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Maputo Cidade
2020
Mário Luís Chissano
Estudante nº 230944
Maputo
2020
Declaração de Honra
Eu, Mário Luís Chissano, declaro em minha honra que esta monografia é resultado da
minha investigação e sob orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é de um estudo
de caso, as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na nota
Bibliográfica.
Declaro ainda que este trabalho, não foi apresentado em nenhuma outra Instituição para
obtenção de qualquer grau académico e nem como trabalho de pesquisa.
____________________________
Mário Luís Chissano
Chissano, Mário Luís: A fraca transição dos vulgos “mukheristas” do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do
Zimpeto em Maputo) i
Dedicatória
A minha família e,
“LOUVAI ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre.
Digam-no os remidos do SENHOR, os que remiu da mão do inimigo, e os que congregou
das terras do oriente e do ocidente, do Norte e do Sul.
Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade para
habitarem.
Famintos e sedentos, a sua alma neles desfaleciam.”
SALMOS 107
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Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar a Deus, pelo dom de vida, à minha querida esposa Rocina
Chissano, que aceitou incondicionalmente passar parte de noites sozinha enquanto eu
estudava, bem como por todos os passos que a vida nos proporciona, por me provar
sempre que tudo é possível; em especial aos meus filhos;
Ao Mestre Abú Tajú, pela paciência, pela receptividade quando o procurei para que me
orientasse e pela transmissão dos conhecimentos que ele me proporcionou durante a
produção desta monografia, fazendo deste modo, um dos meus sonhos se tornar realidade.
Agradeço aos meus amigos que sempre desejaram o meu bem, em especial ao Apóstolo
Jeque, que esteve presente em grande parte da História da minha vida, ao Dr. Américo
Manhiça Júnior pelo apoio e conselho incondicional, ao Dr. Miguel que fez perceber que
era possível superar obstáculos, aos meus colegas do serviço que seguraram o “volante”
do meu posto enquanto eu estudava, aos meus colegas da faculdade, Juvênia, Márcia,
Miguel, Sofia, Lara,…, desejo sucessos a todos docentes pela transmissão da ciência e
pela paciência.
Estou grato e graças a Deus.
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Epígrafe
(Theodore Roosevelt)
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Lista de Abreviaturas
BM – Banco Mundial
FMI – Fundo Monetário Internacional
INE – Instituto Nacional de Estatística
PARPA - Plano de Acção Para a Redução da Pobreza Absoluta
RM – Radio Moçambique
CC – Código Comercial
OIT – Organização Internacional do Trabalho
AT – Autoridade Tributária
RM – Rádio Moçambique
NEPAD – New Partnership For Africa’s Development (NEPAD)
INFOR- Inquérito Nacional ao Sector Informal
EN1 - Estrada Nacional Número um
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Resumo
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Palavras-chave: Micro - importadores, pobreza, subsistência, políticas, Estado.
Índice
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Zimpeto em Maputo) vii
3.3. População e Amostra ............................................................................................... 17
3.3.1. Cálculo da amostra ............................................................................................... 18
3.3. Técnicas de Recolha de Dados ................................................................................ 19
3.4. Instrumentos de Recolha de dados ...................................................................... 20
CAPÍTULO IV: Apresentação e discussão de resultados .............................................. 21
O “Mukhero” .................................................................................................................. 21
4.2. Sector informal e localização geográfica do mercado ......................................... 24
4.3. Surgimento do Sector informal em Moçambique.................................................... 25
4.4. Economia informal e Género ................................................................................... 27
4.5. Mukhero e a legislação ........................................................................................ 29
4.6. O mukhero e a Autoridade Tributária.................................................................. 30
4.7. Passos Sobre as Operações dos Mukheristas ........................................................... 31
4.7.1. Organograma de formas como o Mukhero opera ................................................. 34
4.8 O Contrabando no mukhero ................................................................................ 34
4.8.1 Soluções do Contrabando do mukhero ............................................................ 37
4.9 Princípios do planeamento no “mukhero” ........................................................... 38
4.10 Principais Actividades do Comércio Informal Em Maputo ................................ 39
4.11. Ciclo de vida do produto .................................................................................. 39
4.12. Fontes de financiamento do produto ................................................................ 42
CAPÍTULO V: Apresentação e discussão de resultados................................................ 43
5.1. Conceito do Princípio de Pareto .......................................................................... 43
5.2. Conceito de Comércio Informal, Abrangência e Características ............................ 44
5.2.1. Causas e ocorrências ........................................................................................ 44
5.3. Interpretação de dados ......................................................................................... 46
5.4. Ilações sobre o tempo e volume de vendas.......................................................... 49
5.5. Interpretação de dados ......................................................................................... 49
5.5.1. Verificação da primeira hipótese ..................................................................... 50
5.5.2. Verificação da segunda hipótese ...................................................................... 50
CAPÍTULO VI: Conclusões e Recomendações ............................................................. 51
Conclusões ...................................................................................................................... 51
6.1. Recomendações ................................................................................................... 53
6.2. Bibliografia .......................................................................................................... 54
6.3. Anexos ................................................................................................................. 56
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Índice de figuras
Índice de Gráficos
Índice de Tabelas
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CAPÍTULO I: Introdução
Contextualização
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1.1.Problema a Ser Investigado
“MARCONI & LAKATOS (1995, p.18), afirmam que problema é “uma dificuldade,
teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para qual se
deve encontrar uma solução”. O desenvolvimento socioeconómico do país constitui um
ponto de convergência de muitos cidadãos em procurar ideias, técnicas e meios, para
reduzir a pobreza que enferma o país.
Embora de um modo geral possa-se observar que o mercado informal tem contribuído
pouco para as receitas fiscais em relação ao mercado formal, que oferece produtos e
serviços de preços baixos mas de baixa qualidade e em certos casos com riscos para a
saúde pública, este mercado tem crescido e se expandido na Cidade de Maputo.
Com base no problema atrás formulado, se coloca a seguinte pergunta de pesquisa: Até
que ponto os “mukheristas” tem interesse em passarem a operar no mercado formal?
1.3.Hipóteses
1.4.Objectivos
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1.4.1. Objectivo Geral
1.5. Justificativa
A escolha deste tema deveu-se ao facto de se constatar que apesar dos informais
alimentarem grande parte dos mercados da Cidade de Maputo e arredores com produtos
da primeira necessidade, é preciso fazer estudos como forma de contribuir para a sua
formalização e consequentemente participarem para o incremento das receitas do Estado.
O trabalho aborda as diferentes fases do “mukhero”, como foi iniciado pelas pessoas até
ao momento que decidiram constituir-se em associação, como forma de buscar a
formalização legal da actividade de comércio, o que tem vindo a ter uma crescente adesão
por parte dos associados. O estudo se circunscreve aos “mukheristas” que operam no
mercado de Zimpeto, na Cidade de Maputo.
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CAPÍTULO II – Revisão da Literatura
1
Consiste, portanto, em pertencer a Lei formal o estabelecimento de impostos. Segundo a Constituição da
República, no seu artigo 500 que “os Impostos são criados ou alterados por Lei, que os fixa segundo
critérios de justiça social”.
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De acordo com NABAIS (2003:11), o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral,
definitiva e coactiva.
Pode-se constatar que algumas definições por parte de autores são similares no que
concerne ao pagamento de impostos para a realização de fins públicos sem uma
contraprestação específica e imposta pelo Estado.
Pagar os impostos deve ser uma obrigação tanto para pessoas físicas como para pessoas
jurídicas, com o objectivo de custear as despesas com a saúde, educação, segurança,
saneamento, transporte, cultura e etc.
É obrigação do Estado, no entanto, utilizar o dinheiro obtido dos impostos e investir em
obras, acções e serviços de qualidade para a população.
Com a entrada do sector informal, os vendedores não percebiam o porquê de serem
cobrados, o que implicou que muitos apesar de estarem a pagar Taxas confundissem com
impostos.
