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O ESTADO DA ARTE
PARA A NUTRIÇÃO COM
ÊNFASE NA SAÚDE
O ESTADO DA ARTE
PARA A NUTRIÇÃO COM
ÊNFASE NA SAÚDE
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
O ESTADO DA ARTE PARA A NUTRIÇÃO COM ÊNFASE NA SAÚDE
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DO ESTADO DA ARTE PARA A NUTRIÇÃO COM ÊNFASE
NA SAÚDE ......................................................................................... Erro! Indicador não definido.
OS MACRONUTRIENTES E OS EXERCÍCIOS .................................................................................... 8
CARBOIDRATO ........................................................................................................................... 8
GLICOGÊNIO HEPÁTICO............................................................................................................. 8
GLICOGÊNIO MUSCULAR........................................................................................................... 9
GORDURA ................................................................................................................................ 11
PROTEÍNAS .............................................................................................................................. 11
OS MICRONUTRIENTES................................................................................................................ 15
MINERAIS ................................................................................................................................ 15
POTÁSSIO - K ........................................................................................................................... 16
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 16
MAGNÉSIO – Mg ..................................................................................................................... 16
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 17
CÁLCIO - Ca .............................................................................................................................. 17
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 18
FOSFATO .................................................................................................................................. 18
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 19
FERRO – Fe .............................................................................................................................. 19
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 19
ZINCO – Zn ............................................................................................................................... 20
Influência dos exercícios ..................................................................................................... 20
OLIGOELEMENTOS .................................................................................................................. 21
COBRE – Cu:............................................................................................................................. 21
CROMO – Cr ............................................................................................................................ 22
SELÊNIO – Se ........................................................................................................................... 22
VITAMINAS .............................................................................................................................. 22
TIAMINA – Vitamina B1 ........................................................................................................... 23
RIBOFLAVINA – Vitamina B2 .................................................................................................... 23
PIRIDOXINA – Vitamina B6 ....................................................................................................... 23
CIANOCOBALAMINA – Vitamina B12........................................................................................ 23
NIACINA ................................................................................................................................... 24
ÁCIDO PANTOTEICO ................................................................................................................ 24
BIOTINA ................................................................................................................................... 24
ALFA-TOCOFERAL – Vitamina E ............................................................................................... 24
ANTIOXIDANTES e RADICAIS LIVRES ....................................................................................... 25
GUIAS E INQUÉRITOS ALIMENTARES: definições, conceitos, importância e aplicabilidade de
ambos .......................................................................................................................................... 27
Os GUIAS ALIMENTARES ............................................................................................................. 28
Os guias enquanto orientadores das ações de saúde – foco no guia alimentar brasileiro .... 30
Guias alimentares baseados em alimentos - GABA ................................................................ 35
Estudos qualitativos ............................................................................................................ 39
INQUÉRITOS ALIMENTARES ........................................................................................................ 41
Definição e usos ...................................................................................................................... 42
Escolha do método – aplicabilidade na prática clínica ........................................................... 43
Gênero e idade do paciente ................................................................................................ 45
Nível socioeconômico do paciente ..................................................................................... 46
Tempo disponível para aplicação do método ..................................................................... 47
Estado clínico do paciente (atendimento ambulatorial, consultório, internação) ............. 47
Variabilidade do consumo alimentar .................................................................................. 47
RECORDATÁRIO DE 24h E HISTÓRIA ALIMENTAR ....................................................................... 49
R24h ........................................................................................................................................ 49
História alimentar.................................................................................................................... 52
Questionário de frequência alimentar – QFA ......................................................................... 52
Quanto ao QFA ........................................................................................................................ 58
MODELO TRANSTEÓRICO E CURSO DE VIDA .............................................................................. 60
Modelo Transteórico ............................................................................................................... 61
Componentes do modelo transteórico ............................................................................... 62
Modelo do Curso de vida ........................................................................................................ 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS BÁSICAS ............................................................................................................ 77
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES .......................................................................................... 77
OS MACRONUTRIENTES E OS EXERCÍCIOS
CARBOIDRATO
É a mais importante fonte de energia – combustível – para o trabalho muscular
de alta intensidade.
Sua forma de armazenagem no corpo, mais precisamente no fígado e nos
músculos, é na forma de longas cadeias de unidade de glicose (enormes polímeros de
glicose ramificados) chamadas de glicogênio.
GLICOGÊNIO HEPÁTICO
De acordo com Brouns (2005), a quantidade de glicogênio armazenado no fígado
é de aproximadamente 100 g. Essa quantidade sofre mudanças periódicas dependendo da
GLICOGÊNIO MUSCULAR
A quantidade de glicogênio que é armazenada em todos os músculos do corpo
chega a aproximadamente 300 g nas pessoas sedentárias e pode aumentar para mais de
500 g nos indivíduos treinados por uma combinação de exercícios e do consumo de uma
dieta rica em carboidratos.
Os carboidratos intramusculares totais armazenados podem variar em
equivalente energético de 1.200 a 2.000 kcal.
O ritmo em que ele é mobilizado para a produção de energia necessária para a
contração muscular depende do estado de treinamento do atleta assim como da duração e
da intensidade do exercício.
Para intensidades baixas a moderadas, a gordura funcionará como fonte
energética substancial, enquanto as reservas de carboidratos serão utilizadas lentamente,
por exemplo, em uma prova de ciclismo com duração de 4 horas, durante a qual a
intensidade do exercício se aproxima de 55%-60% do VO2max1. Além disso, a
contribuição relativa de produção de gordura será menor durante as provas de menor
1
VO é a capacitação máxima de energia.
duração com uma intensidade mais alta, como uma corrida de 1,5 horas com 65% do
VO2max. Haverá uma contribuição máxima dos carboidratos e uma contribuição
relativamente baixa de gorduras nos eventos que exigem uma capacidade máxima de
exercício como ocorre, por exemplo, durante as sessões de treinamento com tempo
marcado. A captação de oxigênio aumenta com os aumentos na intensidade do exercício
até ser alcançado um valor máximo. Nesse ponto, a intensidade do exercício é
determinada como 100% do VO2.
