Você está na página 1de 3

Não tolera os atrasos.

Não que ela abuse; excelente


funcionária, praticamente perfeita. O único defeito,
verdade seja dita, é ter um sono de pedra.

— Sabe o que você precisa, Marijane?


— De quê?
— Um bebê berrando no seu ouvido logo cedinho.
Ela suspira:
— Ah, doutor Otávio, esse é o meu maior sonho. Mas
já perdi a esperança.

Cena de abertura do primeiro


capítulo, por meio dela
ficamos sabendo o desejo de
Marijane de ser mãe.

— Adote um, Marijane, tem tanta criança em abrigo,


ansiosa por um lar.
— Sei lá; o Jefferson nunca falou em adoção.
— Fale você; acho que um filho faria bem a ambos.
Depois, tenho reparado no seu jeito quando entra uma
criança no escritório, Você é muito maternal.
— Demais; adoro meus sobrinhos. Até que é uma boa
ideia essa.
— Pense no assunto e fale com o Jefferson. Se ambos
concordarem, providencio tudo.

O que parecia ser uma conversa como


qualquer outra acaba despertando uma
inquietação que sempre existiu no coração
de Marijane: o sonho de ser mãe. Mesmo
depois da conversa com o doutor Otávio,
ela não consegue esquecer esse
pensamento e cada vez fica mais
convencida que é uma ideia maravilhosa.
Como Marijane ficou chateada com a
recusa de Jefferson deles adotarem uma
criança, ele tenta contornar a situação, dá
uma série de desculpas e propõe fazer
várias atividades para ver se ela esquece
da ideia. Mas Marijane não se deixa
enganar pela estratégia do marido. Ele não
pode mais evitar o problema.

— Olhe, Marijane, vamos ao teatro? Assistir àquela peça


maravilhosa que ficou um ano em cartaz no Rio, hein, o
que me diz?
— Segunda-feira não tem teatro.
— Tomar um chopinho.
— Neca de piteca.
— Visitar a sua tia no hospital, lembra que você pediu?
— Nossa, Jefferson, que desespero. Você detesta
hospital.
— Topo qualquer coisa, você escolhe.
— Quero um filho.

Ele desaba no sofá, vencido: Depois de muita discussão,


— Tudo bem, me dê alguns dias. Também Jefferson acaba cedendo e
preciso pensar no assunto, você me pegou aceita falar sobre a adoção
de surpresa. com o doutor Otávio. A
Ela não insiste mais. É justo o que ele esposa fica muito satisfeita
pede. São um casal, não deve tomar uma e propõe uma reunião em
decisão tão séria sozinha. conjunto, então eles
decidem marcar uma hora
Conta as horas, os minutos, até sonha com para depois do expediente.
aquilo tudo. Na semana seguinte, porém,
bem a recompensa de toda a ansiedade,
quando ele dá a resposta:
— Tudo bem. Concordo que é uma boa
ideia essa história de adoção. Pode falar
com o doutor Otávio.
Jefferson não parece nada feliz com a
interferência do doutor Otávio. Para ele,
uma pessoa de fora não tem poder de
decisão para resolver os problemas
internos de um casamento.

— O doutor Otávio me deu uma ideia ótima, bem!


— Lá vem você com o doutor Otávo de novo. Que
foi agora? — replica Jefferson, meio enciumado.
— Ele disse que me acha muito maternal.
— E daí?
— Daí sugeriu que a gente adotasse uma criança —
detona Marijane.
Jefferson até engasga com a sopa:
— Que história é essa, Marijane? Desde quando o
doutor Otávio resolve as coisas aqui em casa?

Mesmo com as desculpas de Jefferson, Marijane


estava decidida a ser mãe. Não importava se o
filho não fosse biológico, desde que ela criasse
a criança estava tudo bem porque o que mais
vale, no ponto de vista dela, era criar um filho. E
mesmo amando muito o marido, ela não estava
disposta a abandonar esse sonho.

Jefferson pego de surpresa, vai atrás dela:


— Você não está falando sério...
— Nunca falei tão sério na minha vida! — Marijane encara o marido. —
Amo você, mas quero ter um filho, quer dizer, criar um filho, que é o que
realmente importa.
— Ué, importa mais criar do que ter?
— Claro! Deve ser bom esperar um filho, tê-lo dento da barriga... mas
pensei muito a respeito: o que realmente cria os maiores laços amorosos é
cuidar da criança, conviver com ela anos a fio, vê-la crescer... O que
adianta só pôr um bebê no mundo, me diga? Tem tanta mãe que
abandona o filho assim que ele nasce, não tem esses vínculos a que eu me
refiro.

Você também pode gostar