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Escola Superior de Gestão, Ciências e Tecnologias

Licenciatura em Administração e Gestão de Empresas

Desafios da Transição dos “Mukheristas” do Informal


para o Comércio Formal
(Caso Mercado do Zimpeto em Maputo)

Estudante: Mário Luís Chissano


Nº 230944

Supervisor: Mestre Abú Tajú

Maputo Cidade
2020
Mário Luís Chissano
Estudante nº 230944

Desafios da Transição dos “Mukheristas” do Informal


para o Comércio Formal
(Caso Mercado do Zimpeto em Maputo)

Monografia, apresentada como requisito para


obtenção do grau de Licenciatura em
Administração e Gestão de Empresas pela
Universidade Politécnica sob Supervisão do
Mestre Abú Tajú

Maputo
2020
Declaração de Honra

Eu, Mário Luís Chissano, declaro em minha honra que esta monografia é resultado da
minha investigação e sob orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é de um estudo
de caso, as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na nota
Bibliográfica.

Declaro ainda que este trabalho, não foi apresentado em nenhuma outra Instituição para
obtenção de qualquer grau académico e nem como trabalho de pesquisa.

Maputo, Fevereiro de 2020

____________________________
Mário Luís Chissano

Chissano, Mário Luís: A fraca transição dos vulgos “mukheristas” do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do
Zimpeto em Maputo) i
Dedicatória

A minha família e,
“LOUVAI ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre.
Digam-no os remidos do SENHOR, os que remiu da mão do inimigo, e os que congregou
das terras do oriente e do ocidente, do Norte e do Sul.
Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade para
habitarem.
Famintos e sedentos, a sua alma neles desfaleciam.”

SALMOS 107

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Zimpeto em Maputo) ii
Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar a Deus, pelo dom de vida, à minha querida esposa Rocina
Chissano, que aceitou incondicionalmente passar parte de noites sozinha enquanto eu
estudava, bem como por todos os passos que a vida nos proporciona, por me provar
sempre que tudo é possível; em especial aos meus filhos;
Ao Mestre Abú Tajú, pela paciência, pela receptividade quando o procurei para que me
orientasse e pela transmissão dos conhecimentos que ele me proporcionou durante a
produção desta monografia, fazendo deste modo, um dos meus sonhos se tornar realidade.
Agradeço aos meus amigos que sempre desejaram o meu bem, em especial ao Apóstolo
Jeque, que esteve presente em grande parte da História da minha vida, ao Dr. Américo
Manhiça Júnior pelo apoio e conselho incondicional, ao Dr. Miguel que fez perceber que
era possível superar obstáculos, aos meus colegas do serviço que seguraram o “volante”
do meu posto enquanto eu estudava, aos meus colegas da faculdade, Juvênia, Márcia,
Miguel, Sofia, Lara,…, desejo sucessos a todos docentes pela transmissão da ciência e
pela paciência.
Estou grato e graças a Deus.

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Zimpeto em Maputo) iii
Epígrafe

“É muito melhor lançar-se em busca de conquistas grandiosas, mesmo expondo-se ao


fracasso, do que alinhar-se com os pobres de espírito, que nem gozam muito nem
sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta, onde não conhecem nem
vitória, nem derrota.”

(Theodore Roosevelt)

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Zimpeto em Maputo) iv
Lista de Abreviaturas

BM – Banco Mundial
FMI – Fundo Monetário Internacional
INE – Instituto Nacional de Estatística
PARPA - Plano de Acção Para a Redução da Pobreza Absoluta
RM – Radio Moçambique
CC – Código Comercial
OIT – Organização Internacional do Trabalho
AT – Autoridade Tributária
RM – Rádio Moçambique
NEPAD – New Partnership For Africa’s Development (NEPAD)
INFOR- Inquérito Nacional ao Sector Informal
EN1 - Estrada Nacional Número um

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Zimpeto em Maputo) v
Resumo

A presente monografia aborda os desafios da transição dos micros - importadores


vulgarmente denominados por “mukheristas” com enfoque no mercado do Zimpeto na
Cidade de Maputo. O estudo inicia-se com base em alguns pressupostos teóricos, de
alguns autores que focam neste tema num âmbito mais abrangente.
O trabalho tem como objectivo geral analisar o interesse dos operadores informais em
formalizar as suas actividades. (caso do mercado do Zimpeto), tendo-se considerado
como o problema a ser investigado o facto de embora de um modo geral possa-se observar
que o mercado informal tem contribuído pouco para as receitas fiscais em relação ao
mercado formal, que oferece produtos e serviços de preços baixos mas de baixa qualidade
e em certos casos com riscos pra a saúde pública, este mercado tem crescido e se
expandido na Cidade de Maputo. Assim, se colocou a pergunta: Até que ponto os
“mukheristas” tem interesse em passarem a operar no mercado formal?
A metodologia cingiu-se a uma abordagem quantitativa tendo usado como instrumentos
de recolha de dados o inquérito feito sobre o número de indivíduos que praticam o
“mukhero” e o tipo de produtos que comercializam, numa amostra de 139 indivíduos
escolhidos duma população de 1273 recorrendo a métodos estatísticos para o efeito.
Dos dados de pesquisa, constatou que a amostra da taxa por praticantes do “mukhero”
representa 66.19% de mulheres num total de 92 e 33.81% de homens num total de 47
distribuídos em faixas etárias que variam dos abaixo de 30 anos até acima de 50 anos de
idade.
Dos inquiridos 53.24% não conhecem nenhum processo de formalização da actividade e
que documentos são necessários, 45.32% dos inquiridos não paga nenhum tipo de
imposto, outrossim o nível de escolaridade de maior predominância situasse entre a 5ª e
7ª classes situando-se no intervalo entre] 33.81%: 36.69%[, o que constitui um entrave
para a percepção dos modelos alfandegários adoptados para a importação de produtos,
não obstante a existência de memorandos de entendimento onde os comerciantes
informais passarão a beneficiar de taxas alfandegárias específicas.
Assim, concluiu-se que a maioria dos “mukheristas” sente-se bem em não praticar o
“mukhero” de forma formal, na verdade não sequer tem qualquer interesse em formalizar-
se por acharem-se capazes de executar de forma espontânea a actividade seguindo o seu
próprio ciclo de vendas criado.

Chissano, Mário Luís: A fraca transição dos vulgos “mukheristas” do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do
Zimpeto em Maputo) vi
Palavras-chave: Micro - importadores, pobreza, subsistência, políticas, Estado.

Índice

Declaração de Honra ......................................................................................................... i


Dedicatória........................................................................................................................ ii
Agradecimentos ............................................................................................................... iii
Epígrafe ........................................................................................................................... iv
Lista de Abreviaturas ........................................................................................................ v
Resumo ............................................................................................................................ vi
Índice .............................................................................................................................. vii
CAPÍTULO I: Introdução................................................................................................. 1
Contextualização .............................................................................................................. 1
1.1. Problema a Ser Investigado ................................................................................... 2
1.2. A Pergunta de Pesquisa ......................................................................................... 2
1.3. Hipóteses ............................................................................................................... 2
1.4. Objectivos .............................................................................................................. 2
1.4.1. Objectivo Geral .............................................................................................. 3
1.4.2. Objectivo Específico ...................................................................................... 3
1.5. Justificativa ............................................................................................................ 3
1.6. Delimitação do tema .............................................................................................. 3
CAPÍTULO II – Revisão da Literatura ............................................................................ 4
Conceitos de Imposto e Taxas .......................................................................................... 4
2.1. Conceito de Economia ........................................................................................... 6
2.2. Conceito de Comércio ........................................................................................... 8
2.2.1. Comércio Informal ............................................................................................. 9
2.3. Economia informal .............................................................................................. 10
2.4. Conceito de sector informal................................................................................. 11
2.4.1. Surgimento do Sector informal ........................................................................ 12
2.4.2. Características do sector informal .................................................................... 14
2.5. O sector formal .................................................................................................... 15
CAPÍTULO III - Metodologia ........................................................................................ 17
3.1. Tipo de Pesquisa ...................................................................................................... 17
3.2. Abordagem .............................................................................................................. 17

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Zimpeto em Maputo) vii
3.3. População e Amostra ............................................................................................... 17
3.3.1. Cálculo da amostra ............................................................................................... 18
3.3. Técnicas de Recolha de Dados ................................................................................ 19
3.4. Instrumentos de Recolha de dados ...................................................................... 20
CAPÍTULO IV: Apresentação e discussão de resultados .............................................. 21
O “Mukhero” .................................................................................................................. 21
4.2. Sector informal e localização geográfica do mercado ......................................... 24
4.3. Surgimento do Sector informal em Moçambique.................................................... 25
4.4. Economia informal e Género ................................................................................... 27
4.5. Mukhero e a legislação ........................................................................................ 29
4.6. O mukhero e a Autoridade Tributária.................................................................. 30
4.7. Passos Sobre as Operações dos Mukheristas ........................................................... 31
4.7.1. Organograma de formas como o Mukhero opera ................................................. 34
4.8 O Contrabando no mukhero ................................................................................ 34
4.8.1 Soluções do Contrabando do mukhero ............................................................ 37
4.9 Princípios do planeamento no “mukhero” ........................................................... 38
4.10 Principais Actividades do Comércio Informal Em Maputo ................................ 39
4.11. Ciclo de vida do produto .................................................................................. 39
4.12. Fontes de financiamento do produto ................................................................ 42
CAPÍTULO V: Apresentação e discussão de resultados................................................ 43
5.1. Conceito do Princípio de Pareto .......................................................................... 43
5.2. Conceito de Comércio Informal, Abrangência e Características ............................ 44
5.2.1. Causas e ocorrências ........................................................................................ 44
5.3. Interpretação de dados ......................................................................................... 46
5.4. Ilações sobre o tempo e volume de vendas.......................................................... 49
5.5. Interpretação de dados ......................................................................................... 49
5.5.1. Verificação da primeira hipótese ..................................................................... 50
5.5.2. Verificação da segunda hipótese ...................................................................... 50
CAPÍTULO VI: Conclusões e Recomendações ............................................................. 51
Conclusões ...................................................................................................................... 51
6.1. Recomendações ................................................................................................... 53
6.2. Bibliografia .......................................................................................................... 54
6.3. Anexos ................................................................................................................. 56

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Índice de figuras

Figura 1: Estrutura Etária Segundo grupos Operacionais .............................................. 28


Figura 5: Ciclo de vida do produto ou serviço ............................................................... 41

Índice de Gráficos

Gráfico 1: De Pareto ...................................................................................................... 45


Gráfico 2: Gráfico percentual de colunas ....................................................................... 48

Índice de Tabelas

Tabela 1:Tabela do género e Faixa Etária ...................................................................... 28


Tabela 2:Se tivesse a oportunidade de trabalhar no sector formal, largaria a prática do
“mukhero”. ..................................................................................................................... 26
Tabela 3: Vantagens que poderia obter se fosse formalizado ........................................ 23
Tabela 4: Acha boa ideia formalizar todos os vendedores e praticantes do mukhero. ... 23
Tabela 5: A Associação consegue apoia-los nesta actividade ........................................ 24
Tabela 6: Paga algum tipo de imposto para o exercício desta actividade. ..................... 30
Tabela 7: Conheces o processo de formalização ............................................................ 30
Tabela 8: O mukhero pode reduzir a pobreza................................................................. 31
Tabela 9: Influencia do certificado de origem na actividade ......................................... 35
Tabela 10: Compra de mercadoria na África do Sul ...................................................... 36
Tabela 11: A frequência com que adquire os produtos .................................................. 36
Tabela 12: Das razões listadas e indique três que poderia levar-lhe a optar pela
formalização ................................................................................................................... 37
Tabela 13: Os tipos de produtos que importa da África do Sul ...................................... 39
Tabela 14: Foco do “mukheristas” ................................................................................. 44
Tabela 15: Quais as fontes de financiamento para esta actividade................................. 42
Tabela 16: Cruzamento “mukhero ajuda a reduzir a pobre e a actividade é rentável .... 47
Tabela 17: Mukheristas por sexo .................................................................................... 48

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Zimpeto em Maputo) ix
CAPÍTULO I: Introdução

Contextualização

A presente monografia com o tema desafios da transição dos “mukheristas” do informal


para o formal (Caso do mercado do Zimpeto em Maputo), que conduziu à elaboração do
trabalho do fim do curso para a obtenção do grau de Licenciatura em Administração e
Gestão de Empresas pela Universidade Politécnica A Politécnica e pretende-se que o
mesmo seja um contributo para a explicação dos contornos existentes no comércio
informal em particular o “mukhero”.
O comércio informal na cidade de Maputo vem tendencialmente aumentando, devido ao
nível elevado de desemprego e a vontade de auto-realização. Desta feita, o mercado
informal tem gerado o autoemprego para os cidadãos que estão desempregados
garantindo assim o seu sustento e das suas famílias.
Em Moçambique o comércio informal segundo Mosca (2011) teve a sua origem em 1980,
altura em que decorria o regime socialista e a crise de escassez que ocorria motivada pela
quebra de produção, gerou uma forma de venda informal denominada “candonga”, que
resultava do desvio de produtos do mercado formal para o sector informal.