A evolução temporal da depleção do glicogênio também será influenciada pelo
estado de treinamento do indivíduo, sendo que aqueles altamente treinados possuem uma
maior capacidade de mobilizar os ácidos graxos a partir dos depósitos de gordura,
transportá-los para o músculo e utilizá-los como fonte de energia. Ao correrem, por
exemplo, utilizarão menos carboidratos e mais gordura para as contrações musculares.
Brouns (2005) nos oferece algumas medidas que podem ser adotadas para
economizar a utilização do glicogênio e maximizar a capacidade de desempenho no
exercício:
1. Realizar treinamento de endurance (resistência) regular na parte inicial da
manhã com cerca de 50 a 60% do VO2max (frequência cardíaca de 140-150
batimentos por minuto) com o estômago vazio. Isso maximizará as adaptações
no metabolismo das gorduras, para poupar o carboidrato.
2. Acumular glicogênio antes da competição ingerindo uma dieta rica em
carboidratos seguida por um jantar rico em gorduras na noite que precede a
competição. Isso pode resultar em um meio hormonal e uma atividade
enzimática favoráveis por reduzir a oxidação de carboidratos e poupá-lo
durante o exercício.
GORDURA
A gordura é uma fonte energética “lenta” em comparação com o carboidrato e
quando se utiliza dela como fonte de energia, os atletas podem trabalhar somente com 40
a 60% de sua capacidade máxima de trabalho.
Ainda em comparação com os carboidratos, possui vantagens sobre eles, pois
sua densidade energética é mais alta fazendo com que seja mais baixo o peso relativo de
uma quantidade de energia em armazenamento.
No corpo, a gordura é armazenada na forma de triglicerídeos nas células adiposas
que constituem o tecido adiposo. Uma pequena fração é armazenada dentro das células
musculares e uma fração menor de gordura circula no sangue na forma de quilomícrons
derivados dos alimentos ingeridos recentemente e dos ácidos graxos fixados a uma
proteína plasmática denominada albumina.
A maior parte do tecido adiposo pode ser encontrada debaixo da pele. A gordura
pode ser armazenada também ao redor dos órgãos abdominais. Em atletas altamente
treinados a quantidade total de gordura que é armazenada no tecido adiposo pode variar
de 10 a 25% nas mulheres e de 5 a 15% nos homens. Essas quantidades são bem menores
se compararmos com pessoas de vida sedentária (nas mulheres em torno de 20 a 35% e
nos homens em torno de 10 a 20%).
A maior utilização de gordura, como resultado do treinamento, reduz a utilização
dos carboidratos provenientes das reservas de glicogênio no organismo e,
consequentemente, influenciará a duração da disponibilidade de carboidratos suficientes
durante o exercício.
As dietas ricas em gordura são apresentadas como sendo capazes de aprimorar a
capacidade de oxidar os Ácidos Graxos.
Teoricamente, se a gordura fosse o único substrato, isso permitiria aos
indivíduos correr continuamente com velocidade de maratona por mais de 70 km,
equivalente a um dispêndio de energia de mais de 70.000 kcal.
De todo modo, o tecido adiposo funciona como a reserva energética mais
importante que irá fornecer ácidos graxos para a produção de energia em todas as
condições em que, em virtude de uma ingestão energética prolongada e insuficiente, a
disponibilidade de carboidratos torna-se limitada.
PROTEÍNAS
necessidade de água, uma vez que ele é incorporado à ureia e esta à urina. Isso, a longo
prazo, pode sobrecarregar os rins e causar desidratação.
Enfim, o metabolismo muscular é abastecido por vários substratos, de acordo
com a intensidade, a duração do exercício e as características da preparação do atleta e
do ambiente. As limitações no metabolismo durante o exercício podem ser determinadas
por fornecimentos inadequados daqueles substratos que garantem a disponibilidade
suficientemente rápida de energia para as fibras musculares.
OS MICRONUTRIENTES
MINERAIS
Vários são os minerais essenciais para o bom funcionamento do esqueleto e da
musculatura. São também necessários para crescimento, para os processos de transmissão
neural, contração muscular, atividade enzimática dentre outras funções.
O conteúdo mineral no corpo difere entre os tecidos bem como entre os
compartimentos intra e extracelulares.
Daremos ênfase aqui sobre o Potássio, Cálcio, Magnésio, Fosfato, Ferro e Zinco.
O sódio e o cloro ficarão para o próximo tópico devido seu papel na homeostasia dos
líquidos. Mas, vale lembrar que pelo menos 20 minerais diferentes são necessários, em
quantidades adequadas, para manter o funcionamento normal dos tecidos e das células.
Enquanto alguns são absorvidos em pequenas quantidades, outros devem ser fornecidos
em quantidades maiores.
Nem todos os minerais estão livres para finalidades metabólicas, sendo que a
principal fração do reservatório mineral “metabólico” está concentrada no plasma
sanguíneo e no líquido intersticial.
De todo modo, a quantidade de minerais que circulam nos líquidos corporais é
uma resultante de diferentes processos permanentes. A absorção a partir do alimento, por
um lado, e a captação ou a liberação pelos tecidos, assim como a perda e excreções
(através do suor, urina, fezes) determinam o conteúdo mineral real. Quando tudo está em
ordem, acontece um equilíbrio, ou seja, o excesso de um mineral é compensado por uma
maior excreção. Quando há perda excessiva ou absorção deficiente, tanto o crescimento
das células quanto a sua função celular ficam comprometidas, daí a importância de manter
o equilíbrio.
No quadro abaixo, apresentamos as quantidades dietéticas recomendadas para
os minerais.
Mulheres
15-18 300 1200 1200 15 12
19-24 280 1000 1200 15 12
25-50 280 800 800 15 12
Fonte: Brouns (2005)
POTÁSSIO - K
É o principal cationte intracelular, com uma concentração de aproximadamente
40 vezes a concentração existente na água extracelular. É importante para a transmissão
dos impulsos neurais, o potencial de membranas e, consequentemente, a contração das
células musculares, e para a manutenção de uma pressão arterial normal.
Segundo Brouns (2005), a maior parte do potássio ingerido é absorvido no
intestino e penetra na circulação. Quando em excesso produz alterações no
eletrocardiograma e podem acarretar uma parada cardíaca súbita. É excretado pela urina
e em menor grau, nas fezes e no suor. Sabe-se que a diarreia resulta em altas perdas de
Potássio.
