, atendendo cerca de um quarto de toda energia consumida nos altos fornos brasilei-
dendroenergia.
ros. Aproximadamente 30% desse carvão é obtido a partir de reflorestamento sendo que os res-
tantes 70% vêm do desmatamento de grandes áreas do cerrado ao norte de Minas Gerais, sul da Resíduos Sólidos e Líquidos Urbanos
Bahia, na região de Carajás no Pará e no Maranhão. As indústrias de fabricação de ferro e aço Por resíduo sólido entende-se qualquer material inútil, indesejável ou descartado, cuja com-
consomem 85% do carvão produzido, as residências 9%, o comércio como as churrascarias, piz- posição ou quantidade de líquido não permita que escoe livremente. Segundo o CONAMA são
zarias e padarias 1,5%. É usado, também, nas locomotivas a vapor ainda existentes em alguns lu- os "resíduos nos estados sólido e semi-sólido que resultam de atividades da comunidade, de ori-
gares do Brasil. gem industrial, comercial, doméstica, hospitalar, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam in-
Óleos vegetais cluídas nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gera-
dos em equipamentos de controle da poluição, bem como determinados líquidos cujas particu-
Dentro dos tecidos existentes nas folhas ou caule de alguns vegetais, há uma substância oleo-
laridades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água, ou exi-
sa que pode ser utilizada para queimar. Também, pode-se obter essa substância de algumas se-
jam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia dispo-
mentes que, ao passar por um processo mecânico de pressão, são quebradas. Depois deste pro-
nível" (Resolução nº 5, de 5.08.93, do CONAMA). Já os resíduos líquidos urbanos são os efluen-
cesso mecânico, é aplicado um processo químico que usa o hexano (solvente líquido) para ex-
tes domésticos e industriais.
trair somente o óleo. Posteriormente, esse óleo vai ser refinado, clarificado e desodorizado per-
dendo, assim, o cheiro forte. Resíduos sólidos agrícolas

Os óleos vegetais são provenientes de Resíduos sólidos resultantes da criação e abate de animais e do processamento da produção
plantas oleaginosas como a soja, o algodão, o das plantações e cultivos.
dendê, o girassol, a mamona, a palma (figura
1.2), entre outros. A principal utilização dos
óleos vegetais, além da produção dos óleos co- Fique por dentro!
mestíveis e lubrificantes, será, no futuro, co-
A lenha é um combustível composto de celulose, resina, água e sais minerais.
mo biodiesel, que é uma alternativa ao diesel
Figura 1.2: Plantação de palmas derivado do petróleo. Além da Índia e do Brasil, estão entre os principais países do mundo na produção ca-
navieira a Tailândia, o México, a Austrália e a África do Sul.
Cana-de-açúcar
Os bagaços da cana, também, podem ser utilizados como ração para animais confina-
A cana-de-açúcar é originária da Ásia e foi introduzida na América, por Cristóvão Colombo, dos e adubo para as lavouras.
em meados de 1.492. Tem grande uso na pecuária, pois serve de alimento para o gado.

06 07
Capítulo 2
O biogás
2.1 - Histórico do Biogás

Apesar do processo de biodigestão anaeróbia ser conhecido há muito tempo, só mais recen-
temente é que tem sido desenvolvido e difundido mundialmente. A China tem sido o país que
mais desenvolveu o biogás no âmbito rural, visando atender, principalmente, a necessidade de
energia para cozimento e iluminação doméstica (MASSOTTI, 2004). Acredita-se que haja mais
de 8 milhões de unidades no país. A Índia também tem desenvolvido uma larga propagação de
biodigestores, possuindo um total de 150 mil unidades instaladas.
No Brasil os estudos com biogás foram iniciados de maneira mais intensa em 1976. Apesar
disso, os resultados alcançados já nos asseguram um bom domínio tecnológico e podemos nos
qualificar como aptos a desenvolver um vasto programa no âmbito nacional com biogás, seja no
Responda: setor agrícola ou no setor industrial.
EXERCÍCIOS

1) O que é biomassa?
2.2 - Características do Biogás
2) A biomassa pode ser considerada uma fonte renovável de energia?
Para que devemos utilizar fontes renováveis de energia?
"O Biogás é um gás inflamável produzido por microorganismos, quando matérias orgânicas
3) Quais os principais tipos de biomassa?
são fermentadas dentro de determinados limites de temperatura, teor de umidade e acidez, em
4) Quais as principais vantagens da utilização da biomassa? um ambiente impermeável ao ar”.
O metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor, mas os outros ga-
ses presentes conferem-lhe um ligeiro odor de alho ou de ovo podre.
A presença do gás sulfídrico (H2S) no biogás, torna-o corrosivo, sendo portanto necessário
um tratamento antes de seu uso. Este tratamento consiste em eliminar o gás sulfídrico por meio
de uma lavagem com lixívia de Hidróxido de Potássio. O resultado será um sal que poderá ser
adicionado ao biofertilizante para enriquecê-lo com enxofre e potássio (MARTINS, 2003).
Segundo o TECPAR, 2002, outra maneira de remover o gás sulfídrico é através da utilização
de esponjas ou limalhas de ferro e resíduos de serragem da madeira, formando assim um filtro
purificador. O ferro metálico em contato com o gás sulfídrico reage formando sulfetos de ferro.
A serragem serve para absorver a umidade e evitar formação de blocos de ferro no interior do fil-
tro, os quais impediriam a circulação do biogás dentro do purificador. Após certo período, todo
o ferro é transformado em sulfeto, assim o filtro perde sua capacidade de purificação, sendo ne-
cessária a renovação da carga do purificador.

