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Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais que, a milhares de quilómetros de distância, sempre me apoiam e incentivam.
Meu exemplo e meu porto seguro, sem vocês nada seria possível.
Para as pessoas especiais da minha vida. À Alejandra Delgado pelas muitas horas de conversa na minha varanda, debatendo os
possíveis temas, vantagens e desvantagens. Ao Cristian Guevara pela paciência, companhia e pelas pizzas nas noites de trabalho.
A Angel Díaz pelo “apoio técnico” na fase final deste trabalho, pelo carinho e respeito. Ao Tomás Frías pelas inúmeras correções
ortográficas ao longo deste ano – um brasileiro na Espanha e um espanhol no Brasil.
Por último, mas não menos importante, ao meu tutor Alberto Burgos, pelas orientações claras, pelas palestras sugestivas e por toda
atenção recebida.
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RESUMO
extremo oeste da cidade de São Paulo (Brasil), que, como muitas cidades contemporâneas, preserva
a cidade. A Vila Leopoldina, tradicional bairro industrial, vive atualmente um período de mudança de uso. O
a atividade industrial vem abandonando a região, o que cria uma espécie de vazio urbano que permanece
disponível ao interesse de outras atividades econômicas. A parte baixa do bairro, próxima à confluência do
los ríos Pinheiros y Tietê, además del CEAGESP (Empresa de Almacenes Generales de São Paulo), todavía
mantém uma paisagem industrial, o património edificado de armazéns e edifícios industriais desperta
interesse do sector terciário. O principal atrativo da região é sua eficiente rede de transportes. O bairro
Está localizada na Marginal Pinheiros, via urbana de caráter regional que faz ligação com as principais rodovias.
estado, além de ser atendida por linhas de trem (CPTM). Essas características fazem da região um
ponto de especial interesse para empresas do setor audiovisual. Há uma concentração crescente
centro audiovisual do estado de São Paulo. Os antigos armazéns industriais proporcionam amplos espaços,
Esse fenômeno começou na década de 2000 e vem se consolidando desde então. O novo público
fez surgir novos restaurantes e bares, alguns dos quais também reciclaram
refletir sobre a importância da reciclagem da arquitetura em galpões industriais e seus mais diversos Palavras-chave: Reciclagem de arquitetura;
reuso; a infraestrutura.
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RESUMO
Este trabalho analisa especificamente a reciclagem de edifícios industriais em um bairro do extremo oeste
da cidade de São Paulo (Brasil), que, como muitas outras cidades contemporâneas, mantém uma grande
A Vila Leopoldina, tradicional distrito industrial, vive atualmente um período de mudança de uso. Atividade industrial
sai da região, criando uma espécie de vazio urbano que fica à disposição do interesse alheio
atividades económicas. A parte baixa do bairro, próxima à confluência dos rios Pinheiros e Tietê, além da
A CEAGESP (Empresa de Almacenes Generales de São Paulo), ainda mantém uma paisagem industrial, o patrimônio
construída de armazéns e edifícios industriais desperta o interesse do setor terciário. A principal atração do
região é dada pela sua rede de transporte eficaz. O bairro está localizado na Marginal Pinheiros, rua urbana de
de caráter regional e que se conecta com as duas principais rodovias estaduais, além de ser atendida por linhas do
trem (CPTM). Essas características fazem da região um ponto de especial interesse para empresas do setor
audiovisual Há uma concentração crescente de estúdios, produtoras e agências de publicidade que vendem
consolidando o processo de formação do pólo audiovisual do estado de São Paulo. Os antigos edifícios industriais
Esse fenômeno começou na década de 2000 e vem se consolidando desde então. O novo público fez
que surgiram novos restaurantes e bares, alguns dos quais também reciclaram armazéns antigos ou pequenos
armazéns existentes, construindo espaços sugestivos e fazendo-nos refletir sobre a importância da reciclagem
reuso; a infraestrutura
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ABSTRATO
esquerda da cidade de São Paulo (Brasil). Como muitas cidades contemporâneas, possui uma grande quantidade de armazéns e
antigos edifícios industriais não utilizados, resultados da desindustrialização da cidade. Vila Leopoldina, tradicional
bairro industrial, vive atualmente um período de mudança de uso. A atividade industrial tem
vem saindo da região, criando uma espécie de vazio urbano que fica disponível para outras atividades econômicas. O
área próxima à confluência dos rios Pinheiros e Tietê, além do CEAGESP (Armazéns Gerais
Empresa de São Paulo), ainda mantém uma paisagem industrial, o legado construído de armazéns e instalações industriais
edificações desperta os interesses do setor terciário. A principal atração da região é o seu eficiente sistema de transporte.
O bairro está localizado na Marginal Pinheiros, estrada regional que liga as principais rodovias estaduais, ao lado
sendo atendida pela linha de trem (CPTM). Estas características fazem da região um ponto de especial interesse para
empresas audiovisuais. Há uma concentração crescente de estúdios, produtoras de cinema e agências de publicidade
que estão consolidando e concentrando o mercado audiovisual do estado de São Paulo. A velha indústria
Esse fenômeno começou na década de 2000 e vem se fortalecendo desde então. O novo público fez
surgem restaurantes e bares nas redondezas e alguns deles também reciclaram antigos armazéns ou
pequenos edifícios industriais, criando espaços interessantes que nos fazem refletir sobre a importância da reciclagem
ÍNDICE
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INTRODUÇÃO 01
01 RECICLAGEM NA ARQUITETURA 05
ECONOMÍA 08
ASPECTO SOCIAL 10
MEIO AMBIENTE 11
EXEMPLOS INTERNACIONAIS 16
UM EXEMPLO BRASILEIRO 29
CONTEXTO ATUAL 39
NEOGAMA BBH 82
ESTÚDIO PIER 88 90
PRODUTORA PARANOID 98
CONCLUSÕES 108
INTRODUÇÃO
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A Vila Leopoldina é um bairro de origem industrial no extremo oeste da cidade de São Paulo que,
Em um período de pouco mais de um século, foi convertido de um bairro remoto de solo pantanoso às margens
dos principais rios da cidade num bairro dinâmico de profundas e contínuas transformações. Ele
período de atividade quase exclusivamente industrial começou na década de 1920 e tem sido
desenvolveu-se até meados dos anos 80, período não muito longo mas que deixou vestígios
importante na paisagem urbana. O processo de desindustrialização ganhou força a partir da década de 90,
Nos últimos 30 anos o bairro vem passando pelas transformações mais importantes de sua história.
e que vão alterando progressivamente a sua tipologia. Por um lado, na porção leste, há a pressão do
especulação imobiliária com torres residenciais de alto padrão e grandes empreendimentos privados;
Por outro lado, na porção oeste, há a iminente substituição da Ceagesp que mudará radicalmente o
estrutura do bairro.
industrial. Este é um processo recente, como indicam os projetos analisados; todos os trabalhos são
últimos 15 anos, sendo o mais antigo 2005. Conceitos relacionados com poupança económica e Ilustración 1 – Imagen aérea de Vila Leopoldina en la
década de 1970. (Fuente: Ceagesp Oficial. “Memorias
Sustentabilidade na arquitetura ganha importância nos debates sobre planejamento urbano em São Paulo e reciclagem Ceagesp”http://ceagespoficial.blogspot.com/2018/12/me
de galpões industriais na Vila Leopoldina ganha força. Somado a isso, o interesse das empresas audiovisuais morias-ceagesp-old-as-it-was-avenue.html)
Ilustração 2 – Imagem aérea da Vila Leopoldina de 2016.
na região converteu dezenas de armazéns industriais em espaços de produção e trabalho, o que (Fuente: Época. “Porque precisamos de mais um bairro hípster en SP”
https://epoca.globo.com/vida/experiencias-digitais/noticia/2016/06/
tiveram seu crescimento impulsionado pela aprovação da Lei Federal nº 12.485 de 2011, que exige que o
por-que-precisamos-de-mais-um-bairro-hipster-em-sao-paulo.html
50% dos programas exibidos no horário nobre são produções nacionais. Com tudo,
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Não são apenas as empresas de publicidade ou ligadas ao mundo da produção audiovisual que reciclam
armazéns industriais no bairro. Durante o processo de pesquisa no início deste trabalho foi constatado
a existência de outros usos como escolas, restaurantes e espaços culturais, entre outros.
Para a coleta de dados dessas edificações baseou-se em fontes bibliográficas e na web, que foi concluída
com entrevistas com os autores. Foram analisados levantamentos topográficos, plantas, cortes, fotos.
fotos antigas, fotos de obras, fotos recentes e material submetido para concurso de arquitetura, tudo fornecido
O objetivo deste trabalho é o estudo da reciclagem de galpões industriais na Vila Leopoldina. PARA
o princípio denominado Shearing Layers of Change, ou seja, as Camadas de Tempo, proposto por F. Duffy1 e
posteriormente complementado por S. Brand2 . As quatro camadas originais são: Estrutura, Instalações,
Distribuição e Mobiliário, às quais foram acrescentadas as camadas Lugar e Pele por S. Brand. Cada um
As camadas têm seu período médio de tempo, progressivamente desde a menos estável, o Mobiliário, até a
Ilustração 3 – Camadas de tempo (Fonte: Denzer,
mais estável ao longo do tempo, o Lugar. Esta abordagem nos permite analisar um projeto a partir de suas camadas, Anthony. “Solar Houses & Preservation: Shearing
Layers” em Solar House History e outras reflexões
que por sua vez refletem a proporcionalidade da energia acumulada, dos investimentos e das alterações num edifício ao longo do tempo. sobre arquitetura, 10 de maio de 2015. http://
solarhousehistory.com/blog/2015/ 5 /9/assim
ao longo do tempo.
lar-casas-adoráveis)
1 Frank Duffy, “Medindo o Desempenho do Edifício” em Instalações, vol. 8 (maio de 1990), 17-20.
2 Steward Brand, “Site, Structure, Skin, Services, Space plan, Suff” en Como os edifícios aprendem: o que acontece depois de construídos (Nueva
Iorque: Penguin Books, 1995).
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projetos com o objetivo de identificar não só os aspectos construtivos, mas também suas qualidades,
fortalezas e debilidades.
contexto da desindustrialização das cidades. Ainda assim, a teoria aplicada neste trabalho está focada
intervenções deste tipo, pretende promover o debate sobre conceitos arquitectónicos com
as diferenças e a adaptabilidade dos armazéns industriais são conceitos recorrentes nesta análise. Dentro de
Neste contexto, seria possível estabelecer uma relação entre os projetos internacionais analisados e o
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01 RECICLAGEM NA ARQUITETURA
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Por sua vez, o verbo reciclar é definido como “submeter um material usado a um processo para que possa ser devolvido”.
usar". Podemos, portanto, presumir que quando falamos de reciclagem arquitetónica, estamos a referir-nos a
reutilizar uma arquitetura pré-existente submetendo-a a um processo que lhe permita um novo ciclo de vida. Em
arquitetura, e suas mais diversas áreas e escalas, o conceito de reciclagem ganha cada vez mais
força entre profissionais e estudiosos da área. Móveis, mobiliário urbano, edifícios, conjuntos de
os edifícios e até os espaços urbanos clamam por renovação, reutilização, reinvenção de si mesmos.
Tendo como diretriz o conceito de reciclagem como proporcionar algo com um novo ciclo, é importante
Estabelecer a diferença entre reciclagem e reforma na arquitetura. Reciclar não é uma simples
estudado e meticuloso, capaz de destacar o que não foi visto, da capacidade de agregar valor ao que
existente, por mais precária ou sem valor aparente que seja a sua situação atual. Para isso é necessário entender
o contexto da intervenção, o seu lugar, a sua história e a sua morfologia, para que seja possível perceber porquê
completar, ou o mais preciso possível, as linguagens arquitetônicas do objeto de estudo, seu valor no meio ambiente
em que está inserido, seus pontos fracos e fortes. É o projeto que nasce do estudo do que existe,
É completamente o contrário, é trabalhar com o “lixo”, com o desperdício das cidades, de espaços que já não existem.
servem o seu uso original, edifícios muitas vezes abandonados e em estado de deterioração, estes que podem ser
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“Cada cidade tem sua história, seus pontos de referência. Não me refiro apenas àqueles
cidade. Seja uma fábrica, uma antiga parada de bonde ou uma daquelas lojas de conveniência.
comestíveis que tinham tudo exibido ingenuamente. Mas, como não podem mais
recuperar esses espaços ou as atividades antigas, temos que encontrar novos usos,
novas atividades que dão vida à cidade. Não há nada que um bairro goste mais,
3
mesmo para toda uma população, do que a reutilização de um desses espaços.”
