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CartILHA da
Autor
Pierre Weil
Textos Colaborativos
Cristina Torres
Fábio Otuzi Brotto
Lydia Rebouças
Maurício Andrés Ribeiro
Regina Fittipaldi
Roberto Crema
Coordenação Editorial
Lydia Rebouças
Supervisão editorial
Camila Gonzalez
Nelma da Silva Sá
Assistência Editorial
Heliane Carnevalli
Laura Lobo
UNIPAZ
WWW.UNIPAZ.ORG.BR
Outubro/2020
Fábula do Beija-Flor
Por Pierre Weil
Diante da magnitude e complexidade dos problemas da nossa época, muitas são as pessoas
desanimadas, achando que não têm nem competência, nem poder para resolvê-los. Acham que
isto é atribuição de governos, ou de organismos das Nações Unidas. Este é apenas um aspecto da
questão. Outro, pode ser ilustrado pela fábula indiana.
Se você quiser realmente viver em paz, pratique as Ecologias do Ser, Social e Ambiental. A sua
existência irá melhorar de uma maneira que você nem imagina.
Para obter tal resultado, aplique com assiduidade as recomendações desta Cartilha.
A UNIPAZ 8
INTRODUÇÃO 13
As Causas da Violência 16
AS TRÊS ECOLOGIAS 19
A CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE 42
Carta da Transdisciplinaridade 42
DOCUMENTOS E TEXTOS 45
Cooperar no cotidiano 68
Ecologizar o cotidiano 70
Banho de Floresta 73
Uma simbólica trindade de letras e um desafio para todos os passos na trilha da existência: PAZ.
Pax, em latim, segundo uma opinião geral, designa um estado de tranquilidade, de calma e de
ausência de agitação, de perturbação e de conflito. Converge com hêsychia, em grego, raiz da
palavra Hesicasmo, uma linhagem do cristianismo original. Entretanto, precisamos mergulhar
além do pensamento binário do senso comum, rumo aos meandros paradoxais envolvidos nos
sentidos e nas experiências contidas no interior desta palavra tão imperiosa nos tempos de
desabamentos e de florescimentos que estamos velejando, ao sabor de ventanias e de melodias,
neste alvorecer numinoso do terceiro milênio.
Algumas abordagens da filosofia ocidental focalizam o tema da paz, através de óticas diversas,
geralmente considerando-o como um estado oposto ao da guerra. Thomas Hobbes considerava
o ser humano violento por natureza, vivendo num estado permanente de conflito, homo homini
lupis. A existência de um contrato social, neste enfoque, torna-se imprescindível, para que alguma
harmonia seja possível. Por outro lado, o filósofo do Iluminismo, Jean-Jacques Rousseau, que
sustentava o mito do bom selvagem, considerava a guerra essencialmente uma realidade social e
política - jamais como um estado natural. Em outras palavras, a belicosidade seria o sintoma de
uma perversão causada por uma sociedade cultivadora de necessidades supérfluas e irreais, que
nos tornam miseráveis, sobretudo pela arraigada rivalidade em torno da propriedade.
A concepção de Hobbes refere-se ao postulado de uma antropologia polemológica – do grego
polemos, que significa guerra –, afirmando um primado desta sobre a paz. Enquanto a de
Rousseau diz respeito a uma antropologia irenista – do grego eirene, uma divindade mitológica
que simboliza a paz, que afirma o primado desta sobre a guerra.
O paradigmático Emmanuel Kant, herdeiro da concepção de Hobbes, no seu texto clássico,
Rumo à paz perpétua, afirma que, entre os seres humanos, o estado da guerra é natural e que, por
esta razão, torna-se necessário que o estado da paz seja instituído. Para Kant, a paz deve ser
5
Prefácio
6
Prefácio
7
Prefácio
A UNIPAZ
Tem por finalidade essencial contribuir para o despertar de uma nova consciência, alicerçada
na visão do todo. Formada pela Universidade Internacional da Paz e a Fundação Cidade da Paz.
A Cidade da Paz é:
• Título dado a Brasília pelo Conselho Mundial da Paz de Helsinki.
8
Prefácio
Unidade RJ, Unidade SC, Unidade SP, Unidade Baixada Santista (SP), Núcleo Aracaju (SE), Núcleo
Boa Vista do Sul (RS), Núcleo Chapecó (SC), Núcleo Fortaleza (CE), Núcleo Palmas (TO), Núcleo
Poços de Caldas (SP), Núcleo Porto Velho (RO), Núcleo Salvador (BA), Núcleo Uberlândia (MG),
Núcleo Vitória (ES).
I – Inteireza:
• Atentar à utilização da terminologia holística (do grego holos: inteiro). O novo paradigma
contempla uma visão na qual o todo-e-as-partes estão sinergeticamente em inter-relações
dinâmicas, constantes e paradoxais.
• Cultivar discernimento, tolerância, respeito, alegria, simplicidade e clareza nos encontros entre
representantes das Ciências, Filosofias, Artes e Tradições Espirituais, qualidades inerentes à
abordagem transdisciplinar holística.
• Focalizar com abertura e exame crítico a complementaridade e a contradição na
consideração do relativo e do absoluto, da vida quantitativa e da qualitativa, a serviço da vida,
do ser humano e da evolução.
II – Inclusividade:
• Respeitar as diferentes áreas do conhecimento humano e suas singularidades.
• Reconhecer e acolher cada ser e cada cultura como manifestações da realidade plena.
• Corresponder ao fato de que o produto de toda criatividade não tem, em última instância,
nenhum proprietário, honrando, contudo, os autores individuais e coletivos.
III – Plenitude:
• Solidarizar com o outro na satisfação de suas necessidades de sobrevivência e
transcendência.
• Colaborar com o outro na preservação do bem comum e na convivência harmoniosa com a
natureza.
• Buscar um ideal de sabedoria indissociado da dimensão do amor e do serviço.
9
Prefácio
A ARTE DE VIVER
EM PAZ
A Arte de Viver em Paz, de autoria do Professor Dr. Pierre Weil, recomendada pela Unesco, é
uma contribuição da Unipaz para a construção da Cultura de Paz. Trata-se de um programa de
educação para a paz com base em uma metodologia descrita no livro do mesmo título, publicado
pela UNESCO e divulgado em seis diferentes idiomas: francês, inglês, espanhol, alemão, catalão e
português.
Pierre Weil foi inspirado pela Declaração de Veneza (1986) para a criação de A Arte de Viver
em Paz. O conteúdo do programa obedece às recomendações de vários textos produzidos ou
patrocinados pela Unesco e apresenta um novo paradigma para a Educação.
Declaração de Veneza
10
Prefácio
Agradecemos a UNESCO que tomou a iniciativa de organizar este encontro, de acordo com
sua vocação de universalidade.
Agradecemos também à Fundação Giorgio Cini por ter oferecido este local privilegiado para a
realização deste fórum.
11
Prefácio
Conceito de • Aluno considerado como “objeto” • Aluno considerado como sujeito estudando,
estudante de ensino, como mecanismo como participante ativo do processo
automático de registro. educativo.
Fonte: Weil, Pierre. A mudança de sentido e o sentido da mudança. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos. 2004.
12
INTRODUÇÃO
13
INTRODUÇÃO
Mente
Separatividade
Prazer Apego
Emoção
Medo
Stress
Corpo
Doença
Sofrimento
Pierre explicitava esse esquema iniciando pelo Prazer - possível de ser sentido sem Apego,
mas que na maioria das vezes leva ao Apego do que promove o prazer relacionado a coisas,
pessoas ou ideias. O Apego, por sua vez, gera o Medo de perder essas coisas, pessoas ou ideias
que geram prazer.
O Medo desencadeia incontáveis emoções destrutivas, que repercutem no Corpo como
Estresse. O Estresse pode levar à Doença física de acordo com a intensidade das emoções nele
envolvidas. Nesse processo, ocorre um Sofrimento físico e emocional. Muitas vezes não nos
damos conta da conexão corpo-emoções porque vivenciamos a normose de cultivar a “Fantasia
da Separatividade”, que inicia na Mente de cada um de nós, provocando o esquecimento da
unidade corpo-emoções-mente.
Apego > Medo > Estresse.
Esse é um círculo vicioso destrutivo. Ao respirar mais suave e profundamente, podemos
observar a cena com distanciamento, sem julgamento, tomando consciência desse processo
destrutivo. A partir de então, damos passos em direção à mudança, o outro lado desse esquema.
não separatividade
Mente
desapego
Emoções
amor
Corpo
harmonia
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INTRODUÇÃO
15
O MODELO PEDAGÓGICO E
AS TRÊS ECOLOGIAS
As Causas da Violência
NO INDIVÍDUO
A violência começa na mente de cada um de nós, gerada pela ideia fantasiosa de que somos
separados do mundo. Assim, surge o apego a tudo o que nos dá prazer e a rejeição a tudo o que
nos ameaça, quer sejam coisas, pessoas ou ideias. Do apego, surge o medo da perda, a
desconfiança, a intolerância no plano das emoções (raiva, ciúme, orgulho) que, afetando o corpo,
leva ao estresse, à doença e ao sofrimento, aumentando ainda mais a sensação de sermos
separados. Está, assim, criado um círculo vicioso repetitivo.
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EMOÇÕES
NA SOCIEDADE
O ser humano desajustado cria, por sua vez, uma sociedade desajustada, com uma cultura de
violência e guerra, com fragmentação multidisciplinar do conhecimento, produto de uma
dominação do masculino racional e uma repressão do amor feminino, com extremismos e a
consequente intolerância política, religiosa e nacionalista, além do predomínio de valores
destrutivos. A vida social é dominada pela competição, conflitos violentos, terrorismo e guerras. A
vida econômica é caracterizada por extremos: consumismo, pobreza, riqueza excessiva e
exploração desenfreada dos recursos naturais.
16
O MODELO PEDAGÓGICO E AS TRÊS ECOLOGIAS
NA NATUREZA
Esta sociedade desajustada, além de reforçar a formação do desequilíbrio individual, devasta a
natureza, polui a matéria, destrói a vida e intervém nas programações genética e nuclear. Por sua
vez, a destruição progressiva da natureza ameaça a vida de cada um de nós. E, assim, está
fechado o círculo vicioso do nosso suicídio coletivo.