A ingestão mínima recomendada é de 2 a 3,5 g/dia levando em consideração as
perdas através do exercício (suor) e urina. Amplamente disponível nos alimentos,
especialmente bananas, laranjas, batatas e carne. Dependendo do tipo de alimento pode
acarretar uma ingestão em torno de 8g /dia.
MAGNÉSIO – Mg
CÁLCIO - CA
O corpo humano contém 1.200 g de cálcio, dos quais aproximadamente 99%
estão fixados no esqueleto. Apenas uma fração de 1% está presente no líquido extracelular
e nas estruturas intracelulares dos tecidos moles, que é a parte metabolicamente
FOSFATO
Companheiro do cálcio na formação do osso, 85% do fosfato total está presente
no esqueleto e o restante se distribui entre os espaços extracelulares e intracelulares nos
tecidos moles.
É um elemento essencial em numerosas enzimas bem como no metabolismo
energético. Sua ingestão e o fornecimento ao sangue, afeta a formação do osso, o que nos
leva a afirmar que sua ingestão deve ser balanceada. É excretado, principalmente, pela
urina e pequenas frações com as fezes e suor.
Está presente em alimentos ricos em proteínas, tais como o leite, carnes, aves,
peixes e cereais. Indivíduos sadios que se exercitam não apresentam problemas de
deficiência em fosfato.
FERRO – Fe
O Ferro é componente importante da hemoglobina, mioglobina e diversas
enzimas tornando-o importante para a capacidade fixadora de oxigênio das hemácias,
transporte e transferência de elétrons na cadeia de transporte dos elétrons. Cerca de 30%
está armazenado sob a forma de ferritina e hemosiderina e uma pequena parte como
transferrina, funcionando como indicadores do estado do ferro. Assim, um estado precário
de ferro pode ser indicado pelos baixos níveis de ferritina sérica, maiores níveis de
protoporfirina nas hemácias, níveis de saturação reduzidos da transferrina e níveis
reduzidos de hemoglobina. Por isso, com uma ingestão inadequada de ferro, a forma de
armazenamento será a primeira a ser afetada. Se a escassez for prolongada, afetará a
produção de hemoglobina, resultando em anemia ferropriva que irá reduzir a capacidade
de transporte de oxigênio, afetando a capacidade do desempenho de endurance.
O Ferro está presente nas carnes vermelhas, fígado, aves, vegetais e cereais de
coloração verde-escura. O Ferro-heme nas carnes é a melhor fonte de ferro absorvível. A
vitamina C acelera a absorção de ferro inorgânico, enquanto os componentes existentes
nas fibras dietéticas, o chá, o café e o fosfato reduzem a absorção.
ZINCO – Zn
O Zinco está presente em quantidades relativamente grandes no osso e no
músculo. Entretanto, como acontece com outros animais, essas reservas não são
metabolicamente disponíveis. O reservatório de Zinco que é prontamente disponível
circula no sangue, é pequeno e possui um ritmo de renovação (turnover) rápido. Participa
do crescimento e desenvolvimento dos tecidos, especialmente o músculo, pois é uma
substância essencial em numerosas enzimas envolvidas nas principais vias metabólicas.
Carnes, fígado e frutos do mar são as principais fontes de zinco na dieta. Os
alimentos ricos em carboidratos, especialmente os provenientes de fontes refinadas, são
pobres em zinco.
OLIGOELEMENTOS
Elementos em quantidades tão pequenas que na realidade podemos considerar
somente como “traços”, mas são essenciais aos processos biológicos por serem
fundamentais para a formação de enzimas vitais para determinados processos
bioquímicos como, por exemplo, a fotossíntese ou a digestão.
Estudá-los é difícil, entretanto, podemos obter amostrar do soro, dos tecidos, dos
cabelos (pelos), unhas, fezes, urina e suor, sendo as quatro primeiras, amostras que podem
indicar o estado do reservatório de onde a amostra deriva e as últimas três podem indicar
o efeito do estresse físico sobre as suas perdas.
Alguns dos oligoelementos são o Cobre, o Cromo e o Selênio e suas quantidades
diárias recomendadas estão expressas no quadro a seguir:
COBRE – Cu:
• Essencial ao corpo humano;
• Encontrado nas carnes de vísceras, frutos do mar, nozes, sementes e batatas;
• Sua deficiência resulta em saúde deteriorada e funcionamento inadequado;
• Participa de um grande número de enzimas e desempenha papel no
metabolismo energético, síntese proteica;
CROMO – Cr
• Atua principalmente em combinação com a insulina e, consequentemente, na
regulação normal do nível sanguíneo de glicose;
• Sua insuficiência resulta em menor sensibilidade à insulina, regulação
deteriorada da glicose sanguínea e, possivelmente, diabetes;
• Importante para quem faz trabalho físico pesado e consome dietas ricas em
carboidratos.
• Diferentes tipos de estresse, incluindo exercício, infecção e traumas físicos,
exacerbam os sinais de uma deficiência marginal de cromo.
SELÊNIO – Se
Componente essencial da enzima glutationa peroxidase que regula o
fracionamento dos hidroperoxidios em combinação com a vitamina E. Isso quer dizer que
atua como antioxidante, fazendo uma varredura dos radicais livres que aparecem
sabidamente em números cada vez maiores nas situações de trauma, estresse e também
durante o exercício extenuante.
Como acontece com os minerais, os oligoelementos são perdidos em quantidade
cada vez maiores como resultado do treinamento físico intensivo. As perdas do cobre pelo
suor e do cromo pela urina podem, em certas circunstâncias, ultrapassar as ingestões
diárias recomendadas.
VITAMINAS
Também são nutrientes essenciais para o corpo humano, participando em quase
todas as funções biológicas. Atuam como:
• Coenzimas em muitas biorreações e reações químicas, incluindo o
metabolismo energético;
• Envolvidas na síntese proteica;
• Antioxidantes.
