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Sob a Autoridade Espiritual de S.E.

Kalu Rinpoche

Bokar Rimpoche

Bodhisattva ‐ Ajanta, Índia ‐ Séc. VIII

Centro Budista Tibetano Kagyü Pende Gyamtso ‐ DF 425 ‐ Condomínio Jardim América ‐ Lotes F1/F3 ‐ G2/G4
Sobradinho II ‐ DF ‐ Cep: 73070 ‐ 023 ‐ Fone: (61) 34 85 06 97 ‐ Email: sanghakpg@yahoo.com.br
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Índice
Apresentação
Sobre o texto
Sobre o autor
Parte I : O voto
1] Natureza do voto
Natureza do voto de Bodhisattva
Definição do voto de Bodhisattva
Subdivisões da Bodhicitta
Importância da Bodhicitta
Quem pode tomar o voto
Seres aptos a tomarem o voto
A presença do Mestre

2] O Bodhisattva
Aprendiz Bodhisattva
As Terras dos Bodhisattva
Bodhisattvas como emanações dos Budas
Sentido da Palavra
Atividade dos Bodhisattvas
As quatro atividades
Atividade Irada
O Navegador Grande Compaixão

3] O Buda e a Bodhicitta
1_De acordo com o pequeno veículo
A história da oferenda de sopa
Rei Mais Luminoso e o Elefante Furioso
O Futuro Buda liberto do inferno
2_De acordo com o Grande Veículo
Poeira do Oceano semelhante ao Lótus Branco

4] Cerimônia
1_Fase preparatória
a) Solicitação
b) Acumulação de mérito
2_Corpo da cerimônia
a) Voto da Bodhicitta de aspiração
b) Voto da Bodhicitta em ação
3_Conclusão
a) Endereçar aos Budas e Bodhisattvas
b) Alegria dos Budas e Bodhisattvas
c) Tomando o voto com plena consciência
d) Explanação sobre os preceitos
1) Preceitos da Bodhicitta de aspiração
1‐Não rejeitar nenhum ser
2‐Lembrarmos‐nos dos benefícios da Bodhicitta
3‐Fazer a acumulação de mérito e sabedoria
4‐Renovar o voto a cada dia
5‐Evitar os quatro atos negros e praticar os quatro atos brancos
2) Preceitos da Bodhicitta em ação
4_Regozijo
5_Dedicatória

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Parte II : Os preceitos
1] Os preceitos da Bodhicitta de aspiração
1_Transgressões raízes de acordo com a Tradição da Visão Profunda
A) 14 transgressões de indivíduos com capacidades superiores
‐Cinco transgressões‐reis
‐Cinco transgressões‐ministro
‐Oito transgressões‐povo
B) 4 transgressões raízes de indivíduos com capacidades medíocres
C) Único preceito raiz de indivíduos com capacidades inferiores
2_Transgressão raiz de acordo com a Tradição da Ação Vasta
3_Transgressão secundária de acordo com a Tradição da Ação Vasta
4_Preceitos comuns de ambas as Tradições
5_Purificando‐se das transgressões
_Quatro fatores determinantes
_Purificando‐se da malevolência
_Purificando‐se da quebra do voto
_Purificando‐se da transgressão

2] Visão geral das seis Paramitas


1_Generosidade
a) Doação material
b) Dar proteção
c) Doação de Dharma
2_Ética
a) Ética que mantém o voto
b) Ética que realiza as acumulações
c) Ética que realiza o benefício do outro
3_Paciência
a) Paciência diante dos inimigos
b) Paciência diante do sofrimento
c) Paciência diante da verdade do Dharma
4_Diligência
a) Armadura da diligência
b) Diligência aplicada
c) Insaciável diligência
5_Concentração
a) Primeiro nível
b) Segundo nível
c) Terceiro nível
6_Sabedoria
a) Sabedoria temporal
b) Sabedoria espiritual inferior
c) Sabedoria espiritual superior

O Sutra das Três Acumulações


Texto Tibetano
Os trinta e cinco Budas
Pequeno Glossário

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Tomando o Voto do Bodhisattva
Bokar Rinpoche

Apresentação

Sobre o texto
O Budismo oferece várias perspectivas, cada uma tem várias teorias, métodos de
práticas e engajamentos. A mais comum divisão é a em três veículos, cada um com
objetivos e votos particulares.
• O Pequeno Veículo (Hinayana) leva o praticante à libertação do samsara numa
perspectiva individual. Os votos, chamados “votos de libertação individual”, são
relacionados ao Pequeno Veículo. São os vários votos de monges ou monjas (menor e
maior ordenação) e os votos do praticante leigo.
• O Grande Veículo (Mahayana) tem o objetivo de obter a Iluminação plena, a
perfeita Natureza de Buda, não para alcançar a felicidade pessoal, mas para ser capaz
de guiar todos os seres para a cessação do sofrimento; o voto de Bodhisattva é
relacionado a isso.
• O Veículo do Diamante (Vajrayana) aparece como uma expansão do Grande
Veículo. Seu objetivo é idêntico. A sua diferença é que utiliza métodos bem conhecidos
para realizar resultados rapidamente. Nele estão contidos muitos compromissos
sagrados, chamados samayas.
A finalidade deste trabalho é apresentar uma clara exposição do voto inerente
ao segundo desses veículos, o Mahayana. Muitas pessoas escutaram sobre o voto de
Bodhisattva; de fato, elas tomaram verdadeiramente o voto, mas restaram incertezas
quanto a sua verdadeira natureza e implicações. Aqui, encontraremos respostas
precisas a questões como: o que é um Bodhisattva; o que é a Bodhicitta; o que são os
compromissos de se tomar o voto; quem pode tomar o voto; como se purificam as
transgressões; dentre outras.
Os ensinamentos transcritos aqui foram dados por Bokar Rinpoche em
Bodhigaya em Novembro de 1995, durante um seminário de estudo e meditação
voltado a ocidentais. Alguns desses ensinamentos foram passados durante longas
cerimônias de tomada do voto do Bodhisattva. Tais cerimônias ocorreram sob a copa
da árvore Bodhi, onde o Buda alcançou o Despertar. Outros ensinamentos foram
resultados de entrevistas privadas.
Bokar Rinpoche se referiu a vários textos ao transmitir esse ensinamento.
- O Precioso Ornamento da Liberação (Dhakpo Thargyen) de Gampopa;
- O Adorno de Lápis‐lazúli (Bedurya tratsom) de Khenpo Lodro Donyo, um
comentário sobre o precedente texto, explicando o que se apresentou de forma alusiva
ou incidental no texto de Gampopa;
- O Tesouro de Todo o Conhecimento, (Sheja zo) de Jamgon Lodro Taye, que
notavelmente facilita a compreensão das transgressões;
- O Guia da Conduta dos Bodhisattvas (Bodhisattvacharyavatara) de Shantideva, o
texto fundamental que ilustra o caminho do Bodhisattva.

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Sobre o Autor
Bokar Rinpoche nasceu no Tibet no ano do Dragão de Ferro (1940) em uma
família nômade de pastores de ovelhas, cavalos, yaks e cabras.
Ele tinha quatro anos quando Sua Santidade o Décimo sexto Karmapa, líder da
escola Kagyupa, o reconheceu como tulku – renascimento do Bokar Rinpoche anterior.
Educado primeiramente no monastério fundado pelo seu renascimento anterior, ele
continuou seu treino em Tsurphu, onde se localiza o Trono dos Karmapas. Em uma
idade ainda precoce, se encarregou da Comunidade de Bokar no Tibet Ocidental, não
muito distante do Monte Kailash, que é um dos mais importantes lugares sagrados do
Hinduísmo e Budismo.
A invasão chinesa implicou em seu exílio quando tinha vinte anos. Após muitas
dificuldades, ele foi capaz, com todos aqueles que resolveram segui‐lo, de chegar a
Mustang no Nordeste do Nepal, e depois chegar à Índia.
Na Índia encontrou Kalu Rinpoche. Ele se tornou o chefe dos discípulos de Kalu
Rinpoche e era reconhecido como o sucessor de Kalu como o líder da linhagem
Shangpa Kagyu – uma das oito grandes linhagens budistas que foram da Índia ao
Tibet.
Bokar Rinpoche duas vezes realizou o tradicional retiro de três anos e três
meses em Sonada, o monastério indiano de Kalu Rinpoche localizado não muito longe
de Darjeeling.
As impressionantes qualidades de Bokar Rinpoche fizeram com que ele fosse
escolhido por Kalu Rinpoche para ser diretor dos centros de retiro em Sonada, e por
Sua Santidade o Décimo sexto Karmapa para tomar conta do centro de retiro de
Rumtek, o novo centro do Karmapa no Sikkim, um território indiano entre o Nepal e
Butão. Em Mirik, Bokar Rinpoche também fundou um monastério e um centro de
retiro dedicados à prática de Kalachakra. Essas funções fizeram dele um dos grandes
mestres de meditação da escola Kagyupa.

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Bokar Rinpoche se preocupa bastante com a preservação e transmissão dos
Ensinamentos do Buda nos nossos difíceis e atribulados dias de hoje. Ele se esforça
nesse sentido nas seguintes áreas:
- com os tibetanos exilados, direcionando seus estudos e práticas no monastério
em Mirik e ajudando, o máximo possível, os monastérios de Sonada e Rumtek.
- com os tibetanos no Tibet, reconstruindo seus monastérios em Bokar,
ordenando monges e iniciando um centro de retiro.
- com os Ocidentais, conduzindo a cada inverno um seminário de meditações
voltadas especialmente para aprendizes.

François Jacquemart

“Imanente natureza do samsara e do nirvana


a clara luz.
O Santo Dharma mostra o modo de ser
da clara luz.
Possam os afortunados que praticam
O mahamudra‐clara luz.
Tornarem‐se Budas no coração do Despertar
a clara luz”

Bokar Rimpoche

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1] Natureza do Voto
Desde tempos sem princípio, devido a nós funcionarmos habitualmente de um
modo no qual o ʺEuʺ trata com carinho a si mesmo, procuramos continuamente pelo
que é bom, agradável e bonito para nós. Buscamos a nossa própria felicidade, e
realmente não nos preocupamos em buscar o que é bom, agradável e bonito para os
outros.
No entanto, devemos entender que do ponto de vista das aspirações deles,
todos os seres são iguais a nós. Todos desejam a felicidade tanto quanto nós a
desejamos, todos tentam evitar os sofrimentos tanto quanto nós tentamos.
Se pensarmos sobre isso, qual é o espaço pessoal que ocupamos?
Quantitativamente, representamos um único indivíduo, enquanto os outros
representam um número infinito de indivíduos.
Os outros seres são muito mais importantes que nós mesmos, devemos gerar
uma atitude que inclua a aspiração de que eles encontrem a felicidade e não sofram, e
nutrir nossa força de vontade a fim de ajudá‐los nessa missão. É nessa perspectiva que
se encontra o voto.

Natureza do voto de Bodhisattva


Qual é a natureza do voto do Bodhisattva? É o compromisso formulado como
se segue: “Para guiar os outros à felicidade e à libertação de seus sofrimentos, Eu
atingirei o Despertar. Esta é a promessa que faço hojeʺ.
Queremos alcançar a Iluminação, e a razão de querermos alcançá‐la é beneficiar
todos os seres. Fazendo a promessa, seguimos o mesmo caminho seguido pelos Budas
anteriores. É por isso que tomamos o voto em referência a eles, pensando:
“Assim como os Budas do passado, quando eles ainda eram seres ordinários,
primeiramente tomaram o compromisso de alcançar o Estado de Buda em benefício de
todos os seres; assim como eles continuaram no caminho do Bodhisattva, praticando as
seis paramitas até a perfeição; e assim como eles alcançaram o Estado de Buda; da
mesma forma, seguindo o seu exemplo, Eu também irei realizar o Estado de Buda para
o benefício de todos os seresʺ.
Como foi dito por Shantideva no Guia da Conduta do Bodhisattva. “Assim como
os Budas do passado fizeram surgir a Mente do Despertar e treinaram pouco a pouco,
eu gero em mim mesmo a Mente do Despertar em benefício do mundo e eu praticarei
todos os exercícios preparatórios para issoʺ.
A fim de guiar os outros à felicidade
E liberar os seres do sofrimento,
Eu atingirei o Despertar.
Esta é a promessa que faço hoje.
Três idéias essenciais são incluídas nessa promessa:
_A aspiração de beneficiar todos os seres pela obtenção do Estado de Buddha
_Eu faço disso a minha aspiração;
_Os meios de obter essa aspiração é a prática das seis paramitas.