08 09
A digestão anaeróbica para produção de biogás possui vantagens e desvantagens conforme - 0,55 litro de diesel;
relacionado a seguir (TECPAR, 2002). - 0,45 litro de gás de cozinha;
As vantagens são: - 1,53 quilo de lenha;
- É um processo natural para tratamento de rejeitos orgânicos; - 0,79 litro de álcool hidratado;
- Requer menos espaço que aterros sanitários; - 1,43 kW.
- Diminui o volume de resíduo a ser descartado; Em uma propriedade o biogás pode ter diversas utilizações, entre as quais pode-se citar:
- Reduz significativamente a quantidade emitida de dióxido de carbono (CO2) e de meta- - no fogão a gás;
no (CH4), gases causadores do efeito estufa;
- na geladeira a gás ou querosene;
- Apesar do custo inicial, numa perspectiva em longo prazo o processo resulta numa
- no lampião a gás;
grande economia, pois reduz gastos com eletricidade, transporte de botijão de gás, esgoto,
descarte dos demais resíduos, etc. - no aquecimento de água;

As desvantagens são: - em motores térmicos;

- Formação de gás sulfídrico, gás tóxico com cheiro desagradável; A tabela a seguir mostra o consumo de biogás em algumas atividades. (CETEC, 1982)

- Dependendo do tipo de resíduo a quantidade de biogás será maior ou menor, o que im- Tabela 2.1. Consumo do biogás em diferentes utilidades
plica numa possível etapa de tratamento do gás obtido, dependendo do uso dado ao mesmo; Utilização Consumo
- Custo extra de manutenção devido à escolha adequada do material utilizado na cons- Cozinhar 3
0,33 m /dia/pessoa
trução do biodigestor, pois há formação de gases corrosivos (CETTO, 2002). Iluminação com Lampião 0,12 m3/hora/lampião
O transporte do biogás para seu uso final deve ser feito por uma bomba compressora de gás, Chuveiro a Gás 0,8 m3/banho
caso o seu destino seja uma distância superior a 500 metros do local de produção. Isto é necessá- Incubador 0,71 m3/m3 Espaço Interno/hora
rio uma vez que o biogás é produzido e armazenado sob baixa pressão (FERRAZ e MARRIEL,
Motor Combustão Interna. 0,45 m3/Hp/hora
1980). Considerando que, usualmente, o biogás é utilizado em lugar afastado do seu local de pro-
dução, o transporte por compressores evita a formação de “barrigas d'água” nas tubulações cau- Aquecedor Água a 100ºC 0,08 m3/litro

sadas pelo vapor d'água presente no gás. A água condensa pela diferença de temperatura entre Gerar eletricidade (1kWh) 0,62 m3
o interior da tubulação e o ar ou solo (quando estão enterradas) (TECPAR, 2002).
Quando o metano queima produz uma chama geradora de uma grande quantidade de
energia térmica. Segundo BARNETT et al 1978, a queima de 1 m3 de biogás gera entre 5.200 e
5.900 kcal de energia térmica (1kcal é o suficiente para aquecer 1 kg de água em 1 °C). Esta varia-
2.3 - Composição Química do Biogás
ção decorre de sua maior ou menor pureza, ou seja, maior ou menor quantidade de metano. O
biogás altamente purificado pode alcançar 12.000 kcal por metro3 (TECPAR, 2002). Apresenta-
se, à seguir, a comparação entre o poder calorífico de 1 m3 de biogás e outros produtos A mistura dos gases que constituem o biogás é resultante do tipo de material orgânico
(BARRERA, 1993). 1 m3 de biogás corresponde a: degradado biologicamente. A Tabela 2.2 mostra a composição média dos gases que formam o
- 0,61 litro de gasolina; biogás:

- 0,58 litro de querosene;

10 11
2.3.1 Diferentes biomassas e a produção de biogás
A biomassa colocada dentro do biodigestor pode estar seca ou molhada. A única dife-
rença que existe entre esses dois tipos é a capacidade de produção, ou seja, a quantidade de gás
que será produzido, pois a biomassa seca apresenta maior rendimento na produção. A tabela
2.3. apresenta, aproximadamente, quanto de excremento um animal pode produzir por dia. Já a
Tabela 2.4 apresenta qual a quantidade necessária de resíduo de diferentes animais para se pro-
duzir um m3 de biogás.

Tabela 2.2: Composição do biogás processado num biodigestor: (Castanón, 2002)


Atividades:
Gases Porcentagem (%)
Metano (CH4) 40 – 75 5) Resolva:
Dióxido de Carbono (CO2) 25 – 40 a) Um sitiante possui 10 vacas em seu curral. Qual será a produção de
Nitrogênio (N) 0.5 – 2.5 resíduo orgânico no fim de 1 dia completo? Quantos m3 de biogás pode-
Oxigênio (O) 0.1 – 1 rão ser produzidos com essa quantidade?
Acido sulfídrico (H2S) 0.1 – 0.5

EXERCÍCIOS
Amoníaco (Nh3) 0.1 – 0.5 b) Na fazenda Santo Antônio existem 100 cabeças de porcos. Qual será
Monóxido de Carbono (CO) 0 – 0.1 a produção de resíduo orgânico em 1 mês (30 dias)? (OBS: considerar 2,5
Hidrogênio (H) 1-3 kg/dia)

Tabela 2.3: Produção diária de resíduos líquidos e esterco de diversos animais. c) Numa fazenda de criação de gado leiteiro existem 100 cabeças de ga-
(KONZEN,1980 apud OLIVEIRA, P. A. V, 1993) do. Qual seria a produção de biogás durante 1 dia? E durante 1 mês (30 di-
Resíduo Unidade Suínos Frango Corte Gado Corte Gado Leite Ovinos as)?
Líquidos %/dia (PV) 5,1 6,6 4,6 9,4 3,6
Sólidos Kg/animal/dia 2,3 – 2,5 0,12 – 0,18 10 - 15 10 - 15 0,5 – 0,9 d) Para que se possa ter no final de 1 dia 50 kg de adubo orgânico,
quantas cabeças de gado tenho que possuir? Qual será a produção de bio-
Tabela 2.4 - Quantidade de rejeitos para a produção de 1 m3 de biogás. gás em 1 dia?
(CASTANÓN, 2002).
Matéria -Prima Quantidade
Esterco fresco de bovino 25 Kg
Esterco seco de galinha 2,3 Kg
Resíduos secos de vegetais 2,5 Kg
Esterco seco de suíno 2,86 Kg

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Capítulo 3 3.2 Condições Indispensáveis à Digestão Anaeróbica
Processos de produção do biogás
3.1 Biodigestão Anaeróbica As condições ótimas de vida para os microorganismos anaeróbios são:

A digestão anaeróbia é um processo segundo o qual algumas espécies de bactérias que atu- Impermeabilidade ao Ar
am na ausência de oxigênio atacam a estrutura de materiais orgânicos complexos, para produ- Nenhuma das atividades biológicas dos microorganismos, inclusive seu desenvolvimento,
zir compostos mais simples como metano, dióxido de carbono, água, etc, extraindo, simultane- reprodução e metabolismo, exigem oxigênio, a cuja presença são eles, de fato, muito sensíveis.
amente, a energia e os compostos necessários para o seu próprio crescimento. A transformação A decomposição de matéria orgânica na presença de oxigênio produz dióxido de carbono
da matéria orgânica em diversas substâncias químicas, no decurso da fermentação anaeróbia, (CO2); na ausência de ar (oxigênio) produz metano. Se o biodigestor não estiver perfeitamente
processa-se através de uma cadeia de degradações sucessivas devidas a diferentes tipos de bac- vedado a produção de biogás é inibida.
térias. No entanto, só as bactérias anaeróbias metanogênicas produzem gás metano. Pertencem Temperatura adequada
a quatro grupos morfológicos e são muito sensíveis a variações de temperatura, atuando numa
A temperatura no interior do digestor afeta sensivelmente a produção de biogás. A ativida-
faixa entre 10 a 45°C. Essencialmente distinguem-se duas fases nos processos de fermentação
de enzimática das bactérias depende intimamente da temperatura. Ela é fraca a 10ºC e nula aci-
metanogênica. A primeira fase é uma transformação das moléculas orgânicas em ácidos graxos,
ma dos 65ºC. A faixa dos 20ºC a 45ºC, corresponde à fase mesofílica, enquanto que entre os 50ºC
sais ou gás. A segunda é a transformação destes numa mistura gasosa essencialmente constituí-
e os 65ºC, temos a fase termofílica. A opção por uma temperatura de trabalho terá de resultar do
da por metano e dióxido de carbono. O organismo anaeróbio não pode sobreviver em locais
compromisso entre o volume de gás a produzir, o grau de fermentação e o tempo de retenção.
com oxigênio, e por esse motivo no digestor não deve entrar o ar atmosférico. As reações bioquí-
Na fase mesofílica, as variações de temperatura são aceitáveis desde que não sejam bruscas. O
micas principais que ocorrem no processo caracterizam os grupos de microorganismos predo-
mesmo não acontece com a fase termofílica, onde as variações não são aconselháveis. Todavia,
minantes, podendo o mesmo ser dividido em quatro etapas: hidrólise, acidogênese, acetogêne-
ela permite cargas mais elevadas e um tempo de retenção menor, com maiores taxas de produ-
se e metanogênese. A figura 3.1 a seguir apresenta o esquema do processo de biodigestão anae-
ção de gás.
róbia.
Nutrientes
Polímeros Complexos
(Matéria Orgânica) Os principais nutrientes dos microorganismos são carbono, nitrogênio e sais orgânicos.
Proteínas, Carboidratos e Ácidos Graxos
Hidrólise Hidrólise
Uma relação específica de carbono para nitrogênio deve ser mantida entre 20:1 e 30:1. A princi-
pal fonte de nitrogênio são as dejeções humanas e de outros animais, enquanto que os políme-
Aminoácidos, açucares Ácidos graxos voláteis, álcoois ros presentes nas culturas restantes são os principais fornecedores de carbono.
Teor de Água
Redução Sulfato

Acidogênese

Ácidos graxos de cadeia longa,


O teor de água deve, normalmente, situar-se em torno de 90% do peso do conteúdo total. Tan-
Butirato, Propianato, etc to o excesso, quanto a falta de água são prejudiciais. O teor de água varia de acordo com as dife-
renças apresentadas pelas matérias-primas destinadas à fermentação.

Hidrogênio, dióxido de carbono


pH
Acetato
Em meio ácido, a atividade enzimática das bactérias é anulada. Num meio alcalino, a fer-
Metanogênese Hidrogenotrópica Metanogênese Acetoclástica
mentação produz anidrido sulfuroso e hidrogênio. A digestão pode efetuar-se entre o pH de 6,6
Metano, dióxido de carbono
Redução Sulfato Redução Sulfato e 7,6. Para valores abaixo de 6,5 a acidez aumenta rapidamente e a fermentação pára.
Sulfito de hidrogênio e Dióxido de Carbono Substâncias Tóxicas
Figura 3.1 - Digestão anaeróbia da matéria orgânica.(adaptado de LETTINGA,1985). A presença de matérias tóxicas, detergentes e outros produtos químicos deve ser evitada ao

14 15
máximo, pois basta uma concentração muito baixa destes produtos para provocar a intoxicação
Capítulo 4
e morte das bactérias. Qualquer elemento em solução no digestor, em excesso, pode provocar
Biodigestores
sintomas de toxidez ao meio bacteriano. A definição exata da concentração em que estes ele-
mentos passam a ser nocivos é difícil, devido à complexidade do processo. A presença de hidro- Cientificamente Biodigestão é um processo de degradação, transformação ou decomposi-
carbonetos-clorofórmio, tetra cloreto de carbono e outros usados como inseticidas ou solventes ção de substâncias vegetais e ou animais (conhecidas por Matéria Orgânica), realizado por mi-
industriais constituem fortes agentes tóxicos à digestão anaeróbia. A presença do íon amônio croorganismos ou bactérias.
em digestores com altas taxas de produção, é um significante problema. Segundo Magalhães, 1986, o biodigestor é uma câmara na qual ocorre um processo bio-
químico denominado digestão anaeróbica, que tem como resultado a formação de biofertilizan-

Anotações:
tes e produtos gasosos, principalmente o metano e o dióxido de carbono.
Genericamente, de acordo com sua utilização, os biodigestores podem ser classificados
em três tipos:
1 - Biodigestores Industriais
2 - Biodigestores Urbanos
3 - Biodigestores Agrícolas (setores rurais)
O sistema que permite o mais eficiente funcionamento do biodigestor é constituído pe-
los seguintes componentes (MAGALHÃES, 1986):
Tanque de entrada: local onde são depositados os dejetos;
Tubo de carga: conduto através do qual se faz a introdução do resíduo no digestor;
Digestor: tanque fechado onde se processa a fermentação da matéria orgânica;
Septo: parede que divide e direciona o fluxo do resíduo dentro do digestor;
Gasômetro: câmara em que se acumula o biogás gerado pela digestão anaeróbia;
Tubo de descarga: conduto pelo qual é expelido o resíduo líquido depois de fermentado;
Leito de secagem: tanque onde é recolhido o resíduo líquido, que após a perda do excesso de
água se transforma no biofertilizante;
Saída do biogás: tubulação instalada na parte superior do gasômetro para conduzir o biogás
até o ponto de consumo.

