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11/05/2020 Comunicação

COMUNICAÇÃO
CAPÍTULO 2 - COMO EVITAR A FALTA DE
COERÊNCIA TEXTUAL?
Adriana Paula da Silva Amorim

INICIAR

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Introdução
A comunicação efetiva ocorre por meio de gêneros textuais. Cada situação
comunicativa exige a utilização de um gênero textual específico. As notícias, por
exemplo, são produzidas para informar a população sobre fatos ocorridos; enquanto
que os anúncios, por sua vez, são elaborados com a finalidade de divulgar produtos e
serviços para um público específico.
Nesse contexto, é preciso se atentar para alguns aspectos relevantes na produção
textual: a adequação ao meio em que o texto é veiculado, a coesão e a coerência.
Afinal, com o advento da internet, surgiram novas formas de linguagem e novos
gêneros textuais. A tela como suporte de textos digitais propicia maior dinamicidade
na comunicação virtual e possibilita a composição dos textos a partir de elementos
verbais e não verbais, como imagens, sons, vídeos, cores, ícones, entre outros.
Além da adequação ao suporte, é imprescindível que os textos possuam coerência e
coesão, a fim de que cumpram plenamente seu propósito comunicativo. A coerência
diz respeito ao sentido: um texto coerente é um texto que possui sentido. Para tanto, é

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necessário que as informações apresentadas na superfície textual estejam coerentes


entre si e coerentes com o mundo que nos cerca. A coesão, por sua vez, é a conexão
entre as ideias apresentadas em um texto, contribuindo substancialmente para a
manutenção da coerência.
Sendo assim, ao longo deste capítulo, trataremos da forte relação entre gêneros
discursivos e tecnologia, a partir da análise de como essa relação ocorre na
comunicação por meio das tecnologias digitais emergentes. Ademais, trataremos da
coerência e da coesão separadamente, com finalidade didática, reconhecendo que, na
prática comunicativa, elas se manifestam de forma complementar e simultânea.
Vamos aos estudos!

2.1 Gênero e tecnologia


Com o advento das tecnologias digitais, a sociedade passou por substanciais
transformações. A comunicação se tornou consideravelmente mais ágil e as distâncias
foram encurtadas com o uso da internet como meio de transmissão de mensagens.
Isso acarretou no surgimento do hipertexto, “[...] forma híbrida, dinâmica e flexível de
linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua
superfície formas outras de textualidade” (XAVIER, 2000, p. 171).
Como efeito, podemos exemplificar o hipertexto pelas mensagens instantâneas
enviadas e recebidas através de sites de relacionamentos, como o Facebook e o
Twitter; ou de so wares e aplicativos de comunicação, como o WhatsApp e o Telegram.

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Figura 1 - A comunicação pela internet é ágil e prática.


Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.

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Dessa forma, surgem novos gêneros textuais, propiciados pela emergência das
tecnologias digitais, caracterizados por duas características: a hipertextualidade e a
multimodalidade.

2.1.1 Gêneros discursivos digitais


O advento e a evolução das tecnologias digitais propiciaram o surgimento de novas
formas de construir os textos, a partir da utilização de elementos visuais e sonoros
além da escrita, o que não é possível no texto impresso. São exemplos de gêneros
textuais digitais o e-mail, o blog, as mensagens instantâneas, o fórum, a homepage e
tantos outros que permitem, com a tecnologia de que dispõem, agilidade e eficiência
na comunicação.
Há alguns anos, era comum que as empresas utilizassem a carta como forma de
comunicação interinstitucional. No entanto, esse cenário começou a mudar.
Atualmente, utiliza-se muito mais o e-mail com essa finalidade. Por outro lado, a
comunicação interna das empresas passou a ocorrer também por meio de aplicativos
de mensagens instantâneas. Esse tipo de comunicação, além de ser ágil, permite o
compartilhamento de imagens, vídeos, documentos, links e ícones que
complementam a linguagem verbal.
Outras áreas da sociedade também aderiram à tecnologia e adequaram seu conteúdo
e os recursos textuais ao chamado mundo virtual. De fato, atualmente, as grandes
empresas de jornalismo possuem páginas na internet, sendo que, a partir delas,
veiculam notícias. Contudo, além de texto escrito e das imagens, essas notícias em
meio digital também ganham links, vídeos e áudios. O mesmo ocorre com outros
textos, como os anúncios publicitários, que antes eram produzidos somente para
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Figura 2 - Textos originalmente impressos se adequaram às tecnologias digitais.