Muitas vezes a identidade e a memória dos espaços não são facilmente reconhecíveis à primeira vista.
À primeira vista, você deve estudá-los cuidadosamente e depois destacá-los. Condição que geralmente dificulta
A questão que muitas vezes vem à mente é por que reciclá-los quando poderíamos simplesmente
eliminá-los?Ou melhor, não seria mais fácil e desejável substituí-los por uma nova obra? Para tentar
Para responder a tais questões poderíamos dividir o conceito de reciclagem arquitetônica em três temas.
3 Jaime Lerner, Acupuntura Urbana, traduzido por José Luis Sánchez e Meritxell Almarza (Barcelona: Instituto de Arquitetura Avançada
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ECONOMÍA
construção, referimo-nos, entre outras coisas, à escassez de recursos materiais e à poupança de meios
financeiro.
Embora haja muita controvérsia sobre a poupança efectiva na reciclagem de edifícios e se é realmente
mais barato reabilitar do que construir uma nova, não se pode negar que a utilização racional dos recursos deve
seja protagonista de uma boa reciclagem. Há casos comprovados de projetos mais caros que o
substituição, ainda não é uma constante absoluta e depende muito da forma como os arquitectos
eles enfrentam o problema. O casal de arquitetos franceses Anne Lacaton e Jean Philippe Vassal vem
“A poupança de custos pode hoje ser a forma de criar edifícios excepcionais. Seu interesse
reside no facto de nos fazer questionar sobre a adequação daquilo que nos é pedido. [...]
Ter um orçamento baixo é uma boa desculpa para procurar e propor soluções
4Manuel Lillo Navarro. “Sem recursos. O paradigma da escassez como princípio criativo no projecto arquitectónico” (tese de doutoramento,
Universidade Politécnica de Valência, 2015), 241.
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que não seria pensado se agissemos mais livremente, mas nunca para justificar uma
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resultado ruim por falta de dinheiro.”
A chave do sucesso pode ser a ideia de revitalizar com o mínimo necessário, abrindo o
supérfluo, propor espaços inteligentes e flexíveis ao programa e ao tempo, tendo sempre em mente o
adaptação e mudança ao longo do tempo. Precisamente como aponta Anatxu Zabalbeascoa no seu texto
dois dos critérios que marcam os nossos dias. Assim, o ícone da lixeira não é lixo,
mas começa com pouco mais que um desperdício. Sua matéria-prima são edifícios obsoletos,
Por fim, é importante destacar que você pode e deve aproveitar ao máximo o que existe e
muitas vezes não há necessidade real de grandes rupturas, é possível, por exemplo, compartimentar o
construir e trabalhar apenas com algumas de suas partes. Os envelopes podem se destacar neste
contexto, é possível tratar ou substituir paredes e coberturas, adaptando-se à proposta e revitalizando todo o
5 Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal, Attitud (Barcelona: Gustavo Gili, SL, 2017), 13.
6 Anatxu Zabalbeascoa, “Ícone de Lixo” em Glossário de Reciclagem Urbana, ed. por Elisa Valero (Valência: General de Ediciones de
Arquitetura, 2014), 51.
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ASPECTO SOCIAL
O aspecto social é muito amplo e complexo, poderíamos discuti-lo nas mais diversas áreas, mas
Para este trabalho é conveniente defini-la em dois aspectos: memória e identidade. Cada lugar tem sua memória,
nada surgiu do nada e a história está sempre misturada com fatores e momentos sociais, urbanos
histórico. A identidade de um objeto pode ser mais difícil de medir, dependendo de muitos fatores e de muitas
Às vezes é subjetivo e varia de pessoa para pessoa. Sempre levando em conta a sustentabilidade como
conceito norteador, memória e identidade vêm no sentido de dar continuidade ao que existe, de colocá-lo
em destaque.
história do território. Não podemos escrever novas linhas sem penetrar nas anteriores.
Os edifícios, assim como as palavras, são carregados de significado na frase da paisagem. […] O lugar
É uma fonte de riqueza. E deve ser o destino também. O fato embutido em uma atividade
capaz de catalisar forças e dar origem e continuidade a novas capacidades. Hoje ele viaja
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conhecimento, não importa.”
7 Eva Chacón, “Movendo a pele” em Glossário de Reciclagem Urbana, ed. por Elisa Valero (Valência: General de Ediciones de Arquitectura,
2014), 57.
8 Ana Lozano, “Sustentabilidade” em Glossário de Reciclagem Urbana, ed. por Elisa Valero (Valência: General de Ediciones de Arquitectura,
2014), 85.
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A paisagem urbana faz parte da memória de cada um dos seus cidadãos. Os centros antigos
cheios de edifícios históricos valiosos, ruas estreitas cheias de memória, os antigos bairros operários
onde ainda se preservam pequenos exemplares da humilde habitação social geminada, os rios e suas
costeiras, os complexos industriais e os seus imponentes edifícios, entre muitos outros, são testemunhos
da cidade e a história de cada pessoa que ali viveu. A preservação de tal testemunho não é
relacionado à total conservação de suas características originais, mas sabendo ler esses quadros e
traços, respeite-os e sempre que possível consulte-os. Nem tudo precisa ser novo,
vidro ou com visual de alta tecnologia, como acontece em todas as grandes cidades, há muito o que conservar
MEIO AMBIENTE
Sustentabilidade e meio ambiente são dois conceitos indiscutivelmente inseparáveis. O que nós
O importante aqui é refletir sobre quais são as possíveis consequências para o meio ambiente ao reciclar
um edifício existente. A famosa expressão “fazer mais com menos”, além de economia, significa ter a
9Manuel Lillo Navarro. “Sem recursos. O paradigma da escassez como princípio criativo no projecto arquitectónico” (tese de doutoramento,
Universidade Politécnica de Valência, 2015), 245
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“Aproveitar o que existe e utilizá-lo melhor, em vez de continuar a fazer novas propostas.”
que prometem um futuro melhor para a habitação em sintonia com o meio ambiente e
propostas alinhadas com a ideia de uma arquitetura sustentável que continua a dar sentido
construções atuais.” 10
a busca pela eficiência energética costuma nortear as intervenções. Um projeto consciente, seja ele um
reciclando ou não, é preciso encontrar a melhor forma de interagir com o meio ambiente. Você pode se gabar
construção que começa do zero. Ainda é um tema complexo e este trabalho não tem como objetivo
Conforme defendido por diversos autores, a estrutura de suporte em edifícios residenciais consome
10 Xavier Mont, “Rehabitar” em Glossário de Reciclagem Urbana, ed. por Elisa Valero (Valência: General de Ediciones de Arquitectura, 2014), 80.
11 Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal, Habitação coletiva. Território de exceção. (Barcelona: Gustavo Gili, SL., 2007).
12 Emma O'Kelly e Corinna Dean, Reabilitações, rurais, urbanas, lofts, espaços industriais e casos radicais. (Barcelona: Blume, 2007), 6.
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vida urbana e, por fim, à crescente importância do lazer e das questões relativas ao
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“a <<cultura>>.”
estruturação das cidades e seus processos. Este trabalho tem como objetivo estudar intervenções em resíduos
advindos do processo de desindustrialização das cidades e como estas atuam no ambiente construído.
A sua reintegração nem sempre é clara ou fácil de gerir. O facto é que a indústria deixou a sua
Desde meados do século XX, as cidades e metrópoles têm testemunhado a retirada industrial da
centros urbanos, muitas vezes procurando locais remotos, mais baratos e com melhores condições fiscais.
vantajoso. Tal fenómeno não é absoluto, mas pode-se dizer que é a actual tendência global. Em algumas
Metrópoles latino-americanas, esse processo ocorreu tardiamente, a desindustrialização ainda está por vir
13 Henry Lefebvre, O Direito à Cidade. (Madri: Artes Gráficas, Móstoles, 1968), 23.
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ocorrendo e transformando os espaços urbanos, que passam a ter uma nova condição no processo de
As zonas industriais costumam ter um preço mais atrativo que as zonas consolidadas, a localização costuma ser privilegiada,
central ou de fácil ligação e acesso, servido por sistema de transporte público e ruas.
aspectos particulares e específicos relacionados com a realidade urbana num contexto global.” 14
estar concentrado em uma área, gera não só a oferta de grandes construções, mas também altera
a paisagem urbana, suas dinâmicas e atividades. A chegada de novas atividades de serviços, entretenimento,
Tal processo deixa para trás construções valiosas para reciclagem arquitetônica: os armazéns.
industrial. Grandes dimensões, grandes espaços internos, alturas generosas e estrutura portante
14 Henry Lefebvre, O Direito à Cidade. (Madri: Artes Gráficas, Móstoles, 1968), 23.
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Imponentes são características comuns dos galpões e armazéns industriais. características únicas e
arquitetonicamente valioso que permite uma ampla gama de possibilidades. Não são poucos os exemplos
exposição, entre muitas outras. Continuamos aqui com exemplos internacionais contemporâneos de reciclagem e
EXEMPLOS INTERNACIONAIS
O FRAC (Fond Régional d'Art Contemporain) de Nord-Pas de Calais é um bom exemplo de reciclagem
de armazém industrial. O navio funcionava como depósito de navios e fazia parte do complexo do estaleiro
no porto de Dunquerque, norte da França. A obra foi concluída em 2013 e a sua implementação neste site
único e de valor simbólico tem funcionado como catalisador da requalificação da zona portuária.
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O projeto preserva a nave antiga em sua totalidade e preserva intacto seu grande volume vazio, que
segunda nave, “clone”, da mesma dimensão e anexa ao edifício existente. O novo é justaposto
delicadamente ao lado do velho, estabelecendo um diálogo entre eles, acrescentando espaços e dimensões ao
construção, transformando os dois em um. O uso por sua vez pode ser combinado e separado, conforme
precisar.
O novo edifício, com estrutura pré-fabricada e envoltórias luminosas e bioclimáticas, tem como
principal característica é a transparência de suas fachadas, o que permite a visão de seu interior e do
volumes opacos onde estão as reservas das obras de arte. A composição dos seus espaços interiores
Tendo em vista a flexibilidade e a mudança ao longo do tempo, as plataformas são gratuitas e com poucas restrições, o que
disponíveis com intervenções mínimas. Casas FRAC montam coleções de arte pública
contemporâneos que são apresentados ao público através de exposições baseadas em empréstimos de galerias e
museus, além disso, o navio pode complementar os espaços FRAC através de exposições temporárias,
espaço para criação de obras de grande porte, ou pode funcionar de forma independente hospedando eventos
públicos ou privados, shows, etc. O projeto cria um espaço poderoso, com capacidade flexível e capaz Ilustrações 4 e 5 – Fachada principal e corte transversal.
(Fonte: Archdaily. “FRAC Dunkerque/Lacaton & Vassal”.
trabalhar em diversas escalas. https://www.archdaily.com.br/br/760697/frac-dunkerque-
lacaton-and-vassal)
15 Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal, Atitude. (Barcelona: Gustavo Gili, SL., 2017), 73.
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A obra de Lacaton e Vassal costuma surpreender pela simplicidade e contundência de suas ideias e, pelo menos
Ao contrário do que se pode presumir, a superposição ou, neste caso, a justaposição, não estabelece uma
hierarquia entre os edifícios, eles não se desvanecem nem competem, pelo contrário, complementam-se. O
resposta centra-se na identidade industrial do armazém existente e apropria-se da sua morfologia, colocando
evidenciam as duas temporalidades distintas, que juntas fazem desta reciclagem um projeto repleto de
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BOMBAS GENS
Ramón Esteve
Construída em 1930 pelo arquitecto valenciano Cayetano Borso de Carminati, a antiga fábrica de
reciclagem de armazéns inseridos em contexto urbano. Além dos armazéns, o complexo dispõe de um abrigo
canhão antiaéreo construído em 1938 durante a Guerra Civil Espanhola - época em que a fábrica era utilizada para
a produção de armas - e uma adega do século XV. Fechado em 1991, o complexo ficava em
conjunta em 2014. Poucos meses depois do incêndio, a Fundació Per Amor a l'Art comprou o edifício com o
intenção de reabilitá-lo.
industrial da cidade, composto por um edifício com fachadas em estilo art déco e quatro armazéns. O projeto
de reabilitação propôs o Centro de Arte em todas as naves e grande parte do corpo da fachada
e a sede da fundação ocupa a antiga vila, além dos volumes do restaurante e do centro de dia,
destinado a crianças em risco de exclusão social. Inaugurado em 2017, é um espaço polivalente onde
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cerâmicas originais e tampas que imitam tampas de madeira clara. Ao entrar no centro
caminha na escala industrial original que foi restaurada e ocupa quase toda a entrada, dando acesso ao
pátio central onde se avistam as naves recuperadas de composição irregular. O percurso permite
específico do site por Cristina Iglesias. A treliça de tijolos nas paredes do jardim trabalha a luz e gera uma
atmosfera íntima. Finalmente, um grande volume de tijolos é fixado a uma parede de concreto e abriga o
Os navios são os grandes protagonistas do espaço e esta ilusão é reforçada pelo percurso
proposto. O interior dos armazéns, com as alturas e dimensões características de um espaço industrial,
Ao mesmo tempo que abrigam as exposições, nos remetem à memória do grupo. Neste reagendamento,
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FÁBRICA VITÓRIA
Arquitetura WIN
época em que o projeto representou o retorno da tradicional cerveja local à sua origem. Localizado no cruzamento de
duas das mais importantes vias de circulação rodoviária da cidade, o projecto ganhou visibilidade e prestígio,
Situado num antigo armazém industrial, o projecto tem um programa longo e complexo, já que não só
Abriga as atividades industriais de produção de cerveja, mas também escritórios comerciais e espaços de
acesso público. Uma funcionalidade complexa, em contraste com a aparente simplicidade do seu envelope, no
que coexistem com usos voltados para visitas guiadas, degustação, comércio, produção, embalagem,
Armazenamento e distribuição.