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O MODELO PEDAGÓGICO E AS TRÊS ECOLOGIAS
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VISÃO
HOLÍSTICA
18
AS TRÊS ECOLOGIAS
Ecologia Pessoal
A arte de viver em paz
consigo mesmo
Como já expressamos anteriormente, sabemos que muitos procuram a Paz fora de si. Para
descobri-la, precisamos saber que isto exige uma tomada de consciência de onde e como
encontrá-la.
Há três grandes espaços do nosso ser mais íntimo, onde podemos encontrar a paz: o nosso
corpo físico, o nosso espaço emocional e a nossa mente. Vamos, para cada um destes níveis,
mostrar como, de maneira bem concreta, podemos experienciar e vivenciar a paz.
A Paz do Corpo
A paz pode ser experienciada, isto é, vivenciada através do relaxamento. Vivemos
constantemente em uma agitação frenética. Emoções como raiva e ciúme, criam tensões no
nosso corpo. A melhor resposta é o relaxamento.
Relaxamento se aprende. Você pode realizar a experiência agora, durante esta leitura. Basta
para isto fechar os olhos, ficar bem à vontade, fazer três respirações profundas, soltar os
músculos, imaginar que você está num lugar ideal de descanso, como uma praia ou uma rede na
montanha.
Fique uns dez minutos neste estado relaxado. Tome consciência do seu estado físico. “Bem-
estar”, “descontraído”, “em paz”, “solto”, “repousado”, são entre outras, as declarações dos que
estão saindo de um relaxamento.
No caso de você ter gostado, convêm fazer um curso de relaxamento ou de ioga. Sua vida
cotidiana vai mudar se você resolver praticar relaxamento todos os dias, de manhã e de noite.
19
AS TRÊS ECOLOGIAS
Esta melhora será muito maior se você tratar da fonte das tensões musculares: as emoções
que não te fazem feliz. É disto que vamos tratar agora.
A Paz do Coração
Por que e como lidar com as emoções que te incomodam? Se você quiser despertar a paz do
seu coração, aprenda a lidar com essas emoções. Estudos das causas do estresse indicam tais
emoções como sendo as suas grandes causadoras. Quais são essas emoções?
Podemos defini-las como as que causam conflitos com os outros e para si mesmo. São as
expressões internas e externas das nossas neuroses. Uma boa definição do neurótico é a que o
descreve como uma pessoa que sofre e faz sofrer os outros; e o que faz sofrer os outros, senão o
ciúme, o apego exagerado às coisas, pessoas ou mesmo ideias, a rejeição e a raiva, o orgulho e a
indiferença?
Nas próximas semanas observe bem você mesmo e os outros ao seu redor. E veja se o que
está sendo questionado aqui não corresponde a uma grande verdade. Como então lidar com
estas emoções já que elas são tão destrutivas?
Grande parte da humanidade costuma se deixar levar por elas, perdendo o autocontrole.
Tomemos o exemplo da raiva. As pessoas gritam, ofendem, magoam, muitas vezes, a quem
amam e depois se sentem culpadas e sofrem.
Existe uma terceira alternativa, uma espécie de caminho do meio. Em vez de soltar a raiva ou
de dominá-la, o melhor é tomar consciência dela e deixá-la passar, como uma nuvem de
tempestade que passa e deixa o céu azul e o sol brilhar novamente.
É claro que você precisará de certo tempo, algumas semanas ou meses para conseguir bom
resultado. Quanto mais cedo você começar, maiores serão as oportunidades para você se tornar
um ser livre das emoções pesadas. A verdadeira liberdade é esta.
No início, a gente se esquece; mas aos poucos acaba constatando que chegou ao ponto de ver
a emoção chegar. Você poderá dizer com um certo senso de humor: “lá vem ela de novo!”. Este
será um excelente sinal de sucesso. Você não pode se livrar de todo da raiva, mas pode fazer com
que ela se transforme em sentimentos de amizade ou mesmo de amor. E, aos poucos, isto se
transformará numa segunda natureza. Você começará a irradiar a paz e serenidade em torno de
você, sobretudo se paralelamente você praticar o relaxamento diário do corpo.
Com todos esses cuidados no nível pessoal, você conseguirá viver em harmonia, lidando
melhor com suas emoções e buscando cultivar altos sentimentos humanos como a alegria, o
amor, a compaixão e a equidade. A alegria, por compartilhar felicidade com as pessoas. O amor,
por querer a felicidade das pessoas ao seu redor. A compaixão, significando o sentimento e o ato
de ajudar o outro a aliviar o sofrimento. E a equidade no tratamento igual a todos os seres do
mundo, sem preferência por um ou outro. Assim você terá adquirido a paz do coração, além da
paz do corpo.
A Paz na Mente
Mas, mesmo tendo adquirido a paz do corpo e a paz no nível das emoções, isto é, a paz de
coração, a sua mente continua agitada, gerando uma hiperatividade no mundo externo e uma
invasão, para não dizer uma inflação, de pensamentos. Ideias, imagens, formas, símbolos,
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AS TRÊS ECOLOGIAS
memórias desfilam, numa dança incessante. No fim do dia você só tem uma vontade, ir para
cama e dormir.
Esta é a atividade típica da sua mente com as suas infinitas produções e funções bastante úteis
para o nosso cotidiano. A mente nos permite raciocinar, lembrar, apreciar, comparar, julgar, decidir,
avaliar, nos defender, ou melhor, defender a nossa existência. Só que por vezes ela nos atrapalha
por funcionar demasiadamente, como se fôssemos educados para sermos somente intelectuais
e hipertrofiamos esta função.
Embora seja uma atividade normal da mente, em certas ocasiões ela gera emoções
destrutivas. Basta, por exemplo, lembrar-se de um inimigo para você ficar com raiva. Com isso,
perde-se a paz da mente. A atividade da mente acaba obstruindo a nossa via de acesso à paz
natural, característica da própria mente. Resultado: perdemos o controle de nós mesmos.
Mas ainda, existe um aspecto muito sutil do pensamento. É próprio de sua natureza, tudo
dividir. Particularmente, o conceito do “Eu” divide a nossa percepção em duas partes: Eu e o
mundo. O espaço interior e o espaço exterior. Você e os objetos. E assim por diante.
Na realidade, esta divisão é ilusória. A ciência nos ensina que tanto o ser humano como todos
os objetos e o mundo ao seu redor são constituídos de energia. Assim sendo, nada é separado
nesse nível de compreensão da verdadeira natureza das coisas. Esta ilusão ou fantasia é que
constitui a causa primordial de todos os nossos problemas.
Por causa desta miragem da separação, nos apegamos a tudo que dá prazer, evitamos ou
rejeitamos o que nos causa dor, e ficamos indiferentes ao que não nos cause nem prazer nem
dor. Isto se refere a coisas, pessoas ou mesmo ideias.
Esta é a raiz da raiva, da possessividade e da indiferença. Por exemplo, porque estamos
percebendo o mundo como exterior a nós, exploramos a natureza até não sobrar mais nada. A
possessividade dos madeireiros, seu apego ao lucro sem fim, causam a devastação das florestas
tropicais.
Mas pode-se observar o mesmo apego e suas consequências nefastas bem junto de nós
mesmos, dentro de cada um. O exemplo mais clássico é o que acontece no início de um namoro.
Ele e ela se encontram pela primeira vez, trocam carinhos, acham gostoso, querem a
continuidade do prazer.
À medida que o outro não atende a todas as suas expectativas, o apego vai se manifestando
sob várias formas. Eles vão ficar ansiosos e com medo de não se encontrar ou com ciúmes por
ignorar se existe outra pessoa. Se um chegar muito atrasado ao encontro, o outro ficará com raiva
ou, no mínimo, ressentido. Se soubessem que não estão separados, mas originados e constituídos
da mesma essência, o próprio apego cairia por si só, pois é a energia se apegando a ela mesma.
Na espera do novo encontro, cada um cuidaria das suas coisas e dos seus afazeres, sem
expectativa nem medo, com abertura para o que vier a acontecer. Se cada um vier, será uma nova
alegria; se um falhar, não haverá decepção, pois não se esperou nada.
Como então dissolver esta ilusão de separabilidade, já que ela é a fonte última de todo
sofrimento?
Isto pode ser feito através da meditação diária, uma ou duas vezes por dia, de manhã e/ou de
noite.
Meditar consiste em aquietar-se, recolher-se, adentrar-se. Deixar passar os pensamentos e as
emoções que aparecem na mente. Neste ato de tranquilizar a mente, aparece a verdadeira
natureza do Espírito em que inexiste separação, pois se vivencia a indivisibilidade do espírito
pessoal e do espírito do universo. O cosmo é autoconsciente; a nossa consciência percebida pela
21
AS TRÊS ECOLOGIAS
Escala de autoavaliação
1 2 3 4 5
Ao final de cada questão, responda assinalando o valor correspondente à percepção que você
tem de si mesmo. Lembre-se, não existem respostas certas ou erradas, trata-se de um convite
para uma autorreflexão – passível de mudanças.
1. Alegria e bom humor fazem parte do seu dia a dia? ( )
2. Você se sente harmônico, equilibrado, consigo mesmo? ( )
3. Você decide e age com lucidez e consciência? ( )
4. Pisando no seu calo, você conserva serenidade e paciência? ( )
5. Você se sente bem ajudando os menos favorecidos? ( )
6. Diante de bonitas paisagens você entra em estado de contemplação? ( )
7. Você cuida do bem-estar do seu corpo? ( )
8. O seu coração está aberto para aprender a amar incondicionalmente? ( )
9. Você se sente em comunhão com a Natureza ou com Deus? ( )
10. Você cuida da sua saúde física, emocional, mental e espiritual? ( )
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AS TRÊS ECOLOGIAS
Ecologia Social
A Arte de viver em paz
com os outros
Se despertarmos a paz dentro de nós, estaremos aptos a viver em paz com os outros, isto é,
com os familiares, com os amigos, e assim por diante.