Fonte: Zerbor, Shutterstock, 2018.

divulgação impressa, mas que, hoje, são desenvolvidos para a mídia digital,
explorando recursos de imagem e som.

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Diante dessa realidade, é possível perceber o quanto nós, enquanto cidadãos da


sociedade da informação, estamos habituados a convivermos com gêneros textuais
tão diversos. Utilizamos as tecnologias de informação e comunicação diariamente
para estudar, trabalhar, nos comunicar com familiares e amigos, nos informar e nos
entreter. Por isso, é comum utilizarmos os gêneros digitais, como o e-mail, as
mensagens instantâneas, o bate-papo, a vídeo chamada, o vídeo tutorial, entre tantos
outros exemplos de textos produzidos e veiculados digitalmente.
Essa gama de possibilidades da virtualidade é conhecida como hipertextualidade, da
qual trataremos na sequência.

2.1.2 Hipertextualidade
A virtualidade propicia a produção de uma linguagem mista e híbrida que une a
linguagem verbal escrita a outros recursos, como sons, imagens estáticas e com
movimento e links. As páginas de internet que costumamos acessar possuem
propriedades específicas e mesclam gêneros textuais diversos em um mesmo
ambiente. Em um site cujo assunto principal é o mundo automobilístico, por exemplo,
encontramos notícias, reportagens, anúncios, infográficos, vídeos, tutoriais, resenhas
e muitos outros textos referentes ao tema central. Com efeito, a tela do computador,
do tablet e do smartphone possibilitam essa heterogeneidade de informações ao
alcance do usuário. Assim, “A hipertextualidade seria, então, um conjunto
multienunciativo de hipertextos, em razão de sua heterogeneidade” (CAVALCANTE,
2012, p. 56).

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Ao abrirmos uma homepage no navegador de internet, são apresentados múltiplos


caminhos que podemos acessar com a ajuda dos links. Da mesma forma, quando
utilizamos os meios tecnológicos para estudar, outras possibilidades estão ao nosso
dispor, a fim de que possamos explorar, navegar e adquirir conhecimento.

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Figura 3 - Homepages reúnem vários elementos visuais além do texto escrito, como imagens, cores e
sinais.
Fonte: Haywiremedia, Shutterstock, 2018.

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Sobre a definição de hipertexto, Koch (2007, p. 25) afirma que se trata de uma escrita
“[...] não-sequencial e não-linear, que se ramifica de modo a permitir ao leitor virtual o
acesso praticamente ilimitado a outros textos, na medida em que procede a escolhas
locais e sucessivas em tempo real”. Em linha com a autora, o leitor, conhecido como
navegador, torna-se coautor do texto, visto que, diante das inúmeras possibilidades de
acesso e de leituras que a internet lhe proporciona, segue os links de seu interesse e se
aprofunda nos temas que atraírem a sua atenção.
Você mesmo, enquanto estudante de uma disciplina cursada a distância, tem nas
mãos o poder de, autonomamente, construir o conhecimento a partir da busca por
informações em diversas fontes disponíveis na rede. Sabemos, no entanto, que se faz
necessário filtrar essas fontes para que as informações obtidas sejam confiáveis e úteis
aos seus objetivos de estudo.

VOCÊ QUER LER?


No artigo “Hipertexto e gêneros digitais: modificações no ler e escrever?”, de Gislaine Gracia Magnabosco,
são discutidas as transformações que a internet trouxe para a leitura e para a escrita. Em seu texto, a autora
enfatiza a importância do desenvolvimento de um letramento digital, ou seja, que os usuários sejam
orientados — já na escola — sobre a utilização dessas ferramentas midiáticas como instrumento interativo
de escrita e de leitura. Você pode ler o texto em:
<www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/14/13
(http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/14/13)>.
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Outra característica marcante do texto da era digital é a multimodalidade, sobre a


qual discutiremos a seguir.

