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COMENTÁRIO

A importância do sono para pacientes com diabetes


Dra. Florence Comite

11 de dezembro de 2023

Diane é uma daquelas pacientes que evita tomar medicamentos a todo custo. Quando compartilhei que os resultados dos
seus exames de sangue indicavam pré-diabetes e sugeri que tomasse metformina, ela hesitou e perguntou: "Ah, não! Não
há uma alternativa natural?"

Eu questionei: "Como é o seu sono?"

"Não dura muito, e não é grande coisa", ela respondeu. "Geralmente, eu acordo cansada de manhã".

"Então, vamos primeiro tentar melhorar seu sono", eu disse, explicando que o sono inadequado compromete a capacidade
do organismo de processar a glicose. "Quando não se tem um sono de boa qualidade, o cortisol, hormônio do estresse,
aumenta, liberando glicose armazenada e dificultando a regulação dela pela insulina", expliquei.

Diane acrescentou que costuma fazer um lanche no final da noite, geralmente com biscoitos ou tortilhas fritas, outro hábito
que interfere no sono e no metabolismo.

O diagnóstico de pré-diabetes ou diabetes costuma ser assustador para os pacientes. No entanto, como médicos, podemos
confortá-los oferecendo ferramentas para administrar o quadro. E uma das abordagens mais eficazes é a atenção ao
sono.

Dra. Florence Comite

Melhorar os hábitos de sono é um passo poderoso e proativo. Vi o seu efeito na minha vida enquanto controlava minha
glicemia e minha resistência à insulina. O sono é vital para o envelhecimento saudável e pode ser extremamente motivador.
Afinal de contas, quem não aprecia uma boa noite de sono, acordando cheio de energia e pronto para aproveitar o dia?

Alguns ajustes na rotina de Diane rapidamente a ajudaram a ter sete horas de sono de qualidade e a melhorar a sua
glicemia. Na consulta de acompanhamento, ela concordou em experimentar a metformina para alcançar os níveis ideais de
hemoglobina glicada.

Compartilhar esse tipo de dica com os seus pacientes irá ajudá-los a assumir o controle da situação, potencialmente
revertendo a pré-diabetes e prevenindo o diabetes franco. Aqui estão outras orientações para compartilhar com eles:

1. Dedique algum tempo explicando como o sono de má qualidade interfere no metabolismo da glicose no sangue e
prejudica o ritmo circadiano do organismo, aumentando os níveis de cortisol, o que impacta na glicemia.

2. Pergunte aos seus pacientes se eles notaram intensos desejos por fontes de energia rápida, como biscoitos doces,
suco de laranja, cereais açucarados ou outros carboidratos processados, após uma noite de sono inadequado. Isso
é resultado direto da privação do sono, que perturba o equilíbrio entre a grelina e a leptina, os hormônios da fome e
da saciedade.

3. Explique como a privação de sono e os desejos resultantes por carboidratos vão provocar um ciclo de alterações da
glicemia. Os pacientes também ficarão entusiasmados ao saber que evitar estas oscilações tipo montanha-russa,

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por meio da melhoria dos hábitos de sono, os ajudará a evitar o ganho de peso central.

4. Informe que um sono de melhor qualidade também irá melhorar o humor, reduzir a ansiedade e combater os
sintomas depressivos. Verifique se o seu paciente apresenta sinais e sintomas de depressão, pois as pessoas com
diabetes têm 20% mais probabilidade de enfrentar ansiedade e duas a três vezes mais chances de ter um quadro
depressivo, segundo os Centers for Disease Control and Prevention nos Estados Unidos.