O segmento mais extenso é o dos vendedores ambulantes que comercializam diversos


tipos de bens, desde produtos cosméticos à produtos alimentares de confecção caseira
(Chivangue, 19992). Portanto de referir que este sector representa um meio viável perante
a falta de emprego.
“Apresentando-se como uma quase antítese dos objectivos a atingir nas metas de
desenvolvimento que estes países visam alcançar” (ANDRADE, 1992:79). Situação
acreditada a um quadro de desequilíbrio sectorial, resultado da existência duma
heterogeneidade produtiva estrutural, responsável pela alternativa de segmentação no
mercado de trabalho, o que levou a vários moçambicanos a empreender pelo “mukhero”.
O “mukhero”, tem a necessidade de alimentar o comércio informal e formal, criando
riqueza para os seus fazedores.

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1.1.Problema a Ser Investigado

“MARCONI & LAKATOS (1995, p.18), afirmam que problema é “uma dificuldade,
teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para qual se
deve encontrar uma solução”. O desenvolvimento socioeconómico do país constitui um
ponto de convergência de muitos cidadãos em procurar ideias, técnicas e meios, para
reduzir a pobreza que enferma o país.
Embora de um modo geral possa-se observar que o mercado informal tem contribuído
pouco para as receitas fiscais em relação ao mercado formal, que oferece produtos e
serviços de preços baixos mas de baixa qualidade e em certos casos com riscos para a
saúde pública, este mercado tem crescido e se expandido na Cidade de Maputo.

1.2. A Pergunta de Pesquisa

Com base no problema atrás formulado, se coloca a seguinte pergunta de pesquisa: Até
que ponto os “mukheristas” tem interesse em passarem a operar no mercado formal?

1.3.Hipóteses

Segundo RUDIO, (1999:97) “Hipótese é uma suposição que se faz na tentativa de


explicar o que se desconhece. Esta suposição tem por características o facto de ser
provisória, devendo, portanto, ser testada para verificar sua validade.”

H0: Os “mukheristas” não tem interesse, em transitarem para o comércio formal.

H1: Os “mukheristas” tem interesse em transitarem para o comércio formal.

1.4.Objectivos

Na visão de BARROS, (2009:67) “Objectivos são as finalidades que se pretendem atingir


quando a pesquisa tiver sido realizada”.
A presente monografia tem como objectivos, os seguintes:

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1.4.1. Objectivo Geral

Analisar o interesse dos operadores informais em formalizar as suas actividades. (caso do


Mercado do Zimpeto).

1.4.2. Objectivo Específico

 Identificar a percepção dos operadores informais quanto à formalização das suas


actividades;
 Identificar as vantagens e desvantagens do comércio informal sob ponto de vista
dos “mukheristas”;
 Avaliar o grau de perdas e ganhos dos operadores informais.

1.5. Justificativa

A escolha deste tema deveu-se ao facto de se constatar que apesar dos informais
alimentarem grande parte dos mercados da Cidade de Maputo e arredores com produtos
da primeira necessidade, é preciso fazer estudos como forma de contribuir para a sua
formalização e consequentemente participarem para o incremento das receitas do Estado.

1.6. Delimitação do tema

O trabalho aborda as diferentes fases do “mukhero”, como foi iniciado pelas pessoas até
ao momento que decidiram constituir-se em associação, como forma de buscar a
formalização legal da actividade de comércio, o que tem vindo a ter uma crescente adesão
por parte dos associados. O estudo se circunscreve aos “mukheristas” que operam no
mercado de Zimpeto, na Cidade de Maputo.

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em Maputo) 3
CAPÍTULO II – Revisão da Literatura

Conceitos de Imposto e Taxas

Segundo Ibraimo, (2002) o imposto é uma prestação coactiva, pecuniária, definitiva e


unilateral, estabelecida por lei, sem carácter de sanção, a favor do Estado, para realização
de fins públicos.

No que tange a definição inicial, Ibraimo, (2002:40) conceitua algumas ilações


fundamentais, nomeadamente:
 Prestação coactiva: Refere-se coercividade imposta pelo Estado;
 Prestação pecuniária: Denomina-se patrimonial, por ser avaliável em valores
monetários;
 Prestação definitiva: Não dá direito a devolução, reembolso, retribuição ou
indeminização;
 Prestação unilateral ou não sinalagmática: sem contraprestação específica,
individual, imediata e directa (ao contrario da taxa, não dá ao devedor o direito de
exigir qualquer contraprestação imediata);
 Estabelecida por lei: De acordo com o princípio de legalidade1;
 Prestação sem carácter de sanção: Sem fins sancionatórios;
 Prestação a favor do Estado: Equivale a qualquer entidade que exerça funções
públicas, isso em sentido amplo;
 Prestação para realização de fins públicos: Não são fiscais, mas também
extrafiscais.

De acordo com os números 1e 2 do artigo 4 da Lei n0 15/2002 de 26 de Junho define o


imposto sendo um pagamento para o Orçamento do Estado, com natureza unilateral e
obrigatória, incluindo encargos legais e juros previstos em normas tributárias. Os
impostos são calculados sob forma monetária e pagos.

1
Consiste, portanto, em pertencer a Lei formal o estabelecimento de impostos. Segundo a Constituição da
República, no seu artigo 500 que “os Impostos são criados ou alterados por Lei, que os fixa segundo
critérios de justiça social”.

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De acordo com NABAIS (2003:11), o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral,
definitiva e coactiva.

“O imposto como, uma prestação coactiva, patrimonial, positiva, definitiva, não


sinalagmática, sem carácter de sanção, estabelecida por lei, a favor de uma entidade
pública, ou com funções públicas para a satisfação de necessidades públicas e
redistribuição de riqueza, independentemente de qualquer vínculo anterior”. (Waty,
2003:103)

Pode-se constatar que algumas definições por parte de autores são similares no que
concerne ao pagamento de impostos para a realização de fins públicos sem uma
contraprestação específica e imposta pelo Estado.

Em Moçambique a forma inicial do imposto aborda aspectos da ocupação colonial e da


história de Moçambique, no período anterior à independência. Uma das principais formas
de manifestação do imposto em Moçambique, foi com o surgimento dos prazos da
Zambézia, em que se utilizou o tributo tradicional pela primeira vez, a favor do ocupante.
Segundo IBRAIMO, (2002), alguns historiadores dizem que a organização política
tradicional do Zambeze, em meados do séc. XVII, apresentava chefias variadas nas suas
configurações específicas. As maiores eram governadas por um “mambo” (que era
governador do distrito) assistido por um chefe local denominado “npfumu” e pelo chefe
de povoação. De entre as atribuições do “npfumu”, estava a de cobrar impostos.

Pagar os impostos deve ser uma obrigação tanto para pessoas físicas como para pessoas
jurídicas, com o objectivo de custear as despesas com a saúde, educação, segurança,
saneamento, transporte, cultura e etc.
É obrigação do Estado, no entanto, utilizar o dinheiro obtido dos impostos e investir em
obras, acções e serviços de qualidade para a população.
Com a entrada do sector informal, os vendedores não percebiam o porquê de serem
cobrados, o que implicou que muitos apesar de estarem a pagar Taxas confundissem com
impostos.

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De acordo com Ibraimo (2002), as taxas são devidas pela utilização individual de serviços
públicos ou de bens de domínio publico, de que todos necessitam abstratamente, mas que
só alguns procuram activamente, ou pela remoção de um limite jurídico à actividade de
particulares mediante a concessão de autorizações administrativas (propinas dos
estabelecimentos de ensino oficial, selos postais, taxas hospitalares, portagens, taxas
camararias por ocupação da via publica ou estacionamento). As taxas, como preços de
serviços públicos fixados autoritariamente, não correspondem a preços de mercado,
devendo ser inferiores ao custo dos serviços.

As taxas têm carácter bilateral, pagam-se mas recebemos algo em troca. Por exemplo
a Taxa de saneamento básico, ao pagar esta taxa está a receber em troca um serviço
prestado pelo Estado, a recolha de lixo, a taxa de mercado.
As taxas têm uma carácter voluntário, se não utiliza o serviço subjacente não é obrigado
a pagar.
Em suma, podemos dizer que as taxas servem para pagar uma percentagem do serviço
público que nos é fornecido.
O que remete aos vendedores informais, em particular os “mukheristas” que sentem-se
em alguns casos estarem a praticar a sua actividade de modo formal porque confundem
algumas taxas municipais e de mercado com impostos da actividade.

2.1. Conceito de Economia

Segundo Paul A. Samuelson e William D. Nordhaus, citados por Paulo Nunes


(2017), Economia (ou Ciência Económica) pode ser definida como a ciência que estuda
a forma como as sociedades utilizam os recursos escassos para produzir bens com valor
e de como distribuem esses mesmos bens entre os vários indivíduos.
Nesta definição estão implícitas duas questões fundamentais para a compreensão
da Economia enquanto ciência: por um lado a ideia de que os bens são escassos, ou seja,
não existem em quantidade suficiente para satisfazer plenamente todas as necessidades e
desejos humanos;

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Por outro lado a ideia de que a sociedade deve utilizar os recursos de que dispõe de
maneira racional, ou seja, deve procurar formas de utilizar os seus recursos de forma a
maximizar a satisfação das suas necessidades.
“Economia é a ciência que estuda o comportamento humano enquanto
relação entre fins e meios escassos susceptíveis de usos alternativos”
(Lionel Robbins,1933).
Trata-se de uma concepção formalista porque não atende à especificidade das
organizações sociais reclamando-se de uma validade universal no espaço e no tempo.
Em qualquer sociedade, os recursos produtivos ou factores de produção (mão-de-obra,
terra, matérias-primas, dentre outros) são limitados. Por outro lado, as necessidades
humanas são ilimitadas e sempre se renovam, por força do próprio crescimento
populacional e do contínuo desejo de elevação do padrão de vida; independentemente do
grau de desenvolvimento do país, nenhum deles dispõe de todos os recursos necessários
para satisfazer todas as necessidades da colectividade.

Bresser-Pereira (2009, pp.15-6) O Estado é [em sentido restrito], a organização ou o


aparelho formado por políticos e servidores públicos dotados de poderes monopolistas
para definir e fazer cumprir a lei sobre os indivíduos e as organizações de um dado
território nacional. Em sentido amplo, o Estado, além de ser essa organização burocrática
que é a única dotada de poder. A cada forma de Estado nesse sentido amplo corresponde
um sistema político ou um regime político.

A maioria dos economistas aceita a teoria de que o comércio beneficia ambos os


parceiros, porque se um não fosse beneficiado ele não participaria da troca, e rejeitam a
noção de que toda a troca tem implícita a exploração de uma das partes. O comércio, entre
locais, existe principalmente porque há diferenças no custo de produção de um
determinado produto comerciável em locais diferentes. Como tal, uma troca aos preços
de mercado entre dois locais beneficia a ambos.
O comércio baseia-se na troca voluntária de produtos. As trocas podem ter lugar entre
dois parceiros (comércio bilateral) ou entre mais do que dois parceiros (comércio
multilateral). Na sua forma original, o comércio fazia-se por troca directa de produtos
de valor reconhecido como diferente pelos dois parceiros, cada um valoriza mais o
produto do outro. Os comerciantes modernos costumam negociar com o uso de um meio

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 7
de troca indirecta, o dinheiro. É raro fazer-se troca directa hoje em dia, principalmente
nos países industrializados.
A maioria das pessoas trabalham por conta própria e a pagar impostos sobre os seus
ganhos, caso dos praticantes da actividade de “mukhero”, as pequenas operações na
informalidade tende a contribuir para a economia informal.
A economia informal pode ser maior ou menor, dependendo dos conceitos operacionais
e dos métodos utilizados na análise e investigação, se uma empresa possui licença para
operar e paga imposto, ela é considerada formal, do ponto de vista das estatísticas oficiais,
mas do ponto de vista da dinâmica económica, pode ser informal e actuar informalmente,
mesmo pagando imposto.
Neste caso, o informal inclui o não-organizado, ausência de registo. Opera sem visar lucro
e funciona por motivos de sobrevivência. De igual modo, também são informais os
operadores de “mukhero” visando o lucro, mas que não cumprem com as obrigações
fiscais.
O conceito de economia informal deveria ser entendido como “todo o conjunto de
actividades e práticas económicas legais realizadas por agentes económicos total ou
parcialmente ilegais” (Feliciano, 2004; Feliciano et al., 2005: 2).