2.1.3 Multimodalidade
Você já parou para pensar na evolução da linguagem ao longo dos tempos? Já
analisou como, atualmente, estamos nos comunicando muito mais pelo meio digital
em detrimento do meio impresso? Notou como o texto digital permite novas
possibilidades de composição dos textos que a escrita no papel não possibilitava?
A multimodalidade é um conceito desenvolvido por Kress e Van Leeuwen (1996) para
descrever os diversos modos ou modalidades semióticas pelos quais os textos são
compostos. São exemplos de elementos multimodais o som, a imagem (estática ou
em movimento), o texto escrito, o gesto, o uso das cores, entre outros. Cada uma
dessas modalidades possui potencial para a construção do sentido no texto.
Em relação ao hipertexto, facilmente percebemos a presença da multimodalidade nos
gêneros digitais. Um exemplo disso são os emoticons, ícones utilizados em conversas
on-line para transmitir a emoção dos indivíduos. O uso dos emoticons complementa as
informações verbais digitadas e expressa a informação de forma singular. Alguns, por
exemplo, não teriam o mesmo sentido se fossem descritos com a linguagem verbal. O
mesmo ocorre com o uso de outros recursos multimodais. Em síntese, esses ícones
possuem valor complementar à escrita, já que, nos dias atuais, os recursos visuais têm
ganhado relevância na comunicação.

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Aliás, você deve ter notado que muitas informações no suporte digital, isto é, a tela,
são representadas por ícones, não é mesmo?
Assim, a hipertextualidade permite a exploração de recursos multimodais em textos
conhecidos antes mesmo da internet, como notícias, anúncios e tutoriais. Xavier
(2002) chama a atenção para o fato de que, no texto digital, os recursos multimodais
coexistem — ou seja, som, imagem, texto escrito e outros recursos disponíveis se
sobrepõem e podem ser acessados de qualquer lugar a qualquer momento —, desde
que haja as condições técnicas necessárias, como a conexão com a internet.
Note que os anúncios digitais, por exemplo, são compostos por uma gama de cores,
sons e imagens em movimento, mas organizados em um determinado layout (design,
esquema e arranjo), contribuem para a produção de significados.
A escolha e a organização desses recursos na composição do texto não ocorrem por
acaso. O produtor do texto seleciona os recursos para atender seus objetivos
comunicativos e os organiza em um layout que atraia a atenção do público-alvo. Nos
anúncios da figura acima, o produto anunciado (ou algo que o represente) aparece no
centro, em posição de ênfase, enquanto que as informações verbais geralmente
aparecem nas bordas. Além disso, informações importantes — como os nomes das
marcas — aparecem em destaque, com fontes em tamanho e cores de evidência.
No entanto, vale ressaltar que isso só é possível com a coerência textual, competência
extremamente relevante para a comunicação verbal.

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Figura 4 - O texto digital é composto pela mistura de diferentes modos enunciativos.


Fonte: Elaborado pela autora, baseado em XAVIER, 2002.

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Figura 5 - O suporte digital permite o uso de recursos multimodais em anúncios.


Fonte: Lissandra Melo, Shutterstock, 2018.

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2.2 Coerência textual


O texto é a unidade básica da comunicação. Ao nos comunicarmos, o fazemos por
meio de textos, seja um requerimento, um pedido, uma prece, um bilhete, um
anúncio, um relatório ou um artigo científico. Nesse contexto, quando nos
comunicamos, desejamos nos fazer entender pelos textos orais ou escritos que
produzimos. Da mesma forma, quem escuta ou lê um texto, qualquer que seja,
procura nele um sentido.

VOCÊ QUER LER?


O livro “Coerência textual”, de Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, publicado em 2009, trata do
conceito de coerência, dos fatores de coerência e da relação entre coerência e ensino, sempre com
exemplos de textos reais, o que torna a aprendizagem dos conceitos mais fácil e satisfatória.

Tomaremos como objeto de análise o texto escrito por Carlos (26 anos, ensino
superior), informante do corpus Discurso & Gramática da cidade de Natal (CUNHA,
1993, p. 13), ao narrar uma experiência pessoal:

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Eu ia para Pium em um jipe sem capota, aqueles de praia, com o meu irmão, meu pai, a
empregada, que ia grávida, e o motorista. Fui pela manhã e quando cheguei lá o pessoal
tomou umas cervejas o dia todo, quando foi à tarde, quase à noite nós saímos de Pium e
quando vínhamos na BR 101 próximo à fábrica Soriedem aconteceu o acidente. Nós
vínhamos à esquerda da BR e um ônibus da empresa Nordeste pediu para ultrapassar,
porque as ultrapassagens são feitas pela esquerda, mas o motorista não, passou pela
direita, então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na
estrada. Ficou todo mundo espalhado pela BR 101, a sorte da gente foi que não passou
nenhum carro na hora, apesar de ser um horário de muito trânsito. Passaram alguns
carros e nos socorreram na hora. Meu pai teve escoriações leves pelo corpo, meu irmão, a
empregada e o motorista também, apesar do motorista ter sofrido um corte na testa de
leve. A empregada que estava grávida mais tarde teve o menino lá em casa, nasceu vivo e
depois morreu no hospital, devido o susto que tomou. Eu fui o único que ficou internado
no hospital Valfredo Gurgel com escoriações e pancadas na cabeça, tive que fazer uma
cirurgia plástica no rosto que ficou aparecendo os ossos e as raízes dos dentes, no braço
esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão e comeu a carne. Passei
mais ou menos um mês internado, só recebia visitas uma vez por semana, eu ficava de
um lado do prédio e os meus pais do outro sem poder se tocar. Fiquei em cadeiras de
rodas, porque pensava que não podia andar. Depois comecei a andar normalmente.

