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Instituto Federal do Espírito Santo

Engenharia Mecânica
Máquinas Térmicas

Turbina a Gás
Murilo Alves Ricardo
Nathanny Ramiro Batista Martins
Maurício Marini Castelioni
Beatriz Souza Bispo Santos
Leonardo Baptista Paris
2024

1 Introdução
A primeira turbina a gás foi desenvolvida a cerca de 150 anos, a partir dos conheci-
mentos adquiridos com a evolução dos motores térmicos. Na época da segunda guerra
mundial ocorreu um grande avanço nos estudos devido a aeronáutica, que tinha necessi-
dade de aumentar a velocidade de seus aviões e continuou com a industrialização a guerra,
com a instalações de potência a gás.
Avanços contínuos na metalurgia, aerodinâmica e controle de processos permitiram o
desenvolvimento de turbinas a gás cada vez mais eficientes, confiáveis e versáteis.
Hoje, elas desempenham um papel fundamental em uma ampla variedade de aplica-
ções industriais e de transporte, desde a geração de eletricidade em grandes usinas até a
propulsão de navios e aeronaves.

2 Definições e Conceitos Fundamentais


As turbinas a gás são dispositivos mecânicos utilizados para converter a energia tér-
mica contida em um combustível em energia mecânica, que pode ser usada para gerar
eletricidade, impulsionar aeronaves, locomover embarcações e até mesmo acionar gerado-
res e compressores em processos industriais.
Alguns conceitos são importantes para o entendimento das turbinas a gás:
1. Processo de combustão
Sabemos que as turbinas a gás é uma máquina térmica na qual se aproveita dire-
tamente a energia liberada na combustão, armazenada nos gases produzidos que se
expandem sobre as palhetas móveis de um rotor. Este combustível, geralmente na
forma de gás natural, óleo diesel ou combustíveis sintéticos.

2. Ciclo termodinâmico
O ciclo termodinâmico básico de uma turbina a gás consiste em quatro processos
principais: compressão, combustão, expansão e exaustão. Durante o processo de
compressão, o ar é comprimido em alta pressão antes de entrar na câmara de com-
bustão. Em seguida, o combustível é injetado e queimado a alta temperatura na

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câmara de combustão, gerando gases de alta pressão e temperatura. Esses gases são
então expandidos através de uma série de estágios de turbina, onde a energia cinética
dos gases em expansão é convertida em energia mecânica rotacional. Finalmente,
os gases são exauridos para a atmosfera.

3. Componentes principais
As turbinas a gás consistem em vários componentes principais, incluindo o compres-
sor, a câmara de combustão, a turbina e o conjunto de exaustão. O compressor é
responsável por comprimir o ar de entrada antes da combustão. A câmara de com-
bustão é onde ocorre a queima do combustível. A turbina é composta de estágios
de pás rotativas que extraem energia dos gases em expansão. E, por fim, o conjunto
de exaustão permite a saída dos gases de escape para a atmosfera.

4. Eficiência
A eficiência de uma turbina a gás é uma medida de quão bem ela converte a energia
térmica do combustível em energia mecânica. A eficiência é afetada por vários
fatores, incluindo a temperatura de entrada dos gases na turbina, a relação de
compressão do compressor e o projeto aerodinâmico dos componentes da turbina.

3 Classificação quanto ao tipo e ao uso


3.1 Categorias Principais de Câmaras de Combustão em Turbi-
nas a Gás
Refere-se ao local onde a queima da combinação de ar e combustível acontece. Na
etapa de entrada, é carregado com o combustível e o oxidante, e, depois da queima, é
esavaziada , liberando o resultado da combustão. Contudo, apesar da base ser a mesma,
há vários modelos de câmaras de combustão, sendo que, em turbinas a gás, os seguintes
tipos são os mais comuns.

1. Câmara Tubular (Tipo Can): Neste modelo, o ar que vem do compressor é dividido
em vários fluxos que alimentam distintas câmaras. Essas câmaras estão dispostas ao
redor do eixo que liga o compressor à turbina, permitindo que cada câmara tenha
seu próprio sistema de alimentação de combustível, através de uma conexão comum.