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Definição do Termo Voto de Bodhisattva
O voto do Bodhisattva incorpora a realização da motivação do Grande Veículo.
Sua apelação exata é o voto da Bodhicitta, que é o voto do Despertar, em tibetano é jang
chubgy sem gy dompa. O segue a explicação:
_jang chub traduz o termo Sânscrito bodhi; significa Despertar e traz duas idéias.
Jang significa “purificado”, que é completamente purificado do véu das emoções
conflituosas e do véu dos objetos de conhecimento. Chub significa “perfeito” e se refere
à completa possessão das qualidades, notável onisciência que conhece a verdadeira
natureza de todos os fenômenos e suas manifestações. O termo Despertar é sinônimo
de Estado de Buda.
_gy significa “de”.
_sem (sânscrito, citta) significa “mente”, a mente como causa, o suporte da
obtenção das qualidades da Natureza de Buda; o Despertar não é separado da mente.
_dompa significa “voto” e aqui designa o compromisso ou promessa de atingir o
Despertar.

L%-(2-GA-?J3?-GA-#R3-0-
Jang chub ky sem ky dompa
Voto da Mente do Despertar

Portanto, o voto do Bodhisattva é a “promessa de [realizar] a Mente do


Despertar” ou a “promessa de [guiar] a mente ao Despertar”.
A motivação dessa promessa – que é a de liberar todos os seres do sofrimento ‐
é compreendida nessa frase.

Subdivisões da Bodhicitta
Várias classificações são usadas para descrever os vários aspectos da Bodhicitta.
A primeira classificação lista 22 estágios de Bodhicitta, do nível de iniciante ao Estado
de Buda. Esses 22 estágios de Bodhicitta são divididos em quatro categorias, baseado
nos estágios de Bodhisattva.
_A Bodhicitta dos seres ordinários, aqueles que não alcançaram os níveis de
Bodhisattva;
_A Bodhicitta dos Bodhisattvas da primeira à sétima Terra;
_A Bodhicitta dos Bodhisattvas da oitava à décima casa (estágios puros);
_A Bodhicitta da Natureza de Buda.
Deixando de lado essa classificação que aplica a progressão na via, a principal
divisão da Bodhicitta, em termos de sua natureza, considera dois aspetos, Bodhicitta
última e relativa.
Bodhicitta Última, designação da natureza da mente em si, é a união da
vacuidade e da compaixão, a mente em si, além de todos os conceitos como existência e
não‐existência.
Bodhicitta Relativa é a mente movida pela grande compaixão que volta a si
mesma para os seres e pensa, “Eu devo liberar todos os seres do sofrimento do samsara
e estabelecê‐los no Estado de Buda. É absolutamente necessário que eu os libereʺ.É um
pensamento de amor e consideração.

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A Bodhicitta relativa tem duas fases, Bodhicitta de aspiração e Bodhicitta de
ação. Essas são vistas de forma um pouco diferente em várias tradições.
Na tradição da Profunda Visão de Nagarjuna, o pensamento, “Eu alcançarei o
Estado de Buda em benefício de todos os seresʺ, é a Bodhicitta de Aspiração. E agir
com esse pensamento, isto é, o trilhar o caminho que conduz o Estado de Buda,
constitui a Bodhicitta de ação. Fazendo uma comparação, o pensamento “Eu quero ir a
Bodhgaya” é o equivalente a Bodhicitta de aspiração enquanto que trilhar o caminho
que realmente leva a Bodhgaya corresponde a Bodhicitta de ação.
Na tradição da Vasta Ação de Asanga, o pensamento, “Eu me comprometo a
alcançar o Estado de Buda em benefício de todos os seres”, a referência ao objetivo
(Estado de Buda) constitui a Bodhicitta de aspiração. Depois, o pensamento “Eu me
comprometo a colocar em prática os meios de atingir o esse objetivo” (isto é, as seis
paramitas), que se refere à causa que nos permite obter o resultado, constitui a
Bodhicitta de ação. Nesse caso, seguindo a comparação anterior, a decisão de ir a
Bodhgaya é ainda a Bodhicitta de aspiração, no entanto, a Bodhicitta de ação, não é
realmente trilhar o caminho, mas antes uma segunda decisão de começar a trilhar o
caminho com a compreensão de que o objetivo não pode ser obtido de outra forma.
Na tradição de Nagarjuna, a Bodhicitta de ação se refere, portanto, à prática dos
meios, enquanto que na tradição de Asanga, se refere ao compromisso de colocá‐las em
prática. A primeira dessas duas tradições distingue aspiração e ação, enquanto a última
distingue aspirar ao objetivo e aspirar ao meio de alcançar o objetivo.

Importância da Bodhicitta
Os Ensinamentos do Buda podem ser divididos de várias formas. Aqui esta a
classificação em três corbelhas (Tripitaka)—os Sutras, Vinaya e Abhidharma—ou a
classificação segundo a perspectiva da libertação individual (Pequeno veículo), do
veículo dos Bodhisattvas (Grande Veículo) e do Vajrayana (tantras).
No segundo tipo de classificação, encontramos três tipos de ética: a ética da
libertação individual, o voto de Bodhisattva, e os compromissos inerentes às iniciações
do Vajrayana. A ética de libertação individual, que inclui os votos monásticos e os
votos das pessoas laicas, tem por objetivo evitar tudo que é prejudicial a nós—
geralmente nas ações do corpo e da palavra. É claro que também há regras que
envolvam a mente, mas não são tão importantes.
O voto de Bodhisattva, inerente ao Grande Veículo, dá grande importância à
mente, sem negligenciar as ações do corpo e da palavra. Além disso, sua intenção é
mais beneficiar os outros do que nos protegermos. A base desse voto é o amor e a
compaixão.
Já os compromissos do Vajrayana, eles não estão localizados na mente como
psique, mas no nível do conhecimento primordial (jnana).
Assim, abordamos níveis mais sutis. Finalmente, quando alcançamos a natureza
da mente em si, como ela é, esse é Estado de Buda.
O voto de Bodhisatva e os preceitos à ele associados, tem papel importante
nessa progressão. sem ela é impossível alcançar o Estado de Buda.
A força da Bodhicitta é imensa. Se a mente a tem, corpo e palavra irão também
adotar espontaneamente uma conduta positiva e evitarão os atos negativos
naturalmente. Quando a Bodhicitta está realmente integrada na nossa mente, seus
efeitos não se limitarão a nossa vida presente. Nós encontraremos seu poder
novamente nos nossos sonhos e nas nossas vidas futuras, onde o amor, a compaixão e
o desejo de ajudar os outros permanecerão em nós.

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Incontáveis benefícios fluem da Bodhicitta.
Como é declarado no Guia da Conduta do Bodhisattva de Shantideva:
“Quando a mente abraça o pensamento constante
De libertar o ilimitado número de seres,
Ela às vezes dorme ou pode ser dissipada,
Mas o fluxo de seus méritos
Torna‐se infinitamente maior, como o infinito do espaçoʺ.

Quem pode tomar o Voto?


Para se tomar o voto de Bodhisattva, não é suficiente apenas ter a preciosa
existência humana. Também é necessário ser da família do Mahayana, que é definida
como ter uma inclinação natural à paz, ao amor e à compaixão, e pela atração
espontânea e confiança imediata aos ensinamentos do Mahayana.
Devemos também tomar refúgio nas Três Jóias e colocarmo‐nos sob a proteção
do Buda, Dharma e Sangha. Essa tomada de refúgio deve ocorrer dentro da
perspectiva do Grande Veículo e incluir os seguintes elementos
_Quanto à duração, tomamos o refúgio não somente nesta vida, mas de hoje em
diante até atingir a Iluminação;
_Quanto à pessoa, nós não consideramos que tomamos o refúgio sozinhos, mas
que a infinidade de seres do universo tomam o refúgio ao mesmo tempo em que nós;
_Quanto à motivação, tomamos refúgio para liberar o ilimitado número de
seres dos infindáveis sofrimentos do samsara e para estabelecer todos eles na perfeita
felicidade da Iluminação.
A Tradição de Asanga da Ação Vasta insiste, além disso, na importância de
tomar alguns dos votos de libertação individual (votos de praticante leigo, de menor e
de maior ordenação) para se receber o voto do Bodhisattva. Na Tradição de Nagarjuna
da Visão Profunda é dito que é suficiente renunciar aos atos negativos e observar a
conduta correta. Para tomar o voto de Bodhisattva não é, portanto, necessário apenas
evitar prejudicar os outros nas atividades do corpo, palavra e mente, mas devemos
também nos esforçar em fazer o que é benéfico aos outros, tendo ou não tomado os
votos de libertação individual.

Preparando‐se para Tomar o Voto


Algumas pessoas hesitam em tomar o voto de Bodhisattva, pensando que isso
demande qualidades que lhes faltam. O sentimento de amor e compaixão delas não é
nem forte nem grande. O desejo de prejudicar e de alimentar pensamentos negativos
contra os outros ainda não abandonou suas mentes.
Como podemos saber se estamos prontos para tomar o voto do Bodhisattva?
Se valorizarmos imensamente o amor e a compaixão, se percebemos seus
benefícios—que é evidente ao escutar os ensinamentos—se consideramos que má‐
vontade, raiva e ódio são defeitos, nós estamos prontos. Devemos tomar o voto. O voto
nos ajuda a melhorar. Será inútil para a pessoa que não tem malevolência, que é
bondosa por natureza, ou para a pessoa cuja mente não está manchada por emoções
perturbadoras tomar o voto. Tomamos o voto exatamente porque reconhecemos a
presença da malevolência e de emoções perturbadoras que queremos eliminar em nós.
Quanto mais percebemos a raiva e a aversão dentro de nós, devemos estar mais
determinados a tomar o voto de Bodhisattva.

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A Presença do Mestre
Algumas pessoas acreditam que a intenção individual de desenvolver o amor e
a determinação de alcançar o Despertar para o benefício de todos os seres são forças
suficientes; elas pensam que tomar o voto de nada adiantará. Contudo, o voto tem
benefícios inerentes, e reforça consideravelmente a determinação individual. Esse
poder deriva do fato de que na cerimônia nós solenemente fazemos a promessa de
atingir o Despertar para o benefício de todos os seres, com todos os Budas e
Bodhisattvas como testemunhas.
Nossa mente está fortemente marcada com a magnitude e importância de um
compromisso. Mesmo que alguma malevolência ainda persista em nossas mentes, nós
estaremos mais inclinados a rejeitá‐la, pois nos lembraremos de nossa promessa.
O poder desse compromisso é suficiente para continuar através das nossas
vidas futuras.
O poder desse voto é incrementado pelo fato de que é tomado na frente de um
mestre. Podemos tomar o voto de Bodhisattva na frente de uma árvore Bodhi, por
exemplo, ou simplesmente imaginar a presença de todos os Budas e Bodhisattvas no
céu sem estar ninguém realmente presente. O voto tem a mesma validade se é tomado
ou não na presença de um mestre. Todavia, não é marcada em nós com a mesma força
de quando temos a memória do mestre, uma pessoa humana, facilmente e
individualmente posta em nossa mente. O pensamento “É na frente do meu mestre que
eu tomei voto do Bodhisattva” nos ajudará a não agir contrariamente ao nosso
compromisso. Pensaremos nele ou nela mais facilmente que na árvore Bodhi ou em um
Buda cuja presença nós imaginamos.
De forma breve, para os seres imperfeitos que nós somos, desejando como nós
desejamos trilhar o caminho da Iluminação, tomar o voto do Bodhisattva pode somente
nos beneficiar.
Shantideva sublinha isso ao compor a oração da Bodhicitta.
Se há um elixir capaz de abolir a morte do mundo,
um inexaurível tesouro que consiga eliminar toda a miséria do mundo,
um remédio incomparável que possa curar toda a doença do mundo,
uma árvore que abrigue todo o cansaço do mundo de vagar no caminho da vida,
uma ponte que nos leve para fora dos caminhos penosos,
uma lua mística que nasça para esfriar o fogo das paixões mundanas,
um enorme sol que dissipe a obscuridade da ignorância,
uma nova manteiga produzida do genuíno leite do Dharma.
Para a caravana humana, seguindo a estrada da vida e sedentos pela felicidade,
aí está o banquete da felicidade aonde todos os seres que vierem serão saciados.

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Nagarjuna

Nagarjuna viveu entre 150 e 200 d.C. Um mestre erudito e realizado,


fundou a escola Madhyamika e escreveu volumosos tratados. Ele
originou uma das duas grandes linhagens do voto do Bodhisattva, que é
a Profunda Visão recebida de Manjushri.

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2] O Bodhisattva
O Bodhisattva é representado no Mahayana como o praticante ideal do
caminho espiritual que leva ao Despertar autêntico. Despertar é ao mesmo tempo a
completa compreensão da natureza última de todos os fenômenos e a compaixão
equânime universal.
A palavra “Bodhisattva” refere‐se, no entanto, a três diferentes tipos de seres. A
distinção entre os três é necessária para se evitar confusão.
Existem:
_Aprendiz Bodhisattvas
_Bodhisattvas nas Terras
_Bodhisattvas como emanações dos Budas.