Mas a ecologia social exige de nós uma consciência e uma vigilância constantes se queremos
ser verdadeiros cidadãos do mundo em que vivemos. Assim sendo, precisamos levar em
consideração a cultura que nos influencia o tempo todo, a vida social e política e, além disto, os
aspectos econômicos como, por exemplo, a nossa relação com o dinheiro.
A Paz na Cultura
Precisamos em primeiro lugar definir o que entendemos por cultura de uma determinada
sociedade.
A cultura é um conjunto de normas, leis jurídicas, costumes, produções artísticas e hábitos que
caracterizam uma sociedade. A cultura dita a maneira de ser de cada um dos seus cidadãos. Por
exemplo, enquanto o inglês, para cumprimentar um amigo, acena com a cabeça, o indiano se
curva e junta as mãos, o francês dá as mãos, e o brasileiro dá um abraço com o seu corpo inteiro.
A cultura, por conseguinte, dita o que é e o que deve ser considerado como normal. Ora, nem
tudo que é visto como sendo normal é sadio e construtivo. Por exemplo, fumar era ainda há
pouco tempo considerado como normal, inclusive o fato de aspirar a fumaça dos outros. Hoje, o
ato de fumar é considerado como anormal e nocivo. Há muitos outros hábitos ou mesmo leis que
ditam normas, mas são na realidade nocivos à saúde, à harmonia e à paz. Por isso, cuidar da paz
na cultura exige do cidadão uma vigilância constante e permanente, em duas direções
simultâneas.
De um lado, a pessoa precisa constantemente estar consciente dos aspectos em que ela
mesma se deixa levar pela cultura em que vive, decidindo se isto lhe convém do ponto de vista
ético.
De outro lado, naquilo que não convém seguir, do ponto de vista da ética, a pessoa poderá, se
assim o quiser ou puder, atuar para modificar os aspectos nocivos da cultura.
É normal, por exemplo, comer açúcar refinado. Mas se você descobrir que isto afeta os seus
dentes e seus ossos e que o açúcar mascavo é mais saudável e nutritivo, será um ato razoável e
consciente limitar-se a consumir açúcar mascavo.
Outro exemplo: hoje é normal assistir a programas violentos na TV. Mas se você descobrir que
23
AS TRÊS ECOLOGIAS
isto lhe torna pessoalmente tenso e lhe tira a paz interior, você pode decidir parar de assistir a
eles. Essa é uma decisão pessoal. Mas você pode ampliar o alcance de sua reação. Pode decidir,
por exemplo, aderir a um movimento para reduzir estes programas ou mesmo procurar o
deputado da sua região, pedindo para apresentar um projeto de lei neste sentido.
Tudo isto poderá ser feito de modo calmo e harmonioso sem perder a Paz.
A Paz Econômica
Uma das maiores fontes de conflito e de violência é a disputa da posse de bens materiais, mais
particularmente o dinheiro. A preocupação exagerada pela moeda também é responsável pela
perda da paz interior – resultado de emoções destrutivas como o apego e a possessividade.
Quem passa fome por não ter emprego, tem motivos justos de se preocupar em ganhar
dinheiro. Para os excluídos, ganhá-lo é uma necessidade vital e fora de qualquer espécie de
contestação.
O que estamos apontando aqui são os cidadãos que procuram desesperadamente, sem
nenhuma razão objetiva, alcançar uma meta indefinida e vaga, de tornarem-se ricos e poderosos.
Há também os que já se encontram nesta situação e querem cada vez mais, numa busca infinita.
Eles têm algo em comum. A perda da paz, por causa de uma vida agitada que só pode levá-los
ao estresse e à doença, devido à identificação com um sistema econômico voraz que
hipervaloriza o consumo.
Se você sentir que está preso nesta engrenagem, qualquer que seja o seu nível econômico, dê
uma paradinha para examinar a situação. Procure ficar plenamente consciente de quais são as
verdadeiras necessidades e qual o conforto essencial para você.
Durante esse exame, você pode descobrir que suas metas são exageradas e que na realidade
você não precisa de tantos bens para viver feliz e em paz. Talvez chegue a concluir que está se
acabando nesta busca insana, ou que poderia investir seu tempo com os que você ama ou fazer o
que sempre sonhou, como por exemplo, viajar ou, simplesmente, contemplar o pôr do sol…
O cidadão dentro de você talvez descubra ainda que milhões de pessoas do terceiro mundo
24
AS TRÊS ECOLOGIAS
resolveram, depois de um exame de consciência, entrar num estado de vida frugal voluntário. Ao
reduzir o seu consumo ao necessário, elas estão contribuindo para diminuir o consumo e através
desta diminuição reduzir os estragos causados pela destruição sistemática da vida no Planeta.
Isto será uma grande contribuição à Ecologia da Natureza, da qual iremos tratar a seguir. Antes,
porém, uma pausa para uma autoavaliação de como você está exercitando a ecologia social, ou
seja, a sua Paz com a Sociedade.
Escala de autoavaliação
1 2 3 4 5
Ao final de cada questão, responda assinalando o valor correspondente à percepção que você
tem de si mesmo. Lembre-se, não existem respostas certas ou erradas, trata-se de um convite
para uma autorreflexão – passível de mudanças.
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AS TRÊS ECOLOGIAS
Ecologia Ambiental
A arte de viver em paz
com a natureza
Viver em paz com a natureza é fundamental para a nossa própria sobrevivência. O ser humano
está cometendo massacres coletivos, levando consigo a vida do planeta Terra.
Os recursos do planeta são inesgotáveis, como se dizia. Eles têm fim e estão exaurindo
rapidamente.
Já falamos das medidas econômicas que cada um pode tomar para dar a sua contribuição
pessoal. Esta pode ser estendida a ações práticas que dependem de sentimentos de
solidariedade próprios à cidadania planetária.
Com esta finalidade, vamos considerar a natureza sob três aspectos principais que
encontramos em todos os sistemas do Universo: a matéria, a vida e a programação da natureza.
26
AS TRÊS ECOLOGIAS
Respeitá-la consiste em evitar o destruir por destruir. Existem pessoas que deixaram de comer
carne para não fazer sofrer os animais. Elas se tornaram vegetarianas. As Nações Unidas
recomendam o regime vegetariano por uma outra razão ainda, a proteção das matas virgens
devastadas para cultivar pastos para eventuais candidatos a hambúrgueres, em vez das culturas
de grãos. Segundo cálculos divulgados, diminuindo em 10% o consumo de carne, somente nos
EUA, seria o suficiente para alimentar com grãos toda a população faminta do mundo.
As razões tratadas para harmonizar-se com a matéria, valem também para a vida, pois temos
vida dentro de nós, e se trata da mesma vida que existe fora.
O mesmo se dá com a informação e a programação do universo. É o que vamos examinar a
seguir.
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AS TRÊS ECOLOGIAS
Escala de autoavaliação
1 2 3 4 5
Ao final de cada questão, responda assinalando o valor correspondente à percepção que você
tem de si mesmo. Lembre-se, não existem respostas certas ou erradas, trata-se de um convite
para uma autorreflexão – passível de mudanças.
1. Você usa produtos biodegradáveis? ( )
2. Fecha as torneiras ou apaga a luz por causa da ecologia? ( )
3. Ao caminhar no mato, você evita destruir os ecossistemas? ( )
4. Surgindo a oportunidade, você protege a vida dos animais? ( )
5. Você evita jogar lixo e plástico em qualquer lugar? ( )
6. Usa papel reciclado para diminuir o desmatamento? ( )
7. Evita arrancar flores e plantas inutilmente? ( )
8. Compra frutas e verduras orgânicas sem agrotóxicos? ( )
9. Apoia movimentos em defesa do meio ambiente? ( )
10. Você liberta pequenos animais presos? ( )
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
Introdução
Educar para a inteireza é um processo que pode ser percorrido através de diferentes trilhas.
Aqui irei compartilhar minha peregrinação enquanto Educadora e Terapeuta. Quando comecei a
atuar como educadora, abordava as 4 funções psíquicas preconizadas por Carl G. Jung
(pensamento, sentimento, sensação e intuição) e os 4 elementos da matéria de forma separada.
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
Aos poucos fui tomando consciência de que era possível estabelecer uma costura entre ambos,
experimentando a não separatividade na relação pessoa x natureza.
Assim que ocorreu a publicação do Relatório Delors (2003), minhas costuras continuaram.
Naquela época compreendi que os 4 pilares de uma nova educação, propostos naquele relatório
(aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser) estavam associados às 4 funções psíquicas e
aos 4 elementos da matéria. Daí em diante, restava integrar os 4 diferentes estilos do
conhecimento (ciência, artes, filosofia e tradições espirituais), conforme já era vivenciado na
Universidade da Paz - UNIPAZ. Todos esses passos foram possíveis graças ao exercício dos
princípios transdisciplinares da troca, abertura, comunicação e generosidade, sempre em contato
com a inteligência do coração.
Vivemos um tempo que pede, com urgência, por uma Educação voltada ao desenvolvimento
integral da pessoa, ao seu despertar; uma educação que se alie com o que está saudável na
pessoa, como forma de resgatar sua inteireza; uma educação que possa ser vivenciada como um
processo contínuo, uma educação para toda a vida.
AS FUNÇÕES PSÍQUICAS
Carl G. Jung (1875/1961), médico psiquiatra suíço, foi um dos maiores estudiosos da vida
interior do ser humano. Constatou, em todos nós, a existência de quatro funções psíquicas:
pensamento, sentimento, sensação e intuição. Segundo Jung (1987), “a Sensação (isto é, a
percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o Pensamento mostra-nos o que é essa
coisa; o Sentimento revela se ela é agradável ou não; e a Intuição dir-nos-á de onde vem e para
onde vai”.