2. Câmara Tubo-Anular (Tipo Cannular): É composta por combustores tubulares dis-


postos de maneira uniforme dentro de uma estrutura anular. Conforme Zulcy (2014),
esse desenho adota um sistema de fluxo reverso, possibilitando uma diminuição no-
tável no tamanho do eixo que conecta a turbina ao compressor, além de facilitar o
acesso aos injetores de combustível e aos combustores tubulares para manutenção.

3. Câmara Anular (Tipo Annular): De acordo com Zulcy (2014), a configuração anular
é a mais eficiente em termos de aproveitamento do espaço, utilizando-se ao máximo
o interior de um diâmetro definido. Isso visa a diminuição da perda de pressão e leva
à construção de máquinas com diâmetros reduzidos. A combustão acontece numa
área anular envolvendo todo o aparelho, ao invés de ocorrer em tubos separados.

4. Câmara Silo/Cilíndrica (Tipo Silo - Cilíndrica): Conforme mencionado por Zulcy


(201a), nas turbinas a gás industriais de grande porte, onde a demanda por espaço

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para o sistema de combustão não é um entrave, é comum o uso de uma ou duas
grandes câmaras de combustão cilíndricas. Estes combustores maiores favorecem
uma velocidade de fluxo mais baixa, reduzindo assim a perda de pressão e são
adequados para a queima de combustíveis de menor qualidade.

4 Características Construtivas
Como mencionado acima, existem padrões e diferentes formas para o uso das turbinas.
Sendo assim, é de se concluir que, cada turbina terá seus componentes específicos visto
cada aplicação e funcionamento exercida a esta. Assim, se fará uma análise sobre os
principais componentes da turbinas a gás em geral.

4.1 Compressor
O compressor é o responsável por capturar ar atmosférico, em pressão e temperatura
ambientes, e comprimi-lo antes de injetá-lo na câmara de combustão. À medida que o ar
passa por essas etapas, as pás do rotor e o estator reduzem o volume do ar e aumentam
sua pressão. Os compressores em turbinas a gás frequentemente têm vários estágios de
compressão. Cada estágio consiste em um conjunto de pás de compressor que aumenta
gradualmente a pressão do ar.
O compressor de uma turbina a gás pode ser do tipo axial ou centrífugo, e além disso,
ambos são constituídos por um rotor e um difusor.

4.1.1 Compressores Axiais


Nestes, o fluxo segue um caminho praticamente paralelo ao eixo de rotação e há
múltiplos estágios de compressão para conseguir alcançar a razão de compressão desejada.
Cada estágio de um compressor axial é formado por uma fileira de palhetas rotativas,
chamada rotor, seguida por uma fileira de palhetas fixas, chamada estator. O conjunto
rotor e estator é chamado de estágio, fazendo com que o compressor seja formado por uma
série de estágios. Ainda assim, apresenta uma menor área frontal para uma determinada

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vazão de massa, possui uma direção de saída mais propícia à implantação de vários estágios
de compressão e é mais eficiente para razões de pressão altas.

Figura 1: Esquema compressor axial

4.1.2 Compressores Centrífugos


Já nestes, o compressor radial redireciona o fluido de trabalho para um caminho para-
lelo ao raio do seu rotor e seus estágios são formados por um rotor centrífugo e um difusor.
apresenta maior razão de pressão para cada estágio de compressão, construção simples e
robusta, menor perda de desempenho devido à aderência de sujeira nas lâminas, menor
comprimento para uma dada razão de pressão, possui uma direção de saída favorável,
abrange uma maior faixa de fluxo mássico (sem mudar a rotação) e mais adequado para
baixas pressões.

Figura 2: Esquema compressor centrífugo

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4.2 Câmara de Combustão
A câmara de combustão é responsável pelo aumento da energia interna do fluido de
trabalho através da queima do mesmo após a mistura com o combustível. Uma câmara de
combustão tradicional possui três partes: o difusor, a zona primária e a zona secundária.
O difusor é a zona compreendida entra a saída do compressor e a entrada do combustor.
Nessa região, a velocidade do fluido que sai do compressor deve ser reduzida, uma vez
que a perda de pressão é função do quadrado da velocidade e tal perda acarreta em uma
menor eficiência da máquina.
A zona primária é responsável por múltiplas funções, sendo as principais a injeção de
combustível e a ignição da mistura ar-combustível. A injeção de combustível deve ser
feita de modo a formar uma mistura uniforme e bem distribuída em qualquer ponto de
operação do sistema.
Na zona secundária, os gases provenientes da queima têm a temperatura reduzida a um
patamar adequado para entrar na turbina e, além disso, são misturados para uniformizar
a temperatura na saída da câmara de combustão.
As câmaras de combustão podem ser divididas em dois grupos:

4.2.1 Múltiplas
A câmara de combustão múltipla em turbinas a gás é uma configuração em que o
processo de queima de combustível ocorre em duas ou mais etapas distintas. Esse design
é adotado para melhorar a eficiência, reduzir emissões e otimizar o desempenho geral
do sistema. Também, nesse tipo de configuração se usa câmaras de combustão do tipo
tubulares em que podem ser de construção horizontal e vertical.

Figura 3: Câmara de combustão tubular

4.2.2 Simples
A câmara de combustão simples, podem apresentar tanto uma configuração anular
quanto tubular, sendo comum em turbinas a gás. Nesse tipo de câmara de combustão,
o ar comprimido proveniente do compressor é misturado com o combustível e queimado

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em uma única etapa antes de entrar na turbina. Assim como a câmara de combustão
múltipla, esta também apresenta construção horizontal e vertical.

Figura 4: Câmara de combustão anular

4.3 Sistema de Alimentação de Combustível


Na busca de uma combustão, necessita-se de uma boa pulverização do combustível,
inclusive para quantidades injetadas de combustível muito variáveis. Assim, faz-se neces-
sário o controle da injeção desse combustível na câmara de combustão, visto que devem ter
pressões de trabalho e vazões controladas. Este sistema é constituído por um pulverizador
de refluxo e um reservatório.

Figura 5: Esquema do sistema de alimentação de combustível

4.4 Turbina
A turbina é bastante similar ao compressor, porém nela ocorre o processo inverso, ou
seja, o fluido de trabalho sofre uma expansão, fazendo-a girar. A turbina, assim como o
compressor, também é formada por estágios que consistem de um rotor e um estator. O

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número de estágios de expansão é sempre menor que o número de estágios de compressão
para evitar a separação do fluido de trabalho, pois na compressão ele é desacelerado,
enquanto que na expansão há uma aceleração do mesmo.
Assim como os compressores, as turbinas podem ser radiais ou axiais. Contudo, as
turbinas radiais são empregadas em pouquíssimos casos como quando se deseja gerar uma
potência muito baixa ou quando se prefere compacidade a desempenho. As turbinas axiais
são as mais utilizadas nas turbinas a gás e consiste de um ou mais estágios de expansão.

4.4.1 Turbinas Radiais


Em uma turbina de fluxo radial, o fluxo de gás entra no rotor desta com uma alta
velocidade tangencial e sai do rotor com uma velocidade tão baixa quanto a velocidade
tangencial próxima ao eixo. (LORA; NASCIMENTO, 2004)
Além disso, como mencionado acima, as turbinas radiais são muito similares aos com-
pressores centrífugos (radiais), com a diferença de que o anel de palhetas dos bocais
substituem as palhetas do difusor.

Figura 6: Turbina radial

4.4.2 Turbinas Axiais


Uma turbina axial é uma turbina na qual o fluxo do fluido de trabalho é paralelo
ao eixo, ao contrário das turbinas radiais, onde o fluido corre em torno de um eixo.
(SADREHAGHIGHI, 2023)
São as mais utilizadas do que as turbinas radiais por apresentarem maior eficiência e
uma ampla faixa de trabalho. São o inverso do compressor axial, pois na turbina o gás
cede energia as pás do rotor, já no compressor, as pás do rotor cedem energia ao gás.

4.5 Regenadores
O regenerador (trocador de calor) nada mais é que um dispositivo usado para melhorar
o rendimento de uma turbina. São colocados entre o compressor e a câmara de combustão,
afim de recuperar parte do calor perdido pelo ar que sai do compressor e que se injetam
na câmara de combustão. Nesse componente, o ar é aquecido pela ação dos gases de

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Figura 7: Turbina axial

escape (a uma alta temperatura) que saem da turbina a gás. Nestes regeneradores as
correntes quente e fria estão separadas por paredes condutoras, através das quais se realiza
diretamente o intercâmbio de calor. Podem ser do tipo tubular simples, tubular com
chicanas ou de placas onduladas.

