Você está na página 1de 14

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp.

26-39

ÉDIPO NEGRO: ESTRUTURA E ARGUMENTO


Rafael Alves Lima

Universidade de São Paulo

Contato: rafaelnego@gmail.com

Não esqueci da senhora limpando o chão desses boy cuzão


Tanta humilhação não é vingança, hoje é redenção
Uma vida de mal me quer, não vi fé
Profundo ver o peso do mundo nas costas de uma mulher
(Emicida – “Mãe”)

Resumo

O presente artigo apresenta uma interpretação da proposição do conceito de Édipo Negro, da antropóloga Rita
Segato. Por meio da reconstrução das estratégias argumentativas e autores de referência da autora, busca-se
sublinhar especificidades do conceito e marcar diferenças deste em relação a outras proposições que lhe são
vizinhas. A organização do campo a que se destina o conceito de Édipo Negro visa reforçar a importância e
a pertinência do conceito para iluminar este elemento central que organiza o campo social no Brasil que é o
exercício da maternidade transferida da mãe legítima para a babá, compreendida como herdeira da ama-de-
-leite da história escravagista brasileira. Contemplando os desdobramentos imediatos dessa formulação na
psicanálise e na experiência clínica, por fim, procura-se incluir o conceito no interior de uma paisagem comum
a outros autores que se relacionam lateralmente a ele, incluindo-o no debate geral da interseccionalidade,
que torna indispensável a articulação entre os níveis de classe, raça e gênero na crítica social brasileira e no
debate contemporâneo da psicanálise no Brasil.

Palavras-chave: Édipo Negro; Rita Segato; psicanálise; maternidade; Brasil; racismo.

Black Oedipus: structure and argument

Abstract

This article presents an interpretation of the proposition of the concept of Black Oedipus by the anthropologist
Rita Segato. Through the reconstruction of the argumentative strategies and authors of reference of the author,
it is sought to emphasize specificities of the concept and to mark its differences in relation to other propositions
that are neighbor to it. The organization of the field to which the concept of Black Oedipus is intended aims to
strengthen the importance and relevance of the concept to illuminate this central element that organizes the

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


social field in Brazil, which is the exercise of motherhood transferred from the legitimate mother to the nanny,
understood as direct heir of the wet nurse of Brazilian slavery history. Contemplating the immediate unfolding
of this formulation in psychoanalysis and clinical experience, finally, it is sought to include the concept within a
landscape common to other authors who relate laterally to it, including it in the general debate of intersectionali-
ty, which makes it indispensable the articulation between the levels of class, race and gender in Brazilian social
criticism and in the contemporary debate of psychoanalysis in Brazil.

Keywords: Black Oedipus; Rita Segato; psychoanalysis; maternity; Brazil; racism.

Édipo Negro: estructura y argumento

Resumen

El presente artículo presenta uma interpretación de la proposición del concepto de Edipo Negro, de la antrop-
óloga Rita Segato. Por medio de la reconstrucción de las estrategias argumentativas y autores de referencia
de la autora, se busca subrayar especificidades del concepto y marcar diferencias de éste en relación a otras
proposiciones que le son vecinas. La organización del campo a que se destina el concepto de Edipo Negro
pretende reforzar la importancia y la pertinencia del concepto para iluminar este elemento central que organiza
el campo social en Brasil que es el ejercicio de la maternidad transferida de la madre legítima a la niñera, com-
prendida como la heredera de la ama de cría de la historia esclavista brasileña. Contemplando los desdobla-
mientos inmediatos de esa formulación en el psicoanálisis y en la experiencia clínica, por fin, se intenta incluir
el concepto dentro de un paisaje común a otros autores que se relacionan lateralmente a él, incluyendo en el
debate general de la interseccionalidad, que hace indispensable la articulación entre los niveles de clase, raza
y género en la crítica social brasileña y en el debate contemporáneo del psicoanálisis en Brasil.

Palabras clave: Edipo Negro; Rita Segato; psicoanálisis; maternidad; Brasil; racismo.

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


28
1) Introdução sil busca recuperar a importância – Virgínia Bicudo,
Nas últimas décadas parece estar sendo uma Neusa Santos Souza e Lélia Gonzalez – pertencem
exigência maior do pensamento social brasileiro ajus- a momentos históricos e circulações intelectuais dife-
tar as contas com o seu passado. As mais diversas rentes, com compromissos intelectuais diversos en-
tradições da antropologia e da sociologia da primeira tre si no que tange ao saber e à prática psicanalítica.
metade do século XX, do eugenismo de Oliveira Vian- Penso que este movimento recente de recuperação
na ao mito da democracia racial de Gilberto Freyre destas três figuras maiores (entre outras a serem re-
, passaram a estar sob os mais intensos debates in- descobertas e revigoradas) da reflexão social de ins-
telectuais e revisões até o importante giro efetuado piração psicanalítica sobre a questão racial se dá hoje
por Florestan Fernandes em A Integração do Negro por uma dificuldade latente que tardou a ser enuncia-
na sociedade de classes (1965), bem como de seu da com todas as letras – a saber, que a psicanálise
grupo, que teve como uma de suas componentes a em suas múltiplas dimensões (discurso, saber, movi-
psicanalista Virgínia Bicudo. Para dar alguns exem- mento, instituição e prática clínica) não deve se eximir
plos, os livros de Abdias Nascimento (1978/2016), 1) de problematizar a questão racial, 2) de apresentar
Clóvis Moura (1988) e mais recentemente Kabenge- suas leituras acerca do racismo estrutural e os mo-
le Munanga (1999) atestam a imprescindibilidade de dos de subjetivação que lhe são correlatos e 3) de se
se pensar a história do pensamento social brasileiro manter em posição crítica à altura de seus vizinhos
sob a ótica da questão racial, ou mais precisamen- críticos da teoria social a toda forma de segregação
te, a indispensabilidade de compreender os compro- que se imponha do Estado e da vida social por sobre
missos que a intelectualidade brasileira firmou com o indivíduo. Esta dificuldade latente se sedimenta em
as agendas de políticas raciais do Estado. Seja para solo brasileiro não por acaso. Afinal, a partir de que
justificá-las sob o prestígio da Ciência, seja para dar pontos seria possível assumir esta responsabilidade
ensejo a políticas públicas (especialmente de saú- ética maior? Ou seja, de que modo a psicanálise pode
de e de segurança) que interferiram diretamente na a partir de suas especificidades contribuir de fato para
vida da população negra no pós-abolicionismo, os a intelectualidade do movimento negro brasileiro na
ditos cientistas sociais espelhavam em seus livros e contemporaneidade, mantendo a potência de seu
teorizações gerais a razão de Estado de seu tempo – escopo e sem delegar o diálogo que lhe compete a
como aliás costuma acontecer a toda ciência social outrem?
que não dispõe de autonomia relativa de pautas para Penso que há inúmeras formas que a psica-
decidir a respeito de sua própria agenda intelectual nálise pode e deve reivindicar um lugar neste debate.
segundo crivos que lhe seriam internos. A ausência Virgínia Bicudo, Neusa Santos Souza e Lélia Gonza-
da reflexividade necessária para o olhar crítico em re- lez são exemplos de como fazê-lo de forma extraordi-
lação à realidade social (ou a indisponibilidade para nária, e penso ainda que há outras formas de manter
ela, seja por critérios objetivos ou subjetivos) bloqueia o legado delas sem necessariamente repeti-las ou
o processo de desnaturalização dos fenômenos apa- imitá-las, posto que ainda está em curso a tarefa de
rentes, de tal modo que se torna impossível aplicar reconhecê-las devidamente como agentes em um
métodos de aproximação e compreensão da realida- campo que ainda parece ser refratário à urgência do
de social capazes de fomentar a autocrítica do exercí- debate sobre a questão racial.
cio mesmo do pensar. Um dos elementos chave para dar destino a
A intelectualidade recente do movimento ne- tal urgência parece ter sido os incontáveis encami-
gro brasileiro, como nos exemplos acima, realiza um nhamentos que se quis dar ao complexo de Édipo
notável esforço nesse sentido, produzindo obras cujo na história da psicanálise. Se a adjetivação do Édipo
impacto é inquestionável, mas cujos efeitos estão sob pode estar entregue a tantos mal-entendidos, levan-
avaliação crítica neste exato momento de nossa his- tando a suspeita da vulgarização de um dos mais im-
tória. É curioso, outrossim, que o campo psicanalítico portantes pilares do edifício conceitual psicanalítico,
tenha tardado demasiadamente a acompanhar este a confusão pode parecer ainda maior quando vista
movimento . As três figuras intelectuais provavelmen- de longe. Isso porque há uma longa e tortuosa as-
te mais notáveis que a história da psicanálise do Bra- cendência da questão da universalidade do comple-