A estrutura original foi preservada para manter um espaço unitário onde o programa foi
meticulosamente implementada, fica evidente também que a grande intervenção nesta reciclagem foi a gestão
dos envelopes. Uma pele branca cobre o edifício respeitando os dentes de serra do telhado
segundo os autores, foram trabalhados para preservar a tradição industrial hermética, bem como o uso de
o vidro da fachada norte tem uma abordagem inovadora e acolhe a luz solar, característica
17 Ilustrações 16 e 17 – Foto aérea do conjunto e da fachada
tradicional da Andaluzia. O uso do vidro não se resume na fachada, mas nos espaços internos
norte, respectivamente. (Fonte: Gana Arquitectura. “Fábrica
de fabricação, embalagem e distribuição de cerveja Victoria/
Málaga.” http://ganaarquitectura.com/es/proyectos-2/planta-
17 Informação prestada pelos autores do projeto numa visita guiada à fábrica realizada no dia 15 de junho de 2018, em Málaga. de-fabricacion-envasado-y-distribucion-de-cerveza - victoria
España. -málaga/)
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de atenção ao público e também nos escritórios, que permitem continuidade visual no espaço interno,
num jogo de materiais opacos e translúcidos gerando uma estética moderna e de certa forma
reformulados para atender às necessidades da empresa e não o fazem, pelo menos não de forma óbvia,
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COMOCO Arquitetos
rudimentar, modesto e composto basicamente por dois armazéns agrupados com coberturas metálicas
composto por arcos, anteriormente era utilizado para armazenamento de materiais industriais. O objetivo
O projecto consistia em converter o espaço interior dos armazéns num complexo desportivo que, para além da
o lote é uma estrutura modular leve de madeira, de altura única, que ocupa toda a largura do armazém.
Um sistema de pórticos constituído por colunas e vigas de madeira (Pinus Americano) cria a estrutura básica e,
Por sua vez, o sistema construtivo define a materialização lenhosa do volume. O teto e as paredes
São confeccionados em placas de MDF, assim como os móveis propostos, e são trabalhados em duas texturas:
visível e lacado a preto.18 A generosa altura livre e a cobertura existente do armazém permitiram
ausente, uma vez que o espaço era originalmente abrigado. O novo telhado ficou livre para funcionar
introduzir um elemento mais suave no interior, um elemento feito com materiais leves
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e superfícies lisas, principalmente através da utilização de painéis de MDF."
No exterior do edifício a única alteração é o furo de entrada através de uma das paredes,
rodeado por uma estrutura metálica. Foi mantido exatamente como estava, sem restauração, sem pinturas ou
intervenções de qualquer natureza. Quando visto de fora, o edifício permanece o mesmo, a crueza estética é mantida
de madeira. Foi preservado todo o volume dos navios, seus envoltórios, sua estrutura e toda a cobertura.
Esta reciclagem caracteriza-se por uma intervenção mínima, é pontual, precisa e eficaz. O
A reprogramação dos navios foi realizada basicamente através da inserção de uma estrutura leve e
independente que atua aqui como um implante inserido dentro de uma massa construída e que
promove sua reprogramação de forma inteligente e elegante. Além disso, a estrutura permeável e
tempo.
19 Nelson Mota. “N10 Sports Facility by Comoco Architects”, entrevistado por Amy Frearson, publicado em 13 de outubro de 2012
https://www.dezeen.com/2012/10/13/n10-sports-facility-by-comoco-architects/
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HANGAR 19
Andreia Oliva
O Hangar 19 está localizado na cidade de Reggio Emilia (norte da Itália) e tem uma história
importante; É necessário levar isso em consideração antes de estudar a reciclagem proposta. Em 1991, o "Escritório
Righi", empresa que inicialmente produzia contêineres de carga e depois entrou no setor
ferroviária, escolheu a área suburbana de Santa Croce para seu assentamento industrial; entre outros motivos
proximidade da estação ferroviária central Ferrovie dello Stato. Durante a Primeira Guerra Mundial o
o edifício foi utilizado para a produção de armas e materiais de guerra; já em meados dos anos trinta
Como se pode observar na imagem ao lado, o estado do navio encontrava-se abandonado e deteriorado;
Além disso, a história do local e a memória do edifício foram inegavelmente poderosas e a intervenção foi
mostra-se fortemente sensível a essas características. Da mesma forma que um edifício em ruínas revela a sua
composição e estrutura originais, a memória dos sons e cheiros das máquinas e do trabalho permanece
O que resistiu é preservado na sua totalidade, sem mascará-lo ou agir sobre ele. Toda a estrutura e Ilustrações 24 e 25 – Armazém industrial antes e depois da
reciclagem. (Fonte: Studio Cittaarchitettura. “A. Prêmio 16-
a morfologia original foi mantida, de forma que o amplo espaço interno manteve sua composição
17/2017” http://cittaarchitettura.it/competitions/a-prize-16-
e abriga uma estrutura totalmente nova de linguagem contemporânea e evocativa. Subdivisões modulares 17/)
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permitir a independência estrutural e térmica das novas instalações onde foram utilizadas
materiais naturais como a madeira e vários envelopes de vidro que permitem a entrada de luz e uma
curioso jogo de luzes e transparências. A deterioração da estrutura e das paredes internas foi colocada em
evidência simplesmente pelo fato de não terem sido restauradas, gerando um provocativo contraste
entre o novo e o antigo, essa linguagem que se destaca em todos os ambientes de circulação dentro
a nave. Na fachada principal um grande mural artístico, que antecede a intervenção, ao mesmo tempo
destaca a entrada do prédio, refere-se a todos os trabalhadores que já passaram pelo prédio
Com a memória única da cidade, porém, tenta identificar possíveis transformações futuras. Esse
A reciclagem é um resgate astuto da memória que dá ao edifício um novo ciclo, respeitando a sua
Ilustrações 26 e 27 – Interior do armazém reciclado, com detalhes dos volumes de madeira e da estrutura metálica e paredes originais.
(Fonte: Studio Cittaarchitettura. “A. Prêmio 16-17/2017” http://cittaarchitettura.it/competitions/a-prize-16-17/)
27
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Ilustração 28 – Diagrama ilustrativo da composição do projeto: conservação, reabilitação e inovação. (Fonte: Studio Cittaarchitettura. “A. Prêmio 16-17/2017” http://
cittaarchitettura.it/competitions/a-prize-16-17/)
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Lina Bo Bardi
Lina Bo Bardi é uma das figuras mais importantes da arquitetura latino-americana. italiano
Nascida em Roma em 1914, mudou-se para o Brasil em 1947, ano em que seu marido Pietro Maria Bardi foi convidado
fundar e dirigir o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1966, retomou o projeto do Museu de Arte
Moderno de São Paulo (MASP) na Avenida Paulista (uma das mais importantes da cidade), que após sua
Lina, arquiteta, designer e educadora, desenvolveu projetos que visavam uma renovação do
Arquitetura brasileira. Em 1982 inaugurou uma de suas obras mais famosas, o SESC Pompéia. O SESC (Serviço
Social do Comércio), criada em 1946, é uma instituição privada brasileira mantida por empresários
do comércio de bens, serviços e turismo. Atua nas áreas de educação, saúde, lazer, cultura e assistência
em todo o âmbito nacional, orientado prioritariamente para o bem-estar social dos seus colaboradores e familiares;
O SESC Pompéia está localizado no terreno de uma antiga fábrica de baterias em um bairro
fábrica e reciclá-los para atender às necessidades da instituição nos ensina a visão inovadora e Pompeia. (Fonte: Vitrúvio. “Fábrica de tambores Numa velha.
Sesc-Pompéia comemora 25 anos” http://
ciente de Lina. Os navios estavam abandonados, em estado de deterioração e sem qualquer proteção www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.
093/1897)
património, poderia perfeitamente ser demolido e substituído por novas obras. No entanto, o
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fábrica que, por sua vez, também preserva a história do bairro e de seus moradores. A obra começou em 1977
Com o levantamento do existente, foi instalado um verdadeiro escritório no interior dos armazéns onde
projeto, croqui, ideias e desenhos técnicos foram executados no local. Essa imersão permitiu uma profunda
conhecimento das estruturas existentes, foram estudados todos os cantos do terreno onde detalhes e
as paredes passaram por um processo de remoção de elementos agregados ao longo dos anos, com a clara
intenção de recuperar a composição original do complexo. Os espaços eram adequados para abrigar os
atividades de fundação; Hoje funcionam nos armazéns oficinas, laboratórios fotográficos e musicais,
restaurante, espaços expositivos, entre outros. A integração do complexo com o espaço público foi
criado através do espaço vazio entre as naves que, por sua vez, forma uma verdadeira rua interna e que
configura o prolongamento da rua Clélia, onde está localizado o empreendimento. Este espaço entre os navios, além
usuários e qualquer pessoa que ali passe para entrar, funcionando como um espaço intermediário entre o público
e o privado.
Além dos armazéns reciclados, o projeto construiu três novos volumes prismáticos de
concreto que emergem ao lado da antiga fábrica de tambores, no canto restante do terreno. É
interessante como até os novos edifícios fazem referência à geografia local, uma vez por baixo
das passarelas passa o riacho Água Negra, que fica escondido pela sobreposição de um deck de madeira ,
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VILA LEOPOLDINA
No final do século XIX, o bairro hoje conhecido como Vila Leopoldina fazia parte de um sítio denominado
Emboaçaba que, embora distante da área urbanizada da cidade, era uma área rural de solo pantanoso no
margens dos rios Tietê e Pinheiros. O acesso à região era feito por vias ferroviárias e aquaviárias, sendo os trens
e os navios a vapor são o principal meio de transporte da região. Em 1894, período de consolidação do
regime republicano no Brasil, um quarto da área total de Emboaçaba foi parcelado, dando origem ao bairro,
na época, propriedade da empresa austríaca Richter & Company. Momento em que o primeiro
Década de 1920, com o loteamento de uma área de cerca de 490 mil metros quadrados. O primeiro registro oficial
1
da Vila Leopoldina consta no Plano da Cidade de S. Paulo de 1924.
1 Wanderley dos Santos. Lapa História dos bairros de São Paulo. (São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria
Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, 1980), 66.
33
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VILA LEOPOLDINA
Ilustración 36 – Planta da Cidade de S. Paulo de 1924 (Fuente: Prefeitura de São Paulo. “Censo 1920”. http://smul.prefeitura.sp.gov.br/
historico_demografico/1920.php)
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VILA LEOPOLDINA
chamada Lapa, que recebeu um forte investimento em infraestrutura urbana no início do século XX. A região
Foi escolhido para sede da principal empresa de trens e bondes da cidade, São Paulo .
Ferrovia, principalmente pela proximidade com o Rio Tietê, cujas águas foram essenciais para a
fornecendo as caldeiras que alimentavam as máquinas a vapor nas oficinas da empresa. São Paulo
Railway e, posteriormente, São Paulo Trainway, Light and Power Co., empresas de energia e transporte,
foram importantes para o desenvolvimento urbano da cidade e foram responsáveis pela instalação de linhas de energia.
trens e energia elétrica nos bairros da Lapa e Vila Leopoldina. A localização estratégica e terreno barato
atraiu indústrias, além da abundante força de trabalho, em sua maioria imigrantes, que foi o
mão de obra necessária para o crescimento do bairro. Grandes indústrias foram então estabelecidas, como
2
Cia. Fiat Lux, Metalúrgica Martins Ferreira e Fábrica de Tecidos Lapa.