TIAMINA – VITAMINA B1
Seu papel mais importante é na conversão oxidativa do piruvato para acetil CoA,
que é uma etapa importante no processo de produção de energia a partir do carboidrato,
por isso as necessidades recomendadas estão relacionadas ao dispêndio total de energia e
ingestão de carboidratos.
RIBOFLAVINA – VITAMINA B2
Participante do metabolismo energético mitocondrial. O National Research
Council relaciona sua ingestão com a ingestão energética, mas não há estudos que
comprovem necessidade de aumento na ingestão quando há aumento de metabolismo
energético.
PIRIDOXINA – VITAMINA B6
Atuante na síntese proteica, a B6 é relacionada com atletas que usam a força e
aos fisiculturistas. Mas nenhum estudo ainda comprova sua influência quando deficiente.
NIACINA
Funciona como coenzima na substância NAD (nicotina adenina dinucleotídio)
que desempenha papel proeminente na glicólise e é necessária para a respiração tecidual
e síntese de gorduras. Sem dados suficientes que comprovem influência de deficiência
nas populações atléticas.
ÁCIDO PANTOTEICO
Componente do acetil CoA, o metabólito intermediário no ciclo do ácido cítrico
para o metabolismo dos carbidratos e das gorduras.
BIOTINA
Parte essencial das enzimas que transportam carboxila e fixam o dióxido de
carbono nos tecidos. A conversão de biotina para coenzima ativa depende da
disponibilidade de magnésio e de ATP. Desempenha papel essencial no metabolismo dos
carboidratos, das gorduras, do propionato e dos aminoácidos de cadeia ramificada. Ela é
produzida no intestino delgado por microorganismos e fungos.
ALFA-TOCOFERAL – VITAMINA E
Antioxidante, varredor dos radicais livres e protege as membranas celulares da
peroxidase lipídica. Funciona juntamente com a vitamina C, o beta-caroteno e o selênio
e protege as hemácias contra a hemólise.
Os GUIAS ALIMENTARES
Isso quer dizer que tanto a formulação das diretrizes alimentares como o
processo de formulação são indissociáveis. O processo político e o processo científico
não podem estar separados na construção das diretrizes alimentares, pois as
recomendações advindas trazem impactos econômicos significativos para diferentes
grupos. Aumentar a participação e criar um processo transparente e interativo é uma das
formas de evitar tensões e construir recomendações que sejam baseadas em evidências,
mas que também façam parte do universo cultural e social da população a que se dirige
(DWYER, 2001 apud VASCONCELLOS, 2012).
O guia alimentar para a população brasileira divulgado em 2006 exigiu dois anos
de formulação, debate, consulta à sociedade e formação de consenso. Ocorreu mediante
um contexto de geração de informação e conhecimento capazes de transformar um
modelo de consumo produtor de doenças.
Com essa concepção e diante do entendimento comum sobre a necessidade de
criar um instrumento orientador de práticas de nutrição, foi revisada a produção científica
nacional e internacional, estudados os marcos sociais e históricos do processo alimentar
e estabelecidas as diretrizes para melhoria da dieta da população. Em países como o
Brasil, onde as desigualdades regionais são expressivas, as diretrizes alimentares
direcionam-se ainda para a prevenção da desnutrição e de outras doenças relacionadas
com a fome e a exclusão social.
O objetivo do guia alimentar brasileiro, assim construído, é contribuir para a
prevenção das doenças causadas pelas deficiências nutricionais, para reforçar a
resistência orgânica a doenças infecciosas e para reduzir a incidência das doenças
crônicas. Os princípios visaram obter uma abordagem integrada, considerando o peso
multiplicado das doenças; o referencial científico e a cultura alimentar, na medida em que
as recomendações para a prevenção de doenças se baseiam em padrões alimentares
tradicionais; o referencial positivo, com ênfase nos aspectos favoráveis do consumo de
determinados alimentos; a explicitação das quantidades, indicando limites de consumo
ou número de porções a serem consumidas; a variação das quantidades, ou seja, a margem
de variação do consumo; a referência no alimento e não no nutriente; a sustentabilidade
ambiental, com a valorização dos alimentos regionais e o uso de recursos e tecnologias
de produção ambientalmente sustentáveis; a originalidade, com a valorização de
alimentos da cultura alimentar brasileira; e, por fim a abordagem multifocal, com
mensagens para públicos diversos com interesses e usos distintos. A população em geral,
a) Mensagem de variedade.
b) Mensagem de proporcionalidade.
c) Serem culturalmente aceito pela população.
Panamá
Venezuela
Chile
Uruguai
a) Perfil epidemiológico:
- mudanças no padrão de morbidade;
- estado nutricional da população por grupos de idade.
b) Educação:
- nível de escolaridade;
- taxa de analfabetismo;
- educação inicial e básica.
c) Alimentos:
- disponibilidade;
- acesso;
- consumo;
- composição.
Com base nos problemas prioritários foram definidos os objetivos dos guias
alimentares para a população paraguaia, a saber:
✓ desenvolver e implementar os guias alimentares para população saudável,
incluindo a população menor de 2 anos, orientados a promover dietas e
estilos de vida saudáveis.
Vejamos:
Problemas de Nutriente Alimento Práticas, hábitos e crenças Recomendações técnicas
saúde crítico crítico
1-Baixa Todos. Leite materno, Chá como digestivo para Promover o leite materno
prevalência de chá, fórmulas, cólica. como alimento para a
aleitamento iogurte, leite Falta de leite para o descanso criança de 6 meses.
materno. de vaca e de da mãe. O leite materno previne
soja, cereais, Água para limpar o tubo doenças.
purê, caldos e digestivo. Evitar alimentos sólidos e
água. Leite materno não é suficiente. líquidos diferentes do leite
materno.
2-pouca Proteínas. Carnes, leite, Introdução precoce dos A alimentação
informação e Carboidratos. legumes, ovos, alimentos. complementar deve se
educação sobre Gorduras. caldos, chá. O chá é digestivo e substitui o iniciar a partir do 6º mês de
a alimentação Ferro. leite. vida.
complementar.. Iodo. O jantar não é necessário e Alimentar a criança 5 vezes
acarreta problemas de por dia.
digestão. Acrescentar óleo vegetal na
As gorduras são prejudiciais. alimentação da criança.
