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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Humanas

Departamento de Letras

Brenda Godinho Oliveira


Filipe de Jesus dos Santos
Ivne Victória Silva Nunes
Jéssica Débora de Jesus

PRÁTICAS DE EXTENSÃO

Belo Horizonte

2022
Brenda Godinho Oliveira
Filipe de Jesus dos Santos
Ivne Victória Silva Nunes
Jéssica Débora de Jesus

PRÁTICAS DE EXTENSÃO

Relatório Final apresentado à disciplina de Práticas


Investigativas em Educação: A Escola e os Alunos
com Necessidades Educativas Especiais, da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
como requisito para obtenção de créditos.

Orientador(a): Denise Queiroz

Belo Horizonte

2022
O PROJETO

Para realização do trabalho, escolhemos visitar o Projeto Alegria, coordenado


pela professora Arabie Bezri Hermont e localizado na Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas). Seu lema é “aprendizagem de leitura e escrita, gerando
respeito, inclusão e autonomia" e seu objetivo geral é promover oportunidades de
aprendizagem da leitura e da escrita para adultos com deficiência intelectual,
disponibilizando oficinas de alfabetização e letramento presencialmente. Além disso,
gera interação entre os docentes e discentes da Letras e da Pedagogia, em interação
constante com indivíduos com deficiências intelectuais.

Hoje o projeto conta com 2 turmas de aproximadamente 30 alunos e 7


professores, atuando toda terça e quinta-feira, das 9h às 11h. As atividades, como
mencionado anteriormente, visam a gerar autonomia para adultos com deficiência
intelectual, contando com exercícios de matemática, português, geografia e bastante
leitura. Todos os alunos são maiores de idade, justamente para ser uma continuidade
dos ensinamentos aprendidos na escola.

REGISTRO DA ENTREVISTA

Dialogando com o percurso que temos traçado neste semestre, tendo em vista
que optamos por estudar mais aprofundadamente o Transtorno do Espectro Autista
(TEA), decidimos visitar e conhecer o Projeto Alegria, um projeto de extensão criado e
desenvolvido na PUC Minas, com a coordenação da Prof.ª Dra. Arabie Bezri Hermont.
Seu foco é, em verdade, acolher indivíduos que detenham algum tipo de deficiência
intelectual, em que podemos destacar a Síndrome de Down e o próprio Autismo.

Após os momentos de visitação, nos quais conhecemos os participantes,


interagimos com eles e com as professoras tutoras, examinamos os materiais
utilizados, fizemos dinâmicas em grupos, realizamos, também, uma entrevista com a
coordenadora Arabie Bezri, quem nos concedeu, afavelmente, respostas e explicações
para nossos questionamentos e curiosidades. Embasamo-nos, a princípio, no roteiro
disposto a seguir:

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Roteiro de entrevista (coordenação — Arabie Bezri Hermont)

1. Como você define o Projeto Alegria?


2. Quais os principais desafios que o projeto enfrenta?
3. Na sua opinião, qual é a importância do projeto para os participantes?
4. Quais os principais sucessos, bons resultados obtidos até hoje?
5. O que motiva você como coordenadora do projeto?
6. Qual foi sua principal motivação para a criação do Projeto?
7. Como foi durante o período de pandemia? O projeto teve seguimento?
8. As aulas ocorreram on-line?
9. Como é a participação da família no projeto?
10. Qual é a situação socioeconômica dos participantes?

Além desse, elaboramos outros roteiros que se destinaram às educadoras e aos


participantes:

Roteiro de entrevista (educadores)

1. Como ocorre o processo de aprendizagem dos participantes?


2. Quais são os principais desafios?
3. O que motiva você como educadora?

Roteiro de entrevista (participantes)

1. Nome e idade.
2. Você gosta de participar do Projeto Alegria?
3. O que você faz aqui no Projeto?
4. Você gosta de ler e escrever?