A seguir, nos aprofundaremos sobre o conceito de coerência e os fatores envolvidos na


interpretabilidade dos textos, como no da citação anterior.

2.2.1 O que é coerência?


A coerência diz respeito à construção dos sentidos no texto, à sua interpretabilidade.
Segundo Koch e Travaglia (2009), embora existam textos com problemas de coerência,
não existem textos totalmente incoerentes, visto que, logicamente, todos desejam ser
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compreendidos. Portanto, essas incoerências localizadas podem ser superadas por


meio da reescrita.
Na fala, esse processo pode ser realizado com a correção verbal, como quando
explicamos uma informação mal interpretada usando outras palavras, de forma a
deixá-la mais clara.

VOCÊ SABIA?
Marcuschi (2008) considera que, sendo o texto um evento comunicativo, três aspectos se
articulam para a produção de sentidos: aspectos linguísticos, aspectos sociais (o
contexto sócio-histórico) e aspectos cognitivos (conhecimentos armazenados na
memória dos participantes da comunicação).

Assim, a coerência é composta pelo domínio linguístico, que define a coerência


interna do texto; e os domínios pragmático e extralinguístico, que determinam a
coerência externa no texto.
No domínio linguístico, é possível perceber no texto do informante Carlos o uso
coerente de recursos gramaticais e a seleção adequada de palavras e expressões, a fim
de esclarecer sobre o ocorrido, não havendo contradição em nenhum momento. Além
disso, o texto progride com novas informações sendo acrescentadas, o que contribuiu
para a progressão textual e, consequentemente, para a coerência textual.

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Já o domínio pragmático diz respeito à interação: o contexto, o tipo de ato de fala, os


valores e as crenças dos interlocutores. Assim, o texto de Carlos é coerente, visto que
atende ao que é solicitado (uma narrativa de experiência pessoal), e é adequado à
situação comunicativa em questão.
Por conseguinte, o domínio extralinguístico se relaciona ao conhecimento de mundo
dos interlocutores e ao conhecimento partilhado entre eles, o que confere sentido
completo ao texto. Esse domínio também é chamado de coerência externa, pois diz
respeito à veracidade das informações, se elas condizem com o mundo exterior ao
qual pertence.
Desse ponto de vista, o texto produzido pelo informante é coerente, pois não contradiz
o mundo real.

2.2.2 Fatores de coerência


A construção da coerência ocorre pela consonância de fatores linguísticos e
extralinguísticos. Os principais desses fatores são os elementos linguísticos, o
conhecimento de mundo, o conhecimento compartilhado e a inferência.

VOCÊ O CONHECE?

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Ingedore Villaça Koch, autora alemã naturalizada brasileira, é professora do Departamento de Linguística do
Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas. É um dos principais expoentes da
Linguística Textual no Brasil, com estudos sobre texto e interação por meio da linguagem. Vale a pena
melhor conhecer tal personalidade para nos aprofundarmos em nossos estudos!

Sem dúvida, os elementos linguísticos são importantes para o desenvolvimento da


coerência em um texto. A seleção das palavras, sua organização sintática (em frases) e
sua relação com outras palavras são pistas que conduzem o leitor à plena
interpretação dos sentidos do texto. Assim, para que possamos interpretar a escrita
com qualidade, o primeiro passo é conhecer o significado das palavras utilizadas e
compreender a organização das informações na superfície textual.
No entanto, é preciso reconhecer que o componente linguístico está apenas na
superficialidade do texto, e que a construção dos sentidos é um processo bem mais
profundo, que ocorre na ativação do nosso conhecimento de mundo. É quase
impossível construir o sentido de um texto que trate de um assunto o qual
desconheçamos completamente. Para a maioria de nós, compreender um relatório
técnico de viagem espacial, por exemplo, constitui-se em uma tarefa muito complexa,
pois esse tipo de experiência não faz parte de nosso conhecimento de mundo.
Além disso, esse conhecimento de mundo ou repertório é adquirido ao longo de
nossas vivências e de nossas leituras. Essas experiências ficam arquivadas na memória
e são resgatadas quando, ao nos depararmos com um texto, procuramos sentido nas
palavras a partir da semelhança do que é dito com o que já vivenciamos. No texto em