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De acordo com Ibraimo (2002), as taxas são devidas pela utilização individual de serviços
públicos ou de bens de domínio publico, de que todos necessitam abstratamente, mas que
só alguns procuram activamente, ou pela remoção de um limite jurídico à actividade de
particulares mediante a concessão de autorizações administrativas (propinas dos
estabelecimentos de ensino oficial, selos postais, taxas hospitalares, portagens, taxas
camararias por ocupação da via publica ou estacionamento). As taxas, como preços de
serviços públicos fixados autoritariamente, não correspondem a preços de mercado,
devendo ser inferiores ao custo dos serviços.
As taxas têm carácter bilateral, pagam-se mas recebemos algo em troca. Por exemplo
a Taxa de saneamento básico, ao pagar esta taxa está a receber em troca um serviço
prestado pelo Estado, a recolha de lixo, a taxa de mercado.
As taxas têm uma carácter voluntário, se não utiliza o serviço subjacente não é obrigado
a pagar.
Em suma, podemos dizer que as taxas servem para pagar uma percentagem do serviço
público que nos é fornecido.
O que remete aos vendedores informais, em particular os “mukheristas” que sentem-se
em alguns casos estarem a praticar a sua actividade de modo formal porque confundem
algumas taxas municipais e de mercado com impostos da actividade.
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Por outro lado a ideia de que a sociedade deve utilizar os recursos de que dispõe de
maneira racional, ou seja, deve procurar formas de utilizar os seus recursos de forma a
maximizar a satisfação das suas necessidades.
“Economia é a ciência que estuda o comportamento humano enquanto
relação entre fins e meios escassos susceptíveis de usos alternativos”
(Lionel Robbins,1933).
Trata-se de uma concepção formalista porque não atende à especificidade das
organizações sociais reclamando-se de uma validade universal no espaço e no tempo.
Em qualquer sociedade, os recursos produtivos ou factores de produção (mão-de-obra,
terra, matérias-primas, dentre outros) são limitados. Por outro lado, as necessidades
humanas são ilimitadas e sempre se renovam, por força do próprio crescimento
populacional e do contínuo desejo de elevação do padrão de vida; independentemente do
grau de desenvolvimento do país, nenhum deles dispõe de todos os recursos necessários
para satisfazer todas as necessidades da colectividade.
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de troca indirecta, o dinheiro. É raro fazer-se troca directa hoje em dia, principalmente
nos países industrializados.
A maioria das pessoas trabalham por conta própria e a pagar impostos sobre os seus
ganhos, caso dos praticantes da actividade de “mukhero”, as pequenas operações na
informalidade tende a contribuir para a economia informal.
A economia informal pode ser maior ou menor, dependendo dos conceitos operacionais
e dos métodos utilizados na análise e investigação, se uma empresa possui licença para
operar e paga imposto, ela é considerada formal, do ponto de vista das estatísticas oficiais,
mas do ponto de vista da dinâmica económica, pode ser informal e actuar informalmente,
mesmo pagando imposto.
Neste caso, o informal inclui o não-organizado, ausência de registo. Opera sem visar lucro
e funciona por motivos de sobrevivência. De igual modo, também são informais os
operadores de “mukhero” visando o lucro, mas que não cumprem com as obrigações
fiscais.
O conceito de economia informal deveria ser entendido como “todo o conjunto de
actividades e práticas económicas legais realizadas por agentes económicos total ou
parcialmente ilegais” (Feliciano, 2004; Feliciano et al., 2005: 2).
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serviços. […]” “Comércio é o complexo de operações efectuados entre
produtor e consumidor, exercidas de forma habitual, visando o lucro, com
o propósito de realizar, promover ou facilitar a circulação de produtos da
natureza e da indústria, na forma da lei”.
Desta forma, compreende-se que comércio é a actividade de produzir bens ou serviços,
visando o lucro das organizações e a sua continuidade.
Comércio formal e a actividade desenvolvida dentro do quadro jurídico e sob orientação
das leis comerciais vigentes no País, onde pode ser desenvolvida em sociedade.
“Nós não chegamos a conseguir os mínimos lucros possíveis. Nós
vendemos os nossos produtos não como supermercados ou mercearias
mas vendemos para ajudar as famílias carenciadas daí que vendemos de
um modo fracionário. (in: Canal de Moçambique Sudecar Novela, 2019).
A economia “informal”, tal como o comércio, surge como estratégia de sobrevivência dos
pobres por incapacidade, do que se chama de economia “formal”, em absorver o factor
trabalho e de gerar rendimentos. É ainda uma consequência de desequilíbrios, distorções
ou roptura de mercado e de políticas desajustadas. O comércio “informal” termina por se
sustentar da economia e do comércio “formal” (Macckintosh, 1989), estabelecendo
relações de reforço mútuo, em ocasiões fora da lei e transaccionando muitas vezes bens
e serviços ilícitos. Os poderes públicos permitem o comércio “informal”, porque este
termina por reduzir a pobreza, gerar autoemprego e criar rendimentos que camuflam os
sintomas mais chocantes da pobreza e, em muitas situações, beneficiam as sub-elites e as
burocracias intermédias. E acalmam eventuais manifestações e revoltas.
O comércio “informal” representa alterações significativas no papel do género
na sociedade e economia, Piepoli (2006).
De uma posição subalterna, dependente e sujeita às funções e ritos tradicionais, as
mulheres, também através da economia “informal” (sobretudo no comércio), começaram
a assumir um papel activo e directo na integração do mercado das famílias e de afirmação
pessoal, com obtenção de rendimentos e geração de riqueza.
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A sobrevivência destas economias assenta, em alguns casos, em relações familiares ou de
proximidade e em laços de solidariedade e de cooperação (Piepoli, 2006) e, em outras
situações, em circuitos nem sempre transparentes.
Por outro lado, o comércio “informal” possui estratégias mais flexíveis e adaptadas aos
consumidores de rendimentos baixos (venda de cigarros e não de maços, de montinhos
de bens alimentares e não ao peso, etc.), o que implica a segmentação do mercado do lado
da procura e da oferta (veja, por exemplo, Nzatuzola, 2006): são os pobres aqueles que
se cruzam na relação de compra e venda nestes mercados (Mosca, 2008).
Estas actividades estão mais próximas das pessoas e estruturam redes sociais de
interesses que ultrapassam os tradicionais elementos de afinidade entre os cidadãos, como
sejam as identidades étnicas, linguísticas ou outras.
Com o passar do tempo surgiu a necessidade de melhoraria de seus níveis de actividade
que precederam ao início de actividade de “mukhero”.
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No que tange a análise deste conceito sobre o interesse da formalização por parte dos
mukheristas e suportando com algumas reflexões de (Mosca (2005):
Demostrar que a economia “informal” esta articulada com a “formal” reforçando-se
mutuamente, que ela é gerada por desequilíbrios de mercado, por políticas publicas
desajustadas e debilidades institucionais; e que existem casos em que foi ou é o próprio
Estado que, na tentativa de estimular a emergência de um sector privado, fez surgir o
sector “informal”.
Pode sugerir-se que existem informalidades na economia e no Estado que interessam ao
poder e aos negócios fazendo parte do sistema.
Pode ainda concluir-se que existem muitas informalidades no funcionamento das
organizações “modernas”, incluindo nos órgãos estatais, devido a vários factores,
sobretudo a aspectos culturais e comportamentais (Hodgson, 1994), mas também como
consequência de interesses económicos mesclados com o poder politico e o aparelho de
Estado, gerando ambientes de baixa credibilidade do poder e corrupção.
Os aspectos referidos demonstram claramente que tanto a economia “informal” como as
informalidades nas burocracias e na economia “formal” provocam ineficiências,
distorções nos mercados e no funcionamento das instituições, geram oportunidades
desiguais entre os cidadãos e dificultam o desenvolvimento a longo prazo. E também
verdadeiro que, a curto prazo, as economias informais contribuem para a mitigação ou
camuflagem da pobreza, do emprego, geram rendimentos e mantem a sociedade em crise
de intensidade não tumultuosa.