O ovo é pesado. Introduzir leite na
Creem que os caldos são alimentação da criança.
nutritivos. Introduzir legumes e ovos
Não dar legumes porque são como fonte de proteínas.
prejudiciais (dão gases). Caldos espessos são mais
O leite aguado prejudica a nutritivos.
criança. Preparar as carnes moídas
Suco de carne porque é mais para que a criança possa
nutritivo. ingeri-las.
ESTUDOS QUALITATIVOS
Uma vez elaboradas as normas técnicas, realizaram-se estudos de campo em
pequena escala que permitiram conhecer a aceitação da população às recomendações
técnicas propostas. Ao considerar os fatores antropológicos e culturais da população, há
maior probabilidade das recomendações serem adotadas pela mesma. Para isso, a
metodologia e os instrumentos desenvolvidos pelo INCAP/OPAS foram adaptados.
Um fator facilitador desse processo é a presença de diversas instituições em
todas as regiões do país. Foram selecionadas as regiões Central, San Pedro, Caaguazú e
Itapúa. Os pesquisadores de campo das instituições envolvidas foram capacitados para a
aplicação dessa metodologia e responsáveis por coletar a informação. Considerando a
homogeneidade da população paraguaia, o grupo decidiu realizar os estudos qualitativos,
escolhidos ao acaso em cada região.
Os estudos qualitativos permitem fazer uma relação entre o conceito ideal, do
ponto de vista técnico, e o factível, do ponto de vista populacional. Além disso, permite
identificar a linguagem apropriada para a elaboração das mensagens.
Esta etapa demandou maior tempo do que o previsto, pois foi necessário elaborar
uma tabela de medidas caseiras para maior compreensão da população, assim como a
validação dos instrumentos com as recomendações técnicas. Depois da seleção aleatória
das regiões e das famílias que sofreriam intervenção, foi realizada uma visita inicial com
questionário de perguntas previamente elaborado. Em seguida as recomendações foram
explicadas com um desenho prévio de motivação e de como educar. Na semana do
retorno, mediante a utilização de um segundo instrumento elaborado para a entrevista
final questionava-se para a mesma família se foi ou não factível cumprir a recomendação.
Isso foi realizado para cada recomendação elaborada para o grupo família e para o grupo
de crianças menores de 2 anos.
Com base nos resultados dos estudos qualitativos foram elaboradas as
mensagens para transmitir as recomendações testadas e aceitas pela população, para
ambos os grupos: família e menores de 2 anos.
Desse modo, foi elaborada a representação gráfica que transmitiu mensagem de
variedade, proporcionalidade e frequência de consumo de alimentos, além de ter sido
culturalmente aceita pela população-alvo.
Vale frisar que alianças entre todos os interessados (governo, organizadores de
saúde e indústria de alimentos) devem ser feitas para que os guias atinjam seus objetivos,
bem como é preciso usar estratégias que levem em consideração as motivações e as
barreiras dos consumidores. Mensagens que provam ações consistentes são essenciais, ou
seja, é preciso ir além de falar o que fazer, é preciso mostrar como fazer.
INQUÉRITOS ALIMENTARES
DEFINIÇÃO E USOS
Para diagnosticar e intervir na alimentação com foco nutricional, colaborando
para a saúde e qualidade de vida, encontramos nos inquéritos alimentares uma das
ferramentas mais convenientes para avaliar o consumo alimentar. Eles são de baixo custo
na sua aplicação, não são invasivos e podem fornecer diversas informações fundamentais
sobre a alimentação, dentre outras vantagens de aplicação.
Os inquéritos alimentares são instrumentos de grande importância na avaliação
do consumo alimentar em todas as fases da vida, tanto de indivíduos quanto de grupos
populacionais. Eles produzem dados qualitativos e quantitativos. Por meio dos inquéritos,
é possível observar os hábitos alimentares inadequados com a finalidade de corrigi-los e,
além disso, implantar programas de educação alimentar, como forma de prevenção de
determinadas doenças, especialmente entre crianças e adolescentes (HOLANDA;
BARROS FILHO, 2006).
Os inquéritos dietéticos podem ser destinados a todos os estágios de vida,
devendo ser consideradas as especificidades de cada paciente. Tendem a apresentar maior
dificuldade para avaliação do consumo alimentar as crianças, os idosos e os analfabetos.
saúde. Por isso, as mulheres costumam lembrar com maior facilidade e riqueza de
detalhes o que comeram, quanto consumiram, qual foi a forma de preparo, etc.
Por outro lado, o estágio de vida também é uma importante característica que
influencia a determinação do inquérito alimentar a ser adotado. As dificuldades
encontradas na avaliação do consumo alimentar de crianças exemplificam essa questão.
Acredita-se que crianças menores de 10 a 12 anos não têm habilidade para lembrar de seu
próprio consumo alimentar e estimar corretamente o tamanho das porções ingeridas, além
de terem um vocabulário limitado sobre alimentos e preparações. Em estudo realizado
com crianças e adolescentes canadenses, foi observado que crianças entre 6 e 9 anos
apresentavam grande dificuldade para registrar os alimentos consumidos e necessitavam
de ajuda dos pais para desempenhar tal tarefa, a qual foi considerada divertida. Por outro
lado, indivíduos de 10 a 12 anos conseguiam preencher sozinhos ou com pouca ajuda. Já
adolescentes de 13 a 17 anos conseguiam preencher o inquérito sem ajuda, mas
apresentavam receio de mostrar o inquérito preenchido aos colegas. Os autores sugerem,
portanto, a idade mínima de 10 anos de idade para se ter uma informação razoavelmente
precisa do consumo alimentar do paciente.
R24h
Os inquéritos dietéticos foram usados pela primeira vez na década de 1930 para
descrever o estado nutricional das populações. O método R24h foi apresentado por sua
autora, Bertha Burcke, como método básico para ensinar as mães a registrar o consumo
de alimentos por seus filhos. Anos mais tarde, Wiehl utilizou-o pela primeira vez para
quantificar o consumo de energia e nutrientes de trabalhadores industriais (CIOSAS, 1995
apud FISCHER; MARTINI; SLATER, 2005).