Distante do centro da cidade, cerca de 9,3 km, o bairro apresenta baixa densidade até metade da população.
século 20. Na década de 1930, com as obras de retificação dos rios Tietê e Pinheiros, cujas obras começaram
as principais estradas regionais tornam-se muito atractivas para as empresas que se instalam na região;
além da extensa malha ferroviária presente, que se tornou estratégica para a chegada de novas indústrias.
A Metalúrgica Atlas, instalada em 1944 inicialmente como oficina de usinagem de equipamentos de grande porte
para a Cia. O Alumínio Brasileiro (CBA) , do Grupo Votorantim, é um exemplo de grande e importante
indústria do bairro. 3
2
Wanderley dos Santos. Lapa História dos bairros de São Paulo. (São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria
Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, 1980), 66.
3 O mesmo 21
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Ilustração 37 – Sobreposição do mapa topográfico de 1930 com imagem de satélite de 2015 para análise das transformações de
las orillas de los ríos Tiete y Pinheiros a lo largo del tiempo. (Fuente: Dutenkefer, E. “Mapa topográfico do Sara Brasil (1930)
sobreposto às imagens atuais de satélite do Google Earth”. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 156 - 159,
2015. http:// www.revistas.usp.br/ geousp/ article/ view/ 97395)
As décadas de 50 e 60 trouxeram mais desenvolvimento para a região com a instalação do Mercado Municipal de
Lapa e a Central de Abastecimento do Estado Sociedad Anónima, o famoso CEASA, um importante armazém
comercial da região, fornecendo insumos agrícolas para a população diretamente dos produtores
do interior a preços competitivos. Em 1969, o CEASA passou a integrar a Companhia de Armazéns Gerais do
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Estado de São Paulo (CAGESP) e passa a ser CEAGESP - Empresa de Entre Postos e Armazéns
Generais do Estado de São Paulo. A intensificação das atividades, associada ao aumento dos fluxos
a migração interna entre as décadas de 1960 e 1970, atraiu trabalhadores informais para a região,
trabalhos não qualificados e de baixo custo, que ocupam territórios irregularmente no ambiente da CEAGESP. O
Empresa, que centralizou o abastecimento de boa parte do país, consolidou rapidamente suas ações
nas áreas de comercialização hortícola e armazenamento de grãos. No final dos anos 70,
en São José do Rio Preto (ciudad del interior del Estado de São Paulo).
Depois veio a implantação do Parque Villa-Lobos, em 1989, que não está exatamente dentro dos limites
do bairro, fica no bairro vizinho mais ao sul (Jaguaré), mas teve e continua tendo grande influência na
e o consequente ganho de capital imobiliário na região. A área destinada ao parque público tem uma história
Pinheiros durante as obras de calhas e depósito de entulhos da construção civil. Ou seja, foi um
grande depósito de lixo a céu aberto que, com o crescimento da cidade, teve que ser redesenhado. Em 1987
Foram apresentados os primeiros estudos para implantação de um parque temático contemporâneo para o
lazer, cultura e esporte. O projeto original, elaborado pelo arquiteto brasileiro Décio Tozzi, previa
uma “cidade da música”4 . O local contaria com viveiro de pássaros, ilha musical, auditórios, casa de ópera e
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Escolas de balé e música. O plantio de árvores só começou em 2004 com projeto do engenheiro
o agrônomo e paisagista Rodolfo Geiser, que optou pela implantação de espécies nativas, com diversidade
e porte adequado às situações de um parque em plena utilização. A gestão do projeto foi participativa
e integrado à sociedade local e foi essencial para o sucesso do parque que hoje conta com cerca de 24 mil
plantou árvores e mudou completamente a paisagem local e é hoje um dos principais parques
da cidade.
profundas transformações em suas estruturas. As indústrias saíram da capital em busca de mais áreas
grandes, de menor custo e com incentivos fiscais, deixando bairros inteiros ociosos. Vila Leopoldina, talvez
por sua localização não central aliada à grande influência da CEAGESP e sua intensa dinâmica, teve seu processo
da desindustrialização e do abandono de forma mais lenta e tardia; ainda desde a década de 1990 e até
Hoje, o bairro está se transformando gradativamente. Este fenômeno está diretamente relacionado com a
demanda por expansão imobiliária na cidade, influência dos bairros vizinhos de classe média alta
e a localização estratégica no encontro dos dois rios mais importantes da cidade. As grandes parcelas Ilustração 38 – Novo edifício residencial em construção próximo ao
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CONTEXTO ATUAL
O zoneamento atual do terreno nos mostra a mistura de usos do bairro, que contempla desde
uso industrial para uso residencial estritamente de baixa densidade. Na porção noroeste, a maior
concentração de indústrias que resistem em terrenos urbanos, em oposição à porção oriental que tem
Forte caráter residencial de alto padrão. Analisando lado a lado o plano de zoneamento e a imagem de satélite
(2018), é possível detectar as diferentes densidades do bairro e os vestígios de sua origem industrial, onde
Estão localizados os galpões industriais que são objetos de estudo deste presente trabalho.
veículos por dia. Enormes quantidades de mercadorias circulam à noite, incluindo 1.580 toneladas
de frutas, 506 toneladas de hortaliças, 1.350 toneladas de hortaliças e 160 toneladas de pescado. Sem
Porém, hoje, 50 anos depois, tornou-se um problema porque o bairro enfrenta trânsito
cargas, grande acúmulo de veículos, poluição ambiental e acúmulo de sujeira, entre outros
problemas, que agregam fatores que dificultam sua permanência na região. A centralidade urbana criada
Desde a instalação da Central de Abastecimento, concorre com a nova centralidade residencial e de transportes.
serviços criados nos últimos 15 anos. O bairro passa por um processo de modernização e com o aumento da
densidade devido à verticalização, passaram a conviver com problemas como falta de estacionamento nas ruas de
comércio, maior número de linhas de ônibus em ruas estreitas e não planejadas além do aumento da
o que motivou o município a mobilizar esforços para encontrar uma saída. De acordo com notícias recentes
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publicadas en 16/01/2019, por el periódico brasileño DCI (Diário Comércio Industria & Serviços) 5
, o governo
do Estado de São Paulo está em processo de análise e discussão com o Governo Federal do Brasil sobre o
Ceagesp e sua realocação para um espaço até quatro vezes maior. Os novos locais possíveis
não foram divulgados, porém, foi revelada a preferência por espaços nas margens das vias principais.
estado e, a princípio, o terreno onde hoje está instalada a Ceagesp seria oferecido para o Centro
Tecnologia e Inovação Internacional (CITI). Ou seja: o futuro da Ceagesp é incerto e a questão da sua
A realocação tem sido discutida há pelo menos uma década e cada mudança de governo, tanto federal quanto
estado, a questão ganha uma nova perspectiva. Muitos estudos urbanos e planos de acção foram e continuam a ser
Sendo discutido; A deslocalização física da empresa parece inevitável e também altamente defendida pelos
5 Diário Comércio Industria & Serviços. “Futuro da Ceagesp ainda é incerto para comerciantes” publicado em 16 de enero 2019.
https://www.dci.com.br/dci-sp/futuro-da-ceagesp-ainda-e-incerto-para-comerciantes-1.773025
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no espaço construído. Desde a década de 2000, as produtoras audiovisuais mudaram suas instalações
para grandes galpões industriais localizados principalmente na zona oeste do bairro, onde
A reciclagem de armazéns e armazéns antigos destaca-se como alternativa à substituição do património edificado.
Diversas produtoras e agências de cinema se instalaram no bairro e hoje utilizam os antigos armazéns do
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indústrias como estúdios de produção cinematográfica e publicidade – onde grandes peças de cinema
Foram produzidos filmes brasileiros, como o aclamado “Cidade de Deus” (2002) da produtora O2.
Centro Industrial Mofarrej, conjunto de indústrias localizado em uma das principais avenidas do bairro e
Implantado na década de 1950, dá lugar à “Vila Mídia”, como a grande imprensa se refere à região.6
7 8
"Vila Leopoldina se firma como la ‘Hollywood paulistana’” , “Vila Leopoldina atrai economia criativa” , "São
9
Paulo já movimenta R$ 40 bilhões por ano com criatividade" . Estas são algumas das questões que indicam a
nova característica do bairro ao mesmo tempo que fortalecem essa nova identidade criada para o bairro.
últimos 10 anos e a tendência é aumentar. A aprovação da Lei Federal nº 12.485 em 2011, que exige
que 50% dos programas exibidos no horário nobre são produções nacionais,
sancionado no ano passado e estimam que a demanda local deverá aumentar 30% no
próximos anos.”10
VILA LEOPOLDINA
A contínua transformação do bairro nos últimos 15 anos ganhou força e destaque dentro
do contexto da cidade. Hoje em dia, novos usos transformam a dinâmica local, as ruas estão mais
lotados e congestionados, bares e restaurantes começam a surgir em resposta à nova demanda. Sem
No entanto, ainda existe uma grande carência de espaços culturais e de lazer, bem como de serviços como escolas e
negócios do bairro.
Estão em desenvolvimento planos urbanísticos específicos para o bairro e entorno, de acordo com o
Plano Diretor Estratégico (PDE) do Município de São Paulo - lei municipal que orienta o desenvolvimento e
crescimento da cidade até 2030. O atual PDE (aprovado em 31 de julho de 2014) definiu que
Instituições privadas podem propor intervenções ao poder público para transformar determinados perímetros
da cidade através de um instrumento específico, o Projeto de Intervenção Urbana (PIU), desde que
quando estiver alinhado ao Plano Diretor e atender ao interesse público. Este processo prevê que os agentes
Os proponentes privados apresentam uma manifestação de interesse, que inclui um Programa de Interesse Público
e um Diagnóstico Socioterritorial, ou seja, um conjunto de estudos que traçam um perfil detalhado da região
onde pretendem desenvolver a UIP. Esses estudos permitem uma análise consistente que embasará o projeto Ilustrações 42 e 43 – Representação 3D e setorização da
UIP – Vila Leopoldina. (Fonte: Gestão Urbana SP.
e seu impacto no meio ambiente.
“Projetos de Intervenção Urbana (PIU)” https://
gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/piu/)
“Projetos de Intervenção Urbana (PIU) são os estudos técnicos necessários para
originado das premissas do Plano Diretor Estratégico, tem como objetivo sistematizar
e criar mecanismos de planejamento urbano que façam o melhor uso do solo e da infraestrutura
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O PIU Vila Leopoldina ocupa uma área de aproximadamente 300 mil m² na zona sul do bairro
(vizinha à Ceagesp) e prevê a reorganização do espaço urbano. O projecto propõe um conjunto de habitações
novos projetos coletivos de construção para famílias que atualmente residem em duas comunidades existentes no
região, bem como a requalificação de um conjunto habitacional localizado nas imediações. Também prevê a
adensamento urbano planejado, misturando usos residenciais e não residenciais e aumentando o fluxo de
pessoas da região. Este é um projeto de investimento privado que se encontra atualmente em fase de desenvolvimento.
vizinhança. É uma intervenção específica que não tem como foco a reciclagem do espaço industrial do bairro.
análise de algumas das intervenções em armazéns industriais que foram realizadas e que se encontram em
pleno funcionamento.
VILA LEOPOLDINA
Com base no que foi apresentado preliminarmente neste trabalho, a análise morfológica de
reciclagem realizada em galpões industriais da Vila Leopoldina para identificar estratégias de projetos
Para a análise morfológica será utilizado o princípio denominado Shearing Layers of Change, ou seja,
as Camadas de Tempo, propostas por F. Duffy12 e posteriormente complementadas por S. Brand13. As quatro
camadas de Lugar e Pele de S. Brand. Cada uma das camadas tem seu período médio de tempo, progressivamente
desde o menos estável ao longo do tempo, o Móvel, até o mais estável, o Lugar. Esta abordagem
permite analisar um projeto a partir de suas camadas, que por sua vez refletem a proporcionalidade da energia
conceitos apresentados com o objetivo de promover o debate sobre a sustentabilidade da reciclagem de navios
industrial.
12 Frank Duffy, “Medindo o Desempenho do Edifício” em Instalações, vol. 8 (maio de 1990), 17-20.
13 Steward Brand, “Site, Structure, Skin, Services, Space plan, Suff” pt Como os edifícios aprendem: o que acontece depois de construídos (Nueva
Iorque: Penguin Books, 1995).