O termo “sector informal” foi usado pela primeira vez em Gana por Keith Hart na
Conference on Urban Unemployment Studies (IDS-University of Sussex) em Setembro
de 1971. Este texto apenas foi publicado em 1973. Mas, foi no Quénia que o termo sector
informal se popularizou através da Missão da OIT ao Quénia em 1972 (Barbosa, 2009;
King, 1996).
Não existe uma definição única e nem de consenso, para a designação do sector informal
e o problema não tem a ver só com o significado da expressão sector informal, mas
também com a escolha da expressão que melhor traduz este fenómeno.
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O sector informal define-se como “um variado leque de actividades orientadas para o
mercado e realizadas com uma lógica de sobrevivência pelas populações que habitam os
centros urbanos dos países em desenvolvimento” (Lopes, 1999:3).
MARTINET, (1991:13) diz que a expressão “sector informal” foi empregue pela primeira
vez num estudo sobre o Gona publicado em 1973, e veio a ser posteriormente adaptado
pela OIT (Organização Internacional de Trabalho) ”.
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legislação trabalhista, mas também a cobrança oficial de impostos e os custos com
burocracia e corrupção.
A manutenção do sector informal na actualidade explica-se na incapacidade de áreas
formais de actividade conseguir absolver a demanda da mão-de-obra. Isso intensificado
com o índice de analfabetismo. Onde esses agentes vem como comércio uma e única saída
para as suas dificuldades económicas. Sarthi, (1983).
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Na mesma ordem o autor ainda adianta que sendo o investimento heterogéneo, este facto
se reflecte na diferenciação das capacidades para gerar rendimentos. Assim, quanto mais
lucrativo é uma actividade, maior investimento inicial foi empregue.
Por um lado é convincente afirmar que nem todos os rendimentos gerados pelas unidades
dentro do sector informal se destinam à situação que tem, criando-lhes, por isso,
obrigações sociais. Nesses casos, os rendimentos que obtêm no sector informal são, em
parte, consumidos em forma de redistribuição: festas, presentes, subsistência familiar,
educação saúde e cerimónias que os intervenientes são expostos.
Assim, a capacidade de gerar rendimento não implica automaticamente a acumulação.
Nesta lógica, aqueles que conseguem acumular para investir seriam os proprietários mais
desligados das redes familiares e de solidariedade.
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O crédito é concedido por pessoas singulares ou familiares e pelo recurso a
associações de poupanças e crédito;
O sector informal tem dois tipos de trabalhadores: “os assalariados e os não assalariados”
que geralmente são familiares não pagos regularmente, mas a quem lhes são concedidas
certas condições, como alojamento, alimentação e alguns subsídios (PNUD, 2001:84).
O sector informal inclui actividades económicas, tais como “bancos informais” que
recolhem pequenas poupanças e fazem empréstimos por segmentos da população que não
têm acesso ao crédito bancário (Nazaré, 2006).
Quando se fala do sector formal, recorre-se quase sempre a uma organização formal, ou
conjunto de normas e regras que conduzem o andamento de todos os processos
da empresa, pautada pela lógica e racionalidade, onde se englobam factores importantes
dentro da empresa, tais como, o código de ética do ramo de trabalho, organização
hierárquica, políticas de gestão.
Conforme Chiavenato (2006), a teoria neoclássica da administração assume que a
organização formal consiste em camadas hierárquicas ou níveis funcionais estabelecidos
pelo organograma e com ênfase nas funções e nas tarefas.
Neste contexto, uma organização é um conjunto de cargos funcionais e hierárquicos a
cujas prescrições e normas de comportamento todos os seus membros devem se sujeitar.
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Chiavenato (2006), complementa que a característica mais importante da organização
formal é o racionalismo.
Este ponto de vista assume que a formulação de um conjunto lógico de cargos funcionais
e hierárquicos está baseada no princípio de que as pessoas irão agir efectivamente de
acordo com esse sistema racional.
A ampla definição da actividade formal é dada pelo facto de que a pessoa inquirida
simplesmente declara que a empresa/ou sector onde ela trabalha está registada.
Segundo Maximiano (1992) “uma organização é uma combinação
de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos
colectivos”.
Por meio de uma organização torna-se possível perseguir e alcançar objectivos que
seriam inatingíveis para uma pessoa.
O Conceito a ser apresentado prende-se com sector formal como um todo em particular
no que tange aos procedimento para a constituição de uma associação e os passos para a
sua formalização seguindo os princípios Constitucionalmente aceites no País e as
Instituições do Estado que estão credenciadas para o efeito. O Portal do Governo de
Moçambique apresenta os procedimentos e documentação2 para a criação de empresas,
bem como os boletins informativos que podem ser usados para o efeito
2
http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Empresas/Registos/Registo-de-Sociedades/Procedimentos-e-
documentacao
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CAPÍTULO III - Metodologia
3.2. Abordagem
Neste trabalho basear-se-á numa abordagem qualitativa. Segundo Deslandes (2007), esta
abordagem requer dedicação e cuidado, pois mais que uma descrição formal dos dados
apresentados, a abordagem qualitativa indica os caminhos que foram tomados para chegar
aos objetivos do estudo formulado. Avalia-se através de perceções e opiniões dos
participantes.
Segundo Ribeiro (1999, p.48), duas estratégias podem ser adoptadas, quando se pretende
colectar informações acerca de uma população ou universo: colectar informações de toda
a população, processo designado por censo, ou colectar informação de uma amostra
representativa dessa população.
Na presente pesquisa a população é constituída de todos os “mukheristas” que operam no
mercado de Zimpeto, num total de 1273.
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Do total da população calculou-se uma amostra com base na seguinte formula para
variável nominal e população finita (Martins G. 1990:30):
Z2 ∗ 𝑝
̂ ∗𝑞
̂ ∗N
𝑛= 2 q
d (N−1)+Z2 ∗𝑝
̂ ∗𝑞
̂
Assim, tem-se
1273
𝑛=
4.18
𝑛 = 139.5763 ≈ 139
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3.3. Técnicas de Recolha de Dados
a) Pesquisa documental
Basear-se-á neste método fez-se uma análise em documentos relevantes tais como,
Legislação diversa, entre outros pelos quais se guiam os processos de formalização de
actividades comerciais.
b) Pesquisa bibliográfica
Severino (2007), postula que a pesquisa bibliográfica “é aquela que se realiza a partir do
registo disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como
livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por
outros pesquisadores e devidamente registados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos
estudos analíticos constantes dos textos.”
Recorremos a este método com o objectivo de consultarmos o repertório bibliográfico
cujas abordagens se afiguram relevantes para o nosso tema.
c) Observação Directa
A observação participante, na perspectiva de Quivy& Campenhoudt (1998) citados por
Dias et al. (2008), “acontece quando o investigador procede directamente a recolha de
informações (…), apelando, nesse caso, ao sentido próprio da observação.”
Os objectivos básicos da observação participante, serão dentre outros, verificar a forma
como é que os “mukheristas” sentir-se-iam se com o processo de formalização das suas
actividades.
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3.4.Instrumentos de Recolha de dados
3.4.1. O inquérito
Com base no questionário, vai-se poder recolher dados de estudo deste trabalho. Este
instrumento consistirá em administrar para cada elemento da amostra um questionário
com perguntas fechadas e abertas.
3.4.2. Entrevista
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CAPÍTULO IV: Apresentação e discussão de resultados
O “Mukhero”
3
Etimologicamente, a palavra “mukhero” resulta da corruptela da expressão inglesa “carry”. Na fronteira de Namaacha, os
estrangeiros que estivessem a efectuar a travessia a pé pediam aos nativos que os ajudassem com as pastas e depois davam uma gorjeta.
Rapidamente esta prática generalizou-se e os locais passaram a designá-la por “mukhero”. Esta expressão começou a ser usada
também pelos nacionais que atravessavam a fronteira para comprar diversos bens, uma parte para o consumo e outra para revender.