PENSAMENTO
SENSAÇÃO INTUIÇÃO
SENTIMENTO
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
OS ELEMENTOS DA MATÉRIA
e as Funções Psíquicas
A modernidade é particularmente mortífera. Ela
inventou toda espécie de “morte” e de “fim”: a morte
de Deus, a morte do homem, o fim das ideologias, o
fim da História. Mas há uma morte da qual se fala
bem menos, por vergonha ou ignorância: a morte da
Natureza. A meu ver, esta morte da Natureza é a
origem de todos os outros conceitos mortíferos que
acabamos de invocar.
(NICOLESCU, 1999, p. 59)
Hoje todos nós sentimos na pele o quanto descuidamos de nossa relação com a Natureza,
tratando-a como um objeto de consumo inesgotável. É cada vez mais urgente despertar a
consciência de que vivemos todos compartilhando a mesma casa própria - o planeta Terra, hoje
seriamente doente, em função dos descuidos de nossa espécie. Precisamos todos daquilo que
Fritjof Capra (2005), físico, teórico de sistemas e fundador do Centro de Eco-Alfabetização de
Berkeley / Califórnia, denominou alfabetização ecológica. Tal processo requer um conhecimento
de como a natureza sustenta a teia da vida, para que seja possível desenvolver um profundo
respeito e cuidado pela natureza viva.
O processo de destruição do planeta, que é um processo de autodestruição da espécie
humana, é iniciado com o cultivo da ideia de que somos separados da Natureza. Uma das
consequências dessa ideia é o esquecimento que temos um corpo semelhante ao corpo do
planeta. Sabemos que tudo o que existe na Natureza, do ponto de vista da matéria, é composto
de quatro elementos: terra, água, fogo, ar. O espaço, denominado pelos orientais de “vazio fértil”, é
o que permeia todos esses elementos.
PENSAMENTO
AR
SENSAÇÃO INTUIÇÃO
TERRA FOGO
SENTIMENTO
ÁGUA
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
Nossa visão fragmentada e reducionista nos leva a acreditar que a Natureza está fora de nós.
Apontamos o dedo para as árvores, as estrelas, os rios e as flores procurando explicitar o que é a
Natureza e nos esquecemos que, nesse ato de apontar, como já ensinava Buda, no século V a. C.,
três dedos estão apontados para nós mesmos.
É importante despertar a consciência somática de que existe uma não-separatividade entre
cada um de nós e a Natureza.
ÁGUA / Sentimento:
Se compararmos nosso corpo com o Planeta, encontraremos os quatro elementos em
proporções semelhantes. Mais de 70% da superfície do planeta é composta de água. “Terra,
planeta água”. Nosso corpo é também um grande oceano.
A água é fluida, assume as mais diferentes formas, sem resistir, sem se opor. O sentimento
também flui para todos os cantos de nosso corpo, além de extravasar, atingindo pessoas e coisas.
Tem uma natureza líquida, e por isso que dizemos: “Estou por aqui com você!”, o que significa que
se está transbordando.
Hoje, mais que nunca, precisamos reaprender a cuidar dessa Água/Sentimento, conhecê-la,
respeitar seu mistério e vastidão, despoluí-la, harmonizar-se com ela.
A Educação não nos prepara para lidar com nossos sentimentos. Todos nós sofremos, em
maior ou menor grau, de um considerável, e às vezes desastroso, analfabetismo emocional.
Humberto Maturana (2000, in Educação e Transdisciplinaridade) afirma que “quando você muda
a emoção, você muda o cérebro”; e continua sua reflexão dizendo: “Se um professor quer que seu
aluno seja reprovado, basta criar medo. É evidente que todos sabemos disso! E sabemos também
que se queremos que nossos alunos não repitam, criamos o quê? Amor”.
Como podemos criar Amor em nossa práxis de Educadores para a inteireza? Essa é uma
questão que deve estar presente na elaboração de nossos cotidianos planos de aula.
TERRA / Sensação:
A pele está para nosso corpo, assim como a terra está para o planeta. O que chamamos de
terra no nosso planeta é, na verdade, só uma crosta, a pele do planeta água. A generosidade desta
pequena crosta pode nos ensinar muito. Os povos primitivos sempre se referiram à terra como
mãe, Mãe Terra, fonte de nutrição para todos os seres vivos.
“Pôr os pés na terra” nos ajuda a estar mais presentes, nos lembra que também temos raízes.
O contato com a terra pode reavivar nossos sentidos e despertar a vital consciência corporal:
como respiro, o que sinto em meu corpo, como posso cuidar melhor desse corpo.
O afastamento desse arquétipo primordial, a Terra como Mãe, nos fragmenta, adoece e pode
inviabilizar a vida no planeta.
Como ensinar as crianças e jovens a amarem a terra?
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
AR / Pensamento:
O ar, o sopro da vida, é o combustível que traz energia para o processo de crescimento e
transformação de todos os seres vivos. O Pensamento é também o que cria e transforma.
Dizemos, com frequência, quando estamos tendo boas idéias: “Como estou inspirado!”. É isso
mesmo, estamos deixando que a respiração flua com suave profundidade, trazendo a criação do
novo. Essa qualidade de abertura, experimentada fisicamente, é essencial para a germinação do
pensamento transdisciplinar.
Sabemos que através da fotossíntese, as plantas transformam gás carbônico em oxigênio.
Nossos pulmões são como árvores invertidas que inspiram oxigênio e devolvem o gás carbônico
à atmosfera. Essa troca demonstra que estamos ligados, mesmo que a consciência de tal fato
não esteja presente.
Em um mundo onde o pânico tornou-se uma normose, isto é, uma patologia da normalidade
(WEIL, LELOUP e CREMA. 2003), é fundamental reaprender a respirar. Digo reaprender porque a
criança sabe. Basta olhar para o corpo de um bebê saudável e teremos a trilha. Falamos com
frequência do psicossomático, isto é, de como nossa dimensão psicológica repercute no corpo, no
soma. Acontece que o inverso também é verdadeiro e aqui iremos falar do somatopsíquico, isto é,
como a mudança no corpo, na respiração, irá mudar as emoções.
A respiração curta e superficial move mais o nosso peito e estimula o sistema nervoso
simpático. Ao fazer isso, lançamos cortisol e adrenalina, hormônios do estresse, na corrente
sanguínea. Estamos prontos para lutar ou fugir. Podemos brigar exageradamente com os filhos
ou na sala de aula. Podemos chegar a matar no trânsito. Por outro lado, a respiração
diafragmática lenta e profunda, aquela que move a musculatura da barriga, irá estimular o
sistema nervoso parassimpático, o que significa que será impossível sentir-se tenso e ansioso,
pois já não será possível lançar cortisol e adrenalina no sangue. Respirando assim, poderemos
lidar com absurdos e graças com mais presença. Poderemos cuidar melhor de tudo.
Assim, em meio a tudo e sempre, é vital respirarmos suave e profundamente. Antes de iniciar a
aula. Durante a aula. Depois da aula…
FOGO / Intuição:
O Fogo é o elemento que mais purifica. Quando nos lavamos com a água, ela nos limpa e
também se deixa turvar. O fogo permanece o que é, durante e após a queima. Ilumina e
transforma. Michel Randon (2000, in Educação e Transdisciplinaridade) nos lembra que “a beleza
é o sabor do fogo”.
Quando experimentamos a intuição, os insigths, sabemos que eles têm o mesmo poder de
iluminar e transformar que o fogo. A Intuição é a bela luz que nos orienta na escuridão do
desconhecido. É o que possibilita a aventura em meio ao mistério e tem a capacidade de
descortinar, em um flash, nossa inteireza.
No nosso corpo, o fogo se expressa como calor e luz. Há luz e calor, fogo, dentro e fora de mim.
Nos reencontrarmos, enquanto Natureza, poderá ser um caminho fecundo em direção a uma vida
mais plena, tanto nossa quanto do Planeta. Como despertar o contato com a intuição/fogo em
nós mesmos e nos outros?
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
AS QUATRO APRENDIZAGENS,
os quatro elementos, as quatro
funções psíquicas
As distintas emoções têm efeitos diferentes sobre a inteligência.
Assim, a inveja, a competição, a ambição … reduzem a inteligência;
só o amor amplia a inteligência.
(MATURANA, 2000)
Carl Rogers define Aprendizagem Significativa como algo muito além da simples acumulação
de fatos. É uma aprendizagem que provoca modificação, quer seja no comportamento da pessoa,
na orientação de sua ação futura, nas suas atitudes e na sua personalidade. É uma aprendizagem
penetrante, que adentra profundamente toda a existência da pessoa.
Assim, parto do princípio de que todos nós, pais, educadores e terapeutas, podemos Aprender
a Aprender de forma mais significativa, penetrante e amorosa. Esse Aprendizado tem diferentes
formas de acontecer, conforme foi explicitado recentemente pela “Comissão Internacional sobre
a Educação para o século XXI”, ligada à UNESCO e presidida pelo pesquisador Jacques Delors. O
“Relatório Delors” (2003) enfatiza que, dentre as várias formas de manifestação da
aprendizagem, existem quatro pilares que são essenciais para um novo tipo de educação.
A seguir, proporei uma correlação dessas aprendizagens, com as funções psíquicas e os
elementos da matéria.
PENSAMENTO
AR
APRENDER A
CONHECER
SENSAÇÃO INTUIÇÃO
TERRA FOGO
APRENDER APRENDER
A FAZER A SER
SENTIMENTO
ÁGUA
APRENDER A
CONVIVER
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
relacionamento com a natureza - saber-se Natureza; reconhecer o Planeta que habitamos como
um organismo vivo, “Gaia”, casa própria comum.
Ao estabelecermos pontes entre essas Ecologias, o Conhecimento refletirá a Sabedoria de nos
sentirmos parte da complexa e delicada teia da vida . Poderá então haver o despertar da
consciência na aquisição do conhecimento…
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EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
APRENDER A SER
Intuição / Fogo
O sagrado é aquilo que liga. Ele se une, pelo seu sentido, à origem
etimológica da palavra “religião” (religare – religar), mas ele não é
em si mesmo, atribuído a uma ou outra religião.