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


29
xo de Édipo na história da psicanálise. Lembremos tornássemos obrigatoriamente à pergunta que a cul-
por exemplo das propostas de Heisaku Kosawa e de tura popular brasileira se encarregou de encaminhar
Girindrasekhar Bose nos anos 20 e 30, submeten- de forma clara – não por acaso, uma expressão que
do a teoria edípica às particularidades culturais e no remete aos cuidados para com uma criança: “como
Japão e na Índia respectivamente. Se quisermos, não jogar o bebê com a água suja?”.
poderíamos estender o espectro da problematização É desta posição que alguém que trabalha no
do binômio universal-cultural do complexo de Édipo campo da história da psicanálise – como este que
até (para citar alguns poucos nomes) Karen Horney, aqui escreve – acaba se defrontando inevitavelmente
Erich Fromm, Anne Parsons, George Devereux, Nan- em suas pesquisas quando se vê diante de uma abor-
cy Chodorow, Julia Kristeva, Luce Irigaray, Gilles De- dagem crítica em relação ao complexo de Édipo, nas
leuze e Félix Guattari - ou seja, uma problematização versões freudiana e pós-freudianas. Uma das últimas
que atravessa a psiquiatria transcultural, a etnopsi- que me ocorreu estudar com maior atenção nestes
canálise, a filosofia da diferença, o pensamento pós- últimos anos foi o de Rita Laura Segato, antropóloga
-colonial, os feminismos e as teorias de gênero . Com argentina radicada no Brasil e professora da UnB, e
efeito, o complexo de Édipo parece ter se prestado a a sua proposição do Édipo Negro (Segato, 2006). Di-
críticas e revisões teóricas de ordens tão diversas que rigimo-nos a ele não apenas para desfazer possíveis
obviamente não nos cabe aqui avaliar a pertinência confusões com outras abordagens, mas sobretudo
de cada uma delas. O fato é que de maneira geral para podermos anunciar aquilo que estamos buscan-
pode-se dizer que as críticas acabaram funcionando do: afinal, como pôde o campo psicanalítico no Brasil
na história da psicanálise como uma espécie de motor desenvolver um discurso tão abundante e rigoroso
produtivo, que exigia dela uma reinvenção constante sobre a maternidade, pautado nas teorizações anglo-
no que tange à absorção das críticas e à tarefa ética -saxônicas , a despeito da percepção de que o exer-
e política maior de estar à altura de seu tempo, como cício real e concreto da maternidade é objetivamente
afirmara Lacan: “deve renunciar à prática da psica- desempenhado por babás geralmente negras nos la-
nálise todo analista que não conseguir alcançar em res das classes médias e altas, ou entre famílias de
seu horizonte a subjetividade de sua época” (Lacan, camadas sociais minimamente distintas?
1953/1998, p. 321).
Não obstante, muitas das contra-críticas às 2) Estrutura e desenvolvimento do Édipo Negro:
querelas da não universalidade do Édipo foram não articulações e referências principais
erroneamente taxadas de conservadoras – e, no
caso das contra-críticas à “culturalização” do Édipo, Vale iniciar com algumas indicações a respei-
um conservadorismo colonialista ou eurocêntrico. to da nomeação Édipo Negro. Optamos por manter a
Nas decisões que dividem as leituras entre universais denominação Édipo Negro apesar do fato de que para
aplicáveis, sujeitos a variações culturais específicas, a publicação em português optou-se pelo título “Édipo
e simplesmente não universais, há uma avaliação Brasileiro”, diferentemente de como ele foi nomeado
a ser renovada e realizada a cada controvérsia que nas versões anteriores em francês e em espanhol. É
aparece no campo. Trata-se de uma qualificação da importante também não confundir o Édipo Negro ou
recepção da crítica no campo, como por exemplo afe- Édipo Brasileiro com o Édipo Africano de Marie-Céci-
rir se ela sofreu prejuízos de recepção em função do le Ortigues e Edmond Ortigues (Ortigues & Ortigues,
próprio argumento, ou se ela pôde se disseminar por 1989). Não há uma menção sequer ao trabalho dos
responder a questões que aguardavam por serem Ortigues no ensaio de Segato, e pela argumentação
nomeadas – portanto, uma avaliação do nível e da geral do ensaio, veremos que se trata de algo de fato
disposição ao compromisso entre a crítica e o cam- bastante distinto.
po a que ela se destina. É como se, neste balanço Com efeito, é do conhecido debate tido como
entre a defesa do caráter universalista ou estrutural seminal na história da psicanálise entre Bronislaw
da teoria edipiana (que pode ser ou não da ordem de Malinowski e Ernest Jones a respeito da universalida-
um conservadorismo epistêmico) e as interpelações de do Édipo que parte o texto de Rita Segato, debate
oriundas de ocorrências regionais ou particulares, re- este que, segundo a autora, “acredito ter sido uma