2.2. Conceito de Comércio

Actividade que consiste em trocar, vender ou comprar produtos, mercadorias, dentre


outras, visando, num sistema de mercados, ao lucro; negócio.
Cretella Júnior (2013, p. 1-2), descreve sobre o comércio:
“É a actividade humana destinada a colocar em circulação a riqueza,
aumentando-lhe a utilidade”.
Este conceito deriva das práticas sociais onde se regista: a) o escambo (troca), permuta
dos trabalhos ou produtos directamente entre produtor e consumidor até o surgimento de
uma mercadoria-padrão que ficou conhecida pelo nome moeda. b) a economia de
mercado, produção para a venda, aquisição de moeda para sua aplicação, como capital,
em novo ciclo de produção.[…]
“Comércio é a actividade humana, de carácter especulativo, que consiste
em pôr em circulação a riqueza produzida, tornando disponíveis bens e

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 8
serviços. […]” “Comércio é o complexo de operações efectuados entre
produtor e consumidor, exercidas de forma habitual, visando o lucro, com
o propósito de realizar, promover ou facilitar a circulação de produtos da
natureza e da indústria, na forma da lei”.
Desta forma, compreende-se que comércio é a actividade de produzir bens ou serviços,
visando o lucro das organizações e a sua continuidade.
Comércio formal e a actividade desenvolvida dentro do quadro jurídico e sob orientação
das leis comerciais vigentes no País, onde pode ser desenvolvida em sociedade.
“Nós não chegamos a conseguir os mínimos lucros possíveis. Nós
vendemos os nossos produtos não como supermercados ou mercearias
mas vendemos para ajudar as famílias carenciadas daí que vendemos de
um modo fracionário. (in: Canal de Moçambique Sudecar Novela, 2019).

2.2.1. Comércio Informal

A economia “informal”, tal como o comércio, surge como estratégia de sobrevivência dos
pobres por incapacidade, do que se chama de economia “formal”, em absorver o factor
trabalho e de gerar rendimentos. É ainda uma consequência de desequilíbrios, distorções
ou roptura de mercado e de políticas desajustadas. O comércio “informal” termina por se
sustentar da economia e do comércio “formal” (Macckintosh, 1989), estabelecendo
relações de reforço mútuo, em ocasiões fora da lei e transaccionando muitas vezes bens
e serviços ilícitos. Os poderes públicos permitem o comércio “informal”, porque este
termina por reduzir a pobreza, gerar autoemprego e criar rendimentos que camuflam os
sintomas mais chocantes da pobreza e, em muitas situações, beneficiam as sub-elites e as
burocracias intermédias. E acalmam eventuais manifestações e revoltas.
O comércio “informal” representa alterações significativas no papel do género
na sociedade e economia, Piepoli (2006).
De uma posição subalterna, dependente e sujeita às funções e ritos tradicionais, as
mulheres, também através da economia “informal” (sobretudo no comércio), começaram
a assumir um papel activo e directo na integração do mercado das famílias e de afirmação
pessoal, com obtenção de rendimentos e geração de riqueza.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 9
A sobrevivência destas economias assenta, em alguns casos, em relações familiares ou de
proximidade e em laços de solidariedade e de cooperação (Piepoli, 2006) e, em outras
situações, em circuitos nem sempre transparentes.
Por outro lado, o comércio “informal” possui estratégias mais flexíveis e adaptadas aos
consumidores de rendimentos baixos (venda de cigarros e não de maços, de montinhos
de bens alimentares e não ao peso, etc.), o que implica a segmentação do mercado do lado
da procura e da oferta (veja, por exemplo, Nzatuzola, 2006): são os pobres aqueles que
se cruzam na relação de compra e venda nestes mercados (Mosca, 2008).
Estas actividades estão mais próximas das pessoas e estruturam redes sociais de
interesses que ultrapassam os tradicionais elementos de afinidade entre os cidadãos, como
sejam as identidades étnicas, linguísticas ou outras.
Com o passar do tempo surgiu a necessidade de melhoraria de seus níveis de actividade
que precederam ao início de actividade de “mukhero”.

2.3. Economia informal

A OIT, (2005:8) diz que:


“Economia informal pode igualmente servir de viveiro de
empresas e permitir a aquisição de qualificações no local de
trabalho. Neste aspecto, pode servir de rampa de lançamento para
um acesso gradual à economia formal, se forem implementadas
estratégias eficazes”.

A economia informal oferece, assim, um conjunto de exemplos que, pela sua


flexibilidade, proximidade às necessidades dos cidadãos, rápida e mais fácil enumeração
podem ser encarados como meios importantes de incluir os que estão em maior risco de
pobreza e mais afastados do mercado formal de emprego.
SANTOS, (1994: 43) afirma que um individuo esta presente a um
trabalho informal quando. “A sua relação socio laboral,
legalmente ou na prática, não está sujeita à legislação laboral,
não é declarada para efeitos de imposto sobre os rendimentos ou
de contribuições para a segurança social, ou quando o trabalho
não confere, ao trabalhador, qualquer garantia ou segurança”.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 10
No que tange a análise deste conceito sobre o interesse da formalização por parte dos
mukheristas e suportando com algumas reflexões de (Mosca (2005):
Demostrar que a economia “informal” esta articulada com a “formal” reforçando-se
mutuamente, que ela é gerada por desequilíbrios de mercado, por políticas publicas
desajustadas e debilidades institucionais; e que existem casos em que foi ou é o próprio
Estado que, na tentativa de estimular a emergência de um sector privado, fez surgir o
sector “informal”.
Pode sugerir-se que existem informalidades na economia e no Estado que interessam ao
poder e aos negócios fazendo parte do sistema.
Pode ainda concluir-se que existem muitas informalidades no funcionamento das
organizações “modernas”, incluindo nos órgãos estatais, devido a vários factores,
sobretudo a aspectos culturais e comportamentais (Hodgson, 1994), mas também como
consequência de interesses económicos mesclados com o poder politico e o aparelho de
Estado, gerando ambientes de baixa credibilidade do poder e corrupção.
Os aspectos referidos demonstram claramente que tanto a economia “informal” como as
informalidades nas burocracias e na economia “formal” provocam ineficiências,
distorções nos mercados e no funcionamento das instituições, geram oportunidades
desiguais entre os cidadãos e dificultam o desenvolvimento a longo prazo. E também
verdadeiro que, a curto prazo, as economias informais contribuem para a mitigação ou
camuflagem da pobreza, do emprego, geram rendimentos e mantem a sociedade em crise
de intensidade não tumultuosa.

2.4. Conceito de sector informal

O termo “sector informal” foi usado pela primeira vez em Gana por Keith Hart na
Conference on Urban Unemployment Studies (IDS-University of Sussex) em Setembro
de 1971. Este texto apenas foi publicado em 1973. Mas, foi no Quénia que o termo sector
informal se popularizou através da Missão da OIT ao Quénia em 1972 (Barbosa, 2009;
King, 1996).
Não existe uma definição única e nem de consenso, para a designação do sector informal
e o problema não tem a ver só com o significado da expressão sector informal, mas
também com a escolha da expressão que melhor traduz este fenómeno.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 11
O sector informal define-se como “um variado leque de actividades orientadas para o
mercado e realizadas com uma lógica de sobrevivência pelas populações que habitam os
centros urbanos dos países em desenvolvimento” (Lopes, 1999:3).

2.4.1. Surgimento do Sector informal

O surgimento do termo “sector informal” no mundo remete-nos ao período pós segunda


grande guerra mundial em que para obter-se a mão-de-obra para a indústria deveria
recorrer-se aos que estavam no “sector informal” como força de trabalho reserva.
“O conceito “sector informal”, enquadra os novos tipos de actores que
operando na área do comércio, não são reconhecidos pelos regulamentos
vigentes, e por isso são reprimidos pelas autoridades policiais, no
exercício das suas actividades. Apesar destas circunstâncias, hoje, esse
mesmo termo é utilizado na linguagem da média, das organizações,
agências doadoras e governo, e representa formas novas ou ajustadas do
exercício da actividade comercial, resultantes das experiências da guerra
e pós-guerra, e influenciadas pelo processo de liberalização da
economia” (BOWEN, 2000:23).

MARTINET, (1991:13) diz que a expressão “sector informal” foi empregue pela primeira
vez num estudo sobre o Gona publicado em 1973, e veio a ser posteriormente adaptado
pela OIT (Organização Internacional de Trabalho) ”.

A participação do sector informal na atividade económica vem mostrando uma tendência


ascendente em muitos países. De acordo com Maloney (1998, 2003), análises mais
tradicionais associam o crescimento do sector informal à presença de rigidez no mercado
de trabalho: a incapacidade da economia formal de absorver os elevados custos impostos
pela legislação trabalhista leva os trabalhadores dispensados a buscarem posições em
empreendimentos do sector informal. Interpretações mais recentes, no entanto, indicam
que empreendimentos informais também surgem a partir da decisão de trabalhadores de
tornarem-se autónomos, com o intuito de evitar não somente os elevados custos com a

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 12
legislação trabalhista, mas também a cobrança oficial de impostos e os custos com
burocracia e corrupção.
A manutenção do sector informal na actualidade explica-se na incapacidade de áreas
formais de actividade conseguir absolver a demanda da mão-de-obra. Isso intensificado
com o índice de analfabetismo. Onde esses agentes vem como comércio uma e única saída
para as suas dificuldades económicas. Sarthi, (1983).

Na visão de COQUERY-VIDROVITCH, (1992:17) por sua vez designa sector informal


como sendo “um conjunto de pequenas empresas individuais não capitalistas, onde se
desenvolve actividades geradoras de rendimentos, baseando-se nos seguintes critérios”;
Propriedade familiar das empresas; Pequena escala de operações; Utilização de recursos
locais;
“A existência do sector informal na economia identifica-se como um segmento informal
do mercado do trabalho oposto ao formal ao que surge a partir da incapacidade da oferta
do emprego, convergindo nele uma vasta e específica camada da população trabalhadora”
(ANDRADE, 1992:79).

Depois desses pressupostos aludidos anteriormente remete-nos a percepção de que o


sector informal é um conjunto de actividades exercidas em ambientes físicos ou não, que
encontra-se não registados nas actividades licenciadas com as entidades competentes do
trabalho.
Entretanto de salientar ainda que a economia ou a actividade informal é toda aquela que
vem ao contrario do formal, isto é, sem normas, sem regulamentação, caracterizada pela
ausência do sujeito no local único, feita em locais impróprio, entre outras designações.

MARTINET, (1991:7) afirma que


“Dentro do sector informal podemos encontrar dois grupos: os que
acumulam (sector evolutivo) e os que não acumulam (sector
involutivo), duma maneira geral existem vários níveis de comércio
informal, que actualmente é praticada por diferentes camadas”.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 13
Na mesma ordem o autor ainda adianta que sendo o investimento heterogéneo, este facto
se reflecte na diferenciação das capacidades para gerar rendimentos. Assim, quanto mais
lucrativo é uma actividade, maior investimento inicial foi empregue.
Por um lado é convincente afirmar que nem todos os rendimentos gerados pelas unidades
dentro do sector informal se destinam à situação que tem, criando-lhes, por isso,
obrigações sociais. Nesses casos, os rendimentos que obtêm no sector informal são, em
parte, consumidos em forma de redistribuição: festas, presentes, subsistência familiar,
educação saúde e cerimónias que os intervenientes são expostos.
Assim, a capacidade de gerar rendimento não implica automaticamente a acumulação.
Nesta lógica, aqueles que conseguem acumular para investir seriam os proprietários mais
desligados das redes familiares e de solidariedade.

2.4.2. Características do sector informal

O sector informal é, hoje, um conjunto de operadores dinâmicos e economicamente


agressivos que buscando a sua sobrevivência, têm ocupado e proporcionado rendimentos
alternativos a muitas famílias em países em desenvolvimento. Segundo Chichava (1998)
e Amaral (2005), o sector informal em geral apresenta as seguintes características:
 Para o início das actividades conta apenas a iniciativa pessoal;
 É uma organização individual ou familiar, livre e flexível;
 É de fácil entrada e integração, mas com muitos riscos de se extinguir;
 As instalações geralmente são inexistentes;
 Emprega mão-de-obra barata, jovem e com predominância do sexo feminino em
certas actividades como a venda de produtos, decorrentes da actividade de
“mukhero”, e outros produtos agrícolas;
 Comercializa uma vasta gama de produtos;
 A formação profissional é reduzida ou inexistente, privilegiando-se as práticas
de aprendizagem no processo de trabalho;
 Usa insumos conseguidos nas unidades do sector formal e às vezes, abastece
também o sector formal;
 O salário e vínculo contratual é celebrado entre pessoas, sem vínculo contratual
escrito;

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 14
 O crédito é concedido por pessoas singulares ou familiares e pelo recurso a
associações de poupanças e crédito;

Ainda de acordo com Chichava (1998), em Moçambique a mão-de-obra envolvida no


sector informal compreende:
 Desempregados e sub-empregados do sector formal da economia;
 Desempregados provenientes das zonas rurais;
 Funcionários do Estado e operários do sector formal usando seus familiares ou
trabalhadores para complemento dos seus rendimentos;
 Proprietários do sector formal à busca de maiores receitas e fuga ao fisco;
 Jovens recém-formados aos vários níveis (médio e superior) que não encontram
emprego; no sector formal ou que não se contentam com os salários do Aparelho
do Estado.

O sector informal tem dois tipos de trabalhadores: “os assalariados e os não assalariados”
que geralmente são familiares não pagos regularmente, mas a quem lhes são concedidas
certas condições, como alojamento, alimentação e alguns subsídios (PNUD, 2001:84).
O sector informal inclui actividades económicas, tais como “bancos informais” que
recolhem pequenas poupanças e fazem empréstimos por segmentos da população que não
têm acesso ao crédito bancário (Nazaré, 2006).