Figura 8: Trocador de Calor (regenerador) com placas de desvio de fluxo

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5 Turbinas Aero-Derivadas
A turbina aero-derivada é um tipo de turbina a gás que foi desenvolvida originalmente
para aplicações aeroespaciais, como em motores de aeronaves. No entanto, essas turbinas
também foram adaptadas para uso em aplicações terrestres, como em usinas de energia
e sistemas de compressão de gás. A principal característica das turbinas aeroderivadas é
sua alta eficiência e capacidade de operar em condições extremas, como variações rápidas
de carga e temperatura. Elas são projetadas para serem compactas e leves, características
importantes em aplicações aeroespaciais. Embora as turbinas aeroderivadas possam ser
mais caras inicialmente, sua eficiência operacional e capacidade de resposta rápida muitas
vezes compensam os custos adicionais ao longo do tempo.

5.1 Primeiras turbinas Aero-Derivadas


As primeiras ideias de turbina a gás aeroderivada foi desenvolvida durante a Segunda
Guerra Mundial. Foi o motor a jato Junkers Jumo 004, este motor foi usado em aeronaves
de combate a jato, como o Messerschmitt Me 262, que se tornou o primeiro avião a jato
operacional do mundo durante a guerra.
A General Electric (GE), uma empresa que desenvolveu a ideia inicial, produziu sua
primeira turbina a gás aeroderivada , a LM100, em 1959 e no mesmo ano a LM1500,
derivadas da bem sucedida turbina para aviação J79. As primeiras aplicações foram,
principalmente, em propulsão de embarcações, acionamento de bombas e compressores
em plantas off-shore e geração de energia. Com o sucesso de tais aplicações, chega em
1969 ao mercado a primeira versão da LM2500 que poderia gerar uma potencia em torno
de 15 MW.
Atualmente a turbina LM2500 possui potência instalada em torno de 25MW e com
rendimento térmico. Derivada da turbina turbofan GE TF39 para propulsão de aviões
militares e comerciais, a LM2500 marine é uma turbina a gás que opera segundo o ciclo
convencional, possui dois eixos, sendo um para o conjunto gerador de gás e compressor
e outro para a turbina de potência livre e a respectiva carga. Possui também, anexada
a ela, o sistema de bombas de óleo lubrificante e combustível e um sistema de controle
e governador de velocidade. Os seus principais elementos da turbina LM2500 podem ser
vistos na figura.

Figura 9: Turbina LM2500

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5.2 Aplicações e benefícios
As turbinas a gás aeroderivadas oferecem uma série de benefícios em comparação com
outros tipos de turbinas e sistemas de geração de energia. A eficiência Energética, é
uma grande vantagem, já que turbinas aeroderivadas são projetadas para oferecer alta
eficiência na conversão de energia térmica em energia mecânica. Seu design avançado
e tecnologia de combustão eficiente permitem a geração de eletricidade com menor con-
sumo de combustível em comparação com outros sistemas. Outro ótimo benefício é a
mobilidade, as turbinas são compactas e relativamente leves em comparação com ou-
tras turbinas industriais, isso permite que sejam transportadas rapidamente para locais
remotos ou temporários onde a energia elétrica é necessária.
As turbinas a gás aeroderivadas são usadas em uma variedade de aplicações em que a
mobilidade, eficiência e resposta rápida são essenciais. Aqui estão algumas das principais
aplicações dessas turbinas:

1. Setor naval e aeronáutico:As turbinas aeroderivadas têm uma série de aplicações


importantes na aviação, tanto em aeronaves militares quanto comerciais. Propul-
são de Aeronaves, Turbinas Auxiliares, Helicópteros, Drones e Veículos Aéreos Não
Tripulados são alguns equipametos que utilizam desse tipo de turbina.
2. Geração de Energia Móvel: As turbinas a gás aeroderivadas são frequentemente
utilizadas em unidades móveis de geração de energia, como geradores montados em
reboques ou contêineres. Essas unidades podem ser transportadas rapidamente para
locais remotos ou temporários onde a energia elétrica é necessária, como canteiros
de obras, eventos ao ar livre ou áreas de desastres naturais.
3. Unidades de Compressão de Gás Natural: As turbinas aeroderivadas são empregadas
em unidades de compressão de gás natural para aumentar a pressão do gás natural
em gasodutos e facilitar o seu transporte por longas distâncias.
4. Sistemas de Energia de Backup: Em instalações críticas, como hospitais, data cen-
ters e instalações industriais, as turbinas a gás aeroderivadas são usadas como sis-
temas de energia de backup para fornecer eletricidade em caso de falha na rede
elétrica principal. Sua capacidade de iniciar rapidamente e fornecer energia confiá-
vel durante períodos prolongados de interrupção é crucial nessas situações.