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


30
antecipação do hoje aceito desacoplamento entre a Ora, com efeito, é por isso que a análise de
estrutura edípica e suas manifestações concretas” Segato parece suficientemente distante – e por isso
(grifos nossos ). Tendo atravessado inclusive Lacan mais contemporânea – daquela promovida por mui-
e sua obra, na inflexão desde Complexos Familiares tos psicanalistas nos anos 80 e início dos 90, que
(Lacan, 1938/2002) até a assunção textualmente levi- buscavam compreender na ideia de “déficit da lei” a
-straussiana do Édipo estrutural (Sales, 2008), os im- raiz fundamental dos problemas sociais brasileiros e
pactos dessa discussão se estenderam até às obras da brasilidade que lhes é subjacente (Backes, 2000;
mais recentes do antropólogo e psicanalista Melford Dunker, 2014; Dunker, 2015). É por isso que o con-
Shapiro. ceito de maternidade transferida, proposto por Suely
No recorte que Segato faz para tratar das Gomes Costa (2002), com efeito, parece mais ade-
questões da maternidade no Brasil, a autora se vale quada para a formulação do Édipo Negro do que de
da desvinculação entre estrutura geral e ocorrência fato oferece Tarlei de Aragão em seu texto.
particular para refletir sobre a “mãe” e a babá. A an- Segundo a autora:
tropóloga menciona o trabalho Mãe Preta, Tristeza Mulheres mais e menos abastadas vincularam-
Branca do antropólogo Luiz Tarlei de Aragão (1991), -se a milhares de mulheres mais e menos po-
advertindo que há pouca coincidência entre os dois. bres aplicadas ao trato de suas casas, através
Com efeito, Tarlei de Aragão parte da pergunta “o que de infindáveis tarefas e de um grande número
é a mãe?” para decompô-la em “dois segmentos ca- de compensações recíprocas. A saída para es-
tegóricos, duas figuras epônimas: a mãe biológica, e tudar, trabalhar e equiparar-se aos homens, ou
a ama-de-leite, a mãe preta, ou a babá, ou ambas” para a mera permanência no ócio, através da
(Aragão, 1991, p. 27). É verdade que, neste sentido, maternidade transferida de umas para outras
Tarlei de Aragão parece antecipar Segato naquilo que mulheres, marca seguidos pactos (e guerras)
ele classifica enquanto “disjunção da função mater- domésticos. Só o cuidadoso preparo dessa
na”, “transcrita no âmbito do simbólico e que se se- transferência de responsabilidades e de afetos
dimentou ao longo de um processo sócio-histórico” no interior da vida doméstica podia impedir o
(Aragão, 1991, p. 28). No entanto, o objetivo do texto risco de caos na vida familiar. (Gomes Costa,
do antropólogo é sedimentar a ideia de uma transmis- 2002, p. 308)
são da “sensualidade difusa”, da “licença mesclada, Há aqui uma ideia interessante no que tange
ou temperada pela afetividade” que seria o marco da à reprodução do trabalho doméstico que fundamenta
relação entre a mãe preta e o infante ou a “sinhazi- a maternidade transferida. A precariedade salarial e
nha”: “a babá imprime, por assim dizer, na criança, o sucateamento das condições laborais conduzem
suas modalidades de organização da afetividade, e a informalidade dos vínculos empregatícios à fusão
suas formas próprias de reagir pela emocionalidade compulsória entre laços de trabalho e laços afetivos.
ao mundo circundante” (Aragão, 1991, p. 30). Con- É como se em determinado momento a oferta da mão
sequentemente, a separação entre sexo e casamen- de obra da empregada doméstica ou da babá aos
to aparece sob a pena de uma proposição genérica, patrões que por ela se interessam viesse a se tornar
chamada de “exílio do corpo”. É a condição de exílio secundária diante da sensação de pertencimento à
que liga a transmissão da sexualidade difusa desau- família contratante, da comunhão identitariamente
torizada do reconhecimento social com a dita “tris- retroalimentada de uma mesma causa tácita que re-
teza branca”, resultado da experiência do exílio dos cebe o nome de maternidade.
europeus mediterrâneos no Brasil. Ou seja, por meio A partir da segunda sessão do ensaio, Segato
desta ligação tácita que estabelece um elo comum recupera a história da contratação das amas-de-leite
entre transmissão da violência da mãe preta e a tris- na chave de uma história de ambiguidades. O saber
teza branca , é possível extrair crivos com potencial médico-“científico” que promovia ideias como, por
heurístico capazes de dar razões explicativas para a exemplo, a de que o ato sexual era vedado à mãe
configuração social brasileira, pautada no privilégio grávida, pois o esperma “contaminaria” o leite ma-
da licença (ligada à ideia de posse) em oposição ao terno. Mais proeminente ainda foi a crítica ao “aleita-
sistema de trocas (calcado na relação com a lei). mento mercenário” da segunda metade do séc. XIX.

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


31
Segundo descreve Sandra Koutsoukos (2009), houve Iemanjá e Oxum. Iemanjá representa a “mãe legíti-
neste período uma diferença entre as amas-de-leite ma”, confluência entre a mãe biológica e a mãe jurí-
escravas que os senhores alugavam a terceiros para dica, enquanto Oxum representa a “mãe de criação”.
a amamentação e as amas livres, brancas ou negras. Assentados nessa mitologia, os arranjos familiares no
As primeiras tinham uma espécie de garantia (expe- Brasil frequentemente se justificam em chave mítica-
riências prévias, competências, obediência, servilis- -religiosa, em que a mãe legítima delega a criação de
mo, “caráter”) atestadas pelo senhor, enquanto as seus filhos a outrem. A autora também chama aten-
segundas eram taxadas de “mercenárias”, cujo juízo ção para o expediente que se assenta sob a égide da
negativo se ancorava no abandono da amamentação transgeracionalidade e da repetição do padrão da ma-
do próprio filho em benefício do filho do senhor que a ternidade transferida, uma vez que a “mãe legítima”,
contratava. quando associada ao mar enquanto dissimulação e
É daí que se pode traçar uma genealogia da incredulidade (“pode-se ver a superfície, mas nunca o
expectativa de “boa índole” de babás e da rede que a fundo”), não é necessariamente a mais indicada para
sustenta de confiança entre senhores-patrões, uma o cuidado dos filhos – especialmente se comparada
espécie de prevenção contra corrupções morais que a Oxum, “mãe de criação” genuinamente amorosa e
o excesso de convivência e intimidade entre brancos protetora. Em suma,
e negros poderiam gerar. a figura da “mãe legítima” faz referência a pelo
São de uma virulência que chama a atenção as menos três temas nucleares para a tradição, em
diatribes da época na imprensa escrita contra geral carregados de ambivalência: separação
as humildes provedoras da maternidade que dos vínculos de parentesco dos laços biológi-
doavam seu afeto e cuidado às crianças de fa- cos [...]; o papel do mar na separação da África
mílias brancas e branqueadas. Diatribes estas, originária; e a indiferença e a traição do estado
impregnadas de intenso ódio, escritas segura- (Segato, 2006).
mente por homens que, na infância, foram em- Para Segato, o elemento mítico é um articu-
balados junto a seios como os delas. A estas lador fundamental nesta tríade. É ele quem organiza
expressões de ódio opõem-se as de apreço di- subjetivamente a rede de maternidades transferidas
rigidas ao seio materno branco e limpo, o seio perante a negligência do Estado. Mais do que isso,
recomendado, agora, da mãe-senhora. Dessa ele atravessa também as expectativas das classes
época data a conhecida frase que rodou nosso menos abastadas de virem a ter uma babá como sig-
continente em boca dos higienistas: “mãe tem no de ascensão social, fazendo com que tal ambição
uma só”. (Segato, 2006) seja comum a estratos sociais diversos:
Segato também está atenta às fotografias das o trabalho da hegemonia do discurso burguês
amas-de-leite com os seus bebês, que constituem por em todo o espectro das sociedades capitalistas,
si só uma fonte historiográfica valiosa (Stancik, 2009). que unifica as aspirações, fazendo neste caso
Na impossibilidade evidente de reconstruir tal história que mães dos estratos sociais menos favore-
por meio de registros ou rastros escritos, é razoável cidos (como achei entre as próprias mulheres
que para este tipo de trabalho as fotos sejam a fonte do Candomblé) aspirem, por sua vez, a contra-
primária por excelência, a partir das quais se constrói tar babás como um bem prezado no universo
o argumento conceitual e seu lastro histórico. As fo- familiar. É, portanto, nas vozes codificadas do
tografias retratam a rede de afetos e reciprocidades discurso higienista e do mito que encontramos
(Koutsoukos, 2009) e são emblemáticas no que diz a marca inconfundível e contrastante das duas
respeito aos usos e costumes da época – vestimen- posições a falar sobre o perfil e o valor de cada
tas, adornos, posição central ou periférica no enqua- uma das mães. (Segato, 2006)
dre etc. Bem, dito isso, fica evidente que a materni-
Posteriormente, Segato recupera o desaco- dade transferida é transversal à divisão de classes,
plamento entre a estrutura edípica e suas manifesta- sendo sustentada por aspirações e valores facultados
ções concretas na chave da maternidade pela tradi- pelo capital. Logo, por mais central que seja a função
ção das religiosidades africanas, na diferença entre do mito na sustentação da diagonal da maternidade