Aprendiz Bodhisattva
De certa forma, todo indivíduo que tomou o voto de Bodhisattva é um
Bodhisattva. Essa pessoa verdadeiramente tem a motivação inerente ao Bodhisattva
(isto é, obter o Despertar para o benefício de todos os seres). Ele ou ela proferiu a
promessa formal de alcançar seu objetivo, e pratica de acordo com as suas capacidades
para atingir esse objetivo.
No entanto, não podemos realmente dizer que essa pessoa é um Bodhisattva, se
um nível de desenvolvimento espiritual suficiente não foi obtido. Ele ou ela não se
libertou do samsara ou das emoções conflituosas; ele ou ela não tem a visão da
verdadeira natureza de todas as coisas. Ele ou ela pode beneficiar os seres somente em
uma pequena escala. Esse indivíduo está mais na posição de um estudante de medicina
que na situação de alguém que, tendo obtido sucesso completo em seus estudos, pode
praticar efetivamente a medicina.
Esse é o porquê, embora possa se usar o nome de Bodhisattva para qualquer
pessoa que tomou o voto de Bodhisattva, seria melhor falar de um aprendiz
Bodhisattva ou de um membro da família do Bodhisattva.

As Terras dos Bodhisattvas


Um verdadeiro Bodhisattva é um ser que atingiu uma das dez Terras dos
Bodhisattvas. É a esse ser que o termo Bodhisattva é aplicável
Ter alcançado a primeira Terra dos Bodhisattvas significa que, pela prática das
duas Bodhicittas, relativa e absoluta, chegamos a uma visão direta do que não era visto
anteriormente, o modo de ser da mente, a realidade da natureza em si.Esse estágio é
também o estágio de ter alcançado a libertação do samsara e de nunca mais cair nele
novamente. Não ver ou ver essa realidade é a linha divisória entre o ser ordinário e
aqueles que atingiram a primeira Terra. O desenvolvimento dessa visão e a redução
dos véus que cobrem a mente permitem a progressão da primeira à décima Terra dos
Bodhisattvas. A visão do modo de ser da mente é estável na primeira Terra, porém,
não tem a mesma nitidez quando o indivíduo está meditando ou em um estado não‐
meditativo.
Da primeira a décima Terra, um desenvolvimento progressivo das qualidades
inerentes à Natureza do Bodhisattva se revela. É similar ao aumento da luminosidade
do ouro ao poli‐lo. É somente com a manifestação do Estado de Buda após a décima
Terra, que a mente, purificada de todas as imperfeições, atinge a perfeição de suas
qualidades.

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Às vezes é dito que o ideal do Bodhisattva seria parar a progressão em direção
ao Estado de Buda para continuar trabalhando para o benefício de todos os seres do
samsara. Essa afirmação é baseada em alguma confusão. Primeiro é necessário
entender que o Bodhisattva, até mesmo trabalhando no samsara, não pertence ao
samsara. Na primeira Terra, o Bodhisattva está liberto. Segundo, é errôneo acreditar
que as faculdades possuídas pelos Bodhisattvas de ajudar os seres são superiores as de
um Buda, porque as qualidades de um Buda são infinitas. A aspiração do Bodhisattva
não é, portanto, estacionar no caminho que leva ao Estado de Buda, pensando que iria
auxiliar os seres se ele ou ela ficasse nas Terras dos Bodhisattvas, mas atingir o Estado
de Buda.

Bodhisattvas como Emanações dos Budas


A confusão quanto aos objetivos do Bodhisattva é principalmente uma questão
de vocabulário. Quando é afirmado que um Bodhisattva beneficia os seres, enquanto o
Buda não o faz, parece que o termo Buda é limitado neste caso ao Corpo Absoluto
(Dharmakaya) e que os corpos formais, o Corpo de Fruição (Sambhogakaya) e o Corpo de
Emanação (Nirmanakaya), apenas recebem o título de Bodhisattva. Assim como é
verdade que não é o Dharmakaya de um Buda que realiza o benefício dos seres, mas
sim o Sambhogakaya e o Nirmanakaya, logo, segundo esse ponto de vista, é de fato o
Bodhisattva que está responsável em beneficiar os seres.
Na verdade, no entanto, o Buda possui os três Corpos e conseqüentemente tem
a capacidade de ajudar os seres de várias formas, incluindo a manifestação de um
Bodhisattva.
Essa habilidade é a razão de muitos Bodhisattvas não serem seres trabalhando
no nível das Terras dos Bodhisattvas, mas são emanações de Budas. O Buda manifesta
um corpo, divino ou humano, cuja aparência é um Bodhisattva, embora permaneça
essencialmente um Buda.
Esses Bodhisattvas são emanações dos Budas e se manifestam em dois modos
correspondentes aos Corpos formais.
_Sob a forma divina, que do Sambhogakaya como Avalokiteshvara, Manjushri,
Vajrapani, e muitos outros para os seres de karma puro;
_Sob a forma humana ou outras formas para os seres ordinários.
Portanto, geralmente diferenciamos os dois tipos de Bodhisattvas, aqueles que
estão nas Terras dos Bodhisattvas e no caminho do Estado de Buda e aqueles que são
emanações dos Budas.
O voto do Bodhisattva se refere sobretudo aos Bodhisattvas das Terras e ainda
mais aos Aprendizes Bodhisattvas.

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Bodhisattva Avalokiteshvara

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O significado da Palavra
Separando o substantivo jangchub sempa, que é a tradução do Sânscrito do termo
Bodhisattva para o Tibetano, nos permite compreender o significado com precisão.
_jangchub significa Despertar e é sinônimo do perfeito e insuperável Estado de
Buda;
_sempa significa mente corajosa.
O Bodhisattva, portanto, é aquele cuja mente se volta com coragem ao
Despertar. Por que essa idéia de coragem? Por três razões: duração, magnitude, e
dificuldade de se realizar.
Um Bodhisattva, primeiro não toma para si uma tarefa de pequena duração,
mas uma tarefa que se espalha por muitos kalpas.
Segundo, o compromisso do Bodhisattva não é limitado ao desejo de ajudar um
determinado número de seres, mas à totalidade de seres.
Terceiro, o Bodhisattva está pronto para sem medo algum encarar todas as
dificuldades incluídas nas práticas da generosidade, ética, paciência e outras
paramitas.

Atividade dos Bodhisattvas


A atividade dos Bodhisattvas é extremamente variada, vasta e profunda, de
acordo com as necessidades e aspirações dos seres. Bodhisattvas ensinam o Dharma
àqueles que necessitam dele, se esforça para fornecer alimento àqueles que sentem
fome, roupas àqueles que estão nus, e remédios àqueles que estão doentes. Os
Bodhisattvas podem se necessário tomar a forma de um animal. Podem também criar
condições necessárias para se construir pontes, barcos, casas, e assim por diante,
buscando com sabedoria e compaixão aliviar o sofrimento dos seres de todos os
lugares.
Como Shantideva disse poeticamente:
Possa eu ser o protetor dos seres abandonados,
um guia para aqueles que trilham o caminho,
e para aqueles que desejam atravessar,
possa eu ser o barco, o caminho, a ponte;
possa eu ser a lâmpada para aqueles que necessitam da lâmpada,
a cama para aqueles que necessitam de cama,
o escravo para aqueles que necessitam de um escravo,
uma pedra milagrosa, o chifre da abundância,
a fórmula mágica, a planta medicinal,
a árvore que realiza todos os desejos, a vaca dos desejos.

As Quatro Atividades
Os Bodhisattvas e os Budas põem em efeito os quatro tipos de Atividade
Iluminada de assistir os seres materialmente e espiritualmente.
_PACIFICAÇÃO, que tem por objetivo aliviar os seres de seus atuais
sofrimentos e dissipar as emoções perturbadoras que causam o sofrimento.
_ENRIQUECIMENTO, que permite desenvolver o bem‐estar, riqueza, mérito e
realizações espirituais.
_PODER, pelo qual o Bodhisattva consegue exercer uma ação benéfica em
grande escala.

23
_ATIVIDADE IRADA, que quando se torna necessária em certos casos, pode
ser usada em situações de compaixão e circunstâncias bem definidas.
Kalu Rinpoche, em uma prece de dedicação chamada O Grande Barco da
Libertação, resume o desejo do Bodhisattva de colocar em prática as quatro Atividades
Iluminadas.
Possa eu dissipar toda doença e sofrimento dos seres
pelo poder e dedicação assim como o Buda o fez.
Possam vida, mérito, poder, maestria, experiências e realizações
aumentar como um rio no final da estação das chuvas.
A fim de trazer o sublime benefício da Doutrina e de todos os seres.
Possa eu reunir sob meu poder as três esferas e os três mundos.
A fim de ter a capacidades de libertar o inimigo que criou os ‘dez campos’,
Possa a eficiência e força dos mantras irados brilharem como o fogo.

Atividade Irada
Se os primeiros tipos de atividade mencionada anteriormente são fáceis de
compreender, o último é menos claro, Devemos entender, entretanto, que a atividade
irada é para ser usada com compaixão para o benefício de todos os seres, quando os
outros modos de ação falham em modificar a conduta dos indivíduos cujos atos são
extremamente danosos aos outros e a eles mesmos, levando‐os ao nascimento em um
inferno e ao sofrimento intolerável.
Atividade irada é um trabalho de compaixão uma vez que protege aqueles que
são vitimas de atos negativos tanto quanto os autores. Previne de no futuro criar novas
causas de sofrimento. Essa atividade pode até suprimir a vida, mas um ato de
Bodhisattva deve reunir as seguintes condições:
_Aquele que age deve não sentir nenhuma raiva, animosidade ou agressividade
contra o ser a ser morto;
_Ele ou ela deve sentir, pelo contrário, infinita compaixão por esse ser;
_Ele ou ela deve ter como única motivação evitar que esse ser sofra como
conseqüência de seus atos negativos;
_Ele ou ela deve matar não com armas ou venenos, mas com o poder de
mantras.

O Navegador Grande Compaixão


Os Jatakas (contos das vidas anteriores do Buda) ilustram essa atividade. O
futuro Buda, então um Bodhisattva, nasceu como um navegador mercante cujo nome
era Grande Compaixão (Depon Nyingje Chenpon). Um dia, Grande Compaixão
carregava em seu navio 500 mercadores. Um bandido chamado Homem Negro com
Bastão também embarcou. Seu plano era matar os mercadores e roubar seus bens.
Grande Compaixão, que conseguia ler pensamentos, soube da intenção do Homem
Negro com uma Lança. Ele também soube que os 500 mercadores eram, na verdade,
500 Bodhisattvas. Ele pensou, “Se o bandido matar os 500 Bodhisattvas ele acumulará
um mal karma tão severo que ele sofrerá por inúmeros kalpasʺ.
Para imediatamente proteger os mercadores e proteger o bandido de seu
sofrimento futuro, Grande Compaixão matou Homem Negro com uma Lança.
É dito que pelo seu ato, longe de ser negativo, Grande Compaixão acumulou o
equivalente a vários kalpas de acumulação de mérito.

24
O navegador Grande Compaixão previne Homem Negro com Lança de
carregar seu mau ato.

25
3] Buda e Bodhicitta
Buda Shakyamuni, como todos os Budas, era no começo um ser ordinário.
Como todos os Budas, ele primeiramente desenvolveu a Bodhicitta, depois, por muitas
vidas continuou no caminho levando‐o à Iluminação final.
Várias histórias contam como, durante suas vidas passadas, ele voltou sua
mente ao Despertar, tomando formal ou informalmente o voto de Bodhisattva.
Algumas das histórias apresentadas aqui são classificadas dentro do quadro do
Pequeno Veículo ou do Grande Veículo, respectivamente.

1_Segundo o Pequeno Veículo

A História da Oferenda de Sopa


Há muitos kalpas, o Buda Shakya Tupten vivia na Terra. O Buda futuro veio em
sua presença e deu a ele um pote de argila decorado com um espelho e cheio de sopa.
O Buda futuro disse a ele, “Abençoado, possa eu ser igual a você no futuro em todos os
sentidos; tendo os mesmos discípulos, mesma duração de vida, mesma atividade, e
mesmo campo de atividadeʺ. Daquele momento e então o Buda futuro tomou a
conduta do Bodhisattva.