2.5. O sector formal

Quando se fala do sector formal, recorre-se quase sempre a uma organização formal, ou
conjunto de normas e regras que conduzem o andamento de todos os processos
da empresa, pautada pela lógica e racionalidade, onde se englobam factores importantes
dentro da empresa, tais como, o código de ética do ramo de trabalho, organização
hierárquica, políticas de gestão.
Conforme Chiavenato (2006), a teoria neoclássica da administração assume que a
organização formal consiste em camadas hierárquicas ou níveis funcionais estabelecidos
pelo organograma e com ênfase nas funções e nas tarefas.
Neste contexto, uma organização é um conjunto de cargos funcionais e hierárquicos a
cujas prescrições e normas de comportamento todos os seus membros devem se sujeitar.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 15
Chiavenato (2006), complementa que a característica mais importante da organização
formal é o racionalismo.
Este ponto de vista assume que a formulação de um conjunto lógico de cargos funcionais
e hierárquicos está baseada no princípio de que as pessoas irão agir efectivamente de
acordo com esse sistema racional.
A ampla definição da actividade formal é dada pelo facto de que a pessoa inquirida
simplesmente declara que a empresa/ou sector onde ela trabalha está registada.
Segundo Maximiano (1992) “uma organização é uma combinação
de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos
colectivos”.
Por meio de uma organização torna-se possível perseguir e alcançar objectivos que
seriam inatingíveis para uma pessoa.
O Conceito a ser apresentado prende-se com sector formal como um todo em particular
no que tange aos procedimento para a constituição de uma associação e os passos para a
sua formalização seguindo os princípios Constitucionalmente aceites no País e as
Instituições do Estado que estão credenciadas para o efeito. O Portal do Governo de
Moçambique apresenta os procedimentos e documentação2 para a criação de empresas,
bem como os boletins informativos que podem ser usados para o efeito

2
http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Empresas/Registos/Registo-de-Sociedades/Procedimentos-e-
documentacao

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 16
CAPÍTULO III - Metodologia

Neste capítulo apresenta-se a metodologia seguida para o presente estudo, amostragem,


os instrumentos de colecta de dados e a forma como pretende tabular e analisar seus
dados.
O método de abordagem adaptado para este trabalho foi essencialmente descritivo,
baseado no inquérito.

3.1. Tipo de Pesquisa

Para Severino (2007) a pesquisa descritiva “expõe características de determinada


população ou de determinado fenómeno”. Pode também estabelecer correlações entre
variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenómenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação. Neste contexto, privilegia-se a
pesquisa descritiva neste estudo.

3.2. Abordagem

Neste trabalho basear-se-á numa abordagem qualitativa. Segundo Deslandes (2007), esta
abordagem requer dedicação e cuidado, pois mais que uma descrição formal dos dados
apresentados, a abordagem qualitativa indica os caminhos que foram tomados para chegar
aos objetivos do estudo formulado. Avalia-se através de perceções e opiniões dos
participantes.

3.3. População e Amostra

Segundo Ribeiro (1999, p.48), duas estratégias podem ser adoptadas, quando se pretende
colectar informações acerca de uma população ou universo: colectar informações de toda
a população, processo designado por censo, ou colectar informação de uma amostra
representativa dessa população.
Na presente pesquisa a população é constituída de todos os “mukheristas” que operam no
mercado de Zimpeto, num total de 1273.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 17
Do total da população calculou-se uma amostra com base na seguinte formula para
variável nominal e população finita (Martins G. 1990:30):

Z2 ∗ 𝑝
̂ ∗𝑞
̂ ∗N
𝑛= 2 q
d (N−1)+Z2 ∗𝑝
̂ ∗𝑞
̂

Onde: n = Tamanho da amostra


N= tamanho da população
Z=abscissa normal padrão
𝑝̂ = Estimativa da proporção
𝑞̂ = 1 − 𝑞̂
d - erro amostral estimando em 3%

3.3.1. Cálculo da amostra

𝜌 Estimativa da proporção = 50%


Z abscissa da normal Padrão considerando o nível de confiança 95,5% portanto Z= 2
N é o número da população = 1273
𝑝̂ = 0,50𝑝̂
𝑞̂-= 1-𝑝̂ , ou seja, (1-0,50)=0,50
d = erro amostral que pode variar de 2 a 8% e nesta pesquisa, considerou-se o d = 8%
Na operação da fórmula, em baixo o d é = 8%

Assim, tem-se

22 ∗ 0,50 ∗ 0,50 ∗ 1273


𝑛=
0.082 (1273 − 1) + 22 ∗ 0,50 ∗ 0,50

1273
𝑛=
4.18

𝑛 = 139.5763 ≈ 139

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 18
3.3. Técnicas de Recolha de Dados

a) Pesquisa documental

“Tem-se como fonte documentos no sentido amplo, ou seja, não só de documentos


impressos, mas sobretudo de outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes,
gravações, documentos legais. Nestes casos, os conteúdos dos textos ainda não tiveram
nenhum tratamento analítico, são ainda matéria-prima, a partir da qual o pesquisador vai
desenvolver sua investigação e análise.” (Severino, 2007)

Basear-se-á neste método fez-se uma análise em documentos relevantes tais como,
Legislação diversa, entre outros pelos quais se guiam os processos de formalização de
actividades comerciais.

b) Pesquisa bibliográfica
Severino (2007), postula que a pesquisa bibliográfica “é aquela que se realiza a partir do
registo disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como
livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por
outros pesquisadores e devidamente registados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos
estudos analíticos constantes dos textos.”
Recorremos a este método com o objectivo de consultarmos o repertório bibliográfico
cujas abordagens se afiguram relevantes para o nosso tema.

c) Observação Directa
A observação participante, na perspectiva de Quivy& Campenhoudt (1998) citados por
Dias et al. (2008), “acontece quando o investigador procede directamente a recolha de
informações (…), apelando, nesse caso, ao sentido próprio da observação.”
Os objectivos básicos da observação participante, serão dentre outros, verificar a forma
como é que os “mukheristas” sentir-se-iam se com o processo de formalização das suas
actividades.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 19
3.4.Instrumentos de Recolha de dados

3.4.1. O inquérito

Com base no questionário, vai-se poder recolher dados de estudo deste trabalho. Este
instrumento consistirá em administrar para cada elemento da amostra um questionário
com perguntas fechadas e abertas.

3.4.2. Entrevista

No domínio de instrumento, vai se também privilegiar o guião de entrevista. o que vai


torna possível a recolha de informações sobre o número de indivíduos, permitindo
comparações precisas entre as respostas dos entrevistados e inquiridos o que possibilita a
generalização dos resultados da amostra à totalidade da população.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 20
CAPÍTULO IV: Apresentação e discussão de resultados

O “Mukhero”

O “mukhero”3 Pode ser definido como actividade de micro-importação informal4


caracterizada pela travessia da fronteira de Ressano Garcia para África do Sul, local onde
os “mukheristas” compram diversos bens para posterior revenda, geralmente a grosso,
nos mercados de Maputo. Na realidade, o “mukhero” pode também situar-se na categoria
do comércio transfronteiriço informal embora não reconhecido.
A procura pela sobrevivência, leva muitos cidadãos a transpor fronteiras com o objectivo
de adquirir produtos e revender como forma de satisfazer as suas necessidades imediatas,
caso dos comerciantes concentrados no Mercado do Zimpeto.
É uma actividade considerada ilegal, embora com alguns sinais de legalização uma vez
na Cidade de Maputo estarem a operar pelo menos três associações de “mukheristas”
como forma de resolverem os seus problemas imediatos que muitas vezes estão
relacionados com a apreensão das suas mercadorias por parte das autoridades
alfandegárias.

4.1. A prática do “mukhero” e a sua evolução no tempo

Alguns autores moçambicanos divergem no que tange ao surgimento do “mukhero”, para


Manganhela (2006:22) refere que para estudar a origem do “mukhero” passa por duas
fases, nomeadamente de 1987 à 1992 em que o “mukhero” era praticado principalmente
pelos residentes locais em que bastando para tal apresentarem um cartão de residente e
de 1992 à 1997 na segunda fase o mukhero teve uma nova dinâmica porque muitas
mulheres vinham de Maputo e áreas circunvizinhas da fronteira, passaram a usar os

3
Etimologicamente, a palavra “mukhero” resulta da corruptela da expressão inglesa “carry”. Na fronteira de Namaacha, os
estrangeiros que estivessem a efectuar a travessia a pé pediam aos nativos que os ajudassem com as pastas e depois davam uma gorjeta.
Rapidamente esta prática generalizou-se e os locais passaram a designá-la por “mukhero”. Esta expressão começou a ser usada
também pelos nacionais que atravessavam a fronteira para comprar diversos bens, uma parte para o consumo e outra para revender.
Chivangue, Andes Adriano (2012)
4
No presente texto o termo informal prende-se com a ausência de registo da actividade junto das autoridades formais competentes e
ao processo de passagem pela fronteira, em muitos casos, caracterizada por procedimentos semilegais ou mesmo ilegais. Chivangue
(2007)

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 21
residentes locais para que estes ajudassem a transportar mercadoria de um lado da
fronteira para outro, porém fugindo ao fisco5.
Aliado a isso, a falta de emprego remunerado naquele distrito sul do país contribui para a
proliferação do mukhero como única alternativa de sobrevivência para a população local
(AMARAL, 2000:19).
Com o passar do tempo, nesta segunda fase foi se registrando um aumento de praticantes
de “mukhero” alavancados pelo facto de possuírem os mesmo produtos das mercearias à
preços mais baixos o que levava muitos concidadãos a procurarem cada vez mais por este
profissionais informais6, facto que veio a minimizar-se com o aparecimento da
Associação MUKHERO em 1994, em actividade formal desde 21 de Julho de 2000 e foi
oficializada no 8 de Julho de 2002 com a designação de Associação dos Vendedores e
Importadores do Sector Informal de Moçambique - MUKHERO, com sede no Mercado
Informal Compone, arredores da Cidade de Maputo, congregando 1273 associados, dos
quais 70% são mulheres e 30%, sendo presidida por Sudecar Novela (MANGANHELA,
2006: 25). O que veio a conferir outra dinâmica da actividade de “mukhero”.

4.1.1. Vantagens de filiar-se a Associação Mukhero

Muitos dos inquiridos revelaram não conhecer os procedimentos para tornarem-se


formais e a grande maioria sequer demonstrou interesse em sabê-lo pelo facto dos
procedimentos de filiação serem acessíveis a todos. Contudo 41.73% dos inquiridos
apontam razões de facilidade de registar-se junto ao INSS e ter acesso a banca se fossem
formalizados, apesar de 64.75% afirmarem que conseguem receber o apoio da associação
não obstante 58% serem a favor do registro formalizado de todos os vendedores informais
praticantes do “mukhero”.
Segundo a secretaria da associação, senhora Linda Rosa afirmou que para que seja
membro filiado apenas exige-se o preencha um formulário interno, e uma (1) fotocópia

5
A fuga ao fisco era estimulada pelos elevados direitos aduaneiros que impossibilitava que houvesse
lucros suficientes na prática do mukhero, daí as mukheristas optavam pela fuga ao fisco de modo a
reduzirem os elevados gastos na sua atividade e pela debilidade do sistema aduaneiro do país desde a
vedação de fronteiras, até a má remuneração dos funcionários alfandegários contribuíram para o
crescimento desta prática.
6
Geralmente os seus magros rendimentos só lhes permitiam adquirir produtos comercializados em mercados informais, já que os

preços nos mercados informais eram subsidiados pelos seus salários (MANGANHELA, 2006:13).

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 22
de B.I., uma (2) foto tipo passe, Nuit, pagamento de joias no valor de 2500,00Mt e quotas
mensais no valor de 170,00Mt que são pagos anualmente totalizando 2040,00Mt e de
seguida passam a ostentar um cartão que contêm o número de membro, uma fotografia,
o que lhes permitia obter vistos de entrada na África do Sul com a periodicidade de seis
meses, actualmente usam passaportes carimbados na área VIP7da fronteira.