4.1 Tipos de Biodigestores

Vários foram os sistemas de digestão concebidos, sendo impressionante o número de


digestores diferentes que existem. No entanto, distinguem-se dois grandes tipos ou dois pro-
cessos de digestores: os contínuos e os descontínuos. A escolha de um sistema depende, essen-

16 17
edifício de criação tanque para adubação
cialmente, das características do substrato, das necessidades de depuração, da disponibilidade
de mão-de-obra e de condições de ordem econômica. Existem vários tipos de biodigestores, co- bomba facultativa
gás
mo:
a) horizontais ou verticais; cuba de armazenagem e de mistura digestor contínuo armazenagem
(substrato líquido) de efluente
b) alvenaria ou concreto;
Figura 4.2 - Diagrama esquemático do Biodigestor tipo Contínuo
c) plástico ou lona;
d) metal ou fibra de vidro. Num sistema contínuo a matéria orgânica é introduzida na cuba de fermentação com uma
Quanto à forma de carregamento os biodigestores podem ser classificados em descon- determinada taxa de diluição (a qual depende do tipo de matéria orgânica a fermentar), onde fi-
tínuos (batelada) e contínuos. ca retida durante vários dias. O tempo de retenção resulta de um compromisso entre o volume
de gás a produzir, o grau de digestão que se pretende e a temperatura de funcionamento. De-
pois de carregada a cuba e iniciada a fermentação, impõe-se a estabilização do sistema. É impor-
4.1.1 Processo descontínuo (batelada) tante a verificação de todos os parâmetros como o pH, temperatura, qualidade do efluente, pro-
O biodigestor de batelada é um modelo simples, próprio para produções pequenas de dução e qualidade do gás. É de notar que a estabilização poderá ser demorada e exigir corre-
biogás. Este tipo de digestor recebe um carregamento de matéria orgânica, que só é substituído ções. Neste tipo de fermentação, é absolutamente necessária a agitação da matéria orgânica incu-
após um período adequado à digestão de todo o lote. Trata-se de um tanque de alvenaria, metal bada, a fim de evitar a formação de crostas na superfície, bem como a deposição de matéria no
ou fibra de vidro, o qual é carregado, fechado e, depois de 15 a 20 dias de fermentação (isso em fundo, e permitindo uma homogeneização na concentração das bactérias e manutenção de uma
função ao tamanho do biodigestor), começa a produzir biogás. Depois de usar o gás, o biodiges- temperatura uniforme no interior da cuba. A produção de biogás é uniforme no tempo e a quan-
tor de batelada é aberto, descarregado, para logo ser limpo e novamente recarregado, reinician- tidade produzida é função do tipo de matéria orgânica utilizada. A seguir estão alguns exem-
do o processo. É interessante e recomendável ter duas unidades. Quando um biodigestor come- plos de diferentes modelos de biodigestores:
ça a produzir, o outro é carregado, e quando acaba o biogás de um, o outro já começa a produzir.
(figura 4.1)
MODELO CHINÊS
Armazenagem e utilização do biogás Na China o estudo do biogás começou por volta de 1900, tendo sido desenvolvido o pri-
estrume sólido
substrato digerido
meiro processo em 1920, que só foi patenteado em 1930. A difusão do uso do biodigestor inici-
ou-se em 1929-1930 em mais de 20 distritos. Em 1931, formou-se a Primeira Companhia de bio-
gás em Xangai. A partir de 1934, iniciaram-se cursos de treinamento em escala nacional, atingin-
do maior grau de desenvolvimento na década de 70, devido ao apoio do Governo Central e a es-
digestores descontínuos
cassez de lenha para a combustão. Em fins de 1970 foram construídos modelos – piloto para di-
Figura 4.1 - Sistema descontínuo (batelada) de produção de biogás
vulgação do consumo de biogás do meio rural para a zona urbana. O rápido desenvolvimento
ou a urgência no programa de divulgação e implantação dos digestores deveu-se a falta de le-
nha, ansiedade da população para melhoria das condições de vida e amplo apoio do Governo.
4.1.2 Processo contínuo
Embora o carvão mineral, petróleo e o gás natural fossem abundantes, o problema de transporte
Os biodigestores contínuos, do tipo mostrado na figura 4.2, são construídos de tal for-
tornou inviável seu fornecimento.
ma que podem ser abastecidos diariamente, permitindo que a cada entrada de material orgâni-
co a ser processado exista uma saída de material já processado. Os modelos mais conhecidos de No modelo chinês a cúpula é fixa, de alvenaria, guarnecida por uma espécie de válvula,
biodigestores contínuos são o Indiano e o Chinês. Ambos são construções que possuem a sua composta por uma tampa e pressionada por um deposito de água. A característica desse mode-
maior parte abaixo do nível do solo. lo exige que se esgote o gás com mais freqüência, a fim de evitar o desperdício.