O recordatório alimentar ou R24hs, como indicado pelo nome, consiste na
descrição dos alimentos e bebidas consumidos no dia anterior à entrevista ou nas 24 horas
que a precedem. É o inquérito mais empregado para a avaliação da ingestão de alimentos
e nutrientes de indivíduos e diferentes grupos populacionais no cenário mundial e também
no Brasil (FISBERG et al., 2005).
A larga utilização desse instrumento se deve a sua facilidade de aplicação, menor
dependência da memória do entrevistado, baixo custo e aplicabilidade em todos os
estágios de vida. O tempo gasto para sua aplicação é de 20 a 30 minutos, dependendo do
treinamento do entrevistador e da composição da alimentação do indivíduo no dia
anterior.
HISTÓRIA ALIMENTAR
O método foi apresentado por Burke, em 1947, para avaliar o consumo habitual,
uma vez que o R24h usado até o momento representava o consumo alimentar de apenas
um dia. O instrumento empregado incluía o recordatório de 24h, o registro alimentar de
3 dias e um check list dos alimentos consumidos no último mês.
Atualmente, consiste em uma extensa entrevista com o propósito de gerar
informações sobre hábitos alimentares atuais e passados. São coletadas informações sobre
o número de refeições, apetite, preferências alimentares, uso de suplementos nutricionais,
R24h com mais detalhes sobre padrões de consumo, tamanho de porções, frequência de
consumo dos alimentos e variações sazonais; informações adicionais são obtidas: fumo e
prática de exercícios físicos, entre outras.
Entre as vantagens do método está a descrição da dieta usual, sendo eliminadas
as variações do dia-a-dia; nele é considerada a variação sazonal e pode ser usado para
estudos longitudinais. As desvantagens são a necessidade de nutricionistas treinadas, as
dificuldades para a padronização da coleta de informações devido à grande variabilidade
entre os entrevistadores e entre os entrevistados, o fato de depender da capacidade de
memória do entrevistado, o tempo longo de administração (1 a 2 h) e o alto custo para
verificar e codificar as informações (FISBERG; MARTINI; SLATER, 2005).
PIETINEN, 1988a; PIETINEN, 1988b; RIMM et al., 1992 apud FISBERG; MARTINI;
SLATER, 2005).
O QFA foi desenhado para obter informação qualitativa, semiquantitativa ou
quantitativa sobre o padrão alimentar e a ingestão de alimentos ou nutrientes específicos.
Conceitualmente, o método prevê a medição da exposição e sua relação com o tempo, de
maneira que reflita características de como começa, quando termina e qual sua
distribuição no período de intervenção (GIBSON, 1990; ARMSTRONG et al., 1995 apud
FISBERG; MARTINI; SLATER, 2005).
O QFA possui basicamente dois componentes: uma lista de alimentos e um
espaço, no qual o indivíduo responderá com que frequência consome cada alimento. A
lista é constituída pelo maior número possível de alimentos que aportam nutrientes à
dieta. Quando se trata da elaboração de um questionário novo, a lista de alimentos pode
ser obtida por meio de diferentes estratégias, desde a mais simples até a mais complexa,
embora esta seja sempre a mais apropriada.
Quando o objetivo da pesquisa é analisar um ou alguns nutrientes, a lista de
alimentos pode ser elaborada pela identificação daqueles com maior conteúdo do
nutriente em questão. Os alimentos podem ser selecionados por meio de tabelas de
composição de alimentos ou solicitando-se a assessoria de um especialista em nutrição.
Essa forma de elaboração tem grandes limitações, pois pode incluir alimentos importantes
por seu conteúdo, mas pouco relevantes do ponto de vista de consumo pela população.
Quando o objetivo do estudo é estratificar os indivíduos segundo seu consumo,
a lista de alimentos deve ser cuidadosamente selecionada para que os itens sejam o mais
informativo possível. Os alimentos selecionados devem cumprir as seguintes
características:
a) Ser razoavelmente utilizado por uma proporção representativa de indivíduos;
b) Apresentar o nutriente de interesse; e,
c) Seu uso deve variar de pessoa para pessoa.
2
Coeficiente de determinação da reta expressa na medida de precisão da inclinação da reta.
QUANTO AO QFA
Como principal desvantagem da utilização do QFA, destaca-se o fato de que ele
apresenta a mesma fonte de erro do Recordatório de 24 horas ou de qualquer outro método
retrospectivo, ou seja, a qualidade da informação depende da memória do entrevistado
para registrar corretamente a alimentação correspondente ao período que está sob
avaliação.
Acredita-se que as respostas ao QFA são baseadas na imagem mental da dieta
habitual, que é acumulada ao longo da vida. Além disso, a falta de conhecimento de
determinados alimentos e preparações e o valor social atribuído a alguns itens alimentares
também são limitações ao uso do Questionário de Frequência Alimentar. Sabe-se que os
alimentos preferidos pelos entrevistados tendem a ser lembrados com maior facilidade,
havendo superestimação do tamanho das porções. Por outro lado, alimento que não são
do agrado do indivíduo tendem a ser esquecidos ou há a tendência a atribuírem a eles uma
baixa frequência de consumo.
Considerando que o QFA avalia o consumo alimentar por meio de uma lista
fechada de alimentos, há a possibilidade de essa lista não compreender todo o espectro de
alimentos consumidos no período anterior. Além disso, as medidas de porções são
padronizadas no formato quantitativo, o que confere apenas uma estimativa do consumo
alimentar, não uma informação precisa. Também é frequente a presença de vários
alimentos agrupados no mesmo item. Esses pontos conferem outra desvantagem ao QFA,
que corresponde ao fato de que sua aplicação não permite avaliar a inadequação da
ingestão dietética, em comparação com as recomendações nutricionais, tanto em
indivíduos como em grupos (BRIEFEL et al. apud SANTOS; TORAL; CINTRA, 2011).
Os Questionários de Frequência Alimentar (QFA) são utilizados quando se visa
à avaliação da dieta habitual do indivíduo, isto é, a alimentação característica de um
período de tempo de meses ou anos antes do tempo presente. Por esse motivo, o QFA é
frequentemente considerado o instrumento mais adequado para estudos epidemiológicos
que avaliam a associação entre dieta e doenças crônicas.