6 Turbinas Industriais Heavy-Duty


As turbinas industriais Heavy-Duty são uma categoria específica de turbinas a gás
projetadas para aplicações de alta potência e longa duração em ambientes industriais
exigentes. Elas são chamadas de "Heavy-Duty"devido à sua capacidade de lidar com
cargas de trabalho pesadas e operar de forma confiável por longos períodos de tempo.
A principal característica das turbinas industriais Heavy-Duty é sua capacidade de
produzir uma quantidade significativa de energia mecânica de forma contínua e consis-
tente. Elas são frequentemente utilizadas em usinas de energia elétrica, refinarias de pe-
tróleo, plantas industriais, entre outros ambientes onde é necessária uma fonte de energia
confiável e eficiente.
Essas turbinas são geralmente projetadas para operar em condições extremas, in-
cluindo variações de temperatura e pressão, e são construídas com materiais de alta re-
sistência para garantir durabilidade e confiabilidade ao longo do tempo.

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Na figura abaixo podemos ver um exemplo de uma turbina industrial heavy-duty.

Figura 10: Turbina Industrial Heavy-Duty - Siemmens

6.1 Aplicações
1. Usinas de Energia Elétrica: São frequentemente usadas em usinas de energia
elétrica, onde fornecem uma fonte confiável e eficiente de energia mecânica para gera-
dores de eletricidade. Elas podem ser usadas em usinas termelétricas a gás, a vapor
ou combinadas, contribuindo para a geração de energia elétrica para comunidades e
indústrias.
2. Refinarias de Petróleo: São utilizadas para alimentar compressores, bombas e
outros equipamentos essenciais para o processamento e transporte de petróleo e
produtos derivados. Sua capacidade de operar em condições adversas e sua confia-
bilidade são cruciais para garantir o funcionamento contínuo dessas instalações.
3. Plantas Industriais: São empregadas em uma variedade de aplicações, incluindo
acionamento de compressores, geradores de energia auxiliar, bombas de água e sis-
temas de refrigeração. Sua capacidade de lidar com cargas de trabalho pesadas
e operar de forma confiável em ambientes industriais desafiadores é essencial para
manter a produção eficiente e contínua.

7 Combustíveis usados em Turbinas a Gás


As turbinas a gás admitem vários tipos de combustíveis, a única condição que se
deve levar em conta é que a quantidade de cinzas insolúveis não exceda um certo limite.
Vejamos alguns destes combustíveis e suas possibilidades de aplicação nas turbinas a gás
segundo(BARROS, 2002)

• Gás Natural: é um combustível ideal para uso nas turbinas a gás. A única restrição
é que esteja limpo.

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• Petróleo Bruto: na maioria dos casos, constitui um combustível muito favorável,
que pode ser utilizado sem reaquecimento nem tratamento prévio. Porém como a
sua composição varia muito de acordo com o local de sua extração se faz necessário
análises para determinar as possibilidades de sua utilização.

• Gases de Alto Fornos: como a quantidade de pó neste combustível é geralmente


elevada, deve ser instalado um filtro na entrada do compressor para sua utiliza-
ção. Embora seja barato, não é um combustível ideal, pois seu poder calorífico por
unidade de volume é baixo necessitando-se de grande quantidade do mesmo.

• Derivados de Petróleo: constituídos por hidrocarbonetos destilados (gasolina, quero-


sene, óleo Diesel, nafta, etc.), são bastante convenientes desde que produzam pouca
cinza.

Entretanto, (GALLEGO; MARTINS; GALLO, 2000) diz que as principais caracterís-


ticas que os combustíveis deverão ter são:

• ser abundante na natureza e ter extração rentável;

• ter um poder calorífico por unidade de peso ou volume elevado;

• produzir gases de combustão que não poluam tanto o meio ambiente;

• não atacar as partes que estão em contato com ele ou com os seus produtos de
combustão.