18 19
Como vantagens do digestor tipo chinês pode-se citar: mão, sendo portanto o primeiro digestor em regime contínuo de alimentação.
-Este modelo tem um custo mais barato em relação aos outros, pois a cúpula é feita de alve- No modelo indiano a cúpula vai subindo em torno de uma guia de metal à medida que
naria. se enche de gás, funcionando como gasômetro . Seu peso acaba imprimindo certa compressão
-O biodigestor chinês é o que ocupa menos espaço na superfície do solo. ao gás estocado. Esta compressão pode ser aumentada por fixação de pesos na cúpula de metal.
Através desse sistema imprime-se maior pressão quando for necessário aumentar a velocidade
-Como é construído completamente enterrado no solo (tanto o digestor, como o gasômetro),
de saída do gás, conforme apresentado na figura 4.4.
sofre muito pouca variação de temperatura.
Como desvantagens podem-se citar: coleta de gás

-O sistema de comunicação entre a caixa de carga e o digestor, sendo feito através de tubos,
está sujeito a entupimentos. entrada de resíduos
-Tem limitação quanto ao tipo de solo. Sua construção em solos superficiais não é indicada. animais
coleta de fertilizante
Não é um biodigestor próprio para acúmulo de gás, devido a sua construção de cúpula fixa gás gás

(a área de reserva de gás é menor). É um modelo mais indicado na produção de biofertilizante.

carga saída de gás


tanque de fermentação

Figura 4.4 - Diagrama esquemático do biodigestor tipo Indiano


descarga
câmara de gás Como vantagens do digestor tipo indiano pode-se citar.
-O digestor do modelo indiano é construído enterrado no solo e, como a temperatura do solo
é pouco variável, o processo de fermentação que ocorre em seu interior tem a vantagem de
sofrer pouca variação de temperatura. A temperatura elevada favorece a ação das bactérias
câmara de digestão câmara reguladora (responsáveis pelo processo de fermentação anaeróbia) e a sua queda provoca uma menor
produção de biogás.
-Ocupa pouco espaço do terreno (em relação ao da marinha), porque sua maior extensão é
vertical.
Figura 4.3 - Vista lateral do biodigestor tipo chinês
-Em termos de custos, sendo as paredes do digestor construídas dentro do solo, o modelo dis-
pensa o uso de reforços, tais com cintas de concreto, o que barateia as despesas.
MODELO INDIANO
Como desvantagens podem-se citar.
As origens da produção do gás assim como sua utilização remotam ao ano de 1937. Em 1978,
-Quando a cúpula for de metal, ela está sujeita ao problema de corrosão. Para evitá-lo, reco-
a Índia já apresentava um total de 75 mil unidades implantadas, sendo o modelo mais ampla-
menda-se fazer uma boa pintura com um antioxidante.
mente difundido o denominado GOBAR (esterco bovino). A primeira instalação em regime de
batelada para a produção de biogás foi construída em Bombaim em 1857. Intensivas pesquisas -O sistema de comunicação entre a caixa de carga e o digestor, sendo feito através de tubos, fi-
foram mais tarde conduzidas por S.V. Desal e Mr. Biswas que patentearam, em 1946, uma uni- ca sujeito a entupimentos.
dade de geração de biogás a partir da decomposição de esterco bovino, inspirada em modelo ale- -Sua construção é limitada para áreas de lençol freático alto, ou seja, não é um modelo indica-

20 21
do para terrenos superficiais, pois nestes casos pode ocorrer infiltração. 4.2 Operação e Carregamento do Biodigestor
As diferenças entre os modelos chinês e indiano de biodigestores não são expressivas. O de-
talhe se refere à cúpula do gasômetro, região onde fica armazenado o biogás gerado pela fer-
O teor de água deve normalmente situar-se em torno de 90% do peso do conteúdo total
mentação. O biodigestor indiano tem cúpula móvel de metal, na qual o gás é retido e a partir de
(www.recolast.br). Tanto o excesso quanto a falta de água são prejudiciais. O teor da água varia
onde pode ser distribuído. Já o modelo chinês tem cúpula fixa de alvenaria e uma câmara cilín-
de acordo com as diferenças apresentadas pelas matérias-primas destinadas à fermentação.
drica para fermentação com o teto em forma de arco, onde o gás fica retido.
Independentemente do processo de decomposição da parte sólida dos dejetos, haverá necessi-
MODELO DA MARINHA dade (pela própria legislação) de um prévio tratamento para a água usada para diluição. Se esta
É um modelo do tipo horizontal, que tem a largura maior que a profundidade. Sua área “água” for ser usada para fertirrigação, deveremos eliminar os microorganismos patogênicos
de exposição ao sol é maior, com isso é maior a produção de biogás. Sua cúpula é de plástico ma- para não haver contaminação dos alimentos ou do lençol freático. Esta opção permite instalar o
leável, tipo PVC, que infla com a produção de gás, como um balão. Devido a isto também é co- tanque o mais próximo possível do cultivo, permitindo um melhor manejo, com menor custo
nhecido como tipo lona. Pode ser construído enterrado ou não. A caixa de carga é feita em alve- tanto de energia elétrica como da operação.
naria, por isso pode ser mais larga evitando o entupimento. A cúpula pode ser retirada, o que Em hipótese alguma deve-se colocar no digestor fertilizantes fosfatados. Sob condições de to-
ajuda na limpeza. tal ausência de ar, este material pode produzir fosfina, extremamente tóxica, cujo contato será fa-
Como vantagens do digestor tipo chinês pode-se citar. tal. No caso de vazamentos deixar o ar circular para que haja ventilação dentro da casa. Se al-
guém sentir cheiro forte de ovo podre, abrir as portas e janelas para expelir o gás, e evitar acen-
-A área sujeita à exposição solar é maior, facilitando a produção de gás.
der cigarro ou fósforo. Na utilização do biogás, acende-se primeiro o fósforo e depois abre-se a
-Sua construção não exige restrições a tipo de solo, não exigindo solos profundos porque é válvula de gás.
um modelo de tipo horizontal, podendo ser construído tanto enterrado, quanto sobre a su-
Como vimos anteriormente, a temperatura no interior do digestor afeta sensivelmente a pro-
perfície do solo.
dução de biogás. “Todos os microorganismos produtores de metano são muito sensíveis a alte-
-A comunicação da caixa de carga para o digestor, feita de alvenaria, é mais larga, evitando rações de temperatura; qualquer mudança brusca que exceder a 30°C afeta a produção. É preci-
com isso entupimento e facilitando a manutenção. so assegurar uma relativa estabilidade de temperatura”.
-A limpeza do digestor é mais fácil porque a cúpula pode ser retirada facilmente. "É arbitrário pensar que quanto maior o digestor mais gás produzirá". Já foi dito que "o su-
Desvantagens: cesso de um digestor depende da sua operação". No caso de um grande digestor, se não for feito
-Neste modelo, como no indiano, temos o custo da cúpula. abastecimento regular de matéria-prima e não houver manutenção adequada, a produção de
gás poderá ser inferior à de um digestor pequeno. A idéia de que é melhor possuir um grande di-
gestor do que um pequeno deve ser combatida. Naturalmente, o volume do digestor não deverá
ser tão pequeno que a produção de gás seja insuficiente e as necessidades não sejam atendidas.
Fique por dentro!
O desenvolvimento de um programa de biogás também representa um recurso eficiente pa-
ra tratar os excrementos e melhorar a higiene e o padrão sanitário do meio rural. “O lançamento
Antes de fazer a limpeza deve-se certificar de que não há produção de gás para evitar o con-
de dejetos humanos e animais num digestor de biogás soluciona os problemas de dar fim aos
tato com substâncias tóxicas. Na China costuma-se fazer um teste colocando dentro do biodi-
ovos dos esquistossomos e ancilóstomos, bem como de bactérias, bacilos desintéricos e paratífi-
gestor uma galinha viva.
cos e de outros parasitas”.
No caso de biodigestores em que há possibilidade da entrada de uma pessoa, torna-se neces-
sário o uso de uma mangueira que será usada como um “respirador” onde uma das extremida- Para evitar que haja modificação na pressão interna do gás, o carregamento e a descarga de-
des ficará fora do aparelho e a outra na boca da pessoa. vem ser feitos ao mesmo tempo ou logo após o descarregamento da sobra da biomassa, que po-
de ser retirada utilizando uma lata de tinta, de querosene, enxada ou bomba de sucção. O biodi-
gestor deve ser limpo pelo menos duas vezes ao ano, fazendo a retirada da sobra de biomassa.