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


32
transferida, Segato não procura fazer dele um substi- de la violencia (Segato, 2003), no qual há um diálo-
tuto do mito de Édipo. Pelo contrário, a estratégia da go mais direto da autora com Lacan. No entanto, no
antropóloga não é a de abandonar o Édipo enquanto que se refere ao presente ensaio – e, vale lembrar,
matriz para a compreensão da vida subjetiva, ou tro- “nome-da-mãe” não é um conceito consagrado nem
cá-lo pela mitologia iorubá ou outra; tudo indica que a por Lacan, nem por Butler –, ao que tudo indica, não é
tentativa de buscar pontos de encontro e cruzamento nesta ideia que a referência psicanalítica aparece de
entre o Édipo tal como estabelecido na tradição psica- forma mais produtiva e reluzente.
nalítica e outras mitologias não visa a culturalização Com efeito, parece que o diálogo com a psi-
do Édipo no sentido em que apontamos anteriormen- canálise se fortalece por outras vias apresentadas
te. É por isso que a autora, por exemplo, chega a falar mais adiante no texto. Recuperando o trabalho da
em “foraclusão do nome-da-mãe”: historiadora Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro sobre
foraclusão idiossincrática do nome-da-mãe, os discursos sobre as amas-de-leite na segunda me-
na linha em que Judith Butler amplia o concei- tade do séc. XIX no Rio de Janeiro (Carneiro, 2006),
to lacaniano de foraclusão [...]. De outra forma Segato sublinha a pergunta central, como se interpe-
esta foraclusão - do - nome da mãe poderia ser lasse com precisão cirúrgica ao mesmo tempo tanto
descrita de forma mais ortodoxa e concordante as suas fontes primárias, documentos e fotografias,
com a interpretação lacaniana de psicose como como as fontes secundárias e o trabalho de seus co-
foraclusão (psicótica) do nome do pai, em este legas: “onde está a babá?”. Logo, não se trata de per-
caso numa falência específica da metáfora pa- guntar “o que é a mãe?”, tal como o fez Tarlei de Ara-
terna: sua incumbência de nomear e gramatica- gão – e quiçá também por isso tenha havido tamanha
lizar a mãe. (Segato, 2006) discrepância na condução das análises, posto que
No texto, Segato não explora profundamen- perguntas tão distintas só poderão levar a respostas
te a referência a Judith Butler – que, com efeito, es- igualmente distintas. A antropóloga critica o fato de
pecialmente no livro citado, A Vida Psíquica do Po- não haver uma análise específica sobre as babás na
der (Butler, 2017), recorre ao conceito de foraclusão celebrada coletânea História das Mulheres no Brasil,
diversas vezes com finalidades distintas do uso a de Mary Del Priore (2006), bem como também não há
que Segato recorre. A ideia é sugestiva, pois pode- em trabalhos considerados clássicos de Caio Prado
ria apontar para o fenômeno próprio das configura- Jr. ou Emília Viotti da Costa, por exemplo. Excluídas
ções familiares brasileiras em que a não inscrição do de cena em meio aos desvarios da ideologia da de-
nome do pai na assunção da paternidade no regis- mocracia racial, as babás irrompem enquanto ponto
tro da Lei é bastante recorrente, em um cenário em cego: é inútil buscar na bibliografia clássica corrente a
que, nas palavras de Emicida em Levanta e Anda, “a história profunda das babás no Brasil, pois isso seria
mãe assume, o pai some de costume: no máximo é como tentar encontrar a babá em respostas à inespe-
um sobrenome” – ou ainda, como diria Mano Brown cificidade da pergunta “o que é a mulher?”. Com isso,
em Negro Drama: “Família Brasileira: dois contra o Segato recorta uma pergunta bastante específica por
mundo”. Não obstante, apesar de tendermos a ima- meio da qual ela encontra a interlocução com a psica-
ginar que a “falência específica da metáfora paterna” nálise.
e consequentemente o seu insucesso em “nomear e
gramaticalizar a mãe” incide nesse fenômeno, o uso 3) “Um gesto psíquico só”: o expediente edípico
do conceito acaba por parecer mais um projeto, um Definição do conceito de estresse
“gesto em direção a”, do que uma concepção de ares Vejamos com a autora analisa um texto cur-
definitivos. A hipótese lançada, mas não desenvol- to, porém potente, que é o epílogo do historiador Luiz
vida de Segato de “foraclusão idiossincrática do no- Felipe de Alencastro ao segundo tomo de História da
me-da-mãe” por fim se torna tão idiossincrática que Vida Privada no Brasil (Alencastro, 1997). Segato afir-
carece de uma justificativa epistêmica e metapsico- ma:
lógica maior do que aquela apresentada. É provável O “direito de propriedade” [...] não é exclusivo
que possamos encontrar efeitos e outras pistas em do senhor e do escravo, é também o sentimento edí-
outro livro de Segato, Las estructuras elementares pico de toda criança com relação ao território inteiro e