Tabela 1: Vantagens que poderia obter se fosse formalizado: - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID % % %
Femini Masculi Femini Masculin Tota
no no Total no o l
41.73
a) Registrar-se junto ao INSS, 39 19 58 28.06% 13.67% %
b) Acesso a banca para obter 42.45
crédito. 38 21 59 27.34% 15.11% %
15.83
c) Negociar com fornecedores 15 7 22 10.79% 5.04% %
100.0
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 0%

Tabela 2: Acha boa ideia formalizar todos os vendedores e praticantes do mukhero. -


Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID Feminin Masculin Tota % % %
o o l Feminino Masculino Total
a) Sim 53 27 80 38.13% 19.42% 57.55%
b) Não 37 19 56 26.62% 13.67% 40.29%
c) Outros.
Especifique 2 1 3 1.44% 0.72% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

7
Very important person

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 23
Tabela 3: A Associação consegue apoia-los nesta actividade: - Fonte: elaborada pelo
autor
Inquérito_ ID Género % Género
%
Feminin Masculin Tota % Masculin %
o o l Feminino o Total
a) Sim 67 23 90 48.20% 16.55% 64.75%
b) Não 22 24 46 15.83% 17.27% 33.09%
c) Outro.
Especifique 3 0 3 2.16% 0.00% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

4.2.Sector informal e localização geográfica do mercado

O Bairro de Zimpeto, um dos poucos bairros de expansão na Cidade de Maputo que


conseguiu impor-se no cenário económico e social da capital do país, é uma zona per-
urbana da Cidade de Maputo, com cerca de 27.689 habitantes8 com tendência crescente,
regista crescimento de infraestruturas económicas e sociais, dispõe de serviços básicos,
desde o transporte, educação, saúde entre outros, ainda assim, persistem desafios,
encontra-se situado no Distrito Municipal Ka Mubukuane a norte da Cidade de Maputo.
Nessa área localiza-se o mercado grossista de Zimpeto ao longo da EN1, que foi pensada
de forma a dar acesso fácil aos camionistas de produtos com o intuito de melhorar as
condições e segurança dos utentes que outrora se dirigiam ao Mercado do Bairro
Malanga, muitas vezes de forma dispersa. O Mercado Grossista de Zimpeto é referência
obrigatória, a avaliar pelo seu impacto na vida das pessoas.
O Conselho Municipal tem enveredado esforços para desencadear campanhas de retirada
compulsiva de todos os vendedores que exercem a sua actividade junto à EN1, como
forma de melhor organização os vendedores informais, um dos passos iniciais para a

8
Fonte: Administração do Distrito Municipal Ka Mubukuane. 2007.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 24
organização dos mesmos que estão filiados em associações para que os vendedores
informais passem a exercer a sua actividade em melhores condições.9

4.3. Surgimento do Sector informal em Moçambique

O sector informal em Moçambique surgiu há mais de três décadas, nos anos de 1980 a
1994, havendo consenso quanto à explicação do seu surgimento e florescimento10,
normalmente relacionados com a repressão económica e financeira registada na época da
economia centralmente planificada, a liberalização da economia ocorrida a partir de
1984/87, com a adesão do país as Instituições de Bretton Woods11 e ao início dos
programas de ajustamento macroeconómico e estrutural. Enquanto a repressão económica
terá redundado em manifestações de candonga e mercado paralelo de bens e produtos
essenciais, desviados dos circuitos de distribuição então criados através do sistema de
planificação central, a liberalização económica abre espaço para o incremento e
diversificação do sector informal que absorver a mão-de-obra excedentária e
proporcionou emprego às populações carenciadas. De Abreu (1996).
Em Moçambique, o comércio informal tem registado um crescimento acelerado nas zonas
urbanas. Aponta-se como causa para este facto, o excedente da força de trabalho que não
encontra trabalho no mercado formal. A situação conjuntural do país evidencia que o
comércio informal continua a ser a actividade alternativa para a ocupação da força de
trabalho e para a sobrevivência de muitas famílias (Cruz e Silva, 2005).
Falar do sector informal em Moçambique urge a necessidade de buscar a época colonial,
e recorrer a obra de Rita Ferreira publicada em 1967.
″Neste período na capital do país, vendedores que exerciam as suas
actividades nos mercados espontâneos que em, grande número, se
espalhavam por toda a área suburbana. Às actividades
caracterizadas pela eventualidade e instabilidade, nomeadamente;
vendedoras viúvas com encargos familiares, que não conseguiam

9
Victor Fonseca, vereador municipal de Infraestruturas. In Jornal noticias, 04 de Dezembro de 2013
10
Num trabalho baseado na análise de séries cronológicas de indicadores monetários e financeiros, de
1980 a 1994, De Abreu e De Abreu (1996) concluíram que “o sector informal, em Moçambique, floresce
a partir de 1987”. Semelhante conclusão é alcançada por Sulemane (2001) a partir de séries temporais
sobre “excesso de mão -de -obra urbana” de 1980 a 1997.
11
FMI e Banco Mundial

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 25
por outros meios ganhar o suficiente para viver” (RITA-
FERREIRA, 1967:372).
O Instituto Nacional de Estatística define o sector informal em Moçambique como sendo,
“todas as actividades não registadas, ou registadas apenas no Município,
ou junto à Administração Distrital ou Local, não possuindo portanto
autorização por parte das autoridades fiscais para o exercício da sua
actividade e empregando não mais de 10 trabalhadores” (TEMBE,
2009:92).
Apesar destas definições serem aceitáveis, por conter em si os caracteres essenciais do
que é de facto o sector informal, a sua formulação, ao incluir de maneira genérica uma
alusão à propriedade familiar e ao admitir que a mão-de-obra empregue não precisa de
deter conhecimentos formais, pode oferecer-se à controvérsia, pois há tendência ao
desenvolvimento de instrumentos e técnicas de aperfeiçoamento e aprendizagem de
modelos oficiais para a comercialização, denotando a tendência das camadas sociais
inferiores em organizarem-se em associações por forma a manterem-se competitivos no
mesmo sector.
Ainda que de forma tímida, observa-se que a maioria dos mukheristas, ainda que possuam
o seu “staff” o número geralmente aparece abaixo podendo supor-se que se fossem
formalizados estariam na categoria de pequena empresa. Outrossim a grande maioria
ainda prefere estar no sector informal perfazendo 53.24% mas uma minoria insignificante
de 2.88% sequer consegue perceber do porquê largaria a actividade para estar enquadrada
no sector formal apesar de 43.88% estarem ansiosos por trabalhar na formalidade.

Tabela 4:Se tivesse a oportunidade de trabalhar no sector formal, largaria a prática do “mukhero”. - Fonte: elaborada
pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID
Feminino Masculino Total % Feminino % Masculino % Total
a) Sim 37 24 61 26.62% 17.27% 43.88%
b) Não 55 19 74 39.57% 13.67% 53.24%
c) Porquê? 0 4 4 0.00% 2.88% 2.88%
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 100.00%

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 26
4.4. Economia informal e Género

O conceito de população pode, por vezes, ser um conceito um pouco abstracto e mal
definido, para PESTANA e VELOSA (2010), página 53 “Chamamos população ao
conjunto de todos os valores que descrevem um fenómeno que interessa ao investigador.
De um modo geral, a população é conceptualizada por um modelo”.
Em grande maioria, as actividades informais são realizadas por mulheres. São elas que
contribuem com o maior bolo no orçamento familiar, mas não são reconhecidas. Por isso,
têm menos formação, mas as políticas de educação e de formação são "discriminatórias″,
não estão inseridas na política de forma proporcional aos homens, não existem incentivos
ou quotas equitativas e são relegadas para as tarefas menos remuneradas e muitas vezes
sem qualquer tipo de remuneração. Segundo a autora A. Bénard da Costa, tanto os homens
como as mulheres, não consideram as suas actividades no sector informal como
“trabalho” a mesma autora apurou que a maioria das actividades não tem um rendimento
constante e não é realizada de forma continuada. Em muitas famílias o número de
mulheres que trabalha é igual ou superior ao número de homens, chegando em alguns
casos a acontecer que são elas que sustentam a família.
Para explicar o papel das mulheres no meio urbano africano, a autora recorre a “alguns
investigadores (Tripp 1989, Loforte 1996) que defendem que, devido às suas actividades
informais, as mulheres podem conquistar uma certa visibilidade a nível do bairro,
conseguindo influenciar positivamente o seu estatuto na família e fora desta. Esta ideia
tem sido contrariada por outros autores (Caplan 1995, Campbell 1995, González de la
Rocha e Grinspun 2001) que defendem que as actividades informais geradoras de
rendimento realizadas pelas mulheres apenas aumentam o volume de trabalho sem que
haja efectivamente uma mudança no seu estatuto12.

Com base nos indicadores demográficos pode-se mos verificar que quantidade de
insumos e número de mulheres tem praticado, recorrendo aos indicadores demográficos
e o modelo de estatístico tendo também como suporte a amostra que irá indicar que os
pioneiros neste negócio informal são as mulheres e como aliciar-lhes para optarem pelo
formal.

12
Bérnard da Costa: 2000, pp. 219-264

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 27
Os dados apresentados no Censo de 2017 pelo INE13, apurou-se que a população de
Moçambique é de 27.909.798 habitantes maioritariamente constituída por mulheres
totalizando 14.561.352 mulheres representando 52% e 13.348446 homens representando
48%, o que significa que para cada 100 mulheres há 93,5 homens.

Figura 1: Estrutura Etária Segundo grupos Operacionais Fonte: Resultados Definitivos do Censo 2017. INE

A figura acima demonstra que a população activa inicia acima dos 15 anos. Dos 139
indivíduos inquiridos de forma aleatória, representam 66.19% de mulheres num total de
92 e 33.81% de homens num total de 47 distribuídos em faixas etárias que variam dos
abaixo de 30 anos até acima de 50 anos de idade.

Tabela 5:Tabela dos inquiridos por género e faixa etária - Fonte: Elaborada pelo autor
Inquiridos/ Faixa Género Total % %Total
Etária
Feminino Masculino Feminino Masculino
Abaixo de 30 anos 8 5 13 5.76% 3.60% 9.35%
de 31-35 anos 14 6 20 10.07% 4.32% 14.39%
de 36 -40 anos 20 19 39 14.39% 13.67% 28.06%
de 41 - 50 anos 37 11 48 26.62% 7.91% 34.53%
Acima de 50 anos 13 6 19 9.35% 4.32% 13.67%
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 100.00%

13
Instituto Nacional de Estatística,

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 28
Os dados percentuais representam a proporção entre o número dos inquiridos segundo a
faixa etária, esta tabela mostra que a maioria dos praticantes da actividade de “mukhero”
são mulheres representando 27% (37 de 139) faixa etária dos 41 -50 anos de idade.

4.5. Mukhero e a legislação

O fraco domínio da língua Portuguesa pelos “mukheristas” várias vezes induz-lhes à


corrupção, pois muitos membros da Associação “mukhero” não falam Português e, têm
tido grandes problemas com os funcionários que não aceitam comunicar-se numa língua
Moçambicana mesmo sendo falantes da mesma, porque muitos funcionários pensam que
falar Língua Moçambicana numa instituição pública, em particular na Autoridade
Tributária com os utentes no caso em especifico aos “mukheristas” é sinónimo de
“baixeza” e ignorância, segundo o Sr. Sudecar Novela (presidente da Associação)14.

Segundo o Código Comercial, Artigo 66,


“os mercados e as feiras são estabelecidos no lugar, pelo tempo e no modo
prescritos na legislação e regulamentos”.
Local onde se enquadra o mercado de Zimpeto. Muitos comerciantes “mukheristas” com
contentores ou bancas fixas que deveriam estar enquadrados na protecção comercial,
como atestam os artigos 69, 70,71, 72, que versam sobre filiais, as medidas para dispor
do estabelecimento e o apuramento do valor do estabelecimento comercial, preferem não
optar por acharem que lhes incorre em custos ou por ignorância.

Os inquiridos apontam total desconhecimento sobre o pagamento de impostos, sendo que


muitos deles confundem a taxa diária que pagam junto dos fiscais do mercado com um
certo tipo de imposto que lhes confere a legalidade, tanto que cerca de 54.68% dos
inquiridos afirma pagar o imposto e o remanescente não, outrossim 53.24% afirmam não
conhecer o processo de formalização.

14
Publicado em 18/08/2011Resumo do V debate do núcleo de língua da RM acesso 14-
09-2019

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 29
Tabela 6: Paga algum tipo de imposto para o exercício desta actividade.- Fonte: elaborada pelo autor

Género %Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin Tota %
o o l %Feminino Masculino %Total
a) Sim 53 23 76 38.13% 16.55% 54.68%
b) Não 39 24 63 28.06% 17.27% 45.32%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

Tabela 7: Conheces o processo de formalização - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin % %
o o Total Feminino Masculino % Total
a) Sim 40 25 65 28.78% 17.99% 46.76%
b) Não 52 22 74 37.41% 15.83% 53.24%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

4.6. O mukhero e a Autoridade Tributária

Existem vários estudos que apontam o sector informal como tábua de salvação para
muitas famílias.
O moçambicano, Mosca (2010,84) questionou se o comércio informal não seria um factor
de alívio da pobreza a curto prazo?
Esta questão denota uma preocupação com o desenvolvimento económico em termos
globais e a economia informal poderá estar a ser usada pela elite governante como uma
esponja atenuadora de potenciais conflitos sociais que ocorreriam na sua ausência.
Recorde-se dos confrontos que ocorrem sempre que o Conselho Municipal procura retirar
os vendedores informais das ruas sem antes criar condições de logística.
O boicote as instalações da AT, protagonizado por um grupo de “mukheristas” após
apreensão de alguns camiões e troca de “mimos” entre as autoridades alfandegárias com
os grevistas, não concordando estes com o excesso de postos de fiscalização e cansados
de pagar suborno a alguns agentes, facto desmentido pelo porta-voz na conferência de
imprensa no dia dos acontecimentos (Maio de 2018).