Chivangue, Andes Adriano (2012)
4
No presente texto o termo informal prende-se com a ausência de registo da actividade junto das autoridades formais competentes e
ao processo de passagem pela fronteira, em muitos casos, caracterizada por procedimentos semilegais ou mesmo ilegais. Chivangue
(2007)
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 21
residentes locais para que estes ajudassem a transportar mercadoria de um lado da
fronteira para outro, porém fugindo ao fisco5.
Aliado a isso, a falta de emprego remunerado naquele distrito sul do país contribui para a
proliferação do mukhero como única alternativa de sobrevivência para a população local
(AMARAL, 2000:19).
Com o passar do tempo, nesta segunda fase foi se registrando um aumento de praticantes
de “mukhero” alavancados pelo facto de possuírem os mesmo produtos das mercearias à
preços mais baixos o que levava muitos concidadãos a procurarem cada vez mais por este
profissionais informais6, facto que veio a minimizar-se com o aparecimento da
Associação MUKHERO em 1994, em actividade formal desde 21 de Julho de 2000 e foi
oficializada no 8 de Julho de 2002 com a designação de Associação dos Vendedores e
Importadores do Sector Informal de Moçambique - MUKHERO, com sede no Mercado
Informal Compone, arredores da Cidade de Maputo, congregando 1273 associados, dos
quais 70% são mulheres e 30%, sendo presidida por Sudecar Novela (MANGANHELA,
2006: 25). O que veio a conferir outra dinâmica da actividade de “mukhero”.
5
A fuga ao fisco era estimulada pelos elevados direitos aduaneiros que impossibilitava que houvesse
lucros suficientes na prática do mukhero, daí as mukheristas optavam pela fuga ao fisco de modo a
reduzirem os elevados gastos na sua atividade e pela debilidade do sistema aduaneiro do país desde a
vedação de fronteiras, até a má remuneração dos funcionários alfandegários contribuíram para o
crescimento desta prática.
6
Geralmente os seus magros rendimentos só lhes permitiam adquirir produtos comercializados em mercados informais, já que os
preços nos mercados informais eram subsidiados pelos seus salários (MANGANHELA, 2006:13).
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 22
de B.I., uma (2) foto tipo passe, Nuit, pagamento de joias no valor de 2500,00Mt e quotas
mensais no valor de 170,00Mt que são pagos anualmente totalizando 2040,00Mt e de
seguida passam a ostentar um cartão que contêm o número de membro, uma fotografia,
o que lhes permitia obter vistos de entrada na África do Sul com a periodicidade de seis
meses, actualmente usam passaportes carimbados na área VIP7da fronteira.
Tabela 1: Vantagens que poderia obter se fosse formalizado: - Fonte: elaborada pelo autor
Género % Género
Inquérito_ ID % % %
Femini Masculi Femini Masculin Tota
no no Total no o l
41.73
a) Registrar-se junto ao INSS, 39 19 58 28.06% 13.67% %
b) Acesso a banca para obter 42.45
crédito. 38 21 59 27.34% 15.11% %
15.83
c) Negociar com fornecedores 15 7 22 10.79% 5.04% %
100.0
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 0%
Género % Género
Inquérito_ ID Feminin Masculin Tota % % %
o o l Feminino Masculino Total
a) Sim 53 27 80 38.13% 19.42% 57.55%
b) Não 37 19 56 26.62% 13.67% 40.29%
c) Outros.
Especifique 2 1 3 1.44% 0.72% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
7
Very important person
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 23
Tabela 3: A Associação consegue apoia-los nesta actividade: - Fonte: elaborada pelo
autor
Inquérito_ ID Género % Género
%
Feminin Masculin Tota % Masculin %
o o l Feminino o Total
a) Sim 67 23 90 48.20% 16.55% 64.75%
b) Não 22 24 46 15.83% 17.27% 33.09%
c) Outro.
Especifique 3 0 3 2.16% 0.00% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
8
Fonte: Administração do Distrito Municipal Ka Mubukuane. 2007.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 24
organização dos mesmos que estão filiados em associações para que os vendedores
informais passem a exercer a sua actividade em melhores condições.9
O sector informal em Moçambique surgiu há mais de três décadas, nos anos de 1980 a
1994, havendo consenso quanto à explicação do seu surgimento e florescimento10,
normalmente relacionados com a repressão económica e financeira registada na época da
economia centralmente planificada, a liberalização da economia ocorrida a partir de
1984/87, com a adesão do país as Instituições de Bretton Woods11 e ao início dos
programas de ajustamento macroeconómico e estrutural. Enquanto a repressão económica
terá redundado em manifestações de candonga e mercado paralelo de bens e produtos
essenciais, desviados dos circuitos de distribuição então criados através do sistema de
planificação central, a liberalização económica abre espaço para o incremento e
diversificação do sector informal que absorver a mão-de-obra excedentária e
proporcionou emprego às populações carenciadas. De Abreu (1996).
Em Moçambique, o comércio informal tem registado um crescimento acelerado nas zonas
urbanas. Aponta-se como causa para este facto, o excedente da força de trabalho que não
encontra trabalho no mercado formal. A situação conjuntural do país evidencia que o
comércio informal continua a ser a actividade alternativa para a ocupação da força de
trabalho e para a sobrevivência de muitas famílias (Cruz e Silva, 2005).
Falar do sector informal em Moçambique urge a necessidade de buscar a época colonial,
e recorrer a obra de Rita Ferreira publicada em 1967.
″Neste período na capital do país, vendedores que exerciam as suas
actividades nos mercados espontâneos que em, grande número, se
espalhavam por toda a área suburbana. Às actividades
caracterizadas pela eventualidade e instabilidade, nomeadamente;
vendedoras viúvas com encargos familiares, que não conseguiam
9
Victor Fonseca, vereador municipal de Infraestruturas. In Jornal noticias, 04 de Dezembro de 2013
10
Num trabalho baseado na análise de séries cronológicas de indicadores monetários e financeiros, de
1980 a 1994, De Abreu e De Abreu (1996) concluíram que “o sector informal, em Moçambique, floresce
a partir de 1987”. Semelhante conclusão é alcançada por Sulemane (2001) a partir de séries temporais
sobre “excesso de mão -de -obra urbana” de 1980 a 1997.
11
FMI e Banco Mundial
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 25
por outros meios ganhar o suficiente para viver” (RITA-
FERREIRA, 1967:372).
O Instituto Nacional de Estatística define o sector informal em Moçambique como sendo,
“todas as actividades não registadas, ou registadas apenas no Município,
ou junto à Administração Distrital ou Local, não possuindo portanto
autorização por parte das autoridades fiscais para o exercício da sua
actividade e empregando não mais de 10 trabalhadores” (TEMBE,
2009:92).
Apesar destas definições serem aceitáveis, por conter em si os caracteres essenciais do
que é de facto o sector informal, a sua formulação, ao incluir de maneira genérica uma
alusão à propriedade familiar e ao admitir que a mão-de-obra empregue não precisa de
deter conhecimentos formais, pode oferecer-se à controvérsia, pois há tendência ao
desenvolvimento de instrumentos e técnicas de aperfeiçoamento e aprendizagem de
modelos oficiais para a comercialização, denotando a tendência das camadas sociais
inferiores em organizarem-se em associações por forma a manterem-se competitivos no
mesmo sector.
Ainda que de forma tímida, observa-se que a maioria dos mukheristas, ainda que possuam
o seu “staff” o número geralmente aparece abaixo podendo supor-se que se fossem
formalizados estariam na categoria de pequena empresa. Outrossim a grande maioria
ainda prefere estar no sector informal perfazendo 53.24% mas uma minoria insignificante
de 2.88% sequer consegue perceber do porquê largaria a actividade para estar enquadrada
no sector formal apesar de 43.88% estarem ansiosos por trabalhar na formalidade.