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


33
indiscriminado do corpo materno-infantil. Este senti- a negação da mãe com a negação da raça e as
mento de propriedade territorial sobre o corpo da mãe dificuldades de sua inscrição simbólica. Ocorre
como parte do próprio demora e custa em ser abando- um comprometimento da maternidade pela ra-
nado. Ele é persistente. O sujeito se prende a ele por cialidade, e um comprometimento da racialida-
muito tempo até depois de que já compreendera que de pela maternidade. Há uma retroalimentação
a unidade territorial originária não é tal. Quando se entre o signo racial e o signo feminino da mãe.
perde o sentido de unidade, permanece o sentimento Portanto, longe de dizer que a criação do bran-
de propriedade. O que era um, passa a ser o pressu- co pela mãe escura resulta numa plurirraciali-
posto do domínio de um sobre o outro. Tudo o que dade harmônica ou que se trata de um convívio
trai ou limita esse domínio não é bem recebido, e fa- inter-racial íntimo como fazem os que tentam
cilmente o sentimento amoroso transforma-se em ira romantizar este encontro inicial, o que afirmo é,
perante a perda daquilo que se crê próprio. Se somar- pelo contrário, que o racismo e a misoginia, no
mos isto ao fato de que se é, de fato, proprietário ou Brasil, estão entrelaçados num gesto psíquico
locatário, do corpo da mãe, por aluguel ou por salário, só (Segato, 2006, grifos nossos).
a relação de apropriação se duplica, e assim também Ora, nesta leitura cruzada entre estrutura edí-
suas consequências psíquicas. Finalmente, percebe- pica e suas manifestações concretas, quem de fato
mos o agravamento das dificuldades ao lembrar que parece ter antecipado o Édipo Negro de Rita Sega-
a mãe substituta, escrava ou contratada, ainda quan- to não aparece citada no texto. Não estamos falan-
do se invista afetivamente no vínculo contraído com do nem de Malinowski, nem de Tarlei de Aragão: não
a criança, permanecerá dividida, “fendida”, como diz seria arriscado sustentar que a interlocutora remota
o nosso autor, pela consciência de um passado - de e não declarada de Édipo Negro é Lélia Gonzalez.
escravidão ou pobreza - que não lhe deixou escolha. Leiamos por exemplo um parágrafo de Racismo e
Por mais amor que sinta, sempre saberá que não che- Sexismo na Cultura Brasileira, de 1984:A palavra
gou ao vínculo como consequência de suas próprias estresse vem do inglês stress. Este termo foi usado
ações e, sim, coagida pela busca de sobrevivência inicialmente na física para traduzir o grau de deformi-
(Segato, 2006). dade sofrido por um material quando submetido a um
Ora, citar este longo parágrafo se faz neces- esforço ou tensão e transpôs este termo para a me-
sário para entendermos como Segato articula a te- dicina e biologia, significando esforço de adaptação
oria psicanalítica do Édipo e as suas manifestações do organismo para enfrentar situações que considere
locais nos modos de subjetivação brasileiros. A inci- ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno.
dência social no uso da categoria de propriedade é (SELYE, 1956, p. 2)
notável, pois ela faz precipitar na relação mãe-bebê a É interessante constatar como, através da fi-
dimensão do domínio sobre o outro. Realiza-se assim gura da “mãe-preta”, a verdade surge da equi-
um elo entre o sentimento de posse característico da vocação (Lacan, 1979) . Exatamente essa figu-
experiência edípica nos momentos primevos da vida ra para a qual se dá uma colher de chá é quem
da criança, própria à condição fusional da materni- vai dar a rasteira na raça dominante. É através
dade indispensável para a constituição subjetiva do dela que o “obscuro objeto do desejo” (o filme
bebê, e a investidura que se desdobra a partir dessa do Buñuel), em português, acaba se transfor-
paisagem afetiva em termos de relação de poder em mando na “negra vontade de comer carne” na
sentido largo. “A objetificação do corpo materno - es- boca da moçada branca que fala português. O
cravo ou livre, negro ou branco - fica aqui delineada: que a gente quer dizer é que ela não é esse
escravidão e maternidade revelam-se próximas, con- exemplo extraordinário de amor e dedicação to-
fundem-se, neste gesto próprio do mercado do leite, tais como querem os brancos e nem tampouco
onde o seio livre oferece-se como objeto de aluguel” essa entreguista, essa traidora da raça como
(Segato, 2006). quem alguns negros muito apressados em seu
a perda do corpo materno, ou castração sim- julgamento. Ela, simplesmente, é a mãe. É isso
bólica no sentido lacaniano, vincula definitiva- mesmo, é a mãe. Porque a branca, na verdade,
mente a relação materna com a relação racial, é a outra. Se assim não é, a gente pergunta:

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


34
que[m] é que amamenta, que dá banho, que gumento de Gonzalez, pois isso traria consequências
limpa cocô, que põe prá dormir, que acorda de para a construção do argumento geral. Não obstante,
noite prá cuidar, que ensina a falar, que conta a anterioridade de Gonzalez se dá na medida em que
história e por aí afora? É a mãe, não é? Pois para ela a mãe-preta se faz presente na superfície
então. Ela é a mãe nesse barato doido da cul- palpável e material da linguagem, nos signos que de-
tura brasileira. Enquanto mucama, é a mulher; veriam ser discretos e secundários, mas que no laço
então “bá”, é a mãe. A branca, a chamada legí- social se tornam prerrogativas da exclusão social
tima esposa, é justamente a outra que, por im- por meio das sutilezas nada sutis daquilo que Pierre
possível que pareça, só serve prá parir os filhos Bourdieu (2007) denominou distinção. Acompanhe-
do senhor. Não exerce a função materna. Esta mos o exemplo de Gonzalez:
é efetuada pela negra. Por isso a “mãe preta” é Chamam a gente de ignorante dizendo que a
a mãe. (Gonzalez, 1984, p. 235) gente fala errado. E de repente ignoram que a
É notável que a posição de Lélia Gonzalez é presença desse r no lugar do l, nada mais é que
significativamente mais radical aqui. A radicalidade a marca linguística de um idioma africano, no
reside principalmente no fato de que não há disjunção qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante?
da função materna, dividida em “mãe legítima” e “mãe Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala
de criação”. A mãe branca ou mãe biológica tam- dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos
pouco representa a matrilinearidade pretendida por verbais, que condensa você em cê, o está em
Malinowski como crítica ao Édipo enquanto estrutura tá e por aí afora. Não sacam que tão falando
universal. Por isso, não há transmissão de “sensuali- pretuguês. (Gonzalez, 1984, p. 238)
dades difusas” como pretendia Tarlei de Aragão: no É notável a influência de Lacan no pensamen-
trabalho de Lélia Gonzalez, aquilo que se transmite é to de Lélia Gonzalez aqui. Sendo significativamente
a linguagem – que ela denomina pretuguês: instigada pelas ideias do psicanalista carioca Magno
E quando a gente fala em função materna, Machado Dias (cognominado MD Magno, uma refe-
a gente tá dizendo que a mãe preta, ao exer- rência constante em seus textos) e a leitura lacaniana
cê-la, passou todos os valores que lhe diziam promovida pelo Colégio Freudiano do Rio de Janeiro
respeito prá criança brasileira, como diz Caio entre o fim dos anos 1970 e meados dos anos 1980,
Prado Júnior. Essa criança, esse infans, é a dita Gonzalez se revela uma herdeira de tipo raro do la-
cultura brasileira, cuja língua é o pretuguês. A canismo à brasileira. Provavelmente por isso mesmo
função materna diz respeito à internalização de a radicalidade seja maior em Gonzalez, pois pensar
valores, ao ensino da língua materna e a uma em termos de função materna não implica necessa-
série de outras coisas mais que vão fazer parte riamente em um compromisso relativista quanto a
do imaginário da gente . Ela passa prá gente quem ou quantos/quantas ocupam a função ou se al-
esse mundo de coisas que a gente vai chamar ternam nela, posto que isso seria secundário ao fato
de linguagem. E graças a ela, ao que ela passa, de a função ser ou não cumprida. Por outro lado, a
a gente entra na ordem da cultura, exatamen- divisão entre mãe legítima e mãe de criação em Sega-
te porque é ela quem nomeia o pai (Gonzalez, to proporciona um diagnóstico sagaz, que talvez não
1984, p. 235-236). fosse possível em outros termos. Trata-se da ideia de
É neste sentido que a última antecipa a pri- função paterna da mãe legítima:
meira na percepção de que não é no campo da pro- hegemonizada pelo pensamento burguês e as
pagação de uma desordem afetiva que contamina a prédicas da modernidade, [a mãe legítima] terá
relação do brasileiro com a Lei que a mãe-preta se faz que encarnar pelo menos em parte a função pa-
presente. A diferença entre as duas reside no fato de terna, no sentido de incorporar a lei e barrar a
que para Gonzalez não há disjunção da maternidade intimidade entre a babá e a criança. Esta entra-
(a mãe-preta é a mãe), enquanto que para Segato a da paterna da mãe na cena familiar condiz tam-
desagregação entre mãe legítima e mãe de criação é bém com o fato de que, ao negar o investimento
fundamental para a formulação do Édipo Negro. Nes- materno por parte da babá substituindo a clave
se sentido, é razoável que Segato não se valha do ar- do afeto pela clave do contrato, a mãe legítima