(NICOLESCU, 1999, p. 126)
Em minha oficina de artesanato d’alma, onde atuo como Psicóloga clínica há 27 anos, durante
muitos anos atendi crianças e jovens. Na entrevista inicial com os pais, uma das perguntas
sempre dizia respeito à educação espiritual que haviam dado ao filho(a). Quase todos
respondiam da mesma forma: “Nenhuma!”
Essas respostas me remetem a várias perguntas. Sabemos que antigamente o ensino da
Religião era obrigatório e dogmático. Com o tempo, muitas Escolas retiraram essa disciplina de
seus currículos, se afastando das Igrejas. Isso poderia ter sido muito saudável se as famílias não
tivessem feito o mesmo. Claúdio Naranjo (1991, in Visão Holística em Psicologia e Educação), a
esse respeito, coloca uma questão que também é a minha: “Será que o bebê não foi despejado
junto com a água suja do banho?”. É importante discriminar o que é a independência em relação
às Igrejas, aos dogmas e a todo um sistema fechado de pensamento, e o que é o sagrado, a
educação espiritual, o Aprender a Ser.
Para Nicolescu (1999), o sagrado é uma experiência que é traduzida pelo sentimento religioso
daquilo que une todos os seres e coisas, reavivando no ser humano um respeito visceral por toda
e qualquer alteridade. Tal experiência é a origem da atitude transreligiosa. Assim, “a
transdisciplinaridade não é religiosa nem arreligiosa: ela é transreligiosa”
Em Psicologia, Carl G. Jung voltou a unificar o que, de verdade, nunca foi separado: a Ciência e
a Espiritualidade. O trabalho de Rodolf Steiner inspira as escolas Waldorf e Steiner enfatiza o
desenvolvimento da Intuição, na Educação, que reconhece diferentes níveis de realidade. A
Psicologia Transpessoal também integra esse aprendizado que inclui diferentes lógicas.
38
EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
OS QUATRO ESTILOS DO
CONHECIMENTO,
as quatro aprendizagens, os
quatro elementos e as quatro
funções psíquicas
PENSAMENTO
AR
APRENDER A
CONHECER
Ciência Filosofia
SENSAÇÃO INTUIÇÃO
TERRA FOGO
APRENDER A FAZER APRENDER A SER
Tradições
Arte
Sapienciais
SENTIMENTO
ÁGUA
APRENDER A
CONVIVER
39
EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
Considerações Finais
A vivência da abordagem holística e transdisciplinar facilita o florescimento do Educador
para a Inteireza, mais pleno, capaz de cultivar a abertura em relação a si mesmo e ao outro,
de comunicar-se com toda alteridade, com humildade e respeito.
No entanto, continua sendo necessário “vigiar e orar”, pois estamos todos viciados em
utilizar uma visão fragmentada e reducionista. A cura para qualquer vício, bem sabem os
toxicômanos, passa pela aplicação diária de uma nova afirmação construtiva que inicia com
“só por hoje”. Esse é um tempo possível. É o “passo a mais” viável. - Só por hoje eu me
permitirei uma visão mais ampla, mais aberta. Só por hoje vivenciarei a inteligência de meu
coração. Só por hoje vou estar inteira. Só por hoje...
Esse enraizamento cotidiano nos ajudará a atingir aquele que é, segundo Basarab
Nicolescu (1999), o objetivo da transdisciplinaridade: “a compreensão do mundo presente,
para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.”
A vivência desse processo de educação contínua poderá transformar o Educador em um
facilitador holocentrado, como tão bem definiu Roberto Crema (1991, in Visão Holística em
Psicologia e Educação). Algumas características do facilitador holocentrado são: abertura,
inclusividade, flexibilidade, espaço interior, humor, plena atenção, vocação, paciência,
humildade e intuição, enquanto permanece centrado na pessoa e no mistério do Todo.
40
EDUCAÇÃO E VALORES UNIVERSAIS
Desejo que a nossa peregrinação rotineira possa ser iluminada por uma visão ampla e
amorosa e que possamos criar o que BACHELARD (2006) denominou a “pedagogia da
leveza do ser”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A CARTA DA
TRANSDISCIPLINARIDADE
A Carta da Transdisciplinaridade é um dos principais documentos que fundamenta a
abordagem transdisciplinar holística utilizada na Unipaz em todos os seus cursos e atividades.
Carta da Transdisciplinaridade
Convento da Arrábida, 6 de novembro de 1994
Comitê de Redação:
Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu
Preâmbulo
• Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas e não acadêmicas conduz
a um crescimento exponencial do saber, o que torna impossível uma visão global do ser
humano;
• Considerando que somente uma inteligência que leve em consideração a dimensão
planetária dos conflitos atuais poderá enfrentar a complexidade do nosso mundo e o desafio
contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;
• Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante, que só
obedece à lógica apavorante da eficácia pela eficácia;
• Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um
ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas
consequências, no plano individual e social, são incalculáveis;
• Considerando que o crescimento dos saberes, sem precedente na história, aumenta a
desigualdade entre os que os possuem e os que deles estão desprovidos, gerando assim uma
desigualdade crescente no seio dos povos e entre nações do nosso planeta;
• Considerando, ao mesmo tempo, que todos os desafios enunciados tem sua contrapartida de
esperança e que o crescimento extraordinário dos saberes pode conduzir, a longo prazo, a
uma mutação comparável à passagem dos hominídeos à espécie humana;
• Considerando os aspectos acima, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de
Transdisciplinaridade (Convento da Arábia, Portugal, 2 a 7 de novembro de 1994) adotam a
presente carta, entendida como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade dos
espíritos transdisciplinares, constituído um contrato moral que todo signatário dessa carta faz
consigo mesmo, livre de qualquer espécie de pressão jurídica ou institucional.
42
A CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE
Artigo 1
Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio de
estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.
Artigo 2
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regido por lógicas diferentes,
é inerente à atitude transdisciplinar. Toda tentativa de reduzir a realidade a um só nível, regido por
uma lógica única, não se situa no campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3
A Transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; ela faz emergir novos dados
a partir da confrontação das disciplinas que os articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da
natureza da realidade. A Transdisciplinaridade não procura a mestria de varias disciplinas, mas a
abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.
Artigo 4
A pedra angular da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das
acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta a um novo
olhar sobre a relatividade das noções de “definição” e de “objetividade”. O formalismo excessivo, a
rigidez das definições e a absolutização da objetividade, incluindo-se a exclusão do sujeito,
conduzem ao empobrecimento.
Artigo 5
A visão transdisciplinar é completamente aberta, pois, ela ultrapassa o domínio das ciências
exatas pelo seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas, mas
também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência interior.
Artigo 6
Em relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é
multirreferencial. Leva em consideração, simultaneamente, as concepções do tempo e da história.
A transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte transitório.
Artigo 7
A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma
nova metafísica, nem uma ciência da ciência.
Artigo 8
A dignidade do ser humano também é de ordem cósmica e planetária. O aparecimento do ser
humano na Terra é uma das etapas da história do universo. O reconhecimento da Terra como
pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma
nacionalidade; mas com o título de habitante da Terra, ele é ao mesmo tempo um ser
transnacional. O reconhecimento, pelo direito internacional, dessa dupla condição – pertencer a
uma nação e à Terra - constitui um dos objetivos da pesquisa transdisciplinar.
Artigo 9
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta em relação aos mitos, às religiões e temas
afins, num espírito transdisciplinar.
43
A CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE
Artigo 10
Inexiste laço cultural privilegiado a partir do qual se possam julgar as outras culturas. O
enfoque transdisciplinar é, ele próprio, transcultural.
Artigo 11
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Ela deve ensinar a
contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, do
imaginário, da sensibilidade e do corpo na transmissão do conhecimento.
Artigo 12
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundamentada no postulado segundo o qual
a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.
Artigo 13
A ética transdisciplinar recusa toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão,
qualquer que seja a sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política,
filosófica. O saber compartilhado deve levar a uma compreensão compartilhada, fundamentada
no respeito absoluto às alteridades unidas pela vida comum numa só e mesma Terra.
Artigo 14
Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da visão transdisciplinar. O
rigor da argumentação que leva em conta todos os dados é o agente protetor contra todos os
possíveis desvios. A abertura pressupõe a aceitação do desconhecido, do inesperado e do
imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito a ideias e verdades diferentes das
nossas.
Artigo final
A presente Carta da Transdisciplinaridade está sendo adotada pelos participantes do Primeiro
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, não se reclamando a nenhuma outra autoridade a
não ser a da sua obra e da sua atividade.
Segundo os procedimentos que serão definidos em acordo com os espíritos transdisciplinares
de todos os países, a Carta está aberta à assinatura de todo ser humano interessado em medidas
progressivas de ordem nacional, internacional e transnacional, para aplicação dos seus artigos
nas suas vidas.
44
DOCUMENTOS E TEXTOS
Tudo o que concerne ao ser humano, nas 3 ecologias: individual, social e ambiental interessa à
Unipaz. A seguir, trazemos alguns documentos que enriquecem a base sobre a qual a Unipaz foi e
continua sendo edificada a cada dia para cumprir os seus objetivos. Trazemos também alguns
textos escritos por facilitadores ou parceiros da Unipaz, apresentando aspectos da abordagem
transdisciplinar holística nas áreas da educação e sustentabilidade.
Manifesto da Unipaz
Declaração universal dos
direitos à paz
Colegiado da Unipaz do Distrito Federal
Brasília, 18 de outubro de 2018
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Que a visão que inspira a cada ser seja construída a partir de um paradigma de paz e não
violência por meio de instituições e políticas públicas orientadas para a cultura de paz.
Que cada pessoa cuide de despertar a paz dentro de si para o bom exercício da cidadania.
Que se priorizem as práticas compassivas que geram no cotidiano vivência de paz e unidade
nos níveis individual, social, ecológico, planetário e cósmico.
Que sejam respeitadas todas as formas de expressão do amor e do afeto.
Que governos e seus colaboradores assumam o dever e a responsabilidade de colocar as
estruturas que dirigem a serviço dos diferentes aspectos da paz, contribuindo, assim, para a
transformação da Cultura de Guerra em Cultura de Paz.