Tabela 4:Se tivesse a oportunidade de trabalhar no sector formal, largaria a prática do “mukhero”. - Fonte: elaborada
pelo autor
Género % Género
Inquérito_ ID
Feminino Masculino Total % Feminino % Masculino % Total
a) Sim 37 24 61 26.62% 17.27% 43.88%
b) Não 55 19 74 39.57% 13.67% 53.24%
c) Porquê? 0 4 4 0.00% 2.88% 2.88%
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 100.00%
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 26
4.4. Economia informal e Género
O conceito de população pode, por vezes, ser um conceito um pouco abstracto e mal
definido, para PESTANA e VELOSA (2010), página 53 “Chamamos população ao
conjunto de todos os valores que descrevem um fenómeno que interessa ao investigador.
De um modo geral, a população é conceptualizada por um modelo”.
Em grande maioria, as actividades informais são realizadas por mulheres. São elas que
contribuem com o maior bolo no orçamento familiar, mas não são reconhecidas. Por isso,
têm menos formação, mas as políticas de educação e de formação são "discriminatórias″,
não estão inseridas na política de forma proporcional aos homens, não existem incentivos
ou quotas equitativas e são relegadas para as tarefas menos remuneradas e muitas vezes
sem qualquer tipo de remuneração. Segundo a autora A. Bénard da Costa, tanto os homens
como as mulheres, não consideram as suas actividades no sector informal como
“trabalho” a mesma autora apurou que a maioria das actividades não tem um rendimento
constante e não é realizada de forma continuada. Em muitas famílias o número de
mulheres que trabalha é igual ou superior ao número de homens, chegando em alguns
casos a acontecer que são elas que sustentam a família.
Para explicar o papel das mulheres no meio urbano africano, a autora recorre a “alguns
investigadores (Tripp 1989, Loforte 1996) que defendem que, devido às suas actividades
informais, as mulheres podem conquistar uma certa visibilidade a nível do bairro,
conseguindo influenciar positivamente o seu estatuto na família e fora desta. Esta ideia
tem sido contrariada por outros autores (Caplan 1995, Campbell 1995, González de la
Rocha e Grinspun 2001) que defendem que as actividades informais geradoras de
rendimento realizadas pelas mulheres apenas aumentam o volume de trabalho sem que
haja efectivamente uma mudança no seu estatuto12.
Com base nos indicadores demográficos pode-se mos verificar que quantidade de
insumos e número de mulheres tem praticado, recorrendo aos indicadores demográficos
e o modelo de estatístico tendo também como suporte a amostra que irá indicar que os
pioneiros neste negócio informal são as mulheres e como aliciar-lhes para optarem pelo
formal.
12
Bérnard da Costa: 2000, pp. 219-264
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 27
Os dados apresentados no Censo de 2017 pelo INE13, apurou-se que a população de
Moçambique é de 27.909.798 habitantes maioritariamente constituída por mulheres
totalizando 14.561.352 mulheres representando 52% e 13.348446 homens representando
48%, o que significa que para cada 100 mulheres há 93,5 homens.
Figura 1: Estrutura Etária Segundo grupos Operacionais Fonte: Resultados Definitivos do Censo 2017. INE
A figura acima demonstra que a população activa inicia acima dos 15 anos. Dos 139
indivíduos inquiridos de forma aleatória, representam 66.19% de mulheres num total de
92 e 33.81% de homens num total de 47 distribuídos em faixas etárias que variam dos
abaixo de 30 anos até acima de 50 anos de idade.
Tabela 5:Tabela dos inquiridos por género e faixa etária - Fonte: Elaborada pelo autor
Inquiridos/ Faixa Género Total % %Total
Etária
Feminino Masculino Feminino Masculino
Abaixo de 30 anos 8 5 13 5.76% 3.60% 9.35%
de 31-35 anos 14 6 20 10.07% 4.32% 14.39%
de 36 -40 anos 20 19 39 14.39% 13.67% 28.06%
de 41 - 50 anos 37 11 48 26.62% 7.91% 34.53%
Acima de 50 anos 13 6 19 9.35% 4.32% 13.67%
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 100.00%
13
Instituto Nacional de Estatística,
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 28
Os dados percentuais representam a proporção entre o número dos inquiridos segundo a
faixa etária, esta tabela mostra que a maioria dos praticantes da actividade de “mukhero”
são mulheres representando 27% (37 de 139) faixa etária dos 41 -50 anos de idade.
14
Publicado em 18/08/2011Resumo do V debate do núcleo de língua da RM acesso 14-
09-2019
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 29
Tabela 6: Paga algum tipo de imposto para o exercício desta actividade.- Fonte: elaborada pelo autor
Género %Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin Tota %
o o l %Feminino Masculino %Total
a) Sim 53 23 76 38.13% 16.55% 54.68%
b) Não 39 24 63 28.06% 17.27% 45.32%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
Género % Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin % %
o o Total Feminino Masculino % Total
a) Sim 40 25 65 28.78% 17.99% 46.76%
b) Não 52 22 74 37.41% 15.83% 53.24%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
Existem vários estudos que apontam o sector informal como tábua de salvação para
muitas famílias.
O moçambicano, Mosca (2010,84) questionou se o comércio informal não seria um factor
de alívio da pobreza a curto prazo?
Esta questão denota uma preocupação com o desenvolvimento económico em termos
globais e a economia informal poderá estar a ser usada pela elite governante como uma
esponja atenuadora de potenciais conflitos sociais que ocorreriam na sua ausência.
Recorde-se dos confrontos que ocorrem sempre que o Conselho Municipal procura retirar
os vendedores informais das ruas sem antes criar condições de logística.
O boicote as instalações da AT, protagonizado por um grupo de “mukheristas” após
apreensão de alguns camiões e troca de “mimos” entre as autoridades alfandegárias com
os grevistas, não concordando estes com o excesso de postos de fiscalização e cansados
de pagar suborno a alguns agentes, facto desmentido pelo porta-voz na conferência de
imprensa no dia dos acontecimentos (Maio de 2018).
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 30
As autoridades governamentais reconhecem o papel decisivo do sector informal e das
pequenas empresas no desenvolvimento da economia moçambicana em particular as
associações de “mukhero” e acham que o informal irá integrar-se no formal através da
aplicação escrupulosa dos dispositivos legais.
O comércio informal transfronteiriço devia ser formalizado, referindo-se ao registo da
actividade.”
Pela necessidade de regulamentar a Lei n.º 5/2009, de 12 de Janeiro, foi criado o Imposto
Simplificado para Pequenos Contribuintes, pelo Conselho de Ministros através do
Decreto n. º 14/2009 de 14 de Abril.
A Autoridade Tributaria lançou o ISPC - o Imposto Simplificado para Pequenos
Contribuintes com o intuito de tributar os operadores informais, como forma de colectar
receita aos “mukheristas” não filiados em quaisquer das associações existentes bem como
as pessoas que praticam o comércio informal.
Segundo os dados apurados, 53.24% inquiridos afirmam que o mukhero reduz a pobreza
mas a minoria 16.55% afirmam que não sendo um percentagem de 30.22% não saberem
consoante os dados a seguir apresentados.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 31
Forrester (1959) já alertava que o pico de rentabilidade típica de uma
indústria atinge o seu valor máximo diante do pico de vendas e, então
decresce até chegar a ponto de não rentabilidade.
Cox (1967) diz que o ciclo de vida consiste na evolução do produto, em
termo de vendas durante um certo período
O conceito de ciclo, termo de origem no grego kýklos, que significa uma série
de fenómenos cíclicos, ou seja, que se renova de forma constante.
15
Know-how é um termo em inglês que significa literalmente "saber como". É o conjunto
de conhecimentos práticos (fórmulas secretas, informações, tecnologias, técnicas,
procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um profissional, que traz para si
vantagens competitivas. Está directamente relacionado com inovação, habilidade e
eficiência na execução de determinado serviço. É um produto valioso resultante da
experiência. Fonte: https://www.significados.com.br/know-how/
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 32
dos Estados-Nação. Esse tipo de comércio internacional ilegal
exige de seus agentes o conhecimento da geografia aplicada da
fronteira, aprendida na experiência da condição fronteiriça”.