Rei Mais Luminoso e o Elefante Furioso


O Buda futuro nasceu como o Rei Mais Luminoso (em Sânscrito, Tisya, em
Tibetano, Rabtsal). O rei o possuía um maravilhoso elefante branco que confiou a um
de seus servos para que ele o domasse. O servo aplicou‐se por longos meses e retornou
quando pensou que o animal fora domado. O rei quis tentar montar logo e montou no
elefante. Junto de sua corte, o rei adentrou a floresta. Infelizmente, o elefante branco
sentiu a presença de um elefante fêmea.
Levado pelo desejo, o elefante correu de forma selvagem atrás daquela que
havia excitado seus sentidos. Apavorado, o rei salvou‐se segurando em galhos,
deixando sua montaria seguir seu descuidado curso.
De volta ao palácio, o rei chamou seu servo e o reprimiu severamente, “Você
me apresentou um elefante, fingindo tê‐lo domado. No entanto, o elefante fugiu na
floresta, e minha vida foi salva apenas por um galhoʺ.
“Sua majestadeʺ, respondeu o servo “não é que eu não tenha completado meu
trabalho corretamente. Eu domei o corpo do elefante, mas domar sua mente não está
em meu poder. Neste mundo, apenas o Budha pode domar mentesʺ.
Quando o rei escutou a palavra “Budaʺ, uma grande sensação de fé nasceu em
sua mente. Ele foi imediatamente ao Buda que vivia na Terra, e na presença do Buda,
tomou o voto de dedicar‐se a fim de obter a Iluminação.

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Rei Mais Luminoso agarrou galhos para salvar sua vida.

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O Futuro Buda liberto do Inferno
O Buda futuro uma vez foi um ser ordinário, que, pelo poder de seus atos
negativos, nasceu no inferno. Junto com um infeliz companheiro, ele incessantemente
puxou uma carroça pesadíssima. O Buda futuro estava realmente doente e lutando
bravamente para carregar seu fardo. Seu companheiro estava sempre sendo afligido
pela lança do guarda que estava a vigiá‐los.
Em sua mente, o futuro Buda desenvolveu grande compaixão pelo sofrimento
de seu companheiro. Virando‐se para o guarda, ele fez uma prece por misericórdia,
“Meu companheiro é fraco e eu sou forte. Permita‐me puxar o carro. Não o
prejudiqueʺ. Essas palavras apenas tiveram o efeito de provocar terrível raiva no
guarda. O guarda levantou sua lança e violentamente acertou a cabeça do futuro Buda,
deixando‐o morto.
Quando o futuro Buda retomou a consciência, ele não estava mais no inferno,
mas em um reino divino, onde sua mente voltou‐se ao Despertar.

2_Segundo o Grande Veículo

Poeira do Oceano semelhante ao Lótus Branco


No Grande Veículo, a história principal da conversão do futuro Buda que
estava buscando o Despertar é a seguinte:
Tendo nascido como um brâmane chamado Poeira do Oceano (Gyamtso’dul), o
Buda futuro era um de mil príncipes, cada um se tornaria um dos mil Budas de nosso
kalpa.
Na presença de seu pai, o Buda Quintessência das Jóias (Rinchen Nyingpo), os
príncipes viram como eles alcançariam o Despertar para o benefício de todos os seres
de várias formas. Um prometeu se tornar um Buda e trabalhar em benefício de todos
quando a vida humana na Terra durasse 80000 anos; outro, quando a vida durasse
40000 anos; outro quando a vida durasse 20000 anos. E assim por diante. Cada um
escolheu um determinado tempo do kalpa futuro.
Contudo, nenhum príncipe escolheu o período quando os humanos vivessem
apenas 100 anos (isto é, nossa duração de vida atual). O Buda futuro perguntou a seus
irmãos, “Nenhum de vocês quer guiar seres humanos quando eles viverem até 100
anos de idade?” “Não, a tarefa é muito difícilʺ, eles responderam. “Seres humanos
resistirão a qualquer ensinamento. Eles não reconhecerão seus pais como pais, suas
mães como mães, ou seus mestres como seus mestres. Emoções conflituosas
envenenarão completamente suas mentes. Ninguém será capaz de levá‐los ao bemʺ.
“Bemʺ, disse Poeira do Oceano, “é então aí que eu irei me manifestar como Buda e
ensinarʺ.
O Buda Quintessência das Jóias e todos seus filhos se admiraram com a
determinação e coragem do jovem príncipe,“De todas as flores”, disseram, “você é
como a mais bela, o Lótus Branco.”
Então Poeira do Oceano fez 500 grandes desejos de beneficiar todos os seres,
que os outros príncipes não fizeram.
Há muito mais histórias relatando como o Buda Shakyamuni engendrou a
Bodhicitta em suas vidas passadas. Essas estão dentre as mais conhecidas.

28
4] Cerimônia
Existem várias formas de cerimônias para tomar o voto de Bodhisattva. Dadas
aqui estão os maravilhosos passos da cerimônia na Tradição da Vasta Ação de Asanga.
Esta cerimônia possui três partes: fase de preparação, corpo da cerimônia e fase final.

1_Fase Preparatória
a) Pedido
Aqueles que tomaram o voto fazem um pedido ao mestre que dá o voto de
Bodhisattva. Resumidamente, eles dizem a ele ou ela, “Da mesma forma que os Budas
do passado e os Bodhisattvas no início do caminho desenvolveram neles mesmos a
Bodhicitta—o desejo de alcançar o perfeito Despertar—da mesma forma, eu quero
desenvolver a Bodhicitta em minha mente agora. Você concederia o voto da Bodhicitta
a mim e me permitiria tomar a promessa do Despertar?”

b) Acumulação de Mérito
A menor ordenação monástica (Sânscrito, shramanera; Tibetano, getsul) é tomada
na presença de um abade. (Sânscrito, upadhyaya; Tibetano, khenpo). A maior ordenação
monástica é tomada na presença da comunidade de monges plenamente ordenados
(Sânscrito, bhikshu; Tibetano, gelong). Quanto ao voto de Bodhisattva, é tomado por
causa da acumulação de mérito.
A acumulação de mérito, culminando com o voto de Bodhisattva, foi realizada
de várias formas pelos maravilhosos seres realizados do passado. Alguns ofereceram
grandes riquezas, outros que não possuíam nada ofereceram uma mão cheia de grama
ou uma única flor; outros ofereceram apenas três prosternações.
Para nós, a melhor forma de acumular mérito é certamente usar a Prece dos Sete
Ramos. Para fazê‐la, nos voltamos a todos os Budas e Bodhisattvas e ao mestre que dá
o voto. Imaginamos então que produzimos um número infinito de corpos similares ao
nosso e sucessivamente realizamos os sete ramos:
1) Nos prosternamos para homenagear os Budas, Bodhisattvas e o mestre;
2) Presenteamos a eles com oferendas de tudo que é agradável no universo, real
ou imaginado;
3) Nos confessamos e nos arrependemos de todos os atos negativos cometidos
pelo corpo, palavra e mente desde os tempos sem princípio;
4) Nos regozijamos com todos os atos positivos e atividades benéficas
realizadas pelos Budas, Bodhisattvas e seres comuns;
5) Rezamos para que os Budas e Bodhisattvas girem a Roda do Dharma;
6) Suplicamos para que eles permaneçam neste mundo para o benefício de
todos os seres;
7) Dedicamos o mérito acumulado pelos primeiros seis ramos na seguinte
intenção, “Pelo mérito desses seis ramos, possa a Preciosa Bodhicitta nascer em minha
mente, e possa eu tomar o voto do Bodhisattvaʺ.

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2_ Corpo da Cerimônia
a) Voto da Bodhicitta de Aspiração
Foi dito que aonde há espaço, há seres; onde há seres, há emoções
perturbadoras; onde há emoções perturbadoras, karma negativo é acumulado. Do
karma negativo vem o sofrimento dos seres.
É dito que todos os seres no samsara, sem exceção, foram em nossas vidas
passadas, desde tempos sem princípio, nossas mães e nossos pais. Todas essas mães e
pais do passado estão vagando no oceano da existência cíclica por um longo tempo e
estão sujeitos a incontáveis sofrimentos. Eles não têm ninguém para protegê‐los ou
salvá‐los.
Refletindo sobre essa situação, formamos o desejo sincero de que todos possam
se libertar do sofrimento e encontrar a felicidade. Engendramos amor e compaixão por
eles.
Esse amor e compaixão, a base da Bodhicitta, deve ser imparcial. Geralmente
temos a tendência de classificar os seres em três categorias: aqueles que amamos e
consideramos próximos a nós; aqueles que nos deixam indiferentes e colocamos à
distância; e aqueles que não amamos e portanto rejeitamos, colocando‐os ainda mais
distantes. O Amor verdadeiro, contudo, não aceita essas categorias. Ele não abraça
alguns seres em detrimento de outros mais dá importância a todos os seres e suas
aspirações de serem felizes e evitarem o sofrimento.
No presente, não temos o poder de ajudar infinitos seres, libertá‐los do
sofrimento e fazê‐los felizes. Ganhamos esse poder pensando, “De agora em diante,
começando hoje, eu me comprometo a atingir o Estado de Buda—um estado puro de
todas as imperfeições, que possui todas as qualidades, radiante de amor por todos os
seres como um amor de mãe pelo seu único filho.” Essa é a essência do voto da
Bodhicitta de Aspiração.
Para iniciar a cerimônia, aqueles que desejam tomar o voto se prostram três
vezes, posicionam seu joelho direito no chão, juntam suas mãos na altura do coração, e
repetem as palavras do voto da Bodhicitta de aspiração, depois do mestre.
O significado desse voto é:
“Budas e Bodhisattvas das dez direções, e você também, mestre, por favor,
voltem seus pensamentos para mim. Confiando no poder do mérito
acumulado pela prática da generosidade, ética, e das outras virtudes, tendo
eu as realizado Eu mesmo ou levado outros a realizar; como os Budas e
Bodhisattvas do passado desenvolveram o desejo de alcançar o perfeito e
insuperável Despertar para o benefício de todos os seres, da mesma forma,
começando hoje e até Eu alcançar o Coração do Despertar, Eu também me
comprometo a manter o desejo de atingir o Despertar.
“Quando Eu alcançar o Despertar, Eu guiarei os seres residentes nos três
reinos inferiores aos três reinos superiores. E guiarei aqueles dos três reinos
superiores que estão submetidos às emoções perturbadoras e ao karma à
tranqüilidade. Eu encorajarei aqueles que residem na tranqüilidade para
que eles se engajem no Grande Veículo. Eu estabelecerei os Bodhisattvas do
Grande Veículo no perfeito Estado de Buda.”
Essa declaração é repetida três vezes. Durante a terceira repetição, pensando em
todos os seres, dirão, “Para o benefício de todos os seres, eu obterei o perfeito
Despertar.” Então eles comprometem‐se desse momento até alcançar esse objetivo.

30
“... começando hoje e até Eu alcançar o coração do Despertar,
Eu também me comprometo a manter o desejo de atingir o Despertar.
Quando eu alcançar o Despertar,
Eu levarei os seres residentes nos três reinos inferiores aos três reinos superiores.
E levarei aqueles dos três reinos superiores
que estão submetidos às emoções perturbadoras e ao karma à tranqüilidade.
Eu encorajarei aqueles que residem na tranqüilidade
para que eles se engajem no Grande Veículo.
Eu estabelecerei os Bodhisattvas do Grande Veículo no perfeito Estado de Buda.”

31
Essa promessa é feita na presença de todos os Budas e Bodhisattvas das dez
direções. Repetindo essa declaração, eliminamos distrações e imprimimos em nós
mesmos o compromisso pessoal de atingir o objetivo preciso de ajudar todos os seres.
Ao final dessa terceira repetição, o mestre estala os dedos e diz, “tap ynno,”
significando que todos os presentes receberam completamente o voto. Eles
responderão “lekso,” (isso é excelente) e farão três prostrações novamente.
Dessa forma, o voto da Bodhicitta de aspiração é tomado. Na tradição da Visão
Profunda, se faz o voto da Bodhicitta de aspiração e da Bodhicitta de ação
simultaneamente; enquanto na tradição da Ação Vasta que seguimos aqui, os votos são
tomados separadamente.

b) Voto da Bodhicitta de Ação


Os postulantes primeiramente recitam o pedido para receber o voto da
Bodhicitta de ação. Depois, o mestre lhes pergunta questões para que aprendam os
obstáculos à tomada do voto. O mestre em particular lhes pergunta:
_Se eles podem seguir os preceitos e condutas de um Bodhisattva que age em
benefício de todos os seres.
_se, como iniciantes embarcando no caminho, eles possui algum medo de
cometer erros quanto aos preceitos da Bodhicitta; se eles estão preparados para se
comprometerem
_Se eles se alegram dos infinitos benefícios resultantes da Bodhicitta
_Se eles escutaram e compreenderam os ensinamentos sobre a Bodhicitta, e se
eles possuem fé nela
_Se eles desejam trabalhar em benefício de todos os seres
_Se eles tomam esse voto sem restrição
Depois de o Mestre ter julgado as suas aptidões para receberem os votos, os
postulantes pedem a ele ou a ela para conceder o voto a eles.
Seguindo esse pedido, o mestre concorda em conceder o voto a eles.
Enquanto se toma o voto, o postulante deve manter em sua mente uma
motivação altruísta. Durante o voto da Bodhicitta de aspiração, nos engajamos em
obter o perfeito estado de Buda a fim de libertar todos os seres do sofrimento e trazer‐
lhes felicidade. O compromisso é ao objetivo, o Estado de Buda. O voto da Bodhicitta
de ação, por outro lado, é direcionado aos meios necessários para se obter o objetivo: a
observância dos preceitos da Bodhicitta, a prática das seis paramitas, a eliminação dos
equívocos e o respeito das três éticas (ética que evita os atos negativos, ética que pratica
os atos positivos e a ética de realizar o benefício dos seres). Todos os Budas do passado
treinaram deste modo; é também o caminho do Buda presente, e será o caminho dos
Budas futuros. O voto da Bodhicitta da ação, portanto, consiste no compromisso de
seguir esse caminho, realizando tudo que deve ser realizado, e evitando tudo que deve
ser evitado.
O mestre pergunta três vezes aos postulantes se eles desejam seguir esse
caminho, se eles respeitam esse caminho e se eles se comprometem a seguir esse
caminho. Eles respondem que desejam fazê‐lo e que se comprometem a fazê‐lo.
A terceira resposta sela a promessa. Os discípulos então recebem
completamente o voto da Bodhicitta em ação.
Isso completa o voto do Bodhisattva.