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


35
fica igualmente aprisionada numa lógica mas- (Freire Costa, 1983a), haveria de insistir na questão
culina e misógina, que retira da mãe-babá sua racial direcionada aos conflitos sobre o corpo. Pro-
condição humana e a transforma em objeto de vavelmente devido à forte influência do pensamento
compra e venda. (Segato, 2006) de Michel Foucault em suas primeiras obras, Freire
Notemos como é interessante a articulação Costa não repete a condição de alienação da experi-
aqui sugerida. A mãe legítima cumpre função pater- ência do corpo na chave do “exílio de si” tal como o fez
na ao barrar o gozo fusional da relação entre bebê Tarlei de Aragão, mas de fato tal estratégia argumen-
e babá pela via do contrato. A esta altura parece já tativa não favorece a possibilidade de traçar rotas de
bastante claro que não há naturalização de lugares leitura capazes de dar conta da localização da babá
e posições. Muito pelo contrário. Neste arranjo com- em sua profundidade histórica mais pungente. Pesa
plexo, há sobretudo os impactos nefastos do colonia- aqui o fato de que Freire Costa de fato não se dedicou
lismo que se atualiza na triangulação mãe legítima, diretamente à questão racial em suas primeiras obras
mãe-babá e criança em uma estrutura historicizada – apesar de tangenciá-la nos livros supracitados; não
nos expedientes contratuais, capitalistas e patriarcais obstante, é interessante a sua presença na obra de
. Poderíamos dizer simplesmente que a articulação Segato como alguém que poderia ter entregado mais
de Segato é de caráter interseccional. É precisamen- material do que conseguiu desenvolver em texto.
te a interseccionalidade que permite à autora tratar o Há uma hipótese que pode explicar pela mar-
fenômeno na qualidade histórica dos resultados do gem por que isso se dá dessa forma. A questão é que
higienismo e na qualidade psicanalítica do sintoma: o texto “Da cor ao corpo: a violência do racismo” foi
Na sua transferência ao Brasil por médicos e escrito por Jurandir Freire Costa como prefácio para
pedagogos, aproveita-se a externalidade da o clássico Tornar-se Negro, de Neusa Santos Sou-
postura higienista, moderna e ocidental, para za (1983). Reproduzido fora do contexto – ou seja,
produzir aqui uma situação de externalidade quando lido na coletânea avulsa de textos de Juran-
com relação ao quadro percebido como de con- dir Freire Costa denominada Violência e Psicanálise
taminação afetiva e cultural pela África. O higie- (Freire Costa, 1986) e aliado ao fato de que em ne-
nismo oferece a possibilidade de um olhar de nhum momento o texto declara com todas as letras
fora, estranhado, a uma elite que está, precisa- qual livro está sendo prefaciado (na verdade, sem dar
mente, buscando essa saída. A foraclusão da nome à autora que “empresta seu talento aos oprimi-
raça encarnada na mãe é fundamentalmente dos” (Freire Costa, 1983b, p. 1), parece ter escapado
isso: é o acatamento da modernidade colonial aos olhos da autora os reais motivos pelos quais o
como sintoma (Segato, 2006, grifos nossos). psicanalista “fica aquém das possibilidades da sua
Mais uma vez, a categoria de foraclusão se análise quando coloca no centro da mesma o sujei-
apresenta aqui, sob a ideia de uma “foraclusão da to negro como único portador do sintoma” (Segato,
raça encarnada na mãe”. Aparentemente, trata-se 2006). A foraclusão (que, se não é a foraclusão do no-
novamente de um momento alusivo ao conceito psi- me-da-mãe ou a foraclusão da raça, é certamente no
canalítico de foraclusão, que, assim como na ideia an- mínimo a omissão do nome de Neusa Santos Souza
terior de “foraclusão do nome-da-mãe”, padeceu de no texto de Jurandir Freire Costa) também tem seus
maiores explicações. No entanto, arriscaríamos que efeitos, posto que não torna possível saber como Se-
a ideia de foraclusão da raça se oferece nas margens gato receberia este livro – cuja análise se dá em cima
do texto. Chamou-nos ainda a atenção a referência do recolhimento de histórias de vida, segundo uma
no texto de Segato a Jurandir Freire Costa, no mo- tradição metodológica cara à antropologia e às ciên-
mento em que ela afirma que o psicanalista se apro- cias sociais em geral – em sua formulação sobre o
xima dela quando critica o silenciamento do caráter Édipo Negro.
violento do racismo. Se é verdade que, para ambos, De qualquer modo, os nomes de Neusa San-
racismo é violência, é igualmente verdade que Frei- tos Souza e de Lélia Gonzalez, foracluídos, inexplo-
re Costa, cuja bagagem crítica acumulada em seus rados ou simplesmente omitidos – fica a encargo do
primeiros livros História da Psiquiatria no Brasil (Frei- leitor decidir sobre os destinos dessa provocação –
re Costa, 1981) e Ordem Médica e Norma Familiar no Édipo Negro de Rita Segato, vale-nos sobretudo