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análise, Carlos relata uma ultrapassagem de carro que causou um acidente na estrada.
Assim, se tivermos o conhecimento de que toda ultrapassagem deve acontecer pela
esquerda, inferimos que a ultrapassagem forçada pela direita causou o acidente.
Dessa forma, podemos entender que o conhecimento compartilhado diz respeito ao
conhecimento de mundo comum ao produtor e ao receptor de um texto. Os
participantes envolvidos em uma situação comunicativa precisam ter o máximo de
conhecimento compartilhado, a fim de que os dois se compreendam mutuamente. No
depoimento de Carlos, ele afirma que foi para Pium, sem apresentar mais nenhuma
explicação sobre esse termo. Isso significa que o seu interlocutor, nesse caso um
entrevistador, partilha com ele o conhecimento sobre o município de Pium, que fica na
região metropolitana de Natal. Sem esse conhecimento compartilhado, a
compreensão do texto poderia ser prejudicada, pois o leitor teria dúvidas sobre seu
significado (embora linguisticamente ele saiba que se trata de nome próprio, ou seja,
possivelmente pertencente a uma pessoa ou a um lugar).
A inferência, por outro lado, é uma operação dedutiva por meio da qual o leitor chega
a conclusões que não estão explícitas no texto, mas que podem indicar um caminho
para o que está implícito. Ao produzir um texto, oral ou escrito, omitimos algumas
informações que julgamos desnecessárias por considerarmos que o interlocutor será
capaz de realizar as inferências. No depoimento de Carlos, após narrar o
acontecimento do acidente, ele afirma que os feridos foram socorridos e faz uma
espécie de salto para explicar o estado hospitalar de cada um. Ele não explicita, por
exemplo, como ocorreu o resgate: será que uma ambulância foi acionada ou as
próprias pessoas que passavam pelo local colocaram os feridos nos seus carros e os

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levaram para suas respectivas casas? Essa informação não está explícita, mas é
possível inferir, com base nas pistas que o texto nos dá, que os feridos foram
encaminhados ao hospital, menos a empregada, que deu à luz em casa.
Segundo Koch e Travaglia (2009, p. 79), “[...] todo texto assemelha-se a um iceberg – o
que fica à tona, isto é, o que é explicitado no texto, é apenas uma pequena parte
daquilo que fica submerso, ou seja, implicitado”, por isso, a coerência é considerada
bem mais como um processo cognitivo do que linguístico.
A seguir, discutiremos outra competência importante para a eficiência da
comunicação: a coesão textual.

2.3 Coesão textual


A coesão é a propriedade de articulação das ideias no texto. É “[...] o conjunto de
estratégias de sequencialização responsável pelas ligações linguísticas relevantes
entre os constituintes articulados no texto” (OLIVEIRA, 2017, p. 195). Em outras
palavras, é o que faz do texto uma unidade, a fim de que não seja apenas um grande
emaranhado de informações desconexas.
A partir de agora, estudaremos o conceito de coesão, as estratégias utilizadas para que
um texto seja considerado coeso e falaremos da importante relação entre a coesão e a
coerência textual.

2.3.1 O que é coesão?


Como dito anteriormente, a coesão é a conexão existente entre as ideias. Ela se
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Figura 6 - A coesão é a ligação das ideias na tessitura textual.


Fonte: maradon 333, Shutterstock, 2018.

manifesta por meio de elementos linguísticos utilizados para relacionar as ideias, de


forma a contribuir para a coerência textual. É o caso do uso de conectivos, como
preposições e conjunções, para articular as partes de um texto.

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VOCÊ QUER VER?


O esquete em vídeo intitulado “Problemas linguísticos”, produzido pelo grupo Porta dos Fundos, trata de
forma bem-humorada e exagerada os casos de uso inadequado de conectivos na comunicação verbal, o que
interfere diretamente na coerência, podendo tornar o texto incompreensível. Assista em:
<https://www.youtube.com/watch?v=j-PSnhvG5fQ&feature=youtu.be (https://www.youtube.com/watch?
v=j-PSnhvG5fQ&feature=youtu.be)>.