32
3_Conclusão
a) Endereçar aos Budas e Bodhisattvas
O mestre se levanta, faz a prostração em cada uma das dez direções (os quatro
pontos cardeais, as quatro direções intermediárias, o zênite e o nadir) aos Budas que
residem ali e oferece lhes flores jogando as para o céu.
Voltando se para os Budas, o mestre os permite saber que naquele dia, na presença
dele ou dela, esses discípulos tomaram o voto de Bodhisattva e são agora membros da
família dos Bodhisattvas.

b) Alegria dos Budas e Bodhisattvas


Visto que o voto de Bodhisattva é um ato extremamente benéfico com extensos
méritos, os Budas e Bodhisattvas de todas as Terras Puras são informados que esse
voto foi tomado nesse dia, e se regozijam profundamente. Desse dia em diante, através
da visão conferida por suas onisciências, eles nos consideraram sempre como filhos e
filhas amados.

c) Tomando o voto com plena consciência


Para o discípulo, receber o voto de Bodhisattva implica algumas qualidades
preliminares tais como pertencer à família do Mahayana, que é ter uma inclinação
natural pelo amor e compaixão, e também ter a boa fortuna de ter sido ensinado por
um mestre da necessidade e dos benefícios do voto e de ter compreendido sua
importância. Podemos apenas falar sobre o voto conscientemente.
É preferível não tentar convencer as pessoas que não tiveram a preparação
necessária de sua grandiosidade ou pessoas que, devido a sua mentalidade, não são
capazes de entendê‐la. Na nossa era residual, essas pessoas poderiam ser um risco; ao
invés de se interessarem, iriam se amedrontar e adotar uma atitude de rejeição que
poderia prejudicá‐las.

d) Explanação sobre os preceitos


O mestre revela os diferentes preceitos relacionados ao voto da Bodhicitta de
aspiração e o voto da Bodhicitta de ação. Esses preceitos são numerosos e variados
(eles são explicados em detalhes na segunda seção deste livro). Os principais preceitos,
aqueles que devemos respeitar especialmente, são os seguintes:

1) Preceitos da Bodhicitta de aspiração


1‐ NÃO REJEITAR NENHUM SER EM NOSSAS MENTES
O que isso significa? Se alguém faz algo que nos desagrada, e consideramos
essa pessoa como um inimigo, ou se movido pela raiva, realizamos uma ação com
ressentimento levando‐nos a pensar, de agora em diante, não faremos nada a essa
pessoa; e que não ajudaremos a ele ou ela quando a oportunidade surgir, então
rejeitamos essa pessoa de nossa mente. Devemos nos guardar contra essa atitude
porque tomamos o compromisso de atingir o Despertar, para beneficiar todos os seres,
sem exceção. Não podemos fazer nenhuma exceção, até mesmo para uma simples
pessoa. A raiva pode momentaneamente levar‐nos a nutrir tal pensamento. Rejeitamos
outros de nossa mente e quebramos o voto apenas se:
_Sem nos contermos, persistimos por um logo tempo nessa atitude
33
_Não sentimos arrependimento
_Estamos felizes com essa atitude
_Consideramos essa atitude justificada e uma qualidade positiva

2‐ LEMBRARMO‐NOS DOS BENEFÍCIOS DA BODHICITTA


Pelos simples fato de que a Bodhicitta foi plantada na nossa mente, estamos
purificados de muitos atos negativos passados e acumulamos muitos méritos. Nós
estamos, a partir deste momento, no caminho do Grande Veículo. Portanto, devemos
sempre nos lembrar dos benefícios extremamente grandiosos da Bodhicitta.

3‐ FAZER A ACUMULAÇÃO DE MÉRITO E SABEDORIA para permitir que a


Bodhicitta se desenvolva dentro de nós.

4‐ RENOVAR O VOTO A CADA DIA


Se possível, devemos renovar o voto seis vezes em um período de 24 horas (três
vezes durante o dia, e três vezes durante a noite) ou, pelo menos três vezes durante o
dia (na manhã quando acordamos, ao meio dia, e ao entardecer antes de dormirmos)
simplesmente recitando as quatro linhas de Atisha que incluem a tomada de refúgio e
do voto de Bodhisattva.
No Buddha, no Dharma e na Sublime Assembléia,
tomo refúgio até o Despertar.
Pelo mérito resultante da minha prática da Generosidade
(e das demais Paramitas)
Possa eu realizar o estado de Buddha
Para o benefício de todos os seres.
Na nossa mente, recitamos essas quatro linhas na frente dos Budas e nos
lembramos de seu significado.

5‐ EVITAR OS QUATRO ATOS NEGROS E PRATICAR OS QUATRO ATOS


BRANCOS
Os quatro atos negros são:
1_Intencionalmente enganar nosso mestre ou pais devido ao nosso próprio
interesse
2_Arrepender se de ter realizado atos positivos, que outros realizaram, ou fazer
com que aqueles que realizaram atos positivos se arrependam disso
3_Criticar os santos.
4_Ter atitude desonesta para com os outros
Os quatro atos brancos que se opõe aos quatro atos negros
1_Ser sincero para com seu mestre e seus pais
2_Regozijar‐se com os atos positivos realizados por si mesmo e pelos outros
3_Louvar os santos
4_Ser honesto com os outros
Esses cinco pontos são os principais preceitos da Bodhicitta de aspiração.
Existem muitos outros preceitos que são classificados de várias formas pelas duas
tradições do voto de Bodhisattva. A linhagem da Visão Profunda apresenta catorze
transgressões raízes (que podem ser reduzidas a cinco ou uma) que devem ser evitadas
e oitenta transgressões secundárias; a linhagem da Ação Vasta tem quatro
transgressões raízes e quarenta e seis transgressões secundárias.

34
Essas apresentações variadas não são contraditórias, mas correspondem a
pontos de vista particulares. Algumas pessoas ficam aflitas quando vêem uma longa
lista de preceitos. Elas têm medo de observar tantas regras e acreditam que estão além
de suas capacidades. Ainda, outros gostam de precisão e necessitam de limites
claramente determinados. Eles apreciam listas que respondem a cada situação em
detalhes. Os Budas e Bodhisattvas, desejando conferir o ensinamento adaptado às
capacidades de cada um e meios de compreensão, propuseram várias abordagens que
são curtas ou detalhadas, simples ou complexas.
Qual é o preceito mais importante a se respeitar quando se toma o voto de
Bodhisattva? É o de nunca se separar da atitude de amor e compaixão e da vontade de
beneficiar os outros sem nunca rejeitar sequer um simples ser em nossas mentes. Se,
sob essa base, trazemos auxílio e suporte àqueles que necessitam disso o máximo
possível, mantemos a essência dos preceitos da Bodhicitta.

2) Preceitos da Bodhicitta de ação


Engajar se nos seguintes preceitos da Bodhicitta de ação consiste na prática das
seis paramitas:
1_Generosidade
2_Ética
3_Paciência
4_Diligência
5_Concentração
6_Sabedoria

4_Regozijo
Regozijamos‐nos em ter tomado o voto de Bodhisattva e conseqüentemente
entrado na família dos Conquistadores (Bodhisattvas). Desse dia em diante, nossa
existência humana será plena de sentido. Analisando nossa boa fortuna, sentimos
alegria e felicidade.

5_Dedicatória
Desejamos ser capazes de manter a prática da Bodhicitta até alcançarmos o
Despertar e de realizar uma atividade extremamente vasta para o benefício dos outros
idêntica à atividade de Avalokiteshvara e de outros grandes Bodhisattvas.

35
", ,cEc-îc-GÈc-OE-WÈDc-l…-UGÈD-éUc-`,
,qE-G”T-T_-O’-TOD-P…-´T-c“-UG…,
,TOC-C…c-Æ…P-cÈDc-Tn…c-R]…TcÈO-PUc-l…c,
,]uÈ-`-SP-p…_-cEc-îc-]uŸT-R_-aÈD,
SANGYE CHO TANG TSO GY CHO NAM LA
JANGCHUB BARTU DANI KYAB SU CHI
DA GYI JIN SO GYPEI SONAM GI
DROLA PEN CHIR SANGYE DRUP PAR SHO

No Buddha, no Dharma e na Sublime Assembléia,


Tomo refúgio até o Despertar.
Pelo mérito resultante da minha prática da Generosidade
(e das demais Paramitas)
Possa eu realizar o Estado de Buddha
Para o benefício de todos os seres.

Esse verso de quatro linhas foi escrito pelo Grande Mestre Budista Indiano
Atisha, que passou muitos anos no Tibet no século 11.
Recitando pelo menos três vezes ao dia (manhã, meio‐dia e noite) manteremos
o voto de Bodhisattva renovando‐o.
As duas primeiras linhas, “No Budha, no Dharma e da Sublime Assembléia, Eu
tomo o refúgio até o Despertar,” são uma expressão da tomada de refúgio; a Sublime
Assembléia designa o conjunto daqueles que pelo menos alcançaram a primeira Terra
dos Bodhisattvas.
A terceira linha, “Pela prática da generosidade e demais perfeições,” declara o
voto da Bodhicitta de ação; “generosidade e demais perfeições”, se refere as seis
paramitas.
O quarto verso, “Possa eu realizar o Estado de Buda para o benefício dos seres,”
declara o voto da Bodhicitta de aspiração.

36
37
38
Asanga

Asanga (séc. IV dC) fundador da escola Yogacara, recebeu vários ensinamentos do


Buda Maitréia, de quem teve numa visão.
Foi de Maitréia que Asanga obteve a transmissão da linhagem do voto de Bodhisattva
denominada “Vasta Compreensão”, que ele iniciou.

39
Oramos ao Bodhisatva “Quintessência do céu” (Sanscr; Akashargarba; Tib: Namkay
Nyinpo) quando se deseja purificação das transgressões.

40
1] Preceitos da Bodhicitta de aspiração

Tomando o voto de Bodhisattva, comprometemo‐nos atingir o Despertar para o


benefício de todos os seres. Transgressões do voto são ações ou atitudes que nos
distanciam de nosso objetivo, atrasando ou agindo contrariamente para o benefício dos
seres. É por isso que a ética do Bodhisattva requer que as evitemos.
Os preceitos da bodhicitta de aspiração consistem em evitarmos o que é
chamado de transgressões raiz ou transgressões secundárias.
As duas linhagens de transmissão do voto Bodhisattva apresentam versões
sutilmente diferentes sobre essas transgressões. Existem várias listas desses preceitos.
Aqui, seguiremos os que foram dados por Jamgom Lodro Taye no seu “Tesouro do
Conhecimento” (Sheja Zo). De acordo com esse texto, a tradição da Profunda Visão
apresenta a lista das transgressões raízes cujo número varia (14, 5 ou 1) e 80
transgressões secundárias (que não serão enumeradas aqui), enquanto a lista da
tradição Ação Vasta contém quatro transgressões raízes e 46 transgressões secundárias.
Iremos considerar sucessivamente:
1_As transgressões raízes de acordo com a tradição Profunda Visão.
2_As transgressões raízes de acordo com a tradição da Ação Vasta.
3_As transgressões secundárias de acordo com a tradição da Ação Vasta
4_As transgressões comuns de ambas as tradições
5_Como nos purificar dessas transgressões.

1_As transgressões raízes de acordo com a tradição Profunda Visão.


A tradição de Nagarjuna da Visão Profunda dá três diferentes listas das transgressões
raízes, referentes às capacidades superiores, medíocres ou mínimas individuais.