8 Combustão da Turbina a Gás


A combustão ocorre quando o combustível (substância de potencial energético) é oxi-
dado pela ação do comburente (geralmente ar atmosférico ou gás oxigênio), produzindo
energia em forma de calor. Disto isso, de uma maneira bem simplista, podemos começar
a falar sobre o tópico combustão em turbinas a gás.
Assim como um motor a diesel ou gasolina, a turbina a gás é um tipo de motor de com-
bustão interna e funciona usando o ciclo de admissão, compressão, combustão (expansão)
e escape. Porém, uma grande diferença é o movimento básico. A turbina a gás tem
movimento circular, enquanto o motor a pistão tem movimento de vai e vem.

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O princípio básico de uma turbina a gás é mostrado na figura acima. Em primeiro
lugar, o ar é comprimido por um compressor, e esse ar comprimido é levado para a câmara
de combustão. Na câmara de combustão, o combustível é continuamente queimado para
produzir gás em alta temperatura e pressão. A turbina a gás industrial faz com que o
gás produzido na câmara de combustão seja expandido na turbina (um rotor de pás feito
conectando diversas lâminas a um disco redondo) para a produção de energia rotacional,
que faz com que o compressor funcione na fase anterior. A energia restante é fornecida
com um eixo de saída.

8.1 Características da Combustão


8.1.1 Funcionamento
O ar atmosférico aspirado pelo compressor alimenta a câmara de combustão a uma
pressão entre 5 e 8 atm. Na câmara de combustão, se injeta o combustível de forma
contínua, por meio de uma bomba adequada. A combustão, que se inicia eletricamente
durante o arranque, continua a pressão constante, com temperaturas que alcançam de
650 a 1200 C. Os gases de combustão se expandem sobre o rotor da turbina a gás gerando
a energia necessária para acionar o compressor, o gerador e fornecer uma potência útil
(30% da potência total).

8.1.2 Processo de Combustão


Para uma boa combustão, a relação Ar/Combustão deve ser próxima da estequiomé-
trica na zona da queima.

Na figura anterior, vemos que a construção da câmara de combustão permite que


apenas uma parte pequena do ar comprimido entre na zona de reação (onde ocorre a
combustão). A maior parte do ar vai penetrando aos poucos na corrente dos gases quei-
mados através de furos, facilitando a diluição; isto porquê o escoamento deste ar também
é útil para refrigeração das paredes da câmara de combustão, impedindo o superaqueci-
mento.
O projeto da câmara de combustão deve garantir resfriamento adequado, combustão com-
pleta, estabilidade da chama e baixa emissão de fumaça, monóxido de carbono, hidrocar-
bonetos e óxidos de nitrogênio. O volume da câmara de combustão é muito pequeno em
relação à taxa de liberação de calor desenvolvida, porque a combustão é feita a pressão
elevada: em turbinas aeronáuticas este volume pode ser de apenas 5% do volume que

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seria necessário em uma caldeira com a mesma taxa de liberação de calor.
Para iniciar a combustão é utilizada uma fonte externa (vela), para fornecer a energia de
ativação necessária; uma vez iniciada a combustão mantém-se uma chama estacionária
na corrente de mistura (ar+combustão) é a combustão é auto-sustentada. Quanto maior
a temperatura dos gases na saída da câmara de combustão, melhor o rendimento térmico
da turbina a gás.
A limitação da temperatura se deve a problemas metalúrgicos e de resistência do material
que constitui a turbina a gás. O processo de combustão envolve a oxidação dos constituin-
tes do combustível que são capazes de ser oxidados, podendo, portanto ser representado
por uma equação química. Durante o processo de combustão, a massa de calor de cada
elemento permanece constante. Uma combustão com o oxigênio estritamente necessá-
rio para uma dada quantidade de combustão é denominada estequiométrica. O oxigênio
necessário a tal combustão denominase oxigênio mínimo, e, em correspondência, temos
o ar mínimo. Nesta combustão todos os produtos de combustão estão completamente
oxidados. Quando uma combustão é realizada com mais ar que a quantidade mínima
para a combustão estequiométrica, dizemos que a combustão ocorre com excesso de ar.
Quando na falta de ar, a combustão é incompleta, aparecendo, entre outros produtos de
combustão, o Co como mais importante.
Ainda sim, além do Co, há formação de fuligem também, além de hidrocarbonetos não
queimados. Também, o aumento de temperatura será inferior àquele obtido se todo com-
bustível fosse queimado. Por isso, os produtos da combustão precisam ser completamente
consumidos para que se reduza a poluição como o depósito de carbono nos queimadores,
por exemplo.
Além disso, para garantir a máxima eficiência, perdas de pressão de ar na entrada da câ-
mara de combustão precisam ser evitadas pois a combustão necessita ser no menor espaço
possível para que se reduza a perca de calor por radiação e o processo seja estável com
distribuição de temperatura uniforme.