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Vinicius Andrade e Marcelo Morettin são arquitetos paulistas14 que vêm trabalhando juntos em
seu estúdio há quase vinte anos com projetos públicos e privados e são conhecidos localmente por
a coerência das suas propostas. Em associação com o arquitecto Gusmão Oterro (GOAA – Gusmão Otero
Arquitectos Associados) vencem concurso privado para construção da nova sede da escola Beacon
em 2016 em São Paulo. A Beacon School é uma escola particular bilíngue de classe média alta que tem uma visão
na Vila Leopoldina com a intenção de construir sua sede oficial, onde o programa inicial era uma escola
para aproximadamente mil alunos, todos acomodados em um espaço inclusivo que permitisse a todos
infraestrutura específica para cada ciclo e que promova a integração entre alunos de diversas origens.
idades.
encontre informações sobre o uso original do complexo industrial, porém, em entrevista via
Skype com o arquiteto Vinicius Andrade (realizado em 19 de outubro de 2018), foi informado que o local
Não tinha mais utilidade para a produção industrial desde a década de 2000, funcionava basicamente como um grande
depósito de materiais e desde os dois últimos anos antes da reciclagem, de 2014 a 2016, foi
desocupado e todo o terreno funcionava como amplo estacionamento. Na verdade, as fotos cedidas por
Os autores do projeto mostram que não havia mais uso relacionado à produção industrial ou
armazenamento de produtos. O terreno com 11.700 metros quadrados é composto por um conjunto de
Ilustração 45 - Escola Beacon.
armazéns industriais onde se encontram quatro grandes armazéns e dois edifícios anexos de dimensões (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
Ilustração 46 – Elaboração própria com ilustração
modesto, um com três pavimentos e outro com quatro, além de pequenas construções que muito fornecida pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade
Morettin Arquitetos)
Eles provavelmente foram adicionados ao longo do tempo, como uma pequena central elétrica em
VILA LEOPOLDINA
diferentes características construtivas e não houve impedimento à demolição, seja por motivos legais ou
de proteção patrimonial, nem por parte do cliente, que não havia delimitado nenhuma premissa específica para
dimensões dos galpões industriais e também a proximidade com a CEAGESP (Empresa Armazém
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naves e os dois edifícios anexos, para que fosse realizado um levantamento topográfico e
Rigoroso fotográfico de forma a verificar tudo o que existe. O projeto parte da ideia de aproveitar a
património edificado e, com base na estrutura existente, introduzir novos elementos capazes de
acomodar atividades específicas da escola ao mesmo tempo que introduz escala e materiais
A escola foi projetada de forma a atender às suas necessidades específicas. Os diferentes ciclos de
A educação no Brasil é dividida basicamente em três etapas: Ensino Infantil – crianças de até 5 anos, Ensino
dividido de acordo com os ciclos, tendo em conta a área total necessária de acordo com o programa escolar
encontro” que atravessa toda a extensão da nave maior e faz ligação com as naves menores.
pequeno. Tal praça conecta as diferentes ciclovias e áreas comuns; É uma praça de reuniões linear coberta
e interação que atua como um espaço intermediário entre salas de aula e espaços abertos
construção de dimensões modestas para o ciclo do Ensino Médio e pequenas instalações de serviços e
espaços administrativos que ficam em um canto do terreno. A ilustração ao lado com as áreas
VILA LEOPOLDINA
PLANTA BAIXA
Ilustração 49 - Planos
PRE-EXISTENTE NAVE A NAVE B NAVE C NAVE D EDIFICIO (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
NOVO EDIFICIO
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SEGUNDO PISO
TERCEIRO ANDAR
Ilustração 50 - Planos
PRE-EXISTENTE NAVE A NAVE B NAVE C NAVE D EDIFICIO
EDIFICIO
Elaboração própria sobre ilustração fornecida pelos autores do projeto.
NOVO
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NAVE A
O navio A é o maior, com aproximadamente 20 metros de largura por 108 metros de comprimento.
e abriga a praça linear coberta, todo o ciclo intermediário Fundamental 1, parte do ciclo Infantil e parte do
térreo mais dois, onde os volumes das salas de aula são introduzidos no espaço existente, ocupando
apenas um lado da nave, deixando o outro livre para a grande praça linear de pé-direito triplo abrigada pela
cobertura existente. Escadas e rampas permitem o acesso aos três pisos, onde se encontram os dois primeiros
espaços fechados adequados para salas de aula e no piso superior um espaço aberto flexível disponível
experimentação infantil. A ligação à Nave B, que alberga o ciclo subsequente (Ensino Fundamental
2), ocorre tanto no térreo como no primeiro andar através de plataformas elevadas.
A estrutura pré-moldada de concreto existente , composta por três fileiras de pilares com vãos
de 10 metros em toda a extensão do navio, encontrava-se em perfeito estado de conservação e conservado em sua
integralidade, preservando assim toda a composição do navio original. O volume das salas de aula foi
estruturalmente não relacionado ao navio. A nova construção não toca a estrutura nem a envoltória do navio,
Funciona como uma caixa dentro do espaço industrial, o que favorece a ventilação e iluminação superior dos
espaços de aula.
Os envelopes foram em sua maioria preservados. O telhado composto por dois planos
inclinado foi mantido e, assim como a ótima estrutura, é fundamental na leitura do espaço, uma vez
Ilustração 51 – Elaboração própria em imagem de
que permanece exposto como o original e destaca o caráter industrial do espaço. A orientação satélite (Fonte: ÿ2018 Google, Inst. Geogr.)
Ilustração 52 – Elaboração própria sobre ilustração
solar dos planos inclinados da cobertura e a sua grande dimensão permitiram a instalação dos painéis
fornecida pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade
painéis solares que abastecem todo o complexo. As aberturas e janelas que margeiam o telhado foram mantidas Morettin Arquitetos)
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reformas, substituições e acréscimos específicos. Desta forma, toda a composição do navio foi
preservado e o grande espaço vazio no interior foi mantido como estava. As paredes existentes
Foram adaptados de acordo com as novas circulações e usos do espaço, foi necessário abrir e fechar vãos,
de acordo com as necessidades do projeto e da obra, conforme evidenciado nas fotos do período de construção.
Em relação aos envelopes laterais, destaca-se o gesto de afastar o novo volume interno da parede.
lado da nave para a introdução de um jardim junto às salas de aula, uma atitude que vai além de um gesto
com componentes industriais leves, como paredes tipo drywall com estrutura de alumínio, placas de alumínio
gesso e materiais isolantes, de forma que sua inserção fosse como uma montagem no local, buscando
contrastam claramente com o que existe, não só em materiais, mas também em cores e texturas, estabelecendo assim
uma fácil percepção entre o que é pré-existente e o que é novo. Tendo em conta a mudança radical
utilização, arrecadação e/ou estacionamento para uma escola grande e dinâmica, é evidente que todos os
as instalações e áreas de serviço foram pensadas e executadas de raiz, uma vez que a anterior utilização já não era possível.
Não tinha nenhuma semelhança com o atual. A distribuição dos espaços e o mobiliário foram cuidadosamente
concebido de acordo com a dinâmica de uma escola e sua filosofia, conforme descrito
anteriormente.
Podemos definir a estratégia utilizada neste navio como a caixa dentro da caixa, onde
independente e longe dos envelopes, o novo volume é facilmente reconhecido e contrasta com o Ilustração 53 – Seção transversal. Elaboração própria sobre
volume e materialidade da nave pré-existente. As longas dimensões do Navio A favoreceram a ilustração fornecida pelos autores do projeto.
(Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
aplicação dessa estratégia e também a implantação da praça que liga todo o complexo.
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Ilustrações 54 a 59 - Fotografias de antes, durante e depois da obra. Material fornecido pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos e Gusmão Otero Arquitetos Associados)
Ilustração 60 - Seção do Navio A apresentada na competição. Material fornecido pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos e Gusmão Otero Arquitetos Associados)
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NAVE B
O navio B, com 20 metros de largura por 55 metros de comprimento, abriga o ciclo Fundamental 2 e, portanto,
questões relacionadas com os ciclos educativos, está directamente ligada à Nave A. A altura
o espaço livre permitiu a implantação de dois pisos, rés-do-chão mais um. No piso térreo o espaço é
mais aberto onde há oficinas flexíveis, aulas experimentais, sala multimídia, laboratórios de ciências,
um pequeno pátio coberto e banheiros. No primeiro andar ficam as salas de aula mais tradicionais e fechadas.
em que o acesso é feito por escadas e pela plataforma que liga as duas naves.
teve toda a sua dimensão preservada. Porém, ao contrário da solução anterior, neste armazém optamos
para a execução do primeiro andar através de laje de concreto em toda a extensão da nave e para isso
Durante a obra foram realizados reforços na estrutura, fundações e pilares existentes. Apesar de ser
mantendo as dimensões totais dos navios e a modulação nas 6 luzes que compõem dois dentes
da cobertura, a estrutura original era muito leve para o programa proposto e foram necessárias medidas
mais invasivo. Os envelopes também sofreram intervenções radicais. A cobertura da estrutura original
madeira foi completamente substituída por questões de segurança e altura livre no interior, uma vez
que era uma cobertura muito leve, com pouca capacidade estrutural e com uma inclinação muito pronunciada. Era
dentes existentes. As paredes internas seguem os mesmos princípios da Nave A, com elementos industriais
leves como paredes do tipo drywall. As instalações, distribuição e mobiliário são completamente novos e
adequado para uso educacional. Devido ao núcleo dos banheiros e principalmente dos laboratórios de ciências
Ilustração 61 - Elaboração própria sobre ilustração fornecida
Neste armazém as instalações são variadas e complexas, tendo em conta a procura de energia eléctrica,
pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
instalações de gás, espaços para manipulação de produtos químicos, etc. Foi nesta parte
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grupo onde houve maior investimento em instalações para atender a demanda e respeitar todas as
área foi possível através da compartimentação da altura livre disponível, respeitando os limites
pré-existente. A execução da laje do primeiro andar divide o volume interno da edificação, duplicando o
área útil dele.
Ilustração 62 - Interior do Navio B antes da reciclagem. Ilustração 63 - Exterior do Navio B durante a construção Ilustração 64 - Exterior do Navio B reciclado
(Fonte: Andrade Morettin Arquitetos) (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos) (Fonte: https://techne.pini.com.br/tag/beacon)/
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NAVE C
O Navio C é o menor de todos com 10 metros de largura por 35 metros de comprimento e seu uso
Está diretamente relacionado com a Nave D justaposta lateralmente. Os dois navios têm como destino o
recreação e artes, referido no programa escolar como Centro de Artes Cênicas, onde
Foram implementados três pisos, rés-do-chão mais dois. O edifício trabalha a permeabilidade do conjunto abrindo
completamente o seu rés-do-chão para o pátio aberto ao lado e no outro extremo uma grande abertura que
faz a ligação com a nave D. O rés-do-chão desta nave é essencialmente aberto, espaço de circulação e
ligação, albergando apenas o restaurante, a sala de jantar e alguns armazéns localizados na parte traseira do navio.
Os dois pisos superiores ocupam 3/4 da área da nave com salas mais reservadas com divisões móveis e
complemento estrutural para a execução dos dois pisos complementares foi realizado maioritariamente
em estrutura metálica, com pilares aparentes posicionados junto aos pilares existentes. Todos
intervenções nas quatro naves, foi aquela em que as envolventes foram mais activamente trabalhadas. Toda a
A fachada lateral do pátio, originalmente em tijolo, foi substituída por uma envolvente metálica instalada em
a fase exterior da nave, respeitando a modulação original e os dentes da cobertura. Como pode
confira as fotos do período de construção e da obra concluída, do térreo aberto e dos acabamentos
metal no primeiro andar transforma completamente a estética do navio, porém, ainda claramente
linguagem industrial. Os painéis duplos de metal foram tratados de forma diferente por dentro e por fora.
fora do país. Por fora tem textura industrial e os vãos irregulares nas janelas não
Obedecem a qualquer ritmo, dispostos numa composição livre e lúdica. Essa característica também é Ilustrações 67 e 68 - Elaboração própria sobre ilustração fornecida
pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
está presente na fase interior, porém, a assimetria é trabalhada no interior não só com a
irregularidade das janelas bem como na composição “aleatória” dos planos das placas e Ilustração 69 - Exterior do Navio C antes da reciclagem. (Fonte:
Andrade Morettin Arquitetos) 59
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suportes metálicos. A cobertura foi mantida como estava, apenas pequenas obras foram realizadas.
reparos. Tal como nos armazéns anteriores, as instalações, distribuição e mobiliário foram
horizontalmente através da subdivisão do volume interno pré-existente com a execução da primeira laje
chão.