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


36
sublinhar as inúmeras possibilidades e futuras potên- dade e dispor de ajudas e parcerias para realizar suas
cias heurísticas que podem ser desenvolvidas com a inúmeras tarefas na chave da culpa moral alimenta
leitura cruzada destas autoras sobre temas avizinha- ainda mais os afetos hostis que podem reger uma re-
dos, da qual certamente a psicanálise haveria de se lação entre mães contratantes e mães contratadas.
beneficiar enormemente. O fato concreto e histórico que subjaz a névoa moral
que o envolve é justamente a ignorância sistemática
4) Apontamentos finais de que babás e empregadas são profissões que her-
dam do nosso passado-presente escravagista o pior
À guisa de conclusão, penso que devemos da nossa escandalosa desigualdade de classes. Em
compreender a proposição do Édipo Negro de Rita um documentário luminoso chamado Mulheres Ne-
Segato no tempo e no espaço, posicionando-a no gras: Projeto de Mundo, dirigido por Day Rodrigues,
campo a fim de extrair consequências clínicas e políti- chama a atenção nas mulheres negras entrevistadas
cas de suas reflexões, aliada a outros autores que re- como vir a ser babá ou empregada doméstica está
forcem o conceito preconizado. Lembremos também sempre no horizonte da mulher negra no universo da
de Jessé de Souza, um dos mais destacados intelec- busca por trabalho; diante de recusas e negativas
tuais da atualidade que busca o acerto de contas com inexplicáveis em seleções de emprego, é como se o
o pensamento social brasileiro tradicional (Souza, lugar da mulher negra no mundo do trabalho resul-
2015) de que falávamos no início, em seu brilhante tasse sempre nesta condição vivida e experienciada
estudo sobre a ralé brasileira (Souza, 2009) nota que como inescapável. Vale lembrar que, assim como ser
um elemento fundamental que representa não ape- policial militar (ser “praça”, para ser mais exato) não é
nas um signo de distinção, mas também uma possi- uma profissão desejada pelas classes médias e altas
bilidade real de acesso a bens culturais e materiais é no universo masculino, pode-se dizer igualmente que
a aquisição do tempo. Ora, vale lembrar que isso não babás ou empregadas domésticas não tinham estes
se dá apenas nas camadas médias e altas: mesmo a trabalhos no horizonte dos famigerados sonhos de re-
ralé faz uso do dispositivo babás quando tem a pos- alização profissional. Pelo contrário.
sibilidade. Os elementos desejados aparecem nas Diante disso, uma série de descompassos se
mais diversas contradições da experiência subjetiva apresentam. Aquilo que se ouve com frequência na
do negro em situação de “ascensão social” – cuja lei- experiência clínica comparece no exame do Édipo
tura do supracitado Tornar-se Negro permanece mais Negro, como os relatos de “ciúmes” da babá, pelo afe-
do que atual. Acrescenta-se a ela outro texto mais do to partilhado entre ela e o bebê. “A criança vai preferir
que obrigatório – Pele Negra, Máscaras Brancas de a babá” ou “a criança não vai saber quem é a mãe”
Frantz Fanon (2008) –, justamente naquilo que ele são queixas comuns nesse campo. É também fre-
compreende como intensa cruzada que é a entrada quente que isso gere alguma fantasia de “vingança”,
na dialética do reconhecimento, como saída da zona pela retaliação no campo do trabalho com ameaças
do não-ser. de perda do emprego ou, também não raro, humilha-
Uma vez postas essas referências comple- ções diárias, como não permitir que a babá se sente
mentareUma vez postas essas referências comple- à mesa para fazer a refeição e insultos diversos no
mentares, nossa escolha pelo tema do Édipo Negro cotidiano. Por parte das babás, empregadas e mães
não faz dele uma condenação moral sobre ter ou não pretas, a situação opressora de indignidade e ausên-
babás, posto que o problema é econômico, político e cia de direito à subjetividade também é frequente na
racial muito antes de ser moral. Aliás, lembremos que experiência clínica , seja pela indisponibilidade tem-
os problemas morais que fazem sombra à experiência poral e afetiva para o cuidado com os próprios filhos,
da maternidade são um grande empecilho para as- seja pela percepção de que o laço com os filhos da
sunção da posição e da função materna. Como se já patroa ganham tom de enraizamento inescapável no
não bastasse esta espécie de luto do “filho ideal” ante trabalho. Os efeitos das dissimetrias em diversos ní-
ao “filho real”, as fantasias de horror do infanticídio veis determinam e configuram esse campo afetivo,
e os diversos problemas em torno do diagnóstico de certamente hostil, mas disfarçado de cordialidade.
depressão pós-parto, encarar os desafios da materni- Lembremos, novamente, de Emicida: “Pra nós punk

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


37
é quem amamenta, enquanto enfrenta as guerra, os civilizatório. Em: Teshainer, M. C. R., ALVES LIMA,
tanque, as roupa suja: vida sem amaciante.”. Nesse R. & D’AFONSECA, V. C. P. (orgs) Biopolítica e Psi-
campo, não haverá gentileza nem tampouco “ama- canálise: vias de encontro. São Paulo: Via Lettera, pp.
ciante” se a realidade da desigualdade de condições 71-86.
não for encarada enquanto tal e superada.
Os cenários são bastante complexos. Não Aragão, L. T. (1991) Mãe Preta, Tristeza Branca. Em:
procuramos estabelecer um panorama exaustivo, Aragão, L. T. (org). Clínica do Social: Ensaios. São
até porque este ensaio foi construído a partir de refle- Paulo: Escuta, pp. 21-38.
xões clínicas e teóricas. Além disso, podemos dizer
que uma análise exaustiva nem nos caberia, posto Backes, C. (2000) O que é ser brasileiro? São Paulo:
que certas posições a respeito do tema não compe- Escuta.
tem ao nosso “lugar de fala”. Se quisermos recorrer a
experiências estéticas, teríamos em nosso horizonte Bourdieu, P. (2007) A Distinção: crítica social do jul-
o longa metragem Que Horas Ela Volta?, da direto- gamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk.
ra Anna Muylaert, bem como poderíamos encontrar
inspirações paralelas no norte-americano Histórias Bresciani, M. S. M. (2005) O charme da ciência e a
Cruzadas, no pungente filme peruano A Teta Assus- sedução da objetividade. Oliveira Vianna entre intér-
tada ou no recentíssimo Roma. Também poderíamos pretes do Brasil. São Paulo: Unesp.
nos referir, ao lado de Emicida e outros já citados, a
músicas como Minha Mãe de Djavan ou Maria Ma- Butler, J. (2017) A Vida Psíquica do Poder – Teorias
ria de Milton Nascimento. De todo modo, entre todas da Sujeição. Belo Horizonte: Autêntica.
as possibilidades, quisemos sobretudo levantar um
problema histórico na psicanálise no Brasil desde a Carneiro, M. E. R. (2006) Procura-se “preta, com mui-
posição de psicanalista, uma vez que consideramos to bom leite, prendada e carinhosa”: uma cartografia
urgente que tal reflexão possa incidir não apenas nos das amas-de-leite na sociedade carioca (1850-1888).
desafios da maternidade colocada de forma genéri- Tese (Doutorado em História) – Universidade de Bra-
ca, mas sobretudo tratar o tema desde uma leitura sília, Brasília.
interseccional sob a alcunha de Édipo Negro, que jul- Castro, R. D. (2015) A Sublimação do Id em Ego Ci-
gamos plenamente adequada na medida em que é vilizado: o projeto dos psiquiatras-psicanalistas para
capaz de nomear e lançar luz aos esquemas de repro- civilizar o país (1926-1944). Jundiaí: Paco Editorial.
dução da desigualdade social em nosso país em sua
radical interseccionalidade – de classe, de gênero e Corossacz, V. R. (2014) Abusos sexuais no emprego
de raça. doméstico no Rio de Janeiro: a imbricação das rela-
ções de classe, gênero e “raça”. Em: Temporalis, v.
Referências Bibliográficas 14, n. 28, pp. 299-324.

