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HIDROLOGIA GERAL

PRECIPITAÇÃO: PARTE 2

Prof. Fernanda Cristina Restelatto Righetto


E-mail: fernanda.restelatto@esucri.com.br
Departamento de Engenharia Civil - Faculdades Esucri
Análise de Frequência de Chuvas Intensas
Nos trabalhos hidrológicos em geral não interessa somente
o conhecimento das máximas precipitações observadas nas
séries históricas, mas, principalmente prever, com base nos
dados observados e valendo-se dos princípios de
probabilidade, quais as máximas precipitações que possam
vir a ocorrer numa certa localidade, com determinada
frequência.
A precipitação mais intensa é a menos frequente. Quanto
maior for a chuva de projeto, maior o custo do projeto e,
conseqüentemente, menor o risco de a obra falhar.
Entretanto, há um certo ponto em que os custos de
seguridade do projeto ultrapassam os benefícios de redução
de danos possíveis. Por isso, a escolha de determinado
período de retorno é uma questão de otimização entre os
fatores econômicos e de segurança da obra.
2
Fonte: Villela e Mattos, 1975; Kessler e Raad, 1978.
CHUVAS INTENSAS
Intensidades mínimas de chuva (mm/h) para serem consideradas
Considera-se como chuvas como chuvas Intensas
intensas o conjunto de chuvas
cuja intensidade ultrapasse um
valor pré-estabelecido para uma
dada aplicação. A duração destas
é bastante variável e a área
atingida pelas mesmas pode
variar de poucos quilômetros
(chuvas convectivas) até
milhares de quilômetros
quadrados, como ocorre com as
chuvas frontais.

3
Fonte: Garcez, 1976.
Períodos de Retorno (T) recomendados para diferentes ocupações
Definição do Período
de Retorno
A chuva de projeto é um
critério de precipitação
máxima adotada na obtenção
de hidrogramas de projeto,
utilizados principalmente no
dimensionamento de obras de
drenagem urbana e rural. A
definição da chuva de projeto
deve considerar a natureza das
obras a projetar e os riscos
envolvidos quanto a segurança
da população e as perdas
materiais.
4
Fonte: Wilken, 1978; Kessler e Raad, 1978.
Risco
A definição do período de retorno presume que se assume um risco de ocorrer, em um ano
qualquer, um fenômeno maior que a chuva de projeto adotada. Esse risco pode ser
calculado como:

N
1
J=1− 1−
T

Sendo:
J = índice de risco, variando entre 0 e 1 ( 0 e 100 %)
T = período de retorno (anos);
N = número de anos considerado.

5
Fonte: Wilken, 1978; Kessler e Raad, 1978.
Risco
Com essa equação pode-se estabelecer o risco assumido (risco de falha) para projetos com
período de retorno T durante diferentes períodos:

Ex.:
Existe um risco de
40,95 % de que
ocorra, nos próximos
5 anos, uma
precipitação superior
a aquela projetada
com período de
retorno de 10 anos.

6
Fonte: Wilken, 1978; Kessler e Raad, 1978.
Risco
Definindo-se o risco assumido pode-se calcular o período de retorno de um evento como:

1
T=
1 − (1 − J)1/N

Sendo:
J = índice de risco, variando entre 0 e 1 ( 0 e 100 %)
T = período de retorno (anos);
N = número de anos considerado.

Exemplificando, para um sistema de drenagem projetado para 10 anos com risco assumido
de 20 % o período de retorno a ser adotado deve ser de 45,3 anos.

7
Fonte: Wilken, 1978; Kessler e Raad, 1978.
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Determinar a magnitude das precipitações que poderiam ocorrer com uma
determinada probabilidade.

Probabilidade é
Análise de Análise de
estimada a partir da
frequência extremos
frequência relativa

A - Eventos extremos máximos:


• Dimensionamento de vertedores, barragens, canais, obras de desvio de cursos de água, galerias
pluviais, bueiros, pontes, etc.

B - Eventos extremos mínimos:


• Projetos de obras de irrigação, abastecimento de água, etc.

C - Avaliação da probabilidade de duração de períodos sem precipitação

Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020).


Série de dados
A frequência das chuvas pode ser calculada pela análise de uma série de dados observados.

Série total:
- Considera-se todos os dados observados
Série anual:
- Considera-se somente um dado por ano (por exemplo: o máximo ocorrido no ano),
neste caso, número de eventos coincide com o número de anos.
Série parcial:
- Chuva intensa: considera-se toda precipitação superior a um valor pré-estabelecido,
logo, pode-se ter mais de um evento por ano ou nenhum evento no ano, ou seja,
número de eventos pode ser diferente ao número de anos.

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Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020).
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
A frequência (F) de um evento que é observado m vezes num período de n anos pode ser
calculada como sendo:

𝑚
𝐹=
𝑛

Na hidrologia é comum utilizar o termo Tempo de Recorrência ou Período de Retorno


(T) como sendo o intervalo médio em anos em que um determinado evento pode ocorrer
ou ser superado, dado pelo inverso da frequência, isto é:

1
𝑇=
𝐹

1
Fonte: Kessler e Raad, 1978; Villela e Mattos, 1975. 0
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA

ANÁLISE
ESTATÍSTICA

FREQUÊNCIA de um evento PROBABILIDADE de ocorrência

FREQUÊNCIA que assumiram dada magnitude


FREQUÊNCIA que foi igualado ou superado

1
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 1
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Método empírico:
• Dados são classificados em ORDEM DECRESCENTE
• A cada um é atribuído seu NÚMERO DE ORDEM m
• FREQÜÊNCIA que foi igualado ou superado um evento de ordem m é:

Método de Kimbal

𝑚 𝑛+1
𝐹 𝑋 ≥ 𝑥𝑇 = 𝑇 𝑋 ≥ 𝑥𝑇 =
𝑛+1 𝑚

n: Número de anos de observação


m: Número da ordem de maior cheia ou número de vezes que um evento foi igualado ou superado

1
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 2
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Método empírico:
Pelo método empírico pode-se estimar a frequência da chuva seguindo os seguintes
passos:
1. Ordenar os dados em ordem decrescente,
2. Estabelecer um número de ordem m, iniciando com m = 1 para o maior valor e m = n
para o menor valor, sendo n o número de dados na série;
3. Calcular a frequência F de valores maiores ou iguais ao valor considerado utilizando a
seguinte expressão:
𝑚
𝐹=
𝑛+1

4. Calcular o período de retorno (T) pela expressão:


𝑛+1
T=
𝑚
1
3
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Método empírico:
𝑧
1 −𝑧 2 /2
𝐹 𝑧 = 𝑃 𝑋 ≤ 𝑥𝑇 = න𝑒 𝑑𝑢
2𝜋
−∞

P(X≤xT) – probabilidade de um total anual qualquer ser inferior ou igual a xT


xT – uma determinada precipitação total anual, evento associado ao Período de Retorno (T)
z – variável reduzida (função linear de x) 𝑥𝑇 − 𝜇
𝑧=
𝜎
µ - média (do universo) → média da amostra (𝑥)ҧ
𝜎 – desvio-padrão (do universo) → desvio da amostra (S)
1
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 4
Calcula-se: Tabela:
x −
Para cada x z= F(z)

Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020).


ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Ano P (mm)
EXEMPLO 1 1949 1234
FREQÜÊNCIA DE TOTAIS ANUAIS PRECIPITADOS 1950 1470
1951 1190
O quadro ao lado apresenta os totais 1952 1386
anuais precipitados em Curitiba no 1953 1267
período de 1949-1963. 1954 1730
1955 1462
1956 1197
a) Qual a estimativa da probabilidade e do
1957 2165
Tempo de recorrência de se ter uma
1958 1432
precipitação total inferior a 1000 mm em 1959 1205
um ano qualquer? 1960 1630
Média = 1441,733 mm
1961 1683 Desvio Padrão = 271,752
1962 1167
1963 1408
1
6
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Método estatístico:
Em geral, as distribuições de valores extremos de grandezas hidrológicas, como a chuva e
vazão, ajustam-se satisfatoriamente à distribuição de Gumbel:
−𝑒 −𝑦 1
𝑃 𝑋 ≥ 𝑥𝑇 = 1 − 𝑒 𝑦= (𝑥𝑇 − 𝑥ҧ + 0,45𝜎)
0,7797𝜎

onde:
P = probabilidade de um valor extremo X ser
maior ou igual a um dado valor xT ;
y = variável reduzida de Gumbel;

1
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 7
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
EXEMPLO 2
As seguintes precipitações diárias (consideradas extremas iguais ou acima de 85 mm) foram
observadas em uma estação em estudo:
Ano Eventos
1 1965 126 (03/4) 95 (23/10)
2 1966 105 (27/8)
3 1967 137 (14/7) 89 (05/12)
4 1968 95 (21/6)
5 1969 Máxima precipitação: 58 (04/9)
6 1970 100 (25/5)
7 1971 95 (09/9) 100 (01/11) Média = 107,143 mm
8 1972 110 (30/8) Desvio Padrão = 20,137
9 1973 131 (31/7) 147 (04/9) 85 (03/10)
10 1974 85 (02/3)

Qual a estimativa da probabilidade e do Tempo de recorrência de se ter uma


precipitação máxima superior a 100 mm em um ano qualquer? 1
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ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
Método estatístico:
O método empírico permite estimar a precipitação máxima com período de retorno T= n/2.
Quando se necessita de períodos de retorno maiores, tendo que extrapolar os dados deve-se
usar o método estatístico, onde a distribuição das frequências observadas deve ser ajustada a
uma lei probabilística teórica.
Existem várias distribuições probabilísticas que podem ser usadas no estudo de chuvas
intensas como a distribuição Log-Normal, distribuição Pearson, Log-Pearson e a distribuição
de Extremos tipo I, também chamada de Distribuição de Gumbel.

1
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 9
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
DISTRIBUIÇÃO DE GUMBEL
Para chuvas intensas existem vários trabalhos mostrando que a distribuição de Gumbel se
ajusta bem e por isso tem sido largamente empregada. Para a sua aplicação é indispensável
ter uma série de máximos valores anuais.
Pela distribuição de Gumbel-Chow a precipitação extrema (XT) com período de retorno T
pode ser estimada pela equação:

𝑥ҧ é a média dos valores observados de X;


𝑆 S é o desvio padrão dos valores observados de X;
𝑋𝑇 = 𝑥ҧ + 𝑌 − 𝑌𝑛 Yn e Sn são, respectivamente, a média e o desvio padrão da
𝑆𝑛 variável reduzida Y, tabelados em função do número de
valores da série de dados (Tabela), sendo:
1
𝑌 = −𝑙𝑛 −𝑙𝑛 1 −
𝑇
2
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 0
Média (Yn) e desvio padrão (Sn) da variável reduzida para diferentes valores do tamanho da amostra (N)

2
1
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
DISTRIBUIÇÃO DE GUMBEL
Para o cálculo de um valor de precipitação máxima pode-se seguir os seguintes passos:
σ 𝑋𝑖
1. Calcular a média dos valores extremos: 𝑥ҧ =
𝑁
σ(𝑋𝑖−𝑥)²
ҧ
2. Calcular o desvio padrão dos valores observados: S =
𝑁−1
1
3. Para cada período de Retorno (T) calcular a variável y: 𝑦 = −𝑙𝑛 −𝑙𝑛 1 −
𝑇
4. Obter os parâmetros Yn e Sn da tabela em função do número de anos da série de dados
(N).
𝑆
5. Calcular o valor máximo esperado: 𝑋𝑇 = 𝑥ҧ + 𝑌 − 𝑌𝑛
𝑆𝑛

2
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 2
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
DISTRIBUIÇÃO DE GUMBEL
Em geral, as distribuições de valores extremos de grandezas hidrológicas, como a chuva e
vazão, ajustam-se satisfatoriamente à distribuição de Gumbel:
−𝑒 −𝑦 1
𝑃 𝑋 ≥ 𝑥𝑇 = 1 − 𝑒 𝑦= (𝑥𝑇 − 𝑥ҧ + 0,45𝜎)
0,7797𝜎

onde:
P = probabilidade de um valor extremo X ser
maior ou igual a um dado valor xT ;
y = variável reduzida de Gumbel;

2
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 3
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
EXEMPLO 2
As seguintes precipitações diárias (consideradas extremas acima de 85 mm) foram
observadas em uma estação em estudo:
Ano Eventos
1 1965 126 (03/4) 95 (23/10)
2 1966 105 (27/8)
3 1967 137 (14/7) 89 (05/12)
4 1968 95 (21/6)
5 1969 Máxima precipitação: 58 (04/9)
6 1970 100 (25/5)
7 1971 95 (09/9) 100 (01/11)
8 1972 110 (30/8)
9 1973 131 (31/7) 147 (04/9) 85 (03/10)
10 1974 85 (02/3)

Qual a estimativa da probabilidade e do Tempo de recorrência de se ter uma


precipitação máxima superior a 100 mm em um ano qualquer? 2
4
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
EXEMPLO 3
Série de
Calcule a frequência e o período de retorno para cada precipitação
uma das precipitações máximas anuais para a região de máxima
Chapecó-SC, bem como a precipitação máxima estimada observada no
posto
para períodos de retorno de 2, 5, 10, 20, 25, 50, 100, pluviométrico
200, 500 e 1000 anos. de Chapecó/SC.

2
5
Equação de Chuvas Intensas
O conhecimento das relações intensidade-duração-frequência (IDF) de chuvas é de grande
importância no dimensionamento de estruturas de drenagem superficial e controle de
erosão do solo. Cada localidade possui diferentes características de IDF devido às suas
características climáticas e de relevo.

Em geral, a relação entre intensidade e duração pode ser descrita como:

C
i=
(t + t 0 ) n
i - intensidade média de chuva em mm por hora
t - duração em minutos
C, t0 e n - constantes
2
Fonte: Notas de Aula Prof. Regina Tiemy Kishi – UFPR (2020). 6
Equação de Chuvas Intensas
Em um estudo no ano de 2011, Back, Henn e Oliveira obtiveram equações IDF para 13
estações pluviográficas do Estado de Santa Catarina: Chapecó, Urussanga, Campos Novos,
Florianópolis, Lages, Caçador, Itajaí, Itá, Ponte Serrada, Porto União, Videira, Laguna e São
Joaquim. Os pluviogramas diários de cada estação foram digitalizados e, posteriormente,
determinaramse as séries de máximas anuais de chuva com duração de 5 a 1.440 min. A
partir delas, foram estimadas, por meio da distribuição de Gumbel-Chow, as chuvas
máximas com durações variando de 5 min a 24 h, considerando-se os períodos de retorno
de 2, 5, 10, 20, 25, 50 e 100 anos.

2
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011. 7
Equação de Chuvas Intensas SC

2
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011. 8
Equação de Chuvas Intensas SC

2
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011. 9
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011.
0
3
R² = grau de confiabilidade

Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011.


1
3
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011.
2
3
Curvas IDF

3
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011. 3
Curvas IDF

3
Fonte: Back, Henn e Oliveira, 2011. 4
ANÁLISE DE FREQUÊNCIA
EXEMPLO 4
Qual o tempo de retorno de uma chuva de 111 mm em 2 horas considerando a equação de
chuvas intensas de Florianópolis?

222𝑇 0,1648
Para 5 ≤ t ≤ 120 min: 𝑖=
(𝑡)0,3835

i: intensidade da chuva (𝑚𝑚/h)


T: tempo de retorno (anos)
𝑡: duração da precipitação (minutos)

3
5

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