Ilustração 71 - Interior do Navio C após reciclagem Ilustração 72 - Interior do Navio C após reciclagem Ilustração 73 - Interior do Navio C antes e depois da reciclagem
(Fonte: Andrade Morettin Arquitetos) (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos) (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
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NAVE D
O navio D, com aproximadamente 20 metros de largura por 40 metros de comprimento, está diretamente
vinculado ao Navio C, tanto fisicamente quanto em uso. No entanto, se compararmos os quatro navios, isto é
que apresenta as características mais singulares, sobretudo pelo facto de ser o único navio com a
telhado curvo de madeira, mas também porque foi o navio onde menos intervenção foi feita. Seu espaço era
destinado a um amplo pátio coberto de carácter flexível para atender às mais diversas atividades escolares,
volume interno totalmente aberto. Os envelopes deste navio foram os menos manipulados, já que o
cobertura de madeira, que estava em muito bom estado e tinha um design interessante,
foi totalmente preservado. As paredes de tijolos foram descobertas após a retirada da tinta e
as paredes eram o necessário para as ligações, de um lado com o pátio da Nave C e do outro
com a academia descoberta. A distribuição neste caso não sofreu grandes alterações, uma vez que
Permanece como uma grande área livre e, como não há mobiliário específico para este espaço, não houve
mudança significativa se compararmos o uso atual com o original. As facilidades necessárias para isso
Os espaços eram mínimos, porém houve atenção especial à iluminação do espaço de pé direito duplo.
A estratégia de roubo neste navio foi aplicada de forma simples e precisa. O simples Ilustração 74 - Elaboração própria sobre ilustração fornecida
pelos autores do projeto. (Fonte: Andrade Morettin Arquitetos)
A eliminação da estrutura secundária interna permitiu a utilização de todo o espaço pré-existente sem
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Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg são sócios do estúdio de arquitetura AR-Arquitectos y
ela é brasileira com experiência internacional e ele é argentino formado em São Paulo, trabalham juntos desde 2008
em projetos variados, desde projetos institucionais até design de interiores. Em 2011 foram chamados para
realizar o projeto de um restaurante com conceito Slow Food16 na Vila Leopoldina e, de acordo com o
arquitetos, a intervenção foi orientada por três aspectos principais: transformar o ambiente de
aproximadamente 650 metros quadrados em um local aconchegante, unifica a linguagem arquitetônica e adapta
O terreno está localizado na zona leste do bairro e como pode ser visto na imagem de satélite,
Nesta zona a parcelamento do terreno e a escala dos edifícios são diferentes dos lotes mais a sul.
oeste, perto dos rios. A análise do local e da sua envolvente permite-nos verificar que se trata de um espaço
intermediário entre a urbanização tradicionalmente industrial do bairro e o bairro vizinho que possui uma
caráter predominantemente residencial. No entanto, ainda existem armazéns industriais nestes blocos.
Eles estão desaparecendo aos poucos devido principalmente à crescente especulação imobiliária no
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No terreno retangular de mil metros quadrados, com 20 metros de largura por 50 metros de comprimento, estão
dois antigos edifícios industriais geminados onde anteriormente funcionava uma oficina de tratores. Os dois navios
Possuem dimensões quase idênticas, aproximadamente 8 metros de largura por 27,50 metros de comprimento,
Além disso, nas traseiras do terreno existe um pequeno edifício secundário com rés-do-chão e mezanino.
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restaurante, por isso os arquitectos optaram por reciclar o edifício, aproveitando ao máximo o que
existentes e construir novas construções apenas um pequeno volume na parte frontal dos armazéns
onde ficam os banheiros dos clientes do restaurante. Desta forma, toda a composição original
Preservam-se, inclusive, as alturas existentes, que no interior dos navios tinham altura e meia com
aproximadamente 3 metros nos pontos mais baixos. No edifício secundário existia um rés-do-chão com
pé direito único mais mezanino que ocupava apenas metade da área. É um edifício de
dimensões modestas em comparação com outros armazéns industriais da região, com uma estrutura simples de
concreto, telhados assimétricos e materiais modestos e baratos. Apesar de não ter valor
cumpriram suas funções, portanto, temos o compromisso de reciclar o todo, visando principalmente o
economizando recursos.
de articulação entre eles, no âmbito do qual o programa é desenvolvido. É uma estrutura de chapa metálica
aço carbono que percorre todo o espaço conectado a vigas metálicas apoiadas nos pilares existentes do
os navios. Esta folha horizontal funciona como um teto falso que cria uma hierarquia visual ordenada que
liga o espaço da entrada, onde ficam a churrasqueira e a adega, à cozinha dos fundos, além de
reduzir parcialmente a escala do espaço, proporcionando uma altura livre mais adequada ao uso
proposto. Porém, a placa articulada fica no centro do espaço e cobre apenas um terço da área,
Ilustrações 83 a 85 - Fachada e interior dos navios antes do
dividindo o espaço em três: embaixo da estrutura fica o bar e dos dois lados ficam as mesas
reciclagem (Fonte: AR-Arquitectos)
que estão sob o convés original dos navios.
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foram preservados, porém, toda a estrutura dos navios foi complementada com uma estrutura metálica
a fim de promover o reforço exigido pela colocação da chapa de aço. Analisando a revolta
do existente, fornecido pelos autores do projeto, é possível detectar uma certa assimetria dos pilares
na frente dos navios. Tal assimetria foi corrigida no projeto, que além dos reforços
estrutural propõe preenchimentos com fins estéticos, mascarando os pilares existentes, atitude que
não se aplica a vigas de concreto que foram mantidas como estavam e que vão
A intervenção mais importante neste projeto foi nos envelopes, priorizando a economia
foram preservadas as naves, as telhas de fibrocimento e as inclinações, que em uma das naves eram de
água e nas outras duas águas. Esta composição ganhou destaque com a decisão de retirar a cornija que
rematou a fachada principal, expondo os dentes das coberturas e revelando o carácter industrial da
das naves existentes, facto que alterou completamente a composição da fachada e a leitura das
de todos os elementos em preto. Ao pintar o telhado e suas partes de preto, o que os arquitetos pretendiam
era escondê-lo, sem a necessidade de colocar um teto falso que, além do custo de execução, ocultasse a origem
navio industrial dentro. Na parede existente entre as coberturas, mesmo a meio das naves,
foram abertos buracos, onde os antigos caixilhos das janelas foram reaproveitados para criar o
iluminação superior. As paredes periféricas foram decapadas na faceta interna, a fim de remover todos
Ilustrações 90 e 91 – Fachada principal e corte
o material sobreposto e deixando os tijolos à vista, que reforçam a leitura do espaço reciclado da fábrica. transversal. (Fonte: AR-Arquitectos)
Ilustração 92 – Elaboração própria.
As janelas foram substituídas por novas, mais altas, mas mantêm o ritmo original dos buracos na
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proposta. O volume dos banheiros segue a mesma linguagem estética com treliça de tijolos de
Os móveis da sala foram projetados em sua maioria com madeira de demolição. Mesas, bares
dos espaços foi adequado ao uso do restaurante, concentrando todo o espaço de refeições no interior dos armazéns.
permanência do público: adega, bar e sala de jantar. Ao fundo, ocupando todo o edifício secundário
são os espaços administrativos e a cozinha industrial que, por sua vez, concentra a maior parte dos novos
instalações. A água é aquecida por energia solar e a água da chuva dos telhados é captada para irrigação.
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A reciclagem de materiais existentes e a poupança de recursos económicos são os pontos fortes desta
intervenção, uma vez preservado quase tudo o que existia, as intervenções estruturais foram
pontual e grande parte do material existente foi reaproveitado e transformado. As cores usadas como
o roxo da fachada e o preto das cadeiras, a vegetação no interior, as texturas dos tijolos e o
A madeira ajuda a criar uma atmosfera intimista e ao mesmo tempo moderna. É a grande chapa metálica que
Percorre todo o ambiente, transformando radicalmente o espaço. Podemos dizer que funciona como um
implante, onde um novo objeto é inserido dentro do antigo para que funcione de forma diferente,
reprogramar o espaço de forma precisa e menos invasiva possível. Ilustrações 98 – Criação própria
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Guillermo Paoliello, mais conhecido no mundo profissional como Gui Paoliello, é arquiteto
São Paulo) no final da década de 1970, quando se juntou ao arquiteto André Vainer. A união bem sucedida tem
durou 30 anos com projetos em sua maioria na região metropolitana de São Paulo, porém,
Desde 2009 Paoliello trabalha sozinho. Durante sua carreira profissional construiu cerca de 350 projetos,
escola jovem e pioneira de São Paulo, que vem transformando o ensino de arquitetura com foco em
“Não faço trabalhos espetaculares, mas acho que tenho algo de valor, projetos
Em 2014 foi contratado para fazer o projeto da Associação Cultural VideoBrasil, instituição
cultura que abriga uma coleção crescente de obras e publicações da América Latina, África, Europa Oriental,
Ásia e Médio Oriente. O acervo inclui clássicos da videoarte, produções próprias e um vasto acervo de
Contemporâneo Sesc Videobrasil, em 1983. Ainda realiza exposições, programas de cinema, seminários,
18 Paoliello, G. “Os profissionais que assinaram os projetos publicados na edição” em Revista electrónica brasileña AU Arquitetura e
Urbanismo. Entrevista publicada el 26 de julio de 2016. https://au.pini.com.br/2016/07/os-profissionais-que-assinaram-os-projetos-
publicados-na-edicao-14/#more-4118
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Conhecida localmente como Galpão VB, em espanhol Galpón VB, a nova sede da associação
cultural ocupa um antigo armazém industrial originalmente construído para funcionar como armazém. O
a nova sede conta com amplo espaço para exposições, pequena biblioteca com acervo permanente,
café e uma pequena loja. O principal objetivo da associação é a ativação permanente das obras
de seu acervo e de artistas internacionais e, agora com sua nova sede, inicia um novo ciclo de seu
história, onde seu acervo está permanentemente disponível e mais presente no cenário artístico em
São Paulo.
VILA LEOPOLDINA
(último projeto analisado), o local destaca as características desta área específica que faz fronteira com o bairro
vizinho mais desenvolvido, como explicado acima. Quando nos aproximamos do enredo
Destacam-se as torres residenciais próximas, bem como um antigo armazém industrial no terreno vizinho,
onde hoje funciona uma loja de material escolar e similares, subsidiária de uma grande rede comercial. O
lote retangular tem área de aproximadamente 1.700 metros quadrados, onde foi inserido o armazém
de forma quase centralizada, não tocando em nenhum dos limites da trama. O navio tem 14 metros de largura
Existia uma pequena construção secundária de dois pisos, rés-do-chão mais um, nas traseiras do lote.
A reciclagem do armazém foi realizada através de intervenções simples e de baixo custo. O principal
O objetivo foi garantir a máxima flexibilidade, aproveitando o potencial de um grande espaço polivalente.
para as diversas atividades do Videobrasil. A estética exterior foi mantida no seu estado original, com a
o pé-direito duplo com 8 metros de pé-direito livre, que só é interrompido pelo volume interior que possui dois
pisos, rés-do-chão mais um, num dos lados da nave. Um volume desses com 160 metros quadrados
Representa menos de vinte por cento da área do armazém, que tem uma área total de 900 metros quadrados.
construção secundária na parte inferior do terreno. Não houve acréscimos ou demolições significativas, os espaços
Ilustrações 102 e 103 – Interior do armazém antes da
Foram reformados em tempo hábil, com o intuito de tornar o espaço principal aberto e flexível. ELE
reciclagem e durante a obra. (Fonte: Gui Paoliello)
podemos dizer que espaços de menor escala, como sala de vídeo, biblioteca, café e escritórios
foram onde se realizou mais intervenção, através de reposicionamento de paredes, mobiliário, acabamentos, etc. ELE
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As principais ficam nas laterais da construção, proporcionando vãos livres de 14 metros em quase tudo.
o espaço, com exceção dos cinco pilares secundários que sustentam o volume interior. Através dele
análise das plantas e fotos fornecidas pelo autor do projeto é possível detectar que este volume foi
complementado logo após a sua construção, uma vez que dos cinco pilares existentes, três
São fabricados em concreto pré-moldado e possuem a mesma linguagem da estrutura principal, porém o restante
São metálicos e tal parcela do volume possui características diferentes, o que nos faz deduzir que seja
Singularidade que não só foi respeitada pela reciclagem, mas destacada pelas cores definidas em
projeto. Por fim, temos a demolição de uma escada no volume interno da nave e a execução
de uma nova lapidação de tal volume, medida tomada para ampliar o espaço interno disponível para a
escritórios da associação.
interiores, uma vez que as fachadas da nave permaneceram quase intactas. As paredes do espaço
salão de exposições foram cobertos até 4,20 metros de altura com uma massa lisa e pintados de branco para
permitir a flexibilidade necessária para exposições e exibições. Acima dessa pintura, os blocos de
o concreto foi mantido em seu estado bruto, sem qualquer tratamento. O volume interno do navio foi
Ilustrações 106 e 107 – Fachada principal e volume interior
preservados, porém, foram abertos furos no térreo, adaptados ao novo uso e para que pintado. (Fotografia: Pedro Vannucchi)
permitir a permeabilidade desejada para a área da biblioteca e sala de áudio; essas áreas que atuam
exposições. É importante destacar o uso da madeira e da cor vermelha em locais específicos, que geram
uma estética que, apesar de simples, permite a ligação visual de todo o edifício. A capa original do
galpão de fibrocimento estava em bom estado e foi mantido, porém, o revestimento externo na
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A lateral da nave foi ampliada para permitir um maior espaço coberto para a entrada central. As
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foi o projeto de iluminação do espaço expositivo. Uma grande grade de metal suspensa às 5h50
espaço. A um nível secundário, é importante salientar que os sanitários, tanto para funcionários como para
visitantes, não foram realocados, apenas reformados, com o objetivo de aproveitar ao máximo
instalações existentes nesses locais.
o programa foi adaptado ao existente, onde o acesso do público é restrito ao piso térreo. No
O recuo frontal, originalmente um pátio de manobras de veículos, foi transformado em jardim com
canteiros construídos com blocos de concreto que remetem aos blocos originais do navio. Ele
O desnível entre o jardim e a nave foi superado por uma escada de madeira, de modo que toda a fachada
a frente abre e permite a conexão entre interior e exterior, além de permitir apresentações e
O interior contém o acervo, uma biblioteca com 3.200 títulos e uma videoteca com 1.300 itens que permanecem
disponível para leitura e consulta dos visitantes e ainda uma sala para exibições mais frequentes.