A) As quatorze transgressões raízes de indivíduos de capacidades superiores


são divididas em três grupos:
1) As cinco transgressões‐rei (1‐5)
2) As cinco transgressões‐ministro (reduzido ao número 6)
3) As seis transgressões‐povo (7‐14)
A lista completa contém 18 pontos. Contudo, como as quatro transgressões do
ministro são semelhantes as quatro transgressões do rei, elas são reduzidas de 18 para
14 que veremos a seguir:
O rei, o ministro e o povo correspondem a estratos sociais que existiam na Índia
antiga. A formulação de algumas transgressões, portanto, podem não ter aplicação nas
sociedades contemporâneas.

1) As cinco transgressões‐rei
1‐Roubar os Três Jóias. Tomar bens consagrados para as Três Jóias (estátuas,
textos sagrados, templos e stupas) ou bens que foram oferecidos à comunidade
monástica.
2‐Abandonar o Dharma: seja o Grande Veículo ou o Pequeno Veículo,
particularmente no caso do monarca que ordena abandonar o Dharma, seja totalmente
ou condenando um Veículo em benefício de outro.

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3‐Causar danos aos monges: mesmo se os monges respeitem seus votos ou os
tenham quebrado, pela condenação, açoitamento ou aprisionamento deles.
4‐Cometer qualquer um dos cinco atos de retribuição imediata: matar o pai,
matar a mãe, matar um Arhat, criar um cisma na sangha, fazer correr o sangue de um
Buda com a intenção de prejudicar. Esses cinco atos estão na categoria das
transgressões particulares para o rei que abusa de seu poder e consente na tentação de
realizá‐los. Embora o perigo de realizar esses atos seja maior tanto para o rei quanto
para outras pessoas, os mesmos atos realizados por uma pessoa comum seriam
também uma séria transgressão da ética do Bodhisattva.
5‐Professar opiniões niilistas: oficialmente professar que a lei do karma não
existe, que não há vidas passadas ou futuras, etc. Opiniões niilistas levam a atividade
negativa.

2) As cinco transgressões‐ministro
(As primeiras quatro transgressões são semelhantes as do rei e, portanto, não são
enumeradas novamente nessa lista).
1‐Destruir a cidade: uma cidade designa aqui um grupamento humano, seja
qual for seu tamanho. O ministro é o equivalente ao primeiro ministro, a pessoa a
quem o rei delega poderes, e quem pode dar a ordem de eliminar uma cidade ou
destruir um povo em situação de guerra.

3) As oito transgressões‐povo
Essas oito transgressões dizem respeito a qualquer um que tenha tomado o voto
de Bodhisattva e diferentemente do rei ou do ministro, não tenha nenhum poder
específico. A maioria dessas transgressões diz respeito a nós mais diretamente.
1‐Ensinar sobre a vacuidade para pessoas que não estejam prontas para isso: A
pessoa que dá ensinamentos sobre o significado profundo da vacuidade para alguém
cuja mente não está pronta para recebê‐lo, arrisca abalar o beneficiário de confiança; ou
assustar a ele ou a ela.
2‐Desviar a pessoa que tomou o voto de Bodhisattva do Despertar; desencorajar
a pessoa engajada no grande Veículo (que sozinho pode levar a completa budeidade),
dizendo que ele ou ela não pode praticar as seis paramitas e que seria melhor para ele
ou ela ir para o Pequeno Veículo.
3‐Fazer alguém abandonar o Pequeno Veículo; aconselhar uma pessoa que
tenha natural afinidade pelo pequeno Veículo, para abandoná‐lo e entrar no Grande
Veículo.
4‐Acreditar que o pequeno Veículo não neutralizar emoções conflituosas: e
fazer com que os outros acreditem que, em outras palavras, professar que o Pequeno
Veículo é sem eficiência e é inútil.
5‐Enaltecer a si mesmo e criticar os outros: para aproveitar‐se ou alardear sua
própria reputação, enaltecer a si mesmo (declarando que compreendeu e realizou
tudo) embora não mereça isso e criticar os outros quando eles não merecem isso.
6‐Ser orgulhoso de sua reputação: embora isso não seja verdade, ser orgulhoso
por ser versado em práticas profundas, pretendendo ter atingido realização e fazer
disso com objetivo de obter benefício ou fama.
7‐Desviar oferendas feitas para um monastério; utilizando meios corruptos e
calúnia quando se está em posição de poder, ou aceitando dinheiro ou bens vindos
disso.
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8‐Abandonar o suporte a um praticante para dar a um estudante: Há muito
tempo atrás, na Índia, e também no Tibet, praticantes solitários viviam de alimentos
que lhes eram dados. Esse alimento, seu único meio de subsistência, era essencial para
seguir em suas meditações. Cessando de dar alimentos para os praticantes (ou
aconselhando alguém para não dar) ou preferindo dar a alguém, com insistência, que
está feliz só em estudar, cria um obstáculo para os praticantes.

B) As quatro transgressões raízes de indivíduos de capacidade medíocre


1‐Rejeitar completamente a Bodhicitta
2‐Não dar para aqueles que pedem, por causa de apego ou usura, seja bens
materiais ou o Dharma.
3‐Colocar alguém em cólera
4‐Ensinar falso Dharma. Dar ensinamento com aparência espiritual, mas é
somente uma invenção criada por emoções conflituosas.

C) O único preceito‐raiz dos indivíduos de capacidades inferiores.


Manter a Bodhicitta de aspiração é o único preceito que indivíduos de
capacidades inferiores devem observar. Esse é o preceito que condensa todos os
demais. Guardar a Bodhicitta de aspiração significa simplesmente que da perspectiva
do Despertar, devemos manter uma atitude de amor e compaixão, e benevolência e não
rejeitando ninguém. Em outras palavras, devemos olhar não para a nossa própria
liberação, mas para o Despertar para o benefício dos seres.

2_Transgressões‐raízes de acordo com a tradição da Vasta Ação


A tradição de Asanga da Vasta Ação reúne às transgressões raízes em quatro pontos:
1‐Enaltecer a si mesmo e criticar os outros, com a intenção de receber oferendas,
ou agir como alguém importante, ou receber benefícios.
2‐Não dar bens materiais ou o Dharma, por causa de apego ou usura, para
aqueles que são necessitados ou pobres, ou para aqueles que pedem ensinamentos.
3‐Não aceitar desculpas de uma pessoa que nos tenha prejudicado ou nos
ofendeu, mas punir essa pessoa.
4‐Rejeitar o Mahayana. Criticar ou desconsiderar os ensinamentos Mahayana e
propagar um falso Dharma.

3_Transgressões secundárias de acordo com a tradição da Vasta Ação.


A tradição da Vasta ação adiciona a lista das 46 transgressões secundárias as
quatro transgressões raízes. De acordo com o Tesouro do Conhecimento, elas estão
organizadas da seguinte maneira:
_ 34 atos contrários ao desenvolvimento das qualidades espirituais (1‐34)
_7 atos contrários à generosidade ( 1‐7)
_7 atos contrários à ética ( 8‐16)
_7 atos contrários à paciência (17‐20)
_7 atos contrários à diligência (21‐23)
_7 atos contrários à concentração (24‐26)
_7 atos contrários ao conhecimento (27‐34)
_ 12 atos contrários à realização do benefício dos outros (35‐46)

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A lista detalhada destas 46 transgressões é a seguinte:
1‐Não fazer oferendas às Três Jóias.
2‐Seguir o seu próprio desejo.
3‐Não ter respeito pelos mais velhos.
4‐Não responder perguntas quando elas forem feitas.
5‐Não responder a um convite.
6‐Recusar violentamente um presente (por orgulho ou desprezo).
7‐Não explicar o Dharma para qualquer um que deseje recebê‐lo.
8‐Rejeitar a pessoa que tenha danificado os votos dele ou dela.
9‐Não estudar o Dharma (e não observar as regras éticas quando for necessário
estreitar confidência com outros).
10‐Ter somente uma pequena energia para beneficiar os seres.
11‐Não praticar um ato aparentemente negativo (embora esse ato possa ser feito sem
compaixão).
12‐Obter intencionalmente um modo de vida por meios desonestos. Existem cinco
diferentes maneiras de fazer um ganho (favorecimento, extorsão de dinheiro,
constrangimento, desonestidade e corrupção). Podem‐se usar esses meios também para
si mesmo, não aceitando oferendas ganhas por esses meios.
13‐Ter prazer em atividades sem sentido. Devotando muito tempo em atividades que
são somente diversão (esporte, shows, jogos, beber, conversas inúteis, etc.), quando
esse tempo deve ser bem aproveitado praticando o dharma.
14‐Desejar ser liberto do samsara sozinho (sob a influência do apego)
15‐Não evitar ter uma má reputação.
16‐Não se livrar das emoções conflituosas.
17‐Responder as ofensas. Quando alguém bate, insulta‐nos etc, responder uma ofensa
com ofensa, colocando cólera com cólera, golpe com golpe, crítica com crítica.
18‐Rejeitar aquele que possui ressentimento por nós (ao invés de buscar a paz).
19‐Não aceitar desculpas dos outros.
20‐Ficar com raiva.
21‐Buscar discípulos para ganhar benefícios ou respeito.
22‐Não buscar meios de eliminar a preguiça, procrastinação, desinteresse e todas as
coisas que nos fazem perder tempo.
23‐Engajar‐se em conversas inúteis (sobre os problemas mundiais).
24‐Não praticar a meditação (e não buscar as instruções necessárias).
25‐Não eliminar os obstáculos para a meditação (tais como a distração, sono ou
dúvida).
26‐Estar apegado a experiências prazerosas produzidas pela meditação.
27‐Ter desrespeito pelo Hinayana.
28‐Descartar o Mahayana para devotar‐ser mais ao Hinayana. Quando alguém está
engajado no caminho Mahayana, retornar ao Hinayana.
29‐Negligenciar o estudo do Dharma para estudar temas temporais.
30‐Quando se está devotado ao Mahayana, ter prazer no Hinayana e assuntos
seculares.
31‐Não estar interessado nos ensinamentos do Mahayana.
32‐Não buscar o Dharma (devido ao orgulho ou a preguiça, não ouvir os ensinamentos
ou não ler livros para melhor compreender o Dharma).
33‐Enaltecer a si mesmo e criticar os outros.

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34‐Não acreditar no sentido, mas acreditar nas palavras (especialmente crer no nosso
próprio entendimento de um texto e não no sentido explicado pelo mestre).
35‐Não oferecer ajuda (para os que realmente necessitam dele).
36‐Não cuidar de pessoas doentes.
37‐Não buscar meios de aliviar o sofrimento, a doença e a aflição.
38‐Não preocupar se com pessoas necessitadas, (não cuidar dos seus discípulos ou
todos aqueles que estão sob a sua responsabilidade).
39‐Ser ingrato com quem te ajudou.
40‐Não aliviar o sofrimento dos outros (seja sofrimento material ou mental).
41‐Não dar para aqueles que desejam ter riqueza (embora possa fazê‐lo).
42‐Não ajudar as pessoas que estão ao nosso redor.
43‐Não agir de acordo com a mentalidade dos outros.
44‐Não prezar as qualidades dos outros.
45‐Não impedir os maus atos de pessoas perniciosas.
46‐Não usar milagres ou supraconhecimentos (quando for necessário guiar os outros).

4_Preceitos comuns a ambas Bodhicittas


As seguintes transgressões são comuns para as duas tradições:
1‐Rejeitar qualquer ser de sua mente
2‐Engajar‐se nos quatro atos negros, que são:
_Enganar seu mestre ou pais.
_Lamentar atos positivos.
_Criticar seres realizados
_Nutrir uma atitude desonesta
3‐Não se engajar nos quatro atos brancos, que são:
_Ser sincero com nosso mestre e com nossos pais
_Regozijar‐se com os atos positivos
_Prezar os seres realizados
_Ser honesto com os outros
Evitando a totalidade dessas transgressões constitui os preceitos pertencentes à
Bodhicitta de aspiração. Os preceitos da Bodhicitta em ação, em ambas as tradições, são
as seis paramitas.

5_Purificando se das transgressões


Quatro fatores determinantes:
Quando se comete uma das transgressões, vamos contra nosso voto. Todavia, a
transgressão é somente completada quando os quatro fatores determinantes estão
presentes.
_Continuar engajado na transgressão
_Não sentir arrependimento, não ter vergonha e constrangimento
_Estar satisfeito por agir dessa maneira
_Considerar o ato realizado como uma qualidade ao invés de um defeito.
Se todos esses fatores estão presentes, isso não deve significar que não há a
falta, mas somente que a falta não é muito grave. A falta é considerada de média
gravidade quando dois ou três fatores estão presentes e mínima quando somente um
fator está presente. Em todos os casos, é necessário purificar.