É a coesão que confere harmonia ao texto, que deixa de ser uma sequência de
informações soltas e passa a formar uma unidade de sentido. Para Koch e Travaglia
(2009, p. 14), “[...] a coesão textual, mas não só ela, revela a importância do
conhecimento linguístico (dos elementos da língua, seus valores e usos) para a
produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o estabelecimento da
coerência”.
Vale destacar, contudo, que há algumas estratégias linguísticas de coesão e que se
manifestam no texto que estamos analisando como exemplificação, conforme Halliday
e Hasan (1976). Vamos entender melhor sobre essas estratégias na sequência.

2.3.2 Estratégias de coesão


Halliday e Hasan (1976) elencam cinco estratégias de coesão. São elas: a referência, a
substituição, a elisão, a conjunção e a coesão lexical.
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A referência é o processo de retomada ou antecipação de referentes no texto. No


trecho “Eu ia para Pium em um jipe sem capota, aqueles de praia”, o pronome
“aqueles” retoma o referente citado anteriormente pela expressão “jipe sem capota”.
Esse procedimento é chamado de anáfora. A anáfora também pode ser indireta,
quando não retoma o referente em sua totalidade, mas parcialmente, como ocorre no
trecho “[...] um ônibus da empresa Nordeste pediu para ultrapassar [...], mas [...] o
motorista passou pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na estrada”, em
que a palavra “motorista”, que retoma o referente “ônibus da empresa Nordeste”,
ainda que apenas parcialmente.
Já no trecho “[...] na BR 101 próximo à fábrica Soriedem aconteceu o acidente”, o
termo “acidente” antecipa todo o relato posterior que descreverá o ocorrido,
configurando-se como uma catáfora.
A referência é importante para o texto na medida em que contribui para sua
manutenção temática e para a sequenciação de ideias, evitando repetições excessivas
e desnecessárias.
A substituição também é um recurso eficaz na progressão textual, pois, ao substituir
uma palavra ou expressão já citada no texto, não ocorre somente a troca de um
vocábulo por outro, mas novos sentidos podem surgir e contribuir para a composição
textual. No excerto “[...] então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e jogou
todo mundo na estrada. Ficou todo mundo espalhado pela BR 101”, a expressão “BR
101” substitui a palavra “estrada”, e – mais do que isso – especifica a informação dada
anteriormente.

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A elisão, ou elipse, é um processo linguístico interessante que consiste na recuperação


de um referente sem citá-lo. Esse fenômeno também é chamado de anáfora zero.
Quando o informante diz que “[...] o ônibus passou pela direita e trancou a gente e
jogou todo mundo na estrada”, não se faz necessário repetir o sujeito das ações, que é
“o ônibus”, antes de cada um desses verbos. Na verdade, essa informação está clara,
apesar das omissões, evitando redundâncias.
A conjunção, por sua vez, ocorre pela utilização de mecanismos coesivos que
estabelecem vínculos entre frases, sejam eles vínculos de tempo, causa,
consequência, alternância, oposição, condição, finalidade, entre outros. No trecho
“[...] no braço esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão”, a palavra
“porque” estabelece uma relação de causa e consequência entre essas frases, sendo a
segunda a causa da primeira.
Por fim, a coesão lexical ocorre de forma mais sutil, pois se trata da seleção e do uso
de palavras que se relacionam entre si, articulando as ideias de maneira que a forma e
o conteúdo do texto estejam harmoniosamente organizados. Veja o trecho:

Eu fui o único que ficou internado no hospital Valfredo Gurgel com escoriações e
pancadas na cabeça, tive que fazer uma cirurgia plástica no rosto que ficou aparecendo
os ossos e as raízes dos dentes, no braço esquerdo também fiz uma plástica porque
arrastou no chão e comeu a carne [...]

Nele, percebemos que as informações (hospital, escoriações, pancadas, cirurgia,


ossos, dentes e braço) estão organizadas de forma a produzir na mente do interlocutor
uma produção eficiente dos sentidos.
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A escrita, em relação à fala, é mais propícia à utilização dos elementos linguísticos de


coesão, visto que é possível reler e alterar a forma textual, enquanto que na
dinamicidade da fala a coesão nem sempre está explícita pelos elementos linguísticos,
mas por elementos extratextuais. Ou seja, quando conversamos oralmente com
alguém, espontaneamente deixamos algumas frases soltas, mudamos de assunto sem
relacionar explicitamente um com o outro. Contudo, essas relações ficam claras por
meio do conhecimento partilhado entre os interlocutores e por outros elementos
próprios da conversação, como gestos, expressões, pausas e entonação.