Todos estes espaços são contíguos e abertos à grande área expositiva. Além disso, possui um Figuras 110 e 111 – Jardim na entrada do armazém e loja
modular. (Fotografia: Pedro Vannucchi)
cafetaria e uma pequena loja para visitantes, instalada nas traseiras do complexo. Todo o primeiro andar é
Quanto ao mobiliário, vale destacar a pequena loja de produtos e edições relacionadas com
Atividades do Videobrasil, localizadas no terraço da entrada lateral. Projetado como uma caixa de madeira
aproximadamente 3x2 metros e construída com tábuas de madeira reflorestada, abre totalmente para
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período de atividades e que possa ser fechado em formato de caixa, protegendo adequadamente seu conteúdo.
A análise desta reciclagem mostra a economia de recursos e a adaptação ao que existe de forma
projeto se dá por meio de intervenções superficiais: é a tinta branca no amplo espaço, o alumínio do
instalações aparentes, uso de madeira reflorestada e da cor vermelha em paredes, móveis e portas,
além da implantação de jardim e pequenas áreas aconchegantes de estadia. Talvez possamos definir
esta estratégia como a reciclagem de superfícies, onde o novo coexiste em harmonia com o antigo,
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Eles trabalharam juntos desde o final da década de 1970 até 2009, razão pela qual este projeto específico foi
realizado por ambos em 2005. A dupla conquistou importantes prêmios do IAB (Instituto dos Arquitetos de
Brasil) nos anos de 2000, 2002 e 2004; além do prêmio Master Real Estate Brasileiro em 2000 e diversos
participações nas Bienais Internacionais de Arquitetura de São Paulo. Vainer se formou na FAU-
USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) em 1980 e trabalhou com Lina
Bo Bardi no famoso projeto do Sesc Pompeia na década de 70. Discípulo de Lina, acompanha a evolução
“Lina naqueles anos tinha uma liberdade enorme que, hoje, seria impossível de ser adotada em
A agência de publicidade Neogama BBH decidiu se mudar para a Vila Leopoldina em 2004, ocupando
canetas e isqueiros. O prédio está localizado na mesma rua da Beacon School (primeiro projeto
analisado), na porção oeste do bairro e muito próximo ao encontro dos dois principais rios da cidade.
19 Vainer, A. “Cidadela da Liberdade: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompeia” en Revista Habitare 56. Entrevista publicada el 9 de mayo
de 2016.https://issuu.com/editorasbc/docs/revista_habitare_56/6
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uma área construída em “L” – ambos armazéns com três pisos, dois pisos mais mezanine técnica. A área construída
disponíveis não atendiam ao programa da agência, além da necessidade de criação de um ambiente de trabalho
pátio interior do lote. A proposta baseia-se na manutenção do carácter industrial das instalações, na reprogramação
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principais setores operacionais, como áreas administrativas, de criação, de serviços e de produção. O desenho
de sua cobertura é um dos destaques do projeto que, com composição irregular, supera uma luz de
trinta metros e visa não apenas a iluminação natural do ambiente, mas também uma inegável tentativa de
composição estética. A composição dos espaços interiores é irregular e a estratégia adoptada visa
atmosfera aberta, pé-direito generoso e permeabilidade visual. O uso de gateways que conectam
os ambientes dispostos de forma pouco convencional, módulos geométricos, grandes espaços, salas
Janelas envidraçadas e cores vibrantes criam uma atmosfera jovem e casual. A iluminação suspensa é uma parte essencial
O pequeno armazém pré-existente, paralelo à rua, foi convertido numa grande galeria de
entrada no piso térreo, além de salas de reuniões no piso superior. O outro navio pré-existente
Abriga estacionamento no térreo, áreas técnicas no mezanino e salas para empresas associadas em
o pavimento superior.
20 Igual 37
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galpões industriais e não os de construção nova, pode-se dizer que o novo tem papel preponderante
inegável no todo. O carácter industrial dos armazéns pré-existentes foi um pouco diminuído
pela arquitetura proposta. Tal destaque não se deve apenas às características formais, mas também
também pelo programa adoptado. Todo o núcleo do programa, bem como as áreas de maior permanência,
Localizou-se na nova construção, deixando pequenos espaços nos renovados armazéns pré-existentes.
A estrutura original de ambos os armazéns é de concreto. O maior navio tem 17 por 60 metros
e o menor 7 por 43 metros. Pequenos volumes inúteis em seu interior foram demolidos, sem
Porém, toda a estrutura foi preservada, inclusive as lajes de concreto e seus vazios. O programa
o telhado plano de concreto como estava, por sua vez o outro armazém tinha o telhado metálico
iluminação interna superior. Porém, em nenhum deles houve uma intervenção de grande importância. As
envelopes tiveram grande relevância na reciclagem, os dois foram tratados de forma diferente, mas há uma
clara intenção estética da composição da fachada em ambos, uma vez que foram mantidos quase em sua
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definir. A nave paralela à rua passa a ser a fachada principal não só porque está voltada para a rua,
mas também para abrigar a entrada principal. Nele foi adotada uma composição de retratos em preto e branco
de rostos de pessoas comuns que geram uma textura irregular em tons de cinza. Na fachada lateral,
da nave transversal, optou-se por expor as condutas de ar condicionado de cor metálica de forma
que geram uma composição 3D do mesmo, além do uso de cores vibrantes como amarelo e azul.
vermelho.
técnicos existentes. A distribuição física dos espaços foi minimamente modificada, foi o programa que
foi adaptado ao existente, inclusive nos pisos técnicos, respeitando os vazios existentes no mezanino do
o menor navio. Uma vez que os armazéns deixaram de ser utilizados, o mobiliário é completamente novo, com
o andar superior.
Tendo em conta o projecto como um todo e não apenas a morfologia da reciclagem do que
pré-existente, podemos nomear a estratégia adotada como parasita. O novo aqui não vem para agregar ou
complementar o que existe com o propósito de torná-lo evidente; pelo contrário, o novo se apropria do
valor do que existe e da linguagem industrial do terreno e do bairro para se capacitar e ganhar visibilidade.
O tamanho e a composição arquitetônica dos novos enfraquecem o valor dos navios originais, colocando-os
ao fundo e as intervenções nas fachadas mascaram a sua origem fabril. A reciclagem aqui é limitada a
dar novo uso ao que existe e reaproveitar a construção, mas de forma secundária e sem exaltar o
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ESTÚDIO PÍER 88
Arquiteto Pietro Terlize
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Pietro Terlizzi, formado em 2009 pela Faculdade Mackenzie de Arquitetura e Urbanismo - São Paulo,
Ele trabalha em seu próprio estúdio de arquitetura e design de interiores há dez anos com o
desenvolvimento de projetos residenciais, comerciais e corporativos. Seu trabalho inclui todas as etapas do
projeto, desde o desenvolvimento do conceito, passando pela execução da obra até o projeto de construção.
interiores que inclui a escolha de objetos decorativos e móveis. Em 2014 foi contratado para fazer o
Os proprietários são profissionais do setor da moda, habituados a viajar para diversas cidades
para trabalhar (especialmente para Los Angeles e Nova York) e estavam cientes da reciclagem de antigos armazéns
experimente e se comprometa com a reciclagem do seu galpão industrial na Vila Leopoldina, transformando-o em um espaço
de estúdios para locação, com infraestrutura adequada para produção de imagens, comerciais,
O terreno de 2 mil metros quadrados está localizado na porção noroeste do bairro, a uma curta
distância, aproximadamente 200 metros (um quarteirão e meio), da Beacon School e da agência
Publicidade Neogama BBH, projetos analisados anteriormente neste trabalho. O armazém industrial original,
satélite, é possível supor que a área atual fazia parte de um armazém industrial de maiores proporções.
grande e que ocupava todo o quarteirão em que está inserido. Ao configurar tudo, cubra
Como um todo, presume-se que tal navio foi compartimentado para ser composto por pequenos navios anexos,
o que provavelmente foi uma adaptação ao longo do tempo. Não há registros disponíveis que
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comprovar esta teoria e o que nos importa neste momento é a análise da reciclagem neste trecho do
navio Industrial. O armazém, de 20 por 90 metros, ocupa quase todo o terreno, acompanhando o alinhamento da rua
e unidas por outras naves em ambos os lados, deixando uma faixa de 8 metros de área não construída em
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Esta configuração foi preservada e foram realizadas obras no edifício original. Levando em consideração o uso
O projeto proposto teve como objetivo flexibilidade, grandes espaços abertos e espaços de uso comum.
A ideia do projeto foi aproveitar a estrutura existente e viabilizar toda a infraestrutura que uma equipe
de filmagem que você pode precisar dentro do espaço. As áreas comuns foram propostas na frente do
armazenamento para equipamentos de fotógrafos e até salas individuais para fotógrafos. Na parte
Posteriormente, 5 grandes estúdios de fotografia e filmagem contam com seus respectivos mezaninos e camarins
exclusivo com toda infraestrutura necessária para cada sessão. Para permitir o acesso de veículos com
do equipamento, foi criada uma estrada interna que liga cada um dos cinco estúdios propostos.
Além de um jardim na parte não construída nas traseiras do terreno, onde foi proposta uma área comum.
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A estrutura original com vãos de 10 metros compartimenta o navio em nove partes ao longo
sua extensão, configuração que esteve na base do projeto na medida em que não só tem a
modulação original, mas foi através dela que se originou a compartimentalização dos estudos.
Os menores ocupam um módulo (10 metros de largura) e os maiores ocupam 2 módulos (20 metros de largura).
de largura). Toda a estrutura secundária da nova construção foi projetada respeitando a modulação
original, de forma independente e sem intervenções na estrutura ou paredes originais. O primeiro andar, ou
mezanino neste caso tudo foi executado em estrutura metálica sustentada por novas fundações
manteve o acesso de veículos em sua posição original. Trabalhamos com painéis metálicos com o
intenção de ter uma grande pintura estética industrial que funcione em parte como recinto e em parte
como porta de acesso. Ainda assim, quando comparada com a fachada original, as intervenções foram mínimas,
como a abertura do poço principal, a janela de controle de acesso e a pintura amarela vibrante
que se destaca na paisagem das ruas, onde predomina a cor cinzenta das paredes dos armazéns e armazéns.
de concreto aparente no térreo e paredes de drywall nos mezaninos . A capa original de Ilustração 134 – Corredor dentro do navio. (Fonte: Pietro
Terlize)
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foi preservada estrutura de madeira com grades que chegam a 2,5m de altura e
debaixo da capa original, uma técnica muito comum e de baixo custo. Assim como em todos os casos estudados,
Foi necessário restaurar e substituir algumas telhas de fibrocimento que foram danificadas no caminho.
tempo. Além disso, foi aplicada uma tinta branca em toda a parte interna da capa, para
deixam aparente e, assim como as paredes brancas nas laterais, ajudam a criar a sensação de um só
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construção e o contraste entre a estrutura de madeira do telhado pintado de branco com a estrutura
Mantiveram a localização original, sendo necessária apenas uma substituição ou outra para mais equipamentos.
moderno. A nova instalação com maior intervenção foi o sistema de climatização dos espaços; Tem sido
que emanam energia e calor, como fontes de luz para ensaios fotográficos.
modulação estrutural original, a mudança radical de uso tornou todo o espaço completamente
promoveu uma setorização vertical do espaço. Cada estudo tem seu “módulo” que é
compartimentado verticalmente através dos mezaninos que completam seu espaço de trabalho.