(Dorfman 2010a).
No trajecto 5 a 7, o motorista passa por diversas revistas “ineficazes” para certificar a
veracidade do que contêm nos documentos com o fisico e muitas vezes com o mukherista
seguindo adiante como “batedora” dos possiveis entraves até que a sua mercadoria
chegue ao mercado.
Os mukheristas para atravessarem a fronteira usam várias técnicas de contrabando como
excluir impostos, passar mercadorias proibidas, subornar, coagir, conforme a rede
mobilizada. Existe a relação dos mukheristas com os agentes de fronteira (alfandegários
e de migração) oscila entre conivência e punições legais.
Neste ciclo, denota-se também os mukheristas que possuindo uma “rede” de “mini-
contrabando”, identificaram algumas casas que foram transformadas em armazéns de
bebidas espirituosas sobretudo na fronteira do lado moçambicano, outrossim na mesma
fronteira alguns jovens são utilizados como carregadores de pequenas quantidades de
bebidas alcoólicas que ao atravessarem a fronteira para o lado moçambicano depositam
em casas que funcionam como armazéns. Os tais jovens conhecidos por “gai-gai” 16
,
fazem varias viagens por dia, escapando desta forma ao pagamento das taxas aduaneiras.
Depois de armazenadas as bebidas alcoólicas são transportadas por camiões para os
principais mercados informais da Cidade de Maputo.
16
Carregadores na linguagem local
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 33
4.7.1. Organograma de formas como o Mukhero opera
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 34
Reiterou que apesar de existirem membros da Associação envolvidos nesta prática não se
pode considerar o “mukhero” como arte de contrabando porque existem muitos
comerciantes informais que honram os seus compromissos fiscais e evitam fuga ao
fisco17. Contudo para os mukheristas fugir ao fisco é uma necessidade normal para
prosperar no negócio porque julgam que o Estado funciona como um “extorquidor”
cobrando aquilo que eles consideram de taxas aduaneiras elevadas e para os agentes das
Alfândegas, o trabalho na fronteira representa uma oportunidade elevar os seus
rendimentos e até mesmo para o enriquecimento ilícito. (Sudecar Novela,2019)
Género % Género
Inquérito_ ID % %
Femini Masc Feminin Mascul %
no ulino Total o ino Total
a) Reduz o custo da
mercadoria 15 10 25 10.79% 7.19% 17.99%
17
Fuga ao fisco que se caracteriza por ser uma fraude aduaneira que consiste em frustrar
ou burlar o pagamento de taxas aduaneiras.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 35
b)Aumenta o custo da
mercadoria 20 16 36 14.39% 11.51% 25.90%
c) Não tem nenhuma
influência 23 7 30 16.55% 5.04% 21.58%
d) Não sei o que é certificado
de origem 34 14 48 24.46% 10.07% 34.53%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
Tabela 10: Compra de mercadoria na África do Sul - Fonte: elaborada pelo autor
Género % Género
Inquérito_ ID Femini Masculi Tot % % %
no no al Feminino Masculino Total
39.57
a) Aos farmeiros 35 20 55 25.18% 14.39% %
b) Nas grandes lojas 35.25
(Market) 38 11 49 27.34% 7.91% %
24.46
c) No sector informal 19 15 34 13.67% 10.79% %
d) Outros. Especifique 0 1 1 0.00% 0.72% 0.72%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
Tabela 11: A frequência com que adquire os produtos - Fonte: elaborada pelo autor
Género
% Género
%
Feminin Masculin Tota % Masculin %
Inquérito_ ID o o l Feminino o Total
a) Uma vez por semana 21 12 33 15.11% 8.63% 23.74%
b) Duas vezes por
semana. 16 8 24 11.51% 5.76% 17.27%
c) Três vezes por
semana. 8 7 15 5.76% 5.04% 10.79%
d) Uma vez por mês. 47 20 67 33.81% 14.39% 48.20%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 36
4.8.1 Soluções do Contrabando do mukhero
A definição conjunta (Alfândegas e Comerciantes) das tarifas preferenciais a serem pagas
pelos comerciantes e o reembolso rápido do IVA por parte das Autoridades Sul-africanas
para que o comerciante não sinta lesado financeiramente. Mas para que este reembolso
aconteça é necessário que as Autoridades Sul-africanas emitam na hora os certificados de
origem19 das mercadorias e o valor real da compra das mercadorias.
Como forma de parar com o contrabando optando pela formalização e questionados sobre
o que poderia levar-lhes a formalização, dos inquiridos 20.86%, 24.46% e 20.14% numa
escolha de três optaram escolheram por serviços gratuitos para o processo de
formalização que na sua óptica reduziria o excesso de burocracia, segurança e assistência
jurídica gratuita que lhes possibilitariam compreender os diversos processos de
importação e o Apoio técnico do Estado na formalização na qualidade de cidadãos como
forma do Estado lutar contra a pobreza absoluta.
Tabela 12: Das razões listadas e indique três que poderia levar-lhe a optar pela formalização - Fonte: elaborada
pelo autor
Género % Género
Inquérito _ID % %
Femi Mascu Tot Femini Masculi %
nino lino al no no Total
a) Serviços gratuitos para o 20.86
processo de formalização. 21 8 29 15.11% 5.76% %
b) Segurança e assistência jurídica 24.46
gratuita 24 10 34 17.27% 7.19% %
c)Apoio técnico do Estado na 20.14
formalização 20 8 28 14.39% 5.76% %
d)Redução da carga tributaria para 11.51
a actividade. 8 8 16 5.76% 5.76% %
9.35
e) Requisitos mais simplificados 7 6 13 5.04% 4.32% %
13.67
f)Acesso a serviços bancários 12 7 19 8.63% 5.04% %
100.0
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 0%
19
Certificado de Origem é um documento a ser providenciado pelo exportador junto às entidades
específicas, que comprova a origem da mercadoria e permite a ambas as partes uma isenção ou redução
de impostos decorrentes dos acordos internacionais.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 37
4.9 Princípios do planeamento no “mukhero”
Para CHIAVENATO (2000, P.14), princípio é uma afirmação, uma proposição geral
válida e aplicável para determinados fenómenos, é uma previsão antecipada do que deverá
ser feito quando ocorrer aquela determinada situação, é um guia de acção.
Para que o planeamento seja eficiente, eficaz e efectivo ele deve seguir os seguintes
princípios básicos:
Princípio da definição dos objectivos: o planeamento deve ser elaborado em
função dos objetivos que se quer alcançar assim eles devem ser definidos de forma
clara e concisa, pois a finalidade do planeamento é determinar como que os
objectivos podem ser alcançados;
Princípio da flexibilidade: uma vez que o planeamento se refere ao futuro breve,
ele deve ser flexível e elástico, para se adaptar as situações que podem sofrer
alterações, nem sempre previstas; no processo de transporte, devem sempre ter
dinheiro para fazer face a pequenas contingências;
Princípio da participação: o planeamento será tanto mais efectivo e eficaz na
medida em que envolva e contemple no processo de elaboração, execução e
avaliação todas as áreas, sectores e pessoas envolvidas;
Princípio da coordenação: deve haver sincronia, inter-relação e articulação entre
os vários aspectos envolvidos no planeamento de modo a que eles actuem
interdependentemente e de modo integrado;
Princípio da permanência: o planeamento deve ser constantemente revisto para
que possa permanecer actual e válido.