5. Aborde a realidade sobre o diabetes, o pré-diabetes e a resistência à insulina com otimismo e respaldo em
evidências científicas. Explique que estudos comprovam que o diabetes é reversível. Compartilhe exemplos
detalhados de pacientes (anônimos) seus que alcançaram esse feito, destacando o papel fundamental que o sono
desempenhou na recuperação da saúde. Muitos dos meus pacientes são entusiastas por dados e adoram
acompanhar as últimas pesquisas científicas. Talvez você tenha pacientes semelhantes que se interessariam em ter
acesso a um estudo relevante ou a cópia de um artigo acessível a leigos, como o da UC Berkley , que mostra como
as ondas cerebrais do sono profundo melhoram o controle da glicemia.

6. Prescreva um monitor de glicose contínuo e sugira que os pacientes usem um rastreador de sono (que pode
monitorar a saúde geral, fatores como estresse, nível de atividade física e outras variáveis), como um anel
inteligente Oura, Whoop, Fitbit, Garmin ou Apple Watch. Um monitor de glicose contínuo é uma ferramenta
extremamente útil, que ajuda as pessoas com pré-diabetes e diabetes a compreender como a alimentação, a
atividade física, o estresse e o sono influenciam sua glicemia. Mostre aos seus pacientes como esse conhecimento
pode ajudar a melhorar radicalmente a sua saúde. Mesmo aqueles que já se automonitoram ficam surpresos diante
das possíveis estratégias quando estão mais conscientes das alterações metabólicas decorrente do sono, da
alimentação, da atividade física etc.

7. Dê aos pacientes um folheto com dicas simples para melhorar sua higiene do sono. Essas informações podem ser
encontradas no site dos CDC e nos Centers for Disease Control and Prevention dos EUA, mas aqui estão algumas
que eu recomendo frequentemente:

Evite comer/beber duas horas antes de ir dormir, especialmente carboidratos, doces e bebidas alcoólicas.
Todos esses itens perturbam o sono e aumentam os níveis de cortisol, o que repercute na glicemia. Algumas
pessoas podem precisar de um lanche proteico para sustentar a glicose durante a noite. Para esses casos,
geralmente eu recomendo um punhado de nozes ou algum queijo.

Vá para a cama suficientemente cedo para dormir pelo menos seis horas — sete a oito horas de sono é o
ideal. Para facilitar essa rotina, adquira o hábito de dormir 15 minutos mais cedo do que o usual durante uma
semana e gradualmente adicione mais 15 minutos.

Seja sistemático. Levante-se no mesmo horário todos os dias, inclusive nos fins de semana. Existem
aplicativos que vão ajudar você a acordar gradualmente, despertando na parte do "sono leve" do seu ciclo de
sono, para evitar que você acorde de maneira abrupta. Aplicativos como o Sleep Cycle, Calm e outros
também podem ajudá-lo a adormecer mais facilmente.

Estabeleça uma rotina para dormir. Evite usar dispositivos eletrônicos, como celular e tablet, pois a luz azul
emitida por eles pode interferir no ciclo de sono.

Leia um livro, medite, tome um banho quente com sal de Epsom (sulfato de magnésio). O magnésio
dissolvido na água penetra na pele, relaxa os músculos e pode ajudar a adormecer.

Mantenha o quarto escuro, fresco e silencioso para facilitar o processo de adormecer. A escuridão estimula a
glândula pineal a secretar melatonina, um hormônio que induz a sonolência.

Se possível, faça exercícios de manhã. Realizar atividades físicas no final do dia pode interferir no sono.

Por fim, uma dica de autocuidado para os médicos: coloquem o folheto com dicas saudáveis de sono na porta das suas
geladeiras em casa. Lembrem-se de que nós, profissionais da saúde, somos pessoas ocupadas que devem melhorar os
próprios hábitos de sono para ser mais saudáveis, alertas e eficazes, pessoal e profissionalmente, em consideração aos
nossos pacientes.

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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As opiniões expressas aqui são de responsabilidade pessoal do autor e não representam necessariamente a posição da
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Citar este artigo: A importância do sono para pacientes com diabetes - Medscape - 11 de dezembro de 2023.

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