22 23
4.3 Biofertilizante do muitas vezes a absorção, pela raiz, da água e de nutrientes do solo como o potássio e o nitro-
gênio que influenciam na germinação e crescimento da planta.
Vale ressaltar que vários estudos apontam o uso da biomassa como importante fonte
O biofertilizante é a sobra de biomassa que fica dentro do biodigestor depois que o bio-
energética do futuro, pois sua matéria-prima é renovável, ou seja, passa por ciclos. Desta forma,
gás é produzido. Ao ser retirada e devidamente tratada constitui-se num excelente adubo orgâ-
torna-se imprescindível aprimorar cada vez mais os estudos sobre essa fonte.
nico para a fertilização do solo e, conseqüentemente, para o desenvolvimento das plantas. Cons-
titui-se em uma fonte de macro e micronutrientes, principalmente o Nitrogênio e Fósforo (prin-
cipais componentes dos adubos industrializados). Além disso tem grande facilidade de imobi-
lização pelos microorganismos no solo devido ao avançado grau de decomposição (FARIAS,
1958). Segundo PARCHEN, 1981, os principais efeitos do adubo orgânico no solo são uma me-
Anotações:
lhor estruturação, maior capacidade de retenção-hídrica, maior atividade microbiana, maior so-
lubilização dos nutrientes do solo e a redução nos processos de erosão. Por causa da ação das
bactérias FARIAS, 1958, cita que o adubo orgânico se apresenta rico em nutrientes e isento de
mau cheiro (com cheiro de terra limpa), possuindo excelente qualidade, não atraindo moscas e
outros insetos, sendo livre de agentes transmissores de doenças. São reconhecidos os excelentes
resultados que se obtêm pela utilização desse material como biofertilizante em culturas agríco-
las. Opcionalmente, se for da conveniência do produtor, o adubo digerido pode ser bombeado
ainda em estado fluído até o local de utilização e lançado ao solo sem nenhum inconveniente pa-
ra as plantações (MORAES, 1980).
Com base no exposto podemos citar as seguintes vantagens do uso de biofertilizante.
-não há nenhum custo, se comparado aos fertilizantes inorgânicos;
-não propaga mau cheiro;
-é rico em nitrogênio, substância muito escassa;
-a biomassa que fica dentro do biodigestor, sem contato com o ar, mata todas as bactérias ae-
róbias e germes existentes nas fezes e demais matérias orgânicas;
-está livre dos parasitas da esquistossomose, de vírus da poliomielite e bactérias como a do ti-
fo e malária;
-recupera terras agrícolas empobrecidas em nutrientes pelo excesso ou uso contínuo de ferti-
lizantes inorgânicos, ou seja, produtos químicos;
-é um agente de combate a erosão, porque mantém o equilíbrio ecológico retendo maior
quantidade de água pluvial; e
-o resíduo da matéria orgânica apresenta uma capacidade de retenção de umidade pelo solo,
permitindo que a planta se desenvolva durante o período da seca.
Por outro lado, vale destacar que a única desvantagem do uso de biofertilizante é a não eli-
minação da acidez do solo, causada pelo uso exagerado de fertilizantes inorgânicos dificultan-

24 25
Capítulo 5
Outras tecnologias para conversão energética
Como foi visto anteriormente, a produção de biogás acontece a partir de processos biológi-
cos na ausência de oxigênio. Mas, existem outros processos que produzem gases a partir de bio-
massa, chamados gases pobres. Possuem este nome devido a presença de metano em menores
Atividades, responda:
quantidades atribuindo a este gás um baixo poder calorífico.
a) Explique como é o processo da biodigestão anaeróbia e quais as
As tecnologias de aproveitamento do potencial da biomassa sólida são essencialmente as uti-
principais fases?
lizadas em centrais térmicas com diferentes tecnologias ou centrais de cogeração para a produ-
b) Quais os principais fatores que influenciam a biodigestão anaeró- ção de energia elétrica e calor, ou ainda a queima direta para a produção de calor. Os principais
bia? processos referidos acima são:
c) O que é um biodigestor? Combustão ou queima direta: Transformação da energia química do combustível em calor
d) Quais as partes constituintes de um biodigestor? por meio das reações dos elementos constituintes dos combustíveis com oxigênio (o ar ou o oxi-
gênio são fornecidos além da quantidade estequiométrica).
6) Relacione as colunas:
Gaseificação: conversão termoquímica realizada a temperaturas elevadas através da oxida-
(1) Modelo Contínuo;
ção parcial dos elementos combustíveis da biomassa produzindo um gás utilizável em diferen-
EXERCÍCIOS

(2) Modelo descontínuo; tes tecnologias (turbinas a gás, motores de combustão interna, caldeiras, etc).
(3) Modelo Chinês; Pirólise: processo termoquímico que consiste na degradação térmica da biomassa em au-
(4) Modelo indiano; sência de ar (total ou parcial) a temperaturas relativamente baixas, transformando-a em com-
bustível sólido (carvão vegetal), líquido (biocombustíveis) e gasoso (gás). Esta fração depende
(5) Modelo da Marinha
da temperatura e do tempo de residência.