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Isabel Nassif, Julia Masagão e Renata Pedrosa iniciaram seus trabalhos em 2009 com o projeto do
Galeria Baró, no bairro Barra Funda, bairro vizinho à Vila Leopoldina e que também conta com instalações industriais e
características semelhantes à área de estudo. O projeto da galeria de arte foi, assim como o projeto em
edição, a reciclagem de um antigo galpão industrial.22 Localizada no meio de um quarteirão, a Galeria Baró
permitiu gerir diversas estratégias de intervenção num armazém industrial, como, por exemplo,
gerenciamento de rotas, espaço generoso e flexibilidade de espaço. Este projeto foi um sucesso e
marcou o início da colaboração entre profissionais. Em 2012, a artista Julia Masagão decidiu continuar
de forma autônoma na área das artes e desde então as arquitetas Isabel Nassif e Renata Pedrosa
a reciclagem e reforma de galpões industriais permitiu ao casal trabalhar em outros projetos semelhantes
O local já foi analisado anteriormente, pois o terreno está localizado na porção noroeste
do bairro próximo ao encontro dos dois rios e fica bem próximo de três projetos aqui analisados: Escola
Beacon, agência de publicidade Neogama BBH e Studio Pier 88. A área do projeto compreende uma parcela
de aproximadamente um quarto da área do armazém industrial total, uma vez que tal edifício existe hoje
A área do projeto tem 1.200 metros quadrados em uma composição retangular de 32 por
38 metros, conforme pode ser visto na ilustração esquemática ao lado. O espaço interno foi dividido em dois
partes: uma fechada com térreo mais mezanino e outra aberta com pé direito duplo. Ambos os espaços foram
mantida, porém, todas as paredes internas foram demolidas. Todo o programa da produtora
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Foi resolvido na parte fechada, deixando a parte aberta como um amplo jardim coberto, com cozinha
projeto foi todo executado dentro do armazém existente já que não havia espaço externo disponível,
Os autores trabalharam no conceito de área interna e externa dentro do próprio navio. A área mais interna
reservado e protegido contrasta com o espaço “externo” que, apesar de ser um espaço de facto coberto,
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Tem o carácter de um espaço público dentro do edifício. Predomina o duplo pé-direito livre, o uso do
A vegetação de médio porte e a luz proveniente do deck proporcionam a sensação de espaço aberto,
como uma praça pública. A área externa, com 715 m² com pé direito duplo, garante flexibilidade ao projeto: em
no dia a dia, é um local agradável para trabalhar, mas ao movimentar os móveis, pode receber eventos, festas,
filmar, etc.
“A área externa funciona como um grande jardim móvel: tanto o paisagismo quanto a
os móveis foram executados sobre rodas, para que o ambiente ficasse totalmente
flexível.”23
As paredes originais da parte fechada foram substituídas por planos de vidro e os quartos ficaram mais
abertas foram limitadas por malhas metálicas perfuradas, ambas soluções que organizam o espaço
concebido de forma a que todos os espaços de ocupação flutuantes, como os quartos, ficassem no rés-do-chão.
salas de reuniões, ilhas de edição e salas de apresentação, onde a equipe recebe constantemente clientes e
profissionais externos. Dessa forma, o andar superior ficou mais reservado para a produtora com a sala
da diretoria, a parte administrativa, financeira, salas de pesquisa, arquivos e outras duas salas
reuniões internas. A maior nova intervenção construtiva do projeto é a futura execução de um mezanino
na parte aberta que será executada posteriormente, de acordo com a necessidade da empresa. Um mezanino assim
Terá uma área limitada e estará interligado entre si e ao mezanino pré-existente através de passarelas.
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A estrutura original de concreto foi totalmente preservada e os mezaninos propostos foram construídos
pré-existentes (serão executados em momento posterior ainda não definido e de acordo com a necessidade do
localizada no centro do piso, porém, a escada foi substituída por uma nova composta por
e a capa.
Na sua totalidade foram descartadas todas as paredes pré-existentes, bem como o teto falso do mezanino,
Esta ação resultou em pé-direito mais generoso e iluminação natural abundante. Para a execução
Das paredes do mezanino foi projetada uma estrutura metálica que se apoia nos pilares de concreto sem
toque na estrutura coberta. As grades dos passeios, assim como as escadas, foram feitas em
folhas metálicas pintadas de preto com a mesma linguagem das molduras de todo o conjunto.
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Segundo Isabel Nassif24, o objetivo era adotar uma linguagem que acompanhasse a estética industrial típica do
essa tipologia. O piso cimentado da área externa, pavimentação barata e muito utilizada em construções
áreas industriais, foi ampliado da “praça” para todos os ambientes internos, o que contribuiu para a
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integração de espaços com uma estética industrial. A estrutura original está exposta e predomina
As instalações foram todas substituídas, no entanto, a localização dos sanitários pré-existentes foi alterada.
adequado às necessidades de cada ambiente. As luminárias foram projetadas pelos autores e produzidas em
instalações: foi desenvolvido um sistema simples e eficiente composto por dois eletrodutos, para que um
direciona a luz para cima para iluminação indireta em áreas de circulação e a outra para baixo para
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iluminação direta nas áreas de trabalho. Além das instalações de iluminação, as novas condutas do
A distribuição dos espaços foi adaptada de acordo com o programa da agência, inclusive foi mantida
as alturas de acordo com o pré-existente. O programa tem sido gerido com o objectivo de se adaptar ao
características originais dos espaços. O design dos móveis também é da Sub Estudio -
atividade recorrente em sua carreira. Foram produzidos mesas, aparadores, bancos, armários e armários de aço.
A gestão do público versus privado foi a estratégia mais marcante desta reciclagem. O público
Inclui todas as áreas de pé-direito duplo aqui chamadas de espaço aberto, e o espaço privado, em contrapartida,
São todos os ambientes mais reservados, total ou parcialmente fechados. A gestão da luz, como em
muitos projetos do gênero, tem grande importância na criação de um ambiente aberto, mesmo neste
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Ilustração 155 – Elaboração própria
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CONCLUSÕES
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A análise morfológica sistemática dos seis projetos selecionados na Vila Leopoldina, através
naves em camadas é um trabalho trabalhoso e muito interessante do ponto de vista arquitetônico. O processo
O estudo partiu do específico para o geral, do pequeno para o grande, onde a análise do
camadas em seu detalhamento permitiu uma compreensão profunda dos projetos analisados. estruturas,
envelopes, instalações, distribuição e mobiliário contam-nos detalhe por detalhe a essência do edifício,
seus pontos fracos e fortes, no entanto, nem sempre é possível detectar com precisão as intervenções a serem tomadas.
ao longo do tempo, seja pela falta de documentação ou mesmo pela complexidade dessa análise. As
Beacon trata da ação de introduzir um espaço dentro de outro. As grandes dimensões dos espaços
os interiores, bem como a generosa altura livre dos armazéns industriais, permitem a introdução de um volume
interior que funciona de forma independente e quase sem relação com a construção original. Tal atitude é
Destaca-se pelo contraste que gera entre o novo e o antigo. Esta estratégia também é identificada no
Projeto Hangar 19 em Reggio Emilia (Itália), onde os volumes introduzidos no interior contrastam
com a construção original devido à sua volumetria e materiais aplicados, ao mesmo tempo que está abrigado no
interior do antigo.
Tanto a compartimentação vertical como a horizontal partem do mesmo princípio: a necessidade de dividir o
espaço interior dos armazéns para garantir uma maior área útil e adaptar a escala industrial à
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uma escala mais humana, de acordo com o uso proposto. Tal estratégia foi identificada em dois navios da
Beacon School, bem como no Studio Pier 88, que, não por coincidência, ficam bem próximos um do outro.
Nos exemplos internacionais estudados não há nenhum projeto que tenha compartimentado de tal forma
o espaço é explícito, no entanto, no Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi em São Paulo (Brasil) e na Fábrica
espaços menores. No Sesc Pompeia os navios eram compartimentados verticalmente com painéis
light, para permitir a setorização dos ambientes nos mais diversos usos culturais da organização;
bem como na Victoria Factory, que divide parte do armazém onde estão localizados os escritórios e espaços de acesso.
ao público como bar e área de eventos. Tal estratégia pode ser considerada como a reprogramação de
O furto pontual aplicado em um dos armazéns da Beacon School inicialmente não é identificado
em nenhum dos exemplos internacionais, talvez por ser uma situação muito peculiar deste
projeto, que elimina uma subestrutura interna que foi originalmente usada para gerenciar
máquinas específicas. Contudo, é importante ter em mente que este trabalho não realizou uma análise
secundários que foram removidos. Além disso, a ação de descascar os envelopes, eliminando as camadas
peças originais do navio, deixando visíveis os tijolos cerâmicos, o que, por sua vez, reforça a estética fabril do
espaço.
A estratégia de implantes destaca-se por ser muito eficaz, faz muito com muito pouco. No
No Restaurante Mangiare, um painel metálico horizontal é inserido no interior do navio que unifica e
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transforma radicalmente o espaço. Nas instalações desportivas Eiras N10 em Coimbra (Portugal)
identifica a mesma estratégia, onde um volume modular de dimensões reduzidas é inserido de um lado
do navio. É uma intervenção mínima, pontual, precisa e elegante, além de permitir fácil
adaptação ao longo do tempo. Esta estratégia funciona como um implante clínico, onde um
pequeno dispositivo num corpo doente para que ele reaja e se regenere.
desde armazéns industriais a espaços culturais e expositivos. Tanto no Galpão VB quanto em Bombas Gens,
em Valência (Espanha), o grande volume das naves, a generosa altura livre e os envelopes são
protagonistas do novo uso proposto. Os amplos e generosos espaços dos armazéns industriais são
perfeito para exposições. É uma adaptação não invasiva, onde o programa geralmente se adapta ao que
existente, aproveitando ao máximo o seu potencial, de forma harmoniosa com as características típicas
de um armazém industrial.
A estratégia aqui definida como parasita, na agência de publicidade Neogama BHH, pode ser
relacionados com o FRAC em Dunquerque (França), não pelas suas semelhanças, mas pelas suas discrepâncias. Ambos
novo, mas de maneiras muito diferentes. Na agência de publicidade da Vila Leopoldina os arquitetos
escolhido para realçar o novo, conferindo-lhe um destaque inegável no complexo, onde se encontram os armazéns existentes
foram tratadas como secundárias, até a tipologia industrial foi mascarada através do tratamento
aplicado nas fachadas. Na FRAC (França), acontece exatamente o contrário, surge o novo trabalho ou “o clone”
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A gestão de escalas em espaços públicos vs. privados, ou espaços abertos vs. fechados, foi a
estratégia que norteou o projeto Studio Paranoid. Talvez devido à falta de espaço não construído,
Como o terreno não possuía recuos ou jardins, o manejo das escalas foi pensado
maneira de permitir a sensação de um espaço aberto dentro do navio. Esse gerenciamento de escala é visto como
acentuada em três dos exemplos internacionais: no FRAC (França), Hangar 19 (Itália) e no Sesc Pompeia (Brasil).
No FRAC, o novo armazém de construção tem espaços mais pequenos e fechados e o antigo armazém é um grande
espaço público aberto, que juntos formam uma única obra. No Hangar 19 os generosos corredores entre o
novos volumes funcionam como espaços públicos dentro do navio. E talvez seja no Sesc Pompeia onde
o conceito de espaço público versus espaço privado é o mais notável e ocorre tanto dentro dos navios
Todos os projetos aqui mencionados, tanto internacionais quanto os da Vila Leopoldina, foram
reprogramados e nenhum voltou ao seu uso original. Do ponto de vista das estratégias do projeto e
técnicas arquitetônicas, foi possível estabelecer relações entre os exemplos internacionais estudados e o
projetos na Vila Leopoldina. Pé-direito generoso, amplo espaço interno e estrutura robusta
são as três principais características construtivas dos galpões industriais que permitem as mais diversas
analisados, poderíamos citar três pontos: a identidade industrial e a apropriação morfológica da reciclagem,
a história e recuperação de memória que exige que os arquitetos lidem adequadamente com diferentes
temporalidades, por fim, a elevada adaptabilidade dos armazéns industriais que permitem as mais diversas
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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