8.2 Fatores para o início da combustão em turbinas a gás


Para que se inicie a combustão, podemos considerar algumas condições básicas que
necessitam ser satisfeitas.
A primeira delas é a presença de oxigênio. Como na combustão é requerido combustível
e o comburente (oxigênio), portanto, se não há oxigênio a combustão não irá ocorrer. A
fonte principal de comburente é o ar, que por sua vez possui aproximadamente 21% de
oxigênio (por volume). Além disso, também é preciso que a mistura esteja na temperatura
correta pois o combustível só iniciará o processo de combustão se ele for aquecido a sua
temperatura de auto-ignição na presença de oxigênio. Ignição essa que é fornecida pela
fonte de ignição, uma vez que o processo de combustão só ocorrerá quando, na presença de
oxigênio e aquecido acima ou a sua temperatura de ignição, um combustível for exposto a
uma fonte de ignição, que poderá ser centelhas, chamas, brasas ou metal superaquecido.
Outro método de ignição é a compressão da mistura ar-combustível a pressões elevadas
onde se alcançará a temperatura de ignição do combustível. Para que tudo ocorra nas
devidas proporções é preciso seguir a relação apropriada entre a porcentagem de ar e
combustível. Por exemplo: Gás Natural só irá entrar em combustão se essa relação for
entre 5% e 15% (por volume) e para Hidrogênio essa relação passa para 4% a 76% (por
volume).

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8.3 Combustão e o meio ambiente
Com a combustão nas turbinas a gás, tem-se a geração de poluição. Sabe-se que a
queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de poluição atmosférica (MOREIRA,
2012). Segundo Arruda (2009), os principais agentes da poluição atmosférica em gases de
combustão são: material particulado (MP, como fuligem), monóxido de carbono (CO),
dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NO) e óxidos de enxofre (SO).
Tratando-se das turbinas a gás, pode-se destacar a geração de NO que se dá por diferentes
mecanismos. Segundo Gallego, Martins e Gallo (2000), no processo de combustão pode-se
obter o NO por três caminhos:
1. A reação do nitrogênio atmosférico com o oxigênio a altas temperaturas, o que forma
o (NO) térmico;

2. A reação de radicais hidrocarbônicos livres com a molécula de nitrogênio, que forma


o (NO) prompt (NO rápido) e;

3. A reação do nitrogênio existente no combustível, que forma o (NO) combustível.


Com relação a formação de NO2, nas proximidades da chama o NO2 formado é prati-
camente desprezível com relação ao NO formado, havendo ainda parcela do NO2 nesta
região que se converte em NO. Nas zonas em que existe excesso de ar na câmara de com-
bustão, por sua vez, tem-se a conversão de NO em NO2, o que caracteriza uma maior
estabilidade do NO2 a baixas temperaturas comparado ao NO. Neste caso, a cinética de
reação permite prever a reação de NO em No2 (GALLEGO; MARTINS; GALLO, 2000).
Os óxidos de nitrogênio são gases nocivos à saúde, causando irritação nos olhos e no sis-
tema respiratório, ainda sendo parcialmente responsável pelas chuvas ácidas e formação de
smog, que é um processo fotoquímico de oxidação da atmosfera (GALLEGO; MARTINS;
GALLO, 2000).
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) tem a finalidade de as-
sessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo e demais órgãos ambientais diretrizes
e políticas governamentais para o meio ambiente e deliberar, no âmbito de suas compe-
tências, sobre normas e padrões para o meio ambiente (IPEA, 2011). Assim, esses órgãos
trabalham junto com outras intituições gorvenamentais afim de disponibilizar normas que
precisam ser seguidas para a redução da poluição emitida ao longo dos anos. Como por
exemplo, o uso de diferentes tecnologias que visam a redução de poluentes na atmosféria.