Que os currículos das instituições educacionais tenham como foco a educação para uma
cultura de paz e não violência, promovendo a paz consigo mesmo, com os outros e com a
natureza.
Que se desenvolva a consciência da unidade que permeia o visível e o não visível.
Que se promovam formas criativas de integração entre a riqueza da razão e a inteligência do
coração, visando a transição da Cultura do ter para a Cultura do Ser.
Que a educação se apoie sobre a visão transdisciplinar holística fundamentada no aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser (segundo o relatório Delors da
UNESCO de 1994).
Que esse espírito de educação inspire a justiça e a segurança pública.
Que as prisões se transformem em centros de recuperação, por meio da educação e ações de
reinserção na sociedade.
Que as forças armadas estejam a serviço da comunidade na construção de uma coletividade
pacífica, justa e inclusiva.
Que a paz se faça presente na reverência e cuidado com as Águas em todas as suas
manifestações.
Que haja paz no manejo da Terra, honrando a biodiversidade, priorizando a saúde integral e o
equilíbrio dinâmico da Vida.
Que as culturas e saberes dos povos tradicionais sejam honradas, respeitadas e apoiadas.
Cabe à sociedade civil e às organizações não governamentais incentivarem e apoiarem os
esforços dos governos no sentido de fortalecer uma cultura de paz.
Que cada consciência desperta seja um exemplo da paz, que se deseja ver florescer no mundo,
conspirando pacificamente para o desenvolvimento da unidade de toda a humanidade, para a
integridade de cada indivíduo e a plenitude de todos os seres.
Que as fronteiras e limites internos que separam os seres humanos de sua própria espécie e
de todos os demais seres vivos, se transformem em uma convivência fraterna, próspera e
benéfica.
Que nós, os povos da Terra, estejamos reunidos na construção de pontes em prol da utopia
realizável da paz, dançando no infinito do espaço eterno sem começo e sem fim.
Diante do atual cenário, a Unipaz resgata, se inspira e atualiza a declaração elaborada sob a
coordenação de seu fundador Pierre Weil, no I Festival Mundial da Paz (2006).
46
DOCUMENTOS E TEXTOS
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos
bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que
todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para
que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as
nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos
direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de
direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com
as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a
observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta
importância para o pleno cumprimento desse compromisso, agora portanto
A ASSEMBLÉIA GERAL proclama A PRESENTE DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos
e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos
próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo I
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão
e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
47
DOCUMENTOS E TEXTOS
Artigo II
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra
condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.
Artigo III
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão
proibidos em todas as suas formas.
Artigo V
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Artigo VI
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante
a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração
e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo
para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição
ou pela lei.
Artigo IX
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de
um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Artigo XI
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até
que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual
lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não
constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena
mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo Artigo
XII
Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua
correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção
da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de
cada Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
Artigo XIV
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros
países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por
crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XV
1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade.
Artigo XVI
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou
religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em
relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da
sociedade e do Estado.
Artigo XVII
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito
49
DOCUMENTOS E TEXTOS
50
DOCUMENTOS E TEXTOS
velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu
controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças,
nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A
instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos
raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da
paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a
seus filhos.
Artigo XXVII
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de
fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e
liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo XXIX
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às
limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas
exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente
aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a
qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer
ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Artigo 1
Cada coisa que existe é parte de um universo interdependente. Todas as criaturas vivas
dependem umas das outras para sua existência, seu bem-estar e desenvolvimento.
Artigo 2
Todos os seres humanos são partes inseparáveis da natureza, na qual a cultura e a civilização
humanas têm sido construídas.
Artigo 3
A vida na Terra é diversificada e abundante.
Artigo 4
Todos os seres humanos são partes inseparáveis da família humana e dependem uns dos
outros para sua existência, seu bem-estar e desenvolvimento. Cada ser humano é uma expressão
e manifestação singular da vida, e tem uma contribuição individual a dar para a vida na Terra.
Cada ser humano tem direitos e liberdades inalienáveis e fundamentais, sem distinção de raça,
cor, sexo, língua, religião, política ou outra opinião, origem social e nacional, status econômico e
outras situações sociais.
Artigo 5
Todos os seres humanos têm as mesmas necessidades básicas e as mesmas aspirações
fundamentais a serem satisfeitas. Todo indivíduo tem direito ao desenvolvimento, cujo propósito é
a realização do potencial máximo de cada pessoa.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Artigo 6
A responsabilidade é um aspecto inerente a qualquer relação em que seres humanos estejam
envolvidos. Essa capacidade de agir responsavelmente, de maneira consciente, independente,
única e pessoal, é uma qualidade criativa inalienável do ser humano. Não existe limite para o seu
alcance, e este deve ser estabelecido por cada pessoa individualmente. Quanto maior o número
de atividades desenvolvidas pelo ser humano, mais ele crescerá e se fortalecerá.
Artigo 7
Entre todas as criaturas vivas, os seres humanos têm a capacidade única de decidir,
conscientemente, entre proteger e prejudicar a qualidade e as condições de vida na Terra. Ao
refletirem sobre o fato de que pertencem ao mundo natural e ocupam uma posição especial
como participantes da evolução de processos naturais, as pessoas podem desenvolver, sobre
uma base de compaixão e amor, um senso de responsabilidade universal para com o mundo
como um conjunto integrado, através da proteção à natureza e da promoção do mais alto
potencial para mudança, com o objetivo de criar as condições que lhes possibilitarão obter o mais
alto nível de bem-estar material e espiritual.
Artigo 8
Neste momento decisivo da história, as ações alternativas da humanidade são cruciais. Ao
direcionarem suas ações através da aquisição do progresso na sociedade, os seres humanos têm
frequentemente esquecido seus papéis inerentes no mundo natural e na indivisível família
humana, e suas necessidades básicas para uma vida saudável. O consumo excessivo, o abuso do
meio ambiente e a agressão entre pessoas têm conduzido os processos naturais da Terra a um
estágio crítico que ameaça sua sobrevivência. Pela reflexão sobre esses problemas, os indivíduos
serão capazes de discernir suas responsabilidades e assim reorientar suas condutas para com a
paz e o desenvolvimento sustentável.
Artigo 9
Levando-se em conta que todas as formas de vida são únicas e essenciais, que todos os seres
humanos têm direito ao desenvolvimento, e que tanto a paz como a violência são produtos da
mente humana, o senso de responsabilidade desenvolverá na mente humana uma maneira
pacífica de agir e pensar. Por meio da paz orientada e consciente, os indivíduos entenderão a
natureza das condições necessárias ao seu bem-estar e desenvolvimento.
Artigo 10
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Sendo conscientes da sua responsabilidade para com a família humana e o ambiente em que
vivem, e da necessidade de pensar e agir de forma pacífica, os seres humanos têm a obrigação
de agir de modo coerente com a observância e o respeito aos direitos humanos intrínsecos,
garantindo o acesso aos recursos e preservando a satisfação das necessidades básicas de todos.
Artigo 11
Quando os membros da família humana reconhecerem que são responsáveis por si mesmos e
pelas gerações presentes e futuras no que se refere à conservação do planeta e à proteção do
mundo natural, e que são promotores de seu desenvolvimento permanente, eles agirão de
maneira racional e ordenada para garantir uma vida sustentável.
Artigo 12
Os seres humanos têm uma responsabilidade contínua quando se colocam em posição de
liderança, quando tomam parte ou representam unidades sociais, associações e instituições,
sejam privadas ou públicas. Além disso, todas as entidades são responsáveis pela promoção da
paz e da sustentabilidade. Colocar em prática tais objetivos inclui o estímulo à consciência da
interdependência entre os seres humanos e entre estes e a natureza, e à consciência da
responsabilidade universal na solução de problemas que eles têm criado através de suas atitudes
e ações. Tal solução deve ser obtida de forma coerente com a proteção dos direitos humanos e
das liberdades fundamentais.
__________
Reproduzido do livreto 'A Arte de Viver em Paz', Pierre Weil, Fundação Cidade da Paz, Unipaz, Campus de Brasília, 52 p., pp. 25-28.
A tradução foi revisada pela Unipaz Pernambuco.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Preâmbulo
Esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela
também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a erradicação
da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio
global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Todos os países e todas
as partes interessadas, atuando em parceria colaborativa, implementarão este plano. Estamos
decididos a libertar a raça humana da tirania da pobreza e da penúria e a curar e proteger o nosso
planeta. Estamos determinados a tomar as medidas ousadas e transformadoras que são
urgentemente necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Ao
embarcarmos nesta jornada coletiva, comprometemo-nos que ninguém seja deixado para trás.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas que estamos anunciando hoje
demonstram a escala e a ambição desta nova Agenda universal. Eles se constroem sobre o
legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e concluirão o que estes não conseguiram
alcançar. Eles buscam concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero
e o empoderamento das mulheres e meninas. Eles são integrados e indivisíveis, e equilibram as
três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.
Os Objetivos e metas estimularão a ação para os próximos 15 anos em áreas de importância
crucial para a humanidade e para o planeta:
Pessoas
Estamos determinados a acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e
dimensões, e garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade
e igualdade, em um ambiente saudável.
Planeta
Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e
da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas
urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações
presentes e futuras.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Prosperidade
Estamos determinados a assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de uma
vida próspera e de plena realização pessoal, e que o progresso econômico, social e tecnológico
ocorra em harmonia com a natureza.
Paz
Estamos determinados a promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas que estão livres do
medo e da violência. Não pode haver desenvolvimento sustentável sem paz e não há paz sem
desenvolvimento sustentável.
Parceria
Estamos determinados a mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda por
meio de uma Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável revitalizada, com base num
espírito de solidariedade global reforçada, concentrada em especial nas necessidades dos mais
pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os países, todas as partes interessadas
e todas as pessoas. Os vínculos e a natureza integrada dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável são de importância crucial para assegurar que o propósito da nova Agenda seja
realizado. Se realizarmos as nossas ambições em toda a extensão da Agenda, a vida de todos
será profundamente melhorada e nosso mundo será transformado para melhor.