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Purificando‐se da malevolência.
Ao obter essa purificação pela tomada do voto de Bodhisattva, nos
comprometemos em ajudar todos os seres e continuamente mantemos uma atitude
bondosa para com eles, podemos imaginar que um simples pensamento de
malevolência que ainda possa ocorrer em nossa mente, poderá quebrar o voto. Um
simples pensamento de malevolência não quebra o voto de bodhisattva, mas o danifica
levemente.
Todavia, quando pensamentos que vão contra o voto ocorrem em nossa mente,
se, por exemplo, pensamos que uma determinada pessoa é culpável e que nunca
iremos fazer algo para ajudar essa pessoa, devemos nos purificar. Essa purificação
pode ser feita de uma forma simples. Tornamo‐nos conscientes dessa tendência
errônea do pensamento, arrependemos e reafirmamos nosso compromisso de
Bodhisattva: “Para realizar o benefício de todos os seres, comprometo‐me a alcançar o
Estado de Buda, ajudarei e aliviarei o sofrimento de todos os seres.” Para dar força a
esse compromisso e observar totalmente o início de um pensamento negativo,
lembramo‐nos que essa pessoa ‐ como todos os seres, foram nossas mães, ou amigo em
vidas passadas e nos trouxe tudo o que pode ser dado pela mãe, pai ou amigo.
Lembramo‐nos também das imensas qualidades positivas do amor e da compaixão
como antídoto para as dificuldades e sofrimento que resultam da agressão e da
malevolência.

Purificando‐se da quebra do voto


Embora todas as transgressões sejam contra o voto de Bodhisattva, quebrar
completamente o voto é abandonar mentalmente um ou vários seres e decidir não fazer
nada em benefício deles.
Todavia, como vimos antes, o voto é totalmente quebrado somente se esse
abandono é acompanhado pelos quatro fatores determinantes e nada é feito para
mudar a nossa atitude num longo período de tempo ‐ um ano, por exemplo. Devemos,
então, tomarmos o voto completamente de novo, numa cerimônia formal na presença
de um lama.
Se somente três dos quatro fatores estão presentes, basta arrepender‐se diante
de duas pessoas que tenham tomado o voto de bodhisattva; e para um fator, na
presença de uma pessoa que tenha tomado o voto de Bodhisattva.

Purificando‐se da transgressão
A purificação da transgressão é feita individualmente. O melhor momento para
fazê‐lo é ao amanhecer. Orientamo‐nos para o leste e invocamos o Bodhisattva
denominado “Quintessência do Céu” (sanscr: Akashagarba; Tib: Namkhay Nyinpo) e
oramos para ele.
É dito nos sutras que o bodhisattva Quintessência do céu, pelo poder das
aspirações específicas que ele formulou para o benefício daqueles
que tenham quebrado o voto, surge ao amanhecer e então os purifica. É por isso que é
bom dirigir‐se a ele para revelar todas as transgressões à ética do Bodhisattva e
arrepender‐se.
O melhor método dessa confissão é recitar o Sutra das Três Acumulações, também
denominado, Confissão para os trinta e cinco Budas, dividido em três sessões: acumulação
de homenagens, acumulação de confissões e acumulação de dedicatórias.
Em conexão com o Vajrayana, podemos utilizar a prática de Vajrasattva e a
recitação do mantra no qual todas as formas de purificação estão reunidas.

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Shantideva

Shantideva viveu do ano de 650 a 750, foi um grande poeta e ser realizado. Seu
maior trabalho,o Bodhisatvacharyavatara descreve os compromissos e o caminho do
bodhisattva.

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2] Visão geral das Seis Paramitas
A prática do Dharma, inicialmente nos ensina a evitar tudo que possa
prejudicar aos outros através da nossa conduta, palavra e pensamento. Todavia,
devemos não estacionar nesse estágio. Precisamos ir mais além e adotar uma atitude
benéfica para os outros. No Grande Veículo, essa conduta é expressa pela seis
paramitas, as seis perfeições transcendentes. Essas seis paramitas formam o caminho
do Bodhisattva para obter o Despertar que o Bodhisattva deseja obter para o benefício
de todos os seres. Portanto, as paramitas são os preceitos da Mente do Despertar em ação.
Elas são:
1‐Generosidade
2‐Ética
3‐Paciência
4‐Diligência
5‐Concentração
6‐Sabedoria
Essa ordem não é acidental. Elas são gradualmente classificadas da mais fácil a
mais difícil ou da mais óbvia a mais sutil.
Cada uma dessa paramitas é dividida em três aspectos:

1‐Generosidade
a) Dar bens materiais:
A doação é acompanhada de um pensamento de compaixão e é direcionada
para aqueles que têm necessidade material – alimentos, roupas e tudo o que possa ser
necessário.

b) Dar proteção:
Podemos ajudar aqueles cujas vidas estão em perigo, aqueles que estão
afligidos pela doença, todos aqueles que foram maltratados ou aqueles que foram
ameaçados por animais selvagens. Quando protegemos aqueles que estão com medo
ou em perigo, praticamos a doação de diversas formas de proteção.

c) Doação do Dharma:
As duas primeiras formas de generosidade acima referem se a ajuda física. Doar
o Dharma ajuda a mente. Ao dar o ensinamento do Buda, tanto se alguém o explica
diretamente ou ajuda, cria condições para o seu desenvolvimento.

2‐Ética
a) Ética que mantém o voto:
A ética consiste em evitar os atos negativos na sua conduta física, palavra ou
pensamentos. Em particular, restringe se a qualquer ato danoso feito aos outros, é
geralmente ou mais precisamente relacionado aos que têm votos monásticos ou aos
que tem votos de praticantes leigos.

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b) Ética que realiza acumulações
Esse segundo tipo de ética não se restringe em evitar a atividade negativa, mas
trabalhar para efeitos positivos tais como realizar atos positivos e acumulação de
mérito e sabedoria.
c) Ética que realiza o benefício dos outros
Os dois primeiros tipos de ética, embora se fundamentem no relacionamento
com os outros, é feito antes de tudo para o nosso próprio benefício: protegendo‐nos do
sofrimento resultante da atividade negativa e procurando benefícios oriundos de
atividade positiva para nós mesmos. O terceiro tipo de ética tem uma outra perspectiva
e diz respeito somente ao benefício alheio.

3‐Paciência
a) Paciência diante dos inimigos
As pessoas podem nos prejudicar de diferentes maneiras, seja por ataques
físicos, usando palavras ofensivas contra nós ou por terem maus pensamentos em
direção a nós. Essas pessoas são então vistas como nossos “inimigos”, seja
temporariamente ou por um período longo. O primeiro tipo de paciência é a paciência
para com esses ʺinimigosʺ.
Existem vários métodos usados para aplicarmos a paciência.
Primeiro devemos nos lembrar, que num nível kármico, se alguém cria algumas
dificuldades, é devido ao fato de termos criado dificuldades para essa pessoa em vidas
passadas. Estamos, portanto, tendo a retribuição de nossos atos.
Pode‐se também refletir que em realidade, a pessoa que nos ofende é somente
uma aparência de natureza ilusória, semelhante ao que ocorre num sonho. Embora
surja como um inimigo, uma agressão cometida por esse inimigo, e a vítima desse
inimigo (nós mesmos), em verdade, os três elementos dessa situação não têm realidade
em si mesmo e são apenas projeções ilusórias da nossa mente.
Um terceiro método é descobrir o real objeto da nossa raiva ou ressentimento.
Quando alguém nos agride, ficamos com raiva dessa pessoa percebida como um corpo
humano em sua totalidade, dotado de formas e cores. Todavia, se refletirmos: o que
realmente está nos prejudicando? Vamos supor que alguém nos faça um ferimento com
uma faca. Não ficaremos com raiva da faca porque sabemos que ela é somente uma
matéria inerte, sem liberdade de ação. De fato, é a mão da pessoa que orientou a faca.
Mas não ficaremos com raiva da mão, pois não é a mão que decide o ato. O objeto da
nossa raiva é, portanto o agressor que é a pessoa física.
Entretanto, essa pessoa física, não é a responsável. Ele ou ela apenas obedecem
às suas mentes. E sobre a mente do agressor, podemos dizer que ela age livremente?
Não, não podemos, pois ela está sob influência de emoções perturbadoras, tais como a
raiva ou ódio. Sendo assim, sua reação para com o agressor não deve ser de raiva, mas
sim de gerar um sentimento de compaixão nascido da compreensão do estado de
escravidão o qual a mente do seu inimigo está apreendida. Distante do gozo de
liberdade, a mente dele ou dela é objeto de emoções conflituosas, que obedecem como
um prisioneiro obedece ao seu algoz. Se experimentarmos a ira como resposta, não
devemos orientá‐la contra o nosso agressor, que é uma vítima da escravidão, mas
contra aquilo que escraviza a mente dele ou dela, as emoções conflituosas que devem
ser suprimidas. É apenas devido à falta dessa compreensão que abandonamos a
paciência por uma ira injustificada.

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b) Paciência diante do sofrimento
Nossa tendência é dar importância para o sofrimento, até mesmo se ele for
pequeno. Queremos, absolutamente, evitá‐lo e nos livrarmos dele. Devido a essa
atitude, um sofrimento mínimo se torna um grande problema. Inversamente se
sabemos como suportar o sofrimento, se permanecermos firmes, até mesmo um grande
sofrimento se torna um pequeno sofrimento. Quanto menor a paciência, mais
estaremos com o sofrimento, essa é a sua maior conseqüência. Maior paciência,
estaremos com o sofrimento, mas ele perde o seu poder sobre nos. Mas
particularmente, quando começamos a prática do dharma, é possível que encontremos
algumas dificuldades ou coisas que não sejam convenientes para nos. Talvez,
pensemos que nunca seremos capazes de praticar corretamente, que é muito difícil
fisicamente, mentalmente, etc. Se nos permitimos cair nessa atitude, nos tornaremos
desencorajados e preguiçosos. A menor dificuldade se tornará um sério obstáculo. Do
contrário, devemos saber como perseverar quaisquer que sejam as dificuldades e nos
aplicarmos no Dharma com coragem e continuidade na prática. Estaremos então aptos
a estudar e meditar de forma frutífera.

c) Paciência diante das verdades do Dharma.


Várias verdades são difíceis de serem compreendidas e até mesmo de serem
aceitas, tal como a noção de vidas passadas e futuras, a lei do karma, o funcionamento
do samsara, sua natureza ilusória, as qualidades extraordinárias dos Budas e
Bodhisattvas, etc. Não podemos ver por nós mesmos ou verificar a verdade de tais
noções. Nossa mente não tem a oportunidade nem de testá‐las nem de aceitá‐las. É por
isso que facilmente caímos na dúvida. Há também a necessidade da paciência que nos
permite aceitar o que não é completamente compreendido. É verdade que é impossível
para nós ver as sutilezas da lei do karma, mas as aceitamos. É verdade que as
qualidades dos Budas e Bodhisattvas excedem à nossa capacidade de compreensão,
mas aceitamos essa possibilidade.

4‐Diligência
a) Armadura da diligência
Uma atitude resoluta, a determinação de praticar o Dharma e obter o Despertar
e a convicção de fazer isso são o primeiro tipo de diligência. É chamada armadura da
diligência. De acordo com Gampopa, vestir essa armadura é pensar; “A partir de agora
até que todos os seres estejam estabelecidos no perfeito Despertar, Eu nunca
abandonarei a diligência na prática da virtude”.

b) Diligência aplicada
O segundo tipo de diligência diz respeito à prática em si. Consiste na
perseverança em todas as circunstâncias, mesmo quando encontramos obstáculos, sem
dar oportunidade para o desencoraja mento ou a preguiça.

c) Diligência insaciável
Praticar progressivamente conduz a vários resultados e níveis. Diligência insaciável
consiste em nunca estar satisfeito com os resultados obtidos e nem mesmo estar com
vontade de descansar antes de atingir o completo Despertar. Consiste em jamais
pensar: “Realizei atos virtuosos suficientes, Eu tenho feito praticas suficientes. Eu
posso parar agora.”
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5‐Concentração
a) Primeiro nível de Concentração
O primeiro nível de concentração é alcançado através da meditação de calma
mental (sanscr: Shamata; Tib: Shine) um estado no qual o corpo e a mente
experimentam uma grande paz e conforto.

b) Segundo nível de Concentração


Consiste em desenvolver as qualidades inerentes na meditação além da paz e
alegria sentidas durante a meditação.

c) Terceiro nível de meditação


O terceiro nível conduz ao desenvolvimento de estados meditativos que nos
permitem realizar o benefício alheio.

6‐Sabedoria
a) Sabedoria temporal
Sabedoria temporal se aplica em várias áreas de estudos que dizem respeito
somente ao mundo presente, tais com os campos da ciência ou cultura. Essa sabedoria
é qualificada como obscurecida devido às suas limitações,

b) Sabedoria espiritual inferior


Sabedoria espiritual inferior vem do estudo e prática do Pequeno Veículo. É
inferior porque realiza somente a não existência de si mesmo individual, do “eu”, a
raiz da existência samsárica.

c) Sabedoria espiritual superior


Oriunda do Grande Veículo, a sabedoria espiritual superior acrescenta a
realização da não existência por si mesmo de todos os fenômenos à realização da não
existência de si mesmo, individual.