A entrevista com os participantes se deu, na realidade, em uma roda de


conversa, na qual fizemos uma dinâmica em que perguntávamos aos participantes sua
idade, há quanto tempo estavam no projeto e algo sobre si. Todos (participantes,
educadoras, visitantes) sentamos no gramado dos jardins da PUC Minas, em círculo, e
nos envolvemos com a atividade. Muitos contaram sobre suas relações pessoais, seus

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projetos de vida e suas expectativas e vivências relativamente ao Alegria. Um deles,
G., de 30 anos, inclusive, afirmou: “você vai amar aqui, porque aqui é alegria”.

Imagem 1 - Roda de conversa

Fonte: Acervo pessoal, 2022.

RESULTADOS OBTIDOS NA ENTREVISTA COM A COORDENADORA

O projeto Alegria começou quando, em 2016, a PUC Minas oferecia outro


projeto chamado “Letramento digital” para pessoas com deficiência e a aceitação foi
tão grande que a então coordenadora do curso de Letras, Jane Quintiliano, sugeriu à
Arabie que criasse, a partir dali, uma extensão que abordasse a alfabetização e
letramento. A professora, mesmo sem experiência com projetos de extensão, aceitou a
proposta e, assim, o Alegria caminha para o seu sétimo ano, levando autonomia e
esperança para aqueles que o frequentam.

O público-alvo são adultos com deficiência intelectual e carentes


socieconomicamente, com, no máximo, 1 salário mínimo e meio per capita. Os
principais trabalhos educacionais e culturais desenvolvidos no projeto são as oficinas
de aprendizagem que ocorrem toda semana e atividades culturais como haverá no dia
29 de novembro de 2022; um evento de encerramento do segundo semestre. Ele
contará com apresentações dos alunos e o lançamento de um livro, escrito por eles,
contando suas histórias de vida, gostos e coisas que os fazem felizes.

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Os principais sucessos e bons resultados são, sem sombra de dúvida, as
aprendizagens desenvolvidas. Além disso, o reconhecimento dos familiares também é
muito presente, sobre o qual a coordenadora até deu um exemplo de uma frase que
uma mãe disse para ela: “Vocês tratam os nossos filhos como gente”. Com essa frase,
podemos refletir sobre o que é ser gente? Pessoas que não têm deficiência talvez
nunca tenham parado para pensar ou dado a devida importância para algo que é tão
imperceptível, mas há pessoas, principalmente o público do projeto, que não são vistos
como tal e o projeto lhes proporciona se sentirem PESSOAS, com autonomia e
interação social.

Já os principais desafios do Projeto se dão justamente no social, como na frase


da mãe mencionada acima, em que é preciso se desprender desse molde de que
“deficiente não é gente”. A maioria das instituições afirmam que não estavam
preparadas para receber esse tipo de aluno, mas as mães respondem que também não
estavam. Instituições/Projetos precisam desse suporte e o projeto Alegria é um deles,
ao se desafiar a tentar, e vem colhendo bons frutos, procurando traçar metodologias
que realmente ajudem esses alunos no processo de aprendizagem. Outro desafio
interessante em ser abordado é a dificuldade em dizer “não” para a quantidade de pais
que buscam o projeto com o desejo de que seus filhos estudem nele, mas cumprindo a
Lei, só é possível aceitar maiores de 18 anos e, depois, os ensinamentos aplicados
exigem um trabalho mais individualizado dos professores. Assim, o excesso de alunos
requereria mais professores, espaço e atenção.

Na pandemia, como todos tiveram que ficar em isolamento social, o projeto teve
a ideia de fazer as oficinas no formato remoto, mantendo todo o foco e aprendizagem
proporcionado. Porém, as aulas foram reduzidas e sua carga horária, pois quatro horas
olhando para o celular seria bastante pesado para os alunos. Entretanto, tudo ocorreu
perfeitamente bem e as dificuldades foram sendo sanadas graças aos esforços dos
professores e dos pais, que se disponibilizaram para ajudar e dar suporte aos alunos.

Sobre os PDI/PTI dos alunos presentes, a maioria possui Síndrome de Down, os


demais têm diagnóstico de autismo, dislexia e retardo mental. Todos estudam juntos,

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sem separação, porque a interação desses indivíduos é fundamental. Um vai dando
suporte ao outro, com muito respeito e alegria.