Objetivo 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
Objetivo 2
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a
agricultura sustentável.
Objetivo 3
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
Objetivo 4
Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos.
Objetivo 5
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Objetivo 6
Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Objetivo 7
Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.
Objetivo 8
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e
produtivo e trabalho decente para todos.
Objetivo 9
Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e
fomentar a inovação.
Objetivo 10
Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
Objetivo 11
Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
Objetivo 12
Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
Objetivo 13
Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos (*)18.
Objetivo 14
Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o
desenvolvimento sustentável.
Objetivo 15
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter
a perda de biodiversidade.
Objetivo 16
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar
o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos
os níveis.
Objetivo 17
Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento
sustentável.
(*) Reconhecendo que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima [UNFCCC] é o fórum internacional
intergovernamental primário para negociar a resposta global à mudança do clima.
Traduzido pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), última edição em 13 de outubro de 2015.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
A CARTA DA TERRA
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo se torna cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes
promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade
de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um
destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada
no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura
da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa
responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras
gerações.
Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com
uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura
exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A
capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da
preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade
de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus
recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade,
diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,
redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo
arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o
fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos
violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da
população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança
global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.
Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar
a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos
nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades
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DOCUMENTOS E TEXTOS
básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não
a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir
nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando
novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios
ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar
soluções includentes.
Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade
universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade
local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a
dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e
pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de
solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com
reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade
considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza. Necessitamos com
urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético
à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes
princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum,
através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e
instituições transnacionais será guiada e avaliada.
PRINCÍPIOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal
renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos
que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta. Isto requer uma
mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de
responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo
de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma
herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar
esta visão. Devemos aprofundar expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque
temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria. A vida
muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis.
Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o
exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo.
Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes,
as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as
organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança
criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma
governabilidade efetiva. Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo
devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações
respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da
Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao
desenvolvimento. Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face
à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela
justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.
Em 1854, o governo dos Estados Unidos propôs comprar uma ampla extensão de terra dos
índios, prometendo criar, em troca, uma reserva indígena. A resposta do Chefe Seattle, aqui
transcrita integralmente, tem sido considerada a mais bela e profunda declaração jamais feita
sobre o meio ambiente.
“Como se pode comprar ou vender o firmamento ou mesmo o calor da terra? Esta ideia nos é
desconhecida”.
Se não somos donos da frescura do ar, nem do reflexo das águas, como vocês poderão
comprá-los?
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DOCUMENTOS E TEXTOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
desse mesmo vento purificado pela chuva do meio-dia ou perfumado com aroma de pinho. O ar
tem um valor inestimável para o pele-vermelha, já que todos os seres compartilham o mesmo
ambiente: o animal, a árvore e o homem, todos respiramos o mesmo ar.
O homem branco não parece consciente do ar que respira: como um moribundo que vem
agonizando há muitos dias, é insensível ao que o rodeia.
Mas, se lhes vendermos nossas terras, deverão lembrar-se de que o ar nos é inestimável, de
que o ar compartilha seu espírito com vida que sustenta. O vento, que deu a nossos avós o
primeiro sopro de vida, também recebe seus últimos suspiros. E se lhes vendermos nossas terras,
vocês deverão conservá-las como coisa muito especial e sagrada, como lugar onde até o homem
branco possa saborear o vento perfumado pelas flores das pradarias.
Por isso, consideramos sua oferta de comprar nossas terras. Se decidirmos aceitá-la, eu
colocarei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo de vida.
Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo nas pradarias, mortos a tiros pelo homem
branco, de dentro de um trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como uma
máquina a vapor pode ser mais importante que o búfalo que nós matamos somente para
sobreviver.
Que seria do homem sem os animais? Se todos os animais fossem exterminados, o homem
também morreria de uma grande solidão espiritual. Porque o que acontecer com os animais,
também acontecerá aos homens.
Tudo está entrelaçado.
Deverão ensinar a seus filhos que o solo em que pisam é formado das cinzas dos nossos avós.
Inculquem em seus filhos o que nós temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo o
que acontecer com a terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens estragam o solo,
estragam a si mesmos.
Isto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra, isto nós
sabemos. Tudo está entrelaçado como o sangue une a família.
Tudo está entrelaçado.
Tudo o que acontecer à terra, ocorrerá a seus filhos. O homem não teceu a trama da vida, ele é
só um elo: o que ele faz à trama, ele faz a si mesmo.
Nem sequer o homem branco, cujo Deus passeia e fala com eles de amigo para amigo, está
isento do destino comum. Depois de tudo, talvez sejamos irmãos. Logo veremos.
Sabemos de uma coisa que talvez o homem branco descubra um dia: nosso Deus é o mesmo
Deus de vocês. Vocês podem pensar hoje que Ele lhes pertence, do mesmo modo que desejam
que nossas terras lhes pertençam; mas não é assim. Ele é o Deus de todos os homens e sua
compaixão se divide por igual entre os peles-vermelhas e o homem branco. Esta terra tem um
valor inestimável para Ele e, se vier a ser destruída, provocara a ira do criador.
Também os brancos se extinguirão antes, quem sabe, que nossas tribos. Contaminem o leito
dos rios e uma noite morrerão afogados em seus próprios resíduos.
Porém vocês caminharão até a destruição, rodeados de gloria, inspirados pela força de Deus
que lhes trouxe a esta terra e que, por algum desígnio especial, lhes deu domínio sobre ela e
sobre o pele-vermelha. Este destino é um mistério para nós, pois não entendemos porque se
exterminam búfalos, se domam os cavalos selvagens, se saturam os cantos secretos dos
bosques com o hálito de tantos homens e se entulham a paisagem das colinas exuberantes com
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Cooperar no cotidiano
Fábio Otuzi Brotto
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DOCUMENTOS E TEXTOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Ecologizar o cotidiano
Para quem se pauta pela consciência e ética ecológicas, cada papel que desempenha traz
oportunidades para ecologizar a vida.
Somos seres humanos multidimensionais. A vida cotidiana é pródiga em oportunidades de
ação ecologicamente consciente. Cada um pode, a cada momento, dar sua contribuição para
reduzir a pressão sobre a natureza: na vida pessoal, por meio dos hábitos alimentares, da
educação dos filhos, dos hábitos de consumo, das práticas frugais, nas aspirações e desejos,
internalizando a consciência ecológica e a ética ecológica em seus pensamentos, emoções e
ações, bem como em sua relação com a sociedade e a natureza, vivendo conforme os princípios
da simplicidade voluntária, da austeridade feliz, do conforto essencial, da frugalidade. Isso implica
em mudar desejos, paixões, necessidades, vontades; em suma, transformar as consciências e as
energias que movem a ação humana.
CIDADÃO
PRODUTOR
TRABALHADOR EDUCADOR
SER ELEITO
ELEITOR HUMANO AUTORIDADE
APRENDIZ CONSUMIDOR
CONTRIBUINTE
O cidadão pode exercer direitos e ser corresponsável pela qualidade do meio ambiente; evitar
sujá-lo; associar-se a movimentos coletivos pelo ambiente e depurar o próprio ambiente interior
do corpo, da mente e das emoções. Cada um de nós é um ser em evolução que na vida cotidiana
respira, se alimenta, exercita o corpo.
A redução do consumismo e do acúmulo de bens materiais reduz as pressões sobre a
natureza.
O consumidor responsável reduz o volume e peso dos produtos usados; evita desperdícios de
água, de energia, de alimentos. Na alimentação, reduz as proteínas animais que são mais
pressionadoras do ambiente do que os produtos de origem vegetal, do ponto de vista da ecologia
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DOCUMENTOS E TEXTOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Riquezas intangíveis e imateriais são tão importantes quanto a prosperidade física e material,
pois cada ser humano tem seu corpo físico, material, e sua mente, suas emoções, sua alma e seu
espírito.
No dia a dia cada ação tem efeitos sobre a natureza, da qual somos partes integrantes. O
somatório das atitudes de bilhões de seres humanos ajuda a construir uma nova era na evolução
do planeta.
Somos seres em transição e uma espécie co-gestora do rumo da evolução.
A somatória de pequenas ações individuais (como as atitudes do beija-flor num incêndio) é
necessária para melhorar o todo, mas não é suficiente para fazê-lo. No âmbito coletivo, ação
relevante pode ser feita por meio da participação em redes sociais, de associações locais, de
vizinhança, regionais ou globais, que lutem por melhorias e pela saúde do ambiente; ações para
levar as empresas e os governos a despertar para a gravidade dos problemas ambientais e
climáticos. As práticas da democracia direta e da participação encontram novas opções com o
uso da internet, que permite pressionar os tomadores de decisão com mensagens por causas
ecológicas. A partir dos teclados de computadores, compartilham-se ideias, também se constrói
cultura e faz-se ação política sem sair de casa.
A magnitude dos problemas atuais nesse estágio terminal da era cenozoica exige que
tomemos consciência de que cada um dos atos cotidianos, individuais ou coletivos tem
consequências diretas e imediatas e repercutem na direção que tomará a evolução da vida na
Terra. Fortalecer a unidade humana para além das diferenças, bem como exercitar a
solidariedade para além da competição individualista podem facilitar a transição da atual
sociedade com suas várias normoses para uma sociedade mais saudável na relação com a
natureza que a sustenta.
Ecologizar a vida, trazer as práticas de ecologia integral para o cotidiano de cada um é um
modo harmônico de inserir o ser humano no ambiente em que vive e que o sustenta. Aprender
como fazer isso, aproveitando o conhecimento acumulado por antigas sociedades e civilizações e
agregando-lhe os conhecimentos contemporâneos, pode ser vital para que o ser humano, um ser
em transição, se torne um cogestor consciente da evolução neste planeta.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Banho de Floresta
Trilha de reconexão, saúde integral e inspiração
Cristina Torres
Apresentação
Desconexão
A degradação ambiental revela, com lente ampliada, a crise civilizatória que vivemos. Contexto
que está dado pelas dimensões produtivas, culturais e econômicas das sociedades
industrializadas, em descompasso com a capacidade de equilíbrio ecossistêmico do planeta. O
resultado desse cenário está expresso na crise de percepção, adoecimento das pessoas,
comunidades e ambientes. Tudo isso graças ao distanciamento ou negação da natureza em nós,
ou de sermos parte de uma rede maior – a teia da vida.