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O Sutra das três acumulações
O Sutra das três Acumulações (sanscr: Trikandharma Sutra; Tib: P’ungpo sum pai do),
também chamado Arrependimento das Transgressões dos Bodhisattvas, ou Arrependimento
diante dos 35 Budas, é uma prática que purifica as transgressões dos votos em geral e as
transgressões do voto de Bodhisattva em particular.
Sua origem é a seguinte: Um grupo de 35 monges que haviam tomado o voto de
Bodhisattva havia provocado inadvertidamente, a morte de uma criança, enquanto
mendigavam. Desejosos da purificação, perguntaram a Upali, um dos discípulos
próximos ao Buda, de solicitar ao Mestre um método de arrependimento apropriado.
Foi então que o Buda enunciou este sutra breve, no qual 35 Budas são mencionados em
relação ao 35 monges.
É dito que no momento no qual o Buda Sakyamuni pronunciou o sutra, seu
corpo emitiu uma poderosa irradiação luminosa com a qual vieram colocar‐se ao seu
redor no espaço, 34 Budas (Sakyamuni é considerado como um dos trinta e cinco
Budas). Os 35 monges prosternaram‐se, apresentaram oferendas, despertaram a
bodhicitta dentro de suas mentes e tomaram refugio nos Budas. Eles Arrependeram‐se
de suas faltas e devido exatamente a esse acontecimento, atingiram as terras dos
Bodhisattvas.
A recitação desse sutra é comum entre os tibetanos. Tsongkhapa, o fundador da
escola Gelupa ficou famoso por ter feito 100.000 prosternações diante de cada um dos
35 Budas.
As três acumulações contidas no sutra são:
1) Acumulação de homenagens
2) Acumulação de arrependimento
3) Acumulação de dedicatória

54
O Sutra das Três Acumulações
Para sempre, Eu e todos os seres tomamos refúgio no guru.
Tomamos refúgio no Buda.
Tomamos refúgio no Dharma.
Tomamos refúgio na Sangha.

Para Sakyamuni, o Perfeito Buda, o Conquistador, o Detentor, o Transcendente, o


Tataghatha, o Vitorioso sobre o inimigo, rendo homenagem.
Para aquele que completamente conquistou com a Essência Adamantina, rendo
homenagem.
Para o Jóia de Luz Radiante, rendo homenagem.
Para o Rei Soberano dos Nagas, rendo homenagem.
Para o Líder dos Heróis, rendo homenagem.
Para o Alegria Gloriosa, rendo homenagem.
Para o Jóia de Fogo, rendo homenagem.
Para o Jóia Luz da Lua, rendo homenagem.
Para o Visão significativa, rendo homenagem.
Para o Jóia da Lua, rendo homenagem.
Para o Imaculado, rendo homenagem.
Para o Generosidade Gloriosa, rendo homenagem.
Para o Puro, rendo homenagem.
Para o Generosidade da Pureza, rendo homenagem.
Para o Deus da Água, rendo homenagem.
Para o Deus dos Deuses da Água, rendo homenagem.
Para o Bondade Gloriosa, rendo homenagem.
Para o Floresta de Sândalo Glorioso, rendo homenagem.
Para o Esplendor Infinito, rendo homenagem.
Para o Luz Gloriosa, rendo homenagem.
Para o Glória Desprovida de Dores, rendo homenagem.
Para o Filho do Não Desejo, rendo homenagem.
Para o Glória das Flores, rendo homenagem.
Para o Que Conhece Claramente Através do Deleite da Irradiação Pura, rendo
homenagem.
Para o Que Conhece Claramente Através do Deleite da Irradiação do Lótus, rendo
homenagem.
Para o Glória das Riquezas, rendo homenagem.
Para o Glória da Vigilância, rendo homenagem.
Para o Muito Renomado Nome Glorioso, rendo homenagem.
Para o Rei do Estandarte Vitorioso que Coroa o Soberano, rendo homenagem.
Para o Glorioso Subjugador Completo, rendo homenagem.
Para o Perfeito Vencedor na Batalha, rendo homenagem.
Para o Que Foi Graças à Completa Vitória, rendo homenagem.
Para o Gloriosa Disposição que Eternamente Ilumina, rendo homenagem.
Para o Jóia Lótus que Subjuga Completamente, rendo homenagem.
Para o Tataghatta, Conquistador do inimigo, Perfeito Buda que habita numa Jóia de
Lótus, Rei da Montanha Soberana o Monte Meru, rendo homenagem.

55
Para esses e para todos os tathaghattas, os Vitoriosos sobre o inimigo, os Budas
perfeitos, os Conquistadores, os Detentores, os Transcendentes que habitam e vivem
em todos os mundos do universo que se estende nas dez direções, para todos esses
Budas Conquistadores, detentores e Transcendentes, Eu solicito a eles que prestem
atenção em mim.
Durante essa vida e as vidas que não tem começo ou limite, em todos os reinos
de existência do samsara que passei, cometi atos negativos, fiz com outros os
cometessem, e regozijei‐me causando outros a cometê‐los. Roubei bens pertencentes à
Estupas, a Sanga, e propriedades pertencentes às Sangas de todas as dez direções; fiz
com que outros as roubassem e regozijei‐me fazendo com que outros as roubassem.
Cometi os cinco atos de conseqüência imediata, fiz com que outros os cometessem e
regozijei‐me fazendo com que outros os cometessem. Estive engajado na via dos dez
atos danosos, levei outros a cometê‐los e regozijei‐me fazendo com que outros se
engajassem. Coberto por esses vários véus kármicos, irei para os infernos, irei para o
reino dos animais, irei para o reino dos espíritos famintos, irei nascer em locais
distantes do dharma, nascerei como um bárbaro, nascerei entre os deuses de longa
vida, não terei as faculdades dos sentidos, seguirei as falsas visões, não me regozijarei
com a vinda do Buda. Todos os véus advindos desses atos, na presença dos Budas
conquistadores, Detentores e Transcendentes, que possuem a sabedoria, que possuem
a visão, que são testemunhas, que são a verdade, que sabem, que vêem, que as
conhecem, não as oculto, não as escondo, e prometo abster‐me de cometer esses atos de
agora em diante.
Budas Conquistadores, Detentores e Transcendentes, solicito vossa atenção.
Durante essa vida e durante as vidas que não tem nem começo nem limite, em todos os
reinos de existência do samsara que passei, todas as fontes de virtude que obtive pela
generosidade mesmo se tenha sido somente encher a boca de alimento de um ser
nascido no reino dos animais, todas as fontes de virtude que tenha obtido através da
observância da ética, todas as fontes de virtude que tenha obtido mantendo a conduta
pura, todas as fontes de virtude que tenha obtido pelos meus próprios atos fazendo
seres amadurecerem completamente, todas as fontes de virtudes que tenha obtido pela
geração da sublime Bodhicitta, todas as fontes de virtude que tenha obtido pela
insuperável sabedoria, tendo‐as reunido, tendo‐as reunido, tendo‐as acumulado,
dedico‐as ao insuperável, para o mais superior dos superiores, para o melhor dos
melhores, Eu as dedico completamente para o supremo e perfeito Despertar. Do
mesmo modo que os Budas Conquistadores, Titulares e Transcendentes do passado
que realizada perfeitamente sua dedicatória, do mesmo modo como os Budas
Conquistadores, Detentores, e Transcendentes do passado que realizaram
completamente as suas dedicatórias, do mesmo modo como os Budas conquistadores,
Detentores e Transcendentes que ainda não tenham ainda realizado perfeitamente sua
dedicatória, do mesmo modo como os Conquistadores, Detentores e Transcendentes
do presente que realizam perfeitamente sua dedicatória; do mesmo modo, Eu realizo a
dedicatória perfeitamente.
Arrependo‐me de todos os atos negativos, regozijo me por todos os méritos,
dirijo minha exortação e preces para todos os Budas. Possa eu obter a insuperável, a
sublime e sagrada sabedoria. Todos os que são seres humanos sublimes, todos os
vitoriosos que vivem agora, todos os que vieram e que virão, louvo suas qualidades.

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Sakyamuni, o Muito Perfeito Buda, o Conquistador, o Detentor, o Transcendente,
o Tathaghatta, o Vitorioso sobre os inimigos.

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Essência Adamantina

Jóia Radiante de Luz

Alegria Gloriosa

Jóia do Fogo

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Soberano dos Nagas

Líder dos Heróis

Jóia Luz da Lua

Visão Significativa

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Jóia da Lua

Imaculado

Dom da Pureza

Deus da Água

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Doação Gloriosa

Puro

Deus dos Deuses


da Água

Bondade Gloriosa

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Sândalo Glorioso

Esplendor Infinito

Filho do Não Desejo

Glória das Flores

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Luz Gloriosa

Glória Desprovida
de Dores

Pureza Radiante

Lotus Radiante

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Glória das Riquezas

Glória da Vigilância

Glorioso que subjuga


Completamente

Perfeito Vencedor
na Batalha

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Muito Renomado
Nome Glorioso

Rei do Estandarte da Vitória


que Coroa o Soberano

Que Foi Graças à


Completa Vitória

Gloriosa Disposição
que Eternamente Ilumina

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Jóia de Lótus

Rei da Montanha Suprema

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Pequeno Glossário
Despertar: Estado de Buda

Seres: Existem seis classes de seres: deuses, semideuses, humanos, animais, espíritos
ávidos, e seres infernais.

Buda: O que despertou. A pessoa, o Buda histórico Sakyamuni. Em Tibetano Sangye.


Sang significa purificado das emoções conflituosas, dualidade e ignorância; gye
significa que o infinito potencial de qualidades do ser está desperto.

Estado de Buda: Estado desperto caracterizado pela sabedoria (como conhecimento da


verdadeira natureza dos fenômenos e suas manifestações nos três tempos), compaixão
por todos os seres e poder em ajudar todos os seres.

Compaixão: aspiração para libertar todos os seres do sofrimento e das causas do


sofrimento.

Emoções conflituosas: Desejo‐apego, ódio‐aversão, ignorância ou obscurecimento


mental, ciúme, orgulho e etc.

Dharma: Ensinamento de Buda ou caminho espiritual.

Dharmakaya: Corpo absoluto, designa o estado além de qualquer determinação


temporal ou espacial; corresponde ao vazio.

Kagyüpa: Uma das grandes quatro escolas do Budismo tibetano. As demais são:
Gelupa, Nyingma e Sakya. A linhagem Kagyü tem sua origem em Marpa, o tradutor
no séc. 11.

Karma: A lei do karma descreve o processo de causa e efeito. É um processo em três


fases:
‐um ato deixa uma marca na mente daquele que age (causa)
‐esse ato é mantido no potencial da consciência e sutilmente amadurece.
‐esse processo é atualizado particularmente na forma de sofrimento ou alegria
(resultado).

Lama (tib): Guru (sanscr): Mestre espiritual

Amor: Aspiração para trazer felicidade para todos os seres.

Nirmanakaya: Corpo de emanação surge como humano ou outras formas para guiar
seres comuns.

Sambhogakaya: Corpo do Perfeita Regozijo, surge para guiar seres para as terras
Puras.

Samsara: Ciclo de existência condicionada na qual cada ser nasce e morre. É


caracterizado pelo sofrimento, ignorância, impermanência e ilusão.

Sangha: Comunidade dos praticantes budistas. Distingue‐se a sangha comum da


Nobre Sangha que é composta por aqueles que atingiram as terras de bodhisattvas.

Stupa: Monumento ou objeto sagrado que simboliza a mente dos Budas e que difunde
sua energia espiritual.

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Sutra (sanscr): Texto de ensinamentos exotéricos do Buda.

Svabhavikakaya: Corpo de Essência em si, união dos três primeiros corpos


(Dharmakaya, Nirmanakaya e Sambhogakaya).

Tomar Refúgio: Colocar‐se sob a proteção do Buda, Dharma e Sangha (as Três Jóias).
No Vajrayana, toma‐se refúgio também nas Três Raízes, lamas, Yidams e protetores.

Tantra: texto de ensinamentos esotéricos do Buda que e relacionado a uma deidade.

Dez direções: Norte, Sul, Leste, Oeste, quatro pontos intermediários, zênite e nadir.

Três tempos: O passado, o presente e o futuro.

Vajrayana: Via do Budismo também chamada “Veículo do Diamante”, e se refere à


parte dos ensinamentos do Buda escritos em textos de natureza esotérica denominadas
tantras. Utiliza a recitação de mantras, visualizações de deidades e trabalha com
energias ou ventos sutis.

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