Alencastro, L. F. (1997) Epílogo. Em: Alencastro, L. F. Dunker, C. I. L. (2014) Intolerância e Cordialidade nos
(org.). História da Vida Privada no Brasil: Império. São modos de subjetivação no Brasil. Em: FANTINI, J. A.
Paulo: Companhia das Letras, pp. 439-440. (org.). Raízes da Intolerância. São Carlos: EdUFS-
Car, pp. 17-42.
Alves Lima, R. (2015) Situação da psicanálise e for-
mação do psicanalista em 2015. Em: Alves Lima, R. Dunker, C. I. L. (2015) Mal-Estar, Sofrimento e Sinto-
(org.). Clinicidade – a psicanálise entre gerações. ma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. São
Curitiba: Juruá, pp. 29-40. Paulo: Boitempo.

Alves Lima, R. (2018) Alcances e limites de uma lei- Del Priore, M. (org.) (2006) História das Mulheres no
tura biopolítica da implantação da psicanálise no Brasil. São Paulo: Contexto.
Brasil: racismo científico, educação sexual e projeto

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


38
Freyre, G. (2006) Casa-grande & Senzala: formação Hiltebeitel, A. (2018) Freud’s India – Sigmund Freud
da família brasileira sob o regime da economia pa- and India’s first psychoanalyst Girindrasekhar Bose.
triarcal. 51ª ed. São Paulo: Global. (Trabalho original- New York, USA: Oxford University Press.
mente publicado em 1933)
Kakar, S. (1981) The Inner World: a psycho-analytic
Fanon, F. (2008) Pele Negra, Máscaras Brancas. Sal- study of childhood and society in India. New York,
vador: EDUFBA. USA: Oxford University Press.

Fernandes, F. (1965) A integração do negro na socie- Khanna, R. (2003) Dark Continents: psychoanalysis
dade de classes: no limiar de uma nova era. Rio de and colonialism. Durham and London: Duke Univer-
Janeiro: Globo livros. sity Press.

Freire Costa, J. (1981) História da Psiquiatria no Bra- Kosawa, H. (2009) Two kinds of guilt feelings: the Aja-
sil: um corte ideológico. Rio de Janeiro: Campus. se Complex. Em: Akhtar, S. (org.). Freud and the Far
East: psychoanalytic perspectives on the people and
Freire Costa, J. (1983a) Ordem Médica e Norma Fa- culture of China, Japan, and Korea. Maryland, USA:
miliar. Rio de Janeiro: Graal. Jason Aronson, Rowan & Littlefield Publishers, pp.
61-70. (Trabalho originalmente publicado em 1931)
Freire Costa, J. (1983b) Prefácio – Da cor ao corpo:
a violência do racismo. Em: Souza, N. S. (1983) Tor- Koutsoukos, S. S. M. (2009) ‘Amas Mercenárias’: o
nar-se Negro: as vicissitudes da identidade do negro discurso dos doutores em medicina e os retratos de
brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, amas – Brasil, segunda metade do século XIX. Em:
pp. 1-16. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Ja-
neiro, v. 16, n. 2, pp. 305-324.
Freire Costa, J. (1986) Violência e Psicanálise. Rio de
Janeiro: Graal. Lacan, J. (2002) Os Complexos Familiares na forma-
ção do indivíduo: ensaio de análise de uma função em
Gomes Costa, S. (2002) Proteção Social, Maternida- psicologia. Rio de Janeiro: Zahar. (Trabalho original-
de Transferida e Lutas pela Saúde Reprodutiva. Em: mente publicado em 1938)
Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 2, pp. 301-323.
Lacan, J. (1998) Função e Campo da Fala e da Lin-
Gonzalez, L. (1979) O papel da mulher negra na so- guagem. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, pp. 238-
ciedade brasileira (mimeo, Spring Symposium the 324. (Trabalho originalmente publicado em 1953)
Political Economy of the Black World. Los Angeles,
10- 12 maio de 1979). Lacan, J. (1986) O Seminário, livro 1: Os Escritos Téc-
nicos de Freud. Rio de Janeiro: Zahar.
Gonzalez, L. (1984) Racismo e Sexismo na Cultura
Brasileira. Em: Revista Ciências Sociais Hoje (Anpo- Moura, C. (1988) Sociologia do Negro Brasileiro. São
cs), pp. 223-244. Disponível em: https://edisciplinas. Paulo: Ática.
usp.br/pluginfile.php/247561/mod_resource/con-
tent/1/RACISMO%20E%20SEXISMO%20NA%20 Munanga, K. (1999) Rediscutindo a mestiçagem no
CULTURA%20BRASILEIRA.pdf Brasil: identidade nacional versus identidade negra.
Rio de Janeiro: Vozes.
Herzog, D. (2017) Etnopsychoanalysis in the Era of
Decolonization. Em: Cold War Freud: psychoanalysis Nascimento, A. (2016) O Genocídio do Negro Brasi-
in an age of catastrophes. Cambridge, UK: Cambrid- leiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo:
ge University Press, 2017, pp. 179-211. Perspectiva. (Trabalho originalmente publicado em
1978)

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39


39

Okinogi, K. (2009) Psychoanalysis in Japan. Em: Akh-


tar, S. (org.). Freud and the Far East: psychoanaly-
tic perspectives on the people and culture of China,
Japan, and Korea. Maryland, USA: Jason Aronson,
Rowan & Littlefield Publishers, pp. 9-26.

Ortigues, M-.C. & ORTIGUES, E. (1989) Édipo Africa-


no. São Paulo: Escuta.

Sales, L. S. (2008) Consistência do Édipo na psica-


nálise lacaniana: símbolos zero para o desejo. Em:
Fractal: Revista de Psicologia, v. 20, n. 1, 2008, pp.
209-220.

Segato, R. L. (2003) Las Estructuras Elementares de


la Violencia: ensayos sobre género entre la antropolo-
gía, el psicoanálisis y los derechos humanos. Bernal:
Universidad Nacional de Quilmes.

Segato, R. L. (2006) O Édipo Brasileiro: a dupla ne-


gação de gênero e raça. Brasília: Série Antropologia
UnB, 2006. Disponível em: http://dan.unb.br/images/
doc/Serie400empdf.pdf

Souza, J. (2009) Ralé Brasileira: quem é e como vive.


Belo Horizonte: Editora UFMG.

Souza, J. (2015) A Tolice da Inteligência Brasileira: ou


como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo:
Leya.

Souza, N. S. (1983) Tornar-se Negro: as vicissitudes


da identidade do negro brasileiro em ascensão social.
Rio de Janeiro: Graal.

Stancik, M. A. (2009) A Ama-de-leite e o Bebê: re-


flexões em torno do apagamento de uma face. Em:
História (São Paulo), v. 28, n. 2, pp. 659-682.

Vianna, O. (1938) Raça e Assimilação. Disponível em:


https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/doc/82/1/04%20
PDF%20-%20OCR%20-%20RED.pdf

Zaretsky, E. (2007) A Virada em direção à mãe. Em:


Zaretsky, E. Segredos da Alma: uma história sociocul-
tural da psicanálise. São Paulo: Cultrix, pp. 184-205.

Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39

Você também pode gostar