9 Técnicas de Resfriamento das Pás


O aumento da temperatura do fluido ao entrar na turbina resulta em um acréscimo na
geração de energia, porém, temperaturas muito altas podem significativamente diminuir
o tempo de vida das lâminas. Para equilibrar esses aspectos, desenvolveram-se novos
métodos de refrigeração, os quais contribuíram para elevar tanto a eficiência na produção
de energia quanto a longevidade dos elementos da turbina.
A Figura abaixo demonstra a evolução das técnicas de resfriamento com o passar dos
anos e o aumento na temperatura de entrada.
Quanto às estratégias de resfriamento, uma forma de distingui-las é pelo tipo de fluido
refrigerante utilizado, que pode ser ar, líquidos, gases ou vapores. Focando nas estratégias
que usam o ar como fluido, é possível separar os sistemas em resfriamento interno e
externo.

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Resfriamento Interno O resfriamento interno utiliza o processo de transferência de calor
por convecção, fazendo o refrigerante circular através de canais internos para remover
o calor das lâminas. Este método engloba o resfriamento por Convecção e por Jato
Incidente. Essas técnicas tendem a ser menos eficientes do que as de resfriamento externo,
aplicando-se principalmente a temperaturas de fluxo de 1300 K a 1600 K.

1. Convecção: Aqui, o calor é transferido do metal para o ar refrigerante através da


convecção, conforme o ar flui pelos canais internos da lâmina e é então expelido por
orifícios localizados na borda de fuga ou no topo da lâmina.

2. Jato Incidente: Esta técnica envolve a injeção de ar frio diretamente sobre o metal
sob forma de um jato, removendo calor e abaixando sua temperatura.

Resfriamento Externo As técnicas de resfriamento externo expulsam o ar refrigerante


de dentro das lâminas por meio de orifícios pequenos e estrategicamente localizados. Isso
não apenas retira calor da superfície mas também forma uma fina camada de ar refrige-
rante que serve como uma barreira térmica protegendo a parte externa das lâminas contra
os gases quentes. Entre as técnicas de resfriamento externo, destacam-se o resfriamento
por Filme e por Transpiração, apropriados para fluxos principais que excedem 1600 K.

1. Transpiração: Nesta técnica, o fluido refrigerante passa através de uma lâmina


porosa, permitindo a transferência de calor direta entre o fluido e o gás quente. Isso
cria uma camada refrigerante externa, formando a barreira térmica.

2. Filme: Utiliza a injeção de refrigerante para criar um filme protetor ao redor da


lâmina, sendo especialmente útil em zonas de alta temperatura, como a borda de
ataque. A principal diferença entre o resfriamento por filme local e total está no nú-
mero de linhas de orifícios utilizadas, sendo uma para o localizado e várias cobrindo
toda a superfície para o total.

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É crucial destacar que a resistência às altas temperaturas alcançadas pelos materiais
das palhetas em turbinas de motores modernos, tanto estacionários quanto aeronáuticos,
advém da combinação dessas técnicas de resfriamento interno e externo.

10 Referências
1. BARROS, JML. Integração de Utilidades. Recuperação de Calor e Cogeração
em Sistemas de aquecimento de fluido térmico. Rio de Janeiro: CEFET,
2002.

2. GALLEGO, Antonio Garrido; MARTINS, Gilberto; GALLO, Waldyr LR. Emis-


sões de nox em turbinas a gás: mecanismos de formação e algumas tecnologias de
redução. Revista de Ciência e Tecnologia, v. 15, p. 13–22, 2000

3. LORA, Electo Eduardo Silva; NASCIMENTO, Marco Antônio Rosa do. Geração
termelétrica: planejamento, projeto e operação: volume 1. Rio de Janeiro:
Interciência, 2004.

4. SADREHAGHIGHI, Ideen. (2023). Components of an Axial Gas Turbine


Engine. 10.13140/RG.2.2.19447.50088/8.

5. MORAN M. J.; SHAPIRO H. N.; BOETTNER D. D.; BAILEY M. B. (2014).


Princípios de Termodinâmica para Engenharia, LTC Editora: 7ª edição, Rio
de Janeiro.

6. ÇENGEL Y. A.; BOLES M. A. (2013). Termodinâmica, Editora McGraw Hill:


7ª edição.

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