2.4 Princípios da coerência e coesão


textual
Quando lemos um texto, não decodificamos e interpretamos cada parte isoladamente,
mas apreendemos o seu sentido global. Dessa forma, ainda que não haja marcas
linguísticas explícitas de coesão, é possível que a conexão entre as ideias ocorra
intuitivamente por parte do leitor. É o que se pode perceber na leitura de um trecho do
conto “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos (2012, p. 13):

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma,
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água
quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias,
sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio,
maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule,

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talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. [...] Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo.
Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos.
Coberta, cama, travesseiro.

O que você entendeu do texto que leu? É apenas uma sequência aleatória de palavras
e expressões? Trata-se de um texto sem coesão e sem coerência?
No conto de Ramos (2012), há poucos elementos linguísticos de coesão, além de
apenas algumas preposições e conjunções, como “de” e “e”, respectivamente. Não há
uma relação explícita entre as palavras no texto. No entanto, por meio de um processo
cognitivo, conseguimos compreender o sentido global do texto e a relação existente
entre as partes. O conhecimento linguístico nos permite decodificar o vocabulário
utilizado pelo autor e perceber a relação de significado que se estabelece entre essas
palavras.
Por conseguinte, o conhecimento de mundo partilhado entre o autor e nós, leitores,
permite-nos reconhecer que a narrativa apresenta um dia comum na vida de um
homem de negócios. A coerência não está no texto em si, ela não pode ser destacada
ou apontada na superfície textual. Na verdade, ela é construída na interação entre os
participantes da situação comunicativa. Os processos de coesão e coerência, portanto,
ocorrem de forma simultânea na mente do leitor.
“O texto de Ricardo Ramos é uma prova de que a coesão superficial do texto não é
necessária para a textualidade. Contudo, isto não significa que ela seja irrelevante [...]
Aqui, a coesão é inferida a partir da coerência” (MARCUSCHI, 2008, p. 106). Desse
modo, a coesão é gramatical, mas também é semântica, pois, em muitos casos, a

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relação entre as partes do texto se dá com a percepção dos significados e da interação


entre os interlocutores. Como podemos perceber, então, existe uma forte relação
entre a coesão e a coerência, visto que aquela contribui para esta.
Como vimos, não são necessariamente os processos gramaticais que contribuem para
a construção de sentidos no texto, mas os processos cognitivos. “Isto quer dizer que a
coerência seria uma espécie de princípio global de interpretação” (MARCUSCHI, 2008,
p. 125). Assim, ainda que um texto não seja completamente incoerente, é preciso
considerar que alguns textos podem apresentar quebras de coerência em pontos
localizados. Esses eventuais problemas de coerência podem ser resolvidos com uma
boa correção textual, com base nos princípios ou metarregras de coerência,
formuladas por Charroles (1988) e divulgadas por Costa Val (1999).
Segundo Charroles (1988) e Fonseca (1992), os princípios básicos da coerência são a
continuidade, a progressão, a não contradição e a articulação.
A continuidade é a retomada de elementos e ideias no decorrer do texto. A coesão
realizada por meio da referência é, pois, uma estratégia de continuidade. Na prática,
todo texto precisa tratar de um tópico central, ou seja, um assunto global mantido ao
longo de todo o texto com retomadas. Isso se aplica facilmente a textos escritos,
porém, no diálogo cotidiano oral, é possível perceber que geralmente há muitos
tópicos discursivos envolvidos na conversa sem que, no entanto, a conversa perca sua
coerência.
Além disso, para que a coerência de um texto seja mantida, é necessário que haja
continuidade dos tópicos ou assuntos abordados. No entanto, para que o texto não se
torne um grande círculo em que as informações giram e se repetem de forma
redundante, é necessário que haja a progressão, manifesta pelas novas informações
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que são acrescentadas ao tópico central, fazendo-o progredir. Em outras palavras, é


preciso que o texto possua um eixo central e que surjam novas informações
relacionadas a ele para que as ideias possam fluir.
Segundo o dicionário on-line de português, Dicio, a tautologia consiste na repetição de
uma mesma ideia por meio de palavras diferentes. Esse artifício também é conhecido
como redundância ou pleonasmo. A redundância pode ter sentido enfático, ser
utilizada de forma planejada, mas quando as ideias são apresentadas repetidamente
de forma desnecessária, ocorrem problemas de coerência, prejudicando a
interpretabilidade do texto. Por isso, na produção de textos, a revisão textual é
relevante para que sejam corrigidos possíveis casos de tautologia e,
consequentemente, a falta de progressão textual.
Temos, ainda, que o texto deve ser coerente interna e externamente. Isso quer dizer
que as partes do texto não podem se contradizer entre si e que precisa haver uma
lógica compatível. Em um texto argumentativo, por exemplo, é contraditório defender
um ponto de vista no início do texto e, posteriormente, assumir outro posicionamento.