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 30
As autoridades governamentais reconhecem o papel decisivo do sector informal e das
pequenas empresas no desenvolvimento da economia moçambicana em particular as
associações de “mukhero” e acham que o informal irá integrar-se no formal através da
aplicação escrupulosa dos dispositivos legais.
O comércio informal transfronteiriço devia ser formalizado, referindo-se ao registo da
actividade.”
Pela necessidade de regulamentar a Lei n.º 5/2009, de 12 de Janeiro, foi criado o Imposto
Simplificado para Pequenos Contribuintes, pelo Conselho de Ministros através do
Decreto n. º 14/2009 de 14 de Abril.
A Autoridade Tributaria lançou o ISPC - o Imposto Simplificado para Pequenos
Contribuintes com o intuito de tributar os operadores informais, como forma de colectar
receita aos “mukheristas” não filiados em quaisquer das associações existentes bem como
as pessoas que praticam o comércio informal.

Segundo os dados apurados, 53.24% inquiridos afirmam que o mukhero reduz a pobreza
mas a minoria 16.55% afirmam que não sendo um percentagem de 30.22% não saberem
consoante os dados a seguir apresentados.

Tabela 8: O mukhero pode reduzir a pobreza. - Fonte: elaborada pelo autor

Inquérito_ Género % Género


ID Feminino Masculino Total % Feminino % Masculino % Total
c) Não sei 26 16 42 18.71% 11.51% 30.22%
a) Sim 51 23 74 36.69% 16.55% 53.24%
b) Não 15 8 23 10.79% 5.76% 16.55%
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 100.00%

4.7. Passos Sobre as Operações dos Mukheristas


Os produtos que normalmente alcançam sucesso possuem de forma clara e definida
diversas fases no decorrer do seu ciclo de vida, que são: introdução, crescimento,
maturidade e declínio

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 31
Forrester (1959) já alertava que o pico de rentabilidade típica de uma
indústria atinge o seu valor máximo diante do pico de vendas e, então
decresce até chegar a ponto de não rentabilidade.
Cox (1967) diz que o ciclo de vida consiste na evolução do produto, em
termo de vendas durante um certo período
O conceito de ciclo, termo de origem no grego kýklos, que significa uma série
de fenómenos cíclicos, ou seja, que se renova de forma constante.

O organograma abaixo descrito, procura mostrar a dinâmica da actividade de mukhero,


seguindo o conhecimento do “know-how”15 Vivenciado diariamente pelos praticantes da
actividade.

O organograma composto pelos pontos 1 a 7 observa pontos omissos, a seguir descritos:


No trajecto 2 a 3, o motorista passa de um “botle store” onde faz o levantamento das
compras de diversos tipos de bebidas espirituosas em quantidades calculadas
previamente adquiridas pelo mukherista de forma a “alavacar” a venda do produto
declarado, porém esta bebida não é declarada no acto do pagamento das taxas. Note-se
que este processo ocorre entre as fases 2 e 3.
O processo que se pode observar segue os caminhos pelos quais os mukheristas passam
no seu percurso de ida, compra, volta e revenda. Podendo observar-se casos omissos de
“contrabando” ou “transações ilegais.
“O contrabando é uma prática eminentemente geográfica,
podendo ser descrito como o comércio ilícito baseado nas
diferenças – de preço, qualidade e disponibilidade de mercadorias
– geradas pelas barreiras aduaneiras associadas à delimitação

15
Know-how é um termo em inglês que significa literalmente "saber como". É o conjunto
de conhecimentos práticos (fórmulas secretas, informações, tecnologias, técnicas,
procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um profissional, que traz para si
vantagens competitivas. Está directamente relacionado com inovação, habilidade e
eficiência na execução de determinado serviço. É um produto valioso resultante da
experiência. Fonte: https://www.significados.com.br/know-how/

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 32
dos Estados-Nação. Esse tipo de comércio internacional ilegal
exige de seus agentes o conhecimento da geografia aplicada da
fronteira, aprendida na experiência da condição fronteiriça”.
(Dorfman 2010a).
No trajecto 5 a 7, o motorista passa por diversas revistas “ineficazes” para certificar a
veracidade do que contêm nos documentos com o fisico e muitas vezes com o mukherista
seguindo adiante como “batedora” dos possiveis entraves até que a sua mercadoria
chegue ao mercado.
Os mukheristas para atravessarem a fronteira usam várias técnicas de contrabando como
excluir impostos, passar mercadorias proibidas, subornar, coagir, conforme a rede
mobilizada. Existe a relação dos mukheristas com os agentes de fronteira (alfandegários
e de migração) oscila entre conivência e punições legais.
Neste ciclo, denota-se também os mukheristas que possuindo uma “rede” de “mini-
contrabando”, identificaram algumas casas que foram transformadas em armazéns de
bebidas espirituosas sobretudo na fronteira do lado moçambicano, outrossim na mesma
fronteira alguns jovens são utilizados como carregadores de pequenas quantidades de
bebidas alcoólicas que ao atravessarem a fronteira para o lado moçambicano depositam
em casas que funcionam como armazéns. Os tais jovens conhecidos por “gai-gai” 16
,
fazem varias viagens por dia, escapando desta forma ao pagamento das taxas aduaneiras.
Depois de armazenadas as bebidas alcoólicas são transportadas por camiões para os
principais mercados informais da Cidade de Maputo.

16
Carregadores na linguagem local

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 33
4.7.1. Organograma de formas como o Mukhero opera

1. Identificação do Ciente com uma


necessidade específica, Motorista fretado/
particular leva o camião à fronteira

2. Prcesso de acreditação e levantanta a licnça


de importação temporária do lado da fronteira
7. O produto segue até ao mercado de moçambicana e aposterior o mesmo
Zimpeto pelo periodo de venda e segue-se procedimento no fronteira Sul-africana
novamente o processo .

3. Seguindo viagem até a farma ou market,


onde se encontra com o Mkherista que faz o
6. Os alfandegarios moçambicanos procedem pagamento da mercadoria, que em seguida
a verfificação dos documentos e ao pagamento sao carregados na viatura, levando consigo
das taxas da mercadoria declarada e liberam o as facturas em direccao ao aeroporto de
motorista Komatiport de volta.

4. No Aeroporto de Komatipornt, entrega se


as Facturas ao despachante, que usando a
5. Deseguida o motorista desloca-se a fronteiraA informação destas, preenche o Bill of entry,
da RSA com o documento até a fronteira submete as Alfandegas sul africanas, que em
moçambicana seguida verificam a mercadoria de forma a
dar uma posicao pautal da mesma.

Fonte: Adaptado Ferramentas de gráficos.

4.8 O Contrabando no mukhero

Para os residentes ou próximos a fronteira, comprar do outro lado da fronteira “não é


ilegal e nem imoral”, e para os residentes não faz sentido serem conotados como
contrabandistas, aliás, os preços praticados do outro lado da fronteira são baixos e eles
tem a facilidade de deslocação de um lado para o outro. Os praticantes de “mukhero de
sobrevivência”, apesar de filiados na associação contrabandeiam como forma de evitar
pagamento de elevadas taxas aduaneiras cobradas nas fronteiras, apesar de constituir uma
prática desencorajada pela Associação, segundo os seus estatutos.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 34
Reiterou que apesar de existirem membros da Associação envolvidos nesta prática não se
pode considerar o “mukhero” como arte de contrabando porque existem muitos
comerciantes informais que honram os seus compromissos fiscais e evitam fuga ao
fisco17. Contudo para os mukheristas fugir ao fisco é uma necessidade normal para
prosperar no negócio porque julgam que o Estado funciona como um “extorquidor”
cobrando aquilo que eles consideram de taxas aduaneiras elevadas e para os agentes das
Alfândegas, o trabalho na fronteira representa uma oportunidade elevar os seus
rendimentos e até mesmo para o enriquecimento ilícito. (Sudecar Novela,2019)

As regras de origem são o requisito primordial para se aferir se a dada mercadoria é ou


não originária de um determinado pais e, deste modo, permitir que a quem as importa ou
exporta, beneficiar e tratamento preferencial, isto é, obter a redução das tarifas aduaneiras
ou beneficiar-se da tarifa zero de direitos aduaneiros, desde que cumpram certos
requisitos18.
Dos inquiridos observou-se cerca de 34.53% não sabe o que é certificado de origem
21.58% afirma que não tem nenhuma influência, denotando “ignorância” nesse assunto e
optando pela “via rápida” na fuga ao fisco.
Pode notar-se certo comodismo por parte dos fornecedores de origem sul-africana pois
deixam os encargos para os mukheristas optando em vender sua mercadoria.
A frequência de aquisição denota-se pelo número de vezes em que são efectuadas as
compras de mercadorias.
A maioria dos inquiridos adquire a mercadoria uma vez ao mês totalizando 48.20%.

Tabela 9: Influencia do certificado de origem na actividade - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID % %
Femini Masc Feminin Mascul %
no ulino Total o ino Total
a) Reduz o custo da
mercadoria 15 10 25 10.79% 7.19% 17.99%

17
Fuga ao fisco que se caracteriza por ser uma fraude aduaneira que consiste em frustrar
ou burlar o pagamento de taxas aduaneiras.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 35
b)Aumenta o custo da
mercadoria 20 16 36 14.39% 11.51% 25.90%
c) Não tem nenhuma
influência 23 7 30 16.55% 5.04% 21.58%
d) Não sei o que é certificado
de origem 34 14 48 24.46% 10.07% 34.53%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

Tabela 10: Compra de mercadoria na África do Sul - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID Femini Masculi Tot % % %
no no al Feminino Masculino Total
39.57
a) Aos farmeiros 35 20 55 25.18% 14.39% %
b) Nas grandes lojas 35.25
(Market) 38 11 49 27.34% 7.91% %
24.46
c) No sector informal 19 15 34 13.67% 10.79% %
d) Outros. Especifique 0 1 1 0.00% 0.72% 0.72%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

Tabela 11: A frequência com que adquire os produtos - Fonte: elaborada pelo autor

Género
% Género
%
Feminin Masculin Tota % Masculin %
Inquérito_ ID o o l Feminino o Total
a) Uma vez por semana 21 12 33 15.11% 8.63% 23.74%
b) Duas vezes por
semana. 16 8 24 11.51% 5.76% 17.27%
c) Três vezes por
semana. 8 7 15 5.76% 5.04% 10.79%
d) Uma vez por mês. 47 20 67 33.81% 14.39% 48.20%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 36
4.8.1 Soluções do Contrabando do mukhero
A definição conjunta (Alfândegas e Comerciantes) das tarifas preferenciais a serem pagas
pelos comerciantes e o reembolso rápido do IVA por parte das Autoridades Sul-africanas
para que o comerciante não sinta lesado financeiramente. Mas para que este reembolso
aconteça é necessário que as Autoridades Sul-africanas emitam na hora os certificados de
origem19 das mercadorias e o valor real da compra das mercadorias.
Como forma de parar com o contrabando optando pela formalização e questionados sobre
o que poderia levar-lhes a formalização, dos inquiridos 20.86%, 24.46% e 20.14% numa
escolha de três optaram escolheram por serviços gratuitos para o processo de
formalização que na sua óptica reduziria o excesso de burocracia, segurança e assistência
jurídica gratuita que lhes possibilitariam compreender os diversos processos de
importação e o Apoio técnico do Estado na formalização na qualidade de cidadãos como
forma do Estado lutar contra a pobreza absoluta.

Tabela 12: Das razões listadas e indique três que poderia levar-lhe a optar pela formalização - Fonte: elaborada
pelo autor

Género % Género
Inquérito _ID % %
Femi Mascu Tot Femini Masculi %
nino lino al no no Total
a) Serviços gratuitos para o 20.86
processo de formalização. 21 8 29 15.11% 5.76% %
b) Segurança e assistência jurídica 24.46
gratuita 24 10 34 17.27% 7.19% %
c)Apoio técnico do Estado na 20.14
formalização 20 8 28 14.39% 5.76% %
d)Redução da carga tributaria para 11.51
a actividade. 8 8 16 5.76% 5.76% %
9.35
e) Requisitos mais simplificados 7 6 13 5.04% 4.32% %
13.67
f)Acesso a serviços bancários 12 7 19 8.63% 5.04% %
100.0
Total 92 47 139 66.19% 33.81% 0%

19
Certificado de Origem é um documento a ser providenciado pelo exportador junto às entidades
específicas, que comprova a origem da mercadoria e permite a ambas as partes uma isenção ou redução
de impostos decorrentes dos acordos internacionais.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 37
4.9 Princípios do planeamento no “mukhero”

Para CHIAVENATO (2000, P.14), princípio é uma afirmação, uma proposição geral
válida e aplicável para determinados fenómenos, é uma previsão antecipada do que deverá
ser feito quando ocorrer aquela determinada situação, é um guia de acção.
Para que o planeamento seja eficiente, eficaz e efectivo ele deve seguir os seguintes
princípios básicos:
 Princípio da definição dos objectivos: o planeamento deve ser elaborado em
função dos objetivos que se quer alcançar assim eles devem ser definidos de forma
clara e concisa, pois a finalidade do planeamento é determinar como que os
objectivos podem ser alcançados;
 Princípio da flexibilidade: uma vez que o planeamento se refere ao futuro breve,
ele deve ser flexível e elástico, para se adaptar as situações que podem sofrer
alterações, nem sempre previstas; no processo de transporte, devem sempre ter
dinheiro para fazer face a pequenas contingências;
 Princípio da participação: o planeamento será tanto mais efectivo e eficaz na
medida em que envolva e contemple no processo de elaboração, execução e
avaliação todas as áreas, sectores e pessoas envolvidas;
 Princípio da coordenação: deve haver sincronia, inter-relação e articulação entre
os vários aspectos envolvidos no planeamento de modo a que eles actuem
interdependentemente e de modo integrado;
 Princípio da permanência: o planeamento deve ser constantemente revisto para
que possa permanecer actual e válido.