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DOCUMENTOS E TEXTOS
No livro O princípio da natureza, o autor Richard Louv destaca o chamado transtorno por déficit
de natureza. Louv aborda o tema como uma advertência dos riscos implicados pela falta de
contato com o ambiente natural. Entre eles, transtornos de déficit de atenção com hiperatividade,
obesidade infantil, dificuldades cognitivas e psicomotoras, estresse e depressão.
“O que mais necessitamos é escutar, dentro de nós, os sons da Terra chorando”, disse o monge
budista Thich Nhat Hanh ao ser indagado sobre como devemos lidar com a degradação
ambiental. Eis a questão: quando prestamos atenção às paisagens internas, reconhecemos
hábitos e pensamentos que inviabilizam a vida em equilíbrio, seja no plano individual, social e
ambiental. Assim, somos chamados a recuperar a inspiração, as conexões inatas, e profundas,
que temos com outros seres, com a Terra e a capacidade de autocura da rede de vida. Significa
silenciar, retornar à casa-natureza, dentro e fora, tal como demonstra a nossa história evolutiva.
2 e-natureza: www.einstein.br/pesquisa/pesquisa-assistencial/projetos-pesquisa
3 Ver https://www.iucn.org/sites/dev/files/content/documents/improving-health-and-well-being-stream-report_0.pdf
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Naturaleza, realizado pelo Forest Therapy Institute em maio de 2020, registrou experiências de
instituições de diversos países. Trata-se de ações e políticas públicas ancoradas na importância
da visão holística como base da saúde humana e do planeta, considerados todos os seres vivos.
Entre as atividades apresentadas, destaca-se o Banho de Floresta (como prática de conexão com
a natureza, para promoção de saúde e bem-estar) e Terapia de Floresta (que utiliza o Banho de
Floresta no tratamento terapêutico e reabilitação). Vale destacar que para ambos percursos se
abre um campo de atuação profissional, transdisciplinar, com formação de guias e/ou terapeutas
de floresta4.
García, Hector e Miralles, Francesc – Shinrin-Yoku – El arte japonés de los baños de bosque
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DOCUMENTOS E TEXTOS
6 Adaptado do livro A Little Handbook of Shirin-Yoku, de M. Amos Clifford, 2013, in Baños de Bosque, una propuesta de Salud
(DKV). https://dkvsalud.com/es/instituto/observatorio/bosques-saludables
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DOCUMENTOS E TEXTOS
elemento que te chame a atenção. Observe, interaja e agradeça a sua presença e oportunidade
de estar com, de ser parte.
3. Sentidos: Feche os olhos e sinta os pés na terra. Respire profundamente e observe os
movimentos do seu corpo. Sinta os prazeres dos sentidos. Balance os braços e sinta o ar, o
espaço que te acolhe. Preste atenção à sua pele, experimente a temperatura. Escute os diferentes
sons – perto ou distantes. Sintonize com seu olfato e observe os cheiros presentes. Pode
identificar algum? Abra a boca, tateie o ar com a língua. Algum sabor a ser observado?
Finalmente, abra os olhos e contemple a paisagem. Como se fosse a primeira vez. O que você
observa?
4. O que há em movimento: Qual é o ritmo da natureza? Observe movimentos próximos,
distantes. Sinta. Observe as diferentes velocidades dos movimentos ao redor. Perceba as
diferenças dos movimentos ao andar e ao observar na quietude.
5. Passos silenciosos: Caminhe silenciosamente, com todos os sentidos alertas. Como um
lobo, que se move pela paisagem. Observe o contato e movimento dos seus pés ao tocar o solo.
Pare quando algo te chamar atenção e observe os detalhes.
6. Olhar ao redor: Observe algo pequeno, próximo a você. Algo que te chame atenção, que
te escolha. Dedique ao elemento escolhido toda a sua atenção. Observe detalhes que não tivesse
notado antes. O que se passou com você ao observar? O que mais te chamou atenção? Alguma
diferença na observação de agora para o início do percurso?
7. Orelhas de veado campeiro: Coloque as mãos atrás das orelhas, para aumentá-las.
Caminhe tranquila e lentamente, como um veado campeiro, alerta com os sons que te rodeiam.
Oriente suas orelhas de veado campeiro até os sons que te chamem atenção. Identificou algo
diferente, novo, com sua audição amplificada?
8. Fareje: A intenção é envolver o sentido do olfato em relação ao entorno natural. Atenção
para não alcançar plantas tóxicas ou irritantes. Esfregue diferentes folhas para liberar o cheiro e
sentir. Que recordações te trazem?
9. Presente na floresta: Encontre três ou quatro elementos que te atraiam e possam ser
recolhidos. Deixe que os objetos “te chamem”. Com estes objetos naturais, e em um lugar que te
agrade, deixe um “presente” para a floresta que te acolheu. Não pense em resultado ou perfeição.
Simplesmente desfrute o processo de criação, interação, doação e sorria.
10. Despedida: Antes de deixar a floresta, preste atenção ao tempo que pode dedicar a você e
à floresta. Lembre-se que é um ecossistema vivo, com uma diversidade de seres vivos, que você
passou pela casa de alguém. Que diferenças você observa depois dessa vivência? O que mais
você gostou nesse espaço e processo? Há algo em especial que queira recordar desse Banho de
Floresta?
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Fica o convite: Sinta o Yugen, ou seja, experimente o prazer e a conexão profunda de ser uno
(una) com a natureza. “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o
coração tranquilo”.
Leituras sugeridas
CLIFFORD, M. Amos. Your guide to forest bathing : experience the healing power of Nature. Newbury : Conari Press, 2018.
CLIFFORD, M. Amos. A little handbook of Shinrin-yoku., 2013.
GARCÍA, Héctor, MIRALLES, Francesc. Shinrin-Yoku: el arte japonés de los baños de bosque. Barcelona : Editorial Planeta, 2018.
LAVRIJSEN, Annette. Shinrin-yoku : Sumergirse en el bosque. Barcelona: Lince, 2018.
LI, Qing. El podel del bosque : Shinrin-yoku. Barcelona : Roca, 2018.
LOUV, Richard. O principio da natureza: reconectando-se ao meio ambiente na era digital. São Paulo : Cultrix, 2014.
MIYASAKI, Yoshifumi. Shinrin-yoku: Baños curativos de bosque. Barcelona: Blume, 2018.
Sites
https://foresttherapyinstitute.com/pt/home/
https://www.natureandforesttherapy.org/
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DOCUMENTOS E TEXTOS
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DOCUMENTOS E TEXTOS
Propõe reduzir o consumo material para poupar os recursos da natureza. A austeridade feliz
produz um modo de vida que torna mais leve a pegada ecológica. É uma atitude de vida capaz de
harmonizar o ser humano com o ambiente, e um modo de vida que reflete uma visão compassiva
e solidária.
Simplicidade voluntária é uma opção deliberada de quem reduz suas demandas para poupar
os recursos da natureza. Para que seja adotada, é preciso dissolver os desejos por aquisição de
mais bens, mais viagens, mais eletrodomésticos, mais conforto material, que têm como
consequências mais poluição e mais gastos de recursos naturais. A simplicidade voluntária é
diferente da privação forçada e involuntária.
Já o conforto essencial é o nível de conforto básico que traz bem-estar e que evita o supérfluo.
Em alguns casos, para alcançar o conforto essencial é necessário virar a própria mesa e sair do
comodismo e do conformismo.
Frugalidade é sobriedade, temperança, parcimônia, simplicidade de costumes e de modo de
vida. Ela supera a idolatria e o apego irracional ao crescimento exponencial contínuo num planeta
finito. Propõe que se alcance uma economia estável, que respeite os limites da biosfera. A
frugalidade pode reduzir a emissão de CO2 na atmosfera e a emissão de todos os tipos de
resíduos na biosfera.
Há exemplos históricos de frugalidade em antigas civilizações. Gandhi disse que “A civilização,
no verdadeiro sentido da palavra, não consiste em multiplicar nossas necessidades, mas em
reduzi-las voluntariamente, deliberadamente.” Milenarmente, a Índia adotou estilo de vida frugal e
adotou uma economia que respeitou os limites da biosfera. Sacralizou bichos e plantas. Praticou
o vegetarianismo. Organizou-se espacialmente em uma rede de pequenas aldeias e em ashrams
ou comunidades espirituais. Exercitou posturas corporais que reduzem a demanda por objetos.
Entretanto, na Índia atual (como também no mundo todo), os apelos ao consumo se
exacerbam e com eles a pressão sobre a natureza e o clima. A frugalidade adotada por milênios é
colocada em risco por estilos de vida predatórios e crescentes aspirações de bem-estar material
por parte daqueles que sofrem privações. Ainda não se sabe se no período pós-pandemia essa
tendência prevalecerá ou se cederá lugar para um mundo mais frugal no qual a austeridade
possa ser feliz, a simplicidade seja adotada voluntariamente e os desperdícios cedam lugar a
uma atitude de busca do conforto essencial.
Bibliografia
NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo, Ed. Triom, 1999.
RIBEIRO, Maurício Andrés. Ecologizar: Pensando o Ambiente Humano. Ed. Universa. Brasília, 2005.
WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz. São Paulo, Ed. Gente, 1998. 5º Edição – Copyright Unesco – Prefácio de Robert Mueller.
WEIL, Pierre. A Mudança de Sentido e o Sentido da Mudança. Rio de Janeiro, Ed Rosa dos Tempos, 2000.
WEIL, Pierre. A Arte de Viver a Vida. São Paulo, Ed. Vozes, 2000.
Revista META, Nº 2, Salvador (BA), 1999 - Rede da Paz, Unipaz.
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