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C967
Cultura epistemológica em pesquisas: cultura, cotidiano e educação na Amazônia / Carlos Jorge Paixão,
Ricardo Augusto Gomes Pereira, Letícia Carneiro da Conceição, Ilka Joseane Pinheiro Oliveira (organizadores) –
Curitiba: CRV, 2021.
308 p.
Bibliografia
1 Educação 2. Epistemologia 3. Cultura 4. Cotidiano I. Paixão, Carlos Jorge. org. II. Pereira, Ricardo Augusto
Gomes. org. III. Conceição, Letícia Carneiro da. org. IV. Oliveira, IlkaJoseane Pinheiro. org. V. Título VI. Série
2021
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRVTodos os direitos
desta edição reservados pela: Editora CRV
1 INTRODUÇÃO
Todavia, para Paiva (2004), assim como para Bracht (2007) e Lazzarotti Filho et al.
(2018), reiteram que as décadas de 1960 e 1970 são demarcatórias para o campo acadêmico da
EF, pois ocorreram investimentos para melhorar o nível de desenvolvimento científico da
“área”, como o incentivo à pós-graduação, os investimentos em laboratórios de fisiologia do
exercício e a criações de novas entidades científicas, como o Colégio Brasileiro de Ciências do
Esporte (CBCE). Segundo Bracht (1999, 2007) esse processo foi resultado da pressão exercida
pelo cientificismo, do impulso do fenômeno esportivo e do aparecimento das ciências do
esporte (CE). Contudo, as pretensões cientificistas levaram a afirmar a EF como ciência, com
objeto próprio: o movimento humano.
Ainda, entende-se que, segundo Lazzarotti Filho et al. (2014), o campo da EF é novo
no processo de incorporação da prática científica. Todavia, segundo Paiva (2004), a formulação
de que a constituição do campo acadêmico EF, a partir dos cursos de formação de nível superior,
tem se mostrado insuficiente, pois, mantém fatores externos ao campo. A autora explica que o
campo ainda é bastante configurado e composto por médicos, militares, esportistas que
“migram” e produzem neste “campo”. Assim, destaca dois momentos marcantes do campo no
século XX, as décadas de 1930 a década de 1980:
No âmbito destas disputas, estas passaram a ser sobre qual capital científico ou
autoridade científica é a que legitima este campo de conhecimentos e práticas, inclusive no
microcosmo formação de professores. Portanto, para Ferraz e Correia (2012), a relação teoria e
prática no campo EF tem sido discutida através de diferentes matrizes conceituais e práticas
sociais, e se inserem na pauta sobre a eficácia dos propósitos educacionais. Para Bracht (2007),
a construção de um corpo teórico com base num discurso pedagógico é elemento importante
para a construção da autonomia (pedagógica) da EF.
De acordo com Bracht (2007), devemos tratar do movimento humano sob a ótica do
pedagógico, enquanto prática pedagógica, inseridos no mundo da cultura corporal de
movimento. Nesse sentido, Bagnara e Fensterseifer (2019) enfatizam que é importante pensar
a EF escolar como um componente curricular/disciplina educativa, no qual se trata dos
conhecimentos teórico-práticos da cultura corporal de movimento. De acordo com os autores,
deve-se pressupor a ruptura paradigmática na formação de professores. Porém,
crítica ao conhecimento objetivo. Bracht (2007) e Sánchez Gamboa (2010, p. 82) afirmam que
diversos professores, agentes do campo, frequentaram cursos de pós-graduação em programas
da área das ciências humanas, tiveram contato com os debates e conhecimentos de outros
campos, sem seguida, passaram a reconstruir a EF e seu objeto.
Contudo, Bracht (2013, p. 25) ressalta que, mais recentemente, no contexto de crise da
racionalidade científica, perdeu força a necessidade do debate em torno da cientificidade da EF
e ganha força a necessidade de discutir “qual cientificidade” reivindica-se e se ainda faz sentido
reivindicar “cientificidade” para o campo. Silva (2015, p. 378) discutindo sobre as formas de
racionalidade que podem “orientar o processo constitutivo/educativo/formativo do humano”,
reflete sobre a “própria noção de ciência e conhecimento” (p. 378).
Ainda, Fensterseifer e Silva (2015, p. 4) reiteram que o pensamento tradicional que
sustentou a formação inicial dos professores (durante os séculos XIX e XX) manteve-se nos
limites da racionalidade instrumental. Por outro lado, sugerem uma mudança contundente na
compreensão e reestruturação do próprio conhecimento científico, para repensar as relações
entre sociedade e educação. Nesse sentido da discussão sobre a racionalidade e suas sínteses
sobre o processo educativo, Fensterseifer (1999, p. 113), nos diz que a tarefa epistemológica
poderia ser a concepção da práxis social, enquanto unidade dialética de trabalho e interação,
que fundamenta a “utopia comunicativa” de Habermas, que busca “na linguagem, mais
especificamente em sua função comunicativa, o novo suporte da teoria crítica” (p. 113).