Sua cúpula é de plástico maleável, tipo PVC, que infla com a pro-
dução de gás, como um balão. Pode ser construído enterrado. 5.1 Uso de Biomassa para a Produção de Energia
Uma cúpula fixa de alvenaria, uma câmara cilíndrica para fer-
mentação com o teto em forma de abóbora, onde o gás fica retido. Atualmente o Brasil encontra-se em situação privilegiada no que se refere a suas fontes pri-
A cúpula vai subindo em torno de uma guia de metal, a medida márias de oferta de energia. Verifica-se que a maioria da energia consumida no país é proveni-
que se enche de gás, funcionando como gasômetro. ente de fontes renováveis de energia (hidroeletricidade, biomassa em forma de lenha e deriva-
dos da madeira, como serragem, carvão vegetal, derivados da cana-de-açúcar e outras mais).
A biomassa é colocada dentro do biodigestor, que deve ficar fe-
Com o "apagão" e o conseqüentemente racionamento de energia, começaram as discussões
chado o tempo todo, até a produção do biogás.
sobre a matriz energética brasileira. A utilização de biomassa para produção de energia, tanto
elétrica como em forma de vapor, em caldeiras ou fornos, já é uma realidade no Brasil. O uso da
madeira para a geração de energia apresenta algumas vantagens e desvantagens, quando com-
parada com combustíveis à base de petróleo.
Vantagens:
- Baixo custo de aquisição;

26 27
- Não emite dióxido de enxofre;
Capítulo 6
- Menor corrosão dos equipamentos (caldeiras, fornos); Unidade experimental de biodigestor rural
- Menor risco ambiental; A proposta para este projeto, disponível em http://www.net11.com.br/eecc/biogas/ bio-
- Recurso renovável; digestor.html, é uma unidade demonstrativa de biodigestor para apresentação da simplicidade
- Emissões não contribuem para o efeito estufa. de obtenção de biogás, a partir de esterco bovino. A idealização do modelo é empírica. A cons-
trução é feita a partir de tambores metálicos, facilmente encontrados a preços bastante reduzi-
Desvantagens:
dos, o que simplifica a montagem e garante o baixo custo final, apesar disso implicar em uma re-
- Menor poder calorífico; lação entre as medidas de diâmetro interno e altura fora da faixa indicada como ideal. A durabi-
- Maior possibilidade de geração de material particulado para a lidade, não sendo prioridade num modelo demonstrativo, é reduzida, em torno de pouco mais
atmosfera. Isto significa maior custo de investimento para a caldeira de um ano para cargas seguidas. A expectativa para o pico de produção de biogás é de aproxi-
e os equipamentos para remoção de material particulado; madamente 120 litros de gás por dia, sob uma pressão de 12 cm coluna d´agua, suficiente para a
- Dificuldades no estoque e armazenamento. queima em um bico de Busen por um período de 25 a 35 minutos diários. A Figura 5.10 apresen-
ta um esquema deste biodigestor.
Existem algumas vantagens indiretas, como é o caso de madeireiras
que utilizam os resíduos do processo de fabricação (serragem, cavacos
e pedaços de madeira) para a própria produção de energia, reduzindo,
EXERCÍCIOS

desta maneira, o volume de resíduo do processo industrial e diminuin-


do seus custos de produção.

Atividades:

7) Responda:
a) Quais os principais pontos a serem considerados na operação de
um biodigestor?
b) Quais as vantagens do biofertilizante?
c) Explique os processos de gaseificação da biomassa e pirólise. Qua- Figura 6.1 - Vista em corte da montagem final do biodigestor com seus componentes
is os principais produtos obtidos de cada um deles?
8) Faça um quadro comparativo entre as vantagens e desvantagens 6.1 Descrição
do uso de biomassa para a produção de energia.

O modelo é constituído por duas partes distintas: câmara de fermentação e gasômetro.


Câmara de Fermentação: esta parte comporta a mistura do material orgânico com água, for-
mando um meio anaeróbio, onde as bactérias metanogênicas atuarão, resultando na produção

28 29
do biogás. Devido à proposta do modelo, não foi previsto sistema de alimentação contínuo, tra- - Um pedaço de tela galvanizada de aproximadamente 80 x 80 cm(opcional)
tando-se de um modelo de alimentação descontínua ou batelada, no qual a alimentação é reali- - Serviços mecânicos
zada integralmente pela abertura superior, e após a fermentação de todo o material, o que leva
- Corte circular no fundo do tambor 02 para formação da coroa
em média 35 dias. A câmara de fermentação dispõe de algumas peças descritas a seguir:
- Furações e soldagens diversas
- Agitador: tem a função de evitar que o CO2 produzido na biodigestão forme bolhas esta-
cionárias no afluente (material orgânico diluído). A ocorrência de tais bolhas dificulta a ação - Confecção e fixação do agitador
das bactérias metanogênicas, diminuindo a velocidade do processo. - Confecção das presilhas de fixação da tela de retenção de sólidos (opcional)
- Coroa: A coroa é o estreitamento da câmara na altura média. Sua função é evitar a perda - Confecção da tela de retenção de sólidos (opcional)
do biogás pela folga entre as paredes externas do gasômetro e as paredes internas da câmara. Co- - Soldagem dos dois tambores de 200 litros para formação da câmara de fermentação.
mo a trajetória ascendente descrita pelo gás no meio líquido é praticamente uma linha vertical,
Montagem
tal estreitamento desvia o fluxo das bordas para a parte mais central garantindo a captação pelo
gasômetro de quase todo o gás. Os tambores devem ser trabalhados separadamente. Para melhor visualização seguiremos a
identificação disposta na vista explodida abaixo (Figura 6.2), e descreveremos na seqüência os
- Tela de retenção de sólidos: (Uso opcional) O uso de material fibroso como capim adi-
trabalhos necessários para cada tambor e peças agregadas. O tambor 01 juntamente com o tam-
cionado ao material orgânico diluído é recomendado, mas tende a formar aglutinações na su-
bor 02, ambos de 200 litros, formarão a câmara de fermentação. Enquanto o tambor 03, de 150 li-
perfície, que impedem o livre fluxo do gás e atrapalha a ação das bactérias. A tela de retenção
tros, funcionará como gasômetro.
tem a função de manter estes sólidos abaixo da altura da coroa, ao alcance do agitador, evitando
a formação de tampões flutuantes sob o gasômetro.
- Dreno para descarga: A função do dreno é permitir a descarga do material orgânico, tor-
nando a operação mais limpa e controlada.
Gasômetro: A função do gasômetro é a captação e armazenamento do gás, permitindo ainda
a manutenção de uma pressão de saída constante. Não possui muitos detalhes, a única peça
agregada é a torneira para controlar a saída do gás.