REFLEXÕES FINAIS SOBRE RESULTADOS E ARTICULAÇÕES

Sob esse viés, destaca-se que o Projeto Alegria, apesar das dificuldades, colhe
bons frutos. É visível o vínculo emocional que os participantes possuem com os
professores. Podemos perceber que esse vínculo surgiu devido ao respeito que os
educadores têm por cada participante e sua família, ou seja, é perceptível que o
Projeto Alegria se baseia em uma educação humanista. Além disso, a participação no
projeto possibilita aos alunos um espaço sociocultural no qual eles trocam
conhecimentos, informações sobre seu dia a dia e dividem suas dificuldades entre si.
Dessa forma, é importante destacar o conhecimento educacional em que é oferecido
no Projeto Alegria, mas, não se esquecer dos outros saberes a que esses participantes
têm acesso.
A lógica do funcionamento humanista do Projeto Alegria experimenta na prática
o que assevera o texto “A Deficiência através da história”: a ideia de que tais sujeitos,
detentores de uma vida própria, com experiências e vivências próprias, podem, na
verdade, contribuir para o crescimento e amadurecimento da sociedade na totalidade:

Deve-se considerar que, a permanência física dessas pessoas junto aos


demais representa aproximar e interar duas realidades distintas, possibilitando
que ocorra a releitura de conceitos, concepções e paradigmas. É a partir dessa
atitude que se garante um espaço público constituído por pessoas com
características e capacidades diversas de se manifestar e emitir opiniões,
construindo a partir da pluralidade o respeito e a valorização das diferenças. (A
DEFICIÊNCIA, p.52-53).

COMO ESSA PRÁTICA CONTRIBUIU PARA SUA FORMAÇÃO DOCENTE

Uma experiência como a de interagir, ter real contato com Pessoas Com
Deficiência, além de estudar de maneira sistemática e aprofundada as condições nas
quais se encontram essas pessoas, é definitivamente inigualável. E não apenas para o
desenvolvimento de profissionais que se embasam nas propostas humanistas, mas de
melhores seres humanos, que entendam que a noção de inclusão não é mera pauta,
mas uma imprescindibilidade.

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Ademais, ressalta-se a importância de associar o conhecimento teórico com a
prática. Por mais que se estude muito sobre determinado assunto, apenas na prática é
possível conseguir adquirir certos tipos de conhecimento. A visita ao Projeto Alegria
nos proporcionou uma experiência rica que evidenciou a importância de aplicar uma
educação humanista, pois cada aluno é um sujeito sociocultural, e o educador precisa
aprender/valorizar a singularidade desse indivíduo e respeitar o seu processo de
aquisição de conhecimento.

CARGA HORÁRIA

Carga horária total: 20 horas

● Organização do roteiro para a entrevista com a coordenação e os alunos: 03 h


● Entrevista com os alunos: 02h
● Entrevista com a coordenação: 02h
● Visitas presenciais: 8h (comprovadas com assinatura do responsável pelo
projeto em anexo)
● Registro das atividades e leituras e pesquisas sobre o projeto ou instituição: 02h
● Relatório em grupo: 03h

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivida na tentativa de compreender o universo do autista,


primordialmente em uma dimensão empática; sim, o principal aspecto estimulado em
uma atividade na qual se busca viver algo que escapa de nossa realidade, contexto e
convívio, é uma singela dose de empatia — compreender profundamente o outro, suas
particularidades e contextos; sem nenhuma imposição do eu que sobressalte
revogando uma realidade que o outro desconhece. Nesse sentido, a experiência
proporcionada pelo curso é engrandecedora, em aspectos educacionais e humanos;
revelando o caráter recompensatório de cuidar e educar; e compreendendo a fortuna
que é ofertar meios para que pessoas portadoras de qualquer deficiência possam
sentir-se pertencentes. Para o filósofo Immanuel Kant a justiça está na preservação
das leis que, em stricto sensu, foram estabelecidas e admitidas em sociedade. E uma
delas comumente conhecida é: a educação é direito de todos. O projeto alegria, como
uma experiência de alfabetização, nos faz pensar sobre as realidades que nos cercam,

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em suas particularidades e exigências, nunca esquecendo do direito, e primordialmente
do fato que todos merecem tê-lo.

ANEXO I

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