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Rev. Werek Cruz

Domingo de Ramos (24/03/2024)


Salmo 118.19-29 | Zacarias 9.9-12 | Filipenses 2.5-11 | Marcos
11.1-10

“Hosana! Salva-nos, Senhor!”

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

A paternidade é, de fato, uma coisa que mexe muito com a


gente. Bárbara e eu, por exemplo, nos emocionamos com cada
evolução e pequena conquista do nosso José. Sua primeira grande
façanha foi descobrir que é possível ir para outro ambiente da casa ao
se arrastar pelo chão. Depois de algum tempo, ele percebeu que
apoiar os joelhos e as mãos é melhor, mais rápido e mais confortável.
E não demorou muito para o José compreender que também é
possível “sem as mãos”, ou seja, apoiar os pés, mas, sempre
segurando em alguma coisa. Desde então, ele vem desenvolvendo
suas habilidades com maestria e muita vontade, até o momento em
que o cansaço chega e ele percebe que é necessário, com os braços
estendidos, pedir ajuda para descansar um pouco.

É muito interessante ver uma criança que está aprendendo a


andar. Assim que sente firmeza, ela solta a mão dos seus pais e se vai.
Algumas são tão confiantes que se a gente estende a mão para ajudar
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elas rejeitam, porque descobriram que podem andar sozinhas. No


entanto, ao tropeçar e cair, ela chora alto e grita por ajuda.
Imediatamente estenderá os braços para que alguém a levante. A
mesma criança que rejeitou a mão, agora quer o colo todo!

Quando Jesus estava entrando em Jerusalém, muitas pessoas


acenavam para ele com ramos nas mãos e clamavam: “Hosana!
Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mc11.9). Hosana é uma
expressão que tem origem no hebraico e no aramaico e não costuma
ser traduzida em português. Mas ela tem um significado. Hosana quer
dizer: “Salva-nos, Senhor!” Se pensarmos na criança que chora com
os braços estendidos, gritando por ajuda, vamos compreender bem o
significado de “Hosana”!

Aquele povo que estava na entrada de Jerusalém precisava de


ajuda e reconheceu que Jesus era o braço estendido de Deus; era o
colo de um Deus salvador. Elas direcionaram o seu clamor para a
pessoa certa. Mas, havia um problema e este problema estava na
expectativa delas. Talvez, assim como aconteceu no Egito com seus
antepassados, elas esperavam que Jesus as libertasse do poder de
Roma e tornasse Israel grande de novo. Elas esperavam que Jesus,
sendo o Messias de Deus, as lideraria em uma luta política. O grito
de “Hosana” nesse contexto, não apenas estava errado, como também
era um tanto quanto egoísta, porque a salvação que Deus concede não
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é política e muito menos a um só povo ou região. Por isso, o texto


bíblico revela que aquelas pessoas, por não compreenderem a missão
de Jesus, se decepcionaram tanto com ele que, muito provavelmente,
depois de gritarem “Hosana” no Domingo, gritaram “Barrabás” na
Sexta-feira Santa.

Ao entrar em Jerusalém montado em um jumentinho e não em


um cavalo (um animal de guerra), Jesus estava dizendo que não
levantaria a espada; não daria ordem de comando, porque Jesus não
era o libertador que eles queriam, mas, sim, o libertador que
precisavam. Por isso Jesus se deixa prender, se deixa julgar. E, enfim,
se torna um Rei morto na cruz, porque o Messias prometido veio nos
libertar, não da escravidão do Egito ou do domínio de Roma, mas,
sim, do pecado, diabo e da própria morte.

Queridos irmãos e irmãs, a Bíblia ensina de muitas formas que o


pecado é algo sério. Que o salário do pecado é a morte. Que
precisamos de Deus. Que, como pecadores, no primeiro sinal de
independência, queremos andar sozinhos e soltamos a sua mão,
alimentamos expectativas erradas sobre o agir de Deus em nossas
vidas.

Para as pessoas que estavam na entrada de Jerusalém, parece


incompreensível o jumentinho, a humildade, a prisão, o sofrimento e
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a morte de Jesus. Assim, também, para nós, é incompreensível o que


acontece com uma pessoa cristã que pede ajuda de Deus, mas, ainda
assim, passa por uma grande tristeza. É incompreensível que um pai
e uma mãe tenham que sepultar um filho. É incompreensível uma
pessoa fiel perder a luta contra a doença. Tudo isso não é apenas
incompreensível, mas, também, é estranho, doloroso e muito
tentador. Então, queremos nos afastar de Deus por causa por estarmos
tristes e com raiva dele, porque esperamos que Deus nos desse aquilo
que ele mesmo nunca nos prometeu.

Quantas vezes nós mesmos não nos decepcionamos com Jesus?


Pedimos por uma vida de paz e tranquilidade, sem problemas,
tragédias ou ruínas. Quando, na verdade, Jesus nos diz: “No mundo,
vocês passam por aflições; mas tenham coragem: eu venci o
mundo.” (Jo 16.33). Pedimos por prosperidade, saúde e sucesso em
todas as áreas da nossa vida, quando, na verdade Jesus nos diz: “O
ser humano não viverá só de pão, mas de toda palavra que procede
da boca de Deus.” (Mt 4.4). Pedimos por proteção divina, saúde
constante, curas e feitos milagrosos. Pedimos a Deus que nos livre da
morte, a nós e aqueles a quem amamos, quando, na verdade, Jesus
nos diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá.” (Jo 11.25).
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Muitas são as vezes que, por não recebermos de Deus aquilo que
queremos, gritamos “Barrabás” quando, na verdade, diante da
incredulidade, do desespero e do sentimento de abandono,
deveríamos clamar: “Hosana! Salva-nos, Senhor!”. Porque, ainda
que estejamos na igreja a 1 ano ou a quarenta anos que seja, ainda
estamos “aprendendo a andar na fé”. Não podemos achar que
somos autossuficientes, senão, largaremos a mão de Deus, por
vivermos na ilusão de que somos capazes de andar com nossas
próprias pernas.

Queridos irmãos e irmãs, o Messias enviado por Deus não veio


mundo apenas por um só povo ou região, mas, também por mim e
por você! A libertação que parte da cruz, releva que é somente em
Cristo que aprendemos a andar, a correr e a saltar! Somente em
Cristo aprendemos a falar, a sorrir e a brincar. Somente em Cristo
aprendemos sobre o amor e o perdão; sobre amar e perdoar. Somente
em Cristo aprendemos a lidar com as lutas e adversidades da vida.
Somente em Cristo aprendemos a enxugar nossas lágrimas e a seguir
em frente, porque ele é a personificação de “Hosana!”, seja em
hebraico, aramaico ou português.

Por isso, assim como o José que, diante das quedas e cansaços
da vida, sabe que seus pais estarão ali para pegá-lo no colo, nós
também precisamos que o nosso Pai Celeste está sempre ali para nos
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fazer descansar em seus braços. Precisamos aprender a estender os


braços e pedir a ajuda do nosso Pai Amoroso que sempre está com os
braços esticados para nos pegar no colo... porque é ele quem cuida de
nós. É ele quem nos conduz. É ele quem nos socorre quando, assim
como um bebê, estendemos os braços e gritamos: “Hosana! Salva-
nos, Senhor!”. Amém.

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