Dessa forma, esse instrumento permite substituir a avaliação medida no dia ou
poucos dias antes da entrevista por uma informação mais ampla, referente a um período
maior do passado, normalmente no ano anterior ou nos 6 meses prévios à entrevista.
O QFA pode ser autoadministrado (o próprio entrevistado preenche seu
inquérito) ou realizado por meio de entrevista pessoal. Dependendo do formato e de sua
extensão, ele pode ser conduzido também por telefone, correio ou por computador via
internet.
Dentre as principais vantagens da aplicação do QFA destacam-se o baixo custo
e a fácil administração. Contudo, tais características não estão sempre presentes. O baixo
custo está envolvido principalmente quando o questionário é autoadministrado,
dispensando os gastos com contratação e treinamento de entrevistadores. A utilização de
aparelhos de leitura óptica para avaliar os QFAs preenchidos também reduz os custos
envolvidos com a digitação dos dados, mas cabe destacar o alto custo de compra e
manutenção de tais equipamentos. Os aspectos relacionados ao baixo custo do QFA
também contribuem para a facilidade de sua administração, tendo em vista que há uma
grande redução do tempo para ela. Porém, a facilidade de administração depende
principalmente do formato e da extensão do QFA. O tempo necessário para o
preenchimento do QFA é de aproximadamente 1 hora, o que muitas vezes é inviável para
vários estabelecimentos ou estudos clínicos.
A utilização de materiais de apoio, como fotos de utensílios e de porções, pode
contribuir para o preenchimento do QFA, principalmente quando este é direcionado a
crianças ou indivíduos de menor nível socioeconômico. Isso também pode contribuir para
maior agilidade na obtenção da informação, e é um fator importante quando o instrumento
apresenta uma extensa lista de itens alimentares, evitando-se assim o cansaço e o
desinteresse do paciente e o consequente prejuízo da informação obtida.
Grande parte das doenças presentes em nosso meio está relacionada ao que se
come e bebe, com as atividades cotidianas e o ambiente em que se vive. Obesidade,
hipertensão, diabetes e hipercolesterolemias, entre outras estão relacionadas aos hábitos
alimentares dos indivíduos e comprometem sua qualidade de vida. Essas doenças estão
na agenda de saúde pública de muitos países e associadas às principais causas de morte
em nosso meio.
Assim, a ênfase na mudança de comportamento dos indivíduos torna-se
frequentemente o foco primordial dos profissionais da área e saúde, tanto do ponto de
vista da prevenção quanto do controle das doenças (MARCHIONI; ZACCARELLI,
2002).
MODELO TRANSTEÓRICO
O Modelo Transteórico ou Transteorético adota o prefixo “trans-” pelo fato de
incluir conceitos de diferentes teorias da Psicologia Social. Foi desenvolvido na década
de 1980 pelos pesquisadores norte-americanos James O. Prochascka e Carlo DiClemente,
que conduziam estudos com indivíduos tabagistas. Eles observaram que alguns tabagistas
conseguiam abandonar o vício rapidamente, outros estavam desmotivados para realizar
qualquer mudança na sua prática, enquanto outros gostariam de parar de fumar, mas
simplesmente não conseguiam. A partir disso, o questionamento dos pesquisadores
BENEFÍCIOS BARREIRAS
Comer menos gordura na minha alimentação Uma alimentação pobre em gorduras torna a ida a
diária diminuirá o risco de doença cardíaca. restaurantes com amigos mais difícil.
Comer menos gordura na minha alimentação Comer alimentação com menos gordura significa
diária me ajudará a me sentir mais saudável. que poderei cozinhar menos pratos especiais para
Comer menos gordura na minha alimentação minha família ou pessoas com quem convivo.
diária aumentará minha expectativa de vida. Minha família prefere que eu coma uma
Comer menos gordura na minha alimentação alimentação tradicional.
diária incentivará minha família ou as pessoas Comer alimentação com menos gordura não
com em convivo a fazer o mesmo. combina com as preferências alimentares de minha
Comer menos gordura na minha alimentação família ou de quem mora comigo.
diária me dará mais energia nas atividades diárias. Comidas com pouca gordura não têm sabor tão
Comer menos gordura na minha alimentação bom quanto as outras.
diária diminuirá o risco de desenvolver câncer. Comer alimentação com menos gordura implica
Comer dieta baixa em gorduras é importante para maior tempo para preparação da comida.
minha autoestima. Comer alimentação com menos gordura pode
Minha família ou as pessoas que vivem comigo atrapalhar as pessoas de minha família ou as com
desejam que eu coma uma alimentação com quem convivo.
pouca gordura. Comidas com pouca gordura são menos
interessantes que as outras.
Comer com pouca gordura pode aumentar meu
gasto semanal com alimentação.
Uma apresentação desses pontos pode ser feita ao paciente e solicitado que ele
dê uma nota de 1 (discorda muito) a 5 (concorda muito), de forma que contabilize as
escolhas. Podem-se também apresentar questões abertas para caracterizar melhor o grupo,
antes de apresentar questões fechadas.
Durante os estágios de ação e manutenção o principal objetivo é que a pessoa
adquira autoconfiança ou autocontrole de que pode manter o comportamento desejado e
sabe enfrentar diferentes desafios.
Um deles é lidar com a chamada tentação que é a urgência em voltar ao
comportamento de risco ou indesejado, o qual ocorre, geralmente, nas situações afetivas
negativas, ou seja, em momentos de perda, brigas, etc.; nas situações sociais positivas,
como festas ou reuniões sociais, e quando há presença de impulsos. Apoiar o paciente
nesses momentos e ajudá-lo a encontrar alternativas é importante, sobretudo se ele está
no estágio de ação, e apenas começou as mudanças necessárias.
Nos momentos de recaída, o paciente deve ser estimulado a voltar ao estágio de
ação, procurando reforçar positivamente a importância das conquistas já obtidas.
Estudos comprovaram a relação entre a determinação dos estágios de mudança
e o consumo alimentar. Assim, pode-se verificar, por exemplo, que o consumo de gordura
dos indivíduos no estágio de pré-contemplação era maior, e diminuía nas pessoas no
estágio de manutenção.