Os “mukheristas”, tanto formais ou informais lidam com estes princípios e muita das
vezes sequer avaliam que passam por eles, uma vez tornarem-se rotina no seu quotidiano
quando tem de atravessar a fronteira para mais um dia de trabalho, antes de transpor a
fronteira, devem saber, exactamente para onde vão, serem rápidos nas negociações,
procurar perceber que equipa da AT pode atrapalhar a passagem para que sua mercadoria
não seja apreendida e após chegados ao destino redistribuem e voltam ao primeiro
princípio. Muito deles preferem ser informais porque não tem de lidar com estes
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 38
directamente, vão se organizando na desorganização organizada deles como forma de
evitar falência
Tabela 13: Os tipos de produtos que importa da África do Sul - Fonte: elaborada pelo autor
Género % Género
Inquérito_ ID % %
Femini Mascul Femi Masc %
no ino Total nino ulino Total
a) Produtos frescos (batata, repolho, 29.50 13.67 43.17
cebola, tomate, alho, couves, fruta) 41 19 60 % % %
b) Diversos de Mercearia (leite, 10.79 17.27
cremor, milo, óleo de cozinha, trigo) 15 9 24 % 6.47% %
c) Loiça (artigos de plástico, 10.07 13.67
porcelana, vidro) 14 5 19 % 3.60% %
12.23
d) Produtos de beleza 12 5 17 8.63% 3.60% %
e) Roupa 4 5 9 2.88% 3.60% 6.47%
f) Bebidas 6 4 10 4.32% 2.88% 7.19%
66.19 33.81 100.0
Total 92 47 139 % % 0%
Forrester (1959) já alertava que o pico de rentabilidade típica de uma indústria atinge o
seu valor máximo diante do pico de vendas e, então decresce até chegar a ponto de não
rentabilidade.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 39
Levitt (1965) considera que a história de vida dos produtos mais bem-sucedidos tem
certos estágios que são reconhecíveis. Eles ocorrem na seguinte ordem:
Estágio 1-desenvolvimento do mercado: é quando um novo produto é trazido ao
mercado pela primeira vez, e ainda não há demanda. O produto não foi testado
tecnicamente. As vendas são baixas e se arrastam lentamente.
Estágio 2-crescimento do mercado: há um crescimento da demanda e o mercado
se expande.
Estágio 3-maturidade do mercado: a demanda nivela-se e cresce devido à
reposição e formação de novas famílias.
Estágio 4-declínio do mercado: o produto começa a perder o apelo e as vendas
caem
Cox (1967) diz que o ciclo de vida consiste na evolução do produto, em termo de vendas
durante um certo período. Porter (1991) considera as seguintes etapas:
1) Introdução.
2) Crescimento.
3) Maturidade.
4) Declínio
Christensen et all., chamam a atenção para o facto de que a vida de um produto não é
eterna, mas passa por diferentes níveis de venda, e como os seres vivos: nascem, crescem,
chegam à maturidade e morrem.
Diversos autores como Clifford (1971), Dean (1976) chamam a atenção para o ciclo de
vida dos produtos e, afirmam que as empresas devem traçar estratégias compatíveis com
os diferentes estágios em que se encontram.
Segundo Kotler (1994), o produto tem ciclo de vida quando:
Os produtos têm vida limitada
As vendas do produto passam por estágios distintos e cada um coloca desafios
diferentes.
Os lucros do produto crescem e diminuem ao longo dos diferentes estágios do
ciclo de vida do produto.
Os produtos requerem estratégias diferentes de marketing, finanças, produção,
compras e de pessoal nos diferentes estágios de seu ciclo de vida.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 40
Analisando os autores acima descritos pode-se constatar que ambos abordam um ciclo de
quatro estágios que seguem os mesmos pressupostos aplicados pelos “mukheristas”, uma
vez que na sua actividade iniciam o negócio, que pode ser comparada com a 1ª fase
seguindo o crescimento equiparada com a 2ª fase, com o desenvolvimento e experiência
ganham maturidade equiparada com a 3ª fase e por fim quando os problemas de liquidez
iniciam e perca de clientes ou fornecedores introduzem a 4ª fase, quando se deixam estar
e vão à falência. Vide a figura 5.
Figura 2: Ciclo de vida do produto ou serviço - Fonte: Adaptado ciclo de vida do produt (Levitt,1990)
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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4.12. Fontes de financiamento do produto
Tabela 14: Quais as fontes de financiamento para esta actividade - Fonte: elaborada pelo autor
Género % Género
Inquérito_ ID
% %
Femi Mascu Tot Femini Mascul
nino lino al no ino % Total
a) Empréstimo recebido de um
familiar ou amigo. 24 12 36 17.27% 8.63% 25.90%
a) Xitique 34 18 52 24.46% 12.95% 37.41%
b) Empréstimo recebido de um
familiar ou amigo. 1 1 2 0.72% 0.72% 1.44%
b) Empréstimo solicitado a uma
instituição de crédito 14 7 21 10.07% 5.04% 15.11%
c) Poupanças pessoais 19 8 27 13.67% 5.76% 19.42%
d) e) Outra Especifique 0 1 1 0.00% 0.72% 0.72%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
20
Palavra Tsonga que significa poupança
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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CAPÍTULO V: Apresentação e discussão de resultados
Os mukheristas ainda que de forma tímida e ignorante aplicam este princípio, segundo
umas das nossas inquiridas:
“Há vezes que ganhamos muito dinheiro quando o processo de compras
corre de forma rápida e não temos perdas e nesse mesmo sentimos que
gastamos pouco dinheiro para comprar os produtos” (ID_75, 39 anos).
O importante aqui não é apenas compreender a regra de Pareto e quais são os 20% de
clientes que trazem o lucro, mas sim entender o motivo dos 80% restantes terem pouca
representatividade nas vendas de seus produtos e como os mukheristas podem melhorar
as suas vendas numa análise comparativa transitória do sector informal para o formal,
ainda que se observe alguns critérios “atónitos” de afirmarem que eles tem muitas vezes
o poder negocial e podem saber observar quando tem os ganhos e as respectivas perdas.
O Princípio de Pareto foi descoberto em 1897 (também conhecido como princípio 80-
20), afirma que para muitos fenómenos, 80% das consequências advêm de 20% das
causas. Desde então, sua descoberta tem sido chamada por muitos nomes, incluindo
Princípio de Pareto, Lei de Pareto, Regra 80/20, Princípio do Menor Esforço e Princípio
do Desequilíbrio. O princípio foi sugerido por Joseph M. Juran, que deu o nome em honra
ao economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923)21.
O Princípio 80/20 nos diz que, em qualquer população, algumas coisas são muito mais
importantes do que outras. Uma boa referência ou hipótese é que 80% dos resultados ou
dos produtos derivam de 20% das causas e, às vezes, até de uma proporção ainda menor
de forças poderosas.
21
Koch, Richard O princípio 80/20 : os segredos para conseguir mais com menos nos negócios e na vida /
Richard Koch ; tradução Cristina Sant’Anna. – 1. ed. – Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2015
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 43
5.2. Conceito de Comércio Informal, Abrangência e Características
Por seu turno, num estudo sobre a realidade na África Ocidental, Webster e Fidler (1996)
identificam como sector informal
“as pequeníssimas empresas, tipicamente as que empregam 10 ou menos
trabalhadores, a vasta maioria das quais são empresas singulares com um
reduzido número de assalariados”.
Tabela 15: Foco do “mukheristas”- Fonte: Tabela amostra por meio da entrevista
Total das % %
Motivo de Perda de clientes ocorrência Acumulad Ocorrência
s a s
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 44
Recusa e devolução na origem 48 34.53% 34.53%
Produtos que não atendiam as
38 61.87% 27.34%
Especificações
Falta de produto nos revendedores 18 74.82% 12.95%
Produtos/embalagens fora do prazo 17 87.05% 12.23%
Erro humano 11 94.96% 7.91%
Avaria do meio de transporte 5 98.56% 3.60%
Defeito na refrigeração 2 100.00% 1.44%
Total 139
Gráfico 1: De Pareto
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Gráfico de Pareto
98,56% 100,00% 100,00%
94,96%
90,00%
120 87,05%
80,00%
74,82%
100
70,00%
61,87% 60,00%
80
50,00%
60
48 40,00%
34,53%
38 30,00%
40
20,00%
18 17
20
11
10,00%
5
2
0 0,00%
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 46
A mulher constitui um dos maiores intervenientes do sector informal, nas cidades da
África Subsaariana as mulheres que se dedicam a uma serie de pequenas actividades
geradoras de rendimentos são cada vez numerosas.