Os “mukheristas”, tanto formais ou informais lidam com estes princípios e muita das
vezes sequer avaliam que passam por eles, uma vez tornarem-se rotina no seu quotidiano
quando tem de atravessar a fronteira para mais um dia de trabalho, antes de transpor a
fronteira, devem saber, exactamente para onde vão, serem rápidos nas negociações,
procurar perceber que equipa da AT pode atrapalhar a passagem para que sua mercadoria
não seja apreendida e após chegados ao destino redistribuem e voltam ao primeiro
princípio. Muito deles preferem ser informais porque não tem de lidar com estes

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 38
directamente, vão se organizando na desorganização organizada deles como forma de
evitar falência

4.10 Principais Actividades do Comércio Informal Em Maputo


O Comércio de bens alimentares; comércio de bens e equipamentos industriais; Prestação de
serviços mercantis.
Segundo os inquiridos a maioria dos produtos importados são de produtos frescos perfazendo
43.17% mas a realidade mostra que as bebidas apesar de ocuparem 7.19% são o grosso mas todos
os inquiridos não quiseram admitir esse facto.

Tabela 13: Os tipos de produtos que importa da África do Sul - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID % %
Femini Mascul Femi Masc %
no ino Total nino ulino Total
a) Produtos frescos (batata, repolho, 29.50 13.67 43.17
cebola, tomate, alho, couves, fruta) 41 19 60 % % %
b) Diversos de Mercearia (leite, 10.79 17.27
cremor, milo, óleo de cozinha, trigo) 15 9 24 % 6.47% %
c) Loiça (artigos de plástico, 10.07 13.67
porcelana, vidro) 14 5 19 % 3.60% %
12.23
d) Produtos de beleza 12 5 17 8.63% 3.60% %
e) Roupa 4 5 9 2.88% 3.60% 6.47%
f) Bebidas 6 4 10 4.32% 2.88% 7.19%
66.19 33.81 100.0
Total 92 47 139 % % 0%

4.11. Ciclo de vida do produto

Forrester (1959) já alertava que o pico de rentabilidade típica de uma indústria atinge o
seu valor máximo diante do pico de vendas e, então decresce até chegar a ponto de não
rentabilidade.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 39
Levitt (1965) considera que a história de vida dos produtos mais bem-sucedidos tem
certos estágios que são reconhecíveis. Eles ocorrem na seguinte ordem:
 Estágio 1-desenvolvimento do mercado: é quando um novo produto é trazido ao
mercado pela primeira vez, e ainda não há demanda. O produto não foi testado
tecnicamente. As vendas são baixas e se arrastam lentamente.
 Estágio 2-crescimento do mercado: há um crescimento da demanda e o mercado
se expande.
 Estágio 3-maturidade do mercado: a demanda nivela-se e cresce devido à
reposição e formação de novas famílias.
 Estágio 4-declínio do mercado: o produto começa a perder o apelo e as vendas
caem

Cox (1967) diz que o ciclo de vida consiste na evolução do produto, em termo de vendas
durante um certo período. Porter (1991) considera as seguintes etapas:
1) Introdução.
2) Crescimento.
3) Maturidade.
4) Declínio

Christensen et all., chamam a atenção para o facto de que a vida de um produto não é
eterna, mas passa por diferentes níveis de venda, e como os seres vivos: nascem, crescem,
chegam à maturidade e morrem.
Diversos autores como Clifford (1971), Dean (1976) chamam a atenção para o ciclo de
vida dos produtos e, afirmam que as empresas devem traçar estratégias compatíveis com
os diferentes estágios em que se encontram.
Segundo Kotler (1994), o produto tem ciclo de vida quando:
 Os produtos têm vida limitada
 As vendas do produto passam por estágios distintos e cada um coloca desafios
diferentes.
 Os lucros do produto crescem e diminuem ao longo dos diferentes estágios do
ciclo de vida do produto.
 Os produtos requerem estratégias diferentes de marketing, finanças, produção,
compras e de pessoal nos diferentes estágios de seu ciclo de vida.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 40
Analisando os autores acima descritos pode-se constatar que ambos abordam um ciclo de
quatro estágios que seguem os mesmos pressupostos aplicados pelos “mukheristas”, uma
vez que na sua actividade iniciam o negócio, que pode ser comparada com a 1ª fase
seguindo o crescimento equiparada com a 2ª fase, com o desenvolvimento e experiência
ganham maturidade equiparada com a 3ª fase e por fim quando os problemas de liquidez
iniciam e perca de clientes ou fornecedores introduzem a 4ª fase, quando se deixam estar
e vão à falência. Vide a figura 5.

Figura 2: Ciclo de vida do produto ou serviço - Fonte: Adaptado ciclo de vida do produt (Levitt,1990)

O ciclo de vida de um produto ou serviço indica a possibilidade do crescimento do


mercado consumidor e também indica princípios de acção que podem ser seguidos no
planeamento de marketing.
Segundo Philip Kotler, existem 4 p’s, do marketing, nomeadamente o preço, praça,
promoção e Publicidade.
Os “mukheristas” usam bem os 4 p’s definidos por Kotller, aplicados no mercado de
Zimpeto, pois toda a sua actividade embora uns de forma “ignorante” não percebem a
explicação mas usam nas na sua actividade.
A aplicabilidade disto paras os mukheristas no geral cinge em dominar o principio do
negocio, sabendo em que épocas e quais produtos e onde podem adquiri-los usando
conhecimentos empíricos mas que comparavam-se com uma certa rigidez de aplicação
de alguns princípios de marketing de gestão básicos.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 41
4.12. Fontes de financiamento do produto

O processo de financiamento em que os praticantes de “mukhero” usam para alavancar o


seu investimento maioritariamente vem de actividades de xitique20. A tabela a seguir
mostra que 37.41% aplica essa fonte de financiamento seguido do empréstimo recebido
de um familiar ou amigo num total 25.90% e a minoria em que os inquiridos apontam
uma fonte que não descrevem qual em específico num total de 0.72%.

Tabela 14: Quais as fontes de financiamento para esta actividade - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_ ID
% %
Femi Mascu Tot Femini Mascul
nino lino al no ino % Total
a) Empréstimo recebido de um
familiar ou amigo. 24 12 36 17.27% 8.63% 25.90%
a) Xitique 34 18 52 24.46% 12.95% 37.41%
b) Empréstimo recebido de um
familiar ou amigo. 1 1 2 0.72% 0.72% 1.44%
b) Empréstimo solicitado a uma
instituição de crédito 14 7 21 10.07% 5.04% 15.11%
c) Poupanças pessoais 19 8 27 13.67% 5.76% 19.42%
d) e) Outra Especifique 0 1 1 0.00% 0.72% 0.72%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

20
Palavra Tsonga que significa poupança

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 42
CAPÍTULO V: Apresentação e discussão de resultados

Aplicação do Principio de Pareto Pelo "Mukheristas"

Os mukheristas ainda que de forma tímida e ignorante aplicam este princípio, segundo
umas das nossas inquiridas:
“Há vezes que ganhamos muito dinheiro quando o processo de compras
corre de forma rápida e não temos perdas e nesse mesmo sentimos que
gastamos pouco dinheiro para comprar os produtos” (ID_75, 39 anos).
O importante aqui não é apenas compreender a regra de Pareto e quais são os 20% de
clientes que trazem o lucro, mas sim entender o motivo dos 80% restantes terem pouca
representatividade nas vendas de seus produtos e como os mukheristas podem melhorar
as suas vendas numa análise comparativa transitória do sector informal para o formal,
ainda que se observe alguns critérios “atónitos” de afirmarem que eles tem muitas vezes
o poder negocial e podem saber observar quando tem os ganhos e as respectivas perdas.

5.1.Conceito do Princípio de Pareto

O Princípio de Pareto foi descoberto em 1897 (também conhecido como princípio 80-
20), afirma que para muitos fenómenos, 80% das consequências advêm de 20% das
causas. Desde então, sua descoberta tem sido chamada por muitos nomes, incluindo
Princípio de Pareto, Lei de Pareto, Regra 80/20, Princípio do Menor Esforço e Princípio
do Desequilíbrio. O princípio foi sugerido por Joseph M. Juran, que deu o nome em honra
ao economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923)21.
O Princípio 80/20 nos diz que, em qualquer população, algumas coisas são muito mais
importantes do que outras. Uma boa referência ou hipótese é que 80% dos resultados ou
dos produtos derivam de 20% das causas e, às vezes, até de uma proporção ainda menor
de forças poderosas.

21
Koch, Richard O princípio 80/20 : os segredos para conseguir mais com menos nos negócios e na vida /
Richard Koch ; tradução Cristina Sant’Anna. – 1. ed. – Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2015

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 43
5.2. Conceito de Comércio Informal, Abrangência e Características

Por seu turno, num estudo sobre a realidade na África Ocidental, Webster e Fidler (1996)
identificam como sector informal
“as pequeníssimas empresas, tipicamente as que empregam 10 ou menos
trabalhadores, a vasta maioria das quais são empresas singulares com um
reduzido número de assalariados”.

Esta forma de conceber o sector informal tem a particularidade de assentar na definição


do tamanho da empresa com base na quantidade de mão-de-obra que emprega,
concomitantemente em Moçambique os praticantes de “mukhero” apresentam-se também
em número inferior a dez.

5.2.1 Causas e ocorrências

No decurso da pesquisa dos “mukheristas” que aplicam o princípio de Pareto, até


descobrirem onde concentrar os 20% de seu foco, passam por um quadro resumo por
forma a construir o diagrama de Pareto de sua actividade.
Os “mukheristas” sabem que 1/5 das potenciais causas levam a 4/5 dos problemas,
embora possa a relação não seja perfeitamente exacta mas pode mostrar onde concentrar
a prioridade na resolução dos problemas.
Apesar da tendência crescente dos “mukheristas”, procurarem a formação académica o
que no seu ramo de actividade parece ínfimo pois por vezes procuram uma solução
imediata pra resolver determinado assunto.

Tabela 15: Foco do “mukheristas”- Fonte: Tabela amostra por meio da entrevista
Total das % %
Motivo de Perda de clientes ocorrência Acumulad Ocorrência
s a s

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 44
Recusa e devolução na origem 48 34.53% 34.53%
Produtos que não atendiam as
38 61.87% 27.34%
Especificações
Falta de produto nos revendedores 18 74.82% 12.95%
Produtos/embalagens fora do prazo 17 87.05% 12.23%
Erro humano 11 94.96% 7.91%
Avaria do meio de transporte 5 98.56% 3.60%
Defeito na refrigeração 2 100.00% 1.44%
Total 139

5.2.1. Gráfico do Diagrama de Pareto

O gráfico mostra que os “mukheristas” devem concentrar-se na percentagem que aparece


mais expressiva, no caso em 34.53%, que demonstra que atravessar para a RSA sem antes
verificar se o fornecedor possui ou não o produto por forma a ser adquirido pode levar
que incorra em custos desnecessários, caso aconteça a devolução na origem.

Gráfico 1: De Pareto

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 45
Gráfico de Pareto
98,56% 100,00% 100,00%
94,96%
90,00%
120 87,05%
80,00%
74,82%
100
70,00%

61,87% 60,00%
80
50,00%
60
48 40,00%
34,53%
38 30,00%
40

20,00%
18 17
20
11
10,00%
5
2
0 0,00%

Total das ocorrências % Acumulada

5.3. Interpretação de dados

O Sector informal em Moçambique constitui fonte de emprego e recursos de


sobrevivência da maior parte da população. Maioritariamente dominado por mulheres, é
através deste sector que se observa certa mobilidade social das populações urbanas,
garantindo educação, saúde e até lazer para as suas famílias.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 46
A mulher constitui um dos maiores intervenientes do sector informal, nas cidades da
África Subsaariana as mulheres que se dedicam a uma serie de pequenas actividades
geradoras de rendimentos são cada vez numerosas.
No entanto, a sua participação no sector informal não deve ser vista a partir de
uma perspectiva individual, mas também como uma estratégia do grupo familiar”
(BONNARDEL, 1991:17)

Apesar do “mukhero” reduzir a pobreza e permitir criação de riqueza, esta actividade


encontra-se bloqueada no que concerne à sua expansão devido aos determinantes
institucionais sobretudo, pela precariedade dos mecanismos de financiamento disponíveis
(recurso ao “xitique” e empréstimo de amigos e familiares), o que não permite sua
contribuição no alargamento e diversificação da base produtiva da economia nacional.
Geralmente são pessoas com baixo nível de vida, que encontram-se no sector informal, a
“bóia de salvação das inspirações de sobrevivência, ao descobrir nele formas de
actividades ainda que ínfimas ou intermitentes em termos de remuneração que
lhes permite não morrer de fome” (ANDRADE, 1992:79).