Paralelamente, as vantagens apontadas sobre consumir menos gordura também
aumentavam conforme evoluíam os estágios de mudança. Outros comportamentos
pesquisados enfocaram a motivação para a adoção de uma alimentação mais saudável, o
consumo de frutas e verduras e consumo de grãos, entre outros (PROCHASKA et al.,
1997; MCDONELL et al., 1998; VAN DUYN et al., 1998; KEARNEY e MCETHONE,
1999 apud ZACCARELLI, 2005).
Enfim, a identificação dos estágios de mudança em relação à alimentação pode
fornecer subsídios importantes em relação ao perfil de indivíduos e grupos, direcionando
melhor um trabalho educativo, de prevenção e o trabalho de aconselhamento nutricional.
Bertolin e Villar (2012) nos lembram que essa tendência a analisar a evolução
do indivíduo ao longo dos estágios de mudança de comportamento de forma linear, se
constitui um erro. Na verdade, avanços e retrocessos estão previstos e são comuns ao
longo das tentativas de modificação de um determinado comportamento, inclusive o
alimentar. Por exemplo, um indivíduo pode ser classificado em ação em uma primeira
avaliação e, após certo tempo, por ter perdido a motivação inicial ou deparar-se com
alguns impedimentos, volta a um estágio inicial, como o de contemplação. A dinâmica
observada ao longo dos estágios pode ser retratada por um modelo em espiral dos estágios
de mudança.
Sobre a classificação dos indivíduos nos estágios de mudança de
comportamento, Bertolin e Villar (2011) também lembram que é realizada por um
algoritmo, isto é, um questionário que compreende um número limitado de perguntas
mutuamente excludentes. Contudo, são utilizados diferentes formatos do algoritmo nos
estudos, o que muitas vezes dificulta a comparabilidade de resultados.
Em primeiro lugar, considerando a complexidade do comportamento alimentar,
é necessário ainda que a avaliação dos estágios de mudança de comportamento seja
realizada com o foco em um determinado grupo alimentar ou nutriente. Isso porque um
mesmo indivíduo pode ser classificado no estágio de manutenção em relação ao teor de
gordura da dieta, mas encontra-se em contemplação em relação ao consumo de frutas e
verduras, por exemplo. Os componentes normalmente descritos na literatura com relação
aos estágios de mudança são: o consumo de gordura, frutas, hortaliças, doces, fibras e
cálcio, além da avaliação em relação à adoção de estratégias dietéticas para o controle do
peso e do diabetes (ROSSI et al., 2001). Portanto, as perguntas do algoritmo devem ser
adaptadas ao grupo alimentar sob investigação.
São identificados basicamente dois tipos de algoritmos para identificação dos
estágios: um baseado no consumo alimentar e outro baseado na percepção alimentar. Um
exemplo de cada um dos algoritmos é apresentado no Quadro abaixo, considerando o
consumo de frutas, e as vantagens e desvantagens de cada opção são descritas
posteriormente.
de frutas, hortaliças e fibras (GLANZ et al., 1994; DE GRAAF et al., 1997; TRUDEAU
et al., 1998; LIN e HORWATH, 2000; TORAL et al., 2006; TORAL e SLATER, 2009
apud BERTOLIN; SLATER, 2012).
A utilização dos estágios de mudança de comportamento em intervenções
nutricionais atende dois propósitos (DE NOOIJER et al., 2005 apud BERTOLIN;
SLATER, 2012):
i. a classificação permite direcionar a intervenção para cada um dos estágios de
mudança de comportamento, considerando que são identificados grupos de
indivíduos com diferentes percepções motivações para realizar mudanças em
sua dieta;
ii. os estágios podem ser utilizados como um indicador dos efeitos de uma
intervenção, sendo sucesso representado pelo avanço da classificação do
indivíduo ao longo da evolução prevista para os estágios de mudança de
comportamento.
indivíduos, enfatizando, nos processos de transição, a trajetória das ações, dos eventos e
das mudanças históricas relacionados com o contexto atual.
A estrutura do CV é vista como uma trajetória que representa processos
dinâmicos e muito mais que simples conceitos de ciclo de vida ou estágio da vida. Para
se realizar esse tipo de estudo, no qual se examinará o repertório de alimentos que um
indivíduo consome, é necessário desenvolver bases teóricas e metodológicas dessa
abordagem.
Múltiplas formas e práticas atuais de escolha de alimentos podem se apresentar
devido à natureza dos indivíduos, assim como à diversidade do comportamento e à
variedade do ambiente passado e atual de alimentos.
Portanto, necessita-se de uma abordagem indutiva, para que se possa reconhecer
e descrever os mecanismos subjacentes na escolha dos alimentos. Para alcançar esses
objetivos, metodologias qualitativas e etnográficas são as mais eficientes e recomendadas.
Inicialmente, é necessário elaborar perguntas semiestruturadas e transcrever as
respostas (dado).
A análise dos dados inclui:
➢ revisão do processo interativo dos casos e classificação dos dados em
categorias emergentes e a inclusão destes;
➢ identificação de novos temas;
➢ desenvolvimento de “linhas de tempo” para cada participante incluindo as
mudanças no estilo de vida e eventos pertinentes;
➢ comparação dos dados dos casos novos com os casos existentes (revisão das
categorias);
➢ contraste das características dos eventos do curso da vida dos participantes
que relataram alto e baixo consumo de alimentos;
➢ escrever os casos dos participantes em que as experiências de vida
demonstraram caminhos particulares para a escolha atual de alimentos;
➢ incorporação e compreensão dos benefícios durante a análise para modelo
teórico.
Muitos participantes usam suas experiências da vida passada para explicar suas
preferências atuais e o padrão de escolha de alimentos.
Com frequência, as experiências passadas mostram-se importantes e suficientes
para contar sem a indução do entrevistador. No caso de o participante não relatar
6) Local.
7) Sistema alimentar ou repertório de alimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BÁSICAS
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
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históricos e evolução. Rev Nut Campinas, março/abril 2006; 19:2.
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subestimando os efeitos naturais da atividade física?. Arq Bras Endocrinol Metab
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Nutrição e metabolismo