6.2 Materiais e Serviços Necessários

Materiais
- 02 Tambores metálicos de 200 litros
- 01 Tambor de 150 litros com diâmetro menor que os primeiros
- 01 Torneira de 3/4" com rosca para mangueira
- 01 Pedaço de cano galvanizado 3/4" x 20 cm
- 2,0 metros de mangueira cristal de 1"
- 2,5 metros de vergalhão de aço 3/8" galvanizado para confecção do agitador
- 04 presilhas com grampo e arruelas (opcional) Figura 6.2 - Vista explodida em corte do biodigestor e seus componentes

30 31
Tambor 01: Montagem final da câmara de fermentação
Este tambor tem como única peça agregada o dreno para descarga do efluente. Após a fixação das presilhas os dois tambores devem ser hermeticamente soldados. A man-
gueira cristal deve ser colocada no cano de drenagem, estando a parte da câmara de fermenta-
Fixação com soldagem do cano de 3/4" na lateral a uns 5 cm do fundo.
ção pronta para a primeira carga.
Tambor 02:
Tambor 03: O trabalho restringe-se a fixação da torneira.
Este é onde se concentra maior parte dos trabalhos mecânicos.
Fixar a torneira no fundo do tambor, examinando cuidadosamente a vedação.
Fazer o corte circular no fundo, para formação da coroa. Pelas razões já mencionadas o diâ-
Escolha do Local
metro deve ser 6 cm a menos que o diâmetro do gasômetro (tambor 03)
O local escolhido deve ser bastante arejado, tanto por motivo de segurança, como para evitar
Fazer a furação na coroa para fixação inferior do agitador
odores. Deve ser ainda evitado a incidência direta da luz do sol. Em lugares muito frios deve ser
Soldar, na borda superior, em alinhamento vertical com o furo anterior, o anel para fixação providenciado uma cobertura para a câmara de fermentação, podendo ser de isopor ou outro
superior do agitador. material isolante térmico, para evitar perda de calor, pois a temperatura ótima para a biodiges-
A partir do vergalhão confeccionar o agitador, sendo que inicialmente deve ser moldada a tão está entre 35 e 45ºC. Choques térmicos podem prejudicar o processo.
parte inferior, e após este procedimento, a haste superior deve ser passada pelo o furo na coroa e Operação
pelo anel de fixação, providenciando-se, em seguida, a dobra para formação da manivela de Antes de carregar o biodigestor deve-se providenciar a lavagem do mesmo e confirmar a au-
acionamento, que também servirá para fixar o agitador junto ao anel. sência de vazamentos. A mangueira do dreno deve ter sua extremidade livre e mantida numa al-
Apenas no caso de optar pela adição de capim tura superior a da câmara de fermentação. O esterco fresco deve ser previamente diluído em
água na proporção de 1:1 do seu volume. Inicialmente deve ser carregado na câmara uma pe-
- Confeccionar a tela de retenção de sólidos, que deve ter um diâmetro que exceda em 4
quena quantidade de capim picado, aproximadamente um volume de 4 litros. Sua função é me-
cm a medida interna da coroa.
lhorar a movimentação do material e aumentar a produção do biogás, sendo indispensável (ao
- Fazer, na coroa 4 furações para alojamento das presilhas de sustentação da tela de re- não se usar o capim torna-se desnecessário a grade de retenção de sólidos). Após a colocação do
tenção de sólidos, usar como gabarito a própria tela. A folga lateral entre as bordas da tela e as capim, deve-se colocar a grade e fixá-la girando as presilhas. Com a grade fixada deve-se com-
presilhas não deve exceder 0.5 cm. pletar a carga com a mistura de esterco e água, bem diluídos, sendo que o nível deve estar limita-
Confecção das presilhas conforme detalhe e posterior fixação na coroa (Figura 6.3). do a 25 cm abaixo da borda superior da câmara, para se evitar transbordamentos, já que com a
Coroa em corte
produção de gás, a diferença da pressão exercida sobre a superfície do afluente no interior do ga-
sômetro e a exercida sobre a área externa provoca uma elevação da última. Deve-se então abrir a
torneira do gasômetro e introduzi-lo na câmara de fermentação, com a abertura voltada para ba-
ixo, quando o mesmo encostar na coroa deve-se fechar a torneira, neste ponto o tambor deve es-
tar nivelado com a superfície da mistura, de modo que não haja mais ar dentro do gasômetro.
furo
A partir daí, o agitador deve ser acionado pelo menos duas vezes por dia. Após uns 15 dias,
quando a produção do biogás se iniciar, o gasômetro se elevará devido a retenção do volume de
grampo prisioneiro
gás produzido. É importante lembrar que as duas primeiras cargas devem ser descartadas, devi-
do à possibilidade de traços de oxigênio no gasômetro e grande concentração de dióxido de car-
bono. O gás obtido pode ser utilizado em um bico de Busen ou em um pequeno fogão a gás de
arruela uma boca, sendo necessário a retirada do giclê. Para obtenção de uma pressão adequada deve
ser colocado sobre o gasômetro peso adicional da ordem de 15 Kg.
Figura 6.3 - Presilha de fixação da tela de retenção de sólidos em detalhe

32 33
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Anotações:

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