VOCÊ SABIA?
O princípio da não contradição surgiu de conceitos de lógica desenvolvidos pelo filósofo
grego Aristóteles, segundo o qual duas proposições contrárias não podem ser
consideradas verdadeiras. Mais tarde, esse conceito passou a ser utilizado também para
a linguagem. Você pode entender melhor sobre as ideias do filósofo com o link:
<https://revistas.ufrj.br/index.php/FilosofiaClassica/article/download/2904/2687
(https://revistas.ufrj.br/index.php/FilosofiaClassica/article/download/2904/2687)>.
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A coerência externa quer dizer que “[...] o texto não pode contradizer o mundo a que
se refere, seja este mundo real ou fictício” (CAVALCANTE, 2012, p. 36). Uma fábula, por
exemplo, não é um texto incoerente por apresentar animais que atuam, falam e
pensam como pessoas, pois essa realidade textual é compatível com o mundo a que
ela se refere (o mundo fictício). Se, no entanto, essa característica fosse dada a
animais reais, em uma notícia de jornal, haveria uma grave contradição com os fatos
do mundo real, o que provocaria um estranhamento.
Por último, temos a articulação, que é o princípio da coerência que mantém relação
estreita com a coesão textual. Para haver articulação em um texto, é necessário que as
ideias apresentadas mantenham um encadeamento lógico e uma organização. Além
disso, é preciso que as relações estabelecidas entre as informações estejam claras, a
fim de propiciar a fluidez da leitura. A estratégia de articulação mais utilizada é o uso
de conectivos, como “além disso”, “porém”, “no entanto”, “portanto”, “assim”, “então”,
entre outros. A escolha do conectivo se dará em função da relação que se deseja
enfatizar. Essa relação, por sua vez, pode ser de conformidade, adversidade,
complementação, conclusão e outras.
Em síntese, os princípios ou metarregras de coerência, segundo Charroles (1988),
podem ser vistos na figura a seguir.
Vejamos o exemplo de um texto que poderia ser postado em uma rede social: “Ao
receber esta mensagem, beije alguém que você ama muito, porque ela veio trazer
sorte. Passe a mensagem para nove contatos. A felicidade não tem preço. Se você
compartilhar terá muita sorte e ganhará muito dinheiro. Não guarde a mensagem,
envie!”. Nesse caso, o texto contém algumas quebras de coerência localizadas, a saber:
Quebra de continuidade: no início, é sugerido que se beije alguém, mas essa
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Figura 7 - Os princípios de coerência são úteis para análise e correção de textos.


Fonte: Elaborado pela autora, baseado em CHARROLES, 1988.

informação não é retomada ao longo do texto.


Quebra de progressão: o argumento supersticioso de que o texto não pode ficar
parado nas mãos de alguém é repetido desnecessariamente.
Contradição: o texto afirma que a felicidade não tem preço, mas, em seguida,
menciona que, ao compartilhar a mensagem, a pessoa ganhará muito dinheiro.

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Quebra de articulação: a relação entre algumas ideias não está clara por falta
de conectivos adequados que estabeleçam essa relação. Passa-se de uma ideia
para outra sem que haja uma lógica entre elas.
Com efeito, as falhas localizadas de coerência interferem na interpretação do texto,
mas podem ser corrigidas por meio da leitura e de sua reescrita. Na fala, a correção
não ocorre de forma sistemática, mas é possível retomar o que foi dito desfazendo as
contradições, por exemplo.

Síntese
Neste capítulo, dedicamos nossa atenção à relação entre tecnologia e gêneros
textuais, utilizados para a comunicação nas diversas áreas sociais. Além disso, nos
debruçamos sobre os fenômenos linguísticos de coesão e coerência, relevantes
princípios de interpretação textual.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
identificar e comparar tipos e gêneros textuais;
construir textos cujos gêneros discursivos estão de acordo com a prática
professional do estudante;
analisar coerência e coesão textuais;
aplicar conectivos e preposições como auxiliares no processo de coesão;
analisar os princípios da não tautologia e da não contradição.

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