No entanto, a sua participação no sector informal não deve ser vista a partir de
uma perspectiva individual, mas também como uma estratégia do grupo familiar”
(BONNARDEL, 1991:17)
Tabela 16: Cruzamento “mukhero ajuda a reduzir a pobre e a actividade é rentável - Fonte: elaborada pelo autor
Género % Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin Tota % %
o o l Feminino Masculino % Total
a) Sim 61 20 81 43.88% 14.39% 58.27%
b) Não 9 9 18 6.47% 6.47% 12.95%
C)Depende 11 8 19 7.91% 5.76% 13.67%
22
Prejuízo 2.88% + Pouco 2.88%. Vide tabela 21
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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d)Sigilo 7 3 10 5.04% 2.16% 7.19%
e)Prejuízo 1 3 4 0.72% 2.16% 2.88%
f)Pouco 1 3 4 0.72% 2.16% 2.88%
Abstenção 2 1 3 1.44% 0.72% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %
“ Vi, minha vizinha a melhorar a casa dela, e decidi ajudar o meu marido, porque
ficar em casa não ajudava e decidi lutar…” (ID_75, 36 a 40 anos, 7º Classe).
% calculada
100%
50% 66.19%
33.81%
0%
Mulheres Homens
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5.4. Ilações sobre o tempo e volume de vendas
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 49
5.5.1. Verificação da primeira hipótese
Na hipótese H1, pode confirmar-se que pelos dados os “mukheristas” optam pelo
informal, não só pela falta de sensibilização por parte do Governo, ou da entidade de
tutela, mas também pelo facto de encontrarem um mercado favorável, onde são obrigados
a movimentarem grandes volumes de produtos da primeira necessidade e pelo facto de
não haver vontade por parte de alguns “mukheristas” que por se encontrarem numa
situação de fuga ao fisco, em que deparam-se com os agentes da AT que mantém o
cumprimento da lei como forma de pagamento, optam por requisitar alguns produtos ao
invés de se fazer sentir como autoridade ou fazer cumprir a lei vigente, nascendo um ciclo
de corrupção invisível.
Noutra hipótese, H2, confirma-se pelo facto das autoridades aduaneiras, apesar de usarem
os principais canais de comunicação usados pela AT, com vista a promover uma educação
fiscal aos cidadãos, são as televisões, rádios, jornais, revistas (eletrónicas), cartazes e a
internet. De todos estes canais, a televisão, a rádio e a internet são os canais mais usados,
devido ao nível de abrangência que estes meios possuem.
Desde 2010, foram desenvolvidas várias actividades inseridas no plano, para promover a
educação fiscal e aduaneira e popularização do imposto, incutindo a cidadania fiscal e
induzindo ao cumprimento voluntário das obrigações fiscais, concorrendo para o
alargamento da base tributária.
Apesar desse esforço os “mukheristas” sentem-se excluídos, o que faz com que lutem
contra a formalização. Ainda pelos dados colhidos junto aos “mukheristas”, confirmam a
hipótese pelo facto de que todos já tentaram formalizar a actividade, e nunca tiveram
facilidades para o efeito, por isso alguns até remeteram o expediente que nunca foi aceite.
A única autorização que tem é de circulação de bens através de confirmações de compras
de produtos na proveniência.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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CAPÍTULO VI: Conclusões e Recomendações
Conclusões
Muitos “mukheristas”, viajam à África do Sul para efectuar a restocagem23, pelo menos
duas vezes por semana. Isto sugere que uma parte do seu rendimento dilui-se neste
processo, atendendo que há um aproveitamento da sua condição de semilegalidade ou
ilegalidade por parte dos oficiais alfandegários que usam as fragilidades institucionais
para executarem o comportamento de procura de renda, pois a maioria dos “mukheristas”
não conhece os requisitos necessários para agir legalmente. Por outro lado, os agentes
alfandegários raramente se disponibilizam a conceder essa informação. Aliás, o que
acontece, de acordo com Novela (2011), é, os funcionários fronteiriços tenderem a
dificultar o máximo como forma de desincentivar os “mukheristas” a actuarem em
23
Reposição de stock.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 51
conformidade com as normas e tornarem-se importadores formais, agravado com o facto
de muitos deles não terem o domínio da língua portuguesa.
Pela constatação feita sobre a negociação não legal que tem-se verificado na hora de
exigência aduaneira, mostra ainda uma fraqueza do sistema de cobrança que tocam até na
idoneidade de alguns dos funcionários afectos nos postos de cobrança e vistos
fronteiriços. Estes factos geram prejuízo para os cofres do Estado o que leva a diminuição
do volume de receita a cobrar. Por outro lado pelo facto destes “mukheristas”
alfandegários”, não pagarem a taxas referentes a comercialização dos produtos, que
importam, passam automaticamente a infringir as leis, que regulam, e obrigam ao
pagamento fiscal.
Muitos preferem optar pelo informal, pelos esquemas previamente traçados de fuga ao
fisco, o que se observa que alguns “mukheristas”, em muitos casos mulheres que exercem
a actividade há algum tempo, possuem camiões pessoais para o transporte da sua
mercadoria, quando muitos recorrem aos serviços de transportadores que se dedicam a
essa actividade particular. Para além disso, estas mesmas senhoras ostentam colares,
brincos e pulseiras de ouro, o que dá visibilidade à sua prosperidade e estatuto
comparativamente com os outros agentes que operam no mesmo mercado.
À primeira vista, o operador pobre distingue-se do não pobre pelo espaço que ocupa
dentro do mercado. Os “mukheristas” comercializam os seus bens em camiões e em
bancas24 enquanto alguns intermediários e os que vendem de forma fracionada25 ficam na
cintura do mercado, ao sol e com os produtos amontoados por cima duma capulana ou
24
Alpendres construídos para o efeito.
25
Venda aos "montinhos″.
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em Maputo) 52
cartolina. A distinção pode ser feita inclusive através da indumentária. Contudo, poucos
neste último grupo se consideram pobres, pois para estes só se está em situação de pobreza
quando se é incapaz de trabalhar por motivos de doença e sem condições de alimentar a
si e sua família.
Quanto aos “mukheristas”, reconhecendo que estão a exercer actividades fora da lei, seria
do interesse também da associação, ou de cada um, singularmente interagir
constantemente com as entidades competentes na formalização da sua actividade como
singulares ou colectivos.
6.1.Recomendações
Os “mukheristas” têm consciência deste aparente “abandono”, por vezes pagam taxas
inexistentes mesmo pelo medo de perguntar aos técnicos da AT por forma a legalizarem
a actividade informal que abraçaram.
Perante toda a situação descrita anteriormente recomenda-se:
Responsabilidade das entidades aduaneiras ou fiscais, para fazer o
acompanhamento da actividade comercial informal;
A divulgação das tipologias de obrigações aduaneiras ou fiscais segundo a
tipologia de serviço ou actividade;
Reconhecer os fenómenos decorrentes, e recorrer a termos legais e combinados,
para ordenar uma determinada actividade, ou fazer-se cumprir com o que estiver
estipulado pela lei;
Criar um canal para a discussão de aspectos que provavelmente estejam a ferir
o modo operandi de alguns técnicos da AT;
Alargar as propagandas sobre os impostos para as rádios e televisões
comunitárias de modo a tornar a informação mais abrangente;
Criar uma central de registo dos “mukheristas”.
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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6.2. Bibliografia
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 54
Mukhero-uma-contribuicao-evidente-para-economia-mocambicana-2. Disponível em:
https://noticias.sapo.mz/economia/artigos/ Acesso em 14 de Maio de 2018
BR_32_III_SERIE_2.o%20SUPLEMENTO. Disponível em:
www.portaldogoverno.gov.mz. Acesso em 14 de Maio de 2018
GIL, António Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. SP: Atlas, 1991.
1992.
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6.3.Anexos
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em Maputo) 56
Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
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