Com base na tabela dinâmica, do universo dos inquiridos, 74 mukheristas que


representam a fasquia de 53.24% afirmaram categoricamente que sim, a actividade reduz
a pobreza e questionados ainda sobre a rentabilidade da actividade e justificando, pôde-
se apurar que 84 mukheristas que perfazem 60.43% também afirmam que sim, a
actividade é rentável, outrossim uma minoria insignificativa teima em afirmar que a
actividade não é rentável e que tem lhes acarretado prejuízos num de 8 (4+4) mukheristas
perfazendo 5.76%22.

Tabela 16: Cruzamento “mukhero ajuda a reduzir a pobre e a actividade é rentável - Fonte: elaborada pelo autor

Género % Género
Inquérito_
ID Feminin Masculin Tota % %
o o l Feminino Masculino % Total
a) Sim 61 20 81 43.88% 14.39% 58.27%
b) Não 9 9 18 6.47% 6.47% 12.95%
C)Depende 11 8 19 7.91% 5.76% 13.67%

22
Prejuízo 2.88% + Pouco 2.88%. Vide tabela 21

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 47
d)Sigilo 7 3 10 5.04% 2.16% 7.19%
e)Prejuízo 1 3 4 0.72% 2.16% 2.88%
f)Pouco 1 3 4 0.72% 2.16% 2.88%
Abstenção 2 1 3 1.44% 0.72% 2.16%
100.00
Total 92 47 139 66.19% 33.81% %

O Governo de Moçambique não apresenta nenhuma estratégia com o objectivo de


capitalizar as potencialidades do sector informal. Os “mukheristas” têm consciência deste
aparente “abandono”, o que é ilustrado pelo facto de na sua maioria preferirem continuar
informais.
A estabilidade financeira visa suprir a necessidades básicas pois nota-se por parte de
alguns mukheristas a respostas seguintes:
“Eu já trabalho e nada ganho, preferi optar por esta actividade para ajudar os
meus filhos. Sou uma viúva e dependo de mim mesma” (ID_111, de 41 a 50 anos,
5º Classe).

“ Vi, minha vizinha a melhorar a casa dela, e decidi ajudar o meu marido, porque
ficar em casa não ajudava e decidi lutar…” (ID_75, 36 a 40 anos, 7º Classe).

Tabela 17: Mukheristas por sexo - Fonte: elaborada pelo autor

Praticantes Total % Calculada


Mulheres 92 66.19%
Homens 47 33.81%
Total 139 100.00%

Gráfico 2: Gráfico percentual de colunas

% calculada
100%

50% 66.19%
33.81%
0%
Mulheres Homens

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 48
5.4. Ilações sobre o tempo e volume de vendas

As lógicas que caracterizam os “mukheristas” são diversas e passíveis de assumir, no que


tange ao tempo, volume de vendas e o fluxo de mercadorias para os clientes, que pude
constatar dos dez entrevistados exerciam a actividade “mukhero” há mais de 10 anos e
obedeceram etapas de crescimento, nomeadamente:
 Aquisição de produtos de primeira necessidade e distribuí-los para os interessados
nas suas residências como nas empresas;
 Com o tempo foram crescendo para as pequenas lojas, vulgos contentores ou lojas
convencionais;
 Dos entrevistados, as mulheres disseram ainda que começaram a vender produtos
de vestuário de cozinha e mais tarde, por causa da oscilação de preços no local de
aquisição, dificuldades de manipulação nas fronteiras e falta de aderência em
todas as épocas do ano preferiram aderir aos produtos da primeira necessidade e
bebidas;
 Com a experiência na actividade, passaram a depender do mercado, em particular
dos produtos solicitados.

A quantidade de produtos importados depende grandemente das encomendas, pelo que


não possuem uma estimativa exacta do quanto importam mas trabalham com produtos de
primeira necessidade, funcionando uma relação de honestidade com os eus clientes, pois,
os produtos são distribuídos aos interessados e depois de um período de duas ou mais
semana, voltam para cobrar, tornando-se um ciclo repetitivo.

5.5. Interpretação de dados

A associação dos “mukheristas” apesar da fraca ou desistência por parte de alguns


membros integrantes, tem enveredado por múltiplos encontros com vista, entre outros
objectivos, buscar soluções para que a actividade dos pequenos importadores seja feita
com normalidade porque estes contribuem em grande medida para o desenvolvimento
socioeconómico do país. Não obstante, alguns “mukheristas” exerçam a sua actividade
fora da lei, isto é, sem licença o que implica o não pagamento de impostos.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 49
5.5.1. Verificação da primeira hipótese

Na hipótese H1, pode confirmar-se que pelos dados os “mukheristas” optam pelo
informal, não só pela falta de sensibilização por parte do Governo, ou da entidade de
tutela, mas também pelo facto de encontrarem um mercado favorável, onde são obrigados
a movimentarem grandes volumes de produtos da primeira necessidade e pelo facto de
não haver vontade por parte de alguns “mukheristas” que por se encontrarem numa
situação de fuga ao fisco, em que deparam-se com os agentes da AT que mantém o
cumprimento da lei como forma de pagamento, optam por requisitar alguns produtos ao
invés de se fazer sentir como autoridade ou fazer cumprir a lei vigente, nascendo um ciclo
de corrupção invisível.

5.5.2. Verificação da segunda hipótese

Noutra hipótese, H2, confirma-se pelo facto das autoridades aduaneiras, apesar de usarem
os principais canais de comunicação usados pela AT, com vista a promover uma educação
fiscal aos cidadãos, são as televisões, rádios, jornais, revistas (eletrónicas), cartazes e a
internet. De todos estes canais, a televisão, a rádio e a internet são os canais mais usados,
devido ao nível de abrangência que estes meios possuem.

Desde 2010, foram desenvolvidas várias actividades inseridas no plano, para promover a
educação fiscal e aduaneira e popularização do imposto, incutindo a cidadania fiscal e
induzindo ao cumprimento voluntário das obrigações fiscais, concorrendo para o
alargamento da base tributária.
Apesar desse esforço os “mukheristas” sentem-se excluídos, o que faz com que lutem
contra a formalização. Ainda pelos dados colhidos junto aos “mukheristas”, confirmam a
hipótese pelo facto de que todos já tentaram formalizar a actividade, e nunca tiveram
facilidades para o efeito, por isso alguns até remeteram o expediente que nunca foi aceite.
A única autorização que tem é de circulação de bens através de confirmações de compras
de produtos na proveniência.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 50
CAPÍTULO VI: Conclusões e Recomendações

Conclusões

Na amostra composta por 139 inquiridos e praticantes do “mukhero”, pôde-se constatar


o seguinte:
A taxa por praticantes representa 66.19% de mulheres num total de 92 e 33.81% de
homens num total de 47 distribuídos em faixas etárias que variam dos abaixo de 30 anos
até acima de 50 anos de idade tal como consta da tabela dinâmica analisada, dos
inquiridos 53.24% não conhecem nenhum processo de formalização da actividade e dos
documentos necessários, 45.32% não paga nenhum tipo de imposto, o nível de
escolaridade de maior predominância situasse entre a 5ª e 7ª classes situando-se no
intervalo de] 33.81% : 36.69%[, o que constitui um entrave para a percepção dos modelos
alfandegários adoptados, caso do certificado de origem em que a maioria de 34.53%
sequer sabe o que significa certificado de origem e 21.58% acha que o mesmo não tem
qualquer influência no seu negócio. Contudo a maioria sente-se bem em não praticar o
“mukhero” de forma formal, na verdade não tem qualquer interesse por acharem-se
capazes de executar de forma espontânea seguindo o seu ciclo de vendas.

Muitos “mukheristas”, viajam à África do Sul para efectuar a restocagem23, pelo menos
duas vezes por semana. Isto sugere que uma parte do seu rendimento dilui-se neste
processo, atendendo que há um aproveitamento da sua condição de semilegalidade ou
ilegalidade por parte dos oficiais alfandegários que usam as fragilidades institucionais
para executarem o comportamento de procura de renda, pois a maioria dos “mukheristas”
não conhece os requisitos necessários para agir legalmente. Por outro lado, os agentes
alfandegários raramente se disponibilizam a conceder essa informação. Aliás, o que
acontece, de acordo com Novela (2011), é, os funcionários fronteiriços tenderem a
dificultar o máximo como forma de desincentivar os “mukheristas” a actuarem em

23
Reposição de stock.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 51
conformidade com as normas e tornarem-se importadores formais, agravado com o facto
de muitos deles não terem o domínio da língua portuguesa.

O controlo do mercado informal, pelos “mukheristas” começa a complicar-se facto que é


justificado pelo aumento massivo de entidades singulares ou colectivas que exercem esta
actividade, sem a intersecção das autoridades aduaneiras ou fiscais. O facto ainda mais
curioso, parte destas entidades não estão devidamente autorizadas em dois sentidos,
primeiro para movimentarem volumes avultados de mercadorias e em segundo lugar a
comercialização dos mesmos, ainda que seja de entrega domiciliar ou as empresas.

Pela constatação feita sobre a negociação não legal que tem-se verificado na hora de
exigência aduaneira, mostra ainda uma fraqueza do sistema de cobrança que tocam até na
idoneidade de alguns dos funcionários afectos nos postos de cobrança e vistos
fronteiriços. Estes factos geram prejuízo para os cofres do Estado o que leva a diminuição
do volume de receita a cobrar. Por outro lado pelo facto destes “mukheristas”
alfandegários”, não pagarem a taxas referentes a comercialização dos produtos, que
importam, passam automaticamente a infringir as leis, que regulam, e obrigam ao
pagamento fiscal.
Muitos preferem optar pelo informal, pelos esquemas previamente traçados de fuga ao
fisco, o que se observa que alguns “mukheristas”, em muitos casos mulheres que exercem
a actividade há algum tempo, possuem camiões pessoais para o transporte da sua
mercadoria, quando muitos recorrem aos serviços de transportadores que se dedicam a
essa actividade particular. Para além disso, estas mesmas senhoras ostentam colares,
brincos e pulseiras de ouro, o que dá visibilidade à sua prosperidade e estatuto
comparativamente com os outros agentes que operam no mesmo mercado.
À primeira vista, o operador pobre distingue-se do não pobre pelo espaço que ocupa
dentro do mercado. Os “mukheristas” comercializam os seus bens em camiões e em
bancas24 enquanto alguns intermediários e os que vendem de forma fracionada25 ficam na
cintura do mercado, ao sol e com os produtos amontoados por cima duma capulana ou

24
Alpendres construídos para o efeito.

25
Venda aos "montinhos″.

Chissano, Mário Luís: A transição dos vulgos “mukheristas do informal para o formal (Um estudo de caso do Mercado do Zimpeto
em Maputo) 52
cartolina. A distinção pode ser feita inclusive através da indumentária. Contudo, poucos
neste último grupo se consideram pobres, pois para estes só se está em situação de pobreza
quando se é incapaz de trabalhar por motivos de doença e sem condições de alimentar a
si e sua família.
Quanto aos “mukheristas”, reconhecendo que estão a exercer actividades fora da lei, seria
do interesse também da associação, ou de cada um, singularmente interagir
constantemente com as entidades competentes na formalização da sua actividade como
singulares ou colectivos.

6.1.Recomendações

Os “mukheristas” têm consciência deste aparente “abandono”, por vezes pagam taxas
inexistentes mesmo pelo medo de perguntar aos técnicos da AT por forma a legalizarem
a actividade informal que abraçaram.
Perante toda a situação descrita anteriormente recomenda-se:
 Responsabilidade das entidades aduaneiras ou fiscais, para fazer o
acompanhamento da actividade comercial informal;
 A divulgação das tipologias de obrigações aduaneiras ou fiscais segundo a
tipologia de serviço ou actividade;
 Reconhecer os fenómenos decorrentes, e recorrer a termos legais e combinados,
para ordenar uma determinada actividade, ou fazer-se cumprir com o que estiver
estipulado pela lei;
 Criar um canal para a discussão de aspectos que provavelmente estejam a ferir
o modo operandi de alguns técnicos da AT;
 Alargar as propagandas sobre os impostos para as rádios e televisões
comunitárias de modo a tornar a informação mais abrangente;
 Criar uma central de registo dos “mukheristas”.

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em Maputo) 53
6.2. Bibliografia

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www.portaldogoverno.gov.mz. Acesso em 14 de Maio de 2018

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Lei nº 15/2002, de 26 de Junho: Estabelece os Princípios do Sistema Tributário de


Moçambique

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6.3.Anexos

02 Lista Nominal dos Entrevistados No Mercado do Zimpeto (ID_1 até ID_139)


03 Guião das entrevistas realizadas no Mercado do Zimpeto
04 De3creto sobre a publicação das Associações “mukheristas”
05 Comissões de trabalho da associação Mukherista
Certificado de origem
Declaração do produtor
Diversos

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