Todavia, de acordo com Fensterseifer (1999, p. 133), a escolha então por buscar na
racionalidade comunicativa o referencial epistemológico e de intervenção pedagógica significa
uma opção ética. Portanto, para o autor se trata de “uma relação intersubjetiva fundada na
racionalidade comunicativa”. Também considerando a racionalidade e suas sínteses sobre o
processo formativo, assim como possibilidades de uma racionalidade humanista, crítica,
reflexiva, que dê ênfase à aspectos ético-normativos e estético-expressivos.
De acordo com Paes Neto et al. (2018), é preciso enfrentar os desafios da práxis na
direção de aprofundar a relação entre teoria e prática no campo, assim como, o diálogo entre as
pesquisas e os enfoques epistemológicos.
Portanto, de acordo com Paes Neto et al (2016, p. 28), também, referenciais marxistas
trazem contribuições a este diálogo, ao trabalharem com a ideia de “ampliar as possibilidades
de transformar a própria ciência, o modo de produção capitalista e a sociabilidade humana”.
Estes agentes trabalham com a tese de que os fenômenos são materiais. Para os autores “é tarefa
do pesquisador e do educador ajudar a elaborar e difundir uma concepção do real superior e
atrelar isso à luta por outra sociedade” (p. 28). Quanto à historicidade dos fenômenos, segundo
os autores, para os marxistas é necessário conceber a história como desenvolvimento, como
processo real, material. Assim, pressupõe-se a filosofia que garanta a conexão entre a filosofia
e a realidade, buscando explicar a realidade “dinâmica e processual” (p. 23). Sobre a
materialidade dos fenômenos, segundo os autores, “a matéria antecede ao pensamento” (p. 24).
Assim, a partir da ontologia realista entende-se que o conhecimento é possível para todo
e qualquer ser humano, assim, o desenvolvimento da cultura em cada ser através das diversas
experiências individuais ou coletivas, nas instituições formativas e formas de socialização que
garantem os símbolos, saberes, domínio das técnicas etc. Sá, Silva e Santos (2013, p. 266), é
possível pressupor a dialética como método de raciocínio teórico-científico, assim, “considerar
que nas leis e categorias próprias da dialética é possível refletir as leis mais gerais da realidade
objetiva das pesquisas em seu conjunto”.
Segundo Taffarel (2012), diante dos ajustes estruturais realizados no Brasil nos anos
1990 no setor educacional, inclusive na formação de professores em EF, a concepção de
educação passou a ser voltada para a formação do trabalhador polivalente, flexível capaz de dar
conta das exigências mercadológicas internacionais a partir do paradigma da competência.
Segundo Melo et al. (2017), o ensino pautado nessa formação de sujeito unilateral tensiona a
formação de professores em EF em uma perspectiva de construtivismo pedagógico, permeada
por uma finalidade de conservação do caráter reducionista da profissão com pouca relação com
a prática pedagógica escolar sendo substituída pela prática de exercícios físicos de cunho
instrumentalista. Por outro lado, o trabalho com a perspectiva da cultura corporal apresenta um
comprometimento com o pressuposto de superação destas perspectivas reducionistas e
conservadoras, propondo a formação omnilateral, assim como, princípios que fundamentam o
objeto de estudo proposto, a partir da teoria crítico-dialética.
Contudo, de acordo com Sánchez Gamboa (2010, p. 33) entende-se que o objeto de
pesquisa da EF é a ação, a práxis, com ênfase em duas categorias defendidas pelas
epistemologias críticas da EF, que se desdobram em pressupostos teóricos e práticos: cultura
corporal e cultura corporal do movimento.
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3 ANÁLISES E DISCUSSÕES
Esta resolução tornou-se o novo marco legal da formação no campo, o que torna
imperioso analisar a mesma. Todavia, para Fabíola Marques e Zenólia Figueiredo (2014), ao
tratarem sobre as DCNs para os cursos de licenciatura, anunciavam a notoriedade do fato de
estarmos passando por uma “crise” ou “transição” paradigmática no campo da formação.
No campo da Educação Física a Resolução nº 06, de 18 de dezembro de 2018 que institui
DCNs dos Cursos de Graduação em EF, assinada por Antônio de Araújo Freitas Júnior, versa
no capítulo I sobre as disposições gerais para a construção e implementação dos cursos de EF.
Nos artigos 1º e 2º versa que o curso de graduação em EF tem carga horária referencial de 3.200
(três mil e duzentas) horas para o desenvolvimento de atividades acadêmicas, como se percebe
no quadro 1.
No Artigo 3º aponta-se para a natureza do campo e seu objeto, versando que a EF seria
uma área de conhecimento e de intervenção profissional que tem como